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Durante séculos, os Outros e os humanos viveram


lado a lado em uma paz incômoda. Mas quando os humanos
ultrapassam o limite, os Outros terão que decidir quantos
humanos eles estão dispostos a tolerar – tanto entre eles
mesmos, quanto dentro de sua comunidade...
Desde que os Outros se aliaram com as Cassandras
de sangue, as frágeis, mas poderosas profetisas de sangue
que estavam sendo exploradas por sua própria espécie, a
dinâmica delicada entre os humanos e os Outros mudou.
Alguns, como Simon Wolfgard, shifter Lobo e líder do
Courtyard de Lakeside, e a profetisa de sangue Meg
Corbyn, veem a nova amizade e companheirismo como algo
benéfico, tanto pessoal como para os demais.
Mas nem todos estão convencidos. Um grupo de seres
humanos radicais está tentando usurpar a terra através
de uma série de ataques violentos contra os Outros. O que
eles não percebem é que existem forças mais antigas e
mais perigosas do que os shifters e os vampiros que
protegem a terra que pertence aos Outros - e essas forças
estão dispostas a fazer o que for necessário para
proteger o que é deles.
GEOGRAFIA

NAMID - O MUNDO
OS CONTINENTES / AS MASSAS DE TERRA

Afrikah
Australis
Brittania / Wild Brittania
Cel-Romano / Cel-Romano Aliança das Nações
Felidae
Ilhas Fingerbone
Ilhas da Tempestade
Thaisia
Tokhar-Chin
Zelande

Grandes Lagos: Superior, Tala, Honon, Etu e Tahki


Outros Lagos: Feather Lakes / Finger Lakes
Rios: Talulah / Talulah Falls
Cidades ou Vilarejos - Bennett, Resist, Porto Ferryman, Hubb NE
(aka Hubbney), Jerzy, Lakeside, Podunk, Prairie Gold, Shikago,
Sparkletown, Sweetwater, Talulah Falls, Toland, Walnut Grove,
Wheatfield.

DIAS DA SEMANA
Earthday Thaisday
Moonsday Firesday
Sunsday Watersday
Windsday
NOTAS DE TRADUÇÃO

Divisões dos Shifters


Crowgard - Corvos
Owlguard - Corujas
Wolfgard – Lobos
Beargard- Ursos
Foxgard - Raposas
Sharkgard - Tubarões
Eaglegard – Águias
Hawkgard – Falcões
Coyotegard – Coiotes
Panthergard – Panteras
Lynxgard - Linces
Snakegard – Cobras
Orcasgard - Orcas
Este mapa foi criado por um autor, que foi geograficamente
desafiado a colocar apenas o necessário para a história.
Uma Breve História do Mundo
HÁ MUITO TEMPO ATRÁS, Namid deu à luz a todos os tipos de
vida, incluindo os seres conhecidos como os seres humanos. Ela deu aos
seres humanos pedaços férteis de si mesma, além de boa
água. Compreendendo a natureza humana, e a natureza de seu outro
filho, ela também lhes deu o isolamento, suficiente para que tivessem
uma chance de sobreviver e crescer.
E eles sobreviveram.
Eles aprenderam a fazer fogueiras e abrigos. Eles aprenderam a
cultivar e construir cidades. Eles construíram barcos e saíram pelos
mares do Mediterrâneo para pescar. Eles se multiplicaram e se
espalharam pelo mundo, até que foram empurrados para os lugares mais
selvagens. Foi quando eles descobriram que outra descendência de
Namid já havia reivindicado o resto do mundo.
Estes outros descendentes olharam para os seres humanos e não
viram seus iguais. Eles viram um novo tipo de carne.
Guerras foram travadas para reivindicar os lugares selvagens. Às
vezes, os seres humanos ganhavam e espalhavam suas sementes um
pouco mais longe. Mais frequentemente, pedaços de civilização
desapareceram, e os sobreviventes temerosos tentaram não tremer
quando ouviam um uivo no meio da noite, ou um homem vagando muito
longe da segurança das portas robustas e da luz, para ser encontrado na
manhã seguinte sem sangue.
Séculos se passaram, e os humanos construíram navios maiores
e navegaram através do Oceano Atlantik. E quando encontraram terra
virgem, eles construíram um assentamento perto da costa. Em seguida,
eles descobriram que esta terra também foi reivindicada
pelos indigenes, que eram os nativos da terra.
Os Outros.
Os indigenes da terra que governavam o continente chamado
Thaisia ficaram irritados quando os seres humanos cortaram as árvores

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e araram a terra que não era deles. Assim, os Outros comeram os colonos
e aprenderam o gosto desta carne em particular, tal como fizeram muitas
vezes no passado.
A segunda onda de exploradores e colonizadores encontrou o
assentamento abandonado e, mais uma vez, tentaram reivindicar a terra
como sua própria.
Os Outros os comeram também.
A terceira onda de colonos tinha um líder que era mais inteligente
do que seus antecessores. Ele ofereceu aos Outros cobertores quentes e
metros de tecido para roupas e interessantes vasilhas brilhantes, em
troca de serem autorizados a viverem no assentamento, com terra
suficiente para plantar. Os Outros pensaram que esta era uma troca justa
e delimitaram os limites da terra que os seres humanos poderiam
utilizar. Mais presentes foram trocados por caça e pesca e
privilégios. Este arranjo deixou satisfeitos ambos os lados, mesmo
quando um dos lados desse aos seus novos vizinhos um rosnado
intolerante, e o outro lado engolisse o medo, deixando com que seu povo
estivesse a salvo no interior das paredes dos assentamentos antes do
anoitecer.
Anos se passaram e mais colonos chegaram. Muitos morreram,
mas suficientes seres humanos prosperaram. Os assentamentos
cresceram e se tornaram aldeias, que se tornaram grandes comunidades,
e se transformaram em cidades. Pouco a pouco, os seres humanos
atravessaram Thaisia, e se espalharam tanto quanto podiam sobre a terra
que eles foram autorizados a usar.
Séculos se passaram. Os seres humanos eram inteligentes. Assim
com os Outros. Os seres humanos inventaram a eletricidade e o
encanamento. Os Outros controlavam os rios, que poderiam mover os
seus geradores, e os lagos que forneciam água potável. Os seres humanos
inventaram motores a vapor e aquecimento central. Os Outros
controlavam todo o combustível necessário para fazer funcionar os
motores e aquecer os edifícios. Os seres humanos inventaram os
produtos manufaturados. Os Outros controlavam todos os recursos

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naturais, decidindo, assim, o que seria e não seria feito em sua parte do
mundo.
Havia colisões, é claro, e alguns lugares se tornaram memoriais
para os mortos. Esses memoriais, finalmente, deixaram claro para o
governo humano que os indigenes da terra eram quem governavam em
Thaisia, e nada menos do que o fim do mundo iria mudar isso.
E com isso, chegamos neste período atual. Existem pequenas
aldeias humanas dentro de vastas faixas de terra que pertencem aos
Outros. E nas maiores cidades humanas, existem Parques e alguns
lugares chamados de Pátios, que são habitados pelos Outros que têm a
tarefa de manter as regras sobre os moradores da cidade, e fazer cumprir
os acordos que os humanos fizeram com os indigenes da terra.
Ainda há tolerância com dentes afiados de um lado e medo daquilo
que anda na escuridão, do outro. Mas se eles tiverem cuidado, os seres
humanos podem sobreviver.
Às vezes, eles sobrevivem.

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Como humanos, é o nosso direito e nosso destino reivindicar o
mundo para nós mesmos. Devemos mostrar a firmeza necessária para
arrancar esses animais da terra, eles que acumulam água e os bens da
terra, eles que não fazem uso dos recursos como madeira e o óleo, que não
fazem contribuições para a arte ou a ciência, e nem mesmo para melhorar
as condições de vida de alguém. Não podemos deixar que nós, os seres
supremos, que fomos concebidos para crescer e prosperar, permitamos que
os animais nos assustem, ou que devemos acreditar que temos que nos
submeter aos limites que eles definem. A raça humana não tem
fronteiras. Se nos unirmos, seremos invencíveis. Nós seremos os mestres,
e o mundo nos pertencerá primeiro, por último, e para sempre.
- Nicholas Scratch, o palestrante do movimento Humanos,
Primeiros e Últimos.

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É sempre sobre o território. Trata-se de cuidar de sua matilha,


sobre ter comida e água boa. Trata-se de ter o suficiente dessas coisas
para que sua matilha possa sobreviver e que os seus filhotes possam
crescer. Outros ou Humanos, é o que todos nós queremos. E quando um
tipo de animal ultrapassa uma área até o ponto onde muitos tipos de
animais começam a morrer de fome, cabe aos predadores diluir os
rebanhos antes que não haja nada para ninguém. Essa é uma verdade
simples se você estiver falando sobre veados ou humanos.

- Simon Wolfgard, líder do Lakeside Courtyard

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N,
Devemos atacar em breve para alcançar um resultado rápido e
vitorioso. Vamos reunir nossos aliados e começar as diversões que
manterão os olhos focados para longe dos portos de Thaisia. Envie o que
puderes, e como puderes. Um exército faminto não pode lutar contra o
inimigo que enfrentamos. Assim que esses últimos navios estiverem
protegidos em nossos portos, reivindicaremos o que, por direito, pertence
ao povo do Cel-Romano, e aniquilaremos os vermes atualmente dominando
as terras selvagens.
Party
Para: Todos os Discípulos do movimento HPU, Thaisia
Prosseguir com a primeira fase do projeto de recuperação de terras.
-NS

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CAPÍTULO 1
Sunsday, Juin 5

‘A sangue doce mudou as coisas. Você mudou por causa


dela. Estamos intrigados com os seres humanos que se reuniram ao redor
do seu Pátio, por isso vamos dar-lhe algum tempo para decidir quanta
humanidade os indigenes da terra irão manter. ’
-Ancião.

Simon Wolfgard, Líder do Pátio de Lakeside, olhava para o teto de


seu quarto. As palavras de advertência, de ameaça, perseguiam seu sono,
assim como fizeram nas noites passadas.
As palavras não eram a única coisa que afugentava o
sono. Procrastinação era um traço humano, e na semana passada, ele
descobriu que tinha o seu próprio tipo de mordida. Os Lobos não ficavam
nesse empasse: quando a matilha precisava de comida, eles
caçavam. Eles não davam desculpas ou tentavam encontrar alguma
coisa sem importância da qual não precisavam naquele minuto. Eles
apenas seguiam cuidando dos seus, que por sua vez cuidavam deles.
Eu queria que Meg se curasse do corte que ela fez na semana
passada. Eu queria dar-lhe tempo antes de pedir informações sobre essas
decisões. Ela é a Guia, e é ela quem vai encontrar maneiras para que as
outras Cassandra de Sangue sobrevivam. Ela não tomou nenhuma
decisão por si mesma ou por qualquer outra pessoa durante vinte e quatro
anos, e agora deve tomar todas essas decisões importantes, que poderiam
significar vida ou morte... para quem? Para as outras profetisas de
sangue? Para todos os humanos que moravam em Thaisia?

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Grunhindo, como se isso assustasse seus pensamentos e eles se
escondessem, Simon se virou, fechou os olhos e empurrou o rosto no
travesseiro, determinado a dormir um pouco mais. Mas os pensamentos
eram excelentes caçadores devorando seu sono.
Vamos dar-lhe algum tempo para decidir quanta humanidade
os indigenes da terra irão manter.
Durante a semana passada, ele inventou desculpas para si
mesmo e para os demais membros da Associação Empresarial do Pátio,
e eles o deixaram inventar essas desculpas porque nenhum deles - nem
Vlad, Henry ou Tess - queria contar a Meg o que realmente estava em
jogo agora. Mas o tempo, assim como a pele estranha e frágil de Meg, não
era algo que ele podia perder.
Rolando para o outro lado, Simon olhou para a janela. Quando ele
ergueu a cabeça, suas orelhas mudaram para a forma de Lobo, para
captar melhor os sons lá fora.
Pardais. Aqueles primeiros chilreados sonolentos que
anunciavam o amanhecer quando o céu começava sua mudança de preto
para o cinza.
Manhã.
Empurrando o lençol emaranhado, Simon entrou no banheiro
para fazer xixi. Enquanto lavava as mãos, olhou por cima do ombro. Ele
precisava tomar banho? Ele inclinou a cabeça e deu uma cheirada em si
mesmo. Ele cheirava como um Lobo saudável. Então ele tomaria banho
mais tarde quando fosse lidar com mais humanos, além de sua amiga
especial. Além disso, ela também não tomaria banho.
Ele deu um passo para longe da pia, depois parou. Ignorar um
banho era uma coisa, mas de manhã a boca humana produzia aromas
fortes o suficiente para desencorajar o contato mais próximo.
Colocando o creme dental em sua escova, Simon estudou seu
reflexo enquanto escovava os dentes. Seu cabelo escuro estava ficando
desgrenhado - ele precisava fazer algo sobre isso antes que os convidados
do Courtyard chegassem. Sua pele estava bronzeada, um pouco por ter

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trabalhado ao ar livre sem camisa. E os olhos âmbar eram de Lobo. Pele
humana ou forma de Lobo, os olhos não mudavam.
Enxaguou a boca e começou a colocar a escova de volta no
armário acima da pia. Então ele olhou para o seu reflexo e arreganhou os
seus lábios para revelar seus dentes.
Não, os olhos não mudavam quando ele mudava para Lobo, mas...
Deslocando a cabeça para a forma de lobo, ele colocou mais creme
na escova e alongou o outro dente, melhor, o outro conjunto de
dentes. Então ele rosnou porque a boca de um Lobo não foi projetada
para enxaguar e cuspir. Ele acabou se inclinando sobre a pia e jogando
água sobre os dentes e língua para que ninguém pensasse que ele estava
espumando pela boca.
— Da próxima vez, eu vou apenas mastigar um galho como de
costume, — e resmungou quando voltou totalmente à forma humana.
Voltando para o quarto, ele vestiu jeans e uma camiseta. Então
foi para a janela e colocou seu rosto perto da tela. Estava frio o suficiente
lá fora para usar meias e tênis - e uma blusa, já que eles estariam
andando na velocidade de Meg, e não na dele.
Ele terminou de se vestir, pegou suas chaves na cômoda e saiu
pela porta de trás de seu apartamento, que dava para o corredor de trás
que ele compartilhava com a Meg. Ele destrancou a porta da cozinha dela
e a abriu cuidadosamente. Às vezes ela usava a tranca deslizante como
segurança extra, e quebrar a porta por acidente só causaria problemas.
Ele já tinha causado problemas suficientes quando quebrou a
porta de propósito.
Não estava trancada. Bom.
Simon entrou na cozinha de Meg e fechou a porta
silenciosamente. Então ele foi para o quarto dela.
Uma leve brisa entrava pela janela parcialmente aberta,
brincando com as cortinas de verão que a matilha feminina - as amigas
humanas de Meg - a ajudaram a comprar e a pendurar. A luz da manhã
também entrava pela janela, dando-lhe uma boa visão da mulher
enrolada sob as cobertas.

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Ela estava com frio? Se ele tivesse ficado com ela ontem à noite,
ela não sentiria frio.
— Meg? — Ele disse cautelosamente, porque ela poderia chutar
como um alce quando estava com medo, então deu um pequeno
empurrão no ombro dela. — Hora de acordar, Meg.
Ela grunhiu e se enterrou debaixo das cobertas até que apenas o
topo de sua cabeça estava à mostra.
Resposta errada.
Mantendo uma das mãos na frente do corpo para bloquear um
possível chute, Simon colocou a outra mão em seu quadril e a balançou
contra o colchão algumas vezes.
— O que? — Meg lutou para sentar, então ele obrigatoriamente
agarrou seu braço e a puxou.
— Hora de acordar.
— Simon? — Ela virou a cabeça e piscou para a janela. — Ainda
está escuro. — Ela se jogou na cama e tentou puxar as cobertas.
Ele agarrou as cobertas, e o breve jogo de puxão a fez sentar
novamente.
— Não está escuro; só está cedo, — ele disse. — Vamos,
Meg. Vamos dar uma volta.
— Não é de manhã ainda, e o despertador nem tocou.
— Você não precisa de um despertador. Você tem pardais
cantando, e eles dizem que já é de manhã.
Quando ela não respondeu, Simon a puxou e a conduziu para fora
da porta do quarto e pelo corredor até o banheiro.
— Você está acordada o suficiente para fazer xixi e escovar os
dentes?
Ela fechou a porta em seu rosto.
Considerando isso como um sim, Simon voltou para o quarto de
Meg e pegou as roupas que ela precisaria. A maioria das
roupas. Aparentemente, um macho não deveria pegar a roupa de baixo
de uma fêmea de uma gaveta, a menos que estivesse acasalando com

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aquela fêmea. E os homens não deviam ver as roupas de baixo, a menos
que as mulheres quisessem que as roupas de baixo fossem vistas.
Ele não entendia por que todos se preocupavam em pegar roupas
limpas de uma gaveta. As roupas de baixo cheiravam de uma forma
muito mais interessante após a fêmea usá-las.
Provavelmente não era algo que as fêmeas humanas quisessem
saber.
Enquanto ele esperava, ele fez a cama, mais para desanimar Meg
de voltar a deitar porque ele arrumou o quarto. Além disso, passar as
mãos pelos lençóis e respirar o cheiro dela o deixava feliz.
Por que ele pensou que dormir em sua forma humana na noite
passada era uma boa ideia, especialmente quando significava dormir
sozinho? Se ele tivesse mudado para sua forma de Lobo como costumava
fazer, ele poderia ter ficado com Meg, poderia ter se enrolado ao lado dela
em sua cama.
Tudo bem, ele não achava que ficar em sua forma humana a noite
fosse uma boa ideia; era apenas um exercício necessário. Seis Lobos das
matilhas de Addirondak estavam se encaminhando ao Pátio de Lakeside
na próxima semana para interagir com os humanos de uma maneira que
não poderiam fazer em seu próprio território. Três eram adultos, que já
estavam lidando com os humanos que moravam em cidades próximas, e
ao redor das Montanhas Addirondak. Os outros três eram jovens que
haviam completado o primeiro ano de educação centrada para humanos,
e que estavam sendo treinados para vigiar os humanos que moravam em
Thaisia.
Manter a guarda para garantir que os humanos mantivessem os
acordos que seus antepassados fizeram com os indigenes da terra era um
trabalho perigoso. Os Outros podiam se referir aos humanos como carne
inteligente - e eles eram - mas eles também estavam invadindo, como os
predadores que pegavam mais território sempre que podiam. E, apesar
do que o representante do seu governo disse, os humanos não estavam
realmente preocupados com o bem-estar geral de sua espécie. Os
humanos do movimento HPU estavam uivando sobre escassez de

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alimentos em Thaisia, dizendo que os indigenes da terra causaram
isso. Mas foram os humanos do HPU que venderam os excedentes de
alimentos à Aliança das Nações do Cel-Romano para lucro, e depois
mentiram sobre isso. Essas mentiras provocaram uma luta em Lakeside
que resultou na morte do policial Lawrence MacDonald e de Crystal
Crowgard. Ao fazer essas coisas, os humanos chamaram a atenção
de indigenes da terra que normalmente ficavam longe de lugares que os
humanos controlavam, enquanto as suas intenções fossem benevolentes.
Aqueles indigenes da terra que moravam nas entranhas do país
selvagem decidiram que os humanos que moravam em Thaisia
cometeram uma violação e quebra de confiança, e todos os acordos entre
humanos e os Outros poderiam ser rescindidos. Provavelmente seriam
rescindidos. Já havia restrições sobre que tipo de carga poderia ser
transportada pelos navios que viajavam pelos Grandes Lagos. Havia
restrições sobre que tipo de humano poderia viajar de uma cidade
humana para outra. Os governos humanos estavam preocupados com
essas ações contra os humanos em um nível regional, e estavam tentando
se recuperar dessas sanções. Se os navios não pudessem transportar
alimentos e mercadorias de uma região para outra, se os trens não
pudessem transportar alimentos e combustível para as cidades que
precisavam de ambos, o que aconteceria a todos os humanos que
moravam no continente?
Se os humanos que estavam no comando tivessem prestado
qualquer atenção à história de Thaisia, eles saberiam o que aconteceria
aos humanos. Os invasores e predadores bípedes seriam eliminados, e a
terra seria recuperada pelos indigenes da terra, os verdadeiros nativos
dessa terra, os Outros.
Mas isso não seria tão fácil de fazer como havia sido alguns
séculos atrás. Naquela época, havia muito pouco das construções
humanas que prejudicariam a terra se fossem deixadas para
apodrecer. Agora havia refinarias que processavam o petróleo bruto que
era extraído da terra. Agora havia lugares que armazenavam
combustível. Agora havia indústrias que podiam danificar a terra se

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deixadas sem administração. O quanto seria prejudicado se essas coisas
fossem destruídas ou abandonadas?
Simon não tinha respostas, e os indigenes da terra que
observavam do país selvagem, os seres primitivos, selvagens e perigosos
que camuflavam sua verdadeira natureza, indigenes da terra em formas
tão velhas que essas formas não tinham nomes, não estariam
preocupados com as respostas. Mesmo se todo o resto desaparecesse do
mundo para dar espaço ao novo que nasceria da destruição e da
mudança, eles ainda existiriam.
Os shifters indigenes da terra, como os Lobos e Ursos, os Falcões
e os Corvos, se referiam a essas formas como os Anciãos, uma palavra
benevolente, apenas um som para os seres que eram os dentes e as
garras de Namid.
Meg voltou do banheiro, parecendo um pouco mais acordada e
muito menos feliz em vê-lo. Ela ficaria mais infeliz quando descobrisse
por que ele queria dar um passeio.
— Vista-se, Meg. Nós precisamos conversar.
Ela apontou para a porta do quarto.
Ele era o líder do Pátio e ela era uma funcionária que não deveria
ser permitida dar ordens, mesmo as não-verbais. Mas ele estava
aprendendo que, ao lidar com humanos, a ordem da matilha nem sempre
era mantida dentro do covil. O que significava que Meg era a dominante
em seu covil e poderia ignorar que ele era o dominante em qualquer outro
lugar.
Ele saiu do quarto e fechou a porta, então colocou sua orelha
contra a madeira. Gavetas sendo abertas, gavetas sendo
fechadas. Movimento.
— Pare de rondar, Simon.
Ela parecia irritada em vez de sonolenta. Depois de cutucar o
porco-espinho, por assim dizer, ele voltou para a cozinha e verificou os
armários e a geladeira para ter certeza de que havia comida suficiente
para pessoas. Meio quarto de leite; algumas mordidas em um queijo,
talvez mais em termos de mordidas humanas; uma pequena tigela de

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morangos - sua parte da colheita que ela e Henry Beargard colheram
ontem; um meio sanduíche embrulhado da Bite, a cafeteria do Pátio.
Seu armário tinha um frasco de pêssegos em conservas, um pote
de molho de espaguete e uma caixa de espaguete.
— Se você está procurando por sobras de pizza, eu comi na noite
passada, — Meg disse, entrando na cozinha.
Simon fechou o armário. Esta era a quantidade típica de comida
para os humanos armazenarem nos meses mais quentes? Ele não tinha
mais do que isso em sua cozinha, mas ele geralmente perseguia sua
refeição e a comia fresca, então outros alimentos eram apenas
suplementos que ele gostava e eram bons para a forma humana.
— Você queria algo para comer? — Meg perguntou.
— Mais tarde. — Deixando sua cozinha, ele desceu a escada de
trás que conduzia à porta exterior, confiante de que ela o seguiria. Uma
vez fora, ele pegou sua mão, unindo seus dedos com os dela, uma forma
de contato e conexão que começaram uma semana atrás, depois que ela
falou a profecia sobre a Comunidade River Road.
— A grama está molhada — Meg disse. — Não deveríamos andar
na estrada?
Simon sacudiu a cabeça. Esta manhã a estrada, que era bastante
larga para um veículo, e que ligava os Complexos e as garagens em um
círculo dentro do pátio dos apartamentos, lhe parecia humana demais.
Como começar? O que dizer?
Eles passaram pelo jardim ampliado do Complexo Verde, o único
Complexo multi espécies no Pátio. Como uma maneira de ajudar os seres
humanos que estavam trabalhando para o Pátio, os Outros concordaram
em deixá-los participar da colheita, se eles fizessem sua parte do
trabalho. Havia pelo menos um humano verificando o jardim todos os
dias, garantindo que as plantas tinham água suficiente - e as fêmeas em
especial tinham olhos de um falcão quando se tratava de detectar uma
erva daninha.

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Ele viu um pouco de pelo na extremidade do jardim, mas não
indicou o fato para Meg. Alguma coisa tinha chegado para mordiscar as
mudas e acabou por ser o jantar de alguém.
— Você queria conversar, — Meg disse. — É sobre as
sanções? O Lakeside News publicou uma série de artigos sobre as
restrições que os seres humanos têm que obedecer agora.
— Um monte de uivos por problemas que eles provocaram. —
Grunhiu Simon.
— As pessoas estão assustadas. Elas não sabem o que as sanções
significam para suas famílias.
— Confie em humanos para tentar construir uma represa de
castor com alguns galhos. As sanções são bastante simples. Qualquer
humano que pertença ao movimento HPU não terá permissão para viajar
em qualquer tipo de transporte pelo país selvagem. Isso significa sem
estradas nem trens.
— Barco?
Simon sacudiu a cabeça. — Toda a água de Thaisia pertence
aos indigenes da terra. Navios nos lagos e rios viajam em relativa
tolerância. Sempre foi assim. — E os Elementais, conhecidas como as
Cinco Irmãs, já haviam dito que qualquer navio que viajasse pelos
Grandes Lagos sem seu consentimento não chegaria ao porto. Bem, o
navio poderia, mas a tripulação não. Afinal, afundar um navio sujaria o
lago com todo aquele combustível e detritos. Mais provável, o navio seria
colocado à deriva depois que a carga fosse removida, e a tripulação se
tornaria refeições para os indigenes da terra fazendo o trabalho de tomar
conta de um aborrecimento humano causado fora da água.
— E quanto à comida? — Meg perguntou. — Os jornais e os
repórteres de televisão disseram que os alimentos não podem ser
transportados de uma região para outra.
— Ou eles estão mentindo para causar problemas ou estão muito
ocupados gritando para ouvir a verdade. — Quanto aos Outros, o fato dos
humanos não escutarem foi a grande razão pela qual os humanos, como
espécie, acabaram precisando de duras lições: eles se recusavam a

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entender que as limitações eram uma forma de aviso. — Olha, Meg, a
compra e venda de alimentos e mercadorias entre as pessoas Simple Life,
os Intui, e os indigenes da terra não vai mudar, e isso inclui todos os
assentamentos humanos que são controlados por nós. Qualquer
alimento proveniente das fazendas humanas controladas terá que ser
aprovado pelos inspetores Intui e pelos indigenes da terra, antes de serem
autorizados a atravessar de uma região para outra. Estamos fazendo isso
para garantir que os humanos não possam mentir novamente sobre a
escassez de alimentos, enquanto vendem esse alimento para humanos
em outra parte do mundo. — Ele bufou um suspiro. — Mas não é disso
que precisamos falar. Este Pátio, na verdade um seleto grupo dentro
deste Pátio, recebeu uma ordem dos Anciãos, os indigenes da terra que
vigiam o país selvagem. E esse grupo seleto incluiu você, porque foi você
quem mudou as coisas.
— Eu? — As pernas de Meg falharam. — O que eu fiz?
Simon sorriu.
— Você é você.
Meg Corbyn, Liaison do Courtyard de Lakeside, era
uma Cassandra de Sangue, uma profetisa de sangue que tinha visões
quando sua pele era cortada. Ela tropeçou na Howling Boas Leituras
durante uma tempestade de neve, procurando trabalho e fugindo do
homem que a possuía e que a cortava para obter lucros. Ela chegou
vulnerável e inexperiente como um filhote de cachorro, e trabalhou duro
para aprender seu trabalho como Liaison e também trabalhou duro para
aprender a viver. Alguns humanos que trabalhavam para o Pátio se
reuniram em torno dela, ajudando-a, ensinando-a, até protegendo-a. E
isso mudou o relacionamento que os humanos tinham com os Outros.
O sorriso de Simon desapareceu. — Quanta humanidade
os indigenes da terra podem manter? Isso é o que temos de descobrir.
Meg parou de andar. — O que isso significa?
— Essa é a outra coisa que temos que descobrir. — Ele puxou sua
mão para movê-la de novo, mas ela apenas olhou para ele, seus olhos
cinza da mesma cor do céu matutino.

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— Quanta humanidade você vai manter? O que você vai
decidir? Se os indigenes terra em forma humana conseguem manter as
duas formas, como os dedos e os polegares? Porque dedos e polegares
são realmente úteis. Henry é um escultor. Ele não iria querer se desfazer
deles. Nem você.
Simon a estudou. Talvez os cérebros humanos realmente
demorassem mais tempo para acordar do que os cérebros dos indigenes
da terra. Quando ele acordava, ele acordava. Ele bocejava, se esticava e
estava pronto brincar ou caçar, ou até mesmo lidar com o trabalho
humano gerado pela Associação de Negócios e a Howling Boas Leituras,
a livraria que ele dirigia com Vladimir Sanguinati. Mesmo que Meg fosse
uma espécie especial de humana, aparentemente seu cérebro não tinha
um botão para despertar rápido.
Mas ele dormiu com ela na maioria das noites, e ele sabia que ela
geralmente não era assim tão lenta. Então talvez os pardais não tenham
cantado o suficiente esta manhã, então o corpo e o
cérebro necessitavam do despertador elétrico? Ou talvez fosse uma
diferença entre machos e fêmeas humanas? Teria que perguntar a Karl
Kowalski, que era companheiro de Ruthie Stuart, outro dos policiais
designados para trabalhar com o Pátio.
Ele começou a caminhar novamente e puxou Meg para que ela se
movesse sozinha.
— Não é sobre a casca. — Simon bateu no seu peito com os dedos
de uma mão. Então, porque era Meg e eles estavam aprendendo juntos
várias coisas que envolvia os seres humanos, ele contou a ela mais do
que teria contado a outro humano - ele contou a ela os seus próprios
medos. — De certa forma, é sobre a casca. Namid deu forma aos
indigenes da terra para ser seus predadores dominantes, e nós
continuamos a ser dominantes, porque aprendemos com os outros
predadores que andam em nosso mundo. Tomamos suas formas para
nos misturar e vê-los, aprendendo como eles caçam e como vivem. Nós
absorvemos muita coisa da sua natureza apenas vivendo dessa
forma. Não tudo. Nós somos os primeiros e sempre seremos indigenes da

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terra. Mas, porque as formas animais tornaram-se uma parte do que é
passado para os nossos jovens, o jovem Lobo indigene da terra não é o
mesmo que um Urso indigene da terra ou um Falcão ou um Corvo. Essas
formas estão ao redor há um longo tempo, e as formas como o Sharkgard
estão ao redor a ainda mais tempo.
Eles caminharam em silêncio por um minuto.
— Você tem medo de se tornar humano demais? — Meg
perguntou.
— Sim.
— Bem, você não vai, — ela disse ferozmente, apertando seus
dedos. — Você é um Lobo, e mesmo quando você não é um Lobo loiro,
você ainda é um Lobo. Você disse isso. Parecer humano ou administrar
uma livraria não mudará isso.
Simon pensou no que ela estava dizendo além do que ela estava
dizendo.
Meg não queria que ele fosse mais humano. Ela precisava dele
sendo um Lobo. Porque Meg confiava no Lobo de uma maneira que não
confiava em um macho humano.
Ele sentiu uma leveza dentro dele que não estava lá há um
minuto. Trabalhar em um Pátio, especialmente os indigenes da terra que
tinham que gastar muito tempo perto de seres humanos, era um perigo
porque havia sempre o risco de absorver muito da forma humana e não
mais caber em sua própria espécie. Isso o preocupava, e ainda mais
recentemente, já que sua exposição aos humanos se tornou pessoal. Mas
Meg não lhe permitiria ficar humano demais, porque ela precisava que
ele mantivesse a natureza e o coração de um Lobo.
Ele lançou um olhar para ela, seus olhos cinzentos claros e pele
clara com aquelas bochechas cor-de-rosa, e o cabelo escuro, que foi
cortado tão curto que parecia pelo de cachorro. Baixa e magra, mesmo
com o ganho de algum músculo, visível sob a pele frágil.
Quanta humanidade seria demais para Meg?
Simon sacudiu o pensamento. Ele já tinha desafios suficientes no
momento.

24
— Você não tem que ter medo de absorver muita humanidade dos
nossos amigos, — Meg disse calmamente. — Eles são boas pessoas.
— Como você sabe?
— Eu conheço o tipo ruim de pessoa. — Um lembrete
desagradável do lugar onde ela foi criada e treinada para se cortar para
o lucro.
Ele acenou para mostrar que ouviu. — Devemos considerar o que
nós gostaríamos de manter, o que estaríamos dispostos a fazer por nós
mesmos se os seres humanos não estiverem mais por perto.
Ela deu-lhe um olhar penetrante, e sua voz tremeu quando disse,
— Os seres humanos vão desaparecer?
— Talvez. — Ele não disse extinção. Meg era inteligente o
suficiente para ouvir a palavra não dita de qualquer maneira. E ele não
disse que o Courtyard de Lakeside era a razão pela qual os Anciões ainda
não terem tomado essa decisão sobre os seres humanos que vivem no
continente de Thaisia.
— Posso falar com Ruth e Merri Lee e Theral sobre isso?
— Elas são humanas, Meg. Elas vão querer manter tudo.
— Há muito que os humanos precisam que eu não
conheço. Passei vinte e quatro anos vivendo em um Composto sendo
propriedade de alguém, vivendo em uma cela desde que tinha idade o
suficiente para ficar sozinha, e nem lembro como as meninas viviam
antes de terem idade suficiente para começar a treinar. E você sabe o que
o Courtyard precisa, mas certamente não é tudo também.
— Pelos acordos com os seres humanos, um Pátio deve ter o que
os humanos que moram nas cidades têm, por isso, se não tiver no Pátio,
os seres humanos realmente não precisam. — Esse era um tipo de gelo
fino, que na verdade não teria qualquer peso se posta à prova, e ambos
sabiam disso. — Além disso, se você contar à matilha do sexo feminino,
Ruthie e Merri Lee irão contar aos seus companheiros, que são da polícia.
— Que ficam por perto e são úteis, — Meg respondeu.
Ele não podia discutir com isso. Karl Kowalski e Michael Debany
estavam fazendo um esforço para compreender os indigenes da terra e

25
eram homens simpáticos do sexo masculino, mesmo sendo humanos. E
Lawrence MacDonald, outro policial e primo de Theral, tinha morrido
recentemente, quando um grupo de humanos e Outros foram em um
Mercado Tenda em Lakeside para dar ao Crowgard a chance de comprar
alguns brilhinhos e pequenos tesouros. Aquela excursão terminou
quando seu grupo foi atacado por membros do movimento HPU. Quase
todos, exceto Vlad, foram feridos durante a luta, e MacDonald e Crystal
Crowgard morreram.
— Você também deve pedir sugestões a Steve Ferryman, — Meg
disse.
— Meg...
— Esses Anciões não disseram que você não poderia conversar
com os humanos, não é?
Ele suspirou. — Não, não disseram, mas temos que ter cuidado
sobre a quantidade de humanos sabendo sobre isso. Os seres humanos
que pertencem ao HPU são nossos inimigos. Eles estão perto das cidades
em toda Thaisia, e são a razão pela qual os Anciões estão olhando
para todos os seres humanos no continente, em vez de eliminar a
maldade em uma cidade e recuperar a terra.
Claro, ele já havia conversado com três humanos sobre o que
estava em jogo. Ele acreditava que o Capitão Burke e o Tenente
Montgomery podiam ser de confiança, mas ele não sabia se o terceiro
homem que esteve na reunião quando lhes contou sobre as sanções
seria. Greg O'Sullivan trabalhava para o governador da Região Nordeste,
por isso era possível que eles fossem inimigos dos indigenes da terra,
e que estivessem conspirando para fazer o jogo virar.
Se isso acontecesse, não seria a primeira vez que os humanos
desapareciam de uma parte do mundo, e Simon duvidava que fosse a
última.
E considerando que possibilidade era uma avalanche à espera de
acontecer em cima de todos eles, era ainda mais imperativo descobrir
quantos humanos os indigenes da terra deviam manter.

26
— Tudo bem, — ele disse. — Fale com a matilha feminina. Mas
certifique-se que elas saibam que esta é uma informação muito perigosa.
— Eu vou. — Meg parou de repente e sussurrou. — Coelho.
Coelho? A boca de Simon salivou. Não que ele teria uma boa
chance de pegar um em sua forma humana. Ele olhou em volta. Cheirou
o coelho, mas não pôde vê-lo. Então ele percebeu que Meg estava olhando
para um tufo marrom na grama perto deles. Poderia ter sido uma pedra
ou uma raiz exposta de árvore, mas essas coisas não têm ouvidos.
Ele suspirou, desapontado. Apenas um filhote de coelho.
Meg se afastou, puxando-o com ela.
— Não é bonitinho? — Ela sussurrou, voltando para o Complexo
Verde.
— Você não vai pensar que ele é tão bonitinho quando vê-lo
comendo seu brócolis, — disse Simon.
— Ele não faria isso. Faria?
— Brócolis é verde, e ele é um coelho.
Meg bufou quando entendeu. — Bem, ele ainda é bonitinho.
E provavelmente seria permitido a crescer, já que ele não estava
muito a fim de uma refeição neste momento.
Simon não mencionou isso, já que ele suspeitava que Meg preferia
pensar no coelho como algo bonitinho em vez de crocante.

27
CAPÍTULO 2
Sunsday, Juin 5

Meg olhava para os que estavam reunidos na sala de triagem no


escritório do Liaison, Ruth Stuart, Merri Lee e Theral MacDonald, que
também estavam olhando para ela.
— Você já ouviu falar sobre isso. — Os muffins que Meg pegou na
Bite ainda estavam na mesa, intocados.
— Não sobre isso, — disse Ruth. — Mas Karl foi para a casa do
Capitão Burke para uma reunião especial secreta, pelo menos essa é a
opinião que eu tenho do fato de que ele não podia contar. E ele acha que
o Capitão Burke e o Tenente Montgomery foram avisados sobre as
sanções que vieram ao público. E se eles foram informados sobre isso...
— Michael foi chamado para essa reunião também, — disse Merri
Lee. Ela respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Meg, você não pode
ser responsável por algo assim... Tão grande. Como podemos tomar uma
decisão sobre quantos humanos os indigenes da terra poderão manter?
— Eu não acho que somos os únicos que podem tomar uma
decisão, — Meg respondeu. — Estamos fornecendo informações, talvez
priorizando, de modo que se... — Ela apertou as mãos contra a mesa,
tentando ignorar a sensação dolorosa de alfinetes e agulhas que começou
em seus braços e agora estava formigando em todo o seu torso sob a pele.
As três meninas estalaram em atenção.
— Meg? — A voz de Merri Lee voltou afiada com a compreensão.
Meg tentou ignorar a dor, tentou não pensar sobre como a euforia
que vinha da profecia falada depois que ela fazia um corte a deixava se
sentindo tão bem. Ela fez um corte na semana passada e não queria fazer
outro tão cedo. Ela não sabia se era verdade que uma Cassandra de
Sangue tinha apenas mil cortes antes do último que iria matá-la ou deixá-

28
la louca, mas se ela queria viver mais uma década ou mais, ela precisava
prolongar o tempo entre os cortes.
— Conte sobre esta manhã, — disse Merri Lee. — O que você fez
nesta manhã? Meg!
Ruthie e Theral voltaram para a sala da frente do escritório e
fecharam a porta, mas não a de trás.
— Os pardais estavam cantando, de modo que Simon estava
acordado, então ele me acordou porque queria dar um passeio. Cabeça
de cocô.
Merri Lee soltou uma risada. — Meg! Isso não é uma coisa
agradável para dizer.
— Eu não disse isso para ele ouvir. — Ela teria que ter cuidado
para não dizer perto dos filhotes, especialmente o sobrinho de Simon,
Sam. Desde que ela aprendeu a palavra ruim do menino humano Robert
Denby, ela soube que os jovens do sexo masculino de qualquer espécie
achariam o termo um insulto atraente e, sem dúvida, acabaria sendo dito
para um dos Lobos adultos, que não achariam a palavra nada atraente.
Sam não morava mais com Simon nos dias da semana. Mesmo
ela sentindo falta do filhote quando ele ficava no Complexo Wolfgard em
vez de ao seu lado, talvez fosse uma coisa boa que Sam passasse mais
tempo brincando com outros Lobos do que brincando com as crianças
humanas.
— Vimos um filhote de coelho, — Meg continuou. — Ele era tão
bonitinho. Simon disse que ele ia comer os brócolis.
— Possível. — Merri Lee fez uma pausa. — Como você está se
sentindo?
Meg esfregou um braço e, em seguida, o outro. — Melhor. A picada
quase desapareceu.
Ruth e Theral voltaram para a sala de triagem.
— Vocês não têm que fazer isso, — Meg disse. — Simon pediu
minha ajuda.
— É claro que vamos ajudar. — Merri Lee disse. — Parece que
esta é uma pergunta dupla: o quanto do que chamamos de natureza

29
humana os Outros querem assumir para si, que é algo que nenhum de
nós pode responder, e o que os humanos usam e fazem que os Outros
queiram manter, ou seria apenas a necessidade de manter as coisas para
as pessoas que vivem em Thaisia?
— Se estamos falando de produtos, devemos começar com os itens
pessoais e ir além, — Ruthie disse. — Podemos fazer uma lista das coisas
que usamos e as coisas consumíveis que utilizamos. E as coisas que
realmente gostaríamos de manter, como água encanada e as formas de
aquecer a casa no inverno.
— Nós poderíamos consultar a seção de negócios do catálogo
telefônico, — Theral disse. — As empresas não existirão se alguém não
precisar dos produtos ou do serviço.
— Os Simple Life não usam um monte de coisas que outros
humanos usam. — Meg começou a coçar o braço direito, em seguida,
obrigou-se a parar.
— Pode ser uma vantagem nossa descobrir o que eles não usam,
— Merri Lee disse.
— Podemos comparar as listas, e o que estiver em todas, deverá
ir para a lista de 'Realmente precisamos desses itens, ’ — Ruthie disse.
— Como especificar o que precisamos ter? — Perguntou Theral.
Meg fechou os olhos e imaginou um pedaço de papel com a
palavra, então imaginou um pedaço de papel com uma lista de
ferramentas: Martelo, chave de fenda, serra, um alicate.
Ela abriu os olhos, bem certa de que tinha a resposta correta. —
Categorias gerais. Não tenho certeza de quanto tempo Simon tem para
fornecer as informações antes de ser tomada uma decisão, então vamos
começar com categorias gerais. Ferramentas, em vez de ferramentas
específicas. Livros, em vez de autores específicos.
— Hoje estamos trabalhando do outro lado da rua, — Ruthie
disse. — A Senhora Tremaine saiu no Firesday passado, então Eve Denby
quer dar uma boa limpeza nos andares da casa. Ela disse que pode pintar
o apartamento no andar de cima, aproveitando que Karl está dormindo

30
com Michael e eu estou dormindo no chão do apartamento de Merri Lee
aqui.
Meg quase perguntou por que Karl e Ruthie não estavam ficando
com suas famílias, mas lembrou-se a tempo de que ambas as famílias
estavam bravas com eles por serem amantes de Lobo, um insulto dado
aos seres humanos que queriam trabalhar em cooperação com
os indigenes da terra.
— Nós não vamos contar nada a Eve, — Ruthie disse. — Não até
resolvermos o que podemos dizer a ela.
— Você vai ficar bem? — Merri Lee se inclinou de lado para ver
através da porta particular que permitia o acesso ao balcão na sala da
frente. Em seguida, ela sussurrou, — A porta da frente foi aberta, mas
eu não consigo ver-
O Lobo indigene da terra ergueu-se sobre as patas traseiras e
deixou suas patas dianteiras sobre o balcão. — Arrooooo?
— Bom dia, Nathan, — disseram em coro.
O guarda Lobo chegou. Hora de trabalhar.
Envolvendo seus muffins em toalhas de papel, a matilha feminina
saiu pela porta dos fundos do escritório, depois de assegurar que Meg
fosse vê-las esta noite na aula Mente Quieta.
Meg se aproximou do balcão. Nathan era um dos Executores do
Pátio e, como tal, era um dos maiores Lobos da matilha de Lakeside. Ele
também esteve com Simon quando seu grupo foi atacado no Mercado
Tenda, e algumas das feridas mais profundas em seu rosto ainda estavam
se curando.
— Nós apenas nos reunimos para conversar antes do trabalho, —
ela disse.
Nathan olhou para ela.
— Sobre coisas que não são da sua conta.
Ele olhou para ela.
— Coisas de meninas.
Ele se afastou do balcão e correu até a cama lobo, posicionando-
se debaixo de uma das janelas da frente.

31
Meg retirou-se para a sala de triagem para comer seus muffins.
Se usado muitas vezes, o termo poderia perder efeito, mas se você
dissesse a um Lobo macho sobre “coisas de meninas”, ele colocava sua
cabeça na direção oposta. No ponto de vista deles, coisas de meninas
eram como porcos-espinhos, se você se metesse, podia acabar com um
nariz dolorido.
Ela teria um pouco de tempo antes de Nathan tentar novamente
descobrir o que estava acontecendo, então Meg pegou um bloco de papel
pautado e uma caneta de uma das gavetas.
Quanta humanidade os indigenes da terra querem manter?
As listas seriam úteis. Claro que sim. Mas ela se perguntou se
Merri Lee estava certa e a questão realmente tinha mais a ver com a
mente e o coração. Se fosse esse o caso, ela tinha a esperança de que
fazer as listas ajudaria os Anciões a verem a verdadeira resposta para a
pergunta.

****

O Tenente Crispin James Montgomery pagou o taxista, em


seguida, virou para estudar o duplex que pertencia ao Capitão Douglas
Burke. Nada para distingui-lo de seus vizinhos, que mantinham jardins
cuidadosamente aparados, e outros sinais de que as pessoas que
moravam lá eram o que a sua mãe chamava de primorosos - um elogio
segundo Twyla Montgomery.
Ele não foi à casa de seu Capitão nos seis meses em que esteve
morando em Lakeside. O pouco que ele sabia sobre Burke fora do
escritório o fez pensar que o homem não era muito de se divertir, e que
não frequentava locais muito badalados. Esta não era uma reunião
social, não quando estavam reunidos antes de seu turno na Delegacia de
Polícia de Chestnut Street para discutir as coisas que Burke queria
manter fora da estação.

32
Quando chegou à porta da frente e tocou a campainha, um carro
parou na calçada. Os Oficiais Karl Kowalski e Michael Debany, dois
membros de sua equipe, saíram do carro e correram para se juntar a ele
assim que a porta se abriu.
— Tenente, — Kowalski disse, dando a Monty um aceno de cabeça
antes de olhar para o homem que preenchia a porta. — Capitão.
Douglas Burke era um homem grande, uma figura imponente com
os olhos azuis, que geralmente mantinham uma espécie feroz de
simpatia. Suas roupas estavam sempre impecáveis, e o cabelo escuro
cortado rente estava sempre bem aparado. Nunca o viu fora do trabalho,
e Monty não conseguia imaginar o homem sem um terno, por isso foi uma
surpresa vê-lo usando jeans e um pulôver maltrapilho, mais adequado
para cortar a grama ou cavar os canteiros de flores. Na verdade, a falta
do terno e as mangas arregaçadas era o mais casual que Monty já tinha
visto nele.
— Entre, senhores. — Burke deu um passo para o lado,
permitindo-lhes entrar. — Estamos na sala de jantar. Sirvam-se de café
e bolos.
Monty olhou para a sala de estar enquanto seguia Burke. Parecia
bem masculina, confortável e minimalista. Ele não ficaria surpreso se o
mobiliário fosse de alta qualidade, talvez até antiguidades.
Não uma sala que acolhesse crianças.
Não seria tão estranho antes que sua filha de sete anos de idade,
Lizzy, tivesse chegado a Lakeside no mês passado, e agora estava vivendo
com ele. Todos os segredos que Lizzy havia trazido com ela para Toland
foram revelados, e ela estava segura das pessoas que haviam matado sua
mãe. Mas isso ainda podia colocá-lo na posição de ter que descobrir como
ser um pai solteiro e um policial. Por agora, Eve Denby, a nova gerente e
zeladora das propriedades do Pátio de Lakeside, estava disposta a cuidar
de Lizzy junto com seus dois filhos.
Monty entrou na sala de jantar e hesitou quando viu Louis Gresh
e Pete Denby sentados a mesa da sala de jantar, enchendo pequenas

33
bandejas com bolos e morangos frescos. Ele não estava surpreso por eles
terem se tornado parte do círculo confiável de Burke.
A verdadeira surpresa era o outro homem sentado à mesa.
Ouviu a água correndo do lavabo, e, em seguida, outro homem se
juntou a eles. Mais baixo e mais magro e mais jovem do que Burke, o
homem tinha cabelos castanho médio, levemente encaracolado e o olhar
feroz e amigável nos olhos azuis que era semelhante o suficiente para
dizer que era da família.
— Senhores, este é Shamus David Burke, um parente meu que
está visitando a cidade, vindo de Brittania. Ele está na aplicação da lei
por lá, então eu achei que seus insights poderiam ser úteis. Shady, este
é o Tenente Crispin James Montgomery e seus Oficiais, Karl Kowalski e
Michael Debany. Eles lidam com a maior parte da interação com o
Courtyard de Lakeside. O homem inspecionando cuidadosamente os
aperitivos é o Comandante Louis Gresh, que está no comando do
esquadrão antibombas. Os doces são frescos, comandante. Nada com
que se preocupar.
— Isso de você ficar inspecionando o alimento para possíveis
surpresas desagradáveis só prova que você tem filhos, — Louis
respondeu. Ele mordeu um dos aperitivos e mastigou com cuidado.
— O outro homem cutucando sua comida é Pete Denby, um
advogado que recentemente se mudou da Região Centro-Oeste.
— Que também tem filhos, — disse Pete, sorrindo.
— E o único homem alheio à aplicação da lei é o Dr. Dominic
Lorenzo, que está trabalhando atualmente na força-tarefa do governador
para ajudar as Cassandras de sangue nesta parte da Região Nordeste. —
Burke esperou até que eles estivessem todos sentados. Então cruzou as
mãos e apoiou o quadril sobre a mesa da sala de jantar. — O Tenente
Montgomery já sabe o que está em jogo. Antes de discutir qualquer coisa,
todos vocês precisam entender que não podem compartilhar essa
informação com ninguém, por qualquer motivo. Nem amigos, nem
família, e nem os colegas. Se não podem concordar com isso, devem sair
agora por que...

34
— Porque todos em Lakeside estarão em risco, — disse Lorenzo,
parecendo irritado. — A mesma canção, apenas o dia é diferente.
— Na verdade, todos os humanos no continente de Thaisia estarão
em risco, — Burke disse, e a voz suave estava em desacordo com o ardor
brilhante em seus olhos.
Silêncio. Em seguida, combinando o tom ameno de Burke, Shady
disse: — Estamos falando de extinção, Douglas?
Burke assentiu.
Lorenzo engoliu em seco. Pete afastou a bandeja de massa.
Louis soltou um suspiro trêmulo. — Deuses acima e abaixo,
falando em termos de uma bomba. Quais são as chances de perdermos
o controle disso?
— Grande risco, — Burke respondeu. — Talvez menos.
Monty olhou para os seus homens. — Esta não é uma surpresa
para vocês.
— Não muito — disse Kowalski. — Nós temos notícias-
Burke levantou a mão. — Vamos ser claros sobre quem vai ficar
antes de chegarmos a isso. — Ele olhou para Lorenzo.
Lorenzo pensou por um momento, em seguida, empurrou a
cadeira para trás e se levantou. — Eu já estou guardando segredos
suficientes. Você precisa manter o que você sabe dentro de um círculo
apertado, e eu já não estou certo de quando alguém me faz perguntas
sobre o Pátio de Lakeside ou sobre as profetisas de sangue, se estão
perguntando por curiosidade, por necessidade profissional, ou porque
são membros do movimento HPU tentando trazer à tona informações que
possam ser usadas contra os Outros. Quando eu tenho que viajar pela
força-tarefa, eu viajo sozinho. Seria muito fácil ser assaltado
e... Interrogado.
Monty queria que alguém fizesse uma piada, e dizer que Lorenzo
estava construindo um enredo digno de um filme de suspense com a
conversa de interrogatórios. Mas ninguém fez uma piada, principalmente
porque Pete Denby havia sido posto para fora da estrada,
presumivelmente por membros do HPU, quando ele trouxe a família para

35
Lakeside depois de ajudar Burke a descobrir informações sobre um
homem chamado Controlador.
— Entendido. — Burke hesitou. — Peça a Simon Wolfgard uma
passagem livre pelo país selvagem. Eu acho que ele vai saber o que isso
significa. As estradas que você vai encontrar em um mapa são as
estradas que os seres humanos podem usar. Mas há estradas não
marcadas que levam a lugares onde humanos não devem ir. Se você acha
que está sendo seguido, entre em uma dessas estradas sem marcação,
abaixe uma janela e comece a gritar, buzinar, fazer qualquer coisa para
chamar a atenção dos indigenes da terra antes de outros humanos
chegarem até você. Nessas circunstâncias, você terá uma melhor chance
de sobreviver a um encontro com os Outros do que com os seres
humanos.
Lorenzo concordou. — Boa sorte. — Ele começou a caminhar para
fora da sala, depois parou. — Se algum de vocês precisarem de atenção
médica discreta, pode contar comigo para não fazer perguntas.
— Apreciamos isso, — disse Burke.
Eles esperaram até Lorenzo fechar a porta da frente, e esperaram
um pouco mais, ouvindo o carro dele sair da garagem anexa à outra
metade do duplex.
— Mais alguém? — Perguntou Burke. Todos balançaram a
cabeça. — Então vamos começar com o que temos, e trabalhar com o que
podemos lidar. Tenente? Você tem algo a relatar?
Monty se serviu do café que não queria, a fim de dar a si mesmo
um pouco de tempo. — O Courtyard tomou posse do duplex na Crowfield
Avenue. O negócio está feito, o proprietário anterior recebeu o dinheiro,
e os Denbys se mudarão em breve. O mesmo acontecerá com Karl e
Ruthie.
Pete concordou. — Ontem, o proprietário do edifício de pedra ao
lado do duplex aceitou a oferta do Courtyard para o imóvel. Já que a
Associação Empresarial pretende pagar em dinheiro por esse edifício, eu
poderei agilizar a papelada e tomar posse do imóvel até o final do mês. Os

36
apartamentos nesse edifício têm dois quartos, Tenente. Algo para pensar
para morar com Lizzy.
Monty considerou aceitar um dos apartamentos, se Simon
Wolfgard oferecesse. Algumas razões práticas para aceitar e boas razões
para manter uma certa distância dos Outros. Por um lado, não haveria
muita divisão entre trabalho e casa se ele morasse do outro lado da rua
onde o Pátio ficava, e tendo Kowalski e Denby, e provavelmente Debany,
como vizinhos.
Mas eles seriam bons vizinhos, pensou. E a polícia morando tão
perto do Courtyard pode ser um impedimento para futuros problemas. Mas
nenhum de nós está falando sobre onde as crianças irão para a escola no
próximo ano, supondo que elas estarão seguras para irem à uma escola
pública na cidade, ou mesmo uma particular. Afinal, quem mora em um
edifício de propriedade dos Outros poderia ser considerado amante de
lobo, e o preconceito está prejudicando a interação de qualquer um que
suporte trabalhar com os indigenes da terra de alguma forma.
Ele e Lizzy precisavam de um lugar diferente para morar, e ele
teria de pesar os prós e os contras cuidadosamente antes de tomar uma
decisão. Mas isso teria que esperar.
— Próximo? — Perguntou Burke.
— Os primeiros hóspedes do Courtyard estão chegando na
próxima semana, — disse Kowalski. — Alguns Lobos da Montanha
Addirondak. Ninguém mencionou outros tipos de indigenes da
terra. Michael e eu fomos solicitados para aparecer e sermos vistos nas
lojas e ao redor da Praça do Mercado, pelo menos um pouco a cada dia.
— Eles estão vindo para interagir com os humanos — disse Monty.
— Faz sentido Wolfgard querer ter você por perto.
— E uma solicitação específica? — Perguntou Shady. — Eu nunca
vi um Pátio com uma interação tão informal com um dos indigenes da
terra. Eu gostaria de ter essa oportunidade. As relações que tive com
alguns dos Outros quando algumas das Cassandras de
Sangue estavam... Sendo enviadas... Para Brittania, foram experiências
tensas para todos os humanos que estavam ajudando no resgate. Exceto

37
para as pessoas que moravam ao longo da fronteira ou na costa, a maioria
dos cidadãos de Brittania nunca entraram em contato com os
Outros. Considerando o que está acontecendo no mundo agora, eu
gostaria de ter alguma experiência em primeira mão em uma situação
que não seja de vida e morte.
Apanhando o olhar de Burke, Monty disse: — Eu vou pedir a
Simon Wolfgard sobre permitir levar convidados.
— Qualquer preocupação relatada pelos Intui na Ilha Grande ou
informações sobre a Comunidade River Road? — Perguntou Burke.
— Não, senhor, — Monty respondeu. Shady seria a única pessoa
na mesa que não percebeu a omissão de Talulah Falls, uma cidade que
não estava mais sob o controle humano depois que uma bomba matou
vários Corvos, e um Sanguinati foi morto enquanto era feita uma caça
aos seres humanos responsáveis pela explosão.
— Então vamos falar sobre o evento principal já que Shady tocou
no assunto, — Burke disse calmamente.
— Extinção. — Pete parecia sombrio. — Os Outros estão falando
sério sobre isso?
— Por causa dos problemas recentes, os indigenes da terra no país
selvagem estão considerando a extinção como uma maneira de livrar
Thaisia de uma ameaça para a terra deles, e é uma grande ameaça para
os humanos, considerando que eles já estavam aqui antes de nossos
ancestrais porem o pé neste continente.
— Mas nós tentamos ajudar, — Louis protestou. — Monty e sua
equipe arriscaram seus pescoços todos os dias para interagir com os
Outros no Pátio. Deuses, um dos nossos foi morto durante o ataque no
Mercado Tenda. Isso não conta para alguma coisa?
— Conta, — Monty disse. — O tempo que passamos no Pátio, a
ajuda que você forneceu... nós somos a razão pela qual os humanos em
Thaisia não serão apagados deste continente.
— Ainda não de qualquer maneira, — Burke acrescentou. — Um
Pátio e alguns policiais e civis estão equilibrando o que quer que a
estupidez do movimento HPU esteja planejando. E seremos claros sobre

38
quem será apagado, quando o Tenente apontar. Acho que as aldeias Intui
serão poupadas. O mesmo acontecerá com os agricultores Simple Life e
os artesãos. Tanto quanto possível, eles mantêm-se separados dos
humanos que vivem em vilas e cidades controladas por humanos, e têm
sido cuidadosos em suas relações com os indigenes da terra. E eu acho
que os Outros ainda manterão alguns humanos, se nada mais, para
fornecer mão de obra para os produtos que eles quiserem manter.
— Isso deixa o resto de nós — disse Pete.
— Isso deixa o resto de nós, — Burke concordou.
— Você vai me perdoar por dizer isso, mas está tudo tão ferrado,
— Shady disse. Ele derramou o creme em seu copo e, em seguida,
encheu-o com café que estava em um bule térmico. — Você deve começar
a fazer o abastecimento enquanto pode, e começar a pensar em como
sobreviver.
— É definitivo? — Perguntou Burke. — A Aliança das Nações do
Cel-Romano estará indo para a guerra?
— Eles vão. E não entre si, o que, francamente, é o que o povo de
Brittania estava esperando que eles fizessem. Eles foram estocando
comida e armas e suprimentos por um tempo, mas agora, os sinais estão
claros, com as tropas sendo transportados em torno do Mediterran. Eles
não têm terras suficientes para cultivar os alimentos de que necessitam
para alimentar seu povo. Essa é a grande verdade. Portanto, a nossa
grande questão é a seguinte: o Cel-Romano vai tentar pegar a parte
humana de Brittania, já que são as terras humanas mais próximas deles,
ou eles vão tentar anexar algumas terras do país selvagem? Será que com
o tipo de armamento que eles têm agora, eles podem eliminar os shifters
que atualmente habitam essa terra?
— Os shifters não seriam os únicos indigenes da terra morando
naquela terra, — disse Monty.
Shady assentiu. — Eu sei disso. A maioria das pessoas em
Brittania não pode ter relações com eles, mas nós somos ensinados sobre
a história da nossa terra, por isso sabemos por que muito poucos
humanos vão além do muro baixo de pedra que passa ao longo da ilha e

39
separa a terra que moramos da Brittania Selvagem. Assim como sabemos
que as histórias contadas pelos comerciantes que se aventuram para
além desse muro e voltam vivos não são embelezadas.
— Se o Cel-Romano está tentando uma apropriação de terras, por
que causar problemas deste lado do Atlantik? — Perguntou Kowalski. —
O Cel-Romano não pode trazer um exército através do oceano.
— Não, na verdade, — Shady disse. — Mesmo um barco de pesca
é cuidadosamente observado, e navios de tropas não seriam autorizados
a chegarem a essa terra.
— Os alimentos foram contrabandeados para fora de Thaisia —
Burke disse. — E tropas poderiam ser contrabandeadas. Se oferecessem
dinheiro suficiente, os Capitães dos navios poderiam tentar deslizar
alguma coisa daqueles que estão observando.
— Nada disso elimina a ameaça de extinção, — Monty disse.
— Não há nada que possamos fazer sobre isso, Tenente, — Burke
disse gentilmente. — Nós temos apenas que manter as linhas de
comunicação abertas. Nós vamos fornecer assistência onde e quando
pudermos. E espero que possamos continuar a equilibrar qualquer que
seja a loucura que os seres humanos tentem instigar contra os Outros.
— Ele olhou ao redor da mesa. — Algo mais?
Michael Debany mexeu-se na cadeira. — Capitão, você disse que
a informação não deve sair desta sala. Isso quer dizer que não devemos
falar nada para as meninas, mas, — ele olhou para Kowalski —
Elas estavam com a Meg esta manhã, falando sobre o que podem fazer
sobre isso de qualquer maneira.
— Eu não acho que o Senhor Wolfgard disse a Senhorita Corbyn
sobre a decisão dos indigenes da terra — Monty disse. — Mas ele pode
ter compartilhado algo a mais com ela que não compartilhou conosco.
— Precisamos saber, senhores — Burke disse. — Mas, por agora,
vamos excluir as meninas. Na próxima semana, o Courtyard terá
convidados, e as meninas não precisam ficar se perguntando sobre cada
palavra ou gesto, com medo de que isso possa ser a diferença na balança
contra nós.

40
— Então, trabalho casual, — Louis disse.
— Sim. — Burke se afastou da mesa. — Se isso for tudo...
Um encerramento.
Monty pegou carona com Louis para a estação, o que permitiu
Kowalski e Debany conversar entre si enquanto voltavam para o Pátio,
onde Debany passaria algumas horas ajudando Eve Denby e as meninas
antes de voltar para o trabalho.
— Você já falou com o Oficial Debany sobre um novo parceiro? —
Perguntou Louis.
— Ainda não, — Monty respondeu. — Mesmo com o subsídio de
risco que vem com o trabalho nesta equipe, ninguém fez um pedido para
ser o quarto homem.
— Bem, não é apenas lidar com os seres humanos que querem
começar o problema, não é? Qualquer um em sua equipe está previsto
interagir e passar um tempo no Pátio durante as horas de folga. Até os
Oficiais que não hesitariam em ajudar com o trabalho estão pensando
muito sobre isso.
— Sobre ser marcado como amantes de lobo.
— Não é só o homem que fica com essa marca, — Louis disse
calmamente. — E não apenas as pessoas que interagem com os Outros
sempre. Minha esposa e uma vizinha são amigas por anos, e foram fazer
compras no outro dia. Elas cozinham juntas para economizar o gás. Elas
estacionaram na área das lojas para clientes, e foram aos açougues, a
duas quadras de distância. Um deles estava mostrando um sinal de HPU
na janela; a outra loja não apoia o movimento. A amiga de minha esposa
foi à loja com o sinal da HPU, onde você tem que mostrar a sua adesão
HPU, a fim de ser servido. Minha esposa foi para a outra loja, porque nós
não concordamos em ser uma parte do movimento HPU de qualquer
forma.
— O que aconteceu? — Perguntou Monty.
— A amiga não disse nada, mas o carro dela se foi quando minha
esposa terminou suas compras e voltou para onde estava estacionado. A
vizinha amiga saiu sem ela e não tem falado com ela desde então. Deuses!

41
Elas cuidavam das crianças umas das outras quando queriam ter uma
noite fora de vez em quando, elas assistiam filmes juntas, quando os
maridos e as crianças não queriam ir. E agora...
— As linhas estão sendo traçadas.
— Sim. Eu só espero que haja um número suficiente de nós deste
lado quando chegar à hora de manter essa linha.
Monty olhou pela janela e não respondeu.

42
CAPÍTULO 3
Windsday, Juin 6

Pouco antes do amanhecer, eles dirigiram para o sul na estrada


de terra que levava a Prairie Gold, homens silenciosos enchendo os
bancos das três picapes. Eles conheciam bem essa estrada, o que os
deixava em uma mistura de medo e euforia. Finalmente eles seriam uma
parte das dezenas de homens nas cidades em todo o Centro-Oeste e
Noroeste, que como eles, seriam o primeiro golpe que iria libertar os
humanos dos tiranos peludos com presas, que tentava mantê-los longe
de tudo o que esta terra tinha para oferecer.
Quando chegaram ao cruzamento, eles reduziram a velocidade,
movendo-se lentamente até os rebanhos que estavam mais afastados em
ambos os lados da estrada. De um lado estavam trinta cabeças de gado
de uma fazenda controlada pelos humanos. Do outro lado havia trezentos
bisões pastando em terras que pertenciam aos indigenes da terra. Os
bisões foram atraídos pelo sal mineral que foi despejado no rancho alguns
dias atrás. O gado foi afastado do rebanho principal e levado a esta parte
do cercado para o sacrifício necessário nesta perigosa guerra secreta.
Os homens despejaram o sal mineral abertamente - um gesto de
boa vizinhança, foi o que eles disseram aos Lobos indigenes da terra que
trotaram para ver o que eles estavam fazendo na terra que não era
arrendada para os humanos.
Agora esses mesmos homens saíram dos caminhões e verificaram
seus rifles. Logo que as coisas começassem não haveria tempo ou espaço
para erros.

43
— Grupo A comigo, — o líder disse calmamente. — Grupos B e
C... — Ele apontou para outro lado da estrada. — Lembrem-se, não
importa se é uma morte limpa ou apenas uma ferida mortal. Basta
acertá-los o quanto puderem. Meu apito é o sinal.
O grupo A se afastou da estrada e silenciosamente se aproximou
do gado, enquanto os outros homens penetravam a área destinada aos
bisões.
Todos os homens levantaram as armas e esperaram.
Os Lobos matavam esses animais quando precisavam de
comida. Essa era a primeira etapa do projeto de recuperação de áreas
degradadas. Apesar de tudo, menos bisões significava mais terra para o
gado.
Uma isca para os Lobos. Agitar as coisas. E o mais importante,
não ser pego.
O líder assobiou. Os homens abriram fogo e continuaram atirando
até que eles esvaziaram seus rifles. Em seguida, eles voltaram para as
caminhonetes e foram embora, acelerando na estrada de terra para voltar
ao barracão ou para suas casas, antes que alguém pensasse em procurar
por eles ou de onde tinham vindo.
Eles desferiram o primeiro golpe. Agora o segredo era realmente
uma questão de vida ou morte.

****

Thaisia poderia ser o celeiro para o mundo. Há milhares e milhares


de acres de terra indo para o lixo, proporcionando nada em vez de produzir
a comida e as necessidades da raça humana. De uma forma ou outra,
os indigenes da terra devem ser persuadidos a liberar alguns terrenos que
ocupam com tal desrespeito egoísta para as necessidades desesperadas
de outras espécies do mundo. Se os Outros não querem ser incomodados
com tais preocupações, deixem a raça humana fazer o trabalho de fornecer
alimentos para aqueles que dela necessitam. Vamos utilizar algumas

44
destas terras vazias, em vez de nos forçar a assistir nossos filhos
morrerem de fome.
- Nicholas Scratch durante um discurso em um comício HPU em
Toland.

****

Não há terra vazia ou desperdiçada em Thaisia. Cada lugar neste


continente é cheio de moradores que precisam do que a terra já fornece. Até
os desertos têm moradores que vivem sobre o que está disponível nesses
lugares. Mesmo os lugares mais frios e as áreas mais remotas estão cheias
de vida. Quando o Senhor Scratch fala sobre as necessidades de outras
espécies, ele só está falando de uma espécie, a espécie humana, ele e seus
seguidores não cuidam de mais nada, e é por isso que os indigenes da
terra devem se preocupam com todo o resto.
- Elliot Wolfgard, quando solicitado a responder ao discurso de
Nicholas Scratch.

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CAPÍTULO 4
Windsday, Juin 6

Paredes brancas, móveis brancos, roupas brancas.


— Por favor, eu preciso de cores. Eu vejo as cores.
— Você não precisa de cores, cs 821. Você só precisa de um
corte. Você vai se sentir melhor depois que for cortada.
— Por favor.
— A puta é teimosa, obcecada com cores. Recomendamos que os
cortes sejam nos dedos, o tanto quanto possível. Poderíamos muito bem
usar essa pele caso tenhamos que remover os dedos dela para impedi-la
de fazer desenhos que diluam as profecias.
A sensação do corte da navalha na pele. E depois... Cor. Que tom
lindo de vermelho, que parece muito vibrante, pelo menos aos
olhos. Flutuando sobre a euforia que vinha com um corte depois que ela
começava a falar, ela olhou para as paredes brancas, as tiras escuras que
a prendiam à cadeira.
— Você não precisa de cores, cs 821. Você só precisa de um corte.
Paredes brancas, teto branco, móveis brancos, roupas
brancas. Quando ela olhou para a parede, parte dela escureceu, tornando-
se uma forma. Quatro patas. Uma cauda. Uma enorme cabeça com
chifres. Outra mancha escura na parede começou a formar outro animal. E
outro, até que havia um rebanho de formas na parede.
Então ela notou pontos que formavam uma imagem na parede logo
acima do rebanho, em um tom de vermelho diferente de qualquer outro. Os
pontos cresciam e começaram a se espalhar para baixo na parede,
cobrindo o rebanho com lágrimas de sangue.

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Ofegante, e com o coração batendo, Hope saiu da cama e
cambaleou até a janela em seu quarto para aspirar o ar fresco da manhã,
era bem cedo, e ela apertou suas mãos contra o parapeito da janela de
madeira.
Ela não estava mais no Composto. As paredes de seu quarto não
eram brancas. A cabana do Wolfgard em Sweetwater tinha paredes e piso
de madeira. Tudo era simples e de madeira, exceto o vaso sanitário e a
pia no pequeno banheiro anexo deste quarto. Alguns dos desenhos que
ela fez desde que chegou para morar com Jackson e Grace e o resto da
matilha estavam presos às paredes. Alguns até foram emoldurados.
Alguns eram apenas desenhos da matilha, da terra, de tudo o que
morava no território Sweetwater, e que estava dentro dos limites de onde
ela foi autorizada a vagar.
— Meu nome é Hope Wolfsong — ela sussurrou. — Eu não sou cs
821. Nunca mais. Nunca mais.
Mas o sonho. Havia mais, e o mais picou a sua pele como um filme
sufocante. Teria que colocar no papel para mostrar a Jackson e Grace. A
imagem do sonho com os animais já teria desaparecido da memória para
ela para descrever com as palavras.
Ela fechou as persianas sobre a janela, cuidadosamente voltou
para sua cama e sentiu a lâmpada na mesa de cabeceira. Ela ligou a
lâmpada e esperou. Jackson e Grace às vezes dormiam na varanda com
alguns dos outros Lobos. Às vezes, eles dormiam na sala principal da
cabana onde eles poderiam ouvi-la.
Ninguém arranhou a porta ou rosnou. Nenhuma voz masculina,
áspera do sono e cordas vocais que não mudaram totalmente de Lobo
para humano, exigindo saber o que estava errado.
Movendo-se o mais silenciosamente que pôde, ela pegou seu bloco
de desenho e os lápis e pincéis coloridos que Jackson comprou para ela.
Ela começou a virar a página de cima do bloco. Então parou e olhou para
o desenho que fez um pouco antes de ir para a cama na noite passada.
Ela não sabia se isso significava alguma coisa, mas a última coisa que

47
ela adicionou antes de sair do transe que ela as às vezes entrava, foi
quando ela tirou fotos e escreveu — para Meg.
Ela tirou o desenho e colocou o papel sobre a mesa em seu
quarto. Voltando para a cama, ela se sentou com as pernas cruzadas e
colocou o bloco de desenho na frente dela. Mas a colcha de retalhos, que
geralmente a encantava com as suas formas e cores, era uma distração
agora. Empurrando-a para o lado, ela deixou o lençol branco, porque os
Outros não sentiam a necessidade de cores em coisas que não seriam
vistas com a luz apagada. Em seguida, ela se abaixou, pegou seus lápis
e começou a desenhar.
As formas. Sim, ela se lembrava das formas. E o céu. E...
Ela procurou em seus lápis e pincéis. Nada! Como ela poderia não
ter a cor necessária?
Ela levantou, abriu uma gaveta na mesa e tirou a navalha de prata
dobrável que era utilizada exclusivamente quando ela morava no
Complexo do Controlador. Jackson a deixou manter a navalha, porque,
se ela se sentisse obrigada a se cortar, usar a navalha seria mais seguro
do que todas as outras coisas que poderiam ser usadas para cortar a pele
frágil. Jackson e Grace compraram seu papel e lápis, lhe permitiram
desenhar, então ela tinha tentado duramente ser boa e não se cortar,
mas...
— Necessidade, — ela murmurou, e todos os seus pensamentos
se voltaram para o desenho tomando forma no papel. — Preciso da cor
certa.
Quando a cor começou a fluir, ela jogou a navalha de lado,
mergulhou os dedos na cor, e continuou a desenhar.

****
O cheiro de sangue tirou Jackson Wolfgard de um momento de
quase sono, antes de Hope gritar. Lutando para levantar, ele saltou para
a porta do quarto, consciente de que sua companheira, Grace, estava
bem atrás dele. Os Lobos que dormiram na varanda ou no chão ao redor

48
da cabana estavam acordados e uivando um alarme, ou lidando com os
filhotes, afastando-os para longe do perigo em potencial.
Ainda mudando para humano quando ele abriu a porta e entrou
no quarto, Jackson se lembrou vagamente de alguma regra sobre machos
adultos em forma humana que não deviam aparecer sem roupa na frente
de filhotes do sexo feminino ou juvenis, mas ele não estava preocupado
com regras humanas, e não quando Hope estava olhando para o bloco de
desenho no chão, com o sangue de um corte no fundo de seu antebraço
esquerdo pingando sobre o papel e no lençol amontoado sob ela.
— Oh, Hope. — Grace soou com o coração partido.
Jackson não estava de coração partido; ele estava furioso. E
muito assustado. O sangue de uma Cassandra de Sangue era um perigo
para os Outros e os humanos. Depois de ficar com Hope, ele ouviu que
alguns dos indigenes da terra chamavam a criação de Namid de
maravilhosa e terrível.
Até agora, ele não tinha pensado em Hope como algo terrível.
<Jackson?> Várias Lobos chamaram mentalmente, usando a
forma indigene da terra de comunicação.
<Fiquem fora! > Ordenou.
A menina não cheirava como presa. Nenhuma das profetisas de
sangue cheiravam. Mas o sangue de Hope! Ele nunca cheirou nada
assim, e ele ansiava por um gosto desse sangue.
O medo alimentou sua fúria enquanto cobria a distância entre a
porta e a menina se balançando. Pegou a navalha que ela tinha deixado
ao seu lado. Ele estava prestes a colocá-la sobre a mesa quando notou
outro desenho com o nome de Meg Corbyn escrito no canto inferior
direito. Ele afastou a lâmina do desenho, em seguida, virou-se para a
menina.
Grace tirou a camisola de Hope e pressionou o pano contra a
ferida, deixando a garota usando apenas a calcinha.
— Eu precisava da cor, — Hope disse olhando para o chão. — Eu
precisei...

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Jackson bateu no topo da cabeça de Hope, provocando um
rosnado de Grace. Não foi um tapa forte, mas tirou a menina do transe,
de tudo o que ela estava vendo, e o suficiente para se concentrar nele.
— Você tem dentes grandes, — Hope sussurrou.
— Eles são bem grandes e você vai senti-los quando eu mordê-la,
— ele rosnou, inclinando-se mais perto. Ele não tinha certeza se havia
alguma parte dele que não iria passar por humano. Ele não se importava.
<Jackson,> Grace avisou. <Precisamos levá-la ao bodywalker
humano na vila Intui. A ferida ainda está sangrando, e não podemos
lambê-la para ajudar na cura.> Ela hesitou. <E esta é a minha primeira
vez lidando com uma lesão de um humano.>
<Tudo bem. Leve-a para o banheiro e coloque roupas nela, o
suficiente para os humanos não uivarem sobre isso. Vou limpar o máximo
de sangue que eu puder.> Ele esperou até Grace levar Hope para o
banheiro. Então ele foi até a janela e abriu as persianas, aliviado por
respirar ar sem o odor do sangue. Olhos de Lobos enfrentaram seus olhos
pela tela.
<Jackson? O filhote está ferido?>
<Sim. Precisamos da pequena carroça para levá-la até a vila
Intui. Ela não pode andar tão longe.>
Os rostos desapareceram. Este assentamento indigene da terra
não possuía quaisquer cavalos ou burros. Quando os Outros precisavam
de tais criaturas, eles alugavam, junto com os humanos que iriam lidar
com eles. Mas eles tinham uma pequena carroça que poderia ser puxada
por até três indivíduos em forma humana e era usada principalmente
quando os Outros desciam para comprar as mercadorias feitas pelo
homem. Era grande o suficiente para manter Grace e Hope.
Dando um último suspiro profundo, Jackson voltou para o
quarto. Havia sangue no lençol, mas não tanto quanto ele pensou quando
viu Hope pela primeira vez com sangue escorrendo pelo braço. A maior
parte do sangue estava no desenho, embora ele fosse verificar todas as
páginas com cuidado para se certificar de que não havia uma mancha de
sangue no resto do papel.

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Ela estava indo tão bem desde que veio morar com
eles. Ela disse que queria viver. Eles não fizeram tudo o que podiam para
ajudá-la a fazer exatamente isso? Então por que...?
Jackson respirou, enquanto olhava para o desenho. Um monte de
bisões, claramente mortos. Lobos em cima de todas as carcaças. Isso não
fazia sentido. Os Lobos não iriam arrastar suas presas em um monte
assim, e matar um bisão era um trabalho árduo e uma carcaça durava
vários dias de comida para toda a matilha do assentamento indigene da
terra. Então por que Hope desenhou um abate? Nenhum ponto de
referência reconhecível. Será que isso ia acontecer ao redor de
Sweetwater? Em outro lugar?
Meg Corbyn, a Guia, tendia a ver as profecias sobre o Courtyard
de Lakeside. Mas isso nem sempre foi verdade. Parecia que suas
habilidades, e sua sensibilidade, tornaram-se refinadas para Lakeside e
as comunidades vizinhas que eram relacionadas com o seu Pátio, depois
que ela foi viver em Lakeside por algumas semanas. Mas os desenhos e
as visões de Hope eram de toda a terra.
Ele olhou para o desenho sobre a mesa. Será que estas meninas,
essas profetisas de sangue, faziam conexões que ligavam os lugares por
causa de suas próprias conexões com as pessoas? Meg e Hope se
conheciam do Composto onde foram enjauladas, e elas se cortavam de
forma que os seres humanos ricos podiam saber sobre o futuro.
Meg ainda estava lutando com sua própria dependência de corte,
mas ela era a Guia para as demais Cassandras de Sangue, e ela poderia
ter as respostas de que precisava no momento.
Mudando as mãos humanas para patas de Lobo, que tinham
garras úteis, Jackson rasgou o lençol, e pegou da gaveta roupas de cama
limpas. Ele colocou o bloco de desenho em cima da cômoda. Quando o
cheiro de sangue o afligiu a tal ponto de começar a salivar, ele percebeu
que o papel estava mais saturado com sangue do que ele achava.
Mais do que um corte, ele pensou, inquieto enquanto enrolava o
lençol com o sangue. Ela desenhou com seu próprio sangue... Porque ela
precisava dessa cor.

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A porta do banheiro abriu. Grace levou Hope para o quarto, mas
parou quando o viu.
<Jackson?> Disse Grace.
<Precisamos de ajuda,> disse ele. <Mais do que o bodywalker
humano.>
A filhote parecia assustado. Será que ela achava que ele iria levá-
la para fora da matilha por causa disso? Ele poderia. Talvez ele
devesse. Mas as ligações não eram sempre sobre o lugar, e vários dos
desenhos anteriores de Hope deixaram claro que havia uma ligação entre
Sweetwater e Lakeside.
Ele e Simon, amigos desde jovens, estavam nessa ligação.
E olhando para o desenho dos bisões mortos, ele pensou em outro
Lobo ligado a ele e Simon através da amizade.
Com o lençol amontoado no braço, Jackson saiu do quarto e
colocou o lençol no balde de metal meio cheio de água fresca. Então se
vestiu e entregou a Grace o vestido de verão que ela estava usando ontem,
antes deles mudarem para a forma Lobo e irem dormir.
Sim, eles precisavam de mais ajuda do que o bodywalker humano,
se eles queriam manter a filhote viva.

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CAPÍTULO 5
Windsday, Juin 6

Joe Wolfgard estreitou os olhos contra a poeira da estrada e o


sol. Ele era o líder recém-eleito do assentamento indigene da terra
localizado no extremo sul de Old Hills, e de um vilarejo onde os Intui
moravam em Prairie Gold, uma cidade humana ligada ao
assentamento. Assim, ele não tentou rosnar para o Intui que estava
dirigindo a picape. Não era culpa de Tobias que alguns humanos ficaram
irracionais e mataram muitos bisões.
— Você vai precisar colocar guardas na cidade — Joe disse. —
Talvez colocar uma barricada mais a frente na estrada, para estranhos
pararem antes de chegar muito perto de seus companheiros e filhotes. —
E ele iria falar com os Falcões, Águias e os Corvos sobre vigiar e
relatar sobre qualquer humano ou veículo dirigindo para a cidade.
Tobias Walker, o capataz da fazenda de Prairie Gold, apertou as
mãos no volante. — Você acha que estamos em perigo?
— Você não acha?
Tobias não respondeu.
— Só porque os humanos que fizeram isso começaram com
animais de quatro patas, não significa que eles não vão atrás de alvos
que se parecem com eles mesmos.
— Você teria que perguntar a minha mãe sobre isso, — Tobias
disse. — Ela é a única entre nós que é mais sensível a outras pessoas.
Jesse Walker, a mãe de Tobias, era uma vigorosa fêmea, de
cabelos grisalhos e a mais velha do vilarejo, ela era a líder dos Intui em
Prairie Gold. Pelo menos ela parecia ser, já que os demais humanos

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sempre se aconselhavam com ela para obterem respostas às suas
perguntas sobre a Cidade. Ela trabalhava na loja central, e sabia tudo
sobre todos, incluindo os indigenes da terra que começaram a se
aventurar em comprar os artigos feitos pelo homem, em vez de receberem
as caixas de suprimentos duas vezes por mês que eram deixados na
borda da sua loja. Ela tinha a curiosidade de um Corvo, sempre fazendo
perguntas e cutucando na vida das pessoas, mas ela era tão amigável
quando fazia isso, que ninguém parecia se importar, especialmente
quando a pessoa voltava em sua loja, ela tinha em mãos o que a pessoa
queria, e às vezes, sem nem mesmo saber que precisava.
Apesar da diferença de idade entre as duas fêmeas amigáveis, o
interesse genuíno de Jesse nas pessoas, lembrava Joe de Meg Corbyn.
Na verdade, ele foi escolhido para ser o novo líder de Prairie Gold porque
conheceu Meg durante sua visita ao Pátio de Lakeside e tinha visto como
os humanos e Outros poderiam trabalhar juntos. Desde sua chegada
algumas semanas atrás, ele fez um esforço para visitar a loja central uma
ou duas vezes por semana, apenas para interagir com Jesse Walker,
enquanto outros indigenes da terra que poderiam manter a forma
humana ficavam para trás e observavam. Este foi um primeiro passo para
aprender mais sobre os Intui que receberam permissão para construir
uma comunidade dentro das terras dos indigenes da terra três gerações
humanas atrás. Junto com os negócios na cidade, os Intui administravam
uma fazenda de produção agrícola, e um rancho com os cavalos que
precisavam, bem como o gado para carne.
— Parece que não somos os únicos que receberam esta notícia, —
disse Tobias.
Alguns Corvos, Gaviões e Águias viram os cadáveres de manhã
cedo e soaram o alarme, e Joe, por sua vez, tinha ido ao rancho Prairie
Gold para buscar Tobias e seus homens, bem como os equipamentos
necessários para lidar com a carne disponível. Mas os homens que
trabalhavam na fazenda de propriedade dos humanos, ao lado da terra
dos indigenes da terra devem ter sido avisados também, porque Joe viu
três caminhões e uma dúzia de homens perto do gado morto.

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— Pare aqui, — Joe disse. — Nós não queremos ter que amordaçar
os focinhos com eles.
Tobias parou e estacionou a picape. Joe saiu e baixou a porta do
bagageiro para os três Lobos que estavam na parte de trás. Eles pularam
para fora e imediatamente começaram a verificar a área para pegar algum
perfume. Assim como os chacais que estavam na parte de trás da
segunda picape. O terceiro veículo era o caminhão da cidade, porque
tinha um guincho e podia transportar as pesadas carcaças de cargas
semelhantes. E o último caminhão tinha um trailer com dois cavalos
atrelados a ele, pois os cavalos os ajudariam a arrastar uma parte da
carne para o caminhão.
— Droga, — Tobias disse enquanto ele e Joe estudavam os bisões
mortos. — Tem que ser uma centena deles. Essa carne teria alimentado
uma cidade por um ano ou mais.
— Mais, — Wyatt Beargard disse, se juntando a eles. — Mesmo
para alguém com uma alimentação como a minha.
O Urso também era um recém-chegado à cena. Seu aroma era
forte o suficiente para dissuadir o gado da propriedade humana de “se
perder” na terra dos Outros, e sua presença era agora um aviso para os
fazendeiros humanos, de que nenhum gado que “escapasse” por uma
ruptura na cerca e fosse encontrado pastando em terras não alugadas
para os seres humanos seria considerado comestível.
Claro, o Urso não era o maior predador na área que ocupava essa
região. Apesar do pequeno número de fazendas controladas por humanos
na área, e a cidade humana controlada por Bennett, que era uma estação
de passagem para os trens trazendo suprimentos, este era o país
selvagem, e shifters como Joe eram as ligações entre qualquer humano e
os Anciãos primitivos, cujo tamanho e apetite ajudava a manter o número
de animais que pastavam nas pastagens. Eles também eram os guardiões
da água que fluíam pelas colinas e forneciam uma fonte constante para
os residentes e as plantações de Prairie Gold.
Claro, os fazendeiros humanos tinham um pouco de água em
suas terras, mas a água que abastecia Prairie Gold fluia com facilidade,

55
e muitos fazendeiros invejavam esse fato. E quando o movimento HPU
tornou-se mais estridente sobre o que os seres humanos têm o direito de
reivindicar, os fazendeiros não estavam mais se preocupando em
esconder essa inveja, e isso foi uma observação que Jesse compartilhou
ontem, quando Joe foi para a loja dela.
Soltando o ar, Joe olhou para os Lobos que ainda estavam
farejando as carcaças de bisão mais próximas da estrada. <Qualquer
coisa?>
<A maioria dos aromas são antigos e novos, e combinam com os
aromas dos humanos do outro lado da estrada,> eles disseram. <Três
aromas não reconhecidos. Talvez da cidade, talvez estranhos.>
Poderia três caçadores fazer tanta matança? E por que os bisões
não correram após os primeiros tiros?
Os humanos não têm permissão para caçar na nossa terra sem
permissão, por isso, o bisão não os reconheceu como um predador e não
seriam alarmados por um animal de duas pernas segurando uma vara,
pelo menos não até que alguns dos bisões começassem a morrer.
Joe olhou para o sal que o fazendeiro vizinho deixou para os
bisões, supostamente como um gesto amigável. Alguém poderia ter
colocado uma droga no sal para deixar os animais passivos? Ele sabia
que as drogas Nocaute de Lobo e Alto Astral não causaram nenhum
problema nesta parte da Região Centro-Oeste, mas isso não significa que
as drogas não poderiam chegar até aqui. Só porque o Controlador, o
homem que fez as drogas, estava morto, não significa que a oferta secou
completamente. Mas, quantos humanos, além de alguns policiais,
conheciam a droga que era feita a partir do sangue de uma Cassandra de
Sangue? Algumas dessas meninas ainda estavam sendo cuidadas por
humanos. Algumas ainda estavam vivendo nos Compostos, mais do que
dispostas a negociar um corte em sua pele para ter alguém cuidando
delas. Assim, o perigo das duas drogas ainda não passou, mas foi coberto
apenas com um pouco de sujeira.
<Você cheira algo de errado com a carne?> Joe
perguntou. <Doença? Ou as drogas ruins que te falei?>

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Lobos e chacais fizeram uma pausa, em seguida, começaram a
farejar novamente. <Cheira à carne boa.>
Um Lobo rasgou um bisão menor. Depois de dar um par de
bocados, ele esperou. Todos esperavam.
<Apenas carne,> O Lobo relatou. <Eu não me sinto fraco ou com
raiva; apenas com fome.>
— Podemos manter segura essa carne em seus freezers? — Joe
perguntou a Tobias, acenando com a mão as carcaças.
— Algumas, mas não o suficiente, — Tobias disse. — Floyd Tanner
saberia, já que ele é açougueiro da cidade e tem o freezer. A casa da
fazenda pode manter suprimentos para um mês, para todos os que
moram lá, mas eu não sei se nós já pegamos a oferta de carne deste mês
ainda.
— Temos um freezer, onde armazenamos um pouco de carne. Isso
pode segurar um dos bisões menores se cortarmos a carcaça. E Floyd
Tanner pode cortar outra carcaça e distribuir a carne para todas as
famílias na cidade. — E talvez pudesse enviar uma parte da carne para
Simon, e trocá-la por coisas que Simon poderia adquirir com mais
facilidade no Lakeside do que ele poderia aqui.
Tobias parecia sombrio. — Um terço dos bisões do rebanho de
Prairie Gold foi abatido. Mesmo depois de guardar a carne que pudermos,
a maior parte vai apodrecer onde os animais caíram.
Joe pegou um perfume selvagem, e perigoso no ar. Assim como os
demais Lobos e Chacais.
Não haverá tanta carne deixada para apodrecer como você
pensa. Os Anciões estão se reunindo para uma festa. Joe olhou para
Wyatt, assim como o resto dos shifters, o Urso estava olhando para a
terra além dos bisões mortos.
— Vamos fazer uso do que pudermos e sair daqui, — Wyatt disse
com um ronco silencioso.
Joe assentiu. Havia uma abundância de Corvos, Falcões e Águias
circulando em cima, esperando para descer e pegar sua parte da

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festa. Eles iriam manter um olho sobre os humanos que estavam do outro
lado da estrada.
— Vamos pegar os bisões mais jovens e cortar pela metade, — ele
disse. — Será mais fácil para transportarmos, considerando que estamos
tentando aproveitar tanta carne quanto pudermos. — Então ele olhou
para Tobias. — Diga para Truman atrelar os cavalos.
Tobias olhou por cima do ombro, em seguida, afastou-se da
estrada e disse baixinho: — O homem que está um pouco além da
estrada? Ele é Daniel Black. Ele é o dono da fazenda. Se ele nos oferecer
a carne dos bovinos, não vou não aceitar.
Joe inclinou a cabeça. — Você teve uma sensação? — Os Intui
reagiam às coisas ao seu redor, sejam as intempéries, os animais, e os
seres humanos, e quando um deles estava inquieto sobre algo, era melhor
prestar atenção.
— Não sobre a carne, mas sobre nós levarmos algo deles.
Tobias foi embora, na mesma hora em que Daniel Black
atravessou a estrada.
— Negócio ruim, — Black disse. — Você tem alguma ideia sobre
quem fez isso?
— Humanos com armas, — Joe respondeu, apesar do que deveria
ter sido óbvio, já que nada com dentes e garras havia matado os bisões,
ou ia querer desperdiçar tanta comida.
Uma alteração no aroma do humano. A falta de algo que havia um
momento antes. Medo. A falta de medo agora. O que significava que o
fazendeiro estava feliz que os indigenes da terra não sabiam quem atirou
nos bisões.
— Olha, nós dois temos o mesmo problema, muita carne que vai
apodrecer. Não há nenhum lucro nisso. — Black tirou o chapéu, coçou a
cabeça, em seguida recolocou o chapéu. — Você quer algum desses
animais?
Algo de errado com os olhos do homem. As palavras soaram
suficientemente amigáveis, mas os olhos eram duros e

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vigilantes. Lembraram a Joe de uma cascavel, exceto que uma cascavel
teria a cortesia de avisar suas intenções antes de tentar mordê-lo.
— Obrigado pela oferta, mas nós temos uma abundância de carne.
— Ele apontou para os bisões. — Eu li no jornal que alguns lugares
humanos não têm comida suficiente. Talvez você pudesse enviar a carne
para eles?
Uma dureza afiada apareceu nos olhos de Black. — Eles não têm
grãos ou farinha. Eles precisam de pão, não de carne.
— Quando você está com fome, comida é comida. —
Aparentemente, isso não era tão verdadeiro para os seres humanos como
para os Outros, já que sua resposta deixou Black irritado, mesmo quando
o homem tentava esconder o desejo de morder.
— Como quiser. — Black voltou para os seus homens. Depois de
algumas palavras rosnadas, ele entrou em um dos caminhões. Assim
como o resto dos homens.
Eles foram embora, deixando o gado onde eles tinham caído.
Tobias voltou. — Nós encontramos alguns bezerros mortos.
— Peguem, é carne saborosa, — Joe respondeu, observando os
homens no carro.
— Sr. Wolfgard?
Joe virou para o capataz, que de repente cheirava estranho. —
Você pode me chamar de Joe.
Tobias assentiu. — Por que Wyatt...? — Ele apontou
discretamente.
Joe seguiu o dedo para onde o Urso, que tinha mudado suas mãos
para acomodar as garras úteis, estava se movendo entre as carcaças,
rasgando as barrigas de uns poucos bisões. — Essa é a segunda razão
pela qual os outros animais esperam sua quota de bisões. Lobos e Ursos
podem abrir o corpo e chegar à carne. Torna mais fácil para os demais
pegar um pouco para si e para os jovens.
Encheram o piso do caminhão com o tanto que o veículo poderia
transportar, em seguida, enviaram o veículo de volta para Prairie Gold,
onde seria descarregado a fim de voltar o mais rápido possível.

59
Os Lobos e os Chacais vagavam entre os bisões abatidos,
procurando a carne mais jovem. Algumas carcaças foram amarradas nos
cavalos para levá-los para a estrada. As carcaças menores foram
transportadas por homens puxando juntos, ou Wyatt puxando sozinho.
Então enquanto esperava o caminhão retornar e os homens foram
tratar os cavalos, Truman Skye, um dos peões, empalideceu e sussurrou,
— Deuses acima e abaixo, o que é isso?
Um bisão meio crescido parecia flutuar acima da grama, os cascos
raspavam no chão enquanto se movia para longe deles. O ar brilhou
enquanto o calor subia, mas o brilho também tinha a forma vaga de algo
muito grande.
— Você não viu isso, — Joe disse, e sua voz carregava um perigoso
silencioso.
Tobias engoliu em seco. — O que poderia levantar várias centenas
de quilos como se fosse nada mais do que uma corça?
Joe olhou para os Lobos e os Chacais. Metade deles estava
prestando atenção aos Intui. O resto estava mantendo um olhar
cuidadoso sobre o que estava deslizando entre as carcaças, selecionando
uma refeição.
Agarrando os braços de Truman e Tobias, ele os levou em direção
à estrada e rosnou: — Se você quer que as pessoas em sua cidade
permaneçam seguras, vocês não viram nada.
Tobias deu uma breve encarada nos olhos de Joe, mas não
completamente, não era um desafio para a dominância. — Criamos gado
na fazenda; nós acampamos longe do rancho quando precisamos. Muitas
vezes, um de nós perambula sozinho. Se o Intui e os indigenes da
terra vão trabalhar juntos agora, devemos ser autorizados a conhecer
algumas das coisas que você sabe. Como o que está lá fora.
O homem tinha um bom argumento. Uma das razões pelas quais
os Intui e Outros começaram esses acordos gerações atrás era porque
reconheciam um inimigo comum: o outro tipo de humano.
— Aqueles que estão lá fora, já estavam aqui muito antes de seu
povo pedir para se estabelecer ao redor destas colinas, — disse Joe. —

60
Este é o país selvagem com pequenos bolsões de terra que têm
sido... Alterados... Pela presença humana. Os que descem das
montanhas para caçar os bisões... Aquele tipo de indigene da terra já está
há muito tempo por aqui.
— Mas o que são eles? — Tobias perguntou em voz baixa.
— Eles são os dentes e as garras de Namid. — Joe bateu no peito.
— Os indigenes da terra como eu os chamamos de Anciões. Eles
raramente mudam para sua forma verdadeira, e quando o fazem... — Ele
deu de ombros, desconfortável em dizer mais.
— Então agora eles estão conscientes de nós.
— Eles sempre estiveram conscientes de vocês. Hoje eles
permitiram um vislumbre de um de seus guardas, — e juízes — dos
humanos quando passam muito além de suas vilas e cidades. De certa
forma, essas colinas são a cidade dos Anciãos nesta parte de Thaisia. O
nosso assentamento está localizado próximo de sua cidade, a fim de atuar
como um amortecedor entre eles e vocês. Eles permitem que vocês
tenham algum acesso, através de nós, à madeira, à água e à presa que
também vive nas colinas.
— Então vocês apenas fingem que eles não estão lá fora, — disse
Tobias.
Joe balançou a cabeça. — Minha forma indigene da terra é
pequena em comparação a eles. Mesmo uma grande matilha de Lobos
não poderia sobreviver a um ataque de apenas um Ancião. Você é um
pequeno predador em relação a nós, portanto, ser respeitoso é sua melhor
chance de sobreviver a um encontro com um deles.
Wyatt se juntou a eles, lambendo cuidadosamente o sangue de
suas garras.
<Isso os perturba, eu estar falando isso estando na forma
humana,> Joe disse, olhando para Tobias e Truman.
O Urso deu um longo olhar em Joe, então abaixou sua pata meio
transformada. — O caminhão está voltando. Assim que carregar o que
pudermos levar, vamos ter carne suficiente.

61
— Vamos querer a carne de mais um bisão para o comércio, —
Joe disse.
Wyatt rosnou, fazendo Tobias e Truman recuar. — Com os seres
humanos? Eles vão deixar carne boa estragar com o calor; eles não vão
querer algumas das nossas.
— Não com os seres humanos. Eu quero saber se poderíamos
enviar alguma desta carne para o Courtyard de Lakeside.
Wyatt finalmente concordou. — Vamos voltar para mais um
carregamento.
Depois de terem arrastado mais alguns bisões, perto o suficiente
para que os homens fossem capazes de guinchá-los no caminhão, os
cavalos ajudaram a puxar os demais, e voltaram para o rancho. O
caminhão lentamente partiu com sua carga. Os Lobos e os chacais,
depois de terem comido o suficiente, saltaram nas caçambas, felizes por
poderem tirar um cochilo no caminho de volta para o assentamento dos
indigenes da terra.
Tobias entrou no caminhão, em seguida, olhou para Joe. — Você
quer que eu o deixe perto de sua casa?
Joe balançou a cabeça. — Eu preciso falar com Jesse Walker e
usar o telefone. — Ele esperou Tobias colocar o caminhão em marcha. —
Algo mais?
— Os Anciões. Eles querem nos fazer mal, Joe? Eu acho que os
humanos têm feito muito para irritá-los ultimamente, então eu tenho que
perguntar.
Ele considerou cuidadosamente suas palavras. — Se você honrar
os acordos que fez com os indigenes da terra, não há razão para os
Anciões fazerem mais do que apenas observá-los lidar com suas próprias
vidas. Mas, Tobias? Se eles quisessem fazer para você e a sua
comunidade qualquer dano, vocês nem sobreviveriam tempo suficiente
para fazer essa pergunta.
Tobias entrou na estradinha de terra e voltou para Prairie Gold.

62
****

Seus passos tocavam a terra em um silêncio terrível. Eles se


moviam entre as carcaças, respirando os aromas misturados de Lobos,
Coiotes, Cavalos e os animais de duas pernas chamados humanos.
Eles se moveram pela estrada, onde os aromas não se
misturaram. Um cheiro diferente aqui, uma acidez no ar que e o
desagradou, lembrando-lhes dos animais humanos que entraram em
suas colinas sem seu consentimento. Esses animais tinham escapado,
como se isso fosse mantê-los escondidos dos indigenes da terra, depois
que voltaram de um dos riachos para recolher alguns dos seixos
amarelos. Querendo saber se o Lobo novo tinha dado permissão, eles
permitiram que os animais tirassem as pedras e saíssem. Mas o Lobo
novo não tinha dado permissão, de modo que na próxima vez que os
animais voltassem para pegar os seixos amarelos, eles se tornariam
carne, e as pedras seriam devolvidas ao riacho, onde até mesmo o
menor indigene da terra iria encontrá-las.
Os seres humanos ainda eram novos nesta parte de Thaisia, ainda
algo para se observar. O Lobo novo também era algo para observar, e algo
interessante, algo que estava ligado ao Lobo que morava perto de Etu. O
Lobo estava sendo observado por muitos, enquanto os Anciões no Leste
consideravam se os pequenos predadores chamados humanos eram
necessários para o mundo.
Eles rasgaram os corpos na pradaria e comeram suas
entranhas. Em seguida, eles arrancaram grandes pedaços de carne e
voltaram para as colinas para alimentarem seus filhotes, para descansar
e para manter a guarda.

63
CAPÍTULO 6
Windsday, Juin 6

Vlad se encostou à porta do escritório no andar de cima do HBL.


— Você poderia parar de acordar Meg tão cedo? Alguns de nós
gostaríamos de dormir um pouco mais.
Simon mostrou os dentes. — Eu não a acordei esta
manhã. Ela me acordou. — Ele ligou o computador. Todos os que
moravam no Complexo Verde acordaram mais cedo, e todos foram
rápidos em culpá-lo.
Não era culpa dele. Em um momento ele estava feliz em seu
sono; no próximo minuto, Meg gritou e se jogou em cima dele,
assustando-o o suficiente para que ele uivasse. Alto. E considerando que
as janelas estavam abertas, e considerando que todos os indigenes da
terra tinham excelente audição, o grito trouxe todos os moradores do
Complexo Verde correndo para descobrir o que estava errado.
Vlad se aproximou da mesa. — Ela só teve um sonho? Você tem
certeza de que ela não foi cortada, mesmo por acidente?
— Sem cortes. Sem pele rompida.
— Você tem certeza?
Simon assentiu. Antes de Henry Beargard bater na porta da casa
de Meg e Vlad, em forma de fumaça do Sanguinati, fluir através da janela
do quarto, Simon tinha plantado uma pata nas costas de Meg e lhe dado
uma fungada rápida, mas completa, para se certificar de que não havia
qualquer vestígio de sangue.
Não que ele fosse mencionar isso a alguém.
— E você não está começando o trabalho muito mais cedo, —
Simon rosnou. — E foi você quem disse que é necessário fazer aqueles
pedidos de livros hoje, para garantir que a loja esteja totalmente

64
abastecida quando os Lobos do Addirondak chegarem na próxima
semana.
— Bem. Vou começar com esses pedidos, e você pode...
O telefone tocou. Simon pegou o aparelho no segundo toque. —
Howling Boas Leituras.
— Simon? É Jackson. Precisamos conversar com Meg.
Simon olhou para Vlad. <Chame a Meg. Agora.>
Vlad abriu a janela traseira do escritório, mudou para a forma
fumaça, e fluiu para baixo do lado do edifício, pois era a maneira mais
rápida para chegar à parte de trás do gabinete do Liaison.
— Vlad foi buscá-la, — Simon disse. — A matilha está bem? Você
está bem?
— Sim. Olha, nós colocamos o telefone no viva-voz. Grace e Hope
estão comigo. — Quando Jackson terminou a frase com um grunhido
dizendo que precisava falar com Meg, foi fácil descobrir quem causou
problemas para a matilha de Sweetwater.
Passos na escada. Então Meg correu para o escritório.
— Simon? — Ela parecia um pouco sem fôlego. Ele ia ter que
persegui-la mais vezes para aumentar a resistência de seus pulmões. —
Vlad disse-
Simon acenou em direção à mesa. Quando ela hesitou, Vlad
gentilmente agarrou seus ombros e a conduziu para frente.
— Jackson? — Disse Simon. — Eu vou colocá-lo no viva-voz
também, agora que Meg está aqui.
— Meg? — Uma voz tímida e feminina.
Meg se sentou na cadeira, de modo que Simon inclinou um
quadril na mesa enquanto Vlad ficava de lado.
— Sim, é a Meg falando.
— Diga a ela porque ela foi um filhote mau!
Ouvindo a angústia sob a ira de Jackson, os caninos de Simon se
alongaram em simpatia. Ele cutucou o ombro de Meg. — Sim, Meg. Diga
a ela porque ela foi um filhote mau.
Vlad deu-lhe um olhar penetrante.

65
— Eu só precisava da cor! — Um gemido.
— Eu me lembro de você, — Meg disse, fingindo que não tinha
ouvido o comentário. — Você era chamada de cs821.
— Sim.
— Você escolheu um nome para si mesma?
— Hope. — Uma fungada. — Hope Wolfsong.
— É um nome maravilhoso.
<Depois de rosnar sobre isso hoje, gostaria de saber se esse será
o seu nome amanhã,> Vlad disse, parecendo se divertir.
Mas não era realmente divertido, Simon decidiu depois de estudar
o Sanguinati. Não havia nada divertido em uma Cassandra de Sangue
usar uma navalha.
— Você gostava de cores, gostava de desenhar, — Meg continuou.
— Sim. Eu estou autorizada a desenhar agora. Ou estava...
Pobre filhote, Simon pensou. Ela parecia assustada. Mas ele ainda
ficaria ao lado de Jackson, porque o Lobo provavelmente estava com
medo também.
— Você fez um desenho, — Meg solicitou.
— Sim.
— E então você se cortou, usando a navalha?
— Sim. Não! Eu não estava tentando me cortar, eu só precisava
do tom certo de vermelho.
Simon cutucou o ombro de Meg novamente. — Diga a ela sobre
as regras. — Ele ergueu a voz, mesmo que Jackson pudesse ouvi-lo muito
bem. — Existem regras.
Meg olhou para ele e mostrou os dentes.
Vlad abafou uma risada.
Meg se inclinou para o telefone. — Hope? Esta é a primeira vez
que você se cortou desde que deixou o Composto?
— Não exatamente.
— A primeira vez com a navalha?
— Sim.
— Bem, Simon está certo; existem regras.

