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Apêndice A CURTOS-CIRCUITOS EM SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO RADIAL

A.1 Introdução

A determinação das correntes de curtos-circuitos de sistemas elétricos, é fundamental para o


projeto de um sistema de proteção, isto é:

• Dimensionamento das capacidades de interrupção ou rutura dos equipamentos interruptores


(chaves-fusíveis, disjuntores, religadores);
• Dimensionamento de transformadores de corrente;
• Ajustes de relés de proteção;
• Estudo de seletividade e coordenação.

Além disso, essas correntes também são usadas para determinação dos limites de suportabilidade
térmica de cabos, transformadores, chaves de manobra, etc., pelo tempo necessário para atuação dos
equipamentos de proteção.

É importante observar que a magnitude de uma corrente de curto-circuito, ao contrário da corrente


de carga, independe da potência da carga. Depende diretamente da potência do gerador. Isto é, tanto maior
será a corrente de curto, quanto maior for a potência que o sistema poderá fornecer.

A.2 Descrição do problema

Quando ocorre um curto, surge um transitório equivalente ao fechamento de um circuito RL, em


que R e L são os parâmetros do circuito (resistências e indutâncias). Nos primeiros instantes após o curto, a
corrente é ASSMÉTRICA em relação ao eixo dos tempos, isto é :

I CC (t) = I CC,M cos wt + I 0 e − t / τ

Onde , τ = X/R é a constante de tempo do circuito.

A componente I CC ,M cos wt , é conhecida como componente em regime ou simétrica. Já a


componente I 0e −t / τ
, é uma exponencial chamada de componente unidirecional (ou contínua). A
componente assimétrica, ICC (t) , é a corrente dinâmica.

Observando-se a equação acima, pode-se concluir que a assimetria da corrente será máxima
imediatamente após o curto, tornando-se gradualmente simétrica com o passar do tempo.

A duração da componente exponencial é função da constante de tempo do circuito, ou seja X/R,


isto é:

Se R << X , então τ → ∞ I0 → const. ;


Se R >> X , resulta τ → 0 I0 → 0

Em sistemas elétricos de potência, os valores típicos dos tempos de duração da componente


contínua, são de 1/2 a 8 ciclos de 60Hz (8,3 ms a 133,3 ms) .

Tendo em vista a dificuldade de se determinar a magnitude de corrente assimétrica, ela é dividida,


para efeito de simplificação de cálculo, nas suas componentes SIMÉTRICA e EXPONENCIAL.

A-1
A componente simétrica ou de regime, é determinada pelos métodos convencionais de cálculo de
curto-circuito. Para isso, emprega-se componentes simétricas, conforme será visto.

A corrente assimétrica é calculada de, forma prática, através de fatores de assimetria. São
utilizados para multiplicar o valor eficaz da componente em regime. São números que assumem valores
típicos entre 1 e 1,7 , a depender da relação X/R (Tabela 1). Portanto, dependem da localização do curto-
circuito.

