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TRIBUNAL DO JÚRI:
Tijucas
2010
SAULO GIACOMOSSI FILHO
TRIBUNAL DO JÚRI:
Tijucas
2010
SAULO GIACOMOSSI FILHO
TRIBUNAL DO JÚRI:
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.
Aos meus pais, Saulo e Marli, que com muito trabalho e garra, me proporcionaram a
oportunidade de cursar e concluir o ensino superior.
Ao meu irmão Samir, pela paciência e tolerância nos momentos em que me encontrou
impaciente.
A minha esposa Juliana, que é a fonte inspiradora da minha vida e esteve ao meu lado, me
auxiliando e incentivando, com muita paciência e dedicação.
Aos meus amigos, pela parceria durante toda a nossa caminhada, principalmente ao meu
primo e companheiro Mário que sempre me ouviu e me aconselhou durante o curso.
Ao meu orientador, Prof. MSc. Alexandre Botelho, por sua atenção, paciência e compreensão,
que foi de fundamental importância na confecção deste trabalho, pois além da orientação,
recebi dele uma bela demonstração de amizade.
“Não é com a severidade das penas que se combate ou extingue a
criminalidade. Se assim fosse, bastava estabelecer a pena de morte que
os crimes desapareceriam com a só ameaça de sua aplicação”.
Evandro Lins e Silva
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca
do mesmo.
A presente monografia tem o objetivo de realizar uma análise sobre o instituto do tribunal do
júri no Brasil, desde suas origens mais remotas até a vigência da Lei n. 11.689/2008. Por este
motivo, o presente trabalho de conclusão de curso tem por finalidade estudar os primórdios do
júri e suas principais modificações até a vigência da lei supracitada. Também será analisada a
processualística do procedimento do júri e, por fim, será realizada uma análise no tocante a
(in)constitucionalidade da incomunicabilidade dos jurados, como membros do conselho de
sentença no júri. Assim, no primeiro capítulo realiza-se uma retrospectiva histórica do júri na
antiga Grécia, Roma e Inglaterra, a seguir passa-se ao deslocamento histórico do júri no
Brasil, desde a Constituição Política do Império de 1824 até a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. No segundo capítulo, procede-se a uma análise das
modificações no procedimento do tribunal do júri advindas da Lei n. 11.689/2008, dividindo
os estudos entre a primeira fase do procedimento, também denominda de judicium
accusationis, e a segunda fase do procedimento do júri, também conhecida como judicium
causae. No terceiro e último capítulo, abordam-se as principais questões acerca do corpo de
jurados, conhecido como conselho de sentença, e expõem-se alguns aspectos levantados por
doutrinadores no que diz respeito à incomunicabilidade dos jurados. Ao final, o presente
trabalho se encerra com a considerações finais, o que não impede a continuidade e o
aprofundamento dos estudos sobre o tema.
This monograph is intended to perform an analysis on the institution of jury trial in Brazil,
from its earliest origins to the enactment of Law number 11.689/2008. For this reason, this
course conclusion work was to study the origins of the jury and its main modifications to the
rule of law above. It will also be analyzed procedural system of the jury and, finally, an
analysis will be conducted regarding the (un) constitutionality of the inability of the jurors, as
board members of the jury verdict. Thus, in the first chapter takes place a historical review of
the jury in ancient Greece, Rome and England, then goes to the jury's historic shift in Brazil,
since the Constitution of the Empire from 1824 until the Constitution of the Federative
Republic of Brazil from 1988. The second chapter proceeds to an analysis of changes in the
procedure of jury trial stemming from the Law number 11.689/2008, sharing studies between
the first stage of the procedure, also denominda judicium accusationis, and the second stage
of the proceedings of the panel, also known as judicium causae. In the third and last chapter
expounds on the key issues about the jury, known as the council decision, and sets out some
of the issues raised by scholars with regard to the jury uncommunicable. In the end, this paper
concludes with final remarks, which does not prevent the continuation and deepening of
studies on the subject.
Conselho de Sentença
Órgão formado por sete jurados que responderão os quesitos que lhes forem formulados, em
cada sessão do tribunal do júri3.
Constituição
Conjunto de regras e preceitos, que se dizem fundamentais, estabelecidos pela soberania de
um povo, para servir de base à sua organização política e firmar os direitos e deveres de cada
um de seus componentes4.
Crime
Ação ou omissão ilícita, culpável, tipificada em norma penal, que ofende valor social
preponderante em determinada circunstância histórica5.
Incomunicabilidade
Que não tem ou não apresenta comunicação6.
Jurado
Cidadão que, mediante juramento, compõe o tribunal do júri ao lado de outros jurados7.
Lei
(...) preceito escrito, elaborada por órgão competente e forma previamente estabelecida,
mediante o qual as normas jurídicas são criadas, modificadas ou revogadas8.
1
Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed.
Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31.
2
Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com
o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do presente trabalho. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43.
3
GUIMARÃES, Deocliciano Torriere. Dicionário jurídico. 7. ed. São Paulo: Rideel, 2004, p. 50.
4
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, v. 1, p. 527.
5
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Dicionário jurídico brasileiro. 11. ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2000,
p. 441.
6
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. 6. ed. Curitiba:
Positivo, 2005, p. 470.
7
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Dicionário jurídico brasileiro, p. 795.
8
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Dicionário jurídico brasileiro, p. 820.
Procedimento
Forma pela qual se desenvolve e se aplica o processo, constituindo-se no conjunto de atos que
realizam a finalidade do processo propriamente dito9.
Tribunal do júri
Denominação atribuída à instituição do júri, igualmente qualificada de tribunal popular.
Presidido por um juiz togado, o tribunal do júri é constituído por juízes de fato, previamente
sorteados, tendo a função de julgar criminosos, cujos delitos devam ser submetidos ao
veredicto desse colégio de magistrados ocasionais, de acordo com os preceitos legais
instituídos10.
9
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Dicionário jurídico brasileiro, p. 1072.
