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Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

Edição 2 | ano 1 | outubro de 2016 | R$ 15,90

ENTREVISTA
Alexandre Couso, diretor-
presidente da Edalco Construtora,
destaca a importância do uso
da tecnologia nos projetos

NOSSO CRAQUE
Mestre Bruno Contarini conta suas
experiências e sua trajetória

Ponte

Anita
Garibaldi
Um marco em projeto estrutural por ser a primeira ponte estaiada do
Brasil em curva construída com uso de aduelas pré-fabricadas coladas
ÍNDICE | REVISTA ESTRUTURA

DIVULGAÇÃO DNIT
PONTE ANITA ÍNDICE
GARIBALDI 04 | EDITORIAL
CONVERSA DE BAR
55 | NORMAS TÉCNICAS
FORÇAS PARA O PROJETO DE ESTRUTURAS
DE GARAGENS E ZONAS DE CIRCULAÇÃO DE
05 | PALAVRA DO PRESIDENTE VEÍCULOS EM EDIFÍCIOS
ABECE 2030
60 | APRENDENDO COM O ERRO
08 | ENTREVISTA PROJETO DE ESTRUTURAS EM SITUAÇÃO
ALEXANDRE COUSO DE INCÊNDIO

11 | NOSSO CRAQUE 62 | MUSEU DO PROJETO


60 ANOS DE GENIALIDADE CLUBE XV DE SANTOS

14 | O QUE ELES QUEREM DE NÓS 64 | ESPAÇO ABERTO


INTEGRAÇÃO: PROJETO X OBRA PROTEÇÃO CONTRA FOGO E CORROSÃO

22 | CASE INTERNACIONAL 65 | ESPAÇO BIM


EDIFÍCIO "LE SAINT JUDE RESIDENCE" - CANADÁ O BIM COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS
PROJETOS DE ENGENHARIA E A ARQUITETURA
26 | ESTRUTURAS METÁLICAS
DIMENSIONAMENTO DE VIGAS ESBELTAS MISTAS 72 | BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS
CARGAS DE CONSTRUÇÃO EM LAJES COM
FORMAS DE ESCORAMENTO EM EDIFÍCIOS
32 | ARTIGO TÉCNICO
MULTIPAVIMENTOS
FUNDAÇÕES PARA ESTAÇÕES EÓLICAS

39 | ARTIGO RETRÔ 79 | BOAS PRÁTICAS PARA


CONHECIMENTOS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE PROJETOS
TENSÕES E DEFORMAÇÕES NOS CONCRETOS CAUSAS FREQUENTES DE INSUCESSOS NA
ESTRUTURA EM “MATERIALIZAÇÃO” DE SUBSOLOS ESTANQUES NO
DESTAQUE 47 | ACONTECE NAS QUE SE REFERE À ESTABILIDADE DA ESTRUTURA
REGIONAIS ABECE 82 | JOGO DE SETE ERROS
16 52 | VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
NÃO BASTA SABER. É PRECISO COMPROVAR
A Agenda voltará a ser publicada na próxima edição

EXPEDIENTE
A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGE-
NHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia estrutural
e engenheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.

PRESIDENTE: Augusto Guimarães Pedreira Gusmão, Antonio Laranjeiras, Augusto C. DIAGRAMAÇÃO: Alcibiades Godoy
de Freitas Vasconcelos, Augusto G. Pedreira de Freitas, PUBLICIDADE: ABECE
VICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO: Carlos Britez, Cesar Pinto, Daniel Domingues Av. Brigadeiro Faria Lima, 1.993 - cj. 61 -
Jefferson Dias de Souza Júnior Loriggio, Eduardo Barros Millen, Guilherme CEP: 01452-001 - São Paulo/SP
VICE-PRESIDENTE DE TECNOLOGIA E A. Parsekian, Inês L. S. Battagin, Joaquim abece@abece.com.br
QUALIDADE: Ricardo Leopoldo e Silva França Mota, José Celso da Cunha, Leonardo Braga Tel.: (11) 3938-9400
VICE-PRESIDENTE DE MARKETING: José Luiz Passos, Márcio Roberto Silva Correa, Mario IMPRESSÃO: Editora Gráfica Nywgraf
V.C.Varela Cepollina, Milton Golombek, Nelson Covas, TIRAGEM: 6.000
DIRETOR ADMINISTRATIVO-FINANCEIRO: Ricardo Leopoldo e Silva França, Selmo
Roberto Dias Leme C. Kuperman, Sergio Hampshire, Valdir ERRATA: na página 54 da primeira edição da Revista
Estrutura foi editada uma ilustração que não faz parte
DIRETORES: Claudio Adler, Enio Canavello Pignatta e Silva. do tema tratado na seção Aprendendo com o Erro.
Barbosa, Fabrício Tomo, Guilherme Covas, EDIÇÃO: Mecânica de Comunicação
João Alberto de Abreu Vendramini, João Luis www.meccanica.com.br
Casagrande, José Martins Laginha Neto, Luiz JORNALISTA RESPONSÁVEL: Enio Campoi –
Aurélio Fortes da Silva, Suely Bacchereti Bueno, MTB 19.194
Thomas Garcia Carmona e Tomás Vieira. REDAÇÃO: Lázaro Evair de Souza, Sylvia Mie Cadastre-se no
SECRETARIA GERAL: Elaine C. M. Silva PRODUÇÃO GRÁFICA: MGDesign site da ABECE para
COMITÊ EDITORIAL: Alexandre Duarte www.mgdesign.art.br receber a revista.

03
EDITORIAL

CONVERSA DE BAR

T
enho tido muita sorte na vida... força muito grande e é ele que vai auferir
O privilégio de fazer este edito- e avaliar o resultado ao habitar, traba-
rial é uma delas... lhar, utilizar e avaliar todos esses itens do
Mas quando olhamos para o “pa- imóvel que adquiriu para uso próprio ou
pel em branco”... investimento. 
O que dizer a projetistas e executores? Outro ponto chave:
Não quero um artigo técnico, quero uma • Obra entregue!
conversa de bar... Você construtora entregou, está entre-
Incorporadores/Projetistas/Executores!!! gue!
Sentemos nesta mesa. Fim de Obra!
Não entrarei no mérito da pesquisa de Mer- Se precisou voltar a ela por solicitação do
cado e definição do produto, mas vamos lá. cliente, por qualquer motivo, deve ter ha-
A partir daí, tudo se inicia na concepção vido alguma falha no processo, seja em
da arquitetura que tem que estar casada projeto, materiais empregados, mão de
com o projeto estrutural. obra ou na execução.
O sucesso de um empreendimento passa Isso é custo, entenda-se prejuízo.
hoje, muito mais do que antes, pelo ne- As construtoras focam:
cessário entrosamento dessa parceria. • Compra do terreno
Quanto mais afinada, melhor o resultado • Projetos
JEFFERSON DIAS DE SOUZA JÚNIOR,
final.  • Execução
VICE-PRESIDENTE DE
E para a garantia dos resultados inicial- RELACIONAMENTO DA ABECE • Produto final com qualidade 
mente propostos, tudo começa no per- • Preço compatível
feito desenvolvimento do projeto que ne- • Maximização de lucros
cessita de equipes bem montadas e bem Exemplos: Tudo passando por um rigoroso controle
equilibradas, mesclando profissionais • Uma simples sondagem pode iden- de custos. 
jovens com mais experientes... tificar a inviabilidade de um em- Esses custos deveriam se encerrar com
Dessa quase simbiose entre o arquiteto e preendimento! a entrega do produto, mas nem sempre
o estruturista é que nascem as obras com • Um estudo de implantação num de- isso ocorre.
melhor resultado, tanto estético quanto terminado terreno, com ênfase em Nós projetistas temos sim que ampliar
de desempenho técnico financeiro.  locação e níveis de assentamento nossas visões para além do projeto. 
Quando falo projetos, me refiro a toda pode ser fator preponderante para Enxergarmos além da estabilidade global
gama de projetistas envolvidos:  uma rentabilidade positiva ou nega- e efeitos de segunda ordem. 
• Arquitetura tiva. Nossos parceiros empreendedores ne-
• Estrutura Eu diria que o maior foco dos projetos cessitam de nosso apoio. Temos de an-
• Fundações tem que estar no custo final da obra, tecipar problemas e propor soluções.
• Paisagismo sem dúvida, e na qualidade do produto
• Instalações elétricas que a construtora/incorporadora irá en- A lucratividade das Construtoras/Incor-
• Instalações Hidráulicas  tregar ao seu cliente, em parte refletida poradoras é parte de nossas metas.
• Ar condicionado  na durabilidade, no conforto e na ausên- Temos também que ajudar a identificar
• Automação  cia de patologias ao longo da vida útil da qual seria o melhor partido estrutural
• Outros construção. para cada empreendimento. 
Todas as etapas tem que estar interliga- É sabido que hoje, como não poderia dei- Mas aí já é outro assunto.
das e devidamente analisadas.  xar de ser, o consumidor final tem uma Garçom, vê a conta e a saideira.

04 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


PALAVRA DO PRESIDENTE | AUGUSTO GUIMARÃES PEDREIRA DE FREITAS

ABECE 2030

N
o dia 26 de julho de 2016, um • Projetista Estrutural
grupo de profissionais com o Tipologias de construções que está ca-
atuação relevante na condução pacitado
da ABECE desde sua formação, • Avaliador Técnico de Projeto
esteve reunido com o propósito de discu- o Tipologias de construções que está ca-
tir sobre o futuro da associação e da pro- pacitado
fissão de engenharia de estruturas. • Empresa de Engenharia Estrutural
É fundamental que a ABECE atue com me- o Tipologias de construções que está ca-
tas de longo prazo que busquem objeti- pacitada em função dos profissionais
vos que não podem ser alcançados por que compõem a empresa
uma atuação isolada de um escritório, Conforme amplamente discutido, existem
sendo fundamental a atuação da associa- diversos pontos a serem trabalhados nes-
ção. As metas devem ser acordadas entre se processo de certificação, tais como:
os associados, visando o coletivo. • Necessidade de se complementar a gra-
A reunião não foi conclusiva no sentido de de curricular da universidade que não
definir as ações a serem realizadas, mas atender as necessidades de formação do
foram levantados diversos pontos de vis- profissional de engenharia estrutural:
ta e proposto alguns caminhos a serem o Criar cursos de aperfeiçoamento;
trilhados. o Criar programas de estágios, podendo
Deverão ser criados grupos de trabalho praticar a engenharia estrutural em es-
para atuarem em questões de longo pra- critórios, como formação complemen-
zo e que tenham um Plano de Ações de tar, semelhante à residência exercida
médio e longo prazos bem definido que pelos médicos.
será acompanhado ao longo das gestões • Participação da ABECE no processo de
da ABECE. certificação:
Pelo que foi discutido, teríamos pelo me- o Entende-se que o processo de avalia-
nos 3 temas com metas de longo prazo ção não deva ser feito pela ABECE, mas
que merecem uma dedicação especial. que a certificação seja realizada pela
Associação;
1. CERTIFICAÇÃO DO o Necessidade de associação com o Con-
PROFISSIONAL fea para validação do processo;
Verificou-se a necessidade de caminhar- • Comunicação com a sociedade sobre a
mos para um processo de certificação que importância desta certificação;
busque a competência e experiência téc- • Definição do formato de avaliação:
nica no exercício da profissão, por meio o Necessidade de definir quem será o
de um processo evolutivo de qualificação responsável pelo processo de avalia-
e certificação. ção segundo as premissas e quesitos
É fundamental passar para a sociedade definidos pela ABECE, buscando:
o entendimento do quanto é importante  Que o controle do processo de cer-
esta certificação para a segurança das tificação permaneça com a ABECE;
construções.  Garantia de isonomia;
Entende-se que deva ser certificado o pro-  Abrangência nacional;
fissional quanto às suas atribuições:  Que seja um processo evolutivo.

05
PALAVRA DO PRESIDENTE | AUGUSTO GUIMARÃES PEDREIRA DE FREITAS

• Definição dos passos a serem dados para Essa busca pelo “Acidente Zero” passa por  O entendimento sobre o funciona-
implementação da certificação. ações que são desenvolvidas pela ABECE, mento das estruturas;
tais como:  Mostrar ao poder público um pas-
2. PROFISSIONALIZAÇÃO DOS • Certificação dos profissionais, que é uma sivo de risco nas cidades devido ao
ESCRITÓRIOS das metas de longo prazo; envelhecimento das estruturas e
A Norma de Desempenho no mercado de • Evolução da normalização, que é conti- quais as medidas a serem tomadas
edificações traz à tona uma preocupação nuadamente acompanhado pela Direto- para prolongar a vida útil destas
já existente e que tem se tornado mais ria de Normas da ABECE; estruturas.
frequente para os escritórios que atuam • Pela efetivação da ATP (Avaliação Técnica • Seja um fórum permanente para análise
com obras de infraestrutura: de Projeto); das causas dos acidentes, definido a pro-
• A responsabilidade civil do profissional A evolução da engenharia estrutural pas- vável causa real do acidente, auxiliando
de projeto sa, necessariamente, pelo entendimento tecnicamente na definição das responsa-
O risco de questionamentos jurídicos de dos insucessos para que sejam tomadas bilidades
insucessos, de qualquer tamanho, é cada ações corretivas e preventivas: • Seja um fórum permanente de discussão
vez maior e presente. • O entendimento dos erros permite ações de novas soluções estruturais e necessi-
Desta forma, a possibilidade de ações ju- para evitarem novos acidentes dades de correções do processo norma-
rídicas de responsabilidade se somam às Desta forma, entende-se que este comitê tivo em função de análise de insucessos;
questões trabalhistas e tributárias exigin- deva ter esta ação como seu principal ob- • Seja um fórum permanente de referência
do do escritório cada vez mais profissio- jetivo. para solução de conflitos entre profissio-
nalização. Além disso, a ABECE precisa transmitir nais, no caso de conceitos técnicos.
A questão que fica é: como buscar esta segurança à sociedade, com relação à • Seja um fórum permanente para incen-
profissionalização de maneira consistente engenharia de estruturas, se tornando a tivar a manutenção e inspeção periódi-
em função dos recursos existentes? referência para a mídia e órgão públicos. ca das edificações, visando aumento de
O grupo entende que o Seguro de Respon- Para isso, ao analisar qualquer acidente, vida útil.
sabilidade Civil é a principal forma de se deve-se ter total isenção e atuar exclu- Gostaria de agradecer a participação de
proteger às questões jurídicas, mas verifi- sivamente sob o ponto de vista técnico, grandes colegas que compareceram à reu-
cou-se a necessidade de evoluir o seguro evitando que um associado seja respon- nião e que ao longo dos anos vem fazendo
hoje existente, principalmente em função sabilizado por algo que não é de sua res- da ABECE uma associação cada vez mais for-
do custo que tem aumentado e tende a ponsabilidade. te e relevante para a Engenharia Estrutural:
aumentar ainda mais em razão da avalia- Com estes objetivos entende-se que este Alberto Naccache, Antonio Carmona Filho,
ção do risco envolvido pelas seguradoras. comitê deva ser criado com as seguintes Candido Magalhães, Claudio Adler, Eduar-
Levantaram-se pontos importantes a se- características e funções: do Barros Millen, Enio C. Barbosa, Fabricio
rem trabalhados na questão do Seguro de • Seja composto de engenheiros que sejam Tomo, Francisco Paulo Graziano, Guilherme
Responsabilidade: referência em engenharia estrutural; Covas, Jefferson Dias de Souza, João A. Ven-
• Possibilidade de ser contratado um segu- • Estabeleça parcerias com órgãos públi- dramini, João Luis Casagrande, José A. Avila,
ro por empreendimento com divisão de cos para ser referência de assessoria téc- José Luiz V.C. Varela, José Martins Laginha,
riscos e prêmios proporcionais entre os nica em casos de acidentes; Júlio Timerman, Leonardo Braga Passos, Lu-
envolvidos. • Tenha uma assessoria de imprensa espe- ciano Rodrigues Coelho, Luiz Aurélio Fortes
o Nesta situação, profissionais com maior cífica que busque: da Silva, Marcelo Rozenberg, Marcos Mon-
qualificação representariam menor risco o Capacitação dos interlocutores pelo teiro, Marcos Velletri, Nelson Covas, Ricardo
 Relação direta com o processo de CAA/ABECE; França, Suely B. Bueno, Thomas Carmona,
certificação contribuindo para a o Atuação junto a órgãos públicos e mí- Tomás Vieira de Lima, Valdir Silva Cruz
necessidade de implementação. dia no sentido de tornar o CAA/ABECE Finalmente, gostaria de agradecer a todos
• Os projetos que tivessem ATP (Avaliação referência para comunicação com a so- os outros colegas que ao longo destes dois
Técnica de Projeto) também representa- ciedade no caso de acidentes; últimos anos nos ajudaram na condução da
riam um risco menor o Esta comunicação deve ser cuidadosa- ABECE.
o Um grande impulso à introdução da mente estudada pelo comitê para que Os projetos nos últimos anos... Quase zero
ATP como uma atividade necessária não se perca a credibilidade nem que reais!
se seja negligente; O lucro nos últimos anos ... Alguns reais ne-
3. COMITÊ DE ANÁLISE DE o Atuação junto a órgãos públicos e mí- gativos!
ACIDENTES (CAA) dia possibilitando que o CAA/ABECE Ter amigos que se doaram no objetivo co-
O entendimento da criação de um comitê possa passar recomendações para a mum de fazer a ABECE crescer e se fortale-
de análise de acidentes é muito mais am- sociedade objetivando: cer, além da fantástica convivência que me
plo do que simplesmente o atendimento  O entendimento da segurança ne- propiciaram crescimento profissional e pes-
da demanda gerada por um acidente es- cessária nas estruturas; soal... Não tem preço!
trutural, pois o objetivo da ABECE deve ser  O melhor desempenho das estru-
a busca por uma redução destes acidentes, turas mostrando o uso correto e a Grande Abraço a todos!
sendo o mais desejável que não ocorram. manutenção necessária; Boa sorte ao Jefferson e sua equipe!

06 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ENTREVISTA | ALEXANDRE COUSO

BIM É UM A
Edalco Engenharia atua nas
áreas comercial e residencial,
em especial, nos segmentos de
alto e médio padrão e, também,

PROCESSO
no de produtos econômicos, por meio
do programa Minha Casa, Minha Vida.
Já são mais de dois milhões de metros
quadrados construídos e 13 mil unida-
des entregues. Liderada pelo engenheiro

SEM CAMINHO
Alexandre Couso, diretor-presidente da
empresa, foi uma das primeiras constru-
toras a implantar a tecnologia BIM – Buil-
ding Information Modeling no Brasil. Isso

DE VOLTA
porque, com uma atuação de mais de 27
anos no mercado, tem em seu DNA uma
preocupação com a evolução constan-
te dos seus processos e metodologias.
“Conseguimos, por meio desse proces-
so, fazer uma integração entre as várias
áreas da empresa. Assim, o BIM é uma
atividade multidisciplinar integrada, con-
tribuindo para mudar a cultura e a forma
como os departamentos interagem, tor-
ENGENHEIRO ALEXANDRE COUSO, DIRETOR-PRESIDENTE DA nando a companhia mais eficiente e pro-
EDALCO ENGENHARIA, MOSTRA OS RESULTADOS OBTIDOS dutiva”, afirma.

COM A IMPLANTAÇÃO DA TECNOLOGIA BIM Na sequência, confira os principais pon-


tos abordados por ele:

08 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ABECE – Por que foi definida a implan- série de entrevistas nas várias áreas, fo- ABECE – Qual sua análise sobre os resul-
tação do BIM? ram levantados os processos de trabalho tados dessa implantação?
Alexandre Couso – Definimos como atuais. Pretendíamos que o BIM fosse inte- Alexandre Couso – Nós tivemos uma gra-
meta estratégica implementar o BIM por- grado nos atuais processos, sem alteração ta surpresa na implementação do BIM por-
que correspondia a uma necessidade de completa dos procedimentos da empresa. que conseguimos, através deste processo,
crescimento da empresa. A decisão de Posteriormente, tendo por base o conheci- fazer uma integração entre as várias áreas
investir em sua implantação foi tomada mento obtido do diagnóstico e a experiên- da empresa. Entendemos que o BIM é uma
em 2014 e buscamos, com isso, melhorar cia de nosso consultor em gestão de obras, atividade multidisciplinar integrada e isso
não apenas nossos processos, mas tam- procedeu-se o desenvolvimento dos novos contribui para mudar a cultura da empresa
bém a eficiência, os custos e a produti- processos em BIM que garantiriam a uni- e a forma como os departamentos intera-
vidade dos nossos projetos, agregando, formização entre obras e a qualidade dos gem, tornando-a mais eficiente e produtiva.
dessa maneira, valor ao nosso cliente. nossos empreendimentos. O BIM é um processo sem caminho de
Em seguida, iniciamos os treinamentos em volta e é algo que vai estar enraizado no
ABECE – Como foi sua implantação? sala de aula, através dos quais os nossos DNA da empresa. Hoje, nosso maior desa-
Alexandre Couso – Nossa maior preocu- profissionais foram capacitados não só nos fio é trazer todas as outras atividades da
pação era desenvolver um processo que softwares, mas também no novo processo cadeia produtiva para fazer parte do pro-
garantisse que o BIM estaria enraizado na definido, ao qual se seguiu um piloto em cesso. Estamos em constante desenvol-
empresa a médio prazo e que ele não se- ambiente simulado já que as nossas equi- vimento com os fornecedores e projetis-
ria apenas desenvolvido para um projeto pes necessitavam de prática para consoli- tas, trocando informações e experiências
específico. Dessa forma, estaria garantido darem o conhecimento. Todo o processo para crescer dentro desta nova metodolo-
que o conhecimento adquirido e o inves- BIM 5D foi replicado para uma obra já ter- gia em conjunto.
timento feito seriam reutilizados em futu- minada a fim de que os profissionais ad- Uma das lições aprendidas que se subs-
ras obras e que a cultura da empresa iria quirissem confiança em suas capacidades. tanciou com a criação do Comitê Técnico
mudar, maximizando-se a colaboração e Por fim, desenvolvemos o nosso primeiro do BIM da Edalco é a necessidade de re-
integração dos vários departamentos e, piloto em ambiente real, o Charme da Villa. gularmente se avaliar as ações em curso
portanto, a eficiência dos processos. Este primeiro projeto foi desenvolvido num e as metas estabelecidas por cada depar-
Em um primeiro momento foi elaborado ambiente controlado, de forma que fosse tamento. O sucesso de uns depende do
um diagnóstico onde, por meio de uma possível tirar conclusões e lições aprendidas. sucesso de outros. Sendo o BIM um pro-

09
ENTREVISTA | ALEXANDRE COUSO

cesso colaborativo, o não cumprimento ABECE – Atualmente, todos os projetos senvolvimento do empreendimento em to-
dos objetivos por um departamento (ou são desenvolvidos em BIM? das as etapas. A participação do projetista
mesmo indivíduo) pode por em cheque o Alexandre Couso – Todos os novos proje- de estrutura junto com a construtora na
sucesso de todo um investimento e esfor- tos estão a ser desenvolvidos em ambiente concepção do produto e desenvolvimen-
ço da equipe. Além disso, o fato de o BIM BIM. Esta foi a opção estratégica tomada. to do projeto é extremamente necessária,
ter sido implantado na Edalco de forma Consideramos que não justificaria o inves- pois acreditamos que a técnica e a criação
colaborativa permite a contínua motiva- timento migrar projetos já em curso. precisam andar juntas, objetivando a viabi-
ção dos profissionais envolvidos e, conse- lidade técnica e econômica, a racionaliza-
quentemente, o aprimoramento do pro- ABECE – Quais os principais benefícios ção da construção, o desempenho do pro-
cesso. Assim sendo, o investimento nas com sua utilização? duto e a facilidade da manutenção.
pessoas e em sua capacitação foi essen- Alexandre Couso – Além dos benefícios Na fase de execução da obra podemos,
cial para o sucesso da implementação do referidos anteriormente em termos de pro- através do acompanhamento e controle da
BIM na Edalco. dutividade e redução de custos, o modelo execução, garantir a aplicação das melhores
BIM, quando integrado com o orçamento práticas, orientando a equipe técnica para
ABECE – Comparando uma obra de igual e o planejamento (com linha de balanço), garantir o desempenho previsto em proje-
porte com uso do BIM e sem a ferra- traz objetividade ao processo. Ele torna o to e evitar patologias futuras possíveis ao
menta, qual o ganho de produtividade? planejamento físico mais detalhado e mais incorporador. Os benefícios dessa sinergia
E redução do custo final? assertivo, cria um banco de dados de pro- se evidenciam na finalização do empreendi-
Alexandre Couso – Todas as obras são di- dutividade e deixa visíveis as folgas que no mento, no custo, no prazo planejado e com
ferentes, com diferentes complexidades e planejamento em Gantt deixa as atividades a qualidade e desempenhos projetados.
dimensões e, portanto, a definição de uma da obra mais parecidas com uma linha de Na fase após a entrega, entendemos a
percentagem de ganho de produtividade produção. Por outro lado, como lado, como necessidade de ouvir nosso cliente atra-
ou de redução de custo deve ter isso em o acompanhamento é feito no mesmo am- vés de pesquisa e acompanhar a vida do
conta. Nas nossas implementações, temos biente BIM, a metodologia imprime inteli- empreendimento, fazendo uma análise
avaliado várias métricas de forma a analisar gência ao planejamento de forma que seja crítica do trabalho realizado, corrigindo
o sucesso do ponto de vista de performan- possível projetar a produtividade realizada procedimentos usados na elaboração do
ce ao nível dos custos, tempo e qualidade. nos pavimentos já executados, sobre os pa- projeto, desde a sua concepção até sua
Podemos, assim, exemplificar os ganhos vimentos seguintes. Dessa forma, ele rea- manutenção, melhorando os custos e
obtidos por meio de nossas experiências: justa a produtidade e produz uma previsão buscando no futuro desenvolver melho-
– Cerca de 30% das revisões de projetos do que irá acontecer na obra permitindo res projetos que vão ao encontro dos an-
são relativos a problemas de incompati- tomar ações corretivas com antecedência. seios do nosso público consumidor.
bilidades não detectados devidamente. É ainda promovida uma eliminação do
Com o BIM temos conseguido diminuir o trabalho de execução do cronograma fi- ABECE – Qual sua opinião sobre a am-
número destas revisões devido ao pro- nanceiro, uma vez que devido à integração pliação do escopo do projetista estrutu-
cesso rápido e automático de checagem do orçamento com o planejamento físico, ral, passando a incluir uma participação
de interferências. qualquer alteração nele ou ao modelo (es- no planejamento da execução da estru-
– Em média, a duração dos levantamentos copo da obra) se reflete no cronograma tura junto à equipe de execução?
dos quantitativos realizados manualmente financeiro. Alexandre Couso – Entendo como ne-
dura em torno de 20 dias trabalhados. A Por fim, uma situação positiva identificada cessária a ampliação do escopo de con-
partir do edifício modelado, a extração de no processo de implantação do BIM foi a tratação do projetista de estrutura, com a
quantitativos é instantânea. Assim sendo, oportunidade que os profissionais de dife- finalidade de acompanhar todas as fases
temos uma diminuição no tempo de orça- rentes áreas dentro da empresa tiveram de do projeto e do empreendimento, princi-
mentos, pois se aproveita o trabalho reali- conhecer os processos de outros departa- palmente na sua concepção, implantação e
zado na modelagem para compatibilização mentos, ou seja, motivada pelo objetivo no seu planejamento, onde fazemos simu-
dos projetos, eliminando-se o trabalho de principal de integração do BIM, a empresa lações de vários sistemas estruturais, ana-
medição manual usando o Autocad e o Ex- teve a oportunidade de renovar seu olhar lisando seus impactos, no prazo e no custo,
cel com os respectivos erros associados. sobre o processo como um todo. buscando a racionalização e a viabilidade
Testes comparativos demonstraram que técnica mais adequada.
as diferenças entre quantidades levanta- ABECE – Qual sua opinião sobre a siner-
das manualmente e quantidades geradas gia necessária entre o construtor/incor- ABECE – Quais são os fatores mais im-
do modelo foram inferiores a 1%, reforçan- porador e o projetista de estrutura nas portantes para a concepção do projeto
do a confiabilidade no uso do BIM. diversas etapas de desenvolvimento do estrutural na construtora?
– Relativo à redução de custos, a nossa ex- empreendimento: concepção, desen- Alexandre Couso – Os fatores são o atendi-
periência demonstra que é possível uma re- volvimento do projeto, durante a execu- mento às normas técnicas, a elaboração de
dução de aproximadamente 55% dos cus- ção da obra e após a entrega? uma estrutura que atenda as necessidades
tos de horas trabalhadas dos profissionais Alexandre Couso – A integração entre do produto e da arquitetura, de forma mais
envolvidos nas fases de Projetos, Orçamen- construtor, incorporador e projetista de racional possível para a execução da obra e
tos e Planejamento. estrutura é fundamental para o bom de- menor custo para o empreendimento.