Tab. 1 - Fatores de assimetria


X/R F. Assim. X/R F. Assim. X/R F. Assim.
Até 0,25 1,000 2.10 1,075 5,80 1,310
0,30 1,004 2,20 1,080 6,00 1,315
0,40 1,005 2,30 1,085 6,20 1,324
0,50 1,006 2,40 1,090 6,40 1,335
0,55 1,007 2,50 1,104 6,60 1,350
0,60 1,008 2,60 1,110 6,80 1,360
0,65 1,009 2,70 1,115 7,00 1,362
0,70 1,010 2,80 1,123 7,25 1,372
0,75 1,011 2,90 1,130 7,50 1,385
0,80 1,012 3,00 1,140 7,75 1,391
0,85 1,013 3,10 1,142 8,00 1,405
0,90 1,015 3,20 1,150 8,25 1,410
0,95 1,018 3,30 1,155 8,50 1,420
1,00 1,020 3,40 1,162 8,75 1,425
1,05 1,023 3,50 1,170 9,00 1,435
1,10 1,025 3,60 1,175 9,25 1,440
1,15 1,026 3,70 1,182 9,50 1,450
1,20 1,028 3,80 1,190 9,75 1,455
1,25 1,029 3,90 1,192 10,00 1,465
1,30 1,030 4,00 1,210 11,00 1,480
1,35 1,033 4,10 1,212 12,00 1,500
1,40 1,035 4,20 1,220 13,00 1,515
1,45 1,037 4,30 1,225 14,00 1,525
1,50 1,040 4,40 1,230 15,00 1,550
1,55 1,043 4,50 1,235 16,00 1,560
1,60 1,045 4,60 1,249 17,00 1,570
1,65 1,047 4,70 1,255 18,00 1,580
1,70 1,050 4,80 1,260 19,00 1,590
1,75 1,055 4,90 1,264 20,00 1,600
1,80 1,060 5,00 1,270 22,50 1,610
1,85 1,063 5,20 1,275 25,00 1,615
1,90 1,065 5,40 1,290 27,75 1,625
2,00 1,070 5,60 1,303 30,00 1,630

Geralmente, a magnitude da corrente assimétrica é empregada para determinar a capacidade de


interrupção de chaves e DISJUNTORES de proteção. Já o valor eficaz da componente simétrica, é usado
nos estudos de seletividade e coordenação.

A.3 Determinação de correntes de curtos-circuitos

A-2
No cálculo destas correntes, são usados os diagramas de seqüências de fases, acoplados
convenientemente de acordo o tipo de curto.

Os diagramas de seqüências são de três tipos : seqüência positiva, negativa e zero. Na montagem
destes diagramas, a fim de se determinar correntes de curtos-circuitos, é necessário se conhecer os circuitos
de seqüências de seus componentes, basicamente: gerador, transformador e linha.

a) Diagramas de seqüências de um gerador (Fig.1):

EA IA
(a)Gerador em
vazio aterrado EB IB
através de uma
EC IC
impedância
ZT

I A1
EA Z1 IA 1
(b)Circuito trif. (e)Circ. monof. Z1
Z1 I B1
de seq. pos. EB de seq. pos.
Z1 EA
EC I C1

Z2 IA2 I A2

(c)Circuito trif. Z2 IB2 (f)Circ. monof. Z2


de seq. neg. de seq. neg.
Z2 IC2

Z0 IA0
I A0
Z0 IB0
(d)Circ. trif.
de seq. zero Z0 (g)Cir. monof. 3Z T
IC0
de seq. zero
ZT Z0

Fig.1 - Diagrama de seqüências de um gerador trifásico

A-3
b) Diagramas de seqüência zero de bancos trifásicos de transformadores ou de transformadores trifásicos
de núcleo envolvente (Fig.2):

Z0

Z0

Z0

Z0

Z0

(a) Diagramas de Ligação (b)Circuitos Equivalentes


de Sequência Zero

Fig. 2- Diagramas de seqüência zero de um transformador


trifásico de núcleo envolvente ou de um banco trifásico

É importante lembrar que não havendo o aterramento da estrela, não haverá caminho para as
correntes de seqüência zero.

Os diagramas de seqüências positiva e negativa de transformadores se apresentam de acordo com


os circuitos da Fig. 3:

Z1 Z2

(a)Diagrama de (b)Diagrama de
Seq. Pos. Seq. Neg.

Fig. 3 – Diagramas de seqüências positiva e negativa de um transformador

As impedâncias são representadas por fase. No caso de ligação ∆ , é feita a transformação de


DELTA para ESTRELA.

c) Diagramas de seqüências de linhas:

A-4
Os circuitos de seqüências dos condutores das linhas, são dados conforme Fig. 4 . Na prática, as
impedâncias de seqüências positiva e negativa são tomadas iguais (Z1 = Z2).

Z0 Z1 Z2

(a)Diagrama de (b)Diagrama de (c)Diagrama de


Seq. Zero Seq. Pos. Seq. Neg.