10
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 419.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................... 5
ABSTRACT .............................................................................................................................. 6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. 7
LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS.............................. 8
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 ASPECTOS GERAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI ........................................................... 15
2.1 DESLOCAMENTOS HISTÓRICOS................................................................................. 15
2.1.1 O júri na antiga Grécia..................................................................................................... 16
2.1.2 O júri na antiga Roma...................................................................................................... 18
2.1.3 O júri na Inglaterra .......................................................................................................... 20
2.2 DESLOCAMENTOS HISTÓRICOS DO JÚRI NO BRASIL .......................................... 22
2.2.1 O júri na constituição de 1824......................................................................................... 23
2.2.2 O júri no Código de Processo Criminal de 1832 ............................................................. 24
2.2.3 A lei 261 e o regulamento n. 120..................................................................................... 25
2.2.4 A reforma processual de 1871 ......................................................................................... 27
2.2.5 O júri na constituição de 1891 e o júri federal ................................................................ 28
2.2.6 O júri nas Constituições de 1934, 1937 e o Decreto-lei n. 167, de 1938 ........................ 29
2.2.7 O júri nas Constituições de 1946 e 1967 e a Emenda Constitucional de 1969 ............... 31
2.2.8 O júri na Constituição de 1988 ........................................................................................ 33
3 O PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI ........................................................... 37
3.1 MODIFICAÇÕES NO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI........................... 37
3.2 JUDICIUM ACCUSATIONIS............................................................................................. 41
3.3 JUDICIUM CAUSAE ......................................................................................................... 51
3.3.1 Intimação das partes para apresentação de provas e requerimentos................................ 52
3.3.2 Deliberação do juiz sobre as provas requeridas, despacho saneador e relatório ............. 52
3.3.3 Organização da pauta....................................................................................................... 53
3.3.4 Intimação das partes para sessão de julgamento ............................................................. 54
3.3.5 Escolha e convocação dos jurados .................................................................................. 55
4 O CONSELHO DE SENTENÇA E A INCOMUNICABILIDADE DOS JURADOS .. 57
4.1 SESSÃO DE JULGAMENTO ........................................................................................... 57
4.2 DOS JURADOS ................................................................................................................. 59
4.3 CONSELHO DE SENTENÇA........................................................................................... 63
4.4 A IN(CONSTITUCIONALIDADE) DA INCOMUNICABILIDADE DOS JURADOS . 64
4.4.1 Da incomunicabilidade dos jurados................................................................................. 65
4.4.2 Críticas à incomunicabilidade dos jurados ...................................................................... 67
4.4.3 Questão da Incomunicabilidade dos jurados na jurisprudência....................................... 69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 76
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objeto11 o estudo do tribunal do júri, especialmente no que
se refere a (in)constitucionalidade da incomunicabilidade dos jurados, quando membros do
conselho de sentença e durante a sessão de julgamento.
11
Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e
ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.
13
Cumpre consignar que não é propósito deste trabalho revelar a posição dos tribunais
pátrios a respeito do tema, mas sim apresentar os aspectos polêmicos que envolvem o tema.
Por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-somente,
aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o a atual legislação brasileira
relacionada ao tribunal do júri.
12
Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz.
Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125.
14
na base lógica dedutiva, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se
posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a
prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.
Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este
estudo: compreender se há ou não, desconformidade entre a cláusula que proíbe a
comunicação dos jurados e os comandos estabelecidos na CRFB/88.
13
Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e
ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.
2 ASPECTOS GERAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI
Antes de penetrar nos aspectos mais específicos da presente pesquisa, faz-se imperiosa
uma abordagem acerca dos aspectos gerais do tribunal do júri, através da realização de um
breve histórico do júri no mundo. Para cumprir este desiderato, inicia-se a pesquisa com os
resquícios deixados pelos antigos, especialmente gregos e romanos, sem esquecer dos
aprimoramentos ocorridos durante a Idade Média até chegar-se a Idade Contemporânea.
Ainda nesta primeira parte da pesquisa, será feita uma apresentação da incorporação
do tribunal do júri no Brasil, com destque para os deslocamentos históricos percebidos pelo
instituto, desde sua recepção pelo ordenamento jurídico pátrio até sua conformação,
estabelecida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Whitaker leciona que o vocábulo júri tem origem na palavra latina jurare, que
significa fazer juramento. Desta forma, em seus primórdios, o júri era “o tribunal em que
cidadãos, previamente alistados, sorteados e afinal escolhidos, em sua consciência e sob
juramento, decidem, de fato, sobre a culpabilidade dos acusados, na generalidade das
infrações penais”14.
14
WHITAKER, Firmino. Jury. São Paulo: [s/Ed.], 1910, p. 1 apud ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Tribunal
do júri, São Paulo: Ícone, 1991, p. 17.
16
Segundo Acquaviva, aqueles que acreditam que as origens do júri podem ser
encontradas na antiga Grécia, mais precisamente em Atenas, apontam o chamado tribunal dos
heliastas, como sua forma primeira, eis que referido tribunal era presidido por um magistrado,
e composto por cidadãos, os quais decidiam de fato e de direito15.
15
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Tribunal do júri, p. 18.
16
MALCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999, p.
16.
17
CROISET, A. As democracias antigas. Rio de Janeiro: Garnier, 1923, p. 59 apud AQUAVIVA, Marcus
Cláudio. Tribunal do Júri, p. 17.
18
MALCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo penal, p. 16.
19
GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito grego e historiografia jurídica, Curitiba: Juruá, 2003, p. 221.
17
Croiset afirma que: “O tribunal dos Heliastas tinha competência para acompanhar e
julgar causas em geral, de âmbito público e privado, e muito de seus membros eram pessoas
de idade, de pequena e media condição”20.
Segundo Harvey:
Nesse ponto, cabe mais uma vez dar a palavra a Malcher, quando afirma que “Em
Esparta, havia a Assembléia do Povo, os Gerontes (Senadores) e os Éforos (Juízes populares),
com atribuições semelhantes, respectivamente, à do Areópago e à dos Heliastas24.
20
CROISET, A. As democracias antigas. Rio de Janeiro: Garnier, 1923, p. 63 apud GODOY, Arnaldo Sampaio
de Moraes. Direito grego e historiografia jurídica, p. 221-222.
21
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Tribunal do júri, p. 17.
22
HARVEY, Paul apud GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito grego e historiografia jurídica, p. 222.
23
MALCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo penal, p. 16.
24
MALCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo penal, p. 16.
18
Essas foram, em linhas gerais, as principais características deixadas pelo grego e que
contribuíram de formam inigualável para a conformação do tribunal do júri. Portanto, feitas
essas breves considerações sobre o funcionamento do júri na Grécia, apresentar-se-á a seguir
o júri sob a óptica dos doutrinadores que acreditam que o júri teve suas origens em Roma.
25
MALCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo penal, p. 16.
26
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Tribunal do júri, p. 17.
19
Foi apenas após a Revolução Francesa que o júri na França passou a ser formado pelo
povo, e não mais constituído apenas por magistrados vinculados a monarquia, surgindo a
partir de então os novos ideais republicanos30.
Cabe ressaltar que com a Revolução Francesa a democracia espalhou-se pela Europa,
nesta época o judiciário adquiriu independência ante ao executivo, os juízes passaram a ter
garantias cada vez maiores e o direito codificado permaneceu no continente, entendido assim
como o modelo civil law32.
27
PAULO FILHO, Pedro. Grandes advogados, grandes julgamentos. 3. ed. Campinas: Millennium, 2003, p.
1.
28
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p.
315.
29
VABRES, Donnedieu de apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. Campinas: Bookseller,
1997, p. 30.
30
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 42.
31
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6. ed. São Paulo: Revistas dos
Tribunais, 2010, p. 731.
32
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, p.
33.
20
Portugal sofria evidente influência exercida pela Inglaterra, maior cultora do júri no
direito europeu, com isso o Brasil, neste contesto ainda colônia portuguesa, não permaneceu
inerte a estes fatos, de maneira que a importação do tribunal popular para o nosso sistema
deveu-se, principalmente, ao fenômeno do país colonizador transmitir ao colonizado suas leis
e instituições34.
