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HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE

A ATENÇÃO À SAÚDE AO PACIENTE ONCOLÓGICO A PARTIR DA


EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE: LACUNAS E
POTENCIALIDADES DA REDE NO CUIDADO INTEGRAL

Aluna: Tuane Vieira Devit


Orientadora: Dra. Dolores Sanches Wunsch

Porto Alegre
2016
Tuane Vieira Devit

A ATENÇÃO À SAÚDE AO PACIENTE ONCOLÓGICO A PARTIR DA


EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE: LACUNAS E
POTENCIALIDADES DA REDE NO CUIDADO INTEGRAL

Trabalho de Conclusão da Residência


apresentado a Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre como requisito parcial
para obtenção do título de Especialista.

Orientadora: Dra. Dolores Sanches Wunsch

Porto Alegre
2016
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO _________________________________ 4

1. REFERENCIAL TEÓRICO _________________________________ 7

1.1 O câncer e suas particularidades _________________________________ 7

4.2 Os Determinantes Sociais da Saúde e _________________________________ 8


o princípio da Integralidade
4.3 A Intersetorialidade e Linhas de _________________________________ 9
Cuidado

5. OBJETIVOS _________________________________ 11

6. ARTIGO _________________________________ 12

CONSIDERAÇÕES FINAIS _________________________________ 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 36

APÊNDICE A _________________________________ 38

APÊNDICE B _________________________________ 40

APÊNDICE C _________________________________ 42

APÊNDICE D _________________________________ 43
INTRODUÇÃO

A proposta dessa pesquisa se deu pela inserção da residente de Serviço Social


na Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (RIMS) do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no Campo do Adulto Crítico, que possui como
um dos cenários de prática o serviço de emergência de alta complexidade.
Nesse contexto emerge o tema da integralidade do cuidado ao paciente
oncológico, uma vez que este é presença constante nos atendimentos
realizados cotidianamente na Unidade.
A inquietação e a intenção de analisar a atenção à saúde, na perspectiva da
integralidade no cuidado a estes pacientes, principalmente quando surge a
necessidade do atendimento na emergência, surgiu a partir da prática
profissional da Assistente Social residente, com a constatação do grande
número de pacientes oncológicos que buscam o serviço de emergência e suas
frequentes reinternações, bem como as características complexas em seus
atendimentos.
A residente conjecturou com sua prática cotidiana que tais pacientes
necessitam de um atendimento especializado e focado em suas necessidades
em saúde, por conta das demandas que apresentam. A alta complexidade
demandada nos casos atendidos, para toda a equipe multidisciplinar e muitas
vezes para equipes de outros locais do HCPA, não pertencentes à emergência
(oncologia, radiologia, dentre outras), ocasionou com que a temática da
integralidade no cuidado ao paciente oncológico fosse priorizada como tema de
sua pesquisa.
A justificativa desta escolha se dá principalmente pelo contexto do local onde
será realizada: a Emergência do HCPA. Programada para atender 41 pacientes
adultos em suas vagas disponíveis, o número real de atendimentos é mais que
o triplo planejado, chegando inclusive a atender aproximadamente 200
pacientes por dia, em momentos mais críticos e com maior fluxo de pessoas.
Assim, como outros serviços de pronto atendimento, emergência e urgência do
país, tanto privadas quanto públicas; apresenta uma constante: a superlotação.
Segundo dados do DATASUS, o HCPA totalizou 17.678 internações em caráter
de urgência, entre janeiro e setembro de 2015. Destas, 1.846 foram
relacionadas a neoplasias, a quarta maior causa de internações no período,

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ficando atrás de internações relacionadas à gravidez, parto e puerpério (3.410),
doenças do aparelho circulatório (2.293) e doenças do aparelho respiratório
(1.958). As internações por neoplasias totalizam 10,5% do total, um índice alto
frente ao extenso número de indivíduos e gama difusa de patologias atendidas
na emergência do HCPA (BRASIL, 2015).
O serviço de urgência e emergência e suas finalidades ainda são tema de
debate em diversos setores. Segundo a resolução 1451/95 do Conselho
Federal de Medicina (CFM), define-se por urgência a “ocorrência imprevista de
agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de
assistência médica imediata” e por emergência “a constatação médica de
condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou
sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato”
(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995).
Devido à complexidade dos casos e a grande demanda de atendimentos
tratando-se de pacientes oncológicos, é comum que os mesmos recebam
diagnósticos, iniciem seus tratamentos e até mesmo venham a óbito na
emergência, indo além das urgências e emergências definidas pelo CFM. Eles
acabam permanecendo por um maior período de tempo na unidade, enquanto
recebem os cuidados necessários para estabilizar sua condição de saúde e
iniciarem ou darem continuidade aos seus tratamentos.
Busca-se então com essa pesquisa identificar quem são e de onde vêm estes
pacientes oncológicos que buscam o atendimento emergencial, quais serviços
da rede intersetorial acessam previamente e são encaminhados a partir da
emergência e quais as lacunas e potencialidades presentes neste acesso. A
partir destes dados, será realizada a análise das tais potencialidades e lacunas
presentes no cuidado integral a estas pessoas, e como estes processos
impactam em suas condições de saúde, buscando responder como se
constituem as lacunas e potencialidades da rede de saúde no cuidado integral
ao paciente oncológico a partir da emergência de um hospital de alta
complexidade.
O fruto da pesquisa para o serviço de Emergência do HCPA e para o Serviço
Social da Unidade é justamente analisar a prática já realizada e construir
estratégias de intervenção a partir da especificidade da rede disposta aos
indivíduos, o que se reflete em ganho para os profissionais em seus processos

5
de trabalho, mas principalmente e prioritariamente para os indivíduos
atendidos. Tais estratégias poderão ser criadas tanto em processos com a rede
interna do hospital, bem como com a rede externa, sugerindo uma linha de
cuidados estruturada para os pacientes oncológicos da Unidade.
O desafio deste projeto é analisar a rede de atendimento em saúde e
intersetorial sob a ótica da integralidade e a partir das demandas apresentadas
pelo usuário do serviço de emergência, uma vez que se identifica esse serviço
um locus fundamental na composição para a construção e/ou fortalecimento da
linha de cuidado. O tema se mantém em concordância com as propostas da
RIMS, tendo em vista que é voltada para o cuidado integral no Sistema Único
de Saúde (SUS), visando contribuir para o serviço onde a residente esteve
inserida durante o primeiro ano da residência.
Dá-se então segmento ao atual trabalho de conclusão com uma a revisão do
referencial teórico, a fim de analisar as categorias teóricas e a temática
proposta sob a luz da literatura atual. Após, são apresentados o objetivo geral e
os específicos que nortearam este estudo e por fim, o artigo fruto da pesquisa
realizada durante a residência.

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1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O câncer e suas particularidades


Devido à sua complexidade e extensão epidemiológica, social e
econômica, o câncer é atualmente um dos principais desafios da saúde pública
brasileira. Para se ter ideia de tal magnitude, o termo câncer é utilizado de
forma genérica para um conjunto de mais de cem enfermidades, que têm em
comum o crescimento desordenado de células, causando neoplasias malignas
em diversas localidades. (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011)
Segundo dados do Globocan, projeto que visa fornecer estimativas
contemporâneas da incidência, mortalidade e prevalência dos principais tipos
de câncer, da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, do inglês
International Agency for Research on Cancer), vinculada à Organização
Mundial da Saúde (OMS), 8.12 milhões dos óbitos mundiais em 2012 foram em
decorrência do câncer. Apesar da alta complexidade epidemiológica, a OMS
estima que 30% dos casos de câncer diagnosticados no mundo podem ser
prevenidos com mudanças no estilo de vida populacional, campanhas de
imunizações contra infecções oportunistas (Hepatite B e HCV, por exemplo) e a
detecção e tratamento nos estágios iniciais da doença. Em contrapartida, 60%
do total anual de casos de câncer ocorrem nas regiões da África, Ásia, América
Central e América do Sul, regiões com contextos sociais complexos e
vulneráveis, onde os recursos disponíveis para prevenção, diagnóstico e
tratamento são limitados ou até mesmo inexistentes. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2012)
No Brasil, a doença é a segunda maior causa de óbitos no país, ficando
atrás apenas de doenças cardiovasculares (INSTITUTO NACIONAL DO
CÂNCER, 2014). De acordo com o relatório realizado a cada dois anos pelo
INCA, a estimativa para os anos de 2016 e 2017, ressaltou a ocorrência de
aproximadamente 576 mil novos casos de câncer no período, reforçando a
magnitude da doença no país (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2015).
Na estimativa dos anos de 2016 e 2017, o número aumentou para 600 mil
novos casos, reforçando a magnitude de um problema em ascensão
(INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2016).

7
Por conta de uma demanda multifacetada existente nos casos de
neoplasias, o contexto socioeconômico, os determinantes sociais da saúde
(DSS) que incidem sobre modos e condições de vida e trabalho, o acesso à
rede de serviços e os modelos de atenção em saúde impactam diretamente no
processo de promoção e prevenção em saúde. O paciente oncológico acaba
demandando um cuidado integral, que dê conta das suas necessidades em
saúde.

1.2 Os Determinantes Sociais da Saúde e o princípio da Integralidade


Os determinantes sociais da saúde (DSS), segundo definição da
Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), são
fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e
comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus
fatores de risco na população. A comissão homônima da OMS utiliza uma
definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que
as pessoas vivem e trabalham. (BUSS; FILHO, 2007)
A partir desta definição dos DSS, concebe-se então uma concepção
ampliada do cuidado, concebendo o indivíduo em sua totalidade. Considera-se
não apenas suas demandas biológicas e fisiológicas, mas também os aspectos
que englobam sua vida social, econômica e política. Quebra-se a lógica
biomédica do cuidado, focada na intervenção curativa e imediatista focada
apenas na doença, levando em conta que o contexto em que os grupos e
pessoas estão inseridos impacta diretamente em sua saúde. Nesse sentido, é
a partir do princípio da integralidade que o SUS responde a estas demandas,
uma vez que, a integralidade, junto à equidade e universalidade, forma o
conjunto de princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS). Seu
sentido é definido pela lei 8.080, a qual regulamenta a política de saúde
brasileira, como “conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos.” (BRASIL, 1990)
Assim, o princípio da integralidade permite ultrapassar a dicotomia entre
ações preventivas e curativas, integrando-as e considerando saúde como o
resultado de uma série de determinantes e condicionantes. Tais elementos são
compreendidos pela política de saúde como a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a

8
atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais, entre outros (BRASIL, 1990).
Ainda nesse sentido ampliado da integralidade e do cuidado, Paim e
Silva (2010) ressalvam que a prática da integralidade pode ser verificada por
pelo menos cinco condições: cuidado, prática, programa, política e sistema.
Assim, a integralidade é compreendida pelo conjunto de certas características
do sistema, instituições e práticas.
Para Cecilio e Mehry (2003), a integralidade no cuidado em saúde,
principalmente no âmbito hospitalar, depende inicialmente da forma como os
atores dos serviços de saúde articulam suas práticas, dentro do contexto dos
espaços em que se inserem. Segundo os autores:
O cuidado, nas organizações de saúde em geral, mas no hospital em
particular, é, por sua natureza, necessariamente multidisciplinar, isto
é, depende da conjugação do trabalho de vários profissionais.[...]O
cuidado, de forma idealizada, recebido/vivido pelo paciente é
somatório de um grande número de pequenos cuidados parciais que
vão se complementando, de maneira mais ou menos consciente e
negociada, entre os vários cuidadores que circulam e produzem a
vida do hospital. Assim, uma complexa trama de atos, de
procedimentos, de fluxos, de rotinas, de saberes, num processo
dialético de complementação, mas também de disputa, vão
compondo o que entendemos como cuidado em saúde. A maior ou
menor integralidade da atenção recebida resulta, em boa medida, da
forma como se articulam as práticas dos trabalhadores do hospital.
(CECILIO; MEHRY, 2003, p. 02).