Fig. 4 – Diagramas de seqüências de uma L.T.

De acordo com o estudo de componentes simétricas para sistemas trifásicos, tem-se as seguintes
relações:

a = 1∠120o ; a2 = 1∠240o

VAN = V0 + V1 + V2 ; (1)
VBN = V0 + aV1 + a2V2 ; (2)
VC N = V0 + a2V1 + aV2 ; (3)

IA = I0 + I1 + I2 ; (4)
IB = I0 + aI1 + a2I2 ; (5)
IC = I0 + a2I1 + aI2 (6)

A.4 Curto-circuito trifásico

O curto trifásico é equilibrado (Fig. 5), portanto é representado somente pelo diagrama de
seqüência positiva. Não aparecem as componentes de seqüências positiva e zero. A corrente é dada
E
pela expressão : I CC,3Φ = I 1 =
Z1

ZA
F I1
Z1
EA
ZB
EB E
ZC
EC

Fig. 5 – Curto trifásico com seu circuito de seqüência positiva

As tensões da fonte são consideradas sempre equilibradas, então nos diagramas de seqüências irá
aparecer somente a componente de seqüência positiva.

A impedância Z1 , representa a soma das impedâncias de seqüência positiva da fonte e dos


condutores, por fase, até o ponto de falta F (Fig. 5) .

A-5
A.5 Curto-circuito bifásico

Na Fig. 6, está representado um curto-circuito envolvendo as fases B e C. O seu diagrama


seqüencial equivalente é composto pelos circuitos de seqüência positiva e negativa. A seqüência zero não
aparece, pois o curto não envolve a terra, portanto não oferece caminho para I0 .

ZA
I1 I2
EA Z1 Z2
IB ZB F
EB
E V1 V2
ZC
EC
IC

Fig. 6 – Curto-circuito bifásico e seu circuito de seqüências

De acordo com os circuitos acima, podem-se escrever:

IA = 0 ; IB = -IC ; VB = VC ; V1 = V2

I1 = -I2 = E / (Z1 + Z2), considerando Z1 = Z2 , resulta: I1 = -I2 = E / 2Z1

Substituindo-se os valores de I1 e I2 , nas relações (5) e (6) , obtêm-se:


3 E
IB = (a2 - a )E / 2Z1 ICC,2 φ = IB = j
2 Z1
3 E
IC = (a - a2)E / 2Z1 ICC,2 φ = IC = − j
2 Z1
De acordo com os sinais das equações acima, observa-se que as correntes têm sentidos contrário.

A.6 Curto-circuito bifásico-terra

Este tipo de curto (Fig. 7), é desequilibrado e envolve a terra, portanto no seu circuito de seqüência
têm as componentes de seqüência zero, positiva e negativa.

ZA
EA
I1 I0
IB ZB Z1 Z0
F
EB
I2
ZC
EC E V1 Z2 V2 V0
IC IF

IF

Fig. 7 Fig. 7.a


Fig. 7 – Curto-circuito bifásico-terra e seu circuito de seqüências

A-6
Observando-se os circuitos das Fig. 7 , obtêm-se as seguintes relações:

IA = 0 ; ICC,2 φ = IF = IB + IC ; VB = VC = 0 (no ponto de falta) ; V0 = V1 = V2

E E( Z 2 + Z 0 ) E( Z 2 + Z 0 ) DI 1
I1 = = = E=
Z2 Z0 Z1 Z 0 + Z 2 Z 0 + Z 1 Z 2 D Z2 + Z0
Z1 +
Z2 + Z0
E − Z1 I 1 EZ 0
−I 2 = I2 = −
Z2 D
E − Z1 I 1 EZ 2
−I 0 = I0 = −
Z0 D

Substituindo-se os valores de I0 , I1 e I2 nas equações (5) e (6), resultam:

IB = E (- Z2 + a2Z2 + a2Z0 - aZ0) / D ;

IC = E (- Z2 + aZ2 +aZ0 - a2Z0) / D

ICC,2 φT = IB + IC = - 3EZ2 / D

Z1
Como Z1 = Z2 , então: ICC,2 φT = −3E
D

A.7 Curto-circuito fase-terra

Este curto é desequilibrado e envolve a terra (Fig. 8), então o seu circuito de seqüências é
constituído das seqüências zero, positiva e negativa.

