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Patologia Geral

Isadora Janolio de Oliveira


Ana Paula Lula Costa
Marina Costa Lobenwein Cayres
Emanuel Giovani Cafofo Silva
Rodrigo Santos de Oliveira
Gustavo da Cunha Rofino
Isadora Janolio de Oliveira
Ana Paula Lula Costa
Marina Costa Lobenwein Cayres
Emanuel Giovani Cafofo Silva
Rodrigo Santos de Oliveira
Gustavo da Cunha Rofino

Patologia Geral

Belo Horizonte
Janeiro de 2017
COPYRIGHT © 2017
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Grupo Ănima Educação

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Edição
Grupo Ănima Educação

Diretor
Rogério Salles Loureiro

Gerentes de Operações
Denise Elisabeth Himpel
Gislene Garcia Nora de Oliveira

Coordenadora de Produção
Carolina Alcântara de Araújo Lopes

Parecerista
Izabela Ferreira Gontijo de Amorim

Ilustração e Capa
VG Consultoria

Equipe EaD
Isadora Janolio de Oliveira

Graduação em ciências biológicas -


Licenciatura/Bacharelado - Universidade
Estadual de Maringá. Especialista em Projetos
e Planejamentos ambientais - Faculdade
Cidade Verde. Mestranda no Programa de
Ecologia de Ambientes Aquáticos com ênfase
em biologia molecular - Universidade Estadual
de Maringá.
Ana Paula Lula Costa

Graduação em Ciências Biológicas -


Licenciatura - Centro Universitário de Maringá.
Mestre em Ecologia e Conservação –
Universidade Federal do Paraná.
Marina Costa Lobenwein Cayres

Graduação em Ciências Biológicas -


Licenciatura - Centro Universitário de Maringá.
Mestre em Ecologia e Conservação –
Universidade Federal do Paraná.
Emanuel Giovani Cafofo Silva

Graduação em Ciências Biológicas -


Licenciatura - Centro Universitário de Maringá.
Mestrado em Zoologia - Universidade
Federal do Pará/Museu Paraense Emílio
Goeldi. Doutorado em andamento - Ecologia
de ambientes aquáticos continentais -
Universidade Estadual de Maringá.
Rodrigo Santos de Oliveira

Graduação em Ciências Biológicas -


Licenciatura - Universidade Federal do Pará.
Mestrado em Biotecnologia - Universidade
Federal do Pará. Doutorado em andamento
- Biologia de Agentes Infecto-Parasitários -
Universidade Federal do Pará.
Gustavo da Cunha Rofino

Graduação em Ciências Biológicas -


Licenciatura - Centro Universitário de Maringá.
Pós-graduação/Especialização em Controle
de qualidade, gerenciamento de resíduos e
gestão ambiental na indústria de alimentos -
Universidade Paranaense - UNIPAR.
Nível de ensino
Graduação

Olá, eu sou a professora Isadora, sou formada em Ciências Biológicas Carga horária
pela Universidade Estadual de Maringá. Fiz especialização em 80h
Projetos e Planejamentos Ambientais e atualmente, faço Mestrado
em Biologia e em Ênfase em Biologia Molecular.

Falarei sobre o que é Patologia e a sua importância. A Patologia


é uma ciência muito importante, pois estuda a origem da doença,
quais são os mecanismos envolvidos por trás da doença, quais são
as alterações fisiológicas e morfológicas envolvidas na doença.
A Patologia é o estudo dessas alterações. Em relação à doença,
o que significa doença? Está relacionada com adaptação. Então
o individuo é capaz de se adaptar a alguma condição adversa,
mas às vezes não consegue. Devido a isso, ocorrem algumas
alterações fisiológicas e funcionais no organismo, e isso faz
com que ele desencadeie sinais, alterações e sintomas também.
Isso caracteriza uma doença. Então, a Patologia irá tentar
compreender quais são essas alterações. Ela é à base da prática
clínica. Então o médico, por exemplo, precisará entender quais
são esses mecanismos, para por exemplo, dizer qual é o melhor
tratamento. Mesmo não sendo uma parte de a Patologia estudar
os tratamentos, essa parte é importante, de se entender a origem
e o mecanismo. Porque sem isso, não seria possível se oferecer
o melhor tipo de tratamento. Então, o Patologista é extremamente
importante, porque irá identificar a lesão, identificar a origem, e isso
é extremamente importante.

Em relação à Patologia, temos três termos muito importantes,


que seriam a Etiologia, a Patogênese e a Fisiopatologia.
Em relação à Etiologia, significa a origem da doença. Qual foi o
agente infeccioso, qual foi o agente, ou o que ocasionou essa
doença. Em relação à Patogênese, seria as alterações fisiológicas,
ou desenvolvimento da doença e a Fisiopatologia seria os sintomas
e os sinais que desencadearam, devido a essa doença, essas
alterações ao longo do tempo.

Então, a Patologia é de extrema importância para se entender a


doença. A Patologia é uma disciplina, uma ciência que estuda,
desde as lesões até o diagnóstico. Ela tenta compreender as lesões,
quais são os agentes causadores dessas lesões, entender qual
é o mecanismo de reparo, de inflamação, quais são os distúrbios
circulatórios, tanto relacionado à circulação sanguínea, a circulação
do sistema linfático, além disso, estuda doenças como Neoplasia,
tanto tumores malignos, quanto os benignos, são tratados em
Patologia. Quais são os fatores ambientais e os fatores genéticos
associados a essas doenças, e também estudam as doenças
genéticas, ambientais, nutricionais, doenças causadas por
agentes infecciosos. Além disso, estuda o sistema imunológico,
qual o mecanismo que está por trás da defesa do corpo. Isso são
conteúdos da Patologia, que dão base para o patologista resolver,
identificar, diagnosticar o indivíduo. Também estuda quais seriam
as melhores formas de exames, e de formas para confirmar uma
doença ou não. Então o patologista, que pode ser da área médica ou
da área biológica, que é especialista nessa disciplina, ele pode ser
capaz de identificar e diagnosticar o paciente.

Então, iremos apresentar uma situação problema, que no final


dessa disciplina, será capaz de responder através dos estudos da
Patologia. Um patologista é capaz de identificar essas alterações.
Então nesse caso, um senhor de 63 anos, apresenta sintomas como
rouquidão, além disso, coceira na garganta. O patologista acredita
que seja um câncer na laringe. Mas precisa fazer algumas coisas
para identificar, e alguns estudos relacionados a isso.

Primeiro, qual seria a forma de diagnosticar? Qual a melhor forma


de saber se tem câncer ou não? Além disso, quais são os fatores
de risco associados a esse câncer? E quais os agentes químicos,
físicos e biológicos relacionados ao câncer da laringe? Quais são
as alterações genéticas que estão associadas ao câncer? Quais
substancias químicas podem causar lesões e como podem ser
reparadas? Como os sistema imunológico pode atuar? E por fim, se
realmente for câncer, como ele pode invadir outros lugares? Então, a
Patologia dará base para responder a essas perguntas.

No final do curso, no final dessa disciplina, conseguirá identificar


as lesões e identificar os mecanismos por trás disso. Era isso que
gostaria de apontar, espero que tenham compreendido a introdução
dessa disciplina, é extremamente importante, é a base da prática
clinica. Muito obrigado e até a próxima!
UNIDADE 1 ........................................................................................................................... 003
Adaptações, lesão celular e morte celular ................................................................. 004
Introdução à patologia ...................................................................................................... 005
Respostas ao estresse e aos estímulos nocivos .................................................... 008
Adaptações do crescimento ........................................................................................... 009
Etiopatogênese geral da lesão celular ......................................................................... 015

UNIDADE 2 ........................................................................................................................... 037


Inflamação e reparo ........................................................................................................... 038
Conceitos gerais .................................................................................................................. 039
Inflamações agudas e crônicas ..................................................................................... 044
Classificação morfológica das inflamações  ............................................................ 057
Tecido conjuntivo, reparo, regeneração e cicatrização ......................................... 060

UNIDADE 3 ........................................................................................................................... 069


Distúrbios circulatórios ..................................................................................................... 070
Princípios da circulação .................................................................................................... 071
Distúrbios circulatórios: hiperemia/ congestão, hemorragia,
choque, trombose, embolia, isquemia, infarto e edema ....................................... 078
Doenças originadas por distúrbios no volume sanguíneo ................................... 079
Doenças de natureza obstrutiva .................................................................................... 089
Distúrbios na dinâmica e na distribuição de líquidos ............................................. 097

UNIDADE 4 ........................................................................................................................... 098


Neoplasia ............................................................................................................................... 099
Características gerais das neoplasias benignas e malignas .............................. 100
Epidemiologia do câncer .................................................................................................. 107
Características gerais e genéticas do câncer  .......................................................... 111
Agentes carcinogênicos ................................................................................................... 121
UNIDADE 5 ........................................................................................................................... 127
Doenças do sistema imune e doenças genéticas ................................................... 128
Noções acerca do sistema imunitário ......................................................................... 129
Imunopatologia .................................................................................................................... 139
Doenças genéticas ............................................................................................................. 149

UNIDADE 6 ........................................................................................................................... 158


Doenças ambientais e nutricionais .............................................................................. 159
Mecanismos gerais das lesões produzidas
por agentes químicos e físicos  ..................................................................................... 163
Doenças de caráter nutricional ...................................................................................... 182

UNIDADE 7 ........................................................................................................................... 190


Doenças infecciosas .......................................................................................................... 191
Princípios gerais da patogenia das doenças infecciosas .................................... 192
Princípios gerais de doenças infecciosas  ................................................................. 194
Agentes Infecciosos  .......................................................................................................... 195
Transmissão e disseminação de microrganismos ................................................ 199
Mecanismos gerais de danos causados por agentes infecciosos ................... 204
Doenças infecciosas .......................................................................................................... 207

UNIDADE 8 ........................................................................................................................... 218


Métodos de estudo em patologia ................................................................................. 219
Métodos de estudo em patologia ................................................................................. 220
Estudos Tradicionais ......................................................................................................... 223
Citopatologia ......................................................................................................................... 230
Técnicas especiais ............................................................................................................. 234
Citometria .............................................................................................................................. 237
Citogenética .......................................................................................................................... 238
Biologia molecular .............................................................................................................. 240

Referências .................................................................................................................... 247
UNIDADE
Adaptações, lesão celular
e morte celular

• Introdução à
patologia
• Respostas
ao estresse e
aos estímulos
nocivos
• Adaptações do
crescimento
• Etiopatogênese
geral da lesão
celular
Patologia Geral

Introdução à patologia
a patologia compreende a tradução latina dos termos logos (estudo)
e phatos (doenças). Essa ciência investiga as causas (etiologia) e
os mecanismos (patogenia) envolvidos na manifestação dos sinais
e dos sintomas apresentados por pacientes. A patologia busca
compreender as alterações morfológicas e funcionais das células,
dos tecidos e dos órgãos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). O conceito
de patologia, entretanto, não engloba todos os aspectos das doenças,
pois o tratamento, dentre outros pontos, não faz parte do escopo
dessa disciplina (BRASILEIRO-FILHO, 2006). O estudo das alterações
e de suas origens, contudo, são essenciais para o entendimento das
manifestações clínicas e da evolução das doenças, sendo, então, a
patologia a base para a prática clínica (ANGELO, 2016). Essa ciência
investiga as
causas (etiologia)
FIGURA 1 - Patologia
e os mecanismos
(patogenia)
envolvidos na
manifestação
dos sinais e
dos sintomas
apresentados por
pacientes.

Fonte: ANNA IVANOVA, 123RF.

005
unidade 1
Patologia Geral

O conceito de doença está intimamente relacionado à definição de


adaptação, que se refere à propriedade do organismo de ser sensível
às variações do ambiente e respondê-las a partir de alterações
bioquímicas e fisiológicas, a fim de se adaptar à nova situação.
Quando se trata de doença, o organismo é incapaz de se adaptar,
demonstrando sinais e sintomas dessa alteração. Em outras
palavras, doença é a manifestação de uma alteração estrutural
e funcional do órgão decorrente de alterações morfológicas e
bioquímicas desse tecido (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Outros conceitos importantes a serem definidos em patologia


são etiologia, patogenia e fisiopatologia. Conforme mencionado, a
etiologia estuda as causas e os fatores que originam a doença; a
O patologista
patogenia estuda como os fatores etiológicos iniciam as alterações atua identificando
celulares e moleculares que resultarão em anormalidades as lesões, as
estruturais e funcionais; já a fisiopatologia busca compreender os alterações
morfológicas micro
efeitos adversos (REISNER, 2016). A etiologia juntamente com
e macroscópicas
a patogenia e a fisiopatologia fornecem subsídios para prática da e, também,
medicina, pois, para elaborar diagnóstico e orientar a melhor forma as alterações
de tratamento, é necessário compreender a origem e como ocorre a
bioquímicas, com
auxílio de técnicas
evolução da doença (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). morfológicas,
moleculares,
O patologista atua identificando as lesões, as alterações microbiológicas e
imunológicas.
morfológicas micro e macroscópicas e, também, as alterações
bioquímicas, com auxílio de técnicas morfológicas, moleculares,
microbiológicas e imunológicas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).
Qualquer profissional da área de biológicas e da saúde pode se
especializar e atuar como patologista (ANGELO, 2016).

A patologia se divide em dois ramos: patologia geral (alterações


celulares e teciduais) e patologia sistêmica (alterações em nível de
órgãos). Neste livro, vamos dar ênfase às alterações gerais, mas, ao
longo do livro, também serão abordadas alterações sistêmicas.

Nesta unidade, abordaremos quais são os tipos de respostas


ao estresse e a agentes nocivos, quais são as principais causas,

006
unidade 1
Patologia Geral

os mecanismos das alterações e como isso acarreta alterações


moleculares e morfológicas nas células e nos tecidos.

QUESTÃO 1 - A etiologia juntamente com a patogenia e a fisiopatologia


fornecem subsídios para a prática da medicina; esses são conceitos

básicos e extremamente importantes para a ciência da patologia. Com

base nisso, conceitue as palavras etiologia, patogenia e fisiopatologia e

indique sua relação com a patologia.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Dicas
História e doença

Doença é uma alteração estrutural e funcional que faz que os indivíduos

apresentem sinais e sintomas; ela está presente desde a antiguidade. A

seguir, há umas curiosidades sobre a história e a doença:

• A primeira doença registrada foi a Hanseníase, em 6.000 a.C.

• O câncer, mesmo sendo considerado uma doença contemporânea, existe

desde muito tempo, pois há relatos de fósseis humanos com câncer.

• Uma das doenças presentes no Egito era o tétano.

• A doença da peste negra provavelmente é a história relatada na Bíblia

Hebraica

• A peste bubônica dizimou 1/3 da população europeia.

• Na França do século XVIII, pinos de latão sob os dedos e as unhas

eram um teste para verificação da morte.

• Doenças infecciosas eram mais comuns antigamente, porque não

tinham saneamento básico e outras medidas de higiene.

Fonte: REISNER, H. M. Patologia: uma abordagem por estudos de casos.

Porto Alegre: AMGH, 2016.

007
unidade 1
Patologia Geral

Respostas ao estresse e
aos estímulos nocivos
As células dos organismos, geralmente, se encontram em um
estágio estável, a homeostase, que é representado pela manutenção
de um equilíbrio entre o seu meio interno e externo, possibilitando
que órgãos e tecidos do corpo funcionem de forma harmônica,
garantindo a manutenção dos parâmetros fisiológicos (VANDER;
SHERMAN; LUCIANO, 2001). Quando a célula se depara com um
estresse ou estímulo nocivo, ela altera seus parâmetros para se
adaptar à nova situação.

A célula pode responder de duas formas ao estresse fisiológico e aos


estímulos nocivos (Figura 02): adaptando-se à nova situação ou, caso
ela não seja capaz, sofrendo lesões que poderão ser reversíveis (leves Quando a célula
se depara com
e/ou transitórias) ou irreversíveis (intensa e/ou progressiva). As lesões
um estresse ou
irreversíveis correspondem à morte celular por necrose ou apoptose. estímulo nocivo,
ela altera seus
parâmetros para
FIGURA 2 - Formas de resposta ao estresse e estímulos nocivos se adaptar à nova
situação.

Fonte: KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013 [Adaptado].

008
unidade 1
Patologia Geral

“Introdução à Patologia”
Autor: Ana Paula Lula Costa

QUESTÃO 2 - A célula procura se manter em equilíbrio, mas, quando um


agente externo ou um estresse fisiológico emerge, a célula pode responder

de duas formas: adaptando-se à nova situação ou, caso ela não seja capaz,

sofrendo lesões. Com base no tipo de respostas e nos fatores de estresse

ou nocivos, assinale a alternativa correta:

a. Ao entrar em contato com um agente patogênico, a célula é

rapidamente lesionada e quase sempre ocorre morte celular.

b. Todo tipo de lesão celular é irreversível.

c. A célula exposta a um agente estressor experimentará diversas

formas de adaptação ao estresse, que manterão suas funções e

viabilidade.

d. Caso a célula não consiga se adaptar ao agente estressor,

ocorrerá a morte celular.

e. Todo tipo de lesão celular é reversível.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Nesta unidade, vamos tratar de adaptação, danos reversíveis e morte


das células.

Adaptações do
crescimento
Adaptação é uma resposta fisiológica reversível ao estresse,
alterando seu estado normal (homeostase) para outro estado

009
unidade 1
Patologia Geral

constante, preservando sua viabilidade e função inerente. As


alterações podem ser em tamanho, número, atividade metabólica
e funções celulares (ganho ou perda), de acordo com estímulos,
que podem ser: hormonais, por meio de mediadores químicos
endógenos ou por demanda de trabalho. Há adaptações que não
são maléficas ao organismo, como o aumento no tamanho do
útero e da mama durante a gravidez, assim como o aumento do
volume das células esqueléticas do músculo devido à atividade
física. Existem, entretanto, adaptações patogênicas, nas quais as
células tentam contornar a agressão que sofrem (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013). A seguir, são descritas as quatro principais formas
de resposta adaptativa de acordo com Kumar, Abbas e Aster (2013)
(Tabela 1).

1. Hipertrofia: é o aumento do tamanho das células (Figura


3) que resulta, geralmente, no crescimento do órgão. Isso
ocorre em resposta ao aumento de carga de trabalho,
Existem, entretanto,
adaptações
estimulado por fatores de crescimento, produzidos em patogênicas, nas
resposta ao estresse mecânico ou a outros estímulos. Na quais as células
hipertrofia, as células aumentam de tamanho devido a uma tentam contornar
a agressão que
maior produção de proteínas estruturais e organelas. Outra
sofrem.
característica da célula hipertrófica é capacidade limitada
de divisão celular.

010
unidade 1
Patologia Geral

FIGURA 3 - Células normais, células com hiperplasia, células com hipertrofia e células com
hiperplasia e hipertrofia]

Fonte: DESIGNUA(a), 123RF [Adaptada].

Estudo de caso
Influência de treinamento com variação de peso na hipertrofia muscular

Relacionar os aspectos de adaptação celular em termos de hipertrofia com

a prática de exercícios físicos.

As células musculares expostas ao stress mecânico do sobrepeso durante

o exercício respondem aumentando de tamanho devido ao aumento da

síntese de proteínas estruturais e organelas. Esse processo é chamado

hipertrofia. Ciente desse fato, um treinador procura otimizar o ganho de

massa muscular de 8 atletas do sexo masculino, com idades entre 20-26

anos, com nível intermediário de treinamento (1 a 2 anos contínuos) visando

hipertrofia. O treinador suspeita que possa existir diferença na hipertrofia se

011
unidade 1
Patologia Geral

os pesos são constantes ou se variam entre os treinos. O grupo é dividido em

dois. No primeiro grupo, os 4 atletas são submetidos a treino sem variação

no peso ao longo de 8 semanas, usando sempre 75% da carga máxima

para cada atleta. Concomitantemente, os outros 4 atletas são submetidos a

treino com variação de peso, que, inicialmente, aumentou e, depois, diminuiu

ao longo das 8 semanas em relação à carga máxima de cada atleta (início

60% -> 70% -> 75-80% -> 50-60%). Um teste estatístico válido apenas para

esses grupos de atletas não indicou diferença entre os grupos. Contudo, no

grupo submetido à variação, houve ganho de massa magra e diminuição da

gordura corporal. Desse modo, do ponto de vista celular, houve hipertrofia

com a variação dos pesos ao longo do treinamento. As células musculares

dos atletas desse grupo, ao longo do tempo, sintetizaram mais matéria do

que degradaram, resultando em mais massa magra. Nesse processo, existe

maior retenção de nitrogênio. No grupo com peso constante, a hipertrofia

celular alcançou um platô e estabilizou, uma vez que não existia necessidade

de recrutamento de células musculares adicionais. O método de variação de

pesos mostrou-se eficiente no ganho de massa magra, contudo perguntas

adicionais surgem: seria possível com mais variação aumentar ainda mais

a hipertrofia celular? A adaptação celular teria um limite de crescimento a

partir do qual ocorrem danos severos?

Conceitos e/ou teorias trabalhadas no estudo de caso: Hipertrofia das

células musculares via adaptação – treino estável – treino ondulante.

Questionamentos deste estudo de caso: Existe estabilização na hipertrofia

ou sempre é possível ir além? Quais seriam os limites da hipertrofia celular.

O que ocorre com a célula muscular, caso cresça demasiadamente?

Fonte: RAMALHO, V. P.; JÚNIOR, J. M. Influência da periodização do

treinamento com pesos na massa corporal magra em jovens adultos do

sexo masculino: um estudo de caso. Revista de Educação Física - UEM.

Disponível em: <http://ojs.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/

view/3469>. Acesso em: 06 jan. 2017.

012
unidade 1
Patologia Geral

2. Hiperplasia: é o aumento de células por divisão (Figura


03), devido ao estímulo hormonal ou a outros fatores de
crescimento. A hiperplasia é uma resposta adaptativa
que ocorre em células predispostas à divisão, ou seja,
células lábeis e quiescentes. Esse tipo de adaptação pode
acontecer juntamente com a hipertrofia, como ocorre
durante a gravidez no útero, decorrente de estímulo
hormonal. Existem dois tipos de hiperplasia fisiológica:
hormonal (estímulo de hormônio) e patológica (reposição
quando há perda ou remoção de um órgão). Também, tem
a hiperplasia patológica, que é causada por estimulação
excessiva de hormônios, por exemplo, a hiperplasia
endometrial, em que ocorre o aumento da espessura do
tecido devido à exposição excessiva ao estrogênio em
mulheres que não ovulam corretamente (Figura 4).

FIGURA 4 - Hiperplasia endometrial patológica

Fonte: DESIGNUA(b), 123RF [Adaptada].

013
unidade 1
Patologia Geral

3. Atrofia: o termo atrofia compreende uma terminologia


genérica, na qual pode ocorrer tanto uma modificação
volumétrica quanto uma modificação numérica das
células, do tecido em questão, frente ao estímulo.
Devemos destacar, fundamentalmente, que a resposta do
tecido frente a determinado estímulo irá de acordo com a
capacidade replicativa das células que o compõem. Dessa
forma, podemos utilizar o termo atrofia simples ou também
hipotrofia, quando ocorre uma redução dos constituintes
anabólicos de uma célula, frente, por exemplo, a uma
redução do suprimento sanguíneo ou de algum estímulo
trófico em tecidos com células que não se replicam, tais
como as células do tecido muscular (tecido muscular
estriado esquelético). Por outro lado, quando essa mesma
situação ocorrer em tecidos que apresentem células que
se replicam (p. ex.: epitélios) haverá uma redução numérica
das mesmas, compreendendo a chamada atrofia numérica
ou hipoplasia.

4. Metaplasia: é quando um tipo de célula diferenciada é


substituído por outro tipo mais resistente ao estresse, sendo
essa uma alteração reversível. A metaplasia ocorre quando
a irritação é crônica. Além disso, surge a partir de células-
tronco que ainda não se diferenciaram e pode resultar
em redução das funções ou tendência aumentada para
transformação maligna. Um tipo de metaplasia comum é o
que ocorre no sistema respiratório de um fumante, em que
células do tecido epitelial colunar ciliar são substituídas por
células do tipo escamosas estratificadas na traqueia e nos
brônquios, estas, por sua vez, são mais resistentes, mas
não secretam muco e perdem seus cílios, cuja função é a
remoção de particulados.

014
unidade 1
Patologia Geral

QUADRO 1 - Legenda da tabela


Tipo de
Caraterísticas
respostas

Hipertrofia Aumento do tamanho celular

Hiperplasia Aumento celular por divisão

Atrofia Redução do tamanho e/ou número celular

Modificação de um tipo celular diferenciado


Metaplasia
em outro

Fonte: KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013 [Adaptado].

Etiopatogênese geral da Quando a


capacidade

lesão celular adaptativa


se excede ou
o estresse
Até o momento, tratamos das adaptações celulares em resposta a interno/ externo
uma alteração fisiológica ou agente nocivo. A partir de agora, vamos
é inerentemente
nocivo, a
tratar de quando elas não se adaptam e são lesionadas. Neste lesão celular é
tópico, abordaremos os tipos de lesões, suas causas, mecanismos desenvolvida
e modificações morfológicas celulares e teciduais.

Quando a capacidade adaptativa se excede ou o estresse interno/


externo é inerentemente nocivo, a lesão celular é desenvolvida
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). Lesão é um conjunto de alterações
morfológicas, moleculares e fisiológicas que surgem nas células e
em tecidos após a exposição ao estresse ou ao agente nocivo. Essas
alterações se iniciam e tendem a evoluir ao longo da exposição.
O ponto de partida da lesão é a nível molecular, que resulta em
alterações funcionais e morfológicas (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Se a lesão não for intensa, e o estímulo for removido, a célula pode


voltar ao seu estado de equilíbrio, e essa lesão é caracterizada
como reversível. Entretanto caso o estresse seja grave, persistente

015
unidade 1
Patologia Geral

e de início rápido, isso resultará em lesão irreversível, caracterizada


pela morte celular. A morte celular é resultante de vários processos,
como isquemia (redução do fluxo sanguíneo), infecção, toxinas
e reações imunes (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). Temos dois
principais tipos de morte celular: a necrose e a apoptose, que serão
discutidos com mais detalhes no final deste capítulo.

Não se sabe muito bem qual o limite para uma lesão reversível se
tornar irreversível, mas, quando a alteração atinge o núcleo e as
membranas celulares, ela se torna irreversível. Ou seja, se o agente
nocivo continuar agindo sobre a célula, ela pode evoluir para um
estágio de morte celular. Caso a célula ainda estiver no estágio
reversível e o estímulo nocivo for removido, as alterações morfológicas
e funcionais retornam ao seu estágio normal (homeostasia).

QUESTÃO 3 - Lesão celular ocorre na célula mediante um agente nocivo


ou estresse ao qual a célula não foi capaz de se adaptar. A lesão ocorre,

primeiramente, a nível molecular, atingindo a célula, depois, os tecidos até

atingir os órgãos. Com referência aos tipos de lesão que ocorrem na célula,

é correto afirmar que:

a. A morte celular pode ocorrer devido à persistência do dano

na célula ou por uma lesão rápida e abrupta, como no caso de

isquemias absolutas ou infecções.

b. A lesão constitui mudanças morfológicas e fisiológicas na célula,

porém seu início tende a ser em organelas específicas, evoluindo

para toda célula em seguida.

c. Existem três tipos de lesões: reversíveis, irreversíveis e

estabilizadoras.

d. O limite entre uma lesão reversível e uma irreversível sempre será

o tempo de evolução da lesão na célula.

e. O tipo de lesão celular dependerá da capacidade adaptativa da

célula exposta.

O gabarito se encontra no final da unidade.

016
unidade 1
Patologia Geral

Lesões reversíveis
Lesões reversíveis também chamadas de degenerações apresentam
funções reduzidas e podem acumular substâncias como: água
(degeneração hidrópica), lipídeos (degeneração gordurosa), proteínas
(degeneração hialinas); muco (degeneração mucóides) e carboidrato
(degeneração glicogênica) (MONTENEGRO; FRANCO, 2008).

As células podem acumular substâncias no citoplasma ou no núcleo,


devido à remoção inadequada de substâncias que não podem ser
metabolizadas, ou, em alguns casos, a célula pode armazenar
material exógeno ou produtos de processos patológicos que ocorrem
em outras partes do organismo (GROSSMAN; PORTH, 2016).

Essas substâncias podem se acumular de forma permanente ou Substâncias


transitória, podendo ou não fazer mal ao organismo e ocorrer de normais, como
lipídios, proteínas,
forma natural. Mas quando encontradas em uma concentração
carboidratos,
maior que o normal, caracterizam as lesões reversíveis. Substâncias melanina e
normais, como lipídios, proteínas, carboidratos, melanina e bilirrubina, podem
bilirrubina, podem ser acumuladas a partir de outras doenças
ser acumuladas
a partir de
concomitantes. Existem, também, as substâncias que se originam outras doenças
de erros inatos do metabolismo e aquelas provenientes de agentes concomitantes.
e pigmentos ambientais, que não podem ser degradados pela célula
(GROSSMAN; PORTH, 2016).

O acúmulo de substâncias ocorre quando a taxa de síntese supera


a da sua remoção. Um bom exemplo é o acúmulo de gorduras
neutras no citoplasma comumente encontrado no fígado, coração e
rim. Pessoas com diabetes liberam mais ácido graxo para o fígado
e o alcoólatra aumenta a gordura nos hepatócitos. Já o aumento de
glicogênio é mais recorrente no fígado, no coração e na musculatura
esquelética, devido aos erros inatos do metabolismo (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013). Existem, pelo menos, 10 distúrbios genéticos que
afetam o metabolismo do glicogênio, mas a maioria leva ao acúmulo
de reservas de glicogênio intracelular (GROSSMAN; PORTH, 2016).

017
unidade 1
Patologia Geral

A doença de von Gierke é um dos tipos mais comum de problemas


inatos de glicogênio. Essa doença é caracterizada pelo acúmulo
de glicogênio devido à deficiência da enzima glicose-6-fosfatase
que não permite com que ocorra a retirada do fosfato da glicose
6-fosfato e liberação de glicose livre. Outro exemplo de erro inato
é a doença de Tay-Sachs, uma gangliosidose, em que os lipídios
anormais se acumulam no cérebro e em outros tecidos, causando
deterioração motora e mental (GROSSMAN; PORTH, 2016).

Outras substâncias que podem se acumular nas células são os


pigmentos, que podem ter origem do próprio organismo (endógeno)
ou de fora do organismo (exógeno). O pigmento exógeno mais
comum é o carbono (poluente), que pode ser fagocitado por
células, principalmente macrófagos, presentes nos linfonodos e no
parênquima pulmonar, escurecendo-os. Um pigmento endógeno é
a bilirrubina, que causa a pigmentação amarelada nos tecidos. Isso
ocorre, fundamentalmente, quando há um aumento na produção
As causas de lesões
de bilirrubina pela destruição precoce ou aumentada das hemácias são denominadas
ou pela incapacidade de remoção desse pigmento. Outro pigmento agressões ou
endógeno é a lipofuscina, pigmento de tonalidade castanho-claro,
agentes nocivos.
proveniente do acúmulo de resíduos da digestão incompleta de
restos celulares durante a renovação celular (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013; GROSSMAN; PORTH, 2016).

Causas das lesões

As causas de lesões são denominadas agressões ou agentes


nocivos. Independente do agente causador da lesão, pode-se ter duas
ações no organismo: ação direta, quando o agente atua diretamente
ao nível molecular, culminando em modificações morfológicas, e
ações indiretas, em que os mecanismos de adaptação são ativados
para neutralizarem a agressão, e esses mecanismos, por sua vez,
causam modificações moleculares (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

018
unidade 1
Patologia Geral

São inúmeros fatores e agentes que podem levar a uma lesão celular,
como: privação de oxigênio, agentes químicos, agentes infecciosos,
reações imunológicas, fatores genéticos, desequilíbrio nutricional,
agentes físicos e envelhecimento. A gravidade dependerá da
natureza, da intensidade, do tempo de ação e das características
fisiológicas e nutricionais da célula que recebe o estímulo negativo
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). A seguir, apresentamos os
principais tipos de agentes.

• Privação de oxigênio: a redução de fornecimento de oxigênio


é denominada hipóxia e, quando ocorre a privação total de
oxigênio, é anóxia. Ambas são causas frequentes de lesões.
O oxigênio é extremamente importante para a célula, pois
está envolvido no processo de produção de energia (ATP),
além disso, o oxigênio é mediador de diversas reações
metabólicas. A falta de oxigênio pode estar relacionada à
obstrução do fluxo sanguíneo. As modificações que ocorrem
na célula devido à hipóxia são: redução na síntese de ATP
na cadeia respiratória, que, por sua vez, reduz as oxidações
e o bombeamento de eletrólitos nas membranas celulares;
redução das sínteses celulares; aumento de triglicerídeos, ou
seja, acúmulo de lipídeos (BRASILEIRO-FILHO, 2006). Esses
mecanismos de alterações serão descritos mais adiante.

• Agentes químicos: existe uma grande diversidade de


substâncias químicas que podem desencadear alterações
celulares, mesmo substâncias indispensáveis para célula
podem se tornar agentes nocivos em excesso, como a
glicose e os íons. Os agentes conhecidos como venenos
atuam na degradação da membrana celular, alterando
todo o equilíbrio osmótico e, também, podem inativar
enzimas e cofatores (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).
Outras substâncias químicas estão no nosso dia a dia
e são grandes vilões celulares, tais como: o monóxido de
carbono, álcool e metais pesados (chumbo e mercúrio).
As substâncias químicas podem causar modificações no
genoma, transformação nas moléculas, ou, ainda, atuar

019
unidade 1
Patologia Geral

como antígeno, induzindo resposta imunitária humoral


(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

• Agentes patogênicos biológicos: existe uma grande


diversidade de agentes patogênicos, como vírus, bactérias,
fungos e protozoários que podem invadir o organismo e
ocasionar doença. O agente pode atuar invadindo a célula,
proliferando-se e causando a morte celular por ruptura, ou,
também, por liberação de toxinas e antígenos, promovendo
a ativação do processo inflamatório e indução de resposta
imunitária (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

• Reações imunológicas: o sistema imunológico tem como


função proteger o organismo de agentes infecciosos. As
reações imunológicas, entretanto, podem causar lesões,
como nas reações autoimunes, quando os alvos são as
próprias células do organismo ou reações alérgicas a
substâncias do ambiente. Os anticorpos podem lesar
o funcionamento da célula, inibindo ou estimulando
uma função. Assim, quando os anticorpos se ligam aos
receptores celulares pode ser estimulada uma reação
inflamatória (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

• Fatores genéticos: mutações nos genes e alterações


cromossômicas resultam em doenças. As alterações
genéticas podem levar à falta ou à redução de proteínas
funcionais e defeitos enzimáticos.

• Desequilíbrio nutricional: a célula, em seu funcionamento


normal, necessita de proteínas, lipídios, vitaminas e
minerais. Grande parte dessas substâncias são obtidas por
meio de reações metabólicas e síntese proteica, entretanto,
existem algumas substâncias que precisam ser adquiridas
pela alimentação e, em sua ausência, pode acarretar
danos celulares. A falta de nutrientes e o excesso podem
ser fontes de lesões. A ausência de algumas vitaminas na
alimentação representa uma das principais causas de lesão
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

020
unidade 1
Patologia Geral

• Agentes físicos: força mecânica, extremos de temperatura,


radiação, choque, alteração brusca de pressão são
exemplos de agentes físicos que podem causar lesões.
Força mecânica causam lesões traumáticas que podem ser
representadas por feridas abrasivas, laceração de tecidos,
torções, corte e perfuração (BRASILEIRO, 2013).

• Envelhecimento: o envelhecimento celular leva a alterações


na habilidade de divisão e reparo celular e isso altera a
capacidade de responder as lesões, levando a morte celular
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Mecanismos das lesões


A molécula de
Existe uma diversidade de agentes nocivos, entretanto as lesões ATP é a principal
observadas não são tão diferentes assim umas das outras, isso fonte de energia,
porque os mecanismos de lesão celular são comuns aos diferentes indispensável para
reações de síntese
agentes lesivos (BRASILEIRO-FILHO, 2006).
proteica, lipogênese
e reações de
Um dos mecanismos é a redução da molécula de ATP na célula. A diacilação-
reacilação
molécula de ATP é a principal fonte de energia, indispensável para
reações de síntese proteica, lipogênese e reações de diacilação-
reacilação. Essa molécula é obtida, principalmente, pela fosforilação
oxidativa do difosfato de adenosina (ADP) e, na ausência de
oxigênio, pode ser obtida por meio da hidrólise do glicogênio. A falta
de oxigênio na célula reduz a produção de ATP, que desencadeia
diversos problemas na célula, como interrupção da síntese protéica
e redução de glicogênio que se transforma em ácido lático,
reduzindo o pH e prejudicando as atividades enzimáticas da célula
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Outro efeito da depleção de ATP é a redução da atividade da


bomba de Na+ e Ca2+ na membrana plasmática. Essas bombas
têm como finalidade a manutenção do equilíbrio osmótico. A falha
da bomba de Na+ provoca influxo de sódio e efluxo de potássio

021
unidade 1
Patologia Geral

celular, resultando no ganho osmótico de água, causado tumefação


celular. A falência da bomba de Ca2+ aumenta a concentração desse
elemento no citoplasma, o que desencadeia a ativação de diversas
enzimas, como as fosfolipases (degradam lipídeos), proteases
(clivam proteínas) e endonucleases (cortam o DNA), além disso,
dispara o processo de apoptose, que será discutido posteriormente
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

O ATP é produzido pela mitocôndria, que também é afetada pela


falta de oxigênio e pode ser atingida pela radiação e pelas toxinas
químicas. Danos à mitocôndria levam à fosforilação oxidativa
anormal, formando oxigênio reativo (radical livre). Esses radicais
livres são elementos químicos que possuem um único elétron não
pareado e, devido a isso, são extremamente reativos, atacando
ácidos nucléicos, lipídios e proteínas. Três espécies reativas de
oxigênio (ERO’s) podem ser produzidas e potencialmente lesivas aos
tecidos: Superóxido (O2-) - resultante do processo de extravasamento
do transporte de elétron mitocondrial; peróxido de hidrogênio (H2O2)
- produzido por diversas oxidases nos peroxissomos intracelulares;
hidroxila (OH) - formada em decorrência de reações com o H2O2,
sendo esta a mais reativa. Essas formas reativas podem ser geradas
em decorrência de fagocitose de bactérias pelos neutrófilos. Essas
ERO’S primárias causam lesões por reagirem com macromoléculas,
formando ERO’S secundárias, como o peroxinitrito (ONOO●), radicais
de peróxidos lipídicos (RCOO●) e ácido hipocloroso (HOCl) (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

Outro mecanismo comum nas células lesionadas é a alteração na


permeabilidade das membranas plasmáticas, isso porque ocorre
degradação e redução de lipídios e proteínas (componentes das
membranas) e modificações do citoesqueleto. Esses danos fazem
que os materiais dentro do lisossomo, mitocôndria e até da própria
célula extravasem resultando em morte celular.

Esses são mecanismos básicos que ocorrem em lesões e alteram a


funcionalidade e a morfologia celular.

022
unidade 1
Patologia Geral

“Mecanismos das lesões”


Autor: Ana Paula Lula Costa

QUESTÃO 4 - Quando a capacidade adaptativa se excede ou o estresse


externo é inerentemente nocivo, a lesão celular é desenvolvida. Lesão é um

conjunto de alterações morfológicas, moleculares e fisiológicas que surge

nas células após elas serem expostas ao estresse ou à agente nocivo.

Quanto aos mecanismos relacionados a lesões celulares, é correto afirmar:

a. O mecanismo responsável por cada lesão é dependente do grau e

da duração da lesão.

b. A lesão ocasionará a mesma resposta mecânica, independente

do tipo de célula lesionada.

c. Um dos principais mecanismos é o aumento da molécula de ATP

na célula, que gera várias disfunções fisiológicas e funcionais.

d. A lesão pode vir a mudar a permeabilidade da membrana celular,

devido, principalmente, à degradação de algumas substâncias na

célula.

e. O excesso da molécula de oxigênio na célula pode ocasionar

lesões celulares por reagir com macromoléculas presentes no

citoplasma celular.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Morfologia das lesões a nível celular


Primeiramente, o agente nocivo atua ao nível molecular, alterando
a quantidade e as moléculas disponíveis, o que acarreta um
desequilíbrio fisiológico, resultando na disfunção celular. Como
consequências, alterações morfológicas surgirão nas células,

023
unidade 1
Patologia Geral

como alteração na sua forma e tamanho. A seguir, vamos abordar


as principais alterações morfológicas que ocorrem nas células
lesionadas. No caso de lesões reversíveis, essas modificações
morfológicas podem ser reparadas, se o agente for removido.

As duas características morfológica mais representativas da


lesão reversível é a tumefação celular e a degeneração gordurosa
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). A tumefação é resultante do
aumento de água intracelular, sendo esse um incremento reversível.
Essa situação é causada pela redução de síntese de ATP, que, por
sua vez, interfere na eficiência da bomba de Na+, como explicado
anteriormente, que acarreta o aumento de água intracelular. Já a
degeneração gordurosa é representada pela presença de vacúolos
lipídicos no citoplasma e, geralmente, acontece a partir de quadros
de hipóxia e alterações metabólicas.
As duas
características
Um dos primeiros sinais, decorrentes da degeneração hidrópica
morfológica mais
e gordurosa, é a tumefação celular, inicialmente visível apenas representativas da
microscopicamente. Porém sua evolução pode ser facilmente lesão reversível é a
reconhecida, pois o órgão acometido apresentará uma coloração
tumefação celular
e a degeneração
pálida para a degeneração hidrópica, devido à compressão dos gordurosa.
vasos sanguíneos, e uma coloração amarelada para a degeneração
gordurosa, devido à presença de lipídeos. O exame microscópico
pode apresentar uns segmentos distendidos e separados do
retículo endoplasmático, esse padrão de lesão é presente na
alteração hidrópica. As células com vacúolo lipídico apresentam
coloração eosinofílicas.

Outras alterações morfológicas também podem aparecer, como


cisternas dilatadas do retículo endoplasmático, formação de
bolhas na membrana plasmática, calcificação mitocondriais,
desagregação de polissomos e envoltos por membrana e proteínas
aderidas (HANSEL; DINTZIS, 2007). Em contrapartida, as alterações
morfológicas e fisiológicas das lesões celulares irreversíveis são
incapazes de se restabelecer, mesmo quando retirado o estímulo.
Essas lesões culminam em morte celular, que pode ser via necrose

024
unidade 1
Patologia Geral

ou apoptose. Como discutidos anteriormente, essas lesões


decorrem, fundamentalmente, de modificações nas membranas,
alterações na mitocôndria, comprometendo a produção de ATP e de
alterações no núcleo.

