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Planeamento da Qualidade do Ambiente Urbano

2014/2015

Avaliação da qualidade do espaço público


O caso do Jardim de São Lázaro
Doroteia Ribeiro
Rodrigo Rojas Morales
Sandra Kallus Lobsiger

Introdução
Em todas as cidades los espacios publicos são muito necessários, y los espacios verdes
como las plazas son projetados con boas intenções. Mas neste planeamento
frequentemente não são considerados detalhes que influenciam o funcionamento do
mesmo.

Neste trabalho, tentamos analisar o desempenho de uma praça pública da cidade de


Porto, em nosso caso, o Jardim de São Lázaro. Este Jardim foi visitado e tamben, foi
estudado, nos seguintes aspectos: necessidades de acessibilidade, usos e atividades,
conforto e imagem e também o socibialidad nesta praça pública.

O estudo e análise do desempenho deste Jardim foi basado no livro: “How to Turn a
Place Around: a handbook for creating successful public spaces”. Também foram
coletadas fotografias e conversar com as pessoas que freqüentam este espaço público.

O Jardim de S. Lázaro é um típico jardim romântico, cheio de fontes e estátuas, grandes


árvores e canteiros, além de um pequeno coreto. Apesar de bastante modificado desde a
origem, é hoje o único jardim da cidade ainda envolvido por um gradeamento com
quatro portões.

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Imagem 1 – Vista satélite do Jardim

Destaque especial para o antigo lavatório da sacristia do extinto Convento de São


Domingos, em mármore. A ladear o jardim, a nascente, encontramos a Biblioteca
Municipal, a sul, o Colégio de N. Sª da Esperança e a Igreja dos Lázaros que lhe está
associada, a norte, o largo do Ramadinho (que foi em tempos um local castiço da
cidade) e a Praça dos Poveiros, a poente.

Imagem 2 – Plano arquitetónico

Nome oficial Jardim de Marques de Oliveira


Nome comum Jardim de São Lázaro
Concelho Porto
Freguesia Bonfim
Inauguração 1834
Área 0,67 ha
Outubro a Março 9:00 a 19:00
Horários Abril a Setembro 9:00 a 20:00

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História do jardim
O Jardim de São Lázaro é o mais antigo
jardim municipal da cidade do Porto. Na Idade
Média, no princípio do século XVI,
estabeleceu-se nas imediações deste local um
hospital de leprosos, cujo patrono era São
Lázaro. Depois este local foi demolido no
século XVIII, mas ainda hoje é conhecido pelo
nome desse Santo, apesar da designação
oficial. O local era periodicamente ocupado

por uma feira, tal como sucedia à maioria dos Imagem 3 – Desenho antigo
espaços que no Porto foram ajardinados até à
segunda década do século XX.
Em 1833, durante o Cerco do Porto, o príncipe Pedro do Bragança deu ordem para
ajardinar o antigo Campo de São Lázaro e foi desenhado por João José Gomes, primeiro
jardineiro municipal do Porto. O Jardim foi concluído sete anos após a sua inauguração.
Ao longo dos anos foi sofrendo diversas intervenções: em 1869, intervenção
paisagística pelo alemão Emílio David; em 1908 foi derrubada alguma vegetação
incluída em 1869; e em 1911 sofre nova modificação, acreditando-se que as magnólias
hoje existentes no jardim tenham sido plantadas nesse ano.
Este lindíssimo jardim, teve uma época áurea. Todos os Domingos o Coreto do jardim
de S. Lázaro recebia as Bandas dos Regimentos que tocavam para os inúmeros
assistentes.

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Imagem 4 – Cenário do jardim em meados do século XX

Mas o jardim não era para todos, muito embora fosse Municipal. O acesso ao recinto
estava condicionado a horários e era proibida a entrada de cães, mendigos de ambos os
sexos, homens com carretos às costas, crianças sem acompanhamento e com menos de
10 anos e a todas as pessoas que não tivessem um traje decente.
Após a inauguração dos jardins do Palácio de Cristal e da Cordoaria, o Jardim de S.
Lázaro, antes lugar de eleição da sociedade portuense, entrou um pouco em decadência.
Hoje é, no entanto, um dos jardins públicos mais frequentados da cidade.