Destarte, a sentença era confiada aos elementos e o acusado era submetido por
exemplo a colocar a mão em água fervente, pegar um metal quente, atravessar fogueiras, entre
outras, saindo o acusado ileso dessas provas, comprovava diante o juízo de Deus, sua
inocência36. Insere-se aqui oportuna observação de Azevedo:
33
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 33.
34
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 35.
35
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário jurídico brasileiro, p. 796.
36
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal, p. 315.
37
AZEVEDO, Vicente de Paula apud NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal, p.
315-316.
21
Marques observa que o júri de origem inglesa ainda mantém suas raízes místicas, e
com seus funcionamentos peculiar, diferente dos sistemas utilizados pelos demais países, nos
quais, predominam a memória romana, compunha-se numa instituição centenária e
florescente, cuja pratica tem trazido melhores resultados39.
Rui Barbosa leciona que os países ocidentais ao instituírem seu próprio modelo de júri
basearam-se no modelo inglês, no qual:
Para Vabres, “foi o júri inglês que serviu de modelo aos revolucionários franceses,
expandindo-se, a seguir, da França aos países ocidentais”41. Na visão de Kenny:
No mesmo sentido, leciona Nucci que a instituição do júri tem origem na Magna
Carta, da Inglaterra, de 1215, no entanto, o júri já era conhecido, principalmente, na Grécia e
38
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 110.
39
MARQUES, José Frederico apud ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Tribunal do júri, p. 18.
40
BARBOSA, Rui apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 30.
41
VABRES, Donnedieu de apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 30.
42
KENNY apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 30.
43
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do júri: símbolos e rituais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001,
p. 75.
22
A premissa do tribunal britânico era: “Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado
de seus bens, costumes e liberdades, se não em virtude de julgamento de seus pares, segundo
as leis do país46.
Acquaviva sustenta que para alguns autores: “A inquisitio teria sido absorvida pelos
normandos bárbaros que invadiram a Inglaterra no ano de 1066 da era cristã, subjugando os
anglo-saxões e, com estes, mesclando seu sangue e suas instituições. Desta fusão teria brotado
o Júri em sua forma atual”47.
A estrutura do júri, como está apresentada atualmente, apesar de ter seus primeiros
alicerces construídos na antiga Grécia e Roma, foi na Inglaterra, no século XIII, que formou-
se esta forma de julgamento que hoje chamamos de Tribunal do júri. Alimena faz preciosas
considerações no tocante às diversas teorias da instituição do Júri:
Assim, verifica-se que o Tribunal do júri passou por diversas evoluções até obter a
forma atual. Na seqüencia será analisado os deslocamentos históricos deste instituto no Brasil,
especialmente em cada Constituição Federal Brasileira.
O júri no Brasil foi instituído em 18 de junho de 1822, através de uma Lei que tinha
competência exclusiva aos crimes de imprensa49. O príncipe regente na época declarou que:
44
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 731.
45
MAXIMILIANO, Carlos apud NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal,
p. 731.
46
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 731.
47
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Tribunal do júri, p. 17.
48
ALIMENA, Bernardino apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 31.
49
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 37
23
“procurando ligar a bondade, a justiça e a salvação pública, sem ofender a liberdade bem
entendida da imprensa, que desejo sustentar e conservar, e que tantos bens tem feito à causa
sagrada da liberdade brasílica”50.
No início o júri era formado por vinte quatro juízes de fato, “cidadãos escolhidos
“dentre os homens bons, honrados, inteligentes e patriotas”, cabendo sua nomeação ao
Corregedor e Ouvidores do crime, nos casos ocorrentes e a requerimento do Procurador da
Coroa e Fazenda, que será o Promotor Fiscal de tais delitos”51.
Percebe-se então, que o júri foi instituído no Brasil inicialmente para julgar os crimes
de imprensa, instituição essa realizada através de lei, adiante será apresentado como se tratou
do júri na Constituição de 1824.
A instituição júri, nesta constituição, não foi colocada no capítulo que trata dos
direitos e garantias individuais, mas sim no capítulo referente ao poder judiciário53. Marques
destaca exatamente o texto da Constituição Política do Império, promulgada em 25 de março
de 1824, a qual assim previa:
50
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 36.
51
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 35.
52
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário jurídico brasileiro, p. 797.
53
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 36.
54
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 38.
24
55
GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Comentários às reformas do
código de processo penal e da lei de trânsito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 19.
56
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais, p. 87-88.
57
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 37.
25
Marques59, em seus estudos constata que o código de processo criminal de 1832 previa
um juiz de paz em cada distrito, um escrivão, inspetores de quarteirão e oficiais de justiça, e
ainda, “um Conselho de Jurados, juiz municipal, promotor público, escrivão das execuções e
oficiais de justiça; nas comarcas, um juiz de direito, ou mais conforme a população”.
(...) no dia do júri de acusação, eram sorteados sessenta juízes de fato. O juiz
de paz do distrito da sede apresentava todos os processos dos distritos dos
termos, remetidos pelos demais juízes de paz e, preenchidas certas
formalidades legais, o juiz de direito, dirigindo a sessão, encaminhava os
jurados, com os autos, para a sala secreta, onde procediam a confirmação ou
revogação das pronúncias ou impronúncias. Constituíam os jurados, assim, o
conselho de acusação. Só depois de sua decisão podiam os réus serem
acusados perante o conselho de sentença. Formavam este segundo júri doze
jurados tirados a sorte: à medida que o nome do sorteado fosse lido pelo juiz
de direito, podiam o acusador e acusado ou acusados fazer recusações
imotivadas, em numero de doze, fora os impedidos60.
Nota-se então que para o réu ser acusado perante o conselho de sentença, teria de
haver a decisão dos jurados no que se refere à confirmação ou revogação das pronúncias ou
impronúncias. Feitas estas considerações passa-se ao estudo da lei 261 e o regulamento n.
120.
58
OLIVEIRA FILHO, Cândido de apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 39.
59
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 39.
60
ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de apud STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do júri: símbolos e rituais, p. 88
26
Esta amplitude não durou muito tempo, pois, em 1841, foi promulgada a Lei n. 261, de
três de dezembro, além do Regulamento n. 120, de 31 de janeiro de 1842, e a partir daí
começaram importantes alterações no julgamento popular, onde foi abolido o júri de acusação
e sua tarefa, que era julgar admissível a acusação, e passou-se a competência dos delegados e
juízes municipais, cabendo ao juiz de direito examinar todos os processos de formação de
culpa, podendo, emendar os erros, que achasse, bem como fiscalizar os trabalhos das
autoridades policiais, ou seja, a competência do juiz de direito aumentou e a dos jurados
diminuiu63.
61
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 41.
62
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 41-42.
63
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 37.
