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EVASÃO DOCENTE: A troca da docência pela função de Técnico

Administrativo da Educação no instituto federal de Rondônia Campus


Ariquemes.

Francisco Roberto da Silva de Carvalho¹


Carmen Tereza Velanga²

RESUMO

Este presente estudo objetivou investigar a evasão docente por parte de docentes da rede
estadual de ensino, que abandonaram a docência e migraram para o Instituto Federal de
Educação de Rondônia – Campus Ariquemes, mas para o cargo de técnico
administrativo buscando verificar se há relação entre as políticas públicas educacionais
com esta evasão. O propósito é verificar qual a ligação dessa evasão com os baixos
salários, falta de apoio e incentivo ao magistério, a falta de estrutura nas escolas e
demais fatores. A pesquisa, de natureza quantitativa, propõe ouvir os técnicos
administrativos evadidos do governo do estado de Rondônia para conhecer as razões
dessa escolha. Como resultado, pretendo analisar se a evasão docente está relacionada
com a forma que o professor é desvalorizado na rede estadual de educação. Este estudo
foi realizado através de revisão bibliográfica, de pesquisa documental e questionário,
visando entender o fenômeno estudado, com resultados obtidos, pude concluir que os
investimentos feitos em recursos humanos pelo governo do estado estão muito aquém
do esperado, levando muitos professores a buscarem novas alternativas de trabalho e
muitos deixando a carreira do magistério.

Palavras-chave: Educação; Evasão docente; Escola; Professor; Estado.

__________________________

¹ Mestrando em Educação do Programa de Mestrado da Fundação Universidade Federal de


Rondônia.
² Professores doutores do Programa de Mestrado em Educação da Fundação Universidade Federal
de Rondônia.
1. INTRODUÇÃO

O desejo de realizar esta pesquisa iniciou-se com um fato que me chamou a


atenção, o grande número de professores buscando novas oportunidades e abandonando
o magistério. Como Técnico em Assuntos Educacionais do IFRO e docente evadido da
rede estadual de ensino, encontrava-me nesse mesmo dilema, há alguns anos as minhas
perspectivas positivas com a educação eram baixas, quase negativas em relação a:
 Salário;
 Falta de estrutura das escolas;
 Pouco apoio por parte dos gestores da educação;
 Violência escolar;
 Falta de incentivo ao magistério;
 Entre outros motivos...
Esta situação apontada despertou o meu interesse em entender os motivos que
fazem o professor desistir da carreira e buscar novas oportunidades.
O instituto Federal de Rondônia – IFRO campus Ariquemes desde sua criação
em 2010 vem sendo objeto de desejo de vários educadores da cidade e região, e não
importa se é para a continuidade da docência ou rumando em busca de novos caminhos,
como por exemplo, sendo técnico administrativo em educação de nível médio ou
superior. Essa busca vem da vontade de se sentir valorizado, tanto pessoalmente como
financeiramente, porque existe uma diferença significativa do que é pago para o
Técnico administrativo em relação ao que se paga a um docente oriundo da escola
pública estadual.
Nos últimos anos, é notável o crescimento de professores que deixaram a
docência para assumir no IFRO-Campus Ariquemes o cargo de técnicos
administrativos, e é devido a esse dado que nos levar a pesquisar este acontecimento.
Alguns professores dizem que não saíram ainda por não saberem fazer outra
coisa, por comodismo, por convicção de que está ruim, mas não pode ficar pior, pela
estabilidade, etc..
Esta afirmação por parte de alguns docentes me causa um grande desconforto.
Mas porque nossos gestores não fazem nada?
Na escola que lecionava na rede estadual de 2012 a 2014 já saíram pelo menos
oito professores, que como eu passaram em um concurso que nos oportunizou um
melhor salário e uma valorização profissional mais condizente com o nosso nível de
formação. Em uma escola com mais ou menos 30 professores em três anos perder mais
de 25% de seu quadro efetivo de professores é muito, e quem perde mais com esse fator
é o aluno devido à alta rotatividade de professores sejam eles emergenciais ou efetivos.
Com estas alterações vivenciadas por mim, e com um levantamento prévio de
que temos uns 15 (quinze) técnicos administrativos (de um total de 62 técnicos) e que
antes de entrar no instituto eram docentes, surgiu então à necessidade de aprofundar
através desta pesquisa se esta evasão ocorrida em Instituições públicas de educação em
Rondônia tem alguma relação com a forma que o professor é tratado pelos gestores da
educação e a falta de políticas públicas de incentivo ao magistério.
Pretendo verificar se esse índice de abandono está ligado a fatores como: Falta
de apoio dos gestores; falta de estruturas nas escolas; sentimento de desvalorização
motivacional; desvalorização salarial; políticas públicas ineficazes; entre outros. Que
há algum tempo deixa a desejar e não contempla o docente como um todo.
É sobre esse ponto de vista que se encontra o objetivo desse estudo: quero
ponderar sobre os motivos que fizeram os docentes optarem por uma nova carreira,
abandonando assim à docência, sendo este trabalho uma tentativa modesta de contribuir
para esse entendimento e um meio de auxiliar as próximas pesquisas relacionadas à
evasão docente. Para isso, busquei informações através de levantamento documental e
bibliográfico referentes às políticas públicas, planos de carreiras de docentes e de
técnicos administrativos da educação e com análise dos dados coletados junto há alguns
servidores que responderam ao questionário proposto. Além disso, buscarei verificar
qual a motivação para a desistência da docência, buscando através destes dados um
caminho para a diminuição dessa evasão.
Com o intuito de compreender, através dos dados obtidos no trabalho de
campo, contrastado com o embasamento em documentos orientadores, quais são as
expectativas dos professores ao deixarem a docência e assumido um cargo de técnico
administrativo no IFRO. O questionário vai ser feito com os técnicos administrativos
que trabalhavam como professores oriundos de escolas estaduais de Rondônia antes de
assumir o cargo no instituto.