1. Fatores de qualificação do espaço público


1.1. Usos e Atividades
O jardim de São Lázaro é usado diariamente pela população, sendo que a estrutura
etária dominante é constituída por homens com mais de sessenta anos.
Quando se entra no espaço é de imediato visível que se dispõem maioritariamente em
grupo, situação que coincide com a realização da atividade principal, os jogos de cartas.
Apesar disso, também encontramos usuários sozinhos nos bancos ou acompanhados.
Em número muito reduzido encontram-se os turistas, que aproveitam apenas para tirar
fotografias, não permanecendo no espaço por muito tempo. No entanto, não há crianças
no local, o que se relaciona com o facto de não haver qualquer tipo de entretenimento
para as mesmas.

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Imagem 5 - Jogo de cartas “Sueca”

Caminhar, comer e relaxar foram algumas das atividades observadas, mas os jogos de
cartas são a ocupação dominante, sendo este o principal atrativo do jardim para a
população mais velha.
Todo o espaço é usado, mas é notória a maior concentração de pessoas no local onde se
encontram as mesas e cadeiras usadas nos referidos jogos, uma vez que para além dos
usuários que estão a jogar, há várias pessoas a assistir.
Não foram observados quaisquer obstáculos à circulação das pessoas, sendo, portanto,
um bom jardim para os mais velhos, uma vez que conseguem andar sem perigo caírem.
Para além de que é seguro para os pedestres porque não há tráfego dentro do jardim.
O desenho favorece um bom uso do espaço, uma vez que as árvores cobrem todo o
jardim, proporcionando abrigo do sol, o que ameniza as altas temperaturas, e os bancos
estão bem distribuídos.
No que diz respeito a atividades e eventos, o jardim não apresenta variedade de escolha,
servindo apenas para as pessoas se sentarem e relaxarem, não tendo também
equipamentos para a prática de desporto. De mencionar que as mesas e cadeiras
utilizadas nos jogos de cartas, nada têm a ver com o desenho do espaço, uma vez que
foram trazidas por alguém, sendo as mesmas guardadas todos os dias na cave do coreto
existente em São Lázaro.
É possível identificar uma pessoa responsável pelo espaço, que se encontra junto ao
coreto e que na hora de encerramento guarda o material e fecha os portões do jardim.
Verificou-se também que o local é utilizado durante todo o dia, no entanto apresenta
maior ocupação no período da tarde.

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Para além disso, o jardim não se encontra com excesso de pessoas, dado que há espaço e
bancos suficientes para se distribuírem, mas o ponto de encontro principal é junto ao
coreto, onde são colocadas as mesas e cadeiras para se realizar a atividade principal de
todos os dias, o jogo de cartas.
Não há eventos programados no jardim, mas o coreto revela ser um elemento
importante para o efeito, apesar de não ser devidamente aproveitado.

Imagem 6 - Coreto

Em torno do jardim, encontram-se usos preponderantes à vitalidade da área, – apesar de


as fachadas serem pouco interessantes para contemplar –, nomeadamente o Colégio da
Nossa Senhora da Esperança, a Biblioteca Municipal do Porto, mas também outros
pequenos serviços de snack-bar, de mercearia, de talho, de joalharia e de ótica, para
além do uso habitacional.

1.2.Conforto e Imagem
À primeira vista, o Jardim de São Lázaro não é tão bonito ou impressionante como
Jardim do Palácio de Cristal, ou alguma outra bela praça. Ou seja, quando se atinge o
Jardim não visualmente impressionante pela sua beleza, mas uma vez dentro deste lugar
tranquilo, um está se sentindo muito mais confortável do que em outros lugares. Em
alguns aspectos tem seu próprio charme.
Este conforto no Jardim é talvez a principal razão por que este lugar é cheio de idade, ea
grande maioria são homens que procuram a idade avançada um lugar tranquilo e
confortável para passar o tempo bom. O grande número de lugares para sentar,
distriubuidos por todo o parque, convidan aos passantes a sentar e sentir-se confortável
e relaxado.