27
Foram abolidas algumas funções dos chefes de policia, delegados e subdelegados para
a composição da culpa e pronúncia nos crimes comuns, ficando a salvo a do chefe de policia
na possibilidade de crime extraordinária gravidade, ou estivesse envolvida no crime pessoa
com influência para atrapalhar o trabalho da justiça, sendo que as pronúncias foram inseridas
na competência dos juízes de direito nas comarcas especiais, admitindo recurso voluntário
para a Relação, e no caso de juízes municipais, recurso ex officio para o juiz de direito, nas
comarcas gerais68.
64
STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Júri: símbolos e rituais, p. 88.
65
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 44.
66
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal, p. 319.
67
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 44.
68
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 44-45.
28
Nota-se então, que pela primeira vez o júri foi instituído dentre o texto constitucional,
na parte dos direitos e garantias individuais.
69
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais, p. 38.
70
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 732.
71
ALMEIDA, J Canuto Mendes de apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 46.
72
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 47.
29
Segundo Marques: “todas essas reformas foram consolidadas pelo decreto federal n.
3084, de 5 de novembro de 1898, que constituiu, durante muitos anos, o Código de Processo
Civil e Criminal da justiça federal. Enumeram-se, então, todos os casos de competência do
júri”75.
73
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao91.htm>. Acesso em: 12 de jun. de 2010.
74
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 46.
75
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 46.
76
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 732.
77
NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal, p. 319.
30
Desta forma, observa-se que, o júri nesta constituição não estava mais elencado no
capítulo dos direitos e garantias individuais e sim na parte que trata do poder judiciário.
A Constituição de 1934, nem declarou que o Júri era mantido como existia
na época da sua promulgação, nem determinou que fossem guardados tais e
tais elementos característicos. Foi mais longe: confiou ao critério do
legislador ordinário não só a organização do Júri, se não também a
enumeração das suas atribuições. Quis a Assembléia Constituinte, sem
duvida, atender à necessidade de um a reforma radical da vetusta instituição,
de acordo com os ensinamentos da ciência penal moderna e os imperativos
da defesa social contra o delito80.
78
MIRANDA, Pontes de apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 50.
79
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao34.htm>. Acesso em: 12 de jun. de 2010.
80
MANSO, Costa apud MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 50-51.
81
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 51.
82
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 51.
31
A cerca da constituição de 1946, Viveiros leciona que: “o júri ressurge com mais
força, com mais garantias e, portanto, com mais prestígio, visto a intenção do constituinte de
restabelecer ao máximo o que se entendia democrático. Daí ter sido o júri inserido novamente
dentre os direitos e garantias individuais” 85.
83
VIVEIROS, Mauro. Tribunal do júri na ordem constitucional brasileira: um órgão da cidadania. São
Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003, p. 14.
84
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 732.
85
VIVEIROS, Mauro. Tribunal do júri na ordem constitucional brasileira: um órgão da cidadania, p. 15.
86
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri, p. 54.
32
Percebe-se então, que na análise do autor supracitado, apesar de o júri ter sido mantido
pela Constituição de 1946, ela trouxe algumas limitações ao legislador ordinário, no que se
refere à organização e funcionamento do júri, quanto a organização vedou-se instituir o
conselho julgador com número par de membros e na questão do funcionamento não podem as
normas regulamentadoras cercearem o direito de defesa.
O júri foi mantido no capítulo dos direitos e garantias individuais pela Constituição de
1967, previsto no artigo 153, § 18, cuja sua redação era a seguinte:
87
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 13 de ago. de 2010.
88
CALVO FILHO, Romualdo Sanches e SAWAYA, Paulo Fernando Soubihe. Tribunal do júri: da teoria à
prática. São Paulo: Suprema Cultura, 2006, p. 21.
33
Nota-se então que a Constituição de 1967 manteve a soberania do júri, mas a Emenda
Constitucional de 1969, retirou-lhe a soberania. Dito isso, segue-se agora para o estudo do júri
na atual Constituição.
Neste tópico será feita uma abordagem a Constituição de 1988 no que diz respeito ao
júri, trazendo seus princípios bem como a importância de cada um deles para o procedimento
do tribunal do júri.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
89
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>. Acesso em: 13 de ago. de 2010.
90
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 732.
91
VIVEIROS, Mauro. Tribunal do júri na ordem constitucional brasileira: um órgão da cidadania, p. 15.
34
92
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>. Acesso em: 13 de ago. de 2010.
93
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 287.
94
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 287.
95
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 287.
35
Essa regra de competência, contudo, não é absoluta. Isso porque sempre que
houver instituição de competência especial por prerrogativa de função no
texto maior (CF/88), haverá afastamento da norma geral. É o que acontece
nos arts. 29, X (Prefeito julgado pelo TJ); 96, III (Juízes e Promotores – TJ);
102, I, “b” e “c” (o crime comum engloba o crime doloso contra a vida);
105, I, “a”, e 108, I99.
96
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 287.
97
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal, p. 732 e 733.
98
MARQUES, Jader. Tribunal do júri: considerações críticas à lei 11.689/08 de acordo com as leis 11.690/08 e
11.719/08. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 26.
99
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed., São Paulo: Saraiva, p. 708.
100
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 708.
36
Em suma, após uma breve abordagem dos deslocamentos históricos do júri, encerra-se
o primeiro capítulo com o intuito de, no próximo capítulo, iniciar-se um estudo acerca das
alterações trazidas pela Lei nº 11.689/08 ao procedimento do Tribunal do júri, de modo que,
privilegiar-se-á as principais inovações na primeira e na segunda fase do procedimento do
Tribunal do júri.
101
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 26.
3 O PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI
O tribunal do júri foi modificado durante toda a vigência do Código de Processo Penal
por quatro leis: Lei n. 263, de 23 de fevereiro de 1948; Lei n. 5.941, de 22 de novembro de
1973; Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977 e Lei n. 9.033, de 02 de maio de 1995102.
Porém, no ano 2000 nomeou-se uma comissão pelo Ministro José Gregori para
confecção da reforma do CPP, esta comissão apresentou vários projetos ao executivo, que por
sua vez encaminhou-os ao legislativo, dentre os projetos encaminhados estava o referente ao
júri, o de nº 4.203/2001103.
O projeto supracitado tramitou por um longo período na Câmara dos Deputados, que
se estendeu de março de 2001 até março de 2007, ano em que se encerraram os debates e foi
encaminhada a redação final para o Senado, tendo sido o texto efetivamente sancionado, no
dia 09 de junho de 2008, após quase sete anos de tramitação, dando origem a Lei n.
11.689/2008 104.
102
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 31.
103
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 31.
104
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 32.
105
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal: comentada artigo por artigo.
2. ed. São Paulo: Método, 2009, p. 1.