10 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


NOSSO CRAQUE | BRUNO CONTARINI

60 ANOS DE
GENIALIDADE
CONSIDERADO UM DOS MAIORES PROJETISTAS ESTRUTURAIS DO PAÍS, CONTARINI
CONSTRUIU, EM PARCERIA COM OSCAR NIEMEYER, OBRAS ICÔNICAS EM VÁRIOS PAÍSES

C
om exatos 60 anos de atuação, CONTARINI – Na vida devemos ter sem-
o engenheiro Bruno Contarini pre ordem e organização em todos os tra-
tem uma estreita ligação com o balhos que executamos. Para isso acon-
universo dos arquitetos, até por tecer tem de haver uma responsabilidade
ter feito especialização na área pela Escola ao mesmo tempo em que devemos ter
Nacional de Engenharia da Universidade uma hierarquia a ser respeitada. Não sou
do Brasil, atual Escola Politécnica da militar de carreira, mas trabalhei e convivi
Universidade Federal do Rio de Janeiro. muito com profissionais do Exército e da
“Tive a felicidade de trabalhar com ótimos Aeronáutica. Com eles aprendi a valorizar
arquitetos. Com eles aprendi a valorizar algo muito importante: a hierarquia. Em
algo muito importante: a hierarquia. Em tudo na vida, há gente que manda e gen-
tudo na vida, há gente que manda e gente te que obedece. Isso é fundamental em
que obedece. Isso é fundamental em todos todos os serviços que venhamos a exe-
os serviços que executamos. Para executar cutar. E aí a ligação com a sinergia entre
bem uma obra é necessário ter um chefe arquiteto e engenheiro.
e, para mim, o chefe da obra é sempre o
arquiteto, o autor do projeto que será ABECE – Podia comentar esta sinergia
executado”. Em sua trajetória profissional, entre o senhor e aquele que é consi-
Contarini conviveu com os mais importantes derado o mais destacado arquiteto
arquitetos de sua geração, com destaque brasileiro e que o senhor chama cari-
para Oscar Niemeyer, com quem manteve nhosamente de “Oscar”?
estreita parceria em diversas obras CONTARINI – Tive a felicidade de traba-
no Brasil e no exterior. Tem seu nome lhar com ótimos arquitetos, os principais
ligado a vários projetos de destaque no foram: Oscar Niemeyer, Affonso Eduar-
Brasil, na África e na Europa. Dentre as do Reidy, Sergio Bernardes, Lúcio Costa,
principais obras assinadas por Contarini, Glauco Campello, Carlos Magalhães, en-
BRUNO CONTARINI destacam-se: Ponte Rio-Niterói, que foi a tre outros. E aí entra a hierarquia. Para
primeira obra a utilizar tecnologia de ilhas executar bem uma obra é necessário
flutuantes com uso de tubulões e treliças sempre ter um chefe e para mim, o che-
de lançamento; edifício da Universidade fe da obra é sempre o arquiteto, o autor
de Constatine, na Argélia; Viaduto Negrão do projeto que será executado. Para o
de Lima e Sambódromo (RJ); Museu de engenheiro, como um grande auxiliar do
Arte Contemporânea de Niterói (RJ); ponte Arquiteto, é fundamental ter uma rela-
sobre o Rio Tocantins, que possibilitou a ção íntima com ele. Um exemplo disso
conclusão da Rodovia Belém-Brasília, entre é o fato de o Oscar ter nos presenteado
outras. Confira a seguir outras opiniões com algo muito especial. Minha filha Pa-
de Contarini, um dos mais reconhecidos trícia, que conhecia muito bem o Oscar,
engenheiros brasileiros. numa ocasião ganhou de presente dois
ABECE – Qual a importância da siner- desenhos feitos especialmente por ele:
gia entre o arquiteto e o projetista de um sobre a Universidade Constantine
estruturas? (na Argélia) e outro sobre o MAC- Mu-

11
NOSSO CRAQUE | BRUNO CONTARINI

seu de Arte Contemporânea, de Niterói.


Nesse último ele, inclusive, acrescentou
uma dedicatória: “Patrícia, o Museu de
Niterói, as obras de Constantine, como
o Bruno me foi útil com sua competên-
cia. Oscar”.
Em outra ocasião, em entrevista conce-
dida pelo arquiteto Oscar a um jornal de
Brasília, o repórter perguntou a ele se
não tinha dificuldade em projetar na Eu-
ropa. Ao final de sua resposta, ele disse:
“...Na Europa e nos países que recebem
a sua influência cultural, os calculistas
reagem aos meus desenhos e os definem
como de execução impossível. Mando vir
do Brasil o calculista Bruno Contarini e as
coisas então se revolvem”. O engenheiro
não é obrigado a satisfazer tudo que o
arquiteto faz, mas deve se colocar como
um dos melhores auxiliares do mesmo. tos estruturais? E a concepção estrutu- do projeto ficou “mais fácil” e começou
Como isso, a ligação fica fácil, sempre re- ral como mudou nos últimos tempos? haver uma concorrência de um projeto
solvi os problemas que os arquitetos me CONTARINI – Antes do advento do com- normal feito com computador e um pro-
apresentavam. putador, o normal era o calculista pensar jeto bem estudado e este de preço mais
em uma boa solução da estrutura para caro devido à utilização de uma mão de
ABECE – Com base em sua longa expe- uma obra que seria mais barata, mais se- obra melhor. Com isto a qualidade dos
riência, quais as principais mudanças gura e com facilidade de cálculo. Com o projetos caiu muito. A política da escolha
ocorridas na forma de elaborar proje- aparecimento do computador, o cálculo do projeto por preço mais baixo prejudi-

ALEXANDRE MACIEIRA | RIOTUR

CONTARINI CONSIDERA A PONTE RIO-NITERÓI A OBRA MAIS IMPORTANTE DAS QUAIS PARTICIPOU, EM TERMOS DE DESAFIOS DE ENGENHARIA ESTRUTURAL.

12 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ca o bom projeto. Normalmente obra senfreada como vemos hoje, quando
melhor e de menor preço não é aquela temos obras com superfaturamento
cujo projeto é o mais barato. onde a corrupção atinge a todos os
setores, alguns comandando a exe-
ABECE – No caso de cálculo estrutu- cução, e optando não pela melhor
ral, quais evoluções o senhor desta- solução mas sempre pela solução de
caria ao longo das últimas décadas? maior lucro ou vantagens.
CONTARINI – As evoluções aconteci-
das na estrutura nestes últimos anos ABECE – Relate um pouco sobre sua
é uma soma de melhorias com a uti- experiência profissional no exte-
lização de materiais de melhor quali- rior?
dade, os cálculos facilitados pela uti- CONTARINI – No exterior executa-
lização do computador (como grande mos obras de Oscar Niemeyer com as
auxiliar do calculista). A utilização de dificuldades de soluções do Oscar com
aços especiais, fundamentalmente no grandes vãos e pequenas espessuras
caso do concreto protendido, que re- de estrutura. É necessária a adoção
presentou uma das maiores evoluções de estruturas especiais com controle
do concreto nos últimos anos. Além total das tensões e de deformações
disso, os concretos de melhor quali- com acerto de tensões compatíveis
dade foram aparecendo, bem como as com os momentos. No exterior execu-
facilidades de execução de formas e tamos obras com arcos e vãos de 80m
escoramentos, uma evolução normal de vão e espessuras de 30 cm. A sal-
com o passar do tempo. le de omnisporte, cúpula de resolução
com 100m de diâmetro e espessura
ABECE – Como tem sido essa evo- de 30cm e com um anel de suporte em
lução no caso de outros itens liga- concreto protendido de modo que a
dos à engenharia, como materiais, protensão neste anel suspendeu a es-
normas técnicas, formação profis- trutura em 5cm, facilitando a retirada
sional e equipamentos? A melhoria de todo escoramento.
dos materiais e dos projetos pode
contribuir para reduzir os riscos de ABECE – Qual sua orientação a um
colapsos nas estruturas? jovem estudante que esteja pen-
CONTARINI – A grande maioria dos co- lões profundos (cerca de 80 m) com reti- sando em cursar engenharia civil?
lapsos tem sido causada por erros. A rada de material usando o sistema Air-lift e CONTARINI – Estou muito satisfeito com
melhoria dos materiais teve muito pouca concretagem submersa, assim como todo a engenharia civil que executei e hoje vejo
influência na diminuição dos colapsos. um sistema ultramoderno de pré-fabrica- certa dificuldade por falta de obras ou
ção, transporte e colocação de aduelas pelo próprio desemprego. Na época que
ABECE – Entre as diversas obras das com mais de 110t com colagem com epóxi. comecei a trabalhar havia facilidade de
quais o senhor participou, qual foi a Toda uma execução bastante sofisticada emprego, com bom salário e bom servi-
mais desafiante, do ponto de vista sem qualquer acidente registrado. ço a ser executado. Hoje não existe mais
estrutural? E em termos de inovações esta flexibilidade e está difícil o serviço
incorporadas à engenharia nacional? ABECE – Como o senhor analisa o atual de engenharia civil e há muita dificulda-
CONTARINI – Indubitavelmente, em estágio do ensino de engenharia no de em encontrar uma boa colocação e o
grandiosidade e importância de engenha- Brasil? Comparado com a época em engenheiro por vezes é obrigado a adotar
ria estrutural, tanto como projeto e execu- que o senhor iniciou sua carreira, quais soluções mais econômicas em detrimento
ção, a obra mais importante da qual par- as principais alterações? de uma solução mais técnica.
ticipei foi a Ponte Presidente Costa e Silva CONTARINI – Na época de minha forma- Seja qual for a situação, vocês terão de
(Rio – Niterói). Nessa obra fui o ART- CREA tura, em 1956, o Brasil estava passando pensar sempre em optar pela melhor so-
- RJ (Anotação de Responsabilidade Téc- por grandes transformações na área po- lução de engenharia e nunca na solução
nica), responsável pela execução e pelo lítica, inclusive com uma época marcada mais econômica, mesmo esta solução não
comando, como diretor técnico, de um por grandes obras, com uma presidência sendo a melhor. Procure sempre se atua-
contingente de 1000 operários, além de séria, interessada em fazer em 5 anos o lizar nas soluções mais usuais e progredir
mais de 130 engenheiros e arquitetos. Em progresso de 50. (Este era o lema do Pre- raciocinando sobre a obra estudada. Hoje
termos de inovações introduzidas na en- sidente Juscelino Kubitscheck). acho que existem mais soluções de com-
genharia brasileira temos uma infinidade Na sequência, com os governos milita- putador em prejuízo de obras com utili-
de setores que foram beneficiados pelas res no Brasil, o ciclo das grandes obras zação da inteligência. O engenheiro deve
novas técnicas introduzidas. Inicialmente, continuou e havia trabalho para todos, procurar conhecer mais os equipamentos
podemos falar das fundações com tubu- sem desemprego e sem a corrupção de- utilizados em engenharia.

13
MATÉRIA | O QUE ELES QUEREM DE NÓS

INTEGRAÇÃO:
PROJETO X OBRA

N
os últimos anos, sucedendo a dos a seguir regras e requisitos particu-
Divulgação

euforia de um mercado extre- lares à determinada disciplina de projeto,


mamente aquecido, a constru- sem considerar, em profundidade, uma
ção civil brasileira tem vivido visão sistêmica.
momentos bastante desafiadores, exi- Na interação da estrutura com a veda-
gindo de cada profissional da engenha- ção, por exemplo, as rupturas de blocos
ria um esforço adicional no sentido de que surgiram nos últimos dois anos,
alcançar novos patamares de eficiência e ilustram e justificam esta afirmação. Ao
excelência. procurar pelas causas destas manifesta-
Neste contexto, apesar de muitas variá- ções patológicas, realizando verificações
veis estarem fora do alcance de quem técnicas nota-se que os requisitos das
atua na área, tais como a oferta de cré- normas de projeto estrutural, de veda-
dito, estabilidade do emprego, nível de ções e instalações, apesar de terem sido
renda e programas de desenvolvimento atendidos, isoladamente, não evitaram a
governamental, cabe uma reflexão: quais falta de desempenho no funcionamento
as oportunidades que podem ser apro- conjunto, fazendo com que a vedação
veitadas no curto, médio e longo prazos deixasse de cumprir as funções básicas
pelos profissionais da área e quais as ao ser levada à ruptura. Na fase de pro-
competências e/ou formas de atuação jetos é importante considerar em maior
que deverão ser aprimoradas para isto? profundidade a interação e a influência
Nesse sentido, ao fazer um balanço do combinadas de diferentes variáveis, no
mercado imobiliário, julgo que uma das caso em questão, a deformação lenta
lições aprendidas com o crescimento de- da estrutura, encurtamento de pilares,
sordenado que marcou os últimos anos, eventuais deficiências na cura do con-
POR MAURÍCIO BERNARDES é a necessidade de se fazer um ajuste em creto, procedimentos de execução de
procedimentos e práticas, de maneira estruturas e vedações, módulo de defor-
a aprimorar os controles de qualidade. mação das paredes, enfraquecimento
Com isso, acredito será possível também da vedação em interligações de instala-
diminuir os riscos de engenharia nas fa- ções, tipo de componente utilizado nas
ses de projeto, execução e manutenção paredes, entre outros.
de obras. A construção civil brasileira Assim, penso que a atividade de projeto
precisa estar realmente preparada para poderia ser, além de coordenada em seu
um novo ciclo de expansão, de forma sequenciamento, cada vez mais integra-
mais planejada, controlada e eficiente. da e colaborativa, com a participação
Além da formatação e controle da apli- mais efetiva dos construtores.
cação de procedimentos mais rígidos, Esta aproximação do projetista e do
há outras oportunidades de melhoria no construtor é fundamental também na
segmento, uma delas, a adoção de uma etapa de apresentação do projeto, o que
visão mais abrangente na fase de projeto. deveria acontecer preferencialmente nos
Em alguma medida, ficamos condiciona- canteiros de obra, com a participação de

14 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


engenheiros, mestres e encarregados.
Da mesma forma, é extremamente sau-
dável a participação dos projetistas nos


chamados “protótipos de obra”, para que
se faça um ajuste fino do projeto e para
que sejam feitas sugestões de melhoria,
retroalimentando as equipes envolvidas
Penso que a atividade de projeto
no projeto. poderia ser cada vez mais
Além disto, a aproximação do projetista
e do construtor enriquecerá o repertório integrada e colaborativa,
dos envolvidos, trazendo mais elementos
para que o projeto, ao conceber a “me-
com a participação mais efetiva
lhor relação custo-benefício”, intensifique
dos construtores


e aprimore a utilização de novos concei-
tos, para formatar, por exemplo, soluções
que aumentem a produtividade, facilitem
ou tornem a execução mais segura.
Assim, haverá condições para que as me-
lhores opções estejam disponíveis ainda
na fase de projeto, evitando futuras “deci-
sões em canteiros de obra”, limitadas em
suas opções, e privadas, normalmente, de administração de empresas pela dução de obras por cerca de 10 anos.
de uma visão sistêmica. Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Atua desde 2005 como gerente de de-
com mestrado na área de tecnologia senvolvimento tecnológico, qualidade
* Maurício Bernardes é engenheiro civil e gestão da produção pela POLI - USP. e assistência técnica no mercado da
pela UNICAMP, especializado na área Trabalhou como engenheiro de pro- construção civil.

15
ESTRUTURA EM DESTAQUE | ANITA GARIBALDI

ALTO GRAU DE
DIFICULDADE
NO PROJETO
ESTRUTURAL
PONTE ANITA GARIBALDI, NA BR-101, DARÁ UM GRANDE IMPULSO ECONÔMICO E,
TAMBÉM, TURÍSTICO À REGIÃO

A
POR: ENESCIL ENGENHARIA DE PROJETOS Rodovia Governador Mário Covas ou BR-101 é uma
rodovia federal de 4.772,4km de extensão que liga 12
Estados do Brasil de norte a sul, tendo início na cidade
de Touros-RN e final na cidade de São José do Norte-
-RS. Devido a seu traçado ser paralelo a costa leste Brasileira, a
BR-101 também é chamada de Rodovia Translitorânea.
Em toda sua extensão, a BR-101 conta com trechos duplicados
e em duplicação, trechos em pista simples pavimentados e um
trecho ainda em fase de planejamento entre os municípios de
Peruíbe-SP e Garuva-SC.
Em um dos trechos em duplicação, no município de Laguna-SC,
a BR-101 cruza com o Canal das Laranjeiras, onde já havia uma
ponte do antigo trecho em pista simples, e que com a duplica-

LOCALIZAÇÃO DA OBRA

16 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ENESCIL
PONTE ANITA GARIBALDI – BR-101 – LAGUNA-SC. (CRÉDITOS: RONALDO AMBONI)

ção da rodovia o tráfego usual de 25mil veículos diários, que no temi. A construção da obra de arte ficou a cargo do consór-
verão chega a 40mil veículos/dia, passou a sofrer com o afunila- cio Ponte Laguna, composto pelas empresas Camargo Corrêa,
mento das pistas sobre a travessia. Aterpa e Construbase, e o estaiamento feito pela Freyssinet.
Dada a necessidade do aumento da capacidade de tráfego foi

ENESCIL
então projetada e construída uma nova ponte, com 2830m de
extensão, ao lado da existente, de modo a comportar o fluxo de
veículos e também proporcionar navegabilidade às embarca- ELEVAÇÃO ESQUEMÁTICA DA PONTE.
ções que adentram o canal.
Conforme o projeto, em planta, tem-se trechos em tangente com
GOOGLE MAPS

cerca de 1300m (parte dos vãos de acesso) e os 1530m restantes


são curvos (outra parte dos vãos de acesso e trecho estaiado),
sendo que o trecho curvo, possui raio de curvatura de 2000m. O
vão típico dos trechos bi-apoiados é de 50m e o trecho estaiado
é composto por 3 vãos, tendo o vão central 200m e os adjacentes
100m cada.
Os engenheiros Catão e Cláudio Watanabe contam que, no pro-
jeto básico dessa ponte, os vãos de acesso de 50m foram con-
cebidos em balanços sucessivos, com uso de aduelas pré-mol-
dadas. Durante o desenvolvimento do projeto executivo foram
mantidos os vãos de 50m, entretanto foram introduzidas novas
LOCALIZAÇÃO DA PONTE. tecnologias construtivas que tiveram como objetivo proporcio-
nar maior industrialização dos elementos estruturais, assim
A construção da nova ponte, batizada de Ponte Anita Garibaldi, como conferir maior rapidez na execução da superestrutura.
dará à região um grande impulso econômico e também turísti- Como o custo fixo tem grande impacto no custo total da obra,
co, uma vez que as obras de duplicação da BR-101 se estende- os prazos de execução devem ser os menores possíveis. Nesse
rão por todo o Estado de Santa Catarina. Ainda, devido a beleza quesito, uma das tecnologias executivas empregadas foi a tre-
e imponência dos vãos estaiados, a Ponte Anita Garibaldi cons- liça lançadeira, fornecida pela empresa portuguesa Berd, cuja
titui um novo marco e será, sem dúvidas, um cartão postal ao capacidade de execução é de cerca de um lance de 50m por
município de Laguna-SC. semana.
A estrutura da ponte possui, duas tipologias construtivas, sen-
do a primeira em caixões bi-apoiados (isostáticos) nos seus vão INFRA E MESOESTRUTURA
de acesso e um segundo trecho em ponte estaiada. Cabe dizer As sondagens atingiram uma profundidade de até 82m. Nela
que a tecnologia de pontes estaiadas é relativamente recente identificou-se a predominância, nas camadas superficiais, de
no Brasil, quando comparada com outros métodos construti- argila/areia com consistência muito mole, em profundidades
vos já consagrados no país. de até 25m. Posteriormente foram encontradas camadas mais
Ainda esta ponte apresenta características únicas, sendo a pri- compactas e substrato rochoso, composto por rochas graníti-
meira ponte estaiada do Brasil em curva construída com uso de cas, a profundidades de cerca de 50m. O grau de alteração da
aduelas pré-fabricadas coladas, o que sem dúvidas, conferiu um rocha variou desde muito alterado até a rocha sã.
grande grau de dificuldade no projeto estrutural, além de exigir Como a camada de solo, de uma forma geral, não apresentava
muito rigor durante a execução da obra. capacidade geotécnica suficiente para os esforços nas funda-
O projeto estrutural da Ponte Anita Garibaldi foi desenvolvido ções, foi necessária a utilização de equipamentos especiais de
pelo escritório paulista Enescil Engenharia de Projetos Ltda., perfuração (Reverse Circulation Drilling), de modo a se conseguir
sob coordenação dos Engenheiros Catão Francisco Ribeiro e perfurar o maciço rochoso para então execução das estacas es-
Cláudio Watanabe, e contratado pelo consórcio Engevix/Igua- cavadas.

17
ESTRUTURA EM DESTAQUE | ANITA GARIBALDI

RONALDO AMBONI
BLOCOS DE FUNDAÇÃO DOS MASTROS E PILARES PAREDE DE APOIO SOB O TABULEIRO.

Características das fundações: ca. Entretanto, devido a dificuldades executivas encontradas


• Comprimento das estacas escavas: 9,5m a 78,9m; na perfuração do trecho em rocha, havendo excessivo fratu-
• Diâmetro em solo: 2,5m; ramento nas rochas em alguns pontos, os diâmetros da maior
• Diâmetro em rocha com cerca de 5m de comprimento: parte das estacas tiveram de ser reduzidos para ø180cm, pas-
2,3m; sando a carga para 1600tf por estaca e a quantidade total de
• Carga geotécnica: 2.000tf nas fundações dos acessos e estacas aumentada para 20 por mastro.
1.600tf no trecho estaiado.

ENESCIL
Sequência executiva:
• Posicionamento da balsa;
• Cravação da camisa metálica com martelo vibratório;
• Escavação do solo/rocha;
• Montagem das armaduras;
• Concretagem.
A mesoestrutura do trecho de acessos conta com pilares, con-
soles de apoio, calços e aparelhos de apoio metálicos para uma
carga de 900tf (fixos e unidirecionais). Os caixões bi-apoiados
se apoiam nos aparelhos de apoio e estes, por sua vez, se
apoiam nos calços, fixados nos consoles.
DETALHE EM PLANTA DO BLOCO DE FUNDAÇÃO DE UM DOS MASTROS.
ENESCIL

Os pilares de apoio dos mastros (sob o tabuleiro) foram concebi-


dos em lâminas, de modo a conferir maior flexibilidade à estru-
tura aos esforços de retração e variação térmica do tabuleiro.

TRECHOS DE ACESSO
ESQUEMA DE APOIOS DO TRECHO DE ACESSOS. Os trechos de acesso são constituídos de seções tipo caixão, for-
mados por aduelas pré-moldadas dispostas num vão bi-apoiado.
No prolongamento das estacas tem-se os pilares e no topo dos Um fator de grande desafio para obra, apesar da concepção sim-
pilares estão os consoles de apoio dos caixões. Não são uti- ples, foi o uso de um sistema construtivo relativamente novo no
lizados blocos ou quaisquer outros elementos de travamento Brasil, composto por treliças de autocimbre, ou sistema OPS (Or-
entre as estacas e pilares. ganic Prestressing System) da portuguesa Berd.
Características dos vãos de acesso:
ENESCIL

• Aduelas pré-moldadas coladas com epóxi: 14 unidades


por vão;
• Peso da aduela típica: 80tf;
• Utilização de treliça lançadeira modelo LG50-Berd;
• Protensão provisória para colagem das aduelas com uso
de barras Dywidag;
• Protensão longitudinal definitiva unindo todas as aduelas.
ENESCIL

FOTO DOS PILARES COM RESPECTIVOS CONSOLES NO TOPO SEM A


UTILIZAÇÃO DE ELEMENTOS DE TRAVAMENTO.
ELEVAÇÃO ESQUEMÁTICA DO VÃO DO TRECHO DE ACESSO E
RESPECTIVAS ADUELAS.
As fundações do mastro possuem o mesmo diâmetro de
ø250cm e ø230cm em rocha. Inicialmente foram projetadas 16 Apesar da curvatura da ponte em alguns trechos, o raio de 2000m
estacas por mastro, com carga de cerca de 2.400tf por esta- permitiu que os tabuleiros fossem detalhados como retos em cada

18 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


segmento tendo, entretanto, sua largura um pouco superior ao tre- De acordo com o catálogo técnico da Berd, o sistema OPS pos-
cho em tangente e os apoios rotacionados, em planta, de modo a sui as seguintes características:
garantir o traçado de projeto. • Sistema de pré-esforço, baseado na musculatura do braço hu-
A seção transversal da ponte, no trecho dos acessos em tan- mano, onde o pré-esforço aumenta a medida que a treliça de
gente, conta com largura total de 24,10m, sendo composto por cimbramento é solicitada
um núcleo em seção tipo caixão unicelular (aduela), com altura • Equipamento de menor peso próprio, compactado a um con-
de 3,20m, possuindo ainda duas mãos-francesas laterais, pré- vencional;
-laje e laje moldada in loco. • O sistema proporciona menor consumo de aço para fabri-
cação da treliça.

