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Chaie Sarah – A vida de Sara

Esta seção tem início com um triste relato: a morte de Sarah! “E foi a
vida de Sara cento e vinte e sete anos; estes foram os anos da vida
de Sara. E morreu Sara em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de
Canaã; e veio Avraham lamentar Sara e chorar por ela” (Gn 23:1-2). A
vida de Sarah agora havia chegado ao fim! Após cento e vinte e sete
anos de caminhada com o Eterno e com seu marido Avraham, agora
Sarah chega ao fim de sua existência. Este fato que nos é narrado nos
fala da vida de uma mulher que foi totalmente transformada pelo
Eterno! A mulher que havia sido concebida como uma “minha
princesa” – significado do nome Sarai – agora transforma-se numa
“princesa, dama da corte, rainha” – significado do nome Sarah –
e isso fez muita diferença, não somente em sua vida, mas também na
vida de Avraham e de todos aqueles que os conheciam. A palavra
sarâh também provém de uma raiz que significa lutar, contender, ter
poder. Dela resulta o substantivo “Israel”, que significa “aquele que
contende (luta) com El”. Quando o Eterno muda o nome de uma
pessoa, Ele também realiza uma profunda mudança interior, de
caráter, de personalidade, de atitudes, de posturas. Neste caso, ele
retira uma letra do nome de Sarai e coloca outra, que está em seu
próprio nome! Isso aponta para algo extraordinário: o Eterno colocou
algo de si mesmo em Sarai e transformou-a em Sarah! Nós nos
lembramos também que Sarai era uma mulher estéril, e isso era
considerado no oriente como uma maldição – mas já com Sarah as
coisas mudam! O Eterno muda a vida desta mulher de tal forma que
ela é transformada interiormente – em seu corpo físico – a ponto de
conceber uma criança aos noventa anos de idade! A restauração feita
pelo Senhor foi tão grande e tão perfeita que todos os órgãos
interiores de Sarah certamente foram renovados, pois ela necessitava
disso a fim de suportar uma gestação segura e tranqüila!

É neste contexto que o livro de Bereshit (Gênesis) relata a morte


desta mulher que mudou a história do povo de Israel, pois foi
justamente dela – outrora uma mulher estéril – que milagrosamente o
Eterno fez conceber e dar à luz ao filho da promessa: Iitshaq! Por isso
o relato nos informa que Sarah morreu em Quiriate-Arba, que é
Hebrom. Traduzindo a palavra “Quiriate-Arba” teremos literalmente,
qeriat, que em hebraico significa "cidade"; provém da raiz qarâ que
significa “encontrar-se”, sendo a cidade um local de encontro das
pessoas. Já a palavra arba significa "quatro". Esta cidade chama-se
Hebron, que em hebraico significa "união, confederação, associação,
liga". É aqui que ela se une ao seu D-us e Senhor na consumação de
sua vida terrena! Nada mais há para acrescentar à sua vida. A reação
de Avraham e dos seus é previsível e compreensível: “e veio Avraham
lamentar Sara e chorar por ela”. Não havia outra coisa a ser feita,
pois para Avraham a sua “princesa” partira e ele fora deixado só, sem
a companhia daquela que ele tanto amara e por quem tanto lutara!
Só resta o pranto daqueles que a amavam e que agora externavam
todo o seu amor e carinho por Sara lamentando e chorando por
aquela mulher exemplar e mãe da nação de Israel.

Avraham procura os residentes da região onde se encontrava a fim de


comprar-lhes um local para sepultar Sarah. “Depois se levantou
Avraham de diante de sua morta, e falou aos filhos de Hete, dizendo:
Estrangeiro e peregrino sou entre vós; dai-me possessão de sepultura
convosco, para que eu sepulte a minha morta de diante da minha
face” (Gn 23:3-4). Em sua palavra aos heteus, Avraham lhes diz duas
coisas muito importantes: ele se auto-denomina estrangeiro, em
hebraico ger e esta palavra significa "peregrino". A palavra refere-se
a alguém que não desfrutava dos direitos que geralmente o residente
possuía. Mas ele também diz ser peregrino, em hebraico tôshab,
significando peregrino. Esta palavra refere-se ao assalariado
temporário e sem terra. Em seu relato Avraham diz a eles que não
possui os direitos legais nesta terra porque sua passagem por ali é
temporária! É justamente por isso que ele precisou comprar um local
a fim de enterrar ali Sarah.