Z1

I1
ZA IA E
F V1
EA
ZB Z2
EB
ZC I2 V2
EC
Z0

I0 V0
3I 0

Fig. 8 – Curto-circuito fase-terra com seu circuito de seqüências

As seguintes relações podem ser tiradas dos circuitos:

IB = IC = 0 ; IA = ICC, φ T ; VA = 0 (no ponto de falta) ; I0 = I1 = I2

I0 = I1 = I2 = E / (Z0 + Z1 + Z2) , como Z1 = Z2 , então I0 = I1 = I2 = E / (2Z1 + Z0)

A-7
Substituindo-se os valores das componentes simétricas na equação (6), obtêm-se:

3E
I CC ,φT = I A =
2 Z1 + Z 0

A.8 Curtos-circuitos através de impedância

As faltas discutidas anteriormente consistiam de curtos diretos entre fases ou entre estas e a terra.
Isto é, foram desprezadas as IMPEDÂNCIAS DE FALTA (ZF). Entretanto, a maioria das faltas são
resultantes de arcos entre fases ou entre estas e pontos aterrados, envolvendo, geralmente, os isoladores.
Isto resulta em RESISTÊNCIA DE ARCO (Rarco). Além disso, quando a falta é para a terra, a
RESISTÊNCIA DE TERRA(RT) deverá ser considerada. As Figuras 9 mostram os diversos tipos de curto
através da impedância de falta (ZF).

A A
ZF
B B
ZF
C C
ZF ZF

Fig.9.b
Fig.9.a

A A
B B
C C
ZF
ZF
Fig.9.d
Fig.9.c

Fig. 9 – Curtos-circuitos através da impedância de falta ( ZF)

Considerando ZF igual nas três fases, o curto TRIFÁSICO permanece equilibrado, portanto
somente circulam correntes de seqüência positiva (Fig. 10), então :

E
I CC ,3φ = I 1 =
Z1 + Z F
Para a falta BIFÁSICA, tem-se :

I1 = -I2 = E / (Z1 + Z1F + Z2 + Z2F)

Considerando Z1 = Z2 e Z1F = Z2F = ZF


3 E
Resulta: I1 = -I2 = E / 2(Z1 + ZF) ICC, 2 φ B = - ICC, 2 φ C = j
2 ( Z1 + Z F )
A Fig. 10, mostra os diagramas de seqüências desse curto, onde pode ser visto ZF .

A-8
No caso de falta BIFÁSICA À TERRA, a corrente que irá circular para a terra através da
Z1
impedância ZF , será : ICC,2 φT = −3E
D
O produto desta corrente por ZF , resulta na queda de tensão de seqüência zero no ponto da falta:

Z1 Z
V0F = ZF ( −3E ) = − E 1 3Z F =3I0ZF
D D

Então, ZF deverá se apresentar no circuito de seqüência zero multiplicada por 3, para manter a queda de
tensão, uma vez que neste circuito circula I0 , e não 3I0 , (Fig 10). Com ZF incluído, o valor do denominador
D, passa a ser: D’ = Z1Z2 + Z1(Z0 + 3ZF) + Z2(Z0 + 3ZF) ,

Z1
portanto, a corrente do curto será dada por : I CC ,2 φT = −3E
D′

3E
Se a falta for FASE-TERRA, a corrente de falta é dada por: I CC ,φT =
2 Z1 + Z 0

E
A queda de tensão de seqüência zero, no ponto de falta, é: V0F = 3Z F =3I0ZF
2 Z1 + Z 0