A necrose é caracterizada morfologicamente por apresentar


alterações no citoplasma e no núcleo das células lesadas. Seu
citoplasma apresenta coloração rósea, devido à grande quantidade
de proteínas desnaturadas, que se ligam à eosina, e à redução
de RNA citoplasmático (perdendo basofilia). Além disso, com a
diminuição de glicogênio, o citoplasma fica mais vítreo e se torna
vacuolado, devido à degradação das organelas e do seu conteúdo.
Com a microscopia eletrônica, é possível perceber a descontinuidade
das membranas, a dilatação mitocondrial e o rompimento dos
lisossomos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).
Em relação às
alterações do
Em relação às alterações do núcleo na necrose, três padrões núcleo na necrose,
morfológicos podem se expressar: cariólise, picnose e cariorrexe
três padrões
morfológicos
(Figura 05). Independente do padrão, são resultantes da redução
podem se
acentuada de pH na célula morta e da digestão da cromatina e de expressar:
seu envoltório nuclear (ANGELO, 2016). A cariólise ocorre quando cariólise, picnose e
cariorrexe.
o núcleo apresenta coloração pálida, devido à dissolução da
cromatina. Já a picnose ocorre quando o núcleo fica reduzido e sua
cromatina hipercorada. A cariorrexe acontece quando esse núcleo
picnótico se fragmenta (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

025
unidade 1
Patologia Geral

FIGURA 5 - Célula com cariólise, célula com picnose e célula com cariorrexe

Fonte: Elaborada pelos autores.

Uma célula em apoptose apresenta seu núcleo condensado e o


DNA nuclear se rompe em fragmentos (cariorrexe). Além disso,
as células ficam retraídas e possuem brotos nos citoplasmas,
no final do processo, a célula está toda fragmentada em corpos
apoptóticos. Ao contrário da necrose, as membranas permanecem
morfologicamente intactas e não culminam em inflamações, pois
moléculas de reconhecimento expostas na superfície de células
apoptóticas estimulam a rápida fagocitose por macrófagos e células
vizinhas, evitando, desse modo, o extravasamento de conteúdo
celular. (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Morte celular: necrose e apoptose

A morte celular é a parada irreversível das atividades fundamentais


da célula, tornando-a incapaz de manter seus mecanismos de
homeostase. A partir do momento que o agente nocivo inicia a lesão,
a célula passa a desencadear uma série de fenômenos bioquímicos,
funcionais e morfológicos (MONTENEGRO; FRANCO, 2008). A
seguir, vamos discutir os dois tipos de morte celular, necrose e
apoptose, suas características, alterações fisiológicas, mecanismos

026
unidade 1
Patologia Geral

e, por fim, vamos apresentar as principais características distintivas


das duas formas de morte.

Como discutido anteriormente, necrose é um tipo de morte


celular que é provocado pela alteração da funcionalidade das
membranas, possibilitando que o conteúdo presente nas organelas
membranosas citoplasmáticas extravase e acelere o processo de
degradação enzimática. Além disso, o conteúdo citoplasmático
provoca uma inflamação local, fazendo que células inflamatórias
migrem e liberem enzimas para a remoção dos restos celulares.
Essas enzimas podem ser provenientes dos lisossomos das
próprias células (autólise) ou dos leucócitos (heterólise). Ambos
degradam proteínas, ácidos nucléicos, lipídios e glicose. Essas
células são fagocitadas por outras células ou são degradadas
em ácidos graxos, que, por sua vez, se ligam aos sais de cálcio, O conteúdo
resultando em calcificações distróficas (MONTENEGRO; FRANCO, citoplasmático
provoca uma
2008; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).
inflamação local,
fazendo que células
De acordo com Montenegro e Franco (2008), a dinâmica da inflamatórias
migrem e liberem
necrose celular tem sete estágios. O primeiro corresponde à
enzimas para a
célula em homeostase. A segunda ocorre quando se inicia a remoção dos restos
agressão, caracterizando-se, principalmente, pela dilatação do celulares.
retículo endoplasmático (RE), início da condensação da cromatina,
separação dos ribossomos do RE rugoso e aumento de água no
citoplasma (tumefação celular). No estágio três, as mitocôndrias
são condensadas e iniciam-se as tumefações e a formação de
bolhas ao longo das membranas. O estágio quatro é caracterizado
pela morte celular (necrose), sendo o momento em que, mesmo
se retirado o agente nocivo, a célula não consegue se recuperar.
No estágio cinco, ocorre degradação por autólise e desnaturação
proteica, que causam irregularidades na membrana. No estágio
seis, lisossomos começam a desaparecer e se formam grandes
vacúolos no citoplasma. Por fim, no estágio sete, sobram apenas os
restos das membranas e os fragmentos das organelas.

027
unidade 1
Patologia Geral

O mecanismo descrito, quando ocorre em várias células em um


tecido ou órgão, pode causar morte tecidual. Existem vários padrões
morfológicos distintos na necrose tecidual e essas características
visíveis podem estar relacionadas com as causas. Alguns dos
padrões de necrose encontrados são: coagulação, liquefativa,
gordurosa, caseosa e fibrinóide.

A necrose de coagulação ocorre quando a estrutura básica das


células sem núcleo é mantida por alguns dias. Isso ocorre porque,
além das proteínas, as enzimas são desnaturadas, bloqueando
a degeneração total da célula. O citoplasma possui aspecto de
substância coagulada. No tecido, a necrose de coagulação mostra-
se como uma área rosada e com textura rígida. Após alguns
dias, os macrófagos consomem as células necróticas e o tecido
é substituído por tecido cicatricial colagenoso. A causa mais
frequente dessa necrose é a isquemia, ela também é denominada
necrose isquêmica (BRASILEIRO-FILHO, 2006; HANSEL; DINTZIS,
2007; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A necrose liquefativa caracteriza-se pela dissolução de tecido,


transformando o tecido sólido em uma massa viscosa líquida, que
pode ser decorrente de uma reação inflamatória aguda. A necrose
liquefativa no cérebro pode levar à formação de cavidade ou cisto
permanente, sendo esse tipo de necrose típica no tecido nervoso,
suprarrenal e mucosa gástrica (BRASILEIRO-FILHO, 2006; HANSEL;
DINTZIS, 2007; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Já a necrose gordurosa, geralmente, é resultante da liberação


extracelular de lipases pancreáticas no tecido adiposo. Na
pancreatite, ácidos graxos podem ser combinados com cálcio que
se acumulam, formando áreas brancas visíveis (essa característica
auxilia no diagnóstico). No tecido com grande concentração de
teor de gordura, como o tecido mamário, a lesão traumática pode
provocar o surgimento de área irregular, branco-calcária (HANSEL;
DINTZIS, 2007; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

028
unidade 1
Patologia Geral

A lesão da tuberculose caracteriza a necrose denominada caseosa.


As micobactérias (agente etiológico da doença) estimulam a
formação de um padrão inflamatório do tipo granulomatoso.
Esse padrão inflamatório apresenta células gigantes, macrófagos
epitelioides, células mononucleares e um centro necrótico
característico resultante do tipo de padrão inflamatório e natureza
do agente. Macroscopicamente, esses fragmentos necróticos
grosseiros adquirem um aspecto semelhantes ao queijo cremoso
esbranquiçado, o que dá a nomenclatura da lesão (HANSEL;
DINTZIS, 2007).

A necrose fibrinóide corresponde ao acúmulo de fibrina de proteínas


plasmáticas com coloração rósea nas paredes de vasos sanguíneos
lesados e pode estar relacionada à artrite imunomediada (HANSEL;
DINTZIS, 2007).

Quando ocorre
A evolução da necrose dependerá do tipo de tecido e órgão. O tecido
cicatrização, o
pode se regenerar, cicatrizar, calcificar, encistar, ser eliminado ou tecido necrosado
evoluir para gangrena (BRASILEIRO-FILHO, 2006). é substituído por
tecido conjuntivo
cicatricial.
Se o tecido necrosado é capaz de se regenerar, os restos celulares
são reabsorvidos e os fatores de crescimento são liberados por
células parenquimatosas vizinhas. Quando ocorre cicatrização, o
tecido necrosado é substituído por tecido conjuntivo cicatricial. Nas
calcificações, o cálcio se liga ao tecido necrosado. No encistamento,
ocorre a proliferação de tecido conjuntivo em volta das células
mortas, formando uma cápsula. Quando têm agentes externos
agindo sobre o tecido necrosado, denomina-se gangrena. Podem ser
citadas a gangrena seca, que resulta do contato do tecido lesionado
com o ar, e a gangrena úmida ou pútrida, que resulta da ação de
microrganismos anaeróbios que liberam enzimas que irão liquefazer
os tecidos e produzir gás e bolhas (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Outro tipo de lesão irreversível é a apoptose, conhecida como morte


programada, sendo um fenômeno em que a célula é estimulada a
acionar uma cascata de sinalização que culmina na morte celular

029
unidade 1
Patologia Geral

(BRASILEIRO-FILHO, 2006). As células que estão programadas para


tal ativam enzimas que degradam o seu DNA e suas proteínas. Suas
membranas ficam intactas morfologicamente, entretanto, alteram-se
quimicamente para atrair a endocitose por células vizinhas rapidamente,
evitando reação inflamatória (KUMS; ABBAS; ASTER, 2013).

A apoptose pode acontecer em estados fisiológicos normais


ou em patológicos. Naturalmente, os tecidos que apresentam
constante renovação celular, o fazem por meio da apoptose. Essa
via é extremamente importante para eliminação de células que já
desempenharam sua função, para remodelagem de órgãos, para
controle da proliferação e diferenciação celular, eliminação de
células durante a embriogênese, eliminação de clones de linfócitos
de autorreconhecimento em processos imunológicos e células
mutantes (BRASILEIRO-FILHO, 2006; HANSEL; DINTZIS, 2007).

Notícia
Cérebros enormes não funcionam

A apoptose, morte programada da célula, ocorre de forma natural

nos organismos e, muitas vezes, pode ser benéfica. De acordo com a

reportagem intitulada “Cérebros enormes não funcionam”, redigida por

Stevens Rehen, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, cérebros grandes não são garantia de sucesso

de inteligência, devido a isso, estima-se que 70% das células no estágio

inicial da formação do cérebro sofram apoptose. Para saber mais sobre

quais são essas células, qual enzima envolvida nesse processo e os

motivos pelos quais elas são eliminadas, acesse o link disponível em:

<http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3035/n/cerebros_

enormes_nao_funcionam/Post_page/9>. Acesso em: 22 dez. 2016.

REHEN, S. Cérebros enormes não funcionam. 30 nov. 2012. Instituto

Ciência Hoje. Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/

id/3035/n/cerebros_enormes_nao_funcionam/Post_page/9>. Acesso em:

06 jan. 2017 [Adaptada].

030
unidade 1
Patologia Geral

A apoptose patológica é desencadeada por diversos fatores, como


vírus, radiação, hipóxia e substâncias químicas. Apoptose em
condições patológicas elimina células que estão geneticamente
alteradas ou com dano irreversível, sem provocar inflamação e
tentando causar o mínimo de alteração possível nos tecidos. As
principais condições patológicas são causadas por lesão de DNA,
acúmulo de proteínas não dobráveis e infecção viral. A temperatura
e a falta de oxigênio atingem, direta ou indiretamente (produção de
radicais livres), o DNA; caso o mecanismo de reparo falhe, a célula
entrará em apoptose. Em relação às proteínas impropriamente
dobráveis, elas são resultantes de mutação gênica ou radicais livres
(KUMS; ABBAS; ASTER, 2013).

Outra forma de ativação da apoptose é pela proteína p53. A


hipóxia e a depleção de ribonucleotídeos aumentam o nível dessa
proteína na célula. Quando a lesão do DNA é reparável, p53 provoca
interrupção do ciclo celular para permitir o reparo do DNA. No
entanto, quando a lesão do DNA é irreparável, p53 ativa a apoptose
(HANSEL; DINTZIS, 2007).

Independente do estímulo, a apoptose é resultante da ativação


das enzimas caspases, as quais provocam alteração funcional e
morfológica. As caspases possuem uma cisteína no sítio ativo e
clivam as proteínas em sítios com resíduos de ácido aspárticos. A
ativação dessa enzima pode ocorrer por meio de duas vias induzidas
por agentes e mecanismos diferentes: via mitocondrial (intrínseca
e principal forma) e via receptor de morte apoptose (extrínseca)
(BRASILEIRO-FILHO, 2006; KUMS; ABBAS; ASTER, 2013).

031
unidade 1
Patologia Geral

Notícia
As táticas da molécula assassina

A apoptose é ativada pelas enzimas caspases. Nessa reportagem,

realizada por Ana Paula Monte, descreve-se a importância de uma

molécula que controla as caspases, desencadeando a apoptose, que, por

sua vez, controla e modula a formação de tumores. Essa notícia aborda

como essa molécula pode ser útil na luta contra o câncer e contra doenças

degenerativas. A seguir, o link da reportagem, disponível em: <http://

www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/1478/n/as_taticas_da_molecula_

assassina/Post_page/1151>. Acesso em: 22 dez. 2016.

Fonte: MONTE, A. P. As táticas da molécula assassina. 27 jan. 2011. Instituto

Ciência Hoje. Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/

id/1478/n/as_taticas_da_molecula_assassina/Post_page/1151>. Acesso
Quando essas
em: 06 jan. 2017.
proteínas se
inserem na
membrana,
A mitocôndria tem papel importante na morte celular, pois formam-se canais
apresenta moléculas envolvidas na apoptose, como o citocromo que são utilizados
c e outras proteínas que neutralizam os inibidores da apoptose. O
pela citocromo c e
por outras proteínas
que determina se as caspases serão ativadas é a permeabilidade da para atingirem o
membrana mitocondrial que é controlada pelos 20 tipos de proteínas citoplasma.
da família Bcl-2. Quando ocorre uma lesão no DNA, ou a presença
de proteínas dobradas de forma anormal, ou, ainda, uma redução no
fator de crescimento da célula, grupo de sensores de proteínas BH3 é
ativado (pertence à família Bcl-2), que, por sua vez, ativa duas outras
famílias de proteínas que se intercalam na membrana plasmática: o
grupo de proteínas Bax e Bak. Quando essas proteínas se inserem na
membrana, formam-se canais que são utilizados pela citocromo c e
por outras proteínas para atingirem o citoplasma. Outra função dessas
proteínas (Bax e Bak) é a inibição das moléculas antiapoptóticas.
No citoplasma, o citocromo c tem como função ativar as caspases
que desencadeiam uma cascata de reações, culminando na
fragmentação nuclear (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

032
unidade 1
Patologia Geral

A via receptor de morte apoptose é ativada por moléculas da família


TNF (fator de necrose tumoral). A apoptose é iniciada por interações
de receptor-ligante na membrana celular. Quando receptores como
TNF e Fas são ativados, sequências de “domínio de morte” nas
caudas citoplasmáticas dos receptores servem como ancoragem
para proteínas do tipo caspases, iniciando, assim, a apoptose. As
caspases promovem a fragmentação da célula, degradando a
matriz nuclear e o citoesqueleto, além de ativarem nucleases que
degradam as nucleoproteínas e o DNA (HANSEL; DINTZIS, 2007).

Após a fragmentação do núcleo, as células apoptóticas atraem os


fagócitos, transferindo fosfolipídios da camada mais interna para
a mais externa da membrana citoplasmática e liberando fatores
solúveis.

Os processos de apoptose e necrose (Figura 06) podem coexistir.


A diferença básica é que, na necrose, ocorre o rompimento

FIGURA 6 - Morte Celular: apoptose e necrose

Fonte: DESIGNUA(c), 123RF [Adaptada].

033
unidade 1
Patologia Geral

da membrana plasmática e o extravasamento do material


citoplasmático que provoca uma inflamação, enquanto na apoptose,
a membrana morfologicamente não se altera, modificando apenas
sua composição para atrair fagócitos, a fim de eliminar a célula. A
apoptose depende de ATP para suas reações de fragmentação do
núcleo, caso a energia cesse, a célula entra em necrose.

“Morte celular”
Autor: Ana Paula Lula Costa

QUESTÃO 5 - A Quais as principais diferenças entre a morte celular por


apoptose e a morte celular por necrose?

O gabarito se encontra no final da unidade.

Alterações no interstício
Até agora, tratamos das alterações fisiológicas e morfológicas que
ocorrem em nível celular, que podem se agravar e atingir os órgãos
e os tecidos. A seguir, descreveremos algumas modificações
que ocorrem no interstício de células lesionadas (espaço entre as
células), como a calcificação e o processo de hialinização.

A calcificação é a deposição de cálcio em tecidos lesionados. Isso


pode ocorrer em valvas aórticas, dificultando e causando transtornos
no fluxo sanguíneo, no cérebro (toxoplasmose congênita), nos seios
(câncer de mama). A calcificação pode ocorrer em áreas de necrose
qualquer (calcificação distrófica), podendo causar disfunção do
órgão. Existe, também, a calcificação metastática, que ocorre em
tecidos normais, quando há grande acúmulo de cálcio (HANSEL;
DINTZIS, 2007; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

034
unidade 1
Patologia Geral

Depósitos homogêneos, vítreos e eosinofílicos (coloração rósea) no


interstício podem ser chamados de transformação hialina, sendo
que essa lesão pode estar presente frente a diversas doenças.
Alterações que usam o termo “hialina” incluem arteriosclerose
hialina, degeneração hialina nos hepatócitos de etilistas crônicos
e membranas hialinas pulmonares presentes nos processos de
Síndrome da angústia respiratória (HANSEL; DINTZIS, 2007).

Esperamos que tenha aproveitado bem o conteúdo desta Unidade


em seus estudos!

QUESTÃO 1 - Sugestão de resposta: Etiologia estuda as causas e

os fatores que originam a doença; patogenia estuda como os fatores

etiológicos iniciam as alterações celulares e moleculares que resultarão

em anormalidades estruturais e funcionais; fisiopatologia busca

compreender os efeitos adversos. A etiologia juntamente com a patogenia

e a fisiopatologia fornecem subsídios para prática da medicina, pois, para

elaborar diagnóstico e orientar a melhor forma de tratamento, é necessário

compreender a origem e como ocorre a evolução da doença.

QUESTÃO 2 - c) Correta. Quando a célula se depara com um estresse


ou estímulo nocivo, ela altera seus parâmetros para se adaptar à nova

situação. A célula pode responder de duas formas ao estresse fisiológico

e aos estímulos nocivos: adaptando-se à nova situação ou, caso não seja

capaz, sofrendo lesões que poderão ser reversíveis ou irreversíveis.

QUESTÃO 3 - a) Correta. Se a lesão não for intensa, a célula pode voltar


ao seu estado de constância e essa lesão é caracterizada como reversível,

caso o estresse seja grave, persistente e de início rápido, isso resultará em

uma lesão irreversível, caracterizada pela morte celular.

QUESTÃO 4 - d) Correta. A alteração na permeabilidade das

membranas plasmáticas decorre da degradação e da redução de lipídios

e proteínas (componentes das membranas) e das modificações do

citoesqueleto.

035
unidade 1
Patologia Geral

QUESTÃO 5 - Sugestão de resposta: A necrose é um tipo de morte

celular na qual é provocada pela degeneração das membranas, assim o

conteúdo dentro das organelas membranosas extravia e acelera o processo

de degradação enzimática. Além disso, o conteúdo citoplasmático provoca

uma inflação local, com isso células de leucócitos liberaram enzimas para

a remoção da célula lesionada. Já a apoptose é uma morte programada,

no qual a célula é estimulada a acionar uma cascata de sinalização que

culminam na morte celular As células ativam enzimas que degradam o seu

DNA e suas proteínas. Suas membranas ficam intactas morfologicamente,

entretanto, alteram-se quimicamente para atrair a endocitose por células

vizinhas rapidamente, evitando reação inflamatória, diferentemente da

necrose, que gera reações inflamatórias e até uma possível morte tecidual.

Sendo a necrose mais danosa ao organismo.

“Resumo da unidade”

036
unidade 1
UNIDADE
Inflamação e reparo

• Conceitos
gerais
• Inflamações
agudas e crônicas
• Classificação
morfológica das
inflamações
• Tecido
conjuntivo,
reparo,
regeneração e
cicatrização
Patologia Geral

Conceitos gerais
Nesta unidade, vamos conhecer o papel das células e das moléculas
no processo inflamatório, como esse mecanismo elimina os
agentes nocivos e, por fim, como ocorre o reparo da lesão por meio
de cicatrização ou regeneração.

Inflamação é uma reação protetora do organismo, cujo


objetivo é eliminar o agente nocivo e o tecido necrosado. Esse
processo compreende uma resposta complexa às partículas
estranhas, envolvendo as células lesionadas, os leucócitos, os
vasos sanguíneos, os mediadores químicos, as proteínas e o
plasma sanguíneo que atuam diretamente na eliminação ou na
neutralização do agente nocivo por meio de reações que medeiam e
reparam os tecidos lesionados. O processo de reparo caminha junto
à inflamação e envolve a proliferação de várias células para repor Inflamação é uma
as células lesionadas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; PEREZ, 2014). reação protetora
do organismo, cujo
objetivo é eliminar
O processo inflamatório pode vir a causar problemas sérios aos o agente nocivo e o
tecidos, pois também pode comprometer as células sadias, tecido necrosado.
prejudicando o funcionamento dos órgãos. Além disso, se o
dano for intenso e persistente, a inflamação pode causar dores
físicas, perda de função e febre (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013;
GROSSMAN; PORTH, 2016). Até meados do século XVIII, esse
processo era visto como uma doença. Só a partir das ideias de
Hunter, que defendia as respostas benéficas desse processo, a
inflamação passou a ser considerada uma resposta protetora
(MONTENEGRO; FRANCO, 2008). Contudo, hoje, sabe-se que,
sem esse processo, as lesões não se cicatrizariam e os agentes
infecciosos se proliferariam sem controle.

A primeira etapa da inflamação ocorre quando o tecido lesionado


libera mediadores químicos que se ligam às células do tecido
vascular e aos leucócitos e promovem a vasodilatação arteriolar e
o aumento da permeabilidade vascular, que facilita o recrutamento

039
unidade 2
Patologia Geral

de células sanguíneas, macromoléculas e plasma para o local


acometido (Figura 7). Os leucócitos atuam na remoção do agente
nocivo por meio de fagocitose. Um efeito negativo da ativação
de leucócitos é que eles podem comprometer as células sadias,
presentes naquele sítio, por meio da liberação de enzimas ou até
mesmo pela fagocitose. Com o intuito de reduzir esse efeito,
as células lesionadas liberam, após determinado momento,
pequenas quantidades de mediadores anti-inflamatórios que
reduzem os leucócitos nessa área. Quando o patógeno é removido,
a microcirculação se normaliza, algumas células inflamatórias
recirculam, o tecido necrosado é fagocitado e, por fim, ocorre a
cicatrização ou regeneração tecidual (BRASILEIRO-FILHO, 2006;
HANSEL; DINIZIS, 2007; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

FIGURA 7 - Processo de inflamação, reparo e sinais cardinais

Fonte: BRASILEIRO-FILHO, 2008 [Adaptada].

040
unidade 2
Patologia Geral

O processo inflamatório é autocontrolado e autolimitado. As


células mediadoras somente são ativadas mediante a presença de
um agente nocivo e são inativadas quando ele é eliminado. Mas,
caso o agente causador da lesão não seja removido, a inflamação
continuará e poderá provocar constante estímulo com modificações
na vasculatura local e em células inflamatórias residentes
(BRASILEIRO-FILHO, 2006; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Diversos tipos de células e macromoléculas estão envolvidos no


processo inflamatório, como: células endoteliais, que revestem
os vasos sanguíneos, leucócitos, células do tecido conjuntivo
(mastócitos, fibroblastos, macrófagos e linfócitos), proteínas
fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e
proteoglicanos da matriz extracelular e mediadores inflamatórios
que atuam na regulação da resposta inflamatória (GROSSMAN;
PORTH, 2016). As células
mediadoras
somente são
Devido às alterações vasculares e à ativação dos leucócitos, o ativadas mediante
processo de inflamação manifesta sinais, denominados sinais a presença de um
cardinais, que são: calor, rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), dor
agente nocivo e são
inativadas quando
e perda de função (Figura 7). O rubor e o calor são resultantes do ele é eliminado.
aumento da circulação; o tumor é consequência do aumento do
líquido intersticial; a dor está relacionada aos tipos de substâncias
que atuam nas terminações nervosas, presentes no líquido
acumulado; já a perda de função está associada a vários fatores,
principalmente ao edema e à dor (MONTENEGRO, FRANCO, 2008;
KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

As categorias inflamatórias são frequentemente nomeadas


adicionando-se o sufixo -ite ao órgão ou sistema lesionado. Por
exemplo, bronquite refere-se à inflamação dos brônquios, neurite
à inflamação de um nervo e apendicite à inflamação do apêndice.
Termos mais descritivos do processo inflamatório podem indicar se
o processo é agudo ou crônico e como foi ocasionado (GROSSMAN;
PORTH, 2016).

041
unidade 2
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - A inflamação, até meados do século XVIII, era vista como


uma doença. Só a partir das ideias de Hunter, que defendia as respostas

benéficas desse processo, a inflamação passou a ser considerada de

forma positiva pela comunidade científica. Com base no conceito de

inflação, assinale a resposta correta:

a. A inflamação consiste na eliminação ou na neutralização do

agente nocivo, mediando e reparando as células e o tecido

lesionado.

b. Inflamação é uma resposta patológica do organismo a um tecido

necrosado.

c. O processo de inflamação e reparo são situações distintas que

não ocorrem mutuamente.

d. A inflamação envolve a proliferação de células que repõem o

tecido lesionado.

e. A inflamação é caracterizada pela interrupção do fluxo sanguíneo

no local lesionado.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Estudo de caso
Inflamação no dia a dia: mordida de cachorro

Expor como conceitos a respeito da inflamação podem explicar uma

situação do dia a dia

Carlos tem cinco anos e está brincando no quintal com o cachorro de seu

tio, um vira-lata de porte médio. Apenas ele e o irmão de 12 anos estão em

casa no momento. O menino tropeça e, ao desequilibrar, pisa na pata do

cachorro, que reage mordendo o tornozelo da criança. Após cerca de uma

hora, o tio chega ao local e, ao inspecionar a ferida, percebe que está muito

inchada, um típico sinal de inflamação.

042
unidade 2
Patologia Geral

A inflamação é uma reação do corpo para remoção de um agente

patogênico. Junto a essa mordida, diversas bactérias podem estar

presentes. Geralmente, uma mordida de cachorro pode transmitir muitas

bactérias ao mesmo tempo. A mais frequente é a Pasteurella. Para

eliminar esses agentes infecciosos, o organismo recruta células de defesa

(leucócitos) e promove a vasodilatação para facilitar a chegada de outras

células sanguíneas até a lesão. O inchaço provocado pela mordida é um dos

sinais das alterações vasculares, da ativação dos leucócitos e do acúmulo

de células envolvidas nos processos de defesa. Outros sinais característicos

do processo inflamatório são calor, vermelhidão e dor. Depois que o tio

percebeu que a ferida estava inflamada, levou o Carlos ao postinho. Quando

chegaram, o médico indicou antibiótico para ajudar na defesa contra as

bactérias e anti-inflamatório para conter a inflamação e reduzir o inchaço.

Fonte: PINHEIRO, P. Mordida de cachorro – cuidados e tratamento. 18 maio

2016. Md. Saúde. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2015/12/

mordida-de-cachorro.html>. Acesso em: 06 jan. 2017.

FIGURA 8 - Inchaço no tornozelo decorrente da mordida do cachorro

Fonte: SURIYA SIRITAM, 123RF.

Conceitos e/ou teorias trabalhadas no estudo de caso: Conceito do que é

inflamação e seus sinais.

Questionamentos deste estudo de caso: Por que ocorre inchaço após

mordidas de cachorro? Qual é o processo fisiológico que explica o inchaço?

043
unidade 2
Patologia Geral

Notícia
Exercícios no combate a inflamações

Inflamação é uma defesa do organismo a um certo agente nocivo,

entretanto pode causar problemas, pois pode comprometer tecidos sadios.

Formas de combater inflamações excessivas, por meio do exercício,

são apresentadas na reportagem do link a seguir, a qual discute acerca

de como a prática de atividades físicas previne o desenvolvimento de

processos inflamatórios pulmonares agudos.

Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/1033/n/

exercicios_no_combate_a_inflamacoes>.

Fonte: SPATA, A. Exercícios no combate a inflamações. 24 jul. 2008.

Instituto Ciência Hoje. Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br/

noticia/v/ler/id/1033/n/exercicios_no_combate_a_inflamacoes>. Acesso

em: 06 jan. 2017.

Inflamações agudas e
crônicas
de acordo com Montenegro & Franco (2008), os processos
inflamatórios apresentam três fases. A primeira é a fase alterativa,
caracterizada pelas alterações resultantes da agressão. A segunda
etapa é a fase exsudativa, na qual ocorre a saída de líquidos e células
dos vasos sanguíneos. Por fim, há a fase produtiva, caracterizada
pelo reparo tecidual.

044
unidade 2
Patologia Geral

QUESTÃO 2 - Inflamação é uma resposta que tem o intuito de remover


o agente nocivo ou a célula lesionada. No processo inflamatório, ocorrem

diversas alterações moleculares e morfológicas. Diante disso, categorize

as três fases do processo inflamatório, de acordo com Montenegro &

Franco (2008).

O gabarito se encontra no final da unidade.

A inflamação pode ser aguda ou crônica e isso dependerá,


principalmente, da duração desse processo, do tipo de agente estranho
e do grau de lesão. A inflamação aguda é rápida e de curta duração,
já a crônica pode apresentar uma duração prolongada. Do ponto de
vista morfológico e funcional, as inflamações se caracterizam por
apresentarem o que se denomina exsudato, causados pelo aumento
da permeabilidade vascular, que possibilita que os líquidos e as células
sanguíneas se extravasem para região lesionada (MONTENEGRO,
FRANCO, 2008; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

O processo inflamatório agudo tem duração curta, variando de


alguns minutos até alguns dias, agindo logo após a agressão leve e
controlada. Nesse processo inicial, ocorre a exsudação de líquidos,
de proteínas plasmáticas e de leucócitos, predominantemente
neutrófilos, para tecidos extravasculares. O processo inflamatório
crônico, por sua vez, tem duração mais longa, que varia de dia até
anos, e está relacionado à existência de linfócitos e macrófagos,
à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à necrose tecidual.
Geralmente, esses dois tipos de inflamação coexistem e diversos
fatores podem influenciar suas características (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013; CROSSMAN; PORTH, 2016). A seguir, um quadro
indicando as principais diferenças desses dois tipos de inflamações.

045
unidade 2
Patologia Geral

QUADRO 2 - Diferença entre a inflamação aguda e crônica

Característica Inflamação aguda Inflamação Crônica

Duração Minutos ou horas (curto) Vários dias (longa)

Tipo celular exsudado Predominantemente neutrófilos Linfócitos e macrófagos

Lesão tecidual Lesão controlada Lesão progressiva

Fonte: KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013.

QUESTÃO 3 - Existem dois tipos de processos inflamatórios, a

inflamação aguda e a crônica e isso dependerá, principalmente, da

duração desse processo, do tipo de agente estranho e do grau da lesão.

Diante disso, descreva as principais diferenças entre a inflamação aguda e

a inflamação crônica em termos de duração e de características principais.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Inflamação aguda
Diversos são os estímulos que podem provocar uma inflamação,
dentre eles: agente biológico (vírus, bactérias, toxinas de bactérias,
protozoários, dentre outros organismos patogênicos), tecido
necrosado, partículas estranhas (madeira, vidro e sujeiras), reações
de hipersensibilidade (reação excessiva, muita vezes, indesejáveis)
e traumas (corte e penetração). Embora exista uma diversidade
de agentes, os mecanismos de inflamação são similares (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013; PEREZ, 2014).

O processo inflamatório agudo é a resposta imediata e precoce


contra um agente nocivo. A resposta serve para controlar e eliminar
células alteradas (GROSSMAN; PORTH, 2016). A inflamação aguda é
uma resposta rápida que causa alterações vasculares e emigração de
leucócitos. Os principais tipos de células que atuam nesse processo

046
unidade 2
Patologia Geral

são os neutrófilos. A principal forma de ativação do processo


inflamatório é a liberação de mediadores, como citocinas, aminas
vasoativas, algumas espécies de oxigênios reativos, dentre outros,
que serão discutidos posteriormente (HANSEL; DINTZIS, 2007).

Três principais alterações ocorrem no processo inflamatório:


mudança no calibre dos vasos (vasodilatação), aumentando
o fluxo sanguíneo; alteração estrutural da parede (aumento da
permeabilidade vascular) dos vasos sanguíneos, que permite que
proteínas e leucócitos saiam da circulação; acúmulo de leucócitos
no local da lesão, com o intuito de eliminar o agente causador da
lesão (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; PEREZ, 2014).

Primeiramente, ocorre o aumento do fluxo sanguíneo, decorrente


da vasodilatação das arteríolas (causando calor e vermelhidão)
juntamente com o aumento da permeabilidade vascular, que
permite que o líquido rico em proteína (exsudato) extravase para
os tecidos extravasculares. Consequentemente, as hemácias se
concentram e aumentam a viscosidade do sangue, reduzindo a
velocidade da circulação. A presença de aglomerado de hemácias
em vasos dilatados é denominada estase, e o aumento de líquidos
nos espaços teciduais provoca edema, dor e comprometimento
funcional. Após o aumento da permeabilidade e o extravasamento de
proteínas, a próxima etapa consiste na aproximação dos leucócitos
junto a região periférica vascular, que será discutido posteriormente
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; GROSSMAN; PORTH, 2016).

O líquido que sai dos vasos sanguíneos é rico em proteínas e


células e é chamado de exsudato. A formação do exsudato só é
possível devido ao aumento da permeabilidade vascular, que pode
ser induzida por histaminas, cininas, dentre outros mediadores
vasoativos que provocam aberturas dos poros das células
endoteliais. Outra forma de aumentar a permeabilidade é decorrente
de lesões celulares endoteliais diretas, promovidas por leucócitos
ou pelo próprio extravasamento vascular (MONTENEGRO; FRANCO,
2008; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

047
unidade 2
Patologia Geral

No processo de inflamação, o agente nocivo pode causar irritações


ao tecido por meio da liberação de substâncias, as quais se ligam
aos receptores das células lesionada e ativam mediadores, ou os
agentes lesivos podem induzir modificações em moléculas do
tecido, que também ativam mediadores. Ainda, a irritação pode
ser resultante da lesão direta da matriz extracelular, que provoca a
liberação de mediadores inflamatórios (BRASILEIRO-FILHO, 2007).

Essas irritações indicam sinais de perigos e são percebidas.


Células fagocitárias e células dendríticas (células comuns no
tecido conjuntivo, as quais capturam microrganismos) apresentam
receptores que detectam esses agentes nocivos e o tecido em
necrose. Esses receptores são denominados receptores de
reconhecimento de padrão (PRR) e conseguem detectar estruturas
ou padrões de moléculas presentes no agente patogênico.
Uma das células
Os receptores do tipo toll (TRLs), que são PRR, reconhecem mais importantes
lipopolissacarídeos, peptídeoglicanos, lipoproteínas, RNA de fita no processo
simples e dupla, DNA bacteriano e viral, dentre outros padrões inflamatório são
os leucócitos, cuja
moleculares associados aos patógenos, estimulando a produção
função é eliminar o
de proteínas mediadoras no processo de inflamação. Também, agente patogênico
existe um complexo de várias proteínas, que reconhece produtos por meio da
fagocitose
derivados de células mortas, como DNA, RNA, HSP, ácido úrico e ATP
extracelular, e ativa a proteína caspase 1, que, como consequência,
ativa as citocinas pró-inflamatórias (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Os mediadores que desencadeiam o processo de inflamação podem


ficar armazenados em células como mastócitos, terminações
nervosas ou, até mesmo, células endoteliais, macrófagos,
neutrófilos e células parenquimatosas. Exemplos de mediadores
são moléculas do grupo citocinas, quimiocinas, autacóides e
mediadores endógenos. Esses mediadores darão início ao processo
de vasodilatação e exsudação (BRASILEIRO-FILHO, 2007).

Uma das células mais importantes no processo inflamatório são


os leucócitos, cuja função é eliminar o agente patogênico por meio
da fagocitose, porém um possível efeito nocivo dos leucócitos é

048
unidade 2
Patologia Geral

destruir células sadias e causar o prolongamento da inflação. Para


eliminação dos agentes nocivos, os leucócitos devem ser recrutados
e ativados no local da lesão. O recrutamento se inicia com a
marginação e o rolamento ao longo da superfície endotelial, seguida
por ativação e aderência firme ao endotélio, por transmigração
entre células endoteliais e, por fim, migração em direção ao foco
inflamatório (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013) (Figura 9).

FIGURA 9 - Etapas do recrutamento de leucócitos para a área com agentes nocivos (bactérias)

Fonte: DESIGNUA(d), 123RF.

O processo inicia-se pela marginação e rolamento. Nessa fase,


os leucócitos transitam pelo interior dos capilares sanguíneos
e, como as hemácias são menores, tendem a se mover mais
rápido. Como resultado, os leucócitos são empurrados para fora
do eixo axial, entrando em contato com as células endoteliais
que revestem os vasos. Esse processo em que os leucócitos são
acumulados na periferia dos vasos é denominado marginação.
Logo após a marginação, os leucócitos rolam na superfície do vaso,

049
unidade 2
Patologia Geral

caracterizando o processo de rolamento. Essas adesões rápidas


são mediadas por receptores denominados selectinas (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013; PEREZ, 2014).

A próxima etapa é a ativação e adesão dos leucócitos. Em uma


inflamação, substâncias denominadas quimiocinas são secretadas
por diversas células, essas substâncias ativam os leucócitos e
alteram a conformidade das proteínas chamada integrinas, que
medeiam a adesão dos leucócitos às superfícies endoteliais. Após
isso, a próxima etapa é a transmigração, que é quando os leucócitos
migram através das paredes dos vasos, espremendo-se contra as
junções intercelulares (diapedese); para facilitar a migração, ocorre
a secreção de colagenase, que degrada a membrana basal das
células endoteliais. Por fim, os leucócitos chegam ao local da lesão e
se ligam a diversas substâncias químicas, esse processo denomina-
Os leucócitos
se quimiotaxia. Essas substâncias, como citocinas, componentes reconhecem
do sistema do complemento (moléculas C3 e C5), são produzidas as estruturas a
em resposta à lesão (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; PEREZ, 2014). serem fagocitadas
por meio de
substâncias
Ao chegar ao local da lesão, os leucócitos podem ser ativados produzidas por
por microrganismos, tecido necrosado e pelos mediadores microrganismos ou
aderidas a eles.
inflamatórios. Quando ativos, os leucócitos destroem os
microrganismos e as células mortas, fagocitam partículas e podem,
também, produzir mediadores, tais como citocinas e os metabólitos
de ácido araquidônico, que acentuam o processo inflamatório e
recrutam mais células de defesa (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Os leucócitos reconhecem as estruturas a serem fagocitadas por


meio de substâncias produzidas por microrganismos ou aderidas a
eles. Essas substâncias que se aderem são denominadas opsoninas
e os representantes mais importantes são as IgG (Imunoglobulinas
G) e o fragmento C3b do complemento. Essas moléculas se ligam
a receptores específicos, iniciando, assim, o processo de fagocitose
(BRASILEIRO-FILHO, 2006), é seguida pela ingestão, formando
vacúolo fagocítico e, por fim, morte ou degradação do material
ingerido (ABBAS et al., 2010).

050
unidade 2
Patologia Geral

Neutrófilos e macrófagos são leucócitos que apresentam atividade


fagocitária. Os neutrófilos são leucócitos com núcleos divididos
em três a cinco lobos, sendo frequentemente denominados
neutrófilos polimorfonucleares (PMN), sendo os mais abundantes
no processo de inflamação aguda. Outras células atuantes no
processo inflamatório são: plaquetas, que liberam os mediadores
responsáveis pelo aumento da permeabilidade vascular; eosinófilos,
basófilos e mastócitos, que produzem mediadores lipídicos e
citocinas (GROSSMAN; PORTH, 2016).

Os mediadores controlam a intensidade da resposta inflamatória,


sendo que a grande maioria induz seus efeitos por meio da ligação a
receptores específicos nas células-alvo, apresentando curta duração
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). Um exemplo de mediadores é o
grupo das citocinas produzidas principalmente por monócitos e
linfócitos. Dentre elas, a interleucina 1 e o fator de necrose tumoral
(TNF) que ativam reações metabólicas. Outro grupo de mediadores
são as aminas, como as histaminas e as serotoninas, que auxiliam
na vasodilatação e no aumento da permeabilidade vascular.
Outro tipo de mediador envolvido no processo de aumento da
permeabilidade são as cininas, como a bradicinina (MONTENEGRO;
FRANCO, 2008).

Um mediador também envolvido são os metabólitos do ácido


araquidônico, como protaglandinas, tromboxanos, leucotrienos e
lipoxinas. Prostaglandinas atuam na vasodilatação; os tromboxanos,
na vasoconstrição; os leucotrienos, na vasodilatação e aumento da
permeabilidade e as lipoxinas, na atividade tanto antinflamatória
quanto pró-resolução tecidual. Outros mediadores são as espécies
reativas de oxigênio, que promovem a destruição de microrganismos
e lesão tecidual e o óxido nítrico, que induz a vasodilatação arteriolar
e destruição microbiana (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A consequência da lesão aguda dependerá de qual é o tecido


afetado, sua duração e a natureza do agente lesivo. Essa lesão
poderá ser resolvida, ou seja, o agente nocivo será eliminado e

051
unidade 2
Patologia Geral

ocorrerá o reparo do tecido lesionado, retornando ao ponto inicial


histológico e funcional. Entretanto, quando a lesão não se resolve,
devido à persistência do agente nocivo, a situação progride para
uma inflamação crônica e evolui para um processo cicatricial. A
cicatrização acontece após a destruição dos tecidos que não são
capazes de se regenerar (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

“Inflamação Aguda”
Autor: Ana Paula Lula Costa

Inflamação crônica
Consideramos
Consideramos inflamação crônica aquela que é duradoura e inflamação
prolongada, com duração de semanas ou meses, e resulta, em muito
crônica aquela
que é duradoura
dos casos, da progressão de uma inflamação aguda. Sendo que o e prolongada,
ponto de transição entre esses dois processos inflamatórios pode com duração de
se dar quando não é possível a remoção do agente nocivo. Nesse semanas ou meses,
e resulta, em muito
caso, os processos de inflamação crônica se ativam, ocorrendo de
dos casos, da
forma simultânea com destruição e reparação tecidual. progressão de uma
inflamação aguda.
Diferentemente da inflamação aguda, que apresenta alterações
vasculares e exsudato rico em fibrina e neutrófilos, a inflamação
crônica apresenta infiltrados de células mononucleadas, como
macrófagos, linfócitos e plasmócitos, e envolve, também, a
proliferação de fibroblastos, como consequência, o risco de
formação de cicatrizes e deformidades é maior. Além disso, a
destruição tecidual é fracamente induzida pelos produtos das células
inflamatórias e o reparo consiste na proliferação de novos vasos
sanguíneos e fibrose. Suas principais causas podem ser infecção
persistente de difícil resolução, doenças de hipersensibilidade e
exposição prolongada a agentes tóxicos (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2013; GROSSMAN; PORTH, 2016).

