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I Consenso brasileiro

para boas práticas de preparo da terapia

antine o plásica

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para boas práticas de preparo da terapia

antine o plásica

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I Consenso Brasileiro
para boas práticas de preparo da terapia Antineoplásica
Copyright© 2014, Annemeri Livinalli (Coordenadora)

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer sistema,


sem prévio consentimento da Segmento Farma Editores Ltda.

Todos os direitos reservados à


Segmento farma editores.

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

C755 I Consenso Brasileiro para Boas Práticas de Preparo da Terapia


Antineoplásica / Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em
Oncologia – Sobrafo. – São Paulo: Segmento Farma, 2014.

60 p.

ISBN 978-85-7900-079-9

1. Agentes antineoplásicos. 2. Quimioterapia. 3. Oncologia. I. Sociedade


Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia – Sobrafo.

CDD 616.992061

Índice para catálogo sistemático


1. Quimioterapia 615.58
2. Oncologia 616.994
3. Agentes antineoplásicos 616.992061

Impresso no Brasil
2014

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Coordenação e edição Revisão
Annemeri Livinalli Ana Paula Giorgenon
Cinthia Scatena Gama
Eliana Guadalupe Morganti do Lago
Elaboração
André Gustavo G. M. Noronha Francisco Eduardo Pontes
Cristina F. Macedo dos Santos Maria Ines Rodrigues Gato
Eliana Reis Lisboa Raul A. Sadir
Francisco Eduardo Pontes Silvia Yuko Eguchi
Graziela Ferreira Escobar Simone Oguchi Falcari
Iraja Luiz Machi Jr. Tácila Márcia Caldeira Pereira Paulo
Maria Ines Rodrigues Gato Thalita Silva Jacoby
Raul A. Sadir Valério Antonio Ávila
Sandro Ribeiro Ness
Thalita Silva Jacoby
Valéria Armentano dos Santos
Vania Mari Salvi Andrzejevski

Realização:
Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia

Gestão 2010-2012 Gestão 2012-2014


Presidente: Iara Maria Franzen Aydos Presidente: Iara Maria Franzen Aydos
Vice-presidente executivo: Ana Paula Giorgenon Vice-presidente executivo: Pablicio Nobre 
 Vice-presidente técnico-científico: Annemeri Livinalli Vice-presidente técnico-científico: Ney Moura
 Diretor técnico-científico: Ney Moura Lemos Pereira Diretor técnico-científico: Mario Jorge Sobreira
Diretora de comunicação: Simone Oguchi Falcari Diretora de comunicação: Annemeri Livinalli
Diretora administrativo-financeira: Diretora administrativo-financeira:
Tácila Márcia Caldeira Pereira Paulo Mayde Seadi Torriani 
 Diretora de assuntos regionais: Diretora de assuntos regionais:
Kristiana Cerqueira Mousinho Kristiana Cerqueira Mousinho
 Primeiro-secretário: Valério Antonio Ávila Secretário: Rafael Oscar Risch
Segundo-secretário: Pablicio Nobre Gonçalves

O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). Produzido por Segmento Farma Editores Ltda., sob encomenda de SOBRAFO, em abril de 2014.
Material de distribuição exclusiva à classe FARMACÊUTICA.

Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300
www.segmentofarma.com.br • segmentofarma@segmentofarma.com.br • Cód. da publicação: 16032.04.2014

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Sumário
Apresentação

Prefácio

Agradecimentos

9 Atribuições e qualificação do profissional farmacêutico em Oncologia

13 Infraestrutura física da central de manipulação de medicamentos utilizados na


terapia antineoplásica

17 Equipamentos

22 Transporte, recebimento e armazenamento da terapia antineoplásica

25 Paramentação

27 Dispositivos especiais para o preparo da terapia antineoplásica em sistema fechado

30 Saúde ocupacional: medidas de proteção

34 Procedimentos de limpeza e desinfecção da área e dos equipamentos

36 Validação da técnica asséptica

39 Técnica de preparo dos medicamentos não estéreis

42 Manutenção preventiva, corretiva e certificação da cabine de segurança biológica

45 Legislação para farmácia em oncologia

50 Glossário

55 Anexos

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Apresentação

Este é o primeiro consenso desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Farmacêuticos


em Oncologia (Sobrafo) abordando parte dos temas envolvidos nas atividades de-
senvolvidas no âmbito da farmácia oncológica.
Em 2003, a diretoria da Sobrafo publicou o Guia para o Preparo Seguro de Agen-
tes Citotóxicos, o primeiro material específico para farmacêuticos em oncologia, que
representou um grande marco nas ações da sociedade.
Ante a mudança no cenário dessas atividades desde a publicação da Resolução
n 220 publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) especifica-
o

mente para os serviços de terapia antineoplásica em 2004, havia a necessidade de


apresentar um conteúdo atualizado e mais completo.
A partir das solicitações dos membros da sociedade que identificamos a necessi-
dade de oferecer não apenas a atualização do guia, mas sim algo mais completo,
abordando temas que não foram explorados anteriormente.
Assim, iniciamos em 2011 a escolha dos tópicos e dos colaboradores, experientes
e especialistas na farmácia oncológica. Após a procura das melhores referências, re-
visando a legislação, escrevendo e debatendo, em 2013 o conteúdo estava pronto
para a etapa mais importante: a consulta pública, momento em que o material ficou
disponível para todos os profissionais opinarem sobre esse importante documento e
participarem de sua elaboração.
Ao longo de 12 capítulos, é possível encontrar informações que no dia a dia do far-
macêutico suscitam dúvidas, além de serem abordados os principais dados contidos
nas legislações que norteiam as atividades nas farmácias oncológicas. O conteúdo
auxilia tanto o profissional recém-contratado quanto os mais experientes, exploran-
do importantes recomendações que, na rotina, são verdadeiros desafios em todos os
aspectos.
A intenção é que esta publicação possa proporcionar aos farmacêuticos e gestores
interessados conhecimentos e práticas com forte embasamento na legislação vigen-
te, além de reflexões teóricas com base na experiência de instituições mais experien-
tes, como a Sobrafo, e que tradicionalmente se encontram engajadas em assuntos
comuns a todos.

Annemeri Livinalli
Diretora de comunicação

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Prefácio
A Sobrafo tem como missão qualificar seus associados por meio de cursos, seminários, congres-
sos e publicações com temas de interesse e relevância para a prática diária, contando com a contri-
buição de profissionais de reconhecida trajetória na área da Oncologia.
O I Consenso Brasileiro para Boas Práticas de Preparo da Terapia Antineoplásica foi elaborado
considerando essas experiências com cada um dos temas abordados e, após as contribuições pro-
venientes de consulta pública amplamente divulgada, representa uma conformidade de opiniões
e ideias. Com a finalidade de apresentar as melhores práticas, este material não se sobrepõe à legis-
lação vigente, mas visa complementá-la.
Pretendemos com esse recurso oferecer uma ferramenta de harmonização para a prática diária
do farmacêutico em Oncologia nas diversas regiões do País, onde a diversidade na formação desses
profissionais estabelece grande heterogeneidade de condutas.
Tendo na manipulação segura de medicamentos antineoplásicos o foco principal, a atuação do far-
macêutico em Oncologia é hoje reconhecida e valorizada. Os desafios aumentam à medida que pre-
cisamos ampliar cada vez mais nossa contribuição para otimizar os processos relacionados à terapia
medicamentosa, consolidando, assim, nosso papel na gestão clínica, terapêutica e econômica.
O paciente, nosso principal motivador, deve estar no centro das atenções, mas não podemos nos
esquecer do farmacêutico que está à frente da cabine de segurança biológica e não deve, em hipó-
tese alguma, expor-se a esses medicamentos que, para os pacientes, representam a cura, e para si,
contaminações diárias. Por essa razão, o consenso discute em três capítulos temas importantes para
prevenir essas exposições ocupacionais (paramentação, dispositivos especiais e saúde ocupacional).
O profissional, grande responsável pela existência da Sobrafo, com inúmeras atribuições em seu
dia a dia, requer qualificação específica e constante. No início do material, há um capítulo que servirá
de estímulo, embora a realidade muitas vezes não permita que o profissional se qualifique na mesma
proporção desejada.
O capítulo que apresenta a infraestrutura física da central de manipulação e equipamentos pro-
curou reunir em um único texto todas as exigências da legislação vigente, bem como as principais
recomendações publicadas em diretrizes internacionais.
Outros capítulos que acreditamos que será significativo aos profissionais são aqueles de procedi-
mentos de limpeza e validação da técnica asséptica, conteúdo relevante para garantir a qualidade
do produto final manipulado.
O capítulo sobre a manutenção da cabine de segurança biológica é a grande inovação dos con-
teúdos, uma vez que nós, farmacêuticos, muito pouco sabemos sobre tais equipamentos e muitas
vezes depositamos toda a confiança em empresas de certificação. Sem possuir o conhecimento
mínimo a respeito da manutenção desse equipamento, o risco de inadequações é maior. Por meio
desse capítulo, desejamos explicar ao farmacêutico, em linguagem simples, o que ocorre durante a
manutenção do equipamento e a quais informações devemos estar atentos.
Embebidos do espírito de missão cumprida, convido todos a usufruir desse documento que, com
certeza, apesar de todos os esforços, não tratou de todos os temas do cotidiano da farmácia em
oncologia nem deve ter sanado todas as dúvidas dos profissionais.
Estamos certos de que esse foi o “primeiro” consenso, nossa primeira experiência no desenvol-
vimento de algo com teor tão complexo, mas que nos permitirá melhorá-lo em futuras edições,
atendendo ao máximo às necessidades dos profissionais que dele farão uso.
Iara Maria Franzen Aydos
Presidente

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Agradecimentos

A Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia agradece a todos os


profissionais que enviaram sugestões durante o período de consulta pública e
àqueles que participaram da elaboração do conteúdo, direta ou indiretamen-
te: Vania Mari Salvi Andrzejevski, Graziela Ferreira Escobar, Iraja Luiz Machi Jr.,
Francisco Eduardo Pontes, Raul A. Sadir, Valéria Armentano dos Santos, André
Gustavo G. M. Noronha, Delzenir Alves Bringel, Thalita Silva Jacoby, Eliana Reis
Lisboa, Sandro Ribeiro Ness, João Carlos Seratiuk, Bianca Alves Brito, Maria Ines
Rodrigues Gato, Cristina F. Macedo dos Santos, Cinthia Scatena Gama, Eliana
Guadalupe Morganti do Lago, Silvia Yuko Eguchi, Juliana Valente Taurisano,
Nathalia Pires Barbosa e Andréa Carla Pinto Fernandes.

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Atribuições e qualificação do profissional
farmacêutico em Oncologia

N as últimas duas décadas, não há ne-


nhum exagero em afirmar que os far-
macêuticos hospitalares realizaram uma
ganizar e trabalhar para firmar e fortalecer
nosso papel nessa área de atuação.
O profissional deve buscar conhecer
revolução em termos de cuidados far- detalhadamente as operações da Unida-
macêuticos prestados aos pacientes com de de Terapia Antineoplásica, tanto em
câncer no Brasil. Em meados da década âmbito hospitalar quanto ambulatorial,
de 1980, poucos eram os serviços que tendo como pontos fundamentais o do-
dispunham de farmacêuticos designa- mínio a respeito de:
dos para atuar nessa área, e aqueles que _
requisitos físico-estruturais;
se aventuraram iniciaram suas atividades _
condições de preparo de medicamen-
por meio do controle de suprimento de tos, considerando características físico-
produtos e preparo das doses unitárias -químicas e riscos de contaminação de
dos antineoplásicos. produtos estéreis;
Atualmente, não é novidade a participa- _
critérios de qualificação de fornecedores
ção do farmacêutico nessa área de atuação de medicamentos e materiais;
na maioria das regiões do nosso país, até _
garantia e controle de qualidade dos
porque os aspectos legais são válidos para medicamentos estéreis;
todos os estados, independentemente da _
segurança ocupacional e ambiental em
estrutura disponível. relação a substâncias de risco.
As atribuições dos farmacêuticos na
área de Oncologia permeiam todo o ciclo Atualmente, ainda de acordo com o re-
da assistência farmacêutica, da seleção dos ferencial teórico, o farmacêutico oncológico
medicamentos e produtos para a saúde ao deve promover o uso racional dos medica-
pós-uso, passando pela pesquisa clínica e mentos e, para tanto, necessita:
pela docência, uma vez que a residência far- _
participar ativamente da seleção, da
macêutica em Oncologia existe há mais de aquisição, do recebimento, do armaze-
uma década em nosso país. namento, da distribuição, do preparo, da
O referencial teórico que sempre esteve dispensação, da administração e do con-
presente dando suporte às ações desses pro- trole do uso e pós-uso dos medicamentos
fissionais é oriundo de sociedades interna- antineoplásicos e adjuvantes à terapêuti-
cionais e, mais recentemente, da Sobrafo, ca, assim como garantir a qualidade dos
mérito de uma categoria que soube se or- produtos ofertados ao paciente;

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_
gerenciar o uso dos medicamentos e _
desenvolver ações de imunovigilância
produtos, visando prevenir, promover e tecnovigilância mediante o gerencia-
e recuperar a saúde dos pacientes, e, mento de risco desses produtos;
quando necessário, assegurar produ- _
participar das comissões técnicas e cien-
tos e serviços para cuidado domiciliar tíficas da instituição, colaborando com a
e/ou paliativo de qualidade aos pa- disseminação do conhecimento e pro-
cientes com câncer; movendo maior visibilidade ao trabalho
_
certificar a qualidade e a segurança dos do farmacêutico;
produtos e serviços oferecidos mediante _
gerenciar a unidade de farmácia on-
organização, sistematização e controle cológica dos pontos de vista técnico,
das atividades desenvolvidas e definição científico e administrativo, por meio da
das competências (atribuições e respon- participação ativa nos programas de
sabilidades) de sua equipe; qualidade, visando à certificação do ser-
_
conhecer as doenças que compõem a viço (Vigilância Sanitária, programas de
área de Oncologia, e os medicamentos Acreditação Hospitalar e ISO 9000);
utilizados para tratamento, prevenção e _
aprimorar sistemas de controle que pos-
minimização dos riscos relacionados; sibilitem uma gestão de risco efetiva;
_
capacitar e qualificar os membros de _
estabelecer um programa que assegu-
sua equipe, orientar e educar a equipe re a monitoração e o gerenciamento
de saúde de sua instituição, os pacien- dos erros de medicamentos;
tes e seus cuidadores, para que o uso _
capacitar sua equipe para conhecer as
seguro dos medicamentos oncológi- ferramentas de qualidade e do geren-
cos seja realizado em seu ambiente de ciamento de risco, tendo como foco a
trabalho; segurança individual (paciente e pro-
_
validar a técnica asséptica dos manipu- fissional) e coletiva;
ladores de acordo com as recomenda- _
orientar os pacientes e a equipe sobre os
ções da literatura científica; problemas de saúde relacionados ao uso
_
avaliar as condições de trabalho e esta- dos medicamentos, aos eventos adver-
belecer o prazo de validade dos medica- sos associados ao tratamento; colaborar
mentos manipulados, de acordo com as para assegurar a adesão do paciente ao
recomendações da literatura científica; tratamento e minimizar os riscos ineren-
_
desenvolver atividades de farmácia clíni- tes a seu uso;
ca e atenção farmacêutica visando o uso _
desenvolver metodologias de trabalho e
seguro dos medicamentos e promoven- de controle que minimizem os custos do
do a integração do profissional com as tratamento de forma segura e efetiva;
equipes assistenciais, o gerenciamento, _
desenvolver ações de endomarketing e
o paciente e seus familiares; marketing profissional de maneira ética

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

e responsável, que colaborem para o de- A qualificação profissional, feita por meio
senvolvimento e o reconhecimento do de cursos e programas de formação inicial, é
profissional farmacêutico em Oncologia; considerada complemento da educação for-
_
participar do desenvolvimento e da exe- mal. A carga horária vai depender da necessi-
cução de protocolos de pesquisa clínica dade de aprendizagem, mas recomendam-se,
voltados para a área de Oncologia; no mínimo, 360 horas para um curso de espe-
_
elaborar material educativo e de divulga- cialização cujo objetivo principal é incorporar
ção sobre os medicamentos e produtos conhecimentos teóricos e técnicos, além de
para a saúde e realizar educação em saú- habilidades operacionais, necessários para
de para pacientes e equipe assistencial; desenvolver competências em Oncologia.
_
estabelecer parcerias com instituições Os profissionais que optarem pela obten-
de ensino para realizar trabalhos de pes- ção do título de especialista pela Sobrafo,
quisa que permitam divulgar resultados além da aprovação na prova escrita, deverão
que sejam significativos cientificamente. atender aos requisitos de tempo de atua-
ção e participação em atividades didáticas
Como especialista do medicamento, o na área de Oncologia. Todos os requisitos
farmacêutico é requisitado pela equipe e são detalhados no Edital para Obtenção do
pelo paciente para solucionar problemas Título de Farmacêutico Especialista em On-
relacionados ao uso do medicamento, quer cologia divulgado no site da entidade.
possam ser prevenidos ou não. Dessa for-
ma, o farmacêutico oncológico precisa cola- Bibliografia
borar com a equipe para assegurar a oferta American College of Clinical Pharmacy (ACCP). Clinical
de um tratamento medicamentoso bem in- pharmacist, competencies. Pharmacotherapy. 2008;28:806-15.
dicado, eficaz, seguro e conveniente. American College of Clinical Pharmacy (ACCP). Clinical pharmacy,
O Brasil dispõe de um campo muito am- definition, clinical pharmacist. Pharmacotherapy. 2008;28:816-7.
plo para a atuação do farmacêutico na área American Pharmacists Association and the National Association
de Oncologia, mas torna-se primordial a of Chain Drug Stores Foundation. Medication therapy
qualificação desse profissional, a fim de que management in pharmacy practice. Version 2.0 March 2008.
ele realmente seja um diferencial na equipe American Society of Hospital Pharmacists. ASHP guidelines
assistencial. on preventing medication errors in hospitals. Am J Hosp
O farmacêutico especialista em Oncolo- Pharm. 1993;50:305-14.
gia é um profissional com conhecimentos American Society of Health-System Pharmacists. ASHP
profundos de farmacologia da terapia anti- guidelines: minimum standard for pharmacies in
neoplásica, bem como da gestão de unida- hospitals. Am J Health Syst Pharm. 1995;52:2711-7.
des de terapia antineoplásica. A especializa- American Society of Hospital Pharmacy. ASHP guidelines on
ção em Oncologia requer anos de atuação adverse drug reaction monitoring and reporting. Am J
e/ou pós-graduação na área. Health Syst Pharm. 1995;52:417-9.

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American Society of Health-System Pharmacists. ASHP American Society of Hospital Pharmacists. ASHP guidelines for
guidelines on a standardized method for pharmaceutical providing pediatric pharmaceutical services in organized
care. Am J Health Syst Pharm. 1996;53:1713-6. health care systems. Am J Hosp Pharm. 1994;51:1690-2.
American Society of Health-System Pharmacists. ASHP ASCO-ESMO consensus statement on quality cancer care. J
guidelines on medication-use evaluation. Am J Health- Clin Oncol. 2006;24:3498-9.
Syst Pharm. 1996; 53:1953-5. American Society of Hospital Pharmacists. ASHP guidelines on
American Society of Health System-Pharmacists. ASHP managing drug product shortages in hospitals and health
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preparation and handling – Guidelines 85 assurance for ed. Valencia: AFAHPE, 2005.
pharmacy prepared sterile products. Am J Health Syst Massoomi FF, Neff B, Pick A, Danekas P. Implementation
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American Society of Health-System Pharmacists. ASHP in a community hospital. Am J Health Syst Pharm.
guidelines on preventing medication errors with 2008;65:861-5.
antineoplastic agents. Am J Health Syst Pharm. RDC 220, de 21 de setembro de 2004, que dispõe sobre
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American Society of Health-System Pharmacists. ASHP antineoplásicas.
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2009;66:499-502. Tercer Consenso de Granada sobre Problemas
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Am J Health Syst Pharm. 2010;67:757-65. Pharm. 2007;48:5-17.
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on pharmacy planning for implementation of computerized closed system device to reduce occupational contamination
provider-order-entry systems in hospitals and health systems. and exposure to antineoplastic drugs in the hospital work
Am J Health Syst Pharm. 2011;68:9-31. environment. Ann Occup Hyg. 2009;53:153-60.

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Infraestrutura física da central de
manipulação de medicamentos utilizados na
terapia antineoplásica

H istoricamente, quando a terapia anti-


neoplásica foi introduzida no arsenal
terapêutico, a preparação de medicamen-
componentes descritos em uma prescrição
médica, sejam medicamentos antineoplá-
sicos ou qualquer outro com potencial car-
tos citotóxicos era realizada nas enferma- cinogênico, mutagênico ou teratogênico,
rias, uma vez que não existia a atuação do deve ser realizada em uma central de mani-
profissional farmacêutico. Os equipamen- pulação de medicamentos.
tos para proteger os medicamentos estéreis Os órgãos de saúde entenderam os ris-
e o manipulador eram escassos, e pouco se cos envolvidos nesse tipo de serviço e le-
sabia a respeito dos efeitos tóxicos que es- gislações versando sobre o tema foram pu-
ses fármacos poderiam causar ao profissio- blicadas com o passar dos anos, culminado
nal responsável por sua manipulação. com a redação e publicação da Resolução
No decorrer dos anos, foram realizados da Diretoria Colegiada no 220 da Agência
estudos que comprovaram que a manipula- Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
ção dos medicamentos antineoplásicos em em setembro de 2004, que estabelece os re-
ambiente aberto poderia contribuir para quisitos mínimos nos serviços que oferecem
um maior risco de exposição do manipula- terapia antineoplásica, sendo, atualmente, a
dor a agentes comprovadamente cancerí- principal norma destinada a esse fim.
genos, mutagênicos e teratogênicos.
A preparação de medicamentos anti- Sala de manipulação e antecâmaras
neoplásicos em ambiente aberto constitui A sala de manipulação e as antecâmaras de-
não só risco de contaminação microbioló- vem ser projetadas para atender às normas
gica do medicamento, o que pode repre- especiais de classificação de sala limpa, que
sentar um risco sério ao paciente que vai geralmente se baseiam na norma brasileira
recebê-lo, mas também para o manipula- aprovada pela Associação Brasileira de Normas
dor e o ambiente circundante à prepara- Técnicas (ABNT NBR) da família ISO 14644-1.
ção, pois, nesse caso, não há equipamento Segundo essa norma (parte 1) e a Resolu-
técnico adequado que promova a prote- ção da Diretoria Colegiada (RDC) no 67, sala
ção de ambos. limpa ou sala classificada é aquela onde a
Por essa razão, a manipulação, compre- contaminação por partículas viáveis e não
endida como o ato de misturar os diversos viáveis é controlada e cujas construção e

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utilização devem minimizar a introdução, Ambientes
geração e retenção de contaminantes em Com base na legislação vigente e seguindo
seu interior. Além disso, sala limpa requer a ABNT NBR, a Sobrafo recomenda que os
que outros parâmetros, como temperatura, seguintes ambientes estejam presentes no
umidade e pressão, sejam controlados. Na serviço de farmácia que atende oncologia:
norma ABNT NBR 7256, é possível consultar
mais informações a respeito dos controles Salas
da temperatura e umidade. Vestiário de barreira.
A construção ou adaptação das áreas Sala de limpeza/desinfecção.
também deverá seguir as diretrizes citadas Sala de manipulação.
para planejamento, elaboração e avaliação
dos projetos físicos de estabelecimentos de Áreas
saúde preconizados pela RDC no 50, de 21 Almoxarifado de materiais e medica-
de fevereiro de 2002. mentos.
Recebimento.
Cabine de segurança biológica (CSB) Armazenamento temporário de resíduos
As CSBs apresentam sistemas de insuflamen- contaminados.
to e exaustão de ar que interagem diretamen-
te com o ar da sala onde estão instalados. Por Salas de apoio
esse motivo, cada projeto de instalação deve Avaliação farmacêutica da prescrição.
ser realizado um estudo prévio das diferen- Depósito de material de limpeza.
tes interferências que o sistema de tratamen- Sala de resíduos.
to de ar da sala, as localizações das portas e Sala de rotulagem/embalagem/controle
de circulação dos trabalhadores, entre outras de qualidade.
variáveis, podem oferecer para o adequado
funcionamento dessas cabines. Vestiário com barreira/sala de para-
A condição de um ambiente asséptico mentação: deve possuir pia com torneira
na área de trabalho da CSB classe II, tipo de acionamento sem contato com as mãos.
B2, para manipulação de medicamentos Essa sala funciona como uma antecâmara
antineoplásicos estéreis deve ser certi- de entrada, uma sala de barreira à sala de
ficada, isto é, o ar de insuflamento deve manipulação. Por essa razão, deve possuir
garantir, em operação, uma classificação pressão diferencial positiva em relação a ela,
da limpeza do ar como ISO classe 5 (grau funcionando, dessa forma, como barreira de
A ou classe 100), de acordo com a ABNT contenção à saída e à entrada de ar na sala
NBR 14644-1 para partículas de tamanho de manipulação. Essa pressão positiva re-
iguais ou superiores a 0,5 µm e inferiores lativa produz um efeito de barreira do tipo
ou iguais a 5 µm. bubble (bolha de ar), impedindo que o ar ex-

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

terno e não classificado adentre essa sala e co. Deve possuir classificação de ar ISO clas-
que o ar da sala de preparo saia, permitindo se 7 (grau C) e pressão diferencial negativa
que possíveis contaminantes químicos se- em relação aos ambientes adjacentes, con-
jam retidos na sala de preparo para serem forme recomenda os itens 2.7.2 do anexo III
filtrados pelo sistema da cabine de seguran- e 11.3 do anexo IV, da RDC no 67, de 2007.
ça biológica. Não é necessário classificar o Embora os medicamentos manipula-
ar nessa sala, porém é recomendável insta- dos nessa sala sejam estéreis, por se tratar
lar filtro fino e grosso. de fármacos perigosos para a saúde hu-
Na RDC no 67, consta que nessa sala ou mana e o ambiente, a pressão dessa sala
junto a ela deve haver lavatório com provi- não deve seguir a recomendação do ane-
são de sabonete líquido e antisséptico e dis- xo IV, item 4.15.1, da RDC no 67, de 2007,
positivo para secagem das mãos. Esse lava- para pressão positiva.
tório deve ser de uso exclusivo do processo É importante haver um telefone para uso
de paramentação. interno, para evitar saídas desnecessárias
A RDC no 50, de 2002, informa que “o ves- do manipulador e permitir a comunicação
tiário das salas de diluição de quimioterápi- caso ocorram acidentes.
cos deve possuir lava-olhos, além do lavató- Nessa sala não devem existir pia nem ralo.
rio e da área de paramentação”. No almoxarifado de materiais e medi-
As duas portas de antecâmaras não po- camentos, devem estar afixadas as normas
dem estar simultaneamente abertas, deven- básicas relativas a cada medicamento cito-
do haver um sistema que impeça que isso tóxico (formas de armazenamento, estabi-
aconteça e um sistema de alarme (sonoro e/ lidade, composição, precauções especiais),
ou visual) que alerte quando isso ocorrer. fichas com dados de segurança relativas a
Sala de limpeza/desinfecção: local cada um, além do kit para acidentes, confor-
onde se procede à higienização dos mate- me preconizado na RDC no 220, de 2004.
riais (quando aplicável) e que contém em- Sala de rotulagem/embalagem/con-
balagens primárias dos medicamentos que trole de qualidade: se for contígua à sala
serão utilizados na manipulação. Deve ser de manipulação, deverá ser classificada
adjacente e comunicar-se com a sala de como ISO classe 8. A fim de evitar movimen-
manipulação através de passadores inter- tações constantes na sala de manipulação,
travados. Conforme consta na RDC no 67, de manter essa sala contígua é o ideal.
2007, a sala deve ser ISO classe 8 (grau D).
Sala de manipulação: local onde estará Superfícies, tetos, portas, iluminação
a cabine de segurança biológica (classe II, e ventilação
tipo B2), indicada para manipular medica- Nas áreas limpas, as superfícies (pisos, pa-
mentos antineoplásicos ou com potencial redes, teto) expostas devem ser revestidas
carcinogênico, teratogênico ou mutagêni- de material liso, impermeável, lavável e re-

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sistente, com cantos arredondados, sem Os processos de manipulação asséptica
rachaduras, para minimizar a liberação ou devem cumprir as diretrizes das Boas Práti-
o acúmulo de partículas ou micro-organis- cas de Manipulação de Medicamentos esté-
mos, permitindo a aplicação repetida de reis conforme a RDC no 67, de 2007.
agentes de limpeza e de desinfetantes.
Devem-se evitar saliências, prateleiras, Bibliografia
armários e equipamentos desnecessários, Allwood M, Wright P. The cytotoxics handbook. Oxford:
de forma a reduzir o acúmulo de partículas Radcliffe Medical Press, 1990.
e/ou micro-organismos e facilitar a limpeza. Baker ES, Connor TH. Monitoring occupacional exposure
As portas devem ser projetadas de modo to cancer chemotherapy drugs. American Journal of
a facilitar a limpeza, sendo contraindicadas Hospital Pharmacy. 1996;53:2713-23.
portas corrediças. Classificação de sala – Eudralex good manufacturing
Os tetos devem ser estanques para evitar practices annex 1, volume 4, manufacture of sterile
que o espaço seja contaminado. medicinal products.
Os dutos de ar devem ser instalados de Code of Federal Regulations Part 210-211 to GMP (Good
forma a permitir fácil limpeza. Manufacturing Practice) – EUA.
Devem-se evitar esgotos e ralos sempre Connor TH, Anderson RW, Sessink PJM, Broadfield L, Power
que possível, excluindo-os das áreas de ope- LA. Surface contamination with antineoplastic agents in
rações assépticas. Se houver necessidade de six cancer treatment centers in Canada and United States.
instalá-los, deve-se minimizar o risco de con- American Journal of Hospital Pharmacy. 1999;56:1427-32.
taminação microbiológica, ligando-os a sifões Cunha D, Jordão M, Ribeiro S. Centralização da preparação de
eficientes, facilmente laváveis e com respira- medicamentos citotóxicos. Lisboa, 2000.
douros que evitem o retorno de conteúdo. DIN EN 779 – Particulate air filters for general ventilation.
A iluminação e ventilação devem ser sufi- Determination of the filtration performance – 15/12/2002.
cientes para que a temperatura e a umidade DIN EN 1822 – High efficiency air filters (HEPA and LUPA)
relativa não deteriorem os medicamentos. – Part 1: classification, performance testing, marking –
O sistema de tratamento do ar deve ser 15/11/1998.
independente e possuir sistema de alarme FDA. Draft guidance: guidance for industry, sterile drug
para sinalizar a ocorrência de falhas no sis- products produced by aseptic processing – Current good
tema. Deve-se evitar o uso de ar-condicio- manufacturing practice. Washington, D.C.: 2003.
nado do tipo split e preferir sistemas de cli- NBR ISO 14644 – Salas limpas e ambientes controlados
matização. associados. Parte 1: classificação da limpeza do ar –
Entre as salas com diferença de pressão, Março de 2005.
devem ser instalados aparelhos que registrem RDC 220, de 21 de setembro de 2004, que dispõe sobre
as pressões para certificar-se de que estas são boas práticas de manipulação de preparações
mantidas conforme as recomendações. antineoplásicas.

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Equipamentos
Cabine de segurança biológica (CSB) de segurança biológica projetados. Asse-
São equipamentos construídos e projeta- melha-se muito a uma capela de exaustão
dos para oferecer proteção ao produto ma- de gases, com a diferença que apresenta um
nipulado, ao operador e ao ambiente onde filtro HEPA (high efficiency particulate air) na
estão inseridos. Nesse tipo de equipamen- exaustão. Proporciona proteção somente
to, o fluxo de ar é sempre vertical. ao operador e ambiente, ficando o produ-
As CSBs dividem-se em três classes: I, to exposto à contaminação proveniente do
II e III ou cabines tipo bolha, também co- ar do laboratório. Praticamente, não é mais
nhecidas pelo nome de glove-box isolator, utilizada hoje em dia.
sendo a última menos comum no preparo Cabine de segurança biológica clas-
de medicamentos antineoplásicos, restrin- se II (CSB II): é o modelo utilizado em 99%
gindo-se mais ao manuseio de substâncias dos preparos que envolvam risco de conta-
altamente tóxicas e em grandes centros de minação biológica. Além do filtro HEPA de
pesquisa pelo custo elevado desse tipo de exaustão, apresenta um filtro HEPA de insu-
equipamento. flamento e, com isso, garante proteção ao
Cabine de segurança biológica classe I produto, ao operador e ao ambiente. Exis-
(CSB I): foi um dos primeiros equipamentos tem três principais tipos: A1, A2 e B2.

Classe I Classe II Classe III

Classe I – Proteção ao operador e ambiente – Barreira parcial


Classe II – Proteção ao operador, ambiente e produto – Barreira parcial
Classe II – Proteção ao operador, ambiente e produto – Barreira total

Figura 1. Tipos de CSB.

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Cabines de Segurança
Biológica Classe II

Tipo: "A1" Tipo: "B1" Tipo: "A2"

Figura 2. Tipos de CSB classe II.

As cabines do tipo A1 reciclam 70% do Esse é o tipo de cabine exigida nos ser-
ar circulante e promovem a expulsão dos viços de manipulação de antineoplásicos
30% restantes, após terem passado através
de um filtro HEPA para a própria sala onde é A NR 32/2005 define a CSB classe II tipo
inserida a câmara. B2 (segundo os conceitos da norma Natio-
As CSBs classe II tipo B podem ainda se sub- nal Sanitation Foundation 49) como sendo:
dividir consoante a proporção de ar expulso:
_
Tipo B1: recircula 30% do ar e expulsa Cabine dotada de filtro absoluto
70% após filtração. (HEPA) com eficiência da filtragem
_
Tipo B2: expulsa 100% do ar, sendo o e exaustão do ar de 99,99% a 100%,
novo ar introduzido a partir do local velocidade média do ar (m/s) 0,45
onde se encontra a câmara; 60% do ar ± 10%, velocidade de entrada de ar
que entra provém da parte superior, ten- pela janela frontal de 0,5 a 0,55 m/s.
do passado por um filtro HEPA, e os 40% Todo ar que entra na cabine e o que
restantes entram pela abertura frontal. é exaurido para o exterior passam
_
Tipo B3: 70% do ar circulante é reciclado, previamente pelo filtro HEPA. Não há
sendo os 30% restantes expulsos para o recirculação de fluxo de ar, sendo a
exterior. exaustão total. A cabine tem pressão
negativa em relação ao local onde
Recomendam-se as CSBs classe II tipo está instalada, pela diferença entre o
B2 (CSB II tipo B2) para trabalhos que en- insuflamento do ar no interior da ca-
volvam agentes biológicos de risco mo- bine e sua exaustão (vazão 1.500 m3/h
derado e para manipular antineoplásicos. e pressão de sucção de 35 m.m. c.a.).

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Classe II – Tipo "B2" Cabine de segurança biológica classe


Exaustão externa III (CSB III): esse equipamento é hermeti-
camente fechado, e o operador não tem
Insuflamento externo contato direto com o produto. Apresenta
Pré-filtro um sistema de filtragem de insuflamen-
Filtro HEPA
to composto de dois estágios de filtragem
Filtro HEPA com filtros HEPA, e, na exaustão, podem-se
ter também dois estágios de filtros HEPA ou
Área de Janela um estágio de filtro HEPA e um incinerador.
Trabalho
É importante ressaltar que o uso dos
0,5m/seg
equipamentos de fluxo unidirecional
(Velocidade de face)
(EFUs) cuja referência comercial é “fluxo
Figura 3. Circulação do ar na CSB classe II tipo B2. laminar” é terminantemente proibido em
operações que ofereçam risco aos trabalha-
No caso dos medicamentos não estéreis, dores, uma vez que não possuem nenhum
representados por comprimidos e pomadas, sistema de exaustão de ar ou dispositivos
evidentemente não há obrigatoriedade de de segurança contra agentes perigosos,
que sejam manipulados em um ambiente mesmo os equipamentos do tipo bancada
asséptico, de modo que a cabine a ser utiliza- de fluxo unidirecional vertical. Esses equi-
da para esse fim necessita apenas proteger pamentos, horizontal ou vertical, não fo-
o operador e o ambiente. Na RDC Anvisa ram projetados para oferecer proteção aos
no 21, de 2009, que atualizou a RDC Anvisa trabalhadores, sendo seu objetivo único e
no 67, de 2007, o item 2.7.3.1 orienta quanto exclusivo proteger o produto/processo em
às características da cabine em que pode ser seu interior, e seu uso em operações envol-
manipulado esse tipo de medicamento. As vendo agentes perigosos oferece grave ris-
cabines classe I atendem a tais exigências. co à saúde de quem os manipula.

Tabela 1. Características das CSBs


CSB Exaustão Recirculação Proteção do Proteção do Proteção do
Classe/tipo do ar (%) do ar (%) trabalhador meio ambiente produto
Classe I 100 Externa 0 Sim Sim Não
Classe II tipo A 30 Interna 70 Sim Sim Sim
Classe II tipo B1 70 Externa 30 Sim Sim Sim
Classe II tipo B2 100 Externa 0 Sim Sim Sim
Classe II tipo B3 30 Externa 70 Sim Sim Sim
Classe III 100 Externa 0 Sim Sim Sim

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Todas as CSBs devem ser equipadas região posterior do local de trabalho que se
com medidores para mostrar as diferenças locomove na direção do operador, resultan-
de pressão e devem apresentar alarmes do em aumento da probabilidade de expo-
audíveis que possam ser ativados se a ve- sição a medicamentos perigosos.
locidade ótima do fluxo de ar não for al- Nos serviços de oncologia, as CSBs de-
cançada, indicando falha na segurança do vem ser unicamente utilizadas para ma-
equipamento. nipular antineoplásicos e medicamentos
Na cabine, o teto é constituído por filtros reconhecidamente cancerígenos, mutagê-
dotados de elevado poder de retenção de nicos ou teratogênicos.
partículas (filtros absolutos). A superfície de A fim de garantir proteção eficaz do ma-
trabalho é constituída por uma espécie de nipulador em relação ao contato com o
grelha, que permite a passagem e a recu- medicamento e evitar a contaminação mi-
peração do fluxo de ar. Os filtros HEPA apre- crobiana da solução, que representa gran-
sentam uma superfície filtrante caracteriza- de perigo aos pacientes, a preparação de
da por ter eficácia mínima de 99,9% sobre medicamentos citotóxicos injetáveis deve
as partículas de diâmetro igual ou superior ocorrer sempre no interior de uma CSB clas-
a 0,3 μm. Anterior a eles, existe o pré-filtro, se II tipo B2, uma vez que esta permite que o
que pode ser de dois tipos, sendo retidas no ar seja expulso para o exterior, misturando-
primeiro cerca de 35% das partículas (filtra- -se com a atmosfera, sem representar risco
ção grosseira) e no segundo cerca de 85% ao ambiente.
(filtração intermédia).
Em geral, a matéria filtrante é de microfi- Bibliografia
bra de vidro, que se dispõe em pregas. De- ABNT NBR 15767/2009. Equipamentos de fluxo unidirectional
ve-se efetuar a troca do filtro absoluto con- (EFU) – Requisitos e métodos de ensaio.
forme o grau de saturação e a capacidade Allwood M, Wright P. The cytotoxics handbook. Oxford:
filtrante remanescente, medida a cada seis Radcliffe Medical Press, 1990.
meses, conforme preconiza a RDC no 220. American Medical Association. Guidelines for handling
Os filtros HEPA devem ser substituídos após parenteral antineoplastic agents. JAMA. 1985;253:1590-92.
500 horas de trabalho efetivo, se estiverem Baker ES, Connor TH. Monitoring occupacional exposure
saturados, sofrerem algum dano ou confor- to cancer chemotherapy drugs. American Journal of
me a descrição do fabricante. Hospital Pharmacy. 1996;53:2713-23.
Deve notar-se que os filtros não são efi- Canadian Society of Hospital Pharmacists. Guidelines for the
cazes para materiais voláteis, uma vez que handling and disposal of hazardous pharmaceuticals.
não captam vapores e gases. As CSBs criam Ottawa, 1993.
um ambiente asséptico para o preparo de Classificação de sala – Eudralex good manufacturing
medicamentos injetáveis. No entanto, pro- practices annex 1, volume 4, manufacture of sterile
vocam um fluxo de ar filtrado originado na medicinal products.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Clinical Oncology Society of Australia. Guidelines for Mayer DRN. Hazards of chemotherapy, implementing
safe handling of antineoplastic agents. Med J Aust. safe handling practices. Cancer Supplement.
1983;1:426-8. 1992;70(4):988-92.
Code of Federal Regulations Part 210-211 to GMP (good NBR ISO 14644 _
Salas Limpas e Ambientes Controlados
manufacturing practice). EUA. Associados –Parte 1: Classificação da Limpeza do Ar –
Code of Federal Regulations Part 210-211 to GMP (good março de 2005.
manufacturing practice). EUA. NIH – Recommendations for the safe use of handling of
Connor TH, Anderson RW, Sessink JM, Broadfield L, Power LA. cytotoxic drugs.
Surface contamination with antineoplastic agents in six NIOSH – Preventing occupational exposures to
cancer treatment centers in Canada and United States. antineoplastic and other hazardous drugs in health
American Journal of Hospital Pharmacy. 1999;56:1427-32. care settings. Publication n. 2004 – 165.
Cunha D, Jordão M, Ribeiro S. Centralização da preparação de RDC 220, de 21 de setembro de 2004, que dispõe sobre
medicamentos citotóxicos. Lisboa, 2000. boas práticas de manipulação de preparações
DIN EN 779 – Particulate air filters for general ventilation. antineoplásicas.
Determination of the filtration performance _ 15/12/2002. PIC – Guide to good practices for preparation of medicinal
DIN EN 1822 – High efficiency air filters (HEPA and LUPA). Part 1: products in pharmacies. PE 010-1 (draft2) 2006. Disponível
classification, performance testing, marking 15/11/1998.
_
em: www.picscheme.org
Donner AL. Possible risk of working with antineoplastic drugs RDC 67, de 8 de outubro de 2007, que dispõe sobre
in horizontal laminar flow hoods. American Journal of boas práticas de manipulações de preparações
Hospital Pharmacy. 1978;35:900. magistrais e oficinais para uso humano em
FDA. Draft guidance: Guidance for industry, sterile drug farmácias.
products produced by aseptic processing – current good RDC 21, de 20 de maio de 2009, altera o item 2.7, do anexo III,
manufacturing practice. Washington, D.C.: 2003. da resolução RDC no 67.

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Transporte, recebimento e armazenamento
da terapia antineoplásica

T rabalhadores podem estar expostos a


riscos ocupacionais inerentes aos fár-
macos antineoplásicos desde a fabricação
bricante e/ou distribuidor com rótulos
e/ou etiquetas que alertem o pessoal
envolvido no recebimento da adequada
até o descarte final. Em geral, os riscos aos proteção individual.
trabalhadores serão maiores ou meno- Outro cuidado que oferece um nível
res, dependendo do tipo de treinamento adicional de segurança é a vedação dos
de manuseio a que se submeterem. Al- medicamentos em saco plástico no ponto
gumas recomendações serão abordadas de distribuição, reduzindo os riscos do tra-
nesta sessão, visando aumentar a segu- balhador envolvido no recebimento e/ou
rança do trabalhador, diminuir possíveis abertura das embalagens.
erros e garantir a qualidade nos pro- O exame visual das embalagens e a
cessos de recebimento, armazenamen- identificação de danos ou ruptura das cai-
to e transporte, minimizando os riscos xas são passos importantes no processo
de exposição. de recebimento. Políticas e procedimentos
devem ser instituídos para a manipulação
Recebimento de embalagens danificadas e/ou recipien-
Estudos demonstraram que a parte exter- tes dos medicamentos antineoplásicos
na dos frascos de muitos medicamentos com risco ocupacional, como devolução
pode estar contaminada com resíduos de mercadorias danificadas ao fornece-
gerados durante o processo de fabrica- dor, utilizando-se técnicas adequadas de
ção, sugerindo uma possível extensão da contenção. Esses procedimentos devem
contaminação descrita em bula e do inte- incluir o uso de equipamentos de proteção
rior das caixas de embalagem. Essa con- individual (EPIs), que devem ser fornecidos
taminação poderia favorecer a exposição pelo empregador.
do trabalhador no momento da abertura Considerando a necessidade de dife-
das embalagens (caixas, cartuchos), na renciar os medicamentos antineoplásicos
manipulação dos frascos, no recebimen- dos demais, um processo de identificação
to de caixas abertas e/ou quebradas e da área de recebimento pode ser adotado,
em pontos de distribuição que fracionam rotulando, por exemplo, caixas, prateleiras
esses medicamentos. Recomenda-se que e bandejas com alertas de necessidade de
os frascos-ampola, ampolas e caixas se- precauções especiais ou mesmo restringin-
jam devidamente identificados pelo fa- do o acesso a eles.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Armazenamento Transporte
De acordo com a legislação brasileira (RDC Do almoxarifado para a sala de limpeza/
no 220/04 e NR no 32/05) e as recomenda- desinfecção
ções das diretrizes internacionais da Ame- Todo o transporte de embalagens de me-
rican Society of Health-System Pharmacists dicamentos antineoplásicos deve ser feito
(ASHP) e Occupational Safety and Health de forma a reduzir a contaminação ambien-
Administration (OSHA), é necessário desti- tal em caso de acidentes com queda e/ou
nar uma área específica ao armazenamento quebra acidental das embalagens. Uma boa
dos medicamentos antineoplásicos, com a prática é acondicionar essas embalagens
finalidade de restringir o acesso ao pessoal em recipientes hermeticamente fechados
autorizado. Tais medicamentos devem fi- e/ou lacrados, como caixas e/ou sacos plás-
car armazenados em área com sistema de ticos etiquetados com um identificador de
ventilação e exaustão geral suficiente para alerta, chamando a atenção sobre as carac-
diluir e remover qualquer contaminante terísticas tóxicas do conteúdo. Carrinhos de
transportado pelo ar. transporte devem ser desenhados com bar-
Além disso, recomenda-se que os medi- reiras de contenção para proteger contra a
camentos sejam protegidos contra quedas queda e ruptura.
acidentais, armazenando-os em recipien- Todo o pessoal envolvido com o trans-
tes/caixas com bordas altas sobre pratelei- porte de medicamentos antineoplásicos
ras também com barreiras de contenção. deve receber treinamento sobre a ca-
De acordo com o Institute for Safe Medi- racterística desses medicamentos, bem
cation Practices/Medication Error Repor- como dos procedimentos de segurança
ting Program (ISMP/MERP), deve-se arma- a serem adotados em caso de acidente.
zenar separadamente os medicamentos O transporte por meio de tubo pneumáti-
que apresentam nomes semelhantes com co não deve ser feito por causa do grande
grafia e/ou embalagens parecidas (look risco de quebra da embalagem do produ-
alike sound alike), para reduzir os riscos de to durante o trajeto.
troca de medicamentos no ato do arma- É obrigatório que nessa área haja um
zenamento e da separação. kit de derramamento identificado. Tal kit
Outras opções e critérios de armazena- deve estar disponível também nas demais
mento podem ser adotados, como o uso de áreas de recebimento, armazenamento, hi-
gavetas, armários eletrônicos, local de fácil gienização e qualquer outra onde houver
acesso que mantenha a segurança necessá- a presença desse tipo de medicamento,
ria, ordem alfabética, categoria terapêutica, incluindo o abrigo temporário de resíduos
etiquetas e/ou prateleiras coloridas, entre para ser utilizado em caso de acidente, de-
outros, desde que sejam resguardados os vendo conter, no mínimo, luvas e avental
cuidados necessários. impermeáveis, compressas absorventes,

23

16032 SOBRAFO_miolo.indd 23 15/04/14 17:44


proteções respiratória e ocular, touca des- de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico de
cartável, recipiente/saco plástico identifi- funcionamento para os serviços de terapia antineoplásica.
cado para recolhimento dos resíduos, sa- Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/
bão neutro e descrição do procedimento. connect/a5d8d680474597419facdf3fbc4c6735/
Periodicamente, o National Institute for RDC%C2%BA?2004.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em: 2
Occupational Safety and Health (NIOSH) fev. 2011.
publica uma lista de medicamentos anti- Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma
neoplásicos e outros medicamentos com Regulamentadora 32 – Segurança e saúde no trabalho
risco ocupacional, que pode ser utiliza- em serviços de saúde. Brasília: Portaria MTE 485, 2005.
da como ponto de partida para elaborar Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/8
procedimentos de segurança inerentes A7C812D36A280000138812EAFCE19E1/NR-32%20
aos processos de recebimento, armazena- (atualizada%202011).pdf. Acesso em: 17 abr. 2011.
mento e transporte. Como nem todo pro- National Institute of Occupational Safety & Health
fissional tem acesso fácil às informações e (NIOSH). NIOSH List of Antineoplastic and Other
a atualização da lista é um processo contí- Hazardous Drugs in Healthcare Settings 2010.
nuo, torna-se necessário que o profissional Publicação DHHS (NIOSH) no 2010-167. Disponível
tenha conhecimento técnico da toxicidade em: www.cdc.gov/niosh.
dos medicamentos manuseados, podendo OSHA. Technical manual, Section VI, Chapter 2, jan 20, 1999.
obtê-lo mediante consulta a bula, mono- The Institute for Safe Medication Practices Medication
grafia, literatura, fichas técnicas, informa- Error Reporting Program (ISMP/MERP). ISMP’ List of
ção do fabricante, entre outras fontes. Confused Drug Names, 2010. Disponível em: www.
ismp.org/merp. 
Bibliografia The Institute for Safe Medication Practices Medication Error
ASHP. Guidelines on handling hazardous drugs. Am J Health Reporting Program (ISMP/MERP) and Food and Drugs
Syst Pharm. 2006;63:1172-93. Administration (FDA). FDA and ISMP lists of look-alike
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância drug names with recommended tall man letters, 2011.
Sanitária. Resolução RDC no 220, de 21 de setembro Disponível em: www.ismp.org.

24

16032 SOBRAFO_miolo.indd 24 15/04/14 17:44


Paramentação

A lguns riscos ao qual estão expostos os


profissionais que manuseiam medi-
camentos antineoplásicos dependerão da
As luvas de nitrila, neoprene ou poliu-
retano substituem as de látex, porém não
há nenhuma menção na legislação brasi-
toxicidade intrínseca da substância, da via leira, devendo-se reservá-las a situações
e dose a que foi exposto, além da duração de desabastecimento do modelo de látex
dessa exposição. ou a profissionais que tenham alergia ao
Os medicamentos antineoplásicos são látex, cujo uso seja vetado pelo médico
substâncias que podem penetrar no orga- do trabalho.
nismo pela via respiratória, ser absorvidos Quando a paramentação for reutilizável,
pela pele, mucosa ocular (no caso de aciden- deve ser guardada separadamente, em am-
tes), através de perfuração acidental com biente fechado, até ser lavada.
agulhas ou por ingestão, na forma de gases, A utilização de óculos de proteção (com
aerossóis, gotículas ou pó. Em função disso, proteção lateral) é recomendada apenas
apresentam a propriedade de desenvolver para descontaminação de área após aciden-
toxicidade aguda ou crônica, caracterizando tes ou para higienização de frascos e am-
risco ocupacional químico. No Brasil, existem polas antes da manipulação, não havendo
regulamentações específicas para o traba- obrigatoriedade de seu uso durante o pro-
lhador que manuseia esse tipo de medica- cesso de manipulação na CSB, uma vez que
mento, a saber: NR-9, NR-15 e NR-32. o equipamento possui a janela de vidro que
Mesmo com a utilização da cabine de serve como proteção.
segurança biológica (CSB) classe II-B2, é Proteção respiratória (máscara descar-
obrigatório que a manipulação de medi- tável com referência PFF2/N95) deve ser
camentos antineoplásicos seja realizada utilizada nos procedimentos de limpeza,
com paramentação específica, composta desinfecção e manutenção da CSB e em em-
de avental ou macacão estéril (de material balagens primárias antes da manipulação.
impermeável, com mangas longas, gola
ajustável e punhos elásticos ajustáveis, de Bibliografia
baixa emissão de partículas, sem abertura American Medical Association. Guidelines for handling
frontal), dois pares de luvas estéreis (de lá- parenteral antineoplastic agents. JAMA. 1985;253:1590-92.
tex, isentas de talco), proteção respiratória ASHP. Guidelines on handling hazardous drugs. Am J Health
(máscara descartável com referência PFF2/ Syst Pharm. 2006;63:1172-93.
N95), propé descartável ou bota impermeá- Canadian Society of Hospital Pharmacists. Guidelines for the
vel com solado antiderrapante e gorro des- handling and disposal of hazardous pharmaceuticals.
cartável ou capuz impermeável. Ottawa, 1993.

25

16032 SOBRAFO_miolo.indd 25 15/04/14 17:44


Clinical Oncology Society of Australia. Guidelines for safe NR-9. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/
handling of antineoplastic agents. Med J Aust. 1983;1:426-8. FF8080812BE914E6012BEF1CA0393B27/nr_09_at.pdf.
Martins I, Henrique VDR. Considerações toxicológicas da NR-15. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files
exposição ocupacional aos fármacos antineoplásicos. /8A7C816A36A27C140136A8089B344C39/NR-15%20
Rev Bras Med Trab. 2004;2(2):118-25. (atualizada%202011)%20II.pdf.
Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual NR-32. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files
de procedimentos para os serviços de saúde. Série A: normas /8A7C812D36A280000138812EAFCE19E1/NR-32%20
e manuais técnicos. Ministério da Saúde. Representação no (atualizada%202011).pdf.
Brasil da OPAS/OMS. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. OSHA. Technical manual, section VI, chapter 2, jan 20, 1999.
NIOSH. Preventing occupational exposures to antineoplastic Society of Hospital Pharmacists in Australia. Standards of
and other hazardous drugs in health care settings. practice for the safe handling of cytotoxic drugs in
Publication n. 165, 2004. pharmacy. J Pharm Pract Res. 2005;35:44-52.

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 26 15/04/14 17:44


Dispositivos especiais para o preparo da
terapia antineoplásica em sistema fechado

D esde que se reconheceu que a exposição


ocupacional aos agentes antineoplási-
cos representa um risco potencial à saúde
manipulação de medicamentos de risco, a
fim de minimizar a formação de aerossóis, a
ocorrência de acidentes punctórios e o der-
dos trabalhadores, diferentes organizações ramamento de agentes antineoplásicos du-
(NIOSH, OSHA, WHO, ASHP) passaram a de- rante as etapas de manipulação, transporte
finir diretrizes para a manipulação segura, e administração oferecendo maior proteção
com o objetivo de prevenir a exposição ocu- aos profissionais.
pacional a esses agentes. O uso de cabine de Além da CSB mencionada anteriormente,
segurança biológica (CSB) classe II tipo B2, é altamente recomendável que o manipula-
considerada um equipamento de proteção dor utilize dispositivos que minimizem a for-
coletiva, e equipamentos de proteção indi- mação de aerossóis, ocorrência de acidentes
vidual são itens imprescindíveis. Entretanto, e exposição ocupacional durante a manipu-
vários estudos relatam que a implantação lação e administração dos medicamentos.
dessas medidas resulta em redução significa- Conforme consta na NR 32, é obrigatório que
tiva de exposição dos profissionais durante o empregador forneça tais dispositivos.
a manipulação de agentes antineoplásicos, Para que a manipulação ocorra em sistema
mas não elimina completamente a contami- fechado, estão disponíveis no mercado vários
nação das superfícies de trabalho. componentes para serem utilizados na mani-
Durante a manipulação, uma série de pulação e administração de medicamentos.
procedimentos é executado pelo manipu- Os dispositivos são conectados nas seringas,
lador, o que pode resultar na produção de frascos e equipos, promovendo barreira me-
aerossóis e respingos e, consequentemen- cânica e evitando vazamentos. Oferecem
te, exposição ocupacional, como retirada maior segurança aos profissionais durante a
de agulhas de frascos/ampolas, utilização exposição a medicamentos de risco.
de seringas, agulhas e equipos para trans- Os dispositivos de segurança eliminam
ferir o medicamento, abertura de ampolas e o uso de agulhas, que são substituídas por
expulsão de ar da seringa quando se afere o adaptadores conectados a seringas luer
volume exato do medicamento. lock, evitando acidentes punctórios.
Nos últimos anos, órgãos regulamenta- As etapas de reconstituição e fracionamen-
dores passaram a recomendar, além de equi- to dos medicamentos são realizadas por meio
pamentos de proteção individual e coletiva, de adaptadores que possuem perfuradores
o uso de dispositivos de segurança para a e hastes laterais para fixação aos frascos. As

27

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seringas são conectadas a esse dispositivo,
possibilitando retirar o medicamento sem o
uso de agulhas. O sistema permite o acesso a
várias doses, mas não poderá ser retirado do
frasco. O objetivo desse dispositivo é equalizar
a pressão dos frascos e eliminar a formação de
aerossóis por meio de um filtro de 0,22 micra.
Para reconstituir os medicamentos, exis-
tem dispositivos que são conectados no in-
jetor do equipo da solução que será utilizada
como diluente. Esse dispositivo apresenta
um conector onde será acoplada a seringa.
A adição dos medicamentos nas bolsas
de soro também ocorre em sistema fecha-
do. Utiliza-se um dispositivo que é conecta-
do no injetor do equipo e possui um lúmen
específico para adicionar os medicamentos
e outro para acoplar o equipo de infusão.
Para que a administração dos medica-
mentos também ocorra em sistema fecha-
do, deve-se acoplar ao acesso venoso um
dispositivo que fica conectado permanen-
temente. Para proceder à administração do
medicamento, a seringa ou equipo de infu-
são, que também contém um dispositivo,
será conectado a esse sistema.
Existem várias marcas e fabricantes dis-
poníveis no mercado internacional, dentre
os quais alguns já se encontram registrados
no Brasil.

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 28 15/04/14 17:44


I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Bibliografia
American Society of Health-System Pharmacists. ASHP Portaria MTE n. 485, de novembro de 2005 NR 32 – Segurança
guidelines on handling hazardous drugs. Am J Health- e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. DOU de
Systm Pharm. 2006;63:1172-93. 16/11/2005, Seção 1.
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Publication n. 2004-165. hospital pharmacies in the US folling implementation
Connor TH, Anderson RW, Sessink PJ, Spivey SM. Effectiveness of a closed-system drug transfer device. J Oncol Pharm
of a closed-system device in containing surface Practice. 2011;17(1):39-48.
contamination with cyclophosphamide and ifosfamide Siderov J, Kirsa S, McLauchlan R. Surface contamination os
in an I.V. admixture area. Am J Health-Syst Pharm. chemotherapy preparation áreas with antineoplasic
2002;59:68-72. agents in Australian hospital pharmacy departments. J
Connor TH, Anderson RW, Sessink PJM, Broadfield L, Power Pharm Pract Res. 2009;39:95-9.
LA. Surface contamination with antineoplasic agents in Siderov J, Kirsa S, McLauchlan R. Reducing workplace
six cancer treatment centres in Canada and the United cytotoxic surface contamination using a closed-
States. Am J Health-Syst Pharm. 1999;56:1427-32. system drug transfer device. J Oncol Pharm Practice.
Harrison BR, Peters BG, Bing MR. Comparison of surface 2010;16:19-25.
contamination with cyclophosphamide and fluorouracil Yoshida J, Kosaka H, Nishida S, Nakano H, Tei G, Kumagai S.
using a closed-system drug transfer device versus Actual conditions of the mixing of antineoplastic drugs
standard preparation techniques. Am J Health-Syst for injection in hospitals in Osaka Prefecture, Japan. J
Pharm. 2006;63:1736-44. Occup Health. 2008;50:86-91.
International Society of Oncology Pharmacy Practicioners Yoshida J, Tei G, Mochizuki C, Masu Y, Koda S, Kumagai S.
Standards Committee. ISOPP standards of practice. Safe Use of a closed system device to reduce occupational
handling of cytotoxics. J Oncol Pharm Pract. 2007;13:1-81 contamination and exposure to antineoplastic drugs
NIOSH Alert: preventing occupational exposure to antineoplasic in the hospital work environment. Ann Occup Hyg.
and other hazardous drugs in healthcare settings. 2004. US. 2009;53(2):153-60.
Department of Health and Human Services, Public Health
Service, The United States Pharmacopeial Convention. Sites consultados
USP<797> Guidebook to pharmaceutical compounding www.icumedical.com
sterile preparations. The United States Pharmacopeial www.tevadaptor.com
Convention, Rockville, MD, 2008. www.carmelpharma.com

29

16032 SOBRAFO_miolo.indd 29 15/04/14 17:44


Saúde ocupacional: medidas de proteção

Segundo a NR-7 [Programa de Controle Conforme consta na NR 32, gestantes e


Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)], é lactantes deverão ser afastadas de qualquer
obrigatório a todo trabalhador realizar exa- atividade em que possa haver risco de ex-
mes médicos admissional, periódico e de posição a medicamentos citotóxicos.
retorno ao trabalho. Os exames compreen-
dem a avaliação clínica, abrangendo anam- Condições para exposição
nese ocupacional e exames físico e mental, Os trabalhadores podem estar expostos a
assim como exames complementares medicamentos citotóxicos por meio da ge-
(hemograma completo, provas de funções ração de aerossóis, dispersão de pó ou con-
hepática e renal e análise de urina). taminação de superfícies durante o prepa-
No entanto, para trabalhadores expostos ro, administração ou descarte. Veja a seguir
a riscos ou a situações de trabalho que pos- as atividades de risco que podem resultar
sam agravar a doença ocupacional, como em exposição mediante inalação, contato
no caso de funcionários do setor de onco- com a pele, ingestão ou injeção.
logia, em especial os que ficam expostos a • Quebra e reconstituição de ampolas.
agentes químicos potencialmente perigo- • Punção, reconstituição e aspiração de
sos, os exames deverão ser repetidos a cada frascos-ampola (introdução e retirada da
ano ou em intervalos menores, de acordo agulha).
com a necessidade e a critério médico. • Transferência do medicamento de um
Para cada exame médico realizado, de- para outro envase.
verá ser emitido um atestado de saúde • Retirada do ar da seringa e ajuste da dose.
ocupacional (ASO) em duas vias, sendo a • Conexão e desconexão de equipos, se-
primeira arquivada no local de trabalho e ringas e tampas.
a segunda obrigatoriamente entregue ao • Recebimento dos medicamentos.
trabalhador. • Estocagem de medicamentos.
Em caso de acidentes ou doenças ocu- • Transporte para a área de produção.
pacionais, o funcionário deverá ser encami- • Higienização de ampolas e frascos-ampola.
nhado à Medicina do Trabalho ou ao médico • Transporte dentro da área de produção.
encarregado pelo serviço, que deverá solici- • Distribuição do produto acabado.
tar à empresa: • Durante o acondicionamento, transporte
_
a emissão da comunicação de acidentes e armazenamento dos resíduos.
do trabalho (CAT); • Manuseio de medicamentos orais e tópicos.
_
o afastamento do trabalhador da exposi- • Administração de antineoplásico injetável.
ção ao risco ou do trabalho. • Manuseio de fluidos corpóreos.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

• Descarte de materiais contaminados. • Notificar a Cipa, conforme NR-5.


• Manuseio de roupas, equipos e outros • Notificar e encaminhar ao Serviço de Me-
materiais contaminados. dicina Ocupacional, conforme NR-4.
• Durante a limpeza e desinfecção das áreas
contaminadas. Contaminação ambiental
É a contaminação do ambiente em razão da
Contaminação pessoal saída do medicamento do envase no qual
É a contaminação gerada por contato ou está acondicionado, seja por derramamen-
inalação dos medicamentos da terapia to, seja por aerodispersão de sólidos ou
antineoplásica em qualquer uma das eta- líquidos.
pas do processo.
Derramamento na cabine de segurança
Como proceder se houver derramamento nas biológica
roupas • Interromper imediatamente as atividades.
• Retirar as peças de roupas, de forma • Avaliar a contaminação pessoal. Trocar
a não tocar nas partes contaminadas, luvas e avental, caso seja necessário.
acondicioná-las em saco plástico e des- • Separar os frascos de medicamentos e
cartar como lixo tóxico e perigoso. correlatos não contaminados.
• Lavar a área afetada com água e sabão • Desprezar na lixeira todo o material des-
em abundância. cartável contaminado com respingos e
• Lavar as mãos com água e sabão em derramamentos.
abundância. • Remover com compressa seca respingos,
• Notificar a Comissão Interna de Preven- gotículas e derramamentos dos frascos-
ção de Acidentes (Cipa), conforme NR-5. -ampola ou ampolas. Desprezar a com-
• Notificar e encaminhar o profissional ao pressa em lixeira apropriada.
Serviço de Medicina Ocupacional, con- • Passar uma compressa umedecida com
forme NR-4. água estéril e sabão neutro nas ampolas
e frascos-ampola. Desprezar a compressa
Como proceder se houver derramamento na pele em lixeira apropriada.
• Interromper imediatamente as ativi- • Lavar as paredes laterais internas, o vi-
dades. dro frontal interno e a bancada de tra-
• Retirar cuidadosamente a roupa conta- balho com compressa umedecida com
minada (se houver). água estéril e sabão neutro, com movi-
• Lavar o local com água e sabão em mento de cima para baixo e de dentro
abundância. para fora.
• Irrigar com solução de cloreto de sódio a • Retirar todo o lixo gerado da limpeza e
0,9% sem atrito. descartá-lo em local apropriado, confor-

31

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me recomendação da legislação vigente para inativar a mostarda nitrogenada),
(descarte de resíduos). pois isso pode produzir produtos voláteis
• Em caso de contaminação direta da su- perigosos.
perfície do filtro HEPA, a cabine deverá • Descartar o primeiro par de luvas no saco
ser isolada até a substituição do filtro. plástico.
• Cuidadosamente, fechar o saco plástico
Derramamento no ambiente contendo os resíduos.
• Interromper imediatamente as atividades. • Colocar o saco com os resíduos dentro
• Avaliar a contaminação pessoal. de outro saco plástico.
• Abrir o kit derramamento e paramentar- • Retirar os EPIs usados durante o proce-
-se adequadamente com proteção res- dimento e descartá-los em saco plástico
piratória, avental de baixa permeabili- externo.
dade, compressas absorventes, óculos
de segurança, dois pares de luvas de Kit de derramamento
procedimento. Deve ser identificado e estar disponível em
• Recolher os fragmentos de vidro com todas as áreas onde se realizam atividades
uma pá e uma vassourinha descartáveis. de manipulação, armazenamento, adminis-
Descartar tudo no saco plástico, inclusive tração e transporte desses medicamentos.
a pá e a vassourinha. Segundo a RDC no 220/2004, deve conter,
• Colocar delicadamente sobre a área con- no mínimo, os seguintes itens:
taminada uma pequena quantidade de • luvas de procedimentos (dois pares);
água e sabão neutro, limitando a área. • avental de baixa permeabilidade;
• Com outra compressa, passar sobre a • touca descartável;
área a mistura de água e sabão, reali- • compressas absorventes;
zando movimentos da periferia para • proteção respiratória (PFF2 ou N95);
o centro. Desprezar a compressa em • óculos de segurança;
saco plástico apropriado a esse tipo de • sabão neutro;
descarte. • descrição do procedimento;
• Derramar cuidadosamente pequeno vo- • formulário para o registro do acidente;
lume de água sobre a área e com outra • recipiente identificado para recolher
compressa remover o excesso de sabão resíduos.
com movimentos da periferia para o cen-
tro. Desprezar a compressa em saco plás- Ao trabalhador que desenvolva ativi-
tico. Se necessário, repetir a operação. dades com antineoplásicos, o emprega-
• Não utilizar métodos de inativação quí- dor deve:
mica dos antineoplásicos (com exceção • proibir fumar, comer ou beber, bem
do tiossulfato de sódio que é utilizado como portar adornos ou maquiar-se;

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

• afastar das atividades de manipulação as 32. Dispõe sobre a Segurança e Saúde no Trabalho em
trabalhadoras gestantes e nutrizes; Estabelecimentos de Assistência à Saúde.
• disponibilizar aos trabalhadores equipa- Connor TH, McDiarmid MA. Preventing occupational
mentos de segurança, proteções indivi- exposures to antineoplasic drugs in health care settings.
dual e coletiva, para o preparo e adminis- CA Cancer J Clin. 2006;56;354-65.
tração de antineoplásicos; IARC. IARC monographs on the evaluation of the carcinogenic
• fornecer aos trabalhadores dispositivos risk of chemicals to humans. Lyons, France: World Health
de segurança que minimizem a geração Organization, International Agency for Research on
de aerossóis e a ocorrência de acidentes Cancer. Disponível em: www.iarc.fr. Acesso em: abr. 2010.
durante a manipulação e administração, Laidlaw J, Connor TH, Theiss JC, Anderson RW, Matney
assim como previnam acidentes durante TS. Permeability of latex and polyvinil chloride
o transporte. gloves to 20 antineoplasic drugs. Am J Hosp Pharm.
1984;41(12):2618-23.
Bibliografia NIOSH. National Institute for Occupational Safety and Health.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância NIOSH alert: preventing occupational exposures to
Sanitária (Anvisa). Resolução RDC no 220, de 21 de antineoplastic and other hazardous drugs in health care
setembro de 2004. Dispõe sobre o funcionamento dos settings. DHHS Publication N. 2004-165. Washington, D.C.:
Serviços de Terapia Antineoplásica. US Department of Health and Human Services, Public
Brasil. Ministério do Trabalho. Portaria no 3.214, de 8 de Health Service, Centers for Disease Control and Prevention.
junho de 1978. Norma Reguladora NR-7. Dispõe sobre Occupacional Safety and Health Administration (OSHA).
o Programa de Controle Médico da Saúde Ocupacional. Controlling occupational exposure to hazardous drugs.
Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n 37,
o
Technical manual. Washington, DC: U.S. Department of
de 6 de dezembro de 2008. Norma Reguladora NR- Labor, 1999. Section VI, Chapter 2.

33

16032 SOBRAFO_miolo.indd 33 15/04/14 17:44


Procedimentos de limpeza e desinfecção da
área e dos equipamentos

Saneantes
produto utilizado na limpeza das superfícies
Detergente neutro líquido.

Principais produtos utilizados na desinfecção

Álcool etílico Concentração: 60% a 90% em solução


Álcool isopropílico de água volume/volume.
Ácido peracético a 0,5%
Monopersulfato de potássio a 1%
Hipoclorito de sódio a 0,02% a 1%

Recomendação para controle, limpeza e desinfecção da cabine de


segurança biológica
Deve-se realizar mensalmente o con- Normalmente, costuma-se limpar a CSB
trole microbiano do interior e exterior com detergente neutro, que deve ser remo-
da cabine de segurança biológica (CSB), vido com água submetida a controle micro-
com meios de cultura para fungos e bac- biológico e químico ou água estéril, e pro-
térias, conforme o grau de carga micro- ceder à desinfecção com um dos produtos
biana existente. mencionados no início do capítulo.
Deve-se avaliar a carga microbiana exis- Deve-se limpar as paredes sempre no
tente na CSB em condição de stand by e em sentido de cima para baixo em um proces-
operação durante as atividades de trabalho, so de varredura, com o uso de material de
o grau e o tipo de contaminantes existentes baixa liberação de partículas e estéril, des-
no ambiente. cartando-o em lixo químico. É fundamental
A seleção dos produtos saneantes para deixar o equipamento funcionando por 30
a limpeza e desinfecção das áreas envolvi- minutos, antes de iniciar as atividades de
das na manipulação dos antineoplásicos manipulação dos medicamentos. Quan-
deve contar com o apoio do serviço de do houver acidente no interior da CSB ou
controle de infecção hospitalar e seguir a quando for desligada, ao ligá-la, novamente
legislação vigente. se deve realizar esse procedimento.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Desinfecção das embalagens primárias Deve-se seguir as orientações da legisla-


Deve-se retirar o cartucho utilizando para- ção vigente, determinando um cronograma
mentação com touca, protetor respiratório, de frequência para que as mesmas sejam
avental impermeável conforme preconiza- executadas.
do na RDC no 220, luvas descartáveis ou de
procedimento. Bibliografia
É essencial submeter os frascos e ampo- ASHP. Guidelines on handling hazardous drugs. Am J Health
las de medicamentos ao processo de fricção Syst Pharm. 2006;63:1172-93.
com o produto desinfetante selecionado, Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do
acondicionando-os em uma embalagem paciente em serviços de saúde: limpeza e desinfecção
limpa. de superfícies/Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Após retirar o lacre plástico, deve-se apli- Brasília: Anvisa, 2010.
car o produto para desinfecção na tampa de Canadian Society of Hospital Pharmacists. Guidelines for the
borracha, friccionando-o em movimentos handling and disposal of hazardous pharmaceuticals.
unidirecionais. Observação: o produto para Ottawa, 1993.
desinfecção deve ser estéril. Clinical Oncology Society of Australia. Guidelines for
safe handling of antineoplastic agents. Med J Aust.
Limpeza e desinfecção de superfícies 1983;1:426-8.
(bancadas, pisos, paredes e teto) Deutshe Gesellschaft Fur Onkologische Pharmazie. Quality
A limpeza consiste na remoção das sujida- standard for the oncology pharmacy practice service
des depositadas nas superfícies inanimadas, (QuapoS) 2003.
utilizando-se meios mecânicos (fricção), físi- NIH. Recommendations for the safe use of handling of
cos (temperatura) ou químicos (saneantes) cytotoxic drugs.
em um determinado período de tempo. Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme (PIC/S).
A desinfecção é o processo físico ou quí- Guide to good practices for preparation of medicinal
mico que destrói todos os microrganismos products in pharmacies. PE 010-1 (draft2) 2006. Disponível
patogênicos de objetos inanimados e su- em: www.picscheme.org
perfícies, com exceção de esporos bacteria- OSHA. Technical manual, section VI, chapter 2, jan 20, 1999.
nos. Tem a finalidade de destruir microrga- Society of Hospital Pharmacists in Australia. Standards of
nismos das superfícies de serviços de saúde, practice for the safe handling of cytotoxic drugs in
utilizando-se solução desinfetante. pharmacy. J Pharm Pract Res. 2005;35:44-52.

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 35 15/04/14 17:44


Validação da técnica asséptica

A manipulação de medicamentos antine-


oplásicos apresenta como característi-
ca fundamental, comum a qualquer proces-
Com base numa análise de riscos relacio-
nados à manipulação de medicamentos para
uso parenteral, pode-se citar, como exemplo,
so verdadeiramente magistral, a obtenção os seguintes pontos críticos do processo: sis-
de preparações extemporâneas, que, por tema informatizado para o cálculo das doses
serem de uso individualizado/personaliza- dos princípios ativos, limpeza-desinfecção
do, inviabilizam a realização de ensaios de de materiais, lavagem das mãos e técnica as-
controle de qualidade destrutivos. A esteri- séptica, incluindo, em alguns casos, o trans-
lidade nos medicamentos de uso parente- porte dos medicamentos manipulados.
ral deve ser garantida pelo farmacêutico, o A calibração de instrumentos de medição,
que pode ser obtido pela farmácia com a como os medidores de diferencial de pressão
implantação de um Sistema da Garantia da instalados nas áreas limpas e a qualificação
Qualidade que incorpore as Boas Práticas de ambientes e equipamentos (por exemplo,
de Manipulação de Medicamentos Estéreis. CBS classe II tipo B2), deve fazer parte das eta-
A validação, entendida como ato docu- pas de validação de processo (técnica assépti-
mentado que atesta que um processo es- ca). A farmácia deve estabelecer um programa
pecífico conduz aos resultados esperados que contemple calibração de instrumentos,
de forma consistente, ao atender às espe- qualificação de equipamentos, utilidades e
cificações estabelecidas para um determi- ambientes e etapas críticas de um determina-
nado produto e sendo parte essencial das do processo a serem validadas.
Boas Práticas de Manipulação, torna-se im- A validação da técnica asséptica, tam-
prescindível e o único meio de assegurar bém chamada de media fill, é o desafio
que o processo tecnológico seja controla- empregado para avaliar o processamento
do e, por exemplo, que a dose correta do asséptico de manipulação de medicamen-
princípio ativo seja administrada ao pa- tos estéreis usando meio de cultura estéril
ciente e a esterilidade dos medicamentos no lugar do produto. Resultados satisfató-
de uso parenteral seja garantida ao fim da rios demonstram a adequação da técnica
manipulação asséptica. asséptica dos manipuladores. Fatores como
Para isso, as etapas do processo considera- construção das áreas limpas, monitoramen-
das críticas devem ser validadas e as demais to ambiental e treinamento de pessoas são
devem estar sob controle para que os pro- extremamente importantes.
dutos sejam consistentemente produzidos e A validação da técnica asséptica é mani-
atendam a todas as especificações definidas e puladora dependente, ou seja, pelas carac-
aos requisitos de qualidade. terísticas fundamentalmente manuais da

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

manipulação de medicamentos antineo- toda a superfície do recipiente de enchimento


plásicos, cada manipulador deve realizar o e também deve ser suficiente para permitir a
media fill de forma satisfatória, antes de ini- detecção de crescimento microbiano.
ciar seu trabalho na rotina da manipulação. O meio de cultura deve possuir habilida-
O media fill deve ser realizado, no mínimo, des para permitir o crescimento de amplo
em três dias consecutivos, com resultados número de microrganismos, como Bacillus
satisfatórios nos três dias. subtilis, Staphylococcus aureus, Candida al-
Os pontos a serem considerados no de- bicans, Aspergillus niger e Clostridium spo-
senvolvimento do programa de validação rogenes, e possuir baixa seletividade. Por
da técnica asséptica compreendem proce- exemplo, o meio líquido de caseína soja.
dimentos do envase do meio, seleção do Após o processamento asséptico do
meio, volume de envase, tempo e tempe- meio de cultura, este deve ser incubado a
ratura de incubação, inspeção de unidades 22,5°C ± 2,5oC ou 32,5°C ± 2,5Co, por, no mí-
envasadas, interpretação de resultados e nimo, 14 dias. Se duas temperaturas forem
possíveis ações corretivas. usadas para a incubação das amostras de
Uma vez que o media fill é realizado para meio de cultura, estas deverão ser incuba-
simular a técnica asséptica, deve-se repre- das, no mínimo, sete dias em cada uma de-
sentar a situação de “pior caso” e incluir las, iniciando com a faixa de 22,5°C ± 2,5oC.
todas as manipulações e intervenções de Após a incubação, as amostras devem ser
forma a representar a realidade durante um inspecionadas para crescimento. Os mi-
turno de trabalho. Deve-se incluir o número crorganismos presentes nos recipientes do
máximo de pessoas na sala de manipulação, teste de simulação devem ser identificados
a realização de todas as etapas e materiais até o gênero e, preferencialmente, espécie,
usados no processo de produção normal, para ajudar a determinar as possíveis fontes
como seringas de diferentes volumes, agu- de contaminação.
lhas de diferentes calibres, realizar o núme- Durante a inspeção, os recipientes de-
ro máximo previsto de transferências para vem ser comparados com um recipiente
as bolsas a serem envasadas com o meio sabidamente estéril, já que alguns cresci-
de cultura estéril e executar a simulação da mentos microbianos aparecem como uma
manipulação no maior tempo previsto para névoa pálida que dificulta a detecção. A
uma sessão de manipulação, quando pos- equipe deve ser treinada para essa tarefa.
sível. Deve haver intervenções pré-docu- Após o período de incubação dos reci-
mentadas conhecidas, como troca de luvas, pientes cheios com meio de cultura, estes
aberturas de frascos, quebra de ampolas, devem ser visualmente examinados quan-
esperas sem saída da CSB classe II tipo B2 etc. to ao crescimento microbiano. Recipien-
O volume de meio de cultura utilizado tes contaminados devem ser examinados
deve ser suficiente para permitir o contato de quanto à evidência de defeitos, os quais

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poderiam comprometer a integridade do O protocolo deve ser aprovado antes do
sistema de embalagem. Recipientes danifi- início da validação propriamente dita. Qual-
cados não devem ser incluídos como falhas quer mudança no protocolo deve ser apro-
(resultados positivos) durante a avaliação vada antes de ser adotada.
dos resultados. Os Relatórios de Validação devem refle-
Se um teste de simulação de processo fa- tir os protocolos seguidos e contemplar,
lhar, deve-se considerar os produtos envasa- no mínimo, o título e o objetivo do estudo,
dos entre o último teste satisfatório e o teste bem como fazer referência ao protocolo,
que falhou. O registro de qualquer desvio detalhar áreas, materiais, equipamentos e,
durante o teste de simulação é importante ainda, descrever os procedimentos e méto-
para permitir futura rastreabilidade da causa dos que foram utilizados.
e avaliação das consequências. A investiga- Os resultados devem ser avaliados, ana-
ção deve identificar os dias que poderiam ter lisados e comparados com os critérios de
sido afetados durante esse período e a dis- aceitação previamente estabelecidos e es-
posição destes deve ser reavaliada. tar presentes no protocolo de validação.
A revalidação da técnica asséptica de Os resultados devem atender aos critérios
cada manipulador deve ocorrer semestral- de aceitação. Desvios e resultados fora dos
mente e um dia de media fill com resultado limites devem ser investigados pela farmá-
satisfatório é suficiente. No caso de resulta- cia. Caso a farmácia aceite os resultados ou
do sabidamente insatisfatório, o manipula- os desvios, deverá justificar-se.
dor em questão deve ser afastado da rotina
de manipulação e sua técnica asséptica ser Bibliografia
desafiada por três dias consecutivos, deven- Anvisa. Farmacopeia brasileira. 5. ed. Vol. 1, 2010. 7.
do todos apresentar resultados satisfatórios. Preparação de produtos estéreis.
Deve existir protocolos de qualificação e Farmacopeia Americana – USP 33, 2010.  Capítulo 797.
validação que descrevam os estudos a se- Manipulação farmacêutica de preparações estéreis
rem conduzidos. Em termos gerais, os pro- (pharmaceutical compounding—sterile preparations).
tocolos devem contemplar informações bá- Capítulo 795. manipulação farmacêutica de produtos
sicas, como objetivo do estudo, local onde não estéreis (pharmaceutical compounding nonsterile
será conduzido, pessoas responsáveis, re- preparations).
lação dos poluentes orgânicos persistentes Resolução RDC no 220, de 21 de setembro de 2004. Aprova o
(POPs) a serem seguidos, equipamentos a regulamento técnico de funcionamento dos serviços de
serem usados, critérios e padrões para pro- terapia antineoplásica.
dutos e processos, o tipo de validação, pro- Resolução da Diretoria Colegiada (RDC no 67), de 8 de outubro
cessos e/ou parâmetros, critérios de acei- de 2007. Dispõe sobre boas práticas de manipulação de
tação, amostragem e testes em amostras, preparações magistrais e oficinais para uso humano em
bem como requisitos de monitoramento. farmácias.

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 38 15/04/14 17:44


Técnica de preparo dos medicamentos
não estéreis

A inovação do tratamento do câncer nos


últimos anos com novas opções tera-
pêuticas para administração via oral trouxe
sa forma, a utilização de uma CSB que possua
como foco proteger apenas o trabalhador e o
meio ambiente seria considerada totalmente
maior comodidade aos pacientes, e quando adequada do ponto de visto técnico.
comparada à via intravenosa, apresenta al- Nesse sentido, a RDC Anvisa 21/2009,
gumas vantagens em especial, permitindo que atualizou a RDC Anvisa 67/2007 no que
que o tratamento seja realizado fora do am- se refere à manipulação de antibióticos, hor-
biente hospitalar. Contudo, essa alternativa mônios e citostáticos, em seu item 2.7.3.1,
terapêutica traz à tona o risco de contami- apresenta os requisitos para manipular esse
nação ambiental e exposição involuntária a tipo de medicamento:
agentes antineoplásicos, tanto dos profis-
sionais quanto dos pacientes e familiares. Salas dedicadas com cabine sem re-
Como a maioria desses medicamentos não circulação, com exaustão de 100% em
possui formulações líquidas como opção área externa à sala, sendo que esta deve
para casos de dificuldade de deglutição das possuir filtração que elimine partículas
cápsulas e comprimidos ou necessidade de e gases provenientes da manipulação,
administração via sonda, torna-se impres- considerando pressão negativa no in-
cindível adequar as recomendações para terior da cabine. A sala onde está insta-
atender a essa via de administração, visto lada a cabine deve ter pressão negativa
que assim como acontece na manipulação em relação à área adjacente a ela.
de quimioterapia parenteral, há exposição.
Como regra geral, a abertura de cápsulas, Assim, pode-se concluir que o uso de
fracionamento ou maceração de comprimi- uma CSB classe I, que possui como carac-
dos e a dissolução de pós não devem ocor- terística oferecer proteção ao trabalhador e
rer fora da farmácia. ao meio ambiente, mas que não protege o
produto/processo, seria adequado para ma-
Local de preparo nipular medicamentos antineoplásicos não
Evidentemente, a manipulação de medica- estéreis. Não significa que a cabine de segu-
mentos não estéreis não apresenta como exi- rança biológica classe II tipo B2 não possa
gência técnica que esta seja realizada em um ser utilizada, porém, quando utilizada para
ambiente asséptico, ou seja, não há necessi- esse fim, deve ser de uso exclusivo aos me-
dade de proteção ao produto/processo. Des- dicamentos sólidos de uso oral ou tópico.

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 39 15/04/14 17:44


A sala deve manter pressão negativa zar as doses podem contaminar o ambiente
para minimizar o risco de espalhar os pós de trabalho em razão do atrito dos compri-
dos produtos na farmácia, e do mesmo midos e da abertura das cápsulas. Deve-se
modo que a sala de manipulação dos medi- preferir mantê-los nas embalagens originais
camentos estéreis, deve ser dotada de ante- ou manuseá-los dentro da CSB, conforme as
câmara com acesso restrito a colaboradores recomendações mencionadas.
treinados.
Equipamento de proteção individual As instituições devem aceitar e incorpo-
(EPI): dois pares de luvas descartáveis e de rar as diretrizes na prática e confiar no
punho longo (realizar a troca pelo menos a julgamento profissional para suprir as
cada 30 minutos ou imediatamente após lacunas e atender às situações específi-
contaminação, derrame ou perfuração, pois cas para um manuseio seguro. A baixa
o aumento da permeabilidade da luva é demanda da manipulação desse tipo de
proporcional ao tempo de uso), avental im- medicamento pode justificar a terceiriza-
permeável de manga longa sem abertura ção de serviço conforme previsto na RDC
frontal, óculos de segurança (para cabines no 220 da Anvisa.
de segurança biológica classe II tipo B2, não
são necessários), touca e propé. Bibliografia
Utensílios: todos os utensílios devem American Society of Health-System Pharmacists. ASHP
ser destinados exclusivamente a essa fina- guidelines on handling hazardous drugs. Am J Health-
lidade, estar identificados e ser limpos com Syst Pharm. 2006 Jun;63:1172-93.
detergente alcalino logo após o uso. Sem- Association Paritaire pour la Santé et la Sécurité du Travail
pre que possível, deve-se utilizar materiais du Secteur Affaires Sociales. Prevention guide safe
descartáveis e eliminá-los em recipientes handling of hazardous drugs. Montreal, Quebec, 2008.
específicos. 154p. Disponível em: www.asstsas.qc.ca. Acesso em: 1
Segurança: a dispensação de prepara- ago. 2011.
ções líquidas orais deve ser realizada em BC Cancer Agency. Pharmacy practice standards
seringa oral (ex.: OralpakTM) pronta para ad- for hazardous drugs. Module 1: safe handling
ministração. Deve-se evitar as seringas luer of hazardous drugs. May 21, 2009. Vancouver,
lock com o intuito de prevenir a adminis- BC, 2009. Disponível em: http://www.bccancer.
tração parenteral acidental. Com a mesma bc.ca/NR/rdonlyres/D0AB44C4-4505-49BA-9F88-
finalidade, deve-se identificar, com a via de 67F65015C3BE/35053/3Module1.pdf. Acesso em: 1
administração, as preparações via sonda. ago. 2011.
As recomendações de uso de EPI também Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
se aplicam ao processo de fracionamento, Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n. 306, de
uma vez que as máquinas de unitarização 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento
automatizadas utilizadas para individuali- técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de

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16032 SOBRAFO_miolo.indd 40 15/04/14 17:44


I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 237, de 10 de cytotoxics: recommendations for Ontario. J Oncol Pract.
dezembro de 2004. Seção 1, p. 49. 2009 Sep.;5(5):245-9.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Griffin E. Safety considerations and safe handling of oral
Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n. 67, de chemotherapy agents. Clin J Oncol Nurs. 2003 nov-
8 de outubro de 2007. Dispõe sobre boas práticas de dez;7(6):25-9.
manipulação de preparações magistrais e oficinais Martins I, Rosa HVD. Considerações toxicológicas da
para uso humano em farmácias. Diário Oficial da União, exposição ocupacional aos fármacos antineoplásicos.
Brasília, DF, n. 195, 9 de outubro de 2007. Seção 1, p. 29. Rev Bras Med Trab. 2004 abr-jun;2(2):118-25.
Canadian Association of Pharmacy in Oncology. Standards National Comprehensive Cancer Network. NCCN Task Force
of practice for oncology pharmacy in Canada. version 2. Report: oral chemotherapy. J Natl Compr Canc Netw.
november 2009. Disponível em: http://www.capho.org. 2008 mar 6.
Acesso em: 1 ago. 2011. Polovich M, McDiarmid MA, Power LA, Dorr RT. Safe handling
Centers for Diseases Control and Prevention. The National of cytotoxic agents. In: Annual Congress of the Oncology
Institute for Occupational Safety and Health. Preventing Nursing Society, 27., 2002. Washington, DC. Disponível
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de Farmacêuticos Magistrais, 2006. Disponível em: 2007;13:43.
http://sinamm.no-ip.info/webdesk/Apostilas/Mod_V_ The Society of Hospital Pharmacists of Australia. SHPA
Manipulacao%20Farmacos%20Potentes%20Perigosos_ standards of practice for the safe handling of cytotoxic
apostila.pdf. Acesso em: 1 ago. 2011. drugs in pharmacy departments. J Pharm Pract Res. 2005
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16032 SOBRAFO_miolo.indd 41 15/04/14 17:44


Manutenção preventiva, corretiva e
certificação da cabine de segurança biológica

A s normas brasileiras (RDC nos 220 e 67) e


internacionais (NSF 49, IEST-006.3, NBR
ISO 14.644-3) recomendam e exigem a cer-
A empresa certificadora deverá apre-
sentar, antes da contratação dos serviços,
o seu próprio documento operacional,
tificação de áreas limpas e controladas e das descrevendo todos os procedimentos apli-
cabines de segurança biológica. Essa certifi- cáveis e demonstrando conhecimento e
cação tem o objetivo de controlar a perfor- capacidade técnica.
mance e segurança da operação e corrigir Os procedimentos operacionais padrão
qualquer desvio. de equipamentos de teste e os registros de
Os técnicos em certificação deverão dados correspondentes devem abranger, en-
ser profissionais devidamente formados e tre outros, operação, manutenção rotineira,
registrados no Conselho Regional de En- manutenção não rotineira e calibração.
genharia e Agronomia de seus respecti-  Cada equipamento usado para gerar
vos estados, que é a entidade profissional dados deve possuir um registro escrito de
competente. calibração, manutenção, utilização e outros
Os instrumentos de testes deverão ser dados relevantes.
calibrados de acordo com as determinações Para haver garantia de qualidade dos
dos fabricantes, normalmente anual, e pos- serviços prestados, a empresa certificadora
suir suas devidas rastreabilidades. Para isso, deverá comprovar que possui uma plano
deverão ser apresentadas, antes da contra- detalhado de análise e gestão para as não
tação dos serviços, cópias autenticadas des- conformidades encontradas durante a exe-
ses documentos. cução dos trabalhos.
Certificados de calibração devem referir- Ensaios realizados na Certificação de
-se a padrões de medida nacionais ou in- Áreas Limpas e Controladas
ternacionais. Se uma unidade operacional De acordo com a norma brasileira NBR ISO
mantém tais padrões, estes devem ser ca- 14.644-3 e a norma internacional IEST-006.3,
librados por órgãos competentes em inter- os ensaios a serem realizados para certifica-
valos periódicos. ção de áreas limpas e controladas são:

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Certificação standard
Teste Instrumento
Medição da contagem de partículas em suspensão para classificação Contador de partículas com vazão de, no mínimo, 1.0 CFM
do ambiente
Medição e ajuste da velocidade do fluxo de ar Termoanemômetro de fio quente
Medição e ajuste da vazão do fluxo de ar Balômetro
Medição do diferencial de pressão entre salas Micromanômetro
Medição do índice de saturação dos pré-filtros e filtros absolutos (HEPA) Manômetro
Medição da umidade relativa do ar e da temperatura ambiente Termo-higrômetro

Certificação premium
Todos os testes realizados na certificação standard e, adicionalmente, os testes a seguir.
Teste Instrumento
Integridade dos filtros HEPA Fotômetro e gerador de PAO
Recuperação do ambiente Contador de partículas com vazão mínima de 1.0 CFM e um gerador
de fumaça
Fumaça Ampola de fumaça ou gerador de fumaça
Luminosidade Luxímetro
Ruído Decibelímetro

Ensaios realizados na Certificação de Cabines de Segurança Biológica


De acordo com a norma internacional NSF-49, os ensaios realizados para certificação das
CSBs são:

Certificação standard
Teste Instrumento
Contagem de partículas em suspensão Contador de partículas com vazão de, no mínimo, 1.0 CFM
Medição e ajuste da velocidade do fluxo de ar downflow: verifica a Termoanemômetro de fio quente
velocidade de insuflamento de ar após o filtro HEPA para a área de
trabalho. O valor da velocidade média de referência é definido pelo
fabricante da CSB. A norma NSF 49 determina apenas a variação e o
desvio-padrão aceitáveis
Medição e ajuste da vazão do fluxo de ar downflow Termoanemômetro de fio quente
Cálculo e ajuste da velocidade do fluxo de ar inflow: verifica a
velocidade de entrada de ar pela abertura frontal. Para as CSBs classe
II tipo B2, a velocidade inflow deve ser de, no mínimo, 0,50 m/s.
Índice de saturação dos filtros HEPA Manômetro
Tensão e amperagem do motor elétrico Alicate amperímetro
Umidades relativa do ar e da temperatura ambiente Termo-higrômetro

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Certificação premium
Todos os testes da certificação standard e, adicionalmente, os testes a seguir.

Teste Instrumento
Integridade dos filtros HEPA Fotômetro e gerador de PAO
Verifica a integridade do equipamento e do filtro HEPA. É o único teste
que realmente desafia o equipamento e garante sua estanqueidade.
Fumaça Ampola de fumaça
Verifica o “caminho” do ar dentro da área de trabalho e da área externa
ao equipamento. Esse ensaio é utilizado para visualizar que todo o ar
insuflado para a área de trabalho é recirculado/exaurido sem nenhuma
fuga para o ambiente e também para garantir que o ar externo não
entre na área de trabalho, mostrando que todo o ar admitido na cabine
passa por baixo da mesa de trabalho e é recirculado/exaurido.
Ruído Decibelímetro
Vazamento do equipamento Ar comprimido e manômetro

A RDC 220 determina que “a CSB deve ser Referências


certificada semestralmente e sempre que RDC 220, de 21 de setembro de 2004, que dispõe sobre
houver movimentação e reparos, por pes- boas práticas de manipulação de preparações
soal treinado, e o processo registrado”. antineoplásicas.
De acordo com a NSF-49, todo equipa- RDC 67, de 8 de outubro de 2007, que dispõe sobre
mento de segurança biológica deve ser boas práticas de manipulações de preparações
certificado pelo menos uma vez ao ano ou magistrais e oficinais para uso humano em
quando o filtro HEPA for substituído e sem- farmácias.
pre que for movimentado. Porém, o fator NSF/ANSI 49. Biosafety Cabinetry certification.
determinante para definir a periodicidade da NBR ISO 14644–3 – Salas Limpas e Ambientes Controlados.
certificação é a criticidade e o grau de risco Associados – Parte3: Métodos de Ensaio – Setembro
do trabalho realizado. A certificação pode ser de 2009.
mensal, bimestral, trimestral, quadrimestral, I EST-006.3 – Certificação de áreas limpas.
semestral ou anual, de acordo com a periodi-
cidade estabelecida pela empresa.

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Legislação

D esde que se identificou que a exposi-


ção ocupacional a agentes antineoplá-
sicos possuía um risco potencial à saúde
ser manuseados conforme um programa
de segurança previamente estabelecido e,
posteriormente, foram adotados pela OSHA
dos trabalhadores expostos, vários grupos, quando da revisão de seu guia, publicado
instituições e agências ao redor do mundo em 1999.
desenvolveram e publicaram guias e reco- O Instituto Nacional para a Segurança e
mendações para o manuseio seguro desses Saúde Ocupacional (NIOSH), em 2004, emitiu
agentes, enfatizando o uso de equipamen- o alerta “preventing occupational exposu-
tos de segurança. Em 1970, um decreto do res to antineoplastic and other hazardous
Occupational Safety and Health (EUA) con- drugs in health care settings”, em que se
cedeu autoridade administrativa à Occu- encontram recomendações para o manu-
pational Safety and Health Administration seio seguro de agentes antineoplásicos.
(OSHA) para definir normas que garantis- Para esse alerta, os integrantes do Grupo
sem a segurança ambiental e ocupacional. de Trabalho do NIOSH Working Group on
A primeira normatização completa sobre o Hazardous Drugs ampliaram a definição,
assunto, Technical manual: controlling oc- de 1990 da ASHP, para fármacos perigosos.
cupational exposure to hazardous drugs, No apêndice A do alerta, encontra-se uma
foi publicada em 1986, sendo a cabine de relação de substâncias compilada em lis-
segurança biológica (CSB) o mais importan- tas provenientes de quatro instituições e
te elemento de proteção. Essas recomenda- no Pharmaceutical Research and Manufac-
ções foram revisadas e publicadas em 1999, turers of America (PhRMA), elaborada com
ocasião em que foram incluídos outros fár- base em monografias do American Hospital
macos citotóxicos, como ganciclovir, ribavi- Formulary Service Drug Information (AHFS
rina, pentamidina, entre outros. DI) publicadas pela ASHP (ASHP/AHFS DI
Em 1990, a American Society of Hospital 2003). Como os medicamentos perigosos
Pharmacists (ASHP) elaborou o informati- foram desenhados como agentes terapêu-
vo “ASHP technical assistance buletin on ticos em seres humanos, os perfis de toxi-
handling cytotoxic and hazardous drugs” e cidade foram considerados superiores a
utilizou, pela primeira vez, o termo medica- quaisquer dados originados em modelos
mentos “perigosos” para identificar outros animais ou sistemas in vitro. Nas seguintes
fármacos que traziam risco aos trabalha- citações, encontram-se orientações adicio-
dores, mas que não possuíam ação anti- nais para definir fármacos perigosos: car-
neoplásica. Critérios foram estabelecidos cinogenicidade [61 Fed. Reg. 17960–18011
para identificar os fármacos que deveriam (1996b); IARC 2010], teratogenicidade [56

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Fed. Reg. 63798–63826 (1991)], toxicidade genicidade) nos estabelecimentos de saúde
no desenvolvimento [56 Fed. Reg. 63798– públicos ou privados” .
63826 (1991)] e toxicidade reprodutiva [61 A Portaria no 3.535 estabelece que o Ser-
Fed. Reg. 56274–56322 (1996a)]. Em setem- viço de Oncologia Clínica deve possuir uma
bro de 2010, o NIOSH publicou um novo in- rotina de funcionamento escrita, atualizada
formativo com o acréscimo de 21 fármacos a cada 4 (quatro) anos e assinada pelo res-
à relação de 2004 e, no período de 2004 a ponsável de cada área, contemplando, no
2007, recebeu novas recomendações para mínimo, os seguintes processos: armaze-
seu manuseio. O processo de revisão para a namento; controle e preparo de soluções
inclusão de novas listas está descrito no Fe- e quimioterápicos; procedimentos de bios-
deral Register: http://www.cdc.gov/niosh/ segurança; acondicionamento e descarte
docket/pdfs/NIOSH-105-A/0105-A-042909- de resíduos de quimioterapia; manutenção
FR_Notice.pdf. As orientações da ASHP de equipamentos, além de exigir que todo
para manipular fármacos perigosos incluem preparo de medicamentos antineoplási-
informações provenientes do NIOSH e estão cos fosse realizado em cabine de seguran-
atualizadas até 2004. ça biológica classe II B2 pelo farmacêutico,
No Brasil, até 2002, não havia uma legisla- conforme Resolução do CFF no 565/2012.
ção que norteasse o manuseio de antineoplá- Em 21/02/2002, a Agência Nacional de Vi-
sicos, e, até então, seguia as recomendações gilância Sanitária (Anvisa) publicou a RDC/
internacionais e a Portaria no 3.535/GM de Anvisa no 50, que substituiu a Portaria no
2 de setembro de 1998, que estabelece cri- 1.884 , revogada pela Portaria GM/MS no
térios para cadastramento de centros de 554, de 19 de março de 2002. A RDC no 50
atendimento em oncologia no Sistema Úni- dispõe sobre o Regulamento Técnico para
co de Saúde (SUS), além das normas esta- planejamento, programação, elaboração e
belecidas pelos conselhos de classe de pro- avaliação de projetos físicos de estabeleci-
fissionais, como a Resolução no 565, de 6 mentos assistenciais de saúde e estabelece
de dezembro de 2012, do Conselho Federal o dimensionamento, quantificação e insta-
de Farmácia, que reconhece a importância lações prediais dos ambientes necessários
do profissional farmacêutico como inte- para realização de atividades específicas.
grante da equipe multiprofissional e esta- Para o atendimento de pacientes oncoló-
belece como sendo de sua competência o gicos, a Farmácia deve possuir uma sala de
preparo de antineoplásicos, como disposto preparação de antineoplásicos de 5,0 m2
no artigo 1o: “É atribuição privativa do far- por CSB e apresentar um vestiário de barrei-
macêutico o preparo dos antineoplásicos e ra para entrada na sala de manipulação.
demais medicamentos que possam causar Em 2003, a Sociedade Brasileira de Far-
risco ocupacional ao manipulador (terato- macêuticos em Oncologia (Sobrafo), com
genicidade, carcinogenicidade e/ou muta- foco na qualidade e segurança no preparo

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

de citotóxicos, publicou o Guia para o pre- no 50. Para produtos manipulados, utiliza-
paro seguro de agentes antineoplásicos, a dos em período que ultrapasse 48 horas, do
primeira recomendação nacional que tra- início da preparação até o término de sua
duziu com precisão as publicações interna- administração, de maneira a reduzir o risco
cionais e que culminou com a publicação de contaminação inerente ao procedimen-
da resolução RDC Anvisa no 220, de 21 de to, além das disposições contidas na RDC no
setembro de 2004, que aprova o Regula- 220, deve-se atender às exigências da Reso-
mento Técnico de Funcionamento dos Ser- lução RDC no 67, de 8 de outubro de 2007.
viços de Terapia Antineoplásica. As farmácias de manipulação de produtos
A RDC no 220 estabelece como ponto estéreis, que manipulam antineoplásicos,
fundamental a criação da Equipe Multipro- também devem seguir a RDC no 67.
fissional em Terapia Antineoplásica (EMTA), Conforme a RDC no 67, os serviços de-
em que se destaca a atuação do profissional vem obedecer aos critérios de construção e
farmacêutico, que deve possuir registro no manutenção de ambientes controlados, em
Conselho Regional de Farmácia (CRF) e ser conformidade com aqueles internacional-
responsável técnico pelas atividades da far- mente aceitos de risco de contaminação de
mácia. Preferencialmente, esse profissional produtos estéreis. A sala destinada à mani-
deve ser exclusivo do Serviço de Oncologia. pulação de preparações estéreis deve ser in-
Embora, em 2001, o Conselho Federal de dependente e exclusiva, dotada de filtros de
Enfermagem (Cofen) tenha publicado a RDC ar para reter partículas e micro-organismos,
no 257, facultando ao enfermeiro o preparo garantindo os níveis recomendados _ classe
de fármacos quimioterápicos antineoplási- ISO 5 _ ou sob fluxo laminar, classe ISO 5, em
cos, em dezembro de 2013 tal resolução foi área classe ISO 7 e possuir pressão positiva
considerada ilegal perante a 7a Turma do em relação às salas adjacentes. Porém, para
Tribunal Regional Federal da 1a Região, re- manipular/fracionar preparações estéreis
forçando a assertiva de que a manipulação contendo citostáticos, a pressurização da
de medicamentos é uma atribuição privati- sala de manipulação deve ser negativa em
va do farmacêutico. relação ao ambiente adjacente.
A EMTA deve criar mecanismos para de- Com o objetivo de minimizar a produção
senvolver farmacovigilância, tecnovigilân- de resíduos nos serviços de saúde e propor-
cia e biossegurança em todas as etapas da cionar um encaminhamento seguro, em 7
terapia antineoplásica (TA), definir os pro- de dezembro de 2004 foi aprovado o Regu-
tocolos de prescrição e acompanhamento lamento Técnico para o Gerenciamento de
da TA, capacitar os profissionais envolvidos, Resíduos de Serviços de Saúde, a Resolução
promovendo programas de educação per- RDC no 306, que estabelece procedimentos
manente. A infraestrutura física deve aten- operacionais, conforme os riscos envolvi-
der aos requisitos contidos na RDC/Anvisa dos, para a segregação, acondicionamento,

47

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armazenamento, transporte, tratamento e no mínimo, de vestiário de barreira com du-
disposição final. O Plano de Gerenciamento pla câmara com lava- olhos, o qual pode ser
de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) substituído por uma ducha tipo higiênica,
deve ser compatível com as normas estabe- e de um chuveiro de emergência. Ainda de
lecidas pelos órgãos locais. Em 10/09/2008, acordo com a NR32, compete ao emprega-
no estado de São Paulo, foi aprovada a Por- dor fornecer aos trabalhadores dispositivos
taria CVS 21/2008 do Centro de Vigilância de segurança que minimizem a geração de
Sanitária Estadual, uma norma técnica que aerossóis e a ocorrência de acidentes duran-
padroniza os procedimentos para o Geren- te a manipulação e administração de qui-
ciamento de Resíduos Perigosos de Medica- mioterápicos antineoplásicos.
mentos (GRPM) em serviços de saúde. A equipe multiprofissional em terapia
Para o estabelecimento de normas de antineoplásica deve conhecer os fatores
credenciamento/habilitação dos estabele- envolvidos para minimizar a exposição a es-
cimentos de saúde para a prestação de ser- ses agentes e estabelecer métodos seguros
viços oncológicos do SUS, em 19 de dezem- de manuseio, implantando procedimentos
bro de 2005 foi aprovada a Portaria SAS/MS desde o recebimento de antineoplásicos
no 741 que define as Unidades de Assistên- até o descarte de resíduos.
cia de Alta Complexidade em Oncologia, os
Centros de Assistência de Alta Complexida- Apesar de se dispor atualmente de reco-
de em Oncologia (Cacon) e os Centros de mendações internacionais e legislações
Referência de Alta Complexidade em Onco- nacionais para o manuseio de fármacos
logia e suas aptidões e qualidades. citotóxicos, voltadas às seguranças indi-
Para estabelecer as diretrizes básicas vidual e coletiva e também à segurança
para implementar medidas de proteção à do preparo, torna-se necessário, no Bra-
segurança e à saúde dos trabalhadores dos sil, a elaboração de uma norma única
serviços de saúde, bem como daqueles que que contemple e unifique os diferentes
exercem atividades de promoção e assistên- critérios de exigências estabelecidos
cia à saúde em geral, publicou-se, em 2005, a pelos órgãos competentes, facilitando a
Norma Regulamentadora – NR32, que define compreensão, adequação, cumprimento
que os quimioterápicos antineoplásicos so- das normas por parte dos profissionais,
mente devem ser preparados em área exclu- proprietários e administradores dos ser-
siva e com acesso restrito aos profissionais viços de saúde que atendem na oncolo-
diretamente envolvidos. O local deve dispor, gia e uniformização da fiscalização.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Bibliografia
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handling hazardous drugs. Am J Hosp Pharm. 1993;50:1170. farmácias.
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21/2008. norma técnica sobre gerenciamento de 11/11/2005. Aprova a norma regulamentadora no 32 –
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Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância docs/2010-167/pdfs/2010-167.pdf.
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Oficial da União, Brasília, 10/12/2004. and Health Administration, 1986.

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Glossário
Acidente ambiental em terapia antineo- to e otimizar o deslocamento entre os pon-
plásica: contaminação do ambiente gerada tos geradores e o ponto destinado à apre-
pelo derramamento dos medicamentos da sentação para coleta externa. Não poderá
terapia antineoplásica. ser feito armazenamento temporário com
Acidente pessoal em terapia antineo- disposição direta dos sacos sobre o piso,
plásica: contaminação pessoal gerada por sendo obrigatória a conservação dos sacos
contato ou inalação dos medicamentos da em recipientes de acondicionamento. 
terapia antineoplásica em qualquer das eta- Assistência farmacêutica: conjunto de
pas do processo. ações e serviços relacionados com o medi-
Acondicionamento: ato de embalar os camento, destinados a apoiar as ações de
resíduos segregados em sacos ou recipien- saúde demandadas por uma comunidade.
tes que evitem vazamentos e resistam às Envolve o abastecimento de medicamen-
ações de punctura e ruptura. tos em todas e em cada uma de suas eta-
Ambiente: espaço fisicamente deter- pas constitutivas, a conservação e controle
minado e especializado para desenvolver de qualidade, a segurança e a eficácia te-
determinada(s) atividade(s), caracterizado rapêutica dos medicamentos, o acompa-
por dimensões e instalações diferenciadas. nhamento e a avaliação da utilização, a
Um ambiente pode se constituir em uma obtenção e a difusão de informações sobre
sala ou uma área. medicamentos e a educação permanente
Antecâmara: espaço fechado com duas dos profissionais de saúde, do paciente e da
ou mais portas, interposto entre duas ou comunidade para assegurar o uso racional
mais áreas, com o objetivo de controlar o de medicamentos.
fluxo de ar entre ambas, quando precisarem Atenção farmacêutica: é um mode-
ser adentradas. lo de prática farmacêutica desenvolvido
Área: ambiente aberto, sem paredes em no contexto da Assistência Farmacêutica.
uma ou mais de uma das faces. Compreende atitudes, valores éticos, com-
Área de dispensação: área de atendimen- portamentos, habilidades, compromissos
to ao usuário destinada especificamente à e corresponsabilidades na prevenção de
entrega dos produtos e à orientação farma- doenças, promoção e recuperação da saú-
cêutica. de, de forma integrada à equipe de saúde.
Armazenamento temporário: consiste É a interação direta do farmacêutico com o
na guarda temporária dos recipientes con- usuário, visando a uma farmacoterapia ra-
tendo os resíduos já acondicionados, em lo- cional e à obtenção de resultados definidos
cal próximo aos pontos de geração, visando e mensuráveis, voltados à melhoria da qua-
a agilizar a coleta dentro do estabelecimen- lidade de vida. Essa interação também deve

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

envolver as concepções dos seus sujeitos, química ou física, que sejam considerados
respeitadas as suas especificidades biopsi- nocivos à saúde humana.
cossociais, sob a ótica da integralidade das Controle da qualidade em terapia
ações de saúde. antineoplásica: conjunto de operações
Barreira (contracontaminação): blo- (programação, coordenação e execução)
queio físico que deve existir nos locais de com o objetivo de verificar a conformida-
acesso à área onde seja exigida assepsia de dos processos e produtos da terapia
e somente se permita a entrada de pes- antineoplásica.
soas com indumentária apropriada (pa- Controle em processo: verificações rea-
ramentação). lizadas durante a manipulação de forma a
Boas práticas de manipulação: con- assegurar que o produto esteja em confor-
junto de medidas que visam assegurar que midade com suas especificações.
os produtos manipulados são consistente- Data de validade: data impressa no re-
mente controlados, com padrões de quali- cipiente ou no rótulo do produto, informan-
dade apropriados ao uso pretendido e re- do o tempo durante o qual se espera que
querido na prescrição. este mantenha as especificações estabele-
Cabine de segurança biológica (CSB): cidas, desde que estocado nas condições
equipamento de proteção coletiva, com recomendadas.
insuflamento e exaustão completa de ar Depósito de material de limpeza: sala
para proteção do produto, das pessoas e destinada à guarda de aparelhos, utensílios
do ambiente. e material de limpeza, dotado de tanque de
Calibração: conjunto de operações que lavagem.
estabelecem, sob condições especificadas, Descontaminação: é um processo que
a relação entre os valores indicados por um consiste na remoção dos contaminantes
instrumento de medição, sistema ou valo- (químicos ou biológicos) ou na alteração de
res apresentados por um material de me- sua natureza, tornando a substância segura
dida, comparados àqueles obtidos com um para o manuseio.
padrão de referência correspondente. Desinfecção: é um processo de des-
Contaminação cruzada: é a transferên- truição de microorganismos patogênicos,
cia da contaminação de uma área ou de um na forma vegetativa, presente em superfí-
produto para áreas ou produtos anterior- cies inertes, mediante aplicação de agen-
mente não contaminados, podendo essa tes físicos e químicos.
contaminação ocorrer de forma indireta, Desvio de qualidade: não atendimento
por meio de superfícies de contato, mãos, dos parâmetros de qualidade estabelecidos
utensílios, equipamentos e outras fontes. para um produto ou processo.
Contaminação: presença de substâncias Dispensação: ato de fornecimento ao
ou agentes estranhos, de origem biológica, consumidor de drogas, medicamentos, in-

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sumos farmacêuticos e correlatos, a título Farmácia de atendimento privativo de
remunerado ou não. unidade hospitalar: unidade clínica de as-
Embalagem primária: acondiciona- sistência técnica e administrativa, dirigida
mento que está em contato direto com o por farmacêutico, integrada funcional e hie-
produto e que pode se constituir em reci- rarquicamente às atividades hospitalares.
piente, envoltório ou qualquer outra forma Farmácia: estabelecimento de manipu-
de proteção, removível ou não, destinado lação de fórmulas magistrais e oficinais, de
a envasar ou manter, cobrir ou empacotar comércio de drogas, medicamentos, insu-
matérias-primas, produtos semielaborados mos farmacêuticos e correlatos, compreen-
ou produtos acabados. dendo o estabelecimento de dispensação e
Embalagem secundária: embalagem o atendimento privativo de unidade hospi-
que protege a embalagem primária para o talar ou de qualquer outra equivalente de
transporte, armazenamento, distribuição e assistência médica.
dispensação. Filtro HEPA: filtro para ar de alta eficiência
Equipamentos de proteção individual com capacidade de reter 99,97% das partícu-
(EPIs): equipamentos ou vestimentas apro- las maiores que 0,3 μm de diâmetro.
priados para proteger as mãos (luvas), os Forma farmacêutica: estado final de
olhos (óculos), a cabeça (toucas), o corpo apresentação que os princípios ativos far-
(aventais com mangas longas), os pés (sapa- macêuticos possuem após uma ou mais
tos próprios para a atividade ou protetores operações farmacêuticas executadas com
de calçados) e a respiração (máscaras). ou sem a adição de excipientes apropria-
Equipe multiprofissional de terapia dos, a fim de facilitar sua utilização e obter o
antineoplásica (EMTA): grupo constituído, efeito terapêutico desejado, com caracterís-
no mínimo, de profissional farmacêutico, ticas apropriadas a uma determinada via de
enfermeiro e médico especialista. administração.
Estabelecimento de saúde: nome ge- Fracionamento: procedimento que in-
nérico dado a qualquer local ou ambiente tegra a dispensação de medicamentos na
físico destinado à prestação de assistência forma fracionada efetuado sob a supervisão
sanitária à população em regime de inter- e responsabilidade de profissional farma-
nação e/ou não internação, qualquer que cêutico habilitado, para atender à prescri-
seja o nível de categorização. ção ou ao tratamento correspondente nos
Evento adverso grave: qualquer ocorrên- casos de medicamentos isentos de prescri-
cia clínica desfavorável que resulte em morte, ção, caracterizado pela subdivisão de um
risco de morte, hospitalização ou prolonga- medicamento em frações individualizadas,
mento de uma hospitalização preexistente, a partir de sua embalagem original, sem
incapacidade significante, persistente ou per- rompimento da embalagem primária, man-
manente, ou ocorrência clínica significativa. tendo seus dados de identificação.

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Garantia da qualidade: esforço orga- finalidade profilática, curativa, paliativa ou


nizado e documentado dentro de uma para fins de diagnóstico.
empresa no sentido de assegurar as carac- Número de lote: designação impressa
terísticas do produto, de modo que cada em cada unidade do recipiente constituída
unidade dele esteja de acordo com suas de combinações de letras, números ou sím-
especificações. bolos, que permite identificar o lote e, em
Gerenciamento de resíduos sólidos: caso de necessidade, localizar e revisar to-
é o processo de planejar, implementar e das as operações praticadas durante todas
avaliar medidas sanitárias em relação aos as etapas de manipulação.
resíduos sólidos que contemplem sua gera- Plano de gerenciamento de resíduos
ção, minimização, segregação, acondiciona- sólidos: documento integrante do proces-
mento, coleta, armazenamento, transporte, so de licenciamento ambiental, que aponta
tratamento, disposição final, vigilância e e descreve as ações relativas ao manejo de
controle, visando à proteção da saúde pú- resíduos sólidos, contemplando os aspec-
blica e do meio ambiente. tos referentes à geração, segregação, acon-
Germicida: produto que destrói micror- dicionamento, coleta, armazenamento,
ganismos, especialmente os patogênicos. transporte, tratamento e disposição final,
Inativação: processo pelo qual se eli- bem como a proteção à saúde pública e ao
mina, por meio de calor, a energia medica- meio ambiente.
mentosa impregnada nos utensílios e em- Preparação: procedimento farmaco-
balagem primária para sua utilização. técnico para obter o produto manipulado,
Injetável: preparação para uso parente- compreendendo a avaliação farmacêutica
ral, estéril e apirogênica, destinada a ser in- da prescrição, a manipulação, o fraciona-
jetada no corpo humano. mento de substâncias ou produtos indus-
Local: espaço fisicamente definido den- trializados, envase, rotulagem e conserva-
tro de uma área ou sala para o desenvolvi- ção das preparações.
mento de determinada atividade. Procedimento asséptico: operação
Manipulação: conjunto de operações realizada com a finalidade de preparar
farmacotécnicas, com a finalidade de ela- produtos para usos parenteral e ocular
borar preparações magistrais e oficinais e com a garantia de sua esterilidade.
fracionar especialidades farmacêuticas para Procedimento operacional padrão
uso humano. (POP): descrição pormenorizada de téc-
Material de embalagem: recipientes, nicas e operações a serem utilizadas na
rótulos e caixas para acondicionar as prepa- farmácia, visando a proteger e garantir
rações manipuladas. a preservação da qualidade das prepa-
Medicamento: produto farmacêutico, rações manipuladas e a segurança dos
tecnicamente obtido ou elaborado, com manipuladores.

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Recipiente: embalagem primária des- de resíduos sólidos (lixo) segregados até
tinada ao acondicionamento, de vidro ou seu recolhimento ao abrigo de recipientes
plástico, que atenda aos requisitos estabe- de resíduos.
lecidos em legislação vigente. Serviço de terapia antineoplásica
Responsável técnico: é o profissional (STA): serviço de saúde composto de
legalmente habilitado, com inscrição em equipe multiprofissional especializada
autarquia profissional, responsável pelo na atenção à saúde de pacientes oncoló-
estabelecimento e pela tecnologia do pro- gicos que necessitem de tratamento me-
duto final e/ou serviço prestado. dicamentoso.
Resíduos de serviços de saúdes (RSSs): Sessão de manipulação: tempo decor-
resíduos resultantes das atividades exerci- rido para uma ou mais manipulações sob
das por estabelecimento gerador, classifica- as mesmas condições de trabalho, por um
do de acordo com regulamento técnico da mesmo manipulador, sem qualquer inter-
Anvisa sobre gerenciamento de resíduos rupção do processo.
de serviços de saúde. Terapia antineoplásica (TA): conjunto
Risco químico: potencial mutagênico, de procedimentos terapêuticos medica-
carcinogênico e/ou teratogênico. mentosos aplicados ao paciente oncológico
Rótulo: identificação impressa ou lito- ou a quem deles necessitar.
grafada, bem como os dizeres pintados ou Validação: ato documentado que ateste
gravados a fogo, pressão ou decalco, aplica- que qualquer procedimento, processo, ma-
dos diretamente sobre a embalagem primá- terial, atividade ou sistema esteja realmente
ria e secundária do produto. conduzindo aos resultados esperados.
Sala classificada ou sala limpa: sala Verificação: operação documentada
com controle ambiental definido em ter- para avaliar o desempenho de um instru-
mos de contaminação por partículas viáveis mento, comparando um parâmetro com
e não viáveis, projetada e utilizada de forma determinado padrão.
a reduzir a introdução, a geração e a reten- Vestiário: área para guarda de pertences
ção de contaminantes em seu interior. pessoais, troca e colocação de uniformes.
Sala: ambiente envolto por paredes em Vestiário de barreira: ambiente ex-
todo o seu perímetro e com porta(s). clusivo para paramentação definida pela
Sala de manipulação: sala destinada à Comissão de Controle de Infecção Hospi-
manipulação de fórmulas. talar dos estabelecimentos assistencias
Sala de paramentação: sala de coloca- de saúde.
ção de EPIs que serve de barreira física para Serve de barreira (controle de entra-
o acesso às salas de manipulação. da e saída) à entrada da unidade. Pode
Sala de resíduos: ambiente destinado estar acoplado ou não a um sanitário ou
à guarda interna provisória de recipientes banheiro.

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Anexos
Anexo 1 – Recomendações para a Todo equipamento e recipientes que
manipulação de bacilo Calmette-Guérin entrarem em contato com BCG devem ser
Bacilo Calmette-Guérin (BCG) é um imu- manipulados e eliminados como materiais
noestimulante utilizado no tratamento bioinfectantes.
do câncer de bexiga. Por se tratar de um Diferentemente da vacina BCG utilizada
medicamento preparado com bacilos vi- para prevenir tuberculose cuja ampola de 1
vos (cepas atenuadas do bacilo Mycobac- ml contém 1 mg de BCG, a ampola de BCG
terium bovis), sua manipulação requer fabricada para uso intravesical contém 40
alguns cuidados especiais no âmbito da mg de BCG, uma quantidade muito supe-
oncologia. rior de bacilo, representando maior risco de
NIOSH recomenda que a manipula- contaminação ao manipulador e contami-
ção de BCG seja realizada em uma área nação cruzada com outros medicamentos.
separada da área onde são preparados
outros medicamentos de uso parente- Referência
ral, visto que pode ocorrer contamina- NIOSH. List of antineoplastic and other hazardous drugs in
ção cruzada. healthcare settings 2012.

Anexo II – Testes realizados na certificação de equipamentos de segurança biológica

Norma utilizada NSF 49 (Anexo F)


Teste Periodicidade Equipamento utilizado Objetivo Aceitação
Gerar uma concentração de partículas
conhecida e com um instrumento
Fotômetro/gerador 0,01mg/l de
Integridade Trimestral sensível a esse produto e escanear filtros
(PAO) penetração.
HEPA e a estrutura do equipamento a
fim de garantir a integridade do sistema.
Velocidade média
Avaliar a velocidade do fluxo de ar, a
deve estar entre
Velocidade do fluxo de ar Anemômetro/ termoa- partir do filtro HEPA, de acordo com a re-
Trimestral (+/- 0,025m/s)
downflow nemômetro comendação do fabricante. As variações
em relação a velo-
possuem recomendações normativas.
cidade nominal .
Velocidade
Velocidade do fluxo de ar Anemômetro/ termoa- Avaliar velocidade do fluxo de ar de
Trimestral mínima aceitável
inflow nemômetro acordo com a recomendação normativa.
= 0,50m/s.
Recomendação
Perda de pressão dos filtros Manômetro/microma- Avaliar o índice de saturação dos filtros
Trimestral do fabricante dos
HEPA nômetro Hepa.
filtros.

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Realizar leituras no interior do equipa-
mento (área de trabalho) a partir da
Classificação (contagem
Trimestral Contador de partículas captação de um determinado volume Classe ISO 5
eletrônica de partículas)
de ar com objetivo de verificar a classe
proporcionada.
Até 70dbA quando
Realizar as leituras e registrar os valores
o nível de ruído
Nível de ruído Trimestral Decibelímetro encontrados, tanto com o equipamento
do ambiente não
desligado, como ligado.
exceder 60dbA.
Realizar leituras no interior do equipa-
Intensidade da iluminação
Trimestral Luxímetro mento (área de trabalho) e registrar o Mínimo 480lux.
(luminosidade)
nível de iluminação encontrado.
Gerar fumaça no interior e na frente do
Proteção total do
equipamento para avaliação do fluxo de
Fumaça Trimestral Ampola de fumaça operador, material
ar, distribuição nas grelhas, retenção na
e meio ambiente.
janela e perímetro frontal.
Especificação do
Avaliar todos os compenentes eletroe-
fabricante dos
Componentes eletroeletrôni- Alicate amperímetro/ letrônicos, tensão e corrente eletricas
Trimestral equipamentos
cos/ mecânicos multímetro dos motores, iluminação e mecânica dos
e componentes
equipamentos.
instalados.

Testes realizados na certificação de salas limpas projetadas para manipulação de antineoplásicos


Normas utilizadas: IEST 006.3/RDC 220/RDC 67/ISO-14.644-1 e 3
Equipamento(s)
Teste Periodicidade Objetivo Aceitação
utilizado(s)
Gerar uma concentração de
partículas conhecida e com um
instrumento sensível a esse
Fotômetro e gerador Inferior ou igual a
Integridade Trimestral produto e escanear filtros HEPA
(PAO) 0,01mg/l de penetração.
e a estrutura de aperto a fim
de garantir a integridade do
sistema.
Vazão e volume do fluxo de ar Trimestral Balômetro Avaliar a vazão e o volume do Valores determinados
fluxo de ar, registrar os valores em projeto ou protocolo,
encontrados em (m³/h), com- recomendações do IEST
parar com valores determinados 006.3, ISO 14.644-1 e 3,
em projeto ou protocolo . RDC 220, RDC 67.
Valores determinados
Avaliar o sentido e valor
em projeto ou protocolo,
Diferencial de pressão entre Manômetro/ microma- das pressões entre as
Trimestral recomendações do IEST
salas nômetro salas e registrar os valores
006.3, ISO 14.644-1 e 3,
em (mm.c.a ou Pa).
RDC 220, RDC 67.
Avaliar o índice de saturação do
Diferencial de pressão dos Manômetro/ microma- sistema de filtragem, registrar Recomendação do
Trimestral
pré-filtros e filtros HEPA nômetro os valores encontrados em fabricante dos filtros.
(mm.c.a ou Pa).

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I Consenso
brasileiro
para boas práticas de
preparo da terapia
antineoplásica

Realizar leituras pontuais no


interior das salas captando um
Classificação (contagem
Trimestral Contador de partículas volume de ar predeterminado, ISO 14.644-1 e 3.
eletrônica de partículas)
com o objetivo de verificar a
classe proporcionada.
Valores determinados
Realizar leituras pontuais no em projeto ou protocolo,
Nível de ruído Trimestral Decibelímetro interior das salas e registrar os recomendações do IEST
valores encontrados em dbA. 006.3, ISO 14.644-1 e 3,
RDC 220, RDC 67.
Valores determinados
Realizar leituras pontuais no em projeto ou protocolo,
Intensidade da iluminação
Trimestral Luxímetro interior das salas e registrar os recomendações do IEST
(luminosidade)
valores encontrados em lux. 006.3, ISO 14.644-1 e 3,
RDC 220, RDC 67.
Classificar o ambiente, elevar
Contador de partículas, duas classes, gerando uma fonte
Recomendações do IEST
vazão mínima de 1,0 de contaminação conhecida,
Recuperação Trimestral 006.3, ISO 14.644-1 e 3,
CFM e gerador de monitorar e registrar o tempo
RDC 220, RDC 67.
fumaça necessário para a recuperação
da classe inicial.
Valores determinados
Realizar leituras pontuais na
em projeto ou protocolo,
Temperatura e umidade sala, registrar os valores encon-
Trimestral Termo-higrômetro recomendações do IEST
realativa do ar trados para temperatura em °C
006.3, ISO 14.644-1 e 3,
e para umidade relativa em %.
RDC 220, RDC 67.

Realizar este teste para


conhecer a performance
Recomendações do IEST
Fumaça Trimestral Gerador de fumaça do sistema de ar, visualizar
006.3.
o sentido do fluxo de ar e
evidenciar a pressão entre salas .

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