Então, do mesmo modo da falta bifásica-terra, a impedância ZF , será representada no digrama de seqüência
3E
zero com seu valor multiplicado por 3, Fig. 10: I CC ,φT =
2 Z1 + Z 0 + 3Z F

I1 Z1 ZF I1 ZF I2
Z1 Z2

E E V1 V2

Fig. 10.a
Trifásico
Fig.10.b
Bifásico

I1 I0
Z1 Z0 Z1
I2
I1
E V1 Z2 V2 V0 3ZF E V1
I0
Z2
Bifásico-terra 3ZF
I2 V2
Z0
Fig. 10 – Circuitos de seqüências para I0 V0
curtos-circuitos através de impedância
Fig.10.d
Fase-terra

A-9
Quando se considera a impedância de falta, a tensão na mesma não pode ser tomada igual a zero. O
seu valor será: VF = ZF IF .

A.9 Elevação de tensões nas fases sãs devido ao curto-circuito fase-terra

Os curtos para a terra elevam as tensões das fases que não estão envolvidas (fases sãs). Os valores
que irão atingir, dependem da resistência de falta, que no caso, é basicamente a resistência de terra “vista”
pela corrente de curto. Isto é, dependerá da classe de aterramento do sistema (Tabela 2):

Tab. 2 – Elevação de tensões divido a curtos-circuitos para a terra

Tensão Tensão em
Transitória Regime
Classe de Relações de Simetria Fase-Terra Fase-Terra
Aterramento (pu da crista (pu da
da tensão tensão pré-
pré-falta) falta)

EfetivamenteA X0 R0 1,5 a 2,0 1,1 a 1,38


1≤ ≤3 0≤ ≤1
terrado X1
X1

Não Aterrado através Aterrado através


Efetivamente de X: de R:
Aterrado 2,3 a 2,73 1,38 a 1,73
X0 R0
≥3 ≥1
X1 X1

Multiaterrado ___ ___ 1,5 a 2,0 1,15 a 1,38


a 4 Fios

Sistema Delta: Estrela Isolada:


Isolado ( X0 é
Capacitiva) X0 X0 3,0 ≥ 1,73
−∞ ≤ ≤ −40 −40 ≤ ≤0
X1 X1

Para uma determinada falta à terra, as sobretensões atingirão os valores tabelados. Estes valores
decrescerão no sentido do ponto de falta para a fonte.

Considerando-se um curto fase-terra através de uma impedância de falta (Fig. 9.d), as tensões, no
ponto de falta, são calculadas por componentes simétricas. Da Fig.10.d , são tiradas as seguintes equações:

E
I1 = ; V0 = - Z0 I0 ; V1 = E - Z1 I1 ; V2 = - Z2 I2
Z 0 + Z1 + Z 2 + 3Z F

Substituindo-se estes valores nas equações (1) , (2) e (3) , resultam:

VAN = - Z0 I0 + E - Z1 I1 - Z2 I2 , mas I 0 = I 1 = I2 VAN = E - (Z0 + Z1 + Z2) I1 = E - ZA I1

Substituindo o valor de I1 , resulta : VAN = E - [ZA E / (ZA+3ZF)] = 3ZF E / (ZA +3ZF) = 3ZFI1

Mas , I1 = ICC, φ F T / 3 VAN = Z F I CC ,φT

A-10
VBN = - Z0 I0 + a2 (E - Z1 I1) + a (- Z2 I2) = a2 E - [E(Z0 + a2 Z1 + a Z2) / (Z0 + Z1 + Z2 + 3ZF)]

EZ 0 − a 2 EZ1 − aEZ 2
VBN = a 2 E − , onde d = Z0 + Z1 + Z2 + 3ZF
d

Z 0 + a 2 Z1 + aZ 2
Fatorando a expressão acima , resulta : VBN = E a 2 − (7)
Z 0 + Z1 + Z 2 + 3Z F

Z 0 + aZ1 + a 2 Z 2
De maneira semelhante, obtêm-se : VCN = E a − (8)
Z 0 + Z1 + Z 2 + 3Z F

Nas expressões (7) e (8) , fazendo-se ZF e Z0 tenderem a ZERO, obtêm-se:

VBN =
(
Z1 a 2 − a E ) =
3
E ∠270o ; VCN =
(
Z1 a − a 2 E ) =
3
E ∠90o
2 Z1 2 2 Z1 2

Para esta situação não há elevação das tensões das fases sãs. Então, concluí-se que quanto melhor
o aterramento, isto é, resistência de terra mais baixa, menor será a elevação das tensões das fases sãs.

Dividindo-se as expressões (7) e (8) por Z0 , resultam:

a 2 Z1 + aZ 2 aZ1 + a 2 Z 2
1+ 1+
Z0 Z0
VBN = E a2 − ; VCN =E a−
Z + Z 2 + 3Z F Z + Z 2 + 3Z F
1+ 1 1+ 1
Z0 Z0

Nas expressões acima, fazendo-se Z0 → ∞ , resulta : VBN = (a2 - 1)E = 3 E ∠210o

VCN = (a -1)E = 3 E ∠150o

Nesta situação, como era de se esperar, houve elevação das tensões das fases sãs. Portanto,
concluí-se que, quanto pior o aterramento do sistema (resistência de terra elevada) , maiores serão as
elevações das tensões das fases sãs.

A.10 Comparação entre os módulos de correntes de curtos-circuitos

Este estudo será feito, tomando-se como base a corrente de curto trifásica e será desprezada
a impedância de falta. A comparação é importante, porque fornece condições para uma análise crítica dos
valores das correntes de curtos nos diversos pontos do sistema.

A.10.1 Curto-circuito trifásico versus fase-terra

3Z1
Dividindo-se a corrente de curto fase-terra pela trifásica, obtêm-se: I CC ,φT = I CC ,3φ
2 Z1 + Z 0

A-11
Se : Z0 < Z1 ICC, φ T > ICC,3φ (1) ;

Z0 = Z1 ICC, φ T = ICC,3φ (2) ;

Z0 > Z1 ICC, φ T < ICC,3φ (3)

A condição (1) é comum nas proximidades de transformador ligado em ∆-ΥT , no lado ΥT , pois como foi
visto no diagrama de seqüência zero, o circuito é aberto do lado ∆ para o lado YT.

A.10.2 Curto-circuito trifásico versus bifásico-terra

A razão entre a corrente de curto bifásico-terra e a trifásica, resulta:


3Z1
I CC,2 φT =− × I CC,3φ
Z1 + 2 Z 0

Se : Z0 < Z1 ICC, 2 φ T > ICC,3φ (4) ;

Z0 = Z1 ICC, 2 φ T = ICC,3φ (5) ;

Z0 > Z1 ICC, 2 φ T < ICC,3φ (6)

A condição (4) é semelhante à condição (1), portanto tudo que foi dito para a (1), vale para a (4).

A.10.3 Curto-circuito trifásico versus bifásico

Dividindo-se a corrente de curto bifásico pela corrente trifásica, obtêm-se:

3
I CC ,2 φ = I CC ,3φ = 0,866I CC ,3φ
2
Isto é, os curtos trifásico e bifásico, calculados em um mesmo ponto , guardam sempre a relação acima. Ou
seja, a corrente de curto bifásico vale aproximadamente 86% do valor da corrente de curto trifásico.

Para o cálculo das correntes de curtos, são necessários os seguintes dados:

• potências de curto-circuito (monofásica e trifásica) na barra de alta-tensão da subestação, ou


impedâncias equivalentes (de seqüências positiva e negativa), vistas atrás desta barra (impedâncias
equivalentes do sistema);

• características do transformador da subestação: potência nominal , tensões nominais (primária,


secundária e terceária, se for o caso) , impedâncias de seqüências positiva e zero , tipo de ligação ;

• características do circuito: tipo , bitola e espaçamento dos condutores ;

• distâncias entre os pontos que se deseja calcular os curtos ;

• classe de aterramento do sistema (se for aterrado, informar a resistência de terra).

A-12
A.11 Exercício de aplicação

A Fig.11 mostra o diagrama unifilar de um sistema de distribuição primário (13,8kV), aéreo,


trifásico a três fios e aterrado na S/E. Estão representados os equipamentos de proteção comumente
utilizados: Disjuntor (52) ; Relés (51), que comandam o disjuntor ; Transformadores de Corrente (TC), que
alimentam os relés ; Religador (R); Seccionalizador (S), que opera em conjunto com o religador e Chave-
Fusível (CF), cujo dispositivo sensor é o Elo-Fusível. Além destes equipamentos, estão representados os
Transformadores de Força (TF) e de Distribuição (TD) , localizados na S/E e nos ramais, respectivamente.

13,8kV
3,5MVA
69kV R
TF TC 2/0 CAA-8km B 1/0CAA-3km D
52 R S
4MVA CF
Y 51 A
69/13,8kV
S=15MVA 2/0CAA-6km
Z1 =Z0 =8%
CF
C 45kVA
CF TD
CF
TD CF
TD CF 75KVA
75KVA

Fig. 11- Sistema de distribuição radial

Em cada ponto de instalação de um equipamento de proteção é necessário se conhecer as correntes


de curtos-circuitos, portanto será necessário calculá-las.

Dados para cálculo dos curtos:

• potência de curto trifásico na barra de 69kV, na S/E: SCC,3 φ = √3 V ICC, 3 φ = 120MVA ;

• para um espaçamento equivalente dos condutores de 1,355m, as impedâncias de seqüências são:

. Cabo 2/0 CAA : Z 1 = Z2 = 0,4387 + j0,4567 Ω/km; Z0 = 0, 6163 + j 1, 9135 Ω/km

. Cabo 1/0 CAA : Z 1 = Z2 = 0,5599 + j0,4501 Ω/km ; Z0 = 0,7275 + j1,9069 Ω/km

• Para os curtos envolvendo a terra fora da S/E, considerar resistência de terra igual a 33,3Ω :
3RT =100Ω (valor recomendado pelo CCON) ;

• No caso de curtos envolvendo a terra dentro da S/E , considerá-los FRANCOS, isto é, fazer a
resistência de terra igual a ZERO : RF = 0

Resolução:

1) Impedância de seqüência positiva equivalente do sistema, vista da barra de AT da S/E :

A-13
( VBT ) 2 (13,8) 2
Z 1S = X 1S = = = 1,5870Ω
S CC ,3φ 120

2) Impedâncias de seqüências positiva e negativa do transformador:

Z% ( VBT ) 2 8 (13,8) 2
X 1T = X 0T = = = 1,0157Ω
100 S T 100 15

3) Impedâncias dos cabos, por trecho:

AB : Z1 = 8 (0,4387 + j0, 4567) = 3,5096 + j3,6536Ω ;

Z0 = 8 (0,6163 + j1,9195) = 4,9304 + j15,3560Ω

BC : Z1 = 6 (0,4387 + j0,4567) = 2,6322 + j2,7402Ω

Z0 = 6 (0,6163 + j1,9195) = 3,6978 + j11,5170Ω

CD : Z1 = 3 (0,5499 + j0,4501) = 1,6497 + j1,3503Ω

Z0 = 3 (0,7275 +j1,9069) = 2,1825 + j5,7207Ω

4) Determinação dos curtos na Barra A (S/E):

Para isso, são necessários as montagens dos circuitos de seqüências, até o ponto de falta (Barra A):

a) Curto Trifásico (diagrama de seq. pos.) :

Z1S A
E= 13,8 =7,97 kV
Z1T 3
Z =j1,0157ohms
1T
E
Z1S =j1,5870ohms
Barra de Referência

E 7.970
I CC ,3φ = = = j3.062A
j( Z1T + Z1S ) j2,6027

A-14
b) Curto Bifásico (diagramas se seqüências pos. e neg.) :

Z 1S A Z 2S
Z1T = Z 2T
Z1T
Z 2T Z 1S = Z 2S
E

3 E 7.970
ICC,2 φ = I CC,2 φ = ± j = ± j0,866 = ± j2.652A
2 ( Z1T + Z1S ) 2,6027

3
Esta corrente poderia ter sido calculada utilizando-se a relação : I CC ,2 φ = I CC ,3φ = 0,866I CC ,3φ
2

c) Curto Bifásico-Terra (diagramas de seqüências. pos. , neg. e zero) :

Z 1S A Z 2S
Z 0T = Z1T = Z 2T
Z1T
Z 0T Z 2T Z 1S = Z 2S
E

Observações:

(1) Devido à ligação do transformador de força ser do tipo ∆-ΥT , as impedâncias de seqüência zero do lado
do ∆ , não passam. Isto é, não são representadas nos circuitos de seqüência zero, do lado YT . Por isso, Z0S
não aparece no ramo de seqüência zero da figura acima.

(2) Devido ao curto ser dentro da S/E, desprezou-se a resistência de terra (RF = 0) , isto é, considerou-se o
curto FRANCO.

Z1 ( Z + Z1S )
I CC,2 φT = −3E = −3 × 7.970 1T
D D

D = ( Z 0T )( Z1T + Z1S ) + ( Z 0T )( Z 2 T + Z 2S ) + ( Z1T + Z1S )( Z 2 T + Z 2S )

O cálculo desta corrente fica menos trabalhoso quando se utiliza a corrente de curto trifásica como base,
3Z1
isto é: I CC,2 φT = − × I CC,3φ
Z1 + 2 Z 0

3( Z1T + Z1S ) 3 × j2,6027


I CC,2 φT = − × I CC,3φ = − × 3.062 = −5159
. A
( Z1T + Z1S ) + 2 Z 0T j2,6027 + 2 × j1,0157

A-15
d) Curto Fase-Terra (diagramas de seqüências. pos., neg. e zero)

As observações que foram feitas para o curto bifásico-terra, valem também para este curto.

3E 3E 3 × 7.970
A I CC,φT = = = = − j3843
. A
Z 1S
2 Z1 + Z 0 2( Z1T + Z1S ) + Z 0T 2 × j2,6027 + j1,0157
Z1T

E
Este curto também poderia ter sido calculado tomando-se como base o curto trifásico,
ou seja:
Z 2T Z 2S

3Z1 3( Z1T + Z1S )


I CC,φT = × I CC,3φ = × I CC,3φ
2 Z1 + Z 0 2( Z1T + Z1S ) + Z 0T
Z 0T

Os curtos nos demais pontos (B , C e D) , são calculados de maneira semelhante. Entretanto, é


importante lembrar que na determinação das correntes dos curtos envolvendo a terra, fora da S/E, deve ser
considerada a resistência de terra. (Entra nos circuitos de seqüência zero com o valor 3RT).

A figura abaixo mostra o sistema da Fig. 11, com as correntes curtos SIMÉTRICAS calculadas
nos pontos A, B, C e D:

1111 867
962 757
110 106
R 207 194
B D
52 R S

51 A
3062
Legenda 2652
5159 732
I CC,3 0 634
3843
I CC,2 0 103 C
I CC,2 0 T 144
I CC,0 T

A.12-Exercício proposto

(a) Monte os circuitos de seqüências para os curtos nos pontos B, C e D; (b) Calcule os curtos nestes pontos
e confira com os resultados dados; (c) Determine as correntes ASSIMÉTRICAS nos pontos B e C ; (d)
Dimensione os elos-fusíveis e as respectivas chaves-fusíveis; (e) Recalcule os curtos usando p.u.

A-16

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