Portanto, percebe-se que a integralidade não depende apenas de uma


política norteadora, mas também da atuação dos profissionais em seus
espaços de trabalho e atendimento aos pacientes, dos contextos institucionais
e da multidisciplinaridade construída. Concluí-se então que o cuidado integral é
complementado em uma complexa trama de atos, conforme exposto pelos
autores.

1.3 A Intersetorialidade e Linhas de Cuidado

Considerando os DSS e as condições que permeiam a prática da


integralidade, a relação entre os atores inseridos no cuidado em saúde e a
dimensão e o impacto dos contextos social, político e econômico na saúde em
sociedade é indispensável pensar em uma perspectiva de trabalho intersetorial.
Tendo em vista que a saúde não se limita em si mesma e recebe o impacto de
variados contextos complexos e pela própria organização da sociedade e do

9
território em que o indivíduo se relaciona, a intersetorialidade visa criar uma
nova dinâmica para o aparato governamental, indo para além de apenas
formular projetos amplos para serem realizados setorialmente. Trata-se de
buscar alcançar resultados integrados visando a um efeito sinérgico, ou seja,
um trabalho em conjunto, coeso, complementar e simultâneo (INOJOSA,
2001).

A intersetorialidade é a "articulação de saberes e experiências no


planejamento, realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico
em situações complexas visando o desenvolvimento social, superando a
exclusão social" (JUNQUEIRA & INOJOSA, 1997). Portanto, a
intersetorialidade permite que se pense em um trabalho integrado e em rede,
visando atender as demandas expressadas pela população, indo de encontro à
fragmentação das políticas. Contribui assim para a lógica da totalidade das
ações e políticas destinadas à sociedade, focando questões específicas e
significativas para o desenvolvimento dos indivíduos e dos territórios.

A partir da intersetorialidade e integralidade, surge a concepção de


Linhas de Cuidados. Malta e Mehry (2010) defendem que a escolha por uma
linha de cuidado se justifica por conta da magnitude das doenças crônicas não
transmissíveis, a crescente morbimortalidade, pelos custos que agrega e por
gerar eventos contínuos/crônicos que com frequência se agudizam,
especialmente quando não bem cuidados. Segundo os autores, a linha de
cuidado:

[...] é alimentada por recursos/insumos que expressam as tecnologias a


serem consumidas pelos usuários durante o processo de assistência ao
beneficiário, funcionando de forma sistêmica e operando vários serviços.
Esta tem início na entrada do usuário em qualquer ponto do sistema que
opere a assistência: seja no atendimento domiciliar, na equipe de saúde
da família/atenção básica, em serviços de urgência, nos consultórios, em
qualquer ponto onde haja interação entre o usuário e o profissional de
saúde. A partir deste lugar de entrada, abre-se um percurso que se
estende, conforme as necessidades do beneficiário, por serviços de apoio
diagnóstico e terapêutico, especialidades, atenção hospitalar e outros.
(MALTA; MEHRY, 2010, p.595).

A concepção de uma linha de cuidado à pacientes crônicos de doenças


não transmissíveis abrange tanto a perspectiva da micropolítica, buscando
potencializar o trabalho cuidador na responsabilização do profissional e do

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sistema pela saúde do usuário, quanto a perspectiva da macropolítica, no apoio
e investimento dos gestores em processos de gestão coletivos e participativos,
atuando nos determinantes sociais, buscando articulações intersetoriais,
mudanças na legislação, atuação na regulação, no financiamento das ações,
na rede de serviços, na organização da vigilância e informação em saúde.
(MALTA; MEHRY, 2010).
Para Franco e Franco (2015), a Linha do Cuidado Integral incorpora a
ideia da integralidade, o que significa unificar ações preventivas, curativas e de
reabilitação, ou seja, na prática da promoção à saúde; proporcionando o
acesso a todos os recursos que o usuário necessita, desde visitas domiciliares
realizadas pela Estratégia Saúde da Família e outros dispositivos como o
Programa de Atenção Domiciliar, até os de alta complexidade hospitalar; ainda
requerendo uma opção de política de saúde e boas práticas dos profissionais.
Nesse sentido, no caso do paciente oncológico, a linha de cuidado visa
abranger os espaços em que o mesmo perpassa, desde a rede básica de
atenção em saúde até serviços de alta complexidade como a emergência, bem
como a articulação e as estratégias firmadas entre os espaços para a melhor
forma de prestar a assistência em saúde necessária no caso do câncer.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral


2.1.1 Conhecer a atenção à saúde ao paciente oncológico, a partir da
emergência de um hospital de alta complexidade, com vistas à identificação
das lacunas e a potencialidades da rede de saúde no cuidado integral.

2.2 Objetivos Específicos


2.2.1 Identificar o perfil do paciente oncológico que busca atendimento na
emergência;

2.2.2 Evidenciar os procedimentos e referenciamento realizados pela equipe


multidisciplinar da emergência do HCPA para pacientes oncológicos e sua
percepção sobre linha de cuidado;

2.2.3 Apresentar quais serviços da rede são acessados pelos pacientes


oncológicos que buscam atendimento na emergência;

2.2.4 Analisar como se dá o acesso dos pacientes oncológicos à rede de saúde


e intersetorial.

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3. ARTIGO

A ATENÇÃO À SAÚDE AO PACIENTE ONCOLÓGICO A PARTIR DA


EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE: LACUNAS
E POTENCIALIDADES DA REDE NO CUIDADO INTEGRAL
Drª Dolores Sanches Wunsch - Assistente Social e tutora da Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - (51) 3308-5700.
E-mail: doloressw@terra.com.br
Tuane Vieira Devit - Assistente Social residente da Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - 51 983351799 –
E-mails: tuane.devit@gmail.com e tdevit@hcpa.edu.br

RESUMO: Este estudo buscou compreender como se constituem as lacunas e


potencialidades da rede de saúde no cuidado integral ao paciente oncológico a partir da
emergência de um hospital de alta complexidade. Trata-se de uma pesquisa quanti-
qualitativa, que fez uso da análise de prontuários dos pacientes e entrevistas semi-
estruturadas. Os resultados do estudo evidenciam que as lacunas da atenção integral ao
paciente oncológico se alicerçam na precarização, no sucateamento e na falta de
estrutura e profissionais da saúde, no diagnóstico tardio e burocratização da rede e na
(des)continuidade do atendimento. Também foram ressaltadas as potencialidades,
expressas no vínculo entre os serviços, trabalhadores e usuários, o acolhimento e a
territorialização da saúde.
Palavras Chaves: Câncer. Integralidade. Intersetorialidade. Rede.

HEALTH CARE FOR THE CANCER PATIENT FROM THE EMERGENCY


OF A HIGH-COMPLEXITY HOSPITAL: GAPS AND POTENTIALITIES OF
THE NETWORK IN INTEGRAL CARE
ABSTRACT:
This study aimed to understand how the gaps and potentialities of the health network in
the integral care of cancer patients are constituted from the emergence of a high
complexity hospital. This is a quantitative-qualitative and descriptive research, which
was conducted with the analysis of patients' charts and semi-structured interviews. The
results of the study show that the gaps in integral care for cancer patients are based on
precariousness, scrapping and lack of structure and health professionals, slowing down
and bureaucratising the system and (dis) Continuity of care. Also highlighted were the
potentialities, expressed in the link between services, workers and users as a promoter
of care, the reception and the territorialization of health.
Keywords: Cancer. Integrality.Intersectionality.Network.

INTRODUÇÃO

A proposta deste artigo é discutir a atenção à saúde ao paciente oncológico, a partir da


emergência de um hospital de alta complexidade, com vistas à identificação das lacunas,

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fragilidades e potencialidades da rede de saúde para o cuidado integral 1. O principal
desafio do presente estudo é, portanto, analisar a rede de atendimento em saúde e
intersetorial ao paciente oncológico, sob a ótica da integralidade atentando às demandas
apresentadas pelos usuários.
Devido à sua complexidade e extensão epidemiológica, social e econômica, o câncer é
atualmente um dos principais desafios da saúde pública brasileira. No Brasil, a doença é
a segunda maior causa de óbitos no país, ficando atrás apenas de doenças
cardiovasculares. De acordo com o relatório realizado pelo INCA, a estimativa para os
anos de 2015 e 2016 ressaltou a ocorrência de aproximadamente 600 mil novos casos de
câncer no período, reforçando a importância da doença no país. (INSTITUTO
NACIONAL DO CÂNCER, 2015, p.26). Frente a essa realidade e à grande demanda de
atendimentos nos serviços de saúde, tem se ampliado e tem sido frequente que muitos
pacientes oncológicos recebam diagnósticos e até mesmo venham a óbito em serviços
de emergência hospitalar.
Nesse sentido, o serviço de emergência se constitui num lócus fundamental na
composição para a construção e/ou fortalecimento da linha de cuidados voltada ao
paciente oncológico. Por se tratar de um serviço voltado ao atendimento emergencial e
de caráter urgente, a emergência muitas vezes não possui a visibilidade de sua
magnitude, com relação ao seu lugar e papel na rede de serviços. O presente estudo
busca evidenciar este papel do serviço de emergência, ou seja, uma vez que vai para
além de atendimentos e procedimentos pontuais e sim como esse pode vir a contribuir
para o cuidado integral.
Para o desenvolvimento deste artigo, inicia-se com a discussão sobre os modelos de
atenção em saúde, problematizando a integralidade. Para tal, destaca-se na sequencia a
política de Saúde e os modelos de atenção nos diferentes contextos sócio-históricos.
Num segundo momento apresenta-se o percurso metodológico que embasou o estudo,
bem como a devida caracterização dos pacientes oncológicos atendidos num serviço de
emergência de alta complexidade. Por fim, se sobressalta os resultados que emergem do
estudo em relação às lacunas, fragilidades e potencialidades na atenção integral ao
paciente oncológico.