ENESCIL
Ainda, de acordo com os engenheiros da Enescil, mesmo com
a utilização do sistema OPS, havia esforços na seção caixão re-
cém colada devido ao içamento das aduelas posteriores, sendo
assim necessário verificar as forças de protensão provisórias,
de modo a garantir que a seção estivesse sempre comprimida.
Através da metodologia executiva empregada, foi possível a
CORTE TRANSVERSAL DA SEÇÃO DA PONTE NO TRECHO DE ACESSOS. execução de um vão de 50m por semana, onde as etapas exe-
A protensão provisória feita durante a colagem das aduelas foi cutivas compreendiam:
feita com auxílio de barras Dywidag, através de blocos de anco- 1. Suspensão das 7 primeiras aduelas;
ragem provisórios fixados em diversos pontos da seção. 2. Posicionamento do contrapeso;

ENESCIL

ESQUEMA DE LOCAÇÃO DAS PROTENSÕES PROVISÓRIAS.

3. Suspensão, posicionamento e colagem das 7 aduelas restantes;

ENESCIL
ADUELAS PRÉ-MOLDADAS ESTOCADAS NO PÁTIO DA OBRA
ENESCIL

4. Posicionamento e colagem das primeiras 7 aduelas suspensas

ENESCIL

ELEMENTOS DA TRELIÇA LG50-BERD (SISTEMA OPS).


ENESCIL

ENESCIL

ADUELAS COM PROTENSÃO PROVISÓRIA SENDO SUSPENSAS PELA


TRELIÇA LANÇADEIRA E COLADAS

O sistema executivo empregado, com uso do sistema OPS da Após a suspensão e colagem de todas as aduelas, efetuou-se a
Berd, consiste em um sistema ativo de protensão na treliça, que protensão definitiva, sendo que a sequência de protensão con-
visa minimizar os esforços na estrutura devido a possíveis defor- sistia em uma primeira etapa, onde se protendiam apenas 4
mações na treliça durante o içamento e montagem. dos 7 cabos em cada alma das aduelas.

19
ESTRUTURA EM DESTAQUE | ANITA GARIBALDI

ENESCIL
Após a fixação das mãos-francesas, era realizado o posiciona-

ENESCIL
mento das pré-lajes entre os vãos de cada mãos-francesas e
em seguida era procedido com a concretagem in loco da laje de
modo a solidarizar todos os elementos de concreto.

ENESCIL
A premissa de protensão em duas etapas foi adotada, pois de-
vido ao peso próprio da ponte ainda estar mobilizado na treliça,
a protensão de todos os 7 cabos em uma única etapa poderia As juntas de dilatação estão locadas a cada 200m, sendo que
causar a ruptura do caixão. nos vãos intermediários, sem juntas, foram utilizadas lajes flexí-
Para a segunda e última etapa de protensão foi necessário rea- veis executadas após a conclusão do tabuleiro.
lizar a desmobilização da treliça, onde foram utilizados maca-
cos hidráulicos de modo a suspender o vão, desconectar a treli- TRECHOS ESTAIADO
ça e na sequência os próprios macacos hidráulicos realizavam o O trecho estaiado da ponte Anita Garibaldi possui vão central
posicionamento do caixão sobre os aparelhos de apoio. com 200m e mais dois vãos adjacentes de 100m cada, totalizan-
do o comprimento de 400m, descritos em um raio de curvatu-
ENESCIL

ra, em planta, de 2000m

ENESCIL
No trecho estaiado as juntas de dilatação estão localizadas
Após a transferência de apoio da treliça para os aparelhos de junto aos apoios dos caixões, e sua composição se dá por:
apoio, a treliça se movimenta para o vão seguinte e o restante • 2 mastros com plano único de estais;
dos cabos recebe a segunda etapa de protensão. • Altura dos mastros em relação ao tabuleiro: 66,50m
Na sequência construtiva são montadas as mãos-francesas, • Aduelas pré-moldadas coladas com epóxi com 3,30m de
pré-lajes e concretagens adjacentes ao caixão. As mãos-france- comprimento;
sas são fixadas no caixão com auxilio de barras Dywidag. • Número total de aduelas pré-moldadas coladas: 104, exe-
cutadas via balanços sucessivos;
ENESCIL

• Peso máximo da aduela: 105tf;


• Número de estais longitudinais por mastro: 2x13 unida-
des, com 56 a 72 cordoalhas ø15,7mm CP177RB;
• Número de estais transversais por mastro:4.
ENESCIL

SEÇÃO TRANSVERSAL TÍPICA DO TRECHO ESTAIADO COM LARGURA


MONTAGEM E FIXAÇÃO DAS MÃOS-FRANCESAS. TOTAL DE 26,22M.
ENESCIL

Diferentemente do trecho dos acessos, no trecho estaiado op-


tou-se por içar as aduelas já com as mãos-francesas laterais
fixadas, de modo a conferir maior celeridade ao processo de
montagem.
O início da montagem dos balanços sucessivos é feito atra-
vés de um trecho previamente cimbrado, chamado de trecho

20 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


de disparo. Esse trecho se localiza sobre o bloco de apoio do quesito foram ainda realizados ensaios em túnel de vento pela
mastro, tendo 40m de comprimento (20m para cada lado do LAC coordenado pelo engenheiro Acir Souza além de análises
eixo do mastro) e se estende além do comprimento do bloco, dinâmicas, de modo a se verificar a estabilidade do mastro e a
possibilitando a aproximação da balsa para içamento da pri- eficiência dos estais transversais.
meira aduela. Outra dificuldade do projeto foi a elevada esbeltez do mastro
que com seus 66,50m de comprimento e 2m de largura, con-

ENESCIL
tava apenas com a contribuição da restrição parcial dada pelos
estais transversais.

ENESCIL
SEÇÃO TRANSVERSAL DO MASTRO.
ELEVAÇÃO ESQUEMÁTICA DO TRECHO ESTAIADO.

O estaiamento é feito de forma alternada nas aduelas, sendo DESAFIO ÚNICO


uma com estai e outra sem, a partir do trecho de disparo. O maior desafio da obra, apontado pelo engenheiro Catão, foi a
execução do trecho estaiado curvo composto por aduelas pré-

ENESCIL
-moldadas coladas. Diferentemente do trecho de acesso, onde
os caixões são retos em planta, as aduelas do trecho estaiado
foram pré-moldadas em canteiro já considerando a curvatura
da obra, ou seja, as aduelas possuíam formato trapezoidal, em
planta, de modo a se ajustarem à curvatura.
ESTAIAMENTO TRANSVERSAL Em pontes estaiadas convencionais, moldadas in loco, há o re-
O projeto básico da ponte não previa a existência de estais curso de ajuste da treliça de modo a promover a adequação da
transversais ao mastro. Entretanto, durante o desenvolvimento ponte ao greide vertical da obra, durante a concretagem, o que
do projeto executivo, ao se realizar as verificações das ações possibilita o ajuste da ponte durante a execução. Já no sistema
do vento de modo mais preciso, computando no modelo a se- de aduelas pré-moldadas coladas (justapostas), não há possibi-
quência de execução, curvatura do traçado entre outros, cons- lidade de ajuste uma vez que as aduelas já estão fabricadas e
tatou-se que haveria a necessidade da colocação destes estais, estocadas em canteiro.
transversais ao eixo de rolamento, de modo a se compensar os Devido à rigidez da seção tipo caixão a movimentos verticais,
esforços horizontais no tabuleiro, gerados pelas cargas perma- apenas pequenos ajustes são possíveis de serem feitos com au-
nente e móvel. xílio das forças dos estais. Também, a alta rigidez em planta do
Em um primeiro momento, buscou-se não utilizar os estais caixão reduzia muito a possibilidade de correção de erros em
transversais, porém isso implicava na necessidade de se utilizar planta nos encontros dos dois balanços.
um mastro inclinado, que além de não causar um bom efeito Dessa forma, o posicionamento correto da primeira aduela
estético, gerava interferência com o gabarito vertical do tráfego, tinha importância fundamental para o correto alinhamento
além de conferir uma grande dificuldade executiva. vertical e em planta do caixão, bem como das demais aduelas
A solução de mastros inclinados, por si só, também não era subsequentes.
suficiente para equilibrar os esforços de vento elevados, e o Mesmo com todo o rigor adotado na execução, no vão central
alargamento dos mastros implicaria no aumento da largura chegou-se, antes do fechamento, a uma diferença de nível de
do tabuleiro, o que causaria um grande aumento nos custos 36cm entre os dois avanços, sendo que os vãos adjacentes
da obra. A proximidade com o nível d’água inviabilizou outras chegaram de forma adequada sem diferenças de nível signifi-
soluções com uso de mastros por fora do tabuleiro, o que cativas. Para corrigir o desnível, foi necessário proceder com o
também descaracterizaria o projeto básico, concebido com retensionamento dos estais em um dos lados e destensiona-
mastro único. mento no outro avanço, observada a limitação dada pela alta
rigidez do caixão e a protensão originalmente projetada.
ENESCIL

ENESCIL

Os estais do lado interno da curva têm como função reduzir


SEÇÃO TRANSVERSAL DA ADUELA COM ESTAI.
os elevados esforços do vento transversal no mastro. Nesse

21
INTERNACIONAL | PRÉ-MOLDADOS

LE SAINT JUDE
RESIDENCE:
UM EDIFÍCIO
TOTALMENTE
PRÉ-MOLDADO

O
POR: BPDL (BÉTONS PRÉFABRIQUÉS DU LAC)
Edifício “Le Saint Jude Residen- com Guy Bouchard, vice-presidente da
ce”, construído em Saguenay BPDL (Bétons Préfabriqués du Lac), “esse
- Lac St Jean, região de Quebe- sistema era única solução porque permitia
c-Canadá, tem como objetivo controlar o jeito em que a estrutura era
atender a população crescente de apo- construída e éramos capazes de acelerar o
sentados. Com seis pavimentos de altura projeto”.
e mais 10.700m² de área construída, o
conjunto residencial oferece 126 apar-
CRONOGRAMA E PEÇAS PRÉ-
tamentos, área comercial, restaurante MOLDADAS
e espaço de convivência para os idosos. Uma das vantagens do emprego de pe-
O acesso à área externa proporcionado ças pré-fabricadas de concreto está na
AUTOR: FERNANDO
PALAGI GAION pelos amplos terraços priva-
(DIRETOR DA STAMP dos contribui com a saúde
PRÉ-FABRICADOS física e emocional dos usuá-
ARQUITETÔNICOS LTDA) rios. A Figura 1 apresenta a
planta tipo do projeto.
O edifício foi construído
usando o sistema constru-
tivo nomeado como “Total
Precast” (Totalmente pré-
-moldado). A justificativa
para a escolha desse sis-
tema está no cronograma
ousado e nos detalhes ar-
quitetônicos de difícil exe-
FIGURA 1. PLANTA DO PAVIMENTO TIPO
cução no local. De acordo

22 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


FIGURA 2. CRONOGRAMA EXECUTIVO DA OBRA

confiabilidade do orçamento e na preci- sura de 29cm e seção FIGURA 3. FOTO EM PERSPECTIVA DA MONTAGEM
são do cronograma. Prazos apertados de transversal do tipo
execução requerem soluções previamen- sanduíche, propor-
te pensadas na fase de projeto e execu- cionando conforto
tadas na fase de produção das peças, de térmico-acústico aos
forma a facilitar a montagem e ligações. usuários além de, es-
O cronograma de execução da obra está truturalmente, garan-
apresentado na Figura 2. Os serviços de tir resistência ao fogo
fundação começaram em Março de 2010 e e à ação de sismos.
em Dezembro de 2010 o primeiro proprie- A obra limpa e “seca”
tário já havia se mudado para o edifício. permite que os pai-
Para tanto, alternativas como o uso de néis arquitetônicos
painéis de parede com tripla função (es- sejam aplicados dis-
trutural, vedação e arquitetônico) foram pensando assim eta-
utilizados, otimizando assim o processo pas de acabamento
construtivo sem denegrir a qualidade e/ como revestimentos,
FIGURA 4. FOTO INTERNA DO PAVIMENTO
ou prazo. Os painéis apresentam espes- pinturas e execução

23
INTERNACIONAL | PRÉ-MOLDADOS

de detalhes arquitetônicos. As Figuras


3, 4 e 5 ilustram a estrutura em fase
de montagem, sendo possível observar
sua evolução com acabamento final na
fachada.
Além dos painéis de parede estruturais
arquitetônicos, outras soluções não con-
vencionais ajudaram a cumprir o crono-
grama, como por exemplo, a utilização de
terraços arquitetônicos pré-fabricados
(Figura 6). Um único elemento integra a
laje do terraço ao guarda-corpo curvo e
dispensa acabamento na fachada.
Ressalta-se ainda que tanto nos painéis de
parede como nos guarda-corpos, as jane-
las foram instaladas na fábrica, eliminando
a necessidade desse serviço no canteiro, o FIGURA 5. EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA COM A FACHADA ACABADA
que resultou em velocidade e economia.
O sistema de piso também foi projetado
focando na velocidade de execução. La- As ligações estruturais soldadas entre as
jes pré-fabricadas maciças e protendidas lajes dispensam a execução de capea-
oferecem maiores vãos do que as conven- mento estrutural, otimizando tempo de
cionais, reduzindo assim a quantidade de execução.
peças a serem montadas e melhor desem- A quantidade de peças pré-fabricadas e
penho acústico do que quando compara- um breve resumo do edifício está apre-
do com as lajes alveolares (Figuras 7 e 8). sentada no Quadro 1.

(A) (B)

FIGURA 6. A) DET ALHE DO PEITORIL CURVO; B) MONTAGEM DO TERRAÇO PRÉ-FABRICADO;


C) FACHADA FINALIZADA (C)

(A) (B)

FIGURA 7. A) PRODUÇÃO DAS LAJES PROTENDIDAS; B) MONTAGEM DA LAJE PRÉ-FABRICADA

24 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


QUADRO 1. RESUMO EM NÚMEROS local variam desde
DO EDIFÍCIO LE SAINT JUDE
um inverno severo
Descrição Quantidade (-40ºC) a um verão
Pavimentos 6 com temperaturas
Apartamentos 126 “normais” (25ºC).
Área construída 10.700 m² Todos os insertos
Dias de montagem 95 metálicos utilizados
Volume de concreto foram galvanizados
5.113 m³
pré-fabricado
de modo a garantir
Painéis de parede FIGURA 8. MONTAGEM DA LAJE PRÉ-FABRICADA (VISTA INTERNA)
1770 a durabilidade da
pré-fabricados
Pilares 236 estrutura.
Vigas 25 a compatibilização das demais disciplinas O efeito diafragma e a compatibilidade
Lajes 695 e por facilitar o controle de materiais na de deslocamentos verticais no pavimen-
Escadas 12 produção das peças. to são garantidos por ligações soldadas
Terraços 25 A seção transversal dos painéis de pare- entre as placas de lajes pré-fabricadas
de é do tipo sanduíche e com 29cm de (Figura 9).
espessura. Na fachada, a seção é com- As lajes são apoiadas nos painéis de pa-
PROJETO ESTRUTURAL posta por 15cm de concreto estrutural, rede transferindo assim as cargas verti-
Os painéis de parede pré-fabricados dis- 7.5cm de material isolante e 6.5cm de cais por compressão e os esforços ho-
postos nas duas direções em planta (lon- concreto arquitetônico, resultando em rizontais de cisalhamento provenientes
gitudinal e transversal) oferecem rigidez uma espessura total de 29cm. da ação do vento são transferidos por
suficiente à estrutura quando submetida Já as lajes maciças e protendidas com chapas soldadas.
a esforços horizontais, como vento e sis- altura de 20cm proporcionam grandes A Figura 10 ilustra a ligação típica entre
mo. Esse conceito é aplicado em edifícios vãos livres, dispensam escoramentos e painéis de parede e lajes. Destaca-se a
mais altos não havendo um limite pré-es- suas ligações soldadas garantem o efeito amarração vertical entre painéis de pa-
tabelecido para a altura. diafragma no pavimento sem necessida- rede que tem a função de transferir es-
O projeto respeita as prescrições da norma de de capeamento estrutural. forços de tração e de cisalhamento e ga-
local (CSA-A23.3 – Design of concrete structu- rantir a integridade estrutural do edifício
res) e segue as recomendações de projeto LIGAÇÕES ESTRUTURAIS contra o colapso progressivo.
do CPCI (Canadian Precast Concrete Institute). As ligações são as responsáveis pela
O modelo numérico utilizado para a aná- transferência de esforços entre os ele- FICHA TÉCNICA
lise estrutural é baseado no Método dos mentos estruturais e pela segurança da
Proprietário: Joint Venture
Elementos Finitos, sendo os painéis mo- estrutura quanto à estabilidade e colap-
(BPDL + Louis-Alain Tremblay)
delados com elementos de chapa, os pi- so progressivo.
Arquitetura: Eric Painchaud Architecte
lares e as vigas modeladas com elemen- O uso de ligações soldadas proporciona
Engenharia: Gémel Experts-Conseils
tos de barra e as lajes modeladas com rigidez, velocidade e reduz a influência
Contratante: Bétons
elementos de placa. das condições climáticas para a monta-
Préfabriqués du Lac
A utilização de um software com platafor- gem dos elementos pré-fabricados. Esse
Empresa pré-fabricadora:
ma BIM contribuiu com a velocidade de fator contribuiu para o cumprimento do
Bétons Préfabriqués du Lac
execução por reduzir significativamente cronograma visto que as condições no

FIGURA 9. LIGAÇÕES SOLDADAS ENTRE LAJES FIGURA 10. LIGAÇÕES ENTRE PAINÉIS DE PAREDE E LAJES

25
ESTRUTURAS METÁLICAS | DIMENSIONAMENTO DE VIGAS ESBELTAS MISTAS

PROJETO DE
VIGAS ESBELTAS
PARA PONTES
MISTAS DE AÇO E
CONCRETO
POR:
ARTHUR DE CARLI 1
RESUMO
ZACARIAS MARTIN CHAMBERLAIN PRAVIA 2 As vigas mistas esbeltas proporcionam alternativas eficientes e econômicas nas es-
truturas de pontes mistas de aço e concreto. Constituídas por um perfil de aço de
seção I monossimétrica e, acima, uma capa de concreto ligada à mesa superior por
conectores de cisalhamento, o elemento misto fornece grande capacidade resistente,
fator preponderante para estruturas com grandes vãos e elevadas ações móveis e
permanentes. O dimensionamento é realizado para dois estágios: dimensionamento
da viga de aço para ações referentes à execução e lançamento do concreto e dimen-
sionamento do conjunto de aço e concreto para ações permanentes e variáveis. O
principal problema em vigas mistas esbeltas são as instabilidades ocasionadas pela
grande altura da alma e pelo elevado vão, para a instabilidade na alma são inseridos
enrijecedores transversais e longitudinais e para a instabilidade lateral com torção
ARTHUR DE CARLI
são criadas restrições laterais ao longo do vão. Estudos por elementos finitos auxiliam
enormemente na compatibilização dos enrijecedores com a estrutura global, possi-
bilitando, com auxílio das normas nacionais e internacionais, otimizar a estrutura de
modo a obter uma distribuição de restrições e enrijecedores ideal e que possibilitem
comportamento adequado da estrutura frente às elevadas cargas atuantes.
Palavras-chave: Vigas esbeltas mistas de aço e concreto; Pontes.

ZACARIAS MARTIN
CHAMBERLAIN PRAVIA 1. INTRODUÇÃO O cálculo do momento fletor resistente
O projeto de vigas mistas esbeltas con- sucede para duas situações: antes e de-
1 Engenheiro Civil, Universidade de Passo
Fundo, arthurdc28@gmail.com templa análises ao momento fletor, à força pois do endurecimento do concreto. A
2 D.Sc., Professor Titular do programa de pós- cortante e, como foco principal, à estabili- primeira etapa ocorre durante a obra e
graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Passo Fundo, zacarias.
dade e ao uso de enrijecedores transver- leva em consideração as ações causadas
chamberlain@gmail.com sais e longitudinais. pela execução e moldagem do concreto,

26 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ou seja, apenas a viga de aço será o ele- considerar que o elemento irá se instabi- dor entre a mesa tracionada e a alma para
mento estrutural ativo. Na segunda situa- lizar, por isso a obrigatoriedade dos enri- valores, da distância entre soldas, de 4tw
ção, o concreto já exerce função estrutu- jecedores. Entretanto, há um coeficiente e 6tw. Há também uma especificação para
ral e, portanto, o elemento misto de aço redutor de momento fletor (k pg ) que obri- valor mínimo de momento de inércia para
e concreto já está solidário e pode aten- gatoriamente retira o dimensionamento o enrijecedor com contribuição da alma,
der os estados-limites produzidos pelas da fase elástica, diminuindo, em parte, a que é:
ações permanentes e variáveis instabilidade na alma, (SALES, 2011),
(Eq. 1)
O processo de dimensionamento da viga
de aço para o momento fletor no esta- Onde
do-limite último consiste em avaliar três
estados-limites: Escoamento da mesa
tracionada (EMT), Instabilidade Lateral Para definir o espaçamento, entre eixos,
com Torção (FLT) e Instabilidade Local dos enrijecedores, pode ser utilizado o
da Mesa (FLM). Como o elemento consi- método de elementos finitos, verificando
derado é esbelto, o principal desafio é a o comportamento quanto à estabilidade
instabilidade na alma, caracterizada por global. Caso haja enrijecedores longitu-
afetar a estabilidade global e local e é dinais, a distância entre eixos não pode
considerada através do fator de redução ultrapassar 1,5 h (altura da alma).
de momento fletor, que é obtido pelas re-
1.3. Enrijecedores
lações geométricas e mecânicas da peça
e do material.
Longitudinais
O dimensionamento da viga mista é reali- Enrijecedores longitudinais são usados
zado a partir das tensões de tração e com- em perfis soldados, principalmente em
SEÇÕES CRUCIFORMES
pressão atuantes no aço e no concreto, vigas de pontes. Eles não são tão efetivos
respectivamente. Essa mudança no pro- como os transversais. Para seu cálculo de-
cesso de dimensionamento ocorre pelo 1.2. Enrijecedores Transversais vem ser cumpridos dois requerimentos:
aumento de rigidez proporcionado pelo Os enrijecedores devem ser verificados a) Um momento de inércia adequado
concreto, que restringe as instabilidades como chapas projetadas em seções cru- para assegurar adequada rigidez
locais e globais comuns nas vigas de aço, ciformes, para instabilidade local, com- para criar contenção ou linha nodal
como FLM e FLT. Por outro lado, esse au- pressão na mesa inferior e força axial ao longo dele;
mento de rigidez acresce a possibilidade resistente de cálculo, também deve ser b) Uma área adequada para carregar
de instabilidade na alma, o que será discu- verificado o estado-limite para esmaga- uma carga axial de compressão que
tido no decorrer deste trabalho. mento local, porém apenas nos casos faça que ele interaja com alma, pro-
Para o esforço cortante, como preconiza que a extremidade do enrijecedor está cesso idêntico aos enrijecedores
ABNT NBR 8800:2008, o dimensionamen- ajustada para contato com a mesa. transversais.
to é realizado levando em conta apenas o A ABNT NBR 8800:2008 estipula as par- Os enrijecedores longitudinais são reco-
perfil de aço e, portanto, a força cortante celas de comprimento da alma para o di- mendados, de acordo com o EUROCODE 3
resistente é a mesma antes e após a mol- mensionamento dos enrijecedores como e a AASHTO, para vigas com esbeltez maior
dagem do concreto. O uso de enrijecedo- barras (colunas) comprimidas, que é 12tw, que 150, limitando para no máximo 300.
res transversais e longitudinais acrescem quando posicionados
a força cortante resistente na medida na extremidade, e
que, após integrados à viga de aço, agem 25tw, quando estive-
como chapas cruciformes que auxiliam rem na seção interna.
na transmissão da carga para os apoios. A carga considerada
Além disso, os enrijecedores são impres- como atuante é a de
cindíveis para a estabilidade geométrica esforço cortante no
da viga de aço. Em especial, os enrijecedo- ponto do enrijecedor,
res longitudinais que apenas colaboram portanto, obtendo
na composição de painéis para a estabili- uma força axial resis-
dade da alma esbelta (Figura 1). tente de projeto maior
que o esforço cortan-
1.1. Instabilidade local
te pontual, o enrijece-
da alma dor está dimensiona-
O principal problema, e que possui o foco do corretamente.
principal do artigo, é a instabilidade local A norma brasileira
da alma. Para vigas mistas esbeltas não também possibilita
há um cálculo específico para o dimen- interromper a conti- FIGURA 1. VIGA ESBELTA COM ENRIJECEDORES TRANSVERSAIS E
LONGITUDINAIS
sionamento por FLA, justamente por já nuidade do enrijece-

27
ESTRUTURAS METÁLICAS | DIMENSIONAMENTO DE VIGAS ESBELTAS MISTAS

2. METODOLOGIA Além de obedecer aos limites de esbel- que é a relação dos módulos de elasti-
A ABNT NBR 8800:2008 contém o pro- tez do Anexo H da ABNT NBR 8800:2008, cidade dos materiais. A este valor é re-
cesso de dimensionamento de vigas de também deve respeitar as relações geo- comendável pela ABNT NBR 8800:2008
aço esbeltas e de vigas mistas não es- métricas impostas nesse mesmo anexo. multiplicar pelo coeficiente 3, em razão
beltas, porém, o método de cálculo é o O dimensionamento para o momento fle- dos efeitos de longa duração no concre-
mesmo que o preconizado pelas normas tor resistente para estado-limite último to. Portanto, primeiramente define-se
internacionais AISC 360:10 e EUROCODE se dá pelo menor valor dentre três consi- a largura efetiva pelo qual o concreto
3 (2005), que permitem vigas mistas es- derações: escoamento da mesa traciona- irá contribuir na resistência, em segui-
beltas. Portanto, e obedecendo aos cri- da (EMT), instabilidade lateral com torção da divide-se pelo valor triplo da razão
térios impostos pelas normais interna- (FLT) e instabilidade local da mesa (FLM). modular, finalizando, assim, a geometria
cionais, como inclusão de enrijecedores Para os últimos dois estados-limites, FLT da seção transformada. Fluxogramas e
longitudinais e transversais, e da norma e FLM, há a consideração do fator de re- maiores detalhes sobre o dimensiona-
brasileira, com inclusão de enrijecedo- dução de momento fletor (k pg ), respon- mento de vigas esbeltas de aço e mistas
res transversais às vigas de aço esbeltas, sável por não submeter o cálculo à fase podem ser consultadas em DE CARLI,
o procedimento presente na ABNT NBR elástica, que é dado por: CHAMBERLAIN(2016).
8800:2008 foi estendido, pelos autores, De posse das propriedades geométricas
para vigas mistas esbeltas. e dos esforços atuantes, é realizada a
A compatibilização dos enrijecedores verificação do elemento. Primeiramen-
foi realizado com auxílio de análises não (Eq. 6) te, calcula-se a tensão de compressão
lineares pelo método dos elementos onde: atuante no concreto:
finitos, através do programa SAP2000 ar é igual a relação entre a área da
v16.0.0. Dessa maneira, fica evidencia- (Eq. 7)
alma e da mesa comprimida,
do o comportamento da estrutura glo- sendo que a seção não pode ter a
bal e de instabilidades locais perante relação com valor superior a 10. Para determinar a tensão de tração no
acréscimos e decréscimos de restrições, aço, determina-se a interação na viga mis-
possibilitando definir espaçamentos 3.2. Dimensionamento à ta: parcial ou completa. Segundo a ABNT
e posicionamentos dos enrijecedores 8800:2008, há dois fatores que definem
flexão das vigas mistas
transversais e longitudinais. o tipo de interação: relação das mesas da
viga de aço e o comprimento do vão no
3. RESULTADOS E trecho de momento positivo (Le).
DISCUSSÃO Portanto, a interação será:
Ø Completa, quando Le > 25 m e mesas
3.1. Dimensionamento à de áreas iguais;
flexão das vigas de aço Ø Parcial, quando Le ≤ 25 m e mesas de
O dimensionamento da viga de aço é áreas iguais;
realizado levando em consideração as Ø Completa, quando Le > 20 m e mesas
cargas referentes aos estados-limites de áreas diferentes;
durante a execução, incluindo a ação de Ø Parcial, quando Le ≤ 20 m e mesas de
moldagem do concreto. áreas diferentes.
A classificação da esbeltez é dada pela Assim, a tensão de tração atuante no aço,
relação entre a altura da alma e sua es- quando interação completa, é:
pessura.
(Eq. 8)
(Eq. 2)

Para ser classificada como esbelta, a se- O cálculo para interação parcial é o mes-
ção deve possuir esbeltez maior que: SEÇÃO MISTA TRANSFORMADA mo, apenas alterando (Wtr) i para Wef.