052
unidade 2
Patologia Geral

As inflamações crônicas geralmente não apresentam os sinais


cardinais (rubor, dor, calor e tumor) e as características histológicas
e morfológicas dependerão do tipo de agente causador, por exemplo,
a inflamação causada por microrganismo de difícil eliminação
é caracterizada, principalmente, por linfócitos e macrófagos e,
provavelmente, ocorrerá morte celular e proliferação de vasos
(angiogênese). Independente da causa, a inflamação crônica é
consequência da permanência do agente agressor (MONTENEGRO;
FRANCO; 2008).

O exsudato celular das inflamações crônicas apresenta


particularidades relacionadas ao tipo de agente envolvido e ao
tempo de inflamação prolongado. O conjunto de modificações
morfológicas das células é denominado fenômenos produtivos da
inflamação.

Nesse contexto, os linfócitos, células derivadas de progenitores


linfoides da medula óssea, apresentam importante atuação nos
processos inflamatórios crônicos, por manifestarem diferentes
tipos de atuação que variarão de acordo com o subtipo presente.
Assim, os linfócitos podem apresentar ação direta sobre a célula-
alvo, como os LT CD8 citotóxicos, ou podem secretar tipos distintos
de citocinas e assim auxiliar na ativação de diversos tipos celulares
e, ademais, podem se diferenciar em plasmócitos, que derivam de
linfócitos B (LB) e se tornam produtores de anticorpos.

Outras células participam do processo inflamatório, como


eosinófilos associados à alergia (lesão por parasitos ou reações
imunes); mastócitos que liberam aminas vasoativas e ácido
araquidônico e produzem citocinas e quimocinas e macrófagos
que eliminam e reparam as lesões (MONTENEGRO; FRANCO; 2008;
KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Os macrófagos também representam uma das principais células


presentes nesse tipo de inflamação e são células derivadas dos
monócitos sanguíneos, sendo encontrados, principalmente, em

053
unidade 2
Patologia Geral

tecidos conjuntivos e órgãos como fígado, baço, linfonodos e


sistema nervoso central. Essas células atuam como filtro biológico
e são originadas de precursores na medula óssea. Quando os
monócitos chegam aos tecidos extravasculares se diferenciam em
macrófagos, que são células maiores e com maior capacidade de
fagocitose. Os macrófagos têm como função fagocitar e eliminar
microrganismos e tecidos mortos, além de iniciar o processo de
reparo, de formação de cicatriz, de fibrose e secretar mediadores,
como citocinas e eicosanoides (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A ativação desses macrófagos pode ocorrer, principalmente, por


duas vias: a clássica e a alternativa. Ambas as vias são recrutadas,
porém, inicialmente, a via clássica é ativada na tentativa de destruir os
agentes agressores, seguida pela ativação da alternativa, que inicia
o reparo tecidual. A via clássica é ativada por ligantes do receptor
A persistência e o
TLR, como as endotoxinas de bactérias, e por sinais provenientes tipo de antígeno
de célula T, como IFN-γ. Esses macrófagos produzem enzimas presente podem
lisossômicas, óxidos nítricos e espécies reativas de oxigênios que desencadear
um processo
atuam na destruição do agente patogênico fagocitado, além de
inflamatório que
citocinas que estimulam o processo inflamatório. Já a ativação é denominado
alternativa é induzida por citocinas do tipo IL-4 e IL-13, produzidas inflamação
granulomatosa.
por linfócitos T auxiliares, mastócitos e eosinófilos e seu principal
objetivo é reparar o tecido necrosado mediante a secreção de
fatores de crescimentos que atuam na formação de novos vasos
sanguíneos, ativação de fibroblastos e estímulo de síntese de
colágeno (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A persistência e o tipo de antígeno presente podem desencadear um


processo inflamatório que é denominado inflamação granulomatosa.
Esse processo apresenta como característica principal a presença
de macrófagos e seus derivados, como os macrófagos epitelioide,
os macrófagos ativados e as células gigantes. Esse padrão
pode formar estruturas organizadas denominadas granulomas.
Os granulomas são encontrados em certos tipos de doenças,
podendo se formar de três maneiras, fundamentalmente. A primeira
refere-se às respostas de células T a certos microrganismos

054
unidade 2
Patologia Geral

(como Mycobacterium tuberculosis) que liberam citocinas e


ativam, de forma crônica, os macrófagos. A segunda, às doenças
imunomediadas, como doença de Crohn, que é um tipo de doença
inflamatória intestinal. Esse padrão pode aparecer em resposta a
corpos estranhos relativamente inertes. A formação de granuloma
tem como objetivo eliminar o agente nocivo, mas nem sempre leva
à eliminação, podendo causar disfunção no órgão (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

Além desse padrão de inflamação granulomatosa, existe o de


inflamação crônica inespecífica, que se caracteriza pelo acúmulo de
macrófagos e de linfócitos no local de lesão. Além disso, ocorre a
proliferação de fibroblastos, com formação de cicatriz subsequente,
o que, em muitos casos, substitui o tecido conjuntivo normal ou os
tecidos parênquimas funcionais (GROSSMAN; PORTH, 2016).
As manifestações
sistêmicas mais
importantes de
“Inflamação Crônica.” um processo
inflamatório
Autor: Ana Paula Lula Costa
incluem aumento
de leucócitos no
sangue e febre.

Manifestações sistêmicas da
inflamação
Em algumas ocasiões, a resposta inflamatória pode resultar em
manifestações sistêmicas denominadas reações de fase aguda ou
síndrome da resposta sistêmica, que podem se agravar à medida
que mediadores inflamatórios vão sendo liberados na corrente
sanguínea, como citocinas TNF, IL-1 e IL-6. As manifestações
sistêmicas mais importantes de um processo inflamatório incluem
aumento de leucócitos no sangue e febre. Além disso, inflamações
agudas e crônicas localizadas podem se estender ao sistema
linfático e levar a uma reação nos linfonodos que drenam a área
afetada (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013; GROSSMAN; PORTH, 2016)

055
unidade 2
Patologia Geral

Outras manifestações são comuns, como: aumento da frequência


cardíaca e da pressão arterial; redução da sudorese, relacionada,
principalmente, ao redirecionamento do fluxo sanguíneo para os
tecidos vasculares cutâneos profundos, a fim de diminuir a perda de
calor através da pele; tremores, calafrios, anorexia, sonolência e mal-
estar, devido às ações das citocinas nas células cerebrais (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

QUESTÃO 4 - O processo inflamatório causa diversas alterações a nível


molecular e morfológico. Ocorre a vasodilatação nos vasos sanguíneos,

aumenta a permeabilidade vascular e as células e moléculas vão em

sentido ao agente nocivo causador da lesão para solucionar o problema.

Em relação às consequências do processo inflamatório, assinale a

alternativa correta:

a. A inflamação aumenta a funcionalidade dos órgãos ao redor do

tecido lesionado.

b. Por ser uma reação protetora do organismo, a inflamação não

lesiona as células sadias.

c. O processo inflamatório é caracterizado por causar danos

mínimos ao organismo.

d. A inflamação pode se espalhar para outros tecidos mesmo sem a

presença do agente nocivo.

e. A inflamação, caso for persistente, pode causar dores físicas e

febre.

O gabarito se encontra no final da unidade.

056
unidade 2
Patologia Geral

Classificação
morfológica das
inflamações
Como relatado anteriormente, existem dois tipos básicos de
inflamações: as agudas e as crônicas. Do ponto de vista morfológico,
nas agudas, existe um predomínio do material acumulado no
interstício tecidual (exsudato), enquanto nas crônicas, há a
prevalência de produtos resultantes da inflamação.

Em relação à morfologia das inflamações agudas, existem quatro


padrões que estão relacionados à característica do exsudato. Os
Do ponto de vista
tipos morfológicos de inflamação aguda (MONTENEGRO; FRANCO, morfológico, nas
2008; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013) são descritos a seguir. agudas, existe um
predomínio do
material acumulado
Inflamação serosa: caracterizada pelo extravasamento de um no interstício
fluido aquoso, com poucas macromoléculas e proteína, geralmente tecidual (exsudato),
originado do soro sanguíneo e de secreções das células mesoteliais. enquanto nas
crônicas, há
Pode ser encontrada principalmente em cavidades como a pleura, o
a prevalência
pericárdio e o peritônio. Um bom exemplo é a bolha cutânea pós- de produtos
queimadura. resultantes da
inflamação.
Inflamação fibrinosa: características de inflamações mais graves
e apresenta um líquido rico em macromoléculas. Nesse caso,
o aumento da permeabilidade vascular favorece a migração
mais intensa de células inflamatórias e de macromoléculas,
principalmente de fibrinogênio, que forma uma rede fibrosa.
Esse fenômeno pode ajudar na resolução da inflamação ou, se
acumulado em grandes quantidades, promover cicatrizes fibrosas
e endurecidas.

Inflamação supurativa ou purulenta: caracteriza-se por apresentar


exsudato rico em neutrófilos. Geralmente, é produzida quando
associada à presença de bactérias piogênicas. O exemplo mais

057
unidade 2
Patologia Geral

corriqueiro é a “espinha”. O abcesso é outro exemplo de inflamação


purulenta e compreende coleção de pus, que forma nova cavidade,
estando envolvida por membrana piogênica e que pode ser causada,
também, por microrganismos piogênicos (Figura 10).

FIGURA 10 - Abscesso na unha

Fonte: MRSBAZILIO, 123RF.

Dicas
O que são abscessos?

Você sabia que abscessos são resultados de infecções ocasionadas por

bactérias ou fungos. Além disso, é um exemplo comum decorrente de

lesão. O abscesso nada mais é do que um acúmulo de pus. Uma situação

bem comum onde abscessos ocorrem é quando os cantos das unhas

058
unidade 2
Patologia Geral

se inflamam, ocorrendo um pequeno acúmulo de pus, causando dor e

inchaço.

O inchaço é devido a uma maior vascularização da área para acesso de

células de defesa que irão lidar com a infecção. O pus é o resultado da

deposição de fibrina, agentes infecciosos mortos e restos celulares.

Portanto na maioria dos casos, um abscesso indica que o sistema de

defesa está em pleno funcionamento. Um exemplo contrário ocorre

nas pessoas imunodeficientes, que podem não produzir pus em um

machucado, pois seu sistema de defesa está comprometido.

Fonte: PINHEIRO , P. O QUE É INFLAMAÇÃO? O QUE É UM ABSCESSO? 14

jul. 2015. Md. Saúde. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2008/11/

o-que-o-pus-o-que-um-abscesso-o-que-uma.html>. Acesso em: 06 jan.

2017 [Adaptada].
As lesões
causadas por
inflamação crônica
Úlcera: é quando ocorre a perda de tecido em uma superfície de pele apresentam células
ou mucosa, podendo atingir os tecidos de maneira profunda, ou seja, monucleadas,
destruição tecidual
além da epiderme, atingindo derme, ou além da mucosa, atingindo
e tentativas de
submucosa. As úlceras podem ser consequências de traumas ou cura por meio da
toxinas de bactérias. Nesses casos, o exsudato inflamatório se substituição do
tecido lesionado por
acumula no fundo da úlcera para remover o tecido necrosado.
tecido conjuntivo

As lesões causadas por inflamação crônica apresentam células


monucleadas, destruição tecidual e tentativas de cura por meio da
substituição do tecido lesionado por tecido conjuntivo (KUMAR, et al.,
2010). Algumas dessas lesões são caracterizadas por ter acúmulos
de macrófagos, podendo, muitas vezes, formar granulomas, como
já foi descrito. Com a técnica de preparação com H&E habituais, é
possível ver esses macrófagos agregados, pois possuem coloração
rósea e sem limites celulares indistintos, similar a um epitélio, por
isso, esses macrófagos são denominados epitelioides. Ao redor
desses macrófagos, há linfócitos e, se for antigo, pode apresentar
uma orla de fibroblastos e de tecido conjuntivo (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

059
unidade 2
Patologia Geral

Quando os granulomas estão juntos com certos microrganismos


infecciosos, essa região possui aparência granular caseosa e é
por isso chamada de necrose caseosa, sendo que seu material
é formado por restos granulares amorfos e eosinofílico, com
perda total de detalhes celulares. A cura desses granulomas é
acompanhada de fibrose, que pode ser bastante extensa (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

Tecido conjuntivo,
reparo, regeneração e
cicatrização
O organismo humano tem a capacidade de substituir células
lesadas ou mortas e iniciar o processo de reparo aos tecidos após
ou durante a inflamação. O reparo, muitas vezes chamado de cura,
se refere à restauração morfológica e funcional do tecido após a
lesão. O reparo dos tecidos envolve, geralmente, dois processos
distintos: a regeneração e a substituição de células danificadas por
tecido conjuntivo (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A regeneração está relacionada à substituição das células lesadas


por células do mesmo tipo, sem deixar vestígios como cicatrizes e
geralmente estão relacionadas com lesões leves; já a substituição
de células lesadas por tecido conjuntivo, processo denominado
fibrose, deixa cicatrizes e está relacionada à lesão mais profunda
ou ao tipo de tecido acometido (Figura 11) (CONTRAN; KUMAR;
COLLINS, 2000; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

060
unidade 2
Patologia Geral

FIGURA 11 - Processos de reparo: regeneração e cicatrização

Fonte: KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013, p.58.

A regeneração acontece nos tecidos que são capazes de substituir


suas células e voltar suas atividades funcionais normais. Para que
ocorra a regeneração, as células restantes do tecido lesionado
devem apresentar capacidade de proliferação, ou seja, mesmo que
as células parenquimatosas morram, o estroma deverá permanecer
íntegro e ocorre a substituição, outra forma é a substituição por
células-tronco (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A substituição de células danificadas por tecido conjuntivo ocorre


em células incapazes de se regenerar, assim, o reparo ocorre por
deposição de tecido conjuntivo, formando cicatriz. Mesmo perdendo
a funcionalidade das células que estavam presentes antes da lesão,
a cicatriz fibrosa fornece estabilidade estrutural, tornando o tecido
restante funcional (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

061
unidade 2
Patologia Geral

Ambos os processos de reparo são determinados por


mecanismos semelhantes que envolvem migração, proliferação
e diferenciação celulares, bem como interação com a matriz
extracelular, sendo mediados por fatores de crescimento
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Regeneração

A regeneração dos tecidos é um processo no qual ocorre a


substituição de células lesionadas por células do mesmo tipo,
deixando pouca ou nenhuma evidência da lesão anterior. Está
intimamente relacionada à proliferação de células, que são
controladas por proteínas denominadas fatores de crescimentos.
Existe uma grande variedade de células que está envolvida na
regeneração do tecido, como as células do próprio tecido e células
endoteliais dos vasos sanguíneos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013;
GROSSMAN; PORTH, 2016).

A capacidade de regeneração varia de acordo com o tipo de célula


e de tecido. De acordo com Grossman e Porth (2016), as células
do corpo são divididas em três tipos, segundo sua capacidade de
regeneração: células lábeis, estáveis ou permanentes.

Células lábeis são aquelas que se regeneram com facilidade e


rapidez. Dividem-se e replicam-se durante toda a vida, substituindo
células continuamente destruídas. Exemplos de células lábeis são
epiteliais da superfície cutânea, da cavidade oral, da vagina e do colo
do útero; o epitélio colunar do sistema digestório, do útero e das
tubas uterinas; o epitélio de transição do sistema urinário; as células
da medula óssea.

Células estáveis são aquelas em que a capacidade de divisão dos


núcleos permanece quiescente na maior parte do tempo. Quando
acontece algum estímulo apropriado, são capazes de se regenerar,

062
unidade 2
Patologia Geral

reconstituir o tecido original. Essa categoria inclui as células do


parênquima hepático e renal, da musculatura lisa e do endotélio
vascular.

Já os neurônios são células que, se perdidas, não podem ser


substituídas, pois seus núcleos não podem se dividir. Células
permanentes ou fixas não são capazes de sofrer divisão mitótica.
A categoria de células permanentes inclui as células do sistema
nervoso, da musculatura esquelética e do músculo cardíaco. Essas
células não se regeneram, sendo substituídas por tecido fibroso de
cicatrização, perdendo suas características funcionais.

Notícia
Células-tronco podem se transformar em neurônios
A categoria
Células-tronco atuam na regeneração de tecidos e órgãos lesionados. de células
Essas células podem ser usadas em terapias. De acordo com essa permanentes
inclui as células do
notícia, as células-tronco de embriões no cérebro do rato formaram
sistema nervoso,
células nervosas. Essa reportagem descreve o lugar onde essas células da musculatura
são encontradas e diz como isso pode ajudar no tratamento de doenças esquelética e do
neurodegenerativas. músculo cardíaco.

Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/ciencia/021111_

celulalmp.shtml>. Acesso em: 23 dez. 2016.

Fonte: CÉLULAS-TRONCO podem se transformar em neurônios. 11 nov.

2002. BBC - Saúde & Tecnologia. Disponível em: < http://www.bbc.com/

portuguese/ciencia/021111_celulalmp.shtml>. Acesso em: 06 jan. 2017.

Células-tronco também podem ser fontes para a regeneração. Essas


células apresentam a capacidade de autorrenovação e, na divisão
celular, formam duas células, uma que vai dar origem a uma célula
adulta diferenciada e outra que permanece indiferenciada. Dois tipos
de células-tronco: as de embriões (células ES) pluripotentes, que
são células capazes de regenerar uma diversidade de outras células
e se localizam, principalmente, na medula óssea; as pluripotentes

063
unidade 2
Patologia Geral

induzidas (células iPS), que são resultantes de introdução de genes


em células maduras, que adquirem características de células-tronco
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Portanto, a regeneração de tecidos acontece mediante fatores


de crescimento, por meio da proliferação de células não lesadas
(residuais) e da substituição a partir de células-tronco. Os fatores
de crescimento estimulam as células vivas e a proliferação celular,
além de induzir a migração dessas células. Isso ocorre porque
essas moléculas se ligam a receptores específicos e influenciam
a expressão de genes, alterando a síntese proteica, estimulando a
divisão celular e inibindo a apoptose. Ou seja, o principal mecanismo
de atuação dessas moléculas está na ativação de genes que
controlam o crescimento, denominados proto-oncogenes, que,
muitas vezes, podem estar envolvidos com o desenvolvimento do
câncer (ANGELO, 2016).

Além dos fatores de crescimento, as proteínas do meio extracelular


são importantes, pois regulam a proliferação e a diferenciação
celular, sendo fonte de substrato e fatores de crescimentos. O meio
extracelular contém: proteínas fibrosas, como colágeno e elastina,
que proporciona tensão e flexibilidade; géis hidratados, como os
proteoglicanos, que permitem elasticidade e lubrificação; por fim,
glicoproteínas de adesão, que unem os componentes da matriz uns
aos outros e às células (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Cicatrização

O tecido responsável pelo reparo que resulta em cicatrização é o


tecido conjuntivo, que apresenta grande diversidade de células,
sendo que sua principal célula são os fibroblastos, que têm como
uma das funções sintetizar elementos da matriz extracelular, como
o colágeno. Outras células, como miofibroblasto (por apresentar
natureza contrátil, garante a retração da lesão), linfóctos, (pela

064
unidade 2
Patologia Geral

produção de citocinas e ativação de diversos tipos celulares), dentre


outros constituintes celulares, também possuem papel importante
no reparo da lesão (MONTENEGRO, FRANCO, 2008).

Danos severos e persistentes nos tecidos estão relacionados com


esse tipo de reparo que envolve a produção de tecido de granulação,
a formação de tecido cicatricial e a ativação de fibroblastos para
secretar fibronectina, ácido hialurônico, proteoglicanos e colágeno.
A fibronectina e o ácido hialurônico são os primeiros componentes
depositados na cicatrização de feridas e os proteoglicanos
aparecem posteriormente. A síntese de colágeno é importante
para o desenvolvimento de forças de tração no local da ferida de
cicatrização (GROSSMAN; PORTH, 2016).

O reparo mediante a substituição de tecido lesionado por tecido A fibronectina e o


conjuntivo consiste, a princípio, na formação de novos vasos ácido hialurônico
são os primeiros
(angiogênese – estimulados pela família de fatores de crescimento
componentes
VEGF) para a nutrição do tecido lesionado e o fornecimento de depositados
células. A segunda etapa consiste na migração e na proliferação de na cicatrização
de feridas e os
fibroblastos e na deposição de tecido conjuntivo. Por fim, ocorre a
proteoglicanos
maturação e a reorganização do tecido fibroso em forma de cicatriz. aparecem
O tempo de duração é de 3-5 dias; nas primeiras 24 horas, ocorre a posteriormente.
migração e a proliferação de fibroblastos e de células endoteliais.
Esse tecido reparado apresenta, inicialmente, um aspecto granular,
por isso é chamado de tecido de granulação. Esse aspecto se dá
pelo acúmulo de tecido conjuntivo, de leucócitos, proliferação de
vasos sanguíneos e deposição de substância fundamental amorfa
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

065
unidade 2
Patologia Geral

QUESTÃO 5 - Quando a célula está exposta a algum agente nocivo

ou estresse fisiológico, ocorrem alterações moleculares e morfológicas.

Juntamente com o processo de inflamação, resposta de proteção contra

agentes nocivos, pode ocorrer a regeneração. Avalie e assinale qual dos

conceitos referentes à regeneração está correto.

a. Processo que repara o tecido lesionado por meio do

preenchimento de tecido conjuntivo.

b. Processo caracterizado pela fibrose do tecido lesionado, tendo

como principal célula executora os fibroblastos.

c. Processo que constitui a resposta típica à lesão, no qual as

células do tecido lesionado são substituídas e o tecido retorna ao

seu estado normal.

d. Processo que constitui a resposta de epitélios, como a pele e o

intestino, que se caracteriza pela perda da funcionalidade no local

regenerado.

e. Substituição de células lesionadas por células adaptadas no

tecido, porém sem que ocorra a perda de sua funcionalidade.

O gabarito se encontra no final da unidade.

“Reparo tecidual”
Autor: Ana Paula Lula Costa

Notícia
Cicatriz não desaparece da pele, mas pode ser amenizada com tratamentos

Quando o tecido lesionado não consegue se regenerar, o reparo ocorre por

meio da deposição de tecido conjuntivo, formando-se a cicatriz, sendo essa,

muitas vezes, vista como vilã para a estética. Então, para resolver isso, há

formas de amenizar a cicatriz por tratamentos. Esta notícia mostra como

066
unidade 2
Patologia Geral

tratar a cicatriz provocada por acne. Disponível em: <http://g1.globo.com/

bemestar/noticia/2012/11/cicatriz-nao-desaparece-da-pele-mas-pode-ser-

amenizada-com-tratamentos.html>. Acesso em: 23 dez. 2016.

Fonte: CICATRIZ não desaparece da pele, mas pode ser amenizada com

tratamentos. 27 nov. 2012. G1 – Bem estar. Disponível em: <http://g1.globo.

com/bemestar/noticia/2012/11/cicatriz-nao-desaparece-da-pele-mas-

pode-ser-amenizada-com-tratamentos.html>. Acesso em: 06 jan. 2017

[Adaptada].

QUESTÃO 1 - a) Correta. Inflamação é uma reação protetora do

organismo cujo objetivo é eliminar o agente nocivo e o tecido necrosado.

Ela atua diretamente na eliminação ou na neutralização do agente nocivo

por meio de reações que medeiam e reparam as células e os tecidos

lesionados.

QUESTÃO 2 - A primeira é a fase alterativa, caracterizada pelas

alterações resultantes da agressão. A segunda etapa é a fase exsudativa,

na qual ocorre a saída de líquidos e células dos vasos sanguíneos. Por fim,

há a fase produtiva, caracterizada pela reparação.

QUESTÃO 3 - A inflamação pode ser aguda ou crônica e isso

dependerá, principalmente, da duração desse processo, do tipo de

agente estranho e do grau de lesão. A inflamação aguda é rápida e de

curta duração, já a crônica possui uma duração prolongada. O processo

inflamatório agudo tem duração curta, variando de alguns minutos até

alguns dias, agindo logo após a agressão leve e controlada. Nesse processo

inicial, ocorre a exsudação de líquidos e proteínas plasmáticas e de

leucócitos, predominantemente neutrófilos, para tecidos extravasculares.

O processo inflamatório crônico, por sua vez, tem duração mais longa,

que varia de um dia até anos, e está relacionado à existência de linfócitos

e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à necrose

tecidual. Geralmente, esses dois tipos de inflamação coexistem e diversos

fatores podem influenciar suas características.

067
unidade 2
Patologia Geral

QUESTÃO 4 - e) Correta. Em algumas ocasiões, a resposta inflamatória


pode resultar em manifestações sistêmicas denominadas reação de fase

aguda ou síndrome da resposta sistêmica. As manifestações sistêmicas

mais importantes de um processo inflamatório incluem aumento de

leucócitos no sangue (gerando dor localizada) e febre.

QUESTÃO 5 - c) Correta. A regeneração dos tecidos é um processo

no qual ocorre a substituição de células lesionadas por células do mesmo

tipo, deixando pouca ou nenhuma evidência da lesão anterior.

“Resumo da unidade”

068
unidade 2
UNIDADE
Distúrbios circulatórios

• Princípios da
circulação
• Distúrbios
circulatórios:
hiperemia/
congestão,
hemorragia,
choque,
trombose,
embolia,
isquemia, infarto
e edema
• Doenças
originadas
por distúrbios
no volume
sanguíneo
• Doenças
de natureza
obstrutiva
• Distúrbios na
dinâmica e na
distribuição de
líquidos
Patologia Geral

Princípios da circulação
Nesta unidade, serão abordados os distúrbios circulatórios. Antes de
apresentar um aprofundamento acerca dessas alterações, abordar-
se-ão noções gerais do sistema circulatório, como sua função e
seus constituintes.

O sistema circulatório é constituído pelo coração e pelos vasos


sanguíneos (Figura 12), através dos quais o sangue é distribuído para
os tecidos, levando oxigênio e nutrientes e encaminhando catabólitos
e gás carbônico para os órgãos responsáveis pela eliminação
dessas substâncias. Ainda, faz parte das funções desse sistema o
transporte de hormônios produzidos por glândulas endócrinas e de
agentes do sistema imunológico (WARD; LINDEN, 2014).

FIGURA 12 - Sistema circulatório formado por coração e vasos sanguíneos

Fonte: ELENABSL, 123RF.

071
unidade 3
Patologia Geral

Coração: é um órgão muscular tetracavitário, formado por átrios e


ventrículos (Figura 13), cuja função é bombear o sangue. Os lados
direito e esquerdo do coração são separados por uma parede
denominada septo interventricular. A comunicação entre o átrio e
o ventrículo do mesmo lado apresenta uma valva, que impede o
refluxo sanguíneo, dessa forma, o sangue circula em apenas uma
direção (WARD; LINDEN, 2014).

FIGURA 13 - Coração com seus compartimentos (Átrio e Ventrículo)

A comunicação
entre o átrio e
o ventrículo do
mesmo lado
apresenta uma
valva, que impede o
refluxo sanguíneo,
dessa forma, o
sangue circula em
apenas uma direção

Fonte: HEART…, [2017], on-line.

Dicas
Curiosidades sobre o coração

• O coração da mulher é, em geral, menor que o do homem.

• O coração tem, aproximadamente, o tamanho da mão fechada.

• Não se sabe a origem do símbolo que representa o coração, mas

há registros desse símbolo desde a era paleolítica, em pinturas

rupestres.

072
unidade 3
Patologia Geral

• O coração bate em média de 4.200 a 4.800 vezes em um único

dia.

• O coração do feto humano começa a bater 21 dias após a

fecundação.

• O primeiro transplante cardíaco aconteceu em 1967, na África do

Sul.

• É possível viver sem o coração. Alguns pacientes já tiveram o

coração substituído por bombas artificiais.

• A maior parte das arritmias cardíacas (vulgarmente conhecidas

como ataques cardíacos) acontece pela manhã, provavelmente

porque há uma maior descarga de adrenalina, hormônio que

aumenta os batimentos cardíacos.

• Rir faz bem ao coração, pois reduz a produção de hormônios do

estresse, como o cortisol, que pode causar problemas cardíacos.

Fonte: CORAÇÃO. Terra. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/

educacao/infograficos/curiosidades-coracao/>. Acesso em: 06 jan. 2017

[Adaptada].

Vasos sanguíneos: o sangue é levado do coração para os tecidos por


meio das artérias e de suas ramificações, chamadas arteríolas. As
menores ramificações dos vasos sanguíneos são os capilares, cujo
endotélio é formado por uma única camada de células, para permitir
a perfusão dos tecidos. No processo de trocas entre os capilares
e os tecidos, ocorre a nutrição e a oxigenação celular, bem como
a retirada de metabólitos resultantes de processos catabólicos.
Em seguida, os capilares sanguíneos se convergem originando
as vênulas, as quais, igualmente, se reúnem formando estruturas
mais calibrosas, as veias, sendo que ambas são responsáveis pelo
retorno sanguíneo (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Sangue: é um tipo de tecido conjuntivo com grande quantidade de


matriz extracelular, formado por duas partes – o plasma sanguíneo,

073
unidade 3
Patologia Geral

composto por grande quantidade de água, contendo proteínas


e eletrólitos dissolvidos, e os elementos celulares. As células
sanguíneas são as hemácias (glóbulos vermelhos ou eritrócitos),
que são responsáveis pelo transporte de oxigênio, os glóbulos
brancos (leucócitos), células de defesa do organismo e as plaquetas
(trombócitos), que são fragmentos celulares anucleados, responsáveis
pelo processo de coagulação do sangue (WARD; LINDEN, 2014).

Circulação sanguínea: é dividida em circulação pulmonar, que se dá


entre o coração e os pulmões, e circulação sistêmica, que ocorre
entre o coração e os tecidos do corpo (WARD; LINDEN, 2014).

O sangue que retorna dos tecidos é chamado de sangue venoso,


caracterizado pela grande quantidade de gás carbônico e pela baixa
oxigenação (o que o torna mais azulado). No retorno venoso, o
O sangue que
sangue chega ao coração no átrio direito pelas veias cava superior retorna dos tecidos
e inferior e é ejetado através da contração do átrio (sístole) para é chamado de
o ventrículo direito que se encontra relaxado (diástole) (WARD; sangue venoso,
caracterizado pela
LINDEN, 2014).
grande quantidade
de gás carbônico
Em seguida, o ventrículo direito entra em sístole e o sangue é e pela baixa
oxigenação
bombeado por meio das artérias pulmonares para os pulmões, onde
ocorrem trocas gasosas entre os capilares sanguíneos e os alvéolos
pulmonares. Essa troca permite a eliminação do gás carbônico
e a absorção de oxigênio. Nesse momento, o sangue passa a se
chamar arterial, pois está rico em oxigênio e apresenta coloração
avermelhada (WARD; LINDEN, 2014).

O sangue arterial retorna ao coração no átrio esquerdo em diástole


através das veias pulmonares. Posteriormente, o sangue passa para
o ventrículo esquerdo, que entra em sístole e bombeia o sangue
para todo o corpo por meio da aorta e de suas ramificações (WARD;
LINDEN, 2014).

Concomitantemente a circulação do sangue, o sistema linfático


atua na reabsorção do líquido chamado de linfa, que extravasa

074
unidade 3
Patologia Geral

durante as trocas metabólicas que acontecem na microcirculação


(a nível dos capilares sanguíneos) (METZE, 2011).

Princípio da manutenção dos processos hemodinâmicos:


A hemostasia é um processo fisiológico no qual o sangue é
impedido de sair dos vasos sanguíneos, em resposta a uma
lesão no endotélio vascular, até que o vaso possa ser reparado
(Figura 14). Mecanismos regulatórios locais e humorais reduzem
o fluxo sanguíneo por meio da vasoconstrição, que é a contração
da parede vascular. Em seguida, as plaquetas agregam-se para
formar tampões, que funcionam como uma barreira física para a
contenção do sangue (GROSSMAN; PORTH, 2016; KUMAR; ABBAS;

FIGURA 14 - Etapas da hemostasia

Fonte: DESIGNUA(e), 123RF [Adaptada].

075
unidade 3
Patologia Geral

ASTER, 2013).

Na sequência, é desencadeada uma cascata de sinalização, que


envolve fatores pró e anticoagulantes, e culmina na conversão de
fibrinogênio em fibrina. As fibras poliméricas da proteína fibrina
atuam como uma rede que retém hemácias e plaquetas, formando

o tampão hemostático, conforme esquematizado na Figura 15


(GROSSMAN; PORTH, 2016; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Alguns minutos
FIGURA após a de
15 - Esquema adequada formação
um tampão do tampão
hemostático. e sanguíneas
Células reparo envolvidas com fibrina
da lesão do vaso sanguíneo, o processo de hemostasia é
continuamente reduzido, ao passo que o da fibrinólise se destaca,

076
unidade 3
Patologia Geral

sendo que, nesse processo, ocorre a dissolução do “tampão


hemostático” (GROSSMAN; PORTH, 2016; KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013). Assim, pode-se concluir que a hemostasia tem
como objetivo controlar o sangramento quando houver uma lesão

celular. Distúrbios na hemostasia, para mais ou para menos, são


responsáveis, muitas vezes, por patologias associadas ao sistema
circulatório (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

QUESTÃO 1 - O que é homeostasia e qual o mecanismo envolvido

nesse processo fisiológico?

O gabarito se encontra no final da unidade.

Homeostasia é o processo de formação de um tampão


sanguíneo que impede o sangramento excessivo após uma lesão
celular. A hemostasia inadequada pode resultar em hemorragia
(extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos) e, caso seja
rápida e intensa, pode levar a um quadro de choque. Em casos
inadequados de formação do tampão (coagulação), ocorre a

trombose, que pode gerar a tromboembolia (fragmentos do


trombo na corrente sanguínea) e, se isso levar a obstrução dos
vasos sanguíneos, pode acarretar em isquemia e infarto (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013). Esses distúrbios circulatórios causados por
desequilíbrio serão abordados no próximo tópico.

Notícia
Hemofilia

077
unidade 3
Patologia Geral

A hemofilia é um distúrbio hemodinâmico de origem genética e hereditária,

que interfere nos fatores de coagulação do sangue, podendo causar

hemorragias prolongadas e espontâneas. Confira, no link a seguir, uma

reportagem a respeito desse assunto: <http://www.hemofiliabrasil.org.br/

hemofilia/o-que-e>.

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Distúrbios circulatórios:
hiperemia/ congestão,
hemorragia, choque,
trombose, embolia,
isquemia, infarto e
edema
Para a manutenção da circulação sanguínea adequada, é necessário
que as características morfológicas, o controle do fluxo sanguíneo e
a composição do sangue estejam normais, segundo os princípios
da hemodinâmica, que regem a fisiologia circulatória. Dessa
forma, anormalidades anatomofisiológicas do sistema circulatório
são relacionadas a doenças originadas por distúrbios no volume
sanguíneo ou de natureza obstrutiva (MOHAN, 2010). Além disso,

“Exemplos de Distúrbios
Circulatórios”
Autor: Isadora Oliveira

078
unidade 3
Patologia Geral

podem ocorrer distúrbios na dinâmica e na distribuição de líquidos


(MONTENEGRO; FRANCO, 2008).

Em relação aos distúrbios envolvidos na alteração do volume


sanguíneo, podem ser citados: hiperemia/congestão, hemorragia
e choque. Por outro lado, as alterações de natureza obstrutivas
são trombose, embolia, isquemia e infarto. No caso de distúrbios
hidrodinâmicos, o edema é um exemplo decorrente dessas
alterações.

Doenças originadas por


distúrbios no volume
sanguíneo Hiperemia consiste
no aumento da
quantidade de
Hiperemia e congestão sangue no interior
dos vasos de um
tecido, podendo ser
Hiperemia consiste no aumento da quantidade de sangue no interior expressa de duas
dos vasos de um tecido, podendo ser expressa de duas formas: ativa formas: ativa ou
passiva.
ou passiva. A hiperemia ativa é resultante da dilatação arteriolar e
do aumento do fluxo sanguíneo, podendo ser desencadeada por
exercícios (fisiológicas) ou, até mesmo, por processos inflamatórios
(alterações patológicas). Os tecidos com hiperemia apresentam
vermelhidão, devido ao aumento de sangue rico em oxigênio
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A hiperemia passiva, também chamada de congestão, é


consequência da redução da drenagem venosa, ocasionando
distensão das veias, vênulas e capilares (BRASILEIRO-FILHO, 2006).
A congestão apresenta uma coloração azul-avermelhada, devido

079
unidade 3
Patologia Geral

QUADRO 3 - Tipos de hemorragia

à presença de hemácias sem oxigênio (KUMAR; ABBAS; ASTER,


2013). De acordo com Brasileiro-filho (2006), as congestões mais
importantes são as dos pulmões, do fígado e do baço.

Hemorragia

A hemorragia é caracterizada pelo extravasamento do sangue


do interior dos vasos para o interstício e as cavidades corpóreas
(hemorragia interna), ou para fora do corpo (hemorragia externa)
(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Tipo de
Característica
hemorragia

Epistaxe Hemorragias nas fossas nasais

Sanfgramento em pequenos focos, maiores


Equimose
que as petéquias

Hemartrose Sangue nas articulações

Hematêmese Vômito de sangue

Sangramento circunscrito formando coleção


Hematoma
volumosa

Hematúria Sangue na urina

Hemopericárdio Sangue na cavidade pericárdica

Hemoperitônio Sangue na cavidade peritoneal

Hemoptise Expectoração de sangue

Hemotórax Sangue na cavidade pleural

Melena Sangue “digerido” eliminado nas fezes

080
unidade 3
Patologia Geral

Menstruação prolongada ou profusa, em


Menorragia
intervalos regulares

Sangramento uterino cíclico e fisiológico da


Mesntruação
mulher

Metrorragia Sangramento uterino irregular entre os ciclos

Otorragia Sangramento pelo conduto auditivo externo

Petéquia Sangramento puntiforme

Púrpura Múltiplos pequenos focos de sangramento

Sufusão Sangramento plano, difuso e extenso em mucosas

Fonte: BRASILEIRO-FILHO, 2006 [Adaptado].

O processo hemorrágico é nomeado de acordo com o local em


que ocorre e se apresenta o fluxo externo ou não (Quadro 1). Outra
classificação utilizada é aquela fundamentada no mecanismo de
sua formação, sendo classificada de acordo com a origem vascular
do extravasamento sanguíneo (BRASILEIRO-FILHO, 2006), conforme
descrito a seguir.

• Hemorragia por rexe: o sangramento é originado por ruptura


da parede vascular ou cardíaca, como consequência de um
traumatismo, do enfraquecimento da estrutura vascular por
doenças, como vasculites e hipertensão crônica, ou de um
aumento da pressão sanguínea, podendo acontecer em
crises hipertensivas, por exemplo.

• Hemorragia por diapedese: ocorre pela descontinuidade


da parede vascular, com o afrouxamento da membrana
basal do endotélio de capilares e vênulas, por onde as
hemácias são extravasadas individualmente. Esse tipo de
hemorragia pode ser causado por diversas desordens que
comprometem a homeostase do sistema circulatório, como
anóxia (falta de oxigênio), septicemias (infecção sanguínea)
ou reações alérgicas.

081
unidade 3
Patologia Geral

• Diátese hemorrágica: o sangramento ocorre de forma


espontânea ou após uma lesão, apresentando-se mais
intenso e prolongado do que o normal. A diátese hemorrágica
está relacionada a um grande número de doenças,
originadas por distúrbios em diferentes componentes do
sistema circulatório, podendo ser causadas por:

5. Anormalidades da parede vascular: pode ocorrer por


alterações nas fibras colágenas e elásticas e pela manutenção
de anastomoses embrionárias temporárias. Exemplos
de anomalias da parede vascular podem ser: doença de
Osler; deficiência de vitamina C (escorbuto), que resulta no
comprometimento da síntese de colágeno; enfraquecimento
do endotélio (elastose senil), devido à diminuição da síntese
de elastina e colágeno; alguns tipos de reações inflamatórias
que podem provocar necrose em arteríolas, como na púrpura
de Henoch-Schönlein; depósito de substância amiloide nos
vasos (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

6. Alterações nas plaquetas: a trompocitopenia é uma


desordem na quantidade de plaquetas, resultante da
baixa produção de plaquetas ou do aumento da retenção
e destruição dessas no baço (hiperesplenismo). Essas
alterações podem ser observadas em doenças como a
anemia aplástica, leucemias e a SIDA. Os distúrbios de
função plaquetária são chamados de trombocitopatias e
podem ser causados por doenças hereditárias, como a de
von Willebrand, ou adquiridas por reações medicamentosas
(GROSSMAN; PORTH, 2016)

7. Problemas nos fatores de coagulação: a deficiência ou a


disfunção de fatores de coagulação pode ocorrer devido a
doenças hereditárias, que agem na redução da síntese ou no
aumento do consumo desses fatores. Comparativamente
a outros quadros, o padrão de manifestação das
hemorragias, por problemas nos fatores de coagulação, é

082
unidade 3
Patologia Geral

intenso, acometendo, principalmente, as articulações, a


musculatura e o trato genitourinário. Na hemofilia do tipo
A, o fator de coagulação VIII não ocorre em quantidade
suficiente, enquanto na hemofilia do tipo B, isso ocorre em
relação ao fator IX (GROSSMAN; PORTH, 2016).

8. Aumento na fibrinólise: a fibrinólise é o processo pelo qual o


tampão hemostático é dissolvido para que ocorra o reparo
da lesão vascular (GROSSMAN; PORTH, 2016). Condições
congênitas podem provocar o aumento dos fatores de
fibrinólise ou a redução dos agentes inibidores desse
processo, resultando em hemorragia após pequenas lesões
vasculares que, normalmente, não causam sangramento
(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

As consequências de um processo hemorrágico dependem do local


em que ocorre a hemorragia, bem como da quantidade de sangue
perdido e da velocidade do extravasamento. Assim, podem ocorrer:
choque hipovolêmico, pela perda de grande quantidade de sangue;
anemia, pela perda crônica de sangue; asfixia, quando a hemorragia
acontece no pulmão; tamponamento cardíaco, em casos de infarto,
ruptura da atrial ou ventricular e lesões compressivas, como ocorre
nas hemorragias intracranianas (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Após o processo hemorrágico, as hemácias liberadas são lisadas


ou fagocitadas por células do sistema imunológico, resultando no
acúmulo de hemoglobina, proteína pigmentada responsável pela
cor vermelha das hemácias. A mudança de coloração observada
ao longo dos dias nos hematomas é resultante das transformações
As consequências
sofridas pela hemoglobina (BRASILEIRO-FILHO, 2006).
de um processo
hemorrágico
dependem do local
Estudo de caso em que ocorre
a hemorragia,
O uso da aspirina.
bem como da
quantidade de
sangue perdido e
083 da velocidade do
unidade 3 extravasamento.
Patologia Geral

Aplicar à prática do dia a dia o estudo dos distúrbios circulatórios

estudados.

O ácido acetilsalicílico (AAS), conhecido como aspirina, é utilizado para

prevenir o infarto, a doença vascular periférica ou o acidente vascular

cerebral (AVC) em pacientes de risco. No entanto, o uso constante e

diário da aspirina costuma provocar complicações gastrointestinais

nesses pacientes. Mas um estudo desenvolvido por pesquisadores

brasileiros concluiu que a ingestão de aspirina, a cada três dias, é

eficiente na prevenção dessas doenças e também evita as complicações

gastrointestinais causadas pelo uso diário do medicamento.

