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O ABORTO É UMA CONCEPÇÃO DE VIDA HUMANA

Ogeni Luiz Dal Cin


Cada um de nós, por crença ou conveniência, se inclui na concepção de ser humano que adota
. E, por ela, concebe e julga os demais. Se adotarmos a concepção cristã de pessoa hum
ana, que fecunda a civilização ocidental há mais de 2.000 anos, a atitude diante da vi
da humana não pode ser casuística, reducionista e relativa, pois a vida humana trans
cende todas as possibilidades de apreensão absoluta, de definição coisificante e fechada
ao imanente, em qualquer situação.
Após 2.000 anos de História, somente nas últimas décadas, sem segurança de qualquer ordem,
nem mesmo científica, mas inebriada por promessas paradisíacas, há muitos interesses
não revelados, a sociedade ocidental procura relativizar o fundamento ontológico de
nossa civilização. Esse processo medra à medida que cresce o hedonismo consumista, sob
o suposto de que a única verdade é o relativismo materialista, encimado pela liberd
ade comprometida com o hedonismo, elevada ao absoluto.
A nova visão que se desenha, sem rosto definido, esvazia todos os valores fundante
s da pessoa humana, relativizando-os, para torná-los meros regulamentos positivos
e transitórios, sempre sujeitos às vicissitudes dos humores dos de que se julgam inv
estidos de algum Poder. Pouco a pouco, nós, pobres mortais, somos empurrados a rev
iver, quanto aos direitos fundamentais, modelos pré-cristãos a começar pelo direito à vi
da.
O que deveria ser valor por si mesmo em razão de constituir a própria pessoa humana,
transforma-se em benesse do Poder. À medida que os valores da pessoa humana são rel
ativizados, o Poder do Estado se diviniza.
Assim, uma nova história contra a pessoa humana, encurtando sua vida, relativizand
o-a, começa a ser desenhada. Bem dizia Heidegger, ao denunciar nossa civilização, que
nunca se acumulou tantos e tão diversos conhecimentos a respeito do homem como em
nossa época e, paradoxalmente, em nenhuma fase histórica se soube tão pouco como agora
o que é ele. Essa a razão da crise que abocanha o humano do ser humano e institui o
aborto. O aborto é fruto da decadência, não da evolução e do engrandecimento da pessoa hu
mana.
Mata-se o homem, ao menos no seu início, por enquanto, para trazer mais paz e feli
cidade a todos, principalmente às mulheres, fonte da vida, como se no nascituro es
tivesse o problema, sem se aperceber que esse ato é decorrência da perda dos referen
ciais valóricos transcendentes ao próprio homem e da conseqüente euforia relativista.
O que era respeito à vida, tornou-se um direito de morte, pela ação dos agentes do abo
rto. É imperioso que nasça um grito de alerta para cortar o silêncio da morte. Morte é m
orte. Morte de vida humana.
Agimos acreditando que conhecemos o suficiente a respeito da vida humana, para d
efini-la objetivamente, dada a estimativa da quantidade de conhecimentos produzi
dos, mas não queremos admitir que, ainda, para responder às questões que nascem das ma
is profundas exigências do nosso ser, a ciência não nos dá a resposta reclamada e digna à
vida humana, e, por isso, continua a interrogação existencial o que somos? -, exigin
do o complemento da fé como resposta, ou seja, o apoio de fora de tudo o que o pos
itivismo e o iluminismo alcançam.
Com efeito, há uma fé do materialista em encontrar todas as respostas na pura matéria,
fé que ultrapassa tudo o que se conhece através da matéria. Ora, da matéria macro e mic
ro, nada conhecemos, a partir de um determinado grau, mas nem por isso deve-se n
egar a existência dela. Se a vida não é conhecida cientificamente, em si mesma, na sua
totalidade, nem por isso podemos dizer que a vida não exista. A insistência nas pos
sibilidades auto-suficientes e onipotentes de a matéria poder dar todas as respost
as à vida humana, por meio dos sagrados cientistas , leva-nos a um panteísmo cósmico, de
retorno, em termos filosóficos e valóricos, ao panteísmo anterior ao nascimento da Fil
osofia, enquanto ciência do conhecimento produzido pela nossa razão natural a respei
to dos fundamentos últimos de tudo o que existe.
Mais uma vez, temos que convir que o que sabemos, apesar de ser muito, é muito pou
co para conhecer a vida, mas mesmo assim arriscamos a reduzi-la a este pouco, a
torná-la quase nada, e, mais que isso, arvoramo-nos no tirano direito de definir,
sem elementos racionais de definição, que a vida tem início quando o homem quer e não de
sde a ordem natural e ontológica da concepção. Eis o suposto do voluntarismo hedonista
, alimentado pelo relativismo, que conduz toda a motivação para o aborto, concebendo
a vida humana como uma manifestação que se esgota na matéria, cujos sacerdotes são os c
tistas que professam o materialismo cientificista, não apenas como método, mas como m
etafísica do fim último de tudo. E há os que, dizendo-se religiosos , no agrado aos cient
ificistas, em nome de uma modernidade que não sabem o que é, fingem compatibilizar o
Deus da Vida com o direito de morte ao nascituro, relativizando o Não Matarás e destr
onando o evangélico direito à vida desde a concepção, cuja ação visa, inclusive, a ferir a
greja Católica. Cada vez mais, quem defende o direito à vida do nascituro é confundido
com católico e católico não tem direito de falar porque os donos da vida já decidiram q
ue acabarão por convencer o povo de que o aborto é uma necessidade para salvar os vi
vos.

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