O fato em si não parece ser muito importante, pois Avraham está


apenas comprando uma sepultura para sua mulher, mas não é assim
que o Eterno vê as coisas! Avraham estava através deste ato
tomando posse da terra pela qual ele caminhara anteriormente, terra
esta que havia sido prometida a ele pelo Senhor como sua possessão!
Agora o Senhor estava estabelecendo um marco legal naquela terra,
pois Avraham compra a terra que D-us lhe prometera e sela a
promessa do Eterno para si e para sua família! Avraham faz algo que
chamamos de “ato profético”, pois o que ele fez naquele momento
mostrava algo ainda maior que aconteceria no futuro!

Os filhos de hete falam assim a Avraham: “E responderam os filhos


de Hete a Avraham, dizendo-lhe: Ouve-nos, meu senhor; príncipe de
Deus és no meio de nós; enterra a tua morta na mais escolhida de
nossas sepulturas; nenhum de nós te vedará a sua sepultura, para
enterrar a tua morta” (Gn 23:5-6). O que eles declaram aqui? Eles
chamam a Avraham de “príncipe de D-us”, em hebraico “nasik
Elohim” e isso significa que eles reconhecem que Avraham é um
príncipe do D-us Criador dos céus e da terra. Aqueles homens sabiam
quem era o D-us de Avraham, pois certamente viram aquilo que
estava sendo feito pelo Eterno na vida de Avraham e de sua família!
Por isso os heteus reconheciam publicamente a posição de Avraham,
que pouco antes havia declarado sobre si mesmo ser um estrangeiro
sem direitos numa terra estranha! Estes homens não vêem Avraham
desta forma! Eles realmente reconhecem quem ele é e a quem ele
serve!
Avraham tem uma atitude natural de quem está em meio a um povo
estranho como peregrino. “Então Avraham se inclinou diante da face
do povo da terra” (Gn 23:12). Apesar do reconhecimento dos filhos de
hete quanto à condição de Avraham, ele inclina-se em sinal de
humildade e diz os heteus aquele lugar que lhe agrada a fim de
sepultar Sara. Ele sabe que por enquanto, eles são “o povo da terra”.
Esta frase me hebraico é “le am há eretz”. Este povo eram os filhos
de Het. Esta palavra vem da raiz hat que pode também significar
"pavor, medo". Também significa "estar despedaçado, espatifado,
aterrorizado". Certamente já havia em seus corações um certo
“incômodo” que posteriormente viria a confirma-se pois este povo
haveria de ceder lugar ao verdadeiro “le am há eretz”, que são os
filhos de Israel. Os filhos de het estavam ali assustados, apavorados,
com medo diante da figura de Avraham, que era o herdeiro legal da
terra; agora possuidor de um pedaço da terra que finalmente uniria
Israel como um povo e uma nação eleita!

A sepultura comprada por Avraham foi a de Efrom e que lhe custou


quatrocentos siclos de prata. Esse valor eqüivaleria ao peso de 46,5
Kg em prata! “Meu senhor, ouve-me, a terra é de quatrocentos siclos
de prata; que é isto entre mim e ti? Sepulta a tua morta” (Gn 23:15).

A definição deu-se com o pesar do dinheiro e o pagamento da quantia


solicitada pelos naturais da terra. Então Avraham pode enterrar ali
sua morta, conforme está escrito: “E depois sepultou Avraham a Sara
sua mulher na cova do campo de Macpela, em frente de Manre, que é
Hebrom, na terra de Canaã” (Gn 23:19).

Agora a preocupação de Avraham será outra: ele já está em idade


avançada e quer ver seu filho Iitshaq casar-se com uma mulher que
lhe seja dada pelo D-us Eterno! “E era Avraham já velho e adiantado
em idade, e o Senhor havia abençoado a Avraham em tudo” (Gn
24:1). O que a Escritura nos diz aqui? Ela nos informa que Avraham
era velho. A palavra em hebraico é zaquen (!qez") e significa velho,
ancião, idoso. Mas também somos informados de que o Senhor –
IHWH – havia abençoado, em hebraico barak (%r;Be), que significa,
dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e fecundo.
Avraham em sua idade avançada poderia olhar para seu passado e
também para seu presente e dizer que Aquele que se torna aquilo
que ele precisa o havia feito ser próspero, bem sucedido e fecundo
em todas as áreas de sua vida. Isso demonstra-nos que por causa da
profunda relação de amor e amizade entre Avraham e o Eterno, Ele o
havia abençoado! Mas não nos esqueçamos de que a base para
receber-se qualquer coisa do Senhor é a obediência! Foi justamente
neste aspecto que Avraham foi provado e aprovado pelo Senhor e foi
justamente por isso que o Senhor fez a Avraham aquilo que fez.

Agora ele quer ver com seus próprios olhos outra bênção do Senhor
para sua vida: a felicidade de Iitshaq. Por isso ele chama seu servo –
seu homem de confiança – e lhe dá instruções de como agir neste
caso: “E disse Avraham ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha
o governo sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da
minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor Deus dos céus e
Deus da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos
cananeus, no meio dos quais eu habito. Mas que irás à minha terra e
à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Iitshaq” (Gn
24:2-4). Este homem tinha um alto grau de relacionamento com
Avraham e também uma alta estima por seu senhor, por isso ele o
ouve atentamente em suas recomendações. Quando Avraham lhe diz:
“Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa” a palavra traduzida por
debaixo é tahat e significa "debaixo de, abaixo". Mas a palavra
traduzida por coxa é yarek e significa "coxa, lombo". Ela significa o
local onde o homem gera a sua descendência, ou seja, o seu órgão
genital! Ela – a coxa - é usada de forma figurada a fim de indicar o
órgão genital masculino. Mas o que Avraham estava fazendo na
realidade? Que estranho pedido era esse que ele fazia ao seu servo?
Devemos entender isso de acordo com a mentalidade oriental para
não nos “escandalizarmos” com o que Avraham pediu ao seu servo. O
órgão genital masculino era usado a fim de gerar a vida numa relação
conjugal. Quando o Senhor ordena que seja feita a circuncisão no
órgão genital masculino, seu objetivo é o de fazer uma aliança com a
vida! E é justamente isso o que Avraham está pedindo ao seu servo:
que ele faça uma aliança com ele (Avraham) – através da vida que ele
gerara – de que ele não buscaria uma esposa para Itshaq dentre os
filhos dos cananeus, que eram um povo estranho e trariam aos
hebreus uma mistura em sua raça. Isso certamente atrapalharia os
planos do eterno de suscitar o Messias da descendência de Avraham!
Por isso ele tem todo este cuidado quanto ao casamento de Iitshaq.

A continuidade da conversa entre Avraham e seu servo nos diz o


quanto ele estava preocupado com este fato: “Para que eu te faça
jurar pelo IHVH Elohim dos céus e Elohim da terra, que não tomarás
para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu
habito” (Gn 24:3). O ato descrito acima é seguido de um juramento. A
palavra “jurar” é shaba e significa "jurar, conjurar, comprometer-se
por juramento". E Avraham interpõe entre ele e seu servo o Senhor D-
us. Aqui temos noção da importância do que ele diz quando vemos
que usou as palavras IHWH Elohim. Você poderia perguntar: mas o
que isso significa? Significa que Avraham colocou Aquele que se
tornara o que ele precisou que é também o Criador do Universo como
a testemunha de que seu servo haveria de cumprir o que prometera a
Avraham em relação à esposa para seu filho Iitshaq. Com isso,
Avraham tencionava resguardar-se de que nada haveria de acontecer
a fim de impedir que os propósitos de D-us se cumprissem na vida de
seus descendentes. A esposa de Iitshaq deveria ser de sua parentela,
ou seja, deveria ser descendente física de Avraham!

Avraham e seu servo agora falam sobre o que poderia acontecer


nesta jornada: “E disse-lhe o servo: Se porventura não quiser seguir-
me a mulher a esta terra, farei, pois, tornar o teu filho à terra donde
saíste? E Avraham lhe disse: Guarda-te, que não faças lá tornar o
meu filho. O IHVH Elohim dos céus, que me tomou da casa de meu
pai e da terra da minha parentela, e que me falou, e que me jurou,
dizendo: À tua descendência darei esta terra; ele enviará o seu anjo
adiante da tua face, para que tomes mulher de lá para meu filho. Se
a mulher, porém, não quiser seguir-te, serás livre deste meu
juramento; somente não faças lá tornar a meu filho” (Gn 24:5-8). O
servo de Avraham argumenta logicamente, pois sabe que sua jornada
poderá ser infrutífera. Porém a resposta de Avraham é categórica e
externa (declara) aquilo que ele crê que acontecerá: “O IHVH Elohim
dos céus, que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha
parentela, e que me falou, e que me jurou, dizendo: À tua
descendência darei esta terra; ele enviará o seu anjo adiante da tua
face, para que tomes mulher de lá para meu filho”. Avraham crê que
o Eterno já estava providenciando tudo para seu servo e a sua visita à
parentela de Avraham fora precedida por um anjo que haveria de
preparar a circunstância de tal forma que tudo seria encaminhado
conforme Avraham crera e declarara! Nesta conversa ele declara
diversas promessas que o Eterno lhe fizera, e que agora haveria de
cumprir:

1. Avraham fala sobre o Eterno como IHWH Elohim.

2. O Eterno falou e jurou a ele. Aqui são usadas duas palavras


“fortes”, de um grande significado. O termo “falar” vem do hebraico
amar que significa "dizer, falar, ordenar". Já a palavra “jurar” vem do
hebraico shaba´ que significa "jurar, conjurar"; traz consigo a idéia
de “prender-se a um juramento”.

3. “...à tua descendência daria esta terra”. A palavra “esta terra” é


“ha eretz”; esta denominação é a mesma dada à terra de Israel!

4. O Eterno enviaria juntamente com o servo de Avraham (Eliézer),


Elietzer que significa “El ajuda” o seu anjo a fim de garantir o
sucesso da missão daquele homem. A palavra “anjo” em hebraico é
malako, que significa “meu anjo”.

Após dadas as instruções e esclarecidas as dúvidas sobre a viagem a


ser realizada, então cumpre-se o ritual de “por-se a mão debaixo da
coxa” conforme explicado anteriormente.

Agora o servo de Avraham sai em sua jornada em busca da esposa


para Iitshaq. “E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu
senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em
sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de
Naor. E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de
água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse:
Ó IHVH, Elohim de meu senhor Avraham, dá-me hoje bom encontro, e
faze beneficência ao meu senhor Avraham! Eis que eu estou em pé
junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para
tirar água; seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora
o teu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei
de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo
Iitshaq, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu
senhor” (Gn 24:10-14). Elietzer parte para a terra de Aram neharaim.
A palavra aram em hebraico significa Arã, Síria. Já o termo neharaim
significa "rios". Então, a tradução literal seria “Síria entre rios”; esta
região é conhecida como Mesopotâmia. Ele estava indo para a
“cidade de Naor”. A palavra Naor vem do termo hebraico que
significa "consolação".

Quando lemos o exposto acima então entendemos que Avraham


contou com seu servo que se chama “El (D-us) ajuda” a fim de trazer
para seu filho Iitshaq (Ele rirá) uma esposa, e ele foi procurá-la na
cidade da consolação, pois o rapaz precisava disso para esquecera
morte de sua mãe!

Neste texto também percebemos o que realmente aconteceu: aquele


homem que há tanto tempo caminhara com Avraham havia também
recebido de seu senhor uma outra influência: a fé no Eterno! Ele
reconhece quem é o Senhor e solicita que venha d’Ele a revelação e a
resolução de um problema que nenhum homem poderá em tempo
algum fazer de forma completa: escolher para si uma esposa que lhe
seja idônea e que o faça feliz! Somente Um conhece o coração do
homem a fim de determinar quem é melhor para quem! Este homem
ao orar declara sua inteira dependência do Eterno em sua jornada e
em sua escolha e ainda mais: ele pede que o Eterno faça
“beneficência” para com seu senhor Avraham. A palavra
“beneficência” em hebraico é hesed e significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Nós percebemos que o que aquele homem
pediu para seu senhor foi algo plausível de ser atendido pelo Eterno,
pois este homem conhecia o nível de relacionamento entre o Eterno e
Avraham e agora pede que o eterno tenha para com Avraham
bondade amorosa! Ele sabia o quanto era importante para Avraham
que Iitshaq se casasse com a mulher certa e que fosse plenamente
feliz!

Além disso, aquele homem pede ao Eterno que uma determinada


situação sirva como um “sinal” de que ele estaria diante da pessoa
certa para Iitshaq. Ele fica então num local estratégico – o poço onde
as moças iam retirar água para suas casas – e ali espera por uma
resposta do D-us de Avraham!

Certamente aquele homem não esperava que o Eterno agisse tão


rapidamente em resposta à sua oração, mas foi assim que sucedeu!
“E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que
havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de
Avraham, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era
mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e
desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-
lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água
do teu cântaro. E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e
abaixou o seu cântaro sobre a sua mão e deu-lhe de beber. E,
acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os
teus camelos, até que acabem de beber. E apressou-se, e despejou o
seu cântaro no bebedouro, e correu outra vez ao poço para tirar
água, e tirou para todos os seus camelos. E o homem estava
admirado de vê-la, calando-se, para saber se o IHVH havia
prosperado a sua jornada ou não” (Gn 24:15-21). Parece
impressionante, mas foi isso justamente o que o Senhor fez, pois
aparece em cena Rivqah, que em hebraico significa a que liga, que
une. Essa moça tinha algumas características que a faziam destacar-
se: era muito bonita e virgem. A palavra virgem em hebraico é
betûlâ, e significa "virgem, jovem, moça". Isso nos dá idéia de que
Rebeca era muito bela porém ainda uma jovem. Para efeito de
comparação poderíamos dizer que Rebeca era uma jovem que nesta
época deveria ter entre treze e quinze anos! Quando o servo de
Avraham a vê e pede a ela água, ele fica realmente muito espantado
com a resposta dela: ela fala e faz justamente aquilo que ele havia
pedido como um sinal de que aquela seria a esposa para Itzhaq! Ele
aguarda até que tudo esteja plenamente consumado e espera “E o
homem estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o Senhor
havia prosperado a sua jornada ou não”. A palavra aqui traduzida por
Senhor é o tetragrama. E isso significa que Aquele que se tornara
aquilo que necessitamos estava agora se tornando para o servo de
Avraham a solução de seu problema e pondo fim à sua busca! Já a
palavra “prosperar” vem do termo hebraico tsaleah que significa
"vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado, experimentar
abundância". Temos então a conclusão da oração feita por Elietzer da
seguinte forma: O Eterno se tornara para ele a solução de sua busca
dando-lhe um bom resultado dentro daquilo que ele necessitava!

Agora vem o momento da revelação, quando aquele homem


aproxima-se de Rebeca a fim de dizer-lhe o que ele fazia ali: “E
aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o homem um
pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as
suas mãos, do peso de dez siclos de ouro; e disse: De quem és filha?
Faze-mo saber, peço-te. Há também em casa de teu pai lugar para
nós pousarmos? E ela lhe disse: Eu sou a filha de Betuel, filho de
Milca, o qual ela deu a Naor. Disse-lhe mais: Também temos palha e
muito pasto, e lugar para passar a noite. Então inclinou-se aquele
homem e adorou ao IHVH, e disse: Bendito seja o IHVH Elohim de
meu senhor Avraham, que não retirou a sua benevolência e a sua
verdade de meu senhor; quanto a mim, o IHVH me guiou no caminho
à casa dos irmãos de meu senhor” (Gn 24:22-27). Quando ele revela
a Rebeca o propósito de sua ida àquele lugar e lhe pergunta sobre
sua parentela e também sobre a possibilidade de passar a noite
juntamente com seus animais na casa de seus pais, ela rapidamente
fala que isso é possível. Então ele reage assim: “Então inclinou-se
aquele homem e adorou ao Senhor”. Neste verso temos duas
palavras diferentes com significados similares em português. A
primeira é a palavra “inclinar-se” que vem do termo hebraico qarar e
significa "derrubar". Já a palavra “adorou” é shaha e significa
"inclinar-se, ajoelhar-se"; a palavra que define o Eterno aqui é o
tetragrama! Novamente o servo de Avraham reconhece que Aquele
que se tornara a solução de sua busca merecia todo o crédito e a
adoração pelo que havia acontecido até então! Sua busca terminara
com sucesso, graças à interferência do Eterno D-us de Israel!

O comentário daquele homem reflete seu “estado de espírito”


naquele momento: “e disse: Bendito seja o IHVH Elohim de meu
senhor Avraham, que não retirou a sua benevolência e a sua verdade
de meu senhor; quanto a mim, o Senhor me guiou no caminho à casa
dos irmãos de meu senhor”. Elietzer declara ser o Eterno “IHVH
Elohim e meu senhor Avraham”; porém esta frase ficaria melhor
traduzida assim: O Eterno Criador e Senhor de Avraham! Ele afirma
que o Eterno não retirou dele sua benevolência. Esta palavra em
hebraico vem do termo hesed que significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Isso demonstra que havia uma atitude de
“amor em movimento” justamente na direção de Avraham por parte
do Eterno que o estaria abençoando justamente naquilo que lhe era
mais caro, precioso: a vida de seu filho! O Eterno também o
abençoara dando-lhe sua “verdade”! Esta palavra vem do termo
hebraico ´emet e significa "verdade, fidelidade, veracidade". Ou seja,
Elietzer está tendo confirmadas as palavras que dissera ao Senhor
quando de sua partida com a incumbência de buscar uma esposa
para Iitshaq diante de seus próprios olhos!