Breve histórico do campus Ariquemes


Ariquemes é a terceira maior cidade do Estado de Rondônia, sendo a sede da
Região do Vale do Jamari. O nome Ariquemes é uma homenagem à tribo indígena
Arikeme, habitantes originais dessa região. Toda a população dessa etnia foi extinta
após os contatos com a sociedade envolvente, restando apenas seu nome na história do
município. História que o Instituto Federal também busca resgatar, com trabalhos de
extensão, valorizando a cultura indígena ainda presente na localidade.
O campus Ariquemes do instituto Federal de Rondônia teve suas atividades
iniciadas em janeiro de 2010, sendo que o ano letivo começou em 1º de março de 2010,
o campus está localizado à rodovia RO 257, km 9, sentido Machadinho do Oeste, na
zona rural do município de Ariquemes, onde funcionava a escola de agropecuária da
CEPLAC-EMARC.
Inicialmente, a escola ofertou três Cursos Técnicos Integrados ao Ensino
Médio, na modalidade presencial: Agropecuária e Alimentos (duração de 3 anos, em
turno integral) e Informática. O Campus Ariquemes, desde que entrou em
funcionamento no local onde funcionava a Escola EMARC, faz valer seu caráter
público e começa a se consolidar como um polo de Educação Profissional.

O capital humano

Enquanto não houver mudanças no sistema econômico vigente, acredito que


não será possível uma mudança significativa em nosso sistema educacional, de modo
que ele possa vir a ser cada vez mais parecido com aquele defendido por Frigotto
(2000), o autor defende que a escola, unitária, universal, pública e laica, não é, ou não
deveria ser, atrelada ao desenvolvimento econômico e ao mercado de trabalho. A
escola, segundo este autor, deve garantir a qualificação humana para todos que a
buscam, e que promoveria, por sua vez, a democracia econômica, social e cultural, o
que não acontece com propostas para a educação segundo a perspectiva apontada.
Segundo o pesquisador Costa (2015) ele afirma que a teoria do capital humano,
surge para ratificar a manutenção das relações capitalistas:
(...) não possibilitando qualquer alternativa de mudança estrutural na
sociedade, uma vez que o trabalhador, que possui apenas a sua força de
trabalho para oferecer ao sistema capitalista, irá ofertar sua mão de obra em
um sistema de concorrência.
O valor do trabalho ofertado não será determinado pela qualificação do
trabalhador, mas pela oferta de mão de obra. O trabalhador continuará alijado
da possibilidade de determinar o valor de sua mão de obra, pois o número de
pessoas com o grau de formação ou nível de qualificação será maior do que o
número de vagas ofertadas no mercado.
O discurso do capital humano como possibilidade de inserção no mundo do
trabalho é, na verdade, um discurso de alimentação do sistema capitalista que
desconsidera que as relações capitalistas têm como objetivo alimentar esse
sistema em detrimento das condições sociais da classe trabalhadora. Sendo
assim, temos de enfatizar que o capital é uma coisa, e não uma relação social
ou de classes sociais. O capital é algo produzido das relações sociais e das
relações de classes sociais, e deve ser observado como produto dessas
relações. (COSTA.2015.p.40)

