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INTRODUÇÃO AO DIREITO

Postagens introdutórias ao direito

28/10/2011 POR ADRIANO FERREIRA

51. Métodos e tipos de interpretação


A boa interpretação da norma legal deve: 1. esclarecer seu signi cado,
mostrando sua validade; 2. demonstrar o alcance social da norma; 3. demonstrar
que o con ito pode ser resolvido conforme os ns sociais da norma e
concretizando valores que levam ao bem comum. Existem, para cada um desses
pontos, um conjunto de métodos de interpretação.

Para resolver o problema do signi cado e da validade da norma, existem os


métodos de interpretação gramatical, lógica e sistemática.

A interpretação gramatical permite desvendar o signi cado da norma,


enfrentando di culdades léxicas e de relações entre as palavras. Podem surgir
questões quanto ao sentido dicionarizado de uma palavra ou quanto a relações
entre substantivos e adjetivos ou, ainda, no uso de pronomes relativos.

Um exemplo clássico deu-se quando Rui Barbosa recebeu uma condecoração


estrangeira. Seus adversários alegaram que ele deveria perder seus direitos
políticos, conforme disposição da Constituição de 1891: “os que aceitarem
condecorações ou títulos nobiliárquicos estrangeiros perderão todos os direitos
políticos”.

A defesa do jurista recorreu ao método gramatical, demonstrando que o adjetivo


nobiliárquicos refere-se não apenas a títulos, mas também a condecorações. Ele
estaria, assim, proibido de aceitar condecoração nobiliárquica estrangeira e não
uma condecoração simples, como a que aceitara.

A interpretação lógica permite resolver contradições entre termos numa norma


jurídica, chegando-se a um signi cado coerente. Adotando-se o princípio da
identidade, por exemplo, não se admite o uso de um termo com signi cados
diferentes.

A interpretação sistemática, por sua vez, analisa normas jurídicas entre si.
Pressupondo que o ordenamento é um todo unitário, sem incompatibilidades,
permite escolher o signi cado da norma que seja coerente com o conjunto.
Principalmente devem ser evitadas as contradições com normas superiores e
com os princípios gerais do direito.

O método sistemático impede que as normas jurídicas sejam interpretadas de


modo isolado, exigindo que todo o conjunto seja analisado simultaneamente à
interpretação de qualquer texto normativo. Assim, não podemos buscar o
signi cado de um artigo, de uma lei ou de um código. Ambos devem ser
analisados em sintonia com a Constituição e as demais normas jurídicas.

Para demonstrar o alcance da norma legal, devemos precisar a quais fatos ela se
refere. Para isso, por vezes, precisaremos identi car os fenômenos contidos nos
signi cados de algumas palavras ou expressões. Os principais problemas podem
ser de ambiguidade ou vagueza.

Um signo é ambíguo quando possui mais de um signi cado possível; é vago


quando não conseguimos determinar seu signi cado. No caso das normas, um
termo ambíguo deixa dúvidas quanto ao fato a que se refere e o termo vago não
permite identi cá-lo.

As palavras de uma lei podem ser:

indeterminadas – não identi camos os fenômenos (ex. repouso noturno: o que é


repouso? quando é noturno?);
valorativas – não sabemos quais os atributos que preenchem signi cado (ex.
honestidade: quando uma pessoa é considerada honesta?);
discricionárias – há uma gradação que deve ser preenchida no momento de
análise do caso (ex. grave/leve; preponderante/secundário).

O preenchimento do signi cado dessas palavras varia conforme o momento


histórico ou as condições sociais. A interpretação histórica assemelha-se à
busca da vontade do legislador. Recorrendo aos precedentes normativos e aos
trabalhos preparatórios, que antecedem a aprovação da lei, tenta encontrar o
signi cado das palavras no contexto de criação da norma (occasio legis).

A interpretação sociológica, por seu turno, assemelha-se à busca da vontade da


lei. Focando o presente, tenta veri car o sentido das palavras imprecisas
analisando-se os costumes e os valores atuais da sociedade.

Após determinar-se um signi cado válido para a norma e encontrarem-se os


fatos a que se refere, resta mostrar que sua aplicação concretizará seus ns
sociais e levará ao bem comum, como determina o art.5° da LINDB. A
interpretação teleológica busca os ns da norma legal e a interpretação
axiológica busca explicitar os valores que serão concretizados pela norma.

A boa interpretação, assim, chega a um signi cado jurídico (métodos gramatical,


lógico e sistemático) para a norma legal, demonstra seu alcance social (métodos
histórico e sociológico) e sua efetividade (métodos teleológico e axiológico). Ela
deve cessar no momento em que o con ito puder ser resolvido por uma decisão
(sentença).

O resultado do processo é um dos tipos de interpretação: literal, restritiva ou


extensiva. Para entendê-los, devemos classi car as palavras como códigos fraco
ou códigos forte. Uma palavra é um código forte se seu signi cado corresponder
a um fenômeno determinado (ex. agravo de instrumento é um tipo único de
recurso); será código fraco se seu signi cado referir-se a mais de um fenômeno
(ex. tributo é u conceito que pode referir-se a várias coisas, como contribuição,
imposto e taxa).

A interpretação literal mantém a força do código: se forte, é interpretado como


forte; se fraco, é interpretado como fraco. A interpretação mantém o mesmo
número de fatos sociais sob alcance da lei.

A interpretação restritiva fortalece o código. Um código fraco, por exemplo,


pode ser interpretado como código forte. Uma lei pode usar a palavra recurso,
que se refere a vários objetos. Sua interpretação pode reduzir o alcance da
palavra, traduzindo-a como apenas apelação, um tipo de recurso.

A interpretação extensiva enfraquece o código. O signi cado da norma é


ampliado, passando a englobar mais objetos do que seu sentido literal. Por
exemplo, uma lei que proíbe o estacionamento de carros pode ser enfraquecida
e ser interpretada como proibindo também o estacionamento de motos.

Referências:
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito. 11ª edição. São Paulo: Saraiva,
2011. (Lição XXX-XXXII)

DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Direito. 2a. edição. São Paulo: RT,


2007. (lição 8 )

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito – Técnica,


Decisão e Dominação. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2008. (cap. 5)

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