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Embora só se pode ver uma pessoa responsável, o Jardim parece ter a manutenção
contínua, é limpo e as plantas e flores também estão bem cuidadas. Talvez a
desvantagem é que os caminhos do Jardim são terra, mas o contrastan bem com o estilo
ea atmosfera no Jardim. Considerando que esse é o primeira praça no Porto, talvez os
caminhos são mantidos de terra de propósito.
A praça se sente segura e tranquila, em parte porque é cercada por muros baixos e
barras de metal. Mas sabe-se que este lugar é um ponto onde algumas prostitutas
procurando clientes entre os muitos velhos do lugar.
Enquanto o jardim não é desejável, nem é um dos lugares mais bonitos para se visitar no
Porto; por issosão vistos muito poucos turistas. Isso porque o parque não é muito
atraente e porque está numa zona mais residencial que a zona comercial. Além disso, o
jardim não tem coisas muito interesantes para tirar fotos, apenas uma fonte de água
muito antigo é negligenciada.

1.3.Acessos e ligações
O jardim de São Lázaro é um espaço que não é visível à distância. É ladeado por
gradeamento, o que faz com que parece uma propriedade privada. Do exterior apenas se
observam as árvores altas, mas dentro do jardim é possível observar o tráfego
circundante.
O jardim é de fácil acesso, em virtude de haver paragens de autocarro mesmo junto ao
espaço e estações de metro também bastante próximas do local. As passadeiras
existentes à volta do jardim permitem que se chegue facilmente ao mesmo, havendo
também um passeio em todo a sua envolvência, que permite um conveniente acesso
pedestre.
É possível que usuários com necessidades especiais circulem no jardim, dado que o
espaço apresenta caminhos variados, que permitem à pessoa escolher o que melhor lhe
convém. No entanto, deve realçar-se que dos quatro portões existentes, somente dois
deles apresentam fácil acesso ao jardim, uma vez que os outros têm escadas.
Os edifícios adjacentes são, sobretudo, ligados ao comércio e serviços, e portanto, a
grande parte dos ocupantes do espaço deslocam-se de outros locais da cidade para o
jardim.
Há uma grande variedade de transportes que permitem que se chegue facilmente a São
Lázaro. São várias as linhas da STCP que operam junto ao jardim, mas é de salientar a

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linha 207, 303 e 400 que tem paragem mesmo ao pé do local. Para além disso, o Metro
e a Gondomarense servem o jardim com paragens também bastante próximas.
O tráfego não revela ser uma barreira para as pessoas chegarem ao jardim, porque é bem
gerido pelo sistema de semáforos.

Imagem 7 – Acesso ao jardim pela passadeira

As bicicletas são um modo de transporte que não é utilizado para aceder ao local, uma
vez que a maioria dos frequentadores são idosos e, portanto, opta por outras formas para
chegar ao jardim, sobretudo, a pé e de autocarro.
O jardim não está pavimentado, mas isso não demonstra ser um problema à circulação.
Para além disso, as pessoas tem a possibilidade de andar pelo jardim em círculo, ou
fazendo diagonais que ligam um portão ao outro.
São Lázaro não tem estacionamento próprio, mas em seu entorno há lugares para deixar
o carro, mediante pagamento no paquímetro.
Observando os usuários do jardim, o número ronda os setenta. Fora do espaço, as
pessoas circulam, sobretudo, em veículos.

1.4. Sociabilidade
Este lugar é um ponto focal da região para encontrar amigos ou conhecidos, é um jardim
único nesta cidade, na medida em que não há outro espaço fechado como este.
Há grupos de amigos, especialmente idosos, homens velhos que se reúnem para jogar à
sueca e manter conversas, entre brincadeiras e brigas, pelas tardes inteiras.
Também se encontra, mas num número reduzido, jovens, estudantes universitários,
especialmente da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e pessoas
interessadas na Biblioteca Pública, próximos ao jardim.