Nesse contexto verifica-se uma articulação histórica da teoria do capital


humano com a atualidade, quando refere-se a origem da mesma através da luta de classe
trabalhadora, sempre em busca do bem estar social e por maiores salários. O papel
dessa ideologia e a posição, nela, da educação e da mobilidade social parecem vitais
tanto para a expansão da escola, quanto para a reprodução das relações de produção e a
divisão do trabalho. Sendo a escola importante para a determinação da renda e da
ocupação futura e até mesmo do acesso a estudos futuros.
Além dessas questões, temos que considerar o trabalho na sociedade moderna e
contemporânea onde a produção dos meios de existência se faz dentro do sistema
capitalista. Que se mantém reproduzindo a apropriação privada de um tempo de
trabalho do trabalhador que vende sua força de trabalho (no caso do professor 40 horas
aula por semana) ao empresário ou empregador (Governador do estado; prefeito;), o
detentor dos meios de produção (a escola). O salário ou a remuneração recebida pelo
trabalhador (professor) não contempla o tempo de trabalho excedente ao valor
contratado que é apropriado pelo dono do capital. Fazendo assim que o docente busque
novas formas e opções de complementar sua renda, devido ao baixo valor pago pelos
seus empregadores, sejam eles do setor público e/ou privado, sendo este um dos
motivos do abandono da docência.
A teoria do capital Humano afirma que uma maior escolarização contribui
diretamente para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, em função de um
aumento de renda que decorre, diretamente, da sua melhor qualificação para o
desempenho no mercado de trabalho. Em outras palavras, o incremento da
produtividade – decorrente do aumento da capacitação – levaria a que o indivíduo
também se beneficiasse pelo aumento dos seus salários. Mas segundo Costa (2015) “o
valor do trabalho ofertado não será determinado pela qualificação do trabalhador, mas
pela oferta de mão de obra” (p.40), ou seja, apesar da qualificação do professor o que irá
definir o valor de sua mão de obra, não será a formação e ou qualificação profissional e
sim o número de vagas que serão ofertadas no mercado, dando assim ao contratante a
opção de escolher e pagar o valor que quiser ao contratado.