(Eq. 3) Para seções I esbeltas, o dimensiona- (Eq. 9)


mento do elemento já misto, ou seja,
Porém, não pode exceder 260 nem: após a cura do concreto, consiste em onde:
obter tensões de compressão e tração (Wtr) i é o módulo de resistência elástico
(Eq. 4) superiores às atuantes. inferior da seção mista
Por se tratar de dois materiais dife- (Wtr) s é o módulo de resistência elástico
(Eq. 5) rentes, com características mecânicas superior da seção mista
opostas, a seção utilizada para o cálculo Wef é o módulo de resistência elástico
onde deve ser transformada para uma seção efetivo inferior da seção mista
a é a distância entre eixos dos de igual módulo de elasticidade. Para Wa é o módulo de resistência
enrijecedores transversais. isso, deve-se encontrar a razão modular, elástico inferior do perfil de aço

28 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


Msd é momento fletor solicitante de xos, 20 cm no sentido lon-
cálculo gitudinal da viga e 11,22
Por fim, as tensões atuantes devem ser cm ao longo da altura. Na
comparadas com as tensões resistentes mesa inferior e superior
de cálculo, de compressão do concreto, e 10 cm no sentido da largu-
de tração do aço. ra e 20 cm longitudinal.

(Eq. 10)
3.4.1. Enrijecedores
(Eq. 11) transversais
Os enrijecedores trans-
3.3. Dimensionamento ao versais, obrigatórios em
cortante vigas mistas esbeltas, são
A força cortante resistente de cálculo de inseridos normalmente
vigas mistas de alma cheia deve ser de- em um lado da viga, nesse
terminada considerando apenas a resis- caso serão inseridos nos
tência do perfil de aço. dois lado.
Ou seja: As principais funções dos
enrijecedores transversais
(Eq. 12)
FIGURA 2. SEÇÃO MISTA CONSIDERADA são:
Inicialmente, devem ser calculados os Ø Garantir a estabilida-
parâmetros de esbeltez, mesma meto- de geométrica da viga de aço;
dologia utilizada para momento fletor (Eq. 16) Ø Restringir as instabilidades locais da
resistente. alma (FLA); e
Ø Aumentar a força cortante resistente.
(Eq. 13)
No caso deste estudo, realizado através
(Eq. 17)
do método de elementos finitos, por aná-
(Eq. 14) lises não lineares, observou-se a impor-
tância da obrigatoriedade dos enrijece-
(Eq. 15) (Eq. 18) dores em seções esbeltas. Observando a
figura abaixo, percebe-se a instabilidade
onde: 3.4. Compatibilização dos geométrica ocorrida apenas com o peso
próprio da viga, ainda não mista.
enrijecedores
Com a inclusão dos enrijecedores trans-
A compatibilização consiste em determi- versais, a estabilidade geométrica foi res-
nar o melhor posicionamento dos enrije- taurada, entretanto, ocorre instabilidade
cedores transversais e longitudinais na local da alma.
Com os parâmetros de esbeltez deter- alma da viga de aço. O espaçamento entre enrijecedores foi
mina-se a força cortante resistente de Os estudos foram realizados para um vão fixado em: 2m, 2m, 3m, 3m, 3m, 3m, 2m
cálculo: de 20 metros, considerando seguinte seção: e 2m. O espaçamento máximo foi fixa-
A discretização na do em três metros, obedecendo o limite
alma possui, entre ei- imposto pelas normas internacionais de

FIGURA 3. INSTABILIDADE GEOMÉTRICA FIGURA 4. INSTABILIDADE LOCAL DA ALMA

29
ESTRUTURAS METÁLICAS | DIMENSIONAMENTO DE VIGAS ESBELTAS MISTAS

não há instabilidade presente na alma, na


mesa superior e nem torção lateral.

FIGURA 5. SISTEMA DE VIGAS, ELEMENTO NÃO MISTO

1,5h (altura da alma). Posteriormente, pois as instabilidades somente ocorrem FIGURA 8. COMPATIBILIZAÇÃO FINAL DO
ELEMENTO NÃO MISTO
serão incluídos mais enrijecedores em lo- em elementos comprimidos.
cais com excesso de instabilidades. Portanto, a posição onde os enrijecedo- Analisando os casos já modelados, pode-
Como o intuito desse elemento estrutural res longitudinais serão inseridos é acima -se observar a importância do equilíbrio de
é para pontes, serão incluídas mais duas da linha neutra, considerando, claro, que restrições, levando em consideração, claro,
vigas, cada uma distante três metros da a viga é biapoiada. os valores dos esforços ao longo da viga. A
subsequente. Como forma de restringir última modelagem deixou claro que esse
uma possível Instabilidade Lateral por equilíbrio não corresponde à igualdade de
Torção (FLT), serão inseridos três trava- restrições e sim à proporcionalidade das
mentos, sendo dois nos apoios e um no restrições perante os esforços.
centro diminuindo, assim, o comprimen-
to destravado, fator de principal influên- 3.5. Compatibilização da viga
cia na torção em vigas de aço. mista
Após a modelagem (Figura 6), observa- Como explanado anteriormente, quando
-se, como esperado, ainda as instabilida- o elemento se tornar misto, a instabilida-
des na alma. de local na mesa cessará, e então será
possível observar como atua a alma, já
que se torna o único elemento a sofrer
FIGURA7. ENRIJECEDORES LONGITUDINAIS instabilidade local.
A modelagem dos conectores de cisalha-
Como destacado na figura 7, a instabili- mento foi realizada pela consideração de
dade na alma no centro da viga foi res- uma barra rígida de seção T. O elemento
tringida, porém, a instabilidade na alma foi implantando a cada 20 cm. A mode-
continua ocorrendo, mas agora próximo lagem foi feita de maneira a ultrapassar
ao apoio, local onde há maior esforço a disposição exata e assim concentrar as
cortante. análises nas instabilidades da alma.
FIGURA 6. INSTABILIDADE LOCAL DA ALMA Inserindo enrijecedores transversais nos Com a aplicação de toda a carga, agora
pontos de instabilidades, chegou-se à no elemento misto, observou-se total
A instabilidade local da mesa, não ocor- estrutura compatibilizada final da situa- restrição das instabilidades na mesa su-
rida até o momento, é, juntamente com ção anterior à moldagem do concreto. A perior e no sistema global por torção.
a lateral por torção, restringida após o carga foi aplicada e, conforme a figura 8, Entretanto, como destacado na figura 9,
elemento se tornar misto, isso se deve
pelo grande aumento de rigidez que o
concreto, ligado à viga de aço por conec-
tores de cisalhamento, fornece ao ele-
mento estrutural.

3.4.2. Enrijecedores longitudinais


Apesar de não ter tanta eficiência quanto
os enrijecedores transversais, os longitu-
dinais preenchem o espaço vazio que nor-
malmente, como na figura 8 e 10, ocorre
a instabilidade da alma. A definição mais
importante a definir é qual a posição do
enrijecedor longitudinal e, para isso, basta
FIGURA 9. INSTABILIDADE LOCAL NA ALMA
analisar onde há tensão de compressão,

30 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


houve instabilidade local da alma próxi-
mo aos apoios. No espaçamento central
não há ocorrência de instabilidade, em
decorrência de ser o ponto de menor es-
forço cortante.
Com a adição de mais enrijecedores
próximo aos apoios observou-se ainda
a ocorrência de instabilidade na alma e
novamente próximo aos apoios, visível na
figura 10.
FIGURA 11. INSTABILIDADE LOCAL NA ALMA

análises não lineares, onde é possível ob-


servar os reais efeitos das distribuições
de enrijecedores e travamentos, e a po-
sição que seja adequada para favorecer a
FIGURA 10. INSTABILIDADE LOCAL NA ALMA estabilidade do painel da alma.
Ficou evidenciado através das análises a
Inserindo mais quatro enrijecedores importância do equilíbrio de restrições,
transversais observa-se apenas instabili- ou seja, uma correta distribuição de enri- FIGURA 13. COMPATIBILIZAÇÃO DAS VIGAS
dades nos espaçamentos intermediários, jecedores e travamentos de modo a não MISTAS CONCLUÍDA
como destacado na figura 11. sobrecarregar elementos menos rígidos.
O processo permanece o mesmo, obser- Também ficou muito claro o posiciona- 5. REFERÊNCIAS
vando as instabilidades e inserindo enri- mento dos enrijecedores longitudinais, AN AMERICAN NATIONAL STANDARD. AISC
jecedores, tal qual a figura 12. que devem ser fixados acima da linha 360: Specification for Structural Steel
Por fim, a espessura dos enrijecedores neutra, onde há tensões de compressão. Buildings. Chicago, 2010. 553 p.
transversais, longitudinais e da alma fo- Corroborando com a tese de equilíbrio ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
ram aumentadas de 12 cm para 16 cm, de restrições, está o fato de que as insta- TÉCNICAS. NBR 8800: Projeto de estru-
tornando a estrutura mista finalizada. bilidades alteravam de localidade com a turas de aço e de estruturas mistas de
variação da rigidez lateral. Ficando claro aço e concreto de edifícios. 2 ed. Rio de
4. CONCLUSÃO também que o equilíbrio não diz respei- Janeiro, 2008. 237 p.
Os fenômenos de instabilidades locais to à igualdade, e sim a proporcionalidade DE CARLI, A., CHAMBERLAIN PRAVIA, Z.M.,
são o maior problema no dimensiona- das restrições com os esforços. Dimensionamento de vigas esbeltas
mento de vigas mistas esbeltas para Como forma de estudo extensivo, há aná- mistas para obras de arte rodoviárias,
obras de pontes rodoviárias. Por mais lise de simplificação do sistema de trava- Anais do IX Congresso Brasileiro de Pon-
que os cálculos de momento fletor resis- mentos e enrijecedores, para então bus- tes e Estruturas, Rio de Janeiro, 2016
tente, força cortante resistente, verifica- car um dimensionamento com o menor EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARD-
ção de tensões e capacidade resistente custo possível, trabalhando na alternân- ISATION. EUROCODE 3: Design of Steel
dos enrijecedores estejam corretos, é cia das seções, e não apenas na análise Structures. Brussels: Cen, 2005. 104 p.
altamente recomendável a análise do sis- das instabilidades. Dessa forma, pode-se AMERICAN ASSOCIATION OF STATE
tema global pelo método de elementos obter a real estrutura para atender as so- HIGHWAY AND TRANSPORTATION OF-
finitos, mais especificamente, através de licitações impostas nas rodovias. FICIALS, 2012, Washington.  AASHTO
LRFD Bridges:  Design Specifications.
Washington: AASHTO, 2012. 1661
DE CARLI, Arthur. Análise e Dimensiona-
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Passo Fundo, Passo Fundo, 2015.
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DOS.  Elementos de Estruturas de AÇo:
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ACORDO COM AS NORMAS ABNT NBR
8800.2008 E NBR 14762.2009, São Carlos,
p.54-74, 2011. Disponível em: <http://ae-
asc.com.br/site/index.php?option=com_
docman&task=doc_download&gid=19&I-
FIGURA 12. INSTABILIDADE LOCAL NA ALMA
temid=11>. Acesso em: 25 maio 2016.

31
ARTIGO TÉCNICO | FUNDAÇÕES PARA ESTAÇÕES EÓLICAS

FUNDAÇÕES
PARA ESTAÇÕES
EÓLICAS

FERREIRA L.A.M.; MANFRIM N.F.; SANTOS R. A.;


CARLOS R.A.N.; MUNHOZ M.M.; FERREIRA F.R.
INTRODUÇÃO
O Brasil é o país com maior extensão
territorial da América Latina e o quinto
maior do mundo, com seus 8.514.215
km². Essa grande amplitude territorial
faz com que o país apresente distintas
regiões climáticas com diversos pontos
de interesse eólico. Para caracterizar a
origem da energia eólica no Brasil é pre-
ciso levar em consideração aspectos do
relevo, sua forma e os contrastes (Figura
1) que este demonstra para a progres-
são da situação eólica do país.
Outro fator importante, quando se fala
em tamanho territorial vinculado ao po-
tencial eólico, é o tamanho da faixa litorâ-
nea brasileira. Com 7.367 km de extensão
e banhada pelo oceano Atlântico, a costa
brasileira sofre, em razão das correntes
de ar, distintas amplitudes térmicas com
grande variação sazonal dos ventos. A Fi-
gura 2 traz um mapa do potencial eólico
brasileiro onde é possível observar que a
capacidade eólica das regiões litorâneas
é superior a das outras regiões.
Atualmente as fontes de energia mais
utilizadas no Brasil são os combustíveis
fósseis e a hidrelétrica. A preocupação
FIGURA 1: MAPA FÍSICO BRASILEIRO. FONTE: IBGE (2016).
com questões ambientais e levando em

32 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


INVESTIGAÇÃO • Ensaios in situ de permeabilidade ou
determinação da perda d’água;
LOCAL • Medições de níveis d’água e de pres-
“Os solos são materiais geológicos sões neutras;
originados a partir da decomposição • Medições dos movimentos das
das rochas e materiais orgânicos do águas subterrâneas;
mundo natural” BUDHU, 2015. • Processos geofísicos de reconheci-
mento;
Um dos aspectos condicionantes num • Realização de provas de carga no
projeto de um parque eólico é a sua lo- terreno ou nos elementos de fun-
calização, pois muito raramente o terre- dação.
no apresenta as mesmas características b) Investigações em laboratório sobre
para uma determinada área, isto é, para amostras deformadas ou indeforma-
diferentes localizações existem solos das, representativas das condições
FIGURA 2: POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO. com parâmetros geotécnicos diferentes. locais, ou seja:
FONTE: ANEEL (2008).
Um solo pode ser constituído por mais • Caracterização: granulometria por
ou menos extratos e cada extrato tem peneiramento com ou sem sedi-
consideração a grande extensão territo- valores distintos de resistência à defor- mentação, limites de liquidez e plas-
rial do país, leva a especulação da cria- mação, ao corte, à compressão, massa ticidade;
ção de mais parques eólicos para um volumétrica e tensão admissível. Assim, • Resistência: ensaios de compressão
melhor aproveitamento desse potencial dois aspectos cruciais a verificar ao ana- simples, cisalhamento direto, com-
ainda pouco explorado. lisar o tipo de solo são a sua capacidade pressão triaxial;
O processo de escolha dos locais onde de suporte (definida pelo ângulo de atri- • Deformabilidade: ensaio oedométri-
serão instaladas as fazendas eólicas re- to, coesão e resistência à compressão) e co, compressão triaxial e compres-
quer muita atenção e vários aspectos de- a deformabilidade (constituída pelo mó- são em consolidômetros especiais;
vem ser considerados quando se come- dulo de Young e o módulo de cisalhamen- • Permeabilidade: ensaios de per-
ça a pensar em um projeto eólico. Sendo to) (SILVA, 2014). meabilidade em permeâmetros de
eles o solo, condições para montagem Em primeiro lugar, para obter-se as pri- carga constante ou variável, ensaio
das turbinas, infraestrutura e local onde meiras informações é necessário con- de adensamento;
esta energia será injetada. Estes são sultar fotografias aéreas (se existirem), • Colapsibilidade e expansibilidade:
pontos condicionais para o bom funcio- cartas geográficas da região, e fazer uma ensaios em oedômetros com en-
namento de um parque eólico. É sempre inspeção preliminar da zona, para detec- charcamento da amostra.
bom ressaltar que esses empreendi- tar possíveis afloramentos que eviden-
mentos requerem um acompanhamento ciem os diferentes materiais geológicos FUNDAÇÕES
bem detalhado do potencial eólico de envolvidos. O reconhecimento visual e os
cada região antes mesmo do início do levantamentos de campo a serem reali- Fundações são bases estruturais que em
projeto (OCÁCIA, 2002). De acordo com zados terão lugar em estações de pesqui- muitos lugares também são conhecidas
os dados de Ocácia, pode-se especular sa na área onde se irá instalar o parque como alicerce. Em um jargão popular, ali-
que, em um pré-projeto de montagem, a eólico (SILVA, 2014). cerce é caracterizado pela estrutura ou
definição do potencial eólico juntamente Segundo a ABNT NBR 6122:2010, para base para alguma obra ou projeto. De
com a composição do solo local dar-se-á fins de projeto e execução de fundações, acordo com o dicionário virtual Michae-
na estruturação do projeto de fundação as investigações do terreno de fundação lis, alicerce tem seu significado como
que deve ser montado de acordo com constituído por solo, rocha, mistura de “maciço de alvenaria que serve de base
cada parque eólico. ambos ou rejeitos compreendem: às paredes de um edifício; escavação,
Sendo uma forma de energia renovável, a) Investigações de campo: para assentar parede; base, fundamen-
a energia eólica tem seu uso potenciali- • Sondagens a trado, conforme a to”. Essa definição não contradiz a pala-
zado no território nacional. Desta for- NBR 9603, poços e trincheiras, vra fundação, que pode ser levada como
ma, através de um estudo qualitativo, conforme a NBR 9604, de inspe- um sinônimo, uma vez que seu signifi-
descritivo e exploratório, este trabalho ção ou de amostragem, sondagens cado é “conjunto de obras necessárias
teve como objetivo discutir fundações e de simples reconhecimento à per- para segurar e assentar os fundamentos
suas localizações no processo de cons- cussão, sondagens rotativas e son- de uma edificação; fundamento alicerce;
trução de um parque eólico. Este estudo dagens especiais para retirada de princípio, origem de alguma coisa”.
evidencia a complexidade das análises amostras indeformadas conforme Uma acepção voltada a construção civil,
relativas à fundação de torres eólicas a NBR 9820; de acordo com Azeredo (1988), discorre
bem como os pontos principais de seu • Ensaios de penetração quase está- que as fundações são elementos capa-
desenvolvimento, sendo um importante tica ou dinâmica, ensaios in situ de zes de transmitir as cargas da estrutura
guia inicial para o direcionamento dos resistência e deformabilidade, con- ao terreno. Logo entende-se que a fun-
estudos e pesquisas. forme a NBR 12069. dação é de extrema necessidade para

33
ARTIGO TÉCNICO | FUNDAÇÕES PARA ESTAÇÕES EÓLICAS

a transmissão de cargas sofridas pela


estrutura ao solo. Assim, a escolha do
FUNDAÇÕES PROFUNDAS FUNDAÇÕES DE
tipo de fundação a ser construída no lo- De acordo com Cintra & Aoki (2010), esse TORRES EÓLICAS
cal, demanda conhecimento do terreno, tipo de fundação tem como característi- Basicamente existem dois tipos de par-
uma vez que este terreno/solo receberá ca básica a transmissão das cargas das ques eólicos, os onshore e os offshore.
essa carga transmitida pelas fundações estruturas para o solo. Isto ocorre não
e tem que suportá-las sem sofrer ne- só a partir de sua base, mas também a FUNDAÇÕES EM TORRES
nhum tipo de abalo ou rupturas. partir da superfície lateral da fundação.
Outro aspecto importante quando se Os autores também argumentam que a OFFSHORE
fala sobre a fundação correta a ser uti- totalidade da carga da estrutura é dis- Tem como característica básica insta-
lizada em cada tipo de solo é a questão tribuída em duas questões distintas: a lação no mar, podendo ser instalada a
custo/benefício. Projetar uma funda- resistência de fuste ou atrito está liga- uma distância curta da costa terrestre e
ção demanda tempo e conhecimento e, da à transmissão da carga lateral com também em alto mar (Figura 3). Esse tipo
quando se fala em custo/benefício, as o solo; já a carga que então é resistida de torre exige uma fundação bem espe-
fundações melhores projetadas, em mé- pela base da estrutura da fundação re- cífica e detalhada. Pois a estrutura deve
dia, têm um custo de 3 a 10 por centro cebe o nome de ponta. Logo, a junção transferir as cargas sofridas através da
do custo total da obra (BRITO, 1987). dessas cargas representa a totalidade água do mar para o solo, isso sem contar
As fundações são distribuídas em duas do elemento. os efeitos da natureza, como o descola-
categorias: as fundações superficiais, As fundações profundas têm uma ca- mento através das ondas e o gelo. Uma
também conhecidas como fundações racterística em comum, a ponta da fun- das opções mais usuais para esse tipo de
rasas ou diretas; e as fundações pro- dação, ou seja, sua base deve estar as- parque eólico são as estacas de base úni-
fundas. sentada em uma dinâmica de tamanho ca, base de gravidade ou tripé.
onde sua profundidade esteja o dobro
FUNDAÇÕES RASAS de sua menor dimensão em planta, e FUNDAÇÃO EM BASE DE
essa dimensão de profundidade nunca
Neste tipo de fundação, as cargas do deve ser inferior a três metros de com- GRAVIDADE
projeto estrutural são transmitidas para primento. As estacas e os tubulões aten- As estacas que têm o formato de sua
o terreno através de uma base, essas dem a esses requisitos. (CINTRA & AOKI, fundação em base de gravidade são
fundações sofrem uma diferenciação e 2010). apoiadas sobre a superfície do solo ma-
são subdivididas através dos seguintes A principal diferença entre as estacas e rinho. Há também as que se encontram
elementos: sapata, bloco ou radier (ABNT os tubulões está na forma de constru- em uma escavação bem como dentro do
NBR 6122:2010). ção. As estacas são executadas inteira- solo marinho. Normalmente esse tipo de
Cabe lembrar que é característico desse mente por equipamentos e ferramentas, fundação é construído com concreto ar-
tipo de fundação a base, ou seja, a di- enquanto os tubulões necessitam da mado, podendo também ser construída
mensão da fundação deve ser duas vezes descida de pessoas às escavações du- com aço, onde a estrutura é suportada
superior à profundidade de assentamen- rante alguma etapa de sua construção pelo próprio peso. Vale ressaltar que,
to em relação ao terreno. (CINTRA & AOKI, 2010). quando esse tipo de fundação for cons-
truído com aço, os espaços vazios devem
ser preenchidos com rochas com para
que se tenha o peso necessário. Ambas
as estruturas, tanto em aço ou concreto
armado, devem possuir um grande diâ-
metro (Figura 4).

NÍVEL DO MAR

SOLO
FIGURA 3: PARQUE EÓLICO LONDON ARRAY – INGLATERRA. LONDON ARRAY É O MAIOR PARQUE
OFFSHORE DO MUNDO E ENCONTRA-SE LOCALIZADO NO MAR DO NORTE, A CERCA DE 20 KM DA FIGURA 4: FUNDAÇÃO EM BASE DE
COSTA DE KENT, NA INGLATERRA. FONTE: PORTAL DE ENERGIAS RENOVÁVEIS (2016) GRAVIDADE. FONTE: PRÓPRIO AUTOR (2016).