[...]

O ácido acetilsalicílico modifica a fase de agregação plaquetária, inibindo

assim o seu agrupamento sobre a região subendotelial dos vasos

sanguíneos. Por isso é que popularmente se diz que o AAS “afina” o sangue.

Por outro lado, ao mesmo tempo, a aspirina atua na mucosa gástrica,

diminuindo a produção de prostaglandinas citoprotetoras – substâncias

lipídicas que protegem o estômago e o intestino.

Conceitos e/ou teorias trabalhadas no estudo de caso: Hemodinâmica,

distúrbios do sistema circulatório, hemorragia.

Questionamentos deste estudo de caso: Apesar da indicação do ácido

acetilsalicílico para a prevenção e controle de algumas doenças, é

recomendada a interrupção do uso desse medicamento durante o período

pré-operatório. Por que o AAS não deve ser utilizado por pacientes que

serão submetidos a cirurgias?

Fonte: CRUZ, E. P. Tomar aspirina a cada três dias reduz risco de infarto,

aponta pesquisa. 28 ago. 2016. EBC - Agência Brasil. Disponível em: <http://

agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-08/tomar-aspirina-cada-tres-

dias-reduz-risco-de-infarto-aponta-pesquisa>. Acesso em: 07 jan. 2016.

084
unidade 3
Patologia Geral

QUESTÃO 2 - Hemorragia é um distúrbio caracterizado por

extravasamento sanguíneo. Referente a esse distúrbio, assinale a

alternativa correta:

a. Hemofilia do tipo A é uma doença genética que aumenta a

expressão do fator VIII de coagulação.

b. Hemorragia interna é decorrente de um extravasamento

sanguíneo para dentro do corpo e hemorragia externa é o

extravasamento para fora.

c. Hemorragia por diapedese é resultante da ruptura da parede

vascular ou cardíaca, como consequência de um traumatismo.

d. Hemorragia por rexe pode ser ocasionada pela doença de von

Willebrand.

085
unidade 3
Patologia Geral

e. A redução da fibrinólise pode provocar hemorragias por rexe.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Choque
O choque é caracterizado por uma falência circulatória, com
graves distúrbios da microcirculação e consequente hipoperfusão
(produto entre o fluxo capilar e a quantidade de nutrientes e oxigênio
oferecidos aos tecidos) generalizada dos tecidos (BRASILEIRO-
FILHO, 2006).

Dentre as causas e os tipos de choque, podemos citar: as falhas do


bombeamento cardíaco, chamado choque cardiogênico; a redução
do volume sanguíneo, denominado choque hipovolêmico, como
ocorre nas queimaduras de grande extensão, que resultam na perda
de plasma sanguíneo, nas hemorragias intensas e nos quadros de
desidratação; o choque distributivo, presente nos quadro de sepse
(Figura 16) (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

FIGURA 16 - Hipovolemia – redução do volume sanguíneo

“Choques Anafiláticos”
Autor: Isadora Oliveira

O choque séptico representa um distúrbio da microcirculação, que é


provocado pela presença de endotoxinas produzidas, principalmente,
por bactérias Gram-negativas e, menos frequentemente, por
bactérias Gram-positivas, fungos ou outros microrganismos. As
endotoxinas fúngicas e bacterianas são lipopolissacarídeos que,
após reconhecidos, ativam células do sistema imunológico de forma
generalizada, gerando uma disfunção orgânica que é resultado de

086
unidade 3
Patologia Geral

uma resposta inflamatória desregulada a essa infecção (quadro


de sepse). Com a continuidade desse processo, podem ocorrer
anormalidades metabólicas e celulares que caracterizam o choque
séptico (BRASILEIRO-FILHO, 2016).

O choque anafilático: é desencadeado, principalmente, por


reações a medicamentos, alimentos (frutos do mar) e picadas de
insetos (frequentemente da ordem Hymenoptera) (GROSSMAN; Essa reação
PORTH, 2016). O processo ocorre por uma reação imunológica, anafilática
pode envolver
desencadeada pela presença do antígeno e pela liberação
outros eventos
de substâncias vasoativas, que resultam na vasodilatação e, graves, como
consequentemente, na queda da pressão sanguínea (BRASILEIRO- broncoespasmo e
FILHO, 2006). Essa reação anafilática pode envolver outros eventos
edema de laringe,
e exige a prestação
graves, como broncoespasmo e edema de laringe, e exige a de socorros
prestação de socorros imediatos. imediatos.

Traumatismos raquimedulares, insolação e hemorragias


intracranianas ou medulares podem desencadear um choque
neurogênico, no qual a desregulação vasomotora resulta na redução
do retorno venoso ao coração (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Em relação à evolução hemodinâmica, os choques podem ocorrer


de forma hiper ou hipodinâmica. Na forma hiperdinâmica, uma
resposta inicial ao choque é gerada para restabelecer a normalidade
na circulação sanguínea, aumentando a frequência cardíaca
e a retenção hídrica nos rins. O choque hiperdinâmico ocorre

após o choque séptico e, se a circulação não for normalizada,


os mecanismos de reação se esgotam e o organismo passa a
responder de forma hipodinâmica (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Quando ocorre de forma hipodinâmica, há a vasoconstrição


periférica, a reabsorção de sódio e água nos rins e a centralização
da circulação, processo pelo qual o fluxo sanguíneo é mantido, sem
redução da perfusão, em órgãos vitais. Esses eventos caracterizam
a fase compensada do choque hipodinâmico e culminam no

087
unidade 3
Patologia Geral

estado de acidose lática do sangue, em que o metabolismo passa a


funcionar de forma anaeróbia (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

A acidose lática caracteriza-se por ser um dos sinais presentes na


chamada fase descompensada do choque. Essa fase é irreversível

e caracteriza-se pelo aumento de líquido no interstício, que resulta


em hipovolemia e aumento da viscosidade do sangue. Esses
eventos favorecem o acúmulo plaquetário e a ocorrência de lesões
no endotélio vascular, com a formação de diversos microtrombos,
que consomem em excesso os fatores coagulantes, resultando na
hipocoagulabilidade sanguínea, com a ocorrência de hemorragias
em todo o corpo. A combinação da hipoperfusão com esses eventos
pode provocar a Síndrome da Falência Múltipla dos Órgãos e, por
consequência, a morte do paciente (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Notícia
Veneno de cobras como princípio para medicamentos

FIGURA 17 - Trombose (acúmulo de coagulação)

Fonte: ALILA(a), 123RF.

088
unidade 3
Patologia Geral

Muitas pesquisas têm revelado que o veneno de algumas cobras possui

propriedades farmacológicas e grande potencial terapêutico para o

tratamento de doenças relacionadas a disfunções do sistema circulatório.

O captopril é um exemplo de medicamento produzido a partir do veneno da

jararaca e amplamente utilizado no controle da hipertensão. Você pode ter

mais informações a respeito desse assunto nos links a seguir:

<http://hypescience.com/veneno-de-cobra-salva-vidas>

<http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/03/analise-de-veneno-

de-cobra-revela-potencial-para-tratar-hipertensao.html>.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Doenças de natureza
obstrutiva
Trombose
O processo de trombose ocorre com a coagulação/solidificação do
sangue no interior dos vasos sanguíneos ou do coração, formando o
trombo (Figura 17). O trombo venoso é caracterizado pela presença
O processo de
de muitas hemácias e algumas plaquetas, retidas em uma rede de trombose ocorre
fibrina em áreas de estase sanguínea, enquanto o trombo arterial com a coagulação/
possui principalmente plaquetas e fibrina e se forma em áreas solidificação
do sangue no
interior dos vasos
sanguíneos ou do
coração, formando
o trombo

089
unidade 3
Patologia Geral

FIGURA 18 - Corpo sólido obstruindo a passagem - Embolia

Fonte: ROBERTO BIASINI, 123RF [Adaptada].

lesionadas do endotélio vascular (GROSSMAN; PORTH, 2016).

A trombose pode ser favorecida pela resposta a uma lesão


vascular, com redução da síntese de fatores anticoagulantes, por
alterações da velocidade do fluxo sanguíneo ou por condições de
hipercoagulabilidade. Alterações congênitas e adquiridas também
podem causar trombose (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Após a formação de um trombo, podem ocorrer: os processos de


fibrinólise, por meio dos quais o trombo é dissolvido; a organização
com deposição de tecido conjuntivo e a incorporação à parede
vascular; a calcificação com formação de flebólitos; a oclusão,
quando o processo de coagulação supera o de fibrinólise; a
embolização pelo destacamento dos trombos; sendo que, os
tromboêmbolos podem também ser tornar sépticos quando
colonizados por fungos e bactérias (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

090
unidade 3
Acúmulos de
Patologia Geral
gordura, bolhas
de ar, no interior
Embolia do sistema
cardiovascular,
assim como a
A embolia caracteriza-se pela obstrução de um vaso por um fragmentação
corpo sólido, líquido ou gasoso (Figura 18). Acúmulos de gordura, de trombos, são
bolhas de ar, no interior do sistema cardiovascular, assim como chamados de
êmbolos.
a fragmentação de trombos, são chamados de êmbolos. Esses
elementos podem deslocar-se pelos vasos sanguíneos e se alojar
em vasos menores, bloqueando o fluxo de sangue (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

Embolia gasosa: o êmbolo gasoso pode ser formado em diversas


situações, como no caso de malformações cardíacas ou durante

FIGURA 19 - Tromboembolia pulmonar

Fonte: ALILA(b), 123RF.

cirurgias. O contato do sangue com o ar favorece a coagulação


sanguínea, que também contribui para o bloqueio vascular. As
consequências desse tipo de embolia podem ser hipotensão
arterial, arritmia cardíaca, edema cerebral e infarto do miocárdio.
Grandes quantidades de ar na corrente sanguínea provocam a
morte (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

091
unidade 3
Patologia Geral

Embolia gordurosa: o acúmulo de gotículas de gordura no sangue


pode acontecer como consequência de fraturas e traumatismos,
por exemplo. Na embolia gordurosa, além do bloqueio vascular
pode ocorrer a liberação de ácidos graxos, que causam a lesão
do endotélio vascular, resultando em edemas e microinfarto
(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

O bloqueio de um vaso por um êmbolo derivado de um trombo é


chamado de tromboembolia e provoca diferentes efeitos de acordo
Êmbolos grandes
com o local em que ocorre. Os êmbolos podem causar isquemia e que bloqueiam o
necrose nas regiões a jusante ao local do bloqueio vascular. Nos tronco da artéria
pulmões, a embolia pode provocar hipóxia (falta de oxigenação),
pulmonar provocam
um reflexo
isquemia e infarto pulmonar, redução da pressão sanguínea e vasoconstritor,
insuficiência cardíaca direita (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). que reduz o fluxo
sanguíneo nos
pulmões, causando
o aumento da
pressão arterial
Tromboembolia pulmonar: ocorre com frequência em pacientes pulmonar de forma
acamados, uma vez que essa condição favorece a formação de
abrupta.
trombos, principalmente em veias profundas da panturrilha. A
tromboembolia pulmonar pode ser causada por múltiplos trombos
de pequeno volume, que resultam no aumento da pressão arterial
nos pulmões e cor pulmonale crônico (Figura 19) (BRASILEIRO-
FILHO, 2006).

Êmbolos grandes que bloqueiam o tronco da artéria pulmonar


provocam um reflexo vasoconstritor, que reduz o fluxo sanguíneo nos
pulmões, causando o aumento da pressão arterial pulmonar de forma
abrupta. Com isso, o ventrículo direito sofre uma sobrecarga aguda,
enquanto o volume de sangue que chega ao átrio esquerdo é reduzido,
favorecendo o choque obstrutivo (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

092
unidade 3
Patologia Geral

Quando êmbolos de dimensões menores bloqueiam vasos de calibre


intermediário, nos pulmões, o quadro clínico pode ser assintomático
em pessoas sem outras comorbidades. Isso ocorre quando outros
vasos (ramos da artéria brônquica) são capazes de compensar a
irrigação sanguínea das regiões afetadas pelos êmbolos. Por outro
lado, em pacientes com insuficiência cardíaca, pode haver necrose e
hemorragia e ocorrem sintomas como arritmia cardíaca e fraqueza
(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Tromboembolia arterial: trombos formados no coração ou na aorta


podem causar bloqueio da irrigação sanguínea de forma sistêmica;
dessa forma, podem ser acometidos o encéfalo (resultando em um
acidente vascular encefálico isquêmico), o intestino, o baço, os rins,
os membros inferiores, dentre outros, resultando no infarto desses
órgãos (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

QUESTÃO 3 - A trombose e a embolia causam obstrução vascular. Em


relação a esses dois distúrbios obstrutivos, assinale a alternativa correta:

a. A tromboembolia causa obstruções vasculares, por meio da

solidificação do sangue, no interior do sistema cardiovascular no

indivíduo vivo, e fragmentação desse material, respectivamente.

b. O êmbolo formado pode se destacar e atingir outros órgãos.

c. A trombose pode ser favorecida pela resposta a uma lesão

vascular, com o aumento da síntese de fatores anticoagulantes.

d. Os trombos de sangue venoso possuem, principalmente,

plaquetas e se formam em áreas lesionadas do endotélio vascular.

e. Embolia é um distúrbio decorrente apenas da formação de

trombos, que dão origem aos êmbolos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

093
unidade 3
Patologia Geral

Isquemia
A isquemia acontece toda vez que o fluxo sanguíneo não é capaz
de suprir as necessidades do tecido ou órgão, seja por alterações
circulatórias, como a redução da pressão arterial sistêmica e o
bloqueio do fluxo sanguíneo, seja por alterações sanguíneas que
resultem em uma condição de hiperviscosidade do sangue ou
mesmo em situações que resultem em um aumento da necessidade
de irrigação do próprio tecido ou órgão (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

Isquemia relativa temporária: ocorre quando há a irrigação parcial


do tecido em concomitância ao aumento da necessidade de aporte
sanguíneo, resultando em disfunção celular. Normalmente, esse tipo
de isquemia não gera sequelas, mas pode causar a morte isolada
O infarto é uma
de células (BRASILEIRO-FILHO, 2006).
lesão caracterizada
pela A isquemia
necrose do
Isquemia subtotal temporária: durante um evento de isquemia acontece
tecido, toda
provocada
subtotal temporária, a irrigação sanguínea é bastante reduzida,
vez
porque o fluxo
isquemia,
sanguíneo nãode
ou seja, falta é
comprometendo o funcionamento das células, mas mantém o
capaz de
irrigação suprir as
sanguínea,
mínimo necessário para a sobrevivência celular (BRASILEIRO- necessidades
que, por sua vez,do
FILHO, 2006). tecido ou órgão
é causada pelo
bloqueio do fluxo de
sangue.
Isquemia absoluta temporária: apesar do total bloqueio do fluxo
sanguíneo nesse tipo de isquemia, por ter pouca duração, pode-
se evitar a morte celular com o restabelecimento da irrigação
sanguínea, como acontece nos casos de reanimação após uma
parada cardíaca (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

“Varizes”
Autor: Isadora Oliveira

094
unidade 3
Patologia Geral

Isquemia persistente: acontece quando há a obstrução vascular


por um trombo, por exemplo, de forma intensa ou prolongada,
provocando infarto (necrose do tecido), ou, de forma menos intensa,
causando degeneração e atrofia (numérica e simples) (BRASILEIRO-
FILHO, 2006).

Infarto
O infarto é uma lesão caracterizada pela necrose do tecido,
provocada por isquemia, ou seja, falta de irrigação sanguínea,
que, por sua vez, é causada pelo bloqueio do fluxo de sangue. São
mais frequentes os infartos cardíaco e cerebral (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013). Em relação à apresentação morfológica, o infarto
pode ser classificado em vermelho e branco. O infarto vermelho é
caracterizado pela ocorrência de hemorragia na área necrosada.
Pode ser causado pela obstrução arterial: em órgãos com dupla
circulação ou com anastomoses; em casos de tromboembolia
seguida de fibrinólise e desobstrução do vaso ou nos quadros de
obstrução venosa, como nas compressões ou torções venosas
(BRASILEIRO-FILHO, 2006).

O infarto branco ocorre em órgãos sólidos, como o coração e os

rins, por obstrução das artérias sem extravasamento de

095
unidade 3
Patologia Geral

sangue (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

O quadro clínico clássico, como dor precordial, sudorese intensa,


agitação, ansiedade, taquipnéia, associado às alterações
eletrocardiográficas e a elevação dos marcadores bioquímicos
plasmáticos compreendem os elementos diagnósticos. Os infartos
estão entre as principais causas de morte e, também, podem deixar
graves sequelas, como a paralisia cerebral. Por isso, a rápida e
adequada reperfusão do tecido afetado pela isquemia é fundamental
para a sobrevivência do paciente (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

QUESTÃO 4 - A trombose apresenta seu pilar de formação

fundamentado nos quadros de hipercoagulabilidade, alteração do fluxo

sanguíneo e disfunção endotelial, resultando na solidificação do sangue no

interior do sistema cardiovascular no indivíduo vivo. Sendo que, devido à

natureza estrutural, a partir desse trombo, podem ser formados êmbolos

(tromboembolia). Associe esses dois distúrbios como causa de outros

dois distúrbios circulatórios.

O gabarito se encontra no final da unidade.

096
unidade 3
Patologia Geral

Distúrbios na dinâmica
e na distribuição de
líquidos
O edema é resultante do acúmulo de líquido no interstício ou em
cavidades do organismo. Existem os edemas inflamatórios, ricos
em proteínas, denominados exsudatos, e os não inflamatórios,
denominados transudatos. Em relação ao seu aspecto
macroscópico, o edema apresenta aumento do volume dos
tecidos, que facilmente cedem a uma pressão localizada, dando
origem a uma depressão que logo desaparece (sinal de cacifo). As
principais causas dos edemas são: comprometimento da parede
celular, redução da pressão oncótica do plasma, aumento da
pressão hidrostática do sangue e redução na drenagem linfática
(MONTENEGRO; FRANCO, 2008).

Antes de finalizarmos esta Unidade, realize o exercício a seguir para


verificar seu aprendizado! Até a próxima!

QUESTÃO 5 - Alguns dos distúrbios circulatórios estão relacionados à


alteração no volume, ao passo que outros estão associados à obstrução

circulatória ou, ainda, a alterações no líquido intersticial. De acordo com

esses distúrbios, assinale a alternativa correta.

a. Hemorragias são caracterizadas por morte celular devido à

anóxia e ao extravasamento de sangue, alterando o volume do

fluxo sanguíneo.

“Resumo da Unidade”

097
unidade 3
UNIDADE
Neoplasia

• Características
gerais das
neoplasias
benignas e
malignas
• Epidemiologia
do câncer
• Características
gerais e genéticas
do câncer
• Agentes
carcinogênicos
Patologia Geral

Características gerais
das neoplasias benignas
e malignas
Nesta unidade, serão abordadas as características gerais
das neoplasias benignas e malignas, suas classificações, a
epidemiologia do câncer, suas principais características genéticas e
seus agentes carcinogênicos.

Quando uma célula que está no processo de divisão entra em


contato com outra adjacente, os mecanismos que liberam os fatores
reguladores do crescimento são estimulados, a fim de controlar e
interromper a divisão celular. Esse processo mantém o equilíbrio do
organismo, garantido que o tecido não prolifere de forma anormal. Quando uma
Quando uma célula se liberta desse controle, começa a se dividir
célula se liberta
desse controle,
sem equilíbrio, sendo essa uma característica marcante nas células começa a se dividir
neoplásicas (MONTENEGRO; FRANCO, 2008). sem equilíbrio,
sendo essa uma
característica
A palavra neoplasia (neo = novo; plasein = formar) significa novo
marcante nas
crescimento. Refere-se ao conjunto de massa anormal de tecido células neoplásicas
que continua a se replicar, sem influência limitante dos fatores
de controle de crescimento. As neoplasias estão relacionadas
à autonomia das células para aumentarem a taxa de divisão
independente da situação tecidual. Entretanto, a divisão celular
depende de recursos endócrinos (hormônios), suprimento
sanguíneo e nutricional para continuar a se dividir (MONTENEGRO;
FRANCO, 2008; KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

A essência da neoplasia é o transtorno do crescimento e da


diferenciação celular que resulta em alterações nas células e
nos tecidos. Essas modificações podem ou não ser hereditárias.
O acúmulo dessas células crescendo de forma desordenada
também é chamado de tumor. Os tumores crescem de tal forma

100
unidade 4
Patologia Geral

que comprimem e, muitas vezes, danificam os tecidos e órgãos


(MONTENEGRO; FRANCO, 2008).

Dentre os tumores, existem os classificados como benignos e


outros como malignos, que diferem no tempo de crescimento, na
diferenciação celular, na forma de crescimento, na capacidade de
gerar metástase, ou seja, no comportamento clínico e evolutivo. Os
tumores malignos causam danos aos organismos, podendo levar
à morte, sendo comumente chamados de câncer (MONTENEGRO;
FRANCO, 2008, KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

Basicamente, ambos os tumores apresentam duas partes: o


parênquima e o estroma. O parênquima é formado pelo conjunto de
células neoplásicas, enquanto o estroma é formado pelos tecidos de
sustentação e pelos vasos, fornecedores de suprimento nutricional Esses tumores
e sanguíneo para o parênquima. A composição do parênquima crescem
lentamente,
determina como o tumor se comportará e, a partir dele, os
possuem limites
oncologistas (profissionais que estudam os tumores) denominam bem definidos,
as neoplasias (MONTENEGRO; FRANCO, 2008; KUMAR; ABBAS; não penetram
ASTER, 2013).
nos tecidos
adjacentes e nem
se disseminam para
locais distantes.

Tumor benigno

A característica marcante de tumores benignos é a presença de


células diferenciadas, ou seja, semelhantes a outras do tecido em
que se encontram, geralmente, não prejudiciais. Suas alterações
micro e macroscópicas são, na maioria das vezes, inofensivas
e localizadas, podendo ser removidas, em diversos casos,
simplesmente com cirurgias.

Esses tumores crescem lentamente, possuem limites bem definidos,


não penetram nos tecidos adjacentes e nem se disseminam para
locais distantes. Geralmente, esses tumores não causam mal
para o organismo, exceto em algumas situações em que podem

101
unidade 4
Patologia Geral

levar à morte. Nesse sentido, podem ser citados alguns tumores


presentes no cérebro, como aqueles próximos ao aqueduto de
Sylvius, que podem resultar na obstrução da circulação do líquido
céfalo-raquidiano e conduzir a um quadro de hidrocefalia ou, até
mesmo, neoplasia em glândulas intracraniana, como a hipófise, que
desempenha importante papel regulador sobre outras glândulas do
corpo (MONTEGRO; FRANCO, 2008).

Tumor maligno

Tumores malignos podem apresentar células diferenciadas,


células moderadamente diferenciadas e células indiferenciadas,
distintas morfológica e funcionalmente, nesse último caso, por não
apresentarem as mesmas funções das células normais do tecido que
lhe deram origem (Figura 20). Quando são indiferenciadas, as células
são denominadas anaplásicas. Essas células sem diferenciação
apresentam núcleos hipercromáticos (coloração escura), cromatina
(DNA com RNA e proteínas aderidas) áspera e grumosa, e os
nucléolos (região mais condensada do núcleo) evidentes e, por vezes,
gigantes. Durante a mitose, essas células, normalmente, falham
em desenvolver padrões reconhecíveis de orientação e crescem
em forma de lâminas, podendo resultar, por exemplo, na perda das
estruturas normais de comunicação, como ocorre em glândulas e
ductos glandulares (KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

102
unidade 4
Patologia Geral

FIGURA 20 - Células de neoplasia pouco ou sem diferenciação bem distintas das células normais

Fonte: ONCOLOGY, [2016], on-line.

Quanto mais indiferenciada a célula, mais rápida é sua taxa de


divisão celular. Tumores malignos crescem mais rapidamente que
os benignos. Ou seja, a maioria dos cânceres aumenta de tamanho
ao longo do tempo. Os tumores malignos de crescimento rápido
geralmente apresentam áreas com necrose isquêmica (morte
tecidual por falta de irrigação), devido ao suprimento sanguíneo não
suprir adequadamente as necessidades da região interna do tumor.

A principal característica do câncer é a capacidade de invadir


tecidos adjacentes ou locais distantes. Esse processo de invasão e
crescimento em outros lugares, anatomicamente distantes do sítio
primário, denomina-se metástase. Diferentemente da neoplasia
benigna, que se restringe ao seu local de origem e não infiltra outros
tecidos, o câncer pode crescer por meio de infiltração (Figura 21),
invasão, destruição e penetração do tecido circundante.

103
unidade 4
Patologia Geral

FIGURA 21 - Células de neoplasia iniciando o processo de invasão de outro tecido.

Fonte: ONCOLOGY(b), [2016], on-line.

Existem três vias de disseminação: semeadura nas cavidades


corporais, disseminação nos vasos linfáticos (sistema de fluidos não
sanguíneos) e disseminação hematogênica (sistema sanguíneo).
A disseminação por semeadura é quando cânceres invadem uma
cavidade corporal natural, como a invasão das superfícies peritoneais
por tumores de ovário. Já a disseminação linfática é típica nos
carcinomas, pois esse tipo de tumor geralmente é rico em linfáticos,
facilitando a proliferação celular por essa via. Já a disseminação pela
via hematogênica está mais presente nos sarcomas. Nesse caso, as
células neoplasia penetram em veias e vênulas que desembocam na
veia cava, podendo atingir, desse modo, órgãos a jusante do órgão
primário, podendo acometer os pulmões.

104
unidade 4
Patologia Geral

Nomenclatura do tumor benigno e


maligno
A adequada nomenclatura das neoplasias é importante tanto para
que haja melhor caracterização do tipo de neoplasma e tratamento
adequado, quando para uma melhor uniformização dos termos,
o que possibilita um resgate epidemiológico. Assim, existem
diferenças fundamentais quanto a nomenclatura das neoplasias
benignas e malignas. Em geral, os nomes dos tumores benignos
mesenquimais seguem um padrão, iniciando com um prefixo que
faz referência ao local em que o tumor surgiu, juntamente com
o sufixo “oma”. Por outro lado, caso a neoplasia seja de natureza
maligna e mesenquimal, o sufixo acrescido será o “sarcoma”. Por
exemplo, um tumor em uma célula do tecido mesenquimal como o
fibroblasto recebe o nome de fibroma, caso seja de natureza benigna;
entretanto, caso seja maligna, será nomeado fibrossarcoma.

Entretanto, a terminologia das neoplasias não é simples e uma firme


compreensão da nomenclatura é importante, por ser a linguagem
pela qual a natureza e a significância dos tumores é categorizada.
O conhecimento do tipo do tecido e do tumor (benigno ou maligno),
bem como as respectivas nomenclaturas são apresentados na
Quadro 4.

QUADRO 4 - Classificação e Nomenclatura das Neoplasias

TECIDO DE ORIGEM TUMOR BENIGNO TUMOR MALIGNO


TUMORES EPITELIAIS
Epitélios de revestimento Pólipos-papilomas Carcinomas
Carcinoma de células escamosas/
Escamoso estratificado Papiloma
espinocelular
Céls. basais da pele ou
Ceratose seborreica Carcinoma basocelular
anexos
Céls. transicionais Papiloma Carcinoma de céls. transicionais
Epitélio Glandular Adenoma Adenocarcinoma
Cistoadenoma Cistoadenocarcinoma
Adenoma papilífero Cistoadenocarcinoma papilífero

105
unidade 4
Patologia Geral

Céls. hepáticas Adenoma céls. hepáticas Hepatoma


Céls. renais Adenoma céls. renais Carcinoma céls. renais
Túbulos seminíferos Seminoma
Epitélio placentário Mola hidatiforme Coriocarcinoma
TECIDOS CONJUNTIVOS
Fibroblastos Fibroma Fibrossarcoma
Fibroblastos jovens Mixoma Mixossarcoma
Condrócitos Condroma Condrossarcoma
Osteoblástos Osteoma Osteossarcoma
Céls. meníngeas Meningeoma Meningeossarcoma
Céls. sinoviais Sinovioma
Eritroblastos Eritroleucemia
Mieloblastos Leucemia mieloide
Monoblastos Leucemia monocítica
Linfomas, leucemia linfoide,
Linfócitos
mieloma
Endotélio vascular sanguíneo Hemangioma Hemangiossarcoma
Endotélio vascular linfático Linfangioma Linfangiossarcoma
TECIDO NERVOSO
Astrócitos Astrocitoma, glioblastoma
Oligodendrócitos Oligodendroglioma
Céls. ependimárias Ependimoma
Céls. Schwann Schwanoma Schwannoma maligno
Neuroblastos Neuroblastoma, gangluioneuroma
Melanócitos Nevo Melanoma
TUMORES MISTOS - MAIS DE UM TIPO DE CÉLULA
Glândula salivar Adenoma pleomórfico T. misto de gl.salivar
Blastoma renal T. Wilms
CÉLULAS TOTIPOTENTES
Teratoma adulto Teratocarcinoma

Fonte: MONTENEGRO; FRANCO, 2008.

106
unidade 4
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Existem dois tipos de neoplasias, as benignas e as

malignas. Diferencie ambas de acordo com o tempo de crescimento,

efeitos nos órgãos e diferenciação celular.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Epidemiologia do câncer
O câncer é um tipo de neoplasia de extrema importância e de ampla
incidência. No Brasil, são registrados cerca de 190 mil casos por
ano, sendo essa a segunda principal causa de mortes (LISBOA,
2015, on-line).

Ao utilizarmos o termo câncer, é relevante ter em mente que esse


agravo inclui vários tipos ocorrentes, podendo atingir praticamente
em todos os tecidos do corpo. Essa diversidade de tipos fica clara
nas estimativas brasileiras para as principais frequências de câncer
no biênio 2016-2017, por sexo: homens, o câncer de próstata
(28,6%), seguido pelos cânceres de pulmão (9,8%), intestino (8,0%),
estômago (6,8%) e bexiga (3,3%); mulheres, mama (27%), colo do
útero (12,2%), intestino (7,9%), pulmão (5,7,%) e estômago (4,3%)
(ESTIMATIVA… 2015, on-line).

Por essas razões, é extremamente relevante o conhecimento de


aspectos epidemiológicos dessa patologia. A epidemiologia aponta
as possíveis respostas para uma das preocupações gerais mais
comuns relativas ao câncer: quais são as causas dessa patologia?
O câncer pode surgir em qualquer pessoa, contudo alguns fatores
podem aumentar essa possibilidade. O estudo dos principais fatores
conhecidos por influenciarem a ocorrência do câncer é crucial para
um melhor entendimento das origens do câncer. Portanto, usando
Kumar, Abbas e Aster (2013) como base, são apresentados os
principais fatores relacionados ao câncer: genéticos, fisiológicos,

107
unidade 4
Patologia Geral

de idade e ambientais. Esses fatores podem, inclusive, ser aditivos


quanto a sua influência tumorigênica. A ordem a seguir inicia com
fatores relativos ao indivíduo e termina com fatores ambientais que
influenciam os indivíduos.

FATORES GENÉTICOS: determinados genes (sequências do DNA


que codificam uma proteína) favorecem a predisposição ao câncer
em vários locais do corpo: olhos, pele, neurônios, cólon, reto, mama
e ovário. A predisposição ao câncer mediada por um gene se dá pela
hereditariedade. Para alguns genes, existe a dominância, ou seja, se
apenas um genitor passar o gene ao descendente, isso já determina
uma predisposição, manifestação, ao câncer. Por outro lado, para
outros genes, é necessário que a herança seja recessiva, isto é,
ambos os genitores devem transferir os genes que estabelecem
predisposição ao câncer. A ocorrência de
câncer hereditário
é veiculada
Além da predisposição hereditária ao câncer ser dominante
às famílias de
ou recessiva, existem casos em que essa relação é incerta. determinados
Na predisposição hereditária por genes dominantes, um dos genes. Alguns
mecanismos causadores de câncer conhecido é a mutação de um
cânceres familiares
surgem nas fases
gene supressor de tumores. Na hereditariedade por gene recessivo, mais precoces da
um dos mecanismos envolvidos é o reparo defeituoso do DNA. vida.
Desse modo, a ocorrência de câncer hereditário é veiculada às
famílias de determinados genes. Alguns cânceres familiares surgem
nas fases mais precoces da vida.

Notícia
Oncologistas alertam para o ‘efeito Jolie’ sobre o câncer de mama

A atriz Angelina Jolie, ao descobrir que tinha câncer de mama hereditário,

optou pela retirada de parte das mamas. Essa opção drástica deve ser

utilizada com cuidado. A atenção no caso de Jolie foi bem-vinda, por um

lado, ao divulgar a importância dos cuidados contra o câncer de mama,

mas, por outro lado, teve um efeito negativo, pois muitas mulheres

desejaram fazer o mesmo procedimento, que é radical e recomendado

108
unidade 4
Patologia Geral

com cautela apenas em casos em que o fator hereditário foi diagnosticado.

No caso da atriz, sua mãe e tia morreram de câncer.

Fonte: PRATS, J. Oncologistas alertam para o ‘efeito Jolie’ sobre o câncer

de mama. 20 out. 2014. El País. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/

brasil/2014/10/17/ciencia/1413566089_268326.html?rel=mas>. Acesso

em: 03 jan. 2017 [Adaptada].

FATORES FISIOLÓGICOS: nesse grupo, enquadram-se as lesões


pré-neoplásicas adquiridas por causas nem sempre identificáveis.
Essas lesões podem dar origem a neoplasias benignas que,
em alguns casos, se tornam malignas. O mecanismo envolve,
basicamente, alteração acentuada do funcionamento ou estrutura
celular de determinado órgão ou tecido decorrente de fatores
fisiológicos, como disfunções hormonais. Um exemplo dessa
situação é a estimulação da multiplicação anormal das células do
endométrio devido ao estímulo frequente do hormônio estrogênio, o
que eleva o risco de carcinoma endometrial (MACHADO, [2016], on-
line). Vias fisiológicas distintas da citada podem causar alterações
na região oral, genital e no intestino.

FATOR IDADE: esse fator exerce uma grande influência na probabilidade


de manifestação de cânceres de tipos variados em adultos mais velhos,
principalmente aqueles na faixa dos 55 aos 75 anos de idade. No
entanto o câncer causa poucos óbitos abaixo dos 15 anos, sendo que os
tipos que predominam, nessa faixa etária, compreendem as leucemias
e os tumores nos seguintes sistemas: nervoso, linfático (linfomas)
e osteomuscular (sarcomas). O mecanismo que explica a maior
incidência do câncer em pessoas mais velhas nem sempre explica
a incidência em jovens. Fundamentalmente, conforme o organismo
envelhece, são acumuladas mutações. O sistema imunológico, de
forma adicional, sofre um declínio em seu funcionamento com o
passar dos anos. Desse modo, sempre existe uma maior incidência de
câncer associado a idades avançadas, principalmente em países com
boas políticas de saúde, permitindo o envelhecimento da população, o
que resulta em maior número de idosos.

109
unidade 4
Patologia Geral

FATORES AMBIENTAIS: existem vários fatores ambientais


potencialmente relacionados ao câncer; diversas são as medidas
preventivas contra tais fatores. Esses fatores ambientais variam
muito na medida em que podem ou não ser evitados, pois são
intimamente relacionados aos hábitos e aos comportamentos.
Por exemplo, mesmo com o uso de vestimentas adequadas e de
produtos bloqueadores solares, a maioria das pessoas ficará, em
algum momento, exposta de maneira inadequada aos raios solares.
Vírus, como o HPV, transmitido pelo contato direto ou indireto com
indivíduos que apresentam a lesão, frequentemente transmitido por
via sexual, causam alterações que elevam o risco de câncer cervical.
Stellman e Stellman (1996) listam fatores alimentares, fatores
relativos ao trabalho e aos hábitos potencialmente cancerígenos, tais
como: alimentos, como os produtos químicos utilizados para o rápido
amadurecimento de frutas e componentes de refrigerantes; doenças
laborais ou ocupacionais, como fundição de ferro e aço, indústrias
mineradoras, têxteis, automotivas e de celulose e papel, refinarias de
petróleo; e hábitos como tabagismo (Figura 22) e alcoolismo.

FIGURA 22 - Tabagismo: hábito que aumenta a chance de tumores


malignos

Fonte: BLUERINGMEDIA, 123RF.

110
unidade 4
Patologia Geral

Características gerais e
genéticas do câncer
Base molecular do câncer
O câncer é caracterizado por alterações do perfil proliferativo e
infiltrativo das células e aquisição de um possível caráter metastático.
Essas alterações estão associadas com alterações genéticas (como
mutações) e/ou epigenéticas (modificações apenas na expressão
genética, sem alterar a base do DNA) que desencadeiam alterações
bioquímicas, resultando no comportamento desordenado de
divisão celular (HAMMER; McPHE, 2016). Uma vez que alterações
genéticas estão intimamente relacionadas com a causa do câncer,
aqui, serão apresentadas, de forma breve, as bases genéticas para
compreender a origem dos tumores. O câncer é
caracterizado
por alterações do
Alguns fatores genéticos, como a predisposição genética e perfil proliferativo
anormalidades cromossômicas, podem acarretar o câncer. Outro e infiltrativo das
fator associado ao câncer é o acúmulo de mutações genéticas
células e aquisição
de um possível
somáticas que pode ser induzido por agentes químicos e físicos. Além caráter metastático.
disso, qualquer alteração ou mutação nos quatro grupos de genes
– como os proto-oncogenes (promotores de crescimentos), genes
supressores de tumor (inibidores de crescimento), genes que regulam
a morte celular (apoptose) e genes envolvidos no reparo de DNA –
pode resultar em tumores malignos (KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

Os proto-oncogenes regulam o crescimento, a diferenciação e a


sobrevida de células normais, promovendo a proliferação celular.
Geralmente, uma mutação em apenas um alelo pode ativar um
proto-oncogene em oncogene. A superexpressão de um proto-
oncogene também dá origem a um oncogene. No caso dos genes
supressores de tumor, ocorre a alteração funcional da inibição da
proliferação celular quando uma transformação atinge ambos
os alelos dos genes (alelos são formas homólogas do genes).
Fenótipos alterados de genes que regulam a apoptose e o reparo de

111
unidade 4
Patologia Geral

DNA podem ser resultados tantos de danos em um ou em ambos


os alelos (KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

As alterações genéticas podem ser classificadas, por um lado,


como de grande escala, quando afetam o cromossomo, sendo que
essas podem ser do tipo numérica, como nas aneuploidias, ou do
tipo estrutural, como nas translocações, inversões, amplificações e
deleções. Por outro lado, podem ser classificadas como de pequena
escala (“sutis”), como ocorre nas mutações pontuais. Ambos os
tipos podem estar associados à causa do câncer (HANSEL; DINTZIS,
2007; KUMAR, ABBAS; ASTER, 2013).

Translocações cromossômicas consistem na transferência de uma


parte do gene para outro cromossomo. Isso ocorre na maioria dos
pacientes com linfoma de Burkitt. Nesse caso, o gene translocado
é o c-myc, um proto-oncogene envolvido na progressão do ciclo Translocações
celular. Outro mecanismo genético que pode resultar em tumores cromossômicas
é a duplicação gênica, como exemplo, a amplificação gênica consistem na
transferência de
da família myc, que foi demonstrada em carcinoma de células
uma parte do
pequenas do pulmão, como tumor de Wilms e hepatoblastoma gene para outro
(HANSEL; DINTZIS, 2007). cromossomo.

Além de alterações diretas no DNA, outras formas podem alterar


a expressão gênica, como a metilação do DNA (adição de
agrupamento metila ao DNA) e modificação pós-translacionais de
histonas (metilação e acetilação). Essas alterações são reversíveis,
embora possam ser herdadas, e são denominadas epigenéticas.
Os genes supressores de tumor e de reparo do DNA podem sofrer
metilação na região promotora do gene (sequências do DNA que
controla a transcrição genética), que silenciará a transcrição desse
gene (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

112
unidade 4
Patologia Geral

QUESTÃO 2 - Alterações genéticas, muitas vezes, desencadeiam

alterações bioquímicas e fisiológicas que resultam no comportamento

desordenado de divisão celular. De acordo com a base genética do câncer,

assinale a alternativa correta:

a. Câncer só ocorre quando há um acúmulo de mutações, ou seja,

apenas uma mutação não é o suficiente para acarretar em câncer.

b. Genes que regulam o crescimento celular, proto-oncogenes,

ocorrem apenas quando os dois alelos são mutados.

c. As alterações genéticas do câncer são resultantes de apenas

lesões diretas no DNA.

d. Alterações nos genes responsáveis pelo reparo do DNA e

apoptose só ocorrem por translocação cromossômica.

e. Mutações pontuais são alterações de pequena escala (“sutis”),

enquanto translocação cromossômica e duplicação dos genes

são alterações de grande escala no cariótipo. Essas alterações,

muitas vezes, estão associados à causa do câncer.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Características gerais do câncer


Diversos são os genes que estão associados ao câncer e cada um
deles é responsável pela superexpressão ou pela inibição de alguma
proteína que ocasiona problemas funcionais. Com base em Kumar,
Abbas e Aster (2013), são apresentadas, nos parágrafos seguintes,
as alterações fisiológicas ocasionadas por esses genes, que fazem
que as células do câncer apresentem as seguintes características
principais: autossuficiência de crescimento celular; insensibilidade
aos sinais inibidores de crescimento; evasão da morte celular;
potencial ilimitado de replicação; desenvolvimento de angiogênese
sustentada; capacidade de invadir e metastizar.

113
unidade 4
Patologia Geral

Autossuficiência de crescimento celular: em processo normal


de divisão celular, fatores de crescimento são liberados e se
ligam a receptores de membranas das células, ativando proteínas
transdutoras sinalizadoras que se acoplam ao fator de crescimento.
A partir daí, ocorre a transmissão de sinais para o núcleo, seja por
meio de mensageiros ou de cascatas de molé­culas que induzem
a ativação de genes de fatores de transcrição nucleares que
impulsionam a expressão dos genes promotores do crescimento,
iniciando um novo ciclo celular, que resultará em divisão celular.
Entretanto, nos processos tumorigênicos, os proto-oncogenes
(controladores da divisão celular) são ativados em versões mutantes
ou superexpressos, funcionando de forma autônoma e promovendo
a proliferação descontrolada.

A autossuficiência de crescimento celular pode estar relacionada


a diversos mecanismos. A própria célula cancerosa pode produzir
fatores de crescimento ou induzir células vizinhas normais a
produzirem esse fator. Além disso, algumas vezes, devido a
mutações ou superexpressão, essas células podem ativar esses
receptores de fatores de crescimento, mesmo na ausência dos
fatores, desencadeando a ativação de proteínas transdutoras
que promoverão a divisão celular. Essa ativação das proteínas
transdutoras de sinal pode ocorrer de forma direta também, sem
fatores e receptores de crescimento, se o gene responsável pela
expressão dessa proteína for alterado. Outros mecanismos que
podem ocorrer são as alterações genéticas dos fatores reguladores
da transcrição do DNA e genes promotores de crescimento.