66
— Eu te disse, — ele disse calmamente.
Meg bufou. — Hope, mais cedo ou mais tarde, o corte vai te
matar. Você sabe disso, não sabe?
Hope sussurrou: — Sim.
— O corte é sobre a revelação de uma profecia, e a euforia que
sentimos quando nos cortamos é a maneira de proteger nossas mentes
do que vemos. A única forma de nos lembrarmos das visões é quando
engolimos a profecia, quando não falamos, e se não descrevermos o que
vemos, não vamos lembrar.
— Eu posso ver os meus desenhos, — Hope disse.
Meg assentiu, embora Hope não pudesse vê-la. — É diferente para
você. Mas seus desenhos não significam que você não tenha que se cortar
para liberar as visões de uma profecia.
— Eu fiz um desenho para você.
Meg se inclinou para trás. — Sobre mim?
— Sim.
— Há uma loja na aldeia Intui de Sweetwater, — Jackson
interrompeu. — Eles têm uma câmera, vamos tirar as fotos para serem
enviadas por e-mail. Nós vamos tirar uma foto do desenho feito para Meg
e enviá-la para você, Simon.
— Isso é bom.
— Vou criar uma conta de e-mail para Meg, adicionando as que
temos na Howling Boas Leituras, — Vald disse. — Ela poderá receber os
e-mails em um dia ou dois.
<Ela pode compartilhar o meu e-mail,> Simon disse.
Vlad sorriu. <Ela vai ser mais honesta se achar que suas
mensagens são privadas.>
Simon considerou. Por um tempo, de qualquer maneira, Meg
saberia apenas o que Vlad lhe ensinasse sobre o e-mail. <É você quem
define as senhas?>
<Claro.>
<Isso é meio sorrateiro.>
<Prefiro pensar nisso como proteção.>

67
Nenhum argumento sobre isso.
— O desenho que você fez para mim a assustou o suficiente para
se cortar? — Meg perguntou.
— Não! Eu não estava com medo, e não foi com o desenho que eu
fiz para você! Foi o outro desenho. Fiz outro desenho. — Hope respirou.
— E então eu vi...
— O quê? — Simon perguntou quando o único som que vinha do
telefone era respiração irregular.
— Bisões mortos, — Jackson respondeu severamente. — Um
monte de bisões mortos.
— Monte? — Simon franziu a testa, intrigado. — Bisões
são grandes. Quem iria colocá-los em um monte? Quem iria matar tanta
carne?
Um telefone começou a tocar lá em baixo, a outra linha do HBL.
— Eu vou atender, — Vald disse, correndo para fora do escritório,
descendo as escadas.
— Você pode enviar esse desenho também? — Perguntou Simon.
Hesitação. — Tudo bem, — Jackson respondeu. Então sua voz se
tornou urgente. — Precisamos saber o que fazer sobre o corte.
Ninguém interrompeu enquanto Meg explicava sobre o corte,
comentando o que fazer quando fosse profundo o suficiente para deixar
uma cicatriz, mas não tão profundo para causar ferimentos graves; sobre
o corte acidental contra uma cicatriz antiga, o local correto e a posição
da navalha para cortar a pele nova. Simon assentiu quando Meg
enfatizou a necessidade de ter alguém lá antes de Hope fazer o corte, que
alguém precisava ouvir e ajudar se algo desse errado.
— Você tem um pedaço de papel? — Perguntou Meg. — Eu vou
dar-lhe o número de telefone do Escritório do Liaison. Você pode ligar
sempre que tiver outras perguntas.
— É de longa distância, Meg, — Simon disse. — As empresas de
telefonia cobram um monte de dinheiro pela longa distância. Além disso,
você terá o e-mail.

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— Hope? Se for urgente, você liga para mim. Caso contrário, você
pode usar o e-mail. — Meg se iluminou. — Ou podemos trocar
cartas. Onde posso enviar uma carta?
Grace entrou na conversa, dando a Meg o endereço postal de
Sweetwater, para o assentamento dos indigenes da terra.
— Você está se sentindo melhor? — Meg perguntou.
Simon não tinha certeza se ela deveria responder à pergunta, mas
Hope disse: — Sim.
— Simon? — Disse Jackson. — Nós ainda precisamos conversar.
Simon olhou para Meg. — Shooo.
Ela piscou para ele.
— Shooo, — ele disse novamente.
Ele tinha certeza que Meg não estava tentando passar com as
rodas da cadeira em cima do seu pé enquanto se afastava da mesa.
Ele esperou até que a ouviu andando no piso térreo. Então pegou
o fone e desativou o viva-voz. — O que mais?
— Você já ouviu algo de Joe?
— Eu sei que ele está no reassentamento. Todos os Lobos que
ajudaram a destruir o Controlador e o Composto decidiram se reinstalar,
e um novo conjunto de Outros foi formado para observar os humanos na
cidade. Joe disse que iria me informar onde encontrá-lo o mais rápido
possível. — Simon fez uma pausa. — Por quê?
— Bisões mortos. Os Falcões, Águias e os Corvos sobrevoaram o
território Sweetwater esta manhã. Nós temos uma manada de bisões
pastando aqui perto, mas a nossa profetisa filhote desenha imagens que
estão ligados a nós, mas nem sempre é sobre nós. Eu acho que não
vamos encontrar bisões e homens mortos por aqui.
— Se for muita carne, não poderia ter sido os seres humanos que
mataram os bisões.
— Talvez.
— Eu acho que possa ser algo com Joe no Centro-Oeste, — Simon
disse após um momento. — Ele pode ter ouvido algo sobre bisões mortos.

69
— Hope pintou Lobo nos desenhos dos bisões. Ela pintou com
sangue dela. E então ela gritou.
Simon estremeceu. O que a filhote viu além de seu
desenho? Seriam realmente os Lobos, ou talvez fosse o mais próximo que
ela conseguiu ver para desenhar de alguma maneira?
— Fique em contato, — ele disse. — Eu vou falar com Steve
Ferryman. Seu povo está enviando e-mails aos assentamentos Intui,
veiculando informações sobre as profetisas de sangue e como ajudá-las
a permanecerem vivas. Vou incluí-lo na lista de Lakeside. E vou pedir a
ele para descobrir se qualquer assentamento Intui já ouviu falar sobre os
bisões mortos. — E ele ligaria para o Tenente Montgomery. Não era
provável que a polícia tenha ouvido sobre os bisões mortos, mas
Montgomery e o seu Capitão Burke já ouviram falar de um número
surpreendente de coisas que aconteciam fora de seu território.
Ao terminar a chamada com Jackson, Simon fez suas chamadas
para Steve Ferryman e ao Tenente Montgomery.
Então ele desceu para descobrir quem estava na outra linha.

70
CAPÍTULO 7
Windsday, Juin 6

Jesse Walker afastou uma mecha de cabelo cinza que havia


escapado do prendedor de cabelo e olhou para sua lista quando Shelley
Bookman, a bibliotecária da comunidade, correu para dentro de sua loja.
— Entrei em contato com todos que eu poderia pensar, para
ajudar a lidar com a carne enviada para Floyd ou para oferecer um pouco
de espaço no freezer, — disse Shelley. — E eu trouxe a lista para
discutirmos, e no caso, temos a chance de falar sobre mais disso do que
a carne.
— Eu não iria empurrar nada mais para a discussão, — Jesse
avisou. — Pelo menos não até que tenhamos uma idéia melhor sobre
como Joe Wolfgard vai lidar sobre os bisões sendo mortos desse jeito.
— Eu sei, eu sei, mas ele foi o primeiro deles que iniciou contato
com a gente, desde que alguns dos nossos antepassados armaram
algumas tendas aqui, esperando alguma terra. Ele entrou na biblioteca,
na semana passada.
— Ele pegou algum livro?
— Não, ele se esquivou logo que ele me viu, mas ele entrou.
Jesse olhou para sua lista. — Eu liguei para uma fazenda de gado,
uma fazenda agrícola e o rancho. Algumas mulheres das fazendas estão
vindo ajudar, e Tom e Ellen Garcia estão se encaminhando para o
rancho. Por enquanto, isso é tudo o que podemos fazer.
Ela viu a mulher mais jovem ir para a porta e olhar para
fora. Como Tobias, Shelley tinha trinta anos e um filho em Prairie Gold,
tendo vivido nesta pequena comunidade sua vida toda, exceto os anos

71
em que ela foi para a escola para pegar seu diploma e se tornar
bibliotecária. O mundo exterior não era um lugar fácil para os Intui, e
enquanto Shelley nunca comentava sobre os anos que passou afastada,
Jesse tinha a sensação de que o coração da mulher foi traído e
quebrado. O que quer que tenha acontecido, Shelley gostava dos homens,
contanto que eles quisessem ser apenas amigos, pois ela não considerava
algo mais.
Uma vergonha, realmente, porque, na experiência de Jesse, com
o homem certo, um monte de prazer poderia ser adquirido.
Shelley correu de volta para o balcão. — Tobias está dirigindo, e
Joe Wolfgard está com ele.
— Não há uma multidão. — Jesse abriu o pequeno refrigerador
com porta de vidro atrás dela e pegou a jarra de limonada que ela fez
naquela manhã. Ela pegou quatro copos de plástico de seu armário
pessoal, os colocou em cima do balcão, e derramou a limonada assim que
a porta abriu e Tobias entrou com o novo líder indigene da terra que
vigiava Prairie Gold e um punhado de fazendas humanas, cuja
propriedade tinha cercas limitando o resto da terra que foi reivindicado
pelos Outros.
— Imaginei que vocês poderiam tomar algo, — Jesse disse, dando
aos machos um sorriso. — Vocês já estiveram fora por algum tempo. —
Ela entregou os copos para Tobias e Joe, em seguida, para Shelley, antes
de pegar o último.
— Minha mãe faz uma excelente limonada, — Tobias disse, dando
longos goles.
Joe cheirou o líquido no copo antes de tomar um gole cauteloso.
Surpreendido, ele tomou outro gole. — É limonada?
Jesse assentiu, observando o Lobo.
— Eu já bebi uma coisa chamada limonada uma vez. Parecia
como isso, mas não assim. — Joe bebeu novamente. — Esta limonada é
melhor.
— Vou aceitar isso como um elogio.

72
— Sim. — Joe esvaziou o copo e o colocou cuidadosamente sobre
o balcão.
— Quer mais? — Perguntou Jesse.
— Não, obrigado.
Não confia em nós. Não tem certeza de como lidar com a gente. Mas
tem informações sobre as formas humanas, pelo menos em algum grau.
— Eu preciso usar um telefone, — Joe disse, olhando para o
telefone que estava no fim do balcão perto da caixa registradora. — Para
ligar para o Courtyard de Lakeside. No Nordeste.
— Tudo bem. — Jesse tentou não estremecer com o custo de uma
chamada de longa distância. — Poderíamos colocar o telefone no viva-voz
para que todos possam ouvir?
Joe encontrou os olhos dela, e ela podia sentir o peso do olhar do
Lobo enquanto ele considerava seu pedido. Ela não estava sendo
intrometida, não muito, de qualquer maneira. Ela só tinha um
pressentimento de que esta conversa iria mudar muitas coisas em Prairie
Gold, para o bem ou para o mal, e ela queria saber o que seria dito.
— Tudo bem, — Joe disse. — É o seu telefone, de modo que é
justo.
Tobias deu-lhe um olhar de advertência, que ela ignorou quando
pegou o telefone para facilitar para Joe ligar.
— Ainda é muito cedo no Nordeste, — Tobias disse.
Jesse olhou para o pequeno relógio na parede atrás de seu balcão.
— É início do horário comercial.
Joe apenas deu de ombros e cuidadosamente digitou os números
no telefone.
Ele tocou. E tocou. E...
— Howling Boas Leituras.
Uma voz com um leve sotaque. Uma voz que, ao soar educada e
eficiente, fez Jesse tremer e fez brotar pêlos na parte de trás das mãos de
Joe Wolfgard.
— Vladimir? — Disse Joe. — É Joe Wolfgard.

73
— Joe — A voz era aquecida o suficiente para que Joe se inclinasse
para o telefone.
— Eu preciso falar com o Simon.
— Simon e Meg estão em outra ligação com Jackson. Houve
um... Incidente... Com Hope esta manhã.
— A profetisa filhote de Jackson?
Jesse fez um esforço para não reagir. Profetisa filhote. Joe estava
falando sobre uma das Cassandras de sangue das quais ela havia lido a
respeito no jornal? Meninas que poderiam falar profecias? Ela escutou
muitas notícias sobre elas, muitas informações meio desconexas, que a
fez se perguntar o que realmente aconteceu.
Precisamos ser parte disso, ela pensou. Eu não sei como ou por
que, mas precisamos ter uma conexão com essas meninas.
Silêncio. Então Vlad disse: — Por que sua voz soa distante?
— Eu estou usando o telefone de Jesse Walker. Está no viva-voz
para que todos possam ouvir.
— Quem, exatamente, é nós? — Não havia mais qualquer calor na
voz de Vlad.
Jesse observou as orelhas de Joe mudar de humanas para orelhas
de Lobo, e um vislumbre de uma presa que ela tinha certeza que não
pertencia a uma boca humana. Vladimir, quem quer que fosse, deixou
seu novo líder Lobo cauteloso.
— Eu sou Jesse Walker, — ela disse. — Comigo estão Shelley
Bookman, a bibliotecária da cidade, e meu filho, Tobias. Nós tivemos um
incidente aqui, e é por isso que pedimos ao Senhor Wolfgard se podíamos
participar nesta conversa.
— Eu sou Vladimir Sanguinati, o gerente da Howling Boas
Leituras, uma livraria no Courtyard de Lakeside.
Shelley empalideceu ao ouvir o sobrenome de Vlad. Ela não tinha
reagido à sua voz ou ao seu primeiro nome, o que significava que ela não
o conhecia pessoalmente. E o que significava que o nome Sanguinati era
algo a ser temido. Jesse iria descobrir o motivo mais tarde.

74
— Joe? — Vlad disse. — O seu incidente tem algo a ver com bisões
mortos?
Joe rosnou. — Sim. Uma centena de bisões foram baleados esta
manhã.
— E como eles pareciam?
Joe olhou para o telefone. — Eles pareciam mortos. Eles caíram
onde foram mortos.
— Então você poderia descrevê-los como bisões em um monte?
— Um monte? Os Bisões são grandes. Você não consegue arrastá-
los para fazer monte. Embora os touros adultos sejam grandes o
suficiente para que você possa pensar em um monte. — Joe continuou
olhando para o telefone. — Você sabe algo sobre os nossos
bisões? Como? Só estou ligando agora para contar ao Simon.
— É por isso que Jackson está ao telefone. Hope desenhou bisões
mortos, e algo sobre a imagem a incomodou tanto que ela se cortou. É a
primeira vez que ela fez um corte desde que Jackson e Grace a levaram
para Sweetwater para morar com a matilha. Eles estão
compreensivelmente chateados, e é por isso que eles, e Hope, estão ao
telefone com Simon e Meg.
— A filhote vai ficar bem?
— Se Jackson não mordê-la devido à frustração dele, um
sentimento que Simon simpatiza com ele.
— Meg e os coelhinhos dela vão explodir e não vão simpatizar com
isso.
Jesse piscou. Que coelhinhos iriam explodir? Coelhos explodiam
quando atacados? Não, isso era bobagem. Isso tinha que estar conectado
com as profetisas de sangue de alguma forma.
Vlad riu. — Felizmente, as nossas funcionárias humanas não
chegaram para o trabalho ainda. Pelo menos eu não vi nenhuma delas
na livraria. — Uma pausa. — Você quer que Simon ligue de volta, ou devo
transmitir a mensagem sobre os bisões mortos?

75
— Uma centena de bisões é muita carne, — Joe respondeu. — Eu
me perguntei se Simon e Henry gostariam de receber alguma; não é o tipo
de carne que vocês tem no Courtyard de Lakeside.
— Eu acho que seria um prazer recebermos alguma carne. Você
tem como enviá-la?
— Nós podemos embalar a carne e colocá-la no trem da noite, —
Jesse disse, inserindo-se na conversa. — Ou no primeiro trem da
manhã. Há sempre um vagão freezer para transportar alimentos que
precisam ser mantidos resfriados.
— Nenhum alimento enviado aos indigenes da terra deve viajar
sem escolta, — Vlad disse.
— Alguém vai ter que ir para Lakeside? — Tobias parecia
interessado.
— Você precisaria de pêlos para viajar em um carro frio, — Joe
disse. — Um Lobo, Urso, ou uma Pantera precisaria viajar com a carne.
— O acompanhante não tem que viajar todo o caminho com os
pacotes, — Vald disse. — Os indigenes da terra criaram um circuito de
guardas em nossos vários assentamentos, de modo que ninguém vai
precisar viajar para muito longe de casa, mas as entregas ainda devem
ser guardadas.
Joe assentiu. — Nós podemos fazer pequenas embalagens de
carne para os acompanhantes, como agradecimento.
— Eles ficariam felizes com isso. Então o que você gostaria em
troca da carne que você está enviando para Lakeside?
— Nós não precisamos...
Jesse levantou uma mão. Joe franziu a testa para ela, fazendo-a
se sentir como se ela tivesse se comportado mal. Mas eles não poderiam
deixar passar esta oportunidade.
— Você quer algo em troca? — Joe perguntou a ela.
Jesse olhou para Shelley, que lhe entregou a lista. — Nós
gostaríamos principalmente de conexões, comunicação.
— Eu não entendo, — Vlad disse depois de um momento.

76
— Bennett é a cidade controlada pelos humanos mais próxima. É
a nossa ligação a outros lugares, pois tem a estação de trem, e a rodovia
para os caminhões grandes que atravessam por ela. Somos tão auto-
suficientes quanto podemos aqui em Prairie Gold, mas somos
dependentes dos trens e dos caminhões para os recursos que não
podemos produzir. — Ela esperou. Aparentemente, Vlad também estava
esperando. — Nós temos uma biblioteca e Shelley faz seu melhor para
mantê-la em funcionamento, trazendo livros novos. Nós temos uma
livraria bem pequena, eu tenho algumas prateleiras em minha loja onde
as pessoas podem comprar livros novos e usados. A questão é que eu
costumava poder fazer um pedido misto de livros das editoras para minha
loja, e Shelley tinha listas de fornecedores e editoras anunciando os novos
lançamentos de livros que estavam disponíveis. Agora estamos sendo
excluídos, eles nos permitem comprar determinadas quantidades de cada
título que não podemos usar. Nos últimos dois meses, nós fomos para a
livraria em Bennett comprar livros para a biblioteca, mas na semana
passada, a livraria fechou quando chegamos à cidade, o que é engraçado
para um negócio estar fechado no meio da manhã, mas Shelley e eu
tínhamos a sensação de que a mudança de horário tinha algo a ver com
o novo decalque exibido em um canto da janela da livraria.
— HPU?
Vladimir Sanguinati soou amigável quando fez a pergunta. Jesse
esperava que ela nunca estivesse ao lado dele quando ele fosse amigável
dessa forma. Por tudo o que ele era, Vladimir era tão predador quanto o
Lobo que estava do outro lado do balcão.
— Sim, — ela disse. — Essas eram as letras.
— Então os seres humanos do movimento HPU já se espalharam
para bem longe no oeste. — Um silêncio pensativo. — Então eles não
estão vendendo livros para as pessoas da sua cidade. Não por um tempo.
— Isso foi apenas um exemplo. Eu... Bem, todos aqueles da cidade
que tiveram que ir para Bennett no mês passado tiveram a sensação de
que as pessoas da cidade estavam tentando nos expulsar de lá.
— Você é um Intui, — Vlad disse.

77
— Sim. — Nenhum ponto em negar, já que ela imaginou que ele
já soubesse. — E essas garotas, essas profetisas, que estavam no
noticiário, eu gostaria de saber mais sobre elas. Talvez possamos
ajudar. Eu não sei como, mas eu tenho uma intuição de que nós podemos
ajudar. — Ela ouviu a raiva na voz dela e tentou moderar. Mas ela sabia
que este era o momento que faria a diferença.
— Mãe! — Disse Tobias, ao mesmo tempo em que Joe disse: —
Elas são muito trabalho, muito mais do que outros tipos de filhotes.
Silêncio.
— Vlad? — Joe disse finalmente. — Você ainda esta aí?
— Esta não é uma decisão para tomar sozinho, — Vlad disse. —
Muitas coisas precisam ser consideradas. Mas eu acho que seria sábio
ter algum tipo de conexão entre Lakeside, Prairie Gold e Sweetwater, se
não por outra razão, por que as nossas Cassandras de Sangue estão
tendo visões de uma conexão. Joe, você tem um endereço de e-mail?
Joe afastou-se do balcão, como se o telefone tivesse se
transformado em uma cascavel. — Não.
— Eu posso fazer um para ele na biblioteca, — Shelley disse,
soando tão brilhante quanto sua voz era frágil. — Jesse pode incluir seu
e-mail lá também.
— Tudo bem, — Vlad disse. — Dê-me um e-mail onde posso enviar
informações, e então você pode enviar de volta as informações de que
você precisa. Forneça também outros números de telefone para que
possamos alcançá-lo rapidamente se for necessário. Vou me certificar de
que Jackson também receba os números e os endereços de e-mail.
— É justo. — Jesse deu-lhe o endereço de e-mail e o número de
telefone de sua loja. — Nós vamos informá-los quando o trem estará
levando a carne.
— Tudo bem. — Uma hesitação. — Quando os bisões morreram?
— Na primeira luz; talvez um pouco mais cedo, — Joe respondeu.
— Por quê?
— E você não ligou para Jackson ou disse qualquer coisa com ele
sobre os bisões mortos?

78
— Não. Por quê?
— Nada ainda. Jesse Walker? Com o seu consentimento, eu vou
enviar suas informações de contato para Steve Ferryman na Ilha Grande.
Quem era Steve Ferryman? — Tudo certo.
Deve ter sido a resposta correta, porque Vlad terminou a chamada
com a promessa de enviar informações. Mas pouco antes de ela desligar
o telefone, ele disse: — Existe algum lugar em sua cidade onde os
viajantes possam ficar?
— Há um motel na orla da cidade, perto da parada de caminhões
e o restaurante. A maioria das pessoas que vêm aqui é convidada de uma
família e ficam com eles.
— Bom saber. Manteremos contato. Vou dizer a Simon sobre a
carne de bisão. — Vlad desligou.
— Devemos ajudar com a carne. — Joe olhou ao redor, deu meia-
volta e saiu da loja.
Com um aceno de cabeça para ela, Tobias voltou para seguir Joe.
— Você deve ter cuidado, filho, — Jesse disse.
Ele olhou para ela quando alcançou a porta. — Sempre, e você
também.
Jesse derramou um copo de limonada para si mesma e Shelley.
— Quando ouvi o nome Sanguinati, você se assustou como gado em uma
tempestade. Por quê?
Shelley bebeu metade do copo antes de responder. — Uma forma
de indigene da terra que bebe sangue. Havia rumores em torno da cidade
onde eu fui para a escola, que a universidade era um terreno de caça
para alguns do Sanguinati. Nenhuma morte poderia estar ligada a
eles. Na verdade, algumas meninas mostravam pequenos arranhões,
alegando ser um tipo especial de mordida de amor. Ninguém podia provar
se era verdade. Mas havia alguns jovens ao redor do campus, de muito
boa aparência, e eu ouvi que eles eram bem hábeis em fazer uma garota
se sentir muito, muito bem.
— Então você não chegou a falar com um desses jovens?

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O sorriso de Shelley se transformou em algo amargurado, velhas
feridas. — Não. Eu estava tipo, sem querer qualquer pessoa, mesmo um
vampiro. — Ela colocou o copo no balcão. — Vejo você mais
tarde. Obrigada pela limonada.
Jesse colocou a jarra de volta no refrigerador e tirou do balcão os
outros três copos. Então ela olhou ao redor da loja. O que Joe Wolfgard
via quando ele e os outros indigenes da terra entravam aqui? O que ele e
os Outros queriam ou precisavam que ela poderia fornecer? E Vladimir
Sanguinati, muito distante. Talvez não o suficiente?
Não há como saber ainda. Mas ela tinha a sensação de que
descobririam em breve.

****

Vlad estava de braços cruzados olhando para os livros na mesa


de exibição e nas prateleiras da frente. Será que as duas livrarias e
bibliotecas em Porto Ferryman estavam com o mesmo problema de
pedidos como Prairie Gold? E eles tinham a biblioteca ambulante
também, um ônibus que foi para a comunidade Simple Life na Ilha
Grande, bem como nos pontos onde os Outros na Ilha tinham construído
estruturas básicas, que eram necessárias quando estavam em forma
humana. Eles queriam livros também. Talvez Meg pudesse estar no
comando desses pedidos de livros para Porto Ferryman e Prairie
Gold. Eles poderiam muito bem incluir Sweetwater, enquanto estivessem
coordenando isso. Ele e Simon continuariam com a gerência da HBL e
os indigenes da terra no terreno circundante de Lakeside, enquanto Meg
lidava com os outros lugares.
Algo para se pensar. Por agora...
Vlad foi para estoque e voltou com um carrinho vazio. Era
duvidoso que os humanos em Prairie Gold tivessem lido todos os livros
escritos pelos indigenes da terra. Ele ia falar com Simon antes de fazer

80
uma seleção. Afinal, ele não queria causar problemas para Joe Wolfgard
e os Intui.
Eles ainda tinham um número de livros de beijos, que ele e Simon
retiraram das prateleiras. Ele poderia pegar alguns deles e deixar a
bibliotecária Shelley dizer se eram os tipos de livros populares para as
pessoas.
O momento não se encaixava. Isso é o que o incomodava. A
Cassandra de Sangue falava a profecia; suas visões eram avisos sobre
algo que poderia acontecer, algo que ainda
não tinha acontecido. Excetoquando poderia haver um contexto ou uma
referência para algo que poderia acontecer.
Será que Hope fez um desenho com a visão de bisões mortos ao
mesmo tempo em que os animais estavam sendo mortos? Ou ela tinha
visto outra coisa, e os bisões mortos de Joe não eram os mesmos bisões
que Hope desenhou? E por que a menina estava tão assustada que ela
até se cortou? Não, ela disse que tinha se cortado porque ela precisava
da cor. Ela precisava pintar o sangue. Mas, quando ela fez o corte, o que
mais que ela viu?
Não, o momento não se encaixava. E havia questões que
precisavam ser feitas e respondidas.
— O que você está fazendo? — Simon perguntou quando entrou
na parte da frente da livraria.
— Separando pedidos de livro.
Simon olhou para os livros na prateleira de cima do carrinho. —
Quem está comprando esses livros?
— Mais como escambo do que compra. Todos estão bem em
Sweetwater?
— Todo mundo está bem. Meg falou com Hope; eu falei com
Jackson. Ninguém vai morder ninguém. Ainda. — Simon observou Vlad
selecionar mais alguns livros. — O que não está bem?
— Joe Wolfgard ligou enquanto você estava falando com Jackson.
— Joe? Ele deixou um número de telefone ou um endereço?

81
— Joe está bem, mas, Simon? — Vlad olhou para o amigo e
gerente. — Nós precisamos conversar. Todos nós precisamos conversar.

82
CAPÍTULO 8
Windsday, Juin 6

— Mais disputas estão acontecendo como consequência da


tempestade que varreu a costa leste ontem. Alguns proprietários de barcos,
cujas embarcações foram danificadas durante a tempestade, estão
afirmando que o dano foi feito por membros do movimento HPU, porque os
proprietários das embarcações se recusaram a deixar o HPU usar seus
navios para “atividades questionáveis”. Os representantes acusados do
movimento HPU estão negando veementemente essas alegações, dizendo
que os proprietários das embarcações foram alvos por que: “Não podem
processar o oceano por danificar sua propriedade”.
— Aqui em Lakeside, uma série de empresas foram vandalizados
na noite passada. A polícia ainda não tem pistas sobre a pessoa ou
pessoas que quebraram janelas e pintaram sugestões obscenas sobre os
edifícios. O proprietário de uma dessas lojas disse que iria deixar um
dicionário em um banco público para os vândalos, pois assim eles pelo
menos poderiam soletrar as obscenidades corretamente. Notou-se que
nenhuma das empresas vandalizadas exibia o logotipo HPU na janela. O
comissário de polícia Kurt Wallace, que recentemente admitiu ser um
membro do movimento HPU, não estava disponível para comentar o
assunto. Esta é Ann Hergott da WZAS, trazendo-lhe a notícia...
Monty afastou-se da porta da frente, tendo ouvido o suficiente.
— Tenente? — Kowalski entrou, vindo da sala de descanso. —
Você está pronto para ir?
— Ainda não. Você ouviu qualquer notícia sobre bisões mortos?
Kowalski piscou. — Bisões? Por aqui?

83
— Não, não por aqui. Em um lugar em Thaisia.
— Não ouvi nada parecido. — Kowalski se aproximou mais e
baixou a voz. — Isso é uma preocupação?
— Poderia ser. Preciso de um minuto com o Capitão Burke; depois
vamos. — Monty foi ao escritório de Burke e bateu no batente da porta e
se perguntou o que o primo de Burke, Shady, estava realmente fazendo
em Lakeside, considerando que o homem passava a maior parte de seu
tempo na delegacia. — Capitão? Você pode poupar um minuto?
— Eu posso poupar dois, — Burke respondeu.
Monty não tinha certeza se isso era literal ou uma piada. — Simon
Wolfgard ligou. Uma centena de bisões foram baleados no território de
Joe Wolfgard esta manhã. Simon queria saber se nós tínhamos ouvido
falar de quaisquer outros incidentes.
— Bisões? — Perguntou Shady.
— Animais grandes de pasto que ficam em rebanhos, — Burke. —
Eles estão principalmente no Centro-Oeste e partes da Região Noroeste,
embora eu ache que também possam ser encontrados no Extremo
Norte. Algumas organizações agropecuárias humanas estão dizendo que
o bisão é um impedimento para a abertura de terra arável para as
colheitas e os pastos de gado.
— E se os bisões forem eliminados?
— Se você eliminar os bisões, alces, cervos e tudo o mais que os
indigenes da terra caçam para se alimentar, os Outros vão acabar
comendo os bovinos, ovinos, caprinos, e muito provavelmente, os
humanos traquinas que fizeram uma apropriação indevida de terras.
— Se for um incidente isolado causado por alguns desordeiros em
uma cidade do centro-oeste, é uma coisa, — Monty disse. — Se houver
mais incidentes...
— Esse ataque poderia ser um esforço do HPU para antagonizar
os Outros, — Burke terminou por ele. — Ou por outro grupo, mas o HPU
seria a minha primeira escolha. Vou fazer algumas ligações, ver se eu
recebo alguma resposta. Você está indo para o Courtyard?

84
— Ainda não. Eu ouvi a notícia de que alguns edifícios foram
vandalizados na noite passada, por isso quero ver como Nadine Fallacaro
está. Ela está fornecendo alimentos para o Pátio. Ela poderia ser um alvo
por causa disso.
— Nada mencionado na nossa delegacia, graças aos deuses. —
Burke recostou-se na cadeira. — Tudo bem, Tenente. Vá verificar a
Senhora Fallacaro. Vou ver se posso encontrar alguma notícia sobre os
bisões.
Monty voltou-se para Shady. — Vou para o Courtyard em algum
momento hoje, e vou perguntar para Simon Wolfgard sobre os hóspedes
humanos.
— Aprecio a atenção, — disse Shady.
É claro que ele estaria no Courtyard ainda hoje. Monty estava
dividindo seu tempo entre o apartamento de um quarto que ele tinha
alugado quando chegou a Lakeside e o apartamento no Pátio, pois era
um lugar onde Lizzy poderia ficar enquanto ele estava no trabalho. Ambos
os locais tinham desvantagens, mas eles iriam sair de qualquer maneira,
até que ele pudesse se mudar para um dos apartamentos de dois quartos
na Crowfield Avenue. Ele ainda não tinha certeza de como se sentia sobre
ter os Outros como seus proprietários, mas ele sabia que não ia encontrar
um lugar mais seguro para Lizzy morar, ou um lugar mais perigoso se
Lakeside explodisse em uma colisão violenta entre as pessoas que
apoiavam o movimento HPU e aqueles que acreditavam que o progresso
dependia da manutenção das relações pacíficas com os indigenes da
terra.
— Então que negócio é esse com o bisão? — Perguntou Kowalski.
— Poderia ser um incidente isolado. Ou poderia ser o primeiro
ataque na guerra do Cel-Romano contra os Outros.
— Mas eu pensei que o Cel-Romano estava se preparando para
fazer a guerra na parte deles do mundo.
Monty olhou pela janela lateral. — Talvez seja isso o que devemos
pensar.

85
****

Vlad colocou uma pequena tigela na mesa da sala de triagem e


sorriu para Meg. — Eu trouxe alguns morangos para você.
Ela estendeu a mão para pegar um morango, mas não pegou. —
Você não está desistindo de sua parte dos frutos, não é?
— Não, eu comprei esses morangos na Praça do Mercado e decidi
compartilhá-los com você.
— Oh. Bem, obrigado.
Ele esperou até que ela tinha comido uma fruta antes de abordar
a verdadeira razão de estar lá. — Meg? O que a perturbou esta manhã?
Ele observou sua garganta se mexendo enquanto
engolia. Gargantas, com o sangue circulando, eram facilmente acessadas
por um beijo, e sempre chamavam sua atenção. Mas com Meg, era como
olhar para uma peça delicada de arte que podia ser admirada, mas que
não podia ser tocada, porque a Cassandra de Sangue era criação de
Namid, tanto maravilhosa quanto terrível, e seu sangue era proibido para
os Sanguinati.
— Eu tive um sonho ruim. Então eu acordei. Eu acho que eu
estava em um sono profundo para acordar.
— Você gritou e se jogou em cima de Simon. — Com as janelas
abertas para refrescar os apartamentos, seu grito acordou todos no
Complexo Verde. Meg tendia a gritar quando via um rato, mas todo
mundo não teria vindo correndo para seu apartamento, se Simon não
tivesse gritado como se ele também estivesse com problemas. Para eles,
o grito significava problemas físicos. De uma forma foi verdade,
considerando que Meg agarrou Simon enquanto ele estava tentando sair
debaixo dela sem machucá-la. Pelo menos, ele tentou fazer um bom show
tentando sair debaixo dela, quando o resto deles entrou correndo no
quarto. — Com o que você sonhou?
Cor brilhou em suas bochechas. — Eu não me lembro.

86
Vlad a estudou, e desejou acreditar que havia algum elemento
erótico no sonho que ela não quis revelar, mas isso não era o motivo para
a vergonha. Meg estava mentindo para ele.
— Por que um sonho ruim é tão importante? — Ela perguntou.
— Não seria se outra pessoa tivesse o sonho ruim, mas você é uma
Cassandra de Sangue.
— Eu não fiz um corte, e minha pele não se dividiu por causa do
tempo ou qualquer outra coisa, por isso não era uma profecia; foi apenas
um sonho.
Ele balançou a cabeça, como se ela o tivesse convencido, mas ele
teve um pensamento que o perturbava, o mesmo pensamento que o
levara ao Gabinete do Liaison. — É apenas estranho, não acha, que três
coisas significativas aconteceram na mesma hora do dia? Você teve um
sonho ruim, algo compeliu Hope a fazer um desenho que a assustou, e
bisões no território de Joe foram mortos. Todos na aurora do dia.
— Mas o amanhecer na Região Nordeste é duas horas antes do
amanhecer onde Hope mora.
— Duas horas antes do amanhecer no território de Joe
também. Mas você não se lembra do seu sonho, por isso, não sei se você
teve algum tipo de visão sobre os bisões.
A sala de triagem ficou preenchida com um silêncio constrangedor
até que um caminhão parou dentro da área de entrega.
— Eu tenho que receber essa entrega, — Meg disse.
— E eu tenho que começar a trabalhar. — Ele saiu pela porta dos
fundos do Gabinete do Liaison, depois parou. Ele não queria ir para a
livraria, não queria falar com Simon.
Meg mentiu para ele sobre não se lembrar do sonho. Não é que
ele tinha pensado que ela não podia mentir. Ela era humana, afinal. Mas
ele nunca pensou que ela iria mentir para qualquer um dos indigenes da
terra com quem tinha amizade.
Será que sua amizade estava menos valorizada agora que havia
mais humanos ao redor? Ou ele estava fazendo muito caso com coisas
que não eram importantes?

87
Agitado demais para trabalhar, ele se dirigiu para a Praça do
Mercado para sentar e pensar.

****

No momento em que o entregador saiu pela porta da frente, Meg


correu para o quarto dos fundos e olhou para fora da porta para se
certificar de que ninguém estava por perto. Então ela fechou a porta e
encostou-se no batente da porta.
Ela mentiu para Vlad e mentiu para Simon e Henry e Tess naquela
manhã quando perguntaram se ela se lembrava do sonho. Ela lembrava
o suficiente. Mais do que o suficiente.
Ela sonhou em fazer um corte, um sonho tão vivido que ela ainda
podia sentir a navalha cortando sua pele. Antes do corte, ela havia
passado as mãos pelos braços, pelas pernas. Mas o zumbido não vinha
de seus braços ou pernas; não vinha das costas ou da barriga. No final,
ela colocou a navalha ao longo do lado direito do queixo e pressionou a
lâmina contra a pele. Em seguida, ela se calou e suportou a agonia que
vinha antes de uma Cassandra de Sangue começar a falar a profecia, mas
suportou a agonia para ficar em silêncio. E o que ela viu no sonho foi algo
tão terrível que fez Meg se lançar sobre Simon para protegê-lo, para salvá-
lo.
Ela sangrou em um sonho e viu uma profecia. Algo ruim ia
acontecer com os Lobos. Infelizmente, ela não tinha visto uma profecia,
então não podia contar a ninguém o que estava por vir, não poderia dar
um aviso.
Será que alguma outra Cassandra de Sangue que morava fora dos
Compostos já teve experiências semelhantes? Ter visões sem fazer um
corte real? Hope estava fazendo desenhos, e até aquela manhã, era uma
maneira diferente para alcançar as visões sem se cortar. E quanto a Jean,
que estava morando com uma família Simple Life na Ilha Grande? Ela
estava sentindo as coisas agora sem se cortar?

88
As visões das três pareciam se entrelaçar, mas elas estavam vendo
as mesmas coisas? Ela e Jean e Hope vinham do mesmo Composto,
receberam instruções com as mesmas imagens, então tinham muito mais
em comum quando descreviam suas visões. Mas agora suas vidas eram
tão diferentes. Jean morava em uma fazenda. Hope morava no
assentamento indigene da terra no Noroeste. E ela morava no Courtyard
de Lakeside. Cada uma delas estava absorvendo novas imagens a cada
dia, mas não as mesmas imagens. E já era uma verdade para todas as
meninas que foram libertadas da Propriedade Benevolente. Será que as
meninas mais jovens, que iriam crescer sem o treinamento rígido, seriam
capazes de comunicar as visões a todos quando recebiam as visões de
uma profecia? Será que isso importava?
Meg cerrou os dentes, quando a pele ao longo de toda a sua cabeça
se encheu com aquela sensação de alfinetadas e agulhas.
Teria importância.
Talvez não aqui, talvez não agora, mas teria importância.
Então como essas meninas que moravam fora dos Compostos
conseguiriam ter o mesmo tipo de consistência da imagem, a fim de se
comunicar com os outros?
Ela precisava encontrar outra, e já disponível, fonte de
imagens. Não era parte de seu trabalho como Guia ajudar as outras
profetisas de sangue a encontrar as ferramentas que precisavam para
sobreviver?
O formigamento sob a pele desbotou. Indo para a porta entre a
sala dos fundos e sala de triagem, ela gritou: — Nathan? Eu estou indo
para os Três Ps. Estarei de volta em poucos minutos.
— Arrooo?
Sim, era incomum ela sair do escritório durante seu horário de
trabalho, mas se outra entrega chegasse; Nathan e Jake Crowgard, que
estava pousado na parede entre a oficina de Henry e a área de entrega,
iriam informá-la.
Ela correu para fora da porta de trás e entrou na via de acesso
principal. Ela já esteve no interior do Três Ps uma vez e tinha sido

89
esmagada pela quantidade de informações sensoriais dos papeis que
Lorne Kates conseguia produzir na pequena loja. Ela manteve os olhos
voltados para o balcão e correu em direção a ele quando Lorne saiu de
trás dos painéis altos que separavam os computadores e as impressoras
da parte de varejo da loja.
— Bom dia, Meg.
— Bom dia. — Ela apoiou as mãos no balcão.
— Você está bem?
Meg assentiu. — Eu gostaria de alguns cartões postais.
— Você quer dar uma olhada no que eu tenho de mais novo? —
Perguntou Lorne.
— Não. Preciso de conjuntos de imagens. Se eu olhar uma foto de
Talulah Falls, e em uma visão eu precisar transmitir que eu estou vendo
essa cachoeira em particular, eu gostaria que outra Cassandra de
Sangue tivesse a mesma imagem para que ela saiba exatamente o que
quero dizer.
— Você não criou uma pasta de fotos para ajudar a identificar as
coisas em suas visões?
— As fotos são muito genéricas. — Assim que ela disse isso, ela
sabia que era verdade. As fotos seriam úteis para recolher imagens para
as meninas, mas as profetisas de sangue precisavam de algo a mais para
as imagens consistentes, algo com o tamanho de um cartão postal.
Por que ela estava tão certa sobre disso? E se ela tivesse visto
alguma coisa durante um corte, ou ouvido falar sobre algo que ela não
conseguia se lembrar?
Ambos se voltaram para a porta quando ouviram o uivo.
— Alguém está procurando você, — disse Lorne. — Eu vou pegar
um de cada cartão e deixá-los no escritório do Liaison. Depois de
procurá-los, você pode ficar com o que quiser e devolver o resto. Tudo
certo?
— Sim. Obrigada, Lorne. — Bufando um suspiro irritado quando
Nathan uivou novamente, Meg correu todo o caminho de volta, mas

90
tropeçou quando viu Blair Wolfgard encostado na porta dos fundos do
escritório, esperando por ela.
Blair era o Executor dominante no Pátio e não via muita utilidade
para os seres humanos. Para ser justo, ela tinha certeza que ela tinha lhe
causado uma quantidade considerável de problemas desde que começou
a trabalhar, e morar, entre os indigenes da terra. Então sempre havia a
possibilidade de Blair esquecer, ou ignorar, a regra de “Não morda a Meg”.
— Você causou comoção em seu apartamento esta manhã, — ele
disse.
— Eu tive um pesadelo, e eu meio que cai em cima de Simon. —
Quantas vezes ela teria que dizer isso?
— Como foi o sonho?
— Eu não me lembro.
Os olhos âmbar de Lobo de Blair a estudaram. — Você iria me
dizer se eu precisasse manter a guarda para alguma coisa, não é?
— Eu iria. E eu vou. Mas não há nada para dizer agora.
Ele abriu a porta de trás e se afastou para deixá-la entrar.
— Meg! — Lorne correu para ela, lançando um olhar nervoso para
Blair. — Dê uma olhada nestes. E aqui está um catálogo do lugar que
imprime os cartões postais. Pode ficar com ele por algum tempo. Você
pode fazer uma lista das imagens que deseja e eu posso fazer o pedido
para você.
Meg pegou os cartões postais e o catálogo. — Obrigada.
Dando outro olhar para Blair, Lorne se afastou para o outro lado
da via de acesso e voltou para a segurança de sua loja.
— Vou voltar a trabalhar agora — Meg disse.
Mas os olhos do Executor estavam concentrados no segundo
andar da Livraria e o no Lobo de pé na janela. Blair foi embora sem dizer
uma palavra.
Tremendo, mesmo com o dia quente, Meg entrou no escritório e
colocou os cartões postais na mesa da sala de triagem.
Imagens comuns para as profetisas de sangue que moravam em
diferentes partes de Thaisia. Mas essas não eram as fotos que ela e Jean

91
e Hope precisavam. Estas imagens eram artísticas e bonitas, e uma
profecia raramente era sobre coisas belas. Se isso não fosse verdade, as
profetisas de sangue não precisariam da euforia para atenuar o que elas
viam nas nuvens de suas memórias.
Ela mentiu sobre o sonho, porque Simon, Vlad e os demais de
seus amigos ficariam chateados se ela dissesse a eles sobre o que ela se
lembrava.
Não havia nenhuma cicatriz no lado direito do queixo. Mas ela
sabia. Em breve ela faria esse corte para salvar Simon e o resto dos Lobos.

****
— Vladimir.
Olhando para cima, Vlad forçou um sorriso. — Avô. O que o traz
para a Praça do Mercado?
Em sua forma humana, Erebus Sanguinati parecia um homem
idoso com um rosto enrugado. Suas mãos tinham articulações nodosas
e grandes veias, mas as unhas não eram tão amareladas ou escamadas
como costumavam ser, um pequeno ajuste na sua aparência após Meg
começar a entregar os pacotes para as Câmaras, que era a parte
Sanguinati do Pátio. Sua voz tinha um ligeiro sotaque e desmentia a
natureza letal do vampiro que comandava todos os Sanguinatis em
Thaisia.
Erebus sentou ao lado dele no banco. — Nossa Meg viu alguns
filmes naquela loja e ela pensou que eu poderia desfrutar. Então eu vim
dar uma olhada. E então eu vi você. — Ele sorriu gentilmente. — Você
está preocupado?
Meg mentiu para mim. Não era algo que ele diria a Erebus agora
ou nunca. O avô adorava Meg.
— Sim, estou preocupado, — Vlad admitiu. — Eu continuo a
voltar ao que aconteceu esta manhã e como a profecia geralmente
funciona.

92
— A profecia é sobre o futuro, sobre algo que vai acontecer. Não é
assim?
— Sim. E às vezes só permite uma interferência de poucos
minutos, deixando uma pessoa com muito pouco tempo para agir. — Vlad
soltou um suspiro. — Aurora. Isso é o que está me
incomodando. Um monte de bisões está me incomodando. Eles devem
estar conectados com o sonho que Meg teve e o desenho que Hope fez,
mas Joe Wolfgard disse que os bisões caíram onde morreram. Eles não
estavam amontoados.
— Você acha que o sangue doce viu algo mais, algo que ainda não
aconteceu?
Vlad assentiu. — E o que quer que Meg e Hope viram, cada uma
à sua maneira, está ligado a algo que vai acontecer ao redor de um lugar
chamado Prairie Gold.
Erebus não disse nada, de forma que manteve Vlad
silencioso. Um minuto se passou. Em seguida, dois.
— Somos mais adequados para a caça nas grandes cidades
humanas do que outras formas de indigenes da terra, — Erebus disse
finalmente. — Não somos tão bem adaptados em pequenas cidades
humanas, como muitas das cidades da Região Centro-Oeste.
— Eu estou ciente disso, avô.
— Mas agora o líder do Pátio de Lakeside e a nossa sangue doce
estão ligados a dois lugares que não têm Sanguinatis entre os indigenes
da terra que estão vigiando os humanos. Você está preocupado que os
Lobos não repassem as informações?
— Não é isso. Eu confio em Simon, e ele confia em Jackson e
Joe. Mas os Lobos e os Sanguinatis têm pontos fortes diferentes. Eu só
estou querendo saber se o fato de não estarmos presentes em grande
parte do Centro-Oeste deixa outros tipos de indigenes da terra mais
vulneráveis a um ataque.
A risada de Erebus soou como folhas secas trituradas. — Você
poderia dizer a um Urso e uma Pantera que eles não são capazes de
defender sua terra? Você diria uma coisa dessas para os lobos?

93
— Nós lutamos bem juntos aqui. Podemos lutar bem juntos em
outros lugares.
Outro silêncio. Então — Este lugar onde os bisões morreram
poderia abrigar Sanguinatis?
Vlad assentiu. — Há um motel, por isso há alguns quartos que
podem ser alugados. Eu perguntei quando estava falando com Jesse
Walker, à mulher responsável pela loja do centro.
Erebus sorriu. — Muito bem, Vladimir. Talvez seja à hora de
reavaliar nossa presença na Região Centro-Oeste. Vou pedir a dois de
nossos parentes para visitarem Prairie Gold.
— Nós poderíamos fornecer-lhes uma razão legítima para esta
visita. Os indigenes da terra recolhem o ouro que é encontrado nos rios
que fluem em Elder Hills. Os Sanguinatis poderiam trocar dinheiro
humano por ouro e trazer o ouro de volta aqui ou levá-lo para
Toland. Além disso, Jesse Walker não soou como se ela confiasse nos
humanos em Bennett, a cidade ferroviária onde os Intui compram muitos
de seus suprimentos. Nós podemos fornecer alguma mercadoria
diretamente.
— Certo. Mas, Vladimir, você irá informar o Lobo de lá que o
Sanguinati vai chegar. Como cortesia.
— Claro, avô.
Erebus concordou. Depois de dar um tapinha no ombro de Vlad,
ele se aproximou da loja de músicas e filmes para considerar os filmes
que Meg pensou que ele gostaria.
Vlad ficou sentado por mais um momento antes de voltar para a
livraria. O Sanguinati que iria para Prairie Gold poderia pegar a primeira
leva de pedidos de livros com eles.

****

94
Uma janela da Nadine Bakery & Café estava com um pedaço de
madeira substituindo o vidro quebrado. Pintada na porta e em outra
janela estavam às palavras: Amante de Lobo.
— Eu acho que os vândalos precisam de um dicionário, se não
sabem o significado da palavra razão, — disse Kowalski.
Culpa produziu uma queimadura enjoada no estômago de
Monty. Ele falou com Nadine para fornecer produtos assados e
sanduíches para a Bite. Os Outros faziam pedidos e pegavam as
encomendas duas ou três vezes por semana. Eles vinham em silêncio, em
uma minivan que não parecia diferente das milhares de outras na
cidade. Mas alguém deve ter percebido, deve ter dito algo.
Monty entrou no café, com seu punhado de mesas e as grandes
vitrines de vidro que eram geralmente cheias de guloseimas deliciosas.
Não havia muito nas vitrines de hoje.
Nadine saiu do quarto dos fundos, onde ela fazia a culinária e a
panificação. — Tenente.
— Senhora Fallacaro, sinto muito que isso tenha acontecido.
— Poderia ter sido pior. Aqueles pequenos bastardos poderiam ter
feito mais se Chris não tivesse aparecido balançando um taco de beisebol.
O pai de Chris era primo de Nadine, proprietário do Fallacaro Lock
& Key e um membro do movimento HPU. A recusa de Chris para se juntar
ao HPU foi à razão pela qual ele estava ficando com Nadine. Monty se
perguntou se Fallacaro sabia ou se importava que o HPU tivesse membros
alvo em sua família.
— Ele acha que um deles pode ter um braço quebrado, — Nadine
continuou.
— Ele tem sorte que eles não pularam em cima dele, — disse
Kowalski.
Nadine deu a Kowalski um sorriso amargo. — Eles pertencem
aquele tipo de humano. Eles não esperavam que nós fôssemos nos opor,
ou que iríamos fazer nossa escolha, então eles não estavam preparados
para encontrar alguém lutando.

95
Não desta vez, pensou Monty. Mas se houver uma próxima vez? —
Eu vou explicar a situação para Tess. Eu acho que ela e o Senhor
Wolfgard vão entender por que você não pode mais provide-
— Não faça tal coisa. — Nadine chiou. — Se eu desistir, então a
próxima demanda será para me juntar ao HPU. Você acha que eu não
percebi as lojas que já estão ostentando aquele decalque esta
manhã? Não, Tenente. Eu não vou fechar o meu café, e não vou deixar
os tolos me dizerem quem pode comprar meus produtos, e por todos os
deuses, eu não vou colocar um decalque HPU na minha janela. — Ela
fungou e deu novamente os ombros. — Além disso, qualquer um que
queira desafiar a HPU neste bairro precisa comprar comida em algum
lugar.
Monty pegou um de seus cartões de visita, virou-o, e escreveu o
seu celular na parte de trás. — Se você ou Chris tiverem mais problemas,
me ligue. — Ele estendeu o cartão.
— Você vai para o Courtyard? — Perguntou Nadine.
— Vou.
— Poderia fazer uma entrega?
— Posso. — Monty voltou-se para Kowalski. — Oficial, por que
você não estaciona o carro na porta de entrega?
— Sim, senhor. — Kowalski saiu.
— Discrição, Tenente?
— Praticidade.
Nadine esfregou as mãos sobre os braços, como se estivesse
tentando se aquecer. — Diga a Tess que eu vou ter os extras que ela pediu
para a próxima semana.
— Vou dizer a ela. — Um som de toque o assustou.
— Tenho que retirar os cookies do forno. Venha até a porta de
trás.
Ela abriu a porta de Apenas Empregados para ele, e ele a seguiu
enquanto ela corria para o fundo da loja para retirar os cookies.
Olhando para a comida que ela já tinha feito naquela manhã,
Monty imaginou que ela levantou nas primeiras horas para fazer a

96
limpeza do vidro e selar a janela quebrada. E, em seguida, cozinhar e
assar, fazendo tudo o que podia com as mãos para aliviar a dor em seu
coração.
— Eu não fui à única que foi alvo na noite passada, — Nadine
disse enquanto ela embalava a comida. — Por que as pessoas acham que
vai ser melhor se começarem a lutar entre nós?
— Eu não sei, — Monty disse gentilmente. Então ele olhou em
volta. — Onde está Chris?
— Ele está tentando encontrar o vidro para substituir a janela. Se
não pudermos colocar vidro novo, ele vai à loja de ferragens para
descobrir uma maneira de selar a abertura um pouco melhor do que
apenas usando madeira compensada.
Depois de receber garantias que Nadine e Chris tinham as coisas
sob controle, Monty e Kowalski colocaram a comida na parte de trás do
carro patrulha e foram embora.
— Nós não somos um serviço de entrega, e não deveríamos estar
fazendo isso, — Monty disse, já que Karl não estava dizendo nada de
relevante.
— Eu acho que ela não está esperando muitos clientes hoje, —
disse Kowalski. — Ela entregou muito do que ela já tinha feito.
— Eu sei.
Kowalski olhou para ele. — O que está em sua mente, Tenente?
Monty suspirou. — Se as coisas estão começando a acontecer
assim em Lakeside, o quão ruim será em outras partes de Thaisia?

****

O computador terminou de baixar a primeira imagem de


Jackson. Simon colocou duas folhas de papel especial e brilhante na
impressora do escritório e fez duas cópias. Então ele foi para o próximo
e-mail de Jackson e deu os comandos para baixar a segunda foto.

97
Ele levantou a cópia da primeira imagem quando Vlad, Blair,
Henry e Tess entraram no escritório. Ele levantou a imagem para todos
verem, quando a impressora cuspiu a segunda cópia.
— Um monte de bisões, — Henry disse severamente.
— Hope é boa com os desenhos, — Vlad disse. — Eu nunca vi um
bisão real, mas parte de mim acredita que se eu tocasse o papel, eu
poderia sentir o pêlo desgrenhado, e os chifres.
— Sinto o cheiro do sangue, — Simon disse. — Bem, Jackson
certamente sentiu o cheiro de sangue no desenho original.
Tess olhou para a foto. — Imagens sangrentas de Lobos em cima
de corpos amontoados. Por quê?
— Nós não caçamos dessa forma, — Simon disse. —
Nós não caçamos dessa forma.
Vlad negou com a cabeça. — Estamos perdendo algo, ou estamos
entendendo algo errado. Você vai mostrar isso para Meg?
Uma imagem terrível, uma matança desenfreada. Não era para se
alimentarem ou para se defenderem.
— Isso é uma pata enorme? — Vlad apontou para a parte inferior
da imagem, para uma forma que parecia ter sido criada de sangue e
absorvida até que era uma leve impressão na grama perto do monte de
bisões.
— Poderia ser uma impressão em primeiro plano, — Tess disse.
Simon olhou para Henry. — Hope não poderia ter visto qualquer
um deles.
— Quem? — Perguntou Blair. — Você está dizendo que há
Lobos gigantes no Centro-Oeste ou Noroeste? — Ele olhou para Simon,
depois para Henry. — Não podem ser Lobos.
— Não, — Henry disse. — Não eram Lobos. Um Ancião indigene
da terra em sua forma verdadeira. Os Anciões são muito grandes, mesmo
quando tomam uma forma bem próxima dos shifters que nós assumimos.
— Mesmo assim, nenhum de nós realmente já viu algum em sua
forma verdadeira. — Simon olhou para Henry, que era grande em forma

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humana e maciço como um urso. Mas quando Henry caminhava em sua
verdadeira forma, como Urso do espírito, ele era ainda maior.
Até Henry quando assumia a forma do espírito do Urso ainda era
pequeno em comparação com os Anciões.
— Eles podem fazer isso? — Perguntou Tess, apontando para o
desenho de Hope.
Simon hesitou, depois assentiu. — Alguns deles são grandes e
fortes o suficiente para arrastar um bisão crescido e transportá-lo em
uma pilha de carcaças. Mas eles não caçam dessa forma. — Mas como o
resto dos indigenes da terra, os Anciões estudavam outros predadores e
aprendiam com eles.
— Simon, você tem que mostrar isso para Meg, — Vlad disse.
O computador apitou, e era o sinal de que a segunda imagem de
Jackson tinha sido baixada. Simon colocou mais dois papéis brilhantes
na impressora e pressionou a tecla de impressão. — Eu vou falar com
Meg, mas... — Ele olhou para a impressora. Olhou para a impressão da
imagem sobre o papel.
— Simon? — Quando ele não disse nada, Vlad puxou a imagem
que a impressora tinha finalizado. — O que é isso?
Uma mulher idosa usando um chapéu de palha, os braços nus
bronzeados pelo sol, mostrando cicatrizes finas. Ela estava sentada atrás
de uma pequena mesa, apontando para os cartões que estavam
espalhados por cima. A outra mão segurava dois cartões. Um era a
imagem de um jovem Lobo, ele reconheceu Simon na imagem de si
mesmo quando era juvenil. A outra imagem era Meg. Mas não Meg
como ele a conhecia. Mais jovem. Perdida. Olhos que mantinham pouca
esperança. E, no entanto, com apenas um toque de desafio nos olhos.
— Simon? — A nitidez na voz de Vlad fez Simon focar nos
outros indigenes da terra na sala.
— Parte de uma memória, — ele respondeu. — E parte de alguma
outra coisa. — A idosa não tinha conhecimento de Meg, então por que
Hope desenhou uma imagem assim? — Quais são as fêmeas que estão
trabalhando no Pátio hoje?

99
— Merri Lee e Ruthie estão na livraria, organizando o estoque para
enviar para Jesse Walker em Prairie Gold, — Vlad disse.
Simon pegou a foto que Vlad segurava. — Eu quero mostrar-lhes
esta imagem. Eu gostaria que você enviasse um e-mail para Jesse Walker
e Steve Ferryman. Talvez os Intui tenham uma sensação do que isso
significa.
— Só esta imagem, ou ambas?
— Os Intui na Ilha Grande se preocupam com os bisões? —
Perguntou Henry.
Vlad deu de ombros.
— Envie ambas, — Simon disse. Com o retrato da mulher idosa,
ele desceu as escadas e encontrou as duas meninas no estoque,
ocupadas organizando o que ele queria na loja para os visitantes da
próxima semana. — Vejam isso.
Elas pararam e olharam para a foto.
— Eu não tenho certeza do que devemos ver, — Ruthie disse
finalmente.
Ele não tinha certeza também. É por isso que ele lhes mostrou a
imagem.
— Que tipo de cartões ela está apontando? — Perguntou Merri
Lee.
Simon resmungou baixinho. Não poderia ajudá-lo. — Eu não
sei. Ela falava a sorte. Com os cartões. — Só que ela não tinha usado os
cartões no dia em que ele parou em frente à sua mesa. Naquele dia, a
idosa tinha aberto uma navalha de prata para cortar a sua pele.
Elas inclinaram a cabeça, um gesto tão Lobo que o assustou.
— Tarô? — Disse Merri Lee, olhando para Ruthie.
— Talvez, — respondeu Ruthie. — Mas a mulher é como a Meg,
uma Cassandra de Sangue. Por que usaria cartas de tarô? E como você
pode dizer a partir dessa imagem que ela usava suas cartas para dizer a
sorte?

100
— Eu a vi uma vez, quando eu era jovem. — Simon estudou as
fêmeas. Ele não ia recuar. Ou atacar. Mas predadores tinham aquele
mesmo olhar focado em seus olhos antes de saltar sobre suas presas.
Elas têm dentes pequenos e pequenas garras que não são muito
nítidas. E eu posso correr mais rápido.
— Você a conheceu, — Merri Lee disse lentamente. — Portanto,
este é um...
— Desenho de uma visão, — completou. — É como estamos
chamando as imagens que a filhote Hope está fazendo.
— Uma mensagem. — Ruthie apontou para o canto inferior
direito. — Para Meg.
Aquele olhar novamente. — Eu vou mostrar para ela, — ele disse,
soando, e se sentindo, na defensiva.
— Existem algumas lojas ao redor da Universidade de Lakeside
que possam vender cartas de tarô, — disse Merri Lee.
— É melhor você ficar longe das lojas universitárias, — disse
Ruthie. — Karl e eu podemos ir depois que ele sair do trabalho.
Simon assentiu com a cabeça. Não que elas estivessem
considerando sua opinião neste momento. Mas Merri Lee tinha sido
atacado por quatro estudantes na universidade porque ela trabalhava no
Pátio, e outros estudantes poderiam reconhecê-la se ela entrasse em uma
loja nessa área da cidade. A possibilidade de ela ser ferida por outros
seres humanos foi à razão pela qual ela estava se hospedando em um dos
apartamentos do Pátio para funcionário, e não havia retornado mais para
a escola. Pois se ela voltasse, seria como um coelho vagando em um
campo cheio de cães selvagens e famintos.
— Certo. Vou verificar a lista telefônica e ver se eu posso fazer
uma lista de locais em potencial, — disse Merri Lee.
Elas começaram a trabalhar no estoque de novo, depois pararam.
— Há mais alguma coisa, Sr. Wolfgard?
— Não. — Já que elas estavam entre ele e a porta de trás, Simon
voltou para frente da livraria, em seguida, passou pelo arco que ligava a

101
livraria e a Bite. Saiu pela porta de trás da Bite, e se encaminhou para o
escritório do Liaison.
Ele desejou que ele não tivesse que ficar em forma humana para
falar com Meg sobre a imagem. Ele gostaria de poder mudar para Lobo e
dar algumas lambidas na mão dela. Ele sempre se sentia melhor depois
de lambê-la; mas não podia fazer isso quando estava na forma
humana. Podia? Ele não tinha observado Kowalski ou Debany lambendo
as mãos de suas companheiras.
Só mais uma coisa que ele não sabia sobre os seres humanos.
Então ele entrou na sala de triagem e encontrou Meg de pé atrás
do balcão, com cartões postais espalhados por cima e se perguntou se,
em sua própria maneira, ela já tinha a resposta.
— Meg? — Simon esperou até que ela olhou para cima. — Eu
tenho algo para te mostrar.

102
CAPÍTULO 9
Windsday, Juin 6

Jesse Walker observou Shelley Bookman entrar em sua loja de


uma forma que fez Jesse pensar em histórias onde a heroína estava em
busca de pistas e geralmente acabava com um monte de problemas. —
Você não deveria estar na biblioteca?
— Um dos meus ajudantes está cuidando do balcão, — Shelley
respondeu, correndo até onde Jesse estava colocando preços nos
produtos enlatados. — Isso veio para você. Você me pediu para monitorar
seu e-mail, e este chegou dele, com um pedido para que passemos uma
cópia para Joe Wolfgard.
— O que é isso? — Jesse pegou o envelope de Shelley e observou
o tremor nas mãos da outra mulher. Ela abriu o envelope e retirou dois
pedaços de papel.
A primeira imagem deixou seu estômago embrulhado, mas ela
estudou os bisões mortos e as patas sangrentas delineadas pontilhando
as carcaças, como se fossem imagens pontilhadas nos desenhos onde as
crianças poderiam pintar sobre uma folha de papel.
— Eu quero mostrar isso para Tobias. — Jesse colocou essa foto
de volta no envelope. — Ele estava lá fora esta manhã com Joe
Wolfgard. Ele pode dizer se esta imagem é sobre nós.
O retrato da mulher adulta com cicatrizes a perturbava de uma
maneira diferente, e deu-lhe a sensação de que ela já tinha visto isso
antes.
O sino acima da porta tilintou. E antes que Jesse pudesse guardar
a segunda imagem, Abigail Burch correu até elas.

103
Abigail e Kelley Burch eram recém chegados à Prairie Gold, tendo
chegado no verão passado. Kelley era ourives, e aprendeu rapidamente
que a maioria das pessoas em sua pequena cidade não podia pagar pelo
tipo de jóias que ele poderia fazer, então ele fazia peças de prata e pedras
semipreciosas e ganhava a vida.
Abigail era mais jovem do que Kelley e tinha olhos azuis e cabelo
loiro morango e uma preferência por vestidos longos de um estilo que a
avó de Jesse usava quando era mais nova. Ninguém perguntava, mas
todo mundo queria saber se Abigail era apenas uma pessoa simples ou
um pouco peculiar, porque ela era a única entre eles que não era uma
Intui. De qualquer maneira, Kelley, que era um Intui, a amava, e isso era
suficiente para o resto deles.
— Jesse? — Abigail sempre soava um pouco insegura e um pouco
sem fôlego. — Você falou para o Lobo que está no comando da... — Ela
acenou com a mão na direção geral das colinas e o
assentamento indigene da terra. — Você poderia perguntar a ele sobre o
sebo?
— Sebo? — Jesse olhou para Shelley.
Abigail concordou. — Eu uso sebo para fazer minhas velas e
sabonetes. Eu faço produtos realmente agradáveis para velas e
sabonetes.
— Você faz, — Shelley concordou. — Eu comprei alguns.
— Sebo, Abigail? — Jesse solicitou, esperando mais explicações.
— Kelley ouviu falar sobre os bisões mortos, e ele passou a
informação para Floyd Tanner, para ajudar. Normalmente, eu tenho que
comprar a gordura quando as ovelhas ou o gado são mortos devido à
carne, mas eu comecei a pensar sobre os bisões. Eles têm gordura
também, não? E eu acho que alguns deles vão para o lixo? Então eu
queria saber se eu poderia colher alguma gordura? Se o bisão tiver
gordura?
O pulso esquerdo de Jesse começou a doer. Ela tinha intuições
sobre todos em Prairie Gold, e na maioria das vezes era apenas um
sentimento leve sobre a pessoa. Mas quando seu pulso doía, era um

104
aviso, e ela não podia ignorar esses avisos. — Vou perguntar ao Sr.
Wolfgard. Mas você não deve sair a campo e tentar colher a gordura por
si mesma. Há muitos predadores de todas as formas e tamanhos lá fora
festejando. Já que Kelley está ajudando Floyd, ele poderia perguntar se
pode coletar um pouco para você experimentar.
Abigail deu um sorriu para os dois. Então ela olhou para a foto na
mão de Jesse. — O que é isso?
— Apenas uma imagem que alguém enviou para mim.
— É uma mulher lendo cartas de tarô? Eu lia cartas de
tarô. Minha avó lia cartas de tarô. Ela deu suas cartas para mim quando
ficou cansada, mas eu comprei um conjunto para mim quando eu
estava... Viajando. — Abigail estudou a imagem. — Por que essa mulher
tem tantas cicatrizes?
— Eu acho que ela é uma Cassandra de Sangue.
— Como aquelas meninas que... — Abigail piscou. — Por que ela
precisa de cartas de tarô?
— Não é tarô, — Jesse disse suavemente. — Algo próximo. Algo
que eu quase posso lembrar; eu posso ver seus conjuntos de cartas?
— Certo. Vou trazê-las. — Abigail correu para fora da loja, quase
trombando com Tobias enquanto ele tentava entrar.
— Preciso de bebidas frias. O que quer que você tenha, — ele
disse.
— Por que eu não encho um engradado enquanto você conversa
com Tobias? — Shelley disse.
— Falar comigo sobre o quê? — Tobias enxugou o rosto com a
manga.
— Sobre isso. — Jesse pegou a imagem dos bisões de dentro do
envelope e viu seu filho ficar pálido. — Se parece com isso?
Tobias abanou a cabeça. — Mãe, você não pode mostrar esta
imagem por aí.
— Fui convidado para dar a Joe Wolfgard. Você e Shelley são os
únicos na cidade que a viram. Os únicos que irão vê-la. — Ela queria
esfregar a dor em seu pulso, mas ele saberia que ela estava tendo uma

105
sensação ruim, e por vezes, ele colocava a mão contra suas costelas do
lado direito quando estava sentindo algo forte. — O que o assusta sobre
isso?
— Não posso dizer.
— Não pode ou não quer?
Tobias deu-lhe um olhar duro. — Não. Truman e eu vimos algo
nesta manhã, algo que os humanos não costumam ver e viver para contar
a história.
Jesse olhou para a marca de uma pata sangrenta que era
diferente das menores de Lobos, pintadas sobre os bisões. — Tudo bem,
Tobias. Eu ainda tenho que dar a imagem para Joe Wolfgard. — Ela
hesitou. — Abigail Burch perguntou se ela poderia pegar alguma gordura
dos bisões para fazer suas velas e sabão.
— Mamãe... — Tobias não continuou, e Jesse ouviu o tique-tique-
tique-taque do seu velho relógio. — Eu vou perguntar, mas certifique-se
de que Abigail e Kelley saibam que não podem ficar vagando por aí
sozinhos.
Shelley colocou o engradado em cima do balcão, cheio de garrafas
de suco e refrigerante. — Imagino que Floyd tenha água.
— Ele tem. Obrigada Shelley. — Tobias levantou a caixa, deu um
olhar a Jesse que era ao mesmo tempo duro e pedinte, em seguida, saiu
da loja.
— Problema? — Perguntou Shelley.
— Pode ser. — Jesse colocou as duas fotos no envelope e as
escondeu debaixo do balcão quando Abigail retornou.
— Eu trouxe os dois conjuntos de cartas, — Abigail disse
colocando dois pacotes embrulhados com seda sobre o balcão.
Não eram cartas de tarô, Jesse pensou quando Abigail lhes
mostrou as cartas de sua avó, em seguida, fez uma leitura para Shelley
com suas próprias cartas. Não era tarô, mas algo similar. Algo que eu já
vi antes.
— Um encontro com um estranho cheio de perigos e escuridão. —
Shelley observou Abigail apontar para o outro lado da rua em direção a

106
sua própria pequena loja. Em seguida, ela bufou. — Qual a probabilidade
de isso acontecer aqui em Prairie Gold?
— Você não teve uma intuição? — Jesse desejava colocar um
pouco de gelo em seu pulso, que agora estava latejante.
— Nada. — Shelley deu-lhe um olhar curioso. — Você já teve?
— Você precisa voltar antes que o seu ajudante fique entediado e
comece a reorganizar os livros de novo. — Já que os ajudantes de Shelley
eram geralmente as crianças mais velhas que gostavam de livros e que
queriam ganhar dinheiro para doces, elas tendiam a ser responsáveis até
certo ponto. — Faça alguma pesquisa para mim.
— Você quer o seu próprio conjunto de cartas de tarô? — Shelley
brincou.
— Eu quero saber quem os faz. Eu particularmente quero saber
se qualquer empresa Intui confecciona algo assim ou mesmo parecido
com estas cartas.
— Você teve uma intuição?
Sua visão esmaeceu por um momento, uma sensação terrível. —
Sim, eu tive uma intuição.

107
CAPÍTULO 10
Windsday, Juin 6

Jean colocou as mãos de cada lado da pia do banheiro. Os


Gardners, a família Simple Life que lhe permitia usar a pequena cabana
de hóspedes, não comentavam quando viam as evidências de corte, mas
ela sabia que eles relatavam a alguém.
Alguns dias, ela conseguia resistir à necessidade de se cortar
quando estava do lado de fora da cabana, observando as atividades ao
redor da fazenda, ouvindo os sons de crianças brincando. Alguns dias,
ela conseguia resistir, mas hoje, uma cicatriz antiga coçava tanto que
queimava.
Era perigoso cortar uma cicatriz antiga e ter novas imagens se
sobrepondo a visão anterior. Mais perigoso ainda atravessar as cicatrizes
antigas, pois sempre embaralhavam as imagens de várias profecias. Tal
método era raramente utilizado. E frequentemente deixava uma profetisa
insana ou quebrava sua mente de alguma outra forma. E essa cicatriz
não era um corte verdadeiro. Este foi o dano que ela fez em si mesma,
enquanto os homens do Controlador estavam batendo nela a fim de
obterem sangue para fazer a droga chamada Nocaute de Lobo.
Ela tinha que se cortar. E pior, tinha que se lembrar do que iria
ver.
Jean pegou sua navalha. Então ela enrolou uma toalha limpa e a
mordeu como uma mordaça. Finalmente, ela cuidadosamente cortou a
cicatriz antiga e colocou a navalha para baixo, um momento antes de
sentir a agonia enchendo seu corpo e as imagens enchendo sua mente.

108
Duas imagens, se repetindo mais e mais. Aquelas que ela já tinha
visto antes, enquanto os homens do Controlador a subjugavam.
Ela estava em um morro, olhando para um grande mapa de
Thaisia, seus limites riscados na terra. Havia pequenos pontos espalhados
por todo o continente. Na primeira imagem, alguns pontos estavam juntos,
talvez indicando que eram cidades humanas com um monte de gente. Na
maioria dos lugares, não havia um único ponto. Provavelmente um
marcador para uma cidade. Havia muitos pontos. Muitas concentrações de
pontos ao longo de lugares em ambas as costas. Lugares humanos que ela
nunca teria imaginado que existiam.
A segunda imagem. O mesmo mapa de Thaisia sendo observado a
partir da mesma colina. Então alguns pontos estavam queimando
agora. Muito poucos pontos. Mas um ponto ainda ardia em Lakeside, e
outro queimava na Ilha Grande. Apenas dois pontos queimavam em
Toland, em vez de muitos.
Alguns pontos queimavam no Centro-Oeste e Noroeste, mas sua
posição não correspondia aos nomes de qualquer uma das cidades que ela
tinha aprendido.
Jean cuspiu o pano, em seguida, o apertou contra o corte. Ela
estava no chão do banheiro, e seu corpo doía muito para tentar se
levantar.
Ela devia anotar o que viu e compartilhar com Meg? Ela deveria
sobrecarregar a profetisa de sangue que, como a Guia, estava tentando
ajudar as demais meninas a permanecerem vivas?
— O Lobo de Meg, — Jean sussurrou. Sim. Ele era o líder do
Courtyard de Lakeside. Ele a salvou porque Meg lhe pediu para ajudá-
la. Talvez saber que Lakeside poderia sobreviver ao que estava por vir, o
ajudasse a fazer as escolhas que garantiriam que a cidade sobrevivesse.
Instável, Jean levantou. Ela lavou e enfaixou o corte, em seguida,
limpou a navalha e comeu uma pequena refeição. Tendo devidamente
cuidado de si mesma, ela se sentou e escreveu uma carta a Simon
Wolfgard.

109
****

Para: Simon Wolfgard e Vladimir Sanguinati


Os Intui no Centro-Oeste e Noroeste já ouviram falar sobre bisões
sendo mortos em dezenas de lugares ao longo dessas regiões. Não há
relatos sobre quem está matando esses bisões no noticiário; no entanto,
houveram relatos de gado ou ovelhas sendo mortos, e entrevistas de
fazendeiros ultrajados, e moradores das cidades vizinhas dando
entrevistas. Todo mundo ignorou o simples fato de que os Lobos, as
Panteras e os Ursos não atiram em suas presas, de modo que os animais
não foram mortos pelos indigenes da terra. Talvez alguns de vocês
devessem aprender a usar um rifle. Seria menos trabalho para pegar o
jantar, e muito provavelmente sem serem expulsos e nem pisados.
Recebemos um pedido de Jesse Walker, que dirige uma loja em
Prairie Gold. Ela diz que Vlad deu seu consentimento para ela e a
bibliotecária Shelley serem incluídas em nossos e-mails sobre as
Cassandras de Sangue. Por favor, confirme.
Recebemos as imagens. Gostaríamos de poder agradecer por elas.
-Steve Ferryman

****

Para: Steve Ferryman


O pedido de Jesse Walker está confirmado. Queremos promover
ligações entre Lakeside, Ilha Grande, Prairie Gold e Sweetwater.
Você pode agradecer a Jackson Wolfgard pelas fotos. Já que uma
profetisa de sangue fez os desenhos; estamos considerando-os como um
aviso. No entanto, Simon gostaria de alguma informação, se o seu povo
pode ter alguma intuição sobre as cartas de adivinhação.
-Vlad Sanguinati

110
****

Para: HPU, Discípulo de Lakeside


O primeiro estágio da limpeza urbana revelou as áreas
problemáticas. Prosseguir com a segunda fase no momento designado.
NS

111
CAPÍTULO 11
Thaisday, Juin 7

Joe Wolfgard ajudou Tobias Walker a levantar a quinta caixa de


transporte de carne de bisão no pequeno caminhão refrigerado da
fazenda de gado leiteiro que Tobias tinha estacionado do lado de fora do
açougue de Floyd Tanner. Ele não entendia por que toda a comunidade
Prairie Gold estava orgulhosa de ter tal caminhão, mas ele podia apreciar
sua utilidade em mover o alimento que iria estragar durante o transporte
nos dias em que Verão governava a terra.
Além disso, Vlad já tinha feito algumas das coisas que ele
prometeu e Jesse Walker e Shelley Bookman estavam agora na lista de
informações particulares de Steve Ferryman. Shelley também configurou
uma conta de e-mail para ele na biblioteca, para que Simon e Jackson e
Vlad pudessem enviar-lhe notícias se não quisessem enviar um
telegrama, que teria de ser levado até o assentamento indigene da terra,
ou chamá-lo na loja de Jesse Walker para receber uma mensagem dessa
forma.
No assentamento indigene da terra onde ele vivia antes de morar
aqui, havia uma cabana de comunicação com um telefone e um
computador, além de ser perto de uma aldeia humana com alguma
estrutura de postes de comunicação, onde eles poderiam usar telefones
celulares, pelo menos por algum tempo. Mas Prairie Gold era um lugar
mais simples, e a comunicação não era tão direta. O
assentamento indigene da terra daqui não tinha um telefone ou
computador, não tinha os postes e fios que faziam esse trabalho. Os

112
Outros não sentiam a necessidade de tais coisas. Mais importante, os
Anciões não queriam essas coisas humanas tocando suas colinas.
Mas ter uma maneira de se comunicar com outros indigenes da
terra além do alcance de um uivo era importante, agora que os humanos
estavam causando problemas em tantos lugares. Ele precisaria mastigar
o seu problema por um tempo. Será que o Eaglegard estava disposto a
agir como mensageiros se ele precisasse enviar uma mensagem
rapidamente para outra parte de Thaisia ou receber uma mensagem de
Simon ou Jackson? Se não, então o Crowgard ou Ravengard certamente
gostariam de serem os primeiros a terem notícias.
Será que os humanos que trabalhavam em escritórios telegráficos
escolhiam esse trabalho porque eles tinham o mesmo desejo dos Corvos
de saber as notícias primeiro?
— O que você acha? — Perguntou Tobias.
Joe piscou, e então se lembrou da questão que Tobias fez
enquanto eles carregavam a carne no caminhão. — Gordura de bisão? Os
humanos comem isso?
— Não, Abigail quer tentar fazer velas e sabão com essa
gordura. Ela geralmente compra o sebo de Floyd Tanner quando um boi
ou ovelha é abatido para a carne, mas há um grande número de carcaças
lá fora, e a gordura nelas está indo para o lixo, então ela perguntou se
poderia ter alguma.
Não havia muitos cadáveres deixados lá fora agora pensou
Joe. Um Lobo podia cobrir cem milhas em um dia. Os Anciões poderiam
cobrir ainda mais terreno. Muitos deles desceram das colinas para
consumir a carne disponível, em vez de caçar. E ele suspeitava que eles
estivessem suficientemente curiosos e queriam dar um olhar mais
cuidadoso nos Intui que se instalaram perto da extremidade Sul de suas
montanhas, e ver os humanos que estavam trabalhando duro para serem
amigáveis com os indigenes da terra.
— Ela iria dar-lhe algumas das velas e sabão, como uma espécie
de pagamento pelo sebo, — acrescentou Tobias.

113
Isso era justo. Velas eram úteis às vezes. Ele teria que ver o
sabão. Os outros construíram lugares onde eles faziam o sabão que
preferiram usar quando estavam em forma humana. Não era fedido como
os aromas adicionados e não sujavam a terra. Ele teria que perguntar a
Jesse Walker se ela tinha esse sabão em sua loja. Mas se Abigail Burch
pudesse fazer sabonete aceitáveis, eles não teriam que comprá-los de
outra parte de Thaisia.
— Podemos pegar um pouco de gordura em nosso caminho de
volta para o trem, — Joe disse.
Tobias fechou o caminhão. — Falando do trem, é melhor
irmos. Precisamos parar para abastecer antes de descarregar essa carne.
— Ei, Tobias!
Tobias acenou para o homem que estava caminhando na direção
deles, vindo da direção da loja central. — Tom.
Tom Garcia sacudiu um polegar na direção da loja. — Jesse disse
que você deve parar na loja antes de descarregar isso. Ela tem uma cesta
de alimentos e bebidas para os dois que você deve levar com você.
— Aprecio isso. Precisamos parar lá de qualquer maneira para
pegar alguns recipientes para coletar a gordura para Abigail.
Tom acenou para Joe e entrou no açougue, onde cada humano
adulto disponível ajudou Floyd a lidar com o excesso de carne de bisão.
— Qualquer coisa que você precise fazer antes de irmos? —
Perguntou Tobias.
— Não. — Os demais indigenes da terra já sabiam que ele estava
indo para a estação de trem com Tobias, e a abundância de Falcões,
Águias e Corvos iria observá-los do céu.
Eles pegaram a comida e as bebidas com Jesse, encheram o
tanque de gasolina no caminho para fora da cidade, e iniciaram a viagem
de duas horas para Bennett.

****
— Tem certeza que não está procurando cartas de tarô?

114
Jesse estava perdendo a paciência. Shelley tinha encontrado três
empresas Intui que, entre outras coisas, faziam as cartas de tarô e os
cartões de adivinhação, que como ela já tinha falado, não eram
exatamente a mesma coisa. Esta era a terceira empresa. As outras duas,
ou não sabiam do que ela estava falando ou não estavam dispostas a
admitir nada a ninguém, o que a deixou impressionada por ainda estarem
no ramo de negócios. Mas ela tinha a sensação de que a confiança se
tornou uma mercadoria mais preciosa do que o ouro.
— Eu tenho certeza, — ela disse à mulher ao telefone. — Eu
lembro de ter visto baralhos de cartas que foram usados por algumas
mulheres para ter uma noção de algo que aconteceria, mas isso foi há
quatro décadas, e eu estou tentando descobrir se essas cartas ainda
estão sendo feitas.
Silêncio. Então — Que tipo de mulher?
— Uma profetisa de sangue. Eu estou procurando essas cartas
para uma Cassandra de Sangue. — Não era bem verdade, mas perto o
suficiente.
— Você tem uma daquelas meninas morando na sua
comunidade?
— Não, mas estamos procurando ajudar uma ou duas das
meninas. — Outra verdade, já que foi um pensamento
passageiro. Quando a outra mulher não disse nada, Jesse continuou. —
O líder do assentamento indigene da terra em Prairie Gold tem conexões
com essas duas meninas. Uma das meninas teve uma visão sobre
cartões.
Um silêncio crepitante. — Deuses, — a outra mulher respirava
rápido. — Você está procurando ajudar a Guia?
O pulso esquerdo de Jesse latejava. — Talvez eu esteja. — agora
era sua vez de hesitar. — Não há realmente um baralho de cartas assim,
não é?
— Não oficialmente. Ainda não. Ontem eu peguei alguns baralhos
de cartas de adivinhação do nosso estoque. Eu tive a sensação de que

115
uma nova plataforma seria necessária, mas eu não seu o que é
necessário.
— Talvez você não seja a única que deva decidir. Talvez você seja
aquela a produzir um baralho especial que será utilizado pela Guia. —
Jesse pensou por um momento. — Você poderia produzir um baralho de
cartas com uma arte nova?
— Claro, mas não temos a arte nova.
Ainda não. — As plataformas que você pegou ontem. Você deve ter
sido atraída por elas por uma razão; você pode me enviar duas de cada
uma dessas plataformas?
— Sim, eu poderia. — A voz da mulher suavizou. — Sim, eu
poderia.
Jesse deu à mulher as informações de endereçamento para Prairie
Gold, agradeceu e desligou. Então ela enfiou os dedos em seu cabelo e
puxou com força suficiente para aliviar um pouco da tensão em seu couro
cabeludo.
Preciso abastecer, ela pensou estudando as prateleiras em sua
loja e tentou ignorar a crescente dor em seu pulso esquerdo. Conservas,
produtos secos, tudo em um frasco que vai durar até...
— Até o quê? — O som de sua própria voz a assustou, a fez parar
e considerar por que seus pensamentos tinham saltado de cartões de
adivinhação à certeza de que ela precisava acumular suprimentos, e que
ela precisava fazer isso agora.
Quando ela olhou ao redor da loja, seu olhar descansou nas
prateleiras onde ficavam os livros. Não era mais possível comprar livros
das editoras. Não era mais possível comprar livros da livraria em Bennett.
Alguns poderiam argumentar que os livros eram um luxo, não uma
necessidade. Ela não estava de acordo, mas poderia ser um teste para
privar uma comunidade isolada das mercadorias que necessitavam? As
pessoas ficariam infelizes com a perda de livros novos para ler, mas não
com raiva. Pelo menos não no início. Mas o que aconteceria se as coisas
que eles consideravam mais necessárias de repente não pudessem ser

116
compradas? Coisas como comida e roupas e, deuses, mesmo algo tão
básico como papel higiênico?
Dois anos atrás, eles tiveram um inverno áspero, ficaram isolados
por várias semanas durante uma série de tempestades ferozes. Ela teve
uma intuição de estocar coisas naquele ano, e acabou estocando
suprimentos no final do outono, ignorando as provocações de Tobias e
Shelley sobre como se tornar um rato de produtos enlatados e de papel
higiênico. Em seguida, as tempestades atingiram a comunidade algumas
semanas mais tarde. No momento em que a estrada conseguiu ficar
limpa, e quando poderiam dirigir a Bennett para abastecer, ela tinha
apenas meia dúzia de latas de sopa e duas caixas de espaguete nas
prateleiras, além de dois rolos de papel higiênico porque vendeu
racionado, de modo que cada família teria algum.
Quando ela olhou para o estoque em sua loja, ela teve a mesma
sensação, só que desta vez muito pior. Muito pior.
Pegando o caderno que ela usava para manter o controle de itens,
ela começou a rever as prateleiras e fazer uma lista. Ela tinha completado
a seção de produtos secos quando Shelley correu para dentro da loja.
— Joe Wolfgard recebeu um e-mail, — disse Shelley. — De Vlad
Sanguinati!
— Joe foi para Bennett com Tobias, — Jesse respondeu.
— Você acha que devemos lê-lo?
— Não.
— Eu posso acessar o e-mail e-
— Não.
— Mas pode ser importante!
Jesse virou e olhou para Shelley. — Mesmo que seja importante,
não há nada que alguém possa fazer sobre isso até que Joe e Tobias
voltem.
— Mas poderíamos olhar-
— Só porque você fez a conta para ele, não significa que tem o
direito de ler seu e-mail ou até mesmo verificar sua conta para ver se ele
recebeu algum. — A voz de Jesse voltou afiada. — A biblioteca e os

117
correios são os únicos lugares em Prairie Gold que têm
computadores. Qualquer pessoa que queira se comunicar através de e-
mail tem que usar essas máquinas. Você lê o e-mail de todos que usam
os computadores na biblioteca? Você viola a confiança de seus amigos e
vizinhos?
— Claro que não! Mas isso é diferente!
— Não, não é mesmo. O fato de que Joe Wolfgard está
compartilhando com a gente, é mais comunicação do que já tivemos com
os indigenes da terra, e Shelley, nós não podemos perder o luxo dessa
confiança agora. Não agora. — Jesse envolveu a mão direita ao redor de
seu pulso esquerdo. — Não agora.
— Você está certa, — disse Shelley, soando sem graça enquanto
olhava para o pulso de Jesse. — Você está certa. Mas você não quer saber
do que eles estão falando?
— Eu acho que é melhor para todos nós se não soubermos.

****

— Nós preenchemos a papelada, os recipientes estão claramente


identificados, e pagamos o transporte de duas centenas de libras que
exigem refrigeração, — Tobias disse com veemência.
— Como dissemos. — Um dos tripulantes deu a Tobias e Joe um
sorriso oleoso. — O vagão refrigerado já está cheio para esta viagem.
Permaneça no controle, Joe pensou. Não mude. E não morda os
funcionários do trem. Não vai ajudar.
Tobias apontou para o vagão da estrada de ferro que estava
soprando nuvens de ar frio para fora da porta aberta. — Há muito espaço
lá para as nossas cinco caixas.
O funcionário fechou a porta. — Estamos totalmente lotados.
<Lobo?> Falou Ar. <Você precisa de ajuda?>
A voz feminina fazendo a oferta o surpreendeu. Ele nunca lidou
com qualquer um dos Elementais diretamente, até a noite que se

118
reuniram para atacar o Composto do Controlador. Como muitos deles
moravam em Thaisia; será que havia menos no resto do mundo? Havia
vários deles chamados de Ar? Dez mil? Mais? Sendo uma forma
de indigenes da terra, haveria machos, como havia fêmeas. Haveria
algum lugar no país selvagem onde se reuniam para acasalar e criar seus
filhotes? Havia algum vale exuberante onde seus corcéis davam a luz aos
potros, onde cresciam até que suas naturezas fossem reveladas? Um
potro nascia com o dom de um pequeno tornado apenas para aprender o
que seria ao crescer, e se tornar tão letal quando fosse um garanhão?
Os Elementais se chamavam pelo nome de seu elemento, e não
ofereciam nenhum outro nome, pelo menos não a ninguém além de sua
própria espécie. Assim, enquanto essa mulher se chamava Ar, ele achava
que ela não esteve no Composto caçando o Controlador, e ele tinha
certeza de que ela não era a Elemental que morava em Lakeside.
Joe considerou a pergunta. <Queremos enviar um pouco de carne
para Simon Wolfgard e Meg Corbyn no Courtyard de Lakeside, mas os
seres humanos estão dizendo que o vagão com o ar frio não tem espaço
para as caixas de carne.>
<Ouvimos que a Meg vive perto de Etu. Ela gosta desta carne?>
<Ela nunca provou bisão, por isso vai ser um deleite se não estragar
antes que atinja Lakeside.>
Um vento leve chicoteou ao redor da plataforma. A porta lateral
do vagão abriu. <Coloque a carne para a Meg neste campo,> disse Ar.
<Esse vagão de bagagem não é frio.>
<Será.>
— Vamos fazer o nosso embarque neste vagão, — Joe disse a
Tobias. — Vamos colocar as nossas caixas lá dentro.
— Mas não é-
— Faça, — Joe rosnou.
Eles colocaram as cinco caixas de carne dentro do vagão de
bagagem vazio, deixando as caixas ao lado da porta.

119
Os funcionários da estação sorriram até que a fêmea que parecia
estar usando um vestido longo feito de nuvens atravessou a plataforma
com um pônei branco e gordinho, com as pernas meio arqueadas.
— Deuses, — Tobias sussurrou.
— Ssh, — Joe avisou. <Obrigado por sua ajuda.>
Ela sorriu para ele. Então ela olhou para os funcionários, e seu
sorriso mudou para algo afiado e feral. Ela e o pônei entraram no vagão
de bagagens. Ela fechou a porta.
— Que diabos foi isso? — Um dos carregadores de bagagens disse.
Joe não respondeu. Sua audição afiada de Lobo pegou os sons no
vagão de bagagem que os humanos não ouviam ou estavam optando por
ignorar - os sons de uma tempestade em formação.
— Todos a bordo! — O condutor chamou.
— Espere! — Um homem correu para a plataforma com um
carrinho cheio de caixas. — Estas precisam ser carregadas.
— Se você colocá-las no vagão de bagagens, elas vão molhar, —
Joe disse fazendo um esforço simbólico para ser útil.
— Você e o amante do lobo podem ir se fuder, — um carregador
estalou.
— Por quê? — Joe perguntou, não vendo a conexão entre as
bagagens e o acasalamento.
Ninguém respondeu a pergunta, porque o carregador puxou a
porta do vagão de bagagens, e o vento e a neve lhe deram um tapa na
cara tão forte que ele deu vários passos para trás.
— Deuses, — Tobias disse novamente.
— Não, isso é Ar e Nevasca, — Joe disse. — Eles vão manter o frio
para a carne. Vamos. É hora de ir. — Ele se afastou, mas teve que esperar
Tobias parar de olhar para o vagão de bagagens.
No caminho de volta para Prairie Gold, ele se perguntou se deveria
ligar para Simon para dizer-lhe que os Elementais estavam interessados
em saber que Meg Corbyn gostava de carne de bisão.

****
120
Seus passos marcavam a terra ao redor de Bennett com um
silêncio terrível.
Por horas eles circularam a cidade, farejaram ao redor da estação
ferroviária, ouviram a conversa dos pequenos predadores bípedes. Eles
não entendiam muito das conversas. Ao contrário dos sons feitos por
aqueles que ajudaram os shifters, essa conversa era de pouco interesse
para os dentes e as garras de Namid. Mas eles ainda ouviam. E
observavam. E eles aprendiam.

****

Para: Jesse Walker

A remessa de livros vai chegar à estação de Bennett em Watersday,


Juin 9. Por favor, mande alguém pegar os pacotes. Além disso, por favor,
providencie o transporte e motel para a acomodação de duas pessoas que
vão ficar em Prairie Gold por alguns dias. Quartos separados são
preferênciais.

-Vladimir Sanguinati

Para: Simon Wolfgard

Cinco caixas de carne de bisão estão a caminho para você. Espero


que sua Meg goste da carne, já que Ar e Nevasca fizeram um esforço
especial para mantê-las a frio. Além disso, uma fêmea humana sabe fazer
sabão e velas com a gordura de bisões. Vou enviar-lhe algumas.

-Joe

121
CAPÍTULO 12
Firesday, Juin 8

Simon estendeu uma carta quando Vlad entrou no escritório de


HBL. — Leia isso.
Vlad pegou a carta e olhou para a assinatura. — É de Jean.
— Sim. Ela enviou para mim. Leia.
Enquanto Vlad lia a carta, Simon lia o e-mail de Joe. Sua boca
salivou com o pensamento de degustar bisão novamente, mesmo se a
carne não estivesse fresca no corpo do animal. Ele realmente esperava
que Meg gostasse.
Ele olhou para a tela do computador. Ele não tinha certeza de
quanto de agricultura, ou que tipo de agricultura estava sendo
considerada na Comunidade River Road para ser desenvolvida pelo
Courtyard de Lakeside e os Intui em Porto Ferryman. Claro, a terra ao
redor do lago Etu não era como a pastagem encontrada no Centro-Oeste,
mas havia grama. E ele não estava pensando em um rebanho de bisões.
Apenas alguns em River Road, alguns no Pátio. Carne substancial.
Mesmo o cervo, que já havia no Pátio, não teria grama suficiente para
alimentar um punhado de bisões. Será que não havia? Claro, seria mais
seguro manter poucos bisões e deixá-los crescer, já que eles estavam
aqui. Assim, eles teriam de ser alimentados por alguns anos antes de
terem o tamanho suficiente para ser a refeição de todos os carnívoros que
moravam aqui. Mas um bisão iria alimentar a todos durante vários dias.
Algo para pensar.
Vlad afundou na cadeira do outro lado da mesa. — Quando lhe
foi dito para considerar quanta humanidade os indigenes da

122
terra deveriam manter, nós pensamos que poderia significar as coisas
que os humanos fazem. Mas esta profecia soa como algo que vai
acontecer que irá causar uma série de eventos em cidades humanas em
Thaisia.
— Eu sei. — Simon afastou a distração feliz de um bisão fresco.
— Mas Lakeside e Ilha Grande irão sobreviver.
— A profecia não é uma garantia de futuro.
Não, não era uma garantia. Escolhas poderiam mudar o resultado
do futuro.
Vlad colocou a carta sobre a mesa. — Eu gostaria de mostrar essa
carta para o avô Erebus e Stavros. Blair vai buscá-lo na estação. Tolya
veio com ele de Toland e vai viajar com Nyx para Prairie Gold. Elas vão
entregar os livros para Jesse Walker e Shelley Bookman, além de
conversar com Joe Wolfgard.
— Nós não temos muito em nosso estoque, — Simon murmurou.
— Já mandei reabastecer. Ainda temos uma abundância de livros
disponíveis para os Lobos Addirondak terem a experiência de comprar
em uma livraria. Além disso, eu mandei para Jesse Walker o restante dos
livros sobre beijos, já que não podíamos enviar muito mais coisas. — Vlad
lhe deu um longo olhar. — No meu inventário, não encontrei alguns dos
livros que havia deixado. Você sabe o que aconteceu com o resto, não é?
— Oh. Bem. Eu não queria me livrar de todos eles no caso de Meg
querer ler esse tipo de história. Não agora, mas em algum momento.
— Eu acho que seria inteligente da parte de um macho humano,
se essa for a maneira como as fêmeas humanas normalmente respondem
ao acasalamento, lendo uma história para fornecer informações úteis.
Bem, claro. Algo assustador aconteceu com Meg no Composto,
por isso, um macho humano nu ainda era uma confusão para ela. Mas
isso não significava que ela não ia entrar no cio um dia e ia querer um
companheiro. Não havia razão para não ter alguma compreensão de
como seria um macho mais atraente do que outro, quando uma mulher
queria fazer algo mais do que apenas ter um passeio no lado selvagem.

123
— Por que Stavros está vindo? — Simon perguntou, mudando de
assunto.
Outro longo olhar de Vlad. — Ele tem coisas a discutir com o avô
e com a Associação Empresarial.

****

Ele era o líder do Courtyard de Lakeside já há vários anos, mas


até esta noite, Simon nunca tinha posto uma pata no interior das
Câmaras, a parte do Pátio onde os Sanguinati residiam. Havia
abundância do uso da terra e da água para os cervos, patos, gansos e os
perus selvagens. Os Falcões, Corvos e as Corujas poderiam sobrevoar
sobre esta parte do Courtyard, mas sobrevoar era apenas o que eles
faziam.
Meg foi a primeira a receber permissão para entrar nas Câmaras,
e caminhar até a porta da casa de Erebus Sanguinati para deixar um
pacote. Por causa de Meg, o sobrinho de Simon, Sam, tinha ficado no
interior das câmaras, protegido por Erebus enquanto Meg levava o
inimigo para longe do filhote, um ato de bravura que quase a matara.
Eles dirigiram até um dos portões com cercas pretas
ornamentadas. Simon, Elliot, Tess e Henry saíram da minivan e
esperaram na entrada. A lua cheia estava diminuindo, mas para os olhos
de um Lobo, ele conseguia ver a fumaça fluindo na direção deles. Quatro
Sanguinati se moveram para ambos os lados do portão. Apenas Vlad
mudou para a forma humana. Ele abriu o portão, um convite silencioso.
O cabelo verde de Tess estava bem enrolado, um sinal de que ela
se sentia desconfortável.
Eu acho que isso significa que até um Ceifador não poderia
sobreviver a uma luta com vários Sanguinatis, Simon pensou enquanto
seguia Vlad por um caminho curvo, passando por uma ponte elegante
até um pavilhão escondido da vista pelas árvores ao redor.

124
Stavros Sanguinati, o solucionador de problemas de Toland do
Pátio, já estava lá dentro com Erebus Sanguinati.
— Bem-vindo, — Erebus disse. — Sentem. Fiquem
confortáveis. Temos algumas bebidas. Vladimir?
<Podemos aceitar refrescos?> Elliot perguntou a Simon.
<Não.> Estar ali já era algo sem precedentes. Eles iriam consumir
tudo o que fosse oferecido.
— Nenhum de nós gosta de desfrutar das bebidas que os seres
humanos gostam; então eu trouxe algumas garrafas de sumo de maçã e
fiz uma jarra de limonada, — Vlad disse.
— Você sabe fazer limonada? — Perguntou Tess, olhando para as
jarras.
— Depois de sofrer um vigoroso debate entre Merri Lee e Ruthie
sobre quanto de limões e quanto açúcar fazia uma boa limonada, eu não
posso dizer que sei como fazê-lo, só segui as instruções que eu
eventualmente recebi.
Tess riu. — Eu vou beber.
— Claro, — disse Simon.
Vlad serviu as bebidas para todos. Erebus e Stavros tomaram um
gole educado e colocaram os copos de lado. Assim como Henry. Mas Tess
parecia desfrutar da limonada, e mesmo que nunca fosse substituir o
bom gosto da água, Simon decidiu que era tolerável e algo que ele beberia
se Meg decidisse fazer.
— Stavros tem coisas para nos dizer, — disse Erebus.
— Sobre o Sanguinati? — Perguntou Simon. Ele não conseguia
pensar em qualquer outra razão para não se reunirem no escritório do
advogado, a menos que Stavros quisesse ter certeza de que ninguém iria
ouvir o que ele tinha a dizer.
— Sobre muitas coisas, mas, sim, sobre os Sanguinati e o
Courtyard de Toland, — Stavros respondeu.
— E a polícia de Toland? — Scaffoldon, um Capitão da polícia na
Unidade de Investigação de Crimes de Toland, desapareceu logo após o

125
assassinato da mãe de Lizzy, Elayne. A mãe de Elayne também
desapareceu na mesma época.
Será que o Tenente Montgomery percebeu que Stavros foi à razão
pela qual os humanos que representavam uma ameaça à sua filha já não
eram uma ameaça?
— Eles não são nossa preocupação. — Stavros fez um gesto de
desprezo com a mão. — Até agora não há relatos no rádio ou na televisão
sobre os bisões mortos por tiros. Isto não é surpreendente; tal coisa não
é de interesse para os seres humanos, especialmente em uma cidade na
Costa Leste. Algumas lojas em Toland, particularmente aquelas que
fazem negócios com o nosso Pátio, foram alvo de vândalos, assim como
alguns lugares foram alvo aqui. Janelas quebradas, escritas deselegantes
nas paredes e vidros quebrados. Lojas com o adesivo HPU não tiveram
dificuldade em encontrar vidro de substituição ou reparação. Há muitos
proprietários de loja que se recusaram a vender o material para o
conserto.
— Eu tive essa mesma impressão, e conversei com alguns
funcionários do governo, e fui informado que essa dificuldade é a mesma
em todos os lugares, — disse Elliot.
Stavros assentiu. — Tolya e eu estamos acompanhando as
notícias na televisão e rádio, além de ler os jornais humanos. Nicholas
Scratch tem estado estranhamente silencioso sobre o vandalismo. Ele
não fez nenhum discurso sobre esse tema, ou falou sobre com os
repórteres. Isto é curioso, porque ele manifestou opiniões sobre tudo o
mais que conecta um grupo de humanos com os indigenes da terra.
— Não é tão curioso se ele conhecer os humanos do movimento
HPU por trás do vandalismo, — disse Elliot. — Talvez ele tenha deixado
Toland?
— Não, ele ainda está lá, e ainda está se reunido com membros
do HFL. — Stavros tomou um gole de sua limonada, em seguida, colocou
o copo para baixo novamente. — Eu já discuti isso com o avô, e foi
decidido que vamos abandonar o Courtyard de Toland.

126
Simon se esticou, enquanto Elliot, Henry e Tess faziam protestos
sem palavras.
— Os seres humanos estão expulsando vocês? — Ele perguntou
chocado.
— Não os seres humanos, — Erebus respondeu. — Mas Toland é
uma cidade cheia deles. Muitos, muitos seres humanos. Eles cobiçam a
terra que temos nessa cidade.
— Eles cobiçam tudo em Thaisia, — Henry roncou.
O cabelo emoldurando o rosto de Tess ficou vermelho. — Se eles
não se contentam com a terra que já infestam, eles vão se espalhar pelo
continente e consumir tudo.
— Não, eles não vão. — Simon olhou para Vlad. — Mostre-lhes a
carta.
— Eu vou lê-la. — Vlad pegou o papel do bolso de trás, desdobrou-
a e leu a profecia que Jean fez sobre as cidades humanas em Thaisia.
— Tolos, — Henry disse. Ele olhou para Erebus e Stavros. — Se
os seres humanos não estão expulsando os indigenes da terra de Toland,
quem está?
— Enquanto os indigenes da terra estavam distraídos pela morte
dos bisões, e, enquanto os humanos estavam distraídos pelo vandalismo
de lojas não relacionadas com o HPU, uma dúzia de navios deixou três
cidades humanas controladas na Costa Leste. Cinco desses navios
deixaram Toland; os outros navios partiram de outras duas cidades. Eu
não sei o que carregavam, mas acho que deve ter sido algum tipo de
contrabando, porque cada navio transportava barris de veneno, que iam
despejando na água, matando todos os peixes que entravam em contato
com o material.
— Sharkgard? — Perguntou Simon.
Stavros assentiu. — Sim, infelizmente o veneno matou Tubarões
e tubarões. Matou golfinhos. Matou cardumes de peixes. Alguns dos
Sharkgard sobreviveram o suficiente para enviar um aviso. Os navios
foram evitados para evitar mais mortes, mas eles foram seguidos até que
chegaram ao Mar Mediterran e Cel-Romano.