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Há um detalhe que todas as pessoas conhecem, mas ninguém fala muito disso, a
presença de prostitutas no jardim. Mulheres que encontram negociável uma praça cheia
de homens mais velhos, jogando por dinheiro.

Imagem 8 – Jardim de São Lázaro

Segundo José Magalhães1, “este lindíssimo jardim, teve uma época áurea, logo após a
sua construção em 1834. Provocou, com o seu aparecimento, a transferência da atração
domingueira dos Portuenses, das alamedas das Virtudes e das Fontaínhas, para este
novo local. Acabaria por perder esse poder de atração sobre a melhor Sociedade
Portuense aquando do aparecimento dos jardins da Cordoaria e do Palácio de Cristal.
Todos os Domingos o Coreto do jardim de S. Lázaro recebia as Bandas dos Regimentos
que tocavam para os inúmeros assistentes. Durante a semana, os Brasileiros (ricos
comerciantes com negócios no Brasil), passavam as tardes no jardim, fazendo contas
aos ganhos, fazendo negociatas e politiquices, e, aproveitando para catrapiscar as jovens
do Recolhimento das Órfãs (hoje Colégio de N. Sª da Esperança). Nesse período,
muitos casamentos nasceram.
Era vê-los, e a elas (muito arranjadas e compostas), passeando-se ou sentados pelos
bancos, que os havia em abundância, aos pares, deleitando a vista no “repuxo” do lago,
ou no colo delas. Enfim, o jardim foi, em tempo idos dos séculos XIX e XX, um campo
de batalhas de amor.
Hoje, é maioritariamente paradeiro de velhos de olhares perdidos e vazios, sítio de
namoros tardios, e local de jogos vespertinos de sueca ou de transações ilícitas ao cair

1
UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães. Blog, 31 de outubro de 2013.
http://aviagemdosargonautas.net/2013/10/31/uma-carta-do-porto-por-jose-magalhaes-9

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da noite, muito embora a proximidade das Belas Artes (FBAUP) e da Biblioteca
Municipal, lhe traga algum movimento acrescido durante os fins das manhãs e os meios
das tardes, o que lhe permite ser, ainda hoje, um local movimentado, e um dos jardins
mais frequentados da cidade.
O Coreto, esse, excetuando uma ou outra vez num qualquer fim-de-semana estival, já
quase não recebe ninguém.”

Imagem 1 – Uma mulher e um homem velho no Jardim de São Lázaro antigamente.

2. Propostas
A prostituição é um dos entraves à existência de crianças, dado que os pais preferem
frequentar outro tipo de local. Por isso é importante que, por exemplo, o Colégio da
Nossa Senhora da Esperança e a Biblioteca Municipal desenvolvem atividades no
espaço, de modo a darem mais vida ao jardim e que dessa forma as atividades
indesejáveis se vejam “forçadas” a sair do local.
O Colégio, através de aulas dadas no jardim, daria aos alunos a oportunidade de evitar a
monotonia das salas de aulas e a Biblioteca Municipal também poderia utilizar o espaço
para, por exemplo, fazer encontros de clubes de leitura.
Para além disso, com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto tão perto, a
atratividade do local é fundamental para que também estes alunos possam utilizar o
espaço para desenhar. Atualmente, o problema está no facto de os idosos que utilizam

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os serviços das prostitutas, olharem as mulheres que estão no jardim e pensarem que
todas são prostitutas. Acontece que interpelam qualquer jovem, e isso que é muito
embaraçoso, fazendo com que as jovens deixem de frequentar o espaço.
Em suma, deve-se criar equipamentos de entretenimento para crianças, mas para além
disso, é importante que não sejam colocados entraves a quem quer fazer atividades,
permitindo, por exemplo, exposições, teatro de rua e feiras de artesanato e que seja dado
um real aproveitamento ao coreto.

Conclusões

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