Exemplo de produção de fatores de crescimento e receptores,


pela própria célula tumoral, ocorre em sarcomas que secretam o
fator de crescimento TGF-α ou seu receptor. Dentre as moléculas
transdutoras de sinal, as principais envolvidas são RAS e ABL. Estas
ativam fatores de transcrição nucleares (MYC, MYB, JUN, FOS
e REL) que impulsionam a expressão dos genes promotores do
crescimento (ciclinas e quinases).

114
unidade 4
Patologia Geral

A proteína MYC ativa os genes promotores de crescimento, incluindo


as quinases dependentes de ciclinas (CDKs) e inativa os genes
que produzem inibidores de CDK, o resultado final da atividade
proteica é impulsionar o ciclo celular. Eventuais alterações nos
fatores de regulação da transcrição promovem a formação de
tumores, mediante o aumento de expressão gênica que resulta no
aumento da divisão celular. Mutações nos genes da atividade de
ciclinas favorecem a proliferação celular e são comuns em células
neoplásicas. Geralmente, esses genes são superexpressos em muitos
cânceres, incluindo os que afetam a mama, o esôfago e o fígado.

“Oncogenes”
Autor: Isadora Oliveira

QUESTÃO 3 - Oncogenes são genes mutados ou superexpressos

de genes proto-oncogenes responsáveis pelo controle da divisão celular.

De acordo com os efeitos que os oncogenes podem acarretar, assinale a

alternativa correta:

a. Oncogenes tornam as células indiferenciadas.

b. Oncogenes são responsáveis pela autossuficiência na divisão

celular.

c. Fatores de crescimento não podem ser produzidos por células

com oncogenes presentes.

d. Alterações nos oncogenes que regulam a transcrição nuclear e

iniciam a divisão celular reduzem a divisão celular.

e. Silenciamento dos genes que codificam as proteínas RAS e ABL

acelera a divisão celular.

O gabarito se encontra no final da unidade.

115
unidade 4
Patologia Geral

Essa independência da célula em se dividir pode ser remediada


e controlada por inibidores de crescimento, a senescência e a
apoptose.

Insensibilidade aos sinais inibidores de crescimento: ao


mesmo tempo em que as células apresentam moléculas que
estimulam a divisão celular, elas possuem produtos dos genes
supressores de tumor que evitam a proliferação celular, como os
genes retinoblastoma (Rb) e o gene p53, que agem na inibição da
proliferação celular mediante a regulação do ciclo celular. Entretanto
células cancerosas são, na maior parte das vezes, insensíveis a
sinais de inibição de crescimento.

O gene Rb regula uma família de fatores de transcrição chamada de


E2F, que atua aumentando a proliferação celular. A ausência do pRb
permite a liberação dos fatores E2F, assim, as células se proliferam
sem limites e se tornam insensíveis aos fatores que inibem a divisão
celular. Um dos genes de supressão de tumores mais recorrente
nos cânceres é o Tp53, que codifica a proteína p53 que pode atuar
na interrupção da ativação do ciclo celular ou iniciando a atividade
apoptótica celular. A ativação do gene Tp53 ocorre por meio da
anóxia, atividade inadequada de genes e danos ao DNA. Quando
não é possível reverter o dano do DNA, esse gene induz a apoptose.
Ou seja, quando esse gene é silenciado e ocorrem danos ao DNA, a
apoptose não se manifesta e células com defeito se proliferam.

“Atuação dos Genes Supressores na


Inibição da Proliferação celular”
Autor: Isadora Oliveira

Evasão da morte celular: a morte programada da célula é um dos


mecanismos que busca eliminar algum defeito genético, sendo
uma proteção contra tumores. Entretanto mutações podem afetar

116
unidade 4
Patologia Geral

a apoptose. Aparentemente, a evasão da apoptose parece ser


uma das características das células neoplásicas e existe uma
grande diversidade de mecanismos que pode inibir tal processo.
Uma dessas modificações consiste na maior produção do fator
de crescimento do fibroblasto (FGF), que promove o aumento da
sobrevivência da célula carcinogênica. Provavelmente, FGF atua
como mediador nos genes que codificam proteínas antiapoptóticas,
como BCl-2 e BCL-XL. Outro exemplo de mecanismo é mediante a
inativação do gene Tp53.

Potencial ilimitado de replicação: as células normais apresentam


um limite para se dividir, com o envelhecimento, a célula entra
em senescência. Uma das características dessas células é o
encurtamento do telômero, que faz que não haja mais divisão
celular. Células cancerosas, no entanto, tornam-se imortais, não Aparentemente, a
apresentando limites para se dividirem, devido à ativação da evasão da apoptose
parece ser uma das
telomerase, enzima responsável por reconstruir as extremidades
características das
protetoras dos cromossomos. células neoplásicas
e existe uma
Desenvolvimento de angiogênese sustentada: a angiogênese
grande diversidade
de mecanismos
está relacionada à formação de novos vasos sanguíneos que pode inibir tal
(neovascularização) (Figura 23). A formação de novas células processo.
necessita de oxigênio e nutrientes provenientes da corrente
sanguínea. Normalmente, no início do desenvolvimento do órgão, a
angiogênese se manifesta, cessando períodos depois. Nos tumores
malignos, porém, a angiogênese não cessa, pois os tumores
recrutam seus próprios vasos por meio da produção de fatores
de crescimento, como o VEGF (fator de crescimento vásculo-

117
unidade 4
Patologia Geral

FIGURA 23 - Angiogênese – formação de vasos sanguíneos ao redor do tumor

Fonte: ONCOLOGY(c), [2016], on-line.

endotelial).

Capacidade de invadir e metastatizar: por meio de capilares


sanguíneos e/ ou vasos linfáticos, as células cancerosas atingem
vias de disseminação que as possibilitam implantar-se em várias
partes do corpo, em que podem invadir o tecido local e desenvolver
a metástase. Esse processo se inicia com destacamento, invasão
local, penetração em vias de disseminação (vasos sanguíneos e
vasos linfáticos), trânsito na vasculatura, saída dos vasos, enxerto

“Metástase”
Autor: Isadora Oliveira

118
unidade 4
Patologia Geral

e formação de micrometástases que podem evoluir para tumores


macroscópicos.

Sinais clínicos do câncer

Diversos são os sintomas apresentados pelos pacientes com


neoplasia maligna e grande parte deles são sinais indiretos. Os
efeitos diretos do câncer estão relacionados com compressão
ou invasão de estruturas. Já os sinais distantes ocorrem quando
o câncer produz efeitos não atribuíveis à invasão tumoral ou
metástase, que são denominados, em conjunto, de síndromes
“paraneoplásicas”. Essas síndromes podem ser a primeira
manifestação da doença e, também, podem fornecer um meio de
monitorar a evolução dela (HAMMER; McPHE; 2016).

Exemplos de sintomas são febres que ocorrem com maior


frequência em carcinomas renais e osteogênico; anorexia e perda
de peso decorrente da alta taxa metabólica; síndromes endócrinas,
que incluem a produção de peptídicos de forma anormal, como na
Os efeitos diretos
síndrome de Cushing, causada por hormônio adrenocorticotrópico;
do câncer estão
síndromes neurológicas, como neuropatia motora, decorrente relacionados
com compressão
ou invasão de
estruturas.

119
unidade 4
Patologia Geral

de um distúrbio da medula espinhal; síndromes na musculatura


esquelética, como dermatomiosite e polimiosite; síndromes
hematológicas, como anemia; síndromes hepáticas; síndrome
nefrítica, resultante de trombose da veia renal; síndromes cutâneas;
amiloidose (HANSEL; DINIZIS, 2007).

QUESTÃO 4 - Os tumores malignos apresentam características

fisiológicas decorrente de alteração gênica. Em relação a essas

características, assinale a alternativa correta:

a. Tumores malignos são caracterizados por serem autossuficientes

em relação à divisão celular e por possuírem capacidade de

invadir e metastatizar. Além disso, são capazes de produzir vasos

sanguíneos para aumentar sua nutrição e oxigenação.

b. Os tumores são sensíveis aos inibidores de crescimento.

c. As células neoplásicas malignas inibem a telomerase para se

tornarem imortais.

d. As células cancerosas são autossuficientes para o crescimento

celular e não dependem de vasos sanguíneos para nutrição e

oxigenação.

e. O mecanismo de apoptose está presente nos tumores malignos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

120
unidade 4
Patologia Geral

Agentes carcinogênicos
Carcinogênicos são os agentes etiológicos do câncer
(MONTENEGRO; FRANCO, 2008). Os principais agentes
carcinogênicos podem ser reunidos em três grupos: químicos, físicos
o agente
e biológicos. Esses agentes já foram considerados brevemente
cancerígeno em
no contexto dos fatores relacionados ao câncer. Todo o conteúdo questão atua em
deste tópico é baseado em Kumar, Abbas e Aster (2013), sendo conjunto com
apresentado em maiores detalhes nos parágrafos seguintes. É outros agentes
carcinogênicos ou
relevante a ressalva de que, em muitos casos, o agente cancerígeno
fatores como idade
em questão atua em conjunto com outros agentes carcinogênicos e predisposição
ou fatores como idade e predisposição hereditária. hereditária.

Existem dois grupos de carcinógenos químicos, distintos entre


si, com base na maneira como atuam no processo cancerígeno.
O primeiro grupo é chamado “carcinógeno de ação indireta” e
inclui substâncias que causam câncer somente após sofrerem
modificações no meio celular, sendo, então, chamado “carcinógeno
final”. Um exemplo é o benzo[𝞪] pireno, do cigarro. O segundo grupo
de substâncias não precisa sofrer modificações no meio celular
para causar câncer, sendo chamado “carcinógeno de ação direta”.
Determinadas drogas (alquilantes) utilizadas em quimioterapias
são carcinógenos de ação direta. Por esse motivo, são utilizadas
cautelosamente apenas em cânceres específicos. Os efeitos
dos carcinogênicos químicos podem ser amplificados se outros
químicos específicos (hormônios, fenóis, algumas drogas) estiverem
atuando concomitantemente. Nesse caso, essas substâncias
potencializadoras recebem o nome de “promoters”.

121
unidade 4
Patologia Geral

Curiosidade
Evitar o câncer tomando banho!

Cerca de 200 anos atrás, na Europa, um tipo específico de tumor, o câncer

escrotal, notavelmente ocorria apenas entre os limpadores de chaminés.

Essa incidência específica foi explicada pelo cirurgião londrino Sir Percival,

que percebeu que a fuligem das chaminés e seus compostos químicos

carcinogênicos eram a causa do câncer escrotal. Diante dessa relação, a

Corporação de Limpadores de Chaminés Dinamarquesa instituiu uma das

melhores medidas de saúde pública já aplicada contra o câncer: todos os

membros da corporação deviam se banhar diariamente!

Fonte: KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; ASTER, J. C. Robbins: Patologia Básica. 9

ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p.199.

O agente carcinogênico de origem física é a radiação proveniente


de distintas fontes. Raios X e outros elementos radioativos
emitem radiação ionizante capaz de quebrar o DNA, gerando
mutações cancerígenas. Alguns minérios radioativos aumentam
significativamente as chances de mineradores sem proteção
desenvolverem câncer de pulmão. A radiação ultravioleta solar
é outra fonte capaz de gerar mutações por meio da modificação
estrutural do DNA (via formação de dímeros de pirimidina), causando
câncer como o melanoma.

Os carcinogênicos biológicos são causados por vírus e bactérias.


No caso dos vírus, estes podem tanto ser de RNA quanto de DNA.
Um exemplo envolve o vírus HTLV-1 constituído de RNA, capaz de
desencadear câncer sanguíneo (leucemia): ocorre a contaminação
de pessoas sadias mediante a relação sexual, na qual uma célula
de defesa (linfócito T) com o vírus é transmitida, sendo capaz de
intervir no funcionamento dos linfócitos recém-infectados para que
eles se multipliquem anormalmente. Esse processo ocorre apenas
em poucas pessoas infectadas após um período de 20-50 anos.

122
unidade 4
Patologia Geral

Outro exemplo bem conhecido de RNA-vírus é a hepatite C, que


inflama o fígado e predispõe esse órgão ao câncer.

A hepatite B é similar em muitos aspectos à hepatite C, contudo


é causada por um vírus constituído de DNA. Outro DNA-vírus bem
conhecido envolvido em processos carcinogênicos é o causador do
câncer cervical (HPV). Um exemplo de atuação envolve o EBV, que é
um DNA-vírus capaz de causar câncer no sistema linfático, conhecido
como linfoma de Burkitt. O EBV estimula a proliferação de células
de defesa (linfócito B) e compromete o funcionamento do sistema
imune a essas proliferações anormais. Por essa razão, esse tipo de
câncer é piorado caso exista condição imunodepressora adicional.

A Helicobacter pylori é conhecida por ser a primeira bactéria


considerada um carcinógeno. Influencia o surgimento de câncer
Essa vigilância
no estômago (adenocarcinoma) e no sistema linfático (linfoma). imune atua quando
Seus efeitos no estômago resultam em inflamação, proliferação de o sistema de defesa
células e estimulação desregulada do crescimento. reconhece as
células tumorais
como não sendo
As células cancerígenas surgidas a partir de distintos fatores próprias, sendo
ou carcinógenos possuem meios variados de evitar o sistema essas, então,
destruídas.
imune. Contudo, em alguns casos, as células tumorais podem ser
controladas pelo próprio sistema imune. Essa vigilância imune
atua quando o sistema de defesa reconhece as células tumorais
como não sendo próprias, sendo essas, então, destruídas. Além
disso, evitar agentes carcinogênicos e ter em mente os fatores
que causam os variados tipos de câncer e diminuem as chances
da ocorrência. Portanto, além dos cuidados prévios, em termos
de prevenção, existem várias vias pelas quais o câncer pode
ser atacado terapeuticamente: protegendo o sistema imune;
favorecendo ação dos supressores de crescimento; inibindo a
imortalidade replicativa; diminuindo a inflamação; evitando a
inflamação e a metástase; evitando mutações adicionais; evitando
angiogênese; permitindo a morte celular; mantendo a energética
celular funcional; eliminando a proliferação.

123
unidade 4
Patologia Geral

TUTORIAL - Sinais e sintomas do câncer de mama

Fonte: DETECÇÃO precoce do câncer de mama. Inca. Disponível em: <http://www.


inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=1932>. Acesso em: 06 jan. 2017; CÂNCER de
mama - sinais e sintomas. Inca. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/wcm/
outubro-rosa/2015/sinais-e-sintomas.asp>. Acesso em: 06 jan. 2017 [Adaptado].

QUESTÃO 5 - Os principais agentes carcinogênicos podem ser

reunidos em três grupos: químicos, físicos e biológicos. Apresente um

exemplo de cada um desses agentes e descreva o mecanismo.

O gabarito se encontra no final da unidade.

124
unidade 4
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Sugestão de resposta: Os tumores benignos são

aqueles que apresentam crescimento lento, células diferenciadas e que,

normalmente, não são prejudiciais, sendo que suas alterações micro e

macroscópicas são inofensivas e localizadas, podendo ser removidas, em

diversos casos, apenas com cirurgias. Já os malignos são comumente

chamados de câncer, têm crescimento rápido, do tipo infiltrativo (invadem

tecidos adjacentes), apresentam células pouco diferenciadas e, até

mesmo, indiferenciadas e causam danos aos organismos, podendo levar

à morte.

QUESTÃO 2 - e) Justificativa correta: Mutações pontuais são

consideradas sutis, enquanto translocação e duplicação estão associadas

às alterações de uma parte do cromossomo, sendo consideradas de

grande escala. Independente disso, todas essas alterações podem ser

causas do câncer.

QUESTÃO 3 - b) Justificativa correta: Oncogenes são versões

superexpressas ou mutadas de proto-oncogenes (que regulam o

crescimento celular) que tornam possível a divisão celular mesmo na

ausência de fatores de crescimento, permitindo à célula a autossuficiência

na divisão celular.

QUESTÃO 4 - a) Justificativa correta: Autossuficiência, capacidade de


invasão, metástase e angiogênese (produção de vasos) são características

dos tumores malignos.

QUESTÃO 5 - Sugestão de resposta: Um exemplo de agente químico é


o benzo[5] pireno, do cigarro, que se modifica no meio intracelular e ataca

as células. Exemplos de agentes físicos são raios X e outros elementos

radioativos que emitem radiação ionizante capaz de quebrar o DNA,

gerando mutações cancerígenas. Por fim, um exemplo de agente biológico

envolve o vírus HTLV-1, constituído de RNA, capaz de desencadear câncer

sanguíneo (leucemia): ocorre a contaminação de pessoas sadias mediante

a relação sexual, na qual uma célula de defesa (linfócito T) com o vírus

é transmitida, sendo capaz de intervir no funcionamento dos linfócitos

recém-infectados para que eles se multipliquem anormalmente.

125
unidade 4
Patologia Geral

“Resumo da Unidade”

126
unidade 4
UNIDADE
Doenças do sistema
imune e doenças
genéticas
Introdução

Nesta unidade, serão abordadas noções introdutórias acerca do


sistema imune e de suas principais alterações, as quais podem
acarretar doenças. Além disso, serão tratadas algumas doenças
genéticas e suas bases.

• Noções acerca do
sistema imunitário
• Imunopatologia
• Doenças genéticas
Patologia Geral

Noções acerca do
sistema imunitário
Durante as atividades cotidianas, o organismo está, constantemente,
exposto a micro-organismos e outros agentes que podem causar
danos ao seu funcionamento. Entretanto, durante o processo
evolutivo, o organismo adquiriu mecanismos de defesa contra
esses patógenos. O conjunto desses mecanismos de defesa é
conhecido como sistema imunitário (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI,
2011), o qual é responsável pela capacidade do organismo de
desenvolver imunidade em relação a um determinado patógeno ou
agente agressor.

Durante as
O termo imunidade é de origem latina (Immunitas), significando
atividades
“libertação” ou “isenção”. Assim, a função fisiológica da resposta cotidianas, o
do sistema imunitário (resposta imunológica) consiste em “libertar” organismo está,
o organismo de qualquer elemento que seja reconhecido como constantemente,
exposto a micro-
estranho (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011).
organismos e
outros agentes
Inicialmente, relacionava-se o sistema imunitário apenas à proteção que podem causar
danos ao seu
contra doenças infecciosas (causadas por micro-organismos). Uma
funcionamento.
resposta imunológica, no entanto, também pode ser desencadeada
por macromoléculas ou por substâncias químicas que possam ser
identificadas como estranhas, tornando a sua ação mais abrangente.
A resposta imunológica pode ser dividida em imunidade inata ou
nativa e imunidade adaptativa ou adquirida (ABBAS; LICHTMAN;
PILLAI, 2011).

A imunidade inata caracteriza-se pelas respostas iniciais de defesa


do nosso organismo. Nesse caso, há mecanismos celulares e
bioquímicos que permitem uma resposta imediata a infecções,
mesmo que sejam causadas por microrganismos desconhecidos
pelo sistema imune. Segundo Abbas, Lichtman e Pillai (2011), por
esse motivo, a denominação é resposta imune inata ou nativa, pois
ela é composta por células e moléculas previamente existentes e

129
unidade 5
Patologia Geral

responde às infecções repetidas de forma igual (KUMAR; ABBAS;


ASTER, 2013). De acordo com esses autores, dentre os mecanismos
celulares e bioquímicos, destacam-se os componentes do sistema
imunitário inato: 1) barreiras físicas e químicas; 2) componentes
celulares; 3) moleculares.

Esses estudiosos ressaltam também que a pele apresenta-se como


uma importante barreira física e química, visto que possui fortes
junções entre as células epiteliais, evitando a invasão de micro-
organismos. Além disso, a pele possui substâncias microbicidas
(substâncias que matam micro-organismos, como a enzima
lisozima presente no suor), que impedem a permanência de muitos
patógenos em sua superfície.

Conforme expõem Kumar, Abbas e Aster (2013), outra importante A pele apresenta-
barreira do sistema imune inato é a superfície das mucosas, uma se como uma
importante barreira
vez que a secreção de muco, realizada por células locais, dificulta
física e química,
a adesão ou permite o aprisionamento e a eliminação de micro- visto que possui
organismos, devido à presença de substâncias microbicidas. É fortes junções
importante ressaltar, segundo Abbas, Lichtman e Pillai (2011), que a
entre as células
epiteliais, evitando
própria microbiota normal do organismo age como um mecanismo a invasão de micro-
de defesa, visto que há competição por espaço e nutrientes com organismos
micro-organismos patogênicos, juntamente com a secreção de
substâncias antibacterianas específicas.

Em relação aos componentes celulares efetores que atuam


na defesa inata, esses pesquisadores revelam a presença dos
leucócitos com atividade fagocitária, das células dendríticas e do NK
(Natural Killer). Os principais leucócitos com atividade fagocitária são
os neutrófilos e os macrófagos. Os neutrófilos possuem grânulos
primários, secundários e terciários, contendo enzimas microbicidas
fundamentais no processo de eliminação dos agentes infecciosos e
apresentando um curto tempo de vida. Os macrófagos apresentam
uma grande habilidade fagocítica, multiplicando-se e sobrevivendo
por um longo tempo no sítio de infecção.

130
unidade 5
Patologia Geral

As células dendríticas, por sua vez, são especializadas na captura e


na apresentação de antígenos para os linfócitos, o que realiza uma
conexão importante entre a imunidade inata e a adquirida. Conforme
Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e Aster (2013),
morfologicamente, essas células apresentam longas projeções de
membrana citoplasmática. As células NK, de modo diferente, são
linfócitos que apresentam grânulos contendo mediadores, os quais
induzem a morte de uma célula infectada por vírus, bactérias e
protozoários, além de atuarem sobre células tumorais, por meio de
um processo de toxicidade celular.

Ainda de acordo com esses pesquisadores, outros linfócitos,


como T e B, também são componentes importantes do sistema
imunológico, mas atuam na imunidade adquirida. Para Abbas,
O mecanismo de
Lichtman e Pillai (2011), os componentes moleculares do sistema
respostas iniciais
imune inato compreendem: contra o patógeno,
correspondente
1. proteínas do sangue, como as subunidades do sistema à imunidade
complemento e outros mediadores de processos inata, inicia-se
inflamatórios; com células do
epitélio, pois elas
2. citocinas, as quais são proteínas que regulam e coordenam constituem a
primeira barreira
muitas atividades das células do sistema imune inato
natural.
e adaptativo, existem em grande variedade e atuam no
organismo de diversas formas. As principais citocinas
de fase aguda de processos inflamatórios são o TNF-ⲁ
e a interleucina 1 (IL-1), e suas principais fontes são
os macrófagos, as células endoteliais, os linfócitos, os
mastócitos e outros tipos de células.

O mecanismo de respostas iniciais contra o patógeno,


correspondente à imunidade inata, inicia-se com células do epitélio,
pois elas constituem a primeira barreira natural. Entretanto, caso
os microrganismos ultrapassem essa barreira física e química do
epitélio, a próxima etapa consiste na ação de uma resposta imune
inata, por meio da qual os neutrófilos e macrófagos, mediante a
fagocitose e a liberação de substâncias microbicidas, intencionam

131
unidade 5
Patologia Geral

a eliminação desses agentes. Além disso, as células NK liberam as


citocinas, promovendo o processo inflamatório e aumentando as
respostas imunológicas. Se isso não for o suficiente, a resposta inata
estimula a imunidade adaptativa (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Para Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e Aster (2013),


as respostas de imunidade adaptativa são imunológicas tardias,
estimuladas pela contínua exposição do organismo a agentes,
infecciosos ou não, de diversas naturezas. Essas respostas
aumentam a capacidade de defesa conforme a exposição
sucessiva. Dessa forma, a imunidade é desenvolvida por intermédio
da adaptação ao agente patogênico, por isso, são denominadas
adaptativas ou adquiridas.

Essas respostas adaptativas representam uma importante


capacidade de reconhecimento e reação a um amplo espectro de
moléculas microbianas e não microbianas, possuindo mecanismos
eficientes para distinguir diferentes substâncias, até mesmo
microrganismos e moléculas estreitamente semelhantes. Essas
substâncias, que induzem ou são reconhecidas pelo sistema imune,
são designadas antígenos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011;
KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

De acordo com esses pesquisadores, as respostas imunes


adaptativas podem ser classificadas em dois tipos: imunidade
humoral e imunidade celular. Essas respostas são mediadas por
componentes distintos do sistema imunológico e apresentam como
função a eliminação de diferentes tipos de antígenos.

No que se refere à imunidade humoral, esses estudiosos afirmam


se tratar do principal mecanismo de defesa contra patógenos
extracelulares e suas toxinas, sendo mediado por proteínas
denominadas anticorpos, presentes no soro, no plasma e em
secreções mucosas. Quanto aos anticorpos, eles são produzidos
por células do tipo linfócito B (ou célula B), sendo que sua contínua
ativação induz a um processo de proliferação e diferenciação

132
unidade 5
Patologia Geral

celular que culmina na produção de plasmócitos. Conforme


exposto na Figura 24 e de acordo com os autores supracitados,
os anticorpos apresentam várias formas moleculares e múltiplas
habilidades em relação ao reconhecimento de antígenos
microbianos, inativando os microrganismos e eliminando-os por
meio de diversos mecanismos efetores.

FIGURA 24 – Diferentes tipos de anticorpos: IgG, IgE, IgD, IgM e IgA

Fonte: DESIGNUA, 123RF.

A imunidade celular, como o nome sugere, é mediada por células,


as quais são denominadas linfócitos T ou células T. Trata-se de
um importante mecanismo de defesa contra micro-organismos
intracelulares, visto que esses patógenos sobrevivem e se
proliferam no interior de fagócitos e de outras células do
organismo, tornando-se inacessíveis para os anticorpos

133
unidade 5
Patologia Geral

circulantes (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011; KUMAR; ABBAS;


ASTER, 2013).

Segundo Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e


Aster (2013), os linfócitos T consistem em duas populações
funcionalmente distintas: as células T auxiliares (helper) e os
linfócitos T citotóxicos. Os linfócitos T auxiliares, em resposta a
um estímulo de um antígeno, secretam citocinas. Essas moléculas
estimulam a proliferação e a diferenciação das células T e ativam
outras células, como o linfócito B e os macrófagos. Os linfócitos
T citotóxicos, por sua vez, destroem células que exibem antígenos
estranhos, como as infectadas por vírus e outros micro-organismos
intracelulares.

Ainda de acordo com esses pesquisadores, para que os linfócitos


T iniciem e desenvolvam a resposta imune adaptativa, é necessário
Os linfócitos T
que os antígenos sejam capturados e apresentados. As células
auxiliares, em
responsáveis por essa função são denominadas apresentadoras resposta a um
de antígenos (CAA). As CAA que apresentam maior grau de estímulo de um
especialização são as células dendríticas, as quais capturam
antígeno, secretam
citocinas.
os antígenos, microbianos ou não, e fazem o transporte até os
órgãos linfoides. Nesses órgãos, há a apresentação dos antígenos,
linfócitos T virgens, que iniciam a resposta imunológica.

Os estudiosos evidenciam também que a função de exibir os


peptídeos, a partir de antígenos endocitados, para o reconhecimento
pelos  linfócitos T, é executada por proteínas especializadas,
que são expressas por genes pertencentes  ao Complexo de
Histocompatibilidade Principal (MHC). A função das moléculas
derivadas do MHC é apresentar tais antígenos peptídicos aos
linfócitos T e participar da ativação da resposta imune adaptativa,
conforme expõe a Figura 25. 

134
unidade 5
Patologia Geral

FIGURA 25 – Participação do Complexo de Histocompatibilidade (MHC) na apresentação de


antígenos e na ativação da resposta imune

Fonte: FRED THE OYSTER, 2014, on-line [Adaptada].

De acordo com Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e


Aster (2013), as moléculas de MHC são divididas em classes I e
II. As  moléculas de classe I  apresentam peptídeos aos linfócitos
T citolíticos (denominado  CD8+), participando da eliminação
de antígenos  intracelulares. As moléculas de classe II, por
seu turno, apresentam os peptídeos aos linfócitos T auxiliares
(denominado  CD4+) que, dependendo do perfil de diferenciação
e da produção de citocina inerente (resposta do tipo Th1 ou Th2),
possibilitam a eliminação de patógenos intracelulares (Th1) ou
extracelulares (Th2).

135
unidade 5
Patologia Geral

Tutorial
Teste de “ELISA” (do inglês, “Enzyme Linked Immunono Sorbent Assay”)

de bloqueio

descrever uma famosa técnica baseada em princípios imunológicos,

comumente utilizada na detecção de patógenos.

O teste de ELISA é baseado na interação antígeno-anticorpo. Normalmente,

esses testes são realizados em uma placa de superfície inerte, com

a presença de poços, onde são colocados os antígenos de interesse,

juntamente com um tampão de  carbonato  (processo conhecido como

sensibilização). Existem vários tipos de teste de ELISA, mas, neste caso,

será descrito o teste denominado “ELISA de bloqueio”. Nesse teste, a

presença de anticorpos em determinado soro é revelada pela competição

com um anticorpo específico dirigido contra o antígeno. O resultado

consistirá na coloração em orifícios onde não havia anticorpos. O método

é descrito a seguir.

1. Sensibilizar as placas de ELISA com o antígeno previamente

diluído em tampão carbonato. Incubar, durante a noite, a 4º C.

Isso permitirá a ligação do antígeno à placa.

2. Remover a solução de antígeno e lavar com líquido de lavagem de

ELISA (PBS-T20).

3. Acrescentar os soros e testar em uma diluição previamente

determinada.

4. Incubar, por uma hora, a 37° C.

5. Remover a diluição dos soros e lavar com líquido de lavagem.

6. Acrescentar uma diluição apropriada do anticorpo monoclonal.

Incubar, por uma hora, a 37°C.

7. Remover o anticorpo monoclonal e lavar com líquido de lavagem.

8. Acrescentar uma diluição apropriada do conjugado. Incubar, por

uma hora, a 37°C.

9. Remover a diluição do conjugado e lavar com líquido de lavagem.

136
unidade 5
Patologia Geral

10. Acrescentar uma solução de ortofenilenodiamina, preparada em

tampão citrato-fosfato, acrescentado de 0,001% de H2O2. Incubar,

por 15 minutos, a 37° C.

11. A reação é interrompida de uma solução de H2SO4.

12. Os resultados são obtidos com base na leitura da densidade

óptica (D.O.), em espectrofotômetro com filtro de 492 nm.

Fonte: BAUERMANN, F. V.; BRUM, M. C. S., WEIBLEN, R.; FLORES, E. F. Teste

imunoenzimático com base em anticorpo monoclonal para a detecção de

anticorpos contra os herpesvírus bovino tipos 1 e 5. Pesquisa Veterinária

Brasileira, v. 30, n. 7, p. 411, 2010.

Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e Aster (2013)


evidenciam que esses mecanismos de defesa, juntamente com
a exposição contínua do sistema imunológico a um antígeno
estranho, possibilitam o aumento da capacidade de responder As respostas a uma
novamente àquele antígeno específico. As respostas a uma segunda segunda exposição
tornam-se mais
exposição tornam-se mais rápidas, intensas e com maior qualidade.
rápidas, intensas
Essa memória imunológica deve-se ao fato de que cada exposição e com maior
a um antígeno gera células de memórias específicas, mantendo- qualidade.
se presentes em circulação antes de uma segunda exposição ao
antígeno específico.

Nesse contexto, é importante destacar a habilidade do sistema


imunológico adaptativo de reconhecer um antígeno estranho,
mas não apresentar responsividade imunológica contra ele.
Essa habilidade é denominada tolerância imunológica, a qual
é composta por diversos mecanismos de regulação (ABBAS;
LICHTMAN; PILLAI, 2011). Conforme expõem Abbas, Lichtman
e Pillai (2011) e Kumar, Abbas e Aster (2013), normalmente, o
nosso organismo apresenta tolerância aos antígenos autóctones
(do próprio organismo), pois os linfócitos que os reconhecem são
destruídos, inativados ou alterados em sua especificidade. Com
base nesses mecanismos, é possível afirmar que as principais
características da resposta imune adaptativa são:

137
unidade 5
Patologia Geral

• especificidade: as respostas imunológicas são específicas


a um determinado antígeno, microbiano ou não;

• diversidade: o sistema imunológico reage a uma variedade


de antígenos;

• memória: aumenta a capacidade de combater repetidas


exposições ao mesmo agente;

• expansão clonal: aumento do número de linfócitos


específicos que combatem aquele patógeno;

• contração e homeostase: após uma resposta, o sistema


imunológico pode se restabelecer para responder a novos
antígenos;

• não reatividade própria: impede danos ao hospedeiro


durante as respostas imunológicas (ABBAS; LICHTMAN;
PILLAI, 2011).

É importante destacar que, apesar de a imunidade inata e a


adaptativa terem características diferentes, essas respostas
ocorrem de forma integrada durante uma reação imunológica.
Ademais, podem ocorrer alterações em seus mecanismos,
causando distúrbios imunológicos no organismo, os quais serão
tratados a seguir.

138
unidade 5
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Enunciado: Em relação à imunidade adaptativa, assinale


a alternativa correta.

a. Apresenta uma importante habilidade denominada Tolerância

Imunológica.

b. Apresenta respostas imunológicas inespecíficas.

c. Mecanismos da imunidade humoral são fundamentais para

defesa contra patógenos intracelulares.

d. Após uma reação imune, o sistema imunológico adaptativo não é

capaz de atuar contra novos antígenos.

e. A imunidade adaptativa celular é intermediada por moléculas

denominadas anticorpos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

“Células do sistema imunitário”


Autor: Isadora Oliveira

Imunopatologia
O sistema imunológico tem à disposição diversos mecanismos para
a proteção contra agentes patogênicos de diversas origens. Podem
ocorrer erros nas respostas imunológicas, no entanto, o que resulta
em doenças e lesões teciduais. O ramo da patologia responsável
por estudar a etiologia e a patogênese dessas lesões e doenças
é denominado imunopatologia (BRASILEIRO-FILHO, 2006). Neste
tópico, serão abordados os três principais grupos de distúrbios do
sistema imune: reações de hipersensibilidade, doenças autoimunes
e imunodeficiência.

139
unidade 5
Patologia Geral

Reações de hipersensibilidade
Conforme asseveram Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Kumar,
Abbas e Aster (2013), sensibilidade é a capacidade de um indivíduo
manifestar uma resposta imunológica para um antígeno. Quando
essa resposta se apresenta de forma exacerbada, causando danos
potencialmente extensos ao organismo, como na formação de
lesões teciduais, esses processos são definidos como reação de
hipersensibilidade.

Dessa forma, a hipersensibilidade é uma resposta imune adaptativa


inapropriada ao estímulo inicial. Nesse caso, o sistema imunológico
apresenta uma falha em seus mecanismos de contração e
homeostase, os quais são responsáveis pelas verificações e
pelo equilíbrio durante o processo de combate aos agentes
etiológicos envolvidos no estímulo inicial, causando lesão grave
aos tecidos do hospedeiro (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011). De
acordo com os autores supracitados, quando ocorre essa falha,
as respostas imunológicas podem ter um controle inadequado e,
consequentemente, serem maldirecionadas, atingindo o tecido do
próprio hospedeiro, tornando o sistema imune à causa da doença.

Segundo Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Cruvinel et al. (2010),


para ocorrer as reações de hipersensibilidade, é necessário que
o indivíduo esteja em uma estado pré-sensibilizado, como já foi
exposto. Assim, baseando-se nos mecanismos envolvidos e no
tempo de reação, pode-se dividir uma reação de hipersensibilidade
em quatro tipos: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV. Vale ressaltar que,
frequentemente, uma condição clínica particular (doença) pode
envolver mais de um tipo de reação.

A reação de hipersensibilidade do tipo I também é conhecida como


reação de hipersensibilidade mediada pelo anticorpo IgE (Figura 26).
Os anticorpos do tipo IgE apresentam grande afinidade com células
denominadas mastócitos, uma vez que são capazes de se posicionar
junto a receptores de superfície que reconhecem a porção Fc dessa

140
unidade 5
Patologia Geral

imunoglobulina. O mastócito é uma célula do tecido conjuntivo


que contém em seu interior uma grande quantidade de grânulos de
histamina (aminas vasoativas envolvidas nos processos de reações
alérgicas) e heparina (substância anticoagulante).

FIGURA 26 – Processo de reação da hipersensibilidade mediado pelo IgE

Fonte: MAST CELLS, 2009, on-line [Adaptada].

Por meio da Figura 26, vemos:

1. O linfócito B entra em contato com o antígeno.

2. O linfócito B produz anticorpos IgE.

3. Os anticorpos IgE ligam-se aos mastócitos.

4. Na segunda exposição ao antígeno, há o reconhecimento


por IgE e os mastócitos sofrem um processo de
degranulação, desencadeando o processo alérgico.

141
unidade 5
Patologia Geral

Nesse contexto, conforme afirmam Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e


Cruvinel et al. (2010), quando ocorrem exposições subsequentes ao
mesmo antígeno (alérgeno), o qual se liga, de forma cruzada, ao IgE
acoplado ao receptor do mastócito, há a degranulação. Nesse processo
de degranulação, são liberadas várias moléculas, de diversas naturezas,
como histamina, heparina, serotonina, autacoide lipídicos, dentre outros
mediadores que causam vasodilatação e aumento de permeabilidade
vascular, contração do músculo liso visceral e estimulação da secreção
de muco pelas glândulas do corpo.

Ainda de acordo com esses estudiosos, essas reações, provocadas


por exposições subsequentes de antígenos, podem envolver a
pele (urticária e eczema), os olhos (conjuntivite), a nasofaringe
(rinorreia, rinite), os tecidos broncopulmonares (asma) e o trato
Quando ocorrem
gastrointestinal (gastroenterite), apresentando um tempo de
exposições
início de 15 a 30 minutos após a exposição ao alérgeno. Por esse subsequentes ao
motivo, essa reação do tipo I também é denominada reação de mesmo antígeno
hipersensibilidade imediata. (alérgeno), o
qual se liga, de
forma cruzada,
Existem dois tipos de reações de hipersensibilidade do tipo I: ao IgE acoplado
atópica e anafilática. Segundo os pesquisadores mencionados, a ao receptor do
mastócito, há a
reação atópica corresponde ao grupo de doenças (rinite alérgica,
degranulação.
asma, dermatite, gastroenteropatia alérgica) relacionadas a fatores
genéticos do indivíduo, os quais são responsáveis por induzir a
produção de IgE em diferentes órgãos envolvidos com antígenos
ambientais. Em contrapartida, a reação anafilática é causada por
certos alérgenos (especialmente, drogas, picadas de insetos, látex
e alimentos), que podem induzir a uma resposta mediada pelo IgE,
causando uma generalizada liberação de mediadores por meio dos
mastócitos, o que resulta em uma anafilaxia sistemática.

“Alergias – Hipersensibilidade do tipo I”


Autor: Isadora Oliveira

142
unidade 5
Patologia Geral

Diferentemente das reações do tipo I, a resposta de hipersensibilidade


do tipo II é conhecida como hipersensibilidade citotóxica, pois pode
afetar vários órgãos e tecidos, de acordo com Abbas, Lichtman e
Pillai (2011) e Cruvinel et al. (2010). De maneira geral, essa reação
ocorre em minutos ou horas, sendo desencadeada no momento
em que uma substância endógena do organismo é identificada
como um antígeno estranho. De modo fundamental, essa reação
é mediada por anticorpos das classes IgM ou IgG e proteínas do
sistema complemento, além dos fagócitos e das células K.

Conforme afirmam esses autores, os principais exemplos de


doenças que envolvem o tipo II são a granulocitopenia (falta ou
redução aguda de leucócitos granulócitos – neutrófilos, basófilos
e eosinófilos) e a trombocitopenia (redução de plaquetas no
Devido à
sangue). Existem casos em que a resposta do tipo II é induzida
concentração
por agentes químicos (haptenos) que podem se ligar à membrana similar de anticorpo
celular, desencadeando a resposta imunológica. Um exemplo de e alérgeno, ocorre
doença envolvendo esses agentes é a anemia hemolítica induzida uma resposta
inflamatória
por drogas.
cutânea e
subcutânea,
No caso das reações de hipersensibilidade do tipo III, também segundo os
estudiosos
conhecidas como hipersensibilidade imune complexa, ocorre
supramencionados.
a formação de imunocomplexos, os quais são formados por
anticorpos IgG ou IgM, ligados a algum alérgico, e se depositam
nos tecidos. Devido à concentração similar de anticorpo e alérgeno,
ocorre uma resposta inflamatória cutânea e subcutânea, segundo
os estudiosos supramencionados.

Essa reação pode acontecer de forma sistêmica no organismo


(doença do soro) ou envolver partes individuais, como a pele (lúpus
eritematoso sistêmico e reação de Arthus), os rins (nefrite do lúpus),
os pulmões (aspergilose), os vasos sanguíneos (poliarterite) ou as
juntas (artrite reumatoide). Cabe salientar, conforme asseguram os
pesquisadores citados, que essas reações podem ser ocasionadas
por uma grande diversidade de micro-organismos.

143
unidade 5
Patologia Geral

A hipersensibilidade do tipo IV está envolvida na patogênese de


muitas doenças autoimunes e infecciosas, como tuberculose,
lepra, blastomicose, histoplasmose, toxoplasmose e leishmaniose.
Esse tipo também pode ser denominado hipersensibilidade tardia
ou mediado por células T, o qual é caracterizado pela ocorrência
de lesão tecidual mediada por linfócitos T. Para Abbas, Lichtman
e Pillai (2011) e Cruvinel et al. (2010), existem duas reações que
podem causar essa doença:

1. inflamação mediada por citocinas, as quais são produzidas


principalmente por linfócitos T do tipo CD4+;

2. citoxidade celular direta, mediada por células T do tipo


CD8+.

Na inflamação, as células CD4+ dos subtipos TH1 e TH17 secretam


citocinas, desencadeando o recrutamento e a ativação de outras
células, especialmente macrófagos, que são os maiores efetores da
doença. Na citotoxicidade celular, células T CD8+ são responsáveis
pelo dano tecidual, segundo os estudiosos mencionados.

Notícia
Sensibilidade ao glúten tem novas explicações

Conforme estudado, uma resposta imune pode sofrer um processo

de exacerbação, gerando reações de hipersensibilidade. A matéria

escrita por Julianne Wyrick (disponível no link <http://www2.uol.com.br/

sciam/noticias/sensibilidade_ao_gluten_tem_novas_explicacoes.html>.

Acesso em: 20 fev. 2017) contextualiza o processo de resposta imune,

relacionando-o à intolerância de muitas pessoas ao glúten, uma mistura

proteica massivamente divulgada na mídia.

Fonte: Elaborada pela autora.

144
unidade 5
Patologia Geral

Doenças autoimunes
Como apresentado anteriormente, a tolerância imunológica refere-
se à ausência de uma resposta dos linfócitos a um antígeno. Em
um sistema imunológico normal, essa tolerância é necessária para
que os linfócitos não reajam a antígenos do próprio corpo. Quanto
à classificação, de acordo com Abbas, Lichtman e Pillai (2011)
e Kumar, Abbas e Aster (2013), a tolerância pode ser central ou
periférica. O processo de tolerância central é induzido por órgãos
como o timo e a medula óssea (linfoides primários), quando
linfócitos imaturos entram em contato com antígenos do próprio
organismo. A tolerância periférica, por sua vez, ocorre quando
um linfócito maduro reconhece antígenos próprios, em tecidos
periféricos, sob condições específicas.