As políticas públicas educacionais

Para ser professor precisamos passar por fases, por um processo contínuo,
através do qual o indivíduo se constrói como professor, também deixar de ser, se
mostrou como um processo que vai se concretizado ao longo do percurso profissional.
O trabalho docente, para que seja realizado satisfatoriamente e para que cumpra seu
papel equilibrador, requer o estabelecimento de vínculos específicos com determinadas
classes de objetos: instituições, pessoas, instrumentos, organizações. Esses vínculos, no
caso, são entendidos como um conjunto de relações que o professor estabelece com a
escola e com o trabalho docente, e que dependem da combinação das características
pessoais do professor, das formas de organização e funcionamento da escola, do grupo e
do contexto social em que ambos estão inseridos.
Quando o professor inicia o magistério parece que há um encantamento com a
entrada na profissão, com os aspectos sociais e econômicos que esse início representa;
para eles essa primeira fase é uma conquista, e o sabor dessa conquista coloca à sombra
os problemas e as dificuldades. Segundo Christophe Dejours (1991), “executar uma
tarefa sem investimento material ou afetivo exige a produção de esforço e de vontade,
em outras circunstancias suportadas pelo jogo da motivação e do desejo” (p.49). A
motivação e o desejo, aqui, são representados pelos aspectos positivos encontrados
pelos professores no início da carreira. Pode-se afirmar que os vínculos existem, e
mesmo que não representem a totalidade dos vínculos necessários, parece que são
suficientes para evitar o abandono nos primeiros anos da carreira. Porém, a manutenção
e o fortalecimento desses vínculos existentes vão depender do tipo de respostas que o
professor recebe na escola e da sociedade e que, se não satisfatórias, se não
correspondem as suas expectativas, acabam por enfraquecê-los até a ruptura definitiva.
Pode-se afirmar que o processo de abandono se constitui através, principalmente do
enfraquecimento ou relaxamento dos vínculos existentes entre o professor e o governo.
Segundo a lei Nº 11.738 de julho de 2008 a lei do piso da educação, nenhum
profissional do magistério público poderá ganhar menos que o piso nacional por 40
horas semanais de trabalho, dessas 40 horas semanais 2/3 devem ser de com carga
horária para desempenho das atividades de interação com alunos, sendo que só foi valer
no estado de Rondônia após muita negociação a partir de 2011, antes disso um professor
com 40 horas deveria trabalhar com alunos de 30 a 33 horas semanais, mas mesmo com
essa nova determinação o governo do estado exige que às 27 horas tenham que ser com
aulas propriamente ditas, não pode contar com nenhuma outra atividade interativa com
aluno, nem com projetos e nem com reforço. O plano de carreira, cargos e remuneração
dos profissionais da educação básica do estado de Rondônia Lei complementar Nº 680
de setembro de 2012, traz alguns direitos e vantagens ao professor efetivo, tais como:
Férias de 45 dias em dois momentos, 30 dias ao fim do ano letivo com adicional de 1/3
de férias, e de 15 dias ( geralmente no mês de julho) com adicional de 1/6 de férias;
Licença prêmio por assiduidade (há cada cinco anos o servidor tem direito a três meses
de licença remunerada) sendo que este benefício só estar no papel, pois o governo alega
que o servidor interessado em gozar a licença ele tem que arrumar ou indicar alguém
que abone sua ausência, no ano de 2012 o governador do estado sugeriu que pagaria a
licença a quem tivesse direito em pecúnia, mas infelizmente foram poucos os agraciados
com esse serviço; Direito a progressão funcional a cada dois anos, aumentando o seu
salário base em 2%; Gratificação de atividade docente, mas só é concedida aos
professores que cumpram a jornada de trabalho de no mínimo 27 horas semanais;
Gratificação de 15% sobre o vencimento por titulação de Pós-Graduação Lato Sensu na
área de educação ou formação; Gratificação de 20% e 25% sobre o vencimento por
titulação de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado e Doutorado respectivamente;
Gratificação de difícil acesso; Auxilio saúde de R$ 50,00 para que não tem plano de
saúde e de R$ 100,00 para quem tem plano de saúde; e Auxilio educação que foi
incorporado ao plano de carreira dos professores em 2013, após um longo período de
greve e negociações.
A atual situação salarial dos professores do estado de Rondônia apesar da
melhoria com o passar do tempo devido os incentivos e adicionais por tempo de serviço
ou de qualificação, ainda assim são baixos. De acordo com estudo feito pelo CNTE
(Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação) o estado de Rondônia não
cumpre o valor do piso nacional de educação como vencimento. Mesmo comparados a
outras áreas do governo com o mesmo nível de qualificação ou até mesmo em nível
inferior, ainda assim o salário dos professores é muito baixo, quem dirá comparado com
os incentivos dados em outros países.
Esse fator que incide pesadamente sobre a precarização do trabalho docente,
pois a pauperização profissional significa pauperização da vida pessoal nas suas
relações entre vida e trabalho digno, ficando aquém de suas necessidades sociais,
culturais e econômicas. Apesar de tudo a maior parte desses novos professores se
empenham em estabelecer os vínculos necessários, isto é, há um empenho em realizar o
trabalho da melhor forma possível, em adaptar-se ao novo papel e em encontrar
satisfação e autorrealização na sua vida profissional.