1. MODELOS DE ATENÇÃO EM SAÚDE E O CUIDADO INTEGRAL


A reorganização dos serviços e a operacionalização das práticas e processos de trabalho
em saúde é um tema constante no debate conceitual e político acerca dos sistemas de
saúde, tanto em âmbito mundial quanto no contexto brasileiro. Considera-se que um
sistema de saúde é formado por alguns componentes e funções principais, sendo eles a
infraestrutura, organização, financiamento, gestão e prestação da atenção. (PAIM, 2008,
p.547 apud Kleczkowski, Roemer e Werff, 1984). É na prestação direta do atendimento
que os debates acerca dos modelos de atenção à saúde se aprofundam, uma vez que
englobam as dimensões do cuidado, assistência, intervenção, ações e práticas em saúde.

1
Este estudo é resultante da inserção no Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde
de um hospital de alta complexidade, cuja área de concentração foi com ênfase no paciente adulto crítico.

14
Cabe destacar que a análise dos modelos de atenção à saúde aqui feita embasa-se no
contexto e nas práticas do sistema de saúde brasileiro atual.
Por modelo de atenção à saúde entende-se “a convergência de horizontes entre os
diversos discursos acerca de modos de operar e gerir as tecnologias de atenção à saúde
de indivíduos e populações” (AYRES, 2009, p.12), ou seja, os modelos servem como
embasamento para a operacionalização do sistema de saúde e a forma como as
tecnologias são desenvolvidas. Apesar da palavra “modelo” retratar no senso comum
um molde ou padrão estático a ser seguido, no caso da atenção à saúde ela refere-se à
identificação de seus traços principais, fundamentos, lógicas, ou seja, sua essência ou
razão de ser (PAIM, 2008, p. 548) tendo em vista que um sistema de saúde é dinâmico e
se modifica conforme as necessidades em saúde e a realidade do sistema societário em
que se insere. É a partir da década de 80, em âmbito internacional, que se inicia a
contextualização acerca dos modelos de atenção, ou modelos assistenciais, junto ao
debate sobre a reforma sanitária.
As políticas de saúde caracterizam-se como políticas sociais mediadas pelo Estado na
relação com a sociedade, sendo diretamente impactadas pelo contexto sócio-histórico
em que se inserem. Para o objeto do presente estudo, analisar a construção políticade
saúde tem sua importância no reconhecimento da conjuntura em que se introduz o
modelo de atenção vigente ao paciente oncológico, bem como a atenção hospitalar e a
integralidade da atenção à saúde como um todo.

1.2 Política de Saúde e Modelos de atenção em diferentes contextos sócio-históricos

Nos primórdios do contexto brasileiro, a saúde era praticada como filantropia e prática
liberal até o século XIX, onde, em decorrência das transformações econômicas e
políticas, se iniciam campanhas limitadas e a vigilância do exercício profissional. O
modelo de atenção do Sanitarismo Campanhista utilizado na época estava ligado ao
modelo econômico agroexportador, principalmente cafeeiro, que exigia do sistema de
saúde o saneamento dos espaços de circulação das mercadorias e a erradicação de
doenças que pudessem afetá-las (MEHRY, MALTA e SANTOS, 2004, p. 50).
Nesse contexto,as ações se baseavam no controle militarista e autoritário da saúde,
investindo no monitoramento portuário, além de se ter o poder de polícia investido nos
agentes de saúde, que muitas vezes utilizavam a força para intervir no processo de
saúde-doença da população. No final deste século a saúde torna-se pauta das
reivindicações do movimento operário e, nas primeiras décadas do século XX, surgem
algumas iniciativas de organização do setor da saúde, sendo aprofundadas a partir da
década de 30. (BRAVO, 2006, p.89)
As políticas sociais que emergem nesse período são utilizadas como uma estratégia de
amenizar os conflitos entre a classe dominante e o proletariado, principalmente como
uma forma de controle vinculada à força de trabalho. No berço de uma crise política, a
saúde passa a ganhar destaque com ações diretamente vinculadas à ampliação do poder
e ao financiamento da União. As ações em saúde focavam principalmente as questões
de higiene e saúde do trabalhador, em um modelo de assistência médico-curativa
(BRAVO, 2006, p.90). Tal modelo reforça sua base no trabalhador, servindo de

15
fortalecimento do capital e da força de trabalho. Segundo Mehry, Malta e Santos (2004,
p.50) “o importante já não era sanear os espaços, mas cuidar dos corpos dos
trabalhadores, mantendo sua capacidade produtiva”.
O modelo médico-assistencial privatista influenciou diretamente o modelo de
assistência previdenciário, embasado na medicina liberal. Na década de 40, tal modelo
expandiu-se com a compra de serviços privados e nos anos 50 a estrutura de
atendimento hospitalar de natureza privada e sem fins lucrativos já estava consolidado.
A corporação médica organizada já pressionava o financiamento através do Estado, em
uma lógica capitalista e focada na privatização (BRAVO, 2006, p. 92). Segundo Mehry,
Malta e Santos (2004, p. 50), este formato “serviu como um embrião e catalisador do
modelo liberal privatista que se acentuou após 1964 através da rede privada contratada”.
Mudanças mais significativas são inseridas entre os anos de 64 até 85, em que Brasil
sofre então um golpe de Estado e o exército militar sobe ao poder. No contexto da
ditadura militar, o Estado embasava sua intervenção no binômio repressão-assistência.
A política assistencial foi ampliada, burocratizada e modernizada, com a intenção de
aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e
conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de
acumulação do capital. A saúde segue a tendência capitalista e o Estado articula-se
comindústrias farmacêuticas e de equipamento hospitalares. A medicalização da vida
social é imposta, com ênfase na prática médica curativa, individual, assistencialista e
especializada. Nesse sentido, há um enxugamento da saúde pública e a ampliação da
saúde previdenciária. (BRAVO, 200,6 p. 93 e 94).
Em fortalecimento à saúde previdenciária, é criado em 1966 o Instituto Nacional de
Previdência Social – INPS (atualmente Instituto Nacional de Seguridade Social –
INSS), fragmentado em 1978 em três outros institutos. Dentre esses institutos
encontrava-se o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS), responsável pelo sistema de saúde brasileiro.
O INAMPS seguia prestando assistência médica apenas para trabalhadores formais e
seus dependentes segundo a lógica do seguro-saúde. Os indivíduos que não contribuíam
com o INAMPS não possuíam acesso ao sistema, contando então com o apoio de
instituições filantrópicas e da igreja. Havia muita tensão entre a ampliação dos serviços
e a disponibilidade de recursos financeiros, bem como a burocratização dos interesses
público-privados entre setores estatais e médico-empresariais.
Como resultado destas contradições, na década de 70, ocorrem os primeiros
movimentos da Reforma Sanitária e, em 1979, ocorre o 1º Simpósio sobre Política
Nacional de Saúde. Também é nessa década a Previdência passa por uma crise, afetando
o INAMPS. Nesse contexto, o fortalecimento das mobilizações dos profissionais de
saúde, partidos políticos da oposição e os movimentos sociais urbanos voltaram-se para
a concepção da Reforma Sanitária. Para Fleury (1997, p. 33) “o projeto da Reforma
Sanitária portava um modelo de democracia (...), a formulação de uma utopia
igualitária; a garantia da saúde como direito individual e a construção de um poder local
fortalecido pela gestão social democrática”. As principais propostas do projeto se
fundamentaram na universalização do acesso, na concepção de saúde como direito

16
social e dever do Estado e na reestruturação do setor através da estratégia do Sistema
Unificado de Saúde.
É na 8º Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que a Reforma Sanitária é levada em
pauta e fortalecida, indo para além de um novo sistema de saúde:há uma nova
concepção de saúde e um projeto societário. Como resultado, é implantado o Sistema
Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um convênio entre o INAMPS e os
governos estaduais, berço do Sistema Único de Saúde (SUS) atual. Em 1988, consolida-
se a nova Constituição Federal, trazendo mudanças no contexto brasileiro das políticas
sociais e solidificando o SUS, propondo uma nova forma de gestão da Saúde.
As esferas de governo do SUS passaram a ser de âmbito Federal, Estadual e Municipal,
de forma descentralizada, o que proporciona um atendimento diferenciado de acordo
com as necessidades de cada região. Seus princípios e diretrizes são voltados para a
universalidade, sendo para toda população; equidade, representando justiça e igualdade
e integralidade, gerando o tratamento integral, com foco na prevenção. Tais elementos
trouxeram uma mudança radical na Política Pública de Saúde.
Apesar do amplo destaque das políticas sociais proporcionado pela Constituição Federal
de 1988, em contrapartida coexiste uma grande crítica ao decorrer dessas quase quatro
décadas, em relação a fraudes, violações e corrupção no repasse de recursos que
impactam diretamente na sociedade brasileira e no acesso a seus direitos. Parte desses
fatores é oriundo da contrarreforma proposta pelo modelo neoliberal, implantado no
Brasil na década de 90 do século XX. As ações do estado, e dentro delas a Saúde,
deveriam responder, portanto, a uma lógica de mercado.
O projeto defendido pela Reforma Sanitária encontra diversos obstáculos, oriundos da
lógica de mercado atribuída à saúde.Dentre eles está a responsabilização da sociedade
civil, gerando a refilantropização de serviços e a privatização. Além disso, observa-se a
fragmentação entre prevenção e atenção curativa, havendo prioridade para a atenção
hospitalocêntrica, em detrimento das ações de promoção e proteção da saúde. Observa-
se, a partir desse contexto, a maior contradição do SUS com impacto inclusive nos dias
atuais: o embate entre o projeto de reforma sanitária, construído na década de 1980 e
inscrito na Constituição Brasileira de 1988, e o projeto de saúde articulada ao mercado
ou privatista, operacionalizado pelo Estado, na década de 90.
O projeto da Reforma Sanitária embasa a concepção de saúde centrada no modelo
ampliado e integral, saindo da dicotomia de saúde e doença e do modelo curativo. A
partir dessa ampliação é identificado que saúde não significa a ausência da doença; na
verdade, significa que a saúde depende diretamente do social, do cotidiano e das
relações sociais que perpassam o indivíduo. É nesse sentido que abordamos a atenção à
saúde ao paciente oncológico, que busca atendimento na emergência de alta
complexidade, considerando a saúde como resultado de uma gama de determinantes
sociais.
Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS), segundo definição da Comissão Nacional
sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), são fatores sociais, econômicos,
culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência
de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Já a comissão homônima da
Organização Mundial da Saúde (OMS) sumariamente define que os DSS são as

17
condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. (BUSS; PELEGRINNI FILHO,
2007, p. 78)
Com base nessa definição, idealiza-se então uma concepção ampliada do cuidado,
concebendo o indivíduo numa perspectiva de totalidade. Considera-se não apenas suas
demandas biológicas e fisiológicas, mas também os aspectos que englobam sua vida
social, econômica e política. A lógica biomédica do cuidado, focada na intervenção
curativa e imediatista apenas da doença, é quebrada levando em conta que o contexto
em que os grupos e pessoas estão inseridos atingem diretamente sua saúde.
Nesse sentido, no caso do paciente oncológico, o modelo de atenção integral visa a
abranger os espaços em que o mesmo perpassa - desde a rede básica de atenção em
saúde até serviços de alta complexidade como a emergência, bem como a articulação e
as estratégias firmadas entre os espaços para a melhor forma de prestar a assistência em
saúde necessária no caso do câncer.