127
— O que acontece agora? — Tess perguntou.
Stavros riu, e foi um som amargo. — Oceano vai vomitar os peixes
mortos nas margens dessas três cidades humanas. Ela vai vomitar a
água envenenada nas ruas das cidades responsáveis pela morte
dos indigenes da terra que moram em seu domínio. E então ela vai dar
aos seres humanos um gosto de sua ira.
— É por isso que os Sanguinatis estão deixando Toland, por que
todos os indigenes da terra estão deixando Toland, — disse Erebus.
— Nós vamos sair em silêncio, — Stavros disse. — A maioria dos
Lobos já foram embora. Eles estão indo até a Costa Norte ou para as
Montanhas Addirondak. Os Falcões, Corujas e os Corvos estão deixando
o Courtyard, como de costume, voando sobre Toland. Mas não podemos
fazer o mesmo, então estamos saindo aos poucos, a cada manhã ou à
noite. Já que os Sanguinatis eram a forma dominante por lá e a menos
vulnerável à ira os Elementais, estamos arrumando as posses que
podemos e estamos usando os caminhões dos indigenes da terra tarde da
noite para mover os itens para outros locais, além de enviar itens
menores com alguém que já está de saída.
— Parece que devemos solicitar tantos livros quanto pudermos
dos editores de Toland, — Vlad disse.
Stavros assentiu. — Eu fiz essa sugestão a vários Pátios.
— Quanto tempo temos?
— Não muito. Os peixes mortos estão começando a chegar à terra.
— Um último pedido. Então — Simon disse. — Depois disso,
compraremos apenas das empresas Intui e dos indigenes da terra que
publicam livros e impressos. Nós vamos comprar deles.
— Nós já compramos com eles, — Vlad disse. — Eles não publicam
muitos livros.
— Eles podem expandir e publicar mais. Além disso, se Oceano
vai atacar pela morte de alguns dos Sharkgard, e despejar o veneno e
parte de sua água, pode não haver quaisquer livros em Toland para
comprar. — Ele olhou para Stavros. — E você? Você... — Ele
parou. Apesar de ser o líder do Courtyard, ele não era o único que deveria

128
oferecer a Stavros um lugar aqui em Lakeside. Não quando Erebus estava
sentado bem ali.
Erebus sorriu. — Haverá muitos nos próximos dias que gostariam
de receber um lugar em Lakeside, mas há também muitos predadores na
mesma terra provocando contendas. No entanto, gostaria que Stavros
tivesse um lugar aqui quando ele não estiver em Hubb NE, vigiando o
governo humano. Eu acho que eles vão precisar ser observados nos
próximos dias.
Simon bebeu o resto da limonada em seu copo. Era sua
imaginação, ou azedou um pouco enquanto ele estava sentado? — Você
não vai contar a qualquer um dos humanos, não é?
— Por que deveríamos? — Stavros respondeu. — Eles trouxeram
isso para si mesmos.
— Nem todos eles.
— Não há nenhum sangue doce em Toland agora — Erebus disse.
— Stavros e o agente do governo, O'Sullivan, as removeram.
— Gostaria de saber se o Tenente Montgomery tem família lá.
Silêncio.
— Ah, — Erebus disse finalmente. — O policial útil. O que você
poderia dizer a ele?
Simon pensou sobre isso. Não há maneira de saber quando
Oceano iria atacar. Se muitos humanos tentassem sair de Toland, para
onde iriam? Exceto as fazendas humanas que forneciam alimentos para
a cidade, não havia qualquer lugar de controle humano entre Toland e
Hubb NE, uma distância de uma hora de trem. Havia apenas o país
selvagem e os indigenes da terra, que, como Oceano, tinham cada vez
menos tolerância com os macacos inteligentes.
— Eu não sei o que eu poderia dizer a ele, — disse Simon.
— O primo do Capitão Burke está visitando, ele vem de Brittania,
— disse Henry. — Não seria estranho perguntar se algum parente do
Tenente Montgomery estaria planejando visitar ele e a Lizzy.
— Meg deve perguntar. Caso contrário, Montgomery vai saber por
que nós estamos tão interessados em seus parentes de repente.

129
Todos concordaram que era uma boa ideia. Meg fazia
perguntas. Ela falava com os seres humanos sobre todos os tipos de
coisas. Ela já até poderia saber se Montgomery ainda tinha parentes em
Toland.
Nada mais a dizer. Não essa noite. Simon queria mudar para Lobo
e ficar um tempo sob o luar. Ele queria se enroscar ao lado de Meg
enquanto ela assistia TV ou lia um livro. Ele queria que os seres humanos
voltassem a ser irritantes, em vez de uma ameaça real.
Nada mais a dizer. Exceto...
— Há problemas aqui também, mas nós não estamos deixando
Lakeside.
— Não, nós não estamos, — Erebus concordou.
— Nada mais está em risco, deixando Toland, — disse Henry. —
Mas se formos embora de Lakeside, A Ilha Grande estará vulnerável,
especialmente considerando que ainda não foi decidido se todos os
humanos restantes em Talulah Falls serão mandados embora e
substituídos por Intui e Outros para manter funcionando as
máquinas. Steve Ferryman não quer que seu povo vá lá porque ainda é
muito perigoso. Isso significa que quase tudo que venha de outras partes
do Thaisia, ou do resto do mundo, passa por eles através de Lakeside.
Erebus levantou, e a reunião terminou. Vlad levou Simon, Elliot,
Henry e Tess de volta para onde eles estacionaram a minivan. Quatro
Sanguinatis, ainda em forma de fumaça, vigiavam o portão.
Eles voltaram para o Complexo Verde em silêncio. Henry
estacionou a minivan em um dos parques de estacionamento dos
visitantes do Complexo, e todos foram para seus apartamentos.
Simon tirou e jogou suas roupas no sofá antes de mudar para
Lobo e sair novamente. Ele farejou ao redor do Complexo, regando
algumas árvores, em seguida, retornou para a sala de verão abaixo do
apartamento de Meg, deslocando uma pata, apenas o suficiente para
abrir a porta.
— Oi, — ela disse.

130
Ele parou perto da porta. Ele pensou que ela estaria dormindo, já
que não havia luz acesa.
— Vai ser um fim de semana agitado, não é? Os Lobos Addirondak
chegarão em poucos dias para observar as pessoas. — Meg riu
suavemente. — Eu acho que ainda não absorvemos a ideia, até que Merri
Lee, Ruthie, e eu estávamos falando esta noite sobre como pode ser sobre
observar as pessoas.
Sobre interagir, na verdade. Os Outros observavam os seres
humanos o tempo todo. E apenas observar não evitou que coisas ruins
acontecessem.
Nada do que ele pudesse fazer sobre Toland. Nada do que ele
pudesse fazer sobre bisões mortos no território de Joe. Mas ele poderia
ajudar Joe enviando livros para os Outros e os Intui. Ele poderia ajudar
Jackson a lidar com a filhote Hope. E ele e Meg e a matilha humana, e
os indigenes da terra aqui em Lakeside, poderiam mostrar aos Anciões
que estavam assistindo de perto os indigenes da terra, que
humanos poderiam trabalhar juntos para fazer de Thaisia um bom lugar
para todos eles.
Ele deu várias lambidas na mão de Meg, em seguida, estabeleceu-
se ao lado de sua poltrona e adormeceu.

****

Acordando de um sono leve, Monty pegou o telefone no segundo


toque, esfregando uma mão sobre o rosto, como se isso fosse despertá-
lo, ou convencer seu cérebro e coração que Lizzy ainda estava segura. —
Alô?
— Crispin?
O coração de Monty bateu contra seu peito enquanto acendia uma
lâmpada e olhava para o relógio. — Mama? Qual o problema? — Tinha
que ser algo errado para ela ligar à meia-noite.

131
Twyla Montgomery suspirou, e foi um som triste e cansado. — Eu
fui demitida hoje, tive que recolher tudo em minha mesa com um guarda
de segurança ao meu lado, ele verificou inclusive o meu armário e minha
bolsa depois, para ter certeza que eu estava levando apenas itens
pessoais.
— Demitida? — Monty não conseguia entender esse pedaço de
informação. — Você foi demitida?
— Eu não era mais necessária. Tinham que fornecer empregos
para os mais merecedores.
— Eles disseram isso? — Em seguida, ele entendeu. — Eles
queriam que você se juntasse ao movimento HPU, a fim de manter o seu
emprego.
— Como se eu precisasse pertencer a alguma organização, a fim
de limpar os banheiros daqueles tolos atrapalhando o nosso dia a dia.
— Deuses. — Monty descansou a cabeça contra o encosto do sofá.
— Mama, você não pode aderir ao HPU. Eles estão se metendo em
problemas.
— Você acha que eu não consigo ver isso?
O tom seco o fez sorrir. Sua mãe não tolerava os tolos,
especialmente tolos que usavam ternos que custam mais do que ela
ganhava em um mês. Mas seu sorriso desapareceu quando ele percebeu
o que perder o emprego significava para ela. — Quando você terá que sair
do seu apartamento?
— Em breve. Eu posso ficar com sua irmã por alguns dias, mas
ela tem seus problemas também.
Quanto tempo desde que ele tinha falado com Sierra? Sua irmã
enviava cartas, pedaços de notícias que, ele percebeu agora, não chegava
a dizer-lhe muito.
Monty olhou ao redor de seu apartamento. Lizzy estava passando
a noite com Sarah Denby, a filha de Pete e Eve. Ele hoje tinha a intenção
de ficar no apartamento do Pátio, mas o Capitão Burke fez um comentário
perturbador, um lembrete aguçado de que sua senhoria tinha uma chave
e poderia decidir que ele tinha abandonado o local, e que ela poderia

132
alugar por duas vezes mais do que ele estava pagando atualmente. Ele
queria manter este apartamento de um quarto até que seu contrato de
locação terminasse no final do ano, ou até que o Courtyard tomasse posse
dos dois edifícios na Crowfield Avenue, e ele e Lizzy pudessem se mudar
para um dos apartamentos de dois quartos.
— Você muitas vezes diz que os maus momentos acontecem, mas
que frequentemente se transformam em uma coisa boa.
— Onde está a coisa boa em ser demitida? — Twyla exigiu.
— Preciso de ajuda para cuidar de Lizzy. Alguns amigos estão
cuidando dela enquanto eu estou no trabalho, mas Eve tem um trabalho
e dois filhos. Eu estive pensando sobre isso desde que Lizzy chegou em
Lakeside. Ela precisa de você, Mama. Eu também.
Um silêncio pensativo. — Alguma chance de eu encontrar um
trabalho onde você está agora?
Monty hesitou. — Talvez.
— Eu não vou viver à custa dos meus filhos, Crispin. Nem de você,
nem de Sierra.
Ele notou que ela não mencionou Jimmy, o irmão mais novo de
Monty. Como Sierra, Jimmy não mandava muitas notícias, apesar de ser
um homem casado com dois filhos, ele sempre deixava transparecer um
sentimento ressentido de algo.
— Pode haver trabalho disponível, mas eu não sei como você se
sentiria sobre os empregadores.
— Eles são esses tolos da HPU?
— Não, mamãe. Eles definitivamente não são membros do HPU.
— Bem, eu vou pensar sobre isso.
— Você tem dinheiro suficiente para um bilhete de trem?
— Eu tenho o suficiente no momento para tomar o ônibus.
Ele reprimiu um protesto. Muitas pessoas viajavam de ônibus. —
Me avise quando você estiver chegando e onde encontrá-la. Eu estarei lá.
Um suspiro suave. — Obrigada, Crispin. Falar com você acalmou
meu coração. Eu vou dizer boa noite agora.
— Boa noite, mãe.

133
Ela desligou primeiro. Ela sempre fazia assim, já que ele
simplesmente não podia desligar na cara dela.
Monty levantou e se espreguiçou. Ele já estava envolvido com os
Outros no Courtyard de Lakeside. Ele não tinha certeza se queria
perguntar a Simon sobre dar um emprego à sua mãe.

134
CAPÍTULO 13
Watersday, Juin 9

— Normalmente não vamos até Bennett mais do que uma vez por
semana para pegar suprimentos, — Tobias Walker disse quando parou
no estacionamento na estação de trem.
Joe Wolfgard tentava identificar o tom na voz do homem. — Você
está reclamando sobre esta segunda viagem porque Bennett é um longo
caminho de Prairie Gold?
— Não. Apenas fornecendo informações que podem ser úteis. —
Tobias cruzou os pulsos por cima do volante. — Nós tentamos economizar
combustível. É especialmente importante agora porque o caminhão de
combustível que enche os tanques subterrâneos no posto de gasolina não
apareceu ontem, quando deveria aparecer. Nós temos um veículo de
emergência equipado para levar alguém para Bennett se a pessoa estiver
muito doente ou ferida para o médico lidar na nossa pequena clínica.
Esse veículo fica com o tanque cheio antes de quaisquer outros, o
caminhão refrigerado da fazenda de gado leiteiro também recebe
prioridade. As pessoas tendem a esvaziar o tanque no momento em que
a próxima entrega chega, para que possamos encher os tanques
totalmente de gasolina.
— Podemos comprar combustível para a caminhonete aqui? —
Joe perguntou. Descobrir o que aconteceu com o caminhão de
combustível era a agora sua responsabilidade, ou era considerado um
problema entre os seres humanos? Simon poderia saber, embora Blair
fosse aquele a quem ele deveria perguntar, porque o Executor dominante

135
do Courtyard de Lakeside passava muito tempo com esses veículos e
provavelmente tinha mais experiência em comprar gasolina.
— Nós podemos ir até o posto de gasolina daqui e receber parte
da nossa oferta programada de gasolina. — Tobias hesitou. — Os
convidados que você está esperando. Eles sabem que tudo o que temos
para oferecer são quartos simples em um motel?
— Jesse Walker disse a Vlad o que estava disponível, então ele
sabe.
— Existe uma razão para que os seus convidados não queiram
ficar no seu estabelecimento? Só perguntando.
— Vlad foi específico sobre as condições dessa visita. — Mas não
foi específico sobre quem estava chegando com os livros. Isso o deixava
inquieto, mas não havia nenhum ponto em uivar sobre isso, até que
houvesse um motivo para uivar.
Eles chegaram à plataforma assim que o trem chegou. Metade da
estação era designada como área de espera para os seres humanos. A
outra metade era área para recebimento de mercadorias e pacotes que
chegavam do trem. Fez Joe pensar no escritório de Meg Corbyn com uma
pessoa no balcão e uma sala separada para armazenar os pacotes até
que alguém viesse recolhê-los.
Os seres humanos desceram os degraus dos dois vagões de
passageiros. Alguns pareciam pálidos, cheiravam enfraquecidos. Se ele
estivesse caçando com uma matilha de Lobos, ele iria incidir sobre a
presa com o cheiro enfraquecido, como o mais fácil de derrubar.
— Deve ter algum Granfino no trem desta vez, — disse Tobias.
— Granfino? — Joe nunca tinha ouvido falar de tal humano.
Tobias ergueu o queixo para indicar o terceiro vagão de
passageiros. — Rico. Importante. Eles vêm sempre em um vagão
particular.
Rico. Importante. Ou letal, Joe pensou enquanto observava um
homem com uma maleta na mão, em seguida, virando e oferecendo uma
mão para a fêmea. O macho estava usando um terno preto com uma
camisa cinza pálido. A fêmea usava um longo vestido à moda antiga de

136
veludo preto com mangas drapejadas. Ambos tinham pele morena,
cabelos e olhos escuros. O homem pode até ter tentado se passar por
humano, e tentado se misturar em uma multidão, pelo menos por um
tempo. A fêmea não fez nenhum esforço para esconder o que ela era.
— Deuses acima e abaixo, — Tobias respirava. — Eles são...?
— Sanguinati, — Joe terminou. — Vamos. — Ele se moveu
rapidamente, mais para impedir os seres humanos de entrarem em
pânico se percebessem quem estava agora entre eles, do que porque
estava com pressa para atender aos seus convidados.
O macho o viu e sorriu, enquanto a fêmea deslizava na plataforma
para observar os homens que estavam descarregando os vagões de
bagagem.
Joe cheirava o medo no suor de Tobias. Não era uma boa maneira
de começar com predadores como os Sanguinatis.
— Joe Wolfgard? — Disse o homem. — Eu sou Tolya
Sanguinati. Nós nos conhecemos a alguns meses em Lakeside. — Ele
moveu a mão em um pequeno gesto que indicava o outro Sanguinati. —
Vlad disse que nos esperava?
— Ele disse. — Joe olhou para os homens que estavam
descarregando cuidadosamente as caixas perto da fêmea, empilhando-as
como se para construir uma parede entre os humanos e ela.
O Sanguinati estava entre os indigenes da terra que haviam
destruído o Controlador e o Composto onde ele mantinha Cassandras de
Sangue como Meg Corbyn. Joe poderia apreciá-los como predadores, mas
ele não estava certo de que poderia ser amigo deles, da mesma forma que
Simon era amigo de Vlad.
Agora eu sei por que Vlad queria ficar perto dos seres humanos,
embora, quando não estavam na forma fumaça, eles poderiam caçar
alguma coisa durante a noite.
— Este é Tobias Walker, o capataz da fazenda de Prairie Gold, —
Joe disse.

137
— Trouxemos muitos livros para Jesse Walker e Shelley
Bookman, — Tolya disse enquanto a fêmea se juntava a eles. — Esta é
Nyx.
— Senhora. — Tobias escovou a aba do chapéu com um dedo
antes de virar para Joe. — Sr. Wolfgard, devemos colocar as caixas na
caminhonete e sair daqui.
Ouvindo a cautela, Joe olhou em volta. Havia muitos seres
humanos prestando atenção neles. — Sim, deveríamos.
Tobias pegou um carrinho de transporte com um dos
carregadores. Joe ajudou a empilhar as caixas no carrinho e levá-las para
a área de estacionamento, enquanto Tolya e Nyx estavam atrás deles.
Depois eles carregaram as caixas na traseira da caminhonete, Joe
lembrou o comentário de Tobias sobre fazer viagens até Bennett. — Não
será preciso comprar alguma coisa enquanto estamos na cidade?
— Só gasolina para a caminhonete. — Tobias desviou os olhos na
direção de Nyx, mas não olhou para ela. Ele simplesmente abriu a porta
do passageiro. — Senhora.
Ela mudou para fumaça da cintura para baixo enquanto entrava.
— Há espaço no banco para você também, Tolya, — Joe disse. —
Eu posso ir na parte de trás.
Tobias lançou-lhe um olhar de pânico antes de abaixar a cabeça
o suficiente para o chapéu esconder seu rosto.
— Eu posso andar na parte de trás com você, — Tolya disse.
Joe balançou a cabeça e bateu a mão contra sua perna. — Esta
roupa não se encaixa bem na parte traseira de uma picape, mas pelo
menos enquanto estivermos na cidade humana, temos que manter
alguma roupa. — Assim que eles saíssem de Bennett, não importava usar
roupas, e ele pensou que Tobias iria se sentir menos ameaçado se
houvesse apenas um Sanguinati andando na frente com ele.
— Você está mais familiarizado com os costumes desta parte de
Thaisia. — Tolya deu a volta e entrou na parte de trás da caminhonete.
Joe saltou e se estabeleceram no espaço restante. Muitos
livros. Mais do que ele esperava que Simon e Vlad enviassem para os

138
seres humanos. Então ele notou seu nome em duas caixas e, felizmente,
percebeu que enviaram livros para o assentamento dos indigenes da
terra também.
Tobias deu a volta e fechou a porta traseira. — Sr. Wolfgard...
— Eles não vão se alimentar de você, — Joe disse, em seguida,
acrescentou em silêncio, pelo menos enquanto estiver dirigindo.
Tobias assumiu o volante e dirigiu até o posto de
gasolina. Quando ele parou, Joe estudou os machos humanos que
estavam reunidos ao redor, observando um homem usando um macacão
fazendo um sinal de mão acima das bombas.
<Seu humano está com raiva,> Tolya disse. <Eu não entendo tudo
o que ele está dizendo, ele fala de forma diferente dos humanos em Toland,
mas eu entendo alguns dos palavrões misturados com o resto.>
Assim que Tobias foi até as bombas, Joe saltou por cima da porta
de trás e deu a volta para impedir Tobias de morder o homem com o
macacão. Ou socá-lo. Socar era mais provável, já que Tobias tinha mãos
fortes do trabalho no rancho, apesar de seus dentes serem pequenos.
— Que tipo de porcaria é essa? — Tobias exigiu. — Você dobrou o
preço da gasolina quando nos viu?
— Oferta e demanda, — disse o macaco, dando a Tobias um
sorriso desagradável. O sorriso fugiu e quando Tolya abriu a porta de trás
e saiu da caminhonete, outros macacões estavam focados em Tobias. —
Você deve conhecer a lei de oferta e demanda.
— Nós conhecemos, — Tolya disse tão agradavelmente que deixou
Joe arrepiado. Em seguida, o Sanguinati deu a Tobias um olhar que
alertou o humano que não criasse problemas. — Considerando que você
teve que fazer a viagem em nosso nome, eu vou pagar pela gasolina. —
Ele pegou uma carteira de seu paletó, em seguida, puxou duas notas de
cinquenta dólares e se concentrou nos macacões. — Então você sabe que
podemos pagar.
Querendo fugir da cidade e deste bando de humanos que
pareciam prontos para atacar, Joe abriu a tampa do tanque e estalou —
Tobias. — Então a Tolya, <Deixá-los alterar o preço, porque queríamos um

139
pouco de gasolina, não é diferente de deixar os predadores menores
correrem, antes que sua matilha tenha se alimentado. Se você pagá-los
desta vez, eles vão continuar fazendo os humanos de Prairie Gold pagarem
mais.>
<Não por muito tempo.>
A palavra ameaçadora o incomodava, mas o cheiro no ar que o
vento trouxe era mais preocupante.
— O que eles estão fazendo não é certo, — Tobias disse quando
começou a bombear a gasolina.
Joe rosnou para ele, porque este não era o momento nem o lugar
para discutir a maldade humana ou a ganância, não quando os Anciões
estavam tão perto da cidade, seu perfume no ar.
Tobias encheu o tanque, Tolya pagou a gasolina, e eles foram
embora quando o bando de homens fez o que Joe assumiu serem
comentários insultuosos.
<Você precisa de alguma comida?> Joe perguntou a Tolya.
<Não, obrigado. Nós comemos no trem.>
Assim que eles cruzaram a linha da cidade de Bennett, Tobias
parou e Nyx e Tolya saíram. Joe, ainda sentado na traseira da
caminhonete, tirou a camisa, em seguida, tirou os sapatos.
— Eu preciso mudar para Lobo. — Ele se levantou e soltou o cinto.
— Espere um minuto, — Tobias protestou.
Joe balançou a cabeça. — Eu preciso mudar para Lobo. — Ele
empurrou o jeans pelas pernas e saiu deles, chutando-os de lado antes
de mudar para a forma que lhe era e parecia natural, aumentando e
dando mais nitidez aos seus sentidos. Ele deu uma boa sacudida no pelo,
em seguida, sentou e olhou para Tobias, que tinha virado as costas para
o caminhão.
— Podemos continuar agora — Tolya disse educadamente.
Tobias olhou por cima do ombro, em seguida, virou-se para
enfrentá-los. — Eu tenho coisas para dizer.
Quando ele não continuou, Tolya disse: — Estamos ouvindo. —
Então para Joe, <Ele está com raiva, mas acho que ele teme punição.>

140
Essa era a opinião de Joe também. <Eu quero saber por que ele
está com raiva.>
Tolya transmitiu a mensagem.
— Eles já nos esperavam, — Tobias disse. — Talvez eles
soubessem que o caminhão de combustível não foi em Prairie Gold
ontem, e qualquer um que viesse até Bennett estaria procurando comprar
gasolina. Você pode se dar ao luxo de pagar esse preço hoje, e eu aprecio
isso. Mas amanhã o preço pode dobrar novamente, e o que a próxima
pessoa que for a cidade deveria fazer? Será que poderão comprar
combustível suficiente para chegar em casa porque eles não podem se
dar ao luxo de pagar esses preços? Será que o caminhão de combustível
fará a entrega no nosso posto de gasolina?
— Eu posso ajudar Joe a descobrir por que o caminhão de
combustível não chegou em sua cidade, — Tolya disse. — E nós devemos
ser capazes de encontrar um vendedor, em outras palavras, uma refinaria
de petróleo mais confiável que pertença aos indigenes da terra e que seja
gerido por Intui.
Tobias piscou. — Há tais lugares?
— Um ou dois. O suficiente para garantir que as aldeias Intui
tenham o que precisam para o transporte e equipamentos essenciais. A
produção é limitada, mas acho que podemos mandar para sua cidade ser
fornecida dessa forma a partir de agora.
Joe tentou não rosnar. Será que Tolya veio a Prairie Gold para
tomar seu lugar como líder do assentamento indigene da terra? Se fosse
esse o caso, ele deveria ter sido avisado, já que ele foi escolhido como o
novo líder há menos de um mês. Apesar de que ter um indigene da
terra ao redor que sabia sobre essas coisas humanas, como refinarias,
seria útil. Ele foi um dos indigenes da terra que poderia se passar por
humano, e ele teve alguma educação humana, para que ele pudesse lidar
com os seres humanos em nome de sua própria espécie. Mas ao contrário
de Simon, ele nunca quis liderar um Pátio ou mesmo viver em um.
— Nós entendemos sobre oferta e demanda, Sr. Walker, — disse
Tolya. — Quando há um excesso de presas, os predadores vêm de outros

141
territórios para caçar e se alimentar. Há o suficiente para todos nós, e os
nossos jovens podem sobreviver e crescer fortes e, por sua vez, aprender
a caçar. Quando a presa torna-se escassa, predadores viajam de volta
para seus próprios territórios, ou então eles acabam brigando entre si por
uma fatia do que matar. Nem todos os filhotes sobrevivem, os mais fracos
morrem. Eventualmente o equilíbrio de Namid é restaurado, e acaba não
havendo comida suficiente para ambos os predadores e presas.
Tobias engoliu em seco. — Então você está dizendo que há um
excesso de presas em Bennett?
— Eu estou dizendo que Bennett não é a preocupação
dos indigenes da terra localizados em Prairie Gold, — Tolya respondeu.
— Vamos continuar?
Tobias deslizou para o banco do motorista e ligou a
caminhonete. Nyx saiu e correu para o lado da caminhonete, ficando ao
lado de Joe, enquanto Tolya se sentou na frente com Tobias.
<Os seres humanos em Bennett estão deixando o bando de Prairie
Gold preocupados,> Joe disse a Tolya. <Nós devemos vigiar e recolher o
pagamento da terra que os humanos arrendam por aqui. E isso inclui as
fazendas, bem como aquela cidade.>
<Se eles quebram os acordos, os Outros podem recuperar a terra e
forçá-los a deixá-la, não é mesmo?> Tolya argumentou.
<Sim.> Joe não gostou da trilha que o Sanguinati estava seguindo.
<Talvez você devesse permitir-lhes este tipo de mesquinhez, deixe
as próprias ações dos humanos provarem que eles não devem ser
autorizados a permanecer aqui.>
<Mas nos prometemos aos Intui proteção contra outros tipos de
seres humanos, em troca de serviços que não queremos aprender, mas que
sabemos ser necessários,> Joe argumentou. <Deixar aqueles seres
humanos elevarem o preço da gasolina até os Intui não conseguirem mais
pagar não é protegê-los.>
Tolya não disse nada por um minuto. <Sempre vivi em grandes
cidades humanas, e esta parte de Thaisia é muito nova para mim. Senti

142
algo em Bennett que eu reconheci como indigenes da terra, mas que eu
nunca tinha encontrado antes.>
<Anciões. Os indigenes da terra que moram e cuidam do país
selvagem. Eles geralmente não chegam tão perto de uma cidade humana.>
<Se for esse o caso, talvez você não devesse depender de Bennett
para os suprimentos necessários em Prairie Gold.>
Havia um aviso com essas palavras.
Mas Tolya tinha um ponto, Joe pensou com um suspiro. Ele
aprendeu o suficiente sobre seu novo território para saber que os
humanos que moravam em Bennett odiavam que os Outros definissem
os limites do que os humanos poderiam e não poderiam ter, e eles se
ressentiam dos Intui de Prairie Gold, por que eles tinham algo em suas
fazendas que necessitavam: a água que descia das colinas e seguia em
canais naturais para os poços de água, e isso tornava mais fácil para os
Intui administrar sua fazenda de gado leiteiro e o rancho que criava gado
e cavalos. E alguns homens, ao longo dos anos, foram para as colinas e
voltaram com ouro. Mas, o que um homem poderia ser capaz de fazer,
uma dúzia não podia. Eles acreditavam que havia riquezas não
reclamadas nos leitos, que poderiam deixar um homem rico além de seus
sonhos, mas como não podiam alcançar essa riqueza, um tipo diferente
de doença estava aumentando em alguns seres humanos. Eles queriam
o que não poderiam ter, porque uma coisa era tirar da terra e da água
para manutenção da vida, e outro para a riqueza.
Joe não sabia exatamente onde Tolya e Nyx ficavam na hierarquia
do seu bando, mas ele não ficaria surpreso se seus empregos fossem o
equivalente a aplicadores ou guardas. Por que enviá-los aqui para
entregar alguns livros? Ou será que a chegada deles tinha mais a ver com
os desenhos feitos pela profetisa filhote de Jackson?
Quando Prairie Gold entrou em vista, Joe mudou de volta à forma
humana e se vestiu. Sua primeira parada foi no motel, para que Tolya e
Nyx pudessem fazer o check-in e descarregar sua bagagem pessoal. E foi
aí que eles ouviram a notícia de que um caminhão de combustível
explodiu na estrada no dia anterior. Os dois homens que dirigiam o

143
caminhão foram mortos. Houve alguma discussão sobre se a explosão foi
um acidente causado por erro do motorista, ou se os dois já estavam
feridos ou mortos quando o caminhão explodiu.
— Oferta e demanda uma merda! — Tobias disse quando ouviu a
notícia. Então ele olhou para Nyx. — Perdoe minha linguagem, minha
senhora.
Se foi intencional ou não, Prairie Gold não ia receber o seu
necessário combustível até que os Outros providenciassem um
fornecedor diferente.
A preocupação com a escassez de gasolina esmaeceu o prazer que
Jesse Walker sentiu quando eles trouxeram as caixas de livros para sua
loja, mas ela foi gentil e educada em seu agradecimento para Tolya e
Nyx. Shelley Bookman, por outro lado, deu uma olhada nos Sanguinatis
quando entraram na biblioteca e pareceu ter problemas para recuperar o
fôlego.
Depois de receber a promessa de Tobias para deixar as caixas de
livros no local onde os indigenes da terra recebiam os bens humanos, Joe
acompanhou o humano até a caminhonete antes de levar os dois
Sanguinatis em uma excursão pela cidade. Os humanos observavam de
suas portas e janelas.
— Quanto tempo você vai ficar? — Joe perguntou. — Devo
perguntar a alguns dos indigenes da terra para ficarem perto da cidade?
— Este é um assentamento Intui na terra dos indigenes da terra,
— Tolya combateu. — Existe uma razão para temer esses humanos?
— Não. Eles me lembram os humanos que compõem o bando de
Meg Corbyn. Eles querem ser membros de uma matilha maior.
— Isso é sábio, — Nyx disse. — Eu vou ficar alguns dias antes de
voltar para Lakeside. Tolya vai ficar mais tempo.
— Se for aceitável para você, — Tolya disse olhando para Joe. —
Avô Erebus quer os Sanguinatis mais presentes no Centro-Oeste. Ele
quer que nós estejamos disponíveis para ajudar os shifters. E minha
estada no motel significa que eu posso manter um olho nos Intui,
enquanto você mantém a guarda sobre o resto. — Ele fez uma pausa. —

144
Acho que os indigenes da terra devem visitar Bennett tão rápido quanto
possível.
Joe concordou com isso, mas ele não gostou de ir lá para começar.
— Nós não precisamos ir a qualquer lugar em Bennett, exceto a estação
de trem. — À medida que a implicação de suas próprias palavras o feriu,
pelos surgiram em seu peito e ombros, e seus caninos se alongaram ao
tamanho Lobo. Ele parou de andar e levou um momento para mudar de
volta para plenamente humano.
— Nosso cheiro aqui é um sinal de aceitação, — ele disse. — Ele
envia uma mensagem, uma indicação de que estes humanos trabalham
com a gente. — Será que os Anciões respeitariam tal marcador?
Tolya assentiu. — A falta de cheiro também envia uma mensagem,
não é?
Outra advertência de acordo com essas palavras, especialmente
após a sugestão de Tolya de que os Outros evitavam visitar Bennett e sua
observação anterior sobre recuperar a terra.
Eles caminharam de volta para o motel. Nyx queria explorar além
da cidade. Tolya queria fazer alguns telefonemas. E Joe queria se livrar
de pensamentos de humanos problemáticos, ir para casa, e descobrir
quais livros Simon enviou para os Lobos.
Com um convite de Tolya, ele se despojou de suas roupas, dobrou-
as, e as colocou no fundo da gaveta da cômoda.
— Você pode querer se tornar um inquilino a longo prazo de um
desses quartos, — Tolya disse. — Seria um local conveniente para
guardar roupas e ter água para se lavar quando você tiver que estar em
sua forma humana.
Era uma boa sugestão, e ele iria considerar. Em vez de um Pátio,
os Outros muitas vezes tinham uma casa em uma pequena cidade
humana, mas não havia nenhuma casa vazia em Prairie Gold. Eles
tinham construído apenas o que eles precisavam. Um quarto seria o
suficiente, e tê-lo poderia incentivar mais shifters a experimentar o
contato limitado com os seres humanos.

145
Cansado, mas satisfeito, Joe deixou o motel e foi para casa,
deslizando atrás dos edifícios, em vez de trotar abaixo da estrada. Mas ao
pensar sobre marcadores e o que poderia ser um inimigo mais devastador
para as pessoas daqui do que os humanos que moravam em Bennett, ele
parou tempo suficiente para levantar uma perna e marcar a loja de Jesse
Walker.

146
CAPÍTULO 14
Earthday, Juin 10

Jackson Wolfgard bateu na porta do quarto de Hope e esperou


ouvir as palavras, permitindo-lhe a entrada. Não que ele devesse precisar
de permissão. Ele era o Lobo dominante, e ela foi morar com sua
matilha. Mas as fêmeas humanas da idade de Hope
eram... Peculiares. Não era sua culpa que, quando ouviu sons
alarmantes vindos de seu quarto no outro dia, ele arrombou a porta,
pensando que ela estava ferida ou sob algum tipo de ataque. E quando
saltou dentro do quarto... Os gritinhos de gato... Se transformaram em
gritos, porque ele a viu sem roupa. Como se isso fizesse alguma diferença
para ele. Ele tinha uma companheira. Além disso, Hope não só era
humana, como era muito frágil para ser considerada uma companheira,
então ele não podia ver por que determinadas partes de um corpo nu
poderia fazer qualquer diferença.
Claro, seus gritos trouxeram mais Lobos correndo, portanto,
muitos Lobos viram as partes nuas do corpo dela, e queriam saber mais
sobre a imitação de pele entre as pernas e sob os braços. Aquelas coisas
eram consideradas como presentes para as fêmeas quando elas
mudavam para sua forma humana?
Eles ainda estavam esperando por Meg Corbyn e seu bando
responderem essa pergunta.
Mas não foi justo rosnar com ele por ter respondido da maneira
que ele tinha. Como ele poderia saber que o som era de
alguém cantando? Não havia soado como qualquer canto humano
que ele tinha ouvido. Na verdade, soou mais como um jovem Lince, cuja

147
pata ficou presa em algumas rochas. E esse era o motivo de ele ter
pensado que Hope estava em apuros.
Jackson bateu de novo e ouviu um tímido, — Entre. — Ele entrou
no quarto, deixando a porta aberta.
— Chega, filhote, — ele disse. — Grace e eu não nos importamos
se você quiser desenhar sempre, mas não todos os dias. A nanny da
matilha vai levar os filhotes para uma caminhada, e você vai com
eles. Coloque seus sapatos e seu chapéu.
— Eu perdi o meu chapéu, — Hope murmurou.
Significado: os filhotes acidentalmente pegaram o chapéu dela e o
rasgaram em vários pedaços. — Grace lhe comprou outro. — Vários, na
verdade.
Ele a estudou. Ela normalmente obedecia, mas ficou um pouco
estranha desde a visão desenho que ela fez dos bisões mortos. Já que ela
continuou desenhando em vez de colocar suas coisas, ele se aproximou
e se agachou ao lado dela.
— Eu estou fazendo os esboços dos cartões que a Meg vai precisar,
— Hope disse.
Ela não havia terminado esses desenhos. Estava inacabado em
relação ao seu trabalho habitual. — Por que Meg vai precisar deles?
— Eu não sei.
— Você vai fazer os desenhos finais?
Ela balançou a cabeça.
Quando o lápis parou de se mover sobre o papel, ele sabia que ela
tinha terminado, e estava drenada de tudo o que ela precisava revelar. —
Vá para fora, filhote. Respire o ar puro. Brinque com os outros filhotes.
— Ele percebeu o canto de outro desenho que tinha deslizado debaixo da
cama. — O que é isso?
Silêncio. Então esperou, suspirou e puxou o desenho de debaixo
da cama e entregou a ele. — Você vai nos deixar para sempre?
— Eu não estava planejando ir, — ele respondeu enquanto
estudava as imagens sobrepostas. Ele era o Lobo pastoreando dez... Não,
onze... Bisões jovens. Em seguida, no centro da página, um trem, seu

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motor indo para o Leste através das pastagens do Centro-Oeste. Em
seguida, Talulah Falls, distinta e inconfundível, e aquelas casas que ele
já viu uma vez antes. A última peça do quadro era com ele e Simon
pastoreando os bisões.
— Você não deixaria Grace, não é?
— Eu não deixaria qualquer um de vocês. Mas eu poderia ter que
fazer uma viagem para Lakeside. — Ele pegou o desenho e a ajudou a se
apoiar enquanto se levantava. — Se arrume, saia e faça uma caminhada,
brinque e estude o riacho.
Ela piscou. — Estudar o riacho?
— Sim. É água limpa e translúcida, e não é tão profunda. Olhe
para o que vive lá. Então você pode tirar uma foto dele quando você voltar.
Ela deu-lhe o mesmo sorriso brilhante quando lhe disse que o seu
nome era Hope.
Ela colocou as meias e o tênis antes de sair saltando do quarto à
frente dele. Grace, em forma de Lobo, trazia um chapéu de palha entre
os dentes e bloqueou a porta do lado de fora até que Hope pegou o chapéu
e obedientemente amarrou as fitas sob o queixo.
Eles assistiram a menina saltar pela varanda e correr para se
juntar com os filhotes, que correram de volta ao seu encontro.
Jackson mostrou o desenho para Grace. — Eu preciso ir até a
cabine de comunicações e ligar para Simon.
<É Earthday. Ele não estará na livraria.>
— Eu tenho o número do telefone celular dele. Mesmo se ele não
responder, ele vai ligar de volta tão logo receber a mensagem. — Ele
passou a mão humana sobre a cabeça branca, apreciando a sensação de
seu pêlo contra a pele nua. — Assim que eu voltar, nós iremos para uma
corrida, apenas nós dois.
Risos encheram seus olhos de âmbar. <Você vai ter que me
encontrar primeiro.> Ela correu para fora da cabana.
Ele queria esquecer os desenhos e as visões e os seres humanos
traquinas. Ele queria correr com sua companheira e se divertir. Mas ele

149
daria o telefonema, porque ele se perguntava o que Meg Corbyn poderia
dizer a Simon sobre as imagens no desenho de Hope.

****

Simon trotou até a porta de trás da livraria e deslocou uma pata


apenas o suficiente para girar a maçaneta. Ele teve uma manhã
agradável, mesmo sendo gasta com os humanos e os Lobos que
acompanharam Kowalski, Debany e o bando de meninas que aprendeu o
jogo Squeaky Dance, que foi muito divertido, mesmo que não tenha
durado muito tempo.
Os Lobos das Montanhas Addirondak estavam chegando amanhã,
e Vlad esteve um pouco afiado sobre a obtenção de mais livros para as
prateleiras. John Wolfgard cometeu o erro de apontar que Vlad foi o único
que havia dizimado seu estoque antes desta visita, e era por isso que
Simon iria gastar algumas horas na loja ajudando Vlad, em vez de John
nesse trabalho. Beliscar verbalmente a arma mais confiável de Erebus
Sanguinati aqui em Lakeside era tolice.
E mesmo que ninguém dissesse nada, Simon descobriu que Vlad
estava preocupado com Tolya e Nyx tão longe de qualquer fortaleza
Sanguinati.
Simon mudou para a forma humana e foi pegar o jeans que ele
deixou na cadeira ao lado da porta. Ele rosnou para a cadeira vazia, então
fez uma busca rápida. Fêmeas! Que droga! Havia uma razão para ele ter
deixado a roupa na cadeira! Elas pegaram suas coisas e as guardaram.
Não encontrando nada, ele caminhou até a frente da loja, na
esperança de encontrar alguém do bando humano para chiar sobre seu
estado de nudez. Mas ele não tinha chegado tão longe quando Vlad
gritou: — Simon? Isso é você?
Subiu as escadas e entrou no escritório. — A próxima vez que eu
encontrar alguma coisa de uma dessas fêmeas ao redor da loja, eu vou-
— Ele parou quando viu o rosto de Vlad. — Notícias de seus parentes?

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— Eles estão bem. Joe os encontrou na estação de trem
ontem. Tolya me ligou ontem à noite para me dar o número do motel,
bem como o número do quarto, caso seja necessário alcançá-lo. — Vlad
estendeu o receptor. — É Jackson.
Simon saltou para a mesa e pegou o receptor. — Jackson? O que
Hope fez agora?
Hesitação. — O que você sabe sobre os bisões?
Que pergunta estranha. — Eles são saborosos. Difíceis de caçar,
a menos que você esteja com uma matilha forte ou derrube um jovem. —
As mesmas coisas que Jackson já sabia. — Joe nos enviou alguns pacotes
de carne de bisão. Elas chegaram ontem. O bando feminino vai cozinhar
e fazer um assado para dar a todos os humanos um gosto.
— E quanto aos bisões vivos?
— E quanto a eles? — Então ele se lembrou da profecia de Meg
sobre a Comunidade River Road. — Meg viu alguns bisões pastando em
uma comunidade mista que estamos construindo, os Outros e os Intui.
— E ela te viu lá.
— Hope fez um desenho visão recente, mostrando você e eu
pastoreando alguns bisões novos em um lugar ao redor de Talulah Falls.
— Um silêncio em suspenso. — É assim que funciona com as profetisas
de sangue na natureza?
— Eu não sei, — Simon respondeu. — Talvez seja porque Hope,
Meg e Jean cresceram no mesmo composto. Ou talvez seja porque as três
têm uma conexão com os indigenes da terra, que têm ligações entre
si. Isso é novo para as meninas, assim como para nós.
Jackson suspirou. — Hope me desenhou viajando, levando bisões
para você, e ela está me perguntando se eu vou deixar ela e Grace para
sempre. Sua Meg me viu lá. Eu não sei o que fazer. Viajar sozinho... As
coisas estão parecendo estranhas por aqui. Perto de Endurance, a cidade
controlada pelos humanos, a água está com um gosto meio azedo e o ar
parece meio quente. Os Intui que têm ido para lá pegar suprimentos
sentiram isso também.
— Você precisa de livros?

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Vlad olhou para Simon e mostrou suas presas. Simon revelou
suas próprias presas.
— Nós estamos cuidando de um filhote humano. Fisicamente um
juvenil, mas você sabe o que quero dizer.
Ele sabia. — Seria bom para ela ter livros. Vamos ver o que
podemos enviar. — Ele faria o bando de fêmeas fazer uma lista do que
uma jovem gostaria de ler.
— Nyx, — Vlad disse calmamente. — Se Jackson está vindo aqui,
ele poderia ir para Prairie Gold primeiro? Então ele e Nyx poderiam viajar
juntos.
Simon transmitiu a solicitação.
— Eu farei isso. Nós não tivemos qualquer problema com bisões
mortos por aqui, mas se o problema está indo para o Oeste, eu gostaria
de saber mais sobre ele.
— Avise quando você estiver chegando. Nós nos encontraremos
no trem e providenciaremos transporte. — Ele ia fazer uma ligação para
Jerry Sledgeman na Ilha Grande e ver se Sledgeman poderia transportar
o gado.
— Nossa Hope e a sua Meg, — Jackson disse. — Elas poderiam
estar erradas.
— Uma sim, talvez, mas não ambas. — Não quando Jean estava
vendo uma Thaisia limpa de tantas cidades humanas. — Vlad tem um
número do motel onde Nyx e Tolya estão hospedados. Ele vai avisar, de
modo que ela saberá que você está indo.
— Tudo certo. Simon? Diga a Meg que estamos fazendo o nosso
melhor para manter Hope bem.
— Vou dizer a ela. — Quando ele terminou a chamada, Simon
pensou sobre a profecia de Jean e o que significava para os Outros. Ele
olhou para Vlad. — Nós não podemos confiar mais nos seres humanos.
— Será que já confiamos alguma vez neles?
— Não. Mas temos o desejo de sobreviver, e somos mais fortes do
que a ganância deles, mas eu acho que não podemos contar apenas com
isso.

152
****
Cara Jean,
Earthday no Pátio é um dia quando as lojas estão fechadas e os
Outros ficam em suas penas ou pêlos o dia inteiro, porque eles não têm que
interagir com os humanos. Mas está quente e úmido hoje, e Henry disse
que ele e os Lobos costumam gastar tempo ao redor do buraco nadando
em um dia como este. Não é um buraco cheio de água; é na verdade um
pequeno lago em uma parte do Crowgard do Pátio. De qualquer forma,
Simon convidou alguns dos meus amigos humanos para vir com a gente.
Foi um teste, eu acho, para ver como eles se comportam em uma parte do
Pátio que geralmente está fora dos limites para os humanos, além de mim.
Theral MacDonald ficou na beira comigo e Simon. Merri Lee,
Michael, Ruthie e Karl foram andar nas bicicletas. Eu não tenho certeza se
os Outros já tinham visto bicicletas antes ou se nunca as consideraram
como uma forma útil de transporte, mas algo sobre as bicicletas deixaram
os Lobos bem animados. Muitos cheiravam e ficaram curiosos assim que
eles chegaram ao lago, mas todos foram muito educados e não fizeram xixi
sobre os pneus.
O lago é um dos três que, junto com o riacho, fornecem uma grande
quantidade de água fresca ao Pátio. Os Outros bebem, nadam e pescam
para comer. Michael e Karl queriam saber que tipo de peixe havia, mas
ninguém estava interessado em mudar para a forma humana para
responder, e eu não sabia, então isso é algo que eles podem discutir
amanhã.
O lago em uma extremidade bate na minha cintura e sobre a minha
cabeça na outra extremidade, foi muito bom para os Lobos, mas não muito
divertido para os Corvos. Então quando Simon assumiu a liderança do
Courtyard, ele, Henry, e Blair criaram uma piscina de plástico conectada,
onde a água tem apenas algumas polegadas de profundidade para que o
Crowgard pudesse espirrar e brincar.
Quando foi à hora de ir para a água, ninguém sabia o que
fazer. Pelo menos eu não sabia. Depois de olhar para nós por um momento,

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Simon, Blair, e Nathan pularam na água, em seguida, saíram e sacudiu a
água em cima de nós.
Estava frio! Merri Lee, Ruthie, Theral e eu pulávamos fazendo
barulho e dizendo: — Está frio, está frio, está frio.
Os Lobos saltavam na água e depois saíam, e sacudiam a água em
cima de nós de novo! A terceira vez que os lobos balançaram a água sobre
nós meninas; estávamos tão molhadas que não sentíamos mais frio, e o
jogo Squeaky Dance estava encerrado. Infelizmente, acho que este é um
jogo que os Lobos realmente gostam, então eu suspeito que nós
continuemos nesse jogo o resto do verão.
Mas, uma vez que chegamos à água, foi tão bom! Em um ponto,
Nathan esbarrou em mim e eu acabei afundando e me debati jogando água
para todos os lados. Foi quando Ruthie me perguntou se eu sabia nadar,
e eu disse que não.
Simon deslocou-se para a forma humana e apenas olhou para mim,
chocado. Como eu poderia não saber nadar? Todos os filhotes sabiam
nadar.
Fingi que Simon estava usando calções de banho, como Michael e
Karl, e mesmo que a água fosse muito clara, à sombra das árvores
próximas manteve o óbvio de ser óbvio.
Michael se ofereceu para me ensinar a nadar cachorrinho. Ele
escutou rosnados de três direções, porque ninguém ia me ensinar a nadar
como um cão! Os Lobos não se importavam com os cães; eles simplesmente
não queriam ser confundidos com um, e eu acho que eles não querem que
eu seja confundida com um também.
Eu acho que Michael deliberadamente exagerou os movimentos,
porque Simon bufou, voltou para a forma Lobo, e começou a nadar ao nosso
redor para me mostrar como fazer. Michael me segurou enquanto eu
tentava chutar com as minhas pernas e remar com os braços. Então eu
tentei fazer a minha própria natação, com Simon e Nathan nadando em
ambos os lados. Quando fiquei cansada, todos nós saímos e nos sentamos
em cobertores sob as árvores.

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Devo ter adormecido por um tempo, porque eu acordei com um
sentimento bom.
Mas esse contentamento não vai durar, não é? Os peixes mortos
estão chegando às margens de três cidades da Costa Leste. Eu ouvi Vlad
dizendo a Tess que os peixes são o arauto de uma tempestade. Eu não
senti nenhuma sensação de alfinetes e agulhas sob minha pele por causa
daquele comentário. Eu não sei se eu deveria estar aliviada ou
preocupada.
Eu espero que você esteja bem na fazenda dos Gardners. Steve
Ferryman deve vir esta semana para mostrar à mim e a Simon os planos
para o novo campus de Cassandras de Sangue. Steve diz que as meninas
estão indo bem, e a zeladora que ele contratou para elas é muito intuitiva
sobre quando introduzir algo novo e quando ficar com o familiar.
Eu estou tentando não usar a navalha. Alguns dias são mais
fáceis. Outros dias são tão difíceis. Talvez as meninas mais jovens sejam
capazes de escapar do vício. E se elas não puderem escapar por completo,
talvez as Cassandras de Sangue como você, eu e Hope, possam encontrar
outras maneiras de revelar as profecias. Eu não tenho certeza se essa
outra maneira irá encobrir nossas mentes o suficiente, ou a euforia que
vem depois do corte, e a probabilidade de uma morte prematura por causa
disso, seja o custo de ficar sã.
Você sempre acreditou que poderia sobreviver no mundo
exterior. Eu estou fazendo tudo o que posso para dar pelo menos a
algumas de nós a chance de não apenas sobreviver, mas a de viver
verdadeiramente.
Sua amiga,
Meg

****

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Não é suficiente dizer que devemos ter comida, água, madeira e o
óleo. É tempo de dizer que teremos a comida, a água, a madeira, e o óleo,
e que devemos alimentar os nossos filhos e construir nossas cidades e
aquecer as nossas casas e fazer funcionar as máquinas que nos fazem
mais do que criaturas se escondendo no assim chamado ‘país
selvagem’. Só é selvagem, porque não sentimos o trabalho do machado ou
o arado. Só é selvagem, porque ainda nos acovardamos dos fantasmas do
passado, e as histórias que ouvimos quando crianças. Vamos abolir os
fantasmas e ver essas criaturas, pois não passam de animais que ainda
não foram conquistados. É hora de banir essas histórias de fantasmas de
nossa infância. É hora de reivindicar o nosso verdadeiro lugar no mundo.
- Discurso escrito por Nicholas Scratch, entregue nas reuniões dos
Discípulos de líderes HPU em toda Thaisia.

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CAPÍTULO 15
Moonsday, Juin 11

Poucos minutos depois de Meg abrir o Gabinete do Liaison para


as entregas da manhã, Steve Ferryman e Jerry Sledgeman entraram no
Pátio, passando na rua principal, parando no estacionamento dos
funcionários. Alertados pelo uivo de Nathan e o Crowgard grasnando um
aviso, Simon deixou Vlad terminando de colocar os livros nas prateleiras
do HBL para que parecessem cheias quando os Lobos Addirondak
chegassem naquela tarde.
Ele encontrou os dois homens no caminho de acesso. —
Falaremos no Gabinete do Liaison para que Meg possa ver os planos
também. — Ele sorriu, mostrando caninos mais longos do que o de um
humano, como um lembrete amigável de que tentar caçar Meg não seria
tolerado. Não que ele pensasse que o Intui tentaria, mas não fazia mal
restabelecer o seu território.
Não que Meg fosse o seu território, mas ele tinha a
responsabilidade de todo o Courtyard, e Meg era uma ligação vital para o
bando humano não comestível que estava agora sob os seus pés cada vez
que ele se virava.
Simon levou-os até a sala de trás da triagem.
— Olá, Steve. Oi, Jerry, — Meg disse dando a Simon um olhar
perplexo.
— Bom dia, Meg, — Steve disse. — Posso usar a mesa?
Meg moveu um par de pilhas de catálogos. Steve desenrolou os
planos para o campus Cassandras de Sangue na Ilha Grande.

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— Nós temos trinta acres para trabalhar, mas estamos pensando
em colocar a maior parte dos edifícios juntos, — Steve disse. — Será mais
fácil trabalhar com os encanamentos de água e esgoto, assim como a
eletricidade. E queríamos manter a abundância de grama e árvores para
as meninas, bem como os animais selvagens que já moram por lá.
Eventualmente, vamos construir para cem habitantes. Meninas, jovens,
adultos e os mais velhos terão estúdios e algumas áreas em comuns para
socializar. As meninas mais jovens terão quartos e áreas em comuns em
seu prédio. Pam Irlanda, que está trabalhando com as meninas agora,
será a administradora do campus quando for construído e terá sua
própria residência no local. Nós teremos um estábulo com um punhado
de cavalos, um par deles para puxar as carroças e o resto para a
equitação. A família Liveryman está doando os cavalos e vai treiná-los.
Eles também vão deixar alguém cuidando dos cavalos, como parte de sua
contribuição para o campus. Já que a ideia é fazer com que as meninas
aprendem a fazer as coisas e que sejam independentes, haverá também
uma pequena fazenda com uma vaca leiteira ou duas, e algumas
galinhas. Nós pensamos em porcos, mas achamos que vacas, galinhas e
cavalos serão o suficiente para meninas entre as idades de oito e onze
para cuidar. Além disso, teremos uma horta, mas que provavelmente vai
acontecer no próximo ano. Nossa primeira prioridade é os alojamentos.
— Ele olhou para Meg. — O que você acha?
Meg estudou os planos. — Você deve ter um lugar para nadar.
Steve estremeceu. Simon achou que Meg não notou.
— Nós temos uma piscina no nosso centro de comunidade, —
Steve disse dando a Simon um olhar de me ajude. — Nós não colocamos
uma piscina no orçamento para a construção deste lugar.
— Não oficialmente uma piscina. — Meg olhou para Simon. —
Algo como o que o Crowgard do Pátio tem.
— Significa um buraco para natação, — Simon disse. — Eu vou
te mostrar o que nós temos aqui. — Ele se sentiu relutante em levar mais
humanos a uma parte do Pátio que geralmente estava fora dos limites. Na
verdade, eles tinham colocado recentemente uma placa de Intrusos maior

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para lembrar o bloco humano que eles estavam autorizados a ir, sem
serem comidos, até a horta em comum, e o Complexo Verde, mas não
mais adiante, e se estiverem desacompanhados e dirigindo pela estrada
que levava ao Pony Barn, eles estavam pedindo para serem atingidos por
um raio ou por Tornado.
— Biblioteca? — Meg perguntou.
— Com apenas cinco meninas, nós achamos que algumas
estantes na sala em comum seriam suficientes, — disse Steve.
Eles estudaram os planos por mais alguns minutos. Não é um
Composto, Simon pensou. Não é uma prisão com celas. É um lugar
estável, onde a Cassandra de sangue poderia contar com a rotina das
tarefas diárias para equilibrar as coisas que iriam mudando.
Ele se perguntou se Jean havia dito alguma coisa a Steve sobre a
profecia que ela viu em algumas cidades humanas.
Muitas empresas iriam desaparecer, e teríamos que encontrar
lugares novos para fazer as compras.
— Você precisa dos materiais de construção para a toca das
jovens meninas, para a toca da Pam, o estábulo, o celeiro e os outros
edifícios para os animais e alimentos, — ele disse.
— Sim, mas podemos começar com... — Steve começou.
— Você precisa comprar todos os materiais de construção que
puder.
— Claro, mas temos um orçamento-
— Agora.
Silêncio. Finalmente, Meg disse — Simon?
Ele manteve os olhos sobre Steve. — Você precisa comprar
suprimentos para sua aldeia. Você precisa comprar os suprimentos
humanos utilizados pelo povo Simple Life e os indigenes da terra. Você
precisa se preparar agora para um inverno duro.
Meg olhou para os três homens. — Mas... É Juin. O verão está
apenas começando.
Steve olhou para Simon. — Por quanto tempo e quão difícil será
esse inverno?

159
— Longo. E muito difícil. — Simon respondeu. — Se você comprar
algum produto em outra cidade; certifique-se de comprar o suficiente
para além da primavera. — Isso iria dar-lhes alguns meses para descobrir
novas maneiras de obter ou fazer o que eles precisavam.
— Minha esposa começa a comprar papel higiênico em setembro,
para se certificar de que não faltará nenhum rolo na mercearia quando a
balsa não puder fazer uma corrida de abastecimento, — Jerry disse sem
olhar para qualquer um deles, ele acrescentou: — As fontes femininas
são importantes.
Mas isso foi tão longe quanto Jerry se aventurava em um território
perigoso. Simon esperava que fosse suficiente para Meg pegar a dica.
— Não sabemos quando o inverno vai chegar este ano? — Steve
perguntou.
Simon balançou a cabeça, aliviado por Steve entender que eles
não estavam realmente falando sobre a temporada. Estavam falando
sobre uma coisa que significa outra coisa estranha, mas havia coisas que
ele não desejava compartilhar com os seres humanos, mesmo naqueles
em quem confiava. — Quando chegar, ele virá forte e rápido. — Ele e Vlad
tinham ouvido uma reportagem sobre um discurso que está sendo
distribuído por todos os líderes HPU em Thaisia. Será que o Capitão
Burke e o Tenente Montgomery não achavam estranho que todos esses
líderes estavam uivando para os repórteres, mas Nicholas Scratch estava
tão conspicuamente ausente do noticiário?
Os indigenes da terra sabiam que uma tempestade estava
chegando. As únicas perguntas eram: quando iria atingir e o que ainda
estaria em pé quando terminasse.
— Vamos pegar seu carro, — Simon disse. — Eu vou te mostrar o
lago.
Steve enrolou os planos. Ele e Jerry disseram adeus a Meg e
saíram.
Simon observou Meg esfregar as cicatrizes em seu braço esquerdo.
— Você sabe de uma coisa, — ela disse.

160
— Eu sei que devemos comprar suprimentos humanos, enquanto
os humanos ainda estão vendendo para nós.
— Eles têm que vendê-los para nós.
— Eles estão se rebelando. Eles acreditam que não faremos nada
se eles quebrarem as regras. Por que deveriam? O HPU está dizendo o
que eles querem ouvir, mas eles podem esperar as consequências. —
Simon gentilmente pegou a mão de Meg, afastando-a das cicatrizes. —
Você e o bando feminino precisam começar a comprar as coisas que são
essenciais para vocês. Eu não sei por quanto tempo essas coisas ainda
estarão ao redor. Algumas empresas podem sair do negócio.
Meg olhou para ele incrédula. — Como as empresas que fazem
coisas como papel higiênico podem sair do negócio?
E se ele mostrar a ela a carta de Jean? Era errado querer protegê-
la dessa informação, quando ela já tinha tantas coisas para pensar?
Antes que ele pudesse tirar a carta do bolso, Meg olhou nos seus
olhos, e era um olhar que lhe disse que ela estava revendo imagens de
treinamento e memórias.
— Um tempo atrás, Ruthie falou sobre uma lista que encontrou
em um livro velho, — Meg disse com um cuidado que fez Simon achar
que parecia um Lobo testando o chão a cada passo. — Era uma lista de
cidades e aldeias humanas que não existiam mais. Acho que se pode
dizer que as empresas desses municípios saíram do negócio.
— Você poderia dizer isso, — ele concordou. — Talvez outra
empresa em outra cidade possa começar a fazer alguns dos mesmos
produtos, mas isso levaria tempo.
— Compreendo.
Ela compreendia? Ele esperava que fosse verdade. — Por mais que
você decida contar, você precisa manter isto apenas dentro do bando
feminino, Meg. Faça as outras meninas entenderem que elas têm que
manter isso dentro da matilha.
Meg assentiu. Ela não parecia feliz, o que o deixava infeliz, mas
às vezes você não podia compartilhar uma carcaça, ou informações, se
você quisesse que sua própria matilha tivesse o suficiente para comer.

161
— Steve e Jerry estão esperando por você, — ela disse.
Ele queria pressionar os lábios em sua pele, mas ele achava que
ela não iria deixá-lo agora, então ele saiu para se juntar aos outros
machos.
— Ela vai querer comprar papel higiênico para cada pessoa que
ela conhece, não é? — Steve perguntou quando ele abriu a porta traseira
e entrou, deixando o banco do passageiro dianteiro para Simon.
— Ela não pode. — Que obsessão com papel higiênico era essa?
Depois de um momento, Jerry disse: — Onde?
Simon os levou até a estrada, virando na parte do Crowgard do
Courtyard, o que significava passar pela nova placa. Ele cheirava medo,
mas nenhum homem no carro falou.
— A informação que você recebeu sobre uma grande tempestade
chegando, — Steve disse. — Você não conseguiu de Meg, não é?
Simon balançou a cabeça. — De Jean.
— Deuses acima e abaixo.
Ele podia ouvir Steve tentando firmar sua respiração. — Simon,
Jean é...
Simon hesitou, pensando no que ele tinha acabado de dizer para
Meg sobre como manter as informações dentro do bando. Mas ele já havia
dito a Steve e Jerry que uma tempestade estava chegando. Ele não se
sentia confortável em contar mais, mas ele tirou a carta do bolso e a
entregou a Steve. — O cérebro dela está doente. Não é por isso que ela vê
o que ela vê, mas talvez seja a razão pela qual ela escolhe lembrar o que
ela vê.
— Deuses, — Steve disse novamente depois de ler a carta. — Tudo
bem, vamos comprar o que pudermos pagar.
— Compre o que você conseguir. O Courtyard tem dinheiro. Nós
vamos pagar por isso. É melhor comprar o que você pode para a
Comunidade Road River também.
— Sim, tudo bem. — Steve devolveu a carta. — Uma boa coisa que
os e-mails sobre 'Meg, a Guia' têm feito por nós foi fornecer uma grande
rede de comunicação entre os assentamentos Intui. Nós começamos uma

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segunda lista do que cada assentamento faz e o que quer comprar. O
conselho da aldeia já decidiu comprar o máximo que pudermos para o
nosso próprio povo.
— Envie essa lista para Meg e Vlad, já que Meg não se esquece de
verificar os e-mails. — Ele apontou. — Suba na ponte. Esse é o lago que
Meg quer que você veja.
— O campus não tem um lago, mas há um riacho que atravessa
aquela terra. Acho que poderíamos encontrar um local que pode ser
aberto para fazer um buraco de natação natural, — Steve disse. — Nós
vamos dar outra olhada quando voltarmos para a ilha.
Voltaram para a Praça do Mercado, deixando Simon na calçada
quando chegaram à via de acesso.
— A propósito, — ele disse quando abriu a porta. — O gado pode
ser movido por Sledgeman?
— Claro, — Jerry respondeu. — Temos um grande trailer de
gado. Nós o usamos principalmente para usá-lo para os cavalos, mas ele
pode trabalhar para outros tipos de animais. Você precisa transportar
algo?
— Sim, em breve. — Simon saiu do carro, em seguida, esperou
até que Steve se moveu para o banco do passageiro da frente antes de
acrescentar: — E você precisa encontrar alguém que possa montar um
cavalo e cuidar de um bisão jovem.
Eles olharam para ele. — Bisão? — Disse Steve.
— Onze deles. Podemos dividir o rebanho entre a Comunidade
River Road e o Pátio.
Suas expressões o lembraram de Skippy, quando o cérebro do
jovem não estava funcionando muito bem. Esperando que Jerry tivesse
bom senso, o suficiente para não dirigir antes que ele pudesse pensar,
Simon entrou na Howling Boas Leituras para se preparar para os seus
hóspedes.

****

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Meg chamou o bando feminino, incluindo Eve Denby,
assegurando a todas que seria um encontro rápido, mas que precisava
ser agora.
— Coisas de menina, — ela disse, e começou a fechar a porta
particular. Como esperado, Nathan saiu da cama Lobo e soltou
um arrooo em protesto por ser excluído. Mas quando viu o resto das
meninas, ele se virou e voltou para a cama. Proteger contra entregadores
selvagens era uma coisa; lidar com as fêmeas humanas, a quem ele não
poderia morder, era outra.
Meg anotou sobre o encontro com Steve Ferryman. Mesmo o
campus na Ilha Grande sendo interessante, não tinha nada a ver com
elas. Mas a parte sobre suprimentos...
— Eu normalmente não escorrego na mentalidade de um esquilo
até o outono, mas muitas companhias estão se filiando ao movimento
HPU, e Simon tem um ponto em comprar o que puder enquanto puder,
— Merri Lee disse.
Meg franziu a testa. — Esquilo...?
— Comprar latas de sopa, potes de molho de espaguete, e caixas
de espaguete. Estocar papel higiênico, toalhas de papel e tecidos. E as
coisas que as meninas precisam, porque ninguém quer ficar sem esses
fornecimentos no meio de uma tempestade de neve.
Ela olhou para elas, surpresa que ninguém sentiu o alarme que
ela tinha sentido. — Então isso é normal?
— Em Lakeside? Sim.
Ela piscou.
— Meg, você não estava pensando sobre estes tipos de
suprimentos no último inverno, mas quando os locutores de rádio
alertaram para uma grande tempestade de inverno, nós prestamos
atenção, — Merri Lee disse. — E acredite em mim, não levamos levemente
essas informações.
Ruthie assentiu. — Você não espera até que o último rolo na loja
seja comprado quando isso acontece. — Então ela franziu a testa. — Por

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que você acha que o Sr. Wolfgard está tão preocupado com o estoque de
suprimentos?
Porque mais cidades humanas vão desaparecer. — Por causa das
sanções que foram impostas recentemente, há atrasos nas mercadorias
que estão sendo enviadas de uma região para outra, — Meg disse
oferecendo uma explicação menos assustadora. — Talvez os atrasos
durem mais tempo, e talvez tenhamos mais chances de ficar sem alguns
suprimentos.
— Se há restrições sobre a quantidade de suprimentos que uma
família pode comprar em um supermercado regular, os humanos que
trabalham no Pátio podem fazer a diferença comprando os itens restantes
nas lojas da Praça do Mercado, — Eve disse. — E, falando como gerente,
uma vez que a venda desses dois edifícios de apartamentos se complete,
haverá o potencial de dez famílias humanas, com as necessidades
humanas, morando lá. Talvez a Associação Empresarial tenha ouvido
algum rumor sobre essa escassez.
Ou ouvido mais do que um rumor. Meg sentiu seu coração batendo
contra o peito. Alfinetes e agulhas enchiam seus braços, e de repente ela
queria o alívio e a libertação de um corte.
Agora não, ela pensou. Agora não. — Simon disse que precisamos
manter isso entre nós, que não devemos contar a ninguém sobre o
armazenamento de suprimentos. — Ela esfregou um braço e depois o
outro, ignorando a forma como as outras mulheres estavam tensas.
— Talvez não devamos nos preocupar com o porquê e nos
concentrar em obter os suprimentos enquanto podemos, — Eve disse.
As outras concordaram.
— Eu acho que nós deveríamos comprar alguns frascos de
conservas, — Ruthie disse. — Nós vamos precisar para preservar alguns
frutos. Talvez comprar alguns potes de geléia também. Meg? Existe a
possibilidade de pedir para algumas mulheres Simple Life nos ajudar no
aprendizado de conservas de alimentos e na produção de geleia?
— Posso perguntar, — Meg disse.

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— Gazes, ataduras e talas. — Theral apontou o dedo para a tala
de Merri Lee, que foi quebrado algumas semanas atrás, durante a luta
no Mercado Tenda. — Remédios e suprimentos médicos.
Eve assentiu. — Falando como mãe, ter a disposição alguns
medicamentos seria uma boa ideia.
— Simon disse que não poderia, mas devo dizer... — Meg hesitou
quando viu a renúncia e a amargura nos olhos de suas amigas.
— Dizer a quem? — Perguntou Merri Lee. — Os amigos que não
falam mais conosco? — Ela inclinou a cabeça na direção de Ruthie. — A
família que nos mantêm longe?
Meg olhou para Ruthie. — Mas eu pensei que eles viriam em
Windsday para ajudar você e Karl a se mudarem.
Lágrimas encheram os olhos de Ruthie. — Minha mãe me disse
que todas as coisas que eu tinha guardado na casa dela já estavam na
calçada para irem ao lixo, a menos que eu pegasse antes. Minhas coisas
já estavam na calçada quando Karl e eu chegamos. Minha mãe estava na
porta nos observando, e nem saiu para falar conosco. E você sabe o que
ela gritou para meu pai quando Karl e eu acabamos de colocar minhas
coisas no carro? O lixo recolheu as caixas. — Um soluço escapou de
Ruthie antes que ela recuperasse o controle.
— Problema? — Tess estava na porta de trás, com o cabelo
completamente vermelho e enrolando.
— Não, — disse Meg. — Não temos um problema. — Quanto foi
que Tess tinha ouvido?
Elas abriram espaço para Tess quando ela caminhou até a mesa
da sala de triagem e pousou uma bandeja. — Bolos frescos, — Tess disse.
— Para um lanche. Então é hora de vocês trabalharem. — Ela saiu.
Todo mundo deixou escapar um suspiro de alívio.
Ruthie enxugou os olhos. — Bolinhos. Trabalho.
— Onde você colocou seu material? — Meg perguntou a Ruthie.
— Meus tios estão guardando até Ruthie estiver pronta para a
mudança, — Theral disse. — Eles querem ajudar. Eles não se
esqueceram que o Sr. Wolfgard vai deixá-los terem uma parte da

166
produção do jardim do Complexo Verde de Lawrence. Ele não tinha que
fazer isso.
— Bolinhos. Trabalho. — Merri Lee disse pegando um bolinho da
bandeja. — Os hóspedes do Courtyard estão chegando nesta tarde, e
todos nós precisamos dar um bom exemplo. — Ela olhou para Meg. —
Você está bem?
— Estou triste por todas vocês, mas eu estou bem. — A sensação
de alfinetadas e agulhas se foi, sem deixar nenhuma indicação de que
um corte iria revelar alguma coisa para as suas amigas ou para o Pátio.
Sem uma questão que precisava de uma resposta, e sem algum
tipo de justificativa, ela não poderia fazer um corte, sem prejudicar suas
amigas, para não mencionar Simon.
Elas comeram os bolinhos e foram para seus empregos. Meg abriu
a porta particular e ignorou o olhar que ela recebeu de Nathan. — Você
pode estar de mau humor por ter sido deixado de fora, ou você pode ter
um dos biscoitos Lobo frescos que Jerry Sledgeman trouxe de Eamer
Bakery.
Amuado, mas sem poder competir com os biscoitos frescos com
sabor de carne, além de Meg ter uma sensação de que Simon ia ficar um
pouco mal-humorado também, ela reservou dois dos biscoitos com sabor
de carne para ele.

****

Caminhando de volta para a Bite, Tess parou quando viu Henry


olhando-a por cima da porta de madeira que dava para o quintal dele. Ela
olhou para o Gabinete do Liaison e a janela aberta da sala de
triagem. <Você ouviu?>
<Ouvi,> ele rosnou. <Nada a ser feito sobre essa porca.>
<Nada a ser feito,> ela concordou, em seguida, acrescentou
silenciosamente, Ainda.

167
<Kowalski pediu emprestado uma van do Complexo Utilities
amanhã para mover os bens que ele armazenou no antro de sua
família. Eu vou com ele e desencorajar qualquer outro a falar sobre lixo.>
Os cachos em seu cabelo relaxaram. A presença do Grizzly
desencorajaria muitas coisas, mas não seria ruim sugerir a Simon que
os Falcões fizessem uma guarda aérea, enquanto um deles estava em
território inimigo.

168
CAPÍTULO 16
Windsday, Juin 13

— Pare na área de estacionamento para clientes, — Monty disse


para o Oficial Debany. Kowalski tinha tirado alguns dias para organizar
seus assuntos pessoais, como fazer a mudança para o duplex em frente
ao Pátio, portanto, Debany estava de motorista e parceiro de Monty.
Muitos policiais na estação de Chestnut Street apoiavam a ideia
de cooperar com os Outros, de manter as coisas em paz com os seres que
controlavam a maior parte do mundo e tinham a palavra final no que
acontecia aos seres humanos que moravam em Lakeside. Mas ser
solidário não era o mesmo que estar disposto a ficar na linha de frente e
interagir com os indigenes da terra em uma base diária, especialmente
quando os membros da família poderiam ser condenados ao ostracismo
por seus amigos e vizinhos por causa da decisão do Oficial. Essa era uma
possibilidade real, como Louis Gresh e sua família sabiam bem. Até agora
ninguém tinha se canditatado a ser o novo parceiro de Michael Debany e
o quarto membro da equipe designada para lidar com o Courtyard de
Lakeside.
Monty não sabia o que fazer sobre isso. Aparentemente, nem o
Capitão Burke. Ou talvez Burke, entendendo que a atribuição não era
apenas sobre ter outro Oficial no carro patrulha, não quisesse outra
personalidade adicionada à mistura agora porque na parte de trás das
mentes dos Oficiais que já estavam intimamente envolvidos com os
Outros havia uma única palavra: extinção.
A outra preocupação sobre a atribuição de um novo Oficial
deixava um gosto ruim na boca de Monty, mas ele tinha que reconhecer
a verdade: eles não podiam se dar ao luxo de ter um Oficial que pudesse

169
pertencer ao movimento HPU se infiltrar no Pátio, espionando os Outros
para que os líderes HPU pudessem planejar ataques eficazes.
Enquanto ele e Debany caminhavam até a livraria, Monty fez uma
pausa e estudou o duplex. — Como é que vão as mudanças? Karl não
pegou alguns móveis e bens ontem? — Ele tinha ouvido o que aconteceu
com Ruthie; ele se perguntou se as coisas estavam tão ruins quanto para
Karl.
Debany hesitou. — Os pais de Karl não são pessoas
más. Lawrence, eu e alguns outros oficiais fomos em um churrasco em
sua casa no verão passado, e foi ótimo. Mas agora eles estão culpando o
trabalho de Karl por tudo, desde o açougueiro vendendo o último pedaço
de carne para a Sra. K, até o preço da gasolina. Seu irmão, Tim, estava
meio bêbado quando Karl chegou em casa na manhã de ontem, e foi meio
abusivo por causa disso. Karl não estava recebendo qualquer ajuda para
carregar os móveis e algumas das coisas que você realmente não poderia
levantar sozinho. Em seguida, Henry e Blair chegaram com uma picape,
e não disseram nada, apenas carregaram os móveis na parte de trás da
picape, enquanto Karl embalava a van com caixas. Em seguida, eles
foram embora.
— Os pais de Karl falaram algo sobre os indigenes da
terra ajudando?
Outra hesitação. — Provavelmente, mas ele não fala sobre isso.
Monty manteve os olhos focados no prédio do outro lado da
rua. Deuses, seus homens estavam levando uma surra emocional por
fazer o que eles sabiam que ajudaria a todos na cidade. — E quanto a
você e sua família?
— Meus pais estão preocupados, especialmente depois que
Lawrence foi morto no Mercado Tenda, mas eles me dão suporte. Eles
receberam algumas críticas sobre eu ser um amante de lobo, mas estão
lidando bem. — Debany deu um sorriso tímido. — Minha irmã quer um
emprego onde ela possa montar um cavalo e trabalhar com os animais,
então ela fica perguntando sobre a comunidade River Road, e que tipo de

170
habilidades de trabalho eles irão procurar quando começarem o
povoamento.
— Por que você não fala com Roger Czerneda? Como um colega
policial, ele poderia ter mais informações e estar disposto a dizer-lhe algo.
— Monty suspirou. — Bem, vamos esperar que as famílias de Karl e
Ruthie terminem por aí.
— Karl está segurando a respiração. — Outra hesitação. — Eles
adiaram o casamento.
Ele se perguntou por que não escutou esses problemas
ultimamente, mas pensou que Karl e Ruthie iriam acabar decidindo
manter uma cerimônia privada e ter uma festa mais íntima assim que se
mudassem para o novo local.
— Eu acho que suas famílias não irão aparecer de qualquer
maneira, — acrescentou Debany.
Seu coração ficou pesado ao ouvir isso, e o fez se perguntar se sua
mãe e irmã chegando a Lakeside seria uma boa ideia.
Quando ele começou a caminhada para a livraria, Monty percebeu
que as placas de Vende-se tinham desaparecido dos dois edifícios,
confirmando a compra dos imóveis pelo Pátio. Até agora não houve
protestos sobre os Outros serem detentores de propriedades do lado de
fora do Pátio, mas mais cedo ou mais tarde alguém daria esse bocado de
informação para a TV e rádio de notícias. Monty suspeitava que o atual
proprietário dos edifícios quisesse seu dinheiro antes das coisas
começarem a se agitar.
— Por que você não pega algo para comer na Bite, para ter uma
idéia de tudo o que possa se tornar um problema, — Monty disse.
— Sim, senhor. Estamos falando de problemas humanos?
— Qualquer coisa e tudo. — Ele queria falar com Kowalski sobre
coisas que não estavam sendo ditas. Mas, primeiro, ele precisava dar
uma palavra com Simon Wolfgard.
Debany entrou na Bite. Monty entrou na Howling Boas
Leituras. A placa Apenas Para Residentes estava na porta, mas ele era,
por enquanto, um residente temporário, por isso ele entrou. Kowalski

171
estava usando uma camiseta e jeans escurecidos de suor, e estava
sentado enfrente a mesa de exibição na frente da loja, lendo a capa de
um livro. Ele olhou para cima quando Monty entrou.
— Você não deveria estar organizando os móveis? — Monty
perguntou. Karl parecia um pouco tenso, mas Monty não poderia dizer
se era por causa das pressões familiares ou da mudança para um novo
lugar.
— Oh, por favor, — Kowalski gemeu. — Quantas vezes você pode
mover uma peça de mobiliário?
Monty sorriu. — Essa é uma pergunta difícil.
— Sim, é, especialmente considerando que Ruthie está
trabalhando hoje, interagindo com os hóspedes Lobos. Pete Denby e eu
somos os músculos, e Eva Denby está supervisionando a colocação das
peças grandes com base nas notas que Ruthie deixou com ela, mas Eva
está um pouco distraída, porque Jester Coyotegard está no apartamento
de baixo observando as três crianças. A terceira vez que ela nos disse
para mover o sofá, nós o colocamos no lugar errado, o que significou que
devíamos colocá-lo de volta de onde o tiramos da primeira vez, Então Pete
e eu nos rebelamos. É por isso que estamos tirando uma pausa de trinta
minutos. Além disso, Eve tem que negociar com Jester em sua escolha
de atividades de babá. Ele está ensinando as crianças a uivarem.
Monty suspirou. Uma dessas crianças era Lizzy.
— Kowalski. — Nathan andou até eles, seguido por um
adolescente que estava usando um pulôver de manga curta, calça jeans
e tênis. O menino segurava um pedaço de papel em uma mão e parecia
pronto para fugir.
Um dos convidados, Monty decidiu. Nada óbvio sobre a aparência
do rapaz, exceto os olhos cor de âmbar, mas ele não conseguia passar
por humano.
— Nathan, — Kowalski respondeu, sorrindo para o Aplicador e
depois para o menino.
— Kowalski é um policial. — Nathan virou a cabeça o suficiente
para tornar claro que ele estava falando com o jovem Lobo, mas ele

172
manteve os olhos em Kowalski e Monty. — Ele não está usando o
uniforme hoje.
— Oficial Debany está na Bite, se você quiser ver um oficial de
uniforme, — disse Monty.
Nathan assentiu, e então se concentrou em Kowalski, enquanto
apontava para o papel. — Nós temos uma pergunta.
Kowalski estendeu a mão. Após um momento de hesitação o
menino deu-lhe o papel, que tinha sido dobrado quatro vezes.
Monty se aproximou quando viu a logo do boletim do Courtyard. A
maior parte do boletim que Lorne Kates imprimia a cada semana
informava listas de novos livros e filmes que estavam disponíveis, bem
como os filmes que estavam sendo exibidos na sala social localizada no
Complexo de cada Gard.
— É o boletim, — Nathan disse.
Kowalski abriu o informativo. A Coluna, “Etiqueta para os
Outros”?
Nathan assentiu, então inclinou a cabeça em direção ao Lobo
juvenil. — Ele quer saber se isso é verdade.
Monty leu sobre o ombro de Kowalski.
Prezada Sra. Sabe Tudo:
Na noite passada, uma fêmea humana me convidou para jantar e
depois jogar em dupla. (E acabou por ser apenas duas pessoas jogando,
já que ninguém mais apareceu.) Após o jantar, ela quis se sentar na parte
de trás de seu carro para jogar. Uma vez que esta foi a minha primeira
interação social com um ser humano, eu estava tentando ser educado,
então não salientei que o campo próximo fornecia muito mais espaço para
correr. Eu também não apontei que ela não tinha nenhum brinquedo. De
qualquer forma, ela começou a tocar em meu corpo com as mãos e lamber
a minha boca. Quando ela colocou a língua na minha boca, eu pensei que
ela estava com fome, apesar de ter acabado de comer um grande
jantar. Então eu agradeci e lhe dei um bocado de comida pré-mastigada.
Depois que ela cuspiu e gritou, ela me disse para sair do
carro. Então ela foi embora, e eu tinha que ir para casa.

173
Por que ela fez aquilo?
Assinado,
Lobo confuso.

Caro Lobo confuso,


Um dos desafios entre os relacionamentos entre espécies é que um
gesto ou sinal em particular pode significar duas coisas muito diferentes.
Como um Lobo, você respondeu como faria com um filhote que lambeu sua
boca: você forneceu comida, e sua confusão sobre a reação dela é bastante
natural. No entanto, os seres humanos fazem as manobras lamber e usar
a língua como jogo para estimular o desejo de acasalar. Portanto, seu
companheiro não estava pedindo comida; ela estava enviando um convite
para experimentar os primeiros estágios do sexo. Isso é o que ela queria
dizer com as preliminares. (Isto não é o mesmo que jogar em duplas
também, embora a pesquisa que a Sra. Sabe Tudo fez, indica que os seres
humanos possam, por vezes, fazer isso também.)
O Guia Dimwit para a mente feminina pode ajudar em seus
esforços para compreender as fêmeas humanas. Mas devo salientar que
este assunto pode ser uma aventura perigosa e deve ser feita com extrema
cautela. Afinal de contas, os machos humanos têm tentado compreender
suas fêmeas por gerações, e na maioria das vezes, eles também
interpretam errado esses jogos e encontros, e acabam como alguém preso
em suas caudas depois de um choque elétrico.

Kowalski soava como se estivesse com algo preso em sua


garganta. Finalmente, ele conseguiu dizer, — Sim. — Ele entregou o
boletim de volta para o menino. — Sim, é verdade.
O menino olhou para o boletim de notícias, disse — Huh, — e
caminhou até o arco que dava para a Bite.
Nathan deu aos homens um aceno de cabeça, em seguida, seguiu
o rapaz.

174
— O Guia Dimwit para a mente feminina? — Perguntou Monty. —
É um livro de verdade?
— Eles têm um para a venda aqui, e há um na Biblioteca da Praça
do Mercado. Aquele foi mastigado, então eu acho que alguém tentou lê-
lo.
— Você leu isso?
Kowalski engasgou com uma risada. — Deuses, Tenente.
Monty encarou isso como um não. — Você está lidando bem com
a mudança para o outro lado da rua? — Ele sabia a resposta, mas a
questão era um convite para Karl dizer algumas coisas que estavam
acontecendo.
O humor leve e momentâneo desapareceu como se nunca
houvesse existido. Kowalski deu-lhe um olhar, então se concentrou na
mesa de exposição, de costas para a caixa.
Ninguém à vista, mas nem sempre significa muito com os Outros.
— Nós fomos para a casa de MacDonald esta manhã para pegar
as coisas de Ruthie, — Kowalski disse calmamente. — Eve Denby está
arrumando o apartamento e pintando para nós, e nós vamos ajudar ela
e Pete a fazer o mesmo no apartamento do andar de baixo. Simon
Wolfgard veio com a promessa de buscar seus pertences pessoais de seu
antigo lar no Centro-Oeste. Os indigenes da terra naquela área
embalaram tudo o que podiam, começando com as coisas que os Denbys
indicaram ser as mais importantes.
— Coisas pessoais, — Monty disse calmamente.
Kowalski assentiu. — Muito foi deixado para trás. Coisas grandes
como os aparelhos. Sofá. Colchões.
Monty compreendia o desembolso de dinheiro que seria
necessário para começar de novo. Ele estava na mesma situação. Sua ex-
amante, Elayne, tinha ficado com todos os móveis que havia comprado
para o apartamento que tinham partilhado em Toland. O irmão de Elayne
foi encontrado morto, e sua mãe ainda estava listada como desaparecida,
por isso, ele não tinha certeza se teria que lidar com os bens de Elayne.

175
Ele supôs que Lizzy fosse agora a parente mais próxima de
Elayne. Ele deveria ter uma conversa com Pete Denby em breve para
garantir que os interesses de Lizzy estivessem protegidos.
— Eve ou Pete Denby falaram com você sobre a matrícula de Lizzy
na escola em outono?
— Não.
Monty estudou seu parceiro. — Há algo que eu deva saber?
— Eve foi falar com o diretor da escola onde Sarah e Robert
deveriam entrar no próximo outono.
Monty sentiu um arrepio. — Deveriam estar?
— Ela foi informada que a prole dela não tinha o direito de usar
os recursos que eram necessários para os humanos mais adequados.
— Como eles sabiam que ela não era uma humana adequada?
— Ela deu-lhes o seu novo endereço. Eu acho que os
administradores escolares estavam esperando a oportunidade para
rejeitar os filhos de Eve e usá-los como um caso de teste para recusar
todas as crianças cujos pais eram amantes de lobo.
— Eles não podem fazer isso, — Monty protestou. — Não é uma
escola particular. Estamos falando de uma escola pública dirigida pelo
município.
— Ruthie viu um pequeno artigo na Lakeside Notícias sobre uma
votação que está prestes a ser tomada para privatizar todas
as escolas. Se isso acontecer, eles serão capazes de escolher quem poderá
ser aceito.
— Deuses acima e abaixo. — Outra torção, mas essa era uma faca
emocional. Quantos pais se tornariam membros do HPU se essa fosse a
única maneira de seus filhos terem educação?
— Pensei que você deveria saber, — Kowalski disse.
— Eu aprecio o ouvido ligado.
— É melhor eu pagar por este livro e voltar ao trabalho antes de
alguém vir procurar por mim.
— Vejo você amanhã na estação, — Monty disse.
— Estou prontíssimo para voltar.

176
Monty sorriu. Seu sorriso se alargou quando ele ouviu a voz de
Simon Wolfgard se aproximando.
— A biblioteca é um lugar onde você pode pegar livros
emprestados em seu Pátio ou matilha que tenha comprado para que
todos possam ler, — Simon disse entrando na parte da frente da loja,
seguido por cinco Lobos. — Mas uma livraria como a Boas Leituras é
onde você pode comprar livros que deseja manter para si mesmo em vez
de devolvê-los. — Ele foi para trás do balcão, onde estava a registradora,
e olhou para Kowalski.
— Só este hoje. — Kowalski colocou o livro no balcão, em seguida,
puxou a carteira do bolso de trás de seu colete.
— Qual livro o humano quer comprar? — Um dos Lobos
perguntou, olhando para Simon.
Kowalski levantou o livro para que os Lobos pudessem ver a capa.
— Alan Wolfgard escreveu esse livro.
— Sim. Gosto das histórias dele.
Os Lobos olharam para Kowalski antes de aventurar outro
comentário. — Há seres humanos maus nas histórias dele.
— Às vezes existem seres humanos maus em histórias escritas
por seres humanos também, — Kowalski respondeu.
Outro longo olhar antes dos Lobos olharem para Simon.
— Eu posso mostrar-lhe alguns dos autores que escrevem esses
tipos de histórias, — Simon disse. — Tenente Montgomery?
— Um minuto de seu tempo, se você puder poupá-lo, — Monty
disse.
Simon assentiu antes de conduzir a matilha de convidados para
as prateleiras que continham os suspenses. Kowalski acenou e foi
embora.
— Parece que você está ocupado, — Monty disse quando Simon
voltou para o balcão.
— Eu estou, nós estamos. — Simon fez uma pausa. — Ninguém
achou que um bando de meninas teria tantas perguntas quanto os Lobos
Addirondak.

177
— Bando?
— Esse não parece tão perigoso quanto o 'bando feminino', —
Simon resmungou. — E Charlie Crowgard chegou ontem à noite para
visitar por alguns dias; e agora temos que ouvir a sua música da Mulher
com a Chaleira e a Menina com a Vassoura. Charlie disse aos Lobos que
a canção foi inspirada em Meg e Merri Lee, depois de frustrarem um
ataque aqui no Pátio, e que Merri Lee era a Mulher Chaleira. Depois
disso, nenhum dos Lobos queria chegar perto dela enquanto ela estava
segurando uma chaleira.
Monty riu. Lidar com os Outros era um trabalho perigoso, não se
enganem sobre isso, mas o momento absurdo como uma coluna em um
boletim informativo ou a reação a uma canção lhe dava esperança de que
os humanos e os indigenes da terra ainda poderiam encontrar uma
maneira de trabalhar em conjunto. Então ele ficou sério. — Eu estou aqui
para pedir um favor em nome do Capitão Burke.
— Que tipo de favor?
— Seu primo Shady está visitando por alguns dias, ele ajudou
Burke a trazer algumas meninas especiais com segurança a terra. — Os
outros tinham desviado um navio com destino a Cel-Romano
com Cassandras de sangue como parte de sua carga, e o navio se perdeu
em Brittania. Shady participou no salvamento das meninas.
— Eu lembro.
— Shady gostaria de ter a oportunidade de interagir com alguns
dos indigenes da terra para melhorar sua própria capacidade em
trabalhar com eles quando voltar para casa.
Nenhuma resposta. Então — Diferentes formas vivem em
diferentes partes de Namid. O Shady de Burke pode não atender as
mesmas formas que moram aqui. Embora o Crowgard possa viver em
Brittania. Eles vivem em muitos lugares.
— Ele entende isso. Mas Shady nunca viu um Pátio.
Um silêncio pensativo. — Charlie Crowgard vai tocar músicas esta
noite na Praça do Mercado. Theral vai tocar algumas músicas em seu

178
violino. Este seria um bom momento para o Capitão Burke e sua família
virem ao Pátio. Eles poderiam jantar no Carne Verde.
E ser outro tipo de entretenimento? Monty pensou. — Vou avisá-lo.
— Simon? — Um Lobo chamou.
Monty não se moveu de lado para deixar Simon dar a volta pelo
balcão para conversar com seus convidados sobre livros.
— Algo mais? — Simon perguntou.
Será que ele realmente queria perguntar? Havia uma escolha? —
Minha mãe vai passar algum tempo aqui comigo, me ajudando a cuidar
de Lizzy. E minha irmã e seus dois filhos podem se juntar a ela para uma
visita.
Os olhos âmbar do Lobo o estudaram. — É todo o seu bando?
— Eu tenho um irmão, mas não tenho notícias dele há algum
tempo.
— Simon? — O Lobo chamou novamente.
— Estarei lá em um minuto.
Monty não poderia adivinhar o que Simon estava pensando. Uma
matilha de Lobos poderia ficar confortável em um apartamento de um
quarto, mas não iria funcionar para três adultos humanos e três filhos.
— Onde está sua mãe agora? — Simon perguntou.
— Ela vive em Toland. O mesmo acontece com a minha irmã.
Um longo silêncio. Monty podia ouvir alguém falando por trás das
prateleiras. Alguém deve estar ajudando os Lobos.
— Os humanos têm papéis importantes, — Simon disse, sem
olhar para ele. — Coisas que eles precisam manter.
— Sim.
— Sua mãe e irmã, elas devem vir em breve, e devem trazer os
documentos importantes com elas.
— Elas não precisam trazer essas coisas para uma visita, —
Monty disse sorrindo. Mas seria uma boa idéia se sua mãe fosse se mudar
para Lakeside.
Simon olhou para ele. — Elas devem vir em breve, Tenente, e
devem trazer o que for mais importante para elas.

179
Outro arrepio passou por Monty. Este não era um mal-entendido
sobre o que os seres humanos levavam quando visitavam alguém. Esta
era uma advertência velada.
Simon afastou-se do caixa e desapareceu entre as prateleiras.
Monty entrou na Bite e comprou uma xícara de café. Em vez de
levá-la com ele como sempre fazia, ele se sentou em uma mesa perto da
janela, ignorando o olhar intrigado de Debany.
Típico de Simon dar-lhe uma advertência velada. Mas a
mensagem era bastante clara: tire sua família de Toland porque algo vai
acontecer em breve.
Se já não tivesse sido iniciado, pensou Monty, lembrando-se da
reportagem sobre os peixes mortos nas praias ao redor de Toland e duas
outras cidades da Costa Leste.
Ele terminou o café, trouxe o copo até o balcão, então sinalizou
para Debany acompanhá-lo ao deixar a Bite.
— Onde, Tenente? — Debany ligou o carro patrulha.
— Vamos voltar para a Estação. Não- — Monty saiu do carro. —
Espere aqui. Eu tenho que fazer um telefonema. Estarei de volta em
poucos minutos.
Monty foi até o apartamento que usava no Pátio, onde teria
privacidade. Pegou seu telefone celular, ligou para a residência de sua
irmã e não se surpreendeu quando sua mãe respondeu.
— Mama? É Crispin.
— Crispin? Você está bem? Por que você está ligando a esta hora
do dia?
— Eu estou bem, mãe. — Monty respirou fundo e soltou o ar
lentamente. — Estou bem. Mas eu preciso que você me escute com muito
cuidado.

180
CAPÍTULO 17
Windsday, Juin 13

Uma brisa dançava sobre o Courtyard, suavizando o calor do dia,


enquanto Simon e Sam trotavam pela estrada. Meg e Tess foram de carro
à Praça do Mercado, levando roupas para os dois Lobos. Sam poderia
permanecer em forma de Lobo, mas Simon sentiu que ele deveria ficar na
forma humana esta noite, como uma cortesia para os seres humanos que
se juntariam a eles.
<Lembre-se filhote, não vá uivar durante as canções,> Simon
disse. <Charlie Crowgard vai nos dizer quando for para participar.>
<Eu sei,> Sam respondeu. < Eu sei ficar comportado.>
O que significava que alguém não sabia. Será que os filhotes
humanos tendiam a se comportar mal durante eventos públicos? Ele
deveria avisar ao Tenente Montgomery e Pete Denby que se alguém
interrompesse a música seria beliscado? Ele achava que os seres
humanos iriam assistir ao concerto e se comportariam, mas ele poderia
estar errado. Theral ia tocar seu violino, e essas músicas seriam
familiares para os seres humanos. O bando feminino estava animado
sobre o show, tanto para ouvir Theral tocando, mas também para ouvir
Charlie Crowgard. E Kowalski e Debany lhe perguntaram duas vezes se
Charlie iria cantar a canção sobre Meg e Merri Lee derrotando o humano
mau, Phineas Jones.
Quando ele e Sam chegaram à Praça do Mercado, Kowalski e
Debany já tinham arrumado três filas curtas de cadeiras na área aberta,
no centro da praça.

181
— Vlad nos disse para arrumar desta maneira, — Kowalski disse
quando Simon se aproximou. — E Henry disse para colocar alguns
poleiros por trás das cadeiras e ao redor de ambos os lados.
Nem todos indigenes da terra iriam assistir este concerto. Alguns
ainda precisavam ficar de guarda. Mas esta noite era tanto pare se
misturarem com os seres humanos quanto para terem uma chance de
ouvir música. Charlie daria uma apresentação particular para aqueles
que não puderam comparecer esta noite, ou que não queriam se
misturar.
Tess saiu da Carne Verde, seguida por Meg, Merri Lee, Ruthie e
Eve.
— Estamos prontas, — Tess disse. — Temos pizza de crosta
quente que podemos aquecer; bagas recém-colhidas, sanduíches e doces,
e carne de bisão cru para aqueles apreciam assim, ou que apenas querem
preparar seus hambúrgueres.
Charlie estava sentado em uma cadeira, afinando sua
guitarra. Ele tinha mais penas do que o habitual em seu cabelo preto,
um sinal de que estava se sentindo ansioso sobre tocar na frente de seres
humanos.
Henry entrou com um grande tambor. Nathan o seguiu,
carregando uma flauta de madeira, que ele colocou em um banquinho
perto de Charlie antes de tomar o seu lugar na platéia.
<Se você vai tocar sua flauta, quem vai tocar o tambor?> Simon
perguntou a Henry.
<Nós vamos ter que ver,> o Grizzly respondeu. Ele estava ao lado
de Charlie quando Theral saiu do consultório médico, onde ela deve ter
feito sua preparação antes da performance.
O ar carregava o cheiro de seus nervos e suor, mas o sorriso que
ela deu a Charlie parecia genuíno, e Simon notou que o perfume nervoso
desapareceu quando ela mostrou seu violino ao Corvo de forma
entusiasta.
Os Lobos entraram na Praça do Mercado: Blair, Elliot, Jane e
John, junto com os seis Lobos Addirondak. Treze Lobos, incluindo ele,

182
Sam e Nathan. O suficiente para equilibrar os seres humanos que
estariam ali, especialmente quando Simon viu a fumaça fluindo do outro
lado das cadeiras. Erebus e outros dois Sanguinatis tomaram forma
humana, enquanto as outras duas colunas de fumaça se estabeleceram
nas sombras para manter a guarda.
Corujas deslizaram e se estabeleceram nos poleiros de um lado da
Praça. Falcões voavam e pousaram nos poleiros atrás Erebus e seus
parentes. Isso deixava os poleiros diretamente atrás das cadeiras para os
Corvos, lhe dando a melhor vista de Charlie.
Ele estava contente de ver Jake voar, seguido de Jenni e Starr. A
morte de Crystal atingiu todo o Crowgard duramente, e a Associação de
Empresas de Courtyard se perguntou se Jenni e Starr permaneceriam
em Lakeside, e se elas continuassem, se elas iriam continuar a
administrar a Sparkles & Junk.
Não era uma pergunta a se fazer esta noite. Eles estavam aqui
entre os humanos, uma espécie que estava, em sua maior parte,
tornando-se os verdadeiros inimigos dos indigenes da terra. Simon
esperava que sua presença fosse um bom sinal de que os Corvos
poderiam fazer a distinção entre amigos e inimigos.
Agora os seres humanos chegaram. Os Denbys chegaram com
seus dois filhotes, e o Tenente Montgomery e Lizzy estava com eles.
Sam saltou para cumprimentá-los, mas voltou um minuto depois.
<Sam? Você quer mudar? Meg trouxe roupas para você, se você
quiser brincar com os filhotes humanos.>
<Eles estão sendo bobos> Sam respondeu. <Eu quero ficar com
você e Meg. E eu quero ouvir a música.> Sam encontrou a Meg e se
estatelou entre seus pés. Se suas pernas nuas ficassem muito quentes
do pêlo dele, ela iria movê-lo. Mas isso era entre Meg e Sam. Os seres
humanos eram outra pata...
Os filhotes humanos pareciam deliberadamente desobedientes,
deliberadamente atuando até ao ponto de ser prejudicial. Os Lobos
sabiam a diferença entre espíritos elevados, dos causadores de
problemas, e eles estavam olhando para os filhotes de duas patas um

183
pouco bruscamente. Então Ruthie assumiu. Ela tinha um olhar em seus
olhos que lembrava Simon da babá de uma matilha pouco antes de ela
acabar com alguns disparates.
Houve uma discussão entre os Denbys e Montgomery. Então Pete,
dando a Simon um olhar de desculpas, levou os jovens para longe,
enquanto Eve entrava na Carne Verde, saindo depois com recipientes de
alimentos. Ela disse algo para Tess antes de seguir seu companheiro.
<Eles acho que os filhotes não vão se comportar hoje à noite,> Tess
disse em resposta ao seu olhar inquisidor e o de Vlad. <Eles não querem
estragar as coisas para os demais, de modo que eles estão levando os
jovens para casa para assistirem a um filme. Mas suspeito que Pete e Eva
irão se revezar para ouvir o melhor que puderem das músicas.>
<Um bom beliscão iria incentivar um bom comportamento,> Simon
respondeu.
<Todos os Lobos adultos estão provavelmente pensando a mesma
coisa, e é por isso que Pete e Eve estão levando as crianças para casa.>
Simon se perguntou como os três adultos iriam decidir quem iria
ficar para ouvir a música e quem iria cuidar dos filhotes. Então ele viu o
Capitão Burke e outro homem entrando na Praça do Mercado e entendeu
que não houve decisão. Montgomery iria ficar porque a polícia estava com
outra pessoa em seu bando na borda do Pátio, e ele precisava estar aqui
com Burke, o líder do bando da polícia.
— Simon? — Meg não levantou a sua voz; ela não precisava, a fim
de chamar sua atenção. Mas ouvi-la o lembrou que era hora de mudar
para a forma humana para que pudesse atender o estranho que Burke
trouxe.
Ele olhou para Meg, que o encarava com expectativa.
— Eu coloquei suas roupas dentro da Carne Verde, — ela disse.
Ele se afastou para vestir as roupas e cumprir seus deveres como
o anfitrião da noite. E, como recompensa por ficar na forma humana, ele
iria segurar a mão de Meg durante o show.

****

184
Meg tinha visto imagens de orquestras e salas de música e
teatros. Mas essas imagens não se encaixavam nessa experiência. O
centro da Praça do Mercado era cercado por uma área grande, e por vezes,
tinha bancos e mesas, onde os Outros podiam sentar e comer ou ler ou
simplesmente estar ao redor das lojas para fazerem uma interação social
quando estavam na forma humana.
Ela identificou a guitarra e o tambor como instrumentos musicais;
e Henry tinha mostrado sua flauta de madeira durante uma de suas
visitas ao seu estúdio.
Inclinando-se, ela colocou a mão no ombro de Sam para que o
filhote não saltasse para cima, batendo com a cabeça no seu queixo.
— Isso é emocionante, — ela sussurrou acariciando o pêlo dele.
— Você já foi a um concerto antes?
— Arroooo. — Sam inclinou a cabeça para trás e lambeu seu
queixo.
Ela não tinha certeza se isso significava que sim ou não, mas
decidiu que não importava.
O Capitão Burke, o Tenente Montgomery e o estranho se
aproximaram dela. Seus dedos apertavam Sam, e ele deixou escapar um
pequeno whuff de preocupação.
Não há razão para ter medo. Ela estava no Pátio, e ela confiava no
Capitão Burke e no Tenente Montgomery. Eles não trariam aqui alguém
que representasse um perigo para qualquer um deles.
— Senhorita Corbyn? — Burke sorriu para ela. — Este é meu
primo, Shamus Burke. Ele veio de Brittania me visitar e ver um pouco de
Lakeside.
— Olá, Sr. Burke, — Meg disse.
— É um prazer conhecê-la, — Shamus respondeu com um sorriso.
— Me chame de Shady. Todo mundo chama.
Ela relaxou o seu controle sobre Sam, sentindo-se melhor sobre
Shady quando o homem se agachou e estendeu a mão para Sam farejar,
então Meg devolveu o sorriso.

185
Ela não precisava vê-los para saber que todos os Lobos tinham se
aproximado, observando o homem desconhecido que estava muito perto
de um filhote. Ela apenas observou a maneira como Shady rapidamente
se levantou e deu um passo para trás. Então Simon, agora em forma
humana, colocou-se entre os humanos e os Lobos e foi apresentado a
Shady.
Charlie Crowgard dedilhou um acorde, e todos apressadamente
encontraram seus assentos. Merri Lee e Michael Debany se sentaram ao
lado direito de Meg, deixando um assento à sua esquerda aberto para
Simon. Karl e Ruthie estavam na fila atrás deles, junto com o Tenente
Montgomery e Tess. Olhando por cima do ombro, Meg viu Burke e Shady
na terceira fila, junto com Vlad e Erebus. Quando todo mundo estava
sentado, Simon sentou-se ao lado de Meg.
Os poleiros, bem como os telhados, estavam cheios de Corvos,
Falcões e Corujas. Sanguinatis flutuavam pela Praça do Mercado tão
baixo, que Meg se perguntou se alguém percebeu que eles estavam lá, ao
lado da Praça, enquanto os Lobos estavam do outro lado.
Lâmpadas de óleo agrupadas nos cantos do centro da Praça
estavam próximos dos artistas, dando um pouco de luzes para os
músicos, e várias lojas ao redor da praça estavam mal iluminadas
também.
Ao ver Henry acender um fósforo e acender outra lâmpada a óleo,
Meg se inclinou e esfregou a pele acima de seu tornozelo direito.
— Meg? — Merri Lee sussurrou quando ela se sentou. — Você
está bem?
Simon se inclinou tão perto que ela podia sentir seu calor, e a pele
acima de seu tornozelo arrepiou um pouco.
— Apenas uma coceira — ela sussurrou de volta, querendo
acreditar nisso.
— Eu trouxe um pouco de loção contra insetos. — Merri Lee olhou
para Simon e fez uma careta. — Provavelmente cheira muito mal para
você, mas não sabemos ainda como Meg vai reagir a uma picada de
inseto, então eu trouxe um pouco comigo.

186
Charlie começou a cantar. A coceira desbotou.
— Eu estou bem, — Meg sussurrou.
Ela segurou a mão de Simon e ouviu as músicas, maravilhada
quando Henry tocou algumas músicas indigenes da terra em sua flauta,
a mesma música que ela ouvia dos CDs que ele escutava quando ele
trabalhava em suas esculturas e totens. Ela e Merri Lee se arrepiaram
quando Charlie cantou Mulher Chaleira e Menina Vassoura e se encolheu
ainda mais quando os Corvos grasnaram, os Lobos uivaram, os
Sanguinati aplaudiram e Karl e Michael riram e gritavam sua aprovação.
Theral tocou uma música em seu violino. Então Shady subiu e se
juntou aos músicos para cantar uma canção popular original da
Brittania, cantando as palavras em uma bela voz de tenor.
Todos aplaudiram. Meg esfregou a pele acima do tornozelo e
gentilmente cutucou Sam para se afastar de suas pernas. O filhote
obedeceu, lamentando-se em um protesto suave, sentando para um local
à direita na frente de sua cadeira.
— Meg? — Simon disse. A preocupação, o aviso e uma exigência,
tudo embrulhado em uma palavra tranquila.
— Nada de alfinetes e agulhas, — ela sussurrou. — Só um pouco
quente demais. — Ela deu a Sam um sorriso de desculpas.
Apenas um pouco quente demais. Merri Lee havia descrito
queimaduras solares como um calor que formigava e que descascava a
pele. Soou repugnante e possivelmente perigoso para uma Cassandra de
Sangue, mesmo que a pele não fosse realmente cortada. Ela poderia ter
ficado no sol por muito tempo hoje? Será que um pequeno pedaço de pele
podia ficar mais quente do que o resto de sua perna, ou estava quente
por causa de Sam, ou até mesmo por sua própria fricção?
— Precisamos de um baterista, — Charlie disse. — Alguém está
disposto a tentar?
Ninguém se mexeu. Então o Capitão Burke levantou-se e se
dirigiu ao tambor. — Vamos ver se eu me lembro da minha juventude
desperdiçada.