2- METODOLOGIA

Este trabalho caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, documental e


análise de dados obtidos através de questionários, que foi realizado no instituto Federal
de Educação – Campus Ariquemes com os servidores técnicos administrativos que
deixaram a docência da rede estadual de Rondônia. O objetivo da minha pesquisa era
verificar o porquê do fenômeno que acontece no instituto, pois temos vários servidores
que eram docentes e assumiram um cargo de técnico.
O desenvolvimento do estudo foi dividido em três fases: exploratória, coleta de
dados e análise de dados.
Na fase exploratória aconteceu à pesquisa bibliografia, nele foi feito o
levantamento do referencial bibliográfico, através da leitura de artigos e livros
relacionados a temática, que segundo Gil a pesquisa bibliográfica é:
(...) desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os
estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas
desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos
estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As
pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das
diversas posições acerca de um problema, também costumam ser
desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas.
(GIL,2002, p. 44)

Essa fase também foi feito a pesquisa documental que parece muito com a
pesquisa bibliográfica. Para GIL (2002):
(...) a diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes/Enquanto a
pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos
diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se
de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. (GIL, 2002,
p.45)

Foram feitas a coleta de dados de evasão dos professores através de analises de


currículo lattes, do portal servidor do IFRO, e através de questionário ao técnicos
graduados que atuaram na docência na rede pública estadual de Rondônia. O
questionário segundo Chizotti (2000) nada mais é que um aglomerado de perguntas que
são elaboradas previamente e disposta de uma forma consistente para que busque junto
aos pesquisados as informações necessárias para embasar a pesquisa. Já para Gil o
levantamento de dados caracteriza pelo questionamentos direto aos sujeitos da pesquisa
ao qual queremos conhecer. “Basicamente, procede-se à solicitação de informações a
um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida,
mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados
coletados”.
Na última fase da pesquisa, é feita uma na análise quantitativa dos dados
obtidos, foram feitos os apontamentos e a análise da perspectiva da realidade
investigada. A análise quantitativa segundo Chizzotti:
(...) prevê a mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e
explicar sua influência sobre outras variáveis, mediante análise da frequência
de incidências e de correlações estatísticas. O pesquisador descreve, explica e
prediz; (CHIZZOTTI,2000, p.52)

3- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Foi realizado o levantamento de quantos técnicos deixaram a docência para


atuarem como técnicos administrativos no IFRO – Campus Ariquemes, dos atuais 62
servidores técnicos administrativos do campus mais de 24% destes eram docentes antes
de entrar no instituto, sendo que 14,5% são oriundos de escolas públicas estaduais de
Rondônia.
O questionário dessa pesquisa foi submetido a 09 (nove) técnicos
administrativos da educação do IFRO – Campus Ariquemes que eram docentes da rede
estadual de educação de Rondônia havia questões referentes ao sexo, idade, graduação e
pós-graduação, cargo, salário no cargo anterior e salário do cargo atual, principais
fatores de insatisfação docente e principais razões que trouxeram ao cargo de técnico
administrativo.
Analisando alguns dados principais coletados do questionário temos de um
total de nove servidores oriundos da docência da rede estadual de ensino, sendo 04
(quatro) homens e 05 (cinco) mulheres, que estão em cargos de nível médio (três) e
cargos de nível superior (seis). De acordo com o plano de cargos e carreiras do técnico
administrativo (PCCTAE) o vencimento base de um técnico do nível médio “D” é de
R$ 2.175,17 que já é acima do vencimento base de um professor classe “C” do governo
do estado de Rondônia que é de apenas R$ 2.016,59, já o vencimento base de um
técnico de nível superior é de R$ 3.666,54, as gratificações de um docente da rede
estadual em Rondônia são as de qualificação que pagam 15% para Pós-graduação Lato
sensu, e 20% e 30% respectivamente para Pós-graduação Strictu sensu, soma-se o
auxílio saúde e auxilio transporte, já o cargo de nível médio do IFRO, soma-se ao
vencimento base do cargo de nível médio as porcentagens de 25%, 30%, 52% e 75%
por incentivo a qualificação de graduação, Pós-graduação Lato sensu, Pós-graduação
Strictu sensu mestrado e doutorado respectivamente, somam-se os auxilio alimentação,
auxilio transporte e per capita saúde, ou seja, um docente com especialização que entre
em um cargo de nível “D” médio sem contar com o auxílio transporte e o per capita
saúde já ganharia quase 50% a mais que ganharia como docente e por uma jornada de
trabalho que poderá ser de 30 horas semanais. Fazendo a mesma comparação anterior
com um técnico de nível superior “E” a diferença chegar a 159% a mais do que recebe
um docente estadual.
Dos cargos técnicos administrativos temos os seguintes cargos:
De nível superior – Nível “E”:
 03 Técnicos em assuntos educacionais;
 02 Pedagogos;
 01 Bibliotecária.
De nível médio – Nível “D”:
 02 Assistentes em administração;
 01 Técnica em laboratório.
Conforme quadro abaixo:

Quadro de técnicos
administrativos
Técnicos em assuntos
educacionais
Assistente em
administração
Pedagogos

Bibliotecária

Técnica em laboratório

Figura 1 Quadro dos cargos técnicos.

Em relação aos vencimentos que ganhavam enquanto docente com valores


atualizados de acordo a tabela de salários do governo do estado, pois alguns dos
técnicos já abandonaram a docência há mais de 05 anos, o vencimento oscilava em
torno de R$ 2.300,00 para uma jornada de 40 horas aulas por semana, com as vantagens
e gratificações mencionadas anteriormente. Já o salário base do técnico administrativo
é de R$ 2.175,17 sem nenhuma das vantagens mencionadas e para uma jornada que
poderá ser de 30 horas semanais, esses dados são especificado na tabela abaixo:

7
6
5
4
3 Escola
2 IFRO
1
0
Até R$ Até R$ Até R$ Até R$ Até R$ Acima de
1900 2.300 2700,00 3667,00 5000,00 R$
5000,00

Figura 2 Quadro de Vencimentos.


Perguntado aos técnicos se voltariam a trabalhar com a docência se ganhassem o
mesmo valor que ganham atualmente no IFRO, somente três responderam que sim,
enquanto os outros seis disseram não, quais seriam os motivos pelos quais esses
disseram não, e quais seriam os principais fatores motivadores que o fizeram sair da
docência, tentarei expor alguns dos motivos a seguir, perguntado sobre quais fatores que
causaram as maiores insatisfação no trabalho como docente e dando algumas
alternativas para serem assinaladas, 100% afirmaram que o fator salário foi a maior
causa da saída do magistério; 67% assinalaram a sobrecarga de trabalho; e 56%
reclamaram de dois fatores que eram a impossibilidade de crescimento profissional no
governo e da falta de estrutura física, material e instalações inadequadas nas escolas.
Questionados sobre as principais razões que deixaram a docência e vieram trabalhar
como técnico administrativo no IFRO, 100% também respondeu que era devido o
salário; 78% vieram em busca dos benefícios oferecidos pelo instituto e pela
possibilidade de qualificação e consequentemente o aumento salarial; 67% vieram pelo
prestigio em trabalhar no IFRO; 56% pelas chances de progresso profissional.

4-CONCLUSÃO

A partir da exposição dos fatos, após análise dos dados coletados no instituto,
com os servidores estudados sobre a evasão docente, observa-se que a problemática tem
raízes profundas. Para evitar a evasão, deve haver um trabalho para a melhoria da
qualidade de ensino, que deve partir não somente das políticas públicas, mas também
das relações sociais, familiares, e dentro da própria entidade. Um conjunto de ações, em
longo prazo, tornaria novamente a profissão docente almejada e satisfatória tanto para
quem a abraça, quanto pra quem depende dela para estudar.
A professora Kuenzer no seu livro sobre educação e trabalho no Brasil: O
estado da questão cita que:
A classe trabalhadora, por sua vez, mesmo que participe do processo de
produção do conhecimento através de sua prática cotidiana, fica em
desvantagem a partir do momento em que, historicamente, não tem tido
acesso aos instrumentos teórico-metodológicos que lhe permitiriam a
sistematização de um saber articulado ao seu projeto hegemônico.
É indiscutível a força do capital no processo de produção da ciência oficial
contemporânea; ê ele quem determina os objetos de investigação, financia
pesquisadores e instituições, forma recursos humanos de alto nível, produz a
"boa ciência" e principalmente, se apropria privadamente dos resultados, uma
vez que esta apropriação é uma dos determinantes de sua reprodução
ampliada, na medida em que aumenta a produtividade. Este saber, portanto,
não é democratizado; no interior do processo produtivo, o trabalhador recebe
a "qualificação" que é conveniente aos interesses do capital, não devendo
receber nem a mais, nem a menos, desenvolvendo-se um processo de
distribuição desigual do saber, ao qual articula-se a escola.
(KUENZER,1991, p.22)

Quando a organização do trabalho docente e a qualidade das relações


estabelecidas dentro do grupo (incluindo-se aí o resultado obtido com o trabalho em sala
de aula) não correspondem aos valores e as expectativas do professor, este se vê diante
da dificuldade de estabelecer ou manter a totalidade de vínculos necessários ao
desempenho de suas atividades no magistério, gerando a desmotivação e o comodismo
docente. Assim, pode-se dizer que o abandono é consequência da ausência parcial ou
do relaxamento dos vínculos, quando o confronto da realidade vivida com a realidade
idealizada não condiz com as expectativas do professor, quando as diferenças entre
essas duas realidades não são passíveis de serem conciliadas, impedindo as adaptações
necessárias e provocando frustrações e desencantos que levam à rejeição da instituição
e/ou da profissão.
Os Técnicos antes professores efetivos do governo estadual, mesmo tendo
garantia de seu emprego, possuem condições precárias de trabalho, principalmente no
que se refere à remuneração, pois apenas sobrevivem com a venda de seu trabalho.
A falta de investimento na estrutura da escola, no material físico e material
humano é também uma das maiores causas constatadas dessa evasão de professores da
escola e do magistério de uma forma geral, somada a falta de apoio dos pais dos alunos,
sobrecarga de trabalho, sentimento de inutilidade em relação ao trabalho que realizam,
impossibilidade de participar das decisões sobre o rumo do ensino, escassez de recursos
materiais, excesso de burocracia e falta de apoio e reconhecimento do trabalho por parte
das instâncias superiores, geram desmotivação e abandono da profissão.
Finalmente, esclarece-se que este trabalho não tem a pretensão de ser
definitivo, mas, sim, de servir como ponto de partida para futuros estudos acerca da
rotatividade e da evasão docente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cargos e salários dos servidores do IFRO. Disponível em:


http://www.portaldatransparencia.gov.br/servidores/OrgaoExercicio-
ListaServidores.asp?CodOS=15000&DescOS=MINISTERIO%20DA%20EDUCACAO
&CodOrg=26421&DescOrg=INSTITUTO%20FEDERAL%20DE%20RONDONIA
acesso em: 28 de Fev. 2016.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez,


4ª Ed, 2000.

COSTA, Flavio Leite. Formação integrada no instituto federal de Ariquemes:


egressos, inserção no mercado de trabalho ou opção pelo ensino superior. 2015.113 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Fundação Universidade Federal de Rondônia –
UNIR, Porto Velho, 2015.

DEJOURS, Christophe. A Loucura do Trabalho. São Paulo: Cortez / Oboré, 1991.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo:


Cortez,2000.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 4ª Ed,
2002.

Histórico do campus Ariquemes. Disponível em:


http://www.ifro.edu.br/site/?page_id=3151 acesso em: 27 de Fev. 2016.

Histórico e Inserção regional do campus Ariquemes. Disponível em:


http://www.ifro.edu.br/site/?page_id=3188 acesso em: 27 de Fev. 2016.

KUENZER, Acácia Zeneida. Educação e trabalho no Brasil: o estado da questão.


Brasília: INEP; Santiago: REDUC, 1991.

Lei do piso nacional. Disponível em:


http://www.sintero.org.br/admin/legislacao/13.pdf acesso em: 28 de Fev. 2016.
Relatório dos estados brasileiros que não cumprem o piso nacional. Disponível
em: http://www.cnte.org.br/index.php/comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/10757-
estados-brasileiros-nao-cumprem-a-lei-do-piso- acesso em: 28 de Fev. 2016.

Tabela de percentuais de incentivo à qualificação. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12772.htm#art44
acesso em: 28 de Fev. 2016.

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