34 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


FUNDAÇÃO EM FUNDAÇÃO EM ESTACA TRIPÉ FUNDAÇÕES DE TORRES
ESTACA ÚNICA As bases de fundações em formato de
EÓLICAS ONSHORE
Esses tipos de fundação são longos tu- tripé têm como característica o crava- As fundações denominadas onshore são
bos verticais cravados ou perfurados mento ou perfuração de três estacas no as que têm como base sua instalação
em solo marinho. Logo acima dessa solo marinho, sendo que, quando saem em solos territoriais. A fundação pro-
base estrutural é construída a torre eó- do solo e em contato com a água mari- funda é característica desse modelo,
lica (Figura 5). nha, essas três estacas se unem e for- utilizando para isso as estacas. Quando
mam uma única base, e nesta base em si ocorre a utilização de fundações rasas,
é montada a torre eólica (Figura 6). na grande maioria dos casos, têm sua
característica estrutural através das
sapatas, isso conforme é discorrido em
DNV/Riso (2002).
Para que ocorra a decisão, de qual tipo
NÍVEL DO MAR
de fundação será utilizada, é feito um
estudo do solo. Sendo que um estudo
NÍVEL DO MAR
completo do solo serve como base para
um projeto estrutural da fundação a ser
SOLO utilizada.
As estacas profundas são utilizadas
SOLO quando a parte superficial do solo apre-
senta uma baixa resistência, logo o uso
FIGURA 5: FUNDAÇÃO COM ESTACA ÚNICA. das estacas se torna necessário, uma
FONTE: PRÓPRIO AUTOR (2016). vez que a transmissão de cargas tem
FIGURA 6: BASE DE FUNDAÇÃO, ESTACA que ser feita para uma parte mais pro-
TRIPÉ. FONTE: PRÓPRIO AUTOR (2016). funda do solo. Já quando a parte super-

FIGURA 7: PARQUE EÓLICO GERIBATU – COMPLEXO EÓLICO RS CAMPOS NEUTRAIS. FONTE: PORTAL DA ENERGIA (2015).

35
ARTIGO TÉCNICO | FUNDAÇÕES PARA ESTAÇÕES EÓLICAS

FIGURA 9: CORTE DA FUNDAÇÃO EM ESTACAS. FONTE: BERTUZZI (2013).

FIGURA 8: PLANTA DE FUNDAÇÃO


EM ESTACAS - ONSHORE .
FONTE: BERTUZZI (2013).

FIGURA 10: FUNDAÇÃO COM ESTACAS


PRÉ-MOLDADAS CENTRIFUGADAS -
ONSHORE . FONTE: BERTUZZI (2013). FIGURA 11: CORTE DE ESTACAS PRÉ-MOLDADAS CENTRIFUGADAS. FONTE: BERTUZZI (2013).

ficial do solo tem uma dureza maior, ou seja, é


mais resistente, pode ser empregado a utilização
das fundações em formato de sapata.
O estudo de Bertuzzi (2013) demonstra alguns ti-
pos de implantação de fundações profundas atra-
vés de estacas no Rio Grande do Sul (Figura 7).
As Figuras 8 e 9 mostram a estrutura de uma fun-
dação de estacas metálicas, a planta apresenta a
construção de um bloco de concreto armado que
se une às estacas que estão cravadas ao solo. O
projeto nos mostra o cravamento de 34 estacas
em três fileiras.
Em um segundo momento, as Figuras 10 e 11
figuram outro projeto de implantação de funda-
ções de torres eólicas. Esse projeto é caracte-
rizado por conter 30 estacas de concreto pré-
-moldado centrifugado, separadas em grupos
de 3 estacas, formando 10 blocos de estacas.
Em cada bloco, tem-se uma estaca posiciona-
da para fora da fundação, uma segunda estaca
posicionada para dentro da fundação e uma ter-
ceira estaca posicionada para fora da fundação,
FIGURA 12 - CONCRETAGEM DE BLOCO DE FUNDAÇÃO - ONSHORE . e essa é a composição dos demais blocos. Essa
FONTE: CONSTRUÇÃO CIVIL, TEORIA E PRÁTICA (2016).
inclinação tem por objetivo absorver os esfor-

36 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


Cabe ressaltar que, em esta-
cas metálicas, é usual emendar
manualmente através de solda-
gem, que também é normatiza-
da pela ABNT NBR 6122:2010.
Por outro lado, ao realizar emen-
das nas estacas, deve-se seguir
as regulamentações, de acordo
com a ABNT NBR 6122:2010, só
é permitido uma emenda de
encaixe com ponto de cravação
(emenda através de luvas), po-
rém, caso seja necessário utilizar
mais de uma emenda por ponto
de cravamento, a NBR determina
que todas as emendas sejam rea-
lizadas por solda.

CONCLUSÃO
Este estudo busca apresentar
os tipos usuais de fundações
para estações eólicas, visto que
a escolha do mesmo têm-se di-
retamente após análise e estu-
do do local a ser implementado,
uma vez que está diretamente
ligada ao tipo de solo e seus re-
correntes.

FIGURA 13: MONTAGEM DE BLOCOS DE FUNDAÇÃO - ONSHORE . FONTE: CONSTRUÇÃO CIVIL, TEORIA E
PRÁTICA (2016).

ços de tração e movimentos da estrutu- aproximadamente 10 centímetros para


ra. Por fim, tem-se a construção de um que, então, seja estruturado o bloco de
bloco de fundação que se une a essas fundação (Figuras 12 e 13).
estacas.

COROAMENTO ELEMENTOS DA
Coroamento ou blocos de fundação é FUNDAÇÃO
a parte da estrutura da fundação que Quanto à parte estrutural, o formato de
é responsável por distribuir a carga es- inserção das torres eólicas à fundação,
trutural da torre eólica para a fundação na maioria dos casos, até os dias atuais,
profunda. Quando as estacas forem o acoplamento das torres ao alicerce se
fixadas próximas, formarão blocos de dá através de parafusos. Porém, existem
fundação rígidos porque possuem uma já no mercado outros tipos de ligação. A
menor dimensão, do contrário seriam soldagem vem ganhando um amplo es-
flexíveis. Cabe lembrar que não é usual paço no mercado, porém, para que esse
o cravamento de estaca na parte central tipo de acoplagem seja utilizado, quan-
do coroamento ou bloco de fundação, e do da construção do bloco de fundação,
que a construção estrutural do bloco deve ser concretado junto a esse bloco
de fundação não deve ser feita direta- um fundamento inferior da torre eólica, FIGURA 14: SOLDAGEM DA TORRE A
mente no solo, logo deve ser realizada permitindo, assim, a soldagem posterior FUNDAÇÃO. FONTE: CENTRO DE ENERGIA
EÓLICA – PUCRS.
uma concretagem de regularização de (CE-EÓLICA, 2016).

37
ARTIGO TÉCNICO | FUNDAÇÕES PARA ESTAÇÕES EÓLICAS

BIBLIOGRAFIA CE-EÓLICA (Rio Grande do Sul). PECRS.


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38 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

CONHECIMENTOS
SÔBRE AS RELAÇÕES
ENTRE TENSÕES E
DEFORMAÇÕES NOS
CONCRETOS 1
POR: ANTONIO CARLOS REIS
LARANJEIRAS Com forma de rememorar alguns dos importantes temas tratados pela predecessora
da revista Estrutura, vamos reeditar alguns artigos publicado no passado. A ideia é
revisitar assuntos e conceitos técnicos, de forma a que o leitor possa ter uma noção da
situação existente no passado e também perceber as alterações ocorridas ao longo do
tempo. Vale observar que os conteúdos técnicos já sofreram alterações significativas ao
longo do tempo.

1. INTRODUÇÃO deformação dos materiais influenciam


nas distribuições, das suas tensões e por
As pesquisas têm se empenhado sem- conseqüência, nas suas resistências.
pre muito mais no conhecimento das O Laboratório de Ensaios de Materiais
propriedades de resistência dos mate- para Construção da Alta Escola Técnica
riais do que das suas propriedades de de Munique, dirigido pelo Prof. H. Rüsch,
deformação. E isso por se ter acreditado no qual tive o prazer de trabalhar, tem
que essas propriedades de deformação trazido contribuições importantes para
estarão descritas pela indicação do mó- esclarecimento sôbre as relações entre
dulo E de elasticidade do material. Com tensões e deformações nos concretos.
êsse coeficiente supõe-se estabelecida Serão relatados aqui alguns dos resulta-
a lei que relaciona as tensões às defor- dos obtidos nesse laboratório, referentes
mações. As pesquisas têm demonstrado ao problema.
que essa simples indicação do módulo
de elasticidade não traduz nenhuma lei
geral. Êsses conhecimentos têm salien-
2. AS DEFORMAÇÕES
tado a necessidade do se conhecer me- Distinguiremos as seguintes deforma-
lhor em que medida as propriedades de ções:
1) a deformação ELÁSTICA coma aquela
1 Palestra realizada no Departamento de parcela da deformação total que de-
Estradas de Rodagem da Bahia, em julho de
1961. As figuras do texto foram retiradas das
saparece imediatamente com o des-
Referências (1), (5), (6), (7), (8), (9). carregamento;

39
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

2) a deformação ANELÁSTICA como


aquela que se apresenta tanto no car-
regamento como no descarregamen-
to com um certo retardo. Designada
mais propriamente de deformação
elástica retardada (Fig. 1). Em concre-
tos mais velhos essa deformação é
de igual grandeza no carregamento e
descarregamento e geralmente reali-
za-se em períodos de tempo superior
a um mês.
3) FLUÊNCIA como a deformação pro-
vocada pela manutenção do carre-
gamento através o tempo e medida
pela parcela não recuperável após o
descarregamento2. A viscosidade da
argamassa de cimento que apresenta
características de um gel, influencia
fortemente êsse fenômeno. Essas
duas últimas deformações, depen-
dentes do tempo (Fig. 1), são geral- FIG. 1 – DEFORMAÇÃO DE UM CONCRETO EM FUNÇÃO DE IDADE DO CARREGAMENTO
mente designadas em conjunto sob o
nome de “deformação lenta”. Na Fig. 2
estão apresentadas essas 3 deforma-
ções como modelos reológicos.
a) A mola como símbolo de uma de-
formação elástica;
b) O êmbulo com um fluido re-
presentando um elemento vis-
coso, como símbolo da defor-
mação fluência. Êsse modêlo
não considera a diminuição de
velocidade de deformação com o
“envelhecimento” do material.
c) A conjugação dos dois elementos
anteriores representando a de-
formação anelástica ou “elástica
retardada”. Nesse elemento é a
carga P inicialmente resistida pelo
êmbolo e aos poucos vai se trans- FIG. 2 – MODELOS REOLÓGICOS REPRESENTATIVOS DAS DEFORMAÇÕES (A) EL ÁSTICA,
(B) FLUÊNCIA E (C) ANELÁSTICA
ferindo para a mola. No descar-
regamento o retôrno da mola à
sua posição primitiva é retardado
pelo elemento viscoso. A título de
ilustração é apresentado modelo
reológico simplificado (Fig. 3) pro-
posto por Hansen para o concre-
to, onde se distinguem em duas
camadas o agregado e a pasta de
cimento:
4) Ainda como deformação provocada
por carga externa deve ser mencio-
nada a deformação transversal. Sua
grandeza é definida pelo coeficiente
2 Deveria ser separada aí a deformação
permanente provocada imediatamente
com o carregamento como conseqüência
de prematuras ruturas e fugos na estrutura
molecular da matéria. FIG. 3 – MODÊLO REOLÓGICO PARA O CONCRETO SEGUNDO HANSEN

40 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


de Poisson como sendo uma fração
da deformação longitudinal e apre-
senta parcelas de deformação elásti-
ca, anelástica e de fluência. Só serão
estudadas aqui as deformação no
concreto provocadas por cargas ex-
ternas. Não serão consideradas as
deformação devidas à variação da
temperatura e retração.

3. A DEFORMAÇÃO ELÁSTICA.
O MÓDULO <<E>>
A relação simples e = E.s estabelecida para
os materiais perfeitamente homogêneos
e isótropos não se verifica em nenhum
dos nossos materiais que apresentam,
em diferentes proporções, tôdas essas FIG. 4 – DIFERENTES DEFINIÇÕES DO MÓDULO DE ELASTICIDADE DO CONCRETO (E = TG )
deformações já referidas. Nos concretos
especialmente, as outras deformações im-
pedem sempre a obtenção das medidas
correspondentes às deformações elásti-
cas. Como a inclusão de todo a enorme
gama de influência sob forma de parâme-
tros, iria complicar demais a tão simples
lei de Hooke, têm insistido os pesquisa-
dores em fixar um valor para o “módulo
de elasticidade do concreto”. E assim, é
que, enquanto autores (tomando a curva
tensão-deformação) definem “E” como a
inclinação da tangente n origem, ( 1) ou
mesmo na região correspondente à “ten-
são admissível” ( 2), outros preferem a
inclinação da secante ( 3). Outros auto-
res preferem a curva de descarregamento
( 4) à do carregamento e ainda outros
preferem a curva fixada após um carrega-
mento repetido ( 5).
Na Fig. 5 estão as curvas representati-
vas de 4 equações empíricas que rela- FIG. 5 – REPRESENTAÇÃO DE FUNÇÕES PROPOSTAS PARA E = E sK )
cionam o módulo “E” com a resistência a
compressão do concreto, estabelecidas
em ensaios de compressão simples por
por um mesmo pesquisador — Sachno-
wski em ensaios de compressão simples
4. A DEFORMAÇÃO
diferentes autores. Tão apenas as dife- e flexão (Fig. 6). LENTA
rentes definições utilizadas provocaram Já em 1930, Glanville estudando o proble- A deformação lenta é determinada ge-
a enorme dispersão que se vê, mas, tam- ma indicava que o procedimento que afas- ralmente como a soma da fluência com a
bém, as diferentes condições de ensaio, taria a participação das deformações não deformação anelástica (ou “elástica retar-
cura, idade dos concretos e outros fato- elásticas, dependentes do tempo, seria dada”). São realmente duas parcelas difí-
res que tornam difícil qualquer compara- se se pudesse introduzir o carregamento ceis de serem medidas em separado. En-
ção. Se refletirmos que cada uma dessas e medir as deformações em um espaço tretanto não devemos esquecer que uma
curvas está determinada em função de de tempo t = 0. Com isso era irrealizável, dessas parcelas —a “ elástica retardada
valôres médios de grande número de determinou êle, por extrapolação, através “ — sendo recuperável, não pode ser de-
resultados, verificamos o quanto é difícil de resultados de ensaios nos quais o car- signada como deformação plástica.
uma fixação clara de uma equação para regamento foi introduzido com diferentes
do Dr. R. Sell, “Der E - Modul des Betons”
«E». E essa dispersão se acentua, ainda velocidades, uma reta (t = 0) que indicava realizado no Laboratório de Munique, que
mais se a determinação de «E» é feita um comportamento elástico3. traz além da discussão do problema, uma
sugestão, justificadas em ensaios, para
através ensaios de compressão e flexão. 3 Para melhores detalhes sobre êsse assunto unificação da definição e determinação
Compare-se, p. ex., resultados obtidos seria recomendável a leitura do trabalho experimental do módulo “E”.

41
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

A forma da curva que


caracteriza a deforma-
ção lenta depende de
um grande número de
fatores. Destacamos
a composição do con-
creto e a umidade do
meio ambiente entre
os mais importantes.
Em 1937 Davis publica-
va resultados de pes-
quisas que sugeriam
ter o tipo de “agrega-
do graúdo” emprega-
do grande influência
sôbre a deformação
lenta. Davis testou
corpos de prova que
diferiam apenas nas
características minera-
lógicas dos agregados
e obteve diferentes
comportamentos com FIG. 6 – RELAÇÃO EMPÍRICA ENTRE E E sK OBTIDA POR SACHNOWSKI
relação à deforma-
ção lenta. Êsse fato suscitou discussões
e apresentava-se como absurdo. Se o
“agregado graúdo”, devido a sua consti-
tuição de rocha apresenta fenômenos
de deformação lenta apenas de ordem
de grandeza desprezível, como poderá
influenciar tão fortemente sôbre a de-
formação lenta do concreto apenas pela
mudança de suas características minera-
lógicas! Tornou-se necessário um reestu-
do do problema. Executou-o o Laborató-
rio de Munique, nos últimos anos e não
só foram confirmados os resultados de
Davis como foram também esclarecidas
as suas causas.
O concreto é em princípio constituído de
2 componentes: a pasta de cimento e o FIG. 7 – DETERMINAÇÃO SEGUNDO GLANVILLE DO MÓDULO E POR EXTRAPOLAÇÃO, ATRAVÉS DAS
agregado, o primeiro a envolver o segun- DEFORMAÇÕES MEDIDAS COM CARREGAMENTOS DE DIFERENTES VELOCIDADES
do. A pasta de comportamento predomi-
nantemente viscoso junta ao agregado Será fácil entender através o modêlo que das de concreto não sujeitas diretamente
de comportamento quase que puramen- essa deformação lenta será tanto menor à ação de desgaste pelo tráfego. Por outro
te elástico. Imaginemos êsses 2 compo- tanto menos deformáveis forem as molas lado em estruturas em que a presença da
nentes representados agora no modelo que representam o agregado. Ou seja, um deformação lenta é prejudicial, como es-
reológico, onde o comportamento elásti- agregado com alto módulo de elasticida- truturas em arcos ou abóbodas ou de con-
co do agregado é representado pela mola de “E” conduzirá o concreto a menores creto protendido, recomenda-se o emprê-
e o comportamento predominantemente deformações lentas. As pesquisas no La- go de agregados com altos módulos “E”.
viscoso da pasta é representado por um boratório do Prof. Ruesch comprovaram Uma outra causa para êsse fato foi tam-
êmbolo cheio de um fluido e um pistão experimentalmente êsse fato (Ver Fig. 9). A bém encontrada. O agregado quando da
impulsionado por uma mola. utilização dêsse conhecimento é imediata. confecção da mistura absorve uma parce-
Com a introdução da carga provoca-se um Uma pavimentação de concreto fissurará la de água que, com o secamento, poderá
encurtamento nas molas — a deformação tanto menos tanto maior fôr a sua defor- ser devolvida à argamassa que lhe envol-
elástica. A deformação lenta que se se- mação lenta. Seria vantajoso nesse caso o ve. Um concreto com baixo fator água/
gue vem representada pelo lento correr emprêgo de agregados com baixo módulo cimento apresentará MENOR deformação
do êmbolo até o seu estado de repouso. de elasticidade. Pelo menos para as cama- lenta se o “clima úmido” no seu interior

42 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


puder ser mantido por mais longo tempo,
ou seja quanto maior fôr o poder de ab-
sorção de água pelo agregado. Verificou-
-se que agregados de altos módulos de
elasticidade têm menor poder de absor-
ção de água. Como se vê uma causa que
age em sentido contrário da anterior.

5. A DEFORMAÇÃO
TRANSVERSAL
Sôbre a deformação transversal pouco
se tem estudado em face a dificuldade,
hoje superada, de encontrar métodos
de medidas com a precisão necessária.
Admite-se geralmente que essa defor-
mação no concreto é da ordem de 1/6
(= 0,17) da deformação longitudinal e FIG. 8 – MODÊLO REOLÓGICO DO CONCRETO PARA ENTENDIMENTO DO COMPORTAMENTO ENTRE
as Normas Brasileiras recomendam a PASTA DE CIMENTO E AGREGADO
adoção dêsse valor. Na realidade êsses
valôres oscilam bastante. Nas proximida- tamento do material na ruptura, assume to, mas também nas vigas armadas com
des da ruptura essa deformação aumen- êsse fato enorme importância. Com a estribos. Ensaios realizados no mesmo
ta sensivelmente e pode atingir valôres existência dessas grandes deformações Laboratório de Munique mostraram p.
superiores a 0,5 da deformação longi- transversais, entende-se a grande in- ex., que, em estados de rupturas, as de-
tudinal. Veja-se a Fig. 10. Agora em que fluência da presença de uma armadura formações transversais medidas nas pe-
todos os países procuram fixar os méto- transversal resistência a compressão ças, nas seções próximas aos estribos,
dos de dimensionamento das peças de dos concretos. Influência essa não ape- são sensivelmente menores que as ob-
concreto armado em função do compor- nas existente nos pilares com cintamen- tidas em seções afastadas dos estribos.
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

6. INFLUÊNCIA DA
VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO
SOBRE A RELAÇÃO
TENSÃO-DEFORMAÇÃO
A forma da curva tensão-deformação do
concreto depende de uma série de mui-
tas condições. Nas curvas experimentais
obtidas por GIanville p. ex., (ver Fig. 7) em
cada ensaio o carregamento cresceu com
velocidade constante e a cada velocida-
de de carregamento correspondeu uma
curva de forma diferente. Além disso ao
se aproximar o material da ruptura, cres-
cem as deformações com maior velocida-
de com o que se precipita a ruptura. Seria
interessante poder observar o trecho da
curva tensão-deformação situado após FIG. 9 – RELAÇÃO ENTRE A DEFORMAÇÃO LENTA DO CONCRETO E O MÓDULO DE ELASTICIDADE
a tensão mais alta ter sido atingida. Isso DO AGREGADO
seria possível se se mantivesse constante
não a velocidade de carregamento mas a constante de deformação os diagramas grama de tensões para o instante consi-
velocidade de deformação, evitando que de tensões nas zonas de compressão derado. Resta saber, se nos referimos ao
as rupturas fôssem rapidamente alcan- das vigas. Pela hipótese de Bernouilli a estado de ruptura, qual a deformação
çadas (Fig. 11). velocidade de deformação dessa zona máxima que poderá ser atingida no bor-
Segundo uma sugestão do Eng. C. Rüsch de compressão é proporcional às distân- do. Essa deformação será aquela que,
que conduziu também os respectivos en- cias à linha neutra. Assim, em um dado pela integração do diagrama, conduza a
saios no Laboratório de Munique, deter- instante, a cada elemento corresponde um valor máximo do momento resisten-
mina-se através as curvas de velocidade uma dada curva, o que determina o dia- te. Observa-se assim que êsse máximo

FIG. 10 – RELAÇÃO ENTRE A CARGA E AS DEFORMAÇÕES LONGITUDINAL, TRANSVERSAL E MODIFICAÇÃO DE VOLUME EM UM ENSAIO DE
COMPRESSÃO SIMPLES

44 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


não é atingido quando a deformação no
bordo corresponde à tensão mais alta
e sim quando essa tensão já se tornou
menor. Verificou-se que a distribuição
das tensões na zona comprimida e a
deformação no bordo dependem da
forma da seção transversal e da posição
da linha neutra ou seja da percentagem
de armadura longitudinal. Vejam-se as
Figs. 12 e 13.
Nos últimos anos há a preocupação ge-
ral em todos os países em propor um
método de dimensionamento em que o
comportamento plástico do material seja
considerado. As numerosas sugestões
diferem fundamentalmente no diagrama
adotado para as tensões de compressão
e nos valôres adotados para as deforma-
ções de bordo. Para o diagrama de ten-
sões as normas brasileiras adotam, p. ex., FIG. 11 – DIAGRAMAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO PARA DIFERENTES VELOCIDADES
a forma retangular e existem propostas (CONSTANTES) DE DEFORMAÇÃO.
de parábolas, hipérboles, trapézios, etc.
As deformações de bordo sugeridas va-
riam por sua vez entre 1,5 e 5,0% (A NB-1
adota p. ex., 1,5%) (*4). Tôdas as suges-
tões porém admitem que as hipóteses
são igualmente válidas para tôdas as for-
mas de seção transversal e de valôres da
percentagem de armadura. Êsses novos
conhecimentos demonstram o erro nes-
sas hipóteses e conduzem para uma me-
lhor compreensão dêsse fenômeno.