187
Passou um minuto tocando o tambor, aprendendo os diferentes
sons que fazia. Em seguida, ele acenou para Charlie.
— Dê-nos um ritmo, — Henry disse. — Nós vamos encontrar algo
para ajustá-lo. — Então o Grizzly acenou para Simon, que olhou para os
Lobos.
Apanhando o olhar de seu tio, Sam sentou-se em antecipação.
Um ritmo simples que encheu a praça. Henry e Charlie juntaram
seus instrumentos, lembrando Meg do som das folhas se mexendo com o
vento. Então Theral se juntou a eles com seu violino, e tornou-se o som
de um riacho raso. E então os lobos cantaram, e o Pátio com suas lojas e
instrumentos humanos abraçaram o som do país selvagem.
Quando Simon inclinou a cabeça para trás e uivou, Meg se juntou
a ele, e Merri Lee e Ruth se juntaram a ela. Em seguida, Karl e Michael
acrescentaram suas vozes enquanto os Corvos grasnavam e as Corujas
piavam. Apenas os Falcões e os Sanguinatis ficaram em silêncio.
Meg olhou para a direita, onde os Sanguinatis estavam
acomodados nos degraus, ou pairando como colunas de fumaça negra.
Fumaça, ela pensou quando a pele acima de seu tornozelo
arrepiou. Sanduíche de queijo grelhado. Merri Lee dizendo: — Não se
preocupe com isso, Meg. Foi sua primeira tentativa. A crosta queimou um
pouco, então vamos cortar os pedaços queimados, e o sanduíche vai ficar
bom.
Meg olhou para as lâmpadas de óleo, fornecendo luz, olhou as
chamas, mesmo protegidas dentro dos globos de vidro, piscaram e
dançaram.
Fumaça... E fogo.
O desconforto irritante que ela sentia aparecia e sumia durante o
show, e de repente se transformou em um zumbido sob sua pele, que
pareceu tão doloroso que queimava.
Ela gritou e agarrou seu tornozelo. No silêncio que se seguiu o seu
choro, ela pensou que ouviu o som de sirenes distantes, mas ela não
tinha certeza se o som era real.
— Eu tenho que me cortar, — ela engasgou. — Eu tenho que-

188
Não há tempo para explicar ou discutir. Não havia tempo.
Meg correu da Praça do Mercado. Ela tinha que chegar ao
escritório do Liaison. Privacidade. Ataduras.
— Meg! — Simon gritou enquanto corria atrás dela.
Ela caiu contra a porta de trás do escritório, e quase caiu de novo
quando virou a maçaneta e a porta abriu.
Simon correu atrás dela, agarrando-a para impedi-la de cair. Ela
sentiu suas garras picando através de sua camiseta.
— O que podemos fazer? — Charlie perguntou, entrando na sala
com alguns dos Lobos.
— Deixe-me passar. Saiam. — Merri Lee empurrou os Lobos
tentando passar, que surpresos, levantaram seus lábios em um grunhido
silencioso.
— Todo mundo, saia daqui!
Meg não poderia vê-la, mas a voz de Tess soou estranhamente
dura.
Os Lobos e Charlie deram uma olhada para Tess, vindo atrás
deles, e correram para a sala de triagem.
— Eu tenho que me cortar, — Meg suspirou, puxando a navalha
de prata dobrável de seu bolso. — Eu tenho que... — Ela estava
desesperada demais para dar os poucos passos até o banheiro, então se
sentou no chão e abriu a navalha com as mãos trêmulas.
— Ok, você tem que se cortar, mas nós vamos fazer isso da
maneira certa, — Merri Lee disse com a voz ainda meio trêmula. Ela
pegou a caneta e o bloco de papel que Meg mantinha sobre a mesa na
sala da frente.
Sim. Tinha que fazer isso direito.
Fumaça. Fogo. Sirenes.
Meg olhou para Simon, que olhava para ela com olhos de âmbar
com lampejos de vermelho, um sinal de raiva. Não totalmente humano
agora. Muito chateado para manter a forma.
— Não é possível... esperar, — ela engasgou.

189
— Concentre-se em nós, — Tess ordenou, ajoelhando-se na frente
dela. — Você sabe o que precisa nos dizer. Fale profetisa, e nós
ouviremos.
Comando e uma promessa. A mão de Meg firmou quando ela
colocou a navalha onde a pele acima de seu tornozelo queimava e fez o
corte.

****

Monty foi para o quarto dos fundos, seguindo Tess. Burke e Shady
estavam logo atrás dele. Sentindo uma mudança no ar, ele viu alguém
abrir as portas de entrega na sala de triagem para deixar os Outros entrar
no escritório, sem antagonizar Tess ou Simon.
— Você sabe o que você precisa nos dizer, — Tess disse. — Fale
profetisa, e nós ouviremos.
Ele viu a mudança de Meg quando Tess disse as palavras. Ele
tinha certeza que Burke e, especialmente, Shady, não tinhan visto isso
antes, e estavam observando, da forma como Merri Lee se ajoelhou ao
lado de Meg, com a caneta sobre o papel para anotar tudo o que fosse
dito, à agonia estampada no rosto de Meg quando ela fez o corte e quando
sua expressão mudou para uma libertinagem em branco quando ela
começou a falar.
— Mulher, — Meg disse sonhadora. — Cabelo escuro. Uma fatia
de pão. Crosta enegrecida. Braços enegrecidos. Fumaça. Fogo. Gritos. O
pão está queimando. A mulher está gritando. Queimando.
Suspirando, Meg se estendeu no chão.
— Oh, deuses, — Merri Lee disse olhando para o bloco de papel.
Tess virou-se na direção de Monty, mas ela manteve os olhos
voltados para o chão, os cachos de cabelo dela estavam na cor preta e
vermelha, se movimentando em sua cabeça.

190
— A padaria de Nadine, — Monty disse doente com a
certeza. Então ele virou-se para Burke, horrorizado. — Seu apartamento
fica em cima de sua loja. Ela mora no segundo andar.
Abrindo caminho pelos corpos que estavam aglomerados na porta
de trás, Monty pegou o celular. Ele não sabia o número da casa de
Nadine, mas sabia o número do telefone da padaria. Olhou para o relógio,
surpreso com o horário tardio. Se Nadine estivesse dormindo, será que o
som de um telefone tocando na loja seria suficiente para acordá-la?
Burke saiu do escritório, já perfurando números em seu próprio
celular, seus passos largos e expressão furiosa, espalhando as meninas
e seus próprios homens, que estavam esperando por suas ordens.
Vlad correu ao redor do canto do escritório com um catálogo de
telefone aberto. — Este é o número? — Ele apontou para uma listagem.
— É isso. — Monty desconectou e discou o número da casa dela.
Nadine atendeu no segundo toque. — Chris? Onde você está?
— Nadine, é o tenente Montgomery. Seu prédio está em
chamas. Saia agora! — Será que já estava em chamas, ou ainda ia
acontecer?
— Eu... Chris.
— Nós vamos encontrá-lo. Saia, Nadine.
Ela desligou.
— Faça o que puder, — ele ouviu Burke dizendo antes de seu
Capitão terminar a chamada e praguejar violentamente. Burke olhou
para todos eles, os policiais, as meninas, Simon, Vlad e Tess, que ainda
não estava olhando para ninguém. — Algumas empresas foram
incendiadas na Market Street, e há mais incêndios ao redor da
cidade. Muitos. Tenente, você está comigo.
— Espere um minuto, Tenente, — Kowalski disse. — Vou buscar
sua arma de serviço.
Nenhum deles, com a possível exceção de Burke, estava
carregando uma arma esta noite. — Armário da cozinha, prateleira de
cima. — Ele pegou suas chaves e as entregou a Kowalski, destacando
duas em particular. — Chave do apartamento. Chave do cofre.

191
Kowalski pegou as chaves e correu para os degraus que levavam
até os apartamentos.
— Vou esperar por você aqui e fazer o que puder para ajudar, —
Shady disse a Burke.
— Debany, você e Kowalski, liguem para os hospitais e outros
recintos, — Monty disse. — Precisamos localizar Chris Fallacaro.
— Você acha que ele foi prejudicado? — Vlad perguntou.
Monty olhou para Simon e se perguntou se o Lobo era capaz de
falar como um humano. — Espero que não, mas precisamos localizá-lo.
— Chris, que era um serralheiro, também fazia trabalhos no Pátio e
poderia ser um alvo.
— Tenente! — Kowalski voltou e entregou à Monty sua arma e
coldre. — Está carregada. E aqui estão as extras se você precisar.
Monty colocou o carregador no bolso do casaco.
— Tenente! — Burke gritou.
Monty correu para acompanhar Burke, que já tinha alcançado o
estacionamento de visitantes onde deixou seu carro, a luz azul no teto já
estava acionada, e estava pronto para ir. Ele mal fechou a porta antes de
Burke sair da vaga. Mas o capitão reduziu o carro antes de pegar a via de
acesso, ciente de que Lobos e humanos estavam por perto. Ele virou à
direita, depois à direita novamente, lançando as luzes da sirene nas
paredes, enquanto corria ao longo da Crowfield Avenue, até Parkside,
onde ele seguiu para o norte, em uma velocidade imprudente para alguém
dirigir.
— Não podemos combater um incêndio, — Monty disse
calmamente. A profecia poderia ser alterada. Pão queimado? Sim, a loja
estaria perdida. Mas...
— Não, não podemos combater um incêndio, mas podemos ter
certeza de que a Senhora Fallacaro sobreviva se ela sair do edifício, —
Burke respondeu.
— Sobreviva? — Ele sentiu-se mal. — Você acha que alguém
estaria esperando por ela do lado de fora?
— Você não acha?

192
****

Sirenes. Era uma espécie humana de uivos.


Simon ouvia todas as vozes ao redor dele, lutando para conter sua
raiva. A Nadine não machucava ninguém com a venda de pão e pastelaria
para Tess oferecer na Bite. Na verdade, ela honrava o acordo que a cidade
tinha feito com o Pátio, sua padaria foi à razão pela qual as demais
padarias da cidade foram autorizadas a continuar.
Muitos indigenes da terra do país selvagem estavam por perto, o
suficiente para perceberem esta luta entre os seres humanos. Esta não
era uma disputa compreensível entre dois padeiros para lutar e mostrar
quem era o dominante e quem controlaria a padaria, forçando o perdedor
a encontrar um novo lugar para trabalhar. Não, essa destruição foi um
ataque deliberado contra os Outros, bem como os seres humanos cujas
tocas e as empresas estavam queimando.
<Tess?> Chamou.
<Deixe-me sozinha, Lobo. Eu preciso de algum tempo sozinha.>
Ele não tinha certeza de onde ela estava, mas achava que ela tinha
ido para a Bite evitar ser vista até que ela pudesse ser vista.
— Simon, eu vou deixar Kowalski e Debany usarem os telefones
na Howling Boas Leituras para fazer suas chamadas, — Vlad disse. — Eu
vou ficar na loja com eles.
<Meg.> Ele queria ficar com Meg, queria cheirar o corte e
assegurar-se de que cheirava a limpeza. Mas agora Merri Lee teria
colocado a pomada para a cicatrização fedida sobre o corte e envolvido o
ferimento em ligaduras para desencorajá-lo a lamber.
— Ela está bem. — Vlad apontou para a porta de trás.
Simon virou. Ela estava atrás de Ruthie e Merri Lee. As meninas
pareciam pálidas, e cheiravam a medo.

193
— Meg deve comer, — Vlad disse. — O bando feminino deve ficar
com ela. Elas vão à Carne Verde. Avô Erebus vai cuidar delas. Assim
como Shady Burke.
<Os macacos. Eles estão ficando mais raivosos.>
— Sim. Mas esta doença tem um nome: O movimento Humanos,
Primeiros e Últimos.
Simon observou Jester Coyotegard andando ao redor de Lobos e
humanos do sexo masculino, com o rabo entre as pernas. Quando
chegou a Simon, o Coiote levantou-se sobre as patas traseiras,
provavelmente com a intenção de mudar sua forma para a humana. Em
seguida, ele avistou Meg e as outras meninas e caiu de volta em quatro
patas.
Jester olhou para Simon. <Eu estou entregando uma pergunta.>
<Pergunte.>
<Você quer que elas ajam?>
Simon considerou a questão e se fez a pergunta: Será que ele
queria que os Elementais respondessem a este ataque contra os seres
humanos que não honraram com os acordos que foram feitos entre
humanos e indigenes da terra? Se o Courtyard não fizesse nada, esses
homens veriam como uma fraqueza, incentivando-os a continuar os
testes e os ataques? Mas os indigenes da terra do país selvagem, que
eram os dentes e as garras de Namid, já estavam considerando a
eliminação desta espécie problemática, eles já queriam expurgar os seres
humanos de Thaisia.
Esse expurgo estava por vir. Os Sanguinatis e os
demais indigenes da terra já estavam abandonando o Courtyard em
Toland. Muitos seres humanos poderiam ter dúvidas e pensar que era
porque os Outros estavam reconhecendo a superioridade humana. Mas
os Outros não estavam saindo de Toland por causa dos seres
humanos; eles estavam saindo para sair do caminho da fúria que estava
por vir.
Isso era em Toland. Jester e as meninas no lago estavam à espera
de sua decisão sobre Lakeside.

194
Muitos incêndios na cidade esta noite. Mais do que os bombeiros
poderiam lidar por conta própria.
Muitos incêndios. E sem bombeiros suficientes.
<Simon?> Disse Jester. <Você quer que elas ajam?>
Simon olhou para Jester. <Sim.>

****

A padaria de Nadine estava totalmente envolvida pelo fogo quando


Monty e Burke pararam na metade da quadra.
— Onde estão os malditos bombeiros? — Burke rosnou. Ele saiu
furioso do carro, com a luz ainda piscando, e abriu o porta-malas.
Monty saiu do carro e decidiu que a resposta à pergunta de Burke
era óbvia. Tudo o que ele tinha a fazer era olhar para as luzes dos
caminhões, onde os bombeiros tentavam controlar o fogo nas ruas mais
acima.
Monty esquadrinhou a rua, mas não viu Nadine ou Chris
Fallacaro.
Burke bateu no lateral do carro. Ele havia retirado o paletó
esporte e o coldre e a arma era visível sobre a camisa casual. Ele
carregava um pedaço de cano de aço.
Monty esperava uma arma. Ele não queria pensar sobre o porquê
de Burke carregar um pedaço de tubo em seu veículo oficial. — Capitão?
— Você a vê?
— Não. Mas há alguns carros no estacionamento atrás do edifício.
Burke caminhou nessa direção. Monty o seguiu mantendo um
olho sobre o edifício. Deuses, que tipo de produto foi usado para o fogo
pegar tão rápido? Será que Nadine...
Eles ouviram um grito. De forma imprudente, eles ignoraram o
calor e as chamas, e correram para a parte de trás do edifício. Nadine
tinha alcançado o seu carro. Ela recebeu o aviso com tempo suficiente
para que não ficasse presa dentro do edifício, mas ela não esperava o

195
grupo de homens que tinham vindo queimá-la. Eles quebraram as
janelas do carro dela e estavam arrastando Nadine para fora do carro
quando Burke chegou, balançando o tubo com uma fúria que colocou
dois homens no chão e espalhou os demais atacantes de Nadine.
— Polícia! — Monty gritou, apontando a arma para os atacantes.
— No chão! Agora!
Um pedaço de detrito queimado caiu entre ele e os atacantes, e
ele não obedeceram ao comando.
— Tenente! Tire-a daqui! — Burke gritou.
Monty guardou a arma e correu para o carro. Cutucando Nadine
para o banco do passageiro, ele ligou o carro e saiu correndo da calçada
estreita, quase acertando algumas pessoas que estavam para ajudar ou
apenas para ficarem de boca aberta.
Ele dirigiu passando pelo veículo de Burke e estacionou atrás
dele, bloqueando os carros que já estavam estacionados na rua. — Fique
aqui. — Ele saiu correndo do carro, com a intenção de dar apoio ao seu
Capitão, quando viu Burke caminhando na direção dele. Observando
Burke, ele se inclinou para baixo, o suficiente para falar com Nadine.
— Você está machucada? Você precisa de atenção médica?
Quando ela não respondeu, Monty se perguntou se ela estava em
choque. Será que Burke tinha um cobertor em sua mala?
— Depois que você ligou, — Nadine disse de repente, — Eu me
vesti e peguei minha bolsa, minhas chaves, e duas caixas de arquivo onde
guardo todos os meus documentos importantes. Eu coloquei as caixas de
arquivo no porta-malas e ouvi gritos, ouvi...
— Nós vamos fazer um comunicado mais tarde. Agora mesmo-
— Eles iriam me jogar dentro do prédio, para o fogo. — Sua voz
tinha um tom de perplexidade. — Eles disseram isso. Eles iriam me jogar
no fogo.
Monty se juntou ao seu Capitão quando Burke abriu o porta-
malas, jogando a barra dentro, e pegando a jaqueta esporte.
— Você tem um cobertor ai? — Monty perguntou.

196
Burke pegou um e entregou a ele. Monty correu de volta para
Nadine e colocou o cobertor em volta dela antes de virar para Burke. —
Capitão...
— Muitos escombros caindo, — Burke falou à toa, colocando a
jaqueta. — Alguns assaltantes tropeçaram em alguns detritos durante
um ato criminoso.
— Deuses, Capitão. E se eles o acusarem?
O sorriso que Burke deu a ele estava além de seu habitual sorriso
feroz-amigável; era aterrorizante. — Você acha que qualquer um desses
homens irá querer que os indigenes da terra saibam quem ateou fogo nos
negócios da Senhora Fallacaro e tentou matá-la? Eu machuquei alguns,
mas eu não estava tentando infligir um dano real, por isso duvido que os
golpes sejam graves o suficiente para que aqueles homens passem por
um médico, muito menos por uma sala de emergência. Mas se eles
quiserem colocar para a frente à agressão, de modo que vários seres
consigam reconhecer seus rostos, eu vou aceitar as penalidades.
— O que aconteceu com esses homens?
— Estavam do outro lado da cerca próxima a propriedade, eu
suponho.
Ele não tinha ouvido tiros. Pelo menos Burke não tinha disparado
em nenhum deles.
O celular de Monty tocou. — Montgomery.
— Tenente, é Kowalski. Encontramos Chris Fallacaro. Ele estava
na universidade, um grupo o levou, junto com um punhado de outros
jovens que estavam brigando. Falei com o Capitão Wheatley. Ele é da
opinião de que Fallacaro foi vítima de um ataque e que não estava lutando
para se defender, pois alguém quebrou a mão esquerda dele com um
martelo.
— O que parou a luta?
— Um garoto levantou o martelo acima da cabeça para dar outro
golpe... E foi atingido por um raio. Ele está indo para o necrotério.
Deuses acima e abaixo, Monty pensou.

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— Fallacaro fez uma declaração e está a caminho do Hospital de
Lakeside. Você quer que eu e Debany o encontremos lá e fique com ele?
— Espere um momento. — Monty transmitiu a informação para
Burke.
— Isso é um plano, — Burke disse. — Eles podem sair
agora. Shady irá manter um olho nas coisas. Vou ligar para o Capitão
Wheatley com uma atualização assim que voltar para o Pátio.
Eles ouviram a explosão e viram uma bola de fogo aumentar de
tamanho em um edifício a dois quarteirões de distância.
— Vamos, — Burke disse calmamente quando um segundo
edifício explodiu. Em seguida, um terceiro. E um quarto.
Um raio atingiu as proximidades, e o boom do trovão, soando mais
como cascos gigantes batendo no chão, fez arrepios na pele de Monty.
— Vamos, — Burke disse novamente.
Monty voltou para o carro de Nadine e seguiu a luz azul piscando
de Burke de volta para o Pátio, quando uma chuva forte atingiu a parte
norte da cidade, apagando os incêndios e inundando as ruas.

****

— O que você acha? — Perguntou Eve Denby.


Henry olhou ao redor do quarto acima do Gabinete de Liaison, um
quarto que ocasionalmente era usado para sexo com um homem, e se
perguntou o que ele deveria pensar. Mas, ele se perguntou por que ele foi
escolhido para dar essa resposta. Então ele olhou para Ruthie, Theral e
Eva. Elas devem ter considerado os membros da Associação de Empresas
e decidiram que ele era o mais acessível no momento.
Tess tinha deslizado para longe do Pátio. Ninguém tinha certeza
de onde ela estava, mas ele estava certo que alguns membros do
movimento HPU iriam morrer de uma misteriosa praga que já tinha
atingido os humanos na cidade algumas vezes ao longo dos últimos
meses. Simon tinha considerado uma questão ainda mais dura: Será que

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valia a pena salvar Lakeside, e se sim, o quanto poderia ser salvo do
Courtyard? Vlad e Blair estavam coordenando a defesa do Pátio e de sua
propriedade. Lobos estavam patrulhando as fronteiras do Pátio e fazendo
a guarda das três entradas de acesso principal. Os Sanguinatis estavam
guardando a Praça do Mercado e os edifícios na Crowfield Avenue,
certificando-se de que ninguém atacasse o apartamento dos Denbys ou
ameaçassem as crianças. Os Corvos e os Falcões estavam mantendo uma
vigia ao redor dos edifícios, enquanto as Corujas faziam a pratulha ao
longo da cerca, à procura de intrusos. Nathan, Erebus e Shady Burke
estavam na Carne Verde com Meg e Merri Lee.
E que o deixou para fornecer uma resposta a uma pergunta que
ele não entendia.
— Isso não é muito diferente de um quarto de hotel, — Ruthie
explicou. — Aqui tem seu próprio banheiro. Nós fizemos uma limpeza
rápida da poeira e colocamos lençóis limpos na cama, nós não queríamos
pensar em quem já tinha usado, mas... — Ela parou, e respirou através
das palavras espinhosas. — A Senhora Fallacaro vai precisar de um lugar
para ficar, pelo menos por esta noite. Ela estaria sozinha em um hotel
regular.
— E ninguém que tem sido alvo vai querer ficar sozinho agora —
Eve acrescentou.
Agora ele entendeu. — Você quer permissão para ela ficar aqui?
Elas acenaram.
— E nós queríamos saber se alguém poderia verificar Lorne, —
disse Ruthie. — Ele disse que estaria aqui para o concerto, mas ele não
apareceu, e não atende ao telefone de casa ou o celular. Ele não mora
longe daqui.
— Vamos tentar encontrá-lo, — Henry prometeu. Ele iria falar
com Vlad sobre encontrar Elizabeth Bennefeld e Dominic Lorenzo, os
outros dois seres humanos que prestaram serviços aos residentes do
Pátio. — Algo mais?

199
— Você tem algum espaço para o armazenamento que nós
humanos pudéssemos usar? — Eve perguntou. — Nós precisamos
estocar alguns produtos.
— Eu vou falar com Simon. — Os assentamentos humanos no
país selvagem frequentemente se abasteciam durante os meses de
inverno com muitas coisas. Ele ficou satisfeito ao ouvir que estas
mulheres estavam se preparando para o mesmo tipo de isolamento.
Ele saiu do quarto. Apanhando os sons de carros conduzindo até
a via principal de acesso, ele se apressou a descer as escadas atrás
Gabinete do Liaison, com as mãos deslocando para as patas mais úteis e
garras de um urso. Mas estes não eram intrusos. Ele não reconheceu o
carro que estava com a maioria de suas janelas quebradas, mas o
Tenente Montgomery estava dirigindo, e Capitão Burke estava dirigindo
o carro preto.
Henry seguiu os carros. Burke parou dentro do estacionamento
dos empregados, mas Montgomery parou no espaço destinado aos
caminhões de entrega da Praça do Mercado. Assim que ele estacionou o
carro, Montgomery correu para o outro lado e ajudou uma mulher a sair
do carro. Os Lobos se aproximaram da Praça do Mercado, em seguida, se
viraram quando Simon e Vlad saíram da biblioteca, junto com Elliot.
— Há alguém no escritório médico que possa dar uma olhada na
Senhora Fallacaro? — Montgomery perguntou quando Simon caminhou
até ele.
— Nós vamos chamar nosso bodywalker, — Simon disse.
— Eu estou bem, — Nadine disse. — Só um pouco de frio, isso é
tudo.
Simon deu um passo na direção dela e cheirou o ar. — Você não
está bem. Posso sentir o cheiro de sangue. — Ele fez uma pausa. — Não
é muito sangue, mas você não está bem.
Montgomery escoltou Nadine ao consultório médico. Momentos
depois, Merri Lee olhou pela porta da Carne Verde e veio correndo.
Fazia sentido, Henry decidiu. Ela era a humana que na maioria
das vezes ajudava Meg após o corte. Mesmo que alguém pudesse ajudar,

200
Merri Lee ainda levava os itens médicos e saberia dizer sobre as gazes
humanas e medicamentos.
Burke se juntou a eles, e os machos, exceto Montgomery,
voltaram para onde Vlad e Elliot estava esperando.
— O prefeito já ligou duas vezes, querendo saber se temos
qualquer informação sobre os incêndios, — Elliot disse.
— Estranho que o Meritíssimo prefeito esteja trabalhando até tão
tarde, — Burke comentou.
Elliot deu a Burke um sorriso afiado. — Também achei.
— O que você disse a ele? — Perguntou Simon.
— Eu disse a ele que deveria pedir informações ao comissário de
polícia sobre os incêndios, já que o homem é um membro do movimento
HPU e estaria mais bem informado sobre estes ataques contra os seres
humanos inocentes. Ele desligou o telefone.
Burke soltou uma gargalhada.
— Tess ligou, — Vlad disse. — Ela está trazendo Lorne, mas ela
acha que ele deve ser levado para um bodywalker humano. Ela diz que
não é sábio para ela ir a tal lugar agora.
Não, não seria inteligente para um Ceifador ir para tal lugar.
— Eu posso levá-lo para o hospital, — Burke disse. — Chris
Fallacaro deve estar lá agora. Vou descobrir quando ele vai ser liberado
e, em seguida, descobrir onde ele pode ficar.
— Traga-o aqui, — Simon disse. — Deixei um recado no telefone
do Dr. Lorenzo, advertindo-o sobre os incêndios, e Vlad ligou para
Elizabeth Bennefeld. Ela recebeu telefonemas ameaçadores hoje à noite
porque ela trabalha em nosso escritório médico alguns dias por
semana. Vlad disse-lhe para vir aqui, porque não podemos assumir se os
macacos não vão tentar queimar qualquer um que trabalha para nós. —
Ele deu um olhar desafiador a Burke.
— Não, você não pode assumir, — Burke concordou. — Deuses, o
mundo ficou louco esta noite.
— Não o mundo, — Henry roncou. — Apenas a sua espécie.

201
Eles seguiram caminhos separados, guardando e protegendo, se
preparando para as tempestades que estavam chegando.

****

— Incendiários e marginais estão sendo responsabilizados por


dezenas de incêndios que queimaram edifícios em vários distritos de
negócios na cidade. A primeira onda de incêndios atingiu empresas que
foram vandalizados na semana passada. Algumas acusações foram feitas
de que os humanos do movimento HPU estavam por trás dos vandalismos
e da primeira onda de incêndios. Uma segunda onda de incêndios varreu
a cidade, com o alvo as padarias, especialmente as padarias com sinais
HPU, mas os investigadores estão se recusando a comentar sobre a causa
destes incêndios. O comissário de polícia Kurt Wallace prometeu que estes
incêndios serão cuidadosamente investigados e os infratores serão
punidos, independentemente de sua filiação política ou espécie.
— As padarias que sobreviveram aos incêndios de ontem à noite
estão fechados até novo aviso. Os proprietários das empresas estão se
recusando a comentar sobre esta decisão, mas outras pessoas nos bairros
especularam que os proprietários estão temendo por suas lojas.
— Somando-se os problemas de ontem à noite, uma tempestade
súbita soprou do lago Etu. As chuvas apagaram os incêndios com que os
bombeiros haviam lutado por toda a cidade, mas as inundações pegaram
muitos motoristas de surpresa e derrubaram o que sobrou dos edifícios
danificados, represando estradas e prendendo as pessoas que tentavam
escapar do fogo. Houve relato de pelo menos doze pessoas afogadas nas
inundações e mais ainda estão desaparecidas. A Market Street está
fechada a todo o tráfego enquanto a polícia, bombeiros e voluntários
procuram nos escombros dos edifícios que foram queimados ou
alagados. Voltamos em meia hora com uma lista completa das estradas
fechadas. Este é Ann Hergott em WZAS.

202
****

Para: Joe Wolfgard

Eu vou pegar um trem na estação mais próxima. Estou deixando


Sweetwater agora. Devo chegar a Bennett em Thaisday. Vou ligar depois
com o horário de chegada, logo que eu souber.
-Jackson

203
CAPÍTULO 18
Thaisday, Juin 14

Tess colocou café em uma caneca para si, em seguida, sentou-se


à mesa onde Nadine olhava para o seu prato de comida. A mulher tinha
olheiras sob seus olhos, bem como cortes e contusões causadas pelos
homens que tentaram puxá-la de seu carro.
— Humanos, Primeiros e Últimos, — Nadine disse e sua voz era
quase inaudível. — Eu pensei que eles eram apenas um grupo pomposo
e arrogante, que apreciava o som de suas próprias vozes. Eu esperava
alguns problemas com eles, mas não isso. — Ela olhou para cima. — Eles
iam me jogar no fogo. Como alguém pode se chamar de humano e tentar
fazer isso?
Já que ela pensava que a selvageria estava completamente de
acordo com o comportamento humano, Tess não disse nada.
— Eu preciso fazer alguma coisa.
— O que?
— Eu não sei. Trabalhar. Algo para ocupar minhas mãos
enquanto eu... Vou falar com a minha companhia de seguros. Não que
isso vá fazer diferença, já que eles estão ostentando um decalque HPU
em sua porta, mas eu vou apresentar a documentação.
— Então o que?
Nadine deu de ombros e fez uma careta. — Eu aprecio que você
tenha me deixado ficar aqui ontem à noite, mas eu não estou confortável
vivendo de caridade.
Tess ficou de pé. — Venha comigo. — Ela levou Nadine para a área
de trabalho em sua loja. — Será que aqui tem tudo o que você precisa?

204
— Aparelhos domésticos? Sim. Mas você precisa de algumas
bancadas para o pão se eu for assar aqui. — Nadine apontou para as
bandejas de biscoitos e os potes para sovar pão e bolos. — Alguém já faz
um pouco de comida por aqui?
— Eu faço quando estou no clima, — Tess disse. — Eu não faço o
suficiente para abastecer a Bite com comida. — Ela hesitou. Ela deveria
discutir este assunto com o resto da Associação Empresarial
primeiro. Então novamente, Simon já tinha feito um monte de decisões
por conta própria, e essa era a sua loja. — Você é bem-vinda para usar o
quarto acima do escritório do Liaison até se resolver. Você pode fazer a
comida para a Bite como o seu aluguel. Podemos vender pães de forma
para os Denbys fazerem seus próprios sanduíches. Ou eu posso levá-la
até a Carne Verde para dar uma olhada na cozinha de lá e ver se você
quer cozinhar outras coisas.
Nadine estudou o espaço de trabalho. — Como é que vamos
conseguir os suprimentos?
— Faça uma lista de tudo o que você normalmente encomenda
para sua padaria, além da lista de ferramentas que você gostaria de ter
aqui. Vou ver o que posso fazer sobre a obtenção dos itens. Podemos não
ser capazes de comprar tudo o que você pedir, mas acho que teremos o
suficiente. — As fontes não deveriam ser um problema. Os indigenes da
terra cultivavam alimentos em fazendas humanóides entre o Lago Etu e
o Lago Feather, e eles tinham enviado uma mensagem oferecendo suas
colheitas, mas só para outros indigenes da terra ou para os
assentamentos Intui que pertenciam aos indigenes da terra. Se todos os
Outros ao longo de Thaisia fossem fazer essa escolha, Tess imaginou que
o Courtyard de Lakeside pudesse trocar as frutas e os legumes para o
Meio Oeste, e obter o trigo para fazer a farinha.
— E quanto a Chris? — Perguntou Nadine.
— Pelo que sei, os médicos precisavam de mais tempo para
trabalhar em sua mão quebrada, e ele ainda estava no hospital, — Tess
disse. — Os agentes da polícia da estação de Chestnut Street estão

205
montando guarda lá. Ninguém vai machucá-lo. Uma das meninas pode
levá-la até lá para visitar.
Nadine concordou. — Ele deveria ter algum familiar por lá. O pai
de Chris juntou-se ao HPU, então eu não sei se um de seus pais irá ao
hospital para ajudá-lo, ou que vá deixá-lo voltar para casa para se curar.
Simon estava certo, Tess pensou. Acabamos ficando cada vez mais
enroscados com os seres humanos. — Nós vamos descobrir alguma coisa
quando ele estiver pronto para sair.
Nadine suspirou uma vez, depois deu de ombros. — Bem, eu vou
aquecer o café que você gentilmente fez para mim e vou começar a fazer
essas listas.
Tess ficou no balcão e deixou Nadine se agitando em sua volta.
O que os humanos do HPU teriam a dizer quando percebessem
que o Courtyard estava com o último padeiro deixado na cidade de
Lakeside?

206
CAPÍTULO 19
Thaisday, Juin 14

Jackson desceu do trem na estação de Bennett e quis correr. A


acidez enchia o ar. Será que alguma doença se espalhou entre os
humanos daqui?
<Joe?> Percebendo os três homens mal-encarados que estavam
caminhando na direção dele, Jackson deu um passo mais perto da
estação e longe das rodas do trem. <Joe? Você está aí?>
Ele tinha ligado para a loja principal em Prairie Gold e disse à
fêmea Jesse que horas o trem deveria chegar. Será que Joe recebeu a
mensagem?
Jackson assistiu os três homens e lutou para não mudar entre as
formas, o que certamente iria causar pânico e, talvez, provocar outros
seres humanos a um ataque.
— Sr. Wolfgard!
Uma voz humana. Não era Joe. Não era uma voz que Jackson
conhecia.
Um dos três homens olhou para o som da voz. Então ele parou
abruptamente e deu um tapa no braço de seu companheiro mais
próximo.
Medo mal controlado rolava nos humanos que desembarcavam, e
que tinham que passar por uma coluna de fumaça a fim de chegar à
estação.
Sanguinatis.
Jackson caminhou na direção do homem usando uma camisa
xadrez e calça jeans, que estava de pé ao lado da fumaça. Os três homens

207
de aparência rude saíram do seu caminho, mas um deles disse em voz
baixa, e áspera, — Vou pregar a porra da sua pele em uma parede do
meu celeiro, Lobo.
A fumaça tomou forma humana quando Jackson chegou perto
deles. O Sanguinati sorriu, mostrando uma pitada de presas. — Eu sou
Tolya. Nós nos encontramos no Courtyard de Lakeside.
Jackson concordou. — Eu me lembro de você.
— Este é Tobias Walker, o capataz da fazenda Prairie Gold.
Walker. Mesmo sobrenome da fêmea Jesse.
— Jesse está esperando um pacote. Vou verificar e ver se já está
disponível. — Tobias olhou para Jackson. — Qualquer coisa no vagão de
bagagens que eu possa pegar para você?
Jackson levantou a mala. — Não. Isto é tudo que eu trouxe
comigo.
— Vai ficar tudo bem com você buscando o pacote sozinho? —
Tolya olhou para os três homens que ainda permaneciam na plataforma.
— Eu devo ficar bem, mas por que você não me espera na
caminhonete? — Tobias entrou na estação.
— Por aqui. — Tolya levou Jackson até à caminhonete.
— Onde está Joe? — Perguntou Jackson, despejando sua mala na
carroceria aberta da caminhonete.
— Ele está acompanhando o caminhão de combustível dos
indigenes da terra indo para Prairie Gold, — Tolya respondeu. — A última
remessa de combustível não chegou, pelo menos não a atribuição de
combustível designada para Prairie Gold, então nós fizemos outros
acordos.
Nós? Jackson perguntou, baixando a porta de trás quando viu
Tobias saindo da estação carregando uma caixa grande o suficiente para
encher seus braços. E se arrastando atrás dele, estavam os três homens
de aparência rude que estavam na plataforma.
Depois de ajudar a carregar a caixa de Tobias, Jackson disse: —
Eu posso andar na parte de trás.

208
— Há espaço para nós três na cabine, — Tolya disse com um
prazer que tornou difícil para Jackson não se deslocar para Lobo. — E
Tobias se sente mais confortável quando há alguém entre ele e eu.
Ele notou que Tobias Walker não negou a observação, então ele
tomou a posição central no banco.
— Por favor, dirija ao redor da praça da cidade, — Tolya disse.
— Não é uma boa ideia, — Tobias protestou. — Há uma sensação
ruim no ar hoje.
— Eu sinto isso também, — Jackson murmurou.
— Por favor, dirija ao redor da praça da cidade, — Tolya repetiu.
— Eu fui instruído a olhar algumas empresas.
Claramente infeliz, Tobias colocou a caminhonete em marcha e
obedeceu.
— Quais você diria que são as empresas essenciais? — Tolya
perguntou. — A estação ferroviária, é claro, para o transporte e para
enviar e receber os alimentos e as mercadorias. O posto de gasolina,
porque os veículos precisam de combustível e manutenção. O banco. O
que mais?
Jackson não tinha certeza se a questão era para ele ou o humano.
— As pessoas precisam de um lugar para comprar suprimentos,
— Tobias disse. — A loja de ferramentas é útil. E a loja que vende
alimentos para animais, além dos suprimentos e equipamentos para as
fazendas.
— Um lugar para comer e um lugar para dormir, — Jackson disse,
e pensou em Hope. — E algum lugar onde você possa comprar livros e
música e lápis e papel para desenhar.
— Uma loja de roupas, a menos que o armazém geral tenha o
básico, junto com sapatos e livros, — Tobias disse.
Jackson pensou: Se o Tobias fosse um Lobo, ele estaria ofegante e
se lamentando. <Por que você está perguntando, Tolya?>
<Fui solicitado a considerar quantos seres humanos teriam de ser
substituídos para manter os edifícios e as empresas essenciais.>
<Os seres humanos em Bennett serão substituídos?>

209
<Eu não sei, mas acho que esta não é uma consideração por nada.
>
<Poderia os Intui daqui assumir essas empresas?>
<Não tão facilmente. Eles têm apenas o pessoal necessário em sua
própria aldeia. Além disso, Intui ou não, eles ainda são humanos, então
acho que não seria sábio pedir isso a eles. Não de primeira.>
Isso soou ameaçador. No que ele tinha entrado?
Eles circularam pela praça da cidade uma segunda vez, mas
ninguém teve outras sugestões além de uma barbearia ou um local
similar.
Tobias deu um suspiro de alívio quando foi embora da
cidade. Assim como Jackson. Tolya não parecia preocupado, mas ele
poderia se transformar em fumaça e passar a perna em quase qualquer
adversário.
Eles não falaram. Se Simon não estivesse à espera dele, se ele não
quisesse falar com Meg Corbyn em pessoa sobre a filhote Hope, Jackson
teria mudado para Lobo e ido para casa em suas próprias quatro patas,
apesar da distância.

****

Daniel Black xingou ferozmente quando o vento bateu contra a


picape. A poeira cobriu a estrada e encheu o ar, e era tão espessa como
uma nevasca.
— Sr. Black? — Seu capataz apoiou uma mão contra o banco. —
Nós temos que parar. Nós não chegaremos ao cruzamento a tempo.
— Nós muito bem podemos fazê-lo, — Black rosnou, lutando para
manter a caminhonete na estrada. Lutando para ver qualquer parte da
estrada. — Quanto mais essa comunidade receber suprimentos, mais
tempo eles vão continuar aqui, e só quando eles forem embora, nós
teremos um caminho para aquela montanha e as riquezas que eles
possuem.

210
Os homens que montavam a picape atrás bateram no teto da
carroceria.
— Eles não podem respirar essa poeira, — disse o capataz. — Nós
temos que parar.
— Estamos- — Uma parede de mourões e arame farpado de
repente apareceu na frente dele. Black bateu no freio e gritou: — Porra!
— A caminhonete ficou emaranhada nos postes e fios.
Ele jogou a caminhonete de lado, em seguida, bateu com o punho
contra o volante, mais e mais.
O vento morreu. A poeira baixou. Black escutou os homens na
parte de trás lutando para se sentarem, lutando para respirar.
Deveria ter sido tão fácil como na última vez, ele pensou quando
viu a poeira de pelo menos um veículo dirigindo pela estrada para Prairie
Gold.
Ele tentou abrir a porta e xingou quando percebeu que estava
preso pelo arame farpado. Assim como o seu capataz. Eles teriam que
esperar os homens na parte de trás cortarem os arames.
Enquanto esperava, ele viu a picape que pertencia ao rancho
Prairie Gold hesitar na encruzilhada, como se quem estava dirigindo
estava pensando em parar para ajudar. Em seguida, seguiu em frente,
quando quatro de seus homens desceram da traseira do caminhão.
— Vou pegar alguns homens para cortar os arames, — disse o
capataz.
Black não respondeu.
— Ainda está sem notícias sobre o ataque?
— Nós temos que esperar até que o equipamento especial do Cel-
Romano chegue. Assim que os discípulos designados do HPU estiverem
com esse equipamento, estaremos prontos para fazer um ataque
coordenado. — Black não gostava de receber ordens de ninguém,
especialmente de algum garoto emproado do Cel-Romano. Os planos de
Scratch ocorreram positivamente no começo, mas eles começaram a se
desfazer quando o escândalo estourou sobre a Associação de Agricultura,
vendendo grãos e alimentos das fazendas e cidades que eram necessários

211
aqui para o Cel-Romano. Sem a alimentação para ajudar o gado a
enfrentar o próximo inverno, ele perderia sua carne, porque não
conseguiria alimentar o rebanho inteiro! Não, este próximo ataque iria
atingir a porra dos indigenes da terra do país selvagem, e ninguém
precisaria se prostrar diante deles novamente.
— Vamos esperar a ordem para atacar. — Black abriu a porta que
seus homens tinham libertado do arame farpado. — Vamos começar a
trabalhar nessas cercas.

****

Joe Wolfgard parou à porta do quarto de motel de Tolya e observou


os residentes de Prairie Gold chegarem e formar uma linha de veículos, à
espera do caminhão de combustível para encher os tanques no posto de
gasolina do outro lado da rua.
Nyx se desviou na direção dele. — Eu ouvi alguns dos seres
humanos falando. O motorista do caminhão de combustível vai parar
agora para que os seres humanos possam encher seus veículos. Em
seguida, ele vai continuar a encher os tanques de armazenamento.
Isso fazia sentido. Depois de um caça, os Lobos permitiam que
todos os membros da matilha comessem antes de armazenar uma parte
da carne.
Um Falcão deslizava e pousou no telhado do motel. <Ar e Terra
estão brincando com alguns seres humanos, fazendo muita poeira, e
parando os seres humanos que estavam seguindo o caminhão tanque.>
Ele viu a tempestade de poeira escoltando o caminhão de
combustível para Prairie Gold. Ele se perguntou se os Elementais se
envolveram com a aldeia apenas para impedir o roubo do combustível ou
havia outro motivo. Ele nunca ouviu falar de Elementais se envolverem
em questões shifter até os Elementais no Courtyard de Lakeside ficarem
interessados em Meg Corbyn.

212
Ele estava prestes a perguntar se o Falcão viu Tobias e Tolya
quando o capataz do rancho passou dirigindo e parou em frente à loja
central.
<Jackson?> Joe chamou.
<Joe.> Jackson parecia aliviado?
Joe correu para a loja de Jesse Walker, ciente de que Nyx tinha
virado fumaça, mas ficou atrás dele, em vez de correr à frente para
encontrar-se com Tolya.
Ele olhou para a caminhonete. Parecia empoeirada, mas não mais
do que o habitual. — Você passou pela tempestade? — Ele perguntou
quando Tobias saiu da caminhonete.
— Eu acho que pelo menos um veículo ficou preso nela, mas a
tempestade de poeira não chegou ao cruzamento, — Tobias respondeu.
— Pelo menos não quando passamos.
— Isso é bom. — Ele estudou o humano, cuja voz soava estranha.
— Ou não foi bom?
Tobias olhou para Tolya e Jackson, que tinha saído da
caminhonete, então se inclinou para Joe. — É assim que funciona
normalmente? Eu sempre pensei... Que as tempestades, um raio atinge
um local e começa um incêndio. A nevasca varre e você tem que ficar
esperando em sua casa e consumir seu estoque para sobreviver. Mas...
Esse começa, e de repente para o tempo. Pelo menos, nós sempre
pensamos que fosse assim.
— Na maioria das vezes, é, — Joe disse. — Mas há indigenes da
terra que orientam o tempo, e até mesmo podem moldá-lo. — Ou
transformá-lo em uma arma contra um inimigo. — Quando nós enviamos
a carne de bisão para Lakeside, Ar e Nevasca conseguiram levar a carne
sem estragar. Aquilo foi uma coisa boa.
— Se nós começarmos a fazer algo de errado, você iria nos dizer,
não é? Daria-nos uma chance de consertar as coisas antes... Bem, antes
que o tempo se torne algo mais do que apenas o tempo?

213
Ele cheirava medo. — Eu diria a você. — Ele olhou para Tolya e
Jackson, que se juntou a eles, e se perguntou onde Nyx tinha ido. — O
trem atrasou?
— Não, eu queria dar uma olhada na cidade, — Tolya disse. — Ter
uma idéia de que tipos de empresas estão lá.
<Mais como obter uma idéia de quais empresas serão mantidas se
os humanos foram embora,> Jackson disse a Joe.
<Eles estão indo embora?>
<Tolya não sabe. Talvez essa seja uma pergunta para Simon... E
Meg Corbyn.>
Não era uma resposta reconfortante. Se ele não fosse para a
estação de trem, ele iria fazer a cobrança na cidade de Bennett, como
recolher os pagamentos dos arrendamentos de terras e os direitos de
água para a cidade, pois era a responsabilidade dos Outros que moravam
no assentamento de Prairie Gold.
Ele pensou sobre o fazendeiro Daniel Black, que também devia
aos indigenes da terra a terra e a água que ele usava. De alguma forma,
ele achava que Daniel Black não faria o pagamento no próximo mês.
— Eu aluguei um quarto no motel para Jackson, — Tolya disse.
— Na verdade, Jesse Walker reservou o quarto. Ela teve a sensação de
que você iria precisar dele.
Jackson fez uma careta. — Eu estou aqui para pegar onze bisões.
— Nós vamos ter que conduzi-los, — Tobias disse. — Bem,
primeiro temos que encontrar o que você quer.
— Bezerros de até um ano, — Joe disse. — Podemos pedir ao
Hawkgard e ao Ravengard para nos ajudar a olhar.
— Nyx e eu podemos ajudá-lo a manter os animais complacentes,
até certo ponto, — disse Tolya, sorrindo.
Joe pensou sobre os humanos fracos que tinham desembarcado
na estação de Bennett quando Tolya e Nyx chegaram. Sanguinati parecia
fumaça, mas não cheirava como fumaça em sua outra forma. Será que
os bisões poderiam vê-los no escuro? Será que eles sentiam qualquer

214
perigo quando a fumaça se enrolava ao redor deles e tirava o sangue
através da pele?
— Vocês vão ficar ai fora o dia todo, ou irão deixar o nosso
convidado entrar e beber algo? — Jesse Walker saiu da sua loja. —
Tobias, você deve encher o caminhão enquanto tem chance.
— O caminhão de combustível não vai a qualquer lugar por um
tempo, — Tobias disse.
<Fêmea dominante?> Jackson perguntou.
<Sim,> Joe respondeu. <Tobias é filhote dela.>
<Ah.>
— O meu pacote chegou? — Jesse perguntou.
— Eu peguei, — Tobias respondeu.
— Pode trazê-lo, uma vez que metade dos itens irá para o
Courtyard de Lakeside com o Sr. Wolfgard e Nyx.
— Eles vão? — Jackson olhou para Joe.
— Eu só estou ajudando-o com o bisão. O resto? — Joe encolheu
os ombros.
Tobias descarregou a caixa e a levou para a loja. Os
quatro indigenes da terra o seguindo. Joe mal saiu do caminho antes da
porta abrir de novo e duas mulheres entrarem. Ele reconheceu Shelley
Bookman, mas não conhecia a outra fêmea.
— Chegaram? — Shelley Bookman perguntou. — Nós vimos a
caminhonete de Tobias e queríamos saber.
— Tem algo excitante na caixa? — Nyx perguntou olhando as duas
mulheres.
— Primeiro as apresentações, — Jesse disse. — Esta é Shelley
Bookman, bibliotecária de nossa cidade. E Abigail Burch é a pessoa que
experimentou o sebo de bisões para fazer sabões e velas.
Isso explicava por que ela cheirava um pouco como os bisões. Ele
deveria mencionar isso?
— Preciso saber o que está na caixa? — Tobias perguntou.
— Duvido que fosse lhe interessar, — Jesse respondeu, usando
um estilete para cortar a fita de embalagem.

215
— Então vou entrar na fila para abastecer. — Tobias olhou para
Joe. — Eu vou passar no rancho, caso você queira uma carona de volta
para o assentamento.
— Ok. — De alguma forma ele havia sido empurrado para a parte
de trás da multidão que observava Jesse abrir a caixa. Ele não precisava
olhar agora. Se Jackson iria levar essas coisas para Lakeside, ele podia
olhar quando levasse a caixa para o motel.
— Cartões? — Tolya parecia confuso. — Eu acho que as lojas de
Lakeside vendem cartões para jogos.
— Estes são cartões para ler a sorte, por assim dizer, — Jesse
disse levantando duas caixas seladas que tinham desenhos diferentes. —
Há várias plataformas para diferentes cartões. Estou mantendo um
conjunto aqui. — Ela olhou para Jackson. — O outro conjunto vai para
o Lago Etu com você para uso de Meg Corbyn. Tenho a sensação de que
estes jogos podem ajudá-la a encontrar um caminho para, pelo menos,
algumas das profetisas de sangue ter as visões do futuro sem cortar sua
pele.
— Por que você não providenciou para os cartões irem
diretamente para Lakeside? — Joe perguntou.
Algo sobre o olhar que Jesse deu aos Outros fez com que Jackson
rosnasse, e Joe alongasse as presas para o tamanho de um Lobo.
Jesse disse, — Eu pedi para enviar aqui porque, apesar de confiar
na mulher com quem falei quando eu fiz o pedido, eu tive um forte
sentimento de que seria melhor para todos se os cartões não fossem
enviados diretamente para qualquer lugar onde uma profetisa de sangue
mora.

216
CAPÍTULO 20
Firesday, Juin 15

Os Lobos, junto com vaqueiros, pastoreavam onze Bisões do


rebanho Prairie Gold. Duas colunas de fumaça envolviam os pescoços
dos animais, e Tolya e Nyx se alimentavam de cada animal, apenas o
suficiente para deixá-los mais dóceis para os Lobos e os vaqueiros
levarem os bisões para um curral improvisado, com baias de água e
alimentos para animais.
Depois de dar tempo aos bisões beberem e comerem, eles se
encaminharam para Bennett, uma picape liderava o caminho, enquanto
homens e Lobos mantinham os bisões em movimento.
Tolya tinha ligado para a estação de trem para que eles
reservassem um vagão de gado com destino ao leste de Lakeside. Joe não
ouviu o que o humano na estação disse, mas ele ouviu a resposta de
Tolya: se os indigenes da terra não pudessem reservar um vagão para o
gado, nenhum gado teria permissão de viajar de comboio a partir desta
parte de Thaisia. Isso significava que os fazendeiros que enviavam gado
para os matadouros localizados nas cidades além da Região Centro Oeste
ficariam sem transportar os animais que não podiam vender e não
podiam se mover por terra sem perder metade dos seus rebanhos para
os predadores que se reuniriam para a festa.
Ele poderia impedir Tolya de fazer tal ameaça? E isso
importava? O Sanguinati era muito mais hábil em lidar com os seres
humanos em Bennett do que ele poderia. Além disso, Tolya lhe contou
ele sempre tomava decisões que envolviam os Intui, os humanos dos

217
assentamentos indigenes da terra, e sempre que necessário interagia
regularmente.
Eles mantiveram o rebanho se movendo em um ritmo constante.
Joe queria continuar enquanto ainda havia luz, mas Tobias
argumentou que não haveria nenhum lugar para montar acampamento
para a noite, quando passassem o cruzamento. Não havia nada além
ranchos controlados por humanos entre o cruzamento e Bennett, e uma
vez que chegassem à cidade, eles teriam que manter os bisões no pátio
aguardando até o horário programado para o trem partir. Quanto menos
tempo eles passassem na cidade, menos tempo para que as pessoas
provocassem problemas.
Já que Tolya concordou com a avaliação de Tobias, e estava
confiante de que eles poderiam chegar a Bennett com tempo de sobra
para pegar o trem se saíssem na primeira luz, Joe foi junto com eles. Eles
montaram acampamento perto da encruzilhada, e não muito longe do
local onde os bisões haviam sido baleados na semana anterior. Ninguém
mencionou o incidente, nem disseram nada sobre o número de ossos,
mas os Lobos cheiraram a área em busca de qualquer sinal de intrusos,
e Tobias e os peões deixaram as armas nos cintos e verificaram seus
revólveres antes de manter a guarda para a noite.
No dia seguinte, eles saíram logo após o café da manhã.
Quando Joe ficou ao lado de um dos jovens bisões para incentivá-
lo a manter-se com o outro bisão, ele notou os caminhões estacionados
ao lado da estrada e os homens que pararam de trabalhar para observar
o seu pequeno rebanho trotando em direção a Bennett.
<O que os seres humanos estão fazendo?> Ele perguntou para um
dos Corvos.
<Consertando a cerca que Ar e Terra destruíram no outro dia.>
Isso foi sensato. O gado que se desviasse da terra usada pelos
seres humanos era considerado comestível, e os Anciãos que desceram
as colinas na semana passada para se alimentar dos bisões mortos ainda
estavam rondando as bordas da terra humana. Foi o seu cheiro
persistente, tanto quanto a habilidade de pastoreio de humanos e Lobos,

218
que manteve os bisões no prumo, sem tentarem se libertar. Havia
também o som e o cheiro de água que era espirrado de um dos barris
carregados na parte de trás da picape e a mão de Nyx alimentando os
bisões quando os seres humanos paravam para descansar, ensinando os
animais que ela não era algo que precisava temer.
Joe se perguntou se o Sanguinati já fez algo semelhante com os
seres humanos, embalando-os em uma relação de confiança, para
permitir que os vampiros se alimentassem, sem suas presas estarem
conscientes.
E que o fez se perguntar quanto tempo Tolya planejava ficar em
Prairie Gold.
Quando finalmente chegaram à estação de trem, havia dois vagões
disponíveis para o gado. Depois de avisá-los que eles poderiam carregar
os bisões no terceiro vagão, uma vez que os bovinos entrassem, Joe e
Jackson aproveitaram a espera para mudar para a forma humana e
colocar as roupas.
Um humano notou os bisões, em seguida, disse algo para um par
de homens a cavalo antes de caminhar até eles.
— Eu sou Stewart Dixon. — Ele inclinou a cabeça para indicar os
bisões. — Vocês precisam de uma mão fazê-los entrar no vagão?
Tobias olhou para Joe, e Joe compreendeu que era sua
decisão. Ele também entendeu que Tobias não sentiu o mesmo cuidado
com este homem como sentiu ao redor de Daniel Black.
— Obrigado, — Joe disse.
Alguns homens a cavalo se aproximaram lentamente, acenando
para os homens de Prairie Gold.
Tobias olhou para o gado que havia sido carregado em dois vagões
de gado. — Perdoe-me por dizer, mas o seu gado parece um pouco jovem
e abaixo do peso para ser enviado para o mercado.
A Stewart sorriu. — Mostra que você tem um bom olho, e você
estaria certo se eles estivessem indo para o mercado. Mas eu queria
reduzir o meu estoque, e havia dois assentamentos a leste daqui que
estava querendo comprar gado para iniciar seus próprios rebanhos. Pelo

219
que disseram, eles já têm um pequeno rebanho de gado leiteiro, suficiente
para fornecer suas comunidades com leite, e gostariam de poder comer
algo além de alces quando as estradas e as condições meteorológicas
tornam impossível dirigir para uma cidade maior para o abastecimento.
— Os seres humanos comem alces? — Perguntou Joe.
— Certo. Um dos freezers no meu rancho é preenchido com carne
de alce na época de caça, mas é uma iguaria para a maioria das pessoas,
o mesmo que o leite e queijo podem ser para você.
Joe, Jackson, Tobias e Stewart se aproximaram dos homens a
cavalo que arrebanhavam os bisões para o vagão vazio.
— Se me permite dizer, esses bisões me parecem um pouco
jovens, se você está enviando-os para o mercado, — disse Stewart.
— Eles não são para alimentação ainda, — Joe respondeu. — Eles
estão indo para o leste, para uma cidade às margens do Lago
Etu. Estamos enviando os mais jovens bisões. — Além disso, Simon
queria que todos no Courtyard de Lakeside tivessem tempo para se
acostumarem com bisões morando por lá, antes que eles tivessem idade
suficiente para se reproduzir.
— Eu vou ajudar Nyx e Tolya carregar a caixa que vai para
Lakeside, — Jackson disse. Depois acrescentou: <Vejo você na plataforma
antes de partir?>
<Sim.> Joe olhou para Tobias. — Dê-lhe uma mão?
— Certo.
Isso o deixou sozinho com o Stewart Dixon. — Obrigado pela
ajuda.
— Feliz em ajudar.
— Você não está conectado com o assentamento de Prairie Gold.
Stewart sacudiu a cabeça. — Minha fazenda fica a várias horas
ao norte daqui, mas Bennett é a linha ferroviária mais próxima, e a maior
cidade quando precisamos de suprimentos ou uma noite fora. É uma
cidade que faz ligação para qualquer outra cidade, com uma sala de
concertos e um cinema. Um grupo diferente de indigenes da terra viaja

220
pela terra ao norte de Bennett. Pelo menos eu assumo que este seja um
grupo diferente, porque eu não te vi por aqui antes.
— É um grupo diferente, — Joe concordou. Será que os Lobos no
norte das colinas sentiam a presença dos Anciãos?
Stewart hesitou. — Olha, eu não quero pisar no pé de ninguém,
ou causar problemas entre você e os Lobos Eu costumo lidar com, mas...
— Ele pegou um pequeno bloco de papel do bolso e um lápis curto,
escreveu sobre o papel, e entregou a Joe. — Esse é o meu número de
telefone da casa da fazenda. Como eu disse, nós estamos ao norte de
Bennett, então eu não tenho certeza do que poderíamos fazer, mas se
você precisar de ajuda, pode ligar e pedir para mim.
Joe estudou o número. — Por que você faria isso?
— Qualquer um, mesmo um tolo pode ver os problemas que estão
no horizonte. Minha família nunca teve qualquer problema com o seu
tipo, e eu não quero problemas agora. Suas pessoas têm sido bons
vizinhos. Eu tento ser o mesmo. — Stewart olhou quando alguém gritou
seu nome. — Sou necessário.
Ele estendeu a mão. Depois de um momento de consideração de
Joe, eles apertaram as mãos.
— Vejo você por aí. — Stewart se afastou.
Joe foi para a plataforma para dizer adeus a Jackson e Nyx.
— Estão devidamente acomodados, — Tobias disse enquanto
Jackson e Nyx embarcaram no trem.
— Eles vão ficar bem, — Tolya disse. — O trem será observado por
todo o caminho até Lakeside.
Joe descobriu que isso era reconfortante. Jackson estava fora de
sua matilha, mas ele não estava sozinho. Ele olhou para Tobias e se
perguntou se um humano sentia o mesmo tipo de desconforto, sabendo
que os moradores do país selvagem estavam observando de perto tudo e
todos que viajavam pela sua terra.
Quando o trem saiu da estação, Tolya virou-se para Tobias. —
Sr. Walker, você e os outros querem permanecer na cidade para

221
passarem a noite? Vocês trabalharam duramente trazendo os bisões até
aqui.
— Disseram-me que esta cidade tem uma sala de música e um
cinema, — Joe acrescentou. — Este entretenimento parecia importante
para o Stewart Dixon.
— Eu esqueci destas duas empresas quando dirigimos ao redor
da praça da cidade no outro dia, — Tolya disse, e então adicionou em
particular para Joe, <Eu vou alterar minha lista.>
Tobias olhou para ambos. — Eu conversei sobre isso com os
homens. Nenhum de nós tem uma boa sensação sobre essa estadia. Se
estiver tudo bem para você, eu vou verificar a sala de bagagens na estação
para ver se há pacotes para levarmos de volta. Em seguida, gostaria de
colocar alguma distância entre nós e esta cidade.
— Tudo bem, — Joe disse. — Os humanos que voltarão a cavalo
precisam de comida e água? Devemos comprar alguma aqui? — Eles
tinham levado comida e água na picape, mas a maior parte foi
embora. Ele queria ficar longe deste lugar logo que possível, e ele sabia
que os outros Lobos se sentiam da mesma maneira, mas os humanos
eram parte de sua matilha nesta viagem e eles não eram tão resistentes
quanto os indigenes da terra, que poderiam ficar sem comida e água até
chegaram em Prairie Gold.
— Vou ligar para Jesse e dizer que estamos voltando. Ela pode
enviar outra picape com suprimentos ao nosso encontro, — disse Tobias.
— Nós podemos acampar no mesmo lugar de ontem à noite, na terra
dos indigenes da terra.
<Ele quer estar longe daqui,> Tolya disse.
<Vamos ajudá-lo e verificar se há entregas e sair daqui,> Joe
respondeu.
Eles pegaram duas caixas de livros da Howling Boas Leituras, e
oito caixas de mercadorias de diferentes partes do Thaisia, todas
endereçadas a Loja Geral de Walker. E ao seu redor, os seres humanos
que deveriam ter deixado a estação até agora estavam ao redor e
encaravam, seu ódio pulsando no ar.

222
Por que tanta raiva, tanto ódio? Joe perguntou. Ele olhou para
Tobias, cujas mãos estavam apertadas no volante enquanto o captador
seguia os lobos e vaqueiros a cavalo fora da cidade. — Tem sido sempre
assim entre você e os outros seres humanos?
— Não gosto disso, — Tobias respondeu.
— É por causa de nós? Porque alguns indigenes da terra vieram
para a cidade com você? — Os trens não podiam ir de um lugar para
outro, sem os trilhos que percorriam o país selvagem, e por conta disso
os indigenes da terra podiam viajar de trem. Assim, os Outros tinham que
vir para a cidade de vez em quando para pegar os hóspedes ou
pacotes. Mas eles não precisam ir além da estação ferroviária. Mesmo
quando Tolya pediu para ver a cidade durante a última visita, Tolya e
Jackson e Tobias nunca passavam mais tempo que o necessário.
— Houve histórias ultimamente de que os leitos dos rios daquelas
colinas estão cheios de pepitas de ouro, — disse Tobias. — Tantas que
você pode colhê-las com a mão.
Não era assim tão fácil, mas ele escutou de outros Lobos que
moravam no assentamento indigene da terra que havia alguns lugares
onde as pedrinhas amarelas eram bastante fáceis de recolher, e era um
presente dos Anciãos que permitiam que os Outros colhessem para o
comércio com os Intui.
Mas se os seres humanos invadissem aquelas colinas...
Joe estremeceu.
— Você está bem? — Tobias perguntou.
— Sim. Terei todo o prazer de voltar para o nosso próprio
território.
— Você e eu.
Tolya não disse nada, mas quando eles pararam para descansar
os cavalos, ele passou para a forma fumaça e desceu a estrada como uma
sombra. Joe se despojou de suas roupas e mudou para Lobo, trotando
em forma Lobo por um tempo pelo acampamento, junto com um dos
peões.

223
Ciente, consciente, atento. Eles se moviam alertas para qualquer
coisa e para tudo.
Stewart estava certo; havia problemas no horizonte. Enquanto ele
trotava, Joe pensou sobre os Intui. Eles tinham alguns filhotes em seu
assentamento, e havia bons lugares para se esconderem se outros
humanos se tornassem raivosos.
Joe não gostava de achar que ele era um pequeno shifter em
comparação aos Anciões, mas ele iria subir as montanhas para encontrá-
los e pedir-lhes para permitir que os Intui se escondessem nas colinas se
Prairie Gold fosse atacada.

224
CAPÍTULO 21
Moonsday, Juin 18

Um vigoroso debate entre os membros da Associação Empresarial


do Courtyard terminou minutos antes de Jerry Sledgeman sair dirigindo
da estação de trem com o caminhão de gado cheio de bisões. Nenhum
dos outros ficou feliz em permitir que Jerry fosse tão longe no Courtyard,
mas todos concordaram que descarregar os animais na Praça do Mercado
não seria uma boa ideia, especialmente se os bisões saíssem da área de
acesso e se encaminhassem para o tráfego na rua principal.
Desse modo, cinco novilhos foram descarregados no Pony Barn, e
o bando feminino e Kowalski estavam por perto para testemunhar a
chegada de mais um item para o futuro cardápio.
Simon se coçava para mudar de sua pele humana e ajudar a
pastorear os bisões do Pátio até onde ficariam assim que todos
decidissem exatamente onde isso seria. Henry apenas riu, dizendo que
os cervos vagueavam ao longo do Courtyard e os bisões fariam o
mesmo. Já que Simon concordava com ele, ele não ofereceu nenhuma
opinião. Um bisão adulto iria onde escolhesse, mas a maioria dos Outros
no Pátio não morou no Noroeste e não tinham nenhuma experiência com
pastos em uma pradaria.
Meg olhou para o bisão e, em seguida, para ele. — Você disse que
estávamos recebendo poucos bisões.
— Eles são pequenos bisões, — Simon respondeu.
Ela acenou com a mão para indicar o bando feminino. — Nós
pensamos que você quis dizer bisões bebê.
— Animais de um ano estão perto de ser bebês.
— Não vá lá, — Kowalski murmurou.

225
— Além disso, — Simon continuou, ignorando o homem, — se
tivéssemos trazido bezerros, nós também teríamos que trazer as mães, e
elas são grandes.
— Oh, — Meg disse. Ela e o bando feminino olhavam para os
bisões.
— Mesmo que eles sejam maiores do que tínhamos esperado, eles
são meio bonitinhos, — Ruthie disse. — E tão dóceis.
Jerry Sledgeman coçou a cabeça e olhou para as árvores. Vlad
pressionou um punho contra a boca e olhou fixamente para o chão. E
Nyx deu a todos um sorriso complacente de um vampiro bem alimentado.
Jackson estava na Carne Verde acalmando um apetite acentuado,
mas Nyx não tinha passado fome durante a viagem. Os bisões dóceis
eram a prova disso.
— Como nós vamos chamá-los? — Meg perguntou.
— Almoço? — Simon ofereceu.
O bando feminino deu-lhe um olhar que o fez pensar que fugir
seria uma boa idéia, se ele não fosse o líder e não pudesse voltar atrás.
— Simon? Você e Jackson não devem ir até a Comunidade River
Road para resolver sobre os outros bisões? — Vlad deu ao bando de
fêmeas um olhar aguçado. — E vocês não devem começar a trabalhar? Eu
sei que algumas de vocês têm de rever os itens que Jackson trouxe de
Prairie Gold.
Ruthie e Theral partiram em bicicletas. Meg e Merri Lee partiram
no carro elétrico.
Simon olhou para Kowalski, que estaria normalmente no trabalho
agora.
— Onde você vai colocá-los? — Kowalski perguntou acenando
para os bisões.
— Por quê?
— Fora da vista, longe dos pensamentos. Se eles ficarem perto das
meninas, e elas conseguirem vê-los todos os dias, elas vão acabar dando
nomes, e eu acho que as meninas não vão perdoá-lo se você colocar em
um prato um bisão com o nome de Fred ou Henrietta.

226
Jerry concordou. — Oh, sim. O que ele disse está certo.
Simon pensou nisso. Os Lobos não serviriam os seus bisões em
qualquer prato, mas alguma carne seria vendida no açougue na Praça do
Mercado para os humanos comprarem. Como eles saberiam quais bisões
haviam se tornado um assado? E isso importa?
Os humanos davam muitos problemas, antes mesmo que eles
fizessem alguma coisa.
— Certo, — ele disse. — Nada de nomear a comida.
— Jackson disse que os machos e fêmeas devem permanecer
separados a maior parte do tempo, — Nyx disse. — Podemos manter as
fêmeas nas Câmaras. É cercado.
Também fora dos limites para todos, os Sanguinatis eram a
melhor escolha para manter os bisões onde não podiam ser
caçados. Então novamente, os cervos eram abundantes, por isso não
havia razão para caçar bisões por mais um ano ou dois, e a terra que
cercava as Câmaras oferecia uma abundância de pastagem e água fresca.
— Erebus concorda com isso? — Perguntou Simon. — O bisão não
é uma boa guloseima quando eles fazem cocô.
Vlad deu de ombros. — Alguns cervos conseguem entrar nas
Câmaras. Eu não vejo... — Um dos bisões levantou a cauda e demonstrou
não ser delicado. — -Ah!
— Vai ficar tudo bem, — Nyx disse.
— É melhor eu voltar, — Jerry disse. — Há algo que você queira
que eu leve para Porto Ferryman?
Simon balançou a cabeça. — Hoje não.
O bisão atravessou a estrada e começou a pastar.
— Alguém quer uma carona? — Perguntou Jerry.
— Claro, — Kowalski respondeu. — É hora de eu sair para o
trabalho.
— Eu vou a pé, — disse Simon.
Nyx deslocou-se para fumaça e fluiu na direção das Câmaras.
Vlad partiu com Simon, em direção à Praça do Mercado, onde
Blair e Jackson iriam encontrá-los com a van, já que dois dos Lobos

227
juvenis da matilha Addirondak estavam indo com eles para a
Comunidade River Road.
— O gado não seria mais fácil de gerir, caso você não quisesse
algo mais... Exótico? — Vlad perguntou.
— Temos acesso a carne bovina e produtos lácteos das fazendas
indigenes da terra, — Simon respondeu. — Não precisamos de vacas
aqui. Além disso, bisões não precisam de muito cuidados, enquanto
tiverem comida e água. E daqui alguns anos, um deles pode alimentar
todo o Pátio por dias.
— Você acha que os humanos em Lakeside vão continuar a deixar
os caminhões dos indigenes da terra alcançar o Pátio para o fornecimento
de carne, ovos e leite?
— Você acha que esta cidade vai sobreviver se eles não permitirem
que os caminhões cheguem até nós? — Simon respondeu.
— Não. Felizmente existem aqueles entre a polícia da beira do lago
que entendem isso também.
Eles não falaram por um minuto. Em seguida, Simon disse: —
Você vai manter um olho em Meg?
Vlad assentiu. — Henry está trabalhando em seu estúdio, ou,
mais precisamente, ele disse que está lixando uma peça e está
trabalhando em seu quintal. Com a janela aberta da sala de triagem, ele
vai ouvir o suficiente do que Meg e as outras meninas estão dizendo sobre
os baralhos de cartas que Jackson trouxe, e o que pensam dos esboços
que Hope fez para Meg.
Blair passou por eles, mas não parou, dando a Simon mais alguns
minutos antes de chegarem à Praça do Mercado para lidar com a próxima
tarefa.

****

Meg abriu um baralho e colocou as cartas na mesa da sala de


triagem em fila.

228
— Esses cartões de adivinhação são uma verdadeira obra de arte,
— disse Ruthie. — É quase como se as ilustrações pudessem compor todo
um mundo de fantasia.
— Adorável, sim, mas não realista — Meg respondeu.
— A arte é uma expressão simbólica do que as cartas
representam, não é realista.
— Esse é o problema, não é? — Disse Merri Lee, vendo Meg. —
Você não vai ter visões sobre pessoas ou eventos em um mundo de
fantasia, então você precisa de uma imagem de fogo, e não uma imagem
de um dragão que representa o fogo.
— Sim, — Meg disse. — E precisamos chamar as cartas por um
nome diferente, porque dizer que estamos dizendo a sorte soa como uma
espécie de entretenimento, e nós estamos tentando usar as cartas como
uma ferramenta para a profecia.
— Então é disso que vamos chamá-las: cartões-profecia. — Merri
Lee passou a mão nas fileiras de cartas em pilhas, seus movimentos
dificultados pela tala no dedo indicador esquerdo.
— Quanto tempo mais? — Perguntou Ruthie, apontando para a
mão de Merri Lee.
— Espero que a tala saia amanhã, depois do Dr. Lorenzo verificar
os dedos. Deuses, eu vou ficar tão feliz em usar as duas mãos para lavar
meu cabelo.
— Pelo menos foi um tempo curto. Pareceu...
— Que o osso tinha atravessado a pele. Sorte para mim que foi
apenas um caco de porcelana que quebrou durante a luta no Mercado
Tenda. Como era claro, pareceu um osso, especialmente considerando o
meu dedo ferido. — Merri Lee soltou um suspiro. — A maioria de nós teve
sorte.
Meg não disse nada. As meninas do Composto entravam e saiam
de onde ela foi criada e utilizada, mas ela não conhecia bem nenhuma
delas, não o suficiente para sentir a perda como se sentia de Lawrence
MacDonald e Crystal Crowgard. Eles eram amigos.

229
Eu não quero perder mais amigos, ela pensou quando Ruthie
colocou o baralho em sua caixa e abriu a próxima plataforma.
A próxima plataforma não tinha muita diferença, mas a terceira...
As mãos de Meg vibraram levemente quando ela tocou as
cartas. As ilustrações eram mais realistas. Ela tocou nas cartas com
imagens da água, lagos, córregos, cachoeiras, ondas.
— Aqui está uma ilustração dos Grandes Lagos, — Merri Lee disse
tocando na carta que Meg estava observando.
— Específicos e gerais. — Meg foi até uma gaveta e tirou os postais
que tinha pegado de Lorne. Ela apontou para um dos cartões de profecia.
— Uma cachoeira seria uma imagem geral, que poderia estar em qualquer
lugar. — Ela colocou um cartão postal de Talulah Falls sob a carta. —
Mas isso significaria um lugar específico.
— Quantos lugares específicos você conheceu? — Perguntou
Ruthie. — Nós tivemos a impressão de que você foi ensinada através de
imagens para representar uma coisa em particular, como uma imagem
para representar cães pequenos e uma para cães de grande porte, mas
nenhuma raça particular de um cão.
— Mas Talulah Falls é um marco distintivo, — Merri Lee disse. —
Talvez diferentes combinações de cartões possam significar coisas
diferentes. Meg, quando você vê essas duas cartas em conjunto, o que
significa para você? — Merri Lee colocou o cartão postal de Talulah Falls
lado da carta com a ilustração dos Grandes Lagos.
— Lago Etu, — Meg disse, logo que ela colocou os dedos sobre os
cartões, e se surpreendeu por não ter que pensar em tudo isto.
— Também poderia significar Lago Tahki, — disse Ruthie. — E
uma terceira carta poderia ser necessária para refinar a localização.
— Isso é um bom ponto. — Merri Lee entregou a Meg uma carta
que mostrava o sol atrás de uma cadeia de montanhas. — E quanto a
isso?
— Oeste.
— E junto com esta carta?
Ela pegou a segunda carta. — Pôr do sol.

230
Ruthie olhou para ela. — Como você está se sentindo?
— Minhas mãos formigaram um pouco, mas elas estão
formigando desde que abrimos este baralho de cartas.
— Isso não prova nada. — Ruthie pareceu desapontada.
— Nós não fizemos uma pergunta, — Merri Lee disse. — Vamos
organizar estas cartas em categorias, deixá-las como Meg fez com a água,
e, em seguida, fazer um teste. Vamos incluir os cartões postais também.
— E os outros baralhos de cartas?
— Vamos começar com o que temos e ver o que acontece. Pronta?
Meg assentiu.
— De onde os bisões do Courtyard vêm?
— Eu já sei a resposta para isso.
— Sim, mas se você tivesse que nos dar a resposta usando as
cartas, qual você escolheria?
Meg olhou para as cartas e escolheu a carta que ela tinha dito que
significava o Oeste, em seguida, um cartão que mostrava a grama um
pouco alta. Então ela franziu a testa e esfregou a mão direita. — Não está
aqui. O seixo amarelo não está aqui.
— Espere um momento. — Ruthie abriu outro baralho de cartas
e rapidamente passou por elas. Em seguida, ela levantou uma carta com
várias barras de ouro empilhadas em um cofre.
— Sim, — Meg disse, pegando a carta e colocando-a ao lado das
outras duas.
— Ocidente como uma direção ou região, um retrato do que eu
suponho ser Prairie Gold, mas o Sr. Wolfgard poderia confirmar quando
ele retornar, e temos as barras de ouro. — Merri Lee parecia satisfeita. —
A resposta à pergunta é Prairie Gold, que fica a Oeste de nós.
O formigamento desapareceu.
Meg olhou para as cartas. Poderia ser assim? Ela poderia
realmente responder a perguntas desta maneira?
— Precisaríamos de cartas com imagens de coisas ruins também,
— ela disse.

231
— Sim, — Merri Lee concordou. — Mas uma imagem de uma coisa
ruim não tem que ser gráfica.
— Ok, — Ruthie. — Existe alguma coisa neste baralho em relação
às paisagens que não se sente bem para você, Meg?
Depois de olhar para todas as cartas, Meg sacudiu a cabeça. —
Nenhum delas me fez sentir mal.
Ruthie recuperou a carta com as barras de ouro antes que
recolher o resto das cartas e colocá-las de volta em sua caixa. — Este foi
um conjunto de paisagens. Esta plataforma é chamada de paisagens
urbanas.
Meg se abraçou enquanto Merri Lee e Ruthie classificavam as
cartas em categorias.
— Meg? — Disse Merri Lee.
As coxas de ambas as pernas estavam queimando, queimando,
queimando... E era o prelúdio de uma profecia. Meg cerrou os dentes e
estendeu uma mão acima das cartas, movendo lentamente de uma
categoria para outra. Sua mão começou a doer dolorosamente quando
ela roçou a última categoria. Ela empurrou essas cartas para um lado,
então se afastou da mesa até que a mão dela parasse de zunir e suas
pernas parassem de queimar.
Merri Lee e Ruthie olhavam para as cartas e depois para ela.
— Meg? — Ruthie disse suavemente. — Por que você colocou
essas de lado? São as cartas que mostram perfis de diferentes cidades.
Queimando, queimando, queimando. Ela teve a mesma sensação
acima de seu tornozelo quando ela viu a profecia da loja de Nadine
queimando. Se ela fizesse um corte, se ela pudesse ver... Não. Ela não
queria ver o que ia acontecer nesses locais. E ela não queria que seus
amigos levassem esse fardo por saber.
— Meg? — Merri Lee disse. — Por que você colocou essas cartas
de lado?
Ela estremeceu e engoliu em seco. — Eu acho que nós não vamos
precisar delas. — Seu estômago revirou. — Eu não posso olhar para mais
nada hoje.

232
Ela correu para o banheiro, e logo que estava longe da sala de
triagem, seu estômago revirou. Quando ela voltou, as cartas estavam de
lado, as plataformas dentro de suas caixas no balcão.
— Nós não queremos colocá-las de fora, — Ruthie disse.
— Mas nós podemos, — acrescentou Merri Lee.
— Eu fiz uma nota das nossas impressões, uma era fantástica
demais para você, e a outra não era de seu interesse, bem como as duas
plataformas que nós olhamos. E há outra plataforma que pode ser muito
fantasiosa para ser útil.
Meg assentiu. — Podemos olhar mais amanhã.
Suas amigas trocaram um olhar.
— Eu não preciso me cortar, — ela lhes assegurou. Isso era
verdade. Ela não precisava de um corte, mas desejava a euforia que vinha
dele. — Eu só preciso de alguma rotina agora.
— Há algo que possamos fazer? — Perguntou Ruthie.
— Não. Obrigada.
— Devemos dizer a alguém sobre o que você disse sobre não
precisar dessas cartas?
— Nós não sabemos nada ao certo. — Quando o Controlador a
afastava dos seus clientes, ela não sabia o que tinha visto e certamente
não dizia qualquer coisa sobre a profecia. — Se você for contar para
alguém... Certifique-se de dizer que não sabe nada ao certo.
Elas acenaram. Prometendo voltar durante a pausa do meio-dia e
almoçarem juntas, Merri Lee e Ruthie saíram pela porta dos fundos do
Gabinete do Liaison.
Meg abriu a porta particular e estudou Nathan, que parecia muito
casualmente deitado em sua cama Lobo sob uma das janelas da
frente. Ela apostaria seu pagamento de uma semana que ele estava
encostado no balcão, ouvindo tudo o que elas disseram para que ele
pudesse reportar a Simon.
Ela viu o caminhão de correio parar no estacionamento da área
de entrega e se sentiu aliviada de que teria alguma rotina para fazer por

233
um tempo. Antes de o carteiro sair do caminhão, ela disse a Nathan, —
Certifique-se de dizer a Simon que não sabemos de nada ao certo.

234
CAPÍTULO 22
Moonsday, Juin 1

Os seis bisões restantes não estavam tão dóceis quando Simon,


Jackson, mais dois Lobos juvenis e Jerry Sledgeman chegaram à
Comunidade River Road. Assim que Simon e Jackson baixaram a rampa
do caminhão de gado, os bisões trotaram para longe das casas e das
criaturas que estavam em duas pernas, mas que cheiravam a Lobos.

— Você quer que cuidemos deles? — Perguntou uma voz.

Simon olhou para os dois Sanguinatis que haviam se aproximado


deles em sua forma de fumaça antes de tomar a forma humana.

— Sim, — ele respondeu. — Será útil acompanhá-los.

Os dois machos voltaram à forma de fumaça e correram na


direção que os bisões tomaram.

Simon os observou, enquanto outros quatro jovens Sanguinatis


se juntavam a eles. Pelo menos ficar observando os bisões lhes daria algo
para fazer.

Jackson estudou a terra. — Essa terra estende-se muito e você


pode ver o longo caminho. Aqui não será tão fácil controlar um rebanho.

— Você pode querer comprar alguns veículos para cobrir todo o


terreno, que os agricultores e os cuidadores de gado podem usar, — Jerry
disse. — Steve quer um par deles para o campus das Cassandra de
Sangue, junto com um par de pequenos carros que possam auxiliar no
transporte de produtos ou alimentos.

— Ou os humanos poderiam usar os cavalos. — disse Simon.

235
— Se você quer cavalos, você deve conversar com Liveryman. Mas
você precisa construir algum tipo de abrigo e um lugar para a
alimentação deles. Os utilitários poderiam ser armazenados no antigo
edifício industrial.

— Algumas destas casas pertencerão aos indigenes da terra. A


maioria não terá um carro e a garagem estará vazia. Não daria uma
garagem grande o suficiente para um cavalo?

Jerry coçou a nuca. — Eu não estou dizendo que não seria útil
ter alguns cavalos aqui, mas será melhor construir uma estrutura
própria para um cavalo, do que tentar remontar uma garagem em uma
casa. Você poderia armazenar os alimentos na garagem se você colocar
paletes de madeira no chão para manter o feno seco, mas isso vai atrair
ratos que vão entrar na casa através da garagem anexa. Suponho que
você poderia ter alguns gatos.

— O Panthergard geralmente não come ratos, porque é preciso


um monte de pequenos roedores para fazer uma refeição, — disse Simon.
— Mas há outros indigenes da terra que iriam comer os ratos. — Se os
Outros prometessem considerá-los não comestíveis, talvez tivessem
alguns gatos domésticos morando na comunidade para tranquilizar os
seres humanos. Pela forma como os humanos acumulavam bens onde os
ratos podiam se aninhar, os gatos que morassem com os humanos
encontrariam a caça em uma casa muito mais fácil do que uma Coruja.
Talvez houvesse gatos sobressalentes na Ilha Grande?

Cavalos, gatos e veículos para cobrir todo o terreno. Mais coisas


para a lista da próxima vez que ele conversasse com Steve Ferryman.

— Você precisa de mais alguma coisa? — Perguntou Jerry.

Simon sacudiu a cabeça.

— Quase esqueci. — Jerry abriu a porta do passageiro do


caminhão e pegou um saco, que o entregou a Simon. — Temos quadras
de tênis em nossos centros comunitários, tanto na Ilha quanto na parte

236
continental do desembarque de Ferryman. Não sei se alguns de seus
vocês jogam esse jogo, mas Ming Beargard viu Pam Ireland jogando uma
bola de tênis para o seu cão, e ele pensou que você poderia gostar de
algumas bolas para os seus jovens.

— Obrigado. — Os Lobos já conheciam esse tipo de bola. Macia e


suave, o suficiente para não machucar um filhote se perdesse a mordida
e caísse. Mas ele não disse a Jerry que isso não era uma coisa nova para
o Pátio de Lakeside. Além disso, essas bolas poderiam ficar aqui para os
Lobos que iriam se estabelecer na comunidade River Road.

Jerry se afastou, virando para o norte da River Road para voltar


para Porto Ferryman.

Jackson estendeu a mão para o saco. — Posso ver uma dessas


bolas? — Ele estudou uma bola amarela, apertou-a e depois a atirou.

Os Lobos juvenis observaram a bola amarela desaparecer na


grama longa.

— Você deveria correr atrás dela e trazê-lo de volta. Esse é o jogo.


— Simon disse.

Jackson jogou outra bola na mesma direção, e desta vez os Lobos


correram atrás dela. Depois de encontrar as duas bolas, eles trotaram de
volta para Jackson, que as jogou novamente.

Simon observou seu amigo e sentiu a excitação dentro de si.


Jackson jogando uma bola era parte da profecia que Meg viu para esta
comunidade. — Roy Panthergard vai se instalar aqui. Uma fêmea pode
vir com ele.

Jackson abortou a próxima jogada e olhou para Simon com


surpresa. — Uma companheira? Os Panthergard não são tão solitários
quanto as panteras comuns, mas dois deles poderiam viver tão próximos?

237
— Não sei; não sei se essa fêmea está planejando ficar ou apenas
quer dar uma olhada nesta parte de Thaisia antes de decidir. De qualquer
maneira, Roy vai se instalar aqui. — Simon hesitou. — E você?

— Eu? — A próxima jogada de Jackson foi tão curta que os Lobos


mal tiveram que se mover para pegá-la. — Você pensou que eu ficaria?
Por quê?

— Porque Meg viu você aqui. — Simon deu de ombros. Não era
difícil acreditar que tudo o que uma profetisa de sangue via aconteceria
no futuro, especialmente quando Meg teve razão tantas vezes. Mas você
não poderia fazer suposições sobre as visões.

Quando Jackson pareceu inquieto, Simon continuou. — Foi o que


Meg descreveu, você jogando uma bola para alguns lobos juvenis. Eu
pensei que significasse que você iria morar aqui. — Os Lobos derrubaram
as bolas aos pés de Jackson, depois trotaram para explorar a terra ao
redor das casas, tendo tido o suficiente do jogo.

— Eu gosto de morar em Sweetwater, — Jackson disse. — E Grace


é do Alto Norte e nós sentiríamos falta da neve.

— Nós temos neve. — Jackson riu.

— Vocês não tem o que Grace chama de neve.

Ele esperava que ninguém transmitisse esse comentário aos


Elementais em Lakeside. Ele não queria que Inverno sentisse a
necessidade de provar que podia fornecer tanta neve quanto alguns
Elementais no Noroeste ou Alto Norte.
— Além disso, — prosseguiu Jackson — a filhote Hope está se
instalando, aprendendo sobre a terra e como cuidar de si mesma. E é
diferente agora não é? Os Intui estão mais interessados em conversar
conosco, trocando informações sobre os filhotes de profetisa, e
perguntando o que seria útil para aquelas que eles estão cuidando. Não
é apenas uma visita semanal ao posto comercial.

238
— E você é o líder com quem eles conversam. — Simon assentiu.
— Como Joe está conversando com os Intui em Prairie Gold. — Você e a
sua Meg mostraram aos Outros e aos Intui que é possível realmente
trabalharem juntos.

— Nem todos os humanos se sentem dessa forma. — Simon


advertiu.

— Nem todos os indigenes da terra se sentem assim. — Jackson


pegou uma das bolas de tênis e franziu a testa. — Acho que você não irá
colocar essas bolas com as limpas.

— Vamos levar essas duas conosco e colocaremos o saco com as


bolas limpas na garagem anexada à casa do Sanguinati. — Quando eles
estavam prontos para sair, Simon chamou os Lobos juvenis.

<Hora de voltar para Lakeside.>

<Nós não terminamos de cheirar!>

<Podemos ficar aqui e ajudar a proteger os bisões.>

Ajudar a perseguir o bisão era mais como ele. O problema era que
o bisão conhecia os Lobos; e esses jovens Lobos sabiam o suficiente sobre
bisões para se meterem em sérios problemas. E dois lobos juvenis sem
adultos de qualquer espécie? Não vai acontecer.

<Entrem no carro,> ele rosnou.

Eles voltaram, parecendo suficientemente castigados. Simon


suspeitou que tinha menos a ver com a obediência real e mais a ver com
não continuar com os seus jogos.

<Você está desapontado que eu não vou ficar,> Jackson disse


quando Simon se afastou da comunidade.

<Sim. Mas eu não gostaria de ter que me mudar e deixar Meg,


então eu entendo porque você não quer deixar a filhote Hope por conta
própria.>

239
<Eu tenho certa aptidão para segurar a forma humana e para
entender muitas das coisas que eles usam, mas eu não queria
administrar um Pátio ou mesmo morar em um. Não como você. Agora eu
lido com mais seres humanos e coisas humanas em uma semana do que
eu costumava enfrentar em uma temporada inteira.>

<Os seres humanos têm uma maneira de aderir a você. Como


rebarbas.>
Jackson riu baixinho.

<Mas alguns seres humanos valem os espinhos.>

Simon pensou no jeito como Sam parecia quando estava com Meg,
o quanto o filhote crescera desde aquela primeira noite em que ele havia
percebido seu cheiro e sua curiosidade tinha acalmado o medo. E ele
pensou em como ele se sentia por ter Meg como amiga.

<Sim, alguns deles valem os espinhos.>

****

Meg amassou a edição do dia da Lakeside News e jogou-o em um


canto da sala de triagem. Em seguida, ela a recuperou e alisou o jornal
antes de colocá-lo no escaninho que ela usava para os jornais reciclados.

Como Merri Lee disse? A mesma notícia, dia diferente: O


governador Patrick Hannigan ainda estava pedindo aos governos
municipais para mostrarem bom senso em vez de cederem ao
sensacionalismo que está sendo jogado pelo movimento dos Humanos
Primeiros e Últimos, e o Agente Greg O'Sullivan dizendo que a Força-
Tarefa de Investigação ainda estava investigando a causa dos peixes
mortos que continuavam a aparecer no litoral de Toland.

240
Esses artigos fizeram suas mãos formigarem enquanto ela lia,
mas o artigo que citava Nicholas Scratch...

Os humanos são poderosos. Os humanos tem razão. Os humanos


merecem todas as riquezas que o mundo pode oferecer. As pessoas não
deveriam ser gratas por folhetos distribuídos de acordo com os caprichos
dos animais.
Sua pele queimava tanto enquanto lia o artigo que ela não
conseguia tocar mais o jornal.

Muito cedo para se cortar, ela pensou enquanto entrava na sala


de triagem. Meg colocou as caixas com as cartas de profecia sobre a mesa
e abriu cada caixa. Ela hesitou por um momento, então recuperou as
folhas descartadas da caixa da cidade, as folhas que identificavam as
maiores cidades humanas de Thaisia. Inclusive as duas imagens das
duas cidades fantasmas. Por fim, ela estendeu as folhas de papel que
continham os esboços de Hope com as imagens das cartas que deveriam
ser incluídos neste novo Guia que todos esperavam que ela criasse de
alguma forma.

Os esboços de Hope mostravam uma mistura de cartas. Algumas


eram cenas que podiam ser tomadas como um todo ou ser relevantes por
causa de uma imagem, e algumas eram imagens de coisas. Essa mistura
já estava no baralho? Ela não tinha realmente olhado as cartas com um
olhar mais apurado na última vez em que as tocou.

Meg não tinha certeza de quanto tempo estivera olhando para os


desenhos, sentindo-se oprimida mesmo antes de começar a olhar as
imagens, quando percebeu que não estava sozinha. Ela olhou para o
homem grande que estava do outro lado da mesa.

— Henry?

— Você suspirou. Eu me perguntei o que estava errado.

— Você me ouviu suspirar? — Ela olhou para a janela aberta. Ela


e suas amigas não haviam considerado que alguém poderia ouvi-las

241
quando falavam nesta sala, especialmente porque elas geralmente
falavam baixo para evitar que Nathan escutasse da sala da frente.

— Eu estava trabalhando lá fora e ouvi você. Jake ouviu você de


seu poleiro na parede. E Nathan ouviu você. Foi um suspiro alto.

Ela não achou que seu suspiro foi tão alto, mas todos os Outros
tinham excelente audição, então poderia ter soado alto para eles.

— Ler o jornal me incomoda. — Ela admitiu.

— Isso é recente?

Ela assentiu com a cabeça. — Toda vez que leio sobre o


movimento HPU ou algo que Nicholas Scratch discursou, a minha pele
pinica ou sinto queimaduras. Estou tentando não me cortar. Eu
realmente estou.

— Nicholas Scratch e os humanos do HPU são problemas. Você


não precisa se cortar para nos dizer o que já sabemos. — Henry
gesticulou para o baralho de cartas. — E essas cartas?

— Eu não sei o que estou fazendo com essas cartas. Eu não sei
como combinar as imagens para fazer um baralho que será útil para uma
Cassandra de Sangue. E se eu deixar de fora algo que outra menina possa
precisar, mas que não é significativo para mim?

Henry apertou os lábios. A cicatriz no lado direito de seu rosto


ainda parecia crua e dolorosa, um lembrete diário do movimento HPU e
uma preocupação para os Outros.

— Por que você precisa saber isso de imediato? — Ele finalmente


perguntou.

— Para que outras meninas possam usar as cartas em vez de se


cortar. — Outras garotas. Ela que era uma viciada em se cortar não iria
querer uma alternativa? Sim, pois o cortar a mataria no final. Ela poderia

242
aprender como usar as cartas para o seu próprio bem, bem como a de
outras profetisas de sangue.

— Primeiro você aprende a natureza de uma coisa. — disse


Henry. — Temos uma história que ensinamos entre os Beargard. Um
Urso jovem está com fome. Ele vai ao rio à procura de peixe. Ele espera
no rio por dias e dias até que esteja fraco de fome, mas não encontra o
peixe. Por quê? — Henry olhou para ela com expectativa.

— Eu não conheço esta história. Não sei por que não há peixes.

— Ele chegou muito cedo. Se tivesse aprendido a natureza dos


peixes que nadam naquele rio, ele teria procurado outras coisas para
comer e teria ido para o rio na hora certa. — Henry lhe deu um sorriso
cuidadoso. — Veja. Observe. Aprenda. Então você vai encontrar o que
precisa.

Meg suspirou.

— Arroo? — Nathan perguntou da sala da frente.

— Ela está bem, Lobo — Henry disse. Então ele lançou-lhe um


longo olhar. — Você está bem, Meg?

Ela tocou em uma das cartas. — As cartas podem revelar uma


resposta a uma pergunta, mas usá-las não produz a euforia. Usá-las não
causa a euforia.

— Até que você aprenda sua natureza, como você realmente sabe
que é verdade?

Ela não tinha uma resposta, mas tinha uma pergunta. — Henry?
Os bisões vão vagar pelo pátio?

— Alguns foram levados para as Câmaras. As cercas devem evitar


que fiquem vagando muito além da parte dos Sanguinati do Pátio. As
fêmeas estão pastando mais cercadas. Por quê?

— Eles vão ficar maiores.

243
— Muito maiores.

— Eles perseguem coisas?

A princípio, ele achou divertido. Então ele disse: — Ah! O carro


elétrico.

— Às vezes um cervo está na estrada quando eu estou fazendo as


entregas, mas ele sai do caminho. Eu acho que um bisão adulto não vai
querer se mover para sair do caminho. — Merri Lee tinha prometido
verificar na Howling Boas Leituras e Ruthie disse que iria verificar na
Biblioteca do Mercado para obter informações sobre bisões.
Principalmente quando estavam preocupados que os novos moradores
fossem devorar os jardins. Meg se perguntava como o bisão se sentia
sobre uma caixa sobre rodas percorrendo as estradas do Pátio.

— Eu lhe darei uma resposta quando tiver uma. — Henry disse.

Quando ele saiu, Meg se moveu para a janela, mas manteve-se


fora de vista. Ouviu o portão de madeira sendo aberto e fechado, ouviu
passos no caminho. Mas eles pararam antes de Henry chegar ao seu
estúdio porque Jake grunhiu, anunciando que um caminhão parou na
área de entrega.

Por impulso, Meg abriu um baralho aleatório de cartas. Insegura


sobre embaralhá-las, ela passou a mão nas imagens com a face para
baixo. Pegando uma carta, ela a virou.

Cesta de maçãs maduras, e parecia assim...

Podre. Verme.

Meg piscou. Não. A carta mostrava um cesto de maçãs maduras,


sem manchas, uma colheita deliciosa.

A porta do escritório abriu. Ela ouviu Nathan se arrastar da cama


de Lobo para encontrar o entregador no balcão.

Meg deixou cair às cartas e correu para a sala da frente.

244
— Olá, Harry.

— Miz Meg.

A voz de Harry parecia desgastada. Arrastada. — Algo está


errado?

— Tenho um pacote aqui para Miz MacDonald. Diz para mantê-


lo fresco.

— Harry?

Nathan estava de pé sobre as patas traseiras, apoiando uma das


patas dianteiras no balcão.

— Não poderei mais fazer as entregas. — Harry baixou a voz e


inclinou-se para Meg. — Houve uma conversa sobre a Everywhere
Delivery se tornando Everywhere Human Delivery.

— Arroo? — Nathan perguntou ao mesmo tempo em que Meg


dizia: — O que você vai fazer?

— Pedirei demissão; isso é o que eu vou fazer, — Harry respondeu


calorosamente. Então ele olhou por cima do ombro, como se tivesse medo
de ser ouvido. — Claro, não sei o que eu e a minha esposa faremos sem
o meu salário, mas também ouvi falar que se você for demitido por ser
um amante de Lobo, você perde sua pensão. Então eu prefiro renunciar
e obter o dinheiro que puder. Mas isso significa que você pode ter alguns
problemas para receber suas entregas. E algo como isto, — Harry bateu
na caixa — pode não chegar antes de estragar.

Meg pensou na carta de profecia e estremeceu.

— Arroo?

— Vou dizer ao Sr. Wolfgard o que você disse. — Meg recuou do


balcão. — Obrigada, Harry.

— Se cuide. — Harry olhou para Nathan. — Vocês dois.

245
Meg apertou ambas as mãos contra a moldura da porta particular
e esperou até que Harry se afastasse. Então ela se concentrou em Nathan,
apertando os dentes para evitar morder a língua para aliviar o zumbido
e a queimação. — Chame o Henry.

Nathan inclinou a cabeça.

— Algo está errado com aquela caixa. — Ela não ousou abrir a
boca para falar claramente. — Chame o Henry. Chame a Tess.

Nathan uivou.

Correndo da sala de triagem para a sala de trás, Meg agarrou a


porta até que finalmente ela abriu e saiu.

— Meg? — Pete Denby estava correndo pelas escadas de seu


escritório e a segurou quando suas pernas cederam. Ele meio que a
segurou, a sentou e empurrou gentilmente a cabeça dela entre os joelhos.

— Meg? — A voz de Tess era tão afiada como uma navalha.

— Pacote. Algo ruim. — Meg murmurou. — Queima na minha


língua.

— O que isso significa? — Pete perguntou.

— Isso significa que você não deve deixá-la fora de sua vista. —
Tess entrou no Escritório da Liaison.

Pete deu um tapinha no ombro de Meg. — Você viu alguma coisa?

— Ouvi um caminhão. Escolhi uma daquelas cartas de profecia


de um baralho. Vi maçãs podres, mas a pintura era de um cesto de maçãs
maduras.

— Deuses. OK. Como está sua língua agora?

Meg ergueu a cabeça. — Melhor.

— Porque você falou o aviso. Não é assim que funciona?

246
— Eu acho que ninguém poderia mandar uma cesta de maçãs
para Theral. A caixa não é grande o suficiente.

Pete tirou o celular do bolso.

— Eu vou ficar bem. — A quem ele ligaria de qualquer maneira?

— Doug? Você ou o Tenente Montgomery precisam vir para o


Pátio o mais rápido possível. Pacote suspeito. — Pete fez uma pausa,
olhando para Meg enquanto ouvia. — Não, tenho a impressão de que
estamos lidando com algo explosivo.

Meg balançou a cabeça.

— A lei humana não se aplica no Pátio, — ela disse quando Pete


terminou o telefonema.

— Theral é humana. A ameaça vem de outro humano. — Pete se


levantou e estendeu a mão. — Você se sente bem o suficiente para voltar
para dentro?

— Eu prefiro ficar aqui por um tempo, mas eu gostaria de um


copo de água.

Ele fez uma careta. — Não vou tentar explicar a Tess que te deixei
sozinha.

Ela suspirou. Ela realmente queria água.

Jake voou sobre a parede de trás do quintal de Henry, aterrissou


perto da escada, e mudou para a forma humana. — Vou buscar água
para a nossa Meg.

Pete fez um som sufocado, e Meg desviou os olhos. Ela estava se


acostumando com essas rápidas mudanças de pêlos ou penas para
humanos nus e vice e versa, contanto que não fosse Simon. Era diferente
quando era Simon.

247
— Não coma o meu almoço enquanto você está procurando a
água, — Meg gritou.

Jake não respondeu, o que a fez pensar que metade de sua razão
para ajudar era poder pegar na sala dos fundos qualquer coisa que um
Corvo achasse interessante. Mas ele voltou rapidamente e entregou-lhe o
copo de água antes de voltar a sua forma de Corvo e voar para o seu lugar
favorito na parede.

Ela ouviu sirenes ao mesmo tempo em que ouviu um veículo


entrar no caminho de acesso e parar de repente. Antes que ela pudesse
virar para ver quem chegou, Simon estava agachado ao lado dela.

— Meg?

— Estou bem. — Isso foi o que ela conseguiu dizer antes de


Jackson agachar ao lado de Simon, sendo menos sutil sobre farejar o ar
procurando cheiro de sangue.

Então Merri Lee saiu correndo da porta traseira da Howling Boas


Leituras. — Michael diz que a polícia foi chamada. Há problemas? Meg,
você está bem?

— Um pacote suspeito; — Pete disse. — Algo que a polícia deveria


investigar. Meg teve uma reação ao pacote e precisou de ar. Não há
necessidade de alarme.

— Você, Ruthie e eu precisamos conversar mais tarde, — Meg


disse a Merri Lee.

— Muitos de nós temos algo para conversar, — Simon rosnou.

Meg bebeu um pouco de água. Aprender a natureza de uma coisa.


Até que ela soubesse o que estava no pacote, ela não seria capaz de
entender a conexão entre as cartas e uma cesta de maçãs, ou por que ela
viu algo que não estava lá.

****

248
Monty entrou no escritório do Capitão Burke, seguido por
Kowalski e Louis Gresh, que fecharam a porta.

Burke olhou para a porta, depois dobrou as mãos sobre um papel


e deu aos homens seu sorriso feroz e amigável. — Normalmente sou quem
decide se é uma reunião fechada.

— Isso precisa ser uma reunião fechada, — Monty respondeu.

— Houve uma confusão no pátio? — Louis perguntou.

— Algo do tipo. Theral MacDonald está bem. Ela não sabia que
tinha acontecido alguma coisa, ou que isso pudesse preocupá-la, até eu
ir ao consultório médico para falar com ela. Meg não estava disponível,
mas Nathan Wolfgard foi franco sobre o acontecimento.

— E Pete Denby também. — Burke disse. — Ele me ligou


novamente enquanto você estava tomando uma declaração formal de
Nathan. O pacote foi inspecionado?

Monty assentiu. — Uma caixa de chocolates caros, com um


cartão onde se lia: Doces para uma menina doce. Nenhuma assinatura no
cartão, e a única coisa que o funcionário da Everywhere Delivery pode
dizer foi que o pacote foi entregue um pouco antes de fecharem no dia
anterior, e o homem pagou a taxa extra pela mercadoria ser perecível e
que precisava ser entregue na manhã seguinte. O balconista não se
lembrava muito do homem; só que ele parecia trabalhar ao ar livre, pois
tinha manchas de grama em suas roupas e sujeira em suas botas de
trabalho. Não há nada que indique que o pacote foi enviado por Jack
Fillmore, o ex-abusivo de Theral.

— Mas? — Burke perguntou.

— Há sinais de que os chocolates foram manipulados. Não havia


objetos estranhos dentro dos chocolates que foram examinados, então o
laboratório terá que realizar testes para descobrir o que foi inserido. —

249
Monty engoliu a raiva. Se Meg Corbyn não tivesse reagido mal ao pacote,
Theral poderia ter dado os chocolates às crianças como um deleite. O que
poderia ter acontecido a Lizzy, ou Sarah e Robert Denby, se algo nos
chocolates fosse destinado para incapacitar um adulto?

— Na hora certa, o Agente Debany e eu ligamos para hotéis e


alojamentos, especialmente aqueles que oferecem suítes que são
alugadas por semana, e não encontramos ninguém registrado sob o nome
de Jack Fillmore, — Kowalski disse.

— O que significa que ele está vindo para a cidade para realizar
cada um desses ataques, ou ele pode usar um pseudônimo, — Burke
disse.

— Provavelmente usando um apelido, mesmo se ele estiver


morando e trabalhando em outra cidade, — Louis disse.

— Isso pode explicar a diferença no tempo quando ele enviou as


flores para Theral para confirmar se ela estava trabalhando no Pátio e
esta entrega de doces adulterados, — Monty disse. — Há um número
limitado de cidades controladas por seres humanos dentro de uma
distância razoável de Lakeside, mesmo se ele passar a noite para verificar
a casa MacDonald, ou observar a movimentação de Theral para tentar
estabelecer uma rotina e usar os dias de folga para um possível ataque.
Se Fillmore passar muito tempo fora de seu trabalho, isso seria gravado
e formaria um padrão.

— Não temos provas de que Fillmore tenha enviado as flores ou


os chocolates, — Burke observou. — Nós fizemos suposições baseadas
na história de Theral com esse homem, e estávamos mais inclinados a
aceitar sua palavra porque Lawrence MacDonald era seu primo, e um de
nós.

— Até agora ele, ou alguém, tentou duas vezes e não passou do


balcão da frente no Escritório de Liaison. Na verdade, é do Escritório de
Ligação que eu queria falar. — Monty retransmitiu a informação que

250
Nathan lhe tinha dado sobre a Everywhere Delivery se tornando
Everywhere Human Delivery.

Burke soltou um suspiro de raiva. — Malditos idiotas! Se as


pessoas continuarem a fazer merda, os humanos serão expulsos de
Lakeside. Eu vou pedir a Pete para verificar os arrendamentos de terras,
e ver o quanto a cidade pode perder em breve. Só os deuses sabem o que
faremos se os trens que vêm e vão de Lakeside perderem completamente
o direito de passar pelo país selvagem, e a cidade já não for um destino
viável.

— As estradas que ligam as cidades também recebem o direito de


passagem por meio de aluguel, — Louis disse. — E os navios de carga
que navegam entre os Grandes Lagos já estão em uma posição precária.
Podemos ficar isolados.

— Toda cidade controlada pelo homem no continente pode ser


cortada. As pessoas se esqueceram disso ultimamente. — Burke olhou
para os três homens. — Algo mais? Não? Então vamos fazer o que
pudermos para manter as coisas lisas.

Monty, Kowalski e Louis deixaram o escritório de Burke.

Pensando na perda do direito de dirigir entre as cidades, Monty


foi até sua escrivaninha e ligou para sua mãe, pedindo novamente que
ela fizesse as malas e chegasse a Lakeside logo que pudesse.

****

Simon, Jackson, Blair, Henry e Vlad estavam em um círculo ao


redor de um dos carros elétricos.

— Sua Meg percorre o Pátio com isso? — Jackson perguntou.

251
— Não pode dirigi-lo nas ruas da cidade, mas ela faz muito bem
aqui, — Simon respondeu, sentindo-se na defensiva. A condução de Meg
melhorou nos últimos meses, então — bem — foi uma avaliação exata de
sua habilidade. Mas quando ele olhou para o topo do carro elétrico, ele
entendeu a verdadeira pergunta de Jackson. — Quando os bisões
crescerem, eles vão ficar maiores do que esse carro.

— Maiores e mais pesados. — Jackson colocou as duas mãos no


carro e o empurrou. O pequeno veículo balançou. — Será fácil para um
bisão atingir.

Um arrepio de medo passou por Simon. O carro poderia andar


nas estradas do Pátio; Eles poderiam manter alguém seco durante o
tempo chuvoso ou com neve. Podiam, com o motorista certo, se manter
em estradas molhadas ou na neve sem acidente. Poderia um carro
elétrico e o seu motorista sobreviver a uma colisão com algo tão grande
quanto um bisão? — Eles não teriam razão para perseguir o carro ou se
atracar com um. — Isso não significava que um dos bisões não
confundisse o carro com algo que deveria ser perseguido ou desafiado.

— Eles vão ser um problema para os cervos? — Blair perguntou.


— As terras do Pátio podem alimentar o rebanho que mora dentro de seus
limites, e esse rebanho é grande o bastante para alimentar o bando e
fornecer a carne para os residentes do Pátio. Quanta comida de cervo o
bisão consumirá?

Vlad franziu o cenho. — Diga novamente por que temos bisões


no Pátio?

Ele tinha espaço para se mover, mas Simon ainda se sentia


encurralado. — Porque Meg viu bisões na Comunidade River Road, e a
filhote Hope fez um desenho de Jackson trazendo onze bisões para nós.
— Então lhe ocorreu que, talvez, eles tenham interpretado mal as visões
da Cassandra de Sangue. Afinal, o que era visto nem sempre acontecia.

252
Será que ter bisões no Pátio não foi uma boa idéia afinal de
contas?

— Bem, — Henry disse, — se o bisão for um problema, nós vamos


comê-los mais cedo.

Infeliz por tomar uma decisão ruim, Simon esfregou uma mão no
cabelo e quis esquecer sobre bisões por um tempo. Hoje não estava muito
quente. Talvez ele pudesse convencer Meg a jogar um jogo de caça antes
de comerem. Ou ele poderia persegui-la até o jardim do Complexo Verde,
se ela fosse puxar ervas daninhas. — Se nós comermos tudo o que for
um problema...

— ...nós seríamos gordos, — Blair terminou.

Henry soltou uma risada. — Até decidirmos o que fazer com eles,
vamos garantir que alguém os vigie quando Meg estiver dirigindo.

Muito decidido, eles levaram o carro para uma das garagens atrás
do Complexo Verde e ligaram o cabo de alimentação para carregar o
veículo.

— Você vai pegar o trem amanhã de manhã? — Simon perguntou


a Jackson enquanto todos andaram pelo caminho que fornecia acesso
entre as garagens e apartamentos.

— Eu quero chegar em casa. Com tantos humanos agindo de


forma agressiva e estranha, eu não me sinto bem estando tão longe de
Grace e Hope. — Jackson olhou em volta. — Podemos dar mais uma
corrida?

Vlad parou de repente, com um olhar peculiar em seu rosto.

— O que? — Simon perguntou.

— Tess diz que um de nós precisa conversar com Meg sobre suas
habilidades de profecia, — Vlad respondeu. — Você e Jackson podem ter
sua corrida. Eu lido com isso.

253
— Você sabe o que é isso?

— Não. — Vlad mudou para fumaça e se encaminhou para a


Praça do Mercado e para o Escritório do Liaison em uma velocidade que
poderia ultrapassar qualquer presa a pé.

— Vá. — Henry disse. — Corra. Você vai se sentir melhor por isso.

Ele não podia discutir com isso, então Simon, Jackson e Blair
caminharam até o apartamento de Simon para tirar as roupas e mudar
para a forma como eles realmente eram.

****
Vlad parou nas sombras do caminho de acesso e mudou para a
forma humana antes de caminhar até a frente do Escritório do Liaison e
entrar por aquela porta.

Meg estava repentinamente duvidando de sua capacidade de ter


visões com precisão, disse Tess. Ela diz que não está se saindo bem. Ela
está me chateando, então você ou Simon precisam conversar com ela.

Sem problema. Ele tinha muito para dizer a Meg Corbyn.

<Eu preciso falar com Meg,> ele disse a Nathan.

Nathan olhou para a porta particular. <Ela está infeliz. Eu não sei
por quê. Ninguém a está incomodando.>

Vlad apontou um dedo para a outra cama Lobo. <Onde está


Skippy?>

<Brincando com Sam. Eles estavam brincando com os filhotes


humanos por um tempo, mas os humanos continuavam reclamando de
ficarem entediados. Por que eles ficam tão entediados?>

254
Um traço humano que não queremos adquirir, Vlad pensou. <Sam
e Skippy não estão com Meg?>

<Não, Sam deixou suas roupas na Howling Boas Leituras, e ele e


Skippy voltaram para o Complexo Wolfgard depois da natação.>

Resolvido, e sentindo-se seguro de que essa conversa não seria


interrompida, Vlad abriu a passagem que lhe dava acesso à porta
particular. Quando fechou a porta, Meg se afastou da mesa de
classificação, claramente surpresa ao vê-lo.

— Vlad?

Ele fechou a porta da sala dos fundos antes de caminhar até a


mesa. — Eu entendo que você está procurando uma revisão de seu
desempenho. Não é isso que os humanos chamam? — Ela ouviu a nitidez
em sua voz.

— Por que você está bravo comigo?

Ele tinha onze motivos, mas os bisões realmente não eram culpa
dela. — Você não. Mas eu estou com raiva. Mais do que eu percebi. —
Para dar-se tempo para reunir seus pensamentos, ele olhou para os
baralhos de cartas na mesa. — Como isso funciona?

— Não tenho certeza.

— O que isso significa?

— Significa que eu não tenho certeza!

A estridência de sua voz o fez olhar para ela, realmente olhar para
ela. A ansiedade em seus olhos, a tensão que ele via em seu rosto, porque
os Outros haviam pedido muito dela, e por que esperavam muito de
alguém que era apenas um novato, independentemente de sua idade
física?

— Você parece pensar que há algo de errado com suas


habilidades como profetisa. Por quê? E não me diga não tenho certeza. —

255
Ele mudou sua voz para soar como uma garota e fez o tom tão insultante
que Meg poderia estourar em lágrimas ou ficar se balançando.

— Até uma criança pequena pode dizer a diferença entre uma


caixa de chocolates e uma cesta de maçãs! — Ela gritou.

Raiva. Bom. Ele preferia isso ao choro.

— Se você mostrasse a uma criança uma foto dessas duas coisas,


eu suponho que elas saberiam fazer esta distinção, se tivessem idade
suficiente para saber tais coisas. — Vlad disse suavemente. Ao acaso, ele
cortou um dos baralhos de cartas e virou a carta de cima. Encontrou um
móvel absurdamente bem abastecido, uma mesa com alimentos: batata
assada, salada, cesta de pães, legumes cozidos, e no centro, um enorme
assado.

Essa a minha resposta para o que deveria ser feito com os bisões,
pensou enquanto restabelecia as cartas na mesa.

— Então todo esse alvoroço emocional é sobre você escolher um


conjunto de cartas que pode não corresponder a um perigo específico? —
Ele não esperou que ela respondesse. — Alguém lhe fez alguma pergunta?
Alguém, inclusive você, perguntou: O que há nesse pacote?

A sobrancelha de Meg enrugou em concentração. — Eu escolhi a


carta com as maçãs quando o caminhão de entrega chegou. Antes de o
pacote entrar no escritório. Mas, por um momento, a imagem...

Quando ela parou, ele terminou o pensamento. — Era como se


uma de suas imagens de treinamento tivesse sido sobreposta à carta,
mostrando uma verdade além do que os olhos podiam ver.

— Sim. E quando eu fui ao balcão da frente falar com Harry,


minha língua começou a queimar, como quando eu preciso me cortar
para revelar a profecia.

256
Ele já tinha visto a quantidade de sangue que fluía quando uma
língua era mordida ou cortada. Ele não queria pensar em Meg colocando
aquela navalha de prata em sua boca.

— Mas você não precisou fazer isso porque você já sentia que
havia algo de errado com o que estava no pacote. — Vlad tocou uma das
outras cartas, um movimento ocioso. — Meg, você fez uma conexão entre
as duas coisas e deu um aviso. Como isso é inadequado?

— Porque eu tenho que descobrir como fazer este trabalho para


todas! — Ela acenou uma mão para indicar todas as cartas na mesa.

— Não, você não, — ele estalou. — Você foi convidada a


considerar se usar essas cartas é uma alternativa possível para as
meninas não precisarem se cortar para liberar as visões, e não para
descobrir tudo isso em um par de dias. E não estamos falando sobre as
outras meninas agora. Estamos falando de você. Só você. Então o que
está acontecendo realmente?

— Minhas profecias costumavam ser precisas! — Meg gritou. —


Custava muito comprar um corte na minha pele porque minhas profecias
eram precisas.

— Ainda são.

Ela balançou a cabeça tão ferozmente que ele temeu que ela
tivesse machucado seu pescoço. — Eu não sou mais precisa. Não como
eu era... — Ela engoliu em seco. — No complexo.

— Quando você fala a profecia, você não se lembra do que vê;


Você não se lembra do que você diz. Como você sabe que eram mais
precisas?

— Os clientes do Controlador não pagariam tanto se eu não fosse.


— Meg sussurrou. Ela evitou os olhos dele. — Onde está o Simon?

— Ele está tendo uma corrida com Jackson e Blair, enquanto


tenta descobrir o que fazer com onze erros grandes e hediondos. — Vlad

257
suspirou. — Talvez não seja sua profecia que de repente é imprecisa;
Talvez sejam as habilidades de seus intérpretes. Afinal, esta é uma nova
experiência para todos no Pátio. Mas você nunca teve ninguém para lhe
mostrar o que você disse ou para tirar pequenas fotos como Merri Lee
tem feito para descobrir as imagens. Você nunca viu suas próprias
profecias acontecerem, então você nunca viu se elas eram verdadeiras.

— Até agora. — Meg olhou ao redor da sala de classificação.

— Eu não venho contando, mas acho que pelo menos a metade


do tempo desde que você tem morado no Pátio, o que você viu não
aconteceu porque você viu a profecia. Pense nisso, Meg. Os pôneis não
morreram envenenados porque você os viu morrer e identificou onde
encontraríamos o veneno. Nadine Fallacaro não morreu quando a loja
dela foi incendiada, porque você viu imagens que nos alertaram sobre
quem e onde. Muitas profetisas de sangue foram resgatadas porque você
viu o perigo. — Raiva queimou nele novamente. — Na verdade, Sra.
Corbyn, suas profecias foram tão precisas, que é culpa sua que nós
acabamos com esses bisões estúpidos!

Ela deu um passo para trás, apesar de a mesa estar entre eles.
— Mas eu os vi! Quando Simon queria saber sobre a comunidade River
Road, eu vi os bisões. E... E Hope fez um desenho deles!

— Você os viu. Hope os desenhou. E todo mundo simplesmente


seguiu todos os passos que tornariam isso possível sem parar para
pensar se era algo que deveria acontecer!

Meg piscou.

Vlad andou um pouco pela sala, a única coisa que conseguiu


fazer com sua agitação.

— Os Sanguinatis são caçadores urbanos em sua maior parte. O


que sabemos sobre bisões? Nada até que fizemos uma pequena pesquisa,
mas os bisões já estavam no trem quando recebemos uma mensagem de
Tolya expressando alguma preocupação com o esquema. — Henry, que

258
cresceu no Noroeste, não se opôs à idéia. Nem Elliot. E o Simon... Tudo
certo. Eu entendo o pensamento dele até certo ponto. Carne fresca. Muita
carne. O suficiente para alimentar os indigenes da terra e o bando
humano. — Mas é preciso um bando experiente na caça de um animal
tão grande para ter sucesso sem se machucar.

— Machucar? Os Lobos poderiam se machucar? Ninguém disse


que eles poderiam se machucar. — Ela soou eriçada, e a ferocidade que
encheu seus olhos o deixou cauteloso.

Vlad parou de andar. Ele podia imaginá-la, uma pequena


humana que poderia ser derrubada por um corte de papel, agitando sua
vassoura em um bisão, pronta para dar uma vassourada sem sentido
para proteger um filhote de Lobo. A ideia de que ela poderia tentar fazer
exatamente isso era engraçada e assustadora em igual medida.

Hora de afastar Meg dos pensamentos de bichos com cascos. Um


Lobo poderia ser ferido por um pontapé bem colocado de um cervo, ou
ser ferido por chifres. Como os lobos não iam parar de caçar cervos, ele
não ofereceria informações que pudessem causar atritos no Complexo
Verde toda vez que alguém trotasse para casa com um pedaço de carne.

— Você poderia se machucar também, o que é algo que não


tínhamos entendido, — ele disse. — Estes bisões ainda são jovens, ainda
estão crescendo. Mas não há maneira de dizer como eles vão reagir à
visão de um carro elétrico, especialmente quando amadurecerem. — E o
pensamento de Meg ferida e sangrando no carro elétrico, estava além de
qualquer coisa que ele queria imaginar. Não que ela não fosse encontrada
rapidamente; mesmo quando ela dirigia sozinha, havia uma abundância
de indigenes da terra de olho nela.

Mas não era um pensamento que ele queria que o avô Erebus
tivesse. Se isso acontecesse, os bisões iriam sangrar antes que Simon
tivesse a chance de tomar uma decisão como líder do Pátio - e isso poderia
criar tensão entre os Sanguinatis e o Wolfgard, mesmo que nenhuma das

259
duas formas pudessem se envolver assim quando já havia toda essa
agitação com os humanos.

— A questão é que duas profetisas de sangue viram bisões se


encaminhando para esta área, — Vlad disse. — Mas deveríamos ter
perguntado se esse era o futuro que queríamos, e quais seriam as
conseqüências quando trouxéssemos um animal para uma área que não
faz parte de seu território natural.

Meg respirou fundo e explodiu. — Escolha um baralho e uma


carta.

— O que?

— Você queria saber como isso vai funcionar. Escolha um


baralho e uma carta.

Ele escolheu o mesmo baralho que olhou anteriormente, então


observou o esforço desmedido de Meg para embaralhar as cartas antes
de colocar o baralho sobre a mesa com a mão apoiada na carta de cima.
— Faça sua pergunta.

— O que devemos fazer com os bisões? — Então ele acrescentou


silenciosamente, Fale profetisa, que eu vou ouvir.

Meg fechou os olhos, respirou para dentro e fora algumas vezes,


em seguida cortou o baralho para revelar uma carta.

Era a mesma carta que ele havia pegado - uma mesa cheia de
comida e o grande assado no centro.

Vlad riu. — Mostre isso a Simon.

Meg olhou para a carta e fez uma careta. — Simon estava tão
animado com a carne que Joe enviou, e ele e Sam gostaram tanto que eu
não quis estragar seu prazer, mas...

Ele riu novamente. — Você não gostou dos hambúrgueres de


bisão.

260
— Não.

Se ela tivesse dito a Simon, isso teria resolvido a questão dos


bisões no Pátio antes que as malditas coisas fossem colocadas no trem,
Vlad pensou.

<Um caminhão de entrega está entrando,> Nathan disse.

— Hora de nós dois voltarmos ao trabalho. — Ele andou ao redor


da mesa e sorriu para ela quando abriu a porta particular. Ele a seguiu
até o balcão e se inclinou contra ela, percebendo que Nathan estava de
pé observando o humano que saia do caminhão. Não era um conhecido.

Meg franziu o cenho para a prancheta enquanto escrevia o nome


da empresa ao lado do caminhão.

— Entrega. — O homem colocou um pacote no balcão.

Foi a maneira como Meg se afastou do homem e do pacote que


advertiu Vlad e Nathan de que algo estava muito errado. Vlad se
aproximou do balcão, cutucando Meg suavemente na direção da porta
particular, enquanto Nathan se movia silenciosamente para bloquear a
porta da frente.

— Espere, — Vlad disse quando o homem se afastou. — Eu não


concordei em aceitar este pacote.

— Você tem que aceitá-lo.

— Não, eu não tenho. — O pacote era dirigido a Sra. Wolflover


MacDonald. O endereço da “empresa” dizia Dead Cops Club.

Sorrindo o suficiente para mostrar uma presa, Vlad pegou o


telefone no balcão e chamou a linha direta de Burke na estação de
Chestnut Street. — Capitão? Acabamos de receber um pacote de algo
chamado Dead Cops Club. O que você gostaria que fizéssemos com o
homem que a entregou? Sim, ele ainda está aqui. Bem, você pode prendê-
lo, ou podemos comê-lo.

261
O homem ofegou. Meg deixou cair a prancheta na mesa da sala
de classificação e emitiu um som estranho. Já que ela estava a salvo do
desconhecido, Vlad a ignorou, mais interessado no momento de silêncio
de Burke antes de dizer que mandaria um carro.

Vlad desligou.

Um minuto mais tarde, o Oficial Debany, de uniforme, entrou no


escritório correndo, quase tropeçando sobre Nathan, que ainda estava
bloqueando a porta da frente.

Ele deveria estar se preparando para o trabalho quando Burke


ligou.

— Você está preso! — Debany disse.

— Eu apenas entreguei um maldito pacote! — O homem


protestou.

Hesitando, Debany olhou para Vlad. — Você acredita nisso?

Vlad olhou por cima do ombro para verificar Meg e a viu cortar o
lado de baixo de um dedo em sua mão direita.

— Prendê-lo ou matá-lo? — Vlad estalou. — De qualquer


maneira, eu quero ele fora daqui! — <Nathan, vá para fora com Debany.>

<Por quê?> Nathan rosnou.

<Vá!> Vlad correu para a sala de triagem, xingando Meg e a ele


mesmo. Depois de ligar para Burke, ele deveria ter deixado Nathan com
o estranho enquanto ele vigiava Meg.

Ele puxou a navalha da mão dela e a colocou sobre a mesa.


Nenhum sangue óbvio na navalha; Nada para atingir para as cartas. E
não havia tempo para pegar qualquer coisa para absorver o sangue
escorrendo de seu dedo, então ele colocou sua mão sob a dela, lutando
para não mudar para fumaça e consumir as gotas de sangue que
atingiram sua pele.

262
— Fale profetisa, e eu vou ouvir. — Quanto tempo tinha passado
enquanto ela tinha tentado engolir as palavras junto com a agonia que
precedia as palavras faladas de uma profecia? <Tess! Escritório da
Liaison, agora!> Não foi sua primeira escolha, já que ela já estava
chateada com Meg, mas ela tinha experiência em lidar com a garota
durante essas profecias.

— Ovos podres, — Meg sussurrou. — Mãos. Pés. Ossos. Larvas.


— Uma hesitação antes que ela expirasse uma palavra final. — Bala.

Ela afundou no chão. Vlad desceu com ela, ainda segurando a


mão dela para manter seu sangue fora do chão.

Ele sentiu Tess verificar a sala e sair novamente. Quando ela


voltou, ela se agachou ao lado de Meg, levantou a mão ensanguentada, e
a envolveu em uma toalha, deixando cair uma segunda toalha sob a mão
de Vlad. Ele rapidamente limpou o sangue de Meg de sua pele.

— Coloque a toalha na pia. Jogue água fria sobre ela enquanto


você enxagua suas mãos. O bando feminino diz que funciona para
remover o sangue do pano, para não desperdiçar o que precisaríamos
mais tarde, — Tess disse.

<Você pode cuidar dela?> Vlad perguntou quando ele correu para
o banheiro. <Preciso conversar com o Tenente Montgomery e o Capitão
Burke.>

<Ouço sirenes. Eu acho que você não deve ir à procura de qualquer


um deles.> Tess o estudou quando ele voltou. <Ruim?>

<Esperemos que a nossa Meg esteja errada desta vez.>

<Ela ainda não se enganou. Não de verdade.>

Em outro momento, a verdade disso poderia ter deixado a dúvida


de Meg divertida. Mas não agora.

****

263
Monty pegou as cartas de sua caixa de correio e subiu as escadas
para o seu apartamento. Não tinha certeza se passaria a noite ali. Ele não
tinha certeza se um homem sozinho, mesmo sendo o policial que era
conhecido por trabalhar com os indigenes da terra, estaria seguro nessa
parte da cidade. Entre os incêndios que prejudicaram tantos negócios na
Market Street e as inundações causadas pela tempestade localizada na
mesma noite dos incêndios, esta parte de Lakeside estava um tumulto e
a polícia estava intermediando várias lutas por dia entre os membros do
HPU, que culpavam os indigenes da terra por todos os problemas da
cidade, e as pessoas que agora culpavam o HPU pelos problemas da
cidade.

E então hoje, o pacote que foi entregue ao Pátio. Ele acreditava


no entregador quando o tolo afirmou não saber o que estava no pacote.
A histeria depois de lhe mostrarem o que ele havia entregado não foi de
alguém fingindo.

Duas mãos decepadas e com os ossos a mostra onde a carne


tinha sido comida. Dois pés cobertos de vermes. E uma bala. Não uma
usada, sem digitais. Nada que pudessem testar.

Depois de apreender o caminhão de entrega, e ignorando os gritos


do proprietário da empresa sobre os clientes que estavam esperando os
itens no caminhão, Louis Gresh e sua equipe verificaram cada pacote,
fazendo um registro de cada item. Eles encontraram outros três pacotes
do Dead Cops Club, todos contendo os mesmos itens. Esses foram
entregues à equipe forense depois que o esquadrão de bomba confirmou
que os pacotes não estavam com resíduos explosivos.

Eles estavam procurando por quatro corpos, ou, pelo menos, as


identidades dos falecidos. Burke achava que não encontraria as
identidades, uma vez que a cremação era padrão, exceto para os ricos,
que podiam pagar por uma cripta familiar e, literalmente, ser enterrado
com seus antepassados. Nenhuma mão e pé estavam frescos o suficiente

264
para que o corpo ainda estivesse no necrotério ou em uma funerária para
a visualização final.

Mas a polícia procuraria os corpos e procuraria as pessoas


responsáveis por tentar atingir com tal má vontade um membro da
família de Lawrence MacDonald.

De acordo com a fonte de Burke, o dono da empresa de entrega e


todos os seus empregados pertenciam ao movimento Humanos, Primeiros
e Últimos, e os trabalhadores do crematório, que também eram membros
do HPU, juraram que não deixaram nenhum corpo desacompanhado por
mais de um minuto: — Eu não tinha notado nenhuma mão ou pé faltando
quando retornei. — E parecia que, quando as impressões digitais
confirmaram que as mãos que foram enviadas para o Pátio pertenciam a
Lawrence MacDonald, todos os policiais de Lakeside souberam disso
dentro de uma hora. E depois de ouvir essa notícia, todo oficial que
secretamente, ou abertamente, pertencia ao movimento, removeu seu
bottom HPU e o jogou fora.

Não importava o que eles pensavam sobre as pessoas que


trabalhavam com os indigenes da terra, nenhum policial via o Dead Cops
Club como uma brincadeira inofensiva. Desta vez, o HPU tinha cruzado
muitas linhas.

Porque ele estava cansado, Monty leu o bilhete de sua mãe duas
vezes antes de entender o que ela estava dizendo. Porque ele estava
cansado, seu temperamento, geralmente tão lento para se levantar, se
inflamou.

Jogando a carta de lado, ele pegou o telefone e ligou para o


apartamento da irmã.

— Sissy? — Monty disse, lutando pelo controle. — É CJ. Quero


falar com a mamãe.

265
— Mamãe escreveu para você? Quando ela ouviu falar sobre o
telefonema, ela ficou louca e disse que iria escrever. É só isso, Jimmy
ligou para ver como estávamos...

— Ele ligou para espremer algum dinheiro de você. — Monty


sinceramente esperava que ela não tivesse um centavo para dar.

Ele tinha doze anos quando seus pais adotaram Sierra. A criança
precisava de uma casa; Seus pais poderiam lhe dar um. Para ele, não
havia nada para discutir.

Mas para Cyrus James de nove anos, conhecido na família como


Jimmy, a chegada de Sierra significou um pedaço menor da torta.
Dinheiro para roupas, brinquedos, tudo o que ele cobiçava - e ele
cobiçava quase tudo - tinha que ser dividido entre três filhos agora, em
vez de dois. Jimmy nunca deixou Sissy esquecer que ele nunca teve o
suficiente por causa dela. Se cada um deles tivesse um biscoito, Jimmy
comia o dele e a metade do dela, porque ele dizia que teria obtido os dois
se ela não estivesse lá. Toda vez que ela economizava seu dinheiro para
algo que ela queria, ele encontrava algo que ele queria que custasse mais
dinheiro do que ele tinha, e ela acabava lhe dando a diferença, e teria que
esperar e economizar mais para comprar algo para si mesma.

Monty meio que funcionava como um amortecedor quando ele


morava em casa, e ele suspirou de alívio quando Jimmy deixou a casa
deles também, para fazer o seu próprio caminho.

De muitas maneiras, Sierra era uma jovem forte e inteligente.


Mas Jimmy poderia torturá-la tanto que ela nunca tinha uma chance
quando tinha que lidar com ele.

— Não, ele não, — Sierra começou. — Na verdade não. Ele


perguntou o que estávamos fazendo, e eu disse que Mama e eu e as
meninas estávamos indo para Lakeside visitar você. E ele disse que uma
visita parecia uma ótima idéia, mas se eu não tivesse dinheiro, como é
que iríamos chegar lá.

266
Monty não queria ouvir isso. — Deixe-me falar com mamãe.

— E ele disse que talvez ele devesse visitá-lo também, já que faz
um tempo.

Mais de um tempo. Jimmy gostava de álcool e drogas, e preferia


ter dinheiro sem trabalhar por ele. Ter um policial como irmão não
deixava os amigos dele a vontade.

— Ele sugeriu que ele e sua esposa viessem a Lakeside com você
e deixassem mamãe em Toland cuidando de quatro crianças? — Quando
ela não respondeu, ele sentiu o sangue batendo em sua cabeça. — Ou eu
falo com a mamãe agora ou ninguém virá me visitar.

Um momento depois, Twyla Montgomery estava ao telefone.

— Mamãe.

— Não use esse tom comigo, Crispin.

Ela lhe ensinara o valor da cortesia. A voz dela ficava aguda


apenas quando ela era empurrada demais. — Desculpe, mamãe. Algumas
coisas ruins aconteceram hoje. — Ele levou um momento para se reunir.
— Mamãe...

— Você não precisa me contar, — Twyla disse. — Eu já disse que


Sierra e eu iremos para Lakeside ajudá-lo a cuidar de Lizzy. Você foi gentil
o suficiente para fornecer os meios para ela e seus filhos virem comigo. E
já que ela acabou de perder o emprego também, não há motivo para
ficarmos em Toland, mas de repente ela está arrastando os pés e dizendo
que ela não pode se decidir. Então eu disse que se ela quiser ficar, é
escolha dela, mas eu não vou dar sua passagem de trem para Cyrus
gastar como ele quiser. Se ele quer ir para Lakeside, pode fazê-lo sozinho
e fazer seus próprios arranjos para arrumar um lugar para ficar, já que
eu tenho a impressão de que algumas pessoas não ficariam confortáveis
com os arranjos que você fez para nós.

— Vocês estarão cercadas por policiais e Lobos.

267
— Hã.

Monty teve que sorrir. Twyla Montgomery não se sentiria


intimidada por nenhum dos dois.

— Você está pronta, então?

— Estou pronta. Tenha os papéis importantes que você disse que


eu deveria trazer. Acho que foi isso que assustou sua irmã. Ela se sentiu
obrigada a dizer a seu irmão que havia problemas. Não que qualquer tolo
não possa ver isso. — Twyla fez uma pausa. — Talvez ele tenha sentido o
suficiente para tirar sua família da cidade.

— Talvez. — Se a esposa de Jimmy não agarrasse seu casaco, ele


deixaria a ela e aos filhos para trás sem pensar duas vezes. — Jimmy
deixou um número em que você ou Sierra poderiam alcançá-lo?

— O número muda toda vez que ele liga. Já que Sierra não podia
dar-lhe o que ele queria, ele não deixou nenhum dessa vez. — Uma
pausa. — Crispin? O problema que está por vir. Vai ser ruim?

Ela pecisava saber. — Não sei dizer.

— Tem alguma coisa a ver com o noticiário de hoje, as pessoas


tirando todos os peixes mortos, e os alguns pedaços de braços e pernas
encontrados?

Provavelmente. — Venha logo, mamãe.

— Eu ouvi as palavras da última vez que você ligou Crispin, e eu


entendo o que você está dizendo. Mas eu quero dar a Sierra um pouco
mais de tempo para ver o que é melhor para ela e suas meninas. Se ela
não puder ver, eu vou sozinha.

Monty esperou que ela desligasse. Depois ligou para o Capitão


para descobrir se Burke ouviu aquela notícia - e se havia alguma
possibilidade de que algumas das mãos e dos pés que foram encontrados
nas embalagens estivessem em água salgada e foram enviadas de Toland.

268
****
Para: Simon Wolfgard

Quatro dos seis bisões libertados na Comunidade River Road


foram mortos. Encontramos duas carcaças bem longe das casas. Aves de
rapina estavam festejando quando chegamos, mas o que quer que tenha
atacado os bisões devia estar com uma fome muito grande para ter
consumido tanto dos animais em tão pouco tempo.

As outras duas carcaças foram deixadas na fronteira da cidade


de Talulah Falls. Eu sei disso porque um dos líderes indigenes da terra me
chamou para dizer que a carne foi apreciada. Ao conversar com ele, tive a
sensação de que os indigenes da terra que foram enviados para assumir
o controle de Falls estão cansados de lidar com os humanos e querem
voltar para casa - ou pelo menos ir a algum outro lugar que tenha contato
mínimo com humanos. Outra sensação dessa conversa: se os humanos que
têm o treinamento necessário para executar coisas como uma usina
hidrelétrica e quaisquer outros negócios que não podem ser deixados sem
vigilância optarem por ficar, os indigenes da terra permitiriam que os
demais humanos deixassem a cidade.

Como eu disse, isso é apenas uma sensação, mas é a primeira vez


que os Outros iniciaram contato com qualquer um de Porto Ferryman desde
que Falls foi cercada há alguns meses atrás.

Os Falcões e os Corvos estão procurando os outros dois bisões.


Avisaremos quando encontrarmos.

Tenho certeza de que Ming Beargard sabe o que matou os bisões,


mas acho que ele tem medo de dizer. É seguro para o meu pessoal
trabalhar na comunidade River Road?

-Steve Ferryman

269
****
Para: Steve Ferryman

Seu povo deve estar seguro, mas, por enquanto, Ming ou algum
outro indigene da terra deve ficar com os Intui se precisarem ir além das
casas para cuidar da terra que queremos reservar para as pastagens e
colheitas. Os Outros que vivem no país selvagem estão curiosos sobre o
que estamos fazendo na Comunidade River Road. Eles são observadores.

Decidimos que os bisões são muito perigosos para viverem em um


Pátio, e me parece que fornecer carne selvagem para os indigenes da terra
em Talulah Falls vai ajudar a todos nós. Temos espaço suficiente para
armazenar a carne de um bisão. Peça a Jerry Sledgeman para trazer seu
caminhão de gado e levar os outros quatro bisões para Talulah Falls. Isso
vai ser bastante carne para todos.

-Simon Wolfgard

****

Para: Stavros Sanguinati

Tentei entrar em contato com você várias vezes. Estou preocupado


com os rumores de que os indigenes da terra foram expulsos do Pátio de
Toland. Entre em contato comigo o mais rápido possível.

- Greg O'Sullivan, Grupo de Trabalho de Investigação

270
CAPÍTULO 23
Cel-Romano

Os homens e as mulheres nas pequenas aldeias que salpicavam


a fronteira que separava o Cel-Romano do país selvagem levavam vidas
simples. Cultivavam e cuidavam das terras. Eles criavam alguns animais
para se alimentarem e outros para o leite e derivados. Eles paravam em
certas lojas na aldeia propriamente dita, para ouvir o rádio ou usar um
telefone, porque essas coisas não eram encontradas na maioria das
casas. Eles riam; eles cantavam; Eles se casavam, faziam amor e criavam
seus filhos.

E cada aldeia tinha uma ou duas famílias que tinham o dever


especial de seguir um caminho para dentro do país selvagem até um lugar
designado e deixar um presente na lua cheia. Às vezes era uma comida
especial; Às vezes um pedaço de pano ou um tapete. Às vezes era um livro
comprado por toda a vila só para isso.

Os membros dessas famílias iam para aquele lugar designado e


diziam Para os nossos amigos quando eles faziam a oferta. Às vezes um
Lobo ou um Coiote saia da floresta e aceitava a oferta. Às vezes era um
Corvo ou um Falcão que pousava nas proximidades indicando que o
presente era aceitável.

Geração após geração, cada lado realizava o ritual. Um presente


em troca dos homens na aldeia se aventurarem no país selvagem para
cortar madeira para aquecer suas casas, e para as mulheres colherem as

271
frutas. E quando os Homens Importantes das Grandes Cidades vinham
às aldeias para levar a maior parte da colheita, ou os cavalos que eram
necessários para as fazendas, ou os animais que seriam vendidos ao
açougueiro por moedas que forneciam certa renda para a família para o
próximo ano, às vezes havia uma cesta, tecida de videiras e cheia de
frutas, à esquerda em uma porta. Às vezes havia um coelho, ou um cervo
pequeno que impedia que muitas famílias na vila passassem fome.

Para os nossos amigos. — As pessoas sabiam que o Lobo, o


Coiote, o Corvo e o Falcão eram mensageiros. Eles sabiam que havia
coisas no país selvagem - e no mar - que eram muito ferozes e não
deveriam ser vistas. Eles viviam na fronteira do país selvagem; Eles
moravam em aldeias de pescadores na beira do mar. Eles sempre
souberam o que os Homens Importantes das Grandes Cidades se
recusavam a saber, e que ser amigos era a única maneira de sobreviver.

Desde o Ano Novo, os Homens Importantes vieram às aldeias e


levaram mais do que comida e animais; Eles levaram os filhos mais fortes
e saudáveis por que: — Precisamos de trabalhadores em nossas fábricas;
Precisamos de soldados para a grande batalha.

Não haveria batalha. As pessoas nas aldeias haviam transmitido


e passado as velhas histórias e sabiam disso, mas os Homens
Importantes não queriam ouvir. Eles alegavam que precisavam de mais
comida, mais animais, mais peixe para a causa. Precisavam de mais
madeira, mais vidro, mais metal, mais tecido, mais couro.

Mais homens.

Não se esqueça. Sussurravam os pais para os filhos. Você voltará


para casa, e não deve esquecer.

Dia após dia, as pessoas cuidavam dos seus rebanhos e dos seus
campos. Eles assavam os pães e teciam os panos. E eles percorriam os
caminhos até os lugares especiais, trazendo não apenas presentes, mas
também preciosas fotografias de seus filhos.

272
Ele é um bom menino. Que ele volte para casa.

Não havia resposta. Mas, à medida que os aldeões retornavam às


casas ao longo da fronteira do Cel-Romano, as terras se enchiam de um
terrível silêncio.

273
CAPÍTULO 24
Ilhas Fingerbone

Saindo da onda que acariciava as ilhas Fingerbone, ela esperou


um momento, permitindo que a maioria dos caranguejos e pequenos
peixes saíssem de seu vestido antes que ela caminhasse até as salas de
tesouros. Haviam baús cheios de moedas de ouro e mesas cheias de
colares, tão incrustados de pedras preciosas que ela pensava nelas como
rochas cobertas de cracas coloridas.

As moedas e os colares não tinham nenhum interesse particular


para ela, mas os mapas eram o seu prazer. Ver o que ela sabia, mas de
uma maneira diferente, ver onde seus parentes moravam. Quando ela se
levantava para caminhar em terra, os mapas de qualquer tipo lhe
forneciam conhecimento e entretenimento.

Mas hoje ela vagava de sala em sala, olhando para o que foi salvo
ao longo de séculos, e não sentiu nenhuma curiosidade, nenhum prazer.
As criaturas que fizeram essas coisas foram um inimigo no passado e
eram um inimigo novamente. Eles haviam matado seu Sharkgard. Eles
mataram peixes de todos os tipos com seu veneno. E para quê? Para
encher seus pequenos navios de ouro ou algum outro tipo de tesouro e
correr de uma costa para outra?

Deixe-os lutar entre si. Isso não era mais significativo para ela do
que os caranguejos machos mantendo um território para atrair uma

274
companheira. Mas tocaram em seu domínio, e derramaram veneno em
suas águas.

Porque os Sanguinatis eram os predadores na terra, o Sharkgard


os respeitava, assim emitiram o aviso para dar-lhes tempo para se
retirarem para o interior. Logo ela iria atacar. Mas ainda não. Ar disse
que as coisas barulhentas haviam voado ultimamente. A antiga Tethys
estava se revolvendo, despertando de sua benigna vigilância do Mar
Mediterrâneo. Até Indeus batia nas margens que limitavam seu domínio,
perturbado por uma mudança de temperamento em Terra e Ar.

Duas margens - Thaisia e Cel-Romano. Onde ela era necessária?

Deixando suas salas de tesouros, ela retornou à água e correu


para o oeste. O veneno veio de Thaisia. Ela lidaria com o inimigo lá
primeiro.

Enquanto ela seguia as correntes, ela ia ouvindo as notícias que


o Sharkgard e o Orcasgard passavam a ela. E ela esperaria o momento
certo.

Outras formas de indigenes da terra se referiam a sua forma


Elemental como Oceano. Entre seus parentes, ela era conhecida como
Alantea.

E os seres humanos, aqueles iniciantes de duas pernas,


chamavam seu domínio de Atlantik.

275
CAPÍTULO 25
Windsday, Juin 20

Os Lobos de Lakeside sabiam como caçar veados, sabiam como


lutar juntos para defender o Pátio, mas não sabiam muito sobre caçar
bisões, até que tentaram cercá-los. Depois de perseguir um dos novilhos,
a matilha acabou estabelecendo que o bisão é um animal que não
gostariam de caçar, a menos que estivessem com muita fome e não
tivessem nenhuma outra escolha. Na verdade, o único Lobo que
realmente queria perseguir os bisões era Skippy. O entusiasmo suicida
do jovem foi uma das razões pelas quais Simon decidiu enviar quatro dos
bisões para Talulah Falls como um gesto de amizade para os indigenes
da terra que atualmente moravam lá.

Ao contrário dos Lobos, que não sabiam como caçar um bisão, o


bisão já sabia como se defender contra os Lobos. Mas eles não estavam
preparados para um Grizzly usando uma camiseta e jeans saltando na
direção deles e rugindo, e quando confrontados com um pequeno furacão
que trotava atrás deles, eles pararam de lutar contra os Lobos, e com
muitos esforços, colocaram o rebanho no caminhão.

Cansado e sedento, Simon viu Jerry Sledgeman afastar-se com


os bisões. <Bem, está feito,> ele disse quando Blair se juntou a ele.

Blair sacudiu os pêlos. <Boone Hawkgard diz que há espaço


suficiente em vários freezers para armazenar metade da carne dos novelos
que os Sanguinatis derrubaram. A outra metade da carne estará disponível
agora para todos nós, incluindo o bando humano.>

276
Simon suspirou. <Meg não gostou dos hambúrgueres de bisão. Eu
acho que Ruthie ou Merri Lee também não.>

<Seus companheiros comeram o que deixaram em seus pratos.


Podemos vender hambúrgueres de bisão e pedaços de carne assada na
Carne Verde. Kowalski e Debany vão comê-las. Assim como o Capitão
Burke e o Shady Burke se permitirmos que eles voltem a nos visitar.>

<Os humanos são outro grupo que querem comer o que produzimos
da terra dentro do Pátio.> Simon se encaminhou para o Pony Barn, onde
Meg estava observando a “caça” de um lugar seguro.

<Eles comem como Lobos e se reúnem em números que rivalizam


com o Crowgard em qualquer Pátio.> Blair nada disse por um momento.
<Quantos humanos podem viver nesta matilha? Quantos querem os
suprimentos que entram na Praça do Mercado? Não podemos derrubar
mais veados para alimentar outra matilha. O rebanho não se reproduziria
o suficiente para compensar isso.>

Ele poderia aceitar e ficar com fome alguns dias. Mas Sam não.
Meg não. E nem outro jovens indigenes da terra que morasse no pátio.

<Nossa matilha humana tem sido sensata até agora.> Claro, a


fome poderia expulsar o bom senso. E talvez esse fosse um problema,
mas os alimentos de todos os tipos estavam crescendo no Pátio, e havia
muita carne, mesmo se coisas como carne de porco e carne ficassem
escassas até receberam a entrega seguinte de um assentamento de
indigenes da terra que cuidavam desses animais. E como os filhotes
humanos bebiam leite! Ele ficou sem o leite para Sam, e Meg também não
teve nenhum, até que o caminhão indigene da terra fez a próxima entrega.
Eles não poderiam pedir mais de suas fontes atuais, então teriam que se
contentar com um pouco menos.

Exceto Sam e Meg.

<Eu vou para o lago nadar,> Blair disse.

277
Ele gostaria de fazer isso também, mas ele foi até Meg quando ela
saiu do Pony Barn, e Blair continuou sem ele.

— Você deve estar quente e suado. — Meg disse passando os


dedos pelo seu pêlo.

Sim, ele estava.

— Onde está o Blair?

Este era um dos truques de Meg: fazer perguntas quando ele não
podia responder por que estava em forma de Lobo.

Jester Coyotegard saiu do celeiro, sorrindo. — Ele foi nadar.

Meg olhou para Simon. — Você não quer ir nadar?

Claro que sim. Ele estava quente e seu pêlo estava empoeirado.
Ele deu a ela um olhar esperançoso.

— Não. Eu não estou quente, e eu não quero fazer a Squeaky


Dance.

Simon suspirou. Este dia estava cheio de decepções.

— Vou esperar por você aqui. — Meg disse.

— O que é conveniente, — Jester disse, — considerando que as


suas roupas estão no banco de trás do carro dela.

Resmungando para si mesmo, Simon trotou para o lago nadar. A


água fresca estava boa e ele se sentia ainda melhor. E já que não havia
nenhuma fêmea humana perto para ficar reclamando com ele, quando
ele nadou o suficiente como um Lobo, ele mudou para a sua forma
humana, pois gostava de flutuar de costas enquanto a água fria brincava
sobre a pele aquecida pelo sol.

****

278
Meg voltou para a cadeira dobrável que Jester preparou para ela.
Ela pegou outro baralho de cartas de profecia que ela trouxe para mostrar
o Coyote. Então ela suspirou. — Simon realmente queria ter os bisões.

— Sua visão e o querer dele fez acontecer. — Jester reposicionou


a outra cadeira e sentou-se ao lado dela. — Isso trouxe os bisões até aqui,
onde eles fizeram muito bem. Os indigenes da terra em Talulah Falls
comentaram com Ming Beargard e Steve Ferryman que a carne de bisão
foi a primeira coisa que os deixou felizes desde que vieram à Falls para
controlar os seres humanos. Henry, Elliot, Vlad e Nyx foram para Talulah
Falls com Jerry Sledgeman para entregarem os Bisões do Pátio, e Steve
Ferryman e Ming irão se juntar a eles lá para uma reunião com os líderes
indigenes da terra e alguns seres humanos.

— Como você sabe quem vai estar naquela reunião?

— Tenho minhas fontes. — Jester piscou para ela. — Acho que


Talulah Falls estará sob nova administração em breve. Não é a frase que
os humanos usam? Então você me mostrou as cartas da cidade, que não
é tão interessante, e as cartas da natureza, que eu gostei. Esta é qual?

Presa na imagem de uma placa pendurada que dizia SOB NOVA


GESTÃO na estrada que conduzia às Quedas de Talulah, Meg levou um
momento para pegar a mudança de assunto de Jester. — Este é um
baralho de desenhos fantásticos, criaturas imaginárias.

O sorriso de Jester vacilou. — Posso ver as cartas?

Ela entregou-lhe as cartas. — Elas são apenas uma brincadeira.


Eu não sei como os Intuis conseguem lê-las, mas eu acho que elas não
serão úteis para uma Cassandra de sangue. Como falaríamos uma
profecia sobre algo que não existe?

Ela pensou nas cartas com imagens da cidade que ela tinha posto
de lado porque achava que não seriam necessárias. E viu as orelhas de
Jester se moverem para Coyote, observou o pêlo crescer no pescoço e nas

279
mãos enquanto olhava para os desenhos. Ele deixou cair a maioria das
cartas em seu colo, mas manteve algumas nas mãos.

— Jester?

— Quem mais sabe sobre essas cartas?

— Eu não sei. Acho que Jesse Walker tem os mesmos baralhos


que ela me enviou.

Jester inclinou um olhar para as cartas em sua mão. — Não conte


a ninguém sobre essas cartas. Você deve mantê-las. Guarde consigo, mas
não fale delas com mais ninguém.

Meg estudou as cartas que perturbavam Jester. As criaturas


caminhavam erguidas, mas era tudo o que tinham em comum com os
humanos. As cartas não indicavam quais formas eram de indigenes da
terra. Ou se fossem, ela não reconhecia os animais que essas criaturas
haviam absorvido.

Separadas das demais cartas, os desenhos a assustavam e


faziam as costas de suas pernas pinicarem.

— Prometa não contar a ninguém sobre isso. — Jester sussurrou.


— Coloque-as com as cartas da natureza e espero que você nunca veja
nenhuma delas novamente.

— Mas estas cartas são apenas algo que alguém imaginou.

O pinicar se tornou uma queimadura quando Jester disse, — Ou


lembrou.

Ela percebeu que o Coyote estava tremendo. Seus dedos


apertavam as cartas em suas mãos.

— São imaginados.

— Não. Eles não são imaginados.

280
****

Para: Erebus e Vladimir Sanguinati

Os indigenes da terra restantes deixaram o Courtyard de Toland.


Alguns Crowgard e Sanguinatis permanecerão perto da estação de trem
para vigiar e relatar qualquer atividade suspeita ou qualquer sinal de que
um número incomum de seres humanos está deixando a cidade.

Eu e alguns de nossos parentes observaremos os navios deixando


Toland por mais um tempo. Os Elementais prometeram ajudar a vigiar - e
avisar quando a tempestade tocar as praias e encher o ar para que nós, e
os outros indigenes de terra ao longo da Costa Leste de Thaisia tenhamos
tempo para nos mover para o interior.

-Stavros Sanguinati

****
Reconhecendo o poder superior da raça humana, os Outros
abandonaram o Pátio de Toland, nos dando a oportunidade necessária de
acres para cultivar e fornecer pastagens para alguns animais domésticos.
Algumas pessoas acham que alguns acres não são uma vitória
significativa. Eu digo que é o primeiro passo para adquirir toda a terra e os
recursos que merecemos.

-Nicholas Scratch, falando na prefeitura de Toland

****

281
Para: Greg O'Sullivan

Os seres humanos foram indiretamente responsáveis por nossa


decisão de fechar o Pátio de Toland, mas não é exato dizer que os seres
humanos nos forçaram a deixar a cidade, como Nicholas Scratch gostaria
que você acreditasse. Partimos porque o comportamento humano tornou
prudente para nós sairmos do caminho do dano.

-Stavros Sanguinati

****
Para: Simon e Jackson Wolfgard

Os Wolfgard em todo o Meio Oeste e Noroeste e Norte estão uivando


sobre bisões sendo mortos e deixados para apodrecerem pela segunda vez.
Perdemos mais bisões do rebanho Prairie Gold, e Tobias Walker relatou
que alguns bovinos desapareceram do rancho. Ele diz que isso é chamado
de ‘farfalhar’. Como não encontramos chifres nem cascos para indicar que
os Anciãos estão comendo o gado, penso que Tobias Walker tem razão,
mas não sabe como encontrar os ladrões. Os Lobos de Prairie Gold estão
mantendo a guarda, procurando perfumes além da cidade que não
pertencem aos humanos que nós conhecemos. Tolya Sanguinati continua
observando Prairie Gold, assim como Bennett. Ele diz que há uma
sensação ruim em Bennett - sorrisos venenosos - e ele acha que algo
acontecerá em breve.

Jesse Walker não diz nada, mas continua a comprar suprimentos


extras para sua loja. Tolya está emprestando seu dinheiro para fazer isso.
Ela esfrega o pulso esquerdo quando acha que ninguém está observando.
Tobias diz que isso é um sinal de problemas.

Meg ou a filhote Hope tem alguma coceira?

-Joe Wolfgard

282
CAPÍTULO 26
Windsday, Juin 20

Vlad sentou e deixou Steve Ferryman e Elliot Wolfgard falarem.


Ou, mais sinceramente, deixá-los ser o foco dos humanos e dos indigenes
da terra de Talulah Falls que estavam participando desta reunião.

Talvez ele nunca esteve tão perto de uma fonte para ver quanta
influência pequenas coisas poderiam ter sobre o destino de tantos. Simon
tinha contratado Meg, que era uma Cassandra de Sangue. Sua
combinação de doçura infantil, as profecias que ela viu e o seu desejo de
aprender e viver mudou o suficiente da percepção deles sobre os
humanos que trabalhavam no Pátio de Lakeside, originando uma reação
um pouco mais amigável da parte dos Outros. Os esforços do Tenente
Montgomery para forjar uma conexão entre o Pátio e a polícia também
deram aos dois lados mais oportunidades de interagir sem a hostilidade
habitual.

Ele viu os resultados dessas ações. Os humanos de Talulah Falls


não eram funcionários do governo – como se algum tivesse sobrevivido.
Eles trouxeram um supervisor da usina hidrelétrica e um Capitão da
polícia. Vlad podia ouvir a influência do Capitão Burke na maneira como
o Capitão de Falls expressava suas preocupações sobre como manter a
paz para os humanos que permaneceriam em Talulah Falls, e como
liberar os humanos que queriam sair. Pelo menos, o Capitão compreendia
o perigo que enfrentava qualquer um que quisesse fugir de Falls: com o
atrito entre os humanos e os Outros em tantas regiões, as cidades ainda
sob o controle humano proporcionavam apenas uma ilusão de
segurança.

283
Mas os moradores sobreviventes de Talulah Falls haviam
trabalhado com os indigenes da terra, explicando o valor de limpar pelo
menos uma das estradas onde havia muitos detritos, e que foram
abandonadas durante o primeiro esforço para fugir de Falls há alguns
meses. Havia muitos carros em estacionamentos que não foram
recuperados - alguns porque os proprietários eram turistas que foram
autorizados a sair ou tinham fugido nos primeiros dias caóticos e não
foram vistos novamente. E alguns veículos pertenciam às pessoas que
morreram durante a resposta furiosa dos indigenes da terra à explosão
que matou vários Crowgard.

Ninguém falou sobre quantos humanos haviam morrido. Ninguém


falou sobre o Ceifador que foi levado para Falls para agir como Executor,
consumindo a energia vital de qualquer suspeito. Em vez disso, os
humanos apresentaram uma lista do que consideravam negócios e
indústrias vitais. A usina fornecia eletricidade para toda a área, incluindo
Talulah Falls, Ilha Grande e Lakeside. Forneceria a maior parte da
energia para a Comunidade River Road. Se eles pudessem ter alguma
segurança para si e para as suas famílias, os homens e as mulheres que
trabalhavam na usina permaneceriam em Falls, fazendo o seu trabalho,
o melhor que pudessem, inclusive colocando postos de trabalho para o
pessoal de Porto Ferryman, para treinar mais trabalhadores em todas as
áreas do negócio.

Tanto quanto Vlad podia dizer, esta parecia ser a mensagem que
os humanos queriam transmitir: esta era sua casa; eles queriam ficar;
mas eles não queriam morrer se ficassem. E eles entendiam que qualquer
sinal do movimento HPU significaria o fim dos cidadãos e da cidade de
Talulah Falls.

Dos indigenes da terra ele ouviu uma mensagem diferente: eles


estavam cansados de lidar com humanos; não gostavam de se sentir
cercados por tantas coisas humanas; eles queriam ir para casa, e voltar
ao contato limitado com os macacos inteligentes. Mas eles também

284
queriam uma oportunidade para observar os seres humanos sem a
responsabilidade por tantas coisas que eles não entendiam.

Em outras palavras, eles queriam brincar de turista por um dia


ou dois, em um lugar como Porto Ferryman ou o Courtyard de Lakeside
e depois recuarem para a terra que conheciam e amavam.

<O que você acha?> Vlad perguntou a Henry e Ming.

<Eles vêem Lakeside sobreviver e Porto Ferryman sobreviver,>


Henry disse. <Eles querem sobreviver também.>

<Sim,> Ming concordou. <E eu não cheiro nenhum suor de


mentira. E Steve Ferryman não disse às palavras que são o sinal de que
ele sentiu algo errado aqui.>

Um Intui que era o prefeito de sua aldeia sentiria sobre qualquer


engano que poderia ameaçar seu próprio povo.

— Os Sanguinatis se adaptaram ao redor de lugares humanos.


— Vlad finalmente disse, pronto para dizer o que Erebus lhe ordenara
que dissesse. — Estamos dispostos a assumir o controle de Talulah Falls,
com a ajuda de outras formas de indigenes da terra.

Ele viu o medo nos olhos dos humanos, mas não tanto quanto
haveria há alguns meses. Depois de ter um Ceifador andando entre eles,
a ideia de vampiros controlando a cidade era um alívio.

— O Sanguinati que seria o líder é conhecido por muitos no Pátio


de Lakeside. Ele também tem contato com a Força-Tarefa de Investigação
do Governador Hannigan, então ele tem condições de considerar as
necessidades dos cidadãos humanos, assim como dos indigenes da terra.
— Vlad olhou para os líderes indigenes da terra. <Com outros dispostos a
tomar conta para você, você pode ir para casa se for isso que você quer
fazer.>

<Quando?> Perguntaram.

285
<Em breve. O solucionador de problemas tem mais uma tarefa a
ser concluída, e se puder ser feita. Então ele passará em Lakeside e depois
virá aqui.>

Feito. Como Talulah Falls era agora uma cidade controlada pelos
Outros, não haveria mais um Pátio como tal. Vlad e Nyx, junto com um
casal de moradores humanos, dariam uma olhada ao redor de Falls e
recomendariam lugares onde os Sanguinatis poderiam viver. Os demais
indigenes da terra que iriam se instalar em Falls iriam encontrar suas
novas casas de acordo com sua natureza.

As pessoas precisavam desesperadamente de algumas provisões.


Algo poderia ser feito?

Sim, algo poderia ser feito. Os pontos de controle permaneceriam,


mas um esforço seria feito imediatamente para trazer suprimentos - e
encontrar motoristas que estivessem dispostos a trazer um caminhão
para Falls.

Vlad deu ao Capitão de polícia o seu endereço de e-mail. Steve


Ferryman fez o mesmo. Entre eles, eles fariam o que pudessem enquanto
a transição da liderança acontecesse.

Como último gesto, todos seguiram o caminhão de gado de Jerry


Sledgeman para o terreno cercado que costumava ser o Pátio de Falls e
liberaram os quatro bisões. Talvez os humanos valorizassem a carne;
talvez não. Mas o gesto de ajuda foi a construção de ligações entre Talulah
Falls, Porto Ferryman e Lakeside.

Quanto da humanidade os indigenes da terra queriam manter?


Vlad pensou enquanto Henry dirigia a minivan de volta para Lakeside.
Os Sanguinati, que podem se adaptar aos ambientes urbanos melhor do
que a maioria das outras formas, iriam se separar do resto dos Outros?
Ou seríamos os baluartes que manteriam os humanos que os indigenes
da terra aceitassem enquanto as outras formas cuidavam da terra? Está
chegando uma tempestade. Todos nós sabemos disso, mesmo que os

286
humanos não quisessem vê-la. Não havia motivo para se preocupar com
o que poderia acontecer até vermos o que sobrará.

****
Simon atravessou o Pátio. Correu, correu e correu. Talulah Falls
não era sua responsabilidade. Se os indigenes da terra de lá queriam
ceder aos Sanguinati e irem para casa; era negócio deles, e não dele. Em
Lakeside, os Sanguinati e os Lobos eram predadores complementares, e
eram predadores fortes, faziam um esforço para não brigar uns com os
outros. Ok, eles tinham rosnado um para o outro um pouco sobre Meg,
mas ambos eram protetores dela, porque ela não era apenas uma amiga;
Ela era criação de Namid, tanto maravilhosa quanto terrível.

Ele parou de repente e se virou. Na forma de fumaça, o


Sanguinati não tinha perfume. Eles não faziam nenhum som. Mas ele
sentiu algo no escuro.

<Você está fugindo de alguma coisa?> Vlad perguntou.

Talvez eu estivesse correndo para me divertir.

<Você se move diferente quando se diverte.>

Ele se movia diferente? Por que ele não sabia disso?

Ele se acomodou em um trote até chegar em um dos riachos. Ele


nadou para o outro lado, sacudiu a água de seu pêlo, em seguida, mudou
para humano e sentou-se no banco. Um momento depois, Vlad correu
pela água, mudou de forma e se juntou a ele.

— Por que você não me disse que os Sanguinati iriam assumir


Talulah Falls? — Simon disse.

— Até que eu me sentisse confiante de que os indigenes da terra


que já estavam lá queriam sair, eu não deveria dizer nada. — Vlad olhou
para o riacho. — Os Sanguinatis governaram o Pátio de Toland desde que
os primeiros humanos construíram casas, antes de se transformar em

287
uma cidade. Nós vimos Toland inchar ao redor de nós, e encher de
humanos. E abandonar esse Pátio... Parece errado. Como você se sentiria
se todos os Lobos fossem expulsos do Noroeste e do Alto Norte?

— Mas você não saiu por causa dos humanos.

— Não, mas não voltaremos mais para lá.

Simon estudou o seu amigo. — Isso te deixa triste.

— Sim. Mas eu gosto daqui, então a perda de Toland não me


parece tão afiada.

— Por que Talulah Falls? Stavros não preferiria se instalar em


Hubbney, onde está o governo da região?

— Já estamos fortemente estabelecidos em Hubbney. Muitos dos


Sanguinatis de Toland se reassentam lá, mas Stavros...

— Ele estar lá significaria uma luta pelo domínio.

— E não é algo que precisamos em nenhum momento,


especialmente agora. — Vlad sorriu. — Além disso, eu acho que o avô
está fazendo um pouco do que os humanos chamam de casamenteiro.

Simon piscou. Piscou novamente. — Ele está trazendo Stavros


aqui para encontrar uma companheira? Quem? — No segundo em que
ele perguntou, ele soube. — Nyx. O que ela acha disso?

Vlad deu de ombros. — O avô está oferecendo uma oportunidade,


já que Nyx não mostrou nenhum interesse nos machos daqui.

— Talvez ela não queira se casar ainda.

Vlad riu suavemente. — Mas é bom estar disponível quando uma


mulher muda de ideia.

Simon rosnou. — Estamos falando de Nyx?

— Claro.

288
— Meg ficou muito quieta desde sua visita ao Pony Barn esta tarde.

— Jester disse o motivo?

— Ele estava muito quieto também.

— Isso não é bom. O Coyote raramente fica quieto quando sabe


de algo que os Outros não sabem.

— Henry pegou o cheiro dos Anciãos nos arredores de Talulah


Falls e no caminho para casa. Ele acha que eles estão apenas curiosos,
apenas se mexendo.

— Ele saberia melhor do que eu. — Vlad disse.

— Ele acha que ficaremos bem, e os humanos também. Ele acha


que os Anciãos não estão mais considerando a extinção.

— Você acha que ele está errado?

— Eu acho que eu gostaria de saber por que Meg está tão quieta.
— E por que ela continuou esfregando o lado direito de sua mandíbula
quando pensou que eu não estava olhando.

289
CAPÍTULO 27
Thaisday, Juin 21

Jesse abastecia as prateleiras da loja com sopas enlatadas,


molho de tomate e pasta de tomate, e uma variedade de frutas enlatadas
e legumes. Na sala dos fundos, ela tinha grandes caixas de plástico que
eram herméticas e à prova de rato. Uma continha sacos de cinco quilos
de farinha; em outra caixa havia sacos de açúcar, branco e mascavo; e a
terceira caixa continha o macarrão que ela não conseguiu colocar nas
prateleiras na frente. A quarta caixa ela encheu com sacos de arroz e
pacotes de macarrão de ovo.

Ela esperava que os suprimentos ainda estivessem bons quando


as pessoas em Prairie Gold precisassem deles.

Tolya contou a ela que os suprimentos poderiam durar até a


próxima primavera, depois que ela mencionou sua sensação de que
Prairie Gold teria que ter acesso a outros suprimentos, da mesma forma
que a livraria em Bennett a impedira de comprar novos livros para sua
loja. Comida. Medicamentos. O que as fêmeas necessitavam quando
entravam em seu período e a tornavam irritadiças.

De alguma forma, ter um vampiro mencionando TPM e


menstruação como algo importante na lista de prioridades foi mais
irritante do que tê-la empurrado para encomendar comida que poderia
ser armazenada para os próximos meses.

E não apenas comida. Roupas também, tudo, desde roupa íntima


e meias até jeans e camisetas, blusas e casacos. Sapatos. Chuteiras.
Qualquer coisa que pudesse ser usada.

290
Algo estava chegando. Todos em Prairie Gold sentiam isso. Os
indigenes da terra sabiam que eles estavam se preparando para algo, mas
eles não estavam compartilhando detalhes.

Mais bisões foram baleados - a ideia de alguma diversão


maliciosa. Os Lobos adultos, especialmente aqueles que eram os
caçadores e guardas, estavam longe de seu assentamento, vagando para
encontrar os culpados humanos e pôr fim a esse desperdício de comida.

Comida não era a única coisa que estava sendo desperdiçada.


Alguém derramou gasolina nas caneletas de água de Prairie e acendeu.
O fogo espalhou por vários hectares de pastagens, chegando a poucos
metros das colheitas de alimentos do assentamento. Então o vento
mudou de direção, soprando o fogo de volta, salvando Prairie Gold e as
colheitas para o próximo ano.

Ela e Phil Mailer, o chefe dos correios e editor do Prairie Gold


Reporter, tinham dirigido a Bennett para relatar o incidente, mas
ninguém tinha visto nada. O que a polícia de Bennett deveria fazer? O
fogo não aconteceu na cidade ou em qualquer área humana.

Ela esperava estar errada sobre toda essa preparação para o


isolamento, mas o isolamento já tinha começado com uma velocidade
assustadora. Os Intuis não podiam mais fazer compras em nenhuma das
lojas em Bennett. Você tinha que mostrar seu cartão de residência para
comprar qualquer coisa. Quando Truman Skye e Billy Rider, dois homens
do rancho de Prairie Gold, perguntaram se essa regra se aplicava a
pessoas que passavam a noite ou que visitavam por um dia ou dois, eles
foram maltratados por uma gangue de homens. Depois de voltar para
casa, Truman tinha dito a Jesse e Phil - e Joe Wolfgard e Tolya Sanguinati
- que o xerife estava escrevendo uma multa de estacionamento perto da
luta e não notou dois homens sendo atacados por oito. Truman e Billy
escaparam com alguns arranhões, algumas costelas machucadas e
alguns olhos negros, porque uma árvore na praça da cidade de repente

291
se arrancou da terra e esmagou o táxi de uma caminhonete que estava
estacionada na rua.

O rumor era de que alguma coisa tinha agarrado com garras a


árvore e a arrancou do chão.

Avisos foram emitidos de ambos os lados. Pelo menos foi assim


que Jesse leu aquele encontro - e Joe não discordou de sua avaliação,
mesmo que ele não confirmasse que havia algo além de Lobos e Beargard
observando as terras entre Bennett e Prairie Gold.

Assim, não havia nenhuma mercadoria disponível da cidade mais


próxima. Agora tudo o que eles precisavam tinha que vir de trem ou
caminhão. O problema era que eles estavam comprando muito mais do
que os moradores da cidade ou as empresas podiam pagar, e eles não
teriam comprado muita coisa se Tolya, como porta-voz de seus parentes,
não lhes emprestasse o dinheiro.

Ninguém teve alguma sensação sobre pedir dinheiro emprestado


ao Sanguinati, mas ninguém se sentia muito confortável também. Ainda
assim, era isso ou ignorar os avisos de que eles precisavam dobrar os
suprimentos.

Fraldas e talco de bebê. Cobertores e roupa de cama. Toalhas.


Escova de dente e creme dental. Papel higiênico. Deus! Como um
comerciante deveria fazer uma estimativa sobre algo assim?

E onde ela deveria colocar todos esses suprimentos?

O sino na porta tilintou. Jesse se afastou das prateleiras,


contente por ser distraída por um cliente.

A moça parecia ter dezesseis ou dezessete anos. Uma estranha


usando um dos vestidos que Jesse sabia que estava na vitrine da loja de
roupas usadas na semana passada. Sandálias em seus pés. Seu cabelo
era de um tom cinza prateado claro até o meio de suas costas. Seus olhos

292
eram âmbar, e as orelhas que de repente saíram de debaixo do cabelo
eram peludas e não na forma humana.

Uma Loba, Jesse pensou, sorrindo enquanto se movia


lentamente em direção à menina. — Olá. Eu sou Jesse, a dona desta loja.
Posso ajudá-la a encontrar alguma coisa? — Ela avistou Joe Wolfgard e
um estranho, outro Lobo, que estava lá fora conversando com Tobias.

Independência acompanhada.

— Qual é o seu nome? — Jesse perguntou.

— Rachel. Eu gostaria de um livro?

Uma declaração formulada como uma pergunta. A garota não


tinha certeza se tinha permissão para pedir tal coisa.

— Os livros estão por aqui. — Jesse levou Rachel para as


prateleiras. — Essas duas prateleiras são livros novos. Livros novos
geralmente custam mais. Estas duas prateleiras têm livros usados. —
Jesse escolheu um livro de bolso aleatoriamente e entregou a Rachel.

Rachel estudou a capa. Então ela fungou o livro, fez uma careta,
e o devolveu.

Interessante. Ela queria perguntar o que a menina cheirava no


livro, mas isso teria que esperar para a próxima visita.

— Você também pode pegar livros emprestados da biblioteca.

— Pedir emprestado significa que não podemos mantê-lo?

— Está certa. Você lê e devolve à biblioteca.

— Nós queremos um livro para manter.

Jesse assentiu. — Um livro para você?

Rachel hesitou. — Um livro de histórias para filhotes? Para ler


para os filhotes? Posso ler muito bem.

293
Esta menina jogava informações que atiçavam alguém curioso.

Outra vez, Jesse prometeu a si mesma estudar a seleção de livros


infantis e ver o que ela tinha disponível. — Bem, eu tenho um livro de
histórias de animais. — Quando Rachel se agachou ao lado dela, ela
queria perguntar se a moça estava usando uma calcinha debaixo desse
vestido de verão, mas essa era uma questão que poderia causar
embaraço, especialmente se esta fosse sua primeira tentativa de interagir
com um ser humano.

— Nós gostamos de animais. — Rachel disse.

— Eu não sei se os animais nessas histórias se comportam como


os animais que você conhece.

Rachel assentiu com a cabeça. — Faz de conta. — Ela segurou o


livro. Cheirou o livro. E não o devolveu.

— Você gostaria de escolher um livro para você?

— Eu- — Rachel olhou para a etiqueta com o preço no livro de


histórias. — Eu não tenho dinheiro suficiente para comprar outro livro.

— Eu vou dar um livro para você.

Rachel sacudiu a cabeça. — Supostamente é para comprá-lo.

— Normalmente isso é verdade. Mas hoje eu gostaria de dar-lhe


um livro como um presente. Como uma maneira de dizer seja bem-vinda.

— Oh. — A menina olhou para as prateleiras de livros, seus olhos


âmbar cheios de prazer e confusão.

Pouco a pouco, Rachel contou a Jesse sobre os livros que havia


lido e quais ela mais gostava. Finalmente, Jesse cutucou Rachel na
direção de um escritor de mistério Intui que escrevia uma série de
histórias sobre um humano que tinha um casal de conhecidos indigenes
da terra que o ajudava a resolver os mistérios. Ela não tinha certeza se o

294
retrato dos Outros era suficientemente preciso. Ela não tinha pensado
duas vezes sobre isso quando leu alguns dos livros.

Bem, seria interessante ler outra vez com o que sabia sobre os
Outros agora - e ver o que Rachel achava dos personagens. Será que
alguns dos indigenes da terra estariam interessados em participar de
nosso clube do livro mensal? Algo para perguntar a Joe Wolfgard.

Jesse lhe entregou o único volume disponível do Intui e viu pela


janela quando Rachel saiu da loja. A menina quase brilhava com o triunfo
de um encontro de sucesso. E ficou tímida quando se apresentou a
Tobias, que tirou seu chapéu e fez tudo o que era apropriado para uma
apresentação.

Quando Tobias entrou na loja, Joe olhou para Jesse pela janela
- e sorriu.

Nós vamos ficar bem, pensou Jesse enquanto os Lobos se


encaminhavam na direção do assentamento de indigenes da terra. Se os
Outros nos aceitarem como amigos, estaremos bem.

****
Para: NS

As tropas estão em posição e estão atraindo atenção indesejada.


Devemos atacar agora ou vamos perder o elemento de surpresa.

Crie a distração final.

Festa

****

295
Para: NS

As entregas especiais de Cel-Romano chegaram. Aguardando


suas instruções.

-Líderes HPU, Discípulos do Meio Oeste e Noroeste.

****
Para: Líderes HPU, Discípulos do Meio Oeste e Noroeste.

Prosseguir com a terceira fase do projeto de recuperação de terras.

-NS

296
CAPÍTULO 28
Firesday, Juin 22

Hope olhou para a folha cheia de desenhos e sentiu seu estômago


rolando.
Não! Não! Não! E não! Ontem ela teve um dia feliz esboçando os
filhotes e Lobos juvenis. Ela tinha desenhado seus amigos enquanto eles
cochilavam e brincavam de perseguir um ao outro. Então por que hoje
ela fez desenhos com essa aparência?
Ela rasgou o desenho ao meio, depois ao meio novamente, antes
de empurrar os pedaços para debaixo da cama. Este não era um desenho
de uma visão. Não era! Seus amigos estavam inteiros e saudáveis! Eles
não estavam com membros faltando. Eles não estavam tentando rastejar
para longe do perigo com as cabeças abertas. Eles não estavam deitados
em um campo queimado além do reconhecimento.
— É um desenho mal. — Hope levantou, com a intenção de deixar
a cabana, para ficar longe dos lápis e pincéis e do papel que
contava mentiras. — Não vai ser real. Não pode ser real.
Ela estendeu a mão para abrir a porta, mas não tocou na
maçaneta.
Ela não viu uma razão para esses desenhos. Se fosse um desenho
de uma visão, ela ainda não sabia por que os Lobos jovens poderiam
parecer daquele jeito. Será que o próximo desenho lhe daria as
respostas? Ela daria a Jackson e Grace o que eles precisavam saber a fim
de salvar a matilha?
Afastando-se da porta, Hope voltou a sentar no chão com o grande
bloco de notas e fechou os olhos.

297
O que vai acontecer com os Lobos?
Ela abriu os olhos e olhou para a gaveta da mesa, almejando a
euforia que advinha do uso da navalha. Em vez disso, ela pegou um lápis
e deixou a visão varrê-la enquanto suas mãos desenhavam a resposta à
sua pergunta.

298
CAPÍTULO 29
Firesday, Juin 22

Irritada e estranhamente fora de si, Meg reuniu as cartas de


profecia que estavam espalhadas por todo o chão da sala de separação.
— Droga, Sam, — ela murmurou. — Eu disse que essas cartas não eram
brinquedos.

Ele estava curioso sobre as cartas. Claro que sim. Filhotes Lobos
estavam curiosos sobre tudo. Mas ela tinha dito a ele que essas cartas
eram especiais. E ela sabia que Simon e Henry tinham falado com o
filhote, explicando que essas cartas especiais eram ferramentas para as
visões. Como a navalha. Algo potencialmente perigoso. Não algo para
filhotes brincar.

E agora as cartas pareciam esquisitas, de uma forma que ela não


conseguia explicar.

Ela estendeu as cartas sobre a superfície da mesa grande, com


as costas voltadas para cima. Cada carta tinha um design distintivo na
parte de trás, por isso seria fácil organizar as cartas em seus devidos
baralhos. Mas ela não tentou restaurar a ordem. Ao invés disso, ela tocou
as cartas, e enquanto arrastava ao redor da mesa, uma suspeita se
levantou nela.

Sam não brincava com algo que pertencia a ela. Mas e Lizzy,
Sarah e Robert? A porta dos fundos do Escritório do Liaison não estava
trancada quando ela estava trabalhando. Pete Denby tinha um escritório
no segundo andar, e Sarah e Robert às vezes brincavam lá quando Eve
Denby precisavam de algum tempo livre de crianças. E Lizzy passava

299
muito tempo ao redor da Praça do Mercado brincando com Sarah e
Robert.

Ao contrário dos jovens indigenes da terra, que alternavam entre


estar interessados em tudo ao seu redor e cochilar para descansar seus
pequenos cérebros, as crianças humanas rapidamente se entediavam
com o que tinham, e lamentavam ter a próxima coisa que viam. Pelo
menos soava como se eles estivessem sempre incomodando seus pais em
ter ‘isso’ ou ‘aquilo’, e se eles não pudessem ter o ‘isso’, então eles queriam
‘aquilo’. Se lhes dissessem que não deviam fazer algo, parecia que era a
única coisa que eles queriam fazer.

E lhes disseram que não podiam brincar com as cartas de


profecia.

Talvez essas coisas fossem normais para uma criança humana.


Como foi criada em um Complexo onde teve uma vida muito restrita, ela
não tinha nenhuma experiência com “normal” quando se tratava de
crianças. Ela não podia dizer a diferença entre a exuberância juvenil e o
mau comportamento que deixariam os Outros zangados e causariam
problemas a todos os humanos. Ela cometeu um erro quando Lizzy
chegou ao Pátio, e as consequências disso a deixou ansiosa por tudo o
que as crianças faziam.

Quando ela não estivesse se sentindo tão mal, ela conversaria com
Ruthie, que ensinava na escola, ou com Eve Denby, que era mãe, e
receberia algumas orientações para saber quando a ansiedade justificava
um corte e quando deveria ser considerado como algo normal. Ela
gostaria de se sentir mais a vontade ao redor das crianças como ela ficava
ao redor dos filhotes Lobos, cujos jogos eram muito mais ásperos e
simples, mas não a deixavam com medo.

O que a levou de volta as cartas de profecia que alguém havia


deixado cair no chão.

300
Meg apoiou as mãos sobre a mesa. Teria ela trancado a porta
quando saiu para o intervalo do meio-dia? Será que Jenni, que tinha uma
chave da porta de trás do Escritório do Liaison, veio para pegar o correio
da Sparkles & Junk e se esqueceu de trancar a porta ao sair? As crianças
poderiam estar entediadas com seus brinquedos disponíveis, tentaram a
porta e, encontrando-a aberta, entraram para brincar? E encontrando as
cartas, elas decidiram jogar um jogo, e depois deixaram as cartas caírem
quando perderam o interesse - ou ouviram algo que lhes lembrou que
não deviam estar no Escritório do Liaison em primeiro lugar? Nathan
saberia. Se ela perguntasse, ele poderia cheirar a sala e lhe dizer
exatamente quem entrou lá. Mas isso iria colocar as crianças em apuros.

Meg olhou para as cartas e percebeu que faltavam dois desenhos.


Ela correu para a gaveta onde ela tinha guardado os baralhos. O baralho
da natureza ainda estava na parte de trás da gaveta. Ela puxou para fora,
tirou as cartas de sua caixa, e os arrastou para fora, juntando com todas
as outras espalhadas sobre a mesa.

Misturou todas as cartas, incluindo as cartas com os desenhos


que Jester a advertiu para manter em segredo.

Depois de abrir um espaço no meio da mesa, Meg fechou os olhos


e passou as mãos levemente sobre as costas das cartas. Dezenas de
cartas. Centenas, talvez milhares, de combinações. Isso não era sempre
verdadeiro com uma profecia? Milhares de imagens aprendidas e sons e
cheiros que se reduziam às imagens e sons específicos e cheiros que
correspondiam à pergunta que a profetisa de sangue deveria responder.

Ela não tinha uma pergunta, não sabia por que estava brincando
com as cartas em vez de guardá-las de volta em seus baralhos e continuar
seu trabalho. Ela se sentia estranha hoje e tomou a decisão de ver o que
ela poderia ver.

Três conjuntos de três, ela pensou quando selecionou cartas com


base na gravidade da sensação de alfinetes e agulhas que aquecia suas
mãos, suas pernas, seu peito. Três conjuntos. Assunto, ação, resultado.

301
Ela abriu os olhos e virou o primeiro conjunto de três cartas - e
percebeu que o pinicar ao longo do lado direito de sua mandíbula
aumentou enquanto cada carta era revelada.

Rifle. Bisão. Lápide. Uma coisa que ainda existia em algumas


partes de Thaisia, um tempo em que a cremação não era necessária para
conservar o espaço de funerais da cidade.

Ela virou o próximo conjunto de cartas.

Lobo. Faca. Uma figura encapuzada com uma foice.

— Não, — ela sussurrou enquanto virava a última carta.

Uma cidade. Várias forças elementares - tornado, onda, maré,


fogo. E a última carta...

Coloque-os junto com as cartas da natureza e espero que você


nunca veja nenhum deles novamente. Foi o que Jester disse. Mas havia
uma daquelas cartas representando o resultado de algo que ia acontecer.

O pinicar ao longo de sua mandíbula transformou-se em um


zumbido.

— Onde? — Meg gritou em frustração. — Quando? Como eu vou


saber?

— Arroo? — Uma pergunta ociosa de Nathan, que estava


sonolento na sala da frente.

Sua mão direita zumbiu. O dedo indicador queimava. Meg virou


a carta abaixo desse dedo.

Uma carta de comunicação - desenhos de um telefone e uma


chave de telégrafo.

Respirando com dificuldade, Meg olhou para o telefone no balcão.

— Vou receber uma ligação.

302
— Arroo? — Já não era uma consulta ociosa.

— Não é nada. — Meg levantou a voz, o suficiente para Nathan


escutar. — Estou apenas conversando comigo mesma.

Isso o pararia por um minuto, talvez dois. Então o guarda Lobo


entraria na sala de triagem para dar uma olhada.

O pinicar desvaneceu-se em suas mãos, em sua mandíbula.

Meg pegou um bloco de notas e uma caneta e anotou os três


conjuntos de cartas na ordem correta, e então adicionou a carta de
comunicação. Deixou as cartas no balcão. Então ela pegou todas as
cartas e as jogou na gaveta. Ela pediria a Henry que fizesse uma caixa
especial, grande o bastante para guardar todas as cartas. Uma caixa com
um cadeado. Uma fechadura com duas chaves. Ela iria manter uma.
Quem deveria manter a outra? Simon? Não, muito fácil encontrar uma
chave na Howling Boas Leituras ou em seu apartamento. Henry ou Tess?

Avô Erebus. Sim, o Sanguinati deveria manter a outra chave para


a caixa.

Não havia nenhuma evidência do que alguém fez na sala de


triagem quando Nathan saltou sobre o balcão e entrou para farejar ao
redor. Um Lobo não precisava de provas. Seus grunhidos deixaram claro
que ele sabia exatamente quem não deveria estar na sala de triagem.

Ele trotou para a sala dos fundos e voltou um minuto depois, em


forma humana, usando uma camiseta, shorts e sandálias - roupas que
ele havia deixado em uma caixa na área de armazenamento.

— Eu preciso falar com Simon. — Nathan deu a ela um olhar


duro. — Você está esperando alguma entrega?

— Não. — Uma mensagem, sim, mas não uma entrega.

— Jake vigiará e dará o aviso se alguém entrar.

— OK.

303
Ela esperou. E estremeceu quando ouviu a porta traseira do HBL
batendo. Então ela apoiou as mãos no balcão sob a janela aberta da sala
de triagem e gritou: — Henry? Henry! Preciso ver você.

Não dizer a Nathan sobre as cartas era uma coisa. Mas alguém
precisava saber. E tinha que ser alguém que pudesse saber sobre as
cartas de profecia dos indigenes da terra que foram misturadas com as
outras imagens de brincadeira.

Quando Henry entrou, Meg pegou o bloco de notas e o abraçou.


— Eu não sei o que isso significa, mas há algo que você precisa ver.

****
Reunido no escritório do HBL com Henry e Vlad, Simon olhou
para a anotação com a lista de imagens de Meg. — Nós não temos mais
nenhum bisão no Pátio, pelo menos não vivo. — Eles tinham matado um
novilho e guardaram no freezer a carne, mas não havia nenhuma razão
para Meg ter uma visão sobre isso. — E os indigenes da terra em Talulah
Falls não usariam revólveres nem rifles para matar os bisões que lhes
demos.

— Rifles. — Henry disse. — Os bisões foram mortos com


espingardas.

— Também há um revólver na carta.

— Eu acho que Meg não viu o revólver. Ela escreveu rifle porque
foi o que ela viu.

Vlad esfregou o queixo. — Verificação seletiva quando há mais de


um objeto em uma carta? É um pensamento interessante.

— Mas não é uma preocupação imediata. — Simon estudou a


lista. — Lobos sendo atacados com facas? Não é uma coisa inteligente
para um ser humano fazer, especialmente se houver mais de um Lobo.

304
— A carta com o rifle já havia sido usada. — Henry disse. —
Talvez Meg precisasse de outra arma humana. Rifle ou faca, o resultado
é o mesmo. Ela viu a morte.

Simon olhou para o último conjunto de palavras e estremeceu.


Quantos humanos os indigenes da terra manteriam? Ele se lembrou das
palavras que os Anciãos haviam falado, mas foi Vlad quem apontou para
a lista e disse: — Parece que estamos sem tempo.

— Nós já estávamos sem tempo quando os humanos


desconsideraram a declaração dos Anciões sobre a violação de confiança
e decidiram causar mais problemas, — Henry resmungou.

— Como Meg sabia que essa carta era uma forma de indigene da
terra? — Simon perguntou.

— O Jester sabia. — Herry respondeu.

O que significava que, em algum momento de sua vida, o Coyote


realmente tinha visto um ou mais dos indigenes da terra que eram os
dentes e garras de Namid.

— Ele separou as formas das criaturas desenhadas e disse a Meg


que ela não deveria enviar esse baralho a outras profetisas de sangue, —
Herry continuou. — Jesse Walker já tem esse baralho, mas só Meg sabe
que nem todas as imagens são falsas.

Simon entregou a folha de papel para Henry. — Não sabemos


quando isso vai acontecer.

Henry dobrou o papel até encaixar no bolso traseiro de sua calça


jeans. — Meg receberá um telefonema, e esse será o grito de batalha. Pelo
menos para nós.

Simon sentiu o pesar já entupindo sua garganta. — Alguns de


nós irá morrer. Se os Anciãos tomaram sua decisão, por que eles irão se
segurar até que alguns de nós morramos?

305
— Eu acho que shifters como nós não são tão importantes para
os Anciões, — Herry respondeu. — Mas mesmo que façamos algo para
eles, talvez eles tenham que esperar que algo se coloque em movimento
antes de agir, mesmo que essa espera signifique ver alguns de nós
morrer.

306
CAPÍTULO 30
Firesday, Juin 22

Hope deixou cair o lápis cinza, horrorizada com o desenho. Ela


saltou para cima, em seguida, meio que caiu sobre a cama quando seus
pés, adormecidos por estarem tanto tempo dobrados sob ela, não
conseguiram segurá-la. Ela sentiu um líquido quente percorrendo suas
pernas, mal compreendendo que ela se molhou.

Sacudindo-se, soluçando, e assustada demais para pedir ajuda -


com medo de que ninguém respondesse - ela se forçou a olhar para o
desenho novamente.

Mais do que morte. Um horror que nunca seria esquecido.

Ela olhou mais de perto. Ela não conhecia aquele rosto. Ele não
morava em Sweetwater. Ela tinha desenhado aquele rosto antes? Ela não
conseguia se lembrar.

O medo cresceu dentro dela, suas bordas afiadas cortando sua


capacidade de pensar.

Ela tinha que encontrar Jackson e Grace. Tinha que correr,


escapar, se esconder. Tinha que contar...

Um rosto no canto do papel, além do resto do desenho.

... A Guia.

Hope forçou seus pés. Ela podia correr rápido agora. Ela poderia
correr para a cabine de comunicação e chamar a Guia. Ela se lembrava
do número. Ela ligaria porque o perigo iria atacar em outro lugar antes

307
de chegar a Sweetwater. Então ela tinha que ligar, e então ela encontraria
os seus amigos e eles correriam e se esconderiam.

Ela tropeçou quando saiu da cabana Wolfgard, e quase caiu nos


degraus.

Caw!

Um dos Corvos a observava.

Não havia tempo para explicar. Não até que ela enviasse o aviso.

Hope correu entre as cabanas que compunham o assentamento


indigene da terra até que ela alcançou a estrada de terra. Então ela correu
o mais rápido que pôde até a cabana de comunicação, perseguida pela
imagem de um desenho cheio de morte.

****
Joe Wolfgard arranhou a porta do quarto de motel de Tolya, depois
se virou e ouviu o uivo de Lobos à distância.

Uma Canção de Batalha.

<Qual o problema?> Ele exigiu.

<Humanos!> Veio à resposta. <Eles estão atirando no nosso bisão


novamente! Estão matando nossa carne!>

<Espere! Eles podem atirar em você também!>

Mas os caçadores e os guardas da matilha, enfurecidos por mais


um massacre, não ouviram.

Tolya abriu a porta. <Joe?>

<Os humanos estão matando os bisões novamente.>

<À luz do dia? Quando podemos reconhecê-los?> Suspeita na voz


de Tolya.

308
Os humanos foram cuidadosos até agora. Eles ficaram dentro de
veículos para que os Lobos não pudessem pegar seus aromas. Mas Tolya
estava certo - os humanos não se revelariam a menos que estivessem
fazendo algo que fosse malicioso.

<Eu tenho que parar a matilha.>

<Vá. Vou ficar de olho nos humanos aqui.>

Joe correu na direção da matilha e se perguntou se ele havia


perdido algum sinal novo de que os humanos estavam ficando raivosos.

309
CAPÍTULO 31
Firesday, Juin 22

Ouvindo o rosnado de Nathan e os grunhidos de Jake, Meg correu


para o balcão da frente para descobrir o que estava errado. Então sua
boca se abriu quando ela olhou para Robert, Sarah e Lizzy brincando com
uma bola grande na área de entrega - um lugar onde um caminhão de
entrega, parando rapidamente, poderia atingi-los. Um lugar que não era
um parque infantil. Eles sabiam disso.

— Robert! — Lizzy gritou. — O Urso Grr diz que não devemos


jogar aqui! Nós devemos voltar!

Meg ofegou e agarrou o balcão quando um zumbido doloroso


encheu seu abdômen e a parte inferior das costas. Quando ouviu o
rangido de alguém se movendo em cima, o zumbido desvaneceu-se tão
rapidamente quanto começou, deixando um eco de dor.

— O Urso Grr é um Bobo! — Robert jogou a bola em Lizzy, que


balançou junto ao Urso Grr como um morcego e conseguiu acertar a bola,
enviando-a em um arco alto.

— Robert! — Pete Denby gritou de uma janela do andar de cima.

Robert congelou por um momento ao som da voz de seu pai.


Então vendo a bola arquear sobre sua cabeça, ele se virou para correr
atrás dela.

Dor. Abdômen, costas, pernas. Lembrando as imagens de


treinamento de pessoas feridas em acidentes de carro, a visão de Meg
enegreceu, e ela gritou — Nathan, pare ele! Pare ele!

310
Os passos se aproximaram quando Nathan se atirou pela porta e
pegou Robert quando o menino estava a apenas dois passos da rua - e o
abaixou de uma maneira que garantiria cotovelos e joelhos esfolados.
Então Pete Denby estava lá também, e as garotas estavam chorando
porque Pete estava zangado e Nathan estava rosnando... E o telefone
continuou tocando e tocando.

A dor no corpo de Meg desvaneceu-se novamente, deixando-a


fraca, mas a pele ao longo do lado direito de sua mandíbula começou a
queimar.

Focada em Pete e Nathan se esquivando, ela pegou o telefone e


disse: — O quê?

— Meg?

A voz tremia tanto que não estava segura de reconhecê-la. —


Hope?

— Meg... Corra... Se esconda... Morte.

— Hope, o quê...?

— Corra!

— Hope? Hope!

A garota não estava mais lá. Meg ouviu o tom de discagem, e, em


seguida, soltou o receptor na base. Ela correu para a sala de triagem e
trancou a porta particular.

Qualquer visão que ela pudesse ter visto sobre Robert... Não
aconteceria mais. Ela ainda se sentia fraca e doente, mas não havia
alfinetadas ou agulhadas em sua parte inferior do corpo. A dor estava ao
longo de sua mandíbula agora - o local onde ela sonhara fazer um corte.

Corra. O comando gritado de Hope queimou sob sua pele. Mas


correr do quê? As cartas não tinham fornecido a resposta.

311
Meg abriu sua navalha de prata, colocou a lâmina contra o lado
direito de sua mandíbula, e fez um corte longo. Deixando de lado a
navalha, ela apoiou as mãos sobre a mesa e engoliu a agonia, bem como
as palavras, a fim de ver essa profecia.

Imagens empilharam como uma pilha de fotografias sendo vistas


tão rápido que ela mal conseguia entender. Lobos. Sangue. Morte. Isso
era comum em todas as imagens. Mas a terra... Lugares semelhantes,
mas não os mesmos lugares. Um mar de grama. Cabanas construídas
perto de montanhas. Mais lugares que se tornaram um pano de fundo
para a morte. Muito mais.

Por um instante, viu Simon no Complexo Wolfgard, com um lado


do rosto coberto de sangue. Então ela viu... Ela viu...

Afastando-se da mesa, Meg se inclinou e vomitou no chão.

Corra. Esconda a matilha.

— Sam, — ela sussurrou.

Afastando-se da confusão, ela avistou o telefone no balcão. Ela


tinha visto... Ela conhecia aquele rosto.

O livro de endereços, recentemente comprado nos Três Ps, estava


ao lado do telefone. Meg virou para a seção W e chamou o número.

— Loja Central Walker. Jesse falando.

Ela forçou as palavras. — É Meg Corbyn.

— Meg?

Se ela não saísse logo de lá, algo dentro dela quebraria. Ainda
assim ela se esforçou para expressar as imagens de uma forma que Jesse
Walker iria entender. — Bisão. Rifle. Morte. Lobos. Armadilha. Morte.
Corpos. Corpos. O rosto de Joe. Fogo, fogo, fogo.

— Meg? — Alarmada agora.

312
As imagens nadavam na frente de seus olhos, horríveis demais
para suportar. — Corra. Esconda os filhotes. Esconda as crianças. Corra.
Corra!

O medo a estimulou, e Meg seguiu sua própria advertência. Ela


arrancou a chave do carro elétrico de sua bolsa e correu pela porta dos
fundos, colidindo com Vlad, mas incapaz de parar, incapaz de falar. Ela
abriu a porta da garagem, saltou em seu carro, e quase atropelou Simon
quando ele foi atrás dela.

— Meg! — Simon gritou.

Ela olhou para ele, tentando encontrar palavras, e só conseguiu


encontrar uma. — Corra!

Ela pisou no pedal do carro, quase caindo ao virar da esquina, e


se dirigiu para o Complexo Wolfgard tão rápido quanto o pequeno veículo
poderia ir.

313
CAPÍTULO 32
Firesday, Juin 22

Jesse Walker correu para o meio da rua principal de Prairie Gold


e gritou, e foi um som que era de medo, parte grito de batalha. As pessoas
trabalhando nas lojas próximas saíram para a rua, mas não eram os
seres humanos que poderia ajudá-la agora.
Ouvindo os caws, ela olhou para cima e viu vários Corvos
circundando acima dela. E quando ela olhou para a outra extremidade
da cidade, ela viu fumaça correndo em sua direção.
— Meg Corbyn diz que os Lobos estão se dirigindo para uma
armadilha! Toque o alarme! Avisem os Lobos!
Os Corvos voaram para longe. A fumaça continuava a correr em
sua direção. Pouco antes dela alcançá-la, se transformou em uma coluna
e mudou para a forma humana.
— Meg disse mais alguma coisa? — Tolya perguntou.
— Ela viu o rosto de Joe. Ela disse... — Jesse engoliu em seco. —
Ela disse: 'corpos' duas vezes e 'fogo' três vezes. Ela disse para esconder
os filhotes e as crianças.
— Joe fez um acordo especial com... Bem, isso não importa. O que
importa é que há um esconderijo nas colinas acima da aldeia indigene da
terra. Ele te disse?
— Sim.
— Então pegue somente o necessário e leve as fêmeas e todos os
jovens até esse lugar.
— Mas...
— Faça, Jesse Walker. Nenhum de nós tem tempo para palavras
agora. — Tolya deslocou-se para fumaça e correu em direção à terra
aberta além da cidade.

314
Nenhum de nós tem tempo. Deuses acima e abaixo!
— Jesse? — Phil Mailer começou a andar na direção dela.
Ela balançou a cabeça. — Toque a campainha do alarme. Nós
temos que sair daqui. — Ela correu de volta para sua loja e olhou para
as duas caixas sobre o balcão que já estavam cheias de potes de manteiga
de amendoim, caixas de cereais, barras de chocolate, latas de
frutas. Durante a última hora, ela estava se sentindo desconfortável, sem
saber o motivo, e tinha começado a embalagem suprimentos de
emergência por intuição.
— O que está acontecendo? — Perguntou Shelley Bookman,
entrando correndo na sua loja.
Jesse empurrou uma caixa vazia nas mãos de Shelley. — Pegue
garrafas de suco. Qualquer coisa que possa rapidamente alimentar as
crianças. Mexa-se! — Ela deixou cair uma caixa de talheres em uma de
suas caixas e colocou dois pães na outra. Apressando-se para a área de
utensílios de cozinha, ela pegou um abridor de lata e jogou no caixote.
— Devo colocar algumas latas de sopa? — Perguntou Shelley.
— Nada que precise cozinhar ou aquecer para comer, — Jesse
estalou a resposta. Ela colocou seus caixotes cheios perto da porta, em
seguida, entrou na sala de trás e voltou com uma mochila, seu rifle e
duas caixas de munição.
Os olhos de Shelley se arregalaram. — Jesse?
— Você encheu esse caixote? Então vá pegar sua bolsa e esteja de
volta aqui em cinco minutos. Falo sério, Shelley. Cinco minutos. Então
nós vamos sair daqui.
— Sair para onde?
— O relógio está correndo! — Esconda os filhotes. Esconda as
crianças. As palavras eram um chicote que não descansariam até que ela
obedecesse.
O alarme parou de tocar. Jesse foi até o meio da rua e olhou para
as pessoas que estavam esperando por uma explicação. — Temos que
evacuar a cidade. Uma Cassandra de Sangue ligou para dar um aviso. —
E eu não sei o que custou a Meg Corbyn para dar esse aviso.

315
— Qual o aviso, Jesse? — Perguntou Phil Mailer.
— Morte. Armadilhas. Fogo. Ele está vindo para nós. — Talvez já
tenha encontrado alguns de nós.
Ela não podia pensar nisso.
Billy Rider pegou uma carroça e alguns cavalos do estábulo e se
dirigiu à loja Central. — Já avisei o Tobias, — Disse a Jesse. — Tom
Garcia disse que algum tipo de encrenqueiro levantou um pouco de cerca
e assustou os cavalos, por isso os homens estão fora tentando arrebanhá-
los. Eu disse a ele sobre o alarme. Ele disse que vai ficar no rancho, mas
estará à procura de problemas e vai tocar o alarme de lá se ver alguma
coisa. Ellen Garcia está vindo encontrar com você. Ela vai trazer seus
filhos e quaisquer jovens indigenes da terra que ela ver no caminho.
Não era provável que Ellen fosse encontrar muitos jovens
indigenes da terra longe de seu assentamento, sem qualquer adulto nas
proximidades, mas cada advertência era melhor do que nenhuma.
O pequeno carro de Prairie Gold e a minivan que servia como um
táxi encostou.
— Pare de lentidão e vamos entrar nessa maldita van, — Jesse
virou-se para Shelley e Abigail Burch. — Temos que avançar. — Ela
apontou para o táxi. — Circule ao redor dessa extremidade da cidade e
pegue quem quer que você encontre. A van vai dirigir para as colinas e
pegar as pessoas naquele lado.
Phil Mailer entrou na frente dela. — Com quem mais posso entrar
em contato? Vou enviar mensagens até que os fios caiam. Você tem maior
experiência com os indigenes da terra, então você precisa ir, mas alguns
podem ficar. Esta é a nossa cidade, a nossa casa. Estes edifícios foram
construídos com caibros firmes, e temos os suprimentos que precisamos
para até o próximo ano. Eu não vou deixar alguns idiotas nos queimar.
Murmúrios de concordância dos outros homens.
— Vá agora, Jesse. Vá e faça o que puder para todos nós.
Nada a dizer sobre isso, então ela subiu no banco da carroça ao
lado de Billy Rider e levou as mulheres e as crianças para as colinas e se
perguntou se haveria qualquer coisa em pé quando eles voltassem.

316
****

Joe gritou, em seguida, esperou por uma resposta. Ele uivou


novamente. <Respondam! Sou o líder desta matilha!>
Ele ouviu a canção de batalha e correu nessa direção.
<Joe! Pare!>
Joe desacelerou para um trote. <Tolya?>
<É uma armadilha! Meg Corbyn viu e ligou para Jesse Walker. É
uma armadilha para a matilha.>
Suas costelas apertaram e ele lutava para respirar. <Por que Meg
veria uma profecia sobre nós?>
<Isso importa? Ela enviou o aviso. Volte, Joe! Jesse Walker vai
levar todos os jovens para o esconderijo que você arranjou nas colinas. A
cidade está em perigo também. Você precisa voltar.>
<Eu tenho que parar a matilha antes de algo ruim acontecer. Você
cuida da cidade. Envie o aviso para quem quer que você consiga.>
Tendo feito sua escolha, Joe correu duro e rápido para encontrar
a matilha antes que os humanos armassem a armadilha.

317
CAPÍTULO 33
Firesday, Juin 22

Vlad correu para a sala de triagem, então parou quando sentiu o


cheiro de vômito que quase sobrecarregava o cheiro do sangue de Meg.
— O que...? — Simon parou ao lado dele. — Nathan ouviu um
telefone tocando apenas depois que ele impediu o Robert de correr para
a rua. Jake ouviu também.
Vlad olhou para a navalha sobre a mesa. — Vá atrás de Meg. Vou
tentar descobrir quem ligou.
— Ela não falou. — Simon torceu o nariz e deu um passo para
longe do vômito. — Ela viu as visões.
— Ela está com um medo doentio. Você tem que encontrá-la antes
que ela se machuque.
Simon tirou suas roupas e jogou-as de lado. Então ele mudou
para Lobo e correu para fora do Escritório do Liaison.
Vlad pegou uma seção do jornal da caixa de reciclagem e a jogou
sobre o vômito. Ele limparia a bagunça depois. Agora eles precisavam de
respostas.
Quando ele pegou o telefone, Pete Denby invadiu a sala.
— Deuses acima e abaixo! Eu sei que eles estavam brincando
onde não deveriam, mas eles são apenas crianças, e eu já estava
descendo para lidar com isso. Nathan tinha que jogar Robert no chão
assim? As crianças estão aterrorizadas.
— A próxima vez você não vai conseguir impedir seu filhote de
correr para a rua, — Vlad estalou. — Não deixe o seu jovem solto assim,
até que ele tenha aprendido a evitar coisas que vão matá-lo.
Pete respirou, em seguida, fez uma careta. Naquele momento,
Vlad viu o homem ser substituído pelo pai.

318
— O que aconteceu?
— Não sei ainda, mas Meg está correndo e com medo. Existe uma
maneira de descobrir quem ligou, ou isso é algo que só a polícia pode
fazer?
— Há um caminho a menos que ela tenha feito uma ligação
depois. Em seguida, você precisaria ir à polícia para conseguir os
registros da companhia telefônica. — Pete se juntou a Vlad no balcão e
apontou para um pequeno botão localizado abaixo das outras teclas do
telefone. — Gostaria de tentar? Esse botão é o redial, podemos tentar e
ver quem atende.
Ele apertou o botão e ouviu o telefone tocar.
— Loja Central Walker.
Um momento de silêncio antes de Vlad dizer, — Tolya?
— Meg Corbyn disse mais alguma coisa?
Um arrepio passou por Vlad. — Ela não está dizendo nada no
momento.
— Os Lobos estão correndo para uma armadilha. Joe Wolfgard
está tentando impedi-los. A cidade está se preparando para um
ataque. Jesse Walker está levando todos os jovens a um esconderijo nas
montanhas dos Anciões.
— Quem está com você?
— Os homens da cidade. Vlad, os seres humanos vão perecer
depois de todos os Lobos? Ou eles vão atrás de todos nós?
— Eu não sei. Faça o que puder, Tolya, e eu farei o mesmo. — Ele
desligou.
— Ruim? — Pete perguntou.
— Muito. — Ele abriu catálogo de endereços da Meg, encontrou o
número de Sweetwater, e discou.
— O que? — Uma voz masculina, já desperta e com raiva.
— Aqui é Vlad Sanguinati do Courtyard de Lakeside. Você pode
enviar uma mensagem para Jackson Wolfgard? É urgente.
— Lakeside? A sua profetisa filhote ficou louca também? A filhote
de Jackson correu aqui toda fedida de xixi, ligou para alguém, e, em

319
seguida, fugiu gritando que eles tinham que se esconder. Alguns Corvos
estão seguindo-a para garantir que ela volte em segurança à toca
Wolfgard.
— Diga a Jackson que os indigenes da terra e os Intui estão em
perigo. Os outros tipo de seres humanos estão armando um ataque.
— Eu... eu vou dizer a ele.
Vlad desligou e olhou para Pete, que estava pálido e doentio. —
Onde estão seus filhos?
— Lorne dos três Ps saiu para ajudar. Ele os levou para o
consultório médico.
— Lizzy também?
Pete concordou.
— Mantenha-os lá até que eu diga o contrário.
Vlad saiu do escritório do Liaison, se transformou em fumaça, e
correu na direção do Complexo Wolfgard.

****
Quase derrapando ao parar em frente ao Complexo Wolfgard, Meg
se jogou para fora do carro e gritou — Sam! Sam!
Ele correu para cumprimentá-la, seguido pelos outros filhotes e
Skippy.
Meg abriu a parte de trás do carro. — Entre Sam! Entre! Temos
que correr. Nós temos que nos esconder.
Ele foi para frente e imediatamente abriu a porta do banco do
passageiro. Os outros filhotes hesitaram, sentindo algo de errado em seu
comportamento.
— Skippy. Vamos, — Meg disse ofegante. Assim que ele pulou, ela
pegou outro filhote e o jogou no carro. Depois outro e outro e o último.
— Meg? — Jane, a bodywalker Wolfgard, correu na direção dela
em forma humana, enquanto a babá do bando corria na direção dela,
rosnando. — Meg, o que você está fazendo?

320
— Nós temos que correr! — Meg gritou. Ela fechou a porta de trás
do carro.
— Você está sangrando.
— Nós temos que nos esconder. — Ela caiu no assento do
motorista, ligou o carro e saiu do Complexo Wolfgard. Sam gemeu e
Skippy arrooed, que começou com os uivos dos demais filhotes.
— Quietos! Temos que ficar quietos! — Aonde ir? Onde eles
poderiam se esconder de um inimigo que poderia fazer...
Meg engoliu em seco e dirigiu cegamente e de forma imprudente
ao longo das trilhas de terra que eram apenas suficientemente amplas
para até mesmo um veículo tão pequeno como o carro elétrico. Ela olhou
no espelho lateral e viu os Lobos perseguindo o carro. Mas não era o Lobo
que ela precisava ver.
— Simon, — ela sussurrou.
Em seguida, a trilha terminou em um mergulho na terra. Ela
levou o carro para o mergulho, saltando no caminho para baixo. Abrindo
a porta do lado do motorista, ela saiu do carro e correu para dar a volta
e abrir as outras portas. Quando os filhotes e Skippy saltaram da parte
de trás, ela agarrou Sam, que era mais do que uma braçada dupla agora
e cambaleou, afastando-se mais alguns passos do carro.
Tremendo, ela caiu no chão e agarrou Sam. Tinham que se
esconder, porque ela tinha visto...
Seu estômago embrulhou, e ela se jogou sobre todos eles.

****

Simon farejava o Complexo Wolfgard. Onde estava Meg? Onde


estavam os outros Lobos?
<A matilha foi para aquele lado,> Nathan disse. <E Meg. Simon...
Ela ainda está sangrando. Há gotas de sangue na estrada.>
<Tio Simon! Tio Simon! >
<Sam!>

321
<Ajuda! Meg está doente!>
Simon levantou o focinho, com a intenção de uivar. Se os outros
Lobos seguiram Meg, sua pergunta iria ajudá-lo a identificar onde ela
estava no Pátio. Mas ele parou antes que o som aumentasse. Por que os
outros Lobos estavam em silêncio? Por que Sam não estava uivando?
Ele e Nathan seguiram a estrada, correndo em direção a parte
Hawkgard do Pátio. Eles tinham que encontrar Meg. Não havia muitas
estradas no Pátio que poderia acomodar um veículo, mesmo um tão
pequeno como um carro elétrico.
<Aqui!> Jenni Crowgard voou em sua direção. <Nossa Meg está
aqui!>
<Não há nenhuma estrada para lá, apenas uma trilha dos pôneis
e veados,> Nathan disse.
Jenni voou sobre suas cabeças, e voltou apontando a direção.
Quando chegou ao local, ele avistou uma leve inclinação na
estrada. Como Meg conseguiu se esconder lá? E como eles iriam tirá-los
de lá?
<Meg!> Ele abrandou para evitar pisar sobre os filhotes que
estavam suficientemente assustados, e que não iriam se mover para
longe de Meg para receber a proteção de Jane ou da babá. Os demais
Lobos adultos permaneceram no declive em um círculo de proteção, com
Blair e Nathan no topo mantendo a guarda.
Sam deu-lhe um olhar patético. <Meg vomitou em mim!>
<Ela está doente, filhote. Ela está realmente doente.>
O corte ao longo de sua mandíbula estava começando a coagular,
mas seu pescoço estava manchado de sangue e sua camisa cheirava a
vômito, apagando o perfume habitual de seu sangue.
Ele tinha quase certeza de que ela estava doente demais para
perceber se ele ficasse nu, então Simon mudou para a forma humana e
se agachou ao lado dela. — Meg? O que você viu?
— Nós temos que nos esconder. Temos que nos esconder de... —
Ela vomitou. Sam lamentou. Os outros filhotes recuaram, finalmente
buscando proteção com os Lobos adultos.

322
— Quem tem que se esconder? — Simon perguntou.
— Nós temos. Os Lobos. — Ela focou nele. Seus olhos pareciam
estranhos, muito grandes, muito pretos em vez do cinza. — O rosto de
Joe se parece com isso.
Como o que? Simon perguntou. Antes que ele pudesse perguntar,
Vlad estava ao lado dele, chegando a passar por ele para envolver uma
mão no braço de Meg.
<Você está entre as formas,> Vlad disse. Então para Meg, — Você
viu alguma coisa sobre o resto de nós? Meg? Os demais precisam se
esconder ou apenas os Lobos?
Ela olhou para Vlad com os olhos tão em branco, que Simon se
perguntou se algo tinha quebrado dentro de seu cérebro.
— Somente... Lobos, — ela finalmente disse. — e as pessoas que
moram em casas pequenas de madeira. — Uma pausa. — Casas
queimando. Fogo. Queimando.
— Ok. — Vlad deu ao braço um aperto suave antes de liberá-la.
— Os Lobos vão se esconder com você até ser seguro. O resto de nós irá
enviar o aviso para o maior número de matilhas que pudermos.
Simon olhou para Vlad. <Jackson?>
<A filhote profetisa dele está com medo e doente, assim como Meg,>
Vlad respondeu severamente. <Ambas, em diferentes partes do
continente. Isso não é bom, Simon.>
A cara de Joe se parece com isso. <Joe?>
<Foi enviado o aviso. Eu não sei se ele vai receber a tempo.> Vlad
levantou, as pernas já deslocando para fumaça. <Fique aqui. O resto de
nós vai fazer o que puder. Não são apenas os Lobos. O ataque também
visa os Intui.>
Tudo o que ele e os demais indigenes da terra em Lakeside
tentaram fazer através do trabalho com os humanos estava se
quebrando. Até onde iria quebrar?
Ele mudou de volta à forma Lobo, instintivamente entendendo que
iria acalmar Meg.
<Simon,> Vlad disse.

323
<Vá. Faça o que puderes. Avise Steve Ferryman.>
<Eu vou fazer isso primeiro. Ele vai receber o aviso para os outros
assentamentos Intui ao alcance dos seres humanos maus.> O Sanguinati
mudou totalmente para fumaça e correu sobre o chão.
<Mais Sanguinati indo com Vlad,> Blair relatou.
<Nós vamos ajudá-lo a manter guarda sobre a nossa Meg,> Jenni
disse, e com ela estava Starr, e Jake em cima das árvores próximas.
<Tio Simon?> Sam choramingou. <Eu não quero lamber o meu pelo
para limpar.>
Ele não queria lamber o filhote também. <Assim que estivermos
seguros, nós vamos deixar você e Meg limpos.> E seria necessário lavar os
outros filhotes que também foram salpicados com o vômito. Por agora
não havia nada que qualquer um dos Lobos pudesse fazer.
Resistindo à tentação de lamber para limpar o sangue seco do
pescoço de Meg e ignorando o mau cheiro de vômito, Simon apoiou a
cabeça no ombro dela, oferecendo o conforto silencioso e tentando não
pensar muito sobre o que estava acontecendo com o Wolfgard em outras
partes de Thaisia.

324
CAPÍTULO 34
Firesday, Juin 22

Jackson trotou de volta para a cabana Wolfgard. Embora


preocupante, o encontro com o Panthergard foi bem. Apenas um dos
gatos que agora morava na área de Sweetwater tinha atravessado o
primeiro nível de educação, o suficiente para ler, escrever as letras
humanas, fazer contas, bem como falar com os humanos e fazer compras
em um posto de troca.
Tinha educação suficiente para distinguir entre uma atividade
humana normal, como cultivar e cuidar dos animais, e as atividades que
pareciam... erradas.
Não havia nada de suspeito ao redor da vila Intui de Sweetwater,
mas isso não era verdade em Endurance, o povoado humano mais
próximo. Algo não estava bem lá. Alguma coisa tinha mudado. Mas era
como tentar jogar suas garras no ar, na esperança de agarrar o problema
e lidar com ele.
<Jackson! Jackson!> Um dos Corvos falou. <Sua filhote está
doente e estranha.>
Ele correu em direção à cabana, momentaneamente aliviado
quando viu Grace. Então Hope explodiu suas vistas, parecendo
aterrorizada como uma corça sendo atropelada por um Urso.
— Nós temos que nos esconder! — Hope gritou. Ela passou
correndo por Grace, agarrando os filhotes que correram para
cumprimentá-la. — Nós temos que nos esconder!
— Hope? — Disse Grace, seu cabelo branco brilhando ao sol.
Sacudindo-se em uma parada abrupta, Hope olhou para Grace.
— Fogo. Morte. Nós temos que nos esconder! — Ela correu para o riacho
e os filhotes correram atrás dela.

325
<Vá com ela,> Jackson disse a Grace. <Eu vou verificar a cabana.>
Grace tirou suas roupas, mudou para Loba, e correu atrás da
menina com a babá da matilha e os Lobos juvenis seguindo atrás.
Jackson correu para o quarto de Hope na cabana Wolfgard. Onde
a menina tinha ido? Ela não deveria sair da vista da cabana sem dizer a
um Lobo adulto.
Ele parou quando sentiu o cheiro. Hope não era um pouco adulta
para fazer xixi no chão?
Olhando os lápis de cor espalhados no chão, ele se moveu
cautelosamente ao redor da cama, que cheirava uma pitada de sangue
que quase foi esmagado pelo cheiro de urina.
Ele olhou com mais cuidado dentro do quarto, movendo os pés
com cuidado para evitar pisar nos desenhos de Hope. Quando ele
abaixou a cabeça para farejar o chão para sentir o cheiro de sangue, ele
viu os desenhos embaixo da cama. Ele pegou o desenho intacto e, em
seguida, os outros e rosnou.
Todos os filhotes e Lobos juvenis na matilha de
Sweetwater. Mortos. Mutilados. Não é de admirar que Hope quisesse que
eles se escondessem!
Então ele olhou para o desenho intacto. O rosto de Meg Corbyn
em um canto. Uma vista da colina da aldeia Intui em Sweetwater, todos
os edifícios em chamas. E enchendo o centro do papel...
Ele não tinha certeza do que estava vendo. Era parecido com o
desenho que ela fez do monte de bisões, exceto...
Joe.
Jackson correu para fora da cabana e correu como se tudo em
seu mundo dependesse de sua velocidade... Porque, naquele momento,
dependia dele.
<Ajuda!> Chamou.
<Lobo? Lobo?> Respostas do Ravengard, Hawkgard, Eaglegard.
<Os Intui serão atacados. Nós seremos atacados. Prestem atenção
na estrada. Dêem o aviso! Cuidado com qualquer humano entrando em
nosso caminho.>

326
<Jackson?> Isso foi Grace.
<Esconda os filhotes! Alerte os Lobos. Afaste-se do assentamento!>
<Onde você está?>
<Tenho que avisar.>
<Quem? Quantos?>
Atingindo a cabana de comunicações, ele se atirou para dentro,
mudando para humano enquanto caminhava para a mesa que
sustentava o telefone e o computador.
— Jackson? — O Falcão que cuidava da cabana olhou para ele.
Jackson olhou para trás, em seguida, pegou o telefone e ligou para
o número que ele tinha de Prairie Gold. Recebendo um sinal de ocupado,
ele desligou e ligou para a livraria Boas Leituras. Nenhuma resposta.
Enquanto estava lá, ele sentiu o cheiro de Hope e urina.
— A filhote Hope esteve aqui?
O Falcão assentiu. — Ela usou o telefone. Ela disse 'Meg, corra,
se esconda, morte', e então ela fugiu.
Jackson escreveu um número de telefone no bloco de papel ao
lado do telefone. — Ligue para este número. Continue tentando até que
alguém responda. Diga a quem atender, mesmo que seja um humano,
que os Lobos têm que se esconder. Eles têm que se ocultar ou morrerão.
— Onde você vai?
— Vou alertar os Intui. Hope viu a aldeia deles em chamas.
Mudando de volta para Lobo, Jackson correu para baixo da
estrada. Não era apenas os Intui que precisavam de ajuda naquela
aldeia. Havia as quatro filhotes profetisas sobreviventes que moravam lá
também.

327
CAPÍTULO 35
Firesday, Juin 22

Joe atingiu toda a velocidade que tinha. <Lobos! Esperem!>


<Estão matando nossa carne!>
Estavam muito irritados. Não estavam escutando. Ele foi
escolhido como líder dos indigenes da terra do assentamento por causa
de seu contato com Simon e o Pátio de Lakeside, porque eles precisavam
de alguém para lidar ativamente com os humanos de Prairie Gold. Mas
ser o líder do assentamento não era o mesmo que ser o Lobo
Dominante. A matilha tinha provado isso, ignorando seu comando. <O
sangue doce diz que é uma armadilha!>
Isso retardou os outros Lobos que estavam correndo na direção
dos homens tão concentrados em fotografar os bisões, que eles nem
perceberam os Lobos irritados caindo sobre eles.
<Sangue doce?> O Executor Dominante da matilha desacelerou
para um trote.
<A profetisa de Simon, Meg, ligou para Jesse Walker para avisar
que esta é uma armadilha.>
Mais Lobos abrandaram. Os caçadores entre eles estavam mais
relutantes em deixar que os humanos continuassem matando a carne da
matilha, mas o Executor tinha a tarefa de proteger a matilha, e se afastou
dos humanos que estavam na beira da estrada ao lado das picapes e se
dirigiu para Joe.
Então eles pararam, e deram um passo atrás. Como eles, Joe
sentiu o trovão que significava apenas uma coisa: debandada de bisões.
Tiros e gritos atrás dele. Atrás dos bisões. Os humanos estavam
levando os bisões na direção das picapes, e os Lobos seriam apanhados
no meio.

328
<Corram!> Joe gritou. Os Lobos se viraram e correram para as
picapes e os bisões que já estavam mortos. Corpos grandes, que
se pressionados contra a barriga, um Lobo poderia escapar de ser
baleado, e poderia escapar de ser pisado. Eles não teriam uma chance no
aberto.
Eles correram para as picapes e os homens. Tinham que chegar
aos bisões mortos antes...
Os homens pararam de disparar. Movendo-se rapidamente, um
homem abaixou a porta traseira de uma das picapes, enquanto outro
homem puxava uma lona, com algo que parecia um pesado rifle montado
em um tripé. O que...?
Os caçadores, que estavam na frente do pelotão dos Lobos, foram
os primeiros a cair pelas pesadas balas do rifle, que acertavam os corpos
com muita velocidade, antes dos Lobos mudarem de direção. E atrás
deles, os bisões trovejavam cada vez mais perto, impulsionados por
outros humanos.
Agora alguns homens levantaram seus rifles em direção ao céu,
apontando para os Corvos e Falcões.
<Fugir!> Joe gritou com os Corvos e Falcões. <Dêem o aviso> Ele
sentiu o baque, baque, baque. Suas patas dianteiras escorregaram e ele
caiu. Ele tinha que fugir da manada de bisões. Tinha...
Ele tentou levantar as patas traseiras e tentou pular, ganhar
alguma distância entre ele e os cascos dos bisões.
Mais pancada, pancada, pancada... Atingindo uma pata traseira
e seu lado.
Ele caiu de novo, uma de suas patas traseiras estava inútil. Ainda
lutando para se mover, ele conseguiu rastejar até que foi parcialmente
escondido por um dos bisões mortos.
Tão difícil respirar. Tão difícil...
Ele realmente não sentiu os cascos dos bisões quando eles
pisotearam suas patas traseiras. Ele mal ouviu os gritos triunfantes dos
humanos ou o tiroteio que levou os bisões para longe das picapes.
Ele não percebeu o silêncio.

329
Como Meg, de tão longe em Lakeside, soube que esta era uma
armadilha? O que ela teria visto?
Mal podia ouvir. Ele mal podia respirar.
— Este ainda está vivo.
— Não por muito tempo. Jogue a carcaça dele com o resto.
Ele foi arrastado por suas patas dianteiras. Em seguida, foi jogado
em uma pilha de outros Lobos.
O que Meg tinha visto? Como ela tinha visto essa armadilha com
outro Lobo?
Ela tinha me visto em Lakeside. Ela iria se lembrar do meu rosto.
Ele não conseguiria mudar. Ele não tinha forças para isso. Mas
se Simon e Jackson soubessem de alguma forma, se Meg visse algo agora
eles saberiam, seriam... Advertidos, poderiam... Escapar de outras
armadilhas.
Ele fez sons estranhos enquanto tentava respirar, tentou mudar
de Lobo à forma humana. Ele viu sua lateral, a maior parte era humana
agora mas ainda tinha uma pata dianteira peluda. Ele sentiu a mudança
em seu rosto.
Ele sentiu uma pancada na parte de trás de sua cabeça.
Nada.

****

— Você quer tirar este da pilha, chefe? — Perguntou um homem.


— Seu rosto está a meio caminho de um humano.
Daniel Black olhou para o corpo do último Lobo jogado na pilha
de carcaças. — Deixe-o. Isso é prova de que eliminamos o inimigo e não
apenas alguns animais irracionais. — Ele se afastou da pilha de Lobos
mortos e estendeu a mão. — Dê-me a câmera. Vou tirar algumas fotos
dos meninos ao lado dessa pilha, para enviar aos humanos em todos os
lugares.

330
Reuniram-se em ambos os lados do monte de Lobos, com os rifles
levantados em triunfo enquanto Black tirava as fotos. Ele não seria o
único homem fazendo um registro deste dia histórico. Homens, os vários
Discípulos do movimento HPU em todo o Centro Oeste e Noroeste
estavam participando da terceira fase do projeto de recuperação de
terras.
Ele não seria o único homem enviando uma ou duas fotos para o
jornal. Mas, pelos deuses! Ele e os seus homens estariam entre os mais
bem recompensados por este dia de trabalho.
— Agora — Black disse olhando na direção das colinas e a cidade
chamada Prairie Gold. — Vamos acabar com isso e reivindicar o que
deveria ter sido nosso o tempo todo.
Enquanto ele e seus homens voltavam para as suas picapes, ele
não notou a ausência de todas as aves, e não notou o silêncio.

****

Ele não poderia ter feito nada contra uma debandada de bisões,
Tolya pensou amargamente enquanto corria acima da grama. Ele poderia
ter abrandado um animal, ou capturado e matado um daqueles que fazia
a condução dos animais. Mas isso não teria poupado os Lobos. Tudo o
que ele podia fazer agora era retornar a Prairie Gold e fazer tudo o que
podia para ajudar a salvar a cidade Intui.
O vento agitava a grama. Um brilho de calor apareceu na frente
dele. Ele se ergueu em uma coluna de fumaça antes de mudar para a
forma humana.
Duas das Elementais que cuidavam deste pedaço de Thaisia
tomaram forma na frente dele. Ar e Fogo estavam montadas em dois de
seus cavalos, um branco, e o outro castanho claro.
Havia algo que as Elementais poderiam ter feito para impedir
isso? Inútil perguntar, e perigoso, mesmo para um Sanguinati dizer algo
que pudesse soar como uma acusação.

331
E talvez os Elementais nunca impedissem esta luta entre os
Outros e os humanos, não mais do que eles foram feitos para interferir
com dois predadores que estavam lutando em relação ao mesmo
território. Mas os Elementais em Lakeside ajudaram Simon. Elementais
em outra parte do Centro Oeste ajudaram a destruir o Controlador e o
terrível lugar onde ele tinha prendido o sangue doce. Talvez os
Elementais daqui pudessem trabalhar com ele agora. Afinal, Ar ajudou
Joe quando ele enviou a carne de bisão para Simon.
— Os seres humanos, — Tolya disse. — Eles vão queimar a cidade
dos Intui. Eles vão tentar matar todos os jovens que Jesse Walker está
levando para a proteção das colinas.
— Como você sabe disso? — Fogo finalmente perguntou.
— Meg Corbyn falou a profecia e advertiu Jesse Walker.
— A menina da vassoura?
Então a música de Charlie Crowgard sobre Meg defendendo um
Lobo tinha chegado a este extremo Oeste. — Sim. Meg, a Guia. Ela é uma
amiga dos indigenes da terra em Lakeside.
— O nosso parente mais Oriental a conhece, — Ar disse. — Ela
salvou os pôneis que moram no Courtyard de Lakeside.
Tolya assentiu. Então ele esperou.
Ar olhou para cima quando alguns dos Corvos voaram. — Os
humanos que mataram os Lobos. Os Corvos dizem que alguns são da
cidade e alguns... — Ela olhou para Fogo e sorriu. — Quantos bisões
morreram?
Fogo apenas devolveu o sorriso.
Algo sobre aqueles sorrisos deu a Tolya uma compreensão súbita
do motivo dos Elementais não serem encorajados a se envolver demais
na vida dos seres que eram mais ancorados à carne do que a sua
forma indigene da terra.
Ar e Fogo não disseram nada quando viraram seus cavalos em
direção às fazendas que ficavam entre a cidade Intui de Prairie Gold e a
cidade humana de Bennett.

332
Mudando de volta a forma fumaça, Tolya continuou indo para
Prairie Gold. Quando chegou ao estacionamento de caminhões na
periferia da cidade, viu um raio tocar o solo no norte e julgou que ele
tinha atingido algo perto do cruzamento.
Ele continuou indo até chegar à Loja Walker. Homens correram
para encontrá-lo assim que ele mudou para a forma humana.
— Eles estão mortos, — ele disse. — Os Lobos estão mortos.
— Ah, droga, — Floyd Tanner disse suavemente, mas com tristeza.
— Até Joe?
Tolya assentiu. Ele não quis dizer a esses homens como os Lobos
morreram. Ainda não.
— Sentimos muito pela sua perda, — disse Kelley Burch, após um
momento de silêncio. — Todos nós gostamos de Joe.
— Ele era um bom líder, — Tolya disse. E talvez, da mesma forma
que Simon Wolfgard é com Vlad, ele poderia ter sido um bom amigo.
Ele observou o quanto estes humanos sentiram a perda, até que
viu a mudança em seus rostos e corpos e percebeu que eles iriam, por
agora, deixar a dor de lado.
Phil Mailer limpou a garganta. — Eu acho que é melhor nos
prepararmos para o resto da profecia. Eu tenho avisado cada aldeia ou
assentamento Intui que pude. Consegui falar com Steve Ferryman em
Porto Ferryman. Ele está enviando o alarme também. Ele não teve a
sensação de que todos os lugares Intui estariam em perigo. Muitos de
nossos assentamentos estão muito profundos no país selvagem para
serem facilmente alcançados por outros humanos. Mas ele também
sentiu que quanto mais avisarmos e impedirmos o elemento surpresa,
menos provável será que nossas aldeias sejam capturadas.
Tolya assentiu. Então ele olhou para o norte e apontou. — Eu
acho que não seremos os únicos que terão que se preocupar com fogo.

****

333
O funil de fogo corria sobre a terra, e queimava tudo ao seu redor.
O vento açoitava as chamas que consumiam as cercas, a grama, o gado,
enquanto o funil se encaminhava para os edifícios do rancho mais
distante.

****

Ao se aproximarem da encruzilhada na estrada, Daniel Black viu


um raio acertar a picape que estava na frente com a precisão de um
atirador, quando uma súbita rajada de vento atingiu outra picape com
força suficiente para empurrá-la para fora da estrada.
As outras picapes pararam e os homens correram para ajudar
seus companheiros.
Black saiu de sua picape. — Eles se machucaram? — Ele
perguntou a um dos homens.
Eles se afastaram da picape atingida.
— Eles estão mortos. — Um dos homens, que parecia tão
triunfante há pouco tempo, parecia assustado agora.
Não deveriam estar mortos. Os pneus são de
borracha. Aterramento. E isso era necessário para proteger uma pessoa
em uma tempestade com raios, não era? Como seus homens poderiam
estar mortos?
Então Black viu o funil aparecendo do nada, e sentiu o primeiro
tremor de medo.
— Por todos os deuses escuros! — ele sussurrou.
— Patrão?
Ele olhou para o capataz. Então ele enfiou a mão na picape,
puxando para fora a câmera, e a entregou ao homem. — Diga ao xerife
sobre isso. Peça para enviar alguém para cá para lidar com eles... Os
homens. Em seguida, leve essas fotos para o jornal. Você entendeu? —
Ele esperou até que o capataz se afastasse com uma velocidade
imprudente antes de virar para o resto de seus homens. — Venham

334
comigo. Temos que ir para o rancho, e seguir à frente dessa coisa e salvar
o que pudermos.
Os homens olharam para o funil, então para ele.
— Movam-se! — Black falou para todos. Os homens entraram nas
picapes, e outros subiram na caçamba, sua única opção, se não
quisessem ser deixados para trás.
Ele colocou a picape em marcha. Então hesitou. Eles não podiam
dirigir mais rápido que um tornado. Ele não chegaria ao rancho em
tempo. Ele deveria ir para o outro lado e terminar sua missão, queimar
essa cidade de aberrações.
— Que porra...? — Um de seus homens gritou momentos antes de
um granizo do tamanho de seu punho atingir a picape, martelando o
metal e o vidro. O pára-brisa rachou. Seus homens na caçamba gritaram
de dor enquanto tentavam se proteger.
Um dia quente de verão. Não havia nuvens de
tempestade. Nenhuma nuvem de qualquer tipo. E ainda havia aquele
funil maldito indo em direção a tudo o que ele tinha construído, e
agora esta tempestade.
Ele olhou para o espelho lateral e pensou ter visto um cavalo e um
cavaleiro correndo na direção dele, sem dar atenção ao granizo
punitivo. Ao passarem por sua picape, ele viu uma forma tão envolta pela
tempestade que ele não teve certeza se ele tinha acabado de imaginar o
que viu. E ainda assim a tempestade virou sem nenhuma explicação
racional e se dirigiu para a cidade, enchendo a estrada com granizo. Em
seguida, ele diminuiu a velocidade, e parou de se mover.
Esperou.
Se ele dirigisse para Prairie Gold, seus homens poderiam ficar
expostos a essa tempestade e ele poderia se ferir e se tornar inútil no
momento em que chegasse à cidade. Claro, se eles foram pegos pelo
tornado ou pelo fogo, eles não ficariam muito bem. Mas pelo menos eles
estariam tentando salvar alguma coisa.
Black se encaminhou para o seu rancho.

335
****

Jesse seguia uma trilha estreita de caça. No momento em que seu


povo tinha alcançado o assentamento indigene da terra, os Corvos e
Falcões já haviam espalhado a notícia sobre os humanos matando os
Lobos. Surpreendentemente, os adultos no assentamento não tiveram
nenhuma objeção que ela levasse os jovens Wolfgard com ela para o
esconderijo que Joe Wolfgard tinha arranjado. Na verdade, todos os
jovens do assentamento estavam com ela. Jovens Corujas, Corvos,
Falcões e Águias estavam andando sobre os ombros dos humanos ou
sobre as costas dos Lobos juvenis, ou estavam equilibrados nas caixas
que eles carregaram em dois jumentos.
Quando ela tivesse algum tempo para refletir, ela iria ponderar
sobre a esquisitice de Lobos mantendo um punhado de jumentos como
animais de carga, e sobre o que os Outros lhe disseram: que os jumentos
sabiam que eles não precisam temer esses predadores.
— Jesse? — Shelley disse ofegante atrás dela. —
Jesse? Precisamos parar. Nós precisamos de uma pausa.
— Vamos descansar quando chegarmos lá. — Não poderia ser
muito mais longe. Joe disse que era apenas um par de milhas para além
do assentamento indigene da terra. Água. Abrigo. Um ponto que poderia
ser defendido.
O que poderia significar também que, se invadido por um inimigo,
não iria dar-lhes nenhuma saída. Os humanos, de qualquer maneira.
— Arroo, — Rachel disse suavemente, de repente trotando a frente
de Jesse.
A jovem tinha ficado perto dela durante toda a viagem. Jesse não
tinha certeza se Rachel estava ajudando agindo como um batedor ou se
a Loba queria estar perto de qualquer adulto que ela conhecia.
O único Lobo adulto que foi deixado no assentamento era a babá
da matilha. Os demais adultos tinham saído para lidar com os humanos
e tinham morrido.

336
Os filhotes estão órfãos agora. Todos eles, Jesse pensou.
— Jesse? — Abigail Burch disse neste momento. — Não podemos
parar um minuto? As crianças estão cansadas.
Cansado era melhor do que morto.
Jesse hesitou quando Rachel correu de volta para ela. Mas a Loba
parecia animada, aliviada. Um par de minutos depois, Jesse
compartilhou esse alívio. A água fluía em uma piscina perto de um riacho
que descia pelas colinas para o assentamento. Havia rochas que
forneciam abrigo, e árvores que forneciam sombra. Não seria possível
fazer uma fogueira aqui, porque eles estavam no país selvagem. Joe tinha
avisado sobre isso. Mas eles poderiam se amontoar em cobertores para
se aquecer se tivessem de ficar aqui durante a noite.
E uma vez que eles montassem o acampamento, ela iria descobrir
onde poderiam arrumar uma latrina e um lugar para os jumentos.
— Nós estamos aqui, — ela disse se movendo pelo lugar. —
Podemos descansar agora. Todo mundo.
Nem todas as mulheres de Prairie Gold vieram com eles. Algumas
enviaram mensagens dizendo sentirem que precisavam ficar nas
fazendas e ajudar a cuidar dos animais. Mas elas enviaram seus
filhos. Na verdade, elas tinham um ponto. Meg Corbyn não tinha dito
para ocultar as mulheres, apenas as crianças. Apenas os Lobos.
Sentindo Rachel pressionada contra sua perna, tremendo, Jesse
sentiu uma pontada de tristeza ao lembrar de Joe do lado de fora da sua
loja, pronto para intervir se necessário, mas permitindo que Rachel
fizesse sua primeira incursão em uma loja humana sozinha. Jesse não
teve tempo para conhecê-lo bem, e ela se arrependeu disso. Trabalhando
juntos, eles poderiam ter superado as diferenças entre os indigenes da
terra e os Intui, poderiam ter construído uma parceria, da mesma forma
que outros lugares estavam tentando fazer.
Rachel lamentou.
— Silêncio, — Jesse virou-se para as mulheres e crianças cujas
vozes estavam aumentando. Entrando na lacuna entre rochas, ela
ergueu o rifle, preparada para disparar.

337
As mulheres ficaram em silêncio ou freneticamente tentaram
abafar as vozes das crianças.
Nada. Nada. Exceto a babá de um dos bandos que estava levando
os filhotes de Lobos para um esconderijo atrás de uma árvore
caída. Exceto Rachel que estava ao seu lado, ofegante e tremendo.
Nada além de um silêncio estranho.
Então algo brilhou na trilha de caça. Algo que seus olhos não
conseguiam ver.
Algo grande.
— Isso é o suficiente, — ela alertou.
Um grunhido, mais uma sensação no ar do que um som real.
— Temos permissão para estar aqui, e vamos ficar até alguém me
dizer que é seguro levar os jovens de volta para suas casas.
Rachel mudou de repente, e agora era uma adolescente humana
agachada ao lado dela. — Jesse Walker é a nossa amiga. Ela... Era amiga
de Joe Wolfgard.
Onde você poderia apontar quando não conseguia ver? Aquele
brilho escuro. Seria um olho? Deuses, quão grande era aquela coisa?
Ele deu um passo mais perto. Ela não podia vê-lo, mas
ela sabia que ele tinha se aproximado.
— Se você é um dos indigenes da terra que mora nestas colinas,
então você deve saber por que vim até aqui, deve saber o que aconteceu
com os Lobos. — Jesse respirou lentamente. — Perdemos muitos amigos
hoje. E eu penso que você e eu sentimos a mesma perda. Então eu estou
te dizendo agora que a única maneira de alguém levar qualquer um
destes jovens daqui é me matar e eu não puder lutar por eles.
Hesitação. Em seguida, ele se foi.
Jesse não sabia como qualquer coisa grande podia se mover tão
rapidamente ou tão silenciosamente, mas ela podia sentir que ele se foi.
— Os Anciões vão tomar conta da trilha, — Rachel sussurrou. —
Estaremos seguros aqui esta noite e poderemos ir para... Casa... De
manhã.
Jesse baixou o rifle. — Isso foi um Ancião?

338
— Sim. Eles são as antigas formas de indigenes da terra. Eles são
os dentes e as garras de Namid.
Dentes e garras de Namid. Eu acredito. Eu certamente
acredito. Deuses acima e abaixo! — Eles vivem nas colinas?
— Sim. Eles nos permitem pegar um pouco de madeira e pedras
amarelas para o comércio com os humanos. E a nossa... — A respiração
de Rachel travou em um soluço. — Nossa matilha podia caçar aqui em
cima. — Ela olhou para os outros Lobos juvenis que vieram com eles. —
Nós estamos aprendendo a caçar, mas não somos fortes o suficiente
ainda... Nós não podemos... Como é que vamos alimentar nossos filhotes?
— Nós vamos descobrir alguma coisa, — Jesse disse calmamente.
— Você deve mudar de volta para Lobo agora. Você vai ficar mais quente
com os pelos.
A menina assentiu. Depois de mudar, ela se juntou aos outros
Lobos, que ficaram amontoados em uma área. Todos os jovens indigenes
da terra tinham escolhido um local particular, cada espaço um gard, e no
centro os Intui, estabelecendo cobertores, pegando copos para beber e
embalagens de alimentos.
Ellen Garcia veio até Jesse, que se inclinou contra uma rocha e
dividiu sua atenção entre a trilha e o riacho.
— Eu tenho cerca de trinta quilos de carne crua embalada em um
daqueles jumentos, — Ellen disse.
— Eu disse para não trazer qualquer coisa que precisássemos
cozinhar. — Trinta quilos? Não é de admirar que eles tivessem que deixar
algumas coisas para trás, mesmo às mulheres com os pacotes de coisas
de necessidade para os bebês e crianças pequenas.
— Não trouxe para nós.
Jesse olhou para a outra mulher. Tobias era o capataz da fazenda
Prairie Gold, mas Ellen e Tom cuidavam dos edifícios e veículos, e Ellen
cozinhava para os homens. Ela também teve algum treinamento como
contadora, então ela verificava os livros do rancho, bem como o leite que
as fazendas produziam. Enquanto Jesse gostava de Shelley Bookman e a

339
considerava uma amiga, ela reconhecia em Ellen um espírito livre, uma
mulher que fazia o que precisava ser feito.
Ela deixou escapar um suspiro quando olhou para os
jovens indigenes da terra. Grandes comedores de carne, cada um deles.
— Não pensei nisso.
— Não há razão para você pensar. Temos um casal de cães de
gado, de modo que embalar um pouco de carne crua é uma segunda
natureza para mim. Vou cuidar dessa parte do acampamento.
— Obrigada.
Elas ficaram quase um minuto em silêncio confortável, apenas
ouvindo as outras mulheres estabelecendo as crianças. Em seguida,
Ellen disse: — Você está tentando tanto quanto eu não pensar sobre o
que pode estar acontecendo no rancho e na cidade?
Jesse assentiu. — Eu fico pensando que veria a fumaça se o pior
acontecer, mas não tenho certeza se isso será verdade.
— Acho que vamos descobrir na parte da manhã.
— Acho que vamos.
— Bem. É melhor eu começar a separar alguma carne antes dos
jovens perceberem que estão com fome.
Jesse trabalhou um sorriso. — Alimentar esses jovens deve ser
interessante.
Enquanto Ellen preparava a carne para os jovens de pêlo e penas,
Jesse continuou a vigia. Será que Rachel viu claramente o que os olhos
humanos e cérebro se recusavam a entender? O que poderia ter
acontecido se a Lobo não tivesse falado sem eles?
O que aconteceria a qualquer um deles se Joe Wolfgard não
tivesse falado com os Anciões quando eles descessem das colinas?
Jesse esfregou a dor em seu pulso esquerdo.
Eles viriam. Ela sabia disso, tão certo como ela sabia o seu próprio
nome.

****

340
Ignorando os bisões mortos, eles se reuniram ao redor dos Lobos
que haviam sido amontoados em um monte. Eles cheiravam, circulavam,
e consideravam.
<Este assassinato,> um deles finalmente disse. <Isto é o que
significa ser humano. Isto é o que os humanos fazem.>
A raiva cresceu lentamente, cheio de músculos e ossos e
sangue. E, em alguns, eles... Mudaram. Levantaram sobre as patas
traseiras e mudaram para formas com pernas e quadris, a fim de ficarem
de pé. Patas dianteiras alteradas para as mãos, mas os dedos ainda
mantinham as garras de um predador. O corpo remodelado para um
corpo poderoso e musculoso, ombros, pescoço forte, e uma cabeça que
retinha os dentes e mandíbula que poderia morder e romper o osso.
Eles caçariam suas presas, mas com esta forma, eles seriam
capazes de entrar nas habitações, e desenterrar o que tentasse se
esconder.
Um deles se virou e deu alguns passos hesitantes em suas pernas
recém-moldadas. Ele agarrou os chifres de um bisão com as suas mãos
novas, e com toda a força de sua verdadeira forma, deu um puxão
selvagem e arrancou a cabeça do bisão. Soltando a cabeça, ele passou
suas garras sobre a barriga e observou as entranhas saírem.
<Isto é o que significa ser humano,> disse. <Isto é o que os
humanos fazem.>
<Isto é o que os humanos fazem,> o resto concordou.
Alguns tinham tomado esta forma necessária, e no momento não
desejavam mudar de volta para sua verdadeira forma.
Em seguida, todos se dirigiram para a cidade humana chamada
Bennett, e seus passos enchiam a terra de um silêncio terrível.

341
CAPÍTULO 36
Firesday, Juin 22

Jackson em forma de Lobo e cinco Intuis a cavalo observaram o


condutor de uma picape pegando fogo. Eles tinham parado em um local,
e viram a explosão em frente à barricada simples que os indigenes da
terra e os Intui criaram na estrada que levava ao assentamento
Sweetwater e a vila Intui.
O fogo que os dois homens começaram varria a terra, e eles devem
ter levado muitos recipientes de gasolina, pois tinham a intenção de
queimar a aldeia Intui, mas que agora corria na direção de Endurance, a
cidade controlada pelos humanos que ficava mais distante.
— Deuses acima e abaixo! — Um homem disse calmamente. — Se
o vento girar novamente...
O fogo deveria ter se alastrado para Sweetwater. Em vez disso,
tinha virado com uma deliberação que não poderia ser explicada como
normal, mas uma escolha consciente, se dirigindo para as poucas
fazendas humanas que tinham se estabelecido ao redor de Endurance,
deixando as pastagens em chamas antes de virar na direção das casas e
lojas.
— Os caminhões de abastecimento irão cobrar mais, isso se eles
tiverem que percorrer todo o caminho para Sweetwater, — disse outro
homem.
— Assumindo que ainda haverá um direito de passagem e se
quaisquer caminhões poderão chegar até nós, — disse o terceiro homem.
Jackson percebeu o quão cuidadoso todos estavam em não olhar
para ele enquanto falavam.
Eles estavam certos. Caminhões de abastecimento não iriam
desperdiçar tanta gasolina dirigindo até Sweetwater quando poderiam

342
deixar sua mercadoria em uma área de armazenamento alugada na
cidade humana. Eles também estavam corretos quanto ao direito de
passagem pelo país selvagem deixando de existir, e não havia nenhuma
certeza de que alguma coisa pudesse ser feita, quer a cidade fosse
queimada ou não.
Posto de troca, Jackson pensou enquanto seus olhos seguiam a
estrada de terra que cercada de terra em chamas. Poderíamos construir
um entreposto comercial, perto do lugar onde a nossa estrada liga a
estrada asfaltada que leva à cidade humana. Já existe um posto de
gasolina e uma loja naquele local. Até mesmo um depósito simples onde
as coisas pudessem ser deixadas para os Intui e os Outros seriam
suficientes. Os caminhões indigenes da Terra ainda estariam autorizados
a usar as estradas, mesmo que os Anciões se virassem completamente
contra os humanos. Nós ainda poderíamos trazer o que precisamos se
ainda existir essas coisas.
— Não podemos fazer nada sobre isso, exceto observar o fogo
queimar, — disse o primeiro homem.
Um pouco de umidade caiu no nariz de Jackson. Ele lambeu o
focinho, em seguida, olhou para cima, surpreso com o frio repentino.
Neve? Neve? Agora? Ele já tinha tirado o seu pelo de inverno. Por
que havia neve agora?
— Merda, — um homem murmurou. — Não estou preparado para
isso.
Jackson lambeu outro floco de neve de seu nariz.
Um floco. Dois. Dez. Mil.
— Precisamos voltar para a aldeia, enquanto ainda podemos
encontrar o caminho, — disse o segundo homem. — Jackson?
Em um momento ele viu a neve seguindo o caminho do fogo
colocar um cobertor branco sobre a terra. No momento seguinte, ele mal
podia ver os homens e os cavalos que estavam lhe acompanhando.
A filhote Hope estava com roupas de verão, e ela estava correndo
em direção ao riacho. Se os Lobos se molhassem, mesmo sua pelagem de
verão iria protegê-los o suficiente do frio. Mas Hope...

343
Jackson voltou para Sweetwater, lembrando a si mesmo para ficar
na estrada, já que os Intui iriam segui-lo, pois do contrário iriam acabar
perdidos e doentes se tivessem que se enrolar e esperar a tempestade
passar.
Então ele trotou para a luz solar brilhante e parou tão rápido que
um dos cavalos quase pisou nele.
— Pelos deuses! — Um dos homens soltou.
Luz solar. Calor.
Jackson voltou para o caminho e balançou seu pelo antes de olhar
para a parede de neve que foi rapidamente se transformando em alguns
flocos de neve, preguiçosos e macios. Em seguida, mesmo aqueles
pararam de cair.
— Talvez nós devêssemos...
Vendo os homens olhando para trás, Jackson mudou para a
forma humana e desejou ter algumas roupas, e não para a modéstia, mas
para manter o calor. — Você tem alguma razão para acreditar que os
humanos naquelas picapes ainda estão vivos?
Eles hesitaram, não exatamente olhando para ele após a primeira
vista. Em seguida, eles balançaram a cabeça.
— Então fique deste lado da barricada. E fiquem na terra que os
Intui tem a permissão para usar. Pelo menos por agora.
— Vamos ter que lidar com aquelas picapes em algum
momento. Os restos mortais terão de ser devolvidos às suas famílias.
Jackson pegou um perfume no ar que o fez tremer. Ele olhou para
os homens que não estavam olhando para ele. Como dizer-lhes o que
seus instintos uivavam? — O país selvagem vai ficar na barricada
agora. E ela agora rodeia e envolve aquela cidade humana.
— Ela sempre fez isso.
— Não gosto disso. — Ele observou os homens ficarem pálidos.
Silêncio. Em seguida, — Sem saída?
— Não por alguns dias. — Ele não queria estar nessa pele, e não
queria parecer humano.

344
Jackson voltou para Lobo. Não havia nada mais do que ele
poderia dizer aos Intui de qualquer maneira.
Ainda não.
Ele correu para casa para encontrar Grace e a filhote Hope perto
do córrego com os demais da matilha. A sangue doce parecia atordoada
até que ele lambeu sua bochecha. Em seguida, ela jogou seus braços ao
redor dele e começou a chorar.
<Está tudo bem, filhote. Está tudo bem.> Hope não podia ouvi-lo,
mas ele disse as palavras de qualquer maneira. Então ele olhou para
Grace. <Está tudo bem?>
<As Águias e os Corvos disseram que havia fogo, mas ele não
chegou aqui,> ela respondeu. <A aldeia Intui?>
<Segura.> Ele lambeu a orelha de Hope, uma vez que era tudo o
que ele podia alcançar. <Teria queimado sem seu aviso.>
Quando a filhote Hope finalmente parou de chorar, ela lavou o
rosto na corrente enquanto Jackson rolava na grama para limpar seu
pelo. Então ele e Grace levaram seu filhote profetisa de volta para a
cabana Wolfgard. Ele entrou primeiro e removeu os desenhos terríveis,
escondendo-os na área da cozinha até que ele pudesse decidir o que fazer
com eles.
Grace entrou em seguida. Juntos, eles abriram as janelas no
quarto e do banheiro e lavaram o cheiro do xixi do chão da melhor forma
possível.
Deixando a filhote Hope cochilando na varanda com o resto da
matilha guardando-a, Jackson e Grace trotaram para a cabana de
comunicações na borda do assentamento. O Falcão que cuidava da
cabana olhou para eles com os olhos tristes quando entregou uma
mensagem para Jackson depois que os dois Lobos mudaram para a forma
humana.
— De quem é? — Perguntou Grace.
— Vlad Sanguinati, — Jackson respondeu. — Simon e a matilha
de Lakeside estão bem.

345
— Vlad perguntou por você, — disse o Falcão. — Eu disse a ele
que a matilha de Sweetwater estava bem também. Estive ligando para o
número que você me pediu, mas não há nenhuma resposta.
— Eu já sei uma parte da resposta. A filhote Hope desenhou um
retrato dele. — Mas ele estava torcendo que Joe tivesse recebido o aviso
em tempo.
Grace respirou.
— O telefone está funcionando, mas não estão atendendo, — disse
o Falcão.
— Pode ficar assim por um tempo. — Nada que ele poderia fazer
agora. Nada que qualquer um deles poderia fazer agora a não ser esperar.
— Nós estaremos na cabana Wolfgard se mais mensagens chegarem.
Grace esperou até que eles estavam trotando de volta para a
cabana. <Você não espera mais nenhuma mensagem?>
<Não.> Quantas matilhas receberam um aviso para correr, se
esconder, fugir dos humanos do mal? Quantos Wolfgard ainda estavam
lá fora?
Eles estavam seguros. E esta noite, todos os indigenes da terra no
assentamento estavam seguros.

346
CAPÍTULO 37
Firesday, Juin 22

Simon sentiu o momento exato em que Meg relaxou.


Acabou, pensou. Pelo menos para nós.
Ele tinha perdido a noção do tempo, não tinha noção de quanto
tempo eles haviam se escondido nesse declive na terra. Já que ele não
precisava se preocupar com Meg, agora ele considerou o outro problema.
<Como é que vamos tirar o carro elétrico e sair daqui?> Blair
perguntou.
<Podemos anexar uma corda. E então alguns de nós vamos puxar
e alguns vão empurrar. Vamos tirá-lo.>
Ele considerou o seguinte, e o problema mais imediato. <Como é
que vamos lavar a Meg? Ela realmente fede.>
<O carro é o meu problema. Meg é o seu.>
Simon suspirou, em seguida, moveu a cabeça, apoiando-a contra
as costas de Meg. Era a única parte dela que cheirava mais como Meg e
menos como vômito.

****

Monty dava a Kowalski nota máxima por suas habilidades de


condução, mas ele ainda desejava carros com pedais de freio do lado do
passageiro. E era Kowalski que estava no carro de patrulha que foi
atribuído para bloquear o cruzamento das avenidas Parkside e Crowfield.
Eles teriam indo mais cedo ao Pátio se o Capitão Burke não tivesse
chamado todos para tarefas de emergência. Ninguém, incluindo Burke,
tinha certeza do que estava acontecendo. Mas depois que Burke recebeu

347
um telefonema de Pete Denby, ele fez uma ligação urgente para o Agente
Greg O'Sullivan, que, por sua vez, chamou o Governador Hannigan.
Apesar da quantidade pequena de informações disponíveis, o governador
emitiu ordens de emergência que ascenderam a um ultimato para toda a
Região Nordeste: bloquear o acesso a todos os Courtyard; bloquear todas
as ruas que levavam aos assentamentos controlados pelo indigenes da
terra; prender qualquer pessoa que tentasse contornar as barreiras.
Trens foram detidos em qualquer estação em que estavam. Nenhum
curso de qualquer espécie entre as cidades até novo aviso. Medidas mais
severas permitidas pela lei seriam tomadas contra qualquer pessoa que
atacasse, ou tentasse atacar, qualquer um dos indigenes da terra ou
qualquer humano que trabalhasse com os indigenes da terra.
As ordens de Hannigan eram uma declaração de guerra contra os
humanos do movimento HPU; e ele esperava que os departamentos de
polícia em cada cidade defendessem essa declaração. E qualquer oficial
que não respeitasse, ou não obedecesse a essas ordens, teria que
renunciar imediatamente.
Muita especulação, mas nenhuma explicação. E ninguém na
equipe de Monty tinha contado a ninguém fora do — bando da polícia —
sobre os telefonemas assustados de Merri Lee e Ruthie. Houve algum tipo
de atrito entre Robert Denby e Nathan mais ou menos no mesmo período
que algo pode ter acontecido com Meg, e agora os Lobos tinham
desaparecido. Todos eles. Eles não fecharam as lojas, nem mesmo
fecharam as portas. Eles simplesmente fugiram.
As meninas não encontraram Tess, não encontraram Vlad ou
Henry, não encontraram um único Corvo para dizer o que estava
acontecendo, mas eles acreditavam que havia um problema sério.
Pete Denby disse a mesma coisa a Burke. Algo muito ruim estava
acontecendo, e não apenas ao redor de Lakeside. As crianças estavam no
consultório da Praça do Mercado. E os indigenes da terra se... Foram.
Armado com essa informação, Burke tinha informado O'Sullivan
e depois contornado a cadeia de comando da polícia de Lakeside,
chamando os Capitães de patrulha Zajac e Wheatley para ajudar. Antes

348
mesmo do comissário de polícia Kurt Wallace, que era membro do HPU;
ele sabia que havia um problema potencialmente letal, a polícia estava
bloqueando a cidade e se preparando para o que estava por vir.
— Deuses, isso parece assustador, — Kowalski murmurou
enquanto parava na entrada da Main Street do Pátio e, em seguida,
entrou com o carro de patrulha na via de baixo de acesso.
— Parece uma cidade fantasma das histórias. — Uma vez que o
carro estava estacionado em um espaço normalmente reservado para os
caminhões de entrega indigenes da terra, Monty apressou-se na direção
do consultório médico. — Será que Ruthie e Merri Lee sabem de algo?
— Elas estão com as crianças, Theral e Pete Denby. Uma
segurança nos números.
Ele esperava que fosse verdade.

****

Vlad desligou o telefone com delicadeza exagerada, enquanto Eve


Denby caminhava até o caixa da livraria. Ele conseguiu evitar lidar com
o bando feminino desde que os Lobos estavam escondidos. Mas agora...
— O meu filho causou essa confusão toda? — Eve perguntou.
Vlad negou com a cabeça.
— Então eu vou distribuir um castigo adequado.
Ele não disse nada. A voz de Tolya ao telefone. Tão plana e...
Vazia.
— Vou limpar o escritório de Meg. Sou mãe, então já lidei com a
minha quota de vômito.
Ele não disse nada.
— Hey. — Eve estendeu a mão, e quase tocou a dele. — Meg
realmente se machucou?
Ele olhou para ela, e havia preocupação honesta. Isso faria
alguma diferença agora? — Joe Wolfgard está morto.
— Oh. — Simpatia imediata. — Algum tipo de acidente?

349
— Não. Nós ligamos para avisá-lo, e ele tentou impedir a matilha
de correr para uma armadilha, mas... — Vlad suspirou. — Exceto a babá
que estava com os filhotes, todos os Lobos adultos na matilha de Prairie
Gold estão mortos. Abatidos. Por humanos.
Eve olhou para fora das janelas da loja. Ela trabalhava do outro
lado da rua. Ela teria ouvido as sirenes, visto os carros da
polícia. Provavelmente recebeu uma chamada de Pete, já que ela sabia
sobre Nathan lidando com Robert.
Eve passou seus dedos por seu cabelo curto. — Será que
Simon... Alguém aqui sabe?
— Ainda não. — Ele se sentia tão estranho. O Wolfgard e o
Sanguinati eram diferentes formas de indigenes da terra, mas ele se
sentia tão estranho. Uma morte era uma tristeza, mas uma matilha
inteira... Talvez fosse por isso que Tolya soou tão vazio quando ele ligou.
Ou talvez fosse porque Vlad pensou que soaria da mesma forma
se tivesse sido Simon.
— Posso fazer alguma coisa para você?
Ele se concentrou em Eve. — Não. Obrigado.
Ela assentiu com a cabeça. — Eu vou pegar Ruthie e Merri
Lee. Nós vamos dar uma boa limpeza no escritório de Meg. Coloque a
placa de fechado na porta.
— Sim. Tudo bem. — Tinha que dizer ao Avô Erebus.
Eve hesitou. — Eu ouvi no rádio... Eu não sei se faz alguma
diferença, mas parece que o governador Hannigan está fazendo o que
pode para apoiar os indigenes da terra. — Ela saiu da loja.
Eu não sei se ele vai fazer muita diferença, pensou Vlad.
Ele verificou a porta da frente e a trancou, então atravessou o arco
para a Bite e fechou a porta também. Talvez o café devesse permanecer
aberto para dar bebidas e comida aos policiais, mas ele não viu nenhum
sinal de Tess, e nenhum sinal de Nadine Fallacaro. Bem, se Nadine
aparecesse e quisesse servir a comida, ela podia.
Voltando ao HBL, Vlad subiu para verificar os e-mails, mas depois
de ler alguns, ele desligou o computador.

350
Não apenas o Wolfgard de Prairie Gold tinha perdido vidas
hoje. Amanhã, haveria um acerto de contas.

****

Como um oficial da polícia e Tenente do Departamento de Polícia


de Lakeside, Monty colocou Robert, Sarah, Lizzy e o Urso Grr sob prisão
domiciliar. As meninas insistiram que o Urso Grr era inocente e que ele
tinha tentado dizer-lhes que eles estavam jogando onde não deveriam,
mas Robert não quis ouvir.
Por causa da diferença de idade, ele nunca teve esse tipo de briga
entre irmãos com sua irmã, Sierra, mas se eles tivessem mais próximos
em idade, ele pensou que não haveria momentos em que Sissy o teria
jogado sob um ônibus, ou o jogado para os Lobos.
Quando Eva Denby invadiu a sala e exigiu que ele prendesse as
crianças e as levassem para a cadeia por descuido e ser uma dor na
bunda dela, ele pensou que ela estava fingindo e foi avante, especialmente
quando Pete, como o advogado das crianças, atirou-se à frente do
‘Tribunal’ e tentou fundamentar uma barganha.
Não foi até que Eve concordou com a prisão domiciliar de uma
semana sem televisão, filmes, e guloseimas, que Monty percebeu que seu
humor não foi impulsionado pelas crianças mal-comportadas. Não foi até
que ela o levou para fora e contou a ele sobre Prairie Gold que ele
conseguiu entender algumas das razões de Hannigan ter bloqueado a
Região Nordeste. O movimento HPU tinha se anunciado, e parou seus
ataques mesquinhos.
Enquanto Eve caminhava com Ruthie e Merri Lee, Monty ligou
para Burke, para que ele soubesse que o HPU havia declarado guerra
contra os Lobos, se não contra todos os indigenes da terra.

****

351
Jester correu para fora quando o carro elétrico parou. Os filhotes
humanos já não causaram problemas suficientes? Por que os adultos
tinham que ser estúpidos também?
— Vocês não deveriam estar aqui, — ele retrucou.
Eve Denby apontou para Merri Lee, que estava dirigindo, e disse:
— Dê isso para Simon ou para o bodywalker Wolfgard.
Jester pegou a folha de papel dobrada. — O que é isso?
— Eu ouvi...
Caw!
Jester olhou para Jenni Crowgard e rosnou.
— ... Simon está com a menina e um filhote coberto de
vômito. Anotei as instruções que eu faria se tivesse que lidar com
isso. Você pode dar a ele ou não, mas se eu estivesse no lugar dele, eu
não gostaria de ir muito longe com eles nessa condição.
— Oh. — Jester olhou para o papel. — Bom ponto.
— Eu disse a Vlad que iria limpar o escritório e arejá-lo para Meg,
de modo que é o que estamos fazendo agora.
Merri Lee ligou o carro, fez uma longa curva, e voltou para o
gabinete do Liaison.
Jester colocou as instruções em um pequeno saco de pano que
tinha punhos de madeira, e que era adequado para segurar com os
dentes, tirou suas roupas, e mudou. Então ele correu para o lugar onde
os lobos ainda estavam decidindo como deixar Meg e Sam limpos, sem
ninguém ter que tocá-los.

****

A raiva tornou-se um perfume ao vento, um gosto na água, um


calor que subia da terra. Ele corria através de Thaisia tão rápido quanto
as notícias saiam de rádios e televisões.

352
Por baixo da raiva, estas eram as palavras que estremeciam em
todo o país selvagem: Isso é o que significa ser humano. Isto é o que os
humanos fazem.

****

Para: Pater

Todos os olhos estão focados na parte central de Thaisia. Ataque


agora e a raça humana triunfará em ambos os lados do Atlantik.

NS

****
Para: Erebus Sanguinati

Não é prudente matar Nicholas Scrath neste momento. Ele está


muito bem protegido, e os humanos em Toland estão vigilantes para outros
tipos de ataques. No entanto, eu não acredito que ele vai ficar em Thaisia
uma vez que os dentes e garras de Namid vão responder à morte de
centenas de Wolfgard nas regiões Centro Oeste e Noroeste. Oceano está se
preparando para golpear a costa leste de Thaisia, especialmente as
cidades que enviaram os navios responsáveis pelo envenenamento de
peixes que mataram alguns dos Sharkgard. O Sharkgard tem garantido a
minha segurança da ira de Oceano se eu permanecer perto das docas de
Toland e lhes dizer quando navios estiverem navegando para o Cel-
Romano.

-Stavros

353
CAPÍTULO 38
Watersday, Juin 23

Todas as armas e máquinas que foram construídas e testadas em


segredo, e todos os homens que foram recrutados de todas as nações que
compunham a Aliança do Cel-Romano, se encaminharam para as
fronteiras que separava a terra humana do país selvagem.
Quando os aviões sobrevoaram, carregando as armas que fariam
uma guerra rápida, os homens que vieram das grandes cidades estavam
comemorando antecipadamente a promessa de mais metal, mais terras,
mais comida, mais espaço. Mas os homens que foram recrutados das
aldeias que margeavam o país selvagem olhavam para os aviões e
sussurravam aos seus companheiros, — Vocês não sabem. Vocês não
sabem.
Bombas foram lançadas dos aviões que destruíram os
assentamentos indigenes da terra, essas habitações simples que
forneciam um local de encontro para os Outros que cuidavam das
fronteiras. Os homens e as máquinas percorriam as estradas na
sequência da destruição das bombas, e matavam os feridos e os fracos e
os jovens. E eles mataram os indigenes da terra que ficaram para lutar e
proteger os feridos, os mais fracos e os jovens.
Rapidamente se tornou claro que os humanos tinham armas
contra as quais os shifters não poderiam lutar. Assim, os gards fugiram
antes deste inimigo chegar.
Depois de um dia inteiro, homens e máquinas se moveram nas
estradas, matando e conquistando. Então eles pararam porque não havia
mais estradas, e as máquinas não podiam avançar nas trilhas estreitas.
Os líderes olharam para a terra conquistada e declararam que a
raça humana era a grande vitoriosa.

354
Naquela noite, os homens que moravam nas pequenas vilas nas
fronteiras notaram um estranho e terrível silêncio.

****
Em todas as nações do Cel-Romano, os homens e mulheres mais
idosos escapuliram de suas aldeias e seguiram as trilhas para dentro do
país selvagem, assim como fizeram as gerações de seus antepassados. Ou
eles fugiram para lugares isolados, onde a terra tocava no Mar
Mediterran. Nesse lugar, eles levaram alimentos tradicionais que eram
dadas as famílias durante um período de luto.
— Eles eram nossos amigos, — as vozes sussurravam para a
noite. — Compartilhamos sua dor. Eles eram nossos amigos.
Nada lhes respondeu. Nada saiu de entre as árvores, ou a Rosa
do Mar para aceitar seus presentes de luto. Então eles voltaram para
suas vilas e seus vizinhos fazendo a pergunta: — Você acha que isso vai
fazer diferença?
E eles responderam: — Saberemos em breve.

****

Eles observaram os predadores bípedes. E eles ouviram, e não


apenas as espécies mais simples, mas o próprio mundo.
Os humanos quebraram o limite das terras que Namid deu a eles
e o país selvagem que pertencia aos indigenes da terra.
Não havia limites agora. Não nesta parte do mundo. E quando não
havia limite, os dentes e as garras de Namid sabiam o que tinha que fazer.

****

Raiva afiada direcionada ao vento era manipulada pela Elemental


chamada Ar no Cel-Romano, arrancando árvores para formar barreiras

355
nas estradas. Uma raiva silenciosa retumbou ao longo da pele da
Elemental chamado Terra, que fazia tremer o chão sob os lugares que
foram construídos as armas que voavam. Fúria choveu ao longo da costa
e caiu no Mar Mediterran, chamando a atenção do antigo Tethys, o
Elemental que cuidava do mar.
Então o vento, o tremor de terra e a chuva desapareceram como
se nunca tivessem existido e os humanos no Cel-Romano começaram a
acreditar que isso era tudo o que os indigenes da terra poderiam fazer,
começaram a acreditar que eles tinham conquistado os Outros e iriam se
apossar de toda essa nova terra.
Começaram a relaxar.

****

Fluindo ao redor de sua casa nas Ilhas Fingerbone, Alantea ouvia


as histórias que as ondas traziam do mar agitado das cinco irmãs, que
sabiam muito sobre Thaisia. Ela ouviu os gritos de raiva provenientes da
costa ocidental do Cel-Romano e o estreito que ligava o seu domínio e a
casa de Tethys.
Houve algum tipo de trabalho maligno entre o Cel-Romano e
Thaisia, uma corrente que não tocou nas outras partes do mundo. Pelo
menos ainda não.
Uma pergunta veio de Thaisia não muito tempo atrás, e ela e os
gards que moravam em seu domínio tinham ajudado a encontrar a
resposta. Poderiam fazer um pedido em troca de algo?
E quando ela tivesse a resposta, ela iria decidir o que fazer.

****

Para: Tolya Sanguinati

356
O Avô quer que você fique em Prairie Gold e o mantenha informado
sobre o que está acontecendo nessa área. Ele está especialmente
interessado em ouvir sobre as notícias humanas que não estão
sendo relatadas.
-Vlad

****

Para: Crispin James Montgomery

Não há comboios em funcionamento. Sairei com Sierra e suas


meninas assim que puder. Cyrus está ligando várias vezes, querendo ser
incluído nesta visita, e não disse nada sobre trazer sua esposa e
filhos. Uma vez que eu disse a ele que estávamos com o seu chefe, ele
perdeu o interesse, mas não significa que ele não vai se interessar
novamente. Pensei que você deveria saber.

-Mãe

357
CAPÍTULO 39
Watersday, Juin 23

Com exceção de Meg Corbyn, todos os humanos que residiam


atualmente no Pátio passaram a noite em outro lugar, mesmo que só
atravessando a rua. Merri Lee ficou com Ruthie e Kowalski; Nadine
Fallacaro dormiu no sofá dos Denbys, enquanto Chris Fallacaro dormiu
em um saco de dormir emprestado; e ele e Lizzy ficaram na outra metade
do duplex do Capitão Burke, que havia sido ocupado pelos Denbys.
Burke lhe disse que ele era bem-vindo a utilizar essa metade do
duplex como residência temporária ou mesmo alugá-lo se ele quisesse
ficar, em vez de ficar no apertado apartamento do Pátio ou no
apartamento de um quarto que ele tinha alugado assim que chegou a
Lakeside. Enquanto a oferta fosse generosa e Monty não tinha dúvida que
Burke iria respeitar sua privacidade, ele não podia contar com as horas
de trabalho regulares, especialmente agora e ele iria acabar deixando
Lizzy com Eva Denby ou Ruthie Stuart de qualquer maneira. Mais fácil
para todos se Lizzy ficasse em frente de seus cuidadores e companheiros.
E apesar da virada de ontem, o Courtyard ainda era o lugar mais
protegido na cidade.
Tantas coisas que ele gostaria de discutir com Burke e nada que
qualquer um deles pudesse dizer com a criança de sete anos de idade, e
o Urso Grr, sentados no banco de trás.
— Papai?
Monty olhou por cima do ombro. — Sim, Lizzy?
— Nós realmente não podemos assistir TV ou desenhos hoje?
— O Tribunal deu a sentença. Nada de desenhos ou TV por uma
semana inteira.
— Mas o Urso Grr e eu não fizemos nada de mal.

358
— Vocês foram cúmplices. — Ele viu os lábios de Burke se
contorcendo.
Lizzy não ficava sem a companhia do Urso Grr, assim como não
ficava sem o brinquedo de pelúcia anterior, o Urso Boo, que foi seu
companheiro constante. O Urso Grr, cuja cabeça e patas foram
esculpidas por Henry Beargard, mais parecia uma consciência, que era
menos inclinado a ir junto com as brincadeiras mais irregulares.
Mas o Urso Grr não poderia desencorajar todo o mau
comportamento, especialmente quando ele foi iniciado por outra pessoa.
Monty suspeitava que, a partir de agora os dentes de Nathan
Wolfgard seriam um elemento de dissuasão mais eficaz a esse respeito.
Lizzy tentou novamente. — O Urso Grr acha que talvez não precise
de uma semana inteira para nos comportarmos melhor.
— Será que esse Tribunal não pode demonstrar alguma
clemência? — Burke perguntou silenciosamente a questão sem levar para
o banco de trás.
— Não com a minha experiência, — Monty murmurou. Até ontem,
quando a viu no modo de mãe com raiva, ele tinha pensado em Eve Denby
como uma mulher prática, energética e amável. Na noite passada, ele
considerou o que aconteceria com qualquer apelo por misericórdia uma
vez que Eve se juntasse com sua mãe, Twyla.
Deuses! Se ele ainda fosse uma criança, ele daria a Pete Denby
metade da sua mesada para ser o advogado de sua causa.
Monty virou o rosto para esconder o sorriso.
— Papai?
— Não sei, Lizzy. Eu nunca me coloquei diante daquela juíza em
particular antes.
— Oh.
A discussão aliviou o clima no carro até que Monty deixou Lizzy
no apartamento dos Denbys, e ele e Burke se encaminharam para a
estação Chestnut Street.
— Nem pensei sobre isso na noite passada, — Burke disse. — Mas
havia alguma coisa na cozinha para o café?

359
— Não realmente, mas Eve tinha dito que Lizzy poderia tomar o
café da manhã com Sarah e Robert. — E ele gostaria de tomar uma
grande xícara, mesmo a servida no refeitório da estação. — Você já ouviu
falar alguma coisa de seus contatos?
Burke não falou por um longo minuto. — Alguns problemas ao
redor de Market Street. Problemas ao redor do que sobrou da
Universidade de Lakeside, bem como a Faculdade Técnica. Nada do que
não era esperado aqui. O Governador Hannigan fechou a região o mais
rápido possível, antes de acontecer qualquer tentativa de incêndio nas
aldeias Intui ou quaisquer outros assentamentos no interior do país
selvagem. E ainda estão em curso, suas ações poderiam ter salvado o
Nordeste, pelo menos parte do que está por vir, e praticamente destruiu
a sua chance de ser reeleito, mas os moradores de Toland não têm nada
a dizer sobre isso. E quando se trata de eleições, eles geralmente têm um
pouco a dizer.
— E quanto a outras regiões?
— Os novos boletins no rádio esta manhã falavam sobre alguns
triunfos humanos sobre os indigenes da terra.
— O que isso significa?
— Eu acho que vamos descobrir.

****

Vlad olhou para as imagens na tela da TV.


Não tiveram tempo suficiente para avisar a todos os Wolfgard, e
nem todos os lugares que os Wolfgard cuidavam, onde haviam aliados
humanos.
Quando os macacos inteligentes deixaram de ser
inteligentes? Será que eles pensam que apenas os humanos estavam
vendo estas fotos deles dançando ao redor de pilhas de Lobos
mortos? Será que eles pensam que só os humanos notaram os corpos dos
filhotes que foram mortos junto com os adultos? Claro, os humanos não

360
achavam muita coisa matar seus próprios jovens, então por que
hesitariam em matar outras espécies?
Tantos lugares. Tanto abate. Centenas, talvez milhares de Lobos
foram mortos em todas as regiões do Noroeste e Centro Oeste. Quantos
Wolfgard foram extintos nessas partes de Thaisia?
Então ele viu uma imagem que era diferente das demais.
O rosto de Joe se parece com isso.
— Meg. — Vlad desligou a TV, correu para fora de seu
apartamento, e subiu correndo as escadas para o apartamento de Meg,
apenas duas portas de distância do seu no Complexo Verde. Batendo
suavemente, ele tentou a porta da frente, esperando que fosse aberta,
esperando...
Ela abriu a porta apenas o suficiente para mostrar o rosto. —
Meg?
— Vlad?
Ela abriu a porta e ele entrou. — Onde está Simon?
— Fazendo xixi nas árvores. — Ela inclinou a cabeça e cheirou a
si mesma. — Eu não sei quantas vezes eu e Sam fomos lavados ontem,
mas eu acho que ainda cheiro a vômito. — Ela estendeu o braço dela.
Ele considerou um ato de bravura sem igual quando caminhou
até ela e cheirou seu braço.
— Ainda? — Ela perguntou.
Ela parecia desanimada, então ele disse: — Não mais. — Ele não
apontou que Simon poderia ter uma opinião diferente.
Pegando as duas mãos dela, Vlad se aproximou. — Meg? Não
preste atenção nas notícias hoje. Não leia o jornal. Por favor. Como um
favor para mim, para Simon, para todos nós, apenas não.
— Por quê?
— Porque você viu o rosto de Joe. — E se você viu seu rosto, você
viu o resto.
— Isso realmente aconteceu?
— Sim.
— Simon sabe?

361
— Ele sabe que Joe está morto, mas ele não viu... — Não foi
possível concluir.
— Tudo certo, eu vou para o escritório. Haverá correspondências,
talvez algumas entregas. Mas eu não vou olhar o Lakeside News e nem
ligar o rádio.
— Ok. — O bando feminino seria obrigado a ver alguma coisa. Ele
não conseguiria impedir que todas vissem o que tinha sido feito, mas Meg
não precisava ver novamente. — Eu não tenho certeza se haverá
entregas. As linhas telefônicas estão congestionadas desde ontem. Mas
vou tentar enviar um e-mail para Jackson e descobrir como Hope está.
— E ele iria verificar com Steve Ferryman e descobrir como as cinco
jovens Cassandras de Sangue estavam; incluindo Jean.

****

Simon não tinha nenhuma intenção de ir para a livraria hoje. Ele


não queria fazer qualquer coisa humana, exceto passar seu tempo com
Meg. Do lado de fora.
Mas ele acabou na porta dos fundos da livraria antes de perceber
que não tinha as chaves. Ou roupas. Ele encontrou a porta dos fundos
da Bite meio aberta e rastejou para dentro, com medo de encontrar Tess,
se ela estivesse com um humor mortal.
Em vez de Tess, ele encontrou Nadine no quarto dos fundos
fazendo biscoitos assados.
— Não consegui dormir, então estou aqui há um tempo, — Nadine
disse. Ela fechou um recipiente que estava na beirada de sua mesa de
trabalho. — Entrega especial da Bakery Eamer, biscoitos Lobo. Eu acho
que eles chegaram cedo, muitos estão trabalhando. Muitos estão
acordando cedo. Ouvi dizer que você perdeu um amigo ontem. Meus
sentimentos.
Ele fez um curto lamento, para deixá-la saber que ele tinha
ouvido. Em seguida, ele foi até o arco que dividia ambas as lojas, e entrou

362
na Howling Boas Leituras. Não lidaria com a papelada e nem leria
qualquer e-mail. Ele tinha acrescentado um simples tronco de madeira,
se você não contasse com a escultura que Henry tinha feito na tampa do
mobiliário do escritório como um lugar para guardar um conjunto de
roupas limpas e um par de sapatos. Vestiu-se e desceu as escadas. Ele
iria verificar o estoque, arquivar alguns livros. Não ficaria por muito
tempo, já que ele não contou a Meg que ele iria para a livraria e ela estaria
esperando por ele no apartamento.
Quando ele entrou no estoque, ele ouviu um jornal na
bancada. Cópias do Lakeside News.
Pegando as chaves reserva na mesa do escritório, ele abriu a porta
da frente, pegou os jornais, e jogou-os na caixa. A manchete dizia: — O
Triunfo dos Seres humanos! — Abaixo das palavras havia uma foto que
enchia metade da primeira página.
Simon olhou para a foto. Olhou e olhou. Em seguida, ele
sussurrou: — Joe.

****

Servindo-se de uma grande caneca de café, Monty ouvia o


relatório de notícias da televisão e ignorou os olhares de alguns dos
outros policiais na sala de descanso da estação ouvindo as notícias e
vendo a “prova ilustrada” do triunfo do movimento HPU.
— Os humanos estão tomando posse de milhares de acres de terra
privilegiada através do ataque audacioso do HPU contra os indigenes da
terra, criaturas que causaram um grande estrangulamento em Thaisia por
décadas. Mas nem todos estão aplaudindo as ações do HPU na
recuperação de terras. Um fazendeiro perto da cidade do Meio Oeste de
Bennett disse:
— 'Eles são idiotas, todos eles. Minha família cria cavalos e gados
aqui por quatro gerações, e nós nunca tivemos problemas com os indigenes
da terra. '

363
— Quando perguntado sobre a perda de gado para os Lobos,
Stewart Dixon disse ao repórter: — É chamado de aluguel.
— E agora aqui vai um resumo das fotografias que foram enviadas
para as estações de notícias em todo o continente.
Monty observava as fotos aparecendo na TV uma por
uma. Ninguém falou, nem mesmo os oficiais que haviam apoiado o
HPU. Em seguida, a última foto apareceu e permaneceu na tela.
— Oh, deuses... — Monty sussurrou. A caneca escorregou de sua
mão. Será que Meg Corbyn viu isso...? É claro que viu.
Ele olhou para a porta, onde Burke estava. Sim, o Capitão
reconheceu o Lobo no topo do monte de corpos. Burke deu-lhe um aceno
de cabeça.
— Tenente? — Disse Kowalski, de repente ao lado dele. — Eu vou
pegar o carro.
Monty saiu da sala de descanso, sua mente correndo. As outras
fotos foram terríveis, mas era o rosto meio deslocado e reconhecível de
Joe Wolfgard que tornou a perda do Wolfgard em outra parte de Thaisia
tão pessoal.
Ele duvidava que Simon Wolfgard gostaria de ver um humano
hoje. Duvidava que Simon gostaria de ver um policial, ou se ele pudesse
perguntar sobre quaisquer desdobramentos que essas ações pudessem
ter para Lakeside. Mas hoje ele não estava indo para o Pátio como
humano ou policial. Hoje ele estava indo como um amigo.

****

Burke se moveu para o lado quando Montgomery e Kowalski


correram para fora da sala de descanso. Então ele encheu a porta,
impedindo qualquer pessoa de sair.
— Senhores, há uma guerra chegando. Apesar do que o HPU pode
querer que vocês acreditem, não será uma guerra apenas contra
os indigenes da terra. Serão humanos contra humanos. Vai ser uma

364
guerra entre aqueles que reconhecem que o trabalho com os Outros é a
única maneira de sobreviver neste continente e aqueles que acreditam
erroneamente que matar os shifters nos ajuda a ganhar. Vai ser uma
guerra entre os chamados amantes de Lobo e os adeptos do HPU.
Burke esquadrinhou a sala, notando quem encontrava seus olhos
e quem desviava o olhar. — Então eu estou dizendo agora. Se algum de
vocês, depois de olharem para essas imagens, está pensando em colocar
um botom HPU novamente, eu quero a papelada para a transferência ou
demissão primeiro. — Ele mostrou seu sorriso feroz. — Eu sei. Eu não
sou o Chefe da Estação. Eu sou apenas o Comandante de Patrulha e eu
não tenho nada a dizer sobre o pessoal sob os comandos de outros
Capitães. Mas eu estou dizendo a vocês aqui e agora se vocês não podem
ou não querem lutar ao lado dos Outros, a fim de salvar esta cidade, eu
não quero você nesta estação, porque ficar dividido dentro das nossas
fileiras vai matar todos nós. Eu não posso fazer nada para o resto do
continente, mas eu vou fazer tudo o que posso para salvar Lakeside, e,
se os deuses forem misericordiosos, e pouparem Lakeside, nós podemos
ajudar o Governador Hannigan a manter pelo menos parte da Região
Nordeste aberta para a habitação humana.
Ele virou-se, em seguida, voltou. — Não tentem achar que é algum
blefe meu. Eu estou com o Courtyard de Lakeside porque eu acho que é
a única maneira de salvar o povo desta cidade. Se você não pode ficar
comigo, você precisa sair até o final do dia.
Ele caminhou até seu escritório e não se surpreendeu quando
Louis Gresh veio logo atrás dele.
— Foi um discurso e tanto, — Louis disse.
— Você acha?
— Você começou falando sobre homens sendo transferidos para
fora desta estação, mas... Uma guerra humanos-contra-humanos quando
há outro inimigo em potencial?
— Eles não pensam sobre isso. — Burke estabeleceu-se em sua
cadeira. — Você mata um tipo de predador, você deixa um vazio. Mais
cedo ou mais tarde, algo vai preencher esse vazio, e, neste caso, eu acho

365
que vai ser mais cedo do que mais tarde. O HPU quer falar sobre a
recuperação de terras? Eles não têm idéia do que começaram, e eu não
tenho nenhuma idéia de quem entre nós ainda estará aqui para ver onde
isso vai terminar.

****

Decidindo manter visível a presença policial, Monty pediu a


Kowalski para estacionar no estacionamento de clientes do Pátio.
— Avise aos Denbys sobre as notícias, — Monty disse.
— Claro que algo que as crianças não devem saber. — Kowalski
parecia prestes a dizer algo mais, mas mudou de idéia.
Monty sorriu. — Vou consultá-los depois que eu conversar com
Simon.
— Não tenho certeza do que todos eles estão fazendo, mas as
meninas estão trabalhando com Meg no escritório do Liaison nesta
manhã, e Theral está no consultório médico.
— Então verifique elas também.
As luzes não estavam acesas na Howling Boas Leituras, mas a
porta da frente estava aberta. Essa porta não era mais aberta
normalmente, então Monty entrou cautelosamente, escovando levemente
a mão contra o revólver de polícia.
— Simon?
Um som. Algo se movendo sobre o outro lado da mesa de exibição
principal.
Cuidado, cuidado. Ele poderia sacar sua arma contra um intruso
humano, mas não contra um Lobo. Hoje não.
Então Simon levantou, agarrando a mesa por equilíbrio.
— Simon.
— Você fez isso. — A voz soou áspera, não completamente
humana. — Você fez isso.

366
— Eu vi a foto, Simon, eu sinto muito sobre Joe. — O que ele
estava tratando aqui? Choque? Raiva? Uma tristeza esmagadora?
— Quantos humanos os indigenes da terra devem manter? Bem,
você mostrou-lhes a resposta, não é? Você mostrou-lhes isso como um
exemplo do que significa ser humano.
Monty não teve tempo para se preparar para o ataque antes de
Simon agarrá-lo e batê-lo contra as estantes.
— Nós tentamos trabalhar com ele... — Simon rosnou. —
Nós... Tentamos... Mas você fez isso!
Mais que dor. Mais que raiva e choque.
— Do que você tem medo? — Monty perguntou. —
Nós? Humanos?
Simon o soltou e recuou, sacudindo a cabeça. — Medo de
vocês? Vocês serão extintos em breve. Por que devemos temê-lo?
Monty engoliu em seco. — Meg lhe disse isso?
— Não. Jean disse.
Deuses acima e abaixo!
Vlad saiu da parte de trás da loja. — Simon, Meg estava
procurando por você. — Ele olhou para o balcão. — Ela está no escritório
do Liaison agora. Você precisa convencê-la a ir para casa, deixar alguém
cuidar das entregas e pacotes de hoje. Os humanos estão falando. Ela
não precisa ouvir mais do que ela já sabe.
Simon olhou ao redor, como se perguntando por que ele estava na
livraria. — Eu não tinha a intenção de ficar muito tempo. Eu... — Ele se
dirigiu para a parte de trás da loja, mas parou e não encontrou os olhos
de Monty. — Aprendemos com outros predadores. Lembre-se disso,
Tenente.
Em seguida, ele se foi, e Monty foi deixado sozinho com Vlad. —
Há algo que qualquer um de nós possa fazer para ajudar?
Vlad foi até o caixa. Ele tirou uma cópia do Lakeside News da
pilha, dobrou-a e a colocou debaixo do balcão. — Você pode se livrar do
resto deles. Eu prefiro não colocá-los em nossa lixeira. Teria muita
chance de alguém ver o que não deveriam.

367
— Claro. — Ele iria levá-los para a estação. Ele pensou que Eve
Denby não iria querer ver a foto de primeira página em sua lixeira
também. — Algo mais?
— O que mais você acha que a polícia pode fazer?
— Eu não estava perguntando como um policial.
Silêncio. Então Vlad disse baixinho: — Pergunte novamente em
um par de dias.
Monty deixou a livraria, jogou os jornais no banco de trás do carro
patrulha, em seguida, atravessou a rua para o apartamento dos Denbys.
Um pequeno Tribunal com a Juíza estava em pleno andamento na
mesa do café da manhã, os jovens infratores tentando reduzir sua pena.
Dia errado para perguntar sobre ver TV, pensou Monty.
— Não significa não! — disse Eve.
— Mas eu me machuquei, — Robert protestou, exibindo os
cotovelos e os joelhos arranhados antes de apontar as contusões
causadas pelos dentes de Nathan.
— Se houver quaisquer outros pedidos sobre sua sentença, você
será culpado por desobediência ao tribunal, e 'sem sobremesa' será
adicionado à sentença.
As meninas, Monty notou, estavam se mantendo muito
tranquilas. E, a julgar pelo olhar nos olhos de Lizzy, ele precisava ter uma
conversa com ela sobre a lesão que poderia causar se ela golpeasse
alguém semelhante a Robert com o Urso Grr, já que o seu novo amigo
tinha uma cabeça e patas de madeira.
Então novamente, o menino estava sendo um pouco cabeça dura
também.
— Tal como o seu pai, e seu advogado, eu o aconselho a aceitar a
sentença que você já tem e não dar a Juíza qualquer razão para adicionar
mais alguma coisa. — Pete disse.
Quando terminou toda a discussão. Monty aceitou uma xícara de
café e um pedaço de pão, e se perguntou quanto tempo essas coisas
seriam uma parte normal de uma refeição.

368
Depois que as crianças foram para seus quartos para fazer suas
camas e fazer uma arrumação geral de inspeção, Eve serviu mais café
para os três adultos.
— Nós ouvimos, — Pete disse calmamente. — Vi apenas o
suficiente das notícias desta manhã para... Deuses.
— Qualquer coisa que possamos fazer? — Eve perguntou.
— Essa é uma pergunta a fazer em alguns dias. — Monty levantou
e colocou o copo e prato na pia da cozinha. Um momento depois, Eve
ficou ao lado dele.
— O que acontecerá em um par de dias?
Ele olhou pela janela para ver um agradável dia de verão. Então
ele suspirou. — Eu gostaria de saber.

369
CAPÍTULO 40
Moonsday, Juin 25

Os computadores nas redações selecionadas em cada região de


Thaisia emitiam ruídos baixos enquanto baixavam uma foto digital
enviada do jornal de Bennett. Quando a transferência foi completada e
tinha uma cópia impressa para os editores reverem, muitos ficaram
tensos, outros olhavam duramente a imagem, e depois olharam entre si
dizendo: — O que...?
A foto era de uma placa antiga pregada em um poste, e pintada
em vermelho havia as palavras: APRENDEMOS COM VCS.
Os editores Intui tiveram um sentimento muito ruim quando
viram a foto, e eles soaram um alarme para todas as comunidades Intui
ao seu alcance. A maioria dos editores responsáveis pelos jornais em
cidades humanas decidiram que era algum tipo de brincadeira para
desperdiçar espaço na primeira página, mas alguns enviaram um
repórter para verificar uma história em potencial.
E algumas estações de televisão, depois de receberem a foto,
enviaram repórteres e câmeras para Bennett para saber mais sobre a
placa como sendo uma história do movimento Humanos, Primeiros e
Últimos, triunfantes na recuperação de terras.

370
CAPÍTULO 41
Windsday, Juin 27

Um jovem repórter de televisão observou a precipitação da terra


enquanto o trem acelerava em direção à cidade de Bennett.
— Será que é a mesma placa? — Outro repórter perguntou,
apontando para fora da janela.
NÓS APRENDEMOS COM VCS.
— Eles não aprenderam muito, — alguém no trem disse com um
sorriso de escárnio.
O jovem repórter olhou ao redor do vagão e fez uma
careta. Repórteres e seus cinegrafistas de vários jornais e estações de
televisão eram os únicos passageiros. Claro, tinha havido um bloqueio de
viagens no Nordeste pelo governador maluco, mas isso foi logo resolvido,
apenas algum tipo de manobra política. E ainda havia outras pessoas a
bordo do trem em Shikago. Talvez a ferrovia tivesse reservado um vagão
para os repórteres?
NÓS APRENDEMOS COM VCS.
O repórter consultou o relógio. Outra dessas placas perto da
estação ferroviária de Bennett há poucos minutos agora.
Engraçado como o editor de um jornal de Bennett que enviou a
primeira foto não tinha respondido aos e-mails ou aos telefonemas de
qualquer uma das estações de TV ou jornais que enviaram repórteres
para saberem mais sobre a história. Foi quase como se o homem não
quisesse ser incomodado com eles após o envio daquela foto.
O trem parou na estação.
Não havia passageiros esperando para embarcar. Não havia o
pessoal da estação à vista.

371
A jovem repórter desembarcou com o resto dos jornalistas. Um
estranho silêncio enchia a estação, um silêncio que parecia infiltrar em
sua pele e despertar uma compreensão primal.
Os jornalistas deixaram a estação em um grupo, à procura de um
táxi ou ônibus para que eles transportassem seus equipamentos. O que
eles encontraram foram carros ao redor das ruas, muitos estacionados a
esmo, como se os motoristas tivessem deixado os veículos com pressa.
Não havia pessoas andando. Não havia músicas saindo de rádios
ou programas de televisão das janelas abertas.
Algumas lojas estavam fechadas. Outras tinham luzes acesas e as
portas abertas.
Um cinegrafista parou de repente e ele ofegou, — Deuses acima e
abaixo. — Ele correu em direção de um beco com o que ele tinha visto, e
os demais jornalistas o seguiram para verificar além dos edifícios.
O jovem repórter avançou junto com os outros e olhou para o
monte de corpos. Jovens. Velhos. Alguns usando os uniformes de sua
profissão. Outros usando roupas casuais. Na frente do monte de corpos
outra dessas placas: NÓS APRENDEMOS COM VCS.
É toda a cidade, o repórter pensou, sentindo os murmúrios,
alguém vomitando, vozes abafadas. Alguma coisa matou toda a cidade e
empilharam os corpos... Imitando as matilhas de Lobos que foram
aniquilados pelo HPU, até o último filhote.
Ele estremeceu. — Eles ainda estão aqui, — ele sussurrou
enquanto recuava, tentando olhar para todos os lugares ao mesmo tempo
e se perguntando se algum humano na cidade viram o que os tinha
matado. — Nós temos que voltar para o trem, temos que fugir. Eles ainda
estão aqui.
Alguns cinegrafistas filmaram um pouco. Os repórteres dos
jornais tiraram fotos digitais. Mas o medo do trem saindo da estação e
deixando-os para trás apagou qualquer desejo de fazer um relatório ao
vivo em uma cidade morta.

372
À medida que corriam de volta para a estação de trem, o jovem
repórter ouviu um som que poderia ter sido o vento nas árvores, ou nas
proximidades, o som de alguma coisa rindo.

****
Para: Tolya Sanguinati

O avô Erebus decidiu que você vai assumir o controle da cidade de


Bennett. Os Sanguinatis do Courtyard de Toland estão indo até você agora
junto com alguns dos Wolfgard que já trabalharam com você. Alguns
dos indigenes da terra de Toland irão se juntar a Stavros quando ele
assumir em Talulah Falls. O resto irá para as regiões Centro Oeste e
Noroeste, gerindo algumas das cidades recuperadas que têm
ferrovias. Esses lugares ainda são de valor para nós.
Dê este aviso para os humanos que ajudaram a salvar os filhotes
de Lobo em Prairie Gold: não há segurança no escuro.

-Vlad

****

Para: Vladimir Sanguinati

Sua mensagem foi recebida e entendida. Eu tenho considerado


quais empresas são imediatamente mais necessárias e vou perguntar para
Jesse Walker suas recomendações. Apesar de ter alguns Wolfgard em
Bennett, uma espécie de Executor seria benéfica, então poderia pedir a
alguns dos Lobos de Toland para virem para o assentamento indigenes da
terra de Prairie Gold? A Babá da matilha é a única Loba adulta
sobrevivente, e alguém precisa ensinar aos jovens como caçar. A carne de
bisão já foi armazenada, de modo que os jovens podem ser alimentados

373
por algum tempo, mas os Intui, não importa quão bem intencionados, não
podem ensinar aos jovens Lobos tudo o que eles precisam saber.
Além disso, todos os humanos que dirigiam os ranchos entre Prairie
Gold e Bennett foram mortos. A maioria das cercas que dividiam a terra foi
cortada e agora são bolas temíveis de arame farpado nos postes. Tobias
Walker me disse que o gado de corte pode se virar por conta própria
durante o verão, mas há outros animais que requerem atenção, incluindo
aqueles na cidade que os humanos mantinham como animais de estimação
e os animais de trabalho nas fazendas. Estamos fazendo o que podemos,
mas não há o suficiente de nós para cuidar desses vários animais, bem
como lidar com tantas outras tarefas. Será que os Anciões permitiriam que
alguns humanos Intui ou Simple Life, de preferência, pudessem vir a
Bennett sob a supervisão dos Sanguinati para lidar com tais coisas?

-Tolya

374
CAPÍTULO 42
Thaisday, Juin 28

Meg tentou não pairar em cima de Henry enquanto ele media a


madeira onde ela queria manter as cartas de profecia.
— Você vai querer alças para levantar a caixa da gaveta, sem
prender os dedos, — Henry disse.
— Ok. — Ela não tinha considerado a mecânica de levantar a
caixa. — Eu gostaria de uma tranca. Com uma chave. Duas chaves.
O Urso deu-lhe um longo olhar. — Nós podemos conseguir uma
tranca e chaves.
— Não tem que ser uma caixa de fantasia.
Outro longo olhar. — Você vai ter o que eu fizer.
— Eu só queria dizer... — Havia alguma coisa, mas não era uma
picada ou um zumbido, sussurrando através de sua pele. Esta não era
uma profecia ou visão. Este foi um lampejo de compreensão. Apesar, ou
talvez por causa da turbulência que estava acontecendo em toda Thaisia,
Henry não estava trabalhando em suas esculturas, mas ele precisava de
algo para ocupar seu tempo enquanto tinha que ficar em forma humana
para ajudar Simon. — Obrigada. Umm... Ruthie e Merri Lee disseram que
deveria haver um forro de tecido. Elas vão procurar informações sobre
tarô e suas cartas para ver se a caixa dever ter certo tipo de tecido, e, em
seguida, elas vão verificar com a costureira para descobrir o que pode
estar disponível.
— Diga-lhes para falarem comigo sobre o tamanho que você
precisa. — Henry pensou por um momento. — Não, eu falo com Ruthie. A
Associação Empresarial tem outras coisas a discutir com ela.

375
— Ela não está em apuros, está? — Meg não conseguia pensar em
nada que Ruthie, ou Merri Lee ou Theral, pudessem ter feito que pudesse
perturbar a Associação Empresarial.
— Ninguém no bando feminino está em apuros. Pelo menos não
com a gente. — Henry fechou a gaveta e veio ficar ao lado dela. — Não há
mais pacotes chegando que devemos saber? Você poderia nos dizer se
houver?
Ela piscou com seu tom feroz. — Por que eu não haveria de
dizer? Nós não estamos recebendo muitos pacotes. Eu acho que ninguém
no Pátio está requisitando qualquer coisa dos catálogos agora, então isso
não é incomum.
— Nada de Jack Fillmore caçando Theral?
Oh. Esse tipo de pacote. — Não. Nada daqueles chocolates. Talvez
ele tenha deixado Lakeside.
— Ele tem o cheiro de sua presa, Meg. — A voz de Henry era um
pouco rouca e suave. — Ele vai manter a caça até que consiga pega-la,
ou nós vamos pegá-lo.
— Então eu vou continuar observando.
— Arroo!
Meg olhou através da porta de entrada para a sala da frente. —
Nathan chegou.
Henry dobrou o papel com as medidas para a caixa e o colocou no
bolso.
— Henry? — Meg considerou a sabedoria de fazer uma pergunta.
— Deixa pra lá.
Henry saiu do escritório do Liaison. Meg o ouviu saindo, mas não
ouvir o portão abrir do seu quintal. Deve estar indo diretamente para o
seu encontro com Ruthie.
Ela pegou o caderno de anotações de alimentação da gaveta, que
agora ocupava vários cadernos abrangendo uma série de temas,
incluindo o Guia das Profetisas de Sangue. Não, não havia muitos
pacotes sendo entregues, mas eles estavam recebendo alguns itens que
ela tinha encomendado em quantidade. Ela teria que falar com o Simon

376
e o resto da Associação Empresarial sobre como essas prestações seriam
distribuídas entre os moradores do Pátio, mas isso teria que esperar.
Ela fez como Vlad solicitou. Ela não tinha assistido o noticiário da
TV, nem o rádio ou mesmo tentou espreitar o jornal. Não foi dito, mas foi
entendido entre eles que, quando as repercussões causadas pela morte
do Wolfgard no Centro Oeste e Noroeste fossem concluídas, Vlad iria
trazer o Lakeside News.
Ela se perguntou se nunca iria ler um jornal de novo, e enquanto
ela se perguntava, ela abriu a gaveta que continha as cartas de profecia
e passou a mão sobre as costas delas.
Não sei o suficiente sobre como trabalhar com elas, ela discutia
consigo mesma. Ninguém sabe se escolher algumas cartas é realmente o
mesmo que falar uma profecia. Profetisas de sangue podem não ser
melhores em ver o futuro do que o Intui quando eles usam essas mesmas
cartas.
Mas ela sentiu uma pontada de alfinetes e agulhas na mão
escovando as cartas, e a sensação rapidamente se transformou em um
zumbido.
Tudo bem então. Faça uma pergunta. — Quais são as
repercussões dos humanos matando os indigenes da terra?
Ela continuou passando os dedos sobre as cartas; tocou em uma
e a virou, sentindo uma pontada de zumbido doloroso. Mantendo os olhos
fechados, ela colocou as cartas de profecia para baixo sobre o
balcão. Uma carta. Duas. Três.
Meg abriu os olhos, virou as cartas, e olhou para a resposta à sua
pergunta.
A primeira carta ela pensava como sendo uma carta de um
Elementar: tornado, furacão, avalanche, terremoto. A segunda carta era
uma das criaturas que Jester insistiu que não era faz-de-conta. A terceira
carta era a figura encapuzada segurando uma foice.
Meg voltou às cartas para a gaveta, em seguida, passou a mão
sobre todas elas novamente. — O que vai acontecer com Lakeside?

377
Sem espinhos de qualquer tipo. Isso não poderia estar
certo. Algo estava prestes a acontecer em Lakeside.
Ela fechou os olhos e passou a mão sobre as cartas novamente,
repetindo a pergunta mais e mais.
Nada. Em seguida, os espinhos ficaram mais fracos.
Ela moveu as cartas, usando as duas mãos para localizar a fonte
desse formigamento.
Encontrei!
Ela abriu os olhos, olhou para a carta, e franziu a testa. A única
coisa na carta era um grande ponto de interrogação. Como seria uma
resposta?
Futuro indeciso.
Ela devolveu a carta e fechou a gaveta.
Ela não ia discutir isso com Simon ou Vlad, ou qualquer de seus
amigos humanos. Afinal, virar algumas cartas não era uma profecia.
Mas e se ela se cortasse e visse a mesma imagem? Ela iria perder
sua pele em uma questão que foi respondida, que iria perturbar Simon e
o resto de seus amigos. E uma vez que qualquer pessoa que ela pedisse
para ouvir a profecia iria argumentar sobre a necessidade de fazer este
corte, ela teria que engolir as palavras e suportar a agonia de não falar,
de modo que o corte não fosse completamente desperdiçado.
Futuro indeciso.
Por um momento desconfortável, ela se perguntou se a resposta
foi mais sobre ela do que sobre a cidade. Se ela não podia evitar a atração
da navalha para ver o futuro, como qualquer outra Cassandra de Sangue
iria?
Ela pegou o seu caderno de anotações de alimentos e entrou na
sala da frente, onde encontrou Nathan cochilando enquanto ela verificava
a lista de coisas que os humanos e os Outros, quando estavam em forma
humana, necessitariam ao longo dos próximos meses.
Indeciso ou não, Lakeside teria um futuro, assim como ela. Ela
não ia acreditar no contrário.

378
****

<Ruthie cheira a nervoso,> Henry observou.


<Pode ter algo a ver com quatro de nós de pé entre ela e a porta,>
Tess respondeu.
<E é um quarto pequeno,> Vlad acrescentou. <Mas os quartos
acima do nosso Centro Social não precisavam ser grandes para a forma
como eram utilizados.>
Simon, Henry percebeu, não disse nada.
— Os filhotes humanos precisam de escolaridade, — Henry
começou.
— Sim, — Ruthie disse. — Eu sei que Eve Denby e o Tenente
Montgomery estão preocupados tentando matricular as crianças em uma
escola.
— Eles precisam de escolaridade agora.
Ela piscou. — Agora? Mas... É verão.
— Sim. Então eles devem começar a aprender as coisas que eles
devem para esta temporada, como os nossos jovens fazem.
— Os adultos precisam trabalhar, e as crianças precisam de
atividades que irão ajudá-las a sobreviver, — Tess disse. — Uma vez que
eles têm idade suficiente, e independência o suficiente, para causar
problemas, eles têm idade suficiente para fazer algum trabalho, e para
aprender algumas habilidades.
Ruthie parecia alarmada. — Que tipo de habilidades? Quer dizer,
os humanos têm leis sobre o trabalho infantil.
— A lei humana não se aplica no Pátio, — Simon rosnou.
— O ponto é — Vlad interrompeu — as crianças humanas podem
receber aprendizagem supervisionada por um professor humano, que é
você, ou eles podem ser banidos do Courtyard a menos que sejam
acompanhados por um adulto humano.
— Ou podemos deixar que alguém como Nathan ou Blair os ensine
sobre o valor de obedecer aos adultos. — Henry assentiu quando Ruthie

379
empalideceu. — Você começa a entender. Nós toleramos muito de todos
os jovens, porque eles são jovens. Mas nossos jovens aprendem, bem
como brincam, durante todo o ano. E os nossos jovens agora incluem
qualquer jovem humano que passar o tempo aqui.
— Mas eu não tenho nenhum dos livros ou suprimentos ou-
— Encomende uma dúzia de conjuntos de livros para todas as
séries de escolaridade humana, — Simon disse. — Faça os pedidos de
suprimentos, os quadros-negros e outras coisas que uma sala de aula
precisa.
— Onde eles vão para a escola? — Perguntou Ruthie.
Vlad indicou a sala. — Aqui?
Tudo bem, mesmo com a cama sendo removida, poderia ser um
espaço apertado, uma vez que teriam que colocar mesas para as crianças
e o professor.
— Talvez pudéssemos fazer um dos apartamentos de escola
humana, — Henry disse. — Lorne não costuma ficar durante a noite, e o
bando da polícia em breve terão suas próprias covas outro lado da
rua. Estes quartos poderiam servir... Um dormitório? Há uma pia e vaso
sanitário aqui. Poderíamos colocar um microondas e um pequeno
frigorífico no quarto social e mudar as coisas.
— Mas eu tenho que ajudar os indigenes da terra a aprender
coisas humanas, e ajudar Meg com O Guia Profetisas de Sangue, —
Ruthie protestou.
— E você ainda vai fazer essas coisas, — Vlad disse. — Talvez você
possa ensinar as crianças de manhã e trabalhar em outras tarefas mais
tarde.
— O Tenente Montgomery me perguntou se havia um trabalho
aqui para a mãe dele, — Simon disse. — Talvez ficar com crianças seja
algo que ela possa fazer, já que ela vai ajudar a cuidar da Lizzy.
Ruthie puxou seu cabelo. Henry se perguntou por que os
humanos faziam isso. Ele tentou uma vez, depois de observar um
humano fazendo isso e não entendeu o motivo.

380
— Tudo bem. — Ruthie soltou um suspiro. — Eu posso ver a
necessidade de estruturar o tempo das crianças. Eu certamente entendo
o valor de cuidar do aprendizado delas, especialmente desde que o seu
tempo escolar foi interrompido. Mas Lizzy e Sarah têm sete anos e Robert
tem nove, então por que eu preciso encomendar livros das séries
anteriores ou posteriores da escola?
— É preciso encomendá-los agora porque eles podem não estar
disponíveis mais tarde, — Vlad disse. — Ou eles podem não ser mais
fáceis de obter.
Ruthie olhou para eles. — Você está falando sobre salas de aula
de apenas um quarto nas cidades fronteiriças que eu li nos livros de
história.
— Sim, — disse Henry. — Você deve pensar dessa forma.
Observando-a, ele se perguntou se deveria ter trazido uma cadeira
do quarto ao lado para que ela pudesse se sentar. Eles não tinham
pensado que estavam pedindo uma coisa tão estranha.
Finalmente Ruthie assentiu. — Eu preferiria um apartamento
para uma dessas salas. Vou precisar pensar sobre que tipo de instalação
funcionará melhor para acomodar as crianças e os adolescentes mais
tarde. E vou ver o que podemos arrumar com o mobiliário que temos.
— Nós vamos limpar um dos apartamentos com vista para a área
atrás da livraria e a Bite. É menos distração do que os apartamentos com
janelas com a vista para a Crowfield Avenue, — Vlad disse.
<Simon?> Henry perguntou. <Você concorda com isso?> O Lobo
parecia... Apático.
<Está tudo muito bem. Temos que ir para HBL. Alguns Elementais
querem falar com a Associação de Empresas.>
Simon, Henry e Tess se afastaram, dando acesso a Ruthie para a
porta, que Vlad abriu para ela.
— Você não disse a ela que os parentes do Tenente Montgomery
podem estar trazendo uma prole, — Vlad disse enquanto os quatro
deixavam o Centro Social e voltavam para Howling Boas Leituras.

381
— Eu não acho que faria diferença, — Simon respondeu. Ele
destrancou a porta da frente do HBL e entrou.
Não é bom, Henry pensou quando Terra, Ar, Fogo e Água se
viraram para eles, mas focados em Simon.
— Oceano tem uma pergunta e gostaria que você ajudasse a
encontrar a resposta.

****

— Conversa de menina, — Meg disse a Nathan antes de fechar a


porta particular. Já que ele não fez nada, apenas bocejou para ela, ela se
perguntou se ele já sabia o que as meninas precisavam discutir.
Após Ruthie contar sobre o seu encontro com a Associação de
Negócios, Meg olhou para as expressões nos rostos de suas amigas.
— Estudar no verão é estranho? — Ela perguntou. A menos que
uma menina estivesse realmente doente, uma Cassandra de Sangue
tinha aulas todos os dias.
— Normalmente há uma pausa no verão, mas eu entendo que os
Outros queiram as crianças meio encurraladas parte do dia, — Eve disse.
— E enquanto eu quero que meus filhos fiquem seguros, eu prefiro mais
grunhidos e menos dentes, e compreendo que todo o bando cuida e dá
disciplinas para os filhotes, e eles veem os nossos filhos como filhotes de
duas patas.
— Eles os veem dessa forma porque seus filhotes correm sobre
duas pernas parte do tempo, — Meg disse.
— Não é com o estudo durante o verão que eu acho
preocupante. É a Associação Empresarial querendo me pedir todo o tipo
de recurso para todos os seguimentos, — Ruthie disse. — Será que é a
maneira deles de dizer que as crianças humanas ligadas ao
Courtyard nunca mais serão capazes de irem para a escola com o resto
das crianças em Lakeside?

382
— Talvez. Ou talvez haja menos papel disponível para imprimir
livros, o que vai tornar mais difícil comprar livros escolares. — Merri Lee
encontrou os olhos de Meg. — Ou talvez os Outros estejam dizendo outra
coisa, Meg?
Ela não tinha a intenção de contar. Quando ela hesitou, Merri Lee
acrescentou: — Somente as meninas precisam saber? — Significa: nada
de partilhar, nem mesmo com seus parceiros e maridos.
— Futuro indeciso, — Meg disse calmamente. — Quando
perguntei o que aconteceria com Lakeside, peguei uma carta que tinha
um grande ponto de interrogação e nada mais.
— Você disse isso a Simon ou Henry? — Perguntou Ruthie.
Meg sacudiu a cabeça. Ela teria que dizer a Simon agora que ela
contou às meninas. Então ela disse as suas amigas sobre as outras três
cartas, e elas ficaram pálidas.
— Deuses, — disse Merri Lee. — O Capitão Burke fez uma grande
reunião, com todos os seus Oficiais, de todos os turnos. Michael ligou
para dizer que estava indo e não sabia quando ele teria uma chance para
sair.
— Vamos ligar para Steve Ferryman. — Meg virou para o balcão e
pegou o telefone. — Ele pode nos dar o nome de alguém que trabalha em
uma das escolas em Porto Ferryman. Eles já têm as listas de livros que
eles usam para cada ano. E um professor daquela vila pode conversar
conosco.
— Talvez devêssemos perguntar sobre os livros que seriam
relevantes para o estudo técnico também, — Ruthie disse. — Devemos
descobrir como as pessoas aprendem os ofícios entre os
Intui. Encanadores, eletricista, todo tipo de trabalho.
Meg fez a chamada. Steve foi útil, mas ela conseguiu senti-lo
pensando muito sobre o que ela estava pedindo e o porquê dela
perguntar. Afinal, o Courtyard não era o único lugar que deveria adquirir
livros escolares, ainda havia as cinco jovens Cassandra de Sangue que
moravam na Ilha Grande, assim como todas as crianças na nova

383
comunidade River Road, mesmo que eles frequentassem as escolas em
Porto Ferryman.
Ela anotou números de telefone e endereços de correio eletrônico
dos diretores de cada escola em Porto Ferryman e prometeu ligar
imediatamente para que eles preparassem o pedido.
— Meg, eu posso ficar aqui e ajudar com os telefonemas, enquanto
você e Ruthie correm até a Associação de Empresas e enviam os e-mails,
— disse Merri Lee.
— Qualquer coisa que você quer que eu faça? — Perguntou Eve.
— Até que os Outros tomem posse dos prédios, ou até que eles liberem
os móveis no apartamento para uma boa limpeza, não há muito para
fazer. Eu estava indo até o Complexo Verde para verificar o jardim, e ver
se ele precisava de alguma capina ou rega, enquanto Pete cuida das
crianças, mas isso pode esperar.
— Eu acho que nós cuidamos disso, — disse Merri Lee.
Alegria frágil, mas Meg pensou que todos eles se sentiam melhor
sobre ser capaz de fazer algo.

****

Monty esperava que todos os Oficiais de Patrulha sob o comando


de Burke aparecessem para a reunião, mesmo não sendo seu turno, e ele
não ficou surpreso ao ver o Comandante Louis Gresh e seu esquadrão de
bombas no atendimento, mas ficou surpreso ao ver os outros Capitães
que trabalhavam na estação de Chestnut Street na parte de
arquivos... Ou o que quer que isso fosse.
— Pode abrir um pouco de espaço?
Assustado com a voz, Monty deu um passo para o lado na
sala. Aparentemente, até mesmo o chefe da estação foi participar da
reunião parecendo apreensivo.

384
Burke estava atrás do pódio. — Agradeço a todos vocês por
responderem tão rapidamente. Serei breve para que vocês possam voltar
aos seus deveres.
Burke hesitou, e Monty sentiu um nó frio na barriga. Douglas
Burke não hesitava.
— Como a maioria de vocês sabem, eu tenho uma boa rede de
contatos quando se trata de obter informações. — Risos nervosos seguido
da declaração de Burke. — E o que vou informar é muito mais que um
palpite com base em fotos no noticiário de algumas das cidades do Centro
Oeste e Noroeste, e não é nenhuma história de acompanhamento; são
relatos de policiais que entraram em cidades onde não puderam acionar
ninguém da estação, nenhum policial ou algum membro do governo. —
Ele examinou o salão. — Com base nessas fontes, eu digo que
os indigenes da terra retaliaram cada cidade ou rancho de alguns
moradores que mataram o Wolfgard. Eles evisceram essas cidades, e em
alguns casos, literalmente. Os indigenes da terra mataram os humanos
da mesma forma que os Lobos foram abatidos. Em alguns casos, isso
significava que eles mataram tudo o que era humano, seja homem,
mulher ou criança. Em outros lugares, a aldeia humana mais próxima
recebeu um telefonema com humanos sobreviventes, e essas pessoas que
responderam a essa ligação encontraram todas as crianças na
comunidade juntas dentro de um edifício na orla da cidade. As crianças
saíram ilesas, por isso estou especulando que os jovens do Wolfgard
também escaparam da matança dos adultos.
Burke esperou um momento, deixando todos os homens
considerarem. — Senhores, eu vi algumas das fotos tiradas das pessoas
que morreram em retaliação. Essas mortes não foram feitas pelos shifters
que costumam ter contato conosco. Elas não foram feitas por qualquer
tipo de shifter que a maioria de nós já viu, e que nunca vamos ver
enquanto tivermos alguma chance de permanecermos vivos. Os
habitantes do verdadeiro país selvagem, as partes de Thaisia
que nunca foram tocadas por qualquer humano, não estão mais
dispostos a deixar que os shifters como o Wolfgard atuem como um

385
amortecedor entre eles e nós, porque nós acabamos de mostrar-lhes o
que podemos fazer, matando os indigenes da terra que estavam lidando
conosco. Então agora outros tipos de indigenes da terra estão à nossa
porta. Eles já tinham declarado que houve uma quebra de confiança e já
tinham limitado o uso e a restrição daquilo que passam pelas suas terras
conectando as cidades humanas. Eu acho que de agora em diante,
devemos assumir que não existe mais nenhuma forma segura de
passagem. Não para os veículos que circulam nas estradas; não para os
trens. Certamente não para os navios que viajam nos lagos ou rios.
Burke agarrou o pódio. — Esta próxima parte tem que ficar
apenas entre as pessoas nesta sala. Vocês serão tentados a dizer a outros
membros de sua família e amigos e seus vizinhos. Se fizerem isso, vocês
só irão causar pânico sobre algo que eu espero que nunca vá acontecer.
Extinção, Monty pensou e a sensação de frio ao recordar o
comentário de Simon sobre não temer os humanos, porque a maioria será
extinta.
— Cada membro da família deve fazer uma mala, — Burke disse.
— Um par de mudanças de roupa, produtos de higiene específicos para
cada pessoa, incluindo quaisquer medicamentos de prescrição
médica. Uma bolsa separada para os medicamentos gerais, material de
primeiros socorros, e itens essenciais para os adultos. Incluindo uma
lista de números de contas bancárias, bem como quaisquer documentos
importantes que vocês possam manter em uma caixa de depósito
segura. Mantenham esses itens em acesso fácil. Vocês irão querer que
sua família esteja fora da casa em meros minutos.
Silêncio. Olhares inquietos.
Louis Gresh limpou a garganta. — Podemos fazer essa mala, mas
se elas forem necessárias, onde nossas famílias deveriam ir? Se
os indigenes da terra irão nos atacar pelo que foi feito em outra parte de
Thaisia, e se não temos mais um meio certo de passagem pelo país
selvagem, os Outros vão atacar qualquer um que tente sair da cidade,
onde podemos ir?

386
— Aqui. — Burke parecia sombrio. — Estamos trabalhando com
o Pátio de Lakeside e ganhamos a confiança dos líderes. Eu acho que se
for colocada da maneira certa com Simon Wolfgard, ele pode saber como
evitar um ataque direto a este edifício e nosso pessoal. Ele poderia estar
disposto a nos ajudar.
— Capitão? — Kowalski levantou um par de dedos. — Porque
agora?
— Alguns de vocês conheceram o meu primo Shamus Burke, que
estava de visita, ele é da Brittania. Eu recebi um telegrama dele esta
manhã, que é a segunda razão pela qual eu convoquei esta reunião. —
Burke olhou para o Chefe da Estação. — Eu não sei o quão longe esta
notícia tem viajado através dos canais oficiais, mas a Aliança do Cel-
Romano tem atacado os indigenes da terra ao longo de todo o seu
território. Eles têm novos tipos de armamentos e aviões que podem voar
a uma grande distância e soltar bombas que podem destruir prédios e
matar um monte de gente, não importa sua forma. Eles
bombardearam os assentamentos indigenes da terra situados entre o
Cel-Romano e o país selvagem. As tropas estão seguindo logo atrás,
matando os Outros que sobreviveram ao bombardeio. A Aliança das
Nações expandiu suas fronteiras por vários quilômetros depois que
terminaram os ataques.
— E o que os indigenes da terra fizeram em resposta? — O Chefe
da Estação perguntou.
— Eles não fizeram nada. — Burke parecia mais sombrio, se isso
fosse possível, e pálido. — Eles não fizeram nada. E se você ler a história
de Thaisia e as especulações que foram escritas sobre os conflitos no
passado entre os humanos e os indigenes da terra em todo o mundo, lerá
que eles não fazem nada enquanto consideram as ações e o
comportamento dos predadores tentando tomar seu território. Essas
horas ou dias são geralmente a calma que precede um contra-ataque
catastrófico. Eu não tenho nenhuma dúvida de que os indigenes da
terra vão atacar o Cel-Romano. E talvez, se tivermos sorte, os Outros do
país selvagem irão compreender que os humanos do movimento HPU

387
foram o fator comum entre os ataques contra o Wolfgard em Thaisia e o
Cel-Romano tentando agarrar as terras que resultaram em um número
desconhecido de mortes indigenes da terra. — Ele fez uma pausa. — É
isso aí.
Monty saiu do salão com o resto dos homens. Não houve resposta
no apartamento de sua irmã, não houve nenhuma comunicação desde a
última mensagem de sua mãe. Elas poderiam estar em qualquer lugar
nesse ponto, e nenhum lugar era seguro.
— Devo pegar o carro, Tenente? — Perguntou Kowalski.
Monty assentiu. — Eu vou tomar um minuto para verificar
minhas mensagens; então estarei pronto para ir.

****

No final de sua fuga antes do anoitecer, Simon trotou até a parte


do Pátio onde os Elementais residiam.
Eles estavam todos lá, com exceção de Outono e Inverno.
— Lobo? — Ar disse. — Você tem uma resposta?
<Talvez.>
Ele tinha falado sobre isso com Blair e Nathan, com Henry, com
Vlad e Nyx. Ele falou até com Tess, a fim de moldar uma resposta para a
questão do por que os humanos que mataram o Wolfgard em duas regiões
de Thaisia, quando deveriam saber que a sua suposta vitória não seria
nada mais do que uma curta ilusão.
<Às vezes, uma matilha testa um rebanho para ver qual animal
seria a melhor presa. Mas se a presa já foi escolhida, alguns da matilha
vão atrás de outro animal, dividindo o rebanho, de modo que a verdadeira
presa fique em um grupo menor. Vamos atrás de um, a fim de obter
sucesso com a outra presa.> Simon olhou para os Elementais, mas não
tinha certeza se ele tinha dado a resposta que fizesse sentido para a forma
de indigenes da terra deles.

388
— Vá atrás de um, a fim de derrubar o outro, — Água disse,
pensativa. — Ataque em um só lugar para distrair o início do verdadeiro
ataque.
<Sim.> Simon tentou ficar quieto. Ele sentiu-se cercado por uma
carga perigosa, como uma tempestade que não tinha dado um único
estrondo de trovão de aviso antes de atingir o chão.
— Nós daremos suas palavras para Oceano, — Água disse.
Dispensado. Simon trotou de volta para o Complexo Verde,
movendo-se como se ele não tivesse cuidado. Ele achava que o Courtyard
não estaria em perigo do que estava por vir, desde que ele tivesse certeza
de que qualquer um dentro de suas fronteiras não fosse considerado
inimigo. Ele teria que pensar sobre como dividir o bando policial para
agrupar aqueles de confiança do Pátio, onde teriam tanta proteção
quanto os indigenes da terra que moravam aqui.
Quando chegou ao Complexo Verde, Meg saiu da sala de verão.
— Simon? Nós precisamos conversar. Você não tem que
mudar. Eu só preciso que você escute.
Ele não tinha certeza se gostava deste arranjo de não ser capaz de
expressar uma opinião que ela pudesse entender, mas ele podia ouvir
neste momento. Ele a seguiu para a sala de verão. Quando ela se sentou
em uma poltrona, ele se sentou na frente dela, suas patas dianteiras em
ambos os lados de seus pés, fazendo com que os joelhos dela escovassem
seu peito.
Ela disse a ele sobre as cartas que ela pegou quando ela
perguntou o que aconteceria por causa da morte dos Lobos. Ela disse a
ele sobre o ponto de interrogação depois que ela perguntou sobre
Lakeside.
— Não foi realmente uma profecia, mas eu pensei que você deveria
saber.
Ele pensou que era uma profecia bastante precisa. Jean teve uma
visão de Lakeside sendo um dos poucos lugares humanos que
sobreviveram. Agora Meg viu um futuro indeciso. Após o encontro com os
Elementais esta noite, ele iria concordar com isso. Quaisquer ações e

389
decisões que fossem tomadas pelos humanos e Outros nos próximos dias
iriam decidir o futuro de Lakeside.
Ele não queria que Meg se sentisse infeliz, então ele lambeu o
nariz dela e a fez rir. Ela se estendeu na poltrona. Ele se esticou ao lado
dela e pensou em machos e fêmeas humanas e como as mulheres na TV
muitas vezes se queixavam quando um macho não falava com elas, não
sabiam como se comunicar.
Mesmo quando ele estava em forma de Lobo, ele e Meg se
comunicavam muito bem. Talvez eles se comunicassem melhor do que
dois humanos, porque ela já esperava que ele não falasse.
Isso era uma coisa divertida para se pensar, então ele pensou e
cochilou e, quando adormeceu, ele deu várias lambidas amigáveis na mão
dela.

390
CAPÍTULO 43
As palavras se tornaram pensamentos transmitidos enquanto o
vento agitava a superfície dos lagos; como um gosto na grama; como a
fumaça de um incêndio natural de curta duração. Esses pensamentos,
essas ideias, se moviam rapidamente para o Norte, o Sul, o Oeste e o
Leste.
Provando esses pensamentos quando eles atingiram as ondas,
Alantea girou de volta em palavras.
Distração.
Desvio.
Ataque em um só lugar a fim de desviar a verdadeira destruição
que mora em outro lugar.
Eu posso criar distração.
Alantea enviou esse pensamento de volta para beijar a Costa de
Thaisia.
Podemos causar uma distração, ofereceram outros Elementais.
Eles esperaram que os dentes e as garras de Namid
respondessem.
Durante dois dias, os Elementais, desde o menor até o mais
poderoso, esperaram por uma resposta.
Então por um momento, um silêncio estranho e terrível formou
uma película sobre o mundo inteiro. Em seguida, ele foi embora,
deixando para trás uma resposta.
Distração.
Desvio.
Destruição da verdadeira presa.
Fim dos rebanhos.

391
****

O vento começou a soprar a partir da parte setentrional de


Thaisia.
O vento começou a soprar do Sul, provocando os Elementais da
água que moravam ao redor do Golfo, até que deram um tapa no vento,
criando ondas que deslizavam sobre as barreiras que os humanos haviam
construído para protegerem suas cidades.
Um dos Elementais conhecida como Terra pretendia provocar
uma birra com Pacifikus, o Elemental que governava o Oceano
Pacifik. Terra bateu o pé, em seguida, saltou sobre as costas do Tsunami
que correria para a Costa Oeste dos Thaisia. Pacifikus riu e montado em
Tufão, começou a perseguição, ainda indeciso se iria dirigir a tempestade
que se aproximava da maior parte do litoral ou correr com Terra e
alimentar a tempestade até atingir seu pleno potencial.
E ao largo da costa das Ilhas Orientais, Alantea montada em
Tufão, começou a cavalgar com o seu cavalo.

392
CAPÍTULO 44
Watersday, Juin 30

Hope franziu a testa para seu desenho semiacabado. A cabana


Wolfgard parecia bem. Assim como as árvores e a grama. Mas
o verdadeiro céu era de um azul claro, profundo, e o céu que ela
desenhou estava escuro e sinistro. As nuvens de tempestade tinham
sombras em que quase formava formas de criaturas com dentes e garras.
Ela arrancou o desenho de seu bloco de desenho e virou o papel
para o lado limpo. Ela não ia terminar esse desenho, mas Jackson lhe
havia dito que o papel poderia ficar um pouco mais difícil de encontrar,
para que ela não desperdiçasse o que ela tinha.
Ela bateu com o dedo na ponta do nariz do Lobo juvenil que estava
aprontando seus lápis de cor. — Esses lápis não são galhos para
mastigar.
O culpado fez um som como um resmungar culpado. Outro
juvenil fez um som que só poderia ser de riso. A próxima coisa que ela
soube, todos os jovens Lobos tinham abandonado os lápis e estavam
envolvidos em uma simulação de batalha de rosnados e corridinhas onde
eles perseguiam uns aos outros.
A tensão diminuiu de seus ombros quando ela pegou um lápis
preto. Desde o seu aviso histérico que havia frustrado um ataque contra
os Lobos, sempre havia um par de Lobos juvenis fazendo
companhia. Mais ao ponto, eles estavam observando atentamente
qualquer sinal de que ela ia fazer a coisa louca novamente. Os jovens não
tinham certeza do que aconteceu ou o motivo; eles só sabiam que os
adultos tinham respondido a uma ameaça que não podiam ver, e sua
Hope tinha dado o uivo de advertência em sua própria maneira.

393
Então eles observavam. Assim como os juvenis Falcões, Águias e
Corvos. Ela até mesmo viu uma grande pantera dourada olhando para
ela a certa distância.
Ela talvez devesse entrar e compor uma carta para Meg
Corbyn. Ou pedir a Grace se ela poderia ir até a cabana de comunicações
e enviar um e-mail curto. Ela não tinha certeza do que dizer, mas algo
parecia importante de repente.
— Hope? O que é isso?
Hope piscou quando se concentrou em Jackson, que estava
agachado ao lado dela. Por que o sol estava tão brilhante? Será que ela
tinha adormecido? — O que é o que?
Ele apontou para o papel. — Isso.
Ela se sentiu um pouco doente quando olhou para o desenho
simples, quase infantil, que ela não se lembrava de ter feito.
Um esboço de Thaisia, com o V invertido indicando cadeias de
montanhas. Linhas mais pesadas marcavam os limites das regiões,
embora houvesse uma linha mais pesada dividindo a Região Centro
Oeste, uma ao Norte e ao Sul. Mais de uma dessas linhas, ela tinha
desenhado uma lupa que revelava os postes e fios das linhas telefônicas
e dos telégrafos que corriam ao longo das estradas. Mas não havia linhas
ligando os pólos de cada lado da fronteira regional. Em vez disso, havia
crânios humanos empilhados ao lado da estrada como um monte de
pedras, e os pólos tinham marcas de garras profundas.
Jackson pegou o papel e o virou, estudando o desenho
semiacabado que mostrava uma tempestade.
— Eu poderia enviar um e-mail para Meg Corbyn? — Hope
perguntou.
Aqueles olhos âmbar do Lobo a estudavam agora. — Há algo que
você precisa dizer a ela?
— Eu não sei. Eu só queria enviar uma mensagem... — Enquanto
eu puder, ela terminou em silêncio.
— Eu tenho que entrar em contato com Simon Wolfgard. Posso
dizer que você perguntou sobre Meg.

394
Ela ouviu um rosnado baixo com suas palavras. — Eu causei
problemas de novo?
— Avisar-nos de um problema não é o mesmo que causá-lo. —
Jackson falou. — Mas não dê manteiga de amendoim e pão para os
filhotes. Essa é a sua comida.
— Eu não dei a eles, — ela resmungou. Ela só queria manter os
dedos mais do que ela queria comer o deleite. Claro, observá-los tentarem
mexer com a língua cheia de manteiga de amendoim presa no teto de
suas bocas foi muito engraçado.
Jackson suspirou e se afastou, levando o desenho.
Ela recolheu seu material, verificando a área para ter certeza de
que pegou todos os seus lápis. Ela iria permanecer sentada na varanda e
ler um pouco, ou iria ajudar Grace com as tarefas. Qualquer coisa que
pudesse mantê-la ocupada, para não ver o momento em que o céu
mudasse de um azul profundo e claro para as nuvens de tempestade que
estavam vindo.

****

Depois de colocar o desenho de Hope em um tubo de papelão,


Jackson correu para a cabana de comunicações. Um século atrás,
os indigenes da terra tinham pouco conhecimento da utilização dos fios
e postes que os humanos usavam para a comunicação. Eles cuidavam
da sua parte da terra e estavam cientes de grupos de indigenes da terra
como vizinhos. Isso era bom e necessário, especialmente para os jovens
Lobos que precisavam deixar suas matilhas a fim de encontrar
companheiros. E alguns Lobos mais aventureiros percorriam um longo
caminho simplesmente para aprender sobre outras partes de Thaisia e
os indigenes da terra que moravam por lá. Em algum lugar ao longo do
caminho, alguns deles começaram a entender o que fazia os fios e os
postes feitos pelos macacos inteligentes, que invadiam um pouco mais de

395
terra a cada ano até que os Anciões atacassem e se recusavam a desistir
de qualquer pedaço a mais do país selvagem para os predadores bípedes.
Os fios e os postes tornavam possível para os humanos falarem
uns com os outros em longas distâncias. Isso era muito bom, até mesmo
benéfico para os Outros, assim como os humanos, quando a conversa
era sobre a movimentação de alimentos de um lugar para outro, ou a
venda de cobertores onde seriam necessários. Mas os humanos usaram
os fios e os postes para planejar ataques contra os indigenes da terra, e,
agora ele era o único que sabia o que os Anciões tinham a intenção de
fazer por causa disso.
— Jackson?
Ele afastou-se da cabine de comunicações e esperou os homens
Intui alcançá-lo.
— As filhotes profetisas estão bem? — Ele perguntou.
— Estão bem, um pouco inquietas hoje, mas estão bem. — Eles
olharam um para o outro, então de volta para ele. — Você já ouviu as
notícias hoje? Não? O clima está estranho na Costa Oeste. Um tsunami
e um tufão colidiram, aumentando ambas as tempestades antes de varrer
a terra firme. Mas agora em vez de manter um foco, essas tempestades
estão aumentando de força de uma forma que irão abater a maior parte
da Costa Oeste. As pessoas que estudam o tempo não conseguem
explicá-la mais do que podem explicar porque não há ar frio descendo do
Norte e nem ar quente vindo do Sul. E há uma força indo de encontro a
esse furacão enquanto ele se move até a Costa Leste. Não temos certeza
se teremos condições de lidar com o clima que vem das montanhas do
Oeste ou do que vem descendo do Norte. Nós só temos a sensação de que
vai ficar mais difícil estes próximos dias.
Ele viu os Intui olhando para o tubo, e pensou sobre as nuvens
de tempestade que Hope tinha desenhado. Mais de um tipo de
tempestade estava por vir.
— Vai ficar mais difícil, — ele concordou.
— A coisa é, o fogo que se voltou contra os homens que tentaram
nos queimar não tomou toda a Endurance. E nós não descobrimos quais

396
moradores de lá foram a favor dos humanos do movimento HPU ou o que
eles iam fazer.
— Isso provavelmente é verdade.
— Alguns de nós teve a sensação de que deveríamos ir até lá nos
certificar de que essas pessoas têm provisões suficientes até passar essa
tempestade. Não está certo deixá-los sofrendo.
Se tivesse sido você, ou nós, eles teriam feito exatamente isso. Mas
talvez não. Todos os humanos podem ser o inimigo, mas nem todos são
ruins.
— Por que você está me dizendo isso? — Perguntou.
Uma hesitação. — Nós queríamos sua permissão. Talvez você
pudesse deixar alguém... Informar que estamos indo para Endurance
com o seu consentimento.
— Você tem a sensação de que precisa do meu consentimento?
— Oh sim, Jackson. Estamos certos de que precisamos dele.
Não havia mais tampões. Mesmo a terra usada pelos humanos
para as culturas ou pastagens iriam sentir a presença dos Anciões
agora. E qualquer humano que estivesse lá fora poderia não voltar para
casa.
Ele olhou para cima e viu a Águia sobrevoando. <Águia? Você
pode fornecer guarda e escolta para estes Intui? Se os Anciões
perguntarem, diga-lhes que dei a esses humanos a minha permissão para
visitar a outra aldeia.>
Um momento de silêncio assustado. <Eu vou guardá-los. E se for
solicitado, vou repetir suas palavras.>
— Vá logo, — ele disse aos homens. — Voltem para a sua própria
aldeia antes do anoitecer. — Ele hesitou, pois ainda era sua desconfiança
instintiva em trabalhar com os Intui que moravam em Sweetwater. —
Quando voltarem, vocês devem informar aos seus contatos Intui que as
linhas de comunicação podem ser cortadas entre as regiões. Eu acho
que nós vamos ser capazes de usar os telefones e enviar telegramas
dentro de cada região, mas vamos ficar isolados.
— Por quanto tempo?

397
Para sempre? — Eu não sei.
— Nesse caso, um de nós vai ficar para trás e começar a enviar o
alerta.
Acenando para os homens, Jackson entrou na cabana de
comunicações e cumprimentou o Corvo de plantão. Talvez Simon já
soubesse, ou tivesse ainda mais detalhes, e já estava fazendo planos para
o Courtyard de Lakeside. Mas os jovens Wolfgard em Prairie Gold
estavam vulneráveis. E a aldeia Intui era uma comunidade muito
pequena que poderia não sobreviver por muito tempo se fosse afastada
de todos os outros.
Ele tirou o desenho do tubo e estudou as nuvens de tempestade
no desenho semiacabado. Em seguida, ele colocou de volta no tubo e
pegou o telefone. Ele iria tentar chamar Simon primeiro, então Jesse
Walker e Tolya Sanguinati. Se ele entendeu bem o desenho de visão da
filhote Hope, não era apenas os Elementais que iriam devorar Thaisia.

****

Para: Todas as Aldeias e assentamentos Intui

As tempestades que se aproximam podem cortar as linhas de


comunicação por tempo indeterminado. Recomendamos que três ou quatro
aldeias com a melhor chance de sobreviver às tempestades se tornem
centros de mensagens para sua região. Também recomendamos que cada
aldeia envie um breve relatório à cidade designada diariamente para
confirmar seu estado.
Protejam suas fontes e animais da melhor maneira possível. Que
os deuses cuidem de todos nós.

Sweetwater, Região Noroeste

****

398
Para: Pater
Furacão subindo a Costa Leste. O apoio ao HPU está aumentando
rapidamente. O último navio está deixando Toland esta noite. Estarei
com você em breve para celebrar a vitória do Cel-Romano.
NS

399
CAPÍTULO 45
Watersday, Juin 30

Simon mal teve tempo de terminar o telefonema com Jackson e


transmitir as informações para Vlad antes de Steve Ferryman entrar
apressado da sala do estoque da Howling Boas Leituras, esquivando-se
de Vlad quando o Sanguinati tentou bloqueá-lo.
— Você viu isso? — Steve colocou um pedaço de papel no balcão.
Simon leu o aviso, em seguida, empurrou o papel na direção de
Vlad. — Ainda não vi esse aviso exatamente, mas acabei de falar com
Jackson Wolfgard, e ele basicamente disse a mesma coisa.
Steve soltou um suspiro. — Penny Sledgeman se nomeou o
coordenador da expedição da nossa área.
— Como prefeito de Porto Ferryman, você não deveria fazer tais
nomeações? — Vlad perguntou.
— Penny e minha mãe estão me ajudando a lidar com o dilúvio de
pedidos de informações sobre a Cassandra de Sangue, de modo que teria
ainda mais um trabalho. Minha mãe e meu pai estão trabalhando na
barcaça para trazer os suprimentos para a aldeia da Ilha; meu irmão está
se movendo o máximo que pode na balsa. Então se Penny quiser ajudar,
que o Rio a abençoe. Estou tentando avisar a todos a tempo para se
prepararem. — Steve fez uma pausa. — Você acha que vamos perder as
linhas de energia e de telefone? Bem, não há maneira alguma de você
saber, não é? Árvores destruídas podem derrubar linhas de transmissão
e acabar com a energia em toda uma área.
Pensando sobre as cartas que Meg selecionou em resposta a uma
pergunta, Simon olhou para Vlad. Até certo ponto, todos iriam sentir as
tempestades, mas não tinham razão para acreditar que as aldeias Intui

400
não enfrentariam os dentes e as garras de Namid, então por que assustar
Steve com muita verdade?
<Devemos dizer-lhe alguma coisa,> Simon disse.
Vlad se debruçou sobre o balcão. — É possível que as linhas de
energia caiam se as tempestades se tornarem muito graves. Mas algo
pode ser corrigido. A perda de comunicação entre as regiões deve ser
pensada há longo prazo, e os Intui e os indigenes da terra devem
considerar como compensar isso.
Eles observaram Steve considerando as implicações, e viu o
momento em que ele entendeu, assim como eles, que toda a forma de
Thaisia estava prestes a mudar.
— E quanto ao rádio? — Perguntou Steve. — E quanto à
televisão? Essas são formas de comunicação.
<Você acha que os Anciões irão considerar isso?> Vlad perguntou
a Simon.
<Não,>, ele respondeu. <Não há nenhuma razão para
considerarem isso. É bastante fácil para os Elementais silenciar essas
coisas se tornarem problemáticas.>
— Se forem usadas com cuidado, essas formas de comunicação
provavelmente permanecerão intactas, — Vlad disse.
— Tudo bem. — Steve esfregou o seu pescoço. — Eu vou passar
na Comunidade River Road agora e me certificar que todas as pessoas
que estão trabalhando nas casas deixem tudo fechado e seguro. Estamos
usando o antigo prédio industrial para armazenar os suprimentos, exceto
os alimentos. Oh, e um par de novos moradores chegaram ontem. Roy,
Panthergard? Ele agirá como um Executor para a comunidade?
— Ele vai lidar com os problemas se houver algum, — Simon disse
vagamente. Steve poderia descobrir por si mesmo o resultado final de
uma reunião de problemas com as garras de Roy. — Quem mais chegou?
— Dois pares. Ambos disseram que eram Lynxgard, mas, um par
da família eram Linces e outro par Bobcat.
— Um Gard pode especificar uma determinada forma, mas às
vezes serve como um brasão para os indigenes da terra que assumiram

401
formas de animais relacionados, — Vlad explicou. — O Beargard inclui
todos os tipos de formas de Urso. Panthergard inclui o que os humanos
chamam de panteras, pumas, leões da montanha, onças, leopardos e
provavelmente mais alguns nomes.
— Bom saber. — Steve afastou-se do balcão. — Eu estarei em
contato.
Eles esperaram até ouvir a porta de trás fechar.
— Primeiro vêm às tempestades, — Simon disse. — Em seguida,
os Anciões.
— Então vem a morte, — Vlad terminou. — Não haverá muita
misericórdia, se for esse o caso.
— E quanto à misericórdia que os humanos mostraram quando
mataram tantos dos Wolfgard no Centro Oeste e Noroeste? Quanta
misericórdia eles mostraram quando nos atacaram aqui? Ou quando eles
lançaram bombas sobre os indigenes da terra das fronteiras do Cel-
Romano?
— E é assim que devemos nos comportar?
Ele balançou sua cabeça. — Eu não quero esse tipo de
humano. Nós não podemos proteger toda Lakeside das tempestades ou
dos Anciões, mas podemos tentar proteger o bando humano. Se os
trouxermos para o Pátio, os Anciões podem deixá-los sozinhos.
— Alguns membros desse bando têm ligações com humanos que
não querem nada a ver conosco. Será que vamos abrigar um inimigo em
potencial, a fim de proteger um amigo?
— Não. Se alguém no bando humano com essa ligação não puder
nos aceitar, é escolha dele. — O telefone tocou. Simon rosnou para ele.
— Pode ser uma ligação sobre pedidos de livros, nós
ainda continuamos recebendo pedidos dos indigenes da terra.
Bom ponto. Ele pegou o telefone. — Howling Boas Leituras. Sim,
sou eu. Sim, lembro de você. — Ele deve ter começado a rosnar, porque
Vlad o cutucou. — Fique aí. Nós vamos buscá-lo. — Ele desligou e avisou
o seu amigo. — Não me cutuque.

402
— Só estou tentando ajudar. — Vlad acenou para o telefone. —
Quem quer uma carona?
— O Agente Greg O'Sullivan. E a matilha do Tenente
Montgomery. Eu vou com Blair buscá-los na estação de trem.
— Vou ligar para o Tenente e pedir ao Capitão Burke uma viagem
tranquila. — Vlad se dirigiu para a sala do estoque e para as escadas,
então ele parou. — Você sabe onde Michael Debany está agora?
— Ele estava trabalhando no jardim do Complexo Verde. Ainda
pode estar lá ou vindo para cá para se arrumar para o trabalho. — Simon
tentou sufocar a emoção quando acrescentou: — Ele estava montando
uma bicicleta no jardim.
Ele não tinha nenhum interesse em aprender a andar de bicicleta,
mas ele realmente queria perseguir uma. A pé, os seres humanos não
eram rápidos o suficiente para ser divertido brincar de presa. Exceto Meg,
mas isso era um tipo diferente de jogo de perseguição. Mas a bicicleta...
Esse jogo teria que esperar.
— Por que você quer falar com ele?
— Eu tenho algo para discutir com ele em nome de Tolya, — Vlad
respondeu.
Eles saíram pela porta dos fundos em conjunto, parando tempo
suficiente para dizer a Merri Lee que ela iria tomar conta da loja por um
tempo. então Vlad mudou para fumaça e se dirigiu para o Complexo
Verde, enquanto Simon esperava Blair trazer a van.
Quando uma matilha ficava grande demais, era difícil organizar a
caça para alimentar a todos. O problema era que os seus números
estavam inchando com predadores bípedes que não eram muito bons
para derrubar a carne.
Eles teriam que ganhar seu sustento, assim como todos os outros
no Pátio. Isso de não funcionar no verão era uma ideia estranha. Você
tinha que comer no verão, como em qualquer outra temporada. Esse era
um trabalho necessário e vital.
Não era ainda possível dizer se a tempestade que atingiria
Lakeside viria pelos Grandes Lagos ou a partir da Costa-Leste ou

403
ambos. Não havia maneira de saber quanto tempo eles teriam ainda para
trazer os suprimentos.
Enquanto esperava Blair, ele correu para o gabinete do Liaison
para dizer a Meg que ela e o bando feminino teriam que encomendar os
livros escolares hoje. Com um pouco de sorte, eles receberiam alguns
deles antes das tempestades e dos Anciões chegarem.

****

Vlad mudou para a forma humana e esperou Michael Debany


notá-lo antes de se aproximar do jardim.
Havia esse delicioso momento em que ambos os corações batiam
mais rápido, quando a presa e o predador se reconhecem
mutuamente. Mas com o bando humano, era realmente só um momento
curto de euforia antes de acalmar gerações de instinto.
— Oi, — Debany disse. — É bom olhar, você não acha?
Vlad não via nada de diferente desde ontem em termos de
alimentos comestíveis, mas ele balançou a cabeça. — É sim. Você tem
um minuto?
— Claro. — Debany tirou uma toalha e água de um pequeno
pacote. Ele bebeu profundamente, em seguida, derramou um pouco de
água sobre o rosto e o secou. — Está tudo bem?
Casual. Confiante. Ele pelo menos tentava.
— Você tem uma irmã.
— Sim, tenho. — A voz ainda era casual, mas os olhos estavam
desconfiados.
— Ela gosta de animais.
— Ela gosta. Ela tem escolaridade suficiente para se qualificar
como assistente de um médico veterinário. Minha família não tinha
dinheiro para pagar por mais escolaridade, então ela veio para casa para
encontrar algum trabalho e economizar até continuar mais tarde. Ela

404
estava querendo trabalhar com animais. Pegar um pouco mais de
experiência e prática e um cheque como pagamento, sabe?
O mesmo pode ser dito dos membros mais jovens de um Pátio. —
Ela já considerou morar no Oeste?
— Não pense que ela já tentou, mas com tudo o que aconteceu,
eu não quero que ela vá lá fora.
— Mesmo que sua segurança seja assegurada contra o que
poderia acontecer?
— Assegurada?
— Nós não podemos ser responsabilizados se ela colocar sua mão
em um buraco e for mordida por uma cascavel. Mas a regra não
comestível seria aplicável. — Vlad estudou o rosto de Debany. Postura
policial. Ouvindo, mas sem reagir. — Tolya Sanguinati está agora a cargo
de uma cidade chamada Bennett.
— Eu já ouvi falar dela. — A voz era plana.
— Então você também sabe que não há mais quaisquer residentes
humanos.
Um aceno de cabeça.
— Há, no entanto, os animais que sobreviveram das casas, e eles
precisam de cuidados, bem como os outros animais que foram deixados
para trás. Sanguinati e Wolfgard estão se encaminhando para Bennett,
bem como algumas outras formas de indigenes da terra. Alguns Intui
também estão a caminho para ajudar na administração das empresas
que são necessárias para manter a estação de trem. Não haveria muitos
humanos como ela lá, pelo menos não no início, mas seria uma
oportunidade de fazer o tipo de trabalho que você diz que ela quer fazer.
— Quem está cuidando dos animais agora?
— Eu não sei. Quem estiver na cidade no dia, eu acho.
Debany esfregou a toalha sobre o rosto. — Eu vou dizer a ela sobre
isso. Tem que ser escolha dela.
Um lembrete para mim ou você? Vlad pensou. — Bem, nós não
precisamos de uma resposta até atravessar estas tempestades. — E
descobrir o que vai sobrar de Thaisia depois.

405
****

— Obrigado por ter vindo nos buscar, — Greg O'Sullivan disse


quando Simon foi até os bancos da estação de trem onde o agente ITF
estava vigiando quatro fêmeas.
Simon quase lhe disse que Blair precisava vir até a estação de
qualquer maneira para pegar algumas coisas que tinha encomendado
para o Pátio, mas que poderia fazê-lo soar como se os humanos fossem
uma bagagem extra, então ele disse: — Está tudo bem.
Havia uma fêmea mais velha, magra e baixa, com a pele e olhos
castanhos, e seu cabelo curto era encaracolado com fios de prata
manchando o cabelo preto. A outra fêmea adulta era mais jovem, e tinha
o cabelo preto e a pele morena, mas seus olhos eram de um verde
surpreendente claro.
O'Sullivan fez as apresentações. — Esta é Twyla Montgomery, e
sua filha Sierra, e as meninas são Carrie e Bonnie. Senhoras, este é
Simon Wolfgard, líder do Courtyard de Lakeside.
— Podemos chamá-lo de Lobinho? — A menina sem um dente da
frente perguntou.
— Você pode chamá-lo de Sr. Wolfgard ou Sr. Simon, o mesmo
que você faria com qualquer outro adulto, — Twyla disse.
Ela não levantou a voz e nem ameaçou, mas ela subjugou o filhote
e não deixou nenhuma dúvida que esta questão não seria permitida
novamente.
Simon ficou impressionado e esperançoso agora que havia alguém
que pudesse manter os filhotes humanos em linha sem mordê-los. — E
como devemos chamá-la?
— Pode ser Twyla.
Talvez. Ele veria o que o Tenente Montgomery falaria sobre isso.
Os humanos estavam começando a notá-los, e não era inteligente
ficar. Simon pegou um par de malas ao redor das fêmeas e tentou se

406
lembrar das coisas que os humanos falavam sobre viagens. — Vocês
tiveram uma boa viagem?
— Foi muito bem quando conseguimos sentar em nossos lugares,
— Twyla respondeu. — Provavelmente nós ainda estaríamos na estação
em Hubbney se o Agente O'Sullivan não tivesse entrado.
— Oh? — Simon olhou para O'Sullivan, que também estava
carregando um par de malas que não eram suas. Simon sabia disso
porque a dele era uma mala escura, mas havia outras duas rosa brilhante
e cheirava como as pequenas fêmeas.
— Houveram alguns problemas com os trens que circulavam fora
de Toland; estavam priorizando determinados passageiros, — O'Sullivan
respondeu com uma voz tranquila. — Agora que os trens não estão
circulando após o anoitecer para evitar incidentes, há um atraso de
passageiros, e aqueles que podem se dar ao luxo de fazer um 'upgrade'
do seu bilhete receberam assentos. A Sr. Montgomery e sua família já
estavam sentadas na estação de Hubbney um dia inteiro quando cheguei
para pegar o trem para Lakeside. Quando ouvi que o seu filho era um
policial, eu intervim e dei a ferrovia a escolha de nos colocar no vagão
executivo ou fechar a estação enquanto o ITF investigava o tratamento
preferencial de alguns passageiros sobre os outros.
Simon sorriu. — Você tem dentes, O'Sullivan, mesmo sendo um
humano.
— Obrigado.
Eles lotaram a van com as malas e os seres humanos. Enquanto
se acomodava no banco do passageiro da frente, Simon ouviu o som
distante de um trovão.

****

Meg abriu o portão e entrou no quintal de Henry. Nathan ainda


estava no Gabinete do Liaison, e Jake estava pousado na parede entre a

407
área de entrega e o quintal, então ela teria muitos avisos se um caminhão
chegasse.
Ela correu até a porta do estúdio e bateu na entrada. —
Henry? Posso entrar?
O Urso se afastou de uma das suas esculturas e deu-lhe um olhar
interrogativo. — Quando você precisou perguntar?
Ela entrou e se sentou no banco onde ela podia vê-lo trabalhar
sem ficar no caminho.
— Estou feliz que você veio. Eu queria mostrar-lhe isso. — Henry
pegou um pedaço de madeira e veio sentar-se ao lado dela. — O que você
acha?
Não estava terminado ainda, mas ela podia distinguir uma árvore
no centro. Em cada canto da caixa, tocando alguns dos ramos, era algo
que representava cada uma das estações. — É maravilhoso. Esta é a
tampa para a caixa para segurar as cartas profecia?
Ele assentiu. — Quando chegar à hora, você pode me ajudar a
lixar as peças. Dessa forma, a madeira vai conhecê-la.
Ela correu os dedos suavemente sobre a madeira. — Eu gostaria
de fazer isso.
Ele pegou a peça e a guardou. — O que está em sua mente, Meg?
— Ele acenou de lado para ela não inventar uma desculpa. — Você não
costuma me visitar durante seu horário de trabalho, e todo mundo está
meio ocupado com os novos visitantes.
— Henry? Quanta humanidade é humano demais?
Em forma humana, Henry era um homem grande com o cabelo
castanho desgrenhado e os olhos castanhos, mas ele não
parecia humano. Pelo menos, não quando ela o conheceu. Agora? Será
que ela apenas tinha se acostumado a ele, ou ele perdeu um pouco de
sua selvageria nestes últimos meses?
— Isso depende para quem você pergunta, — ele respondeu.
— Os indigenes da terra não comentam. Os realmente
perigosos. Bem, você é perigoso também, mas... — Ela parou, com medo
de insultá-lo. Então ela continuou, porque ela tinha que saber. — Simon

408
trouxe mais pessoas para o Pátio, incluindo a família do Tenente
Montgomery, e isso é uma coisa certa a fazer, mas será que eles podem
pensar que ele está se tornando humano demais porque está gastando
mais tempo com os humanos? Ele pode ficar em risco? Eu causei isso?
Henry se inclinou para frente e apoiou os antebraços nas
coxas. Sua expressão foi de perplexidade para diversão quando ele
balançou a cabeça lentamente. — Você já tinha pensado nestas
perguntas Meg?
— Você acha que é engraçado?
— Engraçado? Não. Divertido? Sim. — Ele inclinou a mão para
trás e para frente. — Há sempre o perigo de tomar muito de uma forma,
mas eu imagino que essa tem sido uma verdade desde que o
primeiro indigene da terra tomou a forma de outro predador, a fim de
estudar sua forma de caça e tornar-se um caçador ainda melhor do que
o seu animal original. Mas os humanos são uma espécie estranha de
predador, pois eles também disputam entre si... — Ele encolheu os
ombros. — Sim, nós ficamos mais enredados com os seres humanos, e
não apenas em Lakeside. Sim, há um risco quando nos envolvemos muito
em suas preocupações de acabar esquecendo quem somos e o que a
nossa própria espécie necessita. Mas eu acho que Simon não vai se
tornar humano demais, não de qualquer maneira ruim. Você sabe por
quê?
Meg sacudiu a cabeça.
Henry sorriu. — Porque você não vai deixar.
Ela sentou-se e suspirou. — Tess é uma espécie meio mal-
humorada.
— Tess é Tess.
— Você acha que o Courtyard ainda será capaz de comprar os
edifícios de apartamentos do outro lado da rua?
— Nós vamos comprá-los. Os humanos têm que fazer a papelada,
mas isso é uma formalidade que deve ser concluída a qualquer momento
agora.

409
— Até lá, onde é que vamos colocar todo mundo? — No composto
onde ela havia morado, cada menina tinha sua própria cela. Ela não
tinha uma imagem de treinamento para ajudá-la a visualizar muitas
pessoas dormindo em um mesmo lugar, mesmo que temporariamente.
— Meg? Sempre pergunte o que precisar, e você não é a
responsável pelo bando do Tenente Montgomery; ele é.
— Bem, eu não vou cometer o erro de mostrar-lhes os cavalos!
A risada de Henry era rouca. — Como se Jester fosse deixá-lo
perto dos pôneis no celeiro com os humanos pequenos depois da última
vez.
Ela cometeu erros quando ela levou Lizzy para ver os pôneis. Ela
não tinha nenhuma razão para acreditar que outras meninas reagiriam
da mesma forma, tentando montar nos corcéis dos Elementais, mas ela
não ia ter essa chance.
Eles ouviram Jake grasnar.
— Parece que eu tenho uma entrega. — Meg falou. — Obrigada,
Henry. Eu gostei muito da caixa.
Ela correu para fora do estúdio, passou pelo quintal, saiu
correndo pela porta, e correu para a sala dos fundos do Gabinete do
Liaison. Ela chegou ao balcão da frente a tempo de ver o entregador se
afastando do seu caminhão. Os pacotes e sua prancheta com as
informações estavam sobre o balcão.
Ela levou os pacotes para a sala de triagem, em seguida, ligou o
rádio. Ela não tinha certeza de quanto tempo esteve ouvindo o relatório
do tempo quando percebeu que Tess tinha entrado.
Meg inclinou a cabeça para indicar o cabelo verde e vermelho
enrolado de Tess. — Você está se sentindo tensa.
— Assim como você. — Tess apontou para o braço de Meg, onde
seus dedos estavam cavando na pele. — Você está sentindo os espinhos?
Mais que isso. Pior do que isso. — Eu não fiz nenhum corte em
dias.
— Não vai nos dizer nada.
— Poderia nos dizer se vamos sobreviver.

410
Tess deu-lhe um longo olhar. — Não, eu acho que não irá desta
vez.

****

Simon levou o Capitão Burke e Agente O'Sullivan ao andar de


cima da HBL. — Vlad está verificando os e-mails, por isso vamos falar no
escritório onde ele possa nos ouvir. A menos que devamos esperar pelo
Tenente Montgomery? — Ele se sentia inquieto e não queria esperar. Você
poderia cavar uma cova na terra para escapar de uma tempestade ou se
esconder do fogo se não puder correr mais do que ele. Mas poderia se
afogar nessa mesma toca se a tempestade trouxesse uma inundação ou
se a terra tremesse em colapso, mantendo-o preso lá dentro. Shifters
como ele não eram o alvo das tempestades, mas seriam atingidos da
mesma forma.
— Não, o Tenente precisa de algum tempo com sua família, —
Burke respondeu. — Vou retransmitir as informações para ele assim que
todos se estabelecerem no duplex.
Como ele poderia dizer a esses seres humanos que ele iria tentar
salvar alguns, mas não podia arriscar tentar salvar os outros que
pertenciam à mesma matilha?
<O Sanguinati e Wolfgard chegaram a Bennett,> disse Vlad.
<Qualquer palavra de Stavros?> Simon perguntou.
<Não.> Vlad fechou o programa de e-mail.
Simon estudou Burke. — O Courtyard será um lugar seguro
durante as tempestades. Se a matilha do Tenente Montgomery ficar
muito longe, ele pode não ser capaz de trazê-los aqui a tempo.
— Meu duplex não é tão longe. Além disso, você já disponibilizou
mais acomodações do que você pode manter confortavelmente, — disse
Burke.
— As covas individuais não serão suficientes para os recém-
chegados terem seu próprio lugar aqui, — Simon concordou. — Mas há

411
camas acima do Centro Social que poderiam ser usadas para dormitório
e abrigo temporário. E os humanos dormem no chão às vezes. Kowalski
tem um cobertor para dormir no chão.
— Você está pisando suavemente aqui.
Simon deu um passo atrás, insultado. — Eu sou um lobo. Eu não
tenho pés de gato!
O'Sullivan riu.
Burke sorriu, mas o sorriso desvaneceu rapidamente. — Você está
oferecendo abrigo para os humanos? Por quê?
— Não apenas os humanos, — Simon disse ao mesmo tempo em
que Vlad disse: — Porque há uma tempestade se aproximando.
— Sim, há, — Burke concordou. — A única questão é qual direção
vai tomar, porque agora existem várias possibilidades.
— Capitão, a tempestade não é aquela que vai matar o seu povo,
— Vlad disse.
— Se a profecia de Jean sobre Thaisia está correta, Lakeside é
uma das cidades controladas por humanos que vai sobreviver. — Simon
não mencionou que Meg tinha visto o futuro de Lakeside como sendo
indeciso. Ele olhou para O'Sullivan. — Hubb NE é outra.
— Toland? — Perguntou O'Sullivan.
— Sim, mas a luz é fraca. — Ele não queria ser responsável por
humanos que ele não conhecia, mas ele acreditava que este gesto de
amizade iria ajudar a decidir o futuro de Lakeside, de uma forma ou de
outra. — Os policiais que conhecemos e seus parentes podem se esconder
aqui. Nós não pensamos que os dentes e as garras de Namid irão
prejudicar todos os humanos que estão conosco no Pátio.
— É uma oferta generosa, — Burke disse.
— Se houver inimigos do indigenes da terra entre os humanos,
nós não seremos capazes de proteger qualquer um de vocês. — Simon
olhou para Burke, desejando que ele entendesse. — Escolha com
cuidado.
— Eu venho organizando provisões para as famílias dos oficiais
que irão se refugiar na estação de Chestnut Street. Se eu puder enviar

412
alguns deles para cá... Eu vou apreciar muito. — Burke parecia estar
pensando seriamente por um momento. — Você acha que isso vai
acontecer em breve?
— Assim que uma das tempestades atingir Lakeside.
— Acho que eu não devo voltar para Hubb NE antes que as coisas
aconteçam, — disse O'Sullivan.
Simon balançou a cabeça. — Vou conversar com Elliot sobre
deixar você trabalhando para o consulado agora. Depois você pode ligar
para o governador Hannigan.
O'Sullivan olhou para Simon. — Ele já está reunindo toda a mão
de obra que pode no Nordeste para responder às tempestades. Existe
alguma coisa em particular que ele deva se preparar?
O ódio era agora um sabor na água, e a raiva um perfume no ar.
— Ele deve se preparar para a morte de monte de humanos.

****

Sentado na Bite, Monty bebia o seu café e ouvia tranquilamente


os problemas que sua mãe teve nos assentos de trem. Notando a tensão
no rosto de Sierra, ele percebeu que havia sido muito mais problemas do
que Twyla reconheceria.
Ele sorriu para as suas sobrinhas e desejou poder deixá-las em
outra mesa, ou melhor, ainda, deixá-las na Howling Boas Leituras e fora
do alcance da sua voz para que ele pudesse realmente conversar com a
mãe e irmã. — Todos tiveram uma aventura.
Apanhando um movimento, ele virou a cabeça e viu o Capitão
Burke e o Agente O'Sullivan se aproximando de sua mesa.
— Senhoras. — Burke inclinou a cabeça ligeiramente. — Estou
muito contente por vocês estarem aqui.
— Você gostaria de dar uma palavra com Crispin? — Perguntou
Twyla.
— Na verdade, eu preciso de uma palavra com a maioria de vocês.

413
Bem formulada, pensou Monty. Burke não disse que queria as
meninas afastadas, o que teria feito com que elas quisessem ficar, mas
ele foi muito claro.
— John Wolfgard está trabalhando na livraria, — Burke disse. —
Pedi-lhe para mostrar as meninas à loja. Ele está bem ali. — Um gesto
na direção do arco que ligava as duas lojas.
Já que John era o Lobo amigável no Pátio, Monty achava que as
meninas não iriam provocá-lo para morder, se deixadas aos seus
cuidados por apenas alguns minutos.
Ele sorriu para Carrie e Bonnie. — Cada uma pode escolher um
livro para ler. Será um presente da minha parte.
Carrie deslizou de sua cadeira. — Podemos ter-
— Um livro? — Sierra sorriu para suas filhas. — Sim, cada uma
pode escolher apenas um livro, já que esse foi o deleite que o tio CJ
ofereceu.
A firmeza de Sierra era um verniz que estava se esgotando, e as
meninas poderiam ter quebrado com lamentações e amuos. Mas a
firmeza de Twyla era um núcleo firme, e apenas um olhar para a sua avó
levou as meninas para o arco e o Lobo que estava esperando lá.
— Você é o Sr. John? — Perguntou Twyla.
— Sim — John respondeu com cautela.
— Elas estão autorizadas a escolher um livro cada, não qualquer
outra coisa que você possa vender em sua loja.
John coçou atrás de uma orelha. Monty se sentiu aliviado que os
ouvidos não se tornaram apontados e nem peludos.
— Apenas livros, — John disse. — E algumas revistas. E alguns
mapas.
— Isso é bom então.
John hesitou, em seguida, levou as meninas para a livraria.
Nadine se aproximou de sua mesa e olhou para Burke. — Posso
pegar alguma coisa?
— Apenas alguns minutos do seu tempo. Sente-se, Sra. Fallacaro,
— Burke respondeu.

414
— Estou com os biscoitos assando.
— Isso só vai levar alguns minutos, e é importante.
Nadine se sentou. Burke tomou outro gole enquanto O'Sullivan
pegou uma cadeira de outra mesa.
— Eu ofereci o outro lado do meu duplex para seu uso. — Burke
olhou para Twyla. — Mas eu acho que nas atuais circunstâncias, seria
mais sensato se você ficasse aqui. Vai ser apertado, especialmente
considerando que Simon Wolfgard ofereceu abrigo a algumas famílias de
policiais quando está tempestade chegar a Lakeside. No entanto, este é o
único lugar onde você deverá ficar protegida e haverá pessoas aqui que
podem ajudá-la. — Agora ele olhou para Nadine. — Você tem um quarto
aqui. E quanto a Chris?
— Ele está entocado em um dos quartos acima do Centro
Social. Ele vem para o meu quarto para tomar banho.
— Fale com ele que ele precisa ficar aqui até passar a tempestade.
Nadine sorriu amargamente. — Ele está com uma mão quebrada,
Capitão, e ele foi marcado como amante de lobo. Ele está muito
vulnerável agora para sair entre os humanos.
Monty estremeceu com a maneira como ela disse humanos mas
ele não poderia culpá-la por se sentir assim. O HPU tinha queimado sua
loja e casa e teriam matado ela e Chris. Não importava que Simon
pensasse que estava cada vez mais enroscado com as preocupações
humanas, o Lobo tinha ajudado e ofereceu a Nadine e Chris abrigo e
proteção.
Twyla estudou os homens, os olhos demorando em Monty. — Esta
tempestade é parte do problema que me impediu de chegar a Lakeside
tão rápido quanto eu podia?
— Sim, mamãe.
Agora Twyla olhou para Burke. — Quão ruim vai ser?
Burke estudou Twyla por sua vez. — Aqui em Lakeside? Eu não
sei. Quando chegar a hora do acerto de contas, eu espero que os nossos
esforços de trabalho com os indigenes da terra irão contar para alguma
coisa. Do outro lado de Thaisia? Nós apenas podemos esperar o melhor.

415
Um timer na cozinha tocou. Nadine saltou, ficando de pé. — Eu
tenho que tirar esses biscoitos do forno.
— Senhorita Nadine? — Twyla disse com cortesia tranquila,
parando a outra mulher. — Você administra essa loja?
— Trabalho aqui. Tess administra. Eu não sei onde ela está agora.
— Eu acho que nós três deveríamos falar em breve.
Nadine balançou a cabeça e correu para a parte de trás.
— E eu estou pensando que o Sr. Simon e eu deveríamos falar em
breve também, — Twyla continuou.
Monty colocou sua mão sobre a dela. — Mama?
— Seja qual for às disposições que têm aqui para humanos
passarem a noite, será um número grande de pessoas para quais eles vão
dar o abrigo. Não importa como você mexe as coisas; eles vão precisar de
ajuda. Tenho duas boas mãos e sei como trabalhar. O mesmo acontece
com Sierra. E as crianças podem fazer o que forem capazes. Você me
pediu para vir ajudá-lo com Lizzy, e eu vou. Mas agora não há muito que
fazer e não temos tempo a perder, então eu não vou ficar sentada,
Crispin. Esse não é o meu jeito.
— Eu sei Mama, mas-
— O que você pode fazer? — Simon perguntou, caminhando até a
mesa deles.
Monty se perguntou a quanto tempo o Lobo estava parado
escutando.
— Você me diz o que precisa ser feito, e eu vou te dizer se posso
fazer isso, — Twyla respondeu. — Mas uma coisa eu sei, você precisará
alimentar mais pessoas do que você está acostumado, e pode não ser fácil
para apenas este café.
— Temos Carne Verde na Praça do Mercado.
— Eu gostaria de dar uma olhada e oferecer uma ideia ou duas
depois para a Senhorita Nadine e Senhorita Tess.
Aqueles olhos do Lobo âmbar estudaram Twyla com muito
interesse.

416
— Se os filhotes humanos se comportarem mal, nós vamos mordê-
los, — disse Simon.
— Se eu tivesse dentes em vez destas dentaduras, eu estaria
inclinada a fazer o mesmo.
Simon inclinou a cabeça. — O que são essas dentaduras?
— Talvez uma discussão para outra hora? — Burke sugeriu.
— Agora — Twyla disse olhando para Monty, então para Burke e
O'Sullivan, e, finalmente, para Simon. — Nós estamos aqui e estamos
bem. Sierra e eu somos mulheres adultas bem capazes de nos
arranjarmos; vocês, os homens têm o seu próprio trabalho a fazer, e não
precisam se ocupar conosco.
— Ruthie, Merri Lee e Eve Denby são as fêmeas no bando que já
têm tocas aqui, — disse Simon. — Elas podem ajudar com esse arranjo.
— Ele voltou para a livraria.
— Tem certeza que vai ficar bem? — Perguntou Monty. Ele dirigiu
a pergunta a sua mãe, mas ambos sabiam que tinha mais a ver com
Sierra e as meninas do que Twyla.
— Nós vamos ficar bem, Crispin. — Twyla acariciou sua mão. —
Você vai cuidar do seu tranalho.
Burke e O'Sullivan se levantaram e disseram as coisas
apropriadas. Monty beijou a bochecha de Twyla e sussurrou: — Estou
feliz por você estar aqui. — Em seguida, os três homens saíram da Bite.
— Nós vamos a pé para o consulado com você, — Burke disse.
— O que devo dizer ao governador? — Perguntou O'Sullivan.
Monty olhou para a parte de trás do Gabinete do Liaison. Ele
pegou o som fraco de uma música saindo das janelas abertas, mas Meg
não estava com o som alto o suficiente para ele determinar se era música
indigene da terra ou música popular. Ele precisava falar com a sua mãe
e irmã antes de conhecerem Meg Corbyn e verem as cicatrizes que agora
eram visíveis desde que ela tinha começado a usar roupas de verão.
— Você já assistiu programas de natureza? — Burke disse. —
Você já viu um desses tamanduás com grandes garras abrindo os
formigueiros, a fim de chegar às formigas?

417
— Lembro vagamente de ter visto algo assim, — O'Sullivan
respondeu.
Burke assentiu. — Então você diz ao governador que as
tempestades que estão vindo em nossa direção são as garras de uma
besta que irão rasgar nossas cidades, a fim de chegar à carne.

****

— Podemos dar um passeio? — Meg perguntou.


Simon fez uma pausa, com a camisa meio levantada. Ele terminou
de vesti-la, molhou o rosto e a camiseta na calha de água na área comum
do Complexo Verde, então com um suspiro feliz, olhou para Meg
novamente.
— Assim é melhor. Claro que podemos. Você precisa esfregar
repelente contra insetos em sua pele?
Se o fizesse, ele ia ficar tão longe que ela teria que gritar em vez
de ter uma conversa muito tranquila. — Não, eu vou ficar bem.
— Então molhe sua camiseta assim como eu fiz e você ficará bem.
Ela olhou em volta, não sabendo quem mais estava em casa no
momento. — As meninas não devem tirar as camisetas.
— Essa é uma regra humana estúpida, — Simon rosnou. —
Nós não nos importamos.
Ela não poderia argumentar de uma forma ou de outra, e o ar
estava muito abafado em face da tempestade que se aproximava. Os
meteorologistas não conseguiam decidir se Lakeside ia ser atingida pela
tempestade vindo do Sul ou do choque de dois grandes eventos chegando
pelos Grandes Lagos pelo Norte. Eles estavam cautelosamente otimistas
de que os ventos e a chuva que aumentaram o furacão chegaria mais
fraco a Costa Leste e não chegaria a Lakeside. O furacão não tinha
parado; ele só parecia estar fazendo uma pausa em determinadas cidades
para infligir o maior dano antes de continuar no Norte.

418
Depois de mergulhar sua camiseta na calha d’água, Meg a vestiu
de volta e respirou fundo quando o tecido molhado tocou sua pele.
— Não está melhor? — Simon perguntou, pegando sua mão.
— Muito melhor.
Eles caminharam até a estrada, depois pararam.
— Qual caminho? — Perguntou Simon.
Boa pergunta. Se eles se encaminhassem em direção à Praça do
Mercado, eles passariam pela horta. Já estava escuro, por isso não era
provável que qualquer um estivesse trabalhando lá, mas sempre havia
uma chance, e ela não queria ver seus amigos humanos agora.
Meg virou para o outro lado que os levaria até o Complexo Utilities
se permanecessem na principal estrada do Courtyard.
— Estamos caminhando para que você não se coce? — Simon
perguntou depois de um minuto.
Ela deveria ter sabido que ele iria notar. — Muitas informações
novas me deixam meio instável. — Ela não conheceu ainda a mãe do
Tenente Montgomery ou os outros membros da sua família, mas apenas
sua presença no Pátio causou contrações musculares e espinhos e
zumbidos nos braços e pernas. Essas profecias em potencial poderiam
ser causadas facilmente pelo Agente O'Sullivan. Afinal de
contas, ele teria mais influência sobre o que poderia acontecer, não é?
No final, ela fechou o Gabinete do Liaison e foi mais cedo para
casa e não se surpreendeu ao encontrar Nathan esperando em sua
varanda no momento em que ela colocou seu carro na garagem e o
conectou ao carregador. Até Simon chegar na casa, o Lobo manteve a
guarda.
Ela não teve certeza se o fato dela estando em casa fazendo alguns
dos movimentos que tinha aprendido na classe Mente Quieta, ou se foi
sua diversão com Nathan em forma de Lobo fazendo alguns movimentos
com ela, mas os espinhos desapareceram. Mesmo que o desconforto
ainda estivesse presente pelo resto da tarde.
— Simon, o que vai acontecer?

419
Ele não respondeu. Então: — Eu não sei. Um grande número de
coisas aconteceu ao mesmo tempo. Uma grande parte do Wolfgard
morreu. No passado, os problemas ferviam em um só lugar. Uma forma
de indigene da terra ou outra iria lidar com isso, os humanos que
causaram os problemas seriam caçados, e alguma, ou toda a terra seria
recuperada, e se tornado parte do país selvagem novamente.
— Nenhum dos indigenes da terra irá falar com você.
— Os Anciões.
Meg assentiu. — Os Anciões. Eles irão recuperar toda a
Thaisia? O que vai acontecer com os Intui em Porto Ferryman? Eles não
são os inimigos indigenes da terra.
Eles caminharam em silêncio. Finalmente Simon parou e olhou
em volta. Meg se perguntou quanto mais ele podia ver do que era evidente
para ela.
— Você sabe por que os Lobos uivam? — Perguntou.
— Para dizer: 'Estamos aqui.'
Ele olhou para ela e sorriu. — Sim. Estamos aqui,
vigiando. Estamos aqui, afastando os mais fracos de um rebanho de alces
e cervos, e de bisões. Estamos aqui para defender o país selvagem que
faz fronteira com os lugares humanos. — O sorriso desapareceu. — Mas
os indigenes da terra que são os dentes e as garras de Namid são aqueles
que lidam com os predadores invasivos, e onde não existem Lobos para
cantar para o céu noturno... Eu não sei o que vai acontecer nos lugares
que são preenchidos com o silêncio.
— Lakeside não vai ficar em silêncio. Você vai dizer-lhes que
estamos aqui e que você ainda está vigiando. — Meg pensou por um
momento. — E quanto a Porto Ferryman ou a Comunidade River
Road? Nenhum dos Wolfgard moram lá.
— O Coyote e o Fox moram lá. E há alguns Beargard na ilha, e
agora existem Linces e Bobcat e uma Pantera na Comunidade River Road,
bem como os Sanguinatis juvenis. Músicas diferentes, mas é a mesma
mensagem.

420
Ele se aproximou e colocou os braços ao redor dela em um abraço
hesitante.
Meg ficou tensa, sem saber o que fazer. O assalto de mãos
masculinas. Seu corpo ainda reagiu à memória de sua vida no
Composto. Mas este era Simon, e os Lobos só gostavam de contato com
os membros de sua matilha.
Ela colocou os braços ao redor da cintura dele e permitiu que seu
corpo relaxasse contra o dele.
— Fomos atacados aqui também, então eu não sei o quanto de
Lakeside estará de pé quando isso acabar, mas acho que nossa matilha
vai ficar bem, — Simon disse calmamente. — Eu acho que as Meninas no
Lago não vão deixar as coisas ficarem muito ruins no Pátio.
— Quando?
— Pelo menos uma das tempestades irá chegar até nós amanhã.
— Seus braços apertaram ao redor dela enquanto ele descansava sua
bochecha contra sua penugem de cabelo. — Você vai ficar bem, Meg.
— Nós vamos ficar bem. — Ela queria acreditar nisso, mas
acreditar seria o suficiente para tornar realidade?

421
CAPÍTULO 46
Watersday, Juin 30

Jesse Walker abriu a porta da sua loja, feliz e muito aliviada com
o sentimento de poder abri-la. Ela havia colocado tábuas nas janelas da
loja, pouco antes da tempestade chegar. Prairie Gold não tinha perdido
totalmente a eletricidade, mas as luzes dos lampiões a irritavam o
suficiente para que ela guardasse o troço todo, preferindo o crepúsculo e
o zumbido reconfortante das unidades de refrigeração, o lembrete
constante de quanta comida eles poderiam perder se a energia faltasse
completamente na cidade.
— Arroo!
— Rachel, querida, isso é o suficiente. Entre agora.
A Loba juvenil apareceu pouco antes da tempestade e tinha ficado
do lado de fora da loja uivando e uivando. E os seus uivos foram
respondidos por dois Lobos que haviam chegado a Bennett no dia
anterior, o novo Líder e Executor dominante da matilha de Prairie
Gold. Jesse esperava que eles fossem até o assentamento indigene da
terra quando chegassem a Prairie Gold. Em vez disso, eles pegaram um
dos quartos do motel onde ficava a parada de caminhões.
O uivo ao vento de Raquel e o uivo dos Lobos começou
praticamente ao mesmo tempo.
— Rachel?
A Loba olhou para Jesse, em seguida, retomou o seu uivo.
Jesse ficou na porta para ficar com Rachel e porque ela teve a
sensação de que ela iria aprender algo importante se ela ficasse. Além
disso, o vento tinha finalmente se acalmado e a chuva era mais uma
garoa.

422
Deuses acima e abaixo, ninguém seria capaz de viajar pelas
estradas de terra até que secassem, assumindo que ainda haveria
estradas. Pelo menos a tempestade passou sobre eles bem rápida. Ela viu
algumas coisas voando e explodindo na rua, e algumas lojas tiveram uma
janela ou duas desaparecidas, mas não havia muito dano.
— Arroo!
Um brilho na chuva foi o único aviso de que algo se movia lá
fora. Mais de uma forma. Inteligência e poder. Ela sentiu a mesma
sensação quando levou as crianças humanas e os jovens indigenes da
terra para o esconderijo nas colinas. A mesma sensação de que havia algo
lá fora, pensando. Julgando.
Moveram-se pela cidade. Jesse caiu contra o batente da porta,
percebendo o quanto eles a assustavam.
— Nós estamos aqui, — Rachel disse, na forma de uma
adolescente nua e tremendo. — São os Anciões; e eu disse que estamos
aqui para cuidar da terra, e você está nos ajudando.
Então eles passaram por nós, vamos permanecer vivos, pensou
Jesse. — Querida, você vai usar seu pelo ou vai entrar e se secar antes
de pegar um resfriado?
— Você tem leite quente?
A menina parecia tão esperançosa, que Jesse teve que sorrir. —
Posso aquecer para nós duas.
Rachel a seguiu para dentro da loja, cheia de curiosidade e
fazendo perguntas sobre as coisas humanas e desconhecidas empilhadas
nas prateleiras. O perigo tinha passado, e o medo foi sacudido como pelo
sacudindo a água.
Enquanto Jesse aquecia o leite para elas, ela pensou que seria
sensato para os Intui aprenderem essa habilidade, porque ela tinha a
sensação de que os Anciões nunca mais seriam um perigo que se
manteriam a uma distância segura.

423
CAPÍTULO 47
Watersday, Juin 30

Stavros observava os passageiros embarcando no navio. Muitos


apoiadores ricos do HPU estavam pegando o último navio que deixava
Toland antes da tempestade chegar naquela parte da costa. Eles estavam
indo para o Cel-Romano verem o triunfo que seu dinheiro ajudou a trazer.
Tolos.
E lá estava Nicholas Scratch usando um “disfarce” que não
enganaria nem mesmo um humano, muito menos um dos indigenes da
terra. Naturalmente, a maioria das pessoas que estavam embarcando
havia falado com Scratch ou pelo menos interagido com ele tantas vezes
que ele não podia realmente acreditar que um disfarce fosse ajudá-lo
durante a viagem. Ele provavelmente tinha dito à elite que esta era uma
artimanha para escapar de seus “inimigos”.
Agora Scratch tinha inimigos entre os humanos também. A elite
de Toland ainda podia apoiá-lo, caso ainda acreditasse que haveria
alguma recompensa para esse apoio uma vez que atingissem o Cel-
Romano, mas aqueles que compreenderam o que estava acontecendo
com as cidades humanas e o seu desaparecimento, o movimento HPU
estava agora apontando o dedo para Scratch e chamando-o de charlatão
que os tinha enganado.
Stavros achou essa epifania bastante divertida, uma vez que
vinha na esteira do discurso final de Scratch, em que o homem afirmava
que ele não poderia ser responsabilizado pelas ações que outras pessoas
tomaram porque interpretaram mal seus discursos motivacionais como
uma chamada para cometer violência contra os indigenes da terra. Todo
homem deve ser responsabilizado por suas próprias ações.

424
Scratch tinha escapado antes que a multidão atordoada pudesse
reagir.
Stavros sorriu. Agora Nicholas Scratch estava aqui, e ele
também. E em algum lugar nas águas pouco além da vista, o Sharkgard
esperava.

****

Stavros corria de um lugar sombrio para outro, observando,


esperando e desejando ter se alimentado antes de vir a bordo. Não havia
ninguém neste navio que não estivesse embriagado? O capitão não
estava, mas a água estava turbulenta, uma versão de Oceano das
preliminares; e ele não queria enfraquecer o homem. Ele não queria que
seus próprios sentidos ficassem dissimulados consumindo álcool no
sangue de alguém.
Ele ouviu o suficiente durante a noite para identificar os
apoiadores do HPU que tinham algumas ideias loucamente românticas
de serem saudados como heróis ao fornecerem comida e aço e tudo o que
eles ajudaram ao Cel-Romano por debaixo da mesa. Mas agora com a
recompensa dos terrenos recém-conquistados pelos exércitos do Cel-
Romano, aqueles suportes já não eram mais necessários. Havia apenas
um humano neste navio que seria bem-vindo em Cel-Romano.
Stavros ociosamente observava algumas pessoas andando pelo
convés.
<Vampiro? Você tem alguma coisa para nós?>
<Ainda não,> Stavros disse ao Sharkgard. Esse gard estava
seguindo o navio por horas, esperando ele entregar a carne especial
prometida. Ele precisava atacar em breve. Ele não tinha intenção de
percorrer todo o caminho para o Cel-Romano, e até mesmo em forma de
fumaça ele não queria ir muito longe sobre o mar aberto.
Finalmente ele ouviu a voz odiada e familiar.

425
— Hoje conquistamos a terra, — Nicholas Scratch disse enquanto
dava um passo pelo convés inferior com dois outros homens. — Logo a
raça humana vai conquistar isso também. — Ele acenou com a mão para
indicar o oceano.
Você acha? Stavros calculou a distância entre eles.
<Tubarão?> Chamou. <Você está pronto?>
<Prontos!>
Stavros observava os outros dois homens. O mar à noite não tinha
nenhum recurso para eles, e apenas esfregar os cotovelos com Scratch já
não era uma novidade. Eles não iriam ficar de fora.
— Você vai se juntar a nós para a ceia, Nicholas? — Um homem
perguntou um minuto depois.
— Vão à frente sem mim, — Scratch respondeu.
— Nada para se ver aqui fora.
— Isso faz com que seja um bom lugar para pensar.
Os homens concordaram com a sabedoria e entraram.
Mudando para a forma humana, Stavros andou até a grade e
sorriu para Nicholas Scratch.
— Você deve estar contente de estar indo para casa, — Stavros
disse agradavelmente.
Scratch deu-lhe um olhar aguçado observando a qualidade do
terno e da camisa de seda preta. Stavros quase podia ouvi-lo se
perguntando como fisgar este novo peixe para obter uma gorda doação
para a causa.
— Acho que não nos conhecemos, — Scratch disse.
— Nós não nos conhecemos, mas eu escutei seus discursos com
atenção afiada, — Stavros respondeu, estendendo a mão. — Você é de
grande interesse para muitos de nós, Sr. Scratch.
A mão de Scratch apertou a sua. — Você pertence a algum grupo?
— Mais de um grupo e afins.
— Qual o seu grupo?
Stavros apertou mais ainda a mão de Scratch e sorriu, revelando
suas presas. — O Sanguinati.

426
Um instante de choque, e de medo. Isso foi tudo o que levou para
puxar Scratch para si, e mordê-lo no pescoço, não para se alimentar, mas
para provocar uma ferida.
Ainda segurando a mão de Scratch, Stavros pegou um punhado
de roupas do homem. Em forma de fumaça, não havia muito que pudesse
prejudicar um Sanguinati. Na forma tangível, eles tinham a força de
um indigene da terra. Antes de Scratch ter a chance de gritar por ajuda,
Stavros se aproximou mais das barras, passou Scratch por cima, e
saltou.
Mudando para a forma fumaça quando caiu, Stavros fluiu até a
superfície quando Scratch bateu na água e afundou. Stavros mudou para
a forma humana acima da cintura e puxou o homem para cima.
O olhar de Scratch era selvagem, e ele tossiu e bateu em Stavros.
Então ele gritou e afundou novamente quando um dos Sharkgard deu
uma mordida brincalhona.
Stavros rebocou Scratch de novo e olhou para esse inimigo que
havia sido o responsável pela morte de tantos e não havia enfrentado
qualquer um dos indigenes da terra.
— Nós vamos destruir o Cel-Romano. Eu queria que você
soubesse disso antes de morrer, — Stravos disse. — Você não passa de
um arrogante, uma infestação. Você pensou que poderia acabar com
os indigenes da terra? É a sua espécie que vai murchar e você não será
um dos sobreviventes, e se houver algum, pode me agradecer por isso.
Ele lançou Scratch e flutuou a uma distância segura quando
dezenas de Sharkgard correram para atacar o inimigo, consumindo
pedaço por pedaço de carne humana. Um pé. Uma mão. Um
antebraço. Uma coxa.
Quanto tempo antes de Scratch ser despedaçado? Stavros se
perguntou enquanto flutuava acima das ondas. Se eu não puder chegar
em casa, quanto tempo levará antes de me perder aqui?
<Vampiro.> Uma barbatana se aproximou. <Você vê aquela luz?>
Stavros subiu para uma coluna de fumaça e se virou
lentamente. Sim, lá, indo na direção oposta do navio.

427
<É um barco de pesca Intui,> disse o tubarão. <Eles disseram que
iriam esperar por você. Você pode chegar neles?>
<Posso.>
<Então vá. Eles vão levá-lo para o seu porto. Você irá reassentar
perto das Cinco Irmãs?>
<Sim. Um lugar chamado Talulah Falls.>
<Não é o nosso território, mas vamos nos lembrar de você se você
viajar por aqui novamente.>
Stavros olhou em volta. Ele sentia o cheiro de sangue na água,
mas não havia nenhum sinal de Nicholas Scratch. <Não sobrou muito
para uma refeição.>
<Não, mas haverá mais. Você sabe como o Sharkgard chama os
seres humanos dentro de um navio?>
<Não, o que?>
<Carne em lata.>
Sozinho novamente, Stavros fluiu acima da água no seu ritmo
mais rápido. Mudando para a forma humana, ele saudou o barco de
pesca logo que ele estava perto o suficiente para ser ouvido. Eles o
trouxeram a bordo, e um par deles, jurando que estavam saudáveis e
sóbrios, se ofereceram para deixá-lo se alimentar. Ele recusou a refeição
que teria preferido, mas aceitou um prato de bolo de carne e purê de
batatas e ouviu os homens falarem sobre a pesca e as marés e suas
esperanças de que sua cidade fosse poupada da ira de Oceano.
Ele não fez nenhum comentário, mas achava que Oceano estaria
inclinada a poupar suas casas e famílias. Um favor por um favor.
Após a refeição, ele encontrou um lugar tranquilo para
descansar. Ele tinha gostado do trabalho que fez em Toland, mas ser o
Dominante em Talulah Falls seria algo novo e excitante. Ele sentiria falta
da companhia de Tolya, mas estaria mais perto do seu Avô e de Vlad... e
de Nyx.
Sim, ele estava pronto para algumas mudanças.
Stavros riu silenciosamente. Carne em lata. Ele teria que se
lembrar de contar isso ao Avô Erebus quando chegasse em Lakeside.

428
CAPÍTULO 48
Alantea cavalgava com Furacão enquanto subiam a costa leste
de Thaisia, seguida de perto por Tornado e Ar. Eram ondas que podiam
engolir edifícios e ventos que podiam destruir qualquer coisa em seu
caminho, e que mantinham os humanos apressados e correndo –
ocupados demais tentando se salvar para pensar em qualquer outra
coisa.

Mas havia lugares onde outros Elementais faziam sua presença


para suavizar a punição, e isso era correto e apropriado. Apesar de tudo,
não era seu trabalho diluir os rebanhos que se agarravam na terra. Essa
era a tarefa de outras formas de indigenes da terra. Sua tarefa...

<Estamos de acordo?>, Ar perguntou.

<Estamos de acordo,> respondeu Alantea. O barco de pesca Intui


já estava confortável em seu porto, e o Sanguinati que ajudou o
Sharkgard em silêncio contra a voz do inimigo estava em segurança na
terra que iria sentir apenas um beijo de sua tempestade.

Ela apontou Furacão para a cidade de Toland.

Ar emitiu um grito triunfante quando as ondas subiram o


suficiente para transformar as estradas da cidade em rios.

Distração. Desvio. Esta não era a verdadeira batalha.

Alantea afastou Furacão de Thaisia, deixando Toland à aguda


misericórdia de Ar e Tornado. Dando-lhe coragem para correr e correr,
juntou as águas do seu domínio e apontou sua fúria para o Cel-Romano.

429
****

Para: Simon Wolfgard

Não é possível chegar ao Centro Oeste e não recebemos quaisquer


telefonemas ou e-mails de ninguém lá. As linhas telefônicas e telegráficas
estão desativadas. Ainda estamos conectados com outras comunidades
Intui no Nordeste. O contato com a Região Sudeste é errático. Nenhuma
informação sobre as cidades e vilas controladas pelo homem ao longo da
costa nessa região.

Algumas estações de rádio do Meio Oeste ainda estão


transmitindo, e as cidades Intui entre o Meio Oeste e o Nordeste estão
passando as notícias. A primeira notícia indicava que o dano da
tempestade, como um locutor dizia, aconchegava o rebanho. Relatórios
posteriores falaram sobre grupos inteiros de pessoas desaparecendo - e
funcionários usaram a palavra “matadouro” para descrever as cenas.

Vou continuar enviando notícias o máximo que puder. Nuvens


negras no horizonte. A tempestade está se movendo em nossa direção
rapidamente.

-Steve Ferryman

430
CAPÍTULO 49
Earthday, Sumor 1

— Os alertas de cheias e avisos de ventania estão em vigor até


novo aviso. A proibição de viagem ainda está em vigor devido às estradas
inundadas ou ruas represando com detritos, incluindo linhas elétricas
partidas. As autoridades municipais estão recomendando que as famílias
encham jarros com água potável e se preparem para quedas de
energia. Esta é Ann Hergott falando pela WZAS.

****

Cada novo humano que entrava no Courtyard arrepiava a pele de


Meg e pinicava em um lugar diferente. Essas pessoas precisavam estar
aqui; eram as famílias dos policiais confiáveis, muitos dos quais eram
seus amigos. Ela nunca se perdoaria se algum deles fosse mandado
embora por causa dela e, em seguida, algo pudesse lhes acontecer.
Todos estavam ocupados, correndo para preparar camas e
alimentos. A tempestade seria intensa, mas breve, e todos se sentiam
preocupados com a cidade, achando que a inundação e os danos
tornariam a tempestade de neve em Febros mais parecido como um
soluço do tempo.
De qualquer forma, hoje o Courtyard estava lotado com estranhos
cujo futuro estava em questão. E as respostas estavam agitando sob sua
pele como profecias gritando para a navalha libertá-las.
Ela largou os talheres sobre uma das mesas na Carne Verde,
ignorando o barulho que fez. Voltando às cegas, ela correu para a porta,
mal ouvindo Merri Lee chamando por ela.

431
— Meg!
Uma mão em seu braço. — Eu tenho que ir. Muitos
espinhos. Muitos zumbindo sob a minha pele.
— Ir para onde? — Perguntou Merri Lee. — A tempestade chegará
a qualquer momento.
— Para o Gabinete do Liaison. Eu posso organizar
algo. Enviar. Pacotes. Qualquer coisa. Preciso de... Rotina.
— Não terá rotina hoje, Meg. E não há mais ninguém no
escritório. Nathan não vai estar lá. Fomos informados para manter as
portas fechadas para que não seja tragada pelo vento.
Meg se afastou de sua amiga. — Não posso ficar aqui. — Ela
correu para a porta na Praça do Mercado, que permitia o acesso para o
estacionamento dos funcionários e, além disso, a porta dos fundos do
Gabinete do Liaison. Ela não percebeu que Merri Lee tinha vindo até ela,
até que a garota disse: — Apresse-se então, para que possamos sair.
Uma rajada de vento atingiu as duas assim que Meg virou a tranca
e elas quase caíram no chão. Foram necessárias as duas para fechar a
porta.
— Deuses, — Merri Lee murmurou. Ela verificou o frigorífico
embaixo do contêiner, em seguida, os armários. — Se nós realmente
ficaremos aqui, devemos ter mais alguns suprimentos.
— Você não precisa ficar. Vou ficar bem sozinha. — Melhor, Meg
acrescentou silenciosamente. Mesmo agora quando ela tentava manter o
foco sobre a amiga que estava com ela, sua pele ainda formigava e a
tocava em vários lugares.
— Por favor, Merri. Por favor. Eu preciso ficar sozinha ou vou ter
que me cortar.
Ambas sabiam o que aconteceria se ela fizesse um corte
agora. Simon, Vlad e quem sabe quantos outros indigenes da terra iriam
lançar-se contra os humanos que tinham vindo aqui para abrigo e
proteção.
— Você está com seu telefone celular? — Merri Lee disse
finalmente.

432
Meg assentiu. — E eu sei quais os números de telefone da Bite e
da Carne Verde. Eu vou ficar em contato.
— Você tem certeza?
— Sim. Por favor. — Havia muitas pessoas trabalhando nos
Compostos. Havia muitas meninas. Talvez fosse porque as meninas eram
cortadas em uma programação regular, que elas não sentiam a
experiência de espinhos por causa das outras. Ou talvez elas houvessem
sido tão expostas que pararam de sentir as possibilidades.
Ou talvez elas não sentissem esses espinhos sob a pele sobre a
outra, porque nenhuma delas tivesse um futuro real.
Assim que Merri Lee saiu, Meg sentiu um alívio momentâneo. Não
havia mais espinhos, e nenhum zumbido. Ela entrou na sala de triagem,
incerta do que ela poderia encontrar para fazer, especialmente se ela
acabasse presa lá por algumas horas.
Ela olhou para os cinco CDs que estava ouvindo naquela semana,
mas nenhuma música tinha qualquer apelo para ela agora. Sem
entregas, nenhum pacote, nenhuma classificação nova para hoje.
Ela abriu a gaveta que continha as cartas de profecia.
Ela sentiu uma leve rotação na sala.
Meg fechou a gaveta e se segurou no balcão. Ela rangeu os dentes,
desejando pegar a navalha de prata quando a pele dela pinicou.
Ela estava sozinha, mas ela ainda estava muito perto de muitos
estranhos. Os humanos permaneciam dentro do bairro empresarial do
Courtyard. Ela tinha que ficar longe deles.
Ela correu para fora pela porta de trás, em seguida, atravessou a
área pavimentada entre o seu escritório e as garagens onde havia um par
de carros elétricos.
Ela tinha que ir embora antes que alguém a visse e tentasse
argumentar.
Uma vez que ela estava na estrada que a levaria de volta para o
Complexo Verde, ela suspirou com alívio e apreensão. Simon iria rosnar
quando descobrisse que ela tinha enlouquecido.

433
Ele não poderia rosnar para ela por horas e horas já que ele tinha
que proteger o Courtyard. Talvez quando a tempestade acabasse, ele
estaria demasiado cansado para rosnar para ela.
Talvez porcos aprendessem a voar.
Entretida pelas imagens de leitões com asas, ela quase relaxou
seu aperto de morte no volante, quando uma rajada de vento levantou as
rodas do lado do passageiro para fora da estrada, e por um momento seu
coração martelou.
Meg olhou em volta. Seguir em frente a levaria para o Complexo
Verde, onde ela ficaria totalmente sozinha, porque todo mundo que
morava lá estaria na Praça do Mercado ou em seus próprios gards.
Se ela fosse para seu apartamento, seus amigos iriam lutar contra
a tempestade que chegaria, mas e se algo acontecesse com ela ou Simon
por causa de sua necessidade de solidão, o que aconteceria com Sam?
— Sam, — ela sussurrou. Ela precisava de uma espécie de calma,
mas não necessariamente de isolamento.
Então ela não conseguia ver muita coisa. Ela baixou a janela,
esperando que não fosse sua visão que tinha ficado maluca. Ela colocou
a cabeça para fora, e seu cabelo curto ficou arrepiado, caindo em seus
olhos. Puxando para trás, ela olhou para o cavalo cinza. — Névoa?
— Meg? — Ar inclinou-se no pescoço de Névoa. — Você não
deveria estar do lado de fora agora.
— Eu não conseguia ficar com todos os outros humanos. Eles são
boas pessoas, mas... Minha pele. Muitas profecias. — Atrás de Ar, ela
podia ver os galhos de árvores balançando, quase quebrando, mas ao
redor do carro elétrico não havia vento. — Eu estava esperando que Jester
me deixasse ficar com ele no Pony Barn.
Ar estudou. — Você quer ficar com os nossos pôneis?
— Sim.
A Elemental sorriu. — Siga-nos.
Meg ligou as luzes do carro e seguiu Névoa. Foi relativamente fácil,
uma vez que o nevoeiro feito pelo cavalo girava ao redor dela, mas ela não
teve problemas para vê-lo.

434
Ela parou no Pony Barn, grata que Ar ainda estava protegendo-a
do vento. Uma das portas do celeiro estava aberta. Jester correu e a
ajudou a sair do carro. Então ambos gritaram quando os primeiros
pingos de chuva e granizo caíram.
— Você tem uma muda de roupa no carro? — Perguntou Jester.
— Não. — Ela não tinha pensado nisso.
— Entre antes que fique encharcada. — Ele deu-lhe um empurrão
em direção à porta do celeiro.
Ao ouvir um familiar arroo, ela se virou para a estrada em vez
disso. — Sam?
Sam e Skippy correram na direção dela.
— Bem, mastigue a minha cauda e cuspa o pêlo, — Jester estalou.
— Fiquem aqui dentro, todos vocês.
— O carro, — Meg disse, finalmente percebendo que o pequeno
veículo poderia ficar seriamente danificado.
— Eu vou lidar com isso. E o Wolfgard, — Jester murmurou
enquanto abrigava o carro.
— Fique aí dentro, Meg, — Ar disse. — O que está vindo não gosta
de humanos. Mas você estará segura com os nossos pôneis.
— Obrigada. Vamos, Sam. Vamos, Skippy. Vamos entrar.
Ela correu para o celeiro, os dois Lobos bem atrás dela.
Jester voltou um minuto depois e fez uma careta para ela. — Eu
sei que você é humana, mas eu juro que você tem um pouco de sangue
de Coyote. Apenas alguém do meu tipo poderia causar tanto problema
tão facilmente.
Antes que ela pudesse se desculpar ou explicar, Jester foi
conferenciar com Névoa e buscar um arreio em um dos cestos com abas
que mantinham os arreios secos no mau tempo. Assim que o pônei foi
equipado, ele afastou-se, indo em direção à Praça do Mercado.
— Essa baia está com palha fresca, — Jester disse. — Todos nós
podemos ficar enrolados nela e manter um olho sobre as coisas.
— OK. Jester...

435
O Coyote dispensou seu pedido de desculpas antes que ela
pudesse dizer. Ele olhou para Sam e Skippy, em seguida, para ela. —
Ainda bem que Simon estará ocupado a maior parte do dia. Imagino que
Blair não será capaz de chegar até aqui por pelo menos algumas horas.
Meg espalhou os cobertores sobre a palha, em seguida, sentou-se
com Sam, enquanto Skippy explorava o Pony Barn.
— Você quis fugir também? — Ela perguntou a Sam.
Sam olhou para ela. — Arroo.
Ela suspirou. — Nós vamos estar com taaaantas dificuldades.
— Roooo.
Quando ela colocou o braço em volta de Sam, ela percebeu que
todos os espinhos que vibravam sob sua pele tinham parado.
Por agora pelo menos, todos ao seu redor estavam no lugar onde
deveriam estar.

****

— Fica, papai. Por favor, fica.


Monty abraçou sua filha. — Eu não posso, Lizzy menina. A polícia
tem que ajudar as pessoas que possam estar em apuros durante a
tempestade.
— Nós vamos ficar bem. — Twyla colocou as mãos nos ombros de
Lizzy. — Estamos tão prontas quanto qualquer um pode estar, e vamos
ficar bem.
— Você já disse a Simon Wolfgard que ele não está mais no
comando? — Perguntou Monty.
— Huh. — Twyla sorriu. — Eve Denby e eu lhe dissemos que as
mulheres já tinham coisas para cuidar em relação às pessoas que
chegariam aqui para abrigo, e ele teve o bom senso de sair e cuidar do
seu próprio negócio.
Ele se sentiu um pouco forçado, mas Monty devolveu o sorriso. —
Sim, senhora. Mensagem recebida.

436
Seu sorriso desapareceu. — Vamos ficar bem aqui, Crispin.
Ele tocou o cabelo de Lizzy. — Você se importa com o que a vovó
Twyla fala?
— Sim, Papa. Eu me importo.
Sendo o mais novo membro do bando feminino, Twyla e Sierra
foram atribuídas aos cuidados das crianças, uma opção prática
considerando que já havia três na família. Elas estavam escondidas no
apartamento que seria transformado em escola mais tarde. Lá tinha água
potável e canalização, e era facilmente alcançado pelos adultos, tanto
humanos como indigenes da terra, que estariam ocupados com os
negócios do Pátio, e tinha uma televisão, um DVD com filmes o suficiente
para manter os jovens ocupados, para não mencionar os jogos, livros e
mudas de roupa. A cozinha estava cheia de comida. Tudo o que poderia
ser feito para proteger os jovens foi feito.
Quando se apressou a descer as escadas, voltou para a porta de
trás da livraria, onde sua equipe estava com Burke para receber suas
ordens, ele se perguntou onde Sam Wolfgard e Meg Corbyn iriam ficar
para esperar a tempestade passar.
Deuses, Monty pensou quando um relâmpago marcou um céu
escuro e o vento bateu lateralmente. Esta área atrás das lojas estava
protegida por todos os lados. Se as rajadas de vento eram tão ruins aqui,
o que eles iriam encontrar lá fora, a céu aberto?
Enquanto ele lutava com o vento para passar pela porta e
finalmente conseguir fechá-la, ele ouviu a voz de Kowalski à sua
esquerda.
— Pai, eu sei o que eles estão dizendo no rádio. Eu estive ouvindo
os malditos boletins meteorológicos também. Mas eu estou dizendo a
você, isso será uma tempestade. Será ruim o suficiente para as famílias
dos policiais que estão recebendo abrigo nas estações. Você, mãe e Tim
podem... Deuses acima e abaixo! Essas pessoas não terminaram. Você
não consegue ver isso? Deixe-me falar com a mãe. Papai? Papai!
Um suspiro derrotado, — Porra. — Então Kowalski saiu de trás
das pilhas de livros e outros materiais, corando quando viu Monty.

437
— Sua família não vai se abrigar na estação? — Monty perguntou
em voz baixa.
Kowalski sacudiu a cabeça. — 'Eu vou enfrentar essa tempestade
e blá-di-blá-blá, e eu não vou embora.' Ele ainda acredita que o movimento
HPU vai 'acabar com essas criaturas.' E eu não posso lhe dizer o quão
ruim esta tempestade vai ser, verdade?
— Não, você não pode. — Não seria a tempestade em si que iria
devastar a cidade; era o que estava entrando escondido com a
tempestade.
Burke trocou uma palavra tranquila com o Capitão Zajac e o
Capitão Wheatley, os dois Capitães de Patrulha estavam em outro
recinto, e eles reconheciam que os indigenes da terra tinham a chave
para a sobrevivência de Lakeside. Ele disse a todas as delegacias de
polícia que eles iriam oferecer abrigo para as famílias dos oficiais, mas
apenas esses dois homens que trabalhavam fora da estação de Chestnut
Street foram os únicos que realmente levaram a advertência a sério.
— E os pais de Ruthie? — Monty perguntou, e olhar o sorriso
amargo de Kowalski fez o seu coração doer.
— Quando ela ligou, sua mãe disse: 'Minha filha está morta’, e
desligou. — Kowalski deu de ombros. — Mas os MacDonalds estão vindo
para o Pátio. Assim como a família de Michael Debany. Eles estão
trazendo alimentos perecíveis de seu frigorífico e quaisquer outros
materiais que possam ser úteis.
Monty não sabia se a família de Merri Lee morava em Lakeside, e
ele não perguntou.
A porta traseira se abriu e Michael Debany tropeçou na sala de
estoque.
— Whoo! Tem uma cadela lá fora! — Debany disse, não vendo
Simon Wolfgard entrando logo atrás dele até que ele se virou para fechar
a porta. — Ah... Desculpa. Isso só saiu. É alguém que conhecemos?
— Não. E ela é uma cadela. — Simon fechou a porta, em seguida,
olhou para os três homens. — Você quer esperar pelo Capitão Burke na

438
frente da loja? Há mais espaço. Eu não sei quem está trabalhando na
Bite agora, mas pode haver café.
Em outras palavras, você está no caminho, pensou Monty. —
Faremos isso.
Seu celular tocou ao mesmo tempo em que tocou o de Simon,
então ele correu para frente da loja, parando perto do arco que ligava a
HBL com a Bite. — Montgomery.
— Tenente, — disse Burke. — Deixe alguém para informar que o
Comandante Gresh está levando a família para o Pátio. Eu vou estar
junto em breve.
— Sim, senhor. — Monty terminou a chamada. Vendo que Simon
vinha para ele, Monty começou a falar. Mas Simon passou correndo por
ele, verificou o café, em seguida, se virou e correu para a escada interna
que levava ao segundo andar da HBL. A julgar pela expressão no rosto
do Lobo, Simon tinha seus próprios problemas agora.
Enquanto Debany e Kowalski respondiam seus telefones, os
olhares em seus rostos lhe disseram que o problema de Simon seria deles
também.

****

Pronto para rosnar e uivar sobre filhotes sendo idiotas, Simon


correu para o escritório, assustando Vlad, que estava monitorando os e-
mails e fazendo uma marcação em um mapa para indicar as cidades que
ainda estavam lá fora.
Abençoada Thaisia! Por que Sam sairia correndo quando uma
tempestade estava prestes a chegar? E por que Skippy estava com ele?
— Simon, o quê...? — O telefone tocou. Vlad respondeu. Depois
de um momento, ele disse: — Sim, eu digo a ele.
Vlad desligou o telefone, mas Simon não lhe deu tempo para dizer
qualquer coisa. — Sam fugiu do Complexo Wolfgard. Você vai ter que
lidar com os humanos até que eu possa encontrá-lo. — Assumindo que

439
ele iria encontrar o filhote. Ele estava tentando alcançar Sam através da
forma indigenes da terra de comunicação, mas não recebeu qualquer
resposta. Isso era ruim. Muito ruim.
— Sam está bem, — Vlad disse. — Assim como Skippy e Meg.
— Meg? Mas Meg está... — Não na Bite, onde ele esperava
encontrá-la. Suas presas se alongaram para o tamanho Lobo. — Onde
eles estão?
— Com os pôneis e Jester no Pony Barn. Jester acha que Meg
estava sobrecarregada e muito perto de fazer um corte, de modo que ela
fugiu dos outros humanos.
— A babá da matilha acha que Sam fugiu porque ele queria estar
com Meg durante a tempestade. — Simon coçou atrás de uma orelha, em
seguida, fez um esforço para mudar o ouvido e os dentes de volta à forma
humana. — Ela quase morreu da última vez que uma tempestade atingiu
Lakeside.
— Lembro bem, — Vlad disse suavemente. — Mas Simon, exceto
se ela ficasse com o avô Erebus, eu não posso pensar em um lugar mais
seguro para os três ficarem do que no celeiro do pônei com os corcéis dos
Elementais.
Os músculos tensos começaram a relaxar, e ele começou a pensar
nas provisões deles. — Será que Meg levou alguma coisa?
— Não. Névoa está a caminho da Praça do Mercado. Jester não
tem comida suficiente para os quatro, e nem mesmo alimentação
humana suficiente. Podemos pedir ao bando feminino se Meg tem
quaisquer roupas de reposição no escritório.
Ele poderia farejar qualquer roupa que pertencia a Meg. Mas se
ela precisasse de algo mais específico, as fêmeas iriam adivinhar o que
pegar das lojas da Praça do Mercado. E Meg e os Lobos sem cérebro
precisariam de algo para vestir, especialmente se Sam mudasse para a
forma humana. O que significava embalar camisas e shorts para Sam
também.
Como se eu não tivesse o suficiente para fazer, Simon pensou
enquanto descia as escadas. Alguém iria lidar e responder pela

440
preocupação que os três haviam causado, mesmo que a preocupação não
tivesse durado mais do que alguns minutos.
Voltando-se para a sala de estoque, ele quase se chocou com um
macho humano que ele não conhecia. Ele mostrou os dentes e rosnou
um desafio antes de perceber que havia duas mulheres com o macho, e
uma delas parecia ser a companheira dele e a outra um filhote.
— Você deve ser o Sr. Wolfgard, — disse o homem com um sorriso
vacilante. — Michael nos pediu para entrar pela porta de trás do café,
mas há um pônei bloqueando a porta, e ele não parecia inclinado a sair
do caminho.
— Michael...?
— Debany. Eu sou o pai de Michael. Essas são a mãe e irmã dele.
Simon deu uma olhada rápida na companheira, e uma mais
completa na fêmea mais jovem. Esta era a irmã que queria trabalhar com
os animais, a irmã que poderia ser mais adequada para ir para Bennett
e trabalhar com Tolya.
Desejando que ele não tivesse sido tão rápido em rosnar, ele
correu a língua sobre os dentes antes de tentar um sorriso. — Desculpe
pelo rosnado. — Ele não se incomodava, mas isso parecia à coisa certa a
dizer.
— Você tem muito em sua mente, — disse Debany.
— Você pode passar por aqui para chegar até a Bite. — Ele levou-
os para o arco que ligava as duas lojas e quase colidiu com o Oficial
Debany.
— Papai. Por que você...?
— É o mesmo caminho, — Simon disse, imaginando que ele
poderia destilar uma conversa inteira com essas poucas palavras. —
Onde estão Ruthie e Merri Lee?
— Elas estão aqui. Alguma notícia de Meg? Karl e eu estávamos
prestes a sair e ajudá-lo a procurar por ela.
Tocado que eles se importavam com Meg o suficiente para deixar
sua própria matilha, Simon sentiu que seria mais fácil ter a família de

441
Debany no Pátio. — Ela está com Jester no Pony Barn. Sam e Skippy
estão com ela. Névoa está aqui para levar suprimentos.
Debany virou e levantou a voz o suficiente para ser ouvido sobre
um burburinho de vozes humanas. — Karl! Tenente! Eles descobriram
onde Meg está. Ela está bem.
Agora Merri Lee e Ruthie correram na direção dele. — Ela está
bem? Você tem certeza? Ela precisa de alguma coisa?
— Mudas de roupas. Roupa para Sam. Livros. Alimento para
Meg. Boone Hawkgard irá fazer um pacote de carne para Sam e
Skippy. Névoa vai entregá-lo.
Elas olharam para ele por um momento, piscando. Talvez
pensando. então as duas correram para trás dele, gritando saudações à
família de Debany e o deixando se sentindo com menos certeza de quem
estava no comando. Em algum momento, ele ia ter que levar um tempo
para estabelecer o seu domínio.
Primeiro, ele iria ver o quão grande era o bando humano que ele
estava lidando agora.
<Boone?> Clamou o falcão que dirigia o açougue. <Eu preciso de
um pouco de carne para Sam e Skippy. Eles estão no Pony Barn. Névoa
está esperando na Bite.>
<Dê-me um par de minutos. Vou levar aí.>
O céu escureceu. Vento jogou um punhado de granizo contra as
janelas do café.
Vlad entrou na loja com o Comandante Gresh e o que Simon
assumiu que fossem sua companheira e filhos do homem. Atrás deles
estavam o Capitão Burke e o Agente O'Sullivan.
Passando por ele, Merri Lee e Ruthie. Eles se esquivaram de todas
as outras pessoas lotando o café, teve uma discussão apressada com
Nadine Fallacaro, que estava atrás do balcão, em seguida se dirigiu para
a porta de trás, onde Névoa esperava.
— Arroo! — Mesmo de uma garganta humana, o uivo de um Lobo
silenciava os humanos de forma muito satisfatória. — Há comida aqui e
na Carne Verde. Há livros na biblioteca, e vocês podem ler qualquer coisa

442
na loja. — Simon fez um gesto em direção ao arco que indicava a livraria.
— Os filhotes estão hospedados em um dos apartamentos com a
senhorita Twyla e Sierra. Eles têm livros e filmes e comida lá em cima.
Vocês humanos precisam escolher um lugar para esperar a tempestade
passar e depois ficarem lá. Quando a tempestade chegar, nós vamos
trancar as portas porque qualquer coisa viva lá fora será considerada
presa.
Silêncio.
Burke avançou. — Eu aprecio a oferta de abrigo para algumas das
nossas famílias. O Tenente Montgomery permanecerá aqui com sua
equipe para dar-lhe toda a assistência que puder, e para responder a
todas as chamadas na área. Vou voltar para a estação. O resto dos meus
homens está lá.
Simon olhou nos olhos de Burke. O homem sabia, ou sabia o
suficiente, do que estava vindo com a tempestade.
— Fique dentro da estação até que passe a tempestade, — Simon
disse. — Isso não vai garantir sua segurança, mas você não terá
nenhuma possibilidade fora de lá.
Você vai ter que deixar alguns humanos morrerem se você quiser
sobreviver e salvar o resto. Essa era a mensagem real.
Burke assentiu. — É melhor eu ir.
Louis Gresh olhou para sua companheira. — Eu vou para a
estação também. Você e os nossos filhos estarão seguros aqui.
Sua companheira não parecia certa disso, mas ela balançou a
cabeça.
— Elliot Wolfgard me deu permissão para permanecer no
consulado e manter contato com o governador Hannigan, — disse Greg
O'Sullivan. — Ele sugeriu que eu pegasse comida e bebida antes da
tempestade chegar.
— Faça isso agora — disse Simon.
— Eu gostaria de dizer. — A voz de Burke cresceu no café. —
Enquanto há conforto nos números, vocês precisam considerar o que foi
dito. Há dois lugares abastecidos com provisões e outros com

443
suprimentos. Vocês precisam se dividir entre eles, de modo que um lugar
não fique sem comida, enquanto o outro lugar possa estragar.
O Debany macho mais velho olhou em volta. — O Capitão tem um
bom ponto. então como podemos nos dividir?
Simon olhou para os humanos que pareciam estar esperando por
ele para emitir instruções.
Onde os humanos poderiam ficar? Ele não tinha previsto
qualquer um deles querendo ser útil, apenas querendo um lugar seguro
para se abrigar.
— Eu estou trabalhando com Nadine aqui, — disse Merri Lee. —
Ruthie e Eve Denby estão lidando com a comida no Carne Verde. — Ela
olhou para Simon. — Nós enchemos cestos e colocamos em um saco de
transporte com coisas para Meg. Névoa está voltando para o Pony Barn.
— Quanto tempo você acha que a tempestade vai durar? —
Perguntou Kowalski.
Ele olhou para os humanos amontoados no café. Eles estavam lá
porque eles, ou seus companheiros, compreendiam a necessidade de
trabalhar com os indigenes da terra. Eles mereciam honestidade.
— O tempo da tempestade durará de acordo com a extensão do
ódio dos dentes e as garras de Namid contra os humanos em Lakeside,
— ele respondeu. — Um monte de lugares humanos em Thaisia terá
desaparecido quando terminar. Muitos deles já se foram. — Ele olhou
para Vlad, que assentiu tristemente. — Como o fogo que destrói a fim de
abrir espaço para um novo crescimento, os indigenes da terra que estão
chegando com esta tempestade vêm para destruir. Nós esperamos estar
entre os sobreviventes que irão fazer algo novo.
— Eu vou com o Capitão Burke, — Nathan disse pasando em
baixo do arco vindo da HBL. — Eles só poderão deixar a delegacia se um
dos Wolfgard estiver por lá.
<Você tem certeza?> Simon perguntou.
<Meg está segura, e você e Blair precisam ficar aqui para proteger
o Courtyard. Eu já estive na delegacia antes.>

444
Nenhum dos seres humanos falou. Em seguida, Burke disse: —
Obrigado. Eu não esperava nenhum de vocês... — Ele parou, então
continuou bruscamente, — Tenente, comigo por um momento.
Burke saiu do café, seguido por Louis Gresh e o Tenente
Montgomery.
Os humanos estavam amontoados, as fêmeas falavam com
Nadine e Merri Lee, os machos falavam com a polícia, e os juvenis
estavam amontoados com o olhar perdido.
Simon se juntou a Vlad, e disse: — Você vai ficar aqui?
Ele assentiu. — John está na Carne Verde para ajudar com os
humanos. Blair está guardando o Complexo Utilities. Henry vai ficar em
seu estúdio, então ele estará nas proximidades se houver qualquer
problema. Jenni, Starr e Jake estão na Sparkles & Junk. Julia e Marie
Hawkgard e Allison Owlgard estão na Biblioteca da Praça do Mercado.
Vlad olhou ao redor, franzindo a testa. — Alguém viu Tess?

****

— Espere por mim no carro, — Burke disse para Louis Gresh e


Nathan Wolfgard. Então ele olhou para Monty. — Quero que você e a sua
equipe fiquem aqui. Pode haver alguns saques nas lojas ao redor desta
área que não estejam vinculados a algumas perturbações e pedidos de
assistência. Mas espere o comando do Wolfgard para sair antes de se
aventurar para qualquer coisa. Você me entende?
Monty estudou o seu Capitão. — Você sabe o que vai acontecer?
— Eu vi algo parecido com isso uma vez. É sangrento e terrível, e
dá a um homem uma razão para fazer qualquer coisa para impedir que
isso aconteça novamente. E eu não quero levar qualquer um dos meus
homens para o necrotério procurando... — Burke parou.
— Eu deveria estar na estação com você.
— Sua equipe está trabalhando aqui, e é importante que você
fique com eles.

445
Algo mais sob as palavras. — Você não espera muito.
Burke hesitou. — Nossas chances melhoraram bastante com
Nathan Wolfgard conosco na estação. E eu não teria dito aos homens
para levarem suas famílias para um lugar que eu achasse que fosse
destruído. Mas se algo acontecer e eu não estiver mais apto para o
serviço, eu quero um Oficial Superior de confiança para ser capaz de
assumir o comando.
— O chefe da estação não vai me promover sobre os homens que
trabalham aqui mais tempo, — Monty protestou.
— Não é sobre antiguidade, Monty. É uma questão de
sobrevivência.
Um trovão o fez saltar.
Burke estendeu a mão. — Boa sorte, Tenente.
Monty pegou a mão de Burke e a segurou firme por um momento.
— Boa sorte, senhor.
Ele estava na porta e viu Burke caminhar pela área pavimentada
e desaparecer ao virar a esquina para o estacionamento dos funcionários,
onde ele deve ter deixado seu carro. Então Monty forçou a porta para
fechar e encostou-se nela. Se ele corresse para os apartamentos para dar
uma olhada em Lizzy, ele iria agitar as crianças quando sua mãe já estava
cuidando delas?
Ele ouviu passos e vozes, e o farfalhar de passos.
A família Gresh sorriu para ele. — Nós estamos na equipe da
Carne Verde, — disse a Sra. Gresh.
— Melhor se apressar então. — Monty segurou a porta para eles
e notou Kowalski correndo para alcançá-lo.
— Alguma ordem, Tenente? — Perguntou Kowalski.
— Fique em contato e mantenha as pessoas aí dentro. Aguarde
instruções antes de sair.
— Sim, senhor. Você vai ficar aqui?
— Sim. — Manter contato com Simon e Vlad era prudente. E se
Lizzy tivesse necessidade dele, ele teria uma melhor chance de chegar aos
apartamentos da porta traseira da Bite do que pela Praça do Mercado.

446
— Michael vai ficar aqui, assim como Pete Denby.
— Nós cuidamos daqui. Agora vá.
Kowalski concordou.
Sangrenta e terrível, Burke tinha dito. Ele orava para que nenhum
dos homens enfrentasse a parte sangrenta e terrível, mas ele achava que
muitas orações não seriam respondidas hoje.

****

Tess observava o carro preto sedan saindo do Pátio e esperou um


minuto antes de abrir a porta da frente do Gabinete do Liaison e entrar,
puxando o capuz que escondia seu rosto, incluindo seus cachos pretos.
— Não é um dia bom para estar do lado de fora, — disse Nyx.
Tess virou-se para a esquerda, mas manteve os olhos voltados
para o chão. A máscara humana era agora um verniz transparente
silenciando o efeito de olhar para ela. Oh, os órgãos de suas presas iriam
escurecer e os seus cérebros iriam sangrar, mas não tão rápido como
quando ela revelou sua verdadeira forma sem o véu para amaciá-
la. Doente demais para causar problemas, a presa iria fugir para morrer
em outro lugar, o que lhe caía muito bem já que ela teria aproveitado o
jantar na melhor fase da energia da vida.
— Você está aqui por uma razão? — Nyx persistiu.
— Para garantir que nada venha até aqui causar danos, — Tess
respondeu, observando as pessoas correndo na direção da rua
principal. Era um lugar tão bom quanto qualquer outro para esperar a
tempestade, uma vez que tinha comida e bebida em abundância, mas ela
achava que os clientes não era o tipo de humanos que tinha uma boa
opinião da vizinhança do Pátio ou de seus residentes.
— Você está falando de humanos?
— Eles estão incluídos. — Ela sentiu Nyx se aproximar.
— Mesmo a sua forma de indigene da terra não poderia cuidar de
tudo isso.

447
— Seria uma boa Colheita, e eu não precisaria me alimentar por
um ano — Tess disse com ar sonhador. Quanto tempo passou desde que
ela se sentiu totalmente satisfeita?
— Não se alimentar durante um ano? — Nyx soou enojada. — E
se você saciar a fome, quanto tempo pode esperar para estar com fome
de novo?
O pensamento fez Tess dar uma risada, e linhas vermelhas
apareceram no cabelo preto. — Você deveria entrar.
— Eu estou segura o suficiente dos dentes e das garras de
Namid. A fumaça iria apenas pegar em suas gargantas e deixá-los
tossindo. Você não sabia? — Um leve toque nas costas de Tess quando
Nyx disse mais a sério: — Hoje você não vai caçar humanos sozinha. Vou
manter a guarda na porta dos fundos dos apartamentos. Dessa forma,
eu também poderei verificar as escadas que dão para a Crowfield Avenue.
Enquanto Nyx fluia ao longo do caminho de acesso, Tess ouviu-a
dizer a alguém para se apressar. Olhando para o consulado, viu Elliot
Wolfgard e desviou o olhar rapidamente quando ela percebeu que havia
um humano com ele.
— Não, — Elliot estalou. — Não olhe. Basta entrar.
<Lobo,> Tess disse. <Este é um bom conselho. Se eu fosse você, eu
iria fechar as persianas nas janelas que dão para a área de entrega. Eu
não gostaria de causar nenhum dano para você sem querer.>
<Eu vou passar esse conselho para Henry,> disse Elliot.
Uma rajada de vento puxou seu capuz, quase revelando seu rosto.
Tess entrou Gabinete do Liaison e virou o bloqueio simples para
manter a porta bem fechada.
Havia muitos apoiadores do HPU na cidade. E quando eles
bebessem bastante para adquirirem coragem, alguns deles viriam aqui à
procura de problemas, e ela queria se manter de fácil alcance para eles.

****

448
Sozinho no escritório da HBL, Simon olhou para o seu celular e
quase abriu a mensagem que ele tinha guardado apenas para ouvir a voz
de Meg. Em vez disso ele ligou para o Pony Barn.
— Pony Barn. Meg falando.
Ouvir a voz dela o encantou, e aliviou um pouco a infelicidade que
ele não sabia que havia sentido até ela desaparecer. É por isso que ele
rosnou, — Eu irei mordê-la tão forte.
— Não, você não vai. — Sua voz soava engraçada. Ele suspeitava
que ela estivesse rindo dele. — Você vai me dar um grande bônus no meu
próximo salário, não só por perceber que eu precisava ficar longe de todas
as pessoas que estavam fazendo a minha pele formigar, mas por ir a um
lugar calmo onde eu não estaria sozinha e você não teria que se
preocupar comigo. E se eu não tivesse feito isso, eu não teria encontrado
Sam e Skippy.
Ele não podia discutir com nada disso, mas...
— Eu queria que você estivesse aqui também, — Meg disse
calmamente. — Eu gostaria que nós ficássemos enrolados na palha
assistindo a tempestade. Então você ficaria seguro também.
— Eu estou seguro. — De alguma forma, saber que ele não poderia
simplesmente correr para fora e se juntar a ela o fez sentir como se ela
estivesse muito longe.
Chuva misturada com granizo atacou as janelas. Droga! Será que
ele se lembrou de fechar as janelas do apartamento esta
manhã? Será? Ele não ia perguntar. Isso seria uma coisa nova para ela e
ela iria se preocupar.
Ele suspirou. — Já começou. É melhor eu ir. Fique com Jester.
— Eu vou ficar.
— E não deixe Sam sair, nem mesmo para fazer xixi.
— Eu não vou deixá-lo sair.
— E se Skippy sair, não vá segui-lo.
— Eu não vou. Nossa, Simon, você está se tornando um ditador?
Ele não sabia o que era isso, mas soou como um insulto e soou
como algo que ele deveria morder.

449
Ele grunhiu e desligou. Quando ele desceu, ocorreu-lhe que se
sentia um pouco insultado pela provocação de Meg, mas isso lhe animou.

****
Para: Douglas Burke

Espero que esta mensagem chegue até você. Fontes confiáveis


dizem que as tropas do Cel-Romano estacionadas na terra invadida
dos indigenes da terra desapareceram. Muito sangue e equipamentos
estraçalhados; pedaços de corpos espalhados e indicações de que pelo
menos alguns homens morreram de uma espécie desconhecida de
praga. Alguma especulação de que os soldados de pequenas aldeias
“provinciais” estão voltando para casa, mas supõe-se que a maioria dos
homens estacionados no país selvagem estão mortos.
Os pescadores das aldeias situadas ao redor dos assentamentos
indigenes da terra advertiram os pescadores de Brittania que o Cel-
Romano é “um lugar que deverá ser evitado” e aconselharam os homens a
ficarem perto de casa.

-Shady Burke

450
CAPÍTULO 50
Earthday, Sumor 1

Em Lakeside, os raios atingiam qualquer veículo em movimento


com precisão estranha enquanto a chuva escorria das calhas das casas
rugindo como Talulah Falls. Ruas se tornaram rios velozes. Telhados
despencaram. Porões inundaram. E todo mundo orava aos deuses e seus
espíritos guardiões pessoais para que a chuva parasse antes dos rios
transbordarem demais.
Em seguida, um vento norte forte soprou a chuva vinda do sul, e
uma densa neblina cobria a cidade de Lakeside, com um silêncio
estranho.
E então eles entraram em Lakeside vagando pelas ruas por presa,
e o pior deles andava sobre duas pernas.

****

Douglas Burke agarrou Louis Gresh no momento que a chuva


aliviou, e a maldita névoa cobriu a cidade.
— Leve seus homens e guarde a porta dos fundos, — Burke disse
com urgência tranquila. — Fiquem trancados. Todos aqui dentro, e eu
falo sério.
— A tempestade acabou. — Gresh protestou. — Devemos ir lá
fora.
— Louis, a tempestade ainda nem começou. — Os homens
estavam inquietos, querendo sair e ajudar. Deuses acima e abaixo! Será
que os seus homens achavam que ele parecia diferente? Mas se saíssem
muito cedo, eles estariam entre as vítimas em vez de serem os salvadores.

451
— Esperem o Comandante na porta.
Louis estudou o rosto de Burke, então assentiu e foi criar uma
barricada na porta dos fundos da estação.
Ciente de que Gresh iria ficar com ele, Burke correu para o seu
escritório. Ele não tinha certeza se o Comissário da Polícia Kurt Wallace
tinha desembarcado na estação de Chestnut Street por acaso quando a
tempestade atingiu a cidade ou se o homem achava que se esconder entre
os Oficiais que foram marcados de amantes do lobo iria mantê-lo
seguro. Mas Wallace ainda era um torcedor HPU bem vocal, e tê-lo aqui
ao mesmo tempo em que Nathan Wolfgard iria criar um tipo perigoso de
mal-estar entre alguns dos civis e policiais que não estavam plenamente
convencidos de que o movimento HPU estava prestes a se tornar algo
extinto como os dinossauros.
Após fazer uma verificação para certificar-se de onde estava sua
arma de serviço, Burke pegou duas carregadas de uma gaveta da mesa e
as colocou no bolso do paletó.
Enquanto ele caminhava para a porta, ele parou e se virou. —
Nathan? — O Lobo tinha passado as últimas duas horas aqui, mantendo
afastado o chefe da estação Wallace a fim de manter os dois separados.
Agora a cadeira de visitantes estava com as roupas que Nathan tinha
usado, mas não havia nenhum sinal do Lobo.
Esperando que Nathan não estivesse em perigo dentro da estação,
ou prestes a atacar qualquer um que ele considerasse um inimigo, Burke
caminhou pelo prédio, passando por um grupo de pessoas que estavam
perto da porta da frente da estação. Ele trancou a porta, ficou na frente
dela, e sacou a arma.
— Ninguém vai sair ainda, — ele disse em uma voz que não
admitia discussão ou contestação, pelo menos não até que o chefe ou
Wallace o confrontasse.
Ele iria lidar com eles se e quando chegasse o momento.

****

452
Algo se moveu do lado de fora do Pony Barn. Meg não conseguia
ouvi-lo, mas ela sabia que alguém estava lá, ela sentiu o peso da sua
presença em sua pele.
Ela apertou sua mão sobre Sam, e ele não parecia inclinado a
deixar qualquer espaço entre eles. Skippy, por uma vez se mostrava
alheio, e tinha escavado a palha na parte de trás da baia. Jester olhava
para as portas do celeiro, como se isso por si só fosse mantê-los fechados
e todos seguros.
Todos os pôneis que não estavam com os Elementais enfiaram a
cabeça para fora de suas baias, mas Tornado e Redemoinho saíram e
enfrentaram as portas.
Jester olhou para Meg, então focou nas portas novamente.
Ela não sentiu nada como uma profecia sob sua pele. Não era
alfinetes e nem agulhas, nem espinhos ou zumbidos. Porque nenhum
deles tinha um futuro? Ou porque ela já deveria saber a escolha que ela
deveria fazer?
Nós estamos aqui, ainda mantendo a guarda. Ainda protegendo o
mundo.
Meg levantou a cabeça. — Arroo!
— Shhhh, — Jester sussurrou.
— Eles precisam saber que estamos aqui. Arroo!
— Arroo! — Sam uivou também.
Algo puxou uma das portas do celeiro abrindo um ou dois
centímetros.
— Arroo! — Meg uivou. Agora Sam e Skippy uivaram com ela.
Mais uivos soaram dos Lobos que mantinham a guarda em várias
partes do Pátio.
Estamos aqui. Não era essa a mensagem que tinha sido silenciada
em outras partes do Thaisia? Mas não em Lakeside. O Wolfgard ainda
estava aqui.
— Arroo!
Alguém engasgando. Um Huff. Uma... Risada?

453
A porta do celeiro se fechou e algo se afastou, deixando para trás
um silêncio estranho.
Meg piscou. — Isso foi... Eles estavam rindo de nós?
Sorrindo, Jester desabou na palha ao lado dela. — Eles nunca
tinham ouvido um uivo de um não Lobo, e estavam curiosos.
— Eles estavam rindo de nós!
— Isso também, — Jester concordou alegremente. Ele levantou.
— Quer um pouco de comida, Meg?
— Acabou? A tempestade e... O depois?
— Para nós sim.
Ele parecia certo disso.
Ela se levantou e limpou seu traseiro. — Eu vou lavar as mãos
primeiro.
— Não use muito papel higiênico. Eu não estava pensando em ter
uma mulher aqui quando trouxe os suprimentos.
Pegando o saco de transporte com seus itens pessoais, Meg foi ao
banheiro na parte de trás do celeiro. Ela fechou a porta, abriu o saco, e
sorriu. Junto de outras coisas, havia um rolo de papel higiênico que Merri
Lee ou Ruthie tinha embalado.
— Ha! — Meg disse colocando o rolo na toalete.
Quando ela cuidou do seu negócio, ela se perguntou se o seu
pequeno arroo se tornaria outra história que viajaria pelos lugares.

****

Nathan abriu caminho através da multidão de humanos que


estavam entre ele e a porta da frente, com cuidado para evitar os pés e
os possíveis pezões em suas patas.
— Ninguém vai a lugar algum ainda. — Mesmo com os murmúrios
e resmungos e, em alguns casos, altas maldições, a voz de Burke cresceu,
tornando mais fácil para localizar o homem.

454
Gresh estava com o seu bando o ajudando a proteger a porta de
trás, mas Burke estava sozinho com os humanos. Ele imaginou Burke
com pêlos e decidiu que ele daria um Urso aceitável.
Atingindo a porta da frente, junto a Burke, Nathan olhou para
fora do vidro, avistando o nevoeiro. Os Anciãos estavam lá fora, diluindo
o rebanho. Ele podia senti-los. Se ele pudesse convencer Burke a abrir a
porta apenas uma polegada, ele poderia cheirar o ar e ter uma noção do
quão perto eles estavam da toca da polícia. Já que ele achava que Burke
não iria abrir a porta, ele iria fazer o seu trabalho de outra maneira.
— Arroo! — Nathan uivou. — Arroo! — Ele continuou uivando para
o outro indigene da terra.
— Burke! — Gritou um humano. Parecia que aquele era o tal
homem Wallace. — Faça aquilo... A criatura... Parar com esse barulho.
— Eu acho que ele está tentando salvar a vida de todos aqui,
avisando os outros predadores, — Burke respondeu. — Você realmente
quer dizer-lhe para parar?
Nathan e Burke, esperaram por uma resposta. Reinou o silêncio
e Nathan retomou o seu uivo — Eu estou aqui.
<Lobo.> Uma voz soou, profunda e poderosa e também nas
proximidades. <Você está preso neste lugar humano, Lobo?>
<Não. Esta matilha da polícia trabalha com o Courtyard e com os
Lobos. Alguns neste bando ajudam Simon, por isso estou aqui para ajudar
aqueles que estão protegendo os companheiros e filhotes.>
Algo chegou perto da porta de vidro. Algo sobre duas pernas que
se elevou sobre Burke, que era um grande humano, e realmente não
podia ver a forma que parecia vestida no nevoeiro, mas as garras que, de
repente arranharam o vidro, deixaram marcas suficientemente claras.
Os humanos engasgaram. Alguns caíram num esforço para se
afastar da porta. Os policiais de uniforme olharam para ele, para Burke,
e para o vidro e, finalmente, talvez, tivessem compreendido.
— Capitão? — Disse um Oficial. — Quando...?
Burke olhou para Nathan, que pensou por um momento. Os
Anciãos estavam se afastando, mas eles não foram longe o suficiente para

455
pensar em voltar para as presas, que de repente começassem a se
derramar para fora das portas.
Ele assumiu a posição de guarda em frente à porta e voltou o olhar
para Burke.
— Ainda não, — Burke disse. — Mas logo os Oficiais de patrulha
irão trabalhar com a expedição e começar a priorizar as chamadas para
que possamos avançar assim que ficar seguro sair.
Burke guardou a arma e estudou Nathan. — Eu preciso fazer
algumas chamadas. Você vai ficar aqui?
— Arroo, — Nathan respondeu suavemente. Ele achava que nem
todos os humanos fossem incomodá-lo enquanto ele estivesse entre eles
e o indigenes da terra que estava caçando nas ruas.

****

Tess saiu do Gabinete do Liaison, se afastou dois passos do


edifício, e parou. Ela não conseguia ver absolutamente nada neste
nevoeiro, e ela não desejava o constrangimento de tropeçar em algo, ou
em alguém.
Dando um passo para trás, ela apalpou e sentiu a alça de metal
reconfortante da porta.
A Main Street devia estar diretamente na frente dela, apenas para
além da área de entrega e da calçada. Mas ela não ouvia o som de
carros; ela ouvia o som da água correndo.
Meg ficaria desapontada se as plantas jovens no jardim se
afogassem ou fossem esmagadas para além da recuperação devido ao
granizo e a chuva intensa. O resto do bando humano ficaria
decepcionado também, mas eles não chegavam a pertencer aos indigenes
da terra da mesma forma que Meg pertencia, e sua decepção não iria
repercutir pelo pátio.
Nada do que ela, ou qualquer outra pessoa, pudesse fazer sobre o
solo saturado e o escoamento em ruas transformadas em rios.

456
Sussurros. Maldições abafadas. O respingo de água. Um grito
quando um deles perdeu o equilíbrio e foi varrido.
Tess empurrou o capuz da cabeça. Não havia mais necessidade
de manter um verniz sobre sua verdadeira forma a fim de diminuir o
impacto de olhar para ela; o nevoeiro iria servir a esse propósito agora.
Afinal de contas, ela queria colher vida o suficiente de sua presa para
torná-las fatalmente doentes, mas não imediatamente. Deixá-los fugir de
volta para os carros estacionados do outro lado da rua ou para os seus
companheiros no restaurante, que provavelmente tinham aplaudido
quando propuseram fazer uma marcante aventura perto do Pátio
dos indigenes da terra. Pena que eles não tenham percebido que a
tempestade havia sido moldada para o benefício de outros predadores que
se moviam através da cidade agora.
Listras claras no nevoeiro, como se algo tivesse arranhado com as
garras sobre um cobertor cinza. Tess viu figuras se
aproximando. Quatro, cinco e seis. Será que eles tinham armas? Ela teria
que assumir que eles tinham, e até mesmo um dos predadores mais
ferozes de Namid não podia se dar ao luxo de ser descuidado com armas.
<Nyx, seis macacos estão na área de entrega. Você pode bloquear
o caminho de acesso no caso de algum deles passar por mim?>
<Eu vou ajudar se você concordar em deixar dois passarem por
você,> Nyx respondeu. <Estou com fome.>
<Eles estão cheios de coragem líquida.>
Nyx suspirou. <Eu não quero ficar bêbada em uma refeição. Um,
então.>
<Um.>
Seis lanternas ligadas, pedaços de carne que diziam, Nós estamos
aqui! Venham nos comer!
Não vendo nenhuma razão para obrigá-la, Tess se moveu
rapidamente, indo na direção do homem que estava mais próximo da
parede de tijolo do espaço entre a área de entrega e o quintal de
Henry. Seu ombro bateu em um braço. O homem praguejou e olhou
diretamente para ela quando tentou agarrá-la.

457
Ela se afastou de seu alcance enfraquecido, saboreando o tipo de
alimento que raramente se permitia consumir desde que chegou a
Lakeside. Afastando-se dele, ela o ouviu tropeçar em direção à rua.
Os outros cinco se viraram para ela, fazendo as lanternas
destinadas para a luz atingir o seu rosto e cegá-la. Mas ela continuou se
movendo, olhando em seus olhos e, em seguida, afastando o olhar da luz
ofuscante. Goles fatais. Mas um deles virou um pedaço de corrente e
conseguiu acertar sua perna... Tess sustentou o olhar por tempo
suficiente para fazer chover dentro do crânio dele.
<Tess!> Nyx gritou. <Entre!>
Ela teve um momento para compreender o súbito silêncio antes
de dois dos dentes e garras de Namid correrem pelo caminho de acesso e
irem direto para a presa iluminada.
Era como se nevoeiro tivesse se transformado em enormes formas
de pelo que desafiavam uma descrição ou nomeação.
Tess virou-se para correr para o Gabinete do Liaison, mas uma
perna não estava funcionando direito. Ela tropeçou e bateu na parede de
tijolo. Ela estendeu a mão, sentiu o ar. Não havia nada de gracioso sobre
sua disputa com a parede, mas ela ouviu as garras raspando os tijolos
quando ela caiu no quintal de Henry e apertou-se contra a parede em um
esforço para se esconder.
Um pouco perto demais, ela pensou. Mas não foi uma tentativa
séria para pegá-la. <Nyx? Você está bem?>
<Meg deixou a pequena janela do banheiro parcialmente
aberta. Essa foi a maneira mais rápida para acessar o escritório. Eu vou
ter que falar com ela sobre manter a tampa sanitária para baixo. Eu quase
me aterrei no sanitário.>
Tess colocou a mão sobre sua boca. <Não me faça rir. Eu estou me
escondendo no quintal de Henry, por isso não estou tecnicamente dentro,
e minha perna está machucada o suficiente para que eu não seja capaz de
correr para me esconder.>
<Você não deve deixar os humanos chegarem perto o suficiente
para feri-la,> Nyx repreendeu.

458
<Calculei mal.> Tess tentou respirar tranquilamente. Havia sons
no outro lado da parede que não eram exatamente de alimentação, e
definitivamente não era de humanos. Na verdade, ela não tinha ouvido
nenhum grito humano, e isso lhe dizia muito sobre a velocidade destes
indigenes da terra.
O arranhão tranquilo de garras sobre os tijolos acima de sua
cabeça. O cheiro de terra e algo muito selvagem inclinando-se sobre a
parede para farejá-la.
Será que ela se atreveria a se mover o suficiente para olhar em
seus olhos? E se ela não conseguisse colher vida suficiente de um Ancião,
ela poderia enfraquecê-lo o suficiente para fugir antes que ele a rasgasse?
De repente lhe ocorreu que ela era uma forma de indigene da
terra que era um dos predadores mais ferozes de Namid até que você
cruzasse com o verdadeiro país selvagem e conhecesse os indigenes da
terra que moravam por lá.
O Ancião se retirou.
Mais sons. Levou um segundo para Tess identificar que os Anciões
estavam arrebanhando os humanos para a rua cheia de água. Ela iria
tentar alertar Montgomery e seus homens antes que saíssem e
encontrassem... O que quer que fosse.
Então ela ouviu outro som que a fez lutar para ficar de pé. Eles
estavam indo para o escritório do Liaison? Por quê?
<Nyx!>
<Eu sei. Outro entrou pela porta de trás e está farejando.>
<Você pode sair?>
<Fumaça não é saborosa, por isso não estou tão preocupada.> Uma
pausa. <Eu acho que alguns deles estão na sala de triagem agora.>
Um dos lugares constantes onde Meg ajudava a lidar com todas
as coisas no Courtyard. Bem, ela e Nyx teriam que arrumar novamente
antes de deixar Meg entrar.
Assumindo que os Anciãos não iriam saborear os biscoitos
especiais nos armários.

459
Tess testou a perna dolorida. Estava machucada, mas não
quebrada, e nem sangrando.
<Tess, entre,> disse Henry.
Seu cabelo estava mais verde do que preto quando ela ousou olhar
na direção do estúdio, confiante de que um olhar não iria prejudicar o
Urso. Ele estava na porta do estúdio, observando o Gabinete do Liaison.
Ela sentiu o cheiro desse perfume selvagem que nunca tinha sido
tocado por nada humano até agora. Em seguida, ele foi embora sem dar
nem mesmo um toque, e o silêncio opressivo, assim como o nevoeiro,
dissipou.
Henry saiu do estúdio e se aproximou de Tess. — Insensato tomar
de seis inimigos quando eles não podiam ver bem o suficiente para
morrer.
Ela encolheu os ombros. — Não iria deixá-los entrar no Pátio.
Uma luz foi acesa na sala de triagem, e a janela foi um pouco
aberta.
Tess entrou mancando até a janela com Henry educadamente a
seguindo.
— Nyx?
Um suspiro antes de a Sanguinati falar: — Venha até a porta dos
fundos.
Henry não esperou por Tess neste momento. Ele já estava fora de
seu quintal, entrando no escritório antes de chegar ao portão de madeira.
Quando ela entrou mancando no escritório do Liaison, deu uma
olhada apressada em volta, e não encontrou nenhum sinal óbvio de dano,
apenas algumas coisas foram empurradas de seus lugares, por alguma
coisa grande farejando.
Nada rasgado na sala de triagem, mas...
— Eu ouvi um deles rosnar algo sobre o uivo do não Lobo e como
este lugar cheirava como um de seus covis, — disse Nyx.
— O cheiro de Meg é forte aqui, — disse Henry. — Talvez eles
tenham gostado. — Ele não parecia satisfeito com isso.

460
Tess não estava satisfeita também. Os Anciões já estavam
suficientemente intrigados com a relação de Meg com os Outros no Pátio,
sem dar-lhes mais razões para serem curiosos sobre ela e Simon.
— Isso não foi tudo o que eles gostaram. — Nyx apontou dois
recipientes de plástico com mutilações em forma de garras na mesa da
sala de triagem. — Eles comeram todos os biscoitos de lobo.

****

Simon abriu a porta dos fundos da livraria, apenas uma polegada,


e cheirou o ar. O cheiro primal dos Anciões estava ao redor da área atrás
das lojas, mas eles tinham se afastado do Pátio. Eles estavam voltando
para o país selvagem, ou estavam reunidos em outra parte da cidade para
uma caçada?
Ele fechou a porta.
— Simon! — Henry chamou ao mesmo tempo em que Simon ouviu
o telefone do escritório tocando. Bem, Vlad estava trabalhando no andar
de cima e poderia atender a chamada.
A voz do Urso não vinha do estúdio ou do quintal; chegava de trás
do Gabinete do Liaison.
<Simon!>
A tensão na voz de Vlad fez Simon subir as escadas para o
escritório.
Vlad estendeu o telefone. O coração de Simon acelerou e seu corpo
tremia. Ele tinha visto aquele olhar no rosto de Vlad uma vez antes.
Tomando o receptor, ele disse: — Simon.
— A serpente de metal permanece em sua toca, ou vamos matá-
lo. — Não era uma voz destinada à fala humana, e até mesmo por uma
linha telefônica, raspava os ossos de Simon.
— Para sempre?
Silêncio. E se eles tivessem tomado a questão como um desafio?

461
— Os trens trazem alguns dos alimentos humanos que usamos
no Pátio, — acrescentou.
— Você não precisa de alimentação humana, Lobo.
— O sangue doce precisa de comida humana. — À esta altura,
Henry, Tess e Nyx tinham entrado no escritório. Eles pareceram
alarmados quando ele mencionou Meg. Tudo bem, não havia muitas
coisas que não poderiam vir por caminhão ou navio se eles fornecessem
apenas ao Courtyard, mas seria bom saber se os trens já não eram mais
um meio de transporte.
— Dia, — foi à resposta final rosnada. — Ele viaja apenas com o
sol agora.
Significado: os trens e qualquer carga já não poderiam mais viajar
através do país selvagem entre o pôr do sol e o nascer do sol, a regra que
já estava delimitada, mas que não havia sido aplicada de forma
estrita. Simon se perguntou quantos trens seriam destruídos e quantos
passageiros seriam mortos antes que os humanos acreditassem que o
acesso através do país selvagem foi realmente limitado.
Mas não completamente negado ainda.
— O sangue doce é o uivo que não é Lobo?
— Ela canta com o Wolfgard, — ele respondeu com cautela.
Um som engasgado. Em tremor. Uma... Risada? Em seguida, o
zumbido no ouvido de uma chamada desconectada.
<Lobo.>
<Ar?>
<Os Anciões estão retornando ao país selvagem, mas pensamos
que alguns deles estão curiosos sobre a nossa Meg e irão visitar
novamente.>
Ele choramingou. Ele não podia evitar. Ele colocou o receptor de
volta na base e percebeu que o Tenente Montgomery tinha se juntado ao
grupo no escritório.
— Vamos precisar falar com o Capitão Burke e o Agente O'Sullivan
para transmitir uma mensagem.

462
— A polícia já pode sair? — Perguntou Montgomery, apontando
para as janelas, indicando a cidade.
— Algumas pessoas tentaram invadir o Pátio, — Tess disse. — Os
Anciões os mataram. Eu não podia ver o que foi feito, mas a polícia deve
estar preparada para algo ruim.
— Quantos corpos?
— Seis.
— Não haverá mais, — Simon disse, em seguida, ele acrescentou
— mas não tantos. — Porque Meg, a não Lobo, divertiu alguns dos
Anciãos.
— Se não tiver objeções, eu gostaria que as famílias dos policiais
ficassem por aqui mais um pouco, — Montgomery disse. — Quanto
menos pessoas nas ruas, melhor.
— Os Denbys vão querer ir em frente e verificar a casa. — Vlad foi
para as janelas que davam para Crowfield Avenue e os edifícios do Pátio
que tinham adquirido. — Certifique-se que as cortinas ou persianas
fiquem fechadas em todas as janelas com vista para as ruas. E não deixe
ninguém sair se não precisar.
Montgomery foi até a janela e olhou para fora. Sua pele de um tom
castanho escuro virou cinza e ele apoiou uma mão na moldura da janela
para lhe dar apoio.
— O que foi? — Tess perguntou.
— Eu não tenho certeza do que está nos gramados dos dois
edifícios, — Vlad disse com uma calma forçada — mas há intestinos
pendurados nos galhos das árvores como se fosse algum musgo estranho.
— Tenente? — Simon disse suavemente. Os humanos não
poderiam ser tão pragmáticos sobre a carne disponível com tantos
humanos estranhos no Courtyard agora, e os Outros não iriam tirar
proveito da carne abandonada.
Quando Montgomery se virou e olhou para ele, ele sentiu pena do
homem. Esta foi uma dura verdade sobre quem realmente guardava o
continente de Thaisia, mas Simon pensou que a outra parte dessa
verdade iria atingir mais duramente os humanos como Montgomery.

463
— Em forma de Lobo, podemos ajudá-lo a encontrar todas as
peças. — Ele teria que escolher os Lobos que lidavam com os humanos,
e que pudessem entender por que eles não poderiam fazer um lanche
com o que eles encontrassem.
— Eu preciso ligar para o Capitão Burke, — Montgomery disse.
— O quarto da Associação Empresarial está vazio, — disse Henry.
Eles esperaram Montgomery atravessar o corredor.
— Quando você quer se encontrar com os humanos para dizer-
lhes o resto? — Vlad perguntou.
— Em uma hora, se o Capitão Burke puder chegar até aqui. Quero
Nathan de volta também, — disse Simon.
— Tess precisa cuidar da perna dela, mas vou buscar Merri Lee,
e ela vai ajudar Nyx a arrumar o escritório de Meg, — disse Henry.
— O tanto que pudemos observar. — Nyx deu a Simon um sorriso
cheio de presas. — Os Anciões comeram todos os biscoitos lobo.
Ele apenas suspirou. O que mais havia para fazer?
Após os demais descerem para lidar com os humanos e resolver o
que precisava ser feito, Simon ligou para o Pony Barn e sentiu-se aliviado
quando ouviu a voz de Meg.
— Simon? Isso é você? Você está bem?
— Sou eu. Estou bem. Você está bem?
— Sim. Algo pensou em entrar no Pony Barn e... Eles riram de
nós.
Eles não estavam rindo de todos vocês. — Eles comeram todos os
biscoitos lobo na sala de triagem também.
— Eles... Bem! Você pode mordê-los por fazerem isso?
Até o pensamento disso o fez querer se esconder debaixo da mesa.
— Não. Mas... Eles podem ter misturados as coisas um pouco quando
estavam olhando ao redor. Henry, Nyx, e Merri Lee vão arrumar o
escritório, mas eu queria que você soubesse no caso de algo não estar
exatamente certo.

464
— Então eu vou me preparar para encontrar algo diferente. — Meg
não disse mais nada por um momento. — Vou verificar com a Padaria do
Eamer e ver quando eles podem enviar mais biscoitos.
— Você está bem? — Sua voz soava cansada.
— Jester, Sam e eu estamos contando histórias de Lobos em voz
alta para Skippy e os pôneis. Eu sou a narradora fêmea humana que
desmaia muito.
Meg soou amarga sobre isso. Talvez ele devesse convidar alguns
dos escritores para passar alguns dias no Pátio. Ele apostava no valor
dos biscoitos, e tinha certeza que não haveria mais fêmeas humanas
desmaiando em histórias futuras.
— Jester lê as partes dos maus humanos e o Líder Lobo, e nós
dois estamos ajudando Sam a ler as partes da Equipe Jovem Lobo, — ela
continuou. — Nós estávamos apenas fazendo uma pausa para tomar
bebidas e lanches quando você ligou.
Isso explicava sua voz cansada. — Fique aí mais algumas horas.
Então eu vou buscá-la e podemos verificar o Complexo Verde e o jardim.
— OK. Você precisa falar com Jester? Ele diz que você
provavelmente já sabe o que você precisa saber.
— Eu não preciso falar com ele, mas tenho outras chamadas a
fazer.
Ele desligou, desejando poder estar lendo as histórias da Equipe
Jovem Lobo com ela. Mas quanto mais cedo ele lidasse com as coisas
humanas, mais cedo ele poderia cuidar das coisas que realmente
importavam para ele.

****
— Henry?
Henry parou a limpeza da mesa no quarto dos fundos do Gabinete
do Liaison e considerou o tom de voz de Merri Lee. Não, era o tom: Ajuda,
ajuda, eu vi um rato! Mais como, eu vi uma cascavel com raiva. O que devo
fazer?

465
Deixando o pano sobre a mesa, ele entrou na sala de triagem, ao
mesmo tempo em que Nyx fluía a partir do quarto da frente.
— Qual o problema? — Disse Nyx.
Merri Lee apontou para as duas cartas no balcão acima da gaveta
que continha as cartas de profecia de Meg.
A primeira carta era uma representação lindamente desenhada,
mas aterrorizante, e Henry adivinhou que fosse uma das formas dos
Anciões. E ao lado havia a metade um biscoito lobo. A outra carta era um
desenho simples de um rosto sorridente.
— Isso é muuuito errado, — disse Merri Lee estremecendo.
— Sim, é. — Henry pegou o biscoito. — Deixar os alimentos sobre
o balcão vai atrair ratos.
Ela lhe deu um olhar que lhe disse que ele tinha perdido o ponto.
— E os Anciões não deveriam jogar com as cartas de Meg. — Nyx
abriu a gaveta e usou a ponta do dedo para deslocar as outras cartas. —
Pode interferir com sua leitura de uma profecia.
Agora Merri Lee olhou para Nyx. — Eu vou lá fora por um minuto
para conseguir um pouco de ar.
Eles concordaram.
— Ela parece perturbada, — disse Henry.
— É claro que ela está, — Nyx estalou. — E se você encontrasse
essa carta perturbadora e essa carta com esse sorriso?

****

Nathan observou o nevoeiro dispersando e revelando um céu azul


de verão.
<Nathan!>
<Marie?> Se o Falcão estava voando, isso significava que era
seguro sair?
<Simon diz que você deveria voltar para casa agora. Os Anciões
deixaram a cidade.>

466
Ele uivou de felicidade e espalhou os humanos que estavam
agrupados perto da porta quando ele correu para a cova do capitão
Burke. O grande humano olhou para ele quando ele entrou na sala e
mudou para colocar as roupas, mas Burke continuou falando no telefone.
— Parece que ele recebeu a notícia. Se eu me atrasar, eu vou
informá-lo. Caso contrário, me espere em uma hora. — Burke desligou,
foi até a porta, e explodiu: — Liberado, tudo certo. Vão! Vão! Vão!
Nathan observou os policiais se movendo para o seu próprio tipo
de caça.
Burke voltou para a sua mesa. — Eu sou esperado no Pátio em
uma hora; Posso lhe dar uma carona para casa. — Então ele estendeu
um pedaço de papel que ele tinha tirado de sua mesa. — O que você diz
disso?
Era uma mensagem do Shady Burke. Nathan leu, em seguida,
entregou-o de volta com um encolher de ombros. — Os humanos não
iriam atravessar mesmo qualquer parte do país selvagem por algum
tempo.
— E a frase ‘prestes há ganhar algum tempo' é o que me
interessa. Será que vamos ter algum tempo, Nathan?
A pergunta tinha um pouco da astúcia Foxgard. — Tivemos vento,
e muita chuva. — Sem mencionar os dentes e as garras de Namid
circulando pelas ruas.
— Você já viu um humano fazendo truques de mágica? — Burke
mergulhou a mão no bolso, tirou uma moeda, e o estendeu para Nathan
ver. — Como se fossem moedas desaparecendo ou tirando coelhos de
uma cartola?
Quando ele era jovem, ele tinha visto um ato mágico. Ele queria
encontrar o mesmo chapéu cheios de coelhos, o mesmo que o mágico se
apresentava, mas em todas as lojas que visitou, só encontrou um chapéu
feito de pelo de coelho. — Isso foi um truque? O chapéu realmente não
mantém um coelho? — Foi muito decepcionante, mas não inesperado dos
humanos.
— Está com fome? — Burke perguntou secamente.

467
— Sim. — Ele esperava que os humanos não tivessem comido toda
a carne no Pátio. Ele seria obrigado a trabalhar para a matilha, e não
teria tempo para perseguir uma refeição.
Burke moveu suas mãos e a moeda desapareceu. — Truque de
mão. Distraia a atenção para uma coisa, chamando a atenção para outra
coisa. — Burke virou a mão e revelou a moeda novamente. — Nós não
conseguimos muito tempo para o que está indo para o Cel-Romano, não?
— Pergunte a Simon. Ele poderia saber.
— Sim, muito provavelmente ele deve saber. — Burke olhou para
um quadro na parede. — Ele disse mais de uma vez que os indigenes da
terra aprendem com outros predadores. Ele não estava falando apenas
de técnicas de caça, verdade?
Não soou como uma questão que precisava de resposta, por isso
Nathan não disse nada.
Burke embolsou a moeda. — Bem, espero que o Comissário
Wallace queira gritar comigo por ser um alarmista e uma dor no rabo
dele, para não mencionar que mantive toda uma esquadra da polícia
como refém, mais ou menos. — Ele caminhou até a porta do escritório.
Simon era o líder do Pátio e diria aos humanos o que ele queria
que eles soubessem. Mas Nathan sentiu que ele deveria dizer algo para
Burke sobre a necessidade de manter a matilha policial definida.
— Capitão? Você não foi alarmista.
Burke olhou para ele e sorriu com força. — Eu sei.

468
CAPÍTULO 51
Dia da Terra, Sumor 1

— ... Grandes inundações em Toland, junto com falhas de energia


e danos em estradas e ferrovias. Em uma torção bizarra da tempestade,
uma cabeça cortada foi encontrada nos degraus de uma das estações de
televisão. Os rumores são que a cabeça é de Nicholas Scratch, o
palestrante motivacional do movimento HPU. Também existem rumores de
que Scratch estava em um navio para o Cel-Romano antes que o furacão
atingisse a Região Nordeste de Thaisia. O exame inicial feito por oficiais
médicos da polícia confirma que há sinais de que Scratch esteve em água
salgada em algum ponto, mas eles se recusaram a comentar se a cabeça
havia sido cortada por ferramentas ou dentes.

-News.

****

Vlad estava sentado na mesa grande na sala de reuniões do


consulado. Depois de ouvir o relatório sobre Nicholas Scratch, ele
entendeu por que Stavros Sanguinati tinha demorado ao redor de Toland
em vez de vir até aqui para assumir sua posição como líder indigene da
terra de Talulah Falls.

Ele também explicou sobre a onda que Oceano havia dado em


Toland. Ela estava caçando presas específicas e, com a ajuda de Stavros,
ela silenciou a voz do inimigo.

Agora Stavros estava a caminho de Lakeside, seguindo em


caminhões indigenes da terra ou Intui que estavam indo na direção certa.

469
Levaria um pouco mais de tempo para ele chegar em Lakeside, mas até
terem certeza de que as serpentes de metal realmente seriam autorizadas
a percorrer o país selvagem durante a luz do dia, era melhor para os
indigenes da terra usar outros meios de viagem.

Vlad acenou com a cabeça para o Agente Greg O'Sullivan, que


parecia pálido e tremia ligeiramente. Tomando um assento, O'Sullivan
deixou uma pasta sobre a mesa e murmurou, — Deuses acima e abaixo.

— Problemas? — Vlad perguntou.

— Muitos.

Simon, Henry, o Tenente Montgomery e o Capitão Burke


entraram seguidos por Elliot Wolfgard. Os humanos tomaram assentos
de um lado da mesa; Os indigenes da terra tomaram assentos no outro
lado, com Simon na cabeça da mesa.

— Temos que parar de nos encontrar assim, — Burke disse para


O'Sullivan.

— Eu prefiro não considerar a alternativa dessas discussões, —


O'Sullivan disse sombriamente. Ele falou baixinho, mas ele não estava
tentando esconder suas palavras de todas as orelhas afiadas na sala.

Vlad se perguntou o que O'Sullivan ouviu - e como ele ouviu.

— Estou ao telefone há uma hora e tenho muitas informações,


mas não tenho certeza por onde começar, — Simon disse.

— Há um ditado: todas as estradas percorrem o bosque, — Burke


disse. — Vamos começar por aí.

— Tudo certo. Os trens serão autorizados a viajar na Região


Nordeste, mas somente durante o dia.

470
— Já colocamos essa política em prática. A maior parte das
estações estão seguindo a regra nova, pelo menos os trens de passageiros,
— disse O'Sullivan. — Como isso é diferente?

— De agora em diante, não há segurança no escuro. Os indigenes


da terra no país selvagem destruirão qualquer coisa que se mova através
de seu território depois da escuridão.

O'Sullivan franziu o cenho. — Não há segurança no escuro. Isso


se aplica aos veículos nas estradas?

Simon assentiu com a cabeça.

— Então vamos fechar as estradas. — O'Sullivan suspirou. — As


pessoas podem voltar para suas casas depois do trabalho após escurecer
dentro dos limites da terra arrendada aos seres humanos?

Simon hesitou. — Talvez. Mas os humanos invadiram o país


selvagem e apagaram os limites, então agora existem... Lacunas...
Existem cercas que não podem mais ser consertadas, e eu acho que
alguns tipos de Anciãos não vão ficar mais afastados das cidades
humanas.

— Parece que as cidades terão de se estabelecer e aplicar os


toques de recolher, — disse Burke.

Vlad notou que nem Burke e nem Montgomery mencionaram que


os policiais, por necessidade, estariam do lado de fora depois da
escuridão para fazer cumprir os toques de recolher e outras leis
humanas. E os seres humanos que dirigiam ambulâncias ou apagavam
fogueiras?

Não há como dizer. Ainda não. Mas Vlad tinha certeza de uma
coisa: não importa o quão difícil ou terrível a vida seria para os humanos
em Thaisia de agora em diante, ia ser muito, muito pior para as pessoas
que moravam na Aliança das Nações do Cel-Romano após os dentes e as

471
garras de Namid retalharem as mortes dos shifters, bem como a tentativa
dos humanos de reivindicar uma parte do país selvagem.

— E as viagens entre as regiões? — Perguntou Montgomery.

Simon encolheu os ombros. — Eu só conheço as novas regras


para o Nordeste.

Isso não era verdade, Vlad pensou. Por causa do desenho que
Hope fez; Simon, Jackson e eu, sabíamos mais sobre o que iria acontecer
entre as regiões do que qualquer outra pessoa. — Você já sabe que as
linhas de comunicação entre as regiões foram cortadas, — ele disse a
O'Sullivan. — Você não pode mais ligar, enviar um e-mail, ou até mesmo
enviar um telegrama para uma pessoa ou empresa em outra região. Mas
não houve nenhum sinal de trilhos de trem ou estradas sendo destruídas
em fronteiras regionais, e isso impossibilitaria as viagens ou o fluxo de
correio e mercadorias entre regiões. Eu estou supondo que essas viagens
ainda são possíveis, mas será difícil, especialmente se qualquer forma de
transporte que está alugando frete tenha que estar fora das estradas ou
em um depósito de trem após escurecer. Ou ancorado em um porto se a
carga estiver indo por navio ou barco.

— Nenhum sinal de trilhos ou estradas sendo destruídas ainda,


— O'Sullivan disse. — Eu ouvi o que você não disse Sr. Sanguinati. —
Ele pausou. — O escritório do governador está trabalhando em uma lista
de cidades do Nordeste que ainda são acessíveis aos humanos.

— Alguém tem notícias das pessoas de Toland? — Perguntou


Montgomery.

— As estações de rádio indicam que o dano à cidade é sério e o


número de mortos está aumentando, — O'Sullivan disse. — Telefone e as
linhas de telégrafo estão inoperantes. E pode levar dias antes de serem
reconectados.

472
— Poderia levar meses, ou nunca poderia acontecer, — disse
Simon. — Separe os rebanhos, então isole os rebanhos.

Silêncio. — Poderíamos ficar isolados completamente das outras


cidades? — Burke finalmente perguntou.

— O HPU causou problemas em toda Thaisia, — Simon disse. —


Mesmo que a quebra de confiança tenha sido declarada, e todos vocês
sabiam que seria ruim se quebrassem ainda mais essa confiança, vocês
fizeram isso de qualquer maneira.

— Nem todos nós, Simon — disse Montgomery.

— Nem todos vocês. — Simon concordou. — Mas os macacos


tagarelavam pelos fios de telefone para conspirar contra nós. Assim os
fios não serão permitidos se esticar mais entre as regiões. Talvez nem
mesmo entre as cidades.

— Os telefones móveis ainda podem funcionar, — Vald disse. —


O rádio e a televisão ainda podem transmitir informações à distância.

— Os Anciãos quebraram o elo que podiam ver, — Henry disse.


— E eles o manterão quebrado já que aqueles fios foram esticados através
do país selvagem com permissão deles, que já não mais é dada. Mas os
Elementais saberão silenciar o rádio e a televisão se os humanos
tentarem usá-los contra nós novamente.

— Steve Ferryman diz que os Intuis já tinham construído


cabanas de comunicação em dois assentamentos perto da ponta do Lago
Superior, — Simon disse. — Um está no Nordeste, o outro na Região Norte
do Centro-Oeste. Os operadores estão usando rádios de banda para os
cidadãos conversarem entre si e transmitir as mensagens entre as
regiões. Cada cabana também tem telégrafo e fios de telefone, para que o
Intuis possa fazer chamadas telefônicas e também usar e-mail, mas
apenas dentro de sua própria região. Eles sentem que se usarem os

473
rádios cuidadosamente, os indigenes da terra no país selvagem não serão
provocados a destruir as cabanas e os meios de comunicação entre as
duas regiões.

— Eles vão enviar e receber as mensagens por uma taxa? —


O'Sullivan perguntou.

— É claro, mas eles ainda não fizeram essa parte. Por agora eles
estão apenas recebendo mensagens para os Intuis e os indigenes da terra.

E provavelmente continuarão a fazê-lo, Vlad pensou.

Simon entregou a Vlad uma folha de papel dobrada. — Ferryman


recebeu isso para nós.

Vlad abriu a folha.

Estamos seguros em Prairie Gold e Bennett. Jackson Wolfgard e


sua matilha também. Todos em Sweetwater sobreviveram.

Tolya.

Ele entregou o papel de volta para Simon, um pouco surpreso


com a profundidade de seu alívio. Ele esperava que Tolya sobrevivesse. O
que o surpreendeu foi o quanto essa confirmação significava para ele.

— Muitos humanos, e muitos lugares humanos desapareceram,


— Simon disse. — Nós não sabemos quantos. Não é o trabalho do
Courtyard de Lakeside saber. Nosso trabalho é vigiar esta cidade, mas de
agora em diante, não seremos os únicos que estarão observando. — Ele
olhou para Burke. — O país selvagem começa bem à sua porta agora.
Eles estarão perambulando em suas ruas de maneira que nós nunca
fizemos. A próxima vez que os humanos em Thaisia se voltarem contra
nós será a última.

474
— Entendido, — Burke disse bruscamente. Ele passou o cotovelo
contra o braço de O'Sullivan. — Você tem alguma pergunta?

— Algum de vocês tem uma sugestão para onde eu poderia


montar um pequeno escritório para a ITF? Falarei com o governador
Hannigan sobre isso, mas acho que seria sensato ter um agente da ITF
aqui em Lakeside.

— Há escritórios no consulado sem uso, — disse Elliot. — Você


poderia usar um deles por enquanto.

— Obrigado.

— Só não espere qualquer ajuda clerical. Está em falta.

— Entendido.

Vlad observou todos, menos Simon, saindo da sala. Descansando


o queixo na mão, ele estudou o líder do Pátio. — Acha que O'Sullivan e
os outros humanos realmente entenderam?

— Quanta humanidade os indigenes da terra querem manter? —


Simon respondeu. — Ou mais ao ponto, quantos humanos queremos
manter? Os que deixamos entrar. Estamos presos a eles agora.

Ele não podia discordar disso. — Temos um Pátio, uma aldeia,


uma cidade e uma comunidade para trabalhar, incluindo a terra que os
apóia.

— Não podemos alimentar todos em Lakeside.

— Nós não devemos. Predadores se reúnem quando há uma


recompensa de alimentos e ficam até que a fonte de comida falte e eles
começam a morrer de fome. Em seguida, alguns deixam o local para
encontrar outro lugar para caçar. Há lugares vazios agora Simon. Eles

475
não são mais controlados pelos humanos, mas há trabalho, e onde há
trabalho, provavelmente haverá muita comida também.

— Tolya e Jackson estão bem. Assim como a filhote Hope.

— E Stavros está a caminho de Lakeside para falar com o avô


antes de ir para Talulah Falls. — Vlad empurrou a cadeira para trás. —
Vá encontrar Meg. Confira o jardim e deixe-a ver se as coisas verdes
sobreviveram.

— Eles provavelmente estão flutuando por causa do chão tão


encharcado.

Simon era um amigo, mas de vez em quando Vlad não conseguia


resistir puxar a cauda do Lobo. — Se você não quiser estar lá fora
tentando secar a água do chão molhado, eu sugiro que você soe mais
otimista.

— Meg não gostaria de ficar com um trapo.

— Você tem certeza?

Simon apenas rosnou e saiu da sala.

Vlad sorriu. Nenhum deles tinha certeza se o bando feminino


pensaria que era uma coisa razoável a fazer, mas a única coisa que ele
tinha certeza era que os Outros não iriam perguntar a essas mulheres o
que deveria ser feito para as plantas sobreviverem em um chão
encharcado. Elas poderiam pensar que esfregar o jardim seria uma ótima
ideia.

Divertido, e se perguntando se ele deveria mencionar o jardim a


Jester e deixar o Coyote ser aquele a começar essa questão, Vlad voltou
à livraria para lidar com os humanos que não foram prejudicados, mas
ainda tinham boas razões para estarem apavorados.

476
CAPÍTULO 52
Cel-Romano

Em todas as aldeias ao longo da fronteira do Cel-Romano, as


pessoas que eles consideravam suas, lembravam das terríveis histórias
transmitidas através de gerações, e sabiam o que estava por vir.
Depois do pôr do sol, quando os soldados acampados ao redor das
aldeias não os veriam e os relatariam para as pessoas importantes, eles
colocaram tigelas de leite adoçado na porta de trás, ou uma fatia de pão
com um pouco de óleo ou manteiga ou uma fatia de bolo das preciosas
rações. Eles colocaram as suas oferendas e sussurravam: — Para os
nossos amigos, — antes de se reunirem com os seus filhos por perto e
orarem para ver o amanhecer.
Eles ouviram o rat-tat-tat de tiros e os gritos truncados dos
soldados que riram dos moradores e de suas superstições sobre as
criaturas que viviam e guardavam o país selvagem. Eles ouviram coisas
colidindo contra as portas, farejando os presentes. E eles mantiveram
seus entes queridos apertados contra o peito quando um terrível silêncio
roçava suas casas, mas continuaram no seu caminho para as grandes
cidades, onde as pessoas importantes moravam.

****

Os Elementais montaram em seus cavalos pelas cidades na


metade ocidental do Mar Mediterran, rasgando fábricas e armazéns,
deixando apenas escombros e fogo em seu rastro.

477
Os Elementais montaram seus cavalos nas cidades na metade
Oriental do Mar Mediterran, os cascos dos corcéis derrubavam os
edifícios e os despedaçavam, ou as fissuras na terra engoliam os edifícios
inteiros.
E os líderes dos humanos do movimento HPU fugiram de suas
cidades, e puderam ver uma verdade sobre o mundo pouco antes dos
dentes e das garras de Namid rasgá-los.

****

Alantea montava em Furacão sobre as águas de seu domínio,


reunindo uma tempestade cheia de fúria e vingança, uma tempestade
diferente de tudo o que foi visto em um tempo muito longo. Ela pegou
navios pequenos e os partiu ao meio, jogando os detritos e as toxinas nas
margens quando ela atingiu a terra de seus inimigos.
No lado Oriental da Afrikah, Indeus montou Tsunami, indo para
o estreito que a Terra e Terremoto tinham expandido para acomodar as
ondas monstruosas que atingiram o Cel-Romano, minutos após Alantea
e Furacão golpearem o lado Ocidental das terras.
E na sua ilha no Mar Mediterran, o antigo Tethys convocou as
águas para subirem e recuperar a terra que havia uma vez, há muito
tempo, cedido à Terra.

****

Quando as águas do Mediterran recuaram e os humanos que


sobreviveram tropeçaram ao redor das ruínas de suas cidades, olhando
para os vivos e os amontoados de mortos, os Cavaleiros da Praga
desceram dos seus lares isolados para festejar e se reproduzirem e criar
novos territórios dentro das cidades quebradas.

478
CAPÍTULO 53
Thaisia

Gotas se tornaram um filete de água, que se tornou um riacho,


que se tornou uma inundação furiosa, quando a estrutura que ligava as
cidades humanas de Thaisia quebrou.
Enquanto as estradas entre algumas cidades permaneceram
intocadas, outras estradas se tornaram montes coberto de asfalto de
terra, ou desapareceram em grandes e profundos buracos, e mais de uma
picape carregada, ou uma carroça puxada por cavalos tentavam
contornar os buracos, a fim de levar produtos ou mercadorias para enviá-
los para as pessoas que esperavam comprá-las.
Foram autorizados trens com dois vagões, um de passageiros
humanos e outro para os Intuis e os indigenes da terra, e não mais do
que dois carros para as cargas, frete e o gado. Se alguns dos vagões
detivessem bens destinados as aldeias Intuis, e aos assentamentos
indigenes da terra, toda a carga seria permitida migrar através das
fronteiras regionais, mas os passageiros teriam que desembarcar, a
menos que tivessem uma autorização de um líder indigene da terra
declarando que a pessoa tinha permissão para viajar para um destino
específico.
De primeira, as ferrovias desafiaram as restrições sobre o número
de vagões que poderiam circular, e os primeiros trens chegaram aos seus
destinos. Depois disso, ninguém teve que perguntar por que os trilhos
foram destruídos a meio caminho entre as duas estações, e os
passageiros e os tripulantes estavam muito longe de qualquer habitação

479
humana. E ninguém perguntou sobre o que os policiais descobriram
quando eles finalmente encontraram o que restava dos trens.
Não havia piedade no país selvagem, e não havia segurança no
escuro.
As cartas viajavam lentamente em todo o continente, os humanos
aprenderam, pedaço por pedaço, o que os humanos do movimento HPU
custaram ao povo de Thaisia.

****

Para: Douglas Burke

Para todos os efeitos, a Aliança das Nações do Cel-Romano não


existe mais.

-Shady

480
CAPÍTULO 54
Moonsday, Sumor 9

Tolya Sanguinati esperava na estação de trem de Bennett os


recém-chegados na cidade.
Ele argumentou por dias que as linhas de telefone que ligavam
Bennett e Prairie Gold e Sweetwater eram necessárias, que o sangue doce
que morava com Jackson Wolfgard não deveria ter sua ligação totalmente
cortada dos seres que iriam ajudá-la a se manter viva.
No início, os Anciões tinham ignorado seus argumentos, como
também o assentamento de Jackson, porque Prairie Gold e Bennett eram
cidades do Meio Oeste e Sweetwater estava localizada no Noroeste, e
todos os fios humanos foram derrubados ao longo de cada região e
bordas, e ninguém que tentasse reparar essas linhas sobreviveria à ira
dos dentes e das garras de Namid.
Então veio uma pergunta: esse sangue doce é um uivo que não é
Lobo?
Após cuidadosa consideração do que isso poderia significar, Tolya
disse aos Anciões que a filhote Hope era amiga de Meg Corbyn, que era
amiga de Simon Wolfgard, o líder do Courtyard de Lakeside.
No dia seguinte, as equipes de trabalho foram autorizadas a
reparar as linhas de telefone que cruzavam as fronteiras regionais que
conectavam Bennett e Prairie Gold com Sweetwater. E embora eles
observassem cada momento, os homens nessas equipes sobreviveram.
Tolya não tinha certeza de quem estava no trem. Alguns Intui ao
chegarem à cidade tinham dado uma olhada e disseram que iriam ficar
uma semana para ajudar na limpeza das casas e o que fosse necessário,
mas eles tinham a sensação de que este não era o lugar para eles, e

481
resolveram pedir uma atribuição em outra cidade. Alguns sequer saíram
da estação de trem antes de pedir um bilhete de regresso.
Não era um lugar fácil para qualquer tipo de humano. Um dos
Intui disse que a cidade parecia que estava cheia de fantasmas. Tolya não
contou ao jovem que não era os espíritos humanos que estavam
flutuando por perto; eram os indigenes da terra mais primitivos que
estavam rondando pela cidade e eram a mais terrível forma entre aqueles
que mudavam para uma forma de garras e pêlos andando sobre duas
pernas.
O trem parou. Alguns passageiros desceram.
Tolya era um Sanguinati maduro e adulto em seu auge. Ele
certamente não era velho. Mas ele olhou para os humanos recém-
chegados descendo do trem e se sentiu como uma babá de uma
matilha. Fazia sentido que os adultos que não encontraram um
companheiro fossem os mais prováveis a viajar para um novo lugar como
Bennett, mas tinham que ser tão jovens?
Os quatro homens, que ele supôs serem Intui pela forma como
olhavam em volta, o viram e mantiveram distância. Eles sabiam que ele
era Sanguinati e estava no comando desta cidade; eles não estariam aqui
sem receber essa informação. Mas eles não estavam acostumados a ter
contato com sua espécie, se algum deles já teve contato real com qualquer
um dos indigenes da terra.
A fêmea, por outro lado, deu-lhe um sorriso brilhante e caminhou
até ele, com a mão estendida. — Eu sou Barb Debany. Minha família me
chama de abelha porque meu nome é Barbara Ellen, o que torna as
minhas iniciais BE... Abelha. Mas, em um lugar novo e tudo mais, eu
preferia ser chamada de Barb.
Querendo saber por que ela lhe contou sobre um nome que ela
não queria usar, Tolya apertou a mão dela, deslocando a palma da mão
para fumaça pelo tempo suficiente para obter um sabor de seu sangue e
saber se a conversa era natural ou induzida por algum produto químico.
Ele não sentiu nada, apenas adrenalina e emoção.
— Você tem papéis, Barb Debany?

482
— Oh. Sim. — Ela abriu um daqueles sacos que as fêmeas
humanas usavam, cavou um pouco e, finalmente, parecendo animada,
lhe entregou a carta.
Tolya inspecionou o documento assinado por Vlad e Simon
Wolfgard. — Você é a pessoa que vai cuidar dos animais e descobrir o que
fazer com eles. — Ele fluiu através de orifícios para destravar portas e
liberar os cães e os gatos, e os animais que poderiam viver ao ar livre,
pelo menos durante o verão. Billy Rider, que dividia o seu tempo
trabalhando entre o rancho de Prairie Gold e o estábulo da cidade, e
Tobias Walker, tinham montado áreas na cidade onde eles deixaram
comida para os cães e um par de diferentes pontos de carne para os gatos.
Os pássaros engaiolados se mudaram para uma casa para ficar mais fácil
de alimentá-los até que a “pessoa destinada aos animais” chegasse.
Ele pensou que os peixes nos aquários eram alimento vivo para
os gatos e não tinha mencionado as criaturas para Billy ou Tobias, então
a maioria dos peixes foram encontrados flutuando de barriga para cima.
Com todos os animais, exceto os peixes, Tolya achava que ele
tinha lidado com o problema muito bem ao longo das duas últimas
semanas.
— Eles te disseram que eu não sou uma veterinária qualificada,
não é? — Barb perguntou, parecendo um pouco ansiosa. — Eu sou
apenas uma assistente.
— Você é a mais qualificada do que a maioria aqui, então agora
você é a veterinária.
Ela engoliu em seco e ficou um pouco pálida, destacando as
sardas no nariz e as bochechas avermelhadas.
— Por enquanto, estamos fornecendo alimentação e alojamento
no hotel e pensão da cidade como parte dos seus salários. Eu acredito
que ainda há um quarto disponível na pensão, então você tem uma
escolha, se decidir rapidamente, — acrescentou, vendo os quatro jovens
se aproximando.
Barb olhou por cima do ombro. — Todas as outras meninas estão
na pensão?

483
— Nenhuma garota humana como você. Mas há muitas fêmeas de
várias espécies por aqui.
Ela engoliu em seco novamente. Então sorriu. — Parte da
aventura, certo? E algo que eu posso dizer a minha família. Meu irmão é
um policial em Lakeside. Ele me entregou um pacote de cartas, já dirigida
a ele e nossos pais, bem como uma variedade de selos, e disse: ‘Escreva
uma vez por semana ou mais. ' Eu não acho que o 'ou então' seja uma
grande ameaça, não é, não quando eu estou tão longe assim dele, não é?
Tolya sorriu. — Eu acredito ter conhecido seu irmão quando
visitei Lakeside. Eu sei que eu conheci o Tenente Montgomery, e talvez
tenha conhecido o seu irmão, será?
— Oh, topete! O braço da lei é muito longo, não é?
Ele riu, porque ela parecia tão irritada e porque sua versão de um
palavrão o divertia. Ele esperava que esta fêmea humana ficasse ao redor
por muito tempo.
Ele levou seus novos moradores para a caminhonete, onde Tobias
Walker esperava para levá-los para seus aposentos
designados. Observou quando entraram na picape, Barb e um dos
homens com Tobias na cabine, enquanto os outros três homens iam com
a bagagem na carroceria.
Ele olhou para a estação, considerando suas funções. Então foi
em direção ao centro da cidade. Outros Sanguinatis, bem como um par
de Lobos e Águias, iriam lidar com o pessoal do comboio e qualquer
entrega. Ele queria ver como Jesse Walker e seu bando de voluntários
estavam fazendo com os inventários das várias lojas de Bennett, bem
como o recolhimento de todos os produtos perecíveis de todas as casas.
Eles precisavam saber o que eles já tinham, a fim de descobrir o que os
novos moradores da cidade deveriam receber. Até que eles contratassem
lojistas para as lojas que iriam reabrir, Jesse estava vindo de Prairie Gold
dois dias por semana, deixando a sua própria loja com as patas curiosas
da Rachel Wolfgard.
Quando chegou ao edifício que se tornaria a loja central de
Bennett, contendo tudo, exceto os mantimentos, ele viu um caminhão

484
desconhecido chegando do Norte. Depois de estacionado em um espaço
perto dele, um Lobo e um macho humano saíram.
— Oi, — disse o homem, escovando a aba do chapéu. Ele parecia
abatido, mas sua voz era firme e familiar.
— Eu me lembro de você, — disse Tolya. — Você e seus homens
ajudaram Joe Wolfgard a carregar os bisões em um vagão de gado.
— Nós fizemos isso. Fiquei triste ao ouvir... — Ele balançou sua
cabeça. — Foi um dia ruim. Eu sou Stewart Dixon.
— Tolya Sanguinati.
— Tolya é o líder desta cidade agora — disse o Lobo, farejando o
ar e apontando para a praça da cidade para o que não era visto.
Tolya estudou o Lobo. <Você está sozinho?> Algumas matilhas
foram totalmente dizimadas, mas em outros lugares, alguns Lobos
sobreviveram.
O Lobo lançou um olhar sobre Stewart Dixon. <Os fazendeiros que
moram ao redor de nós não gostavam dos humanos do HPU, por isso a
minha matilha não foi atacada. Além disso, os Lobos, por vezes, caçam
alces com Stewart Dixon para derrubar carne suficiente para alimentar
nossas matilhas. Ele não é um inimigo.>
Então houve algumas alianças entre Outros e humanos. Talvez
essas alianças pudessem ser expandidas. Afinal de contas, as fazendas
de gado entre Bennett e Prairie Gold ainda existiam, mas não os
humanos, e Tobias Walker e os rapazes no rancho de Prairie Gold não
podiam lidar com tanta coisa por conta própria. Mas se o trabalho e os
lucros pudessem ser divididos entre os fazendeiros que eram confiáveis
dos indigenes da terra, eles poderiam ser capazes de cuidar de todos os
rebanhos e manter os animais vivos até que fossem necessários para o
abate e o leite.
Tolya olhou para Stewart Dixon. — Você veio para a cidade pegar
suprimentos?
— Eu estava esperando obter alguns dos que estejam disponíveis.
— Jesse Walker está lidando com as lojas hoje. — Tolya ofereceu
um sorriso. — Alguns de nós estão usando muitos desses chapéus

485
agora. Essa é a frase certa? — Ele sabia muito bem que era a frase
adequada, mas a questão deixaria o homem à vontade.
— Essa é a frase. — Stewart esfregou a parte de trás do seu
pescoço. — Bem, eu estou procurando gasolina e querosene. Essas são
as necessidades imediatas. — Um rubor manchou suas bochechas. — E
algumas coisas que as mulheres usam, para a minha mulher e filhas.
Tolya se perguntou se o homem geralmente ficava desconfortável
com tais coisas ou se era algo que não era falado com
estranhos. Interessante. Ele se perguntava se Jesse Walker responderia
a isso. — Eu acho que nós podemos acomodar todas essas
necessidades. Siga-me.
Enquanto ele levava Stewart Dixon e o Lobo à loja, um uivo se
levantou da estação de trem e foi respondido pelo companheiro de
Stewart.
Estamos aqui, vigiando. Estamos aqui.
Com a garantia dos Lobos enchendo o ar, a terra e o silêncio
estranho que enchia a praça da cidade desapareceu e foi para a terra
intocada além da cidade.

****

Para: Vladimir Sanguinati

Barb Debany chegou em Bennett e está estabelecendo-se bem. Seu


irmão forneceu cartas e selos. Nós fornecemos cartões postais e mobiliários
novos como presente de boas vindas. Ela estava mais animada sobre
poder utilizar um cavalo do que sobre os cartões postais.

-Tolya

****

486
Querido Michael,

Venho trabalhando todas as horas de luz do dia desde que cheguei,


porque muitos pequenos animais precisam de cuidados até eu encontrar
novos lares para eles. Eu estou vivendo em uma pensão, veja o endereço
abaixo. Escreverei mais tarde. Dê o meu amor para a mamãe e o
papai. Barb.

OBS: Eles me deram um cavalo!

487
CAPÍTULO 55
Sunsday, Sumor 17

Meg sorriu para Simon e Vlad.


— Há algo por trás desse sorriso, — Vlad disse.
— Como da primeira vez que você viu um animal listrado e bonito,
até que você tocou nele com sua pata e ele pulverizou mau cheiro em
você, — disse Simon.
Ela não estava mais sorrindo agora. — Você acabou de me
comparar com um gambá?
Agora eles sorriram.
— Para ser justo, você não cheira mais como um gambá, — Simon
disse.
— O que?
— Por que você quer nos ver, Meg? — Vlad perguntou.
Tendo testemunhado uma cena entra Twyla Montgomery e
algumas das crianças mais cedo esta manhã, estava claro para Meg que
jogando com o que Merri Lee chamava de chilique, ela não iria conseguir
o que queria. E se fazer isso não funcionava com Twyla, certamente não
iria funcionar com Simon e Vlad, especialmente se eles não entendessem
o que estava fazendo e ela tivesse que explicar. O que seria embaraçoso. E
nada maduro.
Divertindo-se, o que a fez sentir-se mais firme, Meg colocou
algumas cartas na mesa.
— Meg? — Nitidez na voz de Simon. Nitidez nos olhos de Vlad.
— Eu não estou desenhando cartas para uma visão, — ela
explicou. — Eu gostaria de um favor. Dois favores, na verdade.
— Deve ser por isso que você pediu para os dois virem para cá, —
Vlad disse.

488
Ela apontou para as cartas que ela tinha tirado de um baralho na
mesa da sala de triagem. Uma carta era um rosto sorridente. A outra era
um rosto triste. A terceira era o ponto de interrogação que ela tinha tirado
antes quando perguntou sobre o futuro de Lakeside. — Estas cartas são
de um jogo. Algumas se misturaram com as cartas de profecia.
— Como isso aconteceu? — Simon perguntou.
Ela balançou a cabeça. Ela não ia ser uma fofoqueira. Ela sabia
que Merri Lee e Ruthie já tinham falado com Eve Denby e Twyla e Sierra
Montgomery sobre a importância das crianças não brincarem no
escritório do Liaison sem supervisão e, principalmente, não brincar com
as cartas.
— Isso não é importante. O importante é que eu acho que estas
cartas são realmente úteis para revelar profecias sem fazer um corte.
Ela teve a atenção completa deles agora.
— Mas estas cartas em particular... — Ela foi para a gaveta e
aleatoriamente puxou cinco cartas que tinham diferentes desenhos atrás,
o que significava que elas eram de baralhos diferentes. Ela os virou e as
alinhou acima das três primeiras cartas. — Vocês conseguem ver? Estas
cartas são de diferentes baralhos, algumas revelam o mundo natural e
algumas são ilustrações das coisas humanas ou urbanas. Mesmo elas
sendo diferentes, elas se complementam. Vocês conseguem ver?
Vlad veio ao seu lado da mesa. Ele pegou um baralho de cartas de
brincadeira e mexeu nele para ver mais imagens. — Então você quer um
baralho de cartas com estas imagens, mas feito em um estilo que se
encaixe com os demais baralhos que você já está usando atualmente?
— Sim. — Eventualmente, ela teria que delimitar o número de
cartas que se tornariam o instrumento de cartas de profecia da Guia, mas
por enquanto ela não queria limitar as possibilidades, enquanto ela ainda
estava explorando o que uma Cassandra de Sangue poderia ser capaz de
fazer com esta maneira de ver as visões.
— Será que a filhote Hope poderia desenhar estas? — Simon
perguntou, inclinando a cabeça.

489
Meg sentiu algo correr sobre sua pele. Não era suficientemente
forte para alfinetadas e agulhadas e nem espinhos, mas definitivamente
era uma resposta à pergunta. — Eu não sei. Poderíamos perguntar a ela?
— Nós podemos mandar uma mensagem para Jackson.
— Você poderia comprar outro baralho desses? — Vlad perguntou
balançando as cartas. — A Hope deveria ter as imagens como referência.
Meg disse que iria ver sobre a obtenção de outro baralho. Ela não
mencionou que ela ia perguntar a Eve Denby onde comprar um.
— Isso foi um favor fácil, — Simon disse.
Claro, não havia nenhuma garantia de que as cartas estariam
disponíveis. Com as pessoas agora considerando o que precisavam em
vez do que gostariam de ter, um baralho infantil não seria uma alta
prioridade quando as empresas estavam se adaptando e escolhendo o
que era enviado por caminhão ou trem.
— Qual o segundo favor? — Simon perguntou.
— Você poderia encontrar um emprego para Harry, o
entregador? Ele largou o emprego por que a empresa de entrega se tornou
Everywhere Human Delivery. Mas ele ainda precisa trabalhar. —
Sentindo resistência, Meg apressou-se. — Você não teria que encontrar
um lugar para Harry e sua esposa morarem. Se ele pudesse usar uma de
nossas vans, ele poderia ser o entregador do Courtyard e pegar os pedidos
das empresas para Lakeside. Ou talvez você pudesse falar com Jerry
Sledgeman sobre a contratação de Harry para trabalhar para ele e fazer
entregas entre Lakeside e a Comunidade River Road.
— Meg... — Simon suspirou. — Não podemos continuar
recolhendo os animais vadios. No topo do bando humano, já estamos
deixando os pais do Oficial Debany fazer compras na Praça do Mercado.
Mesmo os pais do oficial MacDonald. E o Capitão Burke. E o Comandante
Gresh e sua companheira e os jovens. Quando uma matilha fica muito
grande, ela precisa ser dividida de modo que parte dela encontre um novo
território e novas presas. Nós estamos cuidando de um monte de
humanos agora. E Merri Lee e Ruthie vão ter filhotes, e eles precisam de
comida também, depois de serem desmamados.

490
— Elas não estão tendo filhotes ainda, — Meg murmurou. Mas
Simon tinha um ponto. Depois de prometer dar-lhe um resumo diário do
que estava acontecendo em Lakeside e com o resto de Thaisia, seus
amigos lhe pediram para evitar a notícia e o jornal até que as coisas se
acalmassem. Considerando que apenas o fato de olhar para fora das
janelas da frente e ver os carros dirigindo pela Main Street faziam um
zumbido em sua pele, ela achava que não seria capaz de resistir à navalha
se ela tivesse mais contato com o mundo exterior do Pátio.
— Apenas mais dois? — Ela implorou. — Apenas Harry e sua
esposa?
Simon e Vlad se entreolharam.
— Todo mundo tem que ganhar sua parte da carne, — Simon
disse finalmente. — Todo mundo em uma matilha tem um emprego, e
isso tem de incluir todos os humanos que querem parte dos alimentos
que temos aqui ou que podemos produzir.
— Podemos incluir agora Harry e sua esposa, mas não mais, —
Vlad disse. — Estamos ajudando e dando apoio a Comunidade River Road
também. Não se esqueça disso.
Eles não tentariam apoiar quaisquer humanos, do contrário não a
teriam aceitado como um deles. — Não mais. — Ela hesitou, e se
perguntou se era uma covarde ao não dar a resposta diretamente. — Você
poderia dizer ao Capitão Burke uma coisa?
Vlad assentiu.
Meg bateu na carta com o ponto de interrogação sobre a mesa. —
Esta carta saiu uma vez antes, quando eu perguntei sobre o futuro de
Lakeside.
— Eu me lembro, — Simon disse. — Futuro indeciso.
— Eu ouvi o Agente O'Sullivan falar que ele e o Capitão Burke
tinham um encontro com o prefeito, e eu perguntei o que o Capitão Burke
deveria dizer ao prefeito sobre Lakeside.
Vlad respirou lentamente. — Futuro indeciso?
Ela assentiu com a cabeça.

491
— Você deve fazer a ligação, — Simon disse a Vlad. — Burke lhe
deve um ou dois favores.
— Ele deve-lhe muito, mas eu vou ligar.
Depois de Vlad sair, Simon apoiou os antebraços sobre a mesa,
seu braço levemente roçando com o dela.
— Fale com o bando humano sobre papel para escrever cartas, —
ele disse. — Não apenas o papel que as mulheres gostam, mas o papel
que não fará com que os machos possam tossir bolas de pelo se tiverem
que usá-lo.
— As pessoas não escrevem muitas cartas. Elas usam e-
mail... Oh! O correio eletrônico permanece apenas dentro de uma região
agora.
— Há maneiras de enviar mensagens entre as regiões, e é como
vamos fazer para enviar uma mensagem para Jackson, mas essas
mensagens não são mais privadas. Os Intuis ou os indigenes da
terra equiparam cabanas de comunicação, e eles vão lê-las. Os humanos
não vão ser mais capazes de atacar de novo como fizeram sob o HPU.
— Simon? Será que um monte de lugares vai desaparecer?
— Aqui em Thaisia? Eu não sei. É difícil dizer agora se os lugares
ou se os humanos que moravam lá se foram, ou se um lugar não está
mais sob controle humano e é por isso que ele não está sendo contado
entre os lugares humanos. — Ele pensou por um momento. — Você deu
a Vlad uma mensagem para o Capitão Burke. Qualquer coisa que devo
dizer ao Tenente Montgomery?
Recolhendo as cartas que estavam sobre a mesa, Meg as colocou
dentro da gaveta que continha as cartas de profecia.
O que Simon deve dizer ao Tenente Montgomery sobre Lakeside?
No começo não havia nada. Em seguida, os espinhos
começaram. Meg fechou os olhos e deixou os dedos procurarem a
resposta. Quando ela escolheu três cartas que produziram as espetadas
mais fortes, ela as trouxe de volta para a mesa e as virou.
Carta do Lobo. A carta chave telefone / telégrafo. E uma carta que
mostrava ondas fortes atingindo a costa.

492
— Eu não sei o que isso significa, — Meg disse. Então Água entrou
na sala da frente, deixando pegadas molhadas no chão.
A Elemental disse: — Eu tenho uma mensagem para o Wolfgard.
— Dê-me um minuto, — Simon respondeu.
Água assentiu e saiu.
— Eu acho que Água é aquela que vai lhe dar a mensagem, — Meg
disse.
— Huh. — Simon estudou as cartas. — Você está ficando muito
boa com essas coisas. Os espinhos vão embora depois de escolher as
cartas que respondem a uma pergunta?
Ela assentiu com a cabeça. — A menos que haja mais, mas que
não pode ser obsevado com as cartas.
— Então você não tem que se cortar mais.
Ela acreditava que ele não ficaria mais chateado quando
ela se cortasse. — Usar as cartas não produzem a euforia.
— Elas também não causam dor ou deixam uma cicatriz, — ele
respondeu.
A nova cicatriz ao longo de sua mandíbula incomodava todos
os indigenes da terra, mais do que as outras cicatrizes que ela tinha
adicionado desde que veio morar no Courtyard. As cartas de profecias
não faziam nada para o desejo que estava entrelaçado com o vício de
cortar. Ainda assim, ela havia resistido a usar a navalha por quase quatro
semanas.
— Não deixe Água esperando, — ela disse.
Quando ele saiu para falar com a Elemental, Meg colocou as
cartas na gaveta.
Não, as cartas não ajudavam com o desejo e a euforia. Apenas o
corte poderia satisfazer esse desejo.
Pinicadas encheram seus dedos. Ela passou as mãos sobre as
cartas na gaveta até que encontrou o que ela precisava ver.
Ela estudou a carta. Estudou e estudou.
Um homem e uma mulher, lado a lado em um jardim sob a lua
cheia. Exceto que a lua foi moldada como o símbolo de um coração.

493
Inquieta, Meg colocou a carta de volta na gaveta. Romance? Não.
Homens... Coisas ruins aconteceram no Composto, coisas que foram
veladas em sua memória, mas lembradas por seu corpo. Então não
poderia produzir qualquer coisa como a euforia.
Ou poderia?
Ela fechou a gaveta e tentou ignorar os espinhos nas pontas dos
dedos, e aqueles que escovavam a sua pele na parte interna de suas
coxas.

****

Simon cuidadosamente abriu uma caixa de livros, tirou uma lista,


e verificou os exemplares de cada livro antes de colocá-los nas prateleiras
na sala de estoque. Tudo o que ele tinha pedido antes da tempestade de
repente apareceu, fazendo-o saber que os vagões que levavam as
mercadorias para os indigenes da terra haviam sido deixados em um
lugar seguro.
Agora era vantajoso enviar a mercadoria para os Outros, porque
qualquer trem de tamanho adequado tinha um vagão destinado aos
indigenes da terra, onde tinham uma melhor chance de passar com
segurança através do país selvagem. — Todas as entregas serão
realizadas ou não haverá mais transporte — parecia ser o novo lema.
Bom para ele. Blair e Henry estavam levando dois dos veículos do
Pátio para recolher as entregas, o que o fez pensar que Meg poderia estar
certa sobre a contratação de Harry para pegar as entregas.
A porta de trás foi aberta. Michael Debany circulou ao redor das
caixas empilhadas à toa.
— Você quer que eu desfaça as caixas vazias? — Perguntou
Debany.
— Desfazer?
— Cortar pelas costuras e achatar o papelão.

494
Simon ponderou por um momento. Será que os Outros teriam uso
para o papelão liso? — Não. Podemos usar as caixas para enviar os livros
que estamos recebendo para outros lugares.
Debany levantou um punhado de livros de dentro de uma caixa e
os entregou a Simon sem marcar os itens recebidos. Ele se lembrou de
Sam oferecendo brinquedos em um esforço para se envolver com um
adulto porque ele estava descontente com alguma coisa. Já que Simon
não sabia por que Debany estava infeliz, colocou os livros juntos em uma
prateleira em vez de onde eles deveriam ficar. Ele marcaria os livros após
o humano sair.
— Eu ouvi notícias de Bee. Barb. Minha irmã.
Querendo saber por que receber notícias da irmã deixaria o
homem infeliz, Simon disse: — Isso não é bom?
— É sim. Ela está acomodada e ocupada. — A risada de Debany
soou forçada. — Deram-lhe um cavalo. Ela nunca mais vai voltar.
Simon parou de tentar trabalhar e estudou o policial. — Alguns
jovens ficam com a matilha, mas outros têm de deixar o seu território
para explorar e encontrar um lugar novo em uma nova matilha, ou para
encontrar um companheiro. Os humanos viajam por esses motivos
também.
— Você encontrou um lugar onde ela pode fazer o tipo de trabalho
que ela queria fazer. Eu agradeço.
— Não, não agradece.
Essa risada soou mais natural. — Eu agradeço, e ao mesmo tempo
não. — Debany suspirou. — É muito longe agora, sabe? Um par de meses
atrás, Bennett teria sido muito longe, mas a mãe e o pai teriam falado
sobre fazer uma visita para ver a nova casa de Barb. Eles teriam enviado
um e-mail um par de vezes por semana para manter contato e terem
certeza que ela estava bem. Mas agora eles não podem ligar para dizerem
Olá e nem receber uma resposta rápida para tranquilizá-los. Agora é
diferente.
— Sim, é diferente agora. — Debany estava pensando sobre a
comunicação rápida, mas Simon estava pensando em Joe Wolfgard, cujo

495
uivo não seria ouvido novamente. — Mas você deu suas cartas e selos a
ela, e Tolya e Jesse Walker deram seus cartões postais e papel para
escrever cartas. — E sabendo da conexão da menina com o Pátio de
Lakeside, Tolya iria manter um olho nela. Incerto se isso seria um
conforto, ele não mencionou.
— Merri diz que se eu quiser receber cartas, melhor eu começar a
escrever cartas.
Isso ele poderia mencionar. — Os postais são melhores a menos
que você vá escrever uma longa carta ou algo privado. Os Corvos estão
ajudando a classificar as correspondências agora em lugares como
Bennett, e eles gostam de olhar para as imagens e ler as mensagens. —
Vendo o olhar no rosto de Debany, ele deu de ombros. — Há mais de um
tipo de brilhante.
Uma colisão e um murmúrio os fez olharem para frente da sala de
estoque.
— Tenente, — Debany disse.
— Michael. — Montgomery olhou para todas as caixas. — Os
pedidos?
— Pedidos e entregas de volta, — Simon respondeu. — E mais
duas vans cheias de caixas chegando.
— Acho que vou me arrumar para o trabalho, — Debany disse.
— Esta tarde, nós vamos finalmente assinar os papéis e entregar
o dinheiro para os dois prédios. Até amanhã, Merri Lee poderá escolher
sua toca, e Eve Denby vai ajudá-la na limpeza e pintura. — Já que
Montgomery estava ouvindo, Simon resistiu ao impulso de perguntar
sobre os costumes de acasalamento e se Debany estaria se mudando para
a cova dela também. A parte sexual do acasalamento e de estar na mesmo
toca eram coisas diferentes para os humanos. Ele e Meg passavam tanto
tempo morando no mesmo lugar e dormindo na mesma cama, como
Debany e Merri Lee, mas Meg ainda era mais como uma mulher solteira
que não estava pronta para a parte sexual do acasalamento.
Mas ela era muito boa em jogar.

496
Sacudindo os pensamentos e admitindo que ele quisesse adiar a
mensagem para o Tenente Montgomery que ele foi convidado para
entregar, percebeu que Debany tinha saído e agora era Montgomery que
estava entregando-lhe os livros.
O homem parecia mais velho e cansado por conta de algumas
duras verdades.
— A Senhorita Twyla beliscou os filhotes esta manhã, — ele
ofereceu.
Montgomery sorriu com isso. — Minha mãe não atura má criação
de ninguém. Lizzy deveria saber bem disso.
— Ela saberá da próxima vez.
— Nós sempre pensamos que haverá tempo suficiente, mas isso
nem sempre é verdade, não é?
Simon esperou, mas quando Montgomery apenas segurou os
livros, ele estendeu a mão e os pegou. — Às vezes, uma matilha não
consegue pegar carne a tempo de salvar todos seus membros se eles
estiverem passando fome por muito tempo, mas você vai levar a comida
mesmo assim. — Isso não era o mais importante agora? As fazendas que
pertenciam aos indigenes da terra estavam trabalhando com os Intui em
troca de parte da recompensa por não terem sofrido muito com as
tempestades e depois com os Anciões; os jardins do Pátio sobreviveram e
iriam crescer rapidamente durante estes dias ensolarados. Enquanto os
Outros poderiam facilmente se adaptar e comer o que quer que a atual
temporada fosse fornecer, ele e o resto da Associação Empresarial
estavam cientes de que os humanos não estavam acostumados a pensar
nesses termos.
— Os relatórios provenientes de Brittania e da Costa Oeste de
Afrikah... — Montgomery pegou mais livros, mas os manteve nas mãos.
— O Cel-Romano realmente foi extinto. Todas aquelas cidades, todas
aquelas pessoas. Milhões de pessoas mortas. Cidades inteiras
transformadas em cemitérios. Culturas inteiras destruídas além da
recuperação. Não há sobreviventes. — As últimas palavras foram apenas
um sussurro.

497
— Sempre há sobreviventes, Tenente, — Simon retrucou. Não
significava que haveria sobreviventes suficientes para as espécies
continuarem, mas ele não iria compartilhar isso com Montgomery. Não
quando ele tinha uma mensagem para entregar.
— O que vai acontecer com os sobreviventes?
Querendo saber se o homem estava preocupado com os humanos
do outro lado do Atlantik ou se ele estava pensando em algo ou alguém,
Simon disse: — Eles vão se levantar de manhã e trabalhar em seus
campos, vão cuidar de seus animais, vão dirigir seus carros para o
mercado da aldeia, vão fazer fofocas com os amigos, pegar um barco e
pescar para comer ou vender. Pode haver coisas que serão difíceis de
comprar, pelo menos por um tempo, mas os humanos que mantiveram o
pacto com os indigenes da terra irão sobreviver. Mesmo em Cel-
Romano. E nós também. Seu filhote pode não obter todas as guloseimas
que ela quer, e haverá alguns dias que nenhum de nós terá uma barriga
completamente cheia, mas nós teremos o suficiente.
— No Pátio.
Já que Montgomery tinha parado de ajudar com os livros, Simon
pegou a lista e verificou os livros em uma caixa antes de abrir a próxima.
— Nós não estamos aqui para cuidar de vocês humanos, — ele
disse. — Nós nunca estivemos. Estamos aqui para cuidar do mundo. —
Ele colocou a lista de lado. — Diga ao Capitão Burke e ao Agente
O'Sullivan que amanhã os três deverão encontrar alguns de nós no
consulado.
— Por quê?
Um arrepio passou por Simon. — Porque Oceano está chegando
em Lakeside, e ela quer falar com você.

****

— Deuses acima e abaixo! — disse O'Sullivan. — Wolfgard falou


sério?

498
Eles estavam no escritório de Burke com a porta fechada, e Monty
desejou poder negar. — Ele falou sério.
— Os Grandes Lagos são a maior fonte de água doce no
continente, — O'Sullivan continuou. — O que vai acontecer com ETU e
Tahki se o Oceano fluir assim?
— Eu imagino que algumas... Acomodações serão feitas, — Burke
disse.
Como o quê? Monty pensava. — O que acontecerá nessa reunião
com o prefeito?
Os olhos azuis de Burke foram preenchidos com diversão afiada.
— Governador Hannigan solicitou que qualquer funcionário
público que apoiou o movimento HPU renunciasse imediatamente para
que os governos humanos no Nordeste pudessem tentar reestabelecer
uma relação de trabalho com os indigenes da terra, — O'Sullivan disse.
— Ele sente que os Outros não serão solidários com os representantes
humanos que eles consideram inimigo.
— Eu concordo com isso, — Burke disse. — Quando o prefeito
Rogers começou a vociferar, me senti obrigado a lembrá-lo que, por ser
um membro do HPU, ele quebrou sua promessa de trabalhar com
os indigenes da terra, a promessa que fez após a morte de seu antecessor,
que também apoiou o movimento HPU.
— E eu me senti compelido a lembrá-lo de que ele deveria agir
como um prefeito, não como um funcionário eleito, — disse O'Sullivan.
— Eu o encorajei a se demitir antes que ele fosse demitido.
— Ou comido, — Burke acrescentou.
— Esse pareceu ser o incentivo que ele precisava para escrever
sua demissão, — O'Sullivan continuou. — Então o Capitão Burke e eu
ajudamos o Meritíssimo Governador a limpar sua mesa, e mudamos
todas as chaves do edifício do governo e do gabinete do prefeito antes da
demissão dele.
Monty olhou para eles. — O que acontece agora? Será que temos
um governo?

499
Burke deu-lhes um de seus sorrisos simpáticos ferozes. — Sou a
favor de pedir que Elliot Wolfgard assuma a posição de prefeito interino
até as eleições de novembro ou até que o governador nomeie outra pessoa
para a prefeitura. Pelo menos Elliot entende o funcionamento do governo
humano, sendo o cônsul do Pátio.
— Você realmente acha que ele agiria em nome dos humanos, do
que os cidadãos querem ou sentem, mesmo que entre em conflito com o
que o Courtyard quer? — Perguntou O'Sullivan.
Burke suspirou. — Não, eu não penso assim. Pelo menos não
agora, mas como eu disse antes, Simon Wolfgard é o mais
progressista líder indigene da terra com quem eu me deparei, e
precisamos de pessoas que irão trabalhar com ele, agora mais do que
nunca. Especialmente quando você considerar que, dos quatro lugares
perto daqui com moradores humanos, Porto Ferryman, Talulah Falls, e a
nova comunidade River Road, Lakeside é a única controlada por
humanos e tem um governo que responde ao governador regional e não
aos indigenes da terra.
O'Sullivan se sentou na beirada da mesa de Burke. — Eu vou
negar que disse isso, mas o governador Hannigan pensa que pode não
haver quaisquer cidades controladas por humanos daqui até Hubb NE. E
a comunicação com Toland está... Errática. Alguns Agentes da ITF estão
avaliando a situação. Outros Agentes estão esperando por respostas
sobre a condição das pequenas cidades ao redor de Finger Lakes.
Monty notou o ligeiro tremor nas mãos de Burke, um lembrete de
que a experiência anterior, mesmo a de seu Capitão com os Outros, nem
sempre pode prepará-lo para as coisas que estão acontecendo agora.
Burke disse: — Antes de começar a fazer planos para Lakeside,
vamos amanhã nessa reunião e descobrir se temos um futuro.

500
CAPÍTULO 56
Windsday, Sumor 18

De pé na sala de reuniões do consulado, Monty ouviu as gaivotas


e as ondas antes de sentir o cheiro salgado e feminino que entrou na sala;
ladeada pelos Elementais de Lakeside, Água e Ar.
A forma era feminina, mas ela nunca teria passado por uma
humana. Seu cabelo era composto de algas marinhas, e havia pequenos
caracóis e caranguejos se movendo nele. Seu corpo era fluido e azul-
cinzento, coberto por um vestido que se movia continuamente, como
ondas que batem na praia e que era a fonte dos sons de ondas e gaivotas.
Ele tinha levado Lizzy para a praia algumas vezes para procurar
conchas. Ele achou o mar Atlantik fascinante, mas nunca quis apostar
sua vida, indo para dentro d’água, e isso foi antes dele aprender que havia
algo sensível que poderia comandar essa água.
— Oceano, — Simon disse. — Bem-vinda ao Courtyard de
Lakeside.
Ele não se sente confortável com ela aqui, Monty pensou
observando a luta do Lobo para manter o suficiente da forma humana
para não ficar peludo. Ou talvez ele não queira parecer humano na
presença de uma forma tão perigosa de indigene da terra.
— O Sharkgard, Orcasgard e eu temos desfrutado das histórias
que fluíram a partir deste lugar nos últimos tempos, — Oceano
disse. Embora tranquila, a profundidade da voz dela lembrava as
tempestades recentemente passadas.
Os ouvidos de Simon de repente mudaram para Lobo, e ele fez um
som frustrado enquanto lutava para conseguir que os seus ouvidos
voltassem à forma humana.

501
Ela sorriu para Simon, e o som na sala tornou-se o suave
murmúrio das ondas beijando a areia da praia. Então ela olhou para os
outros três humanos, e o sorriso desapareceu e o som da tempestade
retornou.
— Aqui há monstros.
Indo até a mesa, Vlad desdobrou um grande mapa. — Como você
pediu. Espero que seja adequado.
Oceano assentiu, mas continuou a olhar para os três homens
tensos de pé, no outro lado da mesa.
— Esta é a minha área, — ela disse. — Nenhum navio que navegar
de Thaisia vai tocar o Cel-Romano. Esse lugar está fechado para os
humanos aqui. Se me desafiarem, nenhum navio desta terra vai
sobreviver a mim.
O Capitão Burke calmamente limpou a garganta. — E quanto aos
outros lugares? Brittania, por exemplo.
Oceano voltou sua atenção para Simon. — Lobo?
— O parente do Capitão Burke é de Brittania e ele já nos ajudou.
— Simon respondeu. — Nós não temos nenhum problema com os
humanos que moram lá.
— Então vou permitir que os navios naveguem entre Thaisia e
Brittania. E Felidae e Afrikah desde que eles não gerem inimigos de nosso
povo e da nossa terra.
— E quanto a Tokhar-Chin? — Monty perguntou, imaginando se
um Lobo seria considerado “tipo terrestre” por algo como ela.
— Não fica em meu domínio. Você teria que perguntar ao guardião
do Pacifik sobre aquele lugar, — ela respondeu.
Se ele realmente queria a confirmação de que havia mais dessas
criaturas? Bem, agora eles sabiam.
Oceano estudou o mapa de Namid, dando especial atenção para
o seu próprio domínio. Ela passou um dedo sobre as Ilhas Fingerbone,
deixando uma linha molhada no papel. — Minha casa. O lugar onde
guardo os meus tesouros que a água, o Sharkgard e o Orcasgard
recuperam para o meu prazer. Eu tenho muitas coisas. Coisas

502
velhas, mapas antigos. Eu gosto de olhar para a forma como os humanos
pensam como eu mudei. Eu não sou a única que mudou. — Seu sorriso
era selvagem e primitivo e aterrorizante.
— Esse agora será um desses mapas antigos, você pode querer
utilizar novos, vou mostrar, — Seu dedo traçou uma curva molhada em
frente ao estreito que era a entrada do mar Mediterran. Ela olhou para
Burke e O'Sullivan, e Monty se sentiu fraco, mesmo que o olhar dela não
fosse dirigido a ele. Ela mostrou seus dentes, e eles poderiam ser feitos
de coral. — Você deve colocar novas palavras nesses mapas de novo.
Ela saiu da sala, seguida de Ar e Água.
Monty apoiou uma mão sobre uma cadeira.
— Então — O'Sullivan disse. — Nenhum comércio com o Cel-
Romano. Eu não sei como vamos fazer valer isso.
— Você não terá que fazer isso, — Simon disse, tocando as orelhas
como se para se assegurar de que voltaram à forma humana.
— Mas se os navios de Thaisia desobedecerem essa ordem,
Oceano irá destruir todos os navios que navegam desta terra, e isso
incluiria os navios de pesca, — Vlad disse. — O seu povo pode se der ao
luxo de perder o alimento que vem do mar?
— Vamos espalhar a palavra, — Burke disse depois de um silêncio
tenso.
Simon assentiu. — Vamos avisar os indigenes da terra também.
Quando deixaram o consulado, Monty percebeu que ele tinha
parado de pensar em Simon Wolfgard como um predador. Confrontado
com a verdade do que mais estava lá fora, os moradores do Courtyard
não pareciam ser mais uma grande ameaça.
Ele abriu a porta traseira do sedan de Burke, mas não entrou. —
Aqui há monstros. Você acha que ela estava se referindo aos indigenes da
terra ou aos humanos?
Burke olhou para ele sobre o teto do carro e disse. — Neste
momento, Tenente, isso realmente importa?

503
CAPÍTULO 57
Thaisday, Sumor 19

Meg não tinha certeza de quanto tempo ela estava olhando para o
fichário que segurava com os nomes e as informações de contato das
empresas Intui. Mas quando ela se deu conta, ela se surpreendeu ao ver
Twyla Montgomery parada do outro lado da mesa.
— Senhorita Twyla. O que...?
— Não queria perturbá-la enquanto sua mente estava vagando, —
Twyla disse gentilmente.
— Arroo? — Ela ouviu o clique de pregos no chão na sala da frente
quando Nathan empurrou a porta para descobrir o que estava
acontecendo na sala de triagem.
— Está tudo bem, — Meg disse olhando para o guarda Lobo, que
havia colocado as patas dianteiras apoiadas no balcão.
— Eu sei que este é um lugar fora dos limites, — começou Twyla.
— Para as crianças, — Meg disse apressadamente.
— Você tem razões para as suas regras, e essas razões devem ser
respeitadas. — Vendo as cicatrizes de Meg, os olhos escuros de Twyla não
mostravam nem piedade, nem desconforto. — Mas eu acredito em ganhar
o meu sustento. As pessoas que administram o Courtyard estão
procurando pelas habilidades que estão disponíveis, e eles vão se resolver
com os seus trabalhos assim que puder. Nesse meio tempo, eu posso
ajudar com a limpeza se isso for de utilidade para você. Eu observei que
o quarto dos fundos poderia ser limpo. E você não é obrigada a ter uma
abundância de pêlos soltos revestimento o piso na sala da frente. — Ela
piscou para Meg.
Nathan rosnou e voltou para a sua cama Lobo.
— Obrigada, — disse Meg. — Eu ainda não fiz a limpeza.

504
— Importa-se se eu perguntar o que você está fazendo?
— Esta pasta contém os nomes das empresas pertencentes ou
dirigidas pelos Intui. Eu deveria pedir o necessário com eles a partir de
agora para que as pessoas em Lakeside não possam reclamar que
estamos levando os bens racionados para longe deles. E eu tenho listas
de coisas que as pessoas gostariam de comprar no supermercado da
Praça do Mercado. Mas algumas coisas... Eu tenho uma lista com uma
dúzia de diferentes tipos de cereais, e eu não sei como escolher.
— Quantos tipos de cereal a loja tem agora?
— Não tenho certeza. Os Outros comem muito mais carne do que
cereal.
Movendo-se lentamente, Twyla deu a volta ao redor da mesa até
que ficou ao lado de Meg, e pode olhar para as listas.
— Qual desses itens você acha que um humano e Outros
comeriam? — Twyla inclinou a cabeça para indicar Nathan. — Ou os
Corvos?
— Sierra me deu esta lista de cereais que as crianças gostariam...
Twyla sacudiu a cabeça. — As crianças incomodam por algo até
que possamos comprar, e depois não querem mais. Você não precisa se
incomodar com isso. Você pode pensar sobre o que será útil para a
maioria dos moradores. — Ela olhou a lista. — A aveia é um cereal de
inverno que pode ser usado com bagas e nozes e um pouco de
adoçante. Se você vai comprá-los, é melhor pedir um cereal feito de milho
e outro feito de aveia, coisas que você pode preparar com pouca coisa, ou
se precisar preparar uma comida mais rápida. Aqueles que quiserem algo
diferente podem comprar em outra loja ou ficar sem.
— Tess disse algo parecido. — Na verdade Tess disse que se os
humanos não comerem o que for oferecido no Pátio, eles poderiam
manter a teimosia e morrer de fome.
Twyla deu uma palmadinha na mão de Meg. — Não deixe que isso
a deixe perturbada. Independente se for a alimentação para quem tem
duas pernas ou quatro, só porque um filhote quer comer algo diferente,
não significa que você tem que deixar sua mente conturbada. Agora eu

505
vou deixar você voltar para o seu trabalho, enquanto eu faço a limpeza
na sala de trás.
Ouvindo Twyla cantando na sala dos fundos, Meg pôs de lado as
listas. Sim, ela se sentia perturbada, mas não era realmente sobre os
alimentos e as mercadorias que as pessoas queriam. Preocupar-se com
coisas como cereal era uma maneira de evitar a pergunta que estava em
seus pensamentos desde que ela puxou uma carta de romance da gaveta.
Quanta humanidade ela queria? De muitas maneiras, ela não
pensava em Simon como um humano, não agir como um ser
humano. Ela confiava nele porque ele não era humano. Ela poderia
contar com ele para não escorregar muito longe dessa humanidade se ela
quisesse explorar um pouco mais, apenas o suficiente para ver se o
romance poderia fornecer um tipo diferente de euforia?
Ela estava livre à tarde, já tinha assinado algumas entregas, e
poderia avaliar as listas, sem fazer realmente nada com elas.
Será que Simon como humano poderia desistir do que ele
era? Havia uma maneira de encontrar uma resposta sem que nenhum
deles se machucasse?
Nathan já tinha saído, e ela estava fechando o escritório quando
Simon entrou, parecendo suado, irritado e pronto para morder.
— Eu quero nadar esta noite, — Meg disse, incerta se ela estava
fazendo uma sugestão ou lançando um desafio.
— Com o bando feminino?
Uma suposição compreensível. O bando feminino teria que ter
permissão para ir nadar na parte Corvine do Pátio. — Não, com você. Só
nós. Nem mesmo Sam.
Simon inclinou a cabeça. — Não com Sam? Por quê?
Ela engoliu em seco. — Eu quero tentar nadar sem roupas, nus.
Ele estava tão quieto, ela não tinha certeza se ele estava até
mesmo respirando.
— Nadar sem roupa, — ele finalmente disse.
— Sim.
— Nós dois nadando sem roupas. Em forma humana.

506
— Sim. Mas... Isso é o tanto que eu quero tentar.
— Após escurecer?
Ela não podia imaginar fazendo isso quando podia ser vista. —
Sim.
Simon coçou atrás de uma orelha. — Certo. Vamos para casa
agora?
Ele não parecia com raiva ou chateado. Ele parecia... Perplexo.
Eles terminaram de fechar o escritório, arrumaram o carro elétrico
com a sua bolsa e tudo o que eles levariam para os
apartamentos. Enquanto se afastavam, ocorreu-lhe que ela estava tão
aliviada por deixar os humanos para trás como ele estava.

****

— Meg quer ir nadar nua com você?


Vlad parecia tão perplexo quanto ele, e Simon se sentiu
melhor. Pelo menos ele não era o único confuso. — Foi o que ela disse.
Comigo. Após escurecer. Nós dois na forma humana.
— Nenhum de nós usa roupas quando vamos jogar na água, a
menos quando vamos dar uma lavagem rápida nas roupas sem removê-
las.
— Eu sei disso. Mas isso é importante para Meg. Eu só não sei
por quê. — Simon grunhiu de frustração. Ela ficou perturbada da última
vez que o viu como humano e nu. Por que esse horário era diferente?
Vlad tomou um rumo inquieto ao redor de Simon na sala de estar.
— Eu li alguns livros de beijo antes de enviá-los para Prairie Gold.
— Mesmo? Por que?
Vlad deu de ombros.
— Os livros mencionam nadar nus? — Simon pensou por um
momento. — Você acha que Meg leu esses livros?

507
— Não sei, mas estou querendo saber se este é um passo no
namoro humano, outro tipo de jogo antes da fêmea estar pronta para
acasalar.
— Ruthie e Kowalski não foram nadar nus no inverno antes de
acasalarem, — Simon argumentou.
— Mas o banho é considerado um conjunto do jogo de um pré-
acasalamento.
Simon atirou-se no sofá. — Isso não está ajudando.
Vlad sentou ao lado dele. — Quanta humanidade os indigenes da
terra vão manter? — Ele fez uma pausa, depois acrescentou baixinho, —
Quanta humanidade você está disposto a absorver?
A possibilidade de perder o Lobo, a parte essencial de sua
natureza, o assustava. Mas Meg não queria, e nem confiava nos
homens humanos. Ela precisava que ele se mantivesse um Lobo.
O que os Anciões queriam dos Outros que moravam no Courtyard
de Lakeside? Não houve uma nova forma de indigenes da terra em um
tempo muito longo.
Ele não estava pronto para assumir o peso dessa possibilidade. E
Meg certamente não estava pronta. Mas o jogo seria bom.
— Você vai dizer a Meg que os Anciões estão curiosos o suficiente
sobre o uivo que não é Lobo, e que eles irão voltar ao Courtyard? — Vlad
perguntou.
— Não. Eu acho que nadar pelado será emoção suficiente para
uma noite.

****

Eles dirigiram até o lago para nadar. Desde que Vlad não foi de
muita ajuda, Simon considerou perguntar a alguma fêmea do bando
humano sobre o namoro, mas decidiu contra essa ideia. Meg não era
mais experiente do que ele, então seria apenas outra coisa que iriam
descobrir juntos.

508
Seu humor mudou enquanto o sol se punha. Ela parecia pequena
e tímida, como se ela já tivesse usado sua cota de coragem para o dia.
— Nós não temos que fazer a coisa do nadar pelados, — ele disse
tentando entender seu humor. — Nós podemos nadar usando
roupas. Vai ser legal também.
— Não. Eu quero fazer isso.
Você quer fazer isso tanto quanto eu quero ser pisado por um
bisão. Mas ele estacionou o carro e pegou o cobertor da parte
traseira. Alguém tinha cuidadosamente colocado algumas luzes movidas
a energia solar ao redor da água, criando iluminação suficiente para que
Meg não tropeçasse no escuro.
Ela tirou suas sandálias, e foi até a beira da piscina parecendo
infeliz.
Ele se perguntou como faria com essa aventura, quando Meg de
repente tirou a roupa e pulou na água. Ela mergulhou, em seguida, veio
à tona, rangendo com o choque da água, pois estava muito mais frio do
que do lado de fora.
Ele se despiu e saltou para dentro da água. Sim, a água chocava
a forma humana mais do que na forma Lobo, mas apenas por um
momento.
— Você está bem, Meg?
Ela remou até a borda e pegou punhados de grama para se
ancorar, com as pernas flutuando atrás dela. — Eu estou bem. — Ela
flutuou por um minuto antes de dizer baixinho, — Eu estou bem.
Ele se juntou a ela na borda. — A água é uma boa ideia depois de
um dia pegajoso.
Ela assentiu com a cabeça.
Frágil e complicada Meg. O que ela quer que ele faça?
Ela virou a cabeça para longe dele apenas o suficiente para que a
luz iluminasse a nova cicatriz no lado direito do queixo dela. Quer fosse
inverno ou verão, ela não seria capaz de esconder essa. E ele não iria
esquecer por que ela fez esse corte.

509
Ele gentilmente beijou a cicatriz e sentiu algo mudando dentro
dele, apenas uma onda de mudança, veio e foi, mas deixou uma marca.
Ela olhou para ele, os olhos arregalados com a incerteza. Se ele a
beijasse novamente, ela iria fugir como um coelho.
Então ele lambeu o nariz dela e a fez rir antes que ele se lançasse
para o centro da piscina, fazendo grandes respingos na água, tanto
quanto podia. Um momento depois, ela saltou em cima dele dando um
grito alegre, que foi interrompido quando ambos afundaram. Cuspindo a
água, ele a puxou para a superfície.
Por vários minutos, respiraram um de frente ao outro, seus corpos
se tocando e batendo como dois Lobos em um jogo. Em seguida, eles
saíram da água e caíram sobre o cobertor, ela de bruços e ele com a
barriga para cima.
Ele olhou para ela e sorriu. Ela olhou para ele e sorriu também.
Simon escutou quando a respiração de Meg se acalmou; da mesma
forma quando ela se movia para mais perto dele para dormir. Apoiado
nos antebraços, ele a olhou por um momento antes de mudar para Lobo
e facilitar o contato com ela, deixando escapar um suspiro feliz quando
ela enterrou os dedos em seu pelo.
Quantos humanos seriam deixados em Thaisia? Quantos humanos
os indigenes da terra manteriam? Ele não tinha respostas, mas ele e Meg
iriam descobrir uma maneira de cuidar de sua matilha, e tudo ia dar
certo.
Simon deu algumas lambidas no ombro dela. Sonolenta agora, ele
deitou sua cabeça em suas patas, ainda consciente dos dedos de Meg em
seu pelo.
Sim, eles ficariam bem.

Fim

510
CONTINUA EM...
The Others #5
Etched in bone

Depois que uma revolta dos humanos foi


brutalmente destruída pelos Anciões - uma
forma primitiva e letal dos Outros - as poucas
cidades deixadas sob o controle humano estão
distantes. E as pessoas dentro deles agora sabem
temer a terra do não-homem além de suas
fronteiras - e a escuridão...

À medida em que algumas comunidades se


esforçam para reconstruir, o Courtyard de
Lakeside emergiu relativamente ileso, embora Simon Wolfgard, o shifter
lobo líder de lá, e a profetisa de sangue, Meg Corbyn, devem trabalhar
com o bando humano para manter a paz. Mas todos os seus esforços são
ameaçados quando o irmão sombrio do Tenente Montgomery chega,
procurando um passeio livre e colheitas fáceis.

Com os humanos em guarda contra um deles, as tensões se


elevam, chamando a atenção dos Anciões, que ficam curiosos sobre o
efeito que um predador tão insignificante pode ter em um bando. Mas
Meg conhece os perigos, pois viu nos cartões como tudo acabará - com
ela parada ao lado de um túmulo.

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