É valioso ressaltar que essa tolerância a antígenos do próprio


corpo pode falhar, resultando em reações imunes aos antígenos
autóctones. Esse processo é denominado autoimunidade, sendo
resultado da falha no processo de autotolerância do organismo.
Ainda segundo os pesquisadores mencionados, os mecanismos
gerais associados às reações autoimunes são:

1. defeitos na deleção (seleção negativa) de células T e B ou


na edição dos receptores de células B durante o processo
de maturação nos órgãos linfoides;

2. funções e números defeituosos do linfócito T reguladores;

3. apoptose defeituosa de linfócitos autorreativos maduros;

4. função inadequada de receptores inibitórios;

5. ativação de células apresentadoras de antígenos, que


supera mecanismos reguladores, resultando na ativação
excessiva de células T.

Para os autores, esses distúrbios podem acarretar doenças


autoimunes sistêmicas ou órgão-específicas, dependendo

145
unidade 5
Patologia Geral

da distribuição dos antígenos autóctones reconhecidos. As


doenças autoimunes sistêmicas são caracterizadas pela
formação de complexos imunológicos circulantes, compostos de
nucleoproteínas autóctones e anticorpos específicos, resultando
em doenças como lúpus eritematosos sistêmico (SLE). No caso
das doenças autoimunes órgão-específicas, observam-se respostas
de anticorpos ou de células T contra antígenos próprios, os quais
apresentam localização tecidual restrita, como acontecem na
miastenia grave, diabetes tipo I e esclerose múltipla.

É importante salientar que, segundo Abbas, Lichtman e Pillai


(2011) e Kumar, Abbas e Aster (2013), essas doenças autoimunes
As doenças
tendem a ser crônicas, progressivas e autoperpetuadoras. Essas autoimunes
características devem-se ao fato de que os antígenos próprios, que sistêmicas são
caracterizadas
disparam tais reações, são persistentes. Outro fator é o fenômeno
pela formação
denominado expansão dos epítopos, o qual é iniciado como uma de complexos
resposta contrária a um antígeno próprio, o que causa lesão tecidual imunológicos
e, consequentemente, libera e altera outros antígenos, resultando na circulantes,
compostos de
exacerbação da doença.
nucleoproteínas
autóctones
Ainda de acordo com esses pesquisadores, indivíduos que, em e anticorpos
específicos,
sua maioria, apresentam doenças autoimunes herdaram genes
resultando em
polimórficos que contribuem para suscetibilidade da doença. doenças como
Dentre os genes relacionados a essas doenças, os do complexo de lúpus eritematosos
histocompatibilidade apresentam as associações mais fortes. Em sistêmico (SLE).
muitas doenças, como diabetes tipo I, foram identificados de 20 a 30
genes associados e, na maior parte das doenças do sistema imune,
o HLA (complexo genético que codifica MHC humano) contribui
sozinho, ou mais, para a predisposição da doença.

Além de estarem relacionadas ao ambiente genético, as doenças


autoimunes podem ser desenvolvidas a partir de infecções virais
e bacterianas. Em grande parte desses casos, o patógeno não
está presente na lesão e nem é detectável no indivíduo quando a
autoimunidade se desenvolve. Assim, as lesões autoimunes são
resultado de uma série de respostas imunológicas do hospedeiro,

146
unidade 5
Patologia Geral

que podem ser disparadas ou desreguladas por esses micro-


organismos, conforme afirmam os autores supracitados. Portanto,
as doenças autoimunes decorrem de alterações no processo
de tolerância imunológica e podem estar relacionadas a fatores
genéticos ou ambientais.

Imunodeficiência

Segundo Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Errante e Cordino-Neto


(2008), denomina-se imunodeficiência uma desordem do  sistema
imunológico,  caracterizada pela incapacidade de se estabelecer
um processo eficiente de imunidade e/ou iniciar uma resposta
imunológica frente a um antígeno. Nesse caso, qualquer parte do
As
sistema imunológico pode ser afetada. Diante disso, a pessoa que
imunodeficiências
apresenta imunodeficiência é designada imunocomprometida. adquiridas ou
secundárias, por
seu turno, são
As imunodeficiências podem ser classificadas em congênitas
fruto de anomalias
ou adquiridas. Conforme afirmam esses estudiosos, as não genéticas,
imunodeficiências congênitas, também denominadas primárias, como desnutrição,
são resultado de anormalidades genéticas em componentes da neoplasias ou
infecções.
imunidade inata e adquirida, como nos estágios de desenvolvimento
de linfócitos ou nas respostas de linfócitos maduros a estímulos
antigênicos. As imunodeficiências adquiridas ou secundárias, por
seu turno, são fruto de anomalias não genéticas, como desnutrição,
neoplasias ou infecções.

Para Abbas, Lichtman e Pillai (2011) e Pfisterer et al. (2014),


dentre as imunodeficiências congênitas, é possível destacar a
imunodeficiência combinada grave (do inglês, SCID) e de células
B. A SCID é uma desordem marcada pela deficiência de linfócitos
T, ocasionando prejuízo direto ou indireto aos linfócitos B. Essa
desordem pode acometer a imunidade na infância, promovendo
uma resposta inadequada a processos infecciosos.

147
unidade 5
Patologia Geral

A desordem de células B pode ser exemplificada pela doença de


Bruton. Essa doença é decorrente de mutações na proteína tirosina
quinase de Bruton, a qual participa de mecanismos de sinalização
intracelular, indispensáveis para a diferenciação de células B. Essa
quinase não funcional leva ao bloqueio do desenvolvimento das
células B, resultando na redução ou na ausência de anticorpos
no corpo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011). No que se refere às
imunodeficiências adquiridas ou secundárias, evidenciam-se:

1. desnutrição proteico-calórica: as alterações metabólicas


afetam a maturação e a função dos linfócitos;

2. metástases de câncer e leucemia envolvendo a medula


óssea: reduz o desenvolvimento de leucócitos;

3. remoção do baço: diminuição do processo fagocitário


contra patógenos;

4. infecção por HIV: causa a destruição de uma importante


classe de linfócitos: células T CD4+ (ABBAS; LICHTMAN;
PILLAI, 2011).

Assim, as alterações do sistema imune podem apresentar diferentes


causas e origens, o que proporciona o desenvolvimento de inúmeras
doenças no organismo.

148
unidade 5
Patologia Geral

QUESTÃO 2 - O sistema imunológico tem como função proteger o

organismo contra patógenos. Em relação aos distúrbios nesse sistema

imunológico, assinale a alternativa correta.

a. Reações de hipersensibilidade são resultado da exacerbação de

uma resposta imune, podendo causar até lesões teciduais.

b. As doenças autoimunes não podem ser causadas por alteração

genética, só ambiental.

c. A imunodeficiência é uma doença desencadeada exclusivamente

pelo vírus HIV.

d. Doenças autoimunes não apresentam relação com a tolerância

imunológica do sistema imune.

e. As reações de hipersensibilidade são divididas em tipo I e II.

O gabarito se encontra no final da unidade.

QUESTÃO 3 - Explique a diferença entre as imunodeficiências

congênitas e as adquiridas.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Doenças genéticas
Até o momento, foram citadas diferentes doenças imunológicas
que poderiam ser consequência de alterações no material genético
do organismo. Nesse sentido, neste tópico, serão tratados os
conceitos básicos da genética e as principais doenças decorrentes
de alterações genéticas.

149
unidade 5
Patologia Geral

Primeiramente, cabe salientar que essas alterações estão relacionadas,


de modo íntimo, aos processos moleculares em nossas células.
Todas as nossas informações genéticas estão armazenadas no DNA,
na molécula de ácido desoxirribonucleico, a qual apresenta função
genotípica (replicação e transmissão da informação) e fenotípica
(expressão de proteínas, a partir de regiões codificantes no DNA,
denominadas genes) (SNUSTAD; SIMMONS, 2008).

Esses processos moleculares de replicação e expressão gênica,


entretanto, nem sempre ocorrem de forma eficiente, pois decorrem
de alterações no material genético, as quais são denominadas
mutações. Essas transformações podem ser pontuais, uma
modificação em uma base nitrogenada, ou mais drásticas como
translocações cromossômicas, duplicação de DNA, entre outras
alterações no cariótipo que alteram o número de cromossomos
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

De acordo com Snustad e Simmons (2008), as mutações são


responsáveis pela nossa variabilidade genética, permitindo que,
durante o processo de evolução, diferentes formas proteicas
e, consequentemente, celulares surgissem. Essas alterações
podem envolver apenas subunidades do DNA (nucleotídeo), sendo
denominadas mutações pontuais, mas também podem ocorrer em
fragmentos longos, deslocando um fragmento de um cromossomo
(estrutura composta de DNA) para outro, resultando em um
processo denominado translocação. Em nível fenotípico, essas
alterações podem ser neutras, ou seja, quando a mutação não
causa mudança no fenótipo. No entanto, quando a mutação altera o
fenótipo, a mudança pode ser vantajosa ou desvantajosa.

Nesse contexto, quando ocorrem mutações desvantajosas (deletérias)


no organismo, é possível que haja modificações em proteínas
importantes para os processos celulares, resultando no desenvolvimento
de anomalias denominadas doenças genéticas, segundo Kumar, Abbas
e Aster (2013) e Snustad e Simmons (2008), as quais são classificadas
em monogênicas, multifatoriais e cromossômicas.

150
unidade 5
Patologia Geral

Doenças monogênicas
Os distúrbios resultantes de mutações em um único gene são
denominados doenças genéticas monogênicas. Para Kumar, Abbas
e Aster (2013), alguns exemplos dessas doenças são: anemia
falciforme, fenilcetonúria e hemofilia A.

A anemia falciforme é caracterizada pela produção de hemoglobinas


anômalas, que apresentam formas de foice, conforme se evidencia
na Figura 27. De acordo com Snustad e Simmons (2008) e Di
Nuzzo e Fonseca (2004), a deformação dessas células causa
uma deficiência no transporte de oxigênio e gás carbônico nos
indivíduos. Essa doença é resultado da presença de um gene
mutante, no cromossomo 11, o HbS. Essa mutação, por sua vez, é
fruto da substituição de um único nucleotídeo que altera o códon
de tradução do sexto aminoácido da B-Globina (subunidade da
hemoglobina normal) de ácido glutâmico em valina.

FIGURA 27 – Microscopia eletrônica (colorida) de uma célula do


sangue normal ao lado de uma célula em formato de foice

Fonte: SICKLE-CELL, 2017, on-line.

151
unidade 5
Patologia Geral

A  fenilcetonúria  é uma doença  genética  rara, resultante de


uma mutação no gene que codifica a enzima  fenilalanina
hidroxilase  (PAH). Essa enzima está envolvida no processo de
conversão da  fenilalanina  em  tirosina, elemento importante na
síntese da  melanina.  Indivíduos acometidos com essa doença
podem apresentar déficit cognitivo, atraso no desenvolvimento
psicomotor, convulsões, hiperatividade, tremor e microcefalia
(SCHMIDT et al., 2016).

Outro exemplo de doença monogênica é a hemofilia A, a qual diz


respeito a uma deficiência no processo de coagulação, que está
ligado ao sexo (cromossomo X). Esse distúrbio é resultado de
uma mutação no gene que codifica o fator VIII, fundamental para o
processo de coagulação (SNUSTAD; SIMMONS, 2008).

A fenilcetonúria
é uma doença
Doenças multifatoriais genética rara,
resultante de uma
mutação no gene
Conforme expõem Kumar, Abbas e Aster (2013), as doenças que codifica a
multifatoriais referem-se aos distúrbios causados por mutações, em enzima fenilalanina
diferentes genes, combinadas com fatores ambientais. Nessa categoria, hidroxilase (PAH).
os exemplos são o Alzheimer, a diabetes mellitus e a obesidade.

O mal de Alzheimer é uma doença caracterizada pelo desenvolvimento


de uma deficiência cognitiva. A maior parte dos casos de Alzheimer
é hereditária e atribuída a mutações em três genes: os que codificam
a proteína precursora amiloide e as presenilinas 1 e 2. Grande
parte dessas mutações aumenta a produção de uma proteína
denominada Aβ42, principal componente das placas senis, as quais
são depósitos insolúveis de proteínas tóxicas, designadas β-amilóide,
que interrompem a comunicação neural de forma progressiva,
desencadeando a síndrome (SCHOTT et al., 2015).

A diabetes mellitus, outra doença genética multifatorial, é um


grupo de  distúrbios metabólicos,  em que níveis elevados de

152
unidade 5
Patologia Geral

glicose no sangue  são verificados durante um longo intervalo de


tempo. Existem três tipos de diabetes mellitus: tipo I (resultado de
uma doença do sistema imune, na qual as células β do pâncreas
são atacadas pelo sistema imunitário), tipo II (diabetes não
insulinodependente) e gestacional (SNUSTAD; SIMMONS, 2008).

A diabetes mellitus tipo II é um distúrbio extremamente complexo


e pouco conhecido. Sabe-se que alguns genes implicados
apresentam-se em formas monogênicas, mas outras formas mais
comuns da doença têm um caráter poligênico e, nesse caso, pouso
se sabe acerca dos genes associados a essa doença. Nessas
configurações, é evidente que os fatores ambientais modulam a
expressão clínica da doença (REIS, 2002).

Outro exemplo de distúrbio multifatorial é a obesidade, caracterizada


pelo acúmulo de gordura corporal, resultante do desequilíbrio entre
a energia ingerida e a gasta. A genética desse distúrbio ainda não
está bem-esclarecida, mas sabe-se que os fatores ambientais
são fundamentais para o seu desenvolvimento. Nesse sentido,
segundo Marques-Lopes et al. (2004), foram identificadas algumas
mutações que podem contribuir para o desenvolvimento do quadro,
as quais ocorrem em genes codificadores de leptina (funciona
como sinal aferente de saciedade), da proteína desacoplante 2
(apresenta ligação com o metabolismo basal dos portadores) e da
desacoplante 3 (envolvida com o controle de gasto energético).

Doenças genéticas cromossômicas

De acordo com os pressupostos de Kumar, Abbas e Aster (2013) e de


Snustad e Simmons (2008), as doenças genéticas cromossômicas
são desencadeadas por alterações estruturais (translocações) e
numéricas dos cromossomos. Nesse grupo, estão incluídas as
síndromes de Down, de Klinefelter e Turner.

153
unidade 5
Patologia Geral

A Síndrome de Down é, geralmente, associada a algumas


dificuldades cognitivas  e ao desenvolvimento físico, como a
aparência facial, ocasionados pela trissomia do cromossomo 21
(três cromossomos em uma posição). O número de cromossomos
presentes nas células de uma pessoa é 46, 23 do pai e 23 da mãe. Na
Síndrome de Down, há um erro na distribuição dos cromossomos,
durante a divisão celular, no par 21, resultando em células com 47
cromossomos (SNUSTAD; SIMMONS, 2008). Essas informações
podem ser verificadas na Figura 28.

FIGURA 28 – Trissomia no cromossomo 21: Síndrome de Down

Fonte: ALILA, 123RF.

154
unidade 5
Patologia Geral

Assim como no distúrbio de Down, as síndromes de Klinefelter e


Turner são resultantes de um erro na distribuição de cromossomos
durante o processo de divisão celular. No que se refere à Síndrome
de Turner, há apenas 45 cromossomos, apresentando a ausência de
um cromossomo sexual (Y), ou seja, essa síndrome está relacionada
ao sexo feminino. No caso na Síndrome de Klinefelter, há 47
cromossomos, devido à presença de mais um cromossomo sexual
(X), o que afeta somente indivíduos masculinos. Segundo Snustad
e Simmons (2008), ambas as síndromes apresentam mudanças
corporais características e prejudicam o desenvolvimento psicomotor.
Desse modo, as alterações no material genético humano podem lesar
o desenvolvimento do organismo de diferentes formas, contribuindo
para o desencadeamento de diversas doenças.

Estudo de caso
Síndrome do X frágil

fixar conceitos apresentados nesta unidade acerca de doenças genéticas;

ampliar o conhecimento em relação às doenças genéticas humanas.

História e Achados Físicos

D. S., um menino de cinco anos, foi submetido a uma avaliação de retardo

mental e hiperatividade. Esse menino mostrou-se incapaz de executar

tarefas escolares e apresentou poucas habilidades motoras e de fala. Além

disso, houve retardo em seu desenvolvimento. Aprendeu a sentar com 10

ou 11 meses, andando apenas com 1 ano e 8 meses. Ele começou a falar

entre duas e quatro palavras claras somente com dois anos. Apesar disso,

possuía boa saúde. Na família, havia um tio com retardo mental, além de a

mãe e a tia materna do menino terem apresentado pequenos distúrbios de

aprendizagem na infância. O garoto manifestou um quadro de hiperatividade.

O médico recomendou vários testes e a análise da transferência de Southern

para o gene FRM1. O resultado foi compatível com a Síndrome do X frágil.

Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2006.

155
unidade 5
Patologia Geral

Conceitos trabalhados no estudo de caso:

doenças genéticas;

Síndrome do X frágil.

Questionamentos deste estudo de caso:

Pode-se afirmar que D.S. apresenta um quadro de uma doença de caráter

genético? Se sim, qual é o tipo dessa doença genética?

Os achados da avaliação de retardo mental e hiperatividade corroboraram

o resultado da análise de transferência de Southern? Por quê?

Por que se investigou o gene FRM1?

“Projeto genoma humano”


Autor: Isadora Oliveira

QUESTÃO 4 - Enunciado: Alterações genéticas ocasionam doenças.

Nesse sentido, em relação a essas doenças, assinale a alternativa correta.

a. A anemia falciforme está relacionada a um gene mutante que

codifica hemoglobinas com formato de foice.

b. Todas as doenças genéticas são, exclusivamente, doenças do

sistema imune.

c. A síndrome do Alzheimer é uma doença genética monogênica.

d. Na Síndrome de Turner, o indivíduo apresenta um cromossomo X

a mais, totalizando 47 cromossomos.

e. Doenças genéticas multifatoriais são resultado de mutações em

apenas um gene.

O gabarito se encontra no final da unidade.

156
unidade 5
Patologia Geral

QUESTÃO 5 - Quais são as semelhanças na base genética das

síndromes de Down, Turner e Klinefelter?

O gabarito se encontra no final da unidade.

QUESTÃO 1 - a) a Tolerância Imunológica é composta por mecanismos


que permitem que o sistema imune não responda a antígenos do próprio

organismo.

QUESTÃO 2 - a) entende-se hipersensibilidade como resultado de um


processo exagerado de imunidade que causa danos ao organismo.

QUESTÃO 3 - As imunodeficiências congênitas, também denominadas


primárias, são resultado de anormalidades genéticas em componentes

da imunidade inata e da adquirida. As imunodeficiências adquiridas ou

secundárias são resultado de anomalias não genéticas, como desnutrição,

neoplasias ou infecções.

QUESTÃO 4 - a) as hemoglobinas apresentam diversas variantes,

devido à presença de vários genes mutantes codificantes de hemoglobinas.

O gene mutante HbS caracteriza-se por expressar proteínas em formato de

foice, que são ineficientes para o transporte de oxigênio e gás carbônico,

contribuindo para o quadro de anemia falciforme.

QUESTÃO 5 - Sugestão de resposta: Todas essas síndromes são

doenças genéticas cromossômicas e são desencadeadas por uma

distribuição anômala dos cromossomos durante o processo de divisão

celular.

“Resumo da unidade”

157
unidade 5
UNIDADE
Doenças ambientais e
nutricionais

• Mecanismos
gerais das lesões
produzidas
por agentes
químicos e físicos
• Doenças
de caráter
nutricional
Patologia Geral

Efeitos das mudanças cli-


máticas na saúde
O ramo da Patologia que estuda os efeitos do ambiente na saúde
é denominado Patologia Ambiental e abrange doenças originadas
por agentes químicos ou físicos ou de natureza nutricional (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013). Nesta unidade, serão tratadas as principais
fontes ambientais e nutricionais que ocasionam doenças e alteram
a qualidade de vida.

As doenças de origem ambiental são de grande importância


socioeconômica, por representarem uma das maiores causas de
morte ou invalidez em todo o mundo, atingindo, principalmente,
países em desenvolvimento (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). As doenças de
origem ambiental
são de grande
Alterações climáticas interferem de diversas maneiras na saúde
importância
humana. O efeito climático mais evidente da atualidade é o aumento socioeconômica,
da temperatura global, que, gradativamente, provoca mudanças, as por representarem
quais, inferidas para as próximas décadas, podem comprometer
uma das maiores
causas de morte ou
extensamente a manutenção da saúde do homem (KUMAR; ABBAS; invalidez em todo o
ASTER, 2013). mundo.

De acordo com a Climate… (2015, ), estão previstas mudanças na


temperatura e na precipitação média. Essas mudanças resultam em
alterações na abundância e na distribuição de vetores de doenças,
ou seja, locais que tendem a aumentar a temperatura podem
favorecer doenças tropicais. Além disso, a alteração no regime da
chuva pode afetar a saúde humana. O aquecimento global apresenta
diversas causas, uma delas é o aumento de gases de efeito estufa
(CH , N 0, CO e O ), pois esses gases absorvem maior quantidade de
radiação, resultando em aumentando da temperatura (CLIMATE…,
2015, ) (Figura 29).

160
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 29 - Emissão de gases poluentes que contribuem para o aquecimento da Terra

Fonte: BRETT LAMB, 123RF.

As principais consequências previstas para a saúde humana em


decorrência do aumento global da temperatura são: doenças
cardiovasculares, respiratórias e cerebrais, devido ao aumento do
calor e da poluição atmosférica; doenças infecciosas transmitidas
por vetores, como a dengue e a malária, uma vez que as mudanças
climáticas podem favorecer a reprodução desses vetores; e
desnutrição, pois o clima influencia diretamente a produção agrícola
(Figura 30) (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

161
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 30: Problemas ocasionados pelo aquecimento global

Fonte: KHOON LAY GAN, 123RF.

Noticia
Alterações climáticas e doenças tropicais.

As mudanças de fatores climáticos, como a temperatura e a umidade,

esperadas para os próximos anos, podem favorecer a incidência de doenças

tropicais transmitidas por vetores, como a dengue, que é transmitida pelo

mosquito Aedes aegypti, e a esquistossomose, transmitida pelo caramujo

do gênero Biomphalaria. A razão do aumento dessas doenças é que as

alterações climáticas criam um ambiente ideal para a reprodução desses

vetores. Leia mais acerca desse assunto acessando os links:

<http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT399483-1718,00.html> e

<http://www.envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/

impacto-climatico-em-doencas-tropicais-desafia-os-cientistas>.

Fonte: Elaborado pelos autores.

162
unidade 6
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Sabe-se que as alterações climáticas podem provocar,

direta ou indiretamente, problemas de saúde. Cite e dê exemplos de como

as mudanças no clima podem influenciar o surgimento de doenças.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Mecanismos gerais das


lesões produzidas por
agentes químicos e físicos
A interação entre o organismo e o meio ambiente é de grande
importância para a Patologia. Agentes químicos e físicos do
ambiente podem gerar diversos tipos de lesões, comprometendo
a saúde do homem.

Lesões por agentes químicos


A área encarregada de estudar os efeitos de agentes tóxicos nos
organismos é denominada Toxicologia. Por meio dos estudos
toxicológicos, é possível determinar o potencial efeito de uma
substância à saúde, bem como os níveis em que esses agentes
podem ou não comprometer a fisiologia do organismo (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

Os efeitos provenientes do contato com agentes químicos variam


em função das propriedades físico-químicas de cada substância,
como a taxa de absorção, os mecanismos de metabolização e de
excreção delas (PEREIRA, 2006).

Os agentes químicos podem entrar no organismo como um tóxico


ou um medicamento, ou como um poluente contaminante do ar,
da água ou de alimentos (PEREIRA, 2006). Após entrar em contato

163
unidade 6
Patologia Geral

com o organismo mediante as vias cutânea, mucosa ou parenteral,


os agentes químicos passam por diferentes etapas (Figura 31),
conforme descrito a seguir, com base em Pereira (2006).

FIGURA 31: Esquematização dos diferentes caminhos que um agente


químico pode percorrer após entrar em contato com o organismo

Fonte: PEREIRA, 2006 [Adaptada].

- Absorção: processo pelo qual o agente químico passa pela membrana


celular, podendo acontecer por difusão simples (principalmente com
substâncias lipossolúveis), por transporte facilitado ou, ainda, por
transporte ativo (gasto de energia - APP), como geralmente ocorre
em tecidos de órgãos, como nos rins e no fígado. A absorção de uma
substância é influenciada pelas propriedades dela, bem como pelo
local em que a substância é absorvida.

164
unidade 6
Patologia Geral

- Transporte e distribuição: os agentes químicos, após absorvidos,


são transportados pela corrente sanguínea (dissolvidos no plasma
ou conjugados a proteínas plasmáticas) ou pelos vasos linfáticos.
Geralmente, os órgãos que possuem maior perfusão sanguínea ou
linfática, como o cérebro e o fígado, recebem maiores quantidades
dos agentes químicos, que podem sair dos vasos por poros
endoteliais ou por pinocitose.

- Armazenamento: os agentes químicos podem ser armazenados


no organismo por períodos variáveis, de acordo com suas
propriedades. O armazenamento pode ocorrer por dissolução do
agente químico no tecido, como o DDT, que se dissolve em lipídeos e
é armazenado nos adipócitos, e pode ser, também, por precipitação
ou por conjugação com moléculas do próprio tecido.

- Biotransformação: a biotransformação, ou metabolização, pode


ocorrer ou não com um agente químico. Esse processo consiste
basicamente em tornar o agente químico mais lipossolúvel, facilitando
sua excreção. Um agente químico metabolizado pode gerar
metabólitos inativos, substâncias tóxicas ou, ainda, metabólitos com
efeito terapêutico (como ocorre com alguns medicamentos).

- Excreção: os agentes químicos não metabolizados, ou as substâncias


resultantes da metabolização deles, são excretados do organismo por
meio da urina, das fezes, da respiração ou da pele, no suor.

QUESTÃO 2 - Após entrar em contato com o organismo por meio

das vias cutânea, mucosa ou parenteral, os agentes químicos passam por

diferentes etapas. Explique cada etapa desse processo.

O gabarito se encontra no final da unidade.

165
unidade 6
Patologia Geral

Gases
Microrganismos, partículas e substâncias químicas são
encontrados no ar e podem provocar doenças, levando, até mesmo,
à morte (Figura 32). Os principais poluentes do ar e seus efeitos no
organismo serão abordados a seguir.

FIGURA 32: Gases poluentes que afetam a saúde humana

Fonte: MARTINA VACULIKOVA, 123RF.

- Ozônio (O ): o gás ozônio é resultante de reações causadas pela


luz solar no oxigênio atmosférico e da oxidação do óxido nitroso
proveniente dos escapamentos de automóveis (PEREIRA, 2006).
No organismo, o ozônio promove a formação de radicais livres
que geram lesões celulares no epitélio do trato respiratório e nos
alvéolos pulmonares (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

166
unidade 6
Patologia Geral

- Dióxido de enxofre (SO ): a atividade de usinas de energia


movidas por combustão de carvão ou petróleo é a principal
responsável pela liberação de dióxido de enxofre na atmosfera.
Esse gás provoca redução da capacidade respiratória por
broncoconstrição (PEREIRA, 2006).

- Monóxido de carbono (CO): produzido pela oxidação incompleta


de materiais compostos por carbono, sendo liberado em grandes
quantidades pelo escapamento de automóveis e por indústrias. No
organismo, o monóxido de carbono se liga às hemácias e impede
que elas transportem o oxigênio, causando asfixia (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

- Óxido nitroso (N O): a atividade bacteriana gera óxido nitroso


que, quando inalado, pode provocar irritação e edema pulmonar. A
Essas poeiras
intoxicação por óxido nitroso é mais comum em ambientes rurais, são geradas por
por causa da grande quantidade de bactérias presente nas forragens diversas fontes,
(PEREIRA, 2006). sendo comum
a ocorrência
dessas lesões
em ambientes de
trabalho e em áreas
Poeiras/partículas urbanas

As lesões causadas por poeiras de origem mineral ou orgânica


são denominadas pneumoconioses. Essas poeiras são geradas
por diversas fontes, sendo comum a ocorrência dessas lesões em
ambientes de trabalho e em áreas urbanas. Apesar das adaptações do
sistema respiratório humano para a contenção de partículas e filtragem
do ar, como os cílios e o muco, a quantidade, a diversidade e o tamanho
da poeira inalada são fatores determinantes para que ela atinja as vias
respiratórias e os alvéolos pulmonares (PEREIRA, 2006).

Dentre as pneumoconioses mais comuns, estão as fibroses


pulmonares provocadas por poeiras de carvão, comuns em mineiros
desse mineral, a silicose, um tipo específico de fibrose, causada
pela inalação de sílica, e a asbestose, provocada pela inalação de

167
unidade 6
Patologia Geral

fibras de asbesto, utilizadas na fabricação de amianto. Todas essas


pneumoconioses são originadas pela longa exposição a grandes
quantidades de poeira desses materiais (PEREIRA, 2006).

Poeiras orgânicas podem causar irritação, desconforto


respiratório e redução da capacidade respiratória, como
consequência de uma provável reação alérgica às partículas
de materiais como algodão e cânhamo. Essas reações
frequentemente aparecem no início da exposição a essas poeiras
e são denominadas bissinoses (PEREIRA, 2006).

Fumaça do cigarro

A fumaça do cigarro é uma importante causa de diversas doenças


e uma das principais causas de morte, atingindo a saúde tanto dos
próprios fumantes quanto dos fumantes passivos (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

A fumaça produzida pela queima do tabaco possui centenas de


substâncias tóxicas (Figura 33), dentre as quais destacam-se a
nicotina, principal responsável pelo efeito viciante do cigarro, e
os hidrocarbonetos policíclicos e nitrosaminas, componentes
carcinogênicos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

168
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 33: Algumas das substâncias tóxicas presentes no cigarro e onde são encontradas

Fonte: CAMARGO, 2012, on-line [Adaptada].

As doenças mais comuns provenientes do tabagismo são os


cânceres de pulmão, boca, laringe, esôfago, pâncreas e bexiga,
enfisema pulmonar, bronquite crônica, infarto do miocárdio e
arterosclerose sistêmica (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

Metais pesados

Os metais contaminantes da água e dos alimentos são provenientes


principalmente do descarte irregular deles pelas indústrias, podendo
atingir trabalhadores desses locais, bem como a população que
ingere os produtos contaminados (Figura 34) (PEREIRA, 2006).

169
unidade 6
Patologia Geral

- Chumbo: pode ser absorvido por ingestão ou inalação e é


depositado em sua maior parte nos ossos e nos dentes, mas
também pode permanecer no sangue e atingir tecidos moles. A
intoxicação por chumbo pode provocar neuropatias, anemia e
hemólise (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

- Mercúrio: a principal fonte de contaminação por mercúrio,


atualmente, é a ingestão de peixes contaminados e a liberação
de vapor de mercúrio por amálgamas dentários (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013). A intoxicação aguda por esse metal causa tremores,
inflamação na gengiva, distúrbios comportamentais, vômito e
diarreia. A exposição crônica ao mercúrio pode gerar neurastenia e
deterioração mental (PEREIRA, 2006).

- Arsênico: pode ser liberado em minerações e indústrias de fundição,


estando presente em herbicidas e conservantes de madeira, por
exemplo. Esse metal é considerado carcinogênico e associa-se ao
desenvolvimento de tumores de pele e de pulmão. A intoxicação
por arsênico provoca distúrbios nervosos, cardiovascular e
gastrointestinal, levando, frequentemente, à morte (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

- Cádmio: esse metal está presente, principalmente, em baterias de


níquel-cádmio, que podem poluir o ambiente por serem descartadas
irregularmente. A intoxicação por cádmio é mais comum por
ingestão de alimentos contaminados e causa doença pulmonar
obstrutiva, toxicidade renal e perda de cálcio.

170
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 34: Exemplo de um estudo realizado no Rio Tietê sobre contaminação com metais
pesados

Fonte: CALÇAS, 2010, [Adaptada].

Dicas
Metais pesados onde menos esperamos.

Você sabia que Metais pesados podem ser encontrados em jóias?

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)

estabeleceu limites para a presença de metais pesados, como cádmio e

chumbo, para a fabricação e importação de bijuterias e joias. A portaria do

Inmetro foi publicada no  , após consulta pública, e já está valendo a partir

do dia 01/01/2017, de acordo com chefe da Divisão de Articulação Externa

e Projetos Especiais do órgão, Gustavo Kuster. 

Os fabricantes e importadores terão prazo de 36 meses para se adequarem

171
unidade 6
Patologia Geral

às novas regras, que estabelecem concentrações máximas de 0,01% do

metal presente para contato com o corpo de cádmio e 0,03% de chumbo,

em peso, respectivamente, para cada produto analisado. O objetivo do

Inmetro é impedir a entrada de produtos irregulares e de baixa qualidade

no mercado e que possam trazer riscos à saúde da população e ao meio

ambiente, além de proteger o mercado nacional da concorrência desleal.

Segundo Kuster, as irregularidades costumam ocorrer mais com produtos

oriundos da China e do Oriente Médio. Os técnicos do Inmetro coletaram e

compraram amostras no mercado e também da Receita Federal, nos portos

do Rio de Janeiro e de Santos. Nos laboratórios, verificaram a presença de

teores elevados de cádmio e chumbo em algumas bijuterias e joias.

Kuster descartou, entretanto, que a quantidade encontrada possa

representar um risco para a população. Ele disse que a regulamentação

é mais preventiva do que corretiva e está em linha com a lei em vigor

nos Estados Unidos e Europa. Kuster explicou que quando esses países

regulamentam, se o Brasil não fizer o mesmo, corre o risco de o produto

que não entrar naqueles mercados ser despachado e vendido no Brasil,

“porque não tem controle”.

A preocupação do Inmetro em criar essa barreira objetiva impedir também

o descarte desse tipo de material, em grandes quantidades, porque pode

levar a um problema de contaminação no solo.

Fonte: GANDRA, A. Inmetro estabelece limite para metais pesados em

bijuterias e joias. 01 fev. 2016. EBC - Agência Brasil. Disponível em: <http://

agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-02/inmetro-estabelece-limite-

para-metais-pesados-em-bijuterias-e-joias>. Acesso em: 22 fev. 2017.

“Doenças associadas ao acidente de Chernobil”


Autor: Isadora Oliveira

172
unidade 6
Patologia Geral

Solventes

Os solventes são muito utilizados nas indústrias de colas e tintas,


por exemplo, e, frequentemente, possuem alto grau de volatilidade,
o que facilita a inalação de gases tóxicos liberados por essas
substâncias (PEREIRA, 2006).

A gasolina e o querosene, originados pela destilação do petróleo,


quando inalados em grandes quantidades, podem causar a
perda da coordenação motora, confusão mental, ataxia, delírio,
coma e até a morte. Se ingeridos, esses solventes podem gerar
pneumonite aspirativa. Em ambas as formas de intoxicação,
a gasolina e o querosene podem sensibilizar o organismo à
adrenalina (PEREIRA, 2006).

Hidrocarbonetos halogenados, como o tetracloreto de carbono


e o clorofórmio, podem ter efeito carcinogênico e cirrótico por
intoxicação crônica. A intoxicação aguda desses hidrocarbonetos
pode causar náuseas, vômito, cefaleia e coma (PEREIRA, 2006).

Os hidrocarbonetos aromatizados também podem causar lesões


por inalação. O benzeno, por exemplo, pode provocar fraqueza,
vômito, arritmia cardíaca, perda da consciência e, por exposição
crônica, aumento do risco de desenvolvimento de leucemias. O
tolueno, solvente presente na cola de sapateiro e muito utilizado
como psicotrópico, causa euforia e depressão do sistema nervoso
(PEREIRA, 2006).

Os álcoois podem causar intoxicação principalmente por ingestão


de bebidas alcoólicas. Essas substâncias podem gerar dependência
e provocar manifestações neurológicas e lesões em vários órgãos,
como o fígado. O metanol é um tipo de álcool que pode ocasionar
intoxicação com sintomas como cefaleia, vômito, fraqueza e perda
da visão (PEREIRA, 2006) (Figura 35).

173
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 35: Alcoolismo

Fonte: GERALT, 2012, on-line.

174
unidade 6
Patologia Geral

QUESTÃO 3 - Os solventes possuem alto grau de volatilidade, o que

facilita a inalação de gases tóxicos liberados por essas substâncias. A

respeito dos solventes, assinale a alternativa correta.

a. O tetracloreto de carbono e o clorofórmio são solventes do grupo

dos hidrocarbonetos halogenados.

b. O benzeno é um tipo de álcool que pode provocar fraqueza,

vômito, arritmia cardíaca, perda da consciência e, por exposição

crônica, aumento do risco de desenvolvimento de leucemias.

c. Bebidas alcoólicas não causam intoxicação, pois possuem

pequenas quantidades de álcool.

d. O tolueno está presente na cola de sapateiro e, por isso, a inalação

desse solvente não provoca problemas de saúde.

e. Os hidrocarbonetos aromatizados frequentemente geram

pneumonite aspirativa.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Drogas terapêuticas
As drogas usadas como terapias podem desencadear efeitos
colaterais chamados de reações adversas às drogas (RADs).
Segundo Kumar, Abbas e Aster (2013), dentre os fármacos mais
comuns e com efeitos adversos mais frequentes, estão:

• Contraceptivos orais com base de estrogênio (Figura


36): podem aumentar o risco de tromboembolismo e do
desenvolvimento de câncer de endométrio e de mama.

175
unidade 6
Patologia Geral

FIGURA 36: Anticoncepcionais podem favorecer problemas circulatórios

Fonte: PILULE…, 2006, on-line.

• Acetaminofeno: esse fármaco possui ação antipirética e


analgésica e é amplamente utilizado. Em grandes doses,
pode causar necrose hepática e danos renais.

• Ácido acetilsalicílico (aspirina): a administração de


altas dosagens de ácido acetilsalicílico, utilizada para o
tratamento de inflamações, pode desencadear o salicismo
crônico, quadro caracterizado por cefaleias, vertigens,
confusão mental, diarreia, dentre outros sintomas. A
superdosagem de aspirinas pode gerar alcalose respiratória
aguda, que é, frequentemente, letal.

176
unidade 6
Patologia Geral

Drogas ilícitas
O abuso de drogas, como a cocaína e o crack, é de grande importância
socioeconômica, pois envolve o tráfico de drogas ilícitas, doenças
relacionadas, direta ou indiretamente, ao uso de drogas e um grande
número de mortes por (exposição do organismo a altas doses que
podem levar à morte) (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A cocaína é extraída das folhas da coca e comercializada em forma


de pó, enquanto o crack é obtido pela cristalização de um alcaloide
precursor da cocaína. Ambos causam dependência e possuem
efeitos semelhantes, porém o crack é frequentemente mais potente
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).
O abuso de drogas,
como a cocaína
A cocaína gera euforia e agilidade mental. Intoxicação por cocaína e o crack, é de
pode causar problemas cardiovasculares, como taquicardia e grande importância
socioeconômica,
hipertensão arterial, efeitos no sistema nervoso central, como
pois envolve o
hiperpirexia e convulsões, lesões na mucosa nasal e redução da tráfico de drogas
capacidade pulmonar (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013). ilícitas, doenças
relacionadas, direta
ou indiretamente,
A heroína é uma droga opioide derivada da papoula, da mesma forma ao uso de drogas e
que a morfina, utilizada como fármaco para analgesia. Essa droga um grande número
causa euforia, alucinações, sonolência e sedação. Uma questão de mortes por
overdose.
de grande relevância no uso da heroína é o compartilhamento de
agulhas utilizadas para injetar a droga no organismo, razão pela
qual muitos usuários contraem doenças como a AIDS. O uso
crônico de heroína promove doenças pulmonares, como embolia e
edema, infecções, lesões cutâneas, problemas renais e até a morte
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A maior parte dos efeitos causados pelo uso da maconha é proveniente


da forma como ela é utilizada (fumo) e/ou dos contaminantes
adicionados durante o processamento da planta. O uso da maconha
pode causar efeitos temporários de lentidão cognitiva e psicomotora,
porém a maconha tem sido muito estudada por seus efeitos
terapêuticos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

177
unidade 6
Patologia Geral

Estudo de caso
Maconha medicinal.

Analisar os efeitos medicinais da maconha, uma droga ilícita no Brasil.

O lutador de MMA Cain Valásquez declarou o uso de canabidiol, um

princípio ativo da maconha, para tratar dores nas costas. Esse é apenas

um exemplo do uso terapêutico dessa planta, que, cada vez mais, torna-

se tema de discussões sociais, políticas, econômicas e médicas sobre a

liberação de drogas atualmente ilícitas para uso medicinal.

Para o estudo dos efeitos da maconha, geralmente, cada substância ativa

da planta, como o THC e o canabidiol, é analisada separadamente. Dessa

forma, é possível verificar quais substâncias são as principais responsáveis

por propriedades terapêuticas específicas e/ou quais são as substâncias

que provocam efeitos indesejados.

Substâncias tóxicas utilizadas em doses adequadas podem ser benéficas

ao organismo.

Algumas drogas podem ser comparadas por analogia com medicamentos,

uma vez que possuem propriedades medicinais, apesar dos efeitos

colaterais indesejados no desenvolvimento de fármacos e nas terapias para

doenças. Como a ciência pode contribuir para que os efeitos medicinais de

uma droga prevaleçam sobre seus efeitos colaterais?

Links para consulta:

<http://www.superlutas.com.br/noticias/53690/velasquez-revela-uso-de-

maconha-medicinal-em-tratamento/>.

<http://revistavivasaude.uol.com.br/Edicoes/29/artigo27356-1.asp/>.

< h t t p : // w w w. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _

arttext&pid=S0100-40422006000200024>.

<http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/1604/n/mais_uma_

aplicacao_medicinal_para_a_maconha/Post_page/525>.

178
unidade 6
Patologia Geral

Contaminantes alimentares
Os alimentos consumidos no dia a dia podem conter contaminantes
tóxicos tanto de origem natural quanto de origem artificial. Os
principais contaminantes naturais são substâncias produzidas
por fungos, como as aflatoxinas (Figura 37), as ocratoxinas e os
tricotecenos (PEREIRA, 2006).

Os contaminantes artificiais, por sua vez, são aditivos utilizados


principalmente para conservar os alimentos. Por isso, as
quantidades permitidas desses aditivos são controladas e devem
ser mantidos padrões de segurança no uso delas (PEREIRA, 2006).

FIGURA 37: Grãos de amendoim contaminados por fungo que produz aflatoxina

Fonte: INTERNATIONAL…, [2017], on-line.

179
unidade 6
Patologia Geral

Lesões por agentes físicos


Segundo Kumar, Abbas e Aster (2013), as lesões causadas por
agentes físicos podem ser originadas de:

• Trauma mecânico: causado pelo impacto de um objeto


com o organismo e seus efeitos dependem da quantidade
de energia dissipada e do local da colisão, podendo gerar
abrasões, contusões (Figura 38), lacerações, incisões e
perfurações.

FIGURA 38: Contusão com hematoma

Fonte: ROB, [2017], on-line.

180
unidade 6
Patologia Geral

• Lesões térmicas: podem ser provocadas por queimaduras,


hipertermia ou por hipotermia. As consequências de uma
queimadura dependem da profundidade e da extensão da
lesão e requerem rápida reposição hídrica e eletrolítica,
bem como a prevenção ou a contenção de infecções. As
queimaduras podem causar choque hipovolêmico, pela
perda de fluidos, edema pulmonar, lesão por inalação de
fumaça quente, sepse e falência múltipla dos órgãos. A
hipertermia é causada pelo aumento da temperatura do
corpo e pode provocar exaustão, câimbras e insolação.
Por outro lado, a hipotermia é originada pela redução da
temperatura corpórea e pode gerar lesões pela cristalização
dos líquidos intra e extracelulares, alterações circulatórias,
como edema e isquemia, e fibrose.

“Lesão térmica: Queimaduras”


Autor: Isadora Oliveira

• Lesão elétrica: esse tipo de lesão pode ser decorrente de


choques de baixa ou de alta voltagem, o que determina
as consequências para o organismo. As lesões elétricas
podem provocar queimaduras, fibrilação cardíaca e
insuficiência cardiorrespiratória.

• Radiação ionizante: pode ser proveniente de raios X e γ,


nêutrons de alta energia e partículas α e β. Essa radiação
possui energia suficiente para alterar os elétrons atômicos
em uma reação cascata, resultando na ionização dos
átomos. As radiações ionizantes são utilizadas nas
radioterapias, mas também possuem potencial mutagênico,
carcinogênico e teratogênico, além de provocarem diversos
outros efeitos, como fibrose, anemia e edemas.

181
unidade 6
Patologia Geral

QUESTÃO 4 - A respeito das lesões causadas por agentes físicos,

analise as alternativas a seguir e assinale a correta:

a. As radiações ionizantes possuem potencial carcinogênico, mas

também são utilizadas com fins terapêuticos.

b. Choques de baixa voltagem não causam lesões elétricas.

c. Um trauma mecânico é causado pelo impacto do organismo com

uma superfície, sem causar ruptura de tecidos.

d. A hipotermia é a redução da temperatura do corpo e pode

provocar exaustão, câimbras e insolação.

e. Os principais contaminantes naturais são substâncias produzidas

por bactérias, como as aflatoxinas, as ocratoxinas e os

tricotecenos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Doenças de caráter
nutricional
A nutrição é um processo involuntário e inconsciente, por meio
do qual ocorre a biotransformação do alimento. Transtornos
alimentares são frequentes e podem comprometer a nutrição,
tanto pela carência quanto pelo excesso de nutrientes, e,
consequentemente, alterar a obtenção de energia para o organismo
(PEREIRA, 2006).

Os componentes dos alimentos são classificados em


macronutrientes, que são as proteínas, os lipídeos e os carboidratos,
e micronutrientes, que consistem nas vitaminas e nos sais minerais
(PEREIRA, 2006).

182
unidade 6
Patologia Geral

A seguir, faremos uma apresentação dos principais distúrbios


nutricionais.

• Desnutrição: para uma nutrição adequada, faz-se


necessária a obtenção de energia suficiente para atender às
necessidades metabólicas do organismo, o fornecimento
dos aminoácidos e ácidos graxos essenciais e a quantidade
apropriada de vitaminas e sais minerais (PEREIRA, 2006).

O quadro de desnutrição primária é caracterizado pela falta de um


ou mais dos componentes citados anteriormente. Já a desnutrição
secundária (ou condicional) ocorre quando, apesar da ingestão
adequada desses nutrientes, não há eficiência na absorção do
armazenamento ou da metabolização deles, ou, ainda, ocorre pela
perda ou aumento da necessidade de nutrientes (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2013).

Um tipo específico de desnutrição, muito comum em países pobres,


é chamado de desnutrição proteico-energética. Nesse tipo, a
deficiência de proteínas e calorias é tão acentuada que não atende à
necessidade do organismo (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A desnutrição proteico-energética pode gerar o marasmo, condição


na qual a energia necessária para o funcionamento do organismo
é obtida das proteínas dos músculos, e o , doença em que o
organismo passa a obter energia da reserva de proteína de órgãos
viscerais (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

A caquexia é uma doença proveniente da desnutrição proteico-


energética secundária, comum em pacientes com câncer e, muitas
vezes, precede a morte. Geralmente, a caquexia é provocada pela
perda de apetite e pela produção de fatores de degradação proteica
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

• Transtornos alimentares de origem psicológica: a anorexia


é um transtorno causado pela autoindução da desnutrição.
Pacientes com anorexia, geralmente, apresentam

183
unidade 6
Patologia Geral

amenorreia (falta de menstruação), bradicardia,


constipação e alterações na pele e nos cabelos (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

Na bulimia, a inanição é causada pela indução do vômito após a


alimentação. Os principais sintomas de pacientes bulímicos são
desequilíbrios eletrolíticos, arritmia cardíaca, aspiração pulmonar
do ácido estomacal e lesões no esôfago e no estômago (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2013).

“Transtornos alimentares de origem psicológica:

anorexia e bulimia”
Autor: Isadora Oliveira

• Desequilíbrio dos micro e macronutrientes: cada


componente nutricional possui funções específicas
no organismo e, por isso, o excesso ou a deficiência
desses nutrientes pode acarretar doenças, conforme
descreveremos na sequência, segundo Pereira (2006).

Proteínas – a falta de proteínas pode gerar emagrecimento, anemia,


edema em adultos e a síndrome de em crianças. O excesso de proteínas
está associado ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer, ao
aumento da excreção de cálcio e ao aumento do risco de aterosclerose.

Lipídeos – a deficiência de ácidos graxos essenciais pode causar


retardo do crescimento, diminuição de lipoproteínas de alta densidade
e aumento do colesterol, hemólise, dentre outras consequências.

No caso da falta de colesterol, há o comprometimento da síntese de


esteroides e de sais biliares, enquanto o excesso de colesterol pode
favorecer a aterosclerose e alguns tipos de câncer.

Carboidratos – apesar de não serem essenciais para a nutrição,


a deficiência de carboidratos pode resultar em alterações no

184
unidade 6
Patologia Geral

metabolismo dos lipídeos, aumento do consumo de proteínas,


aumento da excreção de sódio e fadiga. Por outro lado, o consumo
exagerado de carboidratos pode favorecer doenças periodontais e o
aumento do risco para o desenvolvimento da aterosclerose.

Fibras – as fibras solúveis contribuem para a redução da


colesterolemia e para a redução da velocidade de absorção do
intestino delgado. Dietas com pouca ingestão de fibras podem
favorecer problemas intestinais, enquanto a ingestão adequada de
fibras está relacionada à prevenção de alguns tipos de câncer.

Vitaminas – o excesso de ingestão de vitaminas é chamado


hipervitaminose e a falta delas, que é mais comum, é conhecida
como hipovitaminose ou avitaminose (Quadro 1). A falta da vitamina
A causa alterações na visão, distúrbios do crescimento e problemas
imunológicos, enquanto a hipervitaminose pode gerar intoxicação,
provocando vômitos e aumento da pressão intracraniana.

185
unidade 6
Patologia Geral

QUADRO 1 - Principais funções das vitaminas e as consequências das hipovitaminoses

Vitamina Funções Síndromes de Deficiência


Lipossolúveis
Componete do pigmento Cegueira noturna, xeroftalmia,
visual Manutenção do epitélio cegueira Metaplasia escamosa,
Vitamina A
especializado Manutenção da Vulnerabilidade a infecções,
resistência a infecção particularmente sarampo
Facilitar a absorção intestinal de Raquitismo em crianças,
Vitamina D
cálcio e fósforo, mineração óssea. Osteomalacia em adultos.
Principal oxidante; elimina os
Vitamina E Degeneração espinocerebelar
radicais livres.
Cofator na carboxilação dos
pró- coagulantes - fatores II
Vitamina K Diatése hemorrágica
(protombina), CII, IX e X; e
proteínas C e S
Hidrossolúveis
Assim como o pirofosfato, é
Beribéri seco ou úmido, síndrome de
Vitamina B1 (tiamina) uma coenzima nas reações de
Wernicke, síndrome de Korsakoff
decarboxilação
Convertida em coenzimas
mononucleotídeo flavinae
Queilose, estomatite, glossite,
Vitamina B2 (riboflavina) dinucleotídeo flavina - adenina,
dermatite, vascularização da córnea
cofator para diversas enzimas no
metabolismo intermediário
Incorporada ao dinucleotídeo
nicotinamida - adenina (NAD) e
Pelagra - Os três D: Demência,
Niacina fosfato NAD; envolvida em uma
Dermatite, Diarréia
variedade de reações de oxidação -
redução (redox)
Necessária para o metabolismo Combinada com doença
normal do folato e síntese do DNA sistêmica (anemia megaloblástica
Vitamina B12
Manutenção da mielinização dos e degeneração dos tratos
tratos da medula espinhal posterolaterais da medula espinhal
Serve para várias reações redox e
Vitamina C Escoburto
hidroxilação do colágeno
Essencial para transferir e usar
Anemia megagloblástica, defeitos
Folato uma unidade decarbono na síntese
dos tubos neurais
do DNA
Nenhuma síndrome não
Ácido Pantotênico Incorporado à coenzima A
experimental reconhecida
Cofator nas reações de Nenhuma síndrome clínica
Biotina
carboxilação claramente definida

Fonte: KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013, p. 302.

186
unidade 6
Patologia Geral

O escorbuto é uma doença causada pela hipovitaminose C, que


apresenta hemorragias, dores musculares, hipotensão arterial,
lesões ósseas e retardo do processo de cicatrização.

A hipovitaminose D provoca a redução da absorção de cálcio


no intestino e o comprometimento da calcificação óssea. Como
resultado, os ossos tornam-se frágeis e deformáveis, como acontece
no raquitismo (falta de vitamina D em crianças) e na osteomalácea
(falta de vitamina D em adultos). Em excesso, a vitamina D pode
causar hipercalcemia, desidratação e formação de cálculos renais.

- Obesidade: é uma grave doença da atualidade, provocada


pelas mudanças sociais na alimentação e na atividade física.
As pessoas obesas possuem excesso de tecido adiposo e são
propensas a desenvolver diversas doenças, como o diabetes,
a hipertrigliceridemia (que aumenta o risco para doenças
coronarianas), alguns tipos de câncer, como o de esôfago e o de
rins, e a hipoventilação (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2013).

QUESTÃO 5 - Para uma nutrição adequada, faz-se necessária a

obtenção de energia suficiente para atender às necessidades metabólicas

do organismo. Acerca disso, marque a alternativa correta:

a. A obesidade causa o acúmulo de tecido adiposo e pode provocar

o diabetes.

b. O raquitismo é causado pelo excesso de vitamina D, responsável

pela calcificação óssea.

c. A falta de fibras alimentares pode favorecer o aparecimento do

escorbuto.

d. O e o marasmo são causados pelo consumo das reservas de

gordura do organismo.

e. A anorexia e a bulimia são transtornos genéticos herdados.

187
unidade 6
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - O aumento global da temperatura pode causar doenças


cardiovasculares, respiratórias e cerebrais, devido ao aumento do calor e da

poluição atmosférica. Em relação a doenças infecciosas transmitidas por

vetores, como a dengue e a malária, mudanças climáticas podem favorecer

a reprodução desses vetores. Pode causar, também, a desnutrição, pois o

clima influencia diretamente a produção agrícola.

QUESTÃO 2 - A absorção é o processo pelo qual o agente químico

passa pela membrana celular. Após absorvido, o agente químico é

transportado pela corrente sanguínea ou pelos vasos linfáticos. Alguns

agentes químicos podem ser armazenados no organismo por períodos

variáveis, de acordo com suas propriedades. A biotransformação, ou

metabolização, pode ocorrer ou não com um agente químico. Esse

processo consiste basicamente em tornar o agente químico mais

lipossolúvel, facilitando sua excreção. Um agente químico metabolizado

pode gerar metabólitos inativos, substâncias tóxicas ou, ainda, metabólitos

com efeito terapêutico. Por fim, os agentes químicos não metabolizados,

ou as substâncias resultantes da metabolização deles, são excretados do

organismo por meio da urina, das fezes, da respiração ou da pele, no suor.

QUESTÃO 3 - a) Hidrocarbonetos halogenados, como o tetracloreto

de carbono e o clorofórmio, podem ter efeito carcinogênico e cirrótico por

intoxicação crônica.

QUESTÃO 4 - a) As radiações ionizantes são utilizadas nas

radioterapias, mas também possuem potencial mutagênico, carcinogênico

e teratogênico, além de provocarem diversos outros efeitos, como fibrose,

anemia e edemas.

QUESTÃO 5 - Justificativa correta: A obesidade é uma grave doença


da atualidade, provocada pelas mudanças sociais na alimentação e na

atividade física. As pessoas obesas possuem excesso de tecido adiposo e

são propensas a desenvolver diabetes, hipertrigliceridemia, alguns tipos de

câncer e a hipoventilação.

188
unidade 6
Patologia Geral

“Resumo da unidade”

189
unidade 6
UNIDADE
Doenças infecciosas

• Princípios
gerais da
patogenia
das doenças
infecciosas
• Princípios
gerais de doenças
infecciosas
• Agentes
Infecciosos
• Transmissão e
disseminação de
microrganismos
• Mecanismos
gerais de danos
causados
por agentes
infecciosos
• Doenças
infecciosas
Patologia Geral

Princípios gerais da
patogenia das doenças
infecciosas

Introdução geral
As doenças infecciosas ainda são consideradas relevantes na
saúde mundial, mesmo com a disponibilidade e uso de vacinas e
antibióticos eficazes no tratamento e no controle. Essas doenças
As doenças
têm especial influência nas causas de morte entre idosos, pessoas infecciosas ainda
com síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), pessoas com são consideradas
relevantes na
doenças crônicas e pacientes em uso de drogas imunossupressoras.
saúde mundial,
Nos países em desenvolvimento, as condições de vida insalubres e mesmo com a
a desnutrição contribuem na alta incidência de doenças infecciosas. disponibilidade e
Nesse caso, as vítimas mais comuns são crianças com infecções uso de vacinas e
antibióticos eficazes
respiratórias e diarreicas (ROBBINS, 2013).
no tratamento e no
controle.
Nas últimas décadas o padrão das doenças infecciosas tem mudado
em todo o mundo, devido ao progresso científico e tecnológico, em
que transformações econômicas e sociais geram modificações na
vida do homem e influenciam tecnologias médicas. Mudanças na
distribuição de microrganismos, são evidentes quando patógenos
restritos a só um local são introduzidos em outros locais por meio
do intercâmbio internacional das pessoas. Como no caso da dengue,
cujo vírus é disseminado por indivíduos infectados que se deslocam
de países afetados para outros não afetados (WALDMAN, 1999).

As doenças transmissíveis apresentam mudanças significativas,


observadas pelos padrões de morbimortalidade em todo o planeta.
Essas doenças continuam oferecendo problemas aos programas
de prevenção com a introdução de novas doenças como a

192
unidade 7
Patologia Geral

AIDS ou outros agentes que sofrem alterações em seu padrão


genético, disseminando-se a toda população, como por exemplo a
pandemia causada pelo vírus influenza A (H1N1). Doenças antigas
ressurgiram, como a dengue, a cólera, tuberculose e as meningites
persistentes, fazendo com que esse grupo de doenças seja um
problema de saúde pública, inclusive em países desenvolvidos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Noticia
Brasil tem surto de doenças e epidemias por atuar apenas em situação

emergencial

No Brasil, alguns anos após um período de incidência moderado do

vírus da dengue, volta a ter um número alto de casos da doença, como

consequência o número de mortes crescem a cada dia. Além desta,

meningite e outras doenças tropicais como malária, leishmaniose e

esquistossomose, provocam ainda inúmeras vítimas e alguns casos

levando a morte, principalmente na população de baixa renda. Conforme

a reportagem do UOL, notícias redigida por Guilherme Balza. Para ler a

reportagem completa acesse: <http://www.noticias.uol.com.br/cotidiano/

ultimas-oticias/2010/02/26/brasil-tem-surtos-de-doenca-e-epidemias-

por-atuar-de-forma-emergencial-diz-sanitarista.htm>.

Fonte: BALZA, G. Brasil tem surto de doenças e epidemias por atuar

apenas em situação emergencial. UOL Notícias. 2010. Disponível em:

<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2010/02/26/brasil-

tem-surtos-de-doenca-e-epidemias-por-atuar-de-forma-emergencial-diz-

sanitarista.htm>. Acesso em: 23 fev. 2017.

193
unidade 7
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Nos últimos anos os padrões das doenças infecciosas têm


mudado significativamente, devido ao processo científico, transformações

econômicas e sociais. A introdução de patógenos em países que não

apresentavam esse microrganismo, acontece por meio do quê?

a. Infecção de idosos em hospital.

b. Organismos geneticamente modificados

c. Inovação tecnológica.

d. Intercâmbio internacional de pessoas e outros organismos vivos.

e. Migração de pessoas de uma cidade para outra num mesmo país.

O gabarito se encontra no final da unidade.

“Vacinas e antibióticos”
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva

Princípios gerais de
doenças infecciosas
Diante dos fatos que doenças infecciosas são uma questão
relevante para a saúde ainda na atualidade e que seus agentes
podem sofrer alterações genéticas que permitem o aumento de
sua disseminação, é de extrema importância compreender os
mecanismos envolvidos por trás dessas doenças. Para Robbins
(2000), dois aspectos devem ser considerados ao estudar o
processo de infecção: as propriedades específicas dos patógenos
(agente infeccioso) que causam as infecções e a resposta do
hospedeiro aos agentes infecciosas. Define-se como hospedeiro o
organismo capaz de atender as demandas nutricionais e físicas de

194
unidade 7
Patologia Geral

crescimento de outro organismo, que nessa unidade será muitas


vezes referente aos seres humanos (PORTH, 2010).

O desenvolvimento das doenças infecciosas está intimamente


relacionado com hospedeiro humano, agente infeccioso e ambiente
externo. O processo de infecção resulta da introdução do agente
exógeno (origem externa) em um hospedeiro a partir do ambiente,
ou de um agente endógeno (interno) que vence a imunidade inata
do hospedeiro e causa a doença. A resposta imunológica do
hospedeiro desempenha um papel importante no combate dessas
situações (PORTH, 2010).

Agentes Infecciosos
As doenças infecciosas são causadas por uma gama de
microrganismos, que muitas vezes são inofensivos para
determinados organismos, mas ao contato com os seres
humanos podem se tornar patogênicos. Incluem-se aos
microrganismos patógenos: gêneros de bactérias, de fungos, de
vírus e de protozoário (Figura 39). Ainda segundo Robbins (2000),
organismos patogênicos podem ser endoparasitas, que penetram
o hospedeiro; e ectoparasitas, causam lesão apenas na superfície
da pele. Além de microrganismos, proteínas modificadas (príons),
helmintos, alguns aracnídeos e insetos podem ser considerados
agentes infecciosos.

195
unidade 7
Patologia Geral

FIGURA 39 - Microrganismos patógenos causadores de doenças infecciosas

Fonte : KON, 123RF.

Bactérias são organismos procariontes aeróbicas ou anaeróbicas.


Sua parede celular pode ser de duas formas: parede espessa
que retêm a coloração de cristal violeta (bactérias gram-
positivas) e parede celular fina circundada por uma membrana
externa (bactérias gram-negativas). Essas colorações auxiliam
na classificação bacteriana. Outra característica que ajuda na
classificação é a forma, que podem ser principalmente esféricas
(cocos) ou bastão (bacilos). Além disso, as bactérias podem ser
imóveis ou móveis (flagelos) e algumas podem apresentar pili
(fimbrias) que são responsáveis pela adesão da bactéria a célula
hospedeira. As bactérias sintetizam seu próprio DNA, RNA e
proteínas, mas dependem do hospedeiro para condições favoráveis
para o crescimento (ROBBINS, 2013).

196
unidade 7
Patologia Geral

Os fungos são constituídos por paredes celulares espessas tendo


como componente estrutural o ergosterol (ROBBINS, 2000). Os
fungos de interesses médicos (agentes de micoses), possuem
dois tipos morfológicos: leveduras, que são unicelulares e fungos
filamentosos, que são multicelulares. A estrutura primária das
leveduras são células que se reproduzem por brotamento de forma
arredondada, esporos de origem assexual que se denominam
blastoconídios. Os fungos filamentosos são constituídos de hifas,
podendo ser septada ou não septada (cenocítica). A partir da
hifa formam-se esporos, para propagação das espécies. Em sua
maioria os fungos, os esporos podem ser chamados de conídios,
pois nascem diretamente delas ou sobre estruturas ligadas a elas
(BRASIL, ANVISA, 2004).

Vírus são patógenos intracelulares obrigatórios, que contém


DNA ou RNA como material genético, que é envolvido por um Protozoários
capsídeo proteico, podendo ser recoberto por um envelope de são parasitas
unicelulares
lipídeos, carboidratos e proteínas. A maioria dos vírus conhecidos
eucariotos providos
multiplicam-se no interior das células vivas, utilizando sua de motilidade,
maquinaria para sintetizar as estruturas que possibilitam a possuem
transferência de seus ácidos nucleicos para outras células. Muitos membranas
complacentes
não produzem enzimas próprias, tendo assim um metabolismo
e organelas
totalmente sequestrado do hospedeiro (SEHNEM, 2015). citoplasmáticas
complexas.
Protozoários são parasitas unicelulares eucariotos providos de
motilidade, possuem membranas complacentes e organelas
citoplasmáticas complexas (ROBBINS, 2000). Sua reprodução pode
ser sexuada ou assexuada, e os ciclos de vida podem ser simples
ou complexos. A maioria são microrganismos saprófitos, mas
alguns se adaptaram ao homem e desencadeiam uma diversidade
de doenças, incluindo malária, disenteria amebiana e giardíase
(PORTH, 2010).

Na classe de proteínas que desencadeiam o processo de infecção


encontram-se as proteínas Príons (PrP), que são proteínas com
conformação diferenciada, que confere resistência a proteases

197
unidade 7
Patologia Geral

(enzimas que degradam proteínas). Essa resistência na PrP


promove a conversão da PrP normal, sensível a proteases, para a
forma anormal, explicando a natureza infecciosa dessas doenças.
Esses príons causam encefalopatias espongiformes transmissíveis,
por exemplo, a Kuru (associada ao canibalismo humano), doença
de Creutzfeldt – Jakob (CJD) e encefalopatia espongiforme bovina
(BSE, conhecida como doença da vaca louca) (ROBBINS, 2013).

Existem também os helmintos, organismos multicelulares, altamente


diferenciados, geralmente alterna-se entre reprodução sexual no
hospedeiro definitivo e multiplicação assexuada no hospedeiro
intermediário ou vetor. Possuem três classes: nematoides (vermes
arredondados), caracteriza-se por um tegumento colágeno e uma
estrutura asegmentada; cestoides (vermes chatos) desprovidos de
intestino, de cuja cabeça (escólex) brota uma fita de segmentos
chatos (proglótides); trematoides, vermes primitivos foliformes
com tegumento sincicial (ROBBINS, 2000). Por fim existem os
ectoparasitas que são insetos (piolhos, percevejo, pulgas) ou
aracnídeos (ácaros, carrapatos, aranhas) que se fixam e vivem na
superfície ou no interior da pele. (ROBBINS, 2013)

Dicas
Bactéria causadora de infecção alimentar é utilizada em tratamentos estéticos

No fim da década de 60, Alan B. Scott, oftalmologista americano, em busca

de técnicas para o tratamento de estrabismo, recebeu do Dr. Edward J.

Schantz, amostras da toxina botulínica tipo A para testá-la em músculos

extraoculares de macacos. A experiência foi bem sucedida, confirmando

que toxina era uma alternativa eficaz para o tratamento do estrabismo.

Na década de 70, Scott recebeu autorização do FDA (Food and Drug

Administration) para utilizar a toxina em seres humanos, assim descobriu

que o produto, injetado relaxava os músculos. Deduziu então que aplicação

local em determinados músculos, interrompia momentaneamente o

movimento muscular anormal e dessa forma corrigia o problema. E a partir

do uso terapêutico, que surgiu o uso cosmético. O casal canadense Jean

198
unidade 7
Patologia Geral

e Alastair Crruthers, oftalmologista e dermatologista respectivamente,

observaram melhora em rugas em pacientes tratados para indicações

terapêuticas, iniciaram os primeiros estudos na área. Desde então, o uso

cosmético da toxina tipo A evoluiu e se expandiu em todo mundo. Como

nós conhecemos pelo Botox.

Fonte: WIKIPEDIA. Toxina Botulínica. Wikipédia. [2017] Disponível: <https://

pt.wikipedia.org/wiki/Toxina_botul%C3%ADnica>. Acesso em: 23 fev. 2017.

QUESTÃO 2 - Conforme estudamos até aqui, existem vários tipos de


organismo causadores de doenças. Cite quais os organismos que estão

vinculados aos processos infecciosos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Transmissão e
disseminação de
microrganismos

Locais de entrada dos microrganismos


Os microrganismos, para iniciarem um processo infeccioso, devem
entrar em contato com o hospedeiro. Para que isso ocorra, precisam
ultrapassar algumas barreiras que o próprio organismo apresenta em
sua defesa. Algumas dessas são as superfícies cutâneas e mucosas.

Robbins (2013), lista algumas formas que os microrganismo entram


em contato com o hospedeiro, transpondo as barreiras de proteção:

• Pele: é a camada externa densa e queratinizada, é uma


barreira natural a infecções. Normalmente, é colonizada
por alguns bactérias e fungos. Generalmente, os

199
unidade 7
Patologia Geral

microrganismos penetram por meio de rachaduras,


incluindo abrasões superficiais, feridas e queimaduras.
Cateteres utilizados em hospitais também servem como
porta de entrada, além de picadas de agulhas. Outros
microrganismos podem penetrar na pele via picada de inseto
ou mordedura de animais. Poucos conseguem atravessar a
pele na íntegra como o caso de larvas de Schistosoma.

• Trato gastrointestinal: transmitidos por meio de água e


alimentos contaminados por material fecal. Secreções
gástricas, camadas de muco, enzimas, flora normal e
anticorpos são as barreiras e defesas do organismo. A
infecção por essa via se dá quando as defesas naturais
estão enfraquecidas, por exemplo: acidez gástrica baixa,
uso de antibióticos que alteram a flora normal, impedimento
do peristaltismo ou obstrução mecânica do trato.

• Trato respiratório: inúmeros microrganismos, incluindo


vírus, bactérias e fungos, são inalados diariamente por
todos os seres vivos. Normalmente, aspirados por meio
de poeira ou partículas de aerossol. Essas partículas
ficam retidas nas paredes mucociliar. O muco formado
pelas células caliciformes são eliminados ou deglutidos.
Algumas passam para o alvéolo onde são fagocitadas
por macrófagos ou neutrófilos. Para os microrganismos
penetrarem esta barreira necessitam desenvolver
mecanismos específicos para superar as defesas
mucociliares ou para evitar a destruição por macrófagos.
Por exemplo, os vírus influenza, que apresentam proteínas
hemaglutininas que se projetam a partir da superfície do
vírus e se ligam ao ácido siálico na superfície das células
epiteliais. Isso resulta na fagocitose do vírus provocando a
entrada e replicação viral.

• Trato urogenital: esse quase sempre é invadido pela uretra.


Medidas de higiene servem de defesa. Normalmente a
urina é estéril, e alguns patógenos bem sucedidos (N.

200
unidade 7
Patologia Geral

gonorrhoeae, E. coli) aderem ao epitélio urinário. A obstrução


do fluxo urinário ou refluxo pode comprometer as defesas
normais e causarem infecções, que frequentemente se
disseminam a partir da bexiga para os rins. Na puberdade,
a vagina é protegida pela flora normal, só que o uso de
antibióticos pode ocasionar o surgimento de infecções,
geralmente por leveduras.

• Além desses meios de entradas, existe a transmissão


vertical de agentes infecciosos, quando por exemplo, a
gestante transmite para o feto ou recém-nascidos certos
patógenos, ocorrendo pelas vias: transmissão placenta-
fetal, a mais provável de acontecer, em que a mãe infectada
passa para o feto e, algumas dessas infecções interferem
no desenvolvimento do mesmo, sendo que o grau e o tipo
de dano causado dependem da idade fetal; transmissão
durante o nascimento, o agente infeccioso é transmitido
durante o parto; transmissão pós-natal no leite materno
(ROBBINS, 2016).

Disseminação

Os microrganismos causadores de doença podem permanecer


localizados no sítio inicial da infecção, ou invadir outros tecidos,
espalhando-se para locais distantes via sistema linfático, sangue ou
nervos (ROBBINS, 2016) (Figura 40).

201
unidade 7
Patologia Geral

FIGURA 40 - Entrada e disseminação de microrganismos

Fonte : ROBBINS, 2013, p. 317

Algumas bactérias extracelulares, fungos e helmintos produzem


e secretam enzimas líticas que destroem o tecido, permitindo a
invasão direta. Assim, os microrganismos invasivos seguem a
rota dos tecidos de menor resistência e drenam para linfáticos
regionais, podendo levar à bacteremia e disseminação para outros
órgãos mais profundos (coração e ossos). Os microrganismos
podem se disseminar no sangue ou linfa, estando livres no fluido,
como o caso de alguns fungos, bactérias, alguns protozoários
e todos os helmintos, ou no interior das células do hospedeiro,
exemplo herpesvírus e HIV que ficam dentro dos leucócitos. Os
vírus em sua maioria se dispersam localmente de célula para célula
por meio da replicação e liberação dos vírions infecciosos, mas
também podem propagar-se de célula a célula causando a fusão

202
unidade 7
Patologia Geral

de células do hospedeiro ou pelo transporte por meio dos nervos


(ROBBINS, 2013).

Exemplo de doença infecciosa localizada é a provocada pela bactéria


Helycobacter pylori, que causa úlceras gástricas. Bactérias como
N. meningitides, patógeno de proeminente em crianças e jovens
adultos; Salmonella typhi, causadora da febre tifoide e B. burgdorferi,
que causa a doença de Lyme, são exemplos de patógenos que
tendem a disseminar-se do local primário da infecção para acometer
outros locais e sistemas (PORTH, 2010).

Liberação e transmissão dos


microrganismos
Os microrganismos utilizam uma variedade de estratégias de saída,
garantido de tal forma sua transmissão para outro hospedeiro. A
maneira de liberação vai depender do local da infecção, podendo
ocorrer por meio da descamação da pele, tosse, espirro, evacuação
de urina ou fezes, durante o contato sexual e ainda, por insetos
vetores. Alguns patógenos são eliminados por breves períodos de
tempo ou periodicamente, durante surtos e por longos períodos
de tempo como no caso a S. typhi. Nesse caso o hospedeiro é
assintomático e vai liberando o patógeno por longos períodos.
Após a eliminação alguns desses patógenos demonstram uma
resistência, podendo assim, sobreviverem por longos períodos de
tempo na poeira, alimentos ou água (ROBBINS, 2016).

A forma com que o microrganismo sai do corpo de seu hospedeiro é


tão importante como a sua forma de entrada. Cada fluido ou tecido
secretado, excretado ou eliminado é utilizado para deixar o corpo do
hospedeiro e se instalar em outro (ROBBINS, 2013).

203
unidade 7
Patologia Geral

QUESTÃO 3 - Microrganismos após infectar os seres humanos,

podem ficar alojados no primeiro órgão que infectou ou migram para outro

órgão ou sistema, utilizando o sangue e o sistema linfático, para que isso

ocorra alguns microrganismos como bactérias extracelulares, fungos e

helmintos produzem substâncias neste processo. Assinale a alternativa

que corresponde a essa substância.

a. Endotoxinas

b. Enzimas Líticas

c. Exotoxinas

d. Príons.

e. Primers

O gabarito se encontra no final da unidade.

Mecanismos gerais de
danos causados por
agentes infecciosos
Todos os microrganismos podem invadir os organismos e
desencadear doenças. Diversos são os mecanismos que podem
acarretar lesões celulares: ação direta, que consiste na invasão
e proliferação das células podendo causar morte delas; efeito
citopático: substâncias tóxicas, como as exotoxinas; componentes
estruturais ou substâncias que ficam armazenadas dentro da
célula liberadas após a sua morte; endotoxinas: ativação de
componentes do sistema proteolítico por células fagocitárias e
endoteliais; reação inflamatória; indução de resposta imunitária
aos diferentes antígenos de agente infeccioso; antígenos que se
aderem a estruturas teciduais tornando se alvos de anticorpos
(BRASILEIRO FILHO, 2006).

204
unidade 7
Patologia Geral

No caso dos vírus, eles podem diretamente danificar as células dos


hospedeiros entrando nelas e replicando-se. A forma que o vírus
infecta uma célula e não a outra é denominada de tropismo, podendo
ser determinada por fatores físicos e proteínas na superfície que são
necessárias para a entrada viral e outros fatores necessários para
replicação viral. Um fator determinante do tropismo é a presença
de receptores virais nas células hospedeiras, como no caso do HIV
que possui a glicoproteína gp120 que se liga ao CD4 nas células T
e aos receptores de quimiocinas CXCR4 (principalmente em células
T) e CCR5 (principalmente nos macrófagos). As barreiras físicas
contribuem também para o tropismo tecidual, exemplo, enterovírus
são replicados no intestino, pois eles resistem à inativação por
ácidos, bile e enzimas digestivas (ROBBINS, 2016).

Ainda de acordo com Robbins (2016), uma vez os que os vírus


estão dentro das células, eles podem danificar ou até matar as
No caso dos
células por uma variedade de mecanismos: Efeitos citopáticos vírus, eles podem
diretos, matam as células devido ao impedimento na síntese de diretamente
danificar as células
macromoléculas (DNA, RNA, ou proteínas das células); Respostas
dos hospedeiros
imunes antivirais, linfócitos do hospedeiro podem detectar e destruir entrando nelas e
as células contaminadas; Transformação das células infectadas, replicando-se.
vírus oncogênicos estimulam a proliferação e sobrevivência
celulares por uma variedade de mecanismos, como expressão
de oncogenes codificados por vírus, expressão de proteínas que
inativam supressores de tumor-chave e mutagêneses insercionais,
ao qual os genes do hospedeiro é alterado pela inserção do genoma
viral nos genes.

Em relação às bactérias sua ação podem ser por produção de


toxinas são que alteram ou destroem a função das células do
hospedeiro. Normalmente, são características de bactérias, mas
alguns fungos e protozoários também produzem toxinas para os
seres humanos. Elas podem ser classificadas em: Exotoxinas, que
são proteínas liberadas pelas células bacterianas durante o seu
processo de crescimento, inativam ou modificam enzimas celulares
essenciais, levando a morte ou disfunção celular do hospedeiro, por

205
unidade 7
Patologia Geral

exemplo, a toxina diftérica inibe a síntese celular de proteínas do


hospedeiro; Endotoxinas, não contém proteínas e não são liberadas
pelas bactérias, são moléculas complexas compostas por lipídios
e polissacarídeos, localizados na parede celular de bactérias gram-
negativas e podem ocasionar a ativação de fatores de regulação
nos seres humanos, induzindo assim a coagulação, sangramento,
inflamação, hipotensão e febre. A soma disso leva algumas vezes
ao choque endotóxico (PORTH, 2010).

Outro mecanismo das bactérias causarem lesões é por meio


de aderências nas células do hospedeiro ou matriz extracelular,
por moléculas denominadas adesinas que ficam na superfície
bacteriana. Diversas estruturas estão envolvidas na adesão
bacteriana, temos o caso do Streptococcus pyogenes que possui a
proteína F e o ácido teicóico que se projeta a partir de sua parede
celular ligando se na fibronectina das células hospedeiras. Outras
possuem proteínas denominadas pili (fímbrias), que também serve
para adesão (ROBBINS, 2013).

“Nenhuma interação entre micro-organismo e seres humanos pode


evoluir para a infecção ou doença se o patógeno não for capaz de

se fixar ao hospedeiro e colonizá-lo” (PORTH, 2010).

QUESTÃO 4 - Todos os microrganismos podem invadir os organismos


e serem a causa de inúmeras doenças, para que isso ocorra eles devem

invadir o corpo do hospedeiro, gerando lesões celulares. O tropismo é

um mecanismo utilizado por determinado microrganismo, capacidade de

infectar uma célula e outra não. Qual microrganismo é capaz de fazer isso?

a. Vírus.

b. b) Bactéria.

c. c) Fungo.

206
unidade 7
Patologia Geral

d. d) Protozoário.

e. e) Helmintos.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Doenças infecciosas

Aids
Doença retroviral causada pelo vírus da imunodeficiência humana
(HIV). Caracterizada por infecção, depleção dos linfócitos T CD4 e
imunossupressão acentuada, originando infecções oportunistas,
neoplasias secundárias e manifestações neurológicas (ROBBINS,
2013). Infectados evoluem para uma grave disfunção do sistema
imunológico, conforme são destruídos os linfócitos T CD4+,
a contagem deles se torna um importante marcador dessa Infectados
imunodeficiência, sendo utilizada para estimar o prognóstico e evoluem para uma
grave disfunção
avaliar a indicação do início da terapia antirretroviral ou definir os
do sistema
casos de AIDS com fins epidemiológicos (BRASIL, MINISTÉRIO DA imunológico,
SAÚDE, 2010). conforme são
destruídos os
linfócitos T CD4+,
a contagem
deles se torna
um importante
marcador dessa
imunodeficiência.

207
unidade 7
Patologia Geral

Tutorial - Teste Rápido para Detecção de HIV, Método imunoconcentração (flow through).

Fonte:BRASIL. HIV: Estratégias para utilização de testes rápidos no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, Departamento
de DST, Aids e Hepatites Virais, 2010.

O HIV é composto por genoma RNA da família Lentiviridae, do


grupo dos retrovírus não citopáticos e não oncogênicos, que se
multiplicam a partir da enzima transcriptase reversa, responsável
pela transcrição do RNA viral em uma cópia de DNA capaz de se
integrar ao genoma da célula hospedeira. Temos o HIV do tipo 1 e 2,
aparentemente de origem filogenética comum a partir do SIV (Vírus
da imunodeficiência símia) (BRASILEIRO-FILHO, 2006).

O vírus é transmitido por via sexual (esperma e secreção vaginal);


pelo sangue (via parenteral e vertical) e pelo leite materno. A
partir da aquisição da infecção, o indivíduo portador passa ser
transmissor. Indivíduos com a infecção recente (infecção aguda)

208
unidade 7
Patologia Geral

ou imunossupressão avançada, têm maior concentração do


HIV no sangue (carga viral) e nas secreções sexuais. Processos
infecciosos e inflamatórios como exemplo, DST, como a sífilis,
herpes genital e o cancro mole favorecem a transmissão do
vírus (BRASIL, MINISTÉRIO DA SÁUDE, 2010). De acordo com
Brasileiro-filho (2006), o ciclo de vida do vírus HIV ocorre da
seguinte forma (Figura 41):

1. Ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor


específico da superfície celular (CD4);

2. Fusão do vírus com a membrana da célula hospedeira;

3. Liberação do capsídeo do vírus para o citoplasma da célula


hospedeira;

4. O vírus é ativado e produz RNA mensageiro, que migra para


o citoplasma;

5. Produção de proteínas virais; e estas por sua vez, regulam


a síntese de novos genomas virais e formam a estrutura
externa de outros vírus que serão liberados pela célula
hospedeira;

6. O vírions recém-formado é liberado para o meio extracelular


do hospedeiro, podendo permanecer no fluido extracelular
ou infectar novas células.

FIGURA 41 - Entrada do vírus HIV nas células

Fonte : ROBBINS, 2013, p.146


209
unidade 7
Patologia Geral

Além do vírus do HIV, outros causam enfermidades aos seres


humanos, na tabela 1 são listados alguns deles.

TABELA 1 - Doenças Causadas por Vírus

Patógeno Doença

Infecções agudas do trato


Vírus da Parainfluenza respiratório inferior e superior,
crupe (laringotraqueobronquite)

Vírus Sincicial Bronquiolite e pneumonia em


Respiratório lactentes

Doença respiratória aguda,


Adenovírus pneumonia e doença pulmonar
crônica

Vírus do sarampo Sarampo

Vírus da Rubéola Rubéola

Infecções sistêmicas
caracterizadas por erupções,
Parvovírus B19
artralgias e interrupção transitória
da produção de eritrócitos

Vírus da Varíola Varíola

Vírus da caxumba Caxumba

Diarréia aquosa profusa que pode


Rotavírus
causar desidratação e morte

Vírus Ebola Febre hemorrágica, ebola

Vírus Varicela-zoster Catapora e Herpes Zoster

Vírus Epstein-Barr Mononucleose Infecciosa

210
unidade 7
Patologia Geral

Lesões proliferativas do epitélio


escamoso, incluindo vários tipos
Papilomavírus humano de verrugas, contribui para o
desenvolvimento de displasias de
células escamosas e de carcinoma

Fonte: RUBIN, 2013, p. 367- 481.

“Ebola”
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva

QUESTÃO 5 - AIDS é uma doença causada pelo vírus HIV, composto


por RNA da família Lentiviridae que se multiplicam de enzimas transcriptase

reversa. Qual a característica desta infecção?

O gabarito se encontra no final da unidade.

Tuberculose
É uma doença micobacteriana contagiosa crônica, que afeta
principalmente os pulmões, embora qualquer outro órgão pode ser
infectado. Causada principalmente por Mycobacterium tuberculosis
hominis (bacilo de Koch) e ocasionalmente pelo Mycobacterium
tuberculosis bovis. Distribuída por todo o mundo, apesar do risco
do contágio tenha sido reduzido nos países desenvolvidos, é alto o
número da infecção em pessoas portadoras do vírus HIV, moradores
de rua, subnutridas e em regiões empobrecidas.

M. tuberculosis hominis é transmitido de uma pessoa para outra por


gotículas de aerossóis, por meio da tosse, do espirro e pela fala. Já
o M. tuberculosis bovis, vem pela ingestão de leite infectado. Alguns

211
unidade 7
Patologia Geral

pacientes exibem apenas uma infecção indolente, completamente


assintomática, outros evoluem até doença destrutiva e disseminada.
Existem dois tipos de tuberculose: a primária que consiste na
infecção de pessoas que não tiveram contato anterior ao patógeno
e a secundária, que ocorre em indivíduos previamente infectados.
(RUBIN, 2013). A seguir na tabela 2 estão relacionadas algumas
doenças causadas por bactérias.

TABELA 2 - Doenças Causadas por Bactérias

Espécie Doença/Manifestações Clinicas

Furúnculos e terçóis, Síndrome


da pele escaldada, Osteomielite,
Staphylococcus aureus Infecções de queimaduras ou
feridas cirúrgicas, infecções do
trato respiratório.

Faringite estreptocócica,
Streptococcus escarlatina, Erisipela, Impetigo,
Pyogenes Celulite estreptocócica, Sepse
Puerperal.

Streptococcus Pneumonia, Otite, Sinusite,


pneumoniae meningite.

Corynebacterium
Difteria.
diphtheriae

Bordetella pertussis Coqueluche.

Broncopneumonia ou pneumonia
Haemophilus influenzae lombar, epiglotite, artrite séptica,
celulite facial.

Meningite piogênica, choque


Neisseria meningitidis
Avassalador.

Neisseria gonorrhoeae Gonorreia.

212
unidade 7
Patologia Geral

Diarreia, infecção urinária,


E. coli Pneumonia, Sepse, Meningite e
Sepse em neonatais.

Salmonella spp. Infecções intestinais, febre tifoide.

Shiguella sp. Disenteria Bacteriana Aguda.

Vibrio cholerae Cólera.

Intoxicação alimentar, Enterite


Clostridium perfringens
necrosante, Gangrena.

Clostridium tetani Tétano.

Clostridium botulinum Botulismo.

Treponema pallidum Sífilis.

Gênero Leptospira Leptospirose.

Fonte: RUBIN, 2013, p. 367- 481.

Paracocidiomicose

Paracoccidioides brasiliensis é um fungo causador da doença


paracocidimicose, cuja forma de bolor provavelmente reside no
solo. Esse fungo é adquirido pela inalação dos esporos presentes
nos ambientes de regiões da América central e do sul. Inicialmente
acomete o pulmão e dissemina-se para pele, orofaringe,
suprarrenais e macrófagos do fígado, baço e linfonodos. O agente
infeccioso provoca uma resposta supurativa e granulomatosa
mista, provocando lesões. Sintomas nos pulmões assemelham-
se a da tuberculose, já as úlceras mucocutâneas crônicas são
manifestações da doença extrapulmonar (RUBIN, 2013). Estão

213
unidade 7
Patologia Geral

listadas na tabela 3 outras infecções de origem fúngicas.

TABELA 3 - Doenças Causadas por Fungos.

Espécie Doença/Manifestações Clinicas.

Intertrigo, Paroníquia, Erupção por


Candida fraldas, vulvovaginite, Sapinho,
Esofagite.

Aspergilose pulmonar alérgica,


Aspergillus aspergiloma ou bola fungo, aspergilose
invasiva.

Cryptococcus Afeta principalmente as meninges e os


neoformans pulmões.

Hystoplasma
Histoplasmose.
capsulatum

Fonte: RUBIN, 2013, p. 367 - 481.

Malária
Causada por um protozoário intracelular, o Plasmodium falciparum,
que causa uma infecção que afeta milhões de pessoas em todo
o mundo. Além dessa espécie existem outras três que infectam
o ser humano: P. vivax, P. ovale, P. malariae. São transmitidos pela
picada de espécies do mosquito Anopheles, que são amplamente
distribuídos pela África, Ásia e América Latina. P. vivax, P. malariae
causam anemia leve, em alguns casos, ruptura esplênica e
síndrome nefrótica. P. falciparum produzem parasitemias altas,
anemia acentuada, sintomas cerebrais, insuficiência renal, edema
pulmonar e morte (ROBBINS, 2000). Outros exemplos de infecções
por protozoários estão relacionadas na tabela 4.

TABELA 4 - Doenças Causadas por Protozoários

214
unidade 7
Patologia Geral

Doença/Manifestações
Espécie
Clinicas

Gênero Babesia Babesiose

Toxoplasma gondii Toxoplasmose

Pneumocystis carinii Pneumonia

Entamoeba histolytica Amebíase

Genero Cryptosporidium Criptosporidiose

Leishmania Leishmaniose

Trypanossoma cruzi Doença de chagas

Fonte: RUBIN, 2013, p. 367- 481.


A primeira causa
dores abdominais,
náuseas, debilidade,
perda de peso,
flatulência, diarréia
“Toxoplasmose”
ou constipação.
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva

Teníase/Cisticercose
Tanto teníase quanto a cisticercose são causadas pela mesma
espécie de cestoide, em fases diferentes de seu ciclo de vida.
Teníase caracteriza-se pela presença da forma adulta da Taenia
solium ou da T. saginata, no intestino humano, já a cisticercose é
causada pela larva da T. Solium nos tecidos. A primeira causa dores
abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarréia
ou constipação. Infestação pode ser percebida pela eliminação
espontânea de proglotes do verme, nas fezes. Já a segunda,
depende da localização, do tipo morfológico, número de larvas

215
unidade 7
Patologia Geral

infectantes, da fase do desenvolvimento e da resposta imunológica


do hospedeiro para desencadear sintomas. Formas graves
localizam-se no sistema nervoso central apresentando sintomas
neuropsiquiátricos (convulsões, distúrbio de comportamento,
hipertensão intracraniana) e oftálmicos.

O homem é o único hospedeiro definitivo da forma adulta de ambas


as espécies. O suíno ou javali são hospedeiros intermediários da
T. solium e bovinos da T. saginata. A Teníase ocorre pela ingestão
de carne bovina ou de porco mal cozida, contendo larvas. Ao
ingerir ovos de T. solium o homem adquire a cisticercose (BRASIL,
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Na tabela 5 estão outros exemplos
de doenças por helmintos.

TABELA 5 - Doenças Causadas por Helmintos

Doença/Manifestações
Espécie
Clinicas

Wuchereria bancrofti, Brugia


Elefantáse
malayi

Ascaris lumbricoides Ascaridíase

Trichuris trichiura Tricuriase

Enterobios vermiculares Enterobíase

Fonte: RUBIN, 2013, p. 367- 481.

216
unidade 7
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - d) com esse processo pessoas infectadas com ou sem


sintomas levam o patógeno a todo o mundo

QUESTÃO 2 - príons, bactérias, vírus, fungos, protozoários, helmintos,


ectoparasitas.

QUESTÃO 3 - b) são enzimas produzidas por determinados

organismos que facilitam a invasão destes para outros órgãos e sistemas.

QUESTÃO 4 - a) os vírus podem diretamente danificar as células dos


hospedeiros entrando nelas e replicando. A forma que o vírus infecta uma

célula e não a outra é denominado Tropismo.

QUESTÃO 5 - infecção é caracterizada pela depleção dos linfócitos

T CD4 e imunossupressão acentuada, originando outras infecções

oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas.

“Resumo da unidade”

217
unidade 7
UNIDADE
Métodos de estudo em
patologia

• Métodos de
estudo em
patologia
• Estudos
Tradicionais
• Citopatologia
• Técnicas
especiais
• Citometria
• Citogenética
• Biologia
molecular 
Patologia Geral

Métodos de estudo em
patologia
O estudo patológico prevê o entendimento das causas, evoluções e
consequências das doenças e é a base para o diagnóstico médico.
O patologista é responsável por analisar e diagnosticar as doenças.
O diagnóstico patológico é realizado tanto de forma analítica, por
meio dos diversos métodos e técnicas de estudo, quanto de forma
clínica, pela interpretação dos resultados. Além disso, cabe ao
patologista assegurar a validação e a qualidade dos exames e testes
laboratoriais (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; REISNER, 2016).

A análise patológica deriva de valores de referência, baseados


no estado esperado de um indivíduo saudável (REISNER, 2016).
Em relação a testes laboratoriais, o profissional deve se atentar
sempre ao valor preditivo do teste, pois estes podem apresentar
classificações incorretas. O valor preditivo positivo mede a O patologista
probabilidade do resultado do teste positivo refletir com precisão a é responsável
presença verdadeira de uma doença. Já o valor preditivo negativo
por analisar e
diagnosticar as
calcula a probabilidade de indivíduos verdadeiramente sadios serem
doenças.
apontados como sadios pelo teste (REISNER, 2016).

Valores preditivos de um teste estão relacionados com


sensibilidade e especificidade dos teste e também com a
prevalência e incidência da doença na população (REISNER,
2016). Sensibilidade é a proporção de indivíduos doentes que são
identificados como doentes pelo teste. Por outro lado, a proporção
de indivíduos verdadeiramente sadios apontados pelo teste como
sadios (sem a doença) é chamada de Especificidade (PEREIRA,
1995). A prevalência é o número de casos da doença na população
estudada em determinado momento. Já incidência corresponde ao
número de casos relatados ao longo do tempo (REISNER, 2016). De
acordo com os resultados dos testes e os sintomas manifestados
pelo paciente o patologista avalia a situação e seleciona o melhor
método a ser aplicado. O processo interpretativo dos resultados

220
unidade 8
Patologia Geral

requer extenso conhecimento etiológico e patogênico, além de um


criterioso julgamento clínico e da veracidade do teste conduzido
(REISNER, 2016).

O patologista deve construir todos os aspectos da doença,


sua etiologia, sua patogenia, ou seja, sua origem e o seu
desenvolvimento, além de analisar as alterações morfológicas e
suas consequências, constituindo a história clínica da doença. Pois
ela pode ter mais de uma causa e vários eventos patogênicos, que
levará a determinada evolução clínica (REISNER, 2016).

No caso da prática clínica, o conhecimento da doença é feito de


modo inverso ao seu desenvolvimento. Primeiro, são analisados
os sintomas, as alterações apresentadas pelo paciente, e os
sinais, detectados pelo médico no exame físico, que resulta no
diagnóstico primário do caso, que conduz a exames radiográficos
e laboratoriais específicos. Os exames farão uma avaliação final
No caso da
do estado do paciente, que com base nas demais informações, prática clínica,
mostrarão a causa e o desenvolvimento da doença, que facilitarão o o conhecimento
seu tratamento (Figura 42) (REISNER, 2016).
da doença é
feito de modo
inverso ao seu
desenvolvimento.

221
unidade 8
Patologia Geral

FIGURA 42 - Passos necessários para prática clínica

Fonte : Elaborado pelos autores.

Nesta unidade serão abordados os diversos métodos de estudo


patológicos que constituem a base do diagnóstico clínico. Os
métodos de estudo são divididos em estudos tradicionais e
técnicas especiais. Os estudos tradicionais compõem as técnicas
convencionais micro e macroscópicas utilizadas para laudos
anatomopatológicos, como a autópsia ou necropsia, biópsias
e análises citopatológicas. As técnicas especiais representam
a incorporação de novos métodos de diagnóstico a partir da
utilização de instrumentos tecnológicos atualmente disponíveis.
Técnicas histoquímicas, como a citometria, morfometria e técnicas
de biologia molecular são exemplos de métodos especiais.

222
unidade 8
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - Quais são as principais técnicas de estudos tradicionais


e especiais e porque existe essa distinção?

O gabarito se encontra no final da unidade.

“Estudo patológico e o trabalho do


patologista.”
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva

Estudos Tradicionais
O ramo da patologia responsável por estudar as anomalias
anatômicas macro e microscópicas no organismo, com intuito de
diagnosticar doenças, é a anatomia patológica. Essa área inclui os
estudos tradicionais como: a necropsia, a biópsia e a citopatologia,
que serão tratadas neste tópico (REISNER, 2016). Os exames
anatomorfológicos consistem no diagnóstico morfológico e
anatômicos utilizando principalmente a coloração com hematoxilina
e eosina (H&E), além de colorações especiais, descritos na Tabela 6.

Tabela 6 - Principais colorações usadas em exames


anatomorfológicos

Colorações Utilizadas em Anatomia Patológica

Técnica Estruturas coradas

Hematoxilina-eosina Coloração histológica

Método Papanicolau Coloração citológica

223
unidade 8
Patologia Geral

Tricrômicos (gomori, Fibras colágenas, tecido


masson, allory) conjuntivo

Picrossirius Fibras colágenas

Fibras elásticas, colágeno,


Verhorff-van Gleson
músculo

Fibras reticulares, melanina,


Impregnação pela prata axônio, placas neuríticas,
emaranhados neurofibrilares

Fontana Masson Melanina

Grocott ou GMS Corpúsculos de Donovan, fungos

Ácido periódico-schiff Glicogênio, muco, membrana


(PAS) basal, fungos, parasitos

Glicoaminoglicanos e outras
Azul de toluidina
substâncias metacromáticas

Células sanguíneas, bacilos


Giemsa
espiralados, leishmânias

Wade e Ziehl-Neelsem BAAR

Ferrocianato de potássio
Hemossiderina
(Perls)

Vermelho congo, violeta


Substância amiloide
crista

Von Kossa Cálcio

Colágeno, antígeno de superfície


Orceína
do vírus b

224
unidade 8
Patologia Geral

Levaditi e Warthin-Starry Espiroquetas, Treponema

Carvolfucsina Bactérias espiraladas

Grimelius Células APUD

Ácido rubeânico Cobre, ácidos graxos

Hematoxilina ácida
Músculo estriado, fibras
fosfotúngstica

Azul de tripan ou de
Colorações vitais
metileno

Cresil violeta Corpo celular dos neurônios

Weil-weigert Mielina

Golgi Dendritos

Fonte: Adaptada de Montenegro e Franco, 2004 e Brasileiro-filho, 2013.

NECROPSIA
A necropsia ou autópsia é o exame pós-morte do paciente. Seus
principais objetivos são: confirmar a causa da morte, estabelecer
um diagnóstico final e compreender a resposta fisiológica do
tratamento (MOHAN, 2010). A necropsia é dividida em duas grandes
áreas de interesse, sendo a primeira a médico-científica e a segunda
a clínica-médica. A necropsia médico-científica é geralmente feita
em hospitais de ensino, que a utilizam para fins de pesquisa e de
aprimoramento do conhecimento fisiopatológico. Já a necropsia
médico-legal é obrigatória em caso de mortes violentas ou quando
há interesse forense. A técnica relaciona os achados morfológicos
com as características clínicas anteriormente relatadas e, exceto

225
unidade 8
Patologia Geral

nos casos obrigatórios, somente é realizada mediante requisição da


autorização de um responsável pelo paciente (BRASILEIRO-FILHO,
2013; MONTENEGRO; FRANCO, 2004).

A necropsia pode ser tanto completa, com o exame e a dissecação


de todos os órgãos de modo detalhado, ou parcial, com a remoção
parcial de órgãos por incisão regional ou punção por agulhas
(BRASILEIRO-FILHO, 2013). A retirada de sangue e secreções para
exame biológico também podem ser feitas. Na necropsia completa
todas as alterações morfológicas são observadas e anotadas,
tanto nos fâneros (estruturas visíveis da pele, como cabelo, pele e
unha), quanto pele e mucosas. Os órgãos são analisados quanto
sua topografia, aderências e derrames. Fragmentos de tecidos
podem ser retirados para exame histológico e líquido para exame
bioquímico e citológico. Por fim, é realizada a dissecação dos
órgãos, que são medidos e pesados. No relatório da necropsia
devem constar: a causa básica: doença que culminou no óbito;
a causa consequencial: alterações secundárias decorrentes da
doença; causa terminal: alteração morfológica que culminou no
óbito; causa contributiva: não relacionadas com a doença, mas com
fatores que contribuíram para agravamento da saúde do paciente
(MONTENEGRO; FRANCO, 2004).

Apesar dos avanços tecnológicos nos exames clínicos e


laboratoriais, seus resultados divergem entre 10% a 30% dos
diagnósticos dos exames morfológicos (necropsia). Portanto
está técnica ainda é de grande importância quanto à precisão e
confiabilidade dos diagnósticos, além de ser um importante método
de ensino-aprendizagem (BRASILEIRO- FILHO, 2013).

BIÓPSIA

A biópsia é uma microcirurgia de retirada de fragmentos teciduais


ou peças cirúrgicas para análises anatomopatológicas com o intuito

226
unidade 8
Patologia Geral

de fornecer diagnóstico e auxiliar em tratamentos. Todo e qualquer


parte ou secreção do corpo pode ser biopsiado, como por exemplo,
pele, ossos e secreções. Toda biópsia deve ser precedida de um
exame clínico detalhado do paciente, que deve informar em sua
identificação qualquer tipo de alteração prévia que pode interferir no
resultado do exame (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO
FILHO, 2013).

A biópsia pode ser tanto ablativa ou excisionais (retirada de toda


lesão) quanto incisionais (remoção de parte da lesão). No caso
da biópsia incisional, a escolha do local de retirada do conteúdo
é importante, pois pode conter somente uma lesão secundária
da doença principal. As peças cirúrgicas são retiradas mediante
tratamento cirúrgico (BRASILEIRO FILHO, 2013).

Existem também as biópsias endoscópicas, que são realizadas


por um tubo flexível com uma câmera acoplada que permite a
visualização da parte interna do órgão de modo a escolher o melhor
local para retirada da amostra, como a endoscopia, colonoscopia,
histeroscopia (exame do útero) (ONCOGUIA, 2015). No caso da
biópsia da próstata, representada pela Figura 43, uma sonda de
ultrassom com uma agulha de biópsia acoplada é introduzida via
transretal (PINHEIRO, 2015).

227
unidade 8
Patologia Geral

FIGURA 43 - Procedimento de biópsia da próstata

Fonte : BIASINI, 123RF.

O material retirado para biópsia é fixado, geralmente em formalina


10%, identificado, e examinado macro e microscopicamente. O
tamanho, a cor, a consistência e localização das lesões devem ser
descritos, além do exame histológico, que permitirá uma avaliação
a nível celular das lesões. A fixação deve ser feita em recipientes
maiores que a peça ou fragmento e que contenham um volume de
fixador de 6 a 10 vezes maior que a peça. Para o exame histológico
deve ser feita a desidratação do fragmento em álcool e xilol, para
posterior inclusão em parafina e cortes em micrótomo e corados
(Figura 44).

O principal pigmento usado na coloração é hematoxilina-eosina,


porém, dependendo do composto celular de interesse, outras
colorações podem ser usadas. Assim como, dependendo do tipo de

228
unidade 8
Patologia Geral

exame necessário na biópsia, pode ser fixada por congelação ou em


álcool (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO FILHO, 2013).

FIGURA 44 - Corte histológico de células teciduais do colo do útero, nesta amostra é possível ver
células amorfas indicando câncer do colo uterino

Fonte : WEIZ, 123RF.]

229
unidade 8
Patologia Geral

QUESTÃO 2 - Uma mulher de 28 anos se apresenta ao seu médico

clínico com queixas de fadiga, febres intermitentes e emagrecimento de

2,3 kg durante um período de 6 semanas. Sua história médica ressalta um

transplante renal aos 15 anos, realizado para tratamento de insuficiência

renal terminal decorrente de glomerulonefrite pós-estreptocócica. O

exame físico revela dois linfonodos aumentados, densos e endurecidos

na cadeia cervical anterior; um linfonodo firme e endurecido de 1,5 cm

na virilha direita e fígado aumentado. A biópsia dos linfonodos da região

cervical revelou linfoma folicular de células clivadas (MCPHEE; GANONG,

2011). Mediante esse quadro, podemos concluir que:

a. a biópsia consiste primordialmente na retirada do tecido

lesionado para posterior análise histológica.

b. somente com o resultado da biópsia já é possível fazer o

diagnóstico e tratamento do paciente.

c. os sintomas relatados pelo paciente não possuem relação com o

achado da biópsia.

d. o transplante renal é a possível causa da doença.

e. foi feita a biópsia excisional no linfonodo.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Citopatologia
A técnica de citopatologia refere-se ao estudo morfológico de
células isoladas. Sua importância está sobretudo relacionado
com diagnósticos de neoplasias malignas, porém pode ser usada
para identificação de agentes infecciosos. O material para análise
citológica pode ser obtido por meio de raspado, descamação
natural, punção ativa ou secreções do organismo. O método de
coleta depende do órgão e da lesão analisada (MONTENEGRO;
FRANCO, 2004; BRASILEIRO-FILHO, 2013).

230
unidade 8
Patologia Geral

Assim como nos outros exames morfológicos a interpretação dos


resultados deve ser realizada de acordo com o conjunto de dados
clínicos do paciente. O diagnóstico citopatológico geralmente
contém toda e qualquer informação considerada clinicamente útil,
como no caso de câncer, sempre que possível deve ser informado
o tipo citológico. Por se tratar de um método barato e relativamente
fácil, tem grande importância no diagnóstico rápido de lesões,
principalmente quanto ao câncer de colo do útero (pelo exame
cérvico-vaginal, o chamado papanicolau), lesões de tireoide ou
nos nódulos linfáticos. O diagnóstico pela citopatologia previne
o paciente de se expor a um método mais invasivo, e se feito
corretamente, possui alto grau de confiabilidade (MONTENEGRO;
FRANCO, 2004). O exame citológico é dividido em dois principais
métodos, a citologia esfoliativa e aspirativa.

A citologia esfoliativa é realizada com o raspado ou descamação


de pele, mucosas e coleta de líquidos. Um dos principais exemplos
dessa técnica é o exame cérvico-vaginal. Nesse caso, é importante
que a fixação seja feita imediatamente em álcool etílico a 95%, isso
porque, caso sejam corados pelo método papanicolau o esfregaço
não pode estar ressecado. Porém, caso for feita uma coloração
hematológica, o material pode ser ressecado. Já coletas de líquidos
em cavidades, ou exames de urina ou escarro são realizadas para
identificação de neoplasias ou infecções por agentes biológicos
(MONTENEGRO; FRANCO, 2004).

A citologia aspirativa é a punção ou aspiração por seringa acoplada


a manete, conhecida como PAAF, punção aspirativa por agulha
fina. É bastante usado em exames de tireoide, gânglios linfáticos,
próstata, ou no caso de linfomas, é feito a punção de nódulos
linfáticos. No caso da punção, a ação de palpar o nódulo ou lesão
é importante tanto para coleta do material adequado quanto para
maior precisão no diagnóstico.

Durante o procedimento de punção é necessário anotar a


consistência e tamanho do nódulo examinado, o material aspirado

231
unidade 8
Patologia Geral

não deve chegar a penetrar na seringa, permanecendo somente


na agulha. Após a coleta é feito o esfregaço do material em lâmina
(Figura 45).

FIGURA 45 - Primeira imagem mostra um esfregaço de células sanguíneas em seu estado normal e
a segunda imagem mostra células leucêmicas no sangue

Fonte : KOTSRI, 123RF.

QUESTÃO 3 - Quais os dois principais exames citopatológicos?

Comente suas principais diferenças.

O gabarito se encontra no final da unidade.

232
unidade 8
Patologia Geral

Estudo de caso
Análise interpretativa do patologista

Entender como os resultados dos exames são interpretados pelo

patologista e as ligações que devem ser feitas para se atingir um

diagnóstico completo do paciente, e assim chegar a melhor forma de

tratamento possível.

Uma mulher de 62 anos de idade com tosse crônica por anos se torna

ofegante após subir um único lance de escada. Uma radiografia de

tórax realizada 1 ano antes mostrou aumentada luscência dos campos

pulmonares superiores e achatamento bilateral das cúpulas diafragmáticas.

Ela tem tido náusea e vago desconforto abdominal por 6 meses. As

amostras de biópsia de um estudo endoscópico gastrintestinal superior

revelam uma gastrite crônica não específica com nenhuma detecção

de organismos Helicobacter pylori. No último mês, ela tem apresentado

urina de cor vermelha em várias ocasiões. O exame cistoscópico aponta

a presença de massa exofítica de 3 cm no ápice da vesícula urinária, e as

amostras de biópsia revelam um carcinoma de células transicionais. Os

fatores de risco mais prováveis para tais distúrbios morfológicos giram

em torno de deficiência de antitripsina, alcoolismo crônico, fumar cigarro,

exposição ao corante anilina ou deficiência de vitamina C. Nesse caso o

paciente apresente sintomas e alterações que indicam um enfisema,

relacionado com o tabagismo. Apesar de o alcoolismo poder levar à

gastrite, este não causa carcinoma ou enfisema, assim como a falta de

vitamina C. Já a anilina aumenta as chances de carcinoma, mas não de

gastrite. Com isso, sobrariam o tabagismo e a deficiência a antitripsina,

porém, a falta dessa proteína gera enfisema panlobular, que envolve

todas as porções do lóbulo secundário, e não gera a neoplasia da vesícula

urinária. O tabagismo por outro lado, além de estar fortemente ligado ao

enfisema, pode gerar carcinoma no trato urinário e gastrite, sendo então a

principal causa das doenças descritas no paciente.

Exame citoscópico, biópsia, enfisema e carcinoma.

O patologista, ao requisitar ou analisar o resultado de um exame

clínico, deve ter em mente todo o histórico do paciente e os sintomas

233
unidade 8
Patologia Geral

anteriormente descritos. O exame por si só não gera o diagnóstico final,

mas sim o conhecimento e interpretação do patologista.

Fonte: KLATTl, E. C.; KUMAR V. Robbins e Cotran: Perguntas e respostas

em patologia. Rio de Janeiro : Elsevier, 2010.

Técnicas especiais

Técnicas imuno-histoquímicas
Técnicas imuno-histoquímicas consistem na marcação de
anticorpos para identificação e caracterização de antígenos
responsáveis pelos diversos processos patológicos. Essa técnica é
basicamente qualitativa, sem a contagem de elementos ou a análise
Essa técnica é
da intensidade da doença. Esse exame patológico teve início com
basicamente
a técnica de imunofluorescência, em 1941, com a marcação de qualitativa, sem
anticorpos por compostos fluorescentes. Após essa data, diversos a contagem de
elementos ou
novos métodos foram criados, possibilitado pelo avanço das bases
a análise da
tecnológicas, resultando em outras técnicas imuno-histoquímicas, intensidade da
conhecida como imunoenzimáticas (MONTENEGRO; FRANCO, doença.
2004; BRASILEIRO-FILHO, 2013).

A imunofluorescência localiza antígenos nas células teciduais


com base no emprego de colorações fluorescentes no complexo
antígeno-anticorpo. A coloração permite a absorção de radiação
ultravioleta pelo complexo, tornando-o visível pela microscopia
eletrônica. A técnica pode ser tanto direta quanto indireta. A direta é
a técnica clássica, que marca o complexo antígeno-anticorpo, neste
caso o composto mais usado é o isotiocianato de fluoresceína.
Já a indireta, o composto fluorescente é ligado a um anticorpo
secundário ao complexo antígeno-anticorpo, que reage ao complexo,
criando uma ligação específica. Por ocorrer duas ligações antígeno-
anticorpo, a técnica apresenta maior confiabilidade e controle da

234
unidade 8
Patologia Geral

reação. A imunofluorescência é usada na detecção de anticorpos


presentes nas doenças autoimunes, doenças renais e de pele,
marcação de anticorpos monoclonal e diagnósticos de doenças
infecciosas (MOHAN, 2010; BRASILEIRO-FILHO, 2013).

A técnica imunoenzimática consiste na marcação de anticorpos


por proteínas. No caso, as enzimas presentes em algumas doenças
passam por um painel de imunocorantes e formam um composto
colorido no local de reação. A enzima mais utilizada é a peroxidase,
pelo método PAP, peroxidase antiperoxidase, e pelo método ABC,
avidina-biotina-peroxidase (MOHAN, 2010; BRASILEIRO FILHO, 2013).

No método PAP, o antígeno se liga com três anticorpos (um


endógeno e dois exógenos), no primeiro momento há ligação
entre antígeno-anticorpo no local lesionado formando o complexo
primário. Após isso, ocorre a ligação de dois anticorpos (secundário
e terciário de origem exógena) e três moléculas de peroxidade que
As moléculas de
por sua vez se ligam ao complexo primário. Já no método ABC o
biotina são ligadas
complexo antígeno-anticorpo se liga apenas comum anticorpo a peroxidase, e ao
secundário (exógeno), que possui alta afinidade a moléculas reagirem formam
de avidina, que por sua vez reage com moléculas de biotina. As um complexo
estável.
moléculas de biotina são ligadas a peroxidase, e ao reagirem
formam um complexo estável. Ambos os métodos apresentam um
elevado número de peroxidase, o que aumenta a sensibilidade do
exame (MOHAN, 2010; BRASILEIRO FILHO, 2013).

A técnica imunoenzimática é usada principalmente para


diagnosticar doenças infecciosas e dar prognóstico de neoplasias
benignas e malignas (cânceres) auxiliando na eficiência da resposta
do tratamento de carcinomas. No caso de neoplasias, a técnica
tem um importante papel na detecção de sua origem e no grau
de diferenciação celular. A recepção histoquímica das neoplasias
malignas quanto a alguns hormônios e outras substâncias permite
uma melhor orientação terapêutica da doença. Além disso, a relação
com enzimas específicas de cada órgão permitem a identificação
da sua origem primária, no caso de metástases. O diagnóstico de

235
unidade 8
Patologia Geral

doenças infecciosas também é bem mais preciso por essa técnica,


por meio de anticorpos de alta sensibilidade. Porém, é importante
lembrar que a correta fixação do tecido a ser examinado é essencial
para um resultado preciso, já que ela pode vir a destruir ou mascarar
diversos antígenos caso seja mal executada. A técnica de fixação
deve ser sempre relacionada ao procedimento histoquímico a ser
realizado (MOHAN, 2010; BRASILEIRO FILHO, 2013).

Notícia
teste automatizado para detectar a agressividade de cânceres de pulmão.

pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

criaram um programa de computador que aumenta a precisão do

prognóstico do câncer de pulmão, predizendo o nível de agressividade

do tumor. Em busca por biomarcadores que pudessem melhor detectar

o estágio do câncer, a equipe se deparou com a cofilina, proteína

relacionada à migração celular. Observou-se que a quantidade da proteína

no local do tumor está diretamente correlacionada a agressividade do

câncer. Para tornar a detecção desta proteína um processo rotineiro nos

exames clínicos foi usado uma técnica amplamente conhecida, a imuno-

histoquímica. No caso, o exame detecta e destaca a presença da proteína

no local do tumor e o software criado quantifica a quantidade de cofilina

na amostra e classifica o nível de agressividade do câncer. Esse exame foi

nomeado de Cofitest. Segundo o biólogo Fábio Klamt, pesquisador chefe

do grupo “Se o Cofitest for aplicado e indicar agressividade, o médico tem

a possibilidade de recomendar uma terapia igualmente agressiva mesmo

em estágio inicial, o que hoje não é feito. Em geral, o que vemos na clínica

é a prescrição de terapias e drogas não específicas que têm muitos efeitos

colaterais e nem sempre funcionam se o tumor for agressivo”.

Fonte: MOUTINHO, S. Agressividade Prevista. Instituto Ciência Hoje.

Disponível em: <http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/1994/n/

agressividade_prevista>. Acesso em: 24 fev. 2017.

236
unidade 8
Patologia Geral

QUESTÃO 4 - Sobre a técnica Imuno-histoquímica, é correto afirmar:

a. usa colorações fluorescentes para marcação de antígenos no

local da lesão.

b. A técnica imunoenzimática é bastante usada na identificação de

doenças autoimunes.

c. A imunofluorescência indireta ocorre pela marcação do anticorpo

antes que este se ligue ao antígeno.

d. A técnica imunoenzimática identifica neoplasias malignas, porém

não é capaz de analisar sua origem, no caso de metástases.

e. a técnica não permite a análise da intensidade da doença.

O gabarito se encontra no final da unidade.

Citometria
Método que detectada quantitativamente componentes celulares
por meio de reagentes que se ligam às mais diversas substâncias
das células, possibilitando a identificação de sua quantidade no local
examinado. Há dois principais métodos empregados no estudo em
citometria, a citofotometria e a citometria de fluxo (MONTENEGRO;
FRANCO, 2004; BRASILEIRO FILHO, 2013).

A citofotometria é realizada em cortes histológicos ou esfregaços de


células coradas. No caso, as células são coradas especificamente
para observação do composto celular a ser analisado. A substância
corada é então colocada sobre um feixe de luz e com base na
interferência de luz que ela promove, é realizada a quantificação da
substância na amostra (BRASILEIRO FILHO, 2013).

A citometria de fluxo é feita com células em suspensão, as células


são tratadas com substâncias fluorocromáticas que se ligam aos

237
unidade 8
Patologia Geral

compostos a serem analisados. As células passam em fluxo em um


feixe de raio laser que capta a fluorescência. As células suspensas
em líquidas passam uma a uma pelo sensor, que identifica o tipo
celular e a quantidade de fluorocromo, quantificando o composto
celular em análise (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO
FILHO, 2013).

A citometria de fluxo é bastante utilizada na quantificação de


DNA, importante para vários casos de câncer. Além disso, é usada
para diagnosticar inumodeficênica e doenças autoimunes. Já
a citofotometria possui as vantagens de ter um baixo custo e o
potencial de analisar espécimes pequenos, com a possibilidade
do operador selecionar as células analisadas, porém seus núcleos
são cortados. A citometria de fluxo diferente da citofotometria
apresenta maior capacidade em separar as células em diversos
tipos diferentes de acordo com parâmetros selecionados, e por isso
consegue analisar uma grande quantidade celular (MONTENEGRO;
FRANCO, 2004; BRASILEIRO FILHO, 2013).

Além da citometria, a morfometria pode fornecer dados


quantitativos de estruturas celulares e teciduais por meio de
cortes histológicos. Com a tecnologia atual é possível fazer o
cálculo do tamanho e da quantidade de estruturas teciduais ou
celulares. Permitindo uma análise mais ampla e precisa das lesões
patológicas (BRASILEIRO FILHO, 2013).

Citogenética
A citogenética estuda as alterações cromossômicas, que permitem
o diagnóstico de doenças genéticas, como alguns tipos cânceres,
síndrome de Down, síndrome de Turner, entre outras doenças. No
caso das neoplasias malignas as alterações podem ser primárias,
como a translocação, deleção e amplificação de cromossomos, ou
secundárias que estão relacionadas de certa forma com a primária

238
unidade 8
Patologia Geral

e com a progressão do câncer. Leucemia, linfomas e carcinomas


são exemplos de cânceres que muitas vezes estão associados com
alterações cromossômicas (MONTENEGRO; FRANCO, 2004).

Doenças genéticas que causam anomalias numéricas ou estruturais


nos cromossomos também são identificadas por esta técnica. A
citogenética pode ser realizada tanto em uma cultura de células
vivas, quanto em material fixado ou em parafina (MONTENEGRO;
FRANCO, 2004; MOHAN, 2010). A síndrome de Down e de Turner
são exemplos de anomalias numéricas, a primeira é caracterizada
por apresentar um cromossomo a mais (Trissomia 21) e a última
pela ausência de um cromossomo sexual (cromossomo Y).

A cariotipagem é a principal técnica da citogenética. As células


usadas neste método podem ser do fluido aminiótico, vilosidades
crônicas, ou da medula óssea, também podem ser usados
linfonodos ou linfócitos sanguíneos. As células coletadas a fresco
são mantidas em um fluido que ativa a mitose celular e fixa na etapa
de metáfase, que corresponde a fase que os cromossomos estão
mais condensados e são melhor visualizados. Também pode ser
feita a coloração dos cromossomos fixados, de modo a ressaltar
as bandas claras e escuras que eles apresentam. A coloração pode
ser feita com Giemsa, a mais usada ou Quinacrina, para realças as
bandas cromossômicas (MOHAN, 2010).

239
unidade 8
Patologia Geral

Tutorial - Procedimento padrão na técnica de Cultura Celular.

Fonte : Elaborado pelos professores.

Biologia molecular
Técnicas baseadas na análise macromolecular do material genético
da célula. Utiliza principalmente a extração de DNA ou RNA para
identificação e compreensão das mais diversas doenças, desde a
neoplasia até doenças genéticas e infecciosas. A extração de DNA
ou RNA pode ser realizada entre os demais tipos de amostras,
independente de sua fixação. A biologia molecular é relacionada
à etiologia e patogênese da doença, com métodos que procuram
identificar as alterações moleculares que geram as mudanças
morfológicas (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO FILHO,
2013; REISNER, 2016).

240
unidade 8
Patologia Geral

O ser humano possui 46 cromossomos com 25 mil genes que


codificam proteínas, além de outros que sintetizam o RNA que
não são traduzidos em proteínas, isso soma um total de 3 bilhões
de pares de nucleotídeos. As técnicas moleculares utilizam-se de
sequência de nucleotídeos, tanto de DNA quanto RNA. Os principais
métodos de análise são a hibridação, o sequenciamento de DNA e
a técnica de PCR (MONTENEGRO; FRANCO 2004; REISNER, 2016).

Hibridação

O processo de hibridação possui diversas etapas, desde a extração


do DNA ou RNA até a renaturação da molécula. Primeiramente,
deve se realizar a desnaturação da molécula de DNA, que consiste
na separação das duas fitas de ácidos nucleicos que constituem
a dupla hélice. O processo de desnaturação pode ser realizado por
agentes químicos ou pelo calor. Porém, por ser uma fase instável, as
fitas separadas se juntam logo que o agente desnaturante é retirado
do meio, processo chamado de renaturação. Uma fita simples de
DNA pode se juntar a sequência da qual se separou ou a outra fita
introduzida no meio, desde que esta seja igualmente complementar
a outra. A hibridação é o processo de renaturação feito por uma fita
introduzida que possui nela uma sequência de ácidos nucleicos
marcada por um marcador visual. Essa sequência é chamada de
sonda de ácidos nucleicos e é responsável por reconhecer a parte
do DNA em análise (BRASILEIRO FILHO, 2013).

A marcação das sondas pode ser feita por elementos radioativos,


fluorescentes ou substâncias acopladas a enzimas. A hibridação
é uma técnica mais precisa do que outras que usam marcadores,
como a imuno-histoquímica, isso porque ele permite a detecção
de anomalias antes da alteração morfológica na célula. Em
patologias virais, por exemplo, pode-se identificar o genoma viral
antes da expressão gênica do DNA viral. Existem vários métodos de
hibridação, a chamada Hibridação in situ é a análise por sonda feita
em seu sítio ativo, ou seja, tecidos, células ou cromossomos. Esse
método é importante na identificação da localização da sequência

241
unidade 8
Patologia Geral

de interesse, tanto de um agente infeccioso na célula quanto de


uma célula anormal no tecido. A hibridação in situ também pode ser
utilizada em estudo citogenéticos, para detecção de translocações,
deleções ou duplicações cromossômicas. Nesse caso a técnica
mais utilizada denomina-se FISH (Hibridização in situ fluorescente)
(MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO-FILHO, 2013).

O método blot é feito pela extração do DNA ou RNA do sítio ativo


e a adsorção destes em membranas de náilon ou nitrocelulose, o
blot realizado com DNA é chamado de Southern blot, e a técnica
realizada com RNA é chamada Northern blot. Caso a marcação
da sonda seja realizada por proteínas acopladas, o método é
denominado Western blot (BRASILEIRO FILHO, 2013). A técnica
plot possui alta sensibilidade e especificidade, além de obter
informações quantitativas, no caso do Northern blot. A técnica
Esse método é
importante na
também possibilita a análise de uma maior quantidade de amostras identificação da
(BRASILEIRO FILHO, 2013). localização da
sequência de
interesse, tanto
de um agente
“Fish (Hibridização in situ infeccioso na célula
fluorescente)” quanto de uma
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva célula anormal no
tecido.

Reação de cadeia da polimerase (PCR)

Consiste na replicação e amplificação de sequências específicas


de cadeias de ácidos nucleicos tanto de DNA quanto de RNA.
Entretanto, para este último ser amplificado ele deve passar pela
transcriptase reversa e ser convertido em DNA complementar
(cDNA) (MONTENEGRO; FRANCO, 2004; BRASILEIRO FILHO, 2013).

O PCR é feito em um termociclador automatizado. O DNA extraído


é desnaturado pelo calor e a fita de DNA é flanqueada na sequência
selecionada para amplificação. A DNA polimerase segue no
termociclador fazendo uma cópia do segmento de DNA. Essa cópia

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unidade 8
Patologia Geral

serve de base para síntese seguinte, que é feita exponencialmente,


uma vez que o número de sequências desejadas é dobrada em
cada ciclo. Uma PCR típica gera 35 ciclos de amplificação, dando
origem a 10 bilhões de cópias do segmento de DNA desejado. O
que possibilita a visualização e análise da sequência amostrada
(BRASILEIRO FILHO, 2013).

A PCR necessita de uma pequena amostra de material e possui


alta sensibilidade, além de ser um sistema automatizado e de baixo
custo. Com esse método é possível detectar sequências de ácidos
nucleicos virais ou bacterianos, alterações genômicas ainda no
período intrauterino, detectar defeitos associados ao câncer, medir
resíduos patológicos pós-terapia, entre outras inúmeras utilidades.
O DNA amplificado pode ser analisado pelo método de blot ou por
sua migração eletroforética em gel de agorose ou poliacrilamida.
Também pode ser feita a análise de sequenciamento de DNA, no
qual a sequência determinada de ácidos nucleicos de um gene é
O DNA amplificado
identificada e comparada com uma sequência de referência (Figura
pode ser analisado
46) (BRASILEIRO FILHO, 2013; REISNER, 2016). pelo método
de blot ou por
sua migração
FIGURA 46 - Análise de uma sequência de DNA amplificada por PCR eletroforética em
gel de agorose ou
poliacrilamida.

Fonte : ALILA, 123RF.

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unidade 8
Patologia Geral

Dentre as variações de PCR uma bastante importante na patologia


é a PCR em tempo real, pois permite uma análise quantitativa da
sequência amplificada em cada ciclo, comparando também a
eficiência de amplificação de cada ciclo. Isso é possível por meio
da adição de sondas fluorescentes na reação, de modo a marcar
os produtos de cada ciclo para posteriormente serem quantificados
(BRASILEIRO FILHO, 2013; REISNER, 2016).

Entretanto, a maior parte das técnicas moleculares é usada


primordialmente em pesquisas, o que resulta em um grande
avanço tecnológico, tanto na questão de tecnologias laboratoriais
quanto no conhecimento científico das mais diversas patologias
(BRASILEIRO FILHO, 2013).

QUESTÃO 5 - As técnicas moleculares são baseadas na análise

macromolecular do material genético da célula. Qual afirmação é correta

sobre os métodos de estudos moleculares?

a. A reação de cadeia polimerase não desnaturação a molécula de

DNA.

b. A hibridação in situ não contempla estudo citogenéticos.

c. A hibridação faz a renaturação do DNA com uma sonda de ácidos

nucleicos.

d. Para analisar uma sequência de ácidos nucleicos não é

necessária a realização da PCR.

e. O blot é um tipo de migração eletroforética.

O gabarito se encontra no final da unidade.

“Método PCR- Reação de cadeia


da polimerase”
Autor: Emanuel Giovani Cafofo Silva

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unidade 8
Patologia Geral

QUESTÃO 1 - os estudos tradicionais compõem as técnicas

convencionais micro e macroscópicas utilizadas para laudos

anatomopatológicos, enquanto que as técnicas especiais representam a

incorporação de novos métodos de diagnóstico a partir da utilização de

novos instrumentos tecnológicos hoje disponíveis. As principais técnicas

do estudo tradicional são a autópsia ou necropsia, análises citopatológicas

e biópsias. Já as técnicas especiais são as histoquímicas, como a

citometria, morfometria e técnicas de biologia molecular.

QUESTÃO 2 - a) a biópsia sempre é precedida do exame histológico, a


fim de analisar a lesão a nível celular.

QUESTÃO 3 - a citologia esfoliativa e aspirativa. Na primeira é

realizada com o raspado ou descamação de pele e mucosas e coleta de

líquidos, já a segunda é a punção ou aspiração por seringa acoplada a

manete, conhecida como PAAF, punção aspirativa por agulha fina.

QUESTÃO 4 - e) técnica basicamente qualitativa, não possibilitando a


análise quantitativa da intensidade da doença.

QUESTÃO 5 - c) a hibridação é o processo de renaturação feito por

uma fita introduzida que possui nela uma sonda de ácidos nucleicos.

“Resumo da unidade”

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