38
Neste sentido, com a finalidade de atingir maior efetividade, a lei em comento excluiu
o protesto por novo júri e simplificou a quesitação, evitando-se inúmeras nulidades ocorrentes
na legislação anterior107. Por outro lado, Mougenot assevera o seguinte posicionamento
quanto à reforma do procedimento do júri:
É nova a lei, sem que seja, por isso mesmo, moderna. Se, por um lado,
suprimiu-se um artigo que era causa de nulidade – por exemplo, eliminando-
se o libelo-crime acusatório, antiga aspiração que sempre defendemos, por
outro plantou causas de nulidade, como na redação do art. 478, que afirma
nulificar o julgamento se as partes fizerem referência “I – à decisão de
pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à
determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que
beneficiem ou prejudiquem o acusado; II – ao silêncio do acusado ou à
ausência de interrogatório por falta de requerimento em seu prejuízo”. Como
se verá em momento próprio, tais dispositivos de muito duvidosa
constitucionalidade, travaram, emperraram os debates, engessando a
inteireza da verdade, ou promovendo um debate gago, sincopado,
suprimindo-se o que antes eram os “amplos” e fluidos “debates do Júri”,
ensejando uma sementeira profusa de nulidades 108.
106
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 1.
107
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 1.
108
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 541.
109
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 32.
39
constituído pela relação jurídica e pelo procedimento, sendo este ultimo o conjunto ordenado
e concatenado de atos procedimentais visando à prolação de uma sentença 110.
110
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 4.
111
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 4.
112
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 3.
113
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 543.
114
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 634.
40
115
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado, p. 735.
116
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 3-4.
117
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 4.
41
O art. 406 do CPP prevê que recebida a denúncia ou a queixa pelo juiz, este ordenará a
citação do acusado para defender-se da acusação, por escrito, no prazo de dez dias119.
Greco Filho explica que o prazo para resposta começa a fluir, no caso de citação por
mandado, desde que, haja efetivo cumprimento assim certificado pelo Oficial de Justiça, no
primeiro dia útil seguinte, segundo a regra geral da contagem processual dos prazos120.
No caso de citação inválida ou por edital (art. 406, § 1º), o início do prazo para
resposta do acusado inicia-se quando do comparecimento deste ou de seu defensor em juízo,
sendo que na peça inicial acusatória poderão ser arroladas até oito testemunhas (art. 406, §
2º)121.
118
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 288.
119
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 389.
120
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 390.
121
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 551.
42
122
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 551.
123
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 551-552.
124
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 41.
125
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 6-7.
43
Ainda sobre a defesa prevista no art. 409 do CPP, Greco Filho discorre:
O artigo supracitado está sendo objeto de controvérsias, pois não ficou claro qual a
providencia a ser tomada pelo juiz no prazo de dez dias, para alguns, o referido prazo seria
para o juiz deliberar sobre as provas e designar a audiência de instrução e julgamento, para
outros, o magistrado deve deliberar sobre as provas em dez dias e, ainda, fazer a audiência
neste prazo, parece-nos mais razoável a primeira interpretação, pois seria muito minguado
exigir-se que o juiz analisasse a resposta escrita e as provas requeridas, intimasse as
testemunhas e, ainda, designa-se nos próximos dez dias a audiência de instrução e
julgamento128. Ultrapassados estes passos, o juiz designará audiência de instrução e
julgamento, norteada pelo art. 411 do CPP:
126
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 391.
127
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 635.
128
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 8.
44
Mesmo não havendo menção expressa no art. 411, o princípio da identidade física é
aplicado na primeira fase do procedimento do júri, ou seja, o juiz conheceu da prova oral
continuará vinculado ao processo, devendo proferir a decisão final desta primeira fase, ainda
na hipótese de desmembramento da audiência única, o magistrado que iniciou a colheita da
prova deverá proferir a decisão ou sentença133.
Finda a instrução, o magistrado observará, se for o caso, o § 3º do art. 411 que faz
menção ao art. 384 o qual trata da mutatio libellii, pois no decorrer da fase instrutória, com a
129
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 9.
130
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 635.
131
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 10.
132
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 635.
133
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 14.
45
confecção de provas, podem surgir elementos que indiquem a ocorrência de fatos necessários
para a configuração do delito, não mencionados explícita ou implicitamente na peça
acusatória, ou seja, havendo a constatação de fatos novos, não citados na petição inicial, far-
se-á então a denominada mutatio libelli134.
De acordo com o art. 412 do CPP, essa primeira fase do procedimento, conhecida
como formação de culpa ou judiciun accusationis, deverá ser finalizada em noventa dias, fase
esta em que procura-se saber se houve o crime e se realmente o acusado foi o seu autor,
ficando demonstrado esses pressupostos, o julgamento ficara a cargo do tribunal do júri136.
Vale destacar que quanto ao prazo definido no art. 412 do CPP, Mendonça entende
que:
Ainda sobre o prazo previsto no 412 do CPP, destaca-se a opinião de Nicolitt “não
observado o prazo e estando o réu preso será caso de relaxamento da prisão por excesso de
prazo”138. Nessa mesma linha de raciocínio evidencia-se a doutrina de Jader Marques:
134
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 553.
135
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 55.
136
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.
734-735.
137
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 15.
138
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 288.
46
Quando não for possível respeitar o prazo legal, o juiz deverá revogar a
prisão preventiva, sob pena de restar configurado evidente constrangimento
ilegal. Ultrapassar o prazo, por inobservância das regras previstas no
procedimento, e manter o acusado preso representa inegável coação ilegal139.
Após a realização das etapas anteriormente estudadas, o juiz deverá proferir sua
decisão, a qual poderá resultar em: pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou
desclassificação, as quais, adiante, serão brevemente analisadas.
Para Greco Filho “a decisão de pronúncia deve ser fundamentada, mas deve limitar-se
a indicar os elementos probatórios que conformem a existência dos requisitos legais, porque
não pode constituir prejulgamento”143. Neste diapasão transcreve-se da doutrina de Nicolitt:
139
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 60.
140
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 15.
141
MARQUES, Jader. Tribunal do júri considerações, p. 61.
142
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 636.
143
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 396.
47
influenciar na decisão dos jurados. Ocorre que, com a reforma de 2008, parte
do problema foi minimizado, já que a pronúncia não pode mais ser utilizada
em plenário como argumento de autoridade (art. 478, CPP), sob pena de
nulidade. O fato é que a fundamentação da pronúncia deve limitar-se à
indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de
autoria ou participação, bem como especificar as qualificadoras e as causas
de aumento (art.413, caput)144.
A pronúncia dentre as possíveis decisões desta fase é a única que submete ao réu o
julgamento pelo tribunal do júri, bastando observar que a impronúncia e a absolvição sumária
resultam na extinção antecipada do processo e a desclassificação ocasiona a remessa dos autos
ao juízo competente145.
144
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 289.
145
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. São Paulo: Método, 2009, p. 727.
146
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 20.
147
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 21.
148
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 557.
48
Portanto, referida sentença faz coisa julgada formal, uma vez que, não extinta a
punibilidade e surgindo novas provas é possível ser oferecida nova denúncia pelo Ministério
Público, desde que tais provas sejam capazes de reverter substancialmente o quadro
probatório do momento em que ocorreu a impronúncia151.
Mendonça em sua obra faz uma breve análise acerca da impronúncia, comparando-a
no atual e no antigo procedimento do júri:
Cumpre destacar que, em caso de impronúncia e havendo crime conexo, o juiz não
deve fazer considerações a respeito do crime conexo e deve remetê-lo ao julgamento perante
o magistrado competente, apesar de não haver texto legal no procedimento do júri
mencionada situação é pautada no art. 81, parágrafo único, do CPP, o qual, prevê uma
exceção à perpetuatio juristictiones, estabelecendo que reconhecida inicialmente ao júri a
149
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 73.
150
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 640.
151
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 291-292.
152
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 22.
49
Para encerrar a abordagem sobre a decisão de impronúncia destacamos que esta não
pode ser confundida com a decisão de despronúncia, pois a primeira é a decisão do juiz de
direito que implica no fim do processo em decorrência da ausência de indicativos da autoria e
provas da materialidade do fato, ao passo que, a despronúncia ocorre quando o tribunal,
julgando recurso em sentido estrito interposto contra a pronúncia, revoga esta decisão155.
De acordo com o art. 415 do CPP a terceira decisão possível de ser proferida ao final
da primeira fase do procedimento do júri é a absolvição sumária, na qual o juiz adentra ao
mérito e absolve o acusado156.
153
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 22-23.
154
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 730-731.
155
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 731
156
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 23.
157
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 23.
50
Ao ser o crime desclassificado pelo juiz, este não poderá dizer para qual delito o
desclassificou, pois dessa forma estaria invadindo a competência do juízo monocrático e
proferindo um prejulgamento dos fatos, devendo então, apenas se ater a dizer que o crime não
158
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 292.
159
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 642.
160
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 559.
161
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 735.
162
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 731.
51
é de competência do tribunal do júri e se em virtude de tal omissão, houver dúvida sobre qual
o juízo deve receber o processo, levar-se-á em conta a infração mais grave, remetendo os
autos ao juízo competente para esta, isto porque devemos observar a máxima: quem pode o
mais pode o menos163.
Havendo conexão entre crimes, e sendo desclassificado um, o magistrado não deve
tecer considerações sobre o outro, e sim aguardar a preclusão da decisão e depois remeter
ambos os crimes (desclassificado e conexo) ao julgamento pelo juiz competente165.
163
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 639.
164
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 79-80.
165
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 30.
52
O art. 423 prevê uma decisão saneadora, na qual o juiz determinará diligências com o
intuito de sanar eventuais nulidades existentes, podendo estabelecer a produção alguma prova
que entenda ser relevante para busca da verdade real, realizadas tais deliberações o juiz deverá
confeccionar um breve relatório do processo, neste relatório o juiz precisará relatar apenas os
acontecimentos relevantes para o processo, não devendo externar apreciações sobre a
prova168.
166
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 63.
167
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 85.
168
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 37.
53
Sobre o relatório Jader Marques também faz algumas ponderações: “pela disposição
do inciso II, o relatório deve ser redigido na fase da preparação do processo para ser entregue
aos jurados logo depois da tomada do juramento” 170.
O § 1°, também sem alteração, determina que, antes do dia designado para o
primeiro julgamento da reunião periódica, será afixada na porta do edifício
do Tribunal do júri a lista dos processos a serem julgados. Interessante
inovação foi tratada no § 2° do art. 429. A prática demonstra que é mito
comum a não-realização das sessões de julgamento, especialmente em razão
dos impedimentos para instalar a sessão, quando ausente algum dos
envolvidos. Justamente à luz desta constatação prática o legislador precaveu-
se e determinou que o juiz presidente reserve datas na mesma reunião
periódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado,
evitando, assim, delongas demasiadas173.
169
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 86.
170
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 86.
171
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 37.
172
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 97.
173
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 50.
54
No tocante às testemunhas e aos peritos o art. 431 do CPP dispõe quanto a precisão de
precedente requerimento de intimação, por segurança, as partes devem peticionar pleiteando a
intimação das testemunhas no momento do arrolamento, sob pena de tornassem responsáveis
pela apresentação das mesmas, causando a perda da prova em caso de ausência178.
174
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 563.
175
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 738.
176
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 51.
177
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 98.
178
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 99.
55
O serviço do júri é obrigatório, como expressa o art. 436 do CPP, desde que o cidadão
atenda os requisitos legais, podendo o juiz presidente do Tribunal do júri inseri-lo na lista a
que se refere o art. 425 do estatuto processual penal179.
O sorteio faz-se a portas abertas (atento aos cuidados previstos no art. 432 do
CPP), e o próprio Juiz Presidente do Tribunal do júri (art. 433 do CPP) tirará
da urna geral as 25 cédulas com os nomes dos jurados, as quais serão
recolhidas a outra urna, ficando a chave respectiva em seu poder, o que tudo
será reduzido a termo pelo Escrivão, em livro a esse fim destinado, com
especificação dos 25 sorteados. Embora a nova legislação não se refira a tal
cautela, o certo é que o CPP, no art. 462, fala dessa outra urna181.
Houve uma importante inovação na forma de convocação dos jurados, pois antes,
existia o entendimento que o jurado sorteado deveria ser convocado por mandado de
intimação, sendo este exercido por oficial de justiça, porém o grande número de julgamentos,
sobre tudo nos grandes centros, exigia melhorias, por isso muitos magistrados, determinavam
a intimação por carta com aviso de recebimento, inclusive com orientação dos próprios
Tribunais, que por analogia baseavam-se no CPC, entretanto, com o novo procedimento,
percebendo esta realidade, determina que os jurados sorteados sejam convocados pelo correio
ou por qualquer outro meio hábil (art.434)182.
179
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 758.
180
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 400.
181
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 760-761.
182
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 53-54.
56
183
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 54.
184
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 760.
185
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 62.
4 O CONSELHO DE SENTENÇA E A INCOMUNICABILIDADE DOS
JURADOS
Realizadas as diligências consoantes nos arts. 454 a 461 do Código de Processo Penal,
o magistrado de acordo com o art.462 dará início a abertura da sessão de julgamento do júri.
Após isso, o juiz presidente realizará a chamada dos jurados, conferindo se a urna possui 25
cédulas e identificará as pessoas que poderão ser sorteadas para compor o Conselho de
Sentença187.
Ao dar início à sessão é necessário que estejam presentes pelo menos 15 jurados,
ressalta-se que contam neste número os jurados impedidos e suspeitos, a indispensável
presença do número mínimo de jurados tem por objetivo impedir o chamado “estouro de
urna”, que é quando em virtude do grande número de jurados impedidos, suspeitos ou
186
BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal, p. 563.
187
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 115.
58
recusados pelas partes, não é possível chegar ao quorum necessário, sete, para formar o
Conselho de Sentença188.
Ultrapassada esta fase o juiz presidente realizará o sorteio de sete jurados os quais
farão parte do conselho de sentença, e assim, advertirá os sorteados do dever da
incomunicabilidade entre si, e também da impossibilidade de manifestarem suas opiniões
sobre o processo, sob pena de multa e exclusão do Conselho de Sentença189.
Conforme dispõe o art. 476 do CPP: “encerrada a instrução, será concedida a palavra
ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de
circunstância agravante” 192.
188
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 76.
189
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 118.
190
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 765.
191
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 765.
192
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 129.
59
De acordo com o art. 477 do CPP a acusação e a defesa terão uma hora e meia para
expor sua tese, sendo que também terão direito a tréplica pelo tempo de uma hora cada 193.
O juiz presidente anualmente organiza a lista geral dos jurados, mediante escolha e sob
sua responsabilidade, pelo seu próprio conhecimento ou informações de autoridades locais,
associações de bairro ou de classe, sindicatos, universidades, núcleos comunitários,
instituições de ensino em geral, repartições públicas195.
193
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 95.
194
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 750.
195
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 756.
196
BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal, p. 545.
197
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 402.
60
estipulasse qual seria a prestação alternativa a ser cumprida por aquele que deixasse de
cumprir a obrigação legal imposta a todos198.
Observa-se então positiva a inclusão dada pela lei 11.689/2008, no tocante a prestação
alternativa, isto porque, aqueles cidadãos que cumpriam com a obrigação legal do serviço de
jurado, de certa forma eram injustiçados, pois os que se eximiam de tal obrigação por escusa
de consciência nada sofriam.
Por outro lado, como visto, quando no caso de escusa de consciência o jurado terá de
prestar serviços alternativos e quando simplesmente afirmar que não servirá ao tribunal do júri
a sanção a ele aplicada é apenas a multa prevista no art. 438 do CPP, não perdendo seus
direitos políticos e também não configurará crime de desobediência, ou seja, beneficiará
aqueles com maior poder aquisitivo, pois é mais cômodo para estes pagar a multa do que
alegar a escusa de consciência e ter de prestar serviços alternativos201.
Estão isentos do serviço do júri (art. 437), o que não quer dizer que estejam
proibidos:
198
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 758.
199
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 57.
200
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 402.
201
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 60.
61
O juiz presidente antes do sorteio dos jurados que farão parte do conselho de sentença,
falará sobre os impedimentos, a suspensão e as incompatibilidades constantes dos arts. 448 e
449 do CPP, após o sorteio os membros serão advertidos de que deverão manter-se
incomunicáveis entre si e com os outros204.
Os impedimentos que trata o art. 448 do CPP, com relação a função de jurado no
mesmo conselho de sentença compreende-se da seguinte forma: marido e mulher, ascendente
e descendente, sogro e genro ou nora; irmãos e cunhados durante o cunhadio, tio e sobrinho,
bem como padrasto, madrasta ou enteado, os referidos impedimentos objetivam evitar que se
obstruam a imparcialidade do julgamento, pois a proximidade entre as pessoas supracitadas,
faz-se crer que já tenham anteriormente discutido a causa e possivelmente decidiram no
mesmo sentido, o que é prejudicial205.
202
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 401-402.
203
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 57.
204
NICOLITT, André Luiz. Manual de processo penal, p. 297.
205
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 65.
62
É impedido, pelo art. 449 do CPP, de integrar o conselho de sentença o jurado que
atuou no julgamento anterior do feito, pouco importando a causa que determinou o
julgamento posterior, julgou um dos acusados, em caso de separação dos processos, ou tiver
expressado prévia disposição para condenar ou absolver o réu207.
Pode-se destacar então, que não há requisitos na lei para a função de jurado, a não ser
as seguintes: a) ser brasileiro nato ou naturalizado; b) ser maior de 18 anos; c) idoneidade,
assim, a escolha por jurados diplomados é a critério do juiz e não uma exigência da lei209.
Bonfim realiza severas críticas quanto a exigência de notória idoneidade para o serviço
de jurado, conforme destaca-se:
Percebe-se deste trecho que o autor entende que, para uma pessoa ter notória
idoneidade é preciso ter exercido a capacidade civil por algum tempo, o que não é possível
verificar-se em pessoas com apenas 18 anos, pensa também o autor que da maneira que o
legislador formulou o requisito de notória idoneidade, seria mais vantajoso suprimi-lo.
206
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 403.
207
BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal, p. 550.
208
BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal, p. 545.
209
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal, p. 756.
210
BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal, p. 547.
63
Percebe-se deste trecho que o autor verifica que geralmente os juízes evitam de
convocar para o serviço de jurado pessoas mais atarefadas, predominando na composição do
conselho de sentença, na maioria das vezes, funcionários públicos, estudantes e aposentados.
O que na visão do autor desvaloriza a instituição do júri.
Depois de realizadas breves considerações relativas a função do jurado, bem como sua
obrigatoriedade, vantagens, recusa ao serviço, escusa de consciência e responsabilidade penal,
passa-se a uma sucinta abordagem a respeito do conselho de sentença.
Depois de realizadas as diligências contidas nos arts. 454 a 461 do CPP, o juiz
presidente dará inicio a sessão como dispõe o art. 462 do CPC, observará se a urna de sorteio
contém o nome dos vinte e cinco jurados em seguida mandará o escrivão proceder a chamada
dos mesmos213.
211
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 88.
212
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova reforma do código de processo penal, p. 63.
213
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 108.
64
Ato contínuo o juiz sorteará sete jurados para compor o conselho de sentença, podendo
a defesa e o Ministério Público realizar até três recusas imotivadas, composto o referido
conselho, os jurados escolhidos prestarão compromisso, em pé, diante da seguinte exortação
do juiz presidente: “em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e
a proferir a vossa decisão, de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça”,
chamados um por um pelo nome que deverão responder: “assim o prometo”216.
Neste capítulo final do presente trabalho abordar-se-á sobre uma questão polêmica e
até controvertida entre os juristas, trata-se da questão da in(constitucionalidade) da
incomunicabilidade dos jurados no tribunal do júri, sendo este tema amplamente discutido
com as alterações introduzidas pela Lei 11.689/08. Contudo, para dar início ao tema proposto,
214
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 748.
215
AVENA, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado, p. 748.
216
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 647.
217
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 647.
65
Para Greco Filho a sessão de julgamento do tribunal do júri, desde o início até seu fim
é regida pelos princípios da concentração e da incomunicabilidade:
Assim de acordo com a legislação vigente, art. 466, §1°, do CPP, os jurados devem
permanecer sem comunicação desde o sorteio de seus nomes, sob pena de exclusão do
conselho de sentença e multa de um a dez salários mínimos. A propósito o Supremo Tribunal
Federal entende não constituir quebra da incomunicabilidade dos jurados o fato de, logo após
terem sido escolhidos para compor o conselho de sentença, utilizarem o telefone celular na
presença de todos, para comunicar a terceiros o respectivo sorteio, sem realizar qualquer
comentário a dados do processo (Ação Originária 1047-1/RR, Rel. Mim. Joaquim Barbosa,
DJ de 28/11/07)219.
218
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal, p. 405.
219
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, 606-607.
66
Dispõe o art. 466, § 1°, que os jurados não poderão comunicar-se entre si ou
com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de
exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2° do art. 436 do Código.
Havia, no entanto, entendimento, antes do advento da Lei n. 11.689/2008, no
sentido de que a lei não vedaria conversa entre os jurados, desde que sobre
tema estranho ao processo e sob a fiscalização do juiz e oficial (RT,
427/351)220.
Cumpre destacar que a incomunicabilidade dos jurados não está prevista na CRFB/88,
porém o art. 5°, inciso XXXVIII, reconhece a instituição do júri e assegura a plenitude de
defesa, a soberania dos veredictos e por fim o sigilo das votações, o qual significa que a
liberdade de convicção e opinião dos jurados deverá sempre ser resguardada, devendo a
legislação ordinária prever mecanismos para que não se frustre o mandamento
constitucional222.
220
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 655.
221
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 657.
222
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 110.
223
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 660.
67
expor o seu voto, sendo assim, o sigilo nas votações do júri é princípio de exceção aos
julgamentos públicos, do mesmo modo que no júri as decisões não são fundamentadas, o que
também se constitui uma ressalva àquele princípio constitucional224.
224
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal, p. 657.
225
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 118-119.
226
RANGEL, Paulo. Tribunal do júri: visão lingüística, histórica, social e dogmática. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007, p. 92.
68
Adotar a comunicabilidade entre os jurados com o fito de extrair uma decisão justa, ou
ao menos, para alcançar uma decisão menos injusta possível, ou que a decisão injusta seja
cada vez mais infreqüente, o diálogo é um instrumento através do qual os membros do
conselho de sentença poderão fundamentar e expor suas opiniões sobre os fatos, objeto do
processo, impedindo o arbítrio de qualquer decisão estigmatizada228.
O filme Doze homens e uma sentença (1957), com Henry Fonda, demonstra com
clareza o valor do exercício do diálogo no tribunal do júri onde o fato óbvio, para alguns
jurados, isto porque é fácil condenar o outro, precisa de uma discussão mais aprofundada, de
uma pesquisa diferenciada, de ouvir com ouvidos de quem quer conhecer e enxergar com
olhos de quem quer ver as provas do processo, até chegar a constatação da inocência do
acusado229.
A seguir passa-se a proposta de como deveria ser tomadas as decisões pelo conselho
de sentença no tribunal do júri, conforme leciona Rangel:
227
MARQUES, Jader. Tribunal do júri, p. 118-119.
228
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri, p. 92.
229
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri, p. 92.
230
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri, p. 125.
69
Percebe-se desta decisão que a simples comunicação entre os jurados, sem que estes
exteriorizem sua opinião não gera nenhum vício que venha a anular o júri, ou seja, a
incomunicabilidade na prática não é absoluta, pois tem apenas o intuito de preservar um
jurado do outro, para que não possam ameaçar a imparcialidade do julgamento.
70
Destaca-se deste acordão, que a mera ligação de um jurado para seus familiares para
comunicar que foi sorteado para compor o conselho de sentença, não implica na quebra da
incomunicabilidade, haja vista, que não resta nenhum prejuízo à formação da convicção da
decisão do conselho de sentença.
Percebe-se por via desta referência jurisprudencial, que as decisões quanto ao uso do
telefone pelos jurados com o fito de comunicar outrem que foram sorteados para compor o
conselho de sentença, não gera nulidade por quebra de incomunicabilidade, tanto no TJSC
quanto no STF.
No Brasil o júri foi instituído através de lei, no ano de 1822, com a competência
exclusiva para julgar os crimes de imprensa. No ano de 1824 o júri foi inserido no texto
constitucional, nesta época, modificou-se a competência do mesmo para julgar questões cíveis
e criminais, contudo percebeu-se em pouco tempo que os juízes do povo, não possuíam
capacidade para decidir questões cíveis, que na maioria das vezes eram complexas e exigiam
conhecimentos especializados.
Pode-se destacar que algumas das profundas mudanças trazidas para o júri através da
lei n. 261/1841, foi a extinção do tribunal de acusação, a lista de jurados passou a ser
organizada pelos delegados de polícia, a aplicação da pena de morte também sofreu alterações
passando-se a exigir que para ser aplicada deveria dois terços dos jurados votar pela
condenação, nos demais crimes de competência do júri as decisões deveriam ser tomadas por
maioria absoluta.
Na Constituição de 1934 o júri deixou de fazer parte da seção que tratava dos direitos
e garantias individuais e foi inserido no capítulo que tratava do Poder Judiciário, chegando a
ser retirado por completo do texto constitucional no ano de 1937, quando se debatia a respeito
da manutenção, ou não, do júri no Brasil, até que no ano de 1938, o Decreto-lei 167,
confirmou a existência do instituto, porém com profundas modificações, vez que retirou a
denominada soberania dos veredictos.
Com a CRFB/88 o júri foi definitivamente inserido no capítulo dos direitos e garantias
individuais, previsto em seu art. 5°, XXXVIII, o qual define os princípios fundamentais do
júri, quais sejam, a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a
competência para julgamento dos crimes contra a vida.
Ainda sobre a primeira fase do júri, destaca-se que a legislação vigente trouxe
importante inovação no tocante à inquirição das testemunhas, uma vez que, o código de
processo penal aboliu o sistema presidencialista e passou adotar o sistema americano, onde as
perguntas são realizadas diretamente a testemunha pela parte que arrolou, e não mais por
intermédio do magistrado, cabendo a este apenas complementar os questionamentos no que
for necessário.
A segunda fase do júri, judicium causae, inicia-se quando estiver preclusa a decisão de
pronúncia e não havendo recurso em sentido estrito, ou havendo, se este não for provido. Esta
fase é composta dos seguintes atos: a) intimação das partes para apresentarem provas e
requerimentos em cinco dias, b) deliberação do juiz sobre as provas requeridas; c) despacho
saneador; d) relatório do processo; e) inclusão do processo em pauta; f) intimação das partes,
ofendido e testemunhas para a sessão de julgamento; g) escolha e convocação dos jurados; e
por fim, h) sessão de julgamento.
Observou-se que para alguns doutrinadores, como, por exemplo, Greco Filho, a sessão
do júri e regida do início ao fim pelos princípios da concentração e da incomunicabilidade,
assim os jurados não podem comunicar-se entre si ou com outrem, nem manifestar sua
opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho de sentença.
Realizados esses breves comentários, viu-se que a primeira hipótese levantada não
restou confirmada, uma vez que a CRFB/88 em seu art. 5º, XXXVIII, prevê o sigilo da
votação, constatando-se que a maioria dos doutrinadores creditam a esta garantia,
implicitamente, o princípio da incomunicabilidade dos jurados, confirmando, deste modo a
segunda hipótese aduzida.
ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Dicionário jurídico brasileiro. 11. ed. São Paulo: Jurídica
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