Então acontece agora que Rivqah volta à sua casa e diz aos seus o
que lhe sucedera, e sua família fica surpresa e quer conhecer aquele
homem e saber mais sobre o acontecido. Então o servo de Avraham
vai à casa de Naor, conta-lhes a história que motivou sua ida até ali e
então a família reconhece que este fato veio do Senhor para ajuntar
as famílias e abençoa-los mutuamente através do casamento de
Iitshaq e Rebeca.

Agora chega a hora de consultar a Rivqah quanto à tudo o que


acontecera: “E chamaram a Rebeca, e disseram-lhe: Irás tu com este
homem? Ela respondeu: Irei. Então despediram a Rebeca, sua irmã, e
sua ama, e o servo de Avraham, e seus homens. E abençoaram a
Rebeca, e disseram-lhe: Ó nossa irmã, sê tu a mãe de milhares de
milhares, e que a tua descendência possua a porta de seus
aborrecedores!” (Gn 24:58-60). Agora Rebeca fala de seu desejo de ir
com o servo de Avraham a fim de conhecer seu marido e seus
familiares enviam-na à seu novo lar debaixo de bênçãos e palavras
proféticas que também determinariam o futuro de seus filhos!
Quando eles abençoam-na, aqui eles utilizaram a palavra barak, que
significa "dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e
fecundo"! A palavra com a qual eles abençoaram-na fala que a
descendência de Rivqah – a sua zerá – descendência física, haveria
de possuir a porta de seus inimigos. A palavra “porta” em hebraico é
sha´ar significando porta (de uma cidade). Isso nos diz que os seus
descendentes poderiam reivindicar a possessão ou herança (também
a autoridade local de onde morassem) daqueles que os
aborrecessem. A palavra “aborrecer” em hebraico é sane e quer
dizer odiar, ser odioso. Exprime uma atitude emocional diante de
pessoas ou coisas que são combatidas, detestadas, desprezadas e
com os quais não se deseja ter nenhum contato ou relacionamento.
Isso nos mostra que a palavra profética que foi liberada para Rivqah
era extremamente positiva e realmente traria no futuro sobre a vida
dela inúmeras bênçãos, inclusive o milagre da cura da esterilidade!

Finalmente a partida de Rivqah com suas moças e o tão esperado


momento do encontro com Iitshaq aproximam-se! “E Rebeca se
levantou com as suas moças, e subiram sobre os camelos, e
seguiram o homem; e tomou aquele servo a Rebeca, e partiu. Ora,
Iitshaq vinha de onde se vem do poço de Beer-Laai-Rói; porque
habitava na terra do sul. E Iitshaq saíra a orar no campo, à tarde; e
levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os camelos vinham” (Gn
24:61-63). Enquanto o servo de Avraham juntamente com Rebeca e
suas moças iam a caminho de casa, Iitshaq estava no campo, orando,
buscando comunhão com o Eterno, e ele certamente pedia ao Senhor
que Ele pudesse estar dirigindo toda a situação a fim de que sua
esposa pudesse estar já a caminho de seus braços! Ele vinha
caminhando da direção de “Beer-Lahai-Ro´i” que literalmente
significa “fonte daquele que vive e me vê”. Iitshaq estava no único
lugar possível para que sua alma pudesse ser saciada: na “fonte
daquele que vive e me vê!” É ali que ele busca o refrigério para suas
preocupações e anseios; ali ele bebe da água que lhe traz alívio – não
somente ao corpo físico, mas também o espiritual. Foi depois de um
destes momentos de oração, quando retorna para sua casa, então
Iitshaq levanta os olhos e vê a proximidade do servo de Avraham
juntamente com suas acompanhantes e vai ao seu encontro a fim de
recebê-los. A palavra “oração” vem do termo hebraico siah e significa
meditar, refletir, conversar, falar, queixar-se. Iitshaq não poderia ter
escolhido um lugar melhora para poder ter este contato com o
Eterno, certamente falando-lhe de suas preocupações e meditando –
trazendo à memória – tudo aquilo que o Senhor já lhe ouvera
prometido!

Então, finalmente, chega o grande momento do tão esperado


encontro entre Iitshaq e Rivqah: “Rebeca também levantou seus
olhos, e viu a Iitshaq, e desceu do camelo. E disse ao servo: Quem é
aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo
disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu e cobriu-se. E o
servo contou a Iitshaq todas as coisas que fizera. E Iitshaq trouxe-a
para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por
mulher, e amou-a. Assim Iitshaq foi consolado depois da morte de sua
mãe” (Gn 24:64-67).
Após o tão esperado encontro, Iitshaq se aproxima, e Rivqah cobre-se
com seu véu. A palavra “véu” vem do termo hebraico tsa´ip e
significa roupão, xale, véu; então ela finalmente vê seu marido e é
vista por ele. Então, após um breve relato da viagem, Iitshaq e Rivqah
vão para a tenda de sua mãe Sarah e ali casam-se. A casamento foi a
consumação da união física entre os dois. Não houveram as
“formalidades” legais ou certidões, mas somente a união entre dois
corpos, fato este que realmente caracterizou o matrimônio de Iitshaq
e Rivqah! A escritura nos diz que lê “foi-lhe por mulher”. Esta palavra
em hebraico é le isha. Para Iitshaq, seu casamento com Rivqah foi
um verdadeiro bálsamo, pois através de sua esposa sua alma fora
curada pela perda de sua mãe Sarah. Isso nos mostra que além da
união entre duas pessoas, o casamento é muito mais, pois o projeto
do Eterno é que haja uma inteira e total integração entre o casal que,
havendo necessidades em ambos de cura, essa será efetuada pela
atuação do Senhor na vida do cônjuge através de seu par.

Após a consumação do casamento de Iitshaq, a Escritura nos informa


novamente sobre Avraham: “E Avraham tomou outra mulher; e o seu
nome era Quetura; e deu-lhe à luz Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque
e Suá. E Jocsã gerou Seba e Dedã; e os filhos de Dedã foram Assurim,
Letusim e Leumim. E os filhos de Midiã foram Efá, Efer, Enoque, Abida
e Elda. Estes todos foram filhos de Quetura. Porém Avraham deu tudo
o que tinha a Iitshaq; mas aos filhos das concubinas que Avraham
tinha, deu Avraham presentes e, vivendo ele ainda, despediu-os do
seu filho Iitshaq, enviando-os ao oriente, para a terra oriental. Estes,
pois, são os dias dos anos da vida de Avraham, que viveu cento e
setenta e cinco anos” (Gn 25:1-7). Isto nos parece de certa forma até
exagerado, mas Avraham mesmo em sua velhice e após a morte de
Sarah toma para si outra mulher chamada Qeturah cujo nome
significa “incenso”, a qual lhe dá outros filhos, e entre eles temos
Midian, que os estudiosos crêem ser o pai dos midianitas que
aparecerão mais tarde nas Escrituras e serão ferrenhos inimigos de
Israel! Não nos parece estranho que um dos filhos de Avraham venha
a tornar-se inimigo mortal da própria descendência de Avraham? Os
outros filhos de Avraham foram enviados para o oriente. Esta palavra
foi dada quando Avraham vivia nas proximidades de Hebron; sendo
assim ao oriente desta cidade temos hoje a Jordânia, a Arábia Saudita
e o Iraque! Portanto, podemos então supor que vários dos primitivos
habitantes destes países foram os filhos de Avraham com Qeturah e
que atualmente transformaram-se em ferozes inimigos e opositores
de Israel e dos judeus!

Nós às vezes nos questionamos o porque dessas coisas acontecerem.


Vemos na atitude de Avraham uma aberta preferência por Iitshaq – a
quem ele dá todas as suas posses – em detrimento dos outros filhos
que recebem apenas presentes e são enviados para o oriente com
sua mãe. Ao final desta narrativa vemos que Avraham viveu um total
de cento e setenta e cinco anos! Espantoso que alguém tenha tido
uma vida tão longa e tão produtiva diante do Eterno a ponto de
cumprir realmente os propósitos do Senhor e poder morrer em paz.

Agora a Escritura nos declara que Avraham morre. Aqui acontece algo
espantoso: “E Avraham expirou, morrendo em boa velhice, velho e
farto de dias; e foi congregado ao seu povo; e Iitshaq e Ismael, seus
filhos, sepultaram-no na cova de Macpela, no campo de Efrom, filho
de Zoar, heteu, que estava em frente de Manre, o campo que
Avraham comprara aos filhos de Hete. Ali está sepultado Avraham e
Sara, sua mulher. E aconteceu depois da morte de Avraham, que
Deus abençoou a Iitshaq seu filho; e habitava Iitshaq junto ao poço
Beer-Laai-Rói” (Gn 25:8-11). Neste relato encontramos novamente
juntos Ismael e Iitshaq! Após Ismael ter sido enviado com sua mãe
para o deserto, nada mais é dito sobre ele. Agora, repentinamente,
Ismael reaparece junto de Iitshaq no funeral de Avraham! Isso
significa que, mesmo distante do pai, Ismael mantinha algum tipo de
contato e recebia informações sobre Avraham de forma que, quando
lhe fora dito que Avraham morrera, ele imediatamente viera para o
funeral!

A Escritura nos fala que “E aconteceu depois da morte de Avraham,


que Deus abençoou a Iitshaq seu filho”. A palavra traduzida aqui é
Elohim, o D’us Criador e a palavra “abençoar” é barak! Isso significa
que o Criador deu poder a Iitshaq para ser próspero, bem sucedido e
fecundo! A mesma unção que estava sobre Avraham agora repousa
sobre seu filho Iitshaq! Novamente temos aqui uma clara alusão à
escolha de Israel – que é resultado da sucessão que ocorrerá através
de Iitshaq – em detrimento dos demais filhos de Avraham!
Certamente que tais filhos também foram “abençoados”; porém não
na mesma medida que Israel o foi! Aqui, o Criador do Universo Elohim
dá a Iitshaq poder para que ele e seus descendentes sejam prósperos,
bem sucedidos e fecundos em tudo aquilo que fizerem! Neste caso
não há como “revogar” aquilo que o próprio Criador estabeleceu e
deu a Israel como uma “herança” perpétua!

Terminamos com o relato sobre a descendência de Ismael: “Estas,


porém, são as gerações de Ismael filho de Avraham, que a serva de
Sara, Agar, egípcia, deu a Avraham. E estes são os nomes dos filhos
de Ismael, pelos seus nomes, segundo as suas gerações: O
primogênito de Ismael era Nebaiote, depois Quedar, Adbeel e Mibsão,
Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá. Estes
são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas vilas e
pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas famílias. E estes
são os anos da vida de Ismael, cento e trinta e sete anos, e ele
expirou e, morrendo, foi congregado ao seu povo. E habitaram desde
Havilá até Sur, que está em frente do Egito, como quem vai para a
Assíria; e fez o seu assento diante da face de todos os seus irmãos”
(Gn 25:12-18). Vemos neste comentário algo, no mínimo curioso:
“Estes são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas
vilas e pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas famílias”.
Aqui aparece a palavra “castelos”; ora nós sabemos que os castelos
foram idealizados na Europa e isso ocorreu somente na idade média!
Qual seria então a solução para este impasse? Em português
aparecem duas palavras que foram mal traduzidas: vilas e castelos. A
primeira vem do termo hebraico hatsîr e significa "aldeia, povoado".
Já o segundo – castelos – vem do termo hebraico tirâ que significa
"acampamento, fila de pedras, ameia". Isso nos informa então que os
descendentes de Ismael seriam doze homens que seriam os
“príncipes” de aldeias e acampamentos. Esta profecia cumpre-se
literalmente e hoje temos os descendentes de Ismael espalhados e
governando os seguintes países: Jordânia, Síria, Iraque, Irã, Koweit,
Qatar, União dos Emirados Árabes, Omã, República Democrática do
Iêmem, Iêmem, Arábia Saudita e Líbano.

Ismael, que é o pai das nações árabes, morre com cento e trinta e
sete anos e deixa atrás de si os descendentes que levariam à cabo
uma saga de ódio e de lutas contra Iitshaq e seus descendentes!

Mas, há ainda uma promessa – válida também para nossos dias - de


que os filhos de Israel “possuirão a porta de seus aborrecedores”. Que
o Eterno leve a cabo de forma plena esta promessa feita à seus filhos
de forma a aniquilar todo o poder que se levanta contra Israel!

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