2. METODOLOGIA DO ESTUDO E PERFIL DOS PACIENTES


ONCOLÓGICOS DE UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA DE ALTA
COMPLEXIDADE
Este estudo trata-se de uma pesquisa de natureza mista, utilizando-se de dados
quantitativos e análise qualitativa dos resultados levantados a partir das fontes de
pesquisa. Sobre a escolha da abordagem qualitativa, se dá em relação à
imensurabilidade da pesquisa, tendo em vista que Minayo (1994, p. 21) nos diz que a
“pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa com um
nível de realidade que não pode ser quantificado”. Nesse sentido, Leopardi (2002)
também diz, complementando o pensamento de Minayo, que a pesquisa qualitativa deve
ser usada quando não se há o interesse em quantificar o número de vezes que uma
variável aparece, mas sim a qualidade da mesma, na medida em que a pesquisa
qualitativa.
Portanto, a análise do problema de maneira ampla e abrangente é realizada por meio da
pesquisa qualitativa, já que o foco da pesquisa são as percepções sobre o cotidiano e a
linha de cuidados do paciente oncológico. Além de ser qualitativa, a pesquisa também
atua com uma abordagem explicativa, que visa explorar os acontecimentos. Segundo
Gil (2002), este tipo de pesquisa tem como preocupação central identificar os fatos que
determinam ou que contribuem para a conferência dos fenômenos.
Para conhecer a atenção à saúde ao paciente oncológico, a partir da emergência de um
hospital de alta complexidade, situado no estado do Rio Grande do Sul, o presente
estudo buscou uma maior aproximação com esses sujeitos. O percurso metodológico
procurou desvendar as lacunas e as potencialidades da rede de saúde no cuidado
integral. Assim, em um primeiro momento, identificou-se o perfil do paciente
oncológico que busca atendimento no lócus do estudo e, em sequência, foi definida a
amostra dos sujeitos participantes, por meio de entrevistas semiestruturadas. A análise
qualitativa teve como objetivo verificar quais são os serviços da rede acessados pelos
pacientes oncológicos que buscam atendimento na emergência e analisar como se dá o
acesso destes pacientes à rede de saúde e intersetorial. Por fim, buscou-se conhecer a

18
percepção da equipe multidisciplinar da emergência do hospital em questão acerca dos
pacientes oncológicos e da rede de serviços acessada por eles.
A análise documental desta pesquisa foi composta por três etapas, segundo Bardin
(1979): a primeira é a pré-análise, a segunda é a exploração do material e a terceira é o
tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Por envolver Seres Humanos, o atual
estudo assegurou-se de todos os aspectos éticos de pesquisa, obedecendo a Resolução
de número 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. As
entrevistas contaram com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) pelos participantes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
instituição, com o parecer n.º 16-0033.

2.1 Perfil dos pacientes oncológicos que acessam o serviço de emergência


O perfil do paciente oncológico que busca atendimento na emergência foi construído a
partir de um levantamento de dados de caráter quantitativo. Em um primeiro momento,
se analisou quatrocentos e dois (402) prontuários de pacientes internados na emergência
de um hospital universitário de alta complexidade, no período de março a junho de
2016. Os prontuários foram escolhidos de forma aleatória e, deste total, cem (100)
pacientes possuíam diagnóstico de câncer, totalizando 25% do público.
Sistematicamente, para estes cem pacientes, foram coletadas as variáveis de sexo, idade,
procedência, se possuíam vínculo com o ambulatório dohospital em questão, se
possuíam diagnóstico prévio de câncer e o número de reinternações no mesmo hospital.
Destes pacientes, 63% eram homens e 37% mulheres. Sobre a procedência, 19% eram
provenientes do interior ou litoral do Estado, 40% da região metropolitana de Porto
Alegre e 41% residiam na capital. Em relação à faixa etária, as idades variaram entre 21
e 86 anos, sendo que a maioria dos pacientes concentrou-se na faixa acima de 61 anos,
conforme Gráfico 1 abaixo.

Faixa etária

4% 4%
33% 12%

18%

29%

21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos 61 a 70 anos 71 a 86 anos

19
Gráfico 1 - Faixa etária dos pacientes oncológicos analisados na emergência
Fonte: a autora.

As re-internações variaram desde pacientes com nenhuma internação até pacientes com
33 internações prévias, gerando a média de 4 reinternações. A maioria dos indivíduos já
haviam sido diagnosticados com câncer previamente, sendo que apenas 10% tiveram
seus diagnósticos na internação analisada. Observou-se ainda que um grande número
dos sujeitos possuíam vínculo ambulatorial com o hospital do estudo, representando
80% dos pacientes da amostra total.
A partir deste perfil, foram selecionados os participantes da segunda etapa da pesquisa,
em que foram realizadas entrevistas com os familiares dos pacientes, questionando
sobre o percurso na rede de saúde e intersetorial até a chegada ao hospital onde foi
realizado o estudo.

2.2 Caracterização da amostra dos sujeitos da pesquisa


A amostra da pesquisa, no que diz respeito aos pacientes oncológicos atendidos na
emergência do hospital estudado e seus familiares, foi escolhida proporcionalmente e de
forma representativa, com base nos resultados do levantamento quantitativo exposto no
item anterior e no perfil estabelecido. Para delimitação do número de entrevistas,
utilizou-se o critério de exaustão, ou saturação de dados, segundo o qual o pesquisador
efetua entrevistas em número suficiente para permitir certa reincidência das
informações, garantindo um máximo de diversificação e abrangência para a
reconstituição do objeto no conjunto do material, verificando assim a formação de um
todo (MINAYO, 2006).
Participaram, nesta etapa da pesquisa, nove sujeitos. Por conta da situação de saúde dos
pacientes e suas limitações durante a internação na emergência, optou-se realizar as
entrevistas com seus familiares, evitando o desconforto ou interferências em seu
tratamento. Dos pacientes selecionados, quatro eram do sexo feminino e cinco do sexo
masculino, oito eram vinculados ao ambulatório e apenas um não tinha diagnóstico
oncológico prévio à internação avaliada.
Em relação à escolaridade, um paciente possuía ensino médio completo, dois possuíam
o ensino fundamental completo e a grande maioria não chegou a cursar até a sexta série
do ensino fundamental. A média das rendas familiares é de aproximadamente 1,7
salários mínimos (R$ 1.500,00). Quatro destes pacientes eram procedentes de Porto
Alegre, três da Região Metropolitana, um do interior do Estado e um da região
litorânea.
Na segunda etapa da pesquisa, foram realizadas entrevistas com profissionais da
emergência, selecionando trabalhadoras tanto da equipe médica e quando da equipe de
serviço social do local.Nesse sentido, foram entrevistadas duas assistentes sociais e uma
médica, uma vez que essas são as profissões que realizam encaminhamentos aos
pacientes da emergência para a rede externa.
O propósito de tal entrevista foi analisar suas percepções acerca do paciente oncológico
e da necessidade do cuidado em saúde integral. Buscou-se a impressão da equipe
multidisciplinar da emergência do hospital sobre a rede de atenção em saúde e

20
intersetorial acessada pelos pacientes oncológicos, que refletiu juntamente com a
percepção dos sujeitos, evidenciando assim a atenção à saúde a esse segmento para o
cuidado integral.

3. AS LACUNAS, FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES NA ATENÇÃO


INTEGRAL DO PACIENTE ONCOLÓGICO

A análise e discussão dos resultados que emergem no presente estudo inicia


evidenciando o percurso na rede de serviços de saúde e intersetorial que os pacientes
oncológicos do serviço acessam. Na sequência, problematiza-se sobre as lacunas e
fragilidades desta rede, bem como apresenta as suas potencialidades, à luz da percepção
dos usuários e da equipe de saúde.
Identifica-se, na análise do percurso desses pacientes oncológicos e suas famílias, a rede
de atenção em saúde e intersetorial, a qual abrange o campo da saúde, assistência,
previdência social, entidades não governamentais, dentre outros. Constatou-se que os
pacientes acessam diversos serviços desta rede, previamente ou encaminhados após sua
passagem pelo serviço de emergência do hospital. São eles: Unidades Básicas de Saúde
(UBS), Estratégias de Saúde da Família (ESF), Hospitais de média e alta complexidade,
Secretarias Municipais de Saúde (SMS), Pronto Atendimentos (PA), Unidade de Pronto
Atendimento (UPA), Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS) e Organizações Não Governamentais (ONG’s).
Ressalta-se que entre os nove pacientes analisados, sete já possuíam acesso prévio à
rede de atenção básica à saúde.
A pesquisa revelou a forma com que ocorreu o acesso desses indivíduos aos serviços e,
desta forma, foi possível apontar quais são as lacunas ou fragilidades presentes no
cotidiano e quais as potencialidades proporcionadas pela rede de suporte. Apesar de
estes usuários perpassarem por tais serviços, isso pouco nos fala sobre o acesso à saúde
em um primeiro momento. De fato, qual a real garantia de acesso que estes indivíduos
têm?
Segundo o Programa de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde (PROADESS),
gerenciado pela Fiocruz, a garantia de acesso necessita da remoção de obstáculos
físicos, financeiros entre outros, que viabilizem a entrada dos usuários na rede de
serviços em seus diferentes níveis de complexidade. Para além, há ainda uma
subdimensão inerente ao acesso, que se refere à ideia de tempo oportuno (em inglês,
timeliness), o qual representa o período em que a prestação do cuidado, ou a
intervenção, se faz mais benéfica e necessária (VIACAVA, 2011), o que para o paciente
oncológico é crucial tendo em vista a gravidade da doença e a necessidade de
diagnóstico precoce para um prognóstico mais favorável. Partindo desses
questionamentos iniciais, se dividiu os resultados em duas grandes categorias,
relacionadas às Lacunas/Fragilidades e Potencialidades encontradas na rede
intersetorial.

3.1 LACUNAS E FRAGILIDADES: PROCESSO DE PRECARIZAÇÃO DO


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

21
A partir da aproximação com a realidade dos pacientes oncológicos, constatou-se a
presença de inúmeras lacunas e fragilidades na garantia ao acesso dos serviços da rede
de saúde e intersetorial. Processos que atravessam a precarização, organização e
estrutura dos serviços, bem como o atendimento e a continuidade deste. Nesse viés, os
resultados desta categoria foram divididos entre três subcategorias de análise: estrutura
e profissionais da saúde, o diagnóstico tardio e entraves burocráticos na rede de média
complexidade e a (des)continuidade do atendimento.

3.1.1 Estrutura e profissionais da saúde presentes na rede


Por conta de uma tensão histórica entre a concepção de saúde como bem público e
saúde como mercadoria e fonte de lucro para o setor privado, o Sistema Único de Saúde
(SUS) enfrenta um processo de desmonte em si mesmo. Tal desmonte é resultado da
contrarreforma do Estado, atacando o caráter universal do SUS e contribuindo para a
precarização do trabalho e dos serviços, bem como sua privatização (BRAVO e
CORREIA, 2012, p. 138).
No contexto da crise econômica e política brasileira, o SUS enfrenta constantes ataques
e ameaças justificados pela falta de recursos do Estado, impactando diretamente nos
serviços, nos processos de trabalho dos profissionais de saúde e, consequentemente, no
atendimento (ou em sua falta) para a população. Como reflexo deste cenário, o estudo
evidenciou como uma dimensão da fragilidade da rede de atenção para o cuidado
integral, percebido pela falta de estrutura, acaba por precarizar o atendimento e
acompanhamento dos pacientes nos espaços. A falta de profissionais da saúde foi
amplamente ressaltada pelos familiares e trabalhadoras entrevistadas como um entrave
para assistência, como é possível verificar nas falas que seguem.

“(...) a prefeitura já largou o Hospital (1), tá falindo. Então na semana passada ele começou a vomitar
sangue, urinar sangue. A gente foi no Hospital (1) só que lá eles queriam que a gente voltasse pra casa,
porque não tinha médico assistente no momento. Medicaram ele pra pressão alta e mandaram pra casa.
A gente foi no Hospital (2), mas a emergência tava fechada. Porque eles mandaram a gente procurar o
SUS, né, porque o Hospital (1) lá já não tá bom né. Aí viemos pra cá.” (Filha do paciente A.)

"Ele tentou consultar no posto, mas como não tinha médico e o posto é bem precário lá, não conseguiu
os exames. Tanto é que encaminharam pra cá porque eles não tinham como fazer os exames."(Filha
do paciente C.)

Observa-se o quanto a ausência de serviços e profissionais da saúde evidenciam a


precarização na área e acabam por expressar uma lacuna na garantia do acesso dos
indivíduos à resolutividade de suas demandas, onde não conseguem adentrar nos
espaços de saúde, mesmo que todos sejam considerados como porta de entrada para o
SUS. A falta de profissionais impacta no atendimento direto aos usuários, inclusive nas
demandas de urgência e emergência. Os indivíduos acabam buscando outros espaços
por iniciativa própria, ou por serem encaminhados para onde nem sempre são aceitos,
significando uma busca, muitas vezes aleatória e angustiante, sem fluxo estabelecido ou
até mesmo respeitado entre os espaços da rede.
Além da falta de profissionais de saúde para o atendimento, a falta dos próprios serviços
também foi apontada como uma lacuna na garantia de acesso dos usuários,
22
principalmente em locais mais vulneráveis ou isolados geograficamente, conforme
expressou a familiar de um dos pacientes internado na emergência:

"Não, ele nunca teve acompanhamento no CAPS. Ele até precisava, mas nunca teve. Porque antes eles
moravam isolados da gente, não tinha condições. E aí até tinha necessidade de ter algum
acompanhamento. Onde eles moravam é muito difícil, interior." (Irmã do paciente R.)

Outro aspecto, que contribui para a fragilidade, na visão de uma profissional


entrevistada, foi a falta de qualificação e educação permanente dos trabalhadores acerca
das necessidades em saúde dos pacientes oncológicos, que acaba sendo um obstáculo no
fluxo da rede, gerando uma demanda excedente para os serviços de urgência e
emergência da alta complexidade. Os pacientes acabam sendo vinculados à alta
complexidade e orientados a buscarem os serviços onde estão referenciados, para
necessidades que poderiam ser atendidas na atenção básica, como bem expressa essa
profissional:

“(...) parece que quando o paciente tem câncer, pelo lado clínico, não conseguem ver ele como um todo
e resolver um problema, que às vezes eles só precisam de um ajuste de medicação, às vezes tá com uma
infecção respiratória. Não, é tudo pro serviço terceirizado de onde ele veio. Isso é o principal problema, a
pessoa tem muito medo desses pacientes e ficam meio estagnados e não sabem manejar esses pacientes.
E eles tem intercorrências como qualquer outra pessoa. Vão ter uma infecção respiratória, vão ter algum
problema de dor, enfim, que eles vão poder manejar. (...) Uma alternativa seria capacitar esses
trabalhadores, fazer cursos específicos para pacientes oncológicos. O pessoal daqui iria
tranquilamente na rede para capacitar esses profissionais para terem um melhor manejo ao paciente com
câncer.” (Profissional 1, médica)

Outro ponto indicado pelo estudo é o quanto a rede de serviços não comporta as reais
necessidades dos pacientes oncológicos em uma concepção ampliada da saúde. O
paciente consegue acessar o tratamento para a sua doença, porém, por vezes o acesso
acaba inviabilizado por conta de suas vulnerabilidades. Existe uma fragilidade na
intersetorialidade das políticas, onde se garante um tratamento curativo em saúde,
porém sem viabilizar o acesso a tal. Trabalhar em uma concepção de clínica ampliada,
lidando com pessoas em sua dimensão social, e não apenas biológica, é um desafio para
a saúde em geral, principalmente no âmbito hospitalar (CAMPOS e AMARAL, 2007, p.
852).
O enfoque dos Determinantes Sociais da Saúde se mostra necessário, levando em
consideração a capacidade de resposta dos indivíduos, de acordo com os diversos
aspectos presentes em seu cotidiano, para a situação em que se encontram. Com base na
definição dos DSS, idealiza-se, então, uma concepção ampliada do cuidado,
considerando o indivíduo em sua totalidade. Para os pacientes oncológicos, pensar em
DSS é considerar que sua condição social impacta diretamente em sua situação de
saúde, muitas vezes complexa e crítica. Amplia-se o debate para a integralidade e a
necessidade maior de articulação com setores para além da saúde, mas que tem impacto
direto no processo de saúde-doença dos indivíduos, como demonstrado pela profissional
a seguir:

23
“O paciente consegue acessar o tratamento, digamos, fazer a rádio ou a quimio, o ambulatório. Aí esbarra
na questão do transporte. O município não disponibiliza o recurso em forma de vale. Ou o paciente não
tem condições físicas de entrar no ônibus, né. Então a gente vê muitos pacientes faltando as sessões de
radio e de quimio, porque não tiveram acesso a um transporte público pra vir. E a maioria dos pacientes
que a gente atende realmente estão em situação de vulnerabilidade, não tem condições de se
organizarem de forma particular para vir. Então, o acesso é limitado. É um acesso relativo.”
(Profissional 2, Assistente Social)
Nesta outra fala abaixo, evidencia-se que apesar de existir uma legislação que garanta o
acesso facilitado aos pacientes oncológicos, devido à complexidade e necessidade de
resposta rápida ao tratamento, a precarização atinge todos os níveis de complexidade e
demandas apresentadas. A garantia de direitos e a integralidade no atendimento acabam
por se tornarem desafios para os espaços e profissionais.

“É, pensando no paciente oncológico a gente tem uma legislação que colabora bastante. O que a gente
vê na vida real, no dia a dia, é justamente o desafio no cumprimento dessa legislação, da garantia de
acesso, dos atendimentos. A legislação é um respaldo, mas o que a gente tem vivenciado hoje é um
país em crise né, e a gente vê isso no impacto que tem causado nos atendimentos mais básicos que a
população necessita, até os mais complexos, que é o caso do paciente oncológico.”(Profissional 3,
Assistente Social)

Portanto, ao afirmar e revelar as lacunas e fragilidades no campo da estrutura e na falta


de profissionais e espaços de atendimentos, constata-se a precarização da rede de
saúde.Isto se dá, principalmente, em locais mais vulneráveis social e geograficamente
distantes de grandes centros, assim como a necessidade de qualificação dos
trabalhadores a respeito dos pacientes oncológicos e a necessidade do cuidado integral e
de maior intersetorialidade entre as políticas.

3.1.2 Diagnóstico tardio e entraves burocráticos na rede da média complexidade


Uma das maiores lacunas sinalizadas durante as entrevistas, foi a demora no
encaminhamento de exames e atendimentos necessários para a confirmação do
diagnóstico do câncer. Conforme já abordado anteriormente, o diagnóstico precoce
impacta diretamente no início do tratamento e na evolução da doença. A demora deste
diagnóstico engessa o seguimento do atendimento a estes pacientes, sendo um entrave
em seu tratamento. Uma das profissionais entrevistadas considera tal demora como o
principal problema para o tratamento destes pacientes que chegam à emergência:
“(...) no momento que tu tem uma biópsia a gente consegue encaminhar, mas no momento de encaminhar
um paciente pra um cirurgião geral, pra fazer a biópsia, aí dificulta. Até chegar a confirmação, esse
paciente fica perdido no sistema, muitas vezes aguardando exames que demoram meses. A gente sabe
que nem todo mundo tem esse tempo todo de sobrevida. Pra mim é a principal necessidade desses
pacientes. Auxílio ao diagnóstico deles, auxílio precoce. (...) O paciente volta aqui três, quatro meses
depois pedindo auxílio de novo porque ele não conseguiu na rede pública, e tá esperando até hoje a
consulta com o especialista. É um paciente que precisa ter um cuidado diferenciado.” (Profissional 1,
médica)

Tal realidade é reforçada ao aparecer em relatos dos indivíduos abordados. A demora


para a garantia de exames e atendimentos com especialistas foram pontuadas em

24
diversos momentos, convergindo nas múltiplas histórias dos sujeitos, revelando de
forma paradoxal, sentimentos de culpa dos pacientes, dos profissionais da saúde e da
rede de média complexidade:

“Aí o doutor pediu a biópsia, só que ia levar de dois a três meses, olha só. (...) Quando ele chegou
aqui, passou pela emergência, já atenderam. A doutora olhou os exames e disse pra ele "Bah, seu Onadir
como que o senhor deixou ficar assim?Agora é uma corrida contra o tempo.".” (Esposa do paciente
O.)

"(...) quando uma pessoa chega com muita falta de ar, pedindo muita bombinha, dizendo que não tá
resolvendo a dor nas costas, já deviam ter mandado encaminhamento pra fazer as tomografias e
raio-x bem antes, e não dar só remédio e dizer que é só uma virose. (...) se não fosse culpa dela (da
profissional da saúde) a minha mãe não tava com o tumor tão avançado.” (Filha da paciente N.)

A demora nos atendimentos também foi observada nos serviços da rede intersetorial,
reforçando o déficit estrutural para acompanhar as demandas, em principal as mais
vulneráveis, de uma forma equânime.

“Na verdade ela ficou bastante tempo esperando (pelo Bolsa Família), porque a gente mora num lugar
onde vai enchente, entendeu? Todo ano vai enchente, então a gente mora num lugar bem ruim. Então
demorou as visitas, bastante coisa. Foram ver onde a gente mora." (Filha da paciente N.)

"Ele levou 10 anos esperando a aposentadoria. Ele se enfiou na bebida, mas ainda no cigarro. Aí
demorou." (Filha do paciente C.)

“É, é difícil. Às vezes a pessoa tem que ir muito de madrugada pra conseguir uma ficha, pra poder
entrar com o pedido (de auxílio-doença). E aí chega na hora também, muitas vezes é negado, não
consegue nada. Tem que entrar na justiça. (...) A pessoa trabalha a vida inteira e depois negam."
(Irmã do paciente R.)

Para além da falta de recursos humanos para atender a população, a burocratização e


judicialização dos processos também aparecem como fatores causadores de tal demora.
Demora esta que nem sempre resulta na garantia de direitos. Assim sendo, considera-se
como lacuna e fragilidade em principal o diagnóstico tardio, seja pela falta de acesso a
exames, seja pela dificuldade em acessar médicos especialistas. Percebe-se uma grande
lacuna nos serviços da média complexidade, responsável por tais demandas, onde
muitas vezes os pacientes conseguem acessar a rede de baixa e de alta complexidade,
mas encontra obstáculos para a agilização de seu diagnóstico, para a realização de
exames e seguimento em seu tratamento.

3.1.3 (Des)Continuidade no Atendimento: precarização nos processos de trabalho e fluxos


da rede de saúde

A precarização dos serviços atinge não apenas o acesso ao atendimento imediato e


precocidade no tratamento, mas também a continuidade do mesmo. A pesquisa aponta,

25
como um dos obstáculos enfrentados, a falta de capacidade dos serviços em
acompanharem os pacientes sistematicamente, como o caso abaixo.

“Acharam que ele tinha uma consulta em 2011 e ele não se apresentou nessa consulta no
ambulatório. Então, foi aonde já podia ter sido tratado. Mas foi negligência tanto dele, quanto nossa
de não ter acompanhado.” (Filha do paciente C.)

Novamente percebe-se o sentimento de autoresponsabilização do paciente e de sua


família em seu tratamento, devido à impossibilidade de busca ativa aos casos de
abandono de tratamento da equipe de saúde. Sugere-se a existência de uma fragilidade
na vinculação e co-responsabilidade do cuidado. Nesse sentido, todo profissional de
saúde deveria ser considerado (e deveria ter condições para tal em seu processo de
trabalho) como um operador do cuidado, isto é, deveria ser capacitado para atuar nos
modos de produzir acolhimento, responsabilizações e vínculos, e como um gerente do
processo de cuidar através da administração de toda uma rede necessária para a
realização do projeto terapêutico (MEHRY, 1999, p. 122). Em concordância a isso,
destaca-se a fala de uma das profissionais entrevistadas sobre o cuidado compartilhado
entre os serviços como potencializador da atenção à saúde ao paciente oncológico:

“O cuidado do paciente oncológico é um cuidado compartilhado, co-responsabilizado, no sentido que


tem uma partilha daquilo que é responsabilidade dos serviços de saúde, digamos assim, na ponta em que
ele tá acessando dentro da linha de cuidado, enfim, tem uma responsabilidade. A família tem um
compromisso, o paciente. Então a gente acaba construindo isso no cotidiano. Cada situação é única, não
tem uma fórmula ou receita que nos auxilie a dar conta dessas situações que se apresentam de diversas
formas. O nosso desafio é pensar uma intervenção que dê conta de atender as necessidades desse
paciente dentro do que tá disponível hoje, dentro do contexto do país que a gente tá vivendo
atualmente, com a família.”(Profissional 3, Assistente Social)

A (des)continuidade do cuidado também aparece nos atendimentos de urgência e


emergência. É possível reconhecer, na fala abaixo, a fragilidade de um serviço de média
complexidade, na resolutividade da situação de saúde desta paciente. Na situação
apontada, não houve o acompanhamento ou referenciamento para um serviço de maior
complexidade, ocasionando na alta da paciente, ainda que sua demanda não houvesse
sido solucionada no momento.

“A gente levou ela no Hospital (3) na sexta, porque ela não conseguia respirar, a pressão dela tava muito
baixa. Aí atenderam ela o dia todo e liberaram ela pra ir pra casa. Só que chegando em casa, ela não
conseguia respirar,não aguentava de dor e tava cuspindo sangue, então a gente trouxe ela pra cá.”
(Filha da paciente N.)

Ao mesmo tempo, os usuários e familiares buscam outros serviços por iniciativa


própria, muitas vezes desacreditados na resolutividade dos espaços acessados
anteriormente. Este fator pode acarretar na fragmentação entre os serviços que
compõem a rede, onde os atendimentos são feitos isoladamente e sem a devida
comunicação entre os espaços e profissionais envolvidos.
Constata-se, portanto, que as lacunas e fragilidades relacionadas à continuidade do
atendimento se relacionam diretamente à dificuldade em se manter um atendimento

26
integrado e sistematizado, fragilizando, assim, o vínculo dos pacientes com os
profissionais e serviços de saúde. Percebeu-se com esse estudo que não há de fato uma
linha de cuidado específica ao paciente oncológico, sistematizada e integrada para o seu
atendimento e para a continuidade do mesmo.
Em relação a isto, a concepção de uma linha de cuidado à pacientes crônicos de doenças
não transmissíveis abrange tanto a perspectiva da micropolítica, buscando potencializar
o trabalho cuidador na responsabilização do profissional e do sistema pela saúde do
usuário, quanto a perspectiva da macropolítica, no apoio e investimento dos gestores em
processos de gestão coletivos e participativos, atuando nos determinantes sociais,
buscando articulações intersetoriais, mudanças na legislação, atuação na regulação, no
financiamento das ações, na rede de serviços, na organização da vigilância e informação
em saúde. (MALTA; MEHRY, 2010, p. 596-200)
Para Franco e Franco (2015, p. 1), a Linha do Cuidado Integral incorpora a ideia da
integralidade, o que significa unificar ações preventivas, curativas e de reabilitação, ou
seja, na prática da promoção à saúde; proporcionando o acesso a todos os recursos que o
usuário necessita, desde visitas domiciliares e outros dispositivos como o Programa de
Atenção Domiciliar, até os de alta complexidade hospitalar; requerendo uma opção de
política de saúde e boas práticas dos profissionais.
Nesse sentido, no caso do paciente oncológico, a linha de cuidado contribuiria na
abrangência dos espaços em que o mesmo perpassa, desde a rede básica de atenção em
saúde até serviços de alta complexidade como a emergência, bem como a articulação e
as estratégias firmadas entre os serviços para a melhor forma de prestar a assistência em
saúde necessária no caso do câncer, otimizando os fluxos da rede de saúde.

3.2 POTENCIALIDADES: O PROCESSO DE RESISTÊNCIA DA REDE


Apesar das múltiplas lacunas e fragilidades dispostas pelo processo de precarização das
políticas sociais, que refletem nos espaços de atendimento aos usuários, a luta cotidiana
na construção do sistema de saúde reflete o quanto é desafiador garantir o direito à
saúde dos usuários, frente às ameaças de cortes de recursos para a saúde2, má gestão da
política de saúde em âmbito municipal, dentre outros. Como já cantava Chico Buarque:
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, os serviços continuam intervindo no
processo de saúde dos pacientes, apesar de suas limitações e da precarização que lhe é
imposta. As falas dos entrevistados demonstraram similaridades nas percepções acerca
das potencialidades existentes no acesso à rede. Para melhor retratar as constatações
acerca das potencialidades, esta categoria foi dividida em três subcategorias de análise:
o vínculo entre serviços, trabalhadores e usuários, o acolhimento e a territorialização em
saúde.

2 Em junho de 2016, foi apresentada por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo de Michel Temer, a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 241/55, que tem como objetivo limitar os gastos públicos pelos próximos 20 anos. A PEC institui o
Novo Regime Fiscal, que prevê que tais gastos não poderão crescer acima da inflação acumulada no ano anterior, e com isso os
investimentos públicos essenciais e estratégicos, como em saúde, educação e assistência social, sofrerão um grande impacto.
Atualmente essas áreas já precisam de mais investimento, porém o novo regime afetará de forma desigual as populações mais
vulneráveis.

27
3.2.1 Vínculo entre os serviços, trabalhadores e usuários como potencializador do cuidado
Segundo Campos (1997), o vínculo entre os usuários do serviço de saúde e
trabalhadores amplia a eficácia das ações de saúde, favorecendo a participação do
usuário durante a prestação do serviço. Nessa perspectiva, identificou-se na fala dos
indivíduos a contribuição e o reconhecimento do vínculo como potencializador do
acesso à rede e no acompanhamento de suas situações de saúde e de seus familiares,
conforme ilustrado nas fala abaixo.

"Quem atende a gente é muito legal. A maioria que atende já é da comunidade, a gente conhece todo
mundo, temos vínculo. Eles faziam visita domiciliar, quando meu marido saiu do Hospital, eles iam
quase todo dia. Trocavam a sonda dele, iam fazer curativo. Olha, eles foram maravilhosos. O agente
(comunitário de saúde) vai de vez em quando, pergunta, questiona. Eles acompanham bem." (Esposa do
paciente O.)

"Ela acessa o CRAS, pra fazer o grupo de mães, toda semana. Há uns quatro anos mais ou menos. Já
conhecem ela, o atendimento é bom. Ela se sente bem." (Esposo da paciente V.)

O vínculo também proporciona a equidade no atendimento, tendo em vista que a equipe


de saúde já conhece as demandas dos indivíduos, priorizando-os quando necessário.
Para estes sujeitos, também contribui para o reconhecimento do esforço realizado pela
equipe apesar das limitações. O vínculo é recíproco, no sentido de garantir uma
experiência positiva para os usuários e trabalhadores.

"Olha, quando o posto tá aberto e tem médico, ele já chega e é preferencial. É, eu não posso me queixar.
A gente é sempre bem atendido. Tanto as enfermeiras quanto as atendentes do balcão, atendem bem,
mas falta muita coisa lá. Tá longe de tá bom. O que tem eles oferecem de boa vontade.” (Cunhada do
paciente A.)

A vinculação entre os pacientes e serviços da rede também foi pontuada como


potencialidade na articulação entre os espaços de atendimentos, sendo crucial nos
encaminhamentos desencadeados a partir da emergência:

“Se o paciente já tem vínculo com a rede, esse contato é muito mais fácil, com certeza.” (Profissional
3, Assistente Social)

Outro ponto importante a ser destacado são os profissionais de referência nos espaços
de atendimento em saúde. Majoritariamente, os indivíduos reconhecem médicos e
enfermeiros como profissionais de referência, mas sem um real acompanhamento da
família, e acessam a rede básica apenas para consultas pontuais ou para receber
medicamentos.
Nos contextos onde os indivíduos que já possuíam vínculo com os serviços acessados
antes do diagnóstico de câncer, com um maior suporte e acompanhamento sistemático
da rede, percebeu-se uma diferenciação nos cenários e na gestão do cuidado. Os sujeitos
se mostravam mais implicados e cientes acerca dos processos e situação de saúde de
seus familiares, bem como das suas estratégias de enfrentamento e de serviços presentes
na rede com que poderiam contar. Portanto, considera-se o vínculo como
potencializador no cuidado ao paciente oncológico por contribuir para um suporte mais
28
estruturado e para a equidade nos atendimentos, tendo em vista que há a busca pelo
reconhecimento prévio da situação e necessidades de saúde e do contexto social do
paciente.

3.2.2 Acolhimento: uma abordagem humanizada


Há uma forte relação entre acesso, integralidade, vínculo e acolhimento. Para Carvalho
e Campos (2000, p. 512), o acolhimento busca garantir acesso aos usuários com o
objetivo de escutar os pacientes, resolver os problemas mais simples e/ou referenciá-los,
se for o caso. A acolhida nos serviços de portas abertas contribui para a
responsabilização das equipes pelos problemas de saúde de uma certa região. Prevê a
capacidade de um serviço adaptar técnicas e combinar atividades para responder às
demandas (plasticidade), adequando as estratégias a recursos escassos e aspectos
sociais, culturais e econômicos, presentes na vida diária.
Nesse sentido, as falas a seguir retratam tal plasticidade em duas Unidades Básicas de
Saúde distintas, onde os familiares reconhecem as limitações dos locais e do sistema em
geral, porém também reforçam que, apesar disso, os profissionais garantem um bom
atendimento e são acolhedores, atenciosos com as demandas dos pacientes. Ressalta-se
que ambas as famílias já realizavam acompanhamento com os serviços, possuindo
vínculo e acompanhamento prévio ao diagnóstico oncológico dos pacientes.

"Ah, lá o atendimento é bom. São sempre atenciosos, fazem o que podem, né? Falta bastante coisa,
medicamento. Mas eles fazem o que conseguem, apesar disso." (Esposo da paciente V.)

“(...) eles tentam fazer o melhor que eles podem com o que eles tem. A gente sabe que não é culpa de
quem tá trabalhando lá assim, né. É porque é coisa do governo, eu acho.” (Neta da paciente L.)

Nesta lógica, os serviços se responsabilizam por uma região, mantendo o


acompanhamento em saúde e acolhendo as demandas emergentes das famílias do
território, fortalecendo o vínculo com os usuários por meio da responsabilização e do
acesso aos serviços, mesmo que fragilizados ou precarizados.Também houve relatos
sobre o acolhimento na rede intersetorial, ressaltando que a necessidade de um cuidado
humanizado, bem como a própria equidade perpassam as barreiras do SUS. Uma vez
que os pacientes e familiares já encontram-se em uma situação vulnerável por conta do
diagnóstico complexo e impactante de uma doença como o câncer, eles demandam
ainda mais um atendimento diferenciado e acolhedor, como relatado pela familiar a
seguir.

"Tudo muito rápido no INSS, sabe? Muito agilizado. Os profissionais foram muito receptivos. A gente
sente até mais confortável né? É difícil, a situação que a gente se encontra, então. A gente se sente
mais confortável." (Cunhada do paciente A.)

Em contrapartida, a ausência de uma postura acolhedora e empática no atendimento


pode acarretar com a fragilização do vínculo entre pacientes e seus familiares nos
espaços de atendimento, como no caso relatado abaixo. Mesmo que o local seja mais
próximo ou mais viável no sentido de deslocamento, o fato de a familiar não se sentir
acolhida impactou em uma experiência negativa, culminando na desvinculação e não
29
reconhecimento da resolutividade de suas demandas no local específico, no caso, um
hospital de média complexidade.

"Uma vez ela acessou o hospital de lá (da cidade de origem). Mas ficaram tudo conversando em
volta dela e ninguém dava atenção. Nunca mais levo lá naquele lugar. Falta de respeito com o
paciente." (Mãe da paciente J.)

Portanto, evidencia-se a necessidade de uma abordagem acolhedora, sendo possível


criar um vínculo de respeito mútuo e responsabilidade para com o usuário e suas
demandas. O acolhimento então contribui para o cuidado integral e para a equidade, no
momento em que esta responsabilização acarreta em um real acompanhamento e
sensibilização para as demandas trazidas durante os atendimentos.

3.2.3 Territorialização para a garantia do acesso


A estruturação territorial e descentralizada do Sistema Único de Saúde (SUS) vem
sendo desenvolvida no Brasil através da chamada territorialização da saúde, como
estratégia para a universalização do acesso, com vistas à integralidade do cuidado. Essa
estratégia tem como objetivo definir territórios de atuação dos serviços, tendo em vista
que o acesso se relativiza pela presença de espaços de atendimento próximos dos
usuários, com conhecimento do seu contexto e cotidiano.
Por esse ângulo, a territorialização gera proximidade entre as equipes de saúde e os
usuários, facilitando o acesso e fortalecendo o vínculo. Foi apontado neste estudo como
potencialidade no atendimento, não apenas dos serviços em saúde, mas também na rede
intersetorial, conforme nas falas abaixo:

"No CRAS ela chega e é atendida. É perto de casa, são muito queridos. Agora ainda disseram que vai
abrir um mais perto, olha que maravilha.” (Mãe da paciente J.)

“A gente tem tanto direito que a gente não sabe. Me falaram sobre o CRAS, que é bem pertinho da minha
casa. Mas eu nunca imaginei que tinha direito. Aí um dia conversando com outra pessoa ela disse "Não,
vai lá no CRAS que acho que tu consegue", e não é que eu fui e consegui mesmo. Fui bem atendida."
(Esposa do paciente O.)
A territorialização também permite que os usuários compartilhem as informações sobre
os serviços entre si, conforme visto na última fala, garantindo a participação dos
indivíduos como atores importantes na rede e nos processos de trabalho dos locais de
atendimento, ampliando o acesso entre os usuários do território.
O território é também um espaço, porém singularizado, pois tem limites, podendo ser
político-administrativos ou de ação de um determinado grupo de atores sociais, sendo
que, internamente, possui uma identidade que vai depender da história de sua
construção. Importante ressaltar que também é portador de poder, pois nele se exercitam
e se constroem os poderes de atuação tanto do Estado, das agências e de seus cidadãos.
É uma importante estratégia para as políticas sociais públicas na consolidação de ações
para o enfrentamento de problemas e necessidades da população que o habita e o produz
socialmente. (Gondin et al., 2008, p. 238)

30
A territorialização também foi apontada pelas profissionais entrevistadas como
elemento facilitador nos atendimentos e encaminhamentos realizados a partir da
emergência em questão, conforme ilustrado pela fala a seguir:

“Quando os pacientes são da capital é menos difícil, não sei se é porque a rede está mais estruturada, mas
quando tu faz um contato os profissionais já estão acostumados com aquilo, por mais que seja difícil e
não seja imediato a disponibilização dos recursos, os profissionais já estão por dentro daquele fluxo. A
maioria sabe como deve funcionar, claro, a receptividade é diferente entre as unidades de saúde, nesse
entendimento de compartilhar o cuidado. Em geral na rede da capital há um entendimento maior do
compartilhamento do cuidado, que é necessário. Que não é só a alta complexidade que vai dar conta. (,..)
Eu acredito que o trabalho em rede é a grande possibilidade para que esse paciente e essa família
consigam ter acesso ao seus direitos e acesso à saúde.”(Profissional 2, Assistente Social)

Nesse sentido, o trabalho voltado para a linha de cuidado na perspectiva territorializada


potencializa a atenção em saúde. Para Mehry e Franco (2003, p. 323), a linha de
cuidado deve ocorrer entre os trabalhadores, como parte integrante de uma rede, onde
há mútua implicação com o processo produtivo e que vão se expressar em atos como o
do acolhimento em cada serviço desta rede, bem como a vinculação dos usuários e
responsabilização com seu cuidado. Portanto, conclui-se que a territorialização contribui
para o trabalho integrado em rede, que pode trazer benefícios para a atenção à saúde e
para o acesso aos espaços de atendimento de forma mais efetiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Revelar como a rede de atenção ao paciente oncológico se tenciona para o cuidado
integral é uma demanda importante frente ao cenário do câncer em âmbito mundial,
devido ao constante crescimento de casos e o impacto da doença na sociedade. Este
estudo teve como objetivo identificar as lacunas, fragilidades e potencialidades desta
rede, partindo da análise do contexto de pacientes em um serviço de emergência de um
hospital de alta complexidade do Rio Grande do Sul.
A partir desta análise, foi possível afirmar que as lacunas e fragilidades percorrem o
campo da precarização estrutural e da falta de profissionais e espaços de atendimentos,
principalmente em locais mais vulneráveis socialmente e geograficamente distantes de
grandes centros, abrangendo a gestão municipal dos serviços. Foi pontuado pelos
sujeitos de pesquisa, uma maior articulação na rede de saúde e intersetorial de Porto
Alegre, em contrapartida da fragmentação em cidades da região metropolitana, do
interior e do litoral do estado. A qualificação dos trabalhadores a respeito dos pacientes
oncológicos também foi destacado como uma necessidade para o fortalecimento do
cuidado integral à este segmento.
O diagnóstico tardio, seja pela falta de acesso à exames e médicos especialistas,
destacou uma grande lacuna nos serviços da média complexidade, responsável por tais
demandas. Em muitos casos, os pacientes conseguem acessar a rede de baixa e de alta
complexidade, encontrando obstáculos para a agilização de seu diagnóstico, para a
realização de exames e seguimento em seu tratamento.
Outra fragilidade aparente nesse estudo foi a (des)continuidade do atendimento, se
relacionando diretamente à dificuldade em se manter um atendimento integrado e
sistematizado. Nesse ponto, sugere-se uma linha de cuidado específica ao paciente
oncológico, sistematizada e integrada para o seu atendimento e para a continuidade do
mesmo.

31
Em relação às potencialidades, o vínculo entre os trabalhadores, usuários e serviços
surgiu como potencializador no cuidado ao paciente oncológico por contribuir para um
cuidado estruturado e para a equidade nos atendimentos, devido à relação de
proximidade entre as equipes e os usuários.
Outra potencialidade sinalizada na pesquisa foi a proposta de uma abordagem
acolhedora dos serviços e das equipes de saúde, tornando possível o estabelecimento de
um vínculo de respeito mútuo e responsabilidade para com o usuário e suas demandas.
O acolhimento contribui para o cuidado integral e para a equidade, no momento em que
esta responsabilização acarreta em um real acompanhamento e sensibilização para as
demandas trazidas durante os atendimentos.
A territorialização da saúde também foi evidenciada como potencialidade, por
contribuir para o trabalho integrado em rede, gerando proximidade entre as equipes de
saúde e os usuários, facilitando o acesso e fortalecendo o vínculo. Tal organização pode
trazer benefícios para a atenção à saúde e para o acesso aos espaços de atendimento de
forma mais efetiva.
Nessa perspectiva, se reforça a necessidade do debate, para melhoria dos serviços a
partir do sinalizado neste estudo. Sugere-se o cuidado integral e a atenção intersetorial
como estratégia para a atenção à saúde do paciente oncológico, frente às suas demandas
complexas e multifacetadas, que impactam sua vida e seu cotidiano, bem como de seus
familiares e da sociedade, tendo em vista a indissociabilidade da saúde e dos
determinantes sociais.

32
REFERÊNCIAS
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34
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa ocupa um espaço importante no campo da saúde, no que diz


respeito a identificar a organização do sistema de saúde e suas possíveis
melhorias, seja em respeito à sua gestão tanto quanto suas tecnologias. Nesse
sentido, os programas de residência multiprofissional se consolidam como
potenciais espaços de pesquisa, tendo em vista sua proposta de formação em
serviço e sua proximidade com a prática assistencial.
Falar em modelos de atenção, integralidade e rede de saúde dentro do serviço
de emergência se compôs em um constante desafio, tendo em vista o caráter
emergencial e urgente dos atendimentos e o senso comum de que a
emergência é um serviço à parte desta rede. Uma das maiores contribuições
desta pesquisa talvez seja a de compreender a magnitude dos atendimentos e
articulações realizadas nesse serviço, que mesmo enfrentando a superlotação
constante, consegue contribuir para a integralidade do paciente oncológico.
Para além dos resultados já apresentados no artigo resultante deste estudo, a
residência tornou possível o desenvolvimento de aprendizado para as
pesquisadoras e para os serviços onde esta pesquisa foi e ainda será
apresentada, se convertendo em qualificação dos profissionais e
prioritariamente no atendimento ao paciente. Reforça-se a importância da
residência nesse processo, por fomentar a pesquisa a partir da formação em
serviço, para integrar o conhecimento teórico com a vivência prática.

35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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37
APÊNDICES

APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PARTICIPANTES PACIENTES OU FAMILIARES
Nº do projeto GPPG ou CAAE 160033

Título do Projeto: A ATENÇÃO À SAÚDE AO PACIENTE ONCOLÓGICO A


PARTIR DA EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL DE ALTA
COMPLEXIDADE:LACUNAS E POTENCIALIDADES DA REDE NO
CUIDADO INTEGRAL
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa cujo
objetivo é analisar a atenção à saúde ao paciente oncológico, atendidos na
emergência de um hospital de alta complexidade. Esta pesquisa está sendo
realizada pelo Serviço Social da Residência Integrada Multiprofissional em
Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Se você aceitar participar da pesquisa, os procedimentos envolvidos
em sua participação são os seguintes: autorização à consulta ao prontuário
e responder a uma entrevista sobre atenção à saúde do paciente oncológico
com a duração de aproximadamente quarenta minutos, que será realizada
no Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em um
local apropriado.
Os possíveis riscos ou desconfortos decorrentes da participação na
pesquisa são: sentimento de desconforto, considerando que o tema
abordado nesta pesquisa é capaz de provocar emoções, bem como o
tempo dedicado à entrevista.
Os possíveis benefícios decorrentes da participação nesta pesquisa
não são diretos, porém tal participação contribuirá para o aumento do
conhecimento sobre o assunto estudado e os resultados poderão auxiliar a
realização de estudos futuros.
Sua participação na pesquisa é totalmente voluntária, ou seja, não é
obrigatória. Caso você decida não participar, ou ainda, desistir de participar
e retirar seu consentimento, não haverá nenhum prejuízo ao atendimento
que você recebe ou possa vir a receber na instituição.
Não está previsto nenhum tipo de pagamento pela sua participação
na pesquisa e você não terá nenhum custo com respeito aos procedimentos
envolvidos.

38
Caso ocorra alguma intercorrência ou dano, resultante de sua
participação na pesquisa, você receberá todo o atendimento necessário,
sem nenhum custo pessoal.
Os dados coletados durante a pesquisa serão sempre tratados
confidencialmente. Os resultados serão apresentados de forma conjunta,
sem a identificação dos participantes, ou seja, o seu nome não aparecerá
na publicação dos resultados. Caso você tenha dúvidas, poderá entrar em
contato com a pesquisadora responsável, Profª. Drª. Dolores Sanches
Wünsch, pelo telefone (51) 3308-5700, com
Rubrica do participante ______ Rubrica do pesquisador ________

a pesquisadora Tuane Vieira Devit, pelo telefone (51) 3359-8305 ou com o


Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(HCPA), pelo telefone (51) 33597640, ou no 2º andar do HCPA, sala 2227,
de segunda à sexta, das 8h às 17h.
Esse Termo é assinado em duas vias, sendo uma para o participante
e outra para os pesquisadores.

____________________________________
Nome do paciente

____________________________________
Nome do participante da pesquisa
____________________________________
Assinatura do participante
____________________________________
Nome do pesquisador que aplicou o Termo
____________________________________
Assinatura
Local e Data: _________________________

Rubrica do participante ______ Rubrica do pesquisador ________

39
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PARTICIPANTES PROFISSIONAIS

Nº do projeto GPPG ou CAAE 160033

Título do Projeto: A ATENÇÃO À SAÚDE AO PACIENTE ONCOLÓGICO A


PARTIR DA EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE:
LACUNAS E POTENCIALIDADES DA REDE NO CUIDADO INTEGRAL
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa cujo
objetivo é analisar a atenção à saúde aos pacientes oncológicos, atendidos
na emergência de um hospital de alta complexidade. Esta pesquisa está
sendo realizada pelo Serviço Social da Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Se você aceitar participar da pesquisa, será convidado (a) a


responder a uma entrevista sobre atenção à saúde do paciente oncológico,
com a duração de aproximadamente trinta minutos, que será realizada no
Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em um
local apropriado.
Os possíveis riscos ou desconfortos decorrentes da participação na
pesquisa são: sentimento de desconforto, considerando o tema abordado
na pesquisa, bem como o tempo dedicado à entrevista.
Os possíveis benefícios decorrentes da participação nesta pesquisa
não são diretos, porém tal participação contribuirá para o aumento do
conhecimento sobre o assunto estudado e os resultados poderão auxiliar a
realização de estudos futuros.
Sua participação na pesquisa é totalmente voluntária, ou seja, não é
obrigatória. Caso você decida não participar, ou ainda, desistir de participar
e retirar seu consentimento, não haverá nenhum prejuízo ao vínculo que
você possui com a instituição.
Não está previsto nenhum tipo de pagamento pela sua participação
na pesquisa e você não terá nenhum custo com respeito aos procedimentos
envolvidos.
Caso ocorra alguma intercorrência ou dano, resultante de sua
participação na pesquisa, você receberá todo o atendimento necessário,
sem nenhum custo pessoal.

40
Os dados coletados durante a pesquisa serão sempre tratados
confidencialmente. Os resultados serão apresentados de forma conjunta,
sem a identificação dos participantes, ou seja, o seu nome não aparecerá
na publicação dos resultados.
Caso você tenha dúvidas, poderá entrar em contato com a
pesquisadora responsável, Profª. Drª. Dolores Sanches Wünsch, pelo
telefone (51) 3308-5700, com a pesquisadora Tuane Vieira Devit, pelo
telefone (51) 3359-8305 ou com o Comitê de
Rubrica do participante ______ Rubrica do pesquisador ________

Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA),


pelo telefone (51) 33597640, ou no 2º andar do HCPA, sala 2227, de
segunda à sexta, das 8h às 17h.

Esse Termo é assinado em duas vias, sendo uma para o participante


e outra para os pesquisadores.

____________________________________
Nome do participante da pesquisa

____________________________________
Assinatura

____________________________________
Nome do pesquisador que aplicou o Termo

____________________________________
Assinatura

41
Local e Data: _________________________

Rubrica do participante ______ Rubrica do pesquisador ________

APÊNDICE C

ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS


1. Qual a sua percepção sobre o paciente oncológico e suas necessidades em
saúde?

2. Para quais serviços você geralmente encaminha os pacientes


oncológicos que atende na emergência do HCPA?

3. Em sua opinião, quais os maiores limites e facilidades existentes na rede


de atenção ao paciente oncológico?

42
APÊNDICE D
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PACIENTES E FAMILIARES

1. Dados do paciente
CID: Sexo: Idade:
Profissão: Escolaridade:
Procedência (cidade e bairro):
Com quem reside: Renda familiar:

2. Por que procurou a emergência do HCPA? Veio encaminhado de algum


lugar?

3. Você acessou/vem acessando algum outro serviço de saúde (Unidade


Básica de Saúde, Hospital, Ambulatórios, Unidades de Pronto Atendimento,
Centro de Atenção Psicossocial, outro)? Se sim, qual(is)?

Desde quando você acessa este(s) local (is)?

Com que frequência?

Por que motivo?

Qual o principal profissional de referencia nesses serviços?

4. Como você vê o acesso a estes serviços? Existe alguma dificuldade


para conseguir atendimento? Se sim, quais são as dificuldades?

E quais atendimentos/necessidades atendidas?

5. Além dos serviços de saúde, você acessou/vem acessando algum


serviço da rede de Assistência Social (Centro de Referência em Assistência
Social, Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Previdência
Social (Instituto Nacional de Seguro Social), Organizações não governamentais
(ONG’s) ou outros? Se sim, qual(is)?

43
Desde quando você acessa este(s) local (is)?

Com que frequência?

Por que motivo?

Qual o principal profissional de referencia nesses serviços?

6. Como você vê o acesso a estes serviços? Existe alguma dificuldade


para conseguir atendimento? Se sim, quais são as dificuldades?

E quais atendimentos/necessidades atendidas?

7. Você conta com o auxílio de familiares, amigos, vizinhos e/ou outras


pessoas que tem algum vínculo? Quem são as pessoas de referência no
cuidado ao paciente?

44

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