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INTRODUÇÃO
Herança tão rica e, contudo, tão pesada. Rica, porque para além do seu inestimável valor
histórico/cultural, ela contribui de uma forma decisiva para a identidade da região,
conferindo-lhe características muito próprias que se traduzem em ambientes rurais e
urbanos com um importante valor estético e patrimonial. Pesada, porque deixa-nos a
enorme responsabilidade de saber respeitar, proteger e valorizar esse legado patrimonial,
enquanto suporte físico insubstituível da memória colectiva e da identidade da região, de
modo a integrá-lo no quadro da vida social actual e a transmiti-lo às gerações futuras.
ARQUITECTURA MILITAR
Fortalezas Quinhentistas
Nos finais do séc. XIV foi construída a primeira cinta de muralhas de Setúbal, nessa altura
uma vila de pescadores, para protecção da comunidade contra os ataques de piratas norte-
africanos, da qual subsistem ainda alguns troços.
Data também desta época a construção da torre de vigilância do Outão e das primeiras
estruturas fortificadas construídas naquele local. Esta fortaleza foi posteriormente
reestruturada e ampliada por volta de 1572, face às exigências das novas técnicas de
guerra. No séc. XIX foi transformada em prisão, mais tarde em residência de férias do rei
D. Carlos, e por último, no início deste século foi ali instalado um hospital ortopédico que
se mantém até hoje.
A fortaleza foi projectada por um engenheiro militar Italiano, Filipe Terzi, de acordo com
os modelos mais avançados da época. A sua estrutura abaluartada, com planta em estrela
irregular de seis pontas e muralha inclinada, permitia uma grande diversidade de direcções
de tiro, maior eficácia na defesa e maior resistência contra ataques da artilharia piro
balística. No seu interior existe um conjunto de edifícios onde se integra uma igreja
revestida interiormente com magníficos azulejos do séc. XVIII, e a antiga residência do
governador, onde está hoje instalada a pousada de S. Filipe.
Fortalezas Seiscentistas
Exceptuando o forte do Cozinhador, os restantes foram alvo de diversos restauros que lhes
permitiram chegar aos nossos dias em condições razoáveis. A fortaleza de St.ª Maria da
Arrábida foi, nos finais da década de 80 entregue ao PNA, e alvo de um total restauro,
encontrando-se aí instalado actualmente o Museu Oceanográfico.
ARQUITECTURA RELIGIOSA
Época Medieval
Em meados do séc. XIV foi edificada em Vila Nogueira de Azeitão uma igreja,
correspondente à actual igreja de S. Lourenço, com o objectivo de corresponder aos
anseios de uma população cada vez mais significativa e que reclamava a construção
de um templo onde se ministrassem os sacramentos e a fé cristã. O edifício original,
estilo gótico, com um alpendre como acontece com outras capelas da região, foi
posteriormente reconstruído e alterado ao longo dos séculos. No seu interior, de nave
única com abobada abatida, realça-se a capela-mor com talhas e pintura do séc.
XVII e os painéis de azulejos do séc. XVIII.
No séc. XV surge outra obra de carácter religioso nesta localidade, o Convento de N.ª
Sr.ª da Piedade, destinado à Ordem de S. Domingos. O importante conjunto
localizava-se no topo sul do Rossio da Vila Nogueira, tendo sido progressivamente
destruído após a extinção do convento em 1833. No início deste século o edifício do
velho convento serviu como hotel e estação de diligências, tendo sido mais tarde
parcialmente reedificado e posteriormente adaptado a residência particular.
Relacionado com a história destes dois conventos está também o edifício da Quinta
da Boavista, onde actualmente se encontra instalada a sede da Província Portuguesa
da Congregação da Apresentação de Maria. O edifício, que até à actualidade sofreu
diversas obras de ampliação, já pouco ou nada terá a ver com o edifício que ali
existiu nos finais da Idade Média e que pertenceu à família de Vasco da Gama. No
entanto, próximo deste, existe a antiga Capela de St.º António, que apresenta
vestígios da sua origem medieval.
O CONVENTO DA ARRÁBIDA
O Convento Velho foi fundado nas primeiras décadas do séc. XVI por frades
Franciscanos, a partir de uma antiga ermida existente no local desde o séc. XIII, a
Ermida da Memória, construída por Hildebrando na sequência do milagre narrado
na lenda de Santa Maria da Arrábida. Para além desta ermida, o Convento Velho
incluía um conjunto de seis celas e um refeitório, estruturas bastante precárias e
semi-naturais onde se abrigavam estes primeiros frades franciscanos. Este conjunto
praticamente desapareceu nas últimas décadas, tendo sido roubados os azulejos do
séc. XVII que forravam o interior da ermida.
O conjunto foi sendo ampliado nos séculos seguintes, salientando-se a construção das
seis capelas imperfeitas em meados do séc. XVII, projectadas para estação dos passos
de Jesus e abrigo dos frades, assim designadas por nunca terem sido concluídas,
excepto uma. As seis guaridas têm desenho arquitectónico estudado, com volumes de
base circular, octogonal e quadrada, sendo encimadas por cúpulas, todas semelhantes
mas todas diferentes, transmitindo uma singularidade notável a este conjunto.
Salienta-se ainda uma outra ermida, a do Bom Jesus, ricamente ornamentada com
azulejaria e figuras de pedra, envolvida por um magnífico jardim, contrastando com
a simplicidade e austeridade do restante conjunto.
Após a extinção das ordens religiosas em 1833 e mais tarde da Casa de Aveiro, os
terrenos do convento entram na posse da Coroa, sendo vendidos em 1863 à Casa
Palmela. Recuperado já neste século, na década de 40, voltou a sofrer uma
progressiva degradação até que, no início dos anos 90 foi adquirido pela Fundação
Oriente, com o objectivo de ali instalar um centro destinado a actividades
essencialmente culturais. As obras de restauro e adaptação foram já efectuadas
parcialmente no núcleo principal, podendo o local ser visitado pelo público em dias e
horários condicionados.
Época Renascentista
A Igreja de S. Simão, em Vila Fresca de Azeitão, foi fundada no séc. XVI por Afonso
de Albuquerque, também em local onde anteriormente teria existido uma ermida da
mesma vocação. De traça renascentista, a igreja tem três naves, sendo a cobertura da
nave central em madeira e a das laterais em abóbada de arestas. Diversas obras de
restauro foram efectuadas até aos nossos dias, tendo entretanto desaparecido três das
quatro torres originais na sequência do terramoto de 1755. No seu interior salienta-se
o revestimento azulejar do séc. XVII.
Época Barroca
Cruzeiros e Pelourinhos
Este cruzeiro encontra-se tradicionalmente ligado a uma lenda segundo a qual terá
sido encontrado na
As três cruzes que existem no Monte de Abraão, na serra da Arrábida, são atribuídas
ao séc. XVI e terão sido colocadas por S. Pedro de Alcantâra e seus companheiros,
julgando-se que faziam parte de uma série que principiava em El Carmen e que
permitia a quem vinha de Azeitão para a Arrábida, rezar a Via Sacra no caminho.
Época Renascentista.
Outro edifício renascentista mas já do séc. XVI, é a Quinta das Torres. A sua
arquitectura tomou como modelo os arquétipos do Renascimento Italiano e possui
também um conjunto notável de painéis de azulejos. Actualmente a Quinta está
aproveitada para fins turísticos funcionando como estalagem, restaurante e casa de
chá, e encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público. Também de autoria
de Braz de Albuquerque, os jardins desta Quinta eram manifestamente um exemplo
do Renascimento Italiano, e muito embora tenham sofrido grandes alterações ao
longo dos séculos, não sendo possível analisar o seu traçado com rigor, poder-se-à
afirmar que o grande lago, com o seu clássico templete ao centro, justificaria a
existência de jardins e pomares de beleza e monumentalidade idênticas ao próprio
elemento gerador do espaço. Sendo o lago o elemento mais significante, esta Quinta
torna-se, por este facto, um exemplo de tradição portuguesa.
Iniciado ainda no séc. XVI e concluído no início do séc. XVII, o Palácio dos Duques
de Aveiro, em Vila Nogueira de Azeitão, veio culminar esta fase de eleição da região
para instalação de quintas e solares, protagonizada essencialmente pela corte e pela
nobreza do reino.
Época Barroca.
Assim, dos finais do séc. XVII até ao início do séc. XIX, a região de Azeitão encheu-se
de novas quintas e palácios, continuando essa apetência natural das classes mais
abastadas que, perto de Lisboa, aí encontraram um espaço privilegiado de lazer, pela
amenidade do clima, a beleza das paisagens, a abundância de caça, construindo os
seus palácios e casas senhoriais, rodeando-os de olivais, vinhas e pomares.
Em torno das aldeias de Azeitão poder-se-ão contar cerca de três dezenas de quintas
que surgiram ou ressurgiram nessa época, localizando-se a maior parte delas fora do
PNA. Também em redor de Setúbal se assiste ao aparecimento de muitas quintas,
cerca de duas dezenas, em que apenas uma pequena parte se encontra na área do
PNA.
Período Neo-Clássico.
Durante o séc. XIX, a vitória do liberalismo trouxe de novo uma fase de abandono da
maioria dos solares, cujos proprietários eram na sua maioria Miguelistas, voltando a
repetir-se o desaparecimento de riquíssimos espólios, tal como sucedera após a
Restauração.
Século XX.
A partir dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, alguns solares voltam a ser
reanimados por particulares pertencentes às camadas socioprofissionais mais
prestigiadas, surgindo como exemplos da arquitectura do início do século, o edifício
do casal do Bispo e a Casa da Fonte de Oleiros, e mais tarde, já no período do Estado
Novo, a recuperação e ampliação do Palácio da Comenda, da autoria do arquitecto
Raúl Lino, bem como o aparecimento de algumas "casas portuguesas" nos
aglomerados de Azeitão.
Construções tradicionais.
Outra tipologia surge nas zonas mais próximas de Setúbal, podendo considerar-se
uma casa da Estremadura, de linhas simples, maiores vãos, telhados de duas águas,
contrafortes, surgindo em parte da casa, geralmente no topo, um segundo piso
encimado por um telhado de quatro águas. Estas casas surgem geralmente isoladas,
com alpendres e são de maior dimensão que as atrás referidas.
Moínhos de Vento.
Grande parte destes moinhos funcionavam ainda no início deste século, até
sucumbirem totalmente nos anos 60 face à eficácia das moagens industriais.
O PNA tem vindo a promover a revitalização dos moinhos de vento, tendo em vista a
manutenção do seu valor patrimonial e cultural, tendo sido já restaurados dois
moinhos na Serra do Louro, que se encontram operacionais, servindo de exemplo
vivo de actividades tradicionais.
A região da Arrábida foi rica em obras de água compostas por extensas galerias,
aquedutos e depósitos de grande capacidade, que se encontram actualmente em
ruínas, mas que se podem ainda observar em diversas quintas, como a Quinta Nova,
o Paço dos Duques de Aveiro, a Quinta das torres e a Quinta dos Arcos.
Da mesma época é também a Fonte da Aldeia Rica e, dos finais do mesmo século a
Fonte de Oleiros.