7. INFLUÊNCIA DA
VELOCIDADE DE
DEFORMAÇÃO SOBRE FIG. 12 – RELAÇÃO ENTRE A DEFORMAÇÃO DE BORDO NA RUPTURA E A FORMADA SEÇÃO
A RELAÇÃO TENSÃO- TRANSVERSAL E PERCENTAGEM DE ARMADURA LONGITUDINAL

DEFORMAÇÃO
A resistência de um material perfeita-
mente elástico independe do tempo de
ação do carregamento pois a sua defor-
mação não se altera com a permanência
da carga. Em um material perfeitamen-
te plástico por sua vez, as deformações
crescem sempre com a permanência do
carregamento sem que a ruptura seja
com isso alcançada. Pergunta-se porém
4 Essas diferentes teorias encontram
sempre para as peças subarmadas, no
domínio da flexão pura, boa concordância
com os resultados experimentais. O que
seria de esperar pois estando, nas peças
subarmadas na ruptura, a fôrça na armadura
longitudinal determinada pela sua tensão de
escoamento, seria preciso que se avaliasse
muito mal o braço da alavanca “z” para que
o valor do momento resistente calculado
para a seção se afastasse sensivelmente do
encontrado em ensaio. FIG. 13 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES DE RUPTURA. CONCRETO sC56 = 210 KG/CM²

45
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

o que deve se passar com o material


concreto submetido a um carregamento
de longa duração, se êle possui, como já
se demonstrou, características plásticas
e elásticas? Aumentando a deformação
com a permanência da carga, até que
tensão poderemos solicitar um concre-
to para que o carregamento possa ser
mantido sem se atingir a ruptura? As
respostas a essas perguntas vêm sendo
o motivo de pesquisas que já a alguns
anos vêm se realizando no Laboratório
de Munique. A Fig. 14 indica o que tem
sido essa pesquisa. A curva a direita
corresponde a um teste normal com
duração de 20 min. E cada linha hori-
zontal corresponde a um “grau de carre-
gamento” que foi mantido. A depender FIG. 14 – DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO DO CONCRETO SOB CARREGAMENTO DE CURTA E
dêsse grau, a duração de carregamento LONGA DURAÇÃO
poderá conduzir para uma ruptura ou
para um estado de repouso. O grau no Não foram também abordadas aqui as 3. GLANVILLE, W. H. — Creep or Flow of
estado limite entre o repouso e a rup- influências dos carregamentos dinâmi- Conecrete under Load. Building Re-
tura, define a resistência do concreto a cos enquanto que os carregamentos es- search Technical Paper, N. 12, 1930.
carregamento de longa duração. táticos mencionados sempre foram do 4. DAVIS, R. E. & DAVIS, H. E. — Flow of
Se observarmos a variação de volume tipo compressão simples. Sôbre essas Concrete under the Action of Sus-
de um corpo de prova a compressão (ver relações entre tensões e deformações tained Loads. Proc. ASTM, V, 37, parte
Fig. 10) verificamos que nas proximida- para um carregamento de traição infe- 2, 1937 p. 317.
des da sua ruptura não se verifica mais lizmente, pouco se sabe. Infelizmente, 5. KORDINA, K. — Physikalische Grund-
unia esperada diminuição mas sim um pois esse conhecimento poderia estar lagen der Festigkeit und der Verfor-
sensível aumento de seu volume. Êsse prestando relevantes serviços. Sabe-se mung der Weskstoffe. In: Deutscher
aumento de volume indicava alteração p. ex., que em uma viga, na região das Beton-Verein E. V. Arbeitstagung,
na estrutura do material pela criação de armaduras longitudinais de tração o con- Muenchen, Okt. 1959, p. 22-35.
fugas e destruições de ligações. Êsse fato creto só se romperá após atingir valôres 6. RASCH, C. — Einfluss der Belas-
foi muito melhor observado com a utili- relativamente elevados de deformação. tungsgeschwindigkeit auf die Span-
zação de um transmissor de ultra sons. A Mikhailov utilizou êsse conhecimento e nungsverteilung. In: Dtsch. Bet-
energia emitida pelo transmissor através conseguiu que peças tracionadas apre- on-Verein. E. V, Arbeitstagung,
um lado do corpo de prova era captada sentassem fissuras sob cargas em que Muenchen, Okt. 1959, p. 86-94.
do lado oposto. Nas proximidades da o alongamento correspondente do con- 7. SELL, R. — Investigations into the
ruptura observava-se sempre uma forte creto já atingia duas vêzes o valor da de- Strength of concrete under sustained
absorção da energia pelo corpo de pro- formação correspondente à ruptura por load. RILEM Bulletin. New Series N. 5,
va, absorção que poderia ser explicado tração. Está a se exigir um conhecimento Dec., 1959, p. 5-13,
através um fenômeno de destruição de melhor das propriedades de deformação 8. KNITTEL, G. — Der Einfluss der Quer-
ligações na estrutura do material. A dimi- do concreto. Tanto mais agora quando se schnittsform und der Lage der Null-
nuição de resistência do concreto com a deseja, inclusive entre nós, utilizar me- inie auf die Spannungsverteilung una
manutenção do carregamento poderia lhor essas propriedades para a determi- auf die Randstauchung des Betons,
ser explicada, em principio, através êsse nação de grandezas hiperestática. Einfluss der Druckbewehrung. In:
fato, ou seja pela destruição progressiva Dtsch. Beton-Verein. E. V,,
das ligações na estrutura do material, 9. REFERÊNCIAS 9. SELL, R. — Der E Modul des Betons.
sob cargas elevadas. Muenchen, 1958, 100 p., A5.
BIBLIOGRÁFICAS 10. MIKHAILOV„ O. V. - Latest research
8. CONCLUSÃO 1. RUSCH, H. — Der Einfluss der Defor- on how nonstressed concrete works
mations — eigenschaften des betons in precast monolithic constructions.
Foram abordados alguns aspectos do auf den Spannungsverlauf. Schweiz- Vorbericht zum. 3. Kongress der FIP,
problema da relação entre tensão e de- erische Bauzeitung, 77 (9): 119-126, Berlin 1955.
formação no concreto. Não foram abor- Feb. 1959. 11. RUESCH, H. — Researchs Toward a
dadas aqui influências independentes 2. HANSEN, T. C, — Creep of Concrete. General Flexural Theory for Structur-
de cargas externas como as devidas à Cement och Betonginstitut, CBI Bulle- al Concrete. ACI Journal, 32 (1): 1-28,
variação de temperatura e à retração. tin Nr. 33, Stockholm, 1958. July 1960.

46 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


REGIONAIS ABECE | ACONTECE NAS REGIONAIS

REGIONAL SÃO PAULO

NOVA TURMA DO CURSO DE CAPACITAÇÃO EM INSPEÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO

ENGENHEIRO EDUARDO BARROS MILLEN MINISTRA AULA NO CURSO

U
ma nova turma iniciou o curso
de Capacitação em Inspeção
de Estruturas de Concreto, no
dia 16 de setembro, em São
Paulo. Com 22 alunos inscritos, o curso
é o primeiro a ter um conteúdo didático
direcionado, exclusivamente, para capa-
citar profissionais de engenharia e de
arquitetura para atuarem como inspeto-
res de estruturas de concreto de edifica-
ções em uso.
Desenvolvido pela ABECE, Alconpat Brasil
– Associação Brasileira de Patologia das
Construções e Ibracon – Instituto Brasi-
leiro do Concreto e coordenado pela NGI
Consultoria e Desenvolvimento, o curso CURSO CAPACITA PROFISSIONAIS DE ENGENHARIA E DE ARQUITETURA PARA ATUAREM COMO
INSPETORES DE ESTRUTURAS DE CONCRETO DE EDIFICAÇÕES EM USO.
compreende quatro módulos, que esta-
belece procedimentos para a realização
das inspeções de estruturas de concreto, Britez, Eduardo Barros Millen, Francisco tos que já atuam ou pretendem atuar
com toda uma metodologia própria. Paulo Graziano, Mauro Martins, Thomas no campo das inspeções de estruturas
Os temas são ministrados por um sele- Garcia Carmona, professor Ênio Pazi- de edificações, ou ainda aqueles que
to grupo de especialistas nas áreas de ni Figueiredo da Universidade Federal trabalham na execução de estruturas
engenharia e de estruturas, entre os de Goiás, o professor Luiz Carlos Pinto de concreto em edificações, na coorde-
quais estão: o professor Bernardo Fon- da Silva Filho da Universidade Federal nação de projetos e no desenvolvimento
seca Tutikian da Universidade do Vale do do Rio Grande do Sul, e Maria Angélica de projeto de estruturas de concreto,
Rio dos Sinos, o advogado Carlos Pinto Covelo Silva, coordenadora. O curso é nas áreas de assistência técnica pós-en-
Del Mar, os engenheiros Carlos Amado voltado para engenheiros e arquite- trega de obras de edificações.

47
REGIONAIS ABECE | ACONTECE NAS REGIONAIS

REGIONAL SANTA CATARINA

EVENTO SOBRE PROJETOS DE EDIFÍCIOS ALTOS REUNIU 500 PARTICIPANTES


NO BALNEÁRIO CAMBORIÚ

EVENTO CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DA ABECE E REUNIU ESPECIALISTAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS, QUE DISCUTIRAM ASPECTOS
RELATIVOS A PROJETOS DE EDIFÍCIOS ALTOS

E
ntre os dias 13 e 16 de setembro, I puderam acompanhar as apresentações Nos dois primeiros dias do evento – 13 e 14
Jornada Internacional: Projetos de de importantes especialistas nacionais e de setembro –, foi promovido o curso Dinâ-
Edifícios Altos, uma iniciativa inédita internacionais sobre o status quo dos pro- mica Estrutural Aplicada à Concepção e Análise
da ABECE, da Univali – Universidade jetos de edifícios altos bem como a discus- de Projetos de Edifícios Elevados, ministrado
do Vale do Itajaí, e do Sinduscon-BC – Sin- são de boas práticas e recomendações na pelo engenheiro civil especializado em es-
dicato da Indústria da Construção Civil de elaboração de projetos seguros e aderen- truturas, o uruguaio Sérgio Stolovas. O cur-
Balneário Camboriú, reuniu cerca de 500 tes às normas técnicas, a partir dos avanços so contou com 125 inscritos. Já nos dias 15
profissionais de vários estados do País, que tecnológicos observados nos últimos anos. e 16 de setembro, uma ampla programação
de palestras e debates trouxe temas como
ensaios de túnel de vento para edifícios al-
tos, fundações, projetos estruturais, susten-
tabilidade, construções em aço, estruturas
metálicas, estruturas mistas, análises estru-
turais e de desempenho dinâmico.
Um dos especialistas que estiveram no
evento foi o diretor da ABECE, Luiz Aurélio
Fortes da Silva, que debateu o assunto Ava-
liação Técnica de Projetos com foco em Edifí-
cios Altos. A solenidade de abertura teve a
participação do presidente da ABECE, Au-
gusto Guimarães Pedreira de Freitas, do
presidente do Sinduscon, Carlos Haacke, do
reitor da Univali, Mário Cesar dos Santos e
do superintendente da ABNT – Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Salvador de
TEMA ABORDADO ATRAIU A ATENÇÃO DE 500 PROFISSIONAIS PROVENIENTES DE VÁRIOS ESTADOS
Sá Benevides.

48 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


REGIONAL MINAS GERAIS

ABECE PARTICIPA DO 1º FÓRUM MINEIRO DE COORDENAÇÃO DE PROJETOS PARA O DESEMPENHO

N
os dias 8 e 9 de setembro, o 15º (Gemarq), que falou so-
Congresso Sinduscon-MG de bre as frases do escopo
Materiais, Tecnologia e Susten- e a entrega dos proje-
tabilidade na Construção reuniu tos de arquitetura com
mais de 170 profissionais e empresários vistas ao desempenho
do setor. O evento é uma realização do Sin- das edificações.
dicato da Indústria da Construção Civil no Já na parte da tarde,
Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e ministraram apresenta-
ocorreu durante o Minascon - 13º Encontro ções: Carla Macedo, da
Unificado da Cadeia Produtiva da Indústria Associação Brasileira de
da Construção. Engenharia de Sistemas
No primeiro dia do evento, foi promovido o Prediais (Abrasip-MG),
1º Fórum Mineiro de Coordenação de Pro- que explicou como os
jetos para o Desempenho, que teve a par- sistemas elétricos e
ticipação do engenheiro Leonardo Braga LEONARDO PASSOS, DIRETOR DA REGIONAL BELO HORIZONTE, hidráulicos podem im-
MINISTRA PALESTRA SOBRE GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETOS.
Passos, diretor da Regional Belo Horizon- pactar no desempenho
te da Associação Brasileira de Engenharia de uma edificação; Mar-
e Consultoria Estrutural (ABECE). Em sua Instituto Izabela Hendrix, e Paulo Roberto co Antônio Vecci, da UFMG, que abordou
apresentação, ele destacou a importância Andery, da Universidade Federal de Minas detalhes do desempenho acústico e os cui-
de se investir na fase de projetos e reforçou Gerais (UFMG), que trouxeram informa- dados para evitar que erros no processo
que é preciso que haja uma revisão para ções detalhadas do Manual para Contra- possam elevar o nível de transferência de
evitar problemas na construção ou mesmo tação de Projetos para o Desempenho ruído em desconformidade com a norma;
riscos de colapsos das estruturas. de Edificações Habitacionais (vide Box); e Rejane Loura, também da UFMG, que mos-
Também participaram da parte da manhã Fernanda Basques, do Grupo de Empre- trou Minas é o Estado que tem a maior va-
doo Fórum: Patrícia Gomes Barbosa, do sas Mineiras de Arquitetura e Urbanismo riação de classes relativas ao desempenho
térmico, impactando na escolha pelo tipo
de cobertura e até cores das fachadas dos
Lançado recentemente, Consultoria Estrutural edifícios; e Márcia Menezes, do Centro de
o Manual para Contra- (ABECE-Regional Belo Tecnologia de Edificações (CTE), que mos-
tação de Projetos para Horizonte). trou os resultados de uma pesquisa reali-
o Desempenho de Edi- Para o presidente da zada pela instituições para identificar o que
ficações Habitacionais Fiemg, Olavo Machado, o setor deve fazer para a plena aplicação
contempla aspectos o Manual é uma ferra- da Norma de Desempenho.
técnicos e gerenciais, menta indispensável
estabelecendo roteiro para que as empresas

FOTOS: BRUNO CARVALHO/SINDUSCON-MG


e fluxo de trabalho para construtoras e incor-
o desenvolvimento in- poradoras exerçam
tegrado das disciplinas seu poder de contra-
de projeto de edifica- tação e coordenação
ções. A publicação é de projetos, o que é es-
uma iniciativa do Sindicato da Indús- sencial para o sucesso dos empreen-
tria da Construção Civil do Estado de dimentos. Também contribuíram com
Minas Gerais (Sinduscon-MG), Federa- a publicação a Associação Brasileira
ção das Indústrias do Estado de Minas de Sistemas Prediais (Abrasip-MG), o
Gerais (Fiemg), por meio da Câmara da Conselho de Arquitetura e Urbanismo
Indústria da Construção (CIC) e Serviço de Minas Gerais (CAU-MG), o Grupo de
Nacional de Aprendizagem Industrial Empresas Mineiras de Arquitetura e
(Senai-MG), por meio da Secretaria de Urbanismo (Gemarq), o Instituto Bra-
Desempenho da Indústria da Constru- sileiro do Concreto (Ibracon-Regional
ção, e contou com o apoio e partici- Minas Gerais), a Universidade Federal EMPRESÁRIOS, ENGENHEIROS E
pação na elaboração do conteúdo da de Minas Gerais (UFMG) e o Instituto LIDERANÇAS DA CONSTRUÇÃO DE MINAS
Associação Brasileira de Engenharia e Metodista Izabela Hendrix. GERAIS ESTIVERAM PRESENTES NO 15º
CONGRESSO SINDUSCON-MG.

49
NOTAS E EVENTOS

BRASILEIROS PARTICIPAM DE CONGRESSO INTERNACIONAL DE ALVENARIA

N
o mês de junho de 2016 ocor-

FOTOS: CORTESIA DO COMITÊ DO 16º IBMAC


reu em Pádua, na Itália, a 16ª
edição do IB2MAC – Internatio-
nal Brick and Block Masonry
Conference, com a presença de profis-
sionais, engenheiros e pesquisadores
brasileiros. O Comitê Científico, compos-
to por 40 membros de diversos países,
contou com a participação e a contribui-
ção de três pesquisadores do país: Gui-
lherme Aris Parsekian, Humberto Ramos
e Márcio Roberto Silva Corrêa.
A programação do evento teve como ke-
ynotes speakers, os professores Gilberto
Artioli (Universidade de Padova/Itália),
Xianglin Gu (Universidade de Tongji/
China), Miha Tomaževič (Instituto Na-
cional de Edificações e Engenharia Civil
da Eslovênia) e Christine Subasic, espe-
cialista em projetos de alvenaria e sus-
tentabilidade.
Foram apresentados também 343 ar-
tigos científicos, sendo 4% deles de
autores brasileiros, e debatidos temas
como: eco-materiais e sustentabilidade,
novas técnicas, tecnologias de constru-
ção, materiais e testes de laboratório,
análise das estruturas de alvenaria, no-
vos desenvolvimentos no projeto e veri-
ficação, alvenaria armada e protendida,
desempenho sísmico e confiabilidade,
recuperação e reforço de construções
em alvenaria, pré-fabricação da alvena-
ria, comportamento de paredes não es-
truturais, durabilidade, testes de cam-
po e garantia de qualidade, normaliza-
ção, resistência ao fogo, conservação
de edifícios históricos, construção em
terra, arquitetura em alvenaria, além de
estudos de casos.
“Em um mundo em constante mutação,
no qual as inovações são rapidamente
implementadas, o desafio para alvena-
ria, o mais antigo e tradicional material
de construção, é demonstrar que ele
pode satisfazer às exigências cada vez
mais prementes de qualidade de vida,
segurança e sustentabilidade”, explica
o professor Márcio Corrêa, da Escola A 16ª EDIÇÃO DO IB 2MAC REUNIU PROFISSIONAIS, ENGENHEIROS E PESQUISADORES DO
de Engenharia de São Carlos da Univer- SEGMENTO, COM IMPORTANTE PARTICIPAÇÃO DOS BRASILEIROS.
sidade de São Paulo.
Esse congresso teve a primeira edição alvenaria, sendo que a edição anterior brasileira se intensifique, refletindo a
em Austin, Texas, em 1967. Desde en- ocorreu em Florianópolis, Brasil, no abundante utilização da alvenaria es-
tão, o IB2MAC, que é realizado a cada ano de 2012. Em 2020 ocorrerá a 17ª trutural no Brasil e a vigorosa atividade
quatro anos, tornou-se o mais presti- edição do IB2Mac em Cracóvia, na Po- de pesquisa em nossas universidades”,
giado evento internacional na área de lônia. “Esperamos que a participação finaliza Corrêa.

50 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


CONSTRUMENTAL REUNIU CERCA DE 2,2 MIL PROFISSIONAIS DA CONSTRUÇÃO

D
e 20 a 22 de setembro, o setor da
construção metálica esteve reu-
nido na 7ª edição do Construme-
tal, uma iniciativa da Associação
Brasileira de Construção Metálica (Abcem).
O evento contou com a participação de re-
nomados conferencistas nacionais e inter-
nacionais, além de um amplo programa de
palestras técnicas e tecnocientíficas, onde
foram apresentadas tendências, inovações
e melhores práticas do setor.
A Associação Brasileira de Engenharia e
Consultoria Estrutural (ABECE) esteve pre-
sente no Construmetal. No dia 22, o Painel
5 Estruturas mistas de aço e concreto mos-
trou as principais características dessas
estruturas e apresentou os principais be-
nefícios de sua utilização. Esse painel con-
tou com a participação de Ricardo França,
vice-presidente de Tecnologia e Qualidade
da ABECE, João Alberto Vendramini, diretor
da ABECE, e do engenheiro calculista Julio
Fruchtengarte, também representando a
associação, e professor Acir Mércio Lore-
do Souza, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS).
Durante sua apresentação, Acir Mércio Lo-
redo-Souza (UFRGS) falou sobre os efeitos
dinâmicos dos fenômenos meteorológicos PAINEL DO CONSTRUMETAL CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DA ABECE, QUE CONTRIBUIU PARA
DISSEMINAR INFORMAÇÕES SOBRE AS SOLUÇÕES MISTAS DE AÇO E CONCRETO.
e sua influência em edificações, inclusi-
ve estruturas mistas, e demonstrou seus
estudos na área. Em seguida foi a vez de gresso da área. Jorge Arraes, Secretário discussões são realizados para afinar, cada
Ricardo França (ABECE) proferir palestra Especial do Município do Rio de Janeiro, fa- vez mais, a utilização da ferramenta.
sobre a utilização das estruturas mistas, lou sobre o Projeto Olímpico, o legado dos A primeira palestra do painel 3 foi de Sér-
aço e concreto, no São Paulo Corporate jogos e como as parcerias privadas foram gio Leusin, sócio-gerente da GDP – Geren-
Towers. Para França, “essa solução mista é importantes para a construção das obras.  ciamento e Desenvolvimento de Projetos,
muito eficiente”. Em seguida, Júlio Fruchten- Segundo ele, o grande legado é a infraes- que falou das principais funcionalidades
garten (ABECE) também comentou a cons- trutura. Analisando grandes projetos na- do BIM, seu conceito, difusão e evolução
trução do São Paulo Corporate Towers, cionais, José Carlos Martins, presidente da para o mercado. Segundo ele, a utilização
mas do ponto de vista da estrutura me- Câmara Brasileira da Indústria da Constru- da ferramenta auxilia na integração dos
tálica utilizada. A medição do painel ficou ção (CBIC), comentou a importância deles projetos, podendo ser aplicada em todo
a cargo de Yorki Estefan, coordenador do para o país, defendendo que o que o Brasil ciclo de vida da construção. Na sequência,
Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sin- precisa hoje é obra de infraestrutura. Ronaldo Martineli, gerente de orçamentos
dicato da Indústria da Construção Civil do Também no evento o tema inovação e tec- da Medabil Sistemas Construtivos desta-
Estado de São Paulo (SindusCon-SP). nologia, por meio do painel Novos Processos cou que uma das principais vantagens do
O Construmental que reuniu aproximada- de Automação, Tecnologia e BIM (sistemas de BIM é a segurança que ele proporciona
mente 2,2 mil profissionais da segmento integração de projetos), cuja coordenação ao projeto, consistindo em maior com-
da construção também trouxe temas ma- ficou a cargo de Vinicius Morais, vice-pre- petitividade de preço. Finalizando o pai-
crossetoriais como o painel Investimentos sidente da ABCEM: “o tema do painel é o nel, o arquiteto Ricardo Bianca de Mello,
em Infraestrutura: como melhorar o ambiente que tem maior relação com o futuro da especialista técnico da Autodesk, disse
de negócios? Com foco na macroeconomia construção civil”. Na sequência, o mediador que as macrotendências e rupturas são
nacional, José Roberto Bernasconi, do Sin- Eduardo Toledo, Coordenador da Comissão importantes fatores evolutivos para novas
dicato Nacional das Empresas de Arquite- de Estudo de Modelagem de Informação da metodologias, e que as mudanças de pa-
tura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Construção, ressaltou que o BIM já é uma radigmas em vertentes como produção,
comentou o cenário político do ponto de realidade presente no dia a dia dos escritó- demanda e produto, impulsionam as em-
vista do setor e as alternativas para o pro- rios de construção e que diversos eventos e presas a buscar novos processos.

51
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | NÃO BASTA SABER

NÃO BASTA SABER.


É PRECISO
COMPROVAR

E
POR RICARDO LEOPOLDO E SILVA FRANÇA stá na hora de a engenharia bra- tegoria denominada Fundamentals of
VICE-PRESIDENTE DE TECNOLOGIA E QUALIDADE
DA ABECE sileira adotar um processo de ca- Engineering (FE), na qual ele não pode
pacitação profissional com maior atuar de forma autônoma, para a de
rigor e que inclua exames perió- Professional Engineer (PE), é necessário
dicos para comprovar a efetiva forma- um exame, precedido de capacitação. O
ção e competência dos profissionais, as- mesmo ocorre, caso o profissional queira
sim como ocorre em outros países. Nos alcançar a categoria chamada Structural
Estados Unidos, por exemplo, um enge- Engineer (SE). E a comprovação da habi-
nheiro para ter uma atuação autônoma lidade, em qualquer das categorias, tem
e assinar projetos precisa se submeter validade restrita: a certificação para atuar
a diversos exames, processo que pode num estado não dá o direito ao colega
durar de três a quatro anos, dependen- americano de trabalhar em outro. Se ele
do do Estado. Não basta o engenheiro pretender exercer a profissão em vários
saber, ele tem de comprovar seu conhe- estados, terá de se submeter a diversos
cimento por órgãos independentes e exames específicos em cada um deles. 
auditáveis. No caso do Professional Engineer, os exa-
Além disso, no caso americano, há uma mes são divididos por especialidades.
exigência para um contínuo aprendiza- Assim, há uma avaliação para atuar em
do e aprimoramento, sempre balizado construção, geotecnia, estrutura, trans-
por exames. Assim, para passar da ca- porte e recursos hídricos. Já para obter

52 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


Nos Estados Unidos, para se ter um
profissional melhor capacitado até os
órgãos encarregados da elaboração
de normas técnicas e regulamentado-
ras da construção civil desempenham
papel decisivo no aprimoramento dos
engenheiros. É o caso do American
Concrete Institute (ACI), o equivalen-
te ao IBRACON - Instituto Brasileiro
do Concreto. O ACI forma, juntamente
com outras entidades, uma verdadeira
miríade de órgãos que, além de contri-
buir para a redação de normas técni-
cas e regulamentadoras da atividade
de engenharia e construção, também
consolida práticas recomendáveis para
o aprimoramento continuado dos pro-
fissionais.

COMPROVAÇÃO
DE QUE O PROJETO
FOI BEM
ELABORADO
Um segundo nível de comprovação,
o Structural Engineer, o exame dura dois Nosso esforço de capacitação precisa ser para conferir se o projeto estrutural
dias e só pode ser feito após dois anos de algo semelhante à ação de outras catego- foi bem elaborado e atende as normas
prática comprovada em escritório de es- rias, como a dos advogados, que também técnicas brasileiras, vem com a prática
truturas. Os americanos levam tão a sé- se submetem a exames periódicos para do uso da Avaliação Técnica de Projeto
rio a questão da capacitação continuada comprovar competência, ou a dos médi- (ATP), conceito para o qual o mercado
e com comprovação que existem dois or- cos. Como pontuou um recente trabalho brasileiro vem se conscientizando. O
ganismos cuidando do tema: o National da NCSEA: tema é objeto de amplo debate e refle-
Council of Examiners for Engineering and xão na ABECE e muitos profissionais já


Surveying (NCEES) e o National Council of perceberam que podem ficar fora do
Structural Engineers Associations (NC- UMA COISA QUE MÉDICOS E mercado caso não se atualizem nes-
SEA). O primeiro é o encarregado de criar se aspecto. No caso da ATP também
ENGENHEIROS DE ESTRUTURAS
a metodologia dos exames para avaliar a há práticas internacionais que podem
competência dos engenheiros. TÊM EM COMUM É QUE AMBOS servir de referência. Em uma região da
SALVAM VIDAS. NO ENTANTO, Alemanha, por exemplo, há um instituto
COMPROVAÇÃO DA BOA OS MÉDICOS NORMALMENTE de verificação de projeto no qual o pro-
fissional tem de fazer um exame para
FORMAÇÃO LIDAM COM PROBLEMAS JÁ
se tornar um verificador. A principal
Entendo que esse deve ser um caminho a EXISTENTES, ENQUANTO OS justificativa para a verificação é o que
ser perseguido também pela engenharia ENGENHEIROS DEVEM EVITAR os alemães denominam “Vier-Augen
brasileira. Nesse sentido, necessitamos ter QUE PROBLEMAS SEQUER Prinzip”, ou Princípio dos Quatro Olhos,
uma comprovação de que o engenheiro segundo o qual, se o projeto for anali-
ACONTEÇAM. ALÉM DISSO, O
teve uma boa formação, assim como su- sado por duas pessoas, o projetista e
cessivas especializações para o exercício ERRO DE UM MÉDICO PODE o engenheiro de verificação, as chances
da profissão. Temos de acabar com a práti- CAUSAR FERIMENTOS OU A de erro são menores.
ca, que ainda ocorre no país, de engenheiro MORTE DE UMA PESSOA, JÁ O O ideal é que a verificação do projeto es-
recém-formado que assina projeto de edi- trutural seja feita desde o início da obra,
ERRO DE UM ENGENHEIRO DE
fícios de 40 andares. A adoção de um pro- pois os profissionais vão interagindo e
grama que inclua maior rigor na educação ESTRUTURAS PODE LEVAR A ajustando as ações. Uma vantagem adi-
continuada, além de auditagem e fiscaliza- UMA TRAGÉDIA AINDA MAIOR cional do trabalho do verificador é que,


ção, funcionará como uma maior proteção quando ele atua por muito tempo, acu-
para toda a sociedade, pois reduziríamos mula um conhecimento que pode ser
os riscos de colapsos, que tem ocorrido bastante útil para uma visão crítica dos
com inquietante frequência no país. projetos futuros.

53
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | NÃO BASTA SABER

COMPROVAÇÃO SE A
ESTRUTURA FOI BEM
EXECUTADA E SE
SEGUIU O PROJETO
O terceiro nível de compro-
vação é saber se a estrutura
foi bem executada e se obe-
deceu ao que estava previs-
to no projeto original. Nessa
fase, que é de competência
da construtora, ainda não
existe uma sistematização
de quem e nem de como se
faz isso. O que tem ocorrido
é que a função de checar se
a execução seguiu o projeto
estrutural original tem ficado
a cargo de estagiários, que
não tem bagagem profissio-
nal suficiente para detectar
problemas ou até mesmo
ainda nem aprendeu no cur-
so de engenharia a matéria
necessária para entender se
o que está sendo executado
é o correto.
Tenho dito que a melhor for-
ma de fazer essa verificação
é por meio de registros fotográficos das duítes colocados de forma inadequada, comprometer a integridade de pilares ou
várias etapas da obra, para eventual colocação incorreta de barras de aço de vigas que podem comprometer toda a
checagem posterior, até para se conse- em pilares e vigar, ou ainda em bitolas estrutura da edificação.
guir descobrir a origem de futuros pro- diferentes da prevista orginalmente no
blemas que venham a ocorrer na obra. projeto estrutural. COMPROVAÇÃO DA
Nesse caso, há certa resistência cultural Todos esses são fatores que comprome-
ADEQUADA MANUTENÇÃO
e corporativa em relação a esse regis- tem a segurança da estrutura. Um aper-
tro de imagens, pois ele pode apontar feiçoamento do processo de rastreabilida- DOS PRÉDIOS
falhas que não se deseja admitir, mas de é catalogar, por lote, data de chegada Por fim, no caso da manutenção rotineira
o mercado caminha para esse nível de e até por cor, as amostras de concreto de edifícios, o grande vilão é lavar a fa-
rastreabilidade. Uma consequência po- retiradas dos caminhões para mapear e chada com produto a base de cloro, que
sitiva de se fazer um acompanhamento saber exatamente em qual parte da obra pode penetrar na parede e iniciar, preco-
fotográfico do andamento da obra é ob- cada uma das remessas foi utilizada. cemente, o processo de corrosão das ar-
ter um comprometimento maior de toda maduras por cloretos, caso haja fissuras
a equipe em fazer exatamente o previsto COMPROVAÇÃO SOBRE e presença de umidade. Lavar a fachada
no projeto. sem o devido cuidado pode acelerar a
A ADEQUADA FORMA DE
Acompanhar fotograficamente as diver- deterioração da estrutura do edifício.
sas fases da obra é uma iniciativa que UTILIZAÇÃO DO EDIFÍCIO Em razão de todo esse contexto de risco,
deve complementar todos os registros Outro cuidado a se tomar é em relação ganha importância um apelo para uma
de verificação de serviços executados, a comprovação e certificação de como constante política de contínuo aprimora-
que já é feito regularmente pela maioria os usuários estão utilizando o edifício. mento profissional de todos que atuam
das construtoras. Muitos dos proble- Nesse aspecto, é preciso aumentar o ri- na engenharia estrutural do país. Não de-
mas que ocorrem nas obras são decor- gor em relação a laudos para reformas vemos ter a esperança de conseguir um
rentes de a estrutura não ter sido fis- que possam vir a comprometer a estru- avanço expressivo no curto prazo, mas
calizada na hora da execução. E temos tura do prédio. Hoje, com determinados trata-se de um trabalho de longo prazo.
uma coleção grande de problemas re- equipamentos e ferramentas utilizadas Devemos plantar para, no futuro, termos
gistrados, que vão desde uma laje que em reformas e adaptações, é possível fa- cada vez mais segurança em todas as
foi concretada com um excesso de con- zer todo tipo de perfuração e, com isso, etapas das nossas obras.

54 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


NORMAS TÉCNICAS | NBR 6120

FORÇAS PARA
O PROJETO DE
ESTRUTURAS DE
GARAGENS E ZONAS
DE CIRCULAÇÃO DE
VEÍCULOS EM EDIFÍCIOS
POR: ODINIR KLEIN JÚNIOR,
SECRETÁRIO DA COMISSÃO DE REVISÃO DA
RESUMO
NORMA ABNT NBR 6120. O presente artigo visa apresentar e justificar a origem das forças para o projeto de
garagens e zonas de circulação de veículos em edifícios propostas no projeto de revi-
são da norma ABNT NBR 6120:1980. Este estudo foi realizado no âmbito da Comissão
de Estudo de Ações para o Cálculo de Estruturas de Edifícios (CE-02:124.11) do Comi-
tê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-02). É importante ressaltar que o estudo
não contempla cargas móveis rodoviárias e de pedestres para pontes, viadutos e
passarelas, sendo estas escopo da norma ABNT NBR 7188:2013 [11].

INTRODUÇÃO Mesmo normas estrangeiras possuem


A presente versão da norma ABNT NBR limitações quanto à prescrição de ações
6120:1980 [1] recomenda que se con- para o cálculo de estruturas de garagens
sidere uma carga uniformemente dis- e zonas de circulação de veículos.
tribuída de 3 kN/m² para o projeto de A norma americana ASCE 7-10 [2] indica
garagens e estacionamentos para veí- apenas as cargas para o projeto de estru-
culos de passageiros e semelhantes de turas para veículos de passageiros, sem
até 25 kN por veículo. Para o projeto de limitar o peso bruto total máximo desses
vigas e lajes, essa carga deve ser majo- veículos. Tais cargas foram definidas com
rada por um coeficiente φ, em função base em estudos probabilísticos utilizan-
do vão da viga ou laje em questão. A do dados obtidos em cidades norte-ame-
norma não apresenta cargas de projeto ricanas, explicado em detalhes em [3].
para quando os veículos pesam mais de Solicita-se ainda a verificação da estrutura
25 kN. para cargas concentradas isoladas, de for-

55
NORMAS TÉCNICAS | NBR 6120

ma a contemplar a atuação de um maca- classes dos veículos e combinações de Em seguida, procedeu-se à pesquisa das
co automotivo apoiando-se sobre o piso. veículos, bem como o seu PBT (peso bru- características técnicas dos veículos em
Para caminhões e ônibus, a norma ASCE to total) e agrupamentos de eixos para circulação no Brasil (para as diversas
7-10 [2] orienta que a estrutura deve ser cada classe. classes, incluindo os veículos especiais),
projetada conforme a norma AASHTO
LFRD Bridge Design Specifications [4], per- TABELA 1 – AÇÕES EM GARAGENS E DEMAIS ÁREAS DE CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS
mitindo dispensar considerações relativas
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
à fadiga e efeitos dinâmicos. São especi-
Categoria PBT (kN) Carga Altura Cargas Força Força Altura H de
ficadas também forças horizontais para o uniformemente máx. concentradas horizontal horizontal aplicação
projeto de barreiras sujeitas ao impacto distribuída (m) Qk (kN) Fx (kN) e Fy (kN) e das forças
de veículos de passeio. (kN/m²) Fx e Fy (m) e
O Eurocode 1 parte 1-1 [5] prescreve Ia ≤ 30 3,0 2,30 12 b 100 50 0,50
cargas para o projeto de estruturas para II f
≤ 90 5,0 2,60 60 (Fig. 1) 180 90 0,50
duas categorias de veículos: (a) veículos III ≤ 160 7,0 3,00 100 (Fig. 2) 240 120 1,00
de passageiros com peso bruto total de
IV > 160 10,0 > 3,00 170 (Fig. 3) 320 160 1,00
até 30 kN e (b) veículos médios com peso 255 (Fig. 4)
bruto total de até 160 kN. Para ambas as Vc ≤ 230 10,0 ≥ 4,50 170 (Fig. 3) 320 d 160 d 1,00 d
categorias, são apresentadas cargas uni- viaturas
formemente distribuídas e cargas con- bombeiros
centradas. Estas últimas são aplicadas
NOTAS:
isoladas das demais cargas, dispostas na a As ações da Categoria I são adequadas também para veículos de passeio blindados, des-
forma de um eixo-tipo, nas posições em de que a blindagem corresponda a um acréscimo de no máximo 15% do PBT do veículo.
que provocarem os efeitos mais desfavo- b A carga concentrada deve ser considerada atuando numa região de 10 cm x 10 cm.
ráveis. As forças horizontais para o pro- c As cargas devido a viaturas de bombeiros podem ser consideradas Excepcionais, con-
forme a ABNT NBR 8681, se atuarem apenas em situações de combate a incêndio. Para
jeto de barreiras sujeitas ao impacto de
demais situações, devem ser consideradas como ações variáveis Normais, conforme a
veículos são especificadas no Eurocode 1 ABNT NBR 8681.
parte 1-7 [6]. d A verificação das forças horizontais, nesse caso, só precisa ser feita caso a atuação das viatu-
Mesmo com algumas limitações, a análise ras de bombeiros seja considerada uma ação variável Normal, conforme a ABNT NBR 8681.
das prescrições de normas estrangeiras e As forças horizontais devem ser consideradas Excepcionais, conforme a ABNT NBR
8681. X é a direção paralela ao tráfego dos veículos, y é a direção perpendicular ao trá-
permitiu definir itens a serem abordados
fego dos veículos. As forças horizontais podem ser consideradas atuando de forma não
no projeto de revisão da norma ABNT concomitante numa faixa de 25 cm de altura e 150 cm de largura ou a largura da face do
NBR 6120:1980 [1]: pilar em questão, o que for menor (Fig. 5). Alternativamente, podem-se prever barreiras
• definição de cargas uniformemente que resistam aos mesmos valores de forças horizontais.
distribuídas para categorias de veí- f As ações da Categoria II são adequadas também para carros-fortes e UTI’s móveis
culos mais pesados, além de veícu-
los de passeio;
• definição de cargas concentradas
para a verificação da atuação de
macacos automotivos e rodas de
veículos médios e pesados;
• definição de forças horizontais para
o projeto de barreiras sujeitas ao
impacto de veículos;
• definição de critérios para a verifica-
ção de veículos especiais (blindados,
FIGURA 1 – EIXO-TIPO SIMPLES PARA VERIFICAÇÃO DE CARGAS CONCENTRADAS – CATEGORIA II
caminhões de bombeiros, cami-
nhões betoneira, carros-fortes, etc.).

METODOLOGIA
Os estudos partiram da premissa de que
no Brasil podem circular veículos cujos
pesos e dimensões atendam aos limites
estabelecidos pelo CONTRAN (Conselho
Nacional de Trânsito) [7], conforme de-
terminam os artigos 99 e 100 do Código
de Trânsito Brasileiro [8]. O documento
Quadro de Fabricantes de Veículos [9]
FIGURA 2 – EIXO-TIPO SIMPLES PARA VERIFICAÇÃO DE FORÇAS CONCENTRADAS – CATEGORIA III
apresenta os pesos máximos por eixo, as

56 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


analisando os dados informados pelos mesmo os especiais, respeitam os limites dimensões e pesos máximos por eixo
fabricantes. Nessa pesquisa, foi possível estabelecidos pelo CONTRAN [7]. dos veículos, foi possível propor catego-
verificar que as dimensões e cargas má- Analisando em conjunto os limiteis le- rias de veículos relevantes para o projeto
ximas por eixo dos veículos pesquisados, gais e os dados dos fabricantes para as de estruturas de edifícios. O objetivo foi
subsidiar o meio técnico com os dados
mais abrangentes possíveis, de modo
que os projetos resultem adequadamen-
te seguros para a categoria considerada.
Os valores propostos para as cargas são
nominais, adequados para combinações
de ações conforme a norma ABNT NBR
8681 [10]. As cargas foram definidas de
forma determinística, ou seja, não consi-
deram a probabilidade de áreas das gara-
gens estarem densamente ocupadas en-
quanto outras estão vazias (circulações,
etc.) e nem a probabilidade da garagem
estar ocupada por veículos com diferen-
tes pesos, mesmo pertencendo à mes-
ma categoria. Por exemplo, para definir
as cargas uniformemente distribuídas,
considerou-se o PBT do veículo distribuí-
do pela sua área ampliada em planta. A
área ampliada corresponde à área líqui-
da efetivamente ocupada pelo veículo
FIGURA 3 – EIXO-TIPO DUPLO PARA VERIFICAÇÃO DE FORÇAS CONCENTRADAS – acrescida de uma folga em todos os la-
CATEGORIAS IV E V dos, considerando que os veículos muito
provavelmente não estarão encostados
uns aos outros. Esta folga variou de 30
cm (veículos de passeio) a 100 cm (ônibus
e caminhões pesados). Como as premis-
sas assumidas já são suficientemente
conservadoras, considerou-se que as
tolerâncias das cargas por eixo admiti-
das pela resolução do CONTRAN [7] (5%
no presente momento) são levadas em
conta pelos coeficientes de segurança da
norma ABNT NBR 8681 [10].
As forças de impacto acidental em pila-
res foram propostas com base no Anexo
C do Eurocode 1 parte 1-7 [6]. Tal previ-
são visa proteger a estrutura contra um
possível colapso causado pelo impacto
acidental de veículos em pilares expostos
ao tráfego.

TEXTO PROPOSTO
Apresenta-se a seguir o texto proposto
para o projeto de revisão da norma ABNT
NBR 6120:1980 [1].

AÇÕES EM GARAGENS E DEMAIS


ÁREAS DE CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS
As orientações deste item são válidas
para estruturas sujeitas ao tráfego de
veículos cujo peso e dimensões atendam
aos limites estabelecidos pelo CONTRAN
FIGURA 4 – EIXO-TIPO TRIPLO PARA VERIFICAÇÃO DE FORÇAS CONCENTRADAS – CATEGORIA IV
– Conselho Nacional de Trânsito.

57
NORMAS TÉCNICAS | NBR 6120

A seleção da categoria de projeto de ga-


ragens e demais áreas de circulação de
veículos deve ser feita em função da altu-
ra livre disponível do acesso de veículos
(coluna 4 da Tabela 1). Caso o usuário do
edifício disponha de meios para controle
dos tipos de veículos que acessam o edi-
fício, é possível projetar para categorias
inferiores àquela da altura disponível. Na
documentação do projeto devem cons-
tar as categorias para as quais a estrutu-
ra foi projetada.
Para o projeto de garagens e demais
áreas de circulação de veículos, devem
ser consideradas as cargas uniforme-
mente distribuídas (coluna 3 da Tabela
1) para análises globais da estrutura e
dimensionamento dos seus elementos.
Os elementos estruturais do pavimen-
to devem também ser verificados para
a atuação isolada das cargas concen-
tradas (coluna 5 da Tabela 1), além das
cargas uniformemente distribuídas. Os
pilares sujeitos ao impacto acidental de
FIGURA 5 – FORÇAS HORIZONTAIS DEVIDO AO IMPACTO ACIDENTAL DE VEÍCULOS veículos devem ser verificados para as
forças horizontais (colunas 6, 7 e 8 da
Tabela 1).
Além do dimensionamento para as ações
indicadas na Tabela 1, cada região da ga-
ragem deve ser sinalizada quanto à velo-
cidade máxima permitida, PBT admissível
e altura máxima dos veículos. A veloci-
dade máxima sugerida em garagens, ba-
seada na prática usual, deve ser 10 km/h.
Exemplos de sinalização são apresenta-
dos no Anexo B desta norma.
As orientações aqui apresentadas não
contemplam o uso de elevadores dupli-
cadores de vagas. A consideração desse
equipamento deve ser feita conforme o
caso específico.
Para pavimentos elevados que permi-
tam o acesso de veículos até a parede
ou guarda-corpo, estes devem resistir à
força horizontal concentrada de 25 kN
atuando a 50 cm do piso acabado. Esta
força horizontal pode ser considerada
atuando numa área de aplicação de 30
cm x 30 cm. Alternativamente, podem-se
prever barreiras que impeçam o acesso
dos veículos à parede ou guarda-corpo,
sendo que estas devem resistir à mesma
força horizontal especificada anterior-
mente. Para todos os casos, a força hori-
zontal pode ser considerada Excepcional,
conforme a ABNT NBR 8681, e não conco-
mitante com outras forças em barreiras
FIGURA 6 – PILARES PRÓXIMOS A DESCIDAS DE RAMPAS
ou guarda-corpos.

58 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


TABELA 2 – FORÇAS HORIZONTAIS DEVIDO AO IMPACTO EM PILARES ADJACENTES A VIAS o cálculo de estruturas de edifica-
PÚBLICAS OU PARTICULARES
ções. NBR 6120. Rio de Janeiro: ABNT,
Altura H de 1980.
Caso Fx (kN) Fy (kN) aplicação das forças [2] ASCE – American Society of Civil Engi-
Fx e Fy (m)
neers. ASCE/SEI 7-10 – Minimun de-
Pilares sem proteção 200 100 1,00 sign loads for buildings and other
Pilares com proteção structures. Estados Unidos: ASCE,
150 75 1,00
de guia com h ≤ 15 cm 2010.
Pilares com proteção de [3] WEN, Y. K., YEO, G. L. Design live loads
100 50 1,00
guia com 15 cm ≤ h ≤ 50 cm for passenger cars parking garages.
Journal of Structural Engineering,
Pilares próximos a descidas de rampas CONCLUSÃO Vol. 127, No. 3, p. 280-289, 2001.
(Fig. 6) devem ser verificados para forças Foi apresentado o texto proposto para o [4] AASHTO - American Association of
horizontais com o dobro do valor indica- projeto de revisão da norma ABNT NBR State Highway and Transportation Of-
do nas colunas 6 e 7 da Tabela 1. Alter- 6120:1980 [1], referente a ações para o ficials. AASHTO LRFD Bridge Design
nativamente, podem-se prever barreiras projeto de garagens e zonas de circula- Specifications. 7. ed. Estados Uni-
que resistam aos mesmos valores de for- ção de veículos em edifícios. Os valores dos: AASHTO, 2014.
ças horizontais indicadas para este caso. das forças foram definidos com base nas [5] EUROPEAN COMMITTEE FOR STAN-
Pilares adjacentes a vias públicas ou características dos veículos legalmente DARDIZATION (CEN). Eurocode 1:
particulares devem ser verificados para autorizados a circular no território brasi- actions on structures – part 1-1:
as forças horizontais especificadas na leiro, verificando também as prescrições general actions – general actions
Tabela 2. As forças devem ser considera- de normas estrangeiras. Procurou-se fa- - densities, self-weight, imposed
das Excepcionais, conforme a ABNT NBR zer o texto o mais abrangente possível loads for buildings. ENV 1991-1-1.
8681, atuando de forma não concomitan- para o meio técnico, fornecendo infor- Brussels: CEN, 2002.
te conforme indicado na Fig. 5. mações suficientes para o projeto de es- [6] EUROPEAN COMMITTEE FOR STAN-
Os valores das forças da Tabela 2 decres- truturas de edifícios sujeitas ao tráfego DARDIZATION (CEN). Eurocode 1: ac-
cem linearmente com a distância do pilar de veículos. tions on structures – part 1-7: gen-
à via, sendo zero a 10,0 m. Barreiras com eral actions – accidental actions.
altura superior a 50 cm devem resistir às REFERÊNCIAS ENV 1991-1-7. Brussels: CEN, 2006.
forças da Tabela 2 e o pilar não precisa [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR- [7] DENATRAN – Departamento Nacio-
ser verificado, neste caso. MAS TÉCNICAS (ABNT). Cargas para nal de Trânsito. Resolução 210, 2006.
Disponível em: <http://www.denatran.
gov.br/resolucoes.htm>. Acesso em:
12 set. 2016.
ANEXO B (INFORMATIVO)
[8] Presidência da República – Casa Civil
Exemplos de sinalização de garagens
- Brasil. Lei 9.503 - Código de Trân-
e demais áreas de circulação de veí-
sito Brasileiro, 1997. Disponível em:
culos
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L9503.htm>. Acesso em: 12 set.
As figuras a seguir apresentam exemplos
2016.
de placas de sinalização de velocidade
[9] DNIT – Departamento Nacional de In-
máxima permitida e altura máxima per-
fraestrutura de Transportes. Quadro
mitida em garagens e demais áreas de
de fabricantes de veículos, 2012.
circulação de veículos.
Disponível em: <http://www.dnit.gov.
br/download/rodov ias /operacoes-
FIGURA B.1 – -rodoviarias/pesagem/qfv-2012-abril.
EXEMPLOS DE SINALIZAÇÃO –
pdf>. Acesso em: 12 set. 2016.
VELOCIDADE MÁXIMA PERMITIDA
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT). Ações e se-
gurança nas estruturas - Proce-
dimento. NBR 8681. Rio de Janeiro:
ABNT, 2003.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT). Carga móvel
rodoviária e de pedestres em pon-
tes, viadutos, passarelas e outras
estruturas. NBR 7188. Rio de Janeiro:
FIGURA B.2 – EXEMPLOS DE SINALIZAÇÃO – ALTURA MÁXIMA PERMITIDA
ABNT, 2013.

59
APRENDENDO COM O ERRO | PROJETO DE ESTRUTURAS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

O PROJETO
ARQUITETÔNICO PODE
PREJUDICAR O PROJETO
DE ESTRUTURAS EM
SITUAÇÃO DE INCÊNDIO
COLABORAÇÃO: VALDIR PIGNATTA E SILVA
SÃO PAULO, SP – JUNHO, 2015 “Uma pessoa inteligente aprende com os seus protendido, estruturas de aço, patologia
erros, uma pessoa sábia aprende com os er- das estruturas. Abordam problemas de
ros dos outros”, escreveu o psiquiatra e escri- estruturas sob ações estáticas, dinâmicas
tor Augusto Cury, contrapondo-se ao pensa- e situações de incêndio. Falam das edi-
mento de Otto van Bismarck: “Os tolos dizem ficações, das pontes, das adutoras, dos
que aprendem com os seus próprios erros; eu reservatórios, da chaminé de equilíbrio,
prefiro aprender com os erros dos outros”. dos muros, da proteção costeira. Os casos
Ambos, no entanto, reconhecem que os referem-se à fissuração exagerada, à de-
erros cometidos, por nós mesmos ou por formações inconvenientes, à corrosão, à
outros, podem nos servir de proveitosa li- vibrações excessivas e ao colapso.
ção. A condição necessária para que isso Os coautores impõem seu próprio estilo
aconteça é que nos aproximemos deles de linguagem, de narrativa e diversificam
com humildade, convencidos de que errar o formato do texto, impedindo assim que
é humano e, por isso, eles estão sempre a leitura se torne monótona ao passar de
presentes em todas as nossas atividades. um caso para outro.
Os engenheiros que se uniram para escre- Todos os coautores desejam que essa co-
ver essa coletânea de casos, em que apren- letânea de casos, rica em ensinamentos,
demos com erros dos outros, não são nem tenha divulgação tão ampla quanto as vir-
sábios nem tolos, mas apenas conscientes tudes que contém. Essa divulgação é livre,
de que uma experiência adquirida, se parti- mas deverá ser sempre gratuita. Se alguma
lhada por muitos colegas, elevará a compe- instituição desejar editar esse trabalho,
tência coletiva de sua profissão. está autorizada a fazer, desde que mante-
São ao todo 27 coautores engenheiros a nha integralmente a coletânea como está
relatar 50 casos distintos, que pontificam, e sem auferir benefícios financeiros. Se al-
justamente, por sua diversidade de assun- guém desejar divulgar casos isolados que o
tos e de estilos. Os assuntos permeiam por faça, desde que forneça a referência.
erros em diversas áreas de conhecimento:
geotecnia, concreto armado, concreto Boa leitura e bom aprendizado.

60 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


INTRODUÇÃO
Segundo a legislação brasileira,
um edifício de múltiplos andares
com mais de 12 m de altura deve
ser compartimentado vertical-
mente, a fim de que não haja
propagação de um andar para o
imediatamente superior.
A compartimentação de uma
edificação é um dos principais
meios de segurança contra in-
cêndio. Compartimento é a
edificação ou parte dela, com-
preendendo um ou mais cômo-
dos, espaços ou pavimentos, FIGURA 24.1 - RECUO NA FACHADA DE UM EDIFÍCIO ALTO - SOLUÇÃO INCORRETA
construídos para evitar a pro-
pagação do incêndio de dentro
para fora de seus limites, incluindo a O CASO perior, significa quebra de compartimen-
propagação entre edifícios adjacentes, O caso tem por base um fato real, adap- tação vertical.
quando aplicável. tado, neste texto, por razões didáticas.
Algumas medidas devem ser tomadas Às vezes nota-se que o arquiteto tenta CAUSAS
para que um pavimento seja um com- garantir a compartimentação vertical, Apesar de constar em nossa legislação
partimento. Por exemplo: lajes com es- mas comete algum lapso. Por exemplo, que o projeto deve ser detalhado de
pessura superior àquela que permite a na Figura 24.1 nota-se um recuo criado forma a considerar a segurança à vida
passagem de calor para o andar superior, na fachada dos andares mais altos de um em incêndio, os arquitetos, assim como
distância vertical entre janelas (parapei- edifício. Tal espaço é fechado frontalmen- a maioria dos engenheiros, não têm em
to mais verga) no mínimo igual a 1,20 m, te com vidro e pela continuidade da laje seu currículo escolar uma disciplina so-
porta corta fogo para acesso à escada de concreto na cobertura. bre segurança contra incêndio. Eles de-
de emergência, todo e qualquer orifício Mesmo que a dimensão do parapeito vem ser autodidatas, mas há pouca lite-
ou abertura que interligue dois andares mais verga respeite os 1,20 m, as janelas ratura nacional a respeito do assunto.
deve ser fechado por selantes etc. após se quebrarem tornam-se painéis Os projetos arquitetônicos deveriam ser
Vários dos procedimentos adotados radiantes, aquecendo andares através da verificados por um arquiteto especiali-
para a verificação das estruturas em fachada frontal à emitente, podendo criar zado em segurança contra incêndio. São
situação de incêndio têm por hipótese novos focos de incêndio. As fachadas pa- poucos, mas existem.
que os edifícios sejam compartimen- ralelas desse recuo devem ser separadas
tados verticalmente. O projeto de ar- por uma distância, indicada na Figura SOLUÇÃO
quitetura tem que garantir que haja tal 24.1, mínima, a fim de evitar a propaga- A distância indicada na Figura 24.1 pode
compartimentação, caso contrário, a se- ção. A propagação, via fachada, de um ser verificada por meio de um procedi-
gurança das estruturas será prejudicada andar para o mesmo andar, nem sempre mento detalhado na Instrução Técnica 7
em incêndio. é preocupante, mas, para um andar su- do CBPMESP (no caso do Estado de São
Paulo) que tem por base a NFPA
80A “Recommended Practice for
Protection of Buildings from Ex-
terior Fire Exposures”. USA, 1996.
Mesmo que essa distância seja
respeitada, a eventual fumaça
decorrente de um incêndio não
tem como ir para a atmosfera,
pois o “átrio” é totalmente fecha-
do, o que beneficia a propagação
para os pavimentos superiores.
Haverá, portanto, quebra de
compartimentação vertical, no
que diz respeito à fumaça, dos
pavimentos que circundam o re-
cuo. Foi necessário substituir a
laje superior por um pergolado,
FIGURA 24.2 - RECUO NA FACHADA DE UM EDIFÍCIO ALTO - SOLUÇÃO CORRETA
como visto na Figura 24.2.

61
MUSEU DO PROJETO | CLUBE XV

CLUBE XV
DE SANTOS

O
POR MARIO FRANCO, s arquitetos Pedro Paulo Sa- os pórticos, lajes de 7cm com 2,50m de
DA JKMF ENGENHEIROS CIVIS
raiva e Francisco Petracco, vão. Apoios articulados sobre coxins de
vencedores do Concurso de neoprene (uma novidade na época). To-
Arquitetura para a construção dos os pórticos (exceto os externos) te-
das instalações do Clube XV, em Santos, riam imensas aberturas, como mostra
procuraram-me, em 1961, para ver se o corte. O Clube se desenvolveria assim
a estrutura que haviam imaginado se- em 3 pisos, com área construída total de
ria viável. Ela consistiria de 15 pórticos 7000m².
paralelos de concreto armado, muito fi- A estrutura não era nada convencional, e
nos (15cm) e altos, distanciados 2,50m na época só tínhamos, para analisá-la, a
um do outro. Teriam um vão central de régua de cálculo e uma máquina elétrica
33m e grandes balanços de 11m. Entre FACIT. Os primeiros grandes programas

62 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


matriciais (STRESS) ainda não existiam. ques diferenciais entre apoios indicava a para dar lugar a um complexo hoteleiro,
Foi preciso, portanto, inventar um mode- necessidade de uma estrutura isostáti- ficando as instalações do antigo clube
lo analítico que pudesse ser desenvolvido ca, apoiada em rótulas de neoprene. Na restrito a alguns andares. É um exemplo
com as ferramentas disponíveis. Conse- região dos apoios, os finos pórticos se da possibilidade de se dimensionarem
guimos fazê-lo, conforme pode ser visua- alargavam numa configuração em “dia- estruturas complexas com ferramentas
lizado na reprodução de alguns cálculos, mante”, de modo a distribuir as cargas simples, usando a intuição e a criativida-
e concluímos que a estrutura seria viável, concentrada aos apoios. A construção foi de como instrumentos adicionais (e in-
tal como fora concebida pelos arquitetos. outro grande desafio, devido à esbeltes dispensáveis). Hoje a estrutura poderia
Logo desenvolvemos o projeto executivo, dos pórticos, em concreto aparente. ser calculada mais rapidamente e com
com fundação direta e estrutura conven- O edifício original do Clube XV sobre- maior precisão, mas não seria nem me-
cional. Devido ao tipo de fundação e do viveu muito bem durante cerca de 40 lhor nem mais econômica do que a origi-
solo de Santos, a possibilidade de recal- anos. Mas, infelizmente, foi demolido nal dos anos 60.

63
ESPAÇO ABERTO | CBCA

PROTEÇÃO
CONTRA FOGO
E CORROSÃO
ESTRUTURAS METÁLICAS DEVEM SE PREVENIR
PINTURA E GALVANIZAÇÃO POR IMERSÃO A
CONTRA O FENÔMENO NATURAL DA CORROSÃO QUENTE SÃO OS MÉTODOS MAIS ADOTADOS DE
E CONTRA OS INDESEJÁVEIS INCÊNDIOS PROTEÇÃO CONTRA CORROSÃO

P
ara minimizar riscos contra a vida Já a tinta intumescente, quando submeti- poliuretânica é a tinta recomendada para
e ao patrimônio, todo projeto de da a altas temperaturas, aumenta de vo- estruturas em ambientes externos.
edificação deve prever sua segu- lume e forma uma espuma rígida, retar- A aderência é importante pois, se houver
rança contra incêndio. O sistema dando o efeito do calor sobre o aço. Essa qualquer corrosão (por falha na película
de segurança é uma combinação de pro- tinta precisa de uma aplicação de primer ou danos durante a vida útil da estrutura),
teção ativa (detecção de calor ou fumaça, para proteger a estrutura contra corro- sua ação restringe o movimento da corro-
chuveiros automáticos, entre outros) e são e garantir aderência do material. são, que deixa de avançar. E a boa flexibi-
proteção passiva (resistência ao fogo das lidade da tinta deve acompanhar toda sua
estruturas, compartimentação, saídas PROTEÇÃO À CORROSÃO vida útil, acompanhando os movimentos
de emergência, entre outras). Os mate- Corrosão é o fenômeno natural de dete- de dilatação e contração da base, sem fis-
riais de proteção contra fogo impedem o rioração de um material, geralmente um surar ou trincar. Outro processo de prote-
aumento excessivo da temperatura dos metal, resultante de reações químicas ção contra a corrosão é a galvanização a
componentes metálicos. ou eletroquímicas com seu ambiente. quente (ou a fogo). Trata-se de um reves-
Eles devem apresentar baixa massa es- Pode-se dizer que as substâncias fun- timento de sacrifício feito de zinco sobre
pecífica aparente, baixa condutividade damentais na corrosão do aço carbono um componente de aço ou ferro fundido.
térmica, alto calor específico, resistên- são a água e o oxigênio, presentes na no Um grande diferencial é que as pequenas
cia mecânica adequada, garantia de in- ar atmosférico e na umidade relativa do áreas danificadas não necessitam de reto-
tegridade durante evolução do incêndio ar. Os dois métodos mais adotados para ques e não sofrem corrosão. Além disso,
e, claro, custo compatível. Atualmente, proteção de estruturas de aço contra a mesmo que o custo inicial de aplicação seja
a proteção mais utilizada para proteção corrosão são a pintura e a galvanização mais alto que o da pintura, ele gera gastos
de estruturas metálicas é a argamassa por imersão a quente (ou a fogo). Uma menores de manutenção ao longo da vida
projetada cimentícia, feita de gesso, das vantagens da pintura é sua facilidade útil da estrutura. Também é possível unir
agregados minerais, partículas de po- de aplicação e de manutenção. os dois sistemas, sendo que o tempo total
liestireno, celulose e água. Ela deve ser O que se deve atentar nas tintas anticor- de proteção é maior que a soma dos tem-
aplicada de forma homogênea e contí- rosivas são suas características de imper- pos de cada sistema individualmente.
nua, de forma a trabalhar monolitica- meabilidade, aderência e flexibilidade.
mente com a estrutura e acompanhar Quanto menor a permeabilidade da tinta, REFERÊNCIAS
seus movimentos sem fissuras ou des- maior é sua durabilidade, pois os agen- • Série Manuais de Construção em Aço,
prendimento. tes corrosivos ficam afastados do metal. publicados pelo CBCA:
Também existe a placa rígida pré-fabri- Pode-se classificar as tintas, das mais – Projeto e Durabilidade
cada, geralmente composta de materiais permeáveis às de menor permeabilida- – Tratamento de Superfície e Pintura
fibrosos, vermiculita, gesso e suas com- de, a partir das alquídicas, seguidas das – Resistência ao Fogo das Estruturas de
binações. Elas são fixadas na estrutura e epoxídicas e por último as poliuretânicas, Aço
possibilitam acabamentos diversos. as duas últimas bicomponentes. Assim, a www.cbca-acobrasil.org.br

64 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


ESPAÇO BIM | O BIM COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS PROJETOS DE ENGENHARIA E A ARQUITETURA

O BIM COMO ELO DE


LIGAÇÃO ENTRE OS
PROJETOS DE ENGENHARIA
E A ARQUITETURA
1. O PROCESSO GERAL cas para chegar ao anteprojeto com um
DO TRABALHO modelo contendo soluções para quase
todos os problemas que poderiam surgir
COLABORATIVO EM BIM adiante.
O processo de trabalho colaborativo e Antes dos trabalhos começarem, inves-
multidisciplinar foi o grande diferencial timos um bom tempo para a criação de
do projeto que fizemos para o BID, por um padrão de trabalho entre todos os
demanda da Secretaria de Infraestrutura escritórios. A definição de uma metodo-
de Manaus, se comparado a outros que logia de trabalho que contasse com con-
ALEXANDER JUSTI acontecem no Brasil. O modo de traba- trole de nomenclatura de arquivos, dire-
ARQUITETO E
lhar foi bastante diferente do tradicional, tórios e revisões. Foi também criado um
URBANISTA
onde a tecnologia BIM foi o elemento de documento de padrão de representação
união entre todos os envolvidos. gráfica e checklist de projetos. Além disso,
De antemão, escritórios diferentes em padrões de pranchas, carimbos e de se-
estados diferentes, só tinham uma ma- tagem de impressão, para que todos pu-
neira de trabalhar que não fosse a pre- dessem trabalhar de forma harmônica.
sencial. As reuniões por videoconferên- Dentro desse padrão, foi organizado
cia e mensagens de discussão de projeto como o modelo federado (conjunto) iria
através de aplicativos específicos manti- ser feito e controlado. Um gráfico foi
nham os projetos sendo trabalhados de criado para apresentar as ligações dos
forma conjunta. Além disso, servidores arquivos de referência externa e seus
FLÁVIO GAIGA
ENGENHEIRO CIVIL de arquivos compartilhados na rede tam- responsáveis. Dessa maneira, ficou mais
bém foram de grande ajuda no processo. fácil de controlar o modelo para mantê-lo
Após esse trabalho, tivemos tempo de atualizado.
analisar outras soluções de colaboração A arquitetura passou a não ser mais
e de servidor de arquivos. Para próximos mandatária do projeto. As discussões
trabalhos, novas soluções serão colo- conjuntas com as engenharias faziam a
cadas em prática a fim de facilitar ainda arquitetura se adaptar para atender a
mais a colaboração dessa grande equipe todas as demandas. O desenvolvimento
que contou com mais de 20 profissionais. do projeto estrutural (concreto armado e
Desde o início dos trabalhos, ainda du- estrutura metálica) propunham as princi-
DIONÍSIO AUGUSTO
rante os Estudos preliminares de arqui- pais modificações, buscando as melho-
AMERICANO DE
NEVES E SOUZA tetura, todos os engenheiros envolvidos res soluções conjuntas. O trabalho em
ENGENHEIRO CIVIL já externavam suas opiniões, críticas e di- cima de um modelo tridimensional fede-

65
ESPAÇO BIM | O BIM COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS PROJETOS DE ENGENHARIA E A ARQUITETURA

rado permitia a visualização de todos as


interferências, permitindo soluções mais
rápidas e com a participação de todos.
Por ter sido trabalhado com tecnologia
BIM, a interoperabilidade se fez presente
do início ao fim: a arquitetura trabalhan-
do com o Revit e as engenharias de estru-
tura trabalhando com Revit, TQS e Strap.
O processo de compatibilização acon-
teceu através do software Autodesk Na-
visworks. Por ele ser um software mul-
tiplataforma, aceitando modelos 3D de
diversos softwares diferentes, foi possí-
vel fazer reuniões por videoconferência
frequentes com todos os envolvidos a fim
de discutir os ajustes finais do modelo.
Com o modelo federado sendo transmitido
em tempo real pela internet, as interferên-
cias que eram encontradas pelo software
eram discutidas e analisadas para definição
de uma solução imediata, não se perdendo
tempo para que cada projetista levasse o
problema para seu escritório e analisa-se
em outro momento, podendo ter que de-
pender de outro projetista para a solução
final. As decisões eram tomadas imedia-
tamente, já aprovadas por todos, e então
estabelecíamos o prazo (bem curto) para
que os projetos pudessem ser corrigidos e
nova reunião de compatibilização pudesse
ser realizada.
Esse processo poupou bastante tempo
do projeto total, visto que o prazo era
muito curto para entrega ao cliente. jetista se concentrasse em finalizar dese- O próximo passo foi vincular o planejamen-
Outra vantagem do uso dessa tecnolo- nhos, detalhes e memoriais. to de obra executado em softwares como
gia foi a velocidade que tivemos para a Com o projeto finalizado, passamos a ter o MS Project, Primavera e até mesmo no
criação do projeto executivo, visto que as um modelo federado que concentrava Microsoft Excel, aplicando as tarefas e tem-
definições de todos os projetos já tinham todas as informações de todos os proje- pos de execução aos elementos do mode-
sido tomadas, era bastante que cada pro- tos em único local. lo federado para representar, através de
um vídeo, a sequência da construção.
O ideal é que ainda exista a modelagem
de elementos que não fazem parte do
projeto, mas que fazem parte da obra e
que possam ser animados em conjunto,
tais como, andaimes, gruas, formas, ca-
minhões, canteiro, etc.
Com isso, o gerente da construção po-
derá avaliar, com mais exatidão todo o
processo de construção, facilitando o en-
tendimento e até mesmo a transmissão
das informações para os encarregados e
toda a equipe de obra.
Outro fator importante que pudemos
colocar em pratica foi o vínculo de có-
digos de composição de orçamentos ao
modelo federado. Dessa maneira, visto
FIGURA 1.1 – COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE DISCIPLINAS NO AUTODESK NAVISWORKS – que os softwares geram quantitativos,
SOFTWARE MULTIPLATAFORMA
pudemos parametrizar os elementos

66 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


tem ligar uma tabela como a do SINAPI
aos elementos do modelo.
Estamos trabalhando atualmente na vin-
culação de banco de dados de insumos
próprio de nossos parceiros, e automa-
tizando os processos de nosso planeja-
mento e orçamentação.

2. O FLUXO DE TRABALHO
DO PROJETO DE ESTRUTURA
METÁLICA EM BIM
O processo de produção do projeto de
estrutura metálica iniciou com o estudo
e interpretação dos projetos das demais
disciplinas envolvidas, após as etapas
de reuniões virtuais e estudo do mode-
lo conjunto com as demais disciplinas,
seguindo-se pela elaboração de um mo-
FIGURA 1.2 – EMISSÃO DE RELATÓRIOS ALERTANDO INTERFERÊNCIAS ENTRE delo em três dimensões composto por li-
AS DISCIPLINAS DE PROJETO
nhas (unifilar) que é produzido utilizando
software de desenho assistido por com-
putador (AutoCad®), modelo este que foi
utilizado tanto para desenvolvimento do
estudo preliminar (utilizando o conceito
BIM através do software Revit®), quanto
para análise de esforços e dimensiona-
mento das estruturas utilizando o soft-
ware Strap®, sendo que estes softwares
permitem a total interação entre si, evi-
tando assim duplicidade de trabalho,
pois um só modelo atende tanto a fase
preliminar do projeto quanto a fase de
dimensionamento da estrutura. Já nesta
etapa inicial é possível que seja emitido
um documento prévio de reações de
apoio da estrutura, o qual é emitido já
nas pranchas do Estudo Preliminar.
Depois de finalizadas as etapas iniciais
de aprovação, que aconteceram em am-
bientes virtuais colaborativos, o modelo
é dimensionado, validando ou modifican-
do os estudos iniciais, seguindo todos os
critérios de normas vigentes. Nesta etapa
foram emitidas reações definitivas, além
FIGURA 1.3 – VINCULAÇÃO ENTRE BANCO DE DADOS COM INFORMAÇÕES DO PROJETO E do projeto da fase executiva, onde são
CÓDIGOS EXTERNOS (COMO O SINAPI) geradas as listas de materiais para a obra.
Com a utilização da plataforma BIM se tor-
do modelo a fim de que recebam esses
códigos e gerem tabelas completas de
orçamento, contabilizando recursos hu-
manos, impostos, etc.
Existem algumas maneiras de fazer esse
vínculo dos códigos de composição, sen-
do que algumas são mais fáceis que as
outras. Algumas demandam de um pro-
cesso de alimentação de dados manual
FIGURA 1 – INDICAÇÃO DOS NÓS FIGURA 2 – TABELA DE REAÇÕES
e outras, via aplicações externas, permi-

67
ESPAÇO BIM | O BIM COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS PROJETOS DE ENGENHARIA E A ARQUITETURA

Ilustramos abaixo o processo de produção inicial utilizado no projeto: na automática a geração de tais listas atra-
vés de “tags” atribuídas a cada perfil, o que
acelerou o processo de produção. Antes
da utilização do BIM tais listas eram levan-
tadas manualmente, levando até dias para
ficarem prontas, dependendo do porte da
obra, além de serem revistas diversas ve-
zes para que não ocorressem erros.
Na fase de projeto executivo além da lista
de materiais contemplou-se também os
chumbadores da estrutura (ligação dos
perfis metálicos com os elementos de con-
creto). A primeira fase deste processo foi
o dimensionamento dos elementos desta
ligação. Depois de dimensionados todo
processo é automatizado utilizando-se o
Revit® com templates previamente configu-
rados para que as vistas correspondentes
se adequem a parâmetros estabelecidos
na vista em três dimensões. Facilitando
assim o detalhamento que anteriormen-
te era feito manualmente no software de
desenho assistido por computador (Auto-
Cad®), para que se possa cumprir a repre-
sentação gráfica 2D exigida normalmente
FIGURA 2.3 – PROCESSO INICIAL DO PROJETO
pelos processos executivos das obras.

FIGURA 2.4 – LEGENDA DE PERFIS COM “TAGS” PARA LEVANTAMENTO DA FIGURA 2.5 – LISTA DE MATERIAIS LEVANTADA AUTOMATICAMENTE
LISTA DE MATERIAIS PELO SOFTWARE REVIT®

FIGURA 2.6 – PARÂMETROS PREVIAMENTE CONFIGURADOS FIGURA 2.7 – DETALHE 3D GERADO E RESPECTIVAS VISTAS FRONTAL E LATERAL

68 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


FLUXOGRAMA DE PROJETO – ESTRUTURA METÁLICA colocada em cópia logo abaixo do papel
transparente (papel “manteiga”, como era
chamado – vegetal de baixa densidade).
Com o CAD e o recurso das layers (cama-
das) este processo ficou mais simples,
pois podemos desenhar as peças estru-
turais em um mesmo ambiente onde a
arquitetura se encontra em segundo
plano e, a qualquer momento podemos
“ligar” ou “desligar” o que queremos vi-
sualizar ou ocultar.
Hoje, a arquitetura recebida em pro-
cesso de projeto utilizando o conceito
BIM, já se encontra em um modelo tri-
dimensional e, assim, a melhor forma
de lançar a estrutura é também usar os
mesmos recursos, criando um antepro-
jeto diretamente em terceira dimensão,
pois os programas possuem ferramen-
tas de precisão para facilitar tal fluxo
de trabalho, além de uma infinidade de
possibilidades de visualização e contro-
le do modelo.
O lançamento das peças estruturais
(pilares, vigas, lajes, etc) fica muito faci-
litado pela capacidade de visualização
da arquitetura através de vários tipos
de representações possíveis, como, por
exemplo, em um modelo simplificado
de “linhas em 3D” (Figura 3.1) ou por um
modelo mais sólido e com transparên-
cias em qualquer elemento (paredes,
pisos, etc) - ressaltando as peças estru-
turais (Figura 3.2).
Qualquer nível (pavimento) da edificação
pode ser “visitado” com facilidade, e as-
sim, as interferências entre as disciplinas

3. O FLUXO DE TRABALHO DO
PROJETO ESTRUTURAL DE
CONCRETO ARMADO EM BIM
O processo de criação do projeto estru-
tural começa pelo lançamento das peças
estruturais tendo como base as plantas
de arquitetura.
Este processo, antigamente, era feito
com desenho a lápis em papel transpa-
rente, onde eram lançadas as primeiras
peças estruturais (os pilares) e depois as
demais, tendo como base a planta de ar-
quitetura, normalmente recebida em pa-
pel vegetal desenhada a nanquim ou em
cópia heliográfica.
O papel transparente facilitava a visua-
lização ao mesmo tempo das peças es- FIGURA 3.1 – ESTRUTURA LANÇADA NO REVIT SOBRE ARQUITETURA EM VISUALIZAÇÃO
truturais ali lançadas e a arquitetura, SIMPLIFICADA (LINHAS EM 3D)

69
ESPAÇO BIM | O BIM COMO ELO DE LIGAÇÃO ENTRE OS PROJETOS DE ENGENHARIA E A ARQUITETURA

podem ser visualizadas logo no lança-


mento das peças estruturais.
Após o lançamento das peças estrutu-
rais do anteprojeto estrutural no próprio
Revit, um plugin faz o trabalho de enviar
para o programa de cálculo o modelo (no
nosso caso o TQS - Figuras 3.3 e 3.4).
Já no programa TQS , identificamos as pe-
ças estruturais (numeração), colocamos as
cargas atuantes e demais procedimentos
para validação ou correção do modelo, in-
cluindo os cálculos e detalhamento das ar-
mações das peças estruturais (Figura 3.5). FIGURA 3.2 – MODELO DO CONJUNTO ESTRUTURA/ARQUITETURA COM
TRANSPARÊNCIAS (REVIT)

FIGURA 3.3 – MODELO ESTRUTURAL NO REVIT PRONTO PARA SER EXPORTADO FIGURA 3.4 - MODELO ESTRUTURAL JÁ IMPORTADO NO TQS
PARA O TQS (PROGRAMA DE CÁLCULO)

FIGURA 3.5 – INDENTIFICAÇÃO DAS PEÇAS ESTRUTURAIS E LANÇAMENTO FIGURA 3.6 – IMPORTADO DO TQS O MODELO RECEBE TRATAMENTO
DE CARGAS NO TQS GRÁFICO NO REVIT

70 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


FIGURA 3.7 - MODELO DA ESTRUTURA COMPLETO NO REVIT COM AS INFORMAÇÕES PARA OS DEMAIS PROCESSOS BIM

Logo após a validação do modelo, o TQS,


através do mesmo plugin o envia de volta
ao Revit, para que os acabamentos grá-
ficos nas formas sejam executados (ver
Figura 3.6).
Nesta fase, recebemos o arquivo do TQS,
preparado pelo plugin, através de um tem-
plate que já contém todas as formatações
para as representações gráficas padrões
de nosso escritório, além do tratamento
para os demais parâmetros dos objetos
(peças estruturais) vindas do programa de
cálculo, que são reconhecidas como famí-
lias do Revit (a grande “mágica” do plugin
da TQS), com informações necessárias
para os demais processos BIM (Figura 3.7).
O resultado final, depois de metodologias
semelhantes com todas as demais disci-
FIGURA 3.8 – MODELO RECEBE OS PROJETOS DAS DEMAIS DISCIPLINAS E SÃO ESTUDADAS AS
plinas e não somente entre a estrutura
ÚLTIMAS INTERFERÊNCIAS e a arquitetura é, sem dúvida, impres-
sionante, elevando muito a qualidade do
projeto como um todo, pois as interferên-
cias são todas identificadas em projeto,
sem que se transfiram problemas para a
execução das obras (Figura 3.9).
Os profissionais envolvidos nas diversas
disciplinas, interagem cada vez mais e
passam a incorporar em seus repertó-
rios soluções encontradas por outros
colegas de outras especialidades. Esta foi
uma das partes mais prazerosa em todo
o processo, pois sentimos não só a fan-
tástica evolução das ferramentas de pro-
jeto, mas também a evolução de nosso
próprio conhecimento geral necessário
FIGURA 3.9 – MODELO FINAL CONTENDO TODAS AS DISCIPLINAS E INFORMAÇÕES PERTINENTES aos projetos das edificações.

71
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | CIMBRAMENTO - ACI

CARGAS DE CONSTRUÇÃO
EM LAJES COM FORMAS DE
ESCORAMENTO EM EDIFÍCIOS
MULTIPAVIMENTOS
LANDMARK SERIES
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CONCRETE INTERNATIONAL
DE JULHO DE 2004, A PARTIR DA PÁGINA 99 ATÉ A PÁGINA 112.

N
POR PAUL GRUNDY e A. KABAILA a construção de edifícios multipavimentos, o escoramento de uma laje de
concreto recém concretada é apoiado nos pavimentos inferiores que podem
não ter alcançado sua capacidade de resistência total. Para planejar a melhor
maneira de aplicar essas cargas com segurança, o projetista de formas preci-
sa entender sua magnitude e distribuição. Este artigo de Grundy e Kabaila, publicado
no ACI Journal em dezembro de 1963, foi uma das primeiras a apresentar um método
de análise para essas cargas de construção em edifícios multipavimentos. Nos dias
que antecederam o advento do computador, eram usadas premissas simplificadoras
que permitiam a determinação analítica das cargas de construção quando os pavi-
mentos superiores são escorados nos inferiores. O artigo estimulou os profissionais
a adaptarem ao método e realizarem medições no campo para verificar as cargas
calculadas, dando aos engenheiros e empreiteiros uma maior garantia de segurança
na construção de estruturas com muitos pavimentos e com ciclos rápidos de formas.
Atualmente, embora os computadores nos permitam fazer análises com elevada pre-
cisão teórica, os fatores relacionados com a construção que não podem ser quantifi-
cados levam muitos construtores a confiar no método simplificado, onde os escora-
mentos são posicionados muito próximos uns dos outros, permitindo considerar as
reações como carga distribuída.
Eugene H. Boeke, Jr.
Membro Honorário da ACI

72 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


As cargas de construção em uma es- quatro lajes mais as formas que serão ANÁLISE DE LAJES
trutura de concreto, onde os pavimen- distribuídas entre as três lajes (lajes ‘p-1’,
tos superiores são escorados nos pa- ‘p-2’ e ‘p-3’) de uma maneira que será de-
COM RIGIDEZ CONSTANTE
vimentos inferiores, podem exceder as terminada. À FLEXÃO
cargas de serviço do projeto de manei- Cerca de 5 dias depois, as escoras sob a Voltando ao típico ciclo de construção
ra significativa. Um método para de- laje ‘p-2’ serão removidas (Operação B) e mencionado, com no máximo de três
terminar essas cargas de construção é o peso anterior nesse escoramento será lances de escoramentos (m = 3). Na Fi-
apresentado para lajes lisas ou cogu- distribuída entre as Lajes ‘p’ (5 dias) ‘p-1’ gura 1, as cargas aplicadas pelas esco-
melo. É discutido também o efeito do (12 dias, e ‘p-2’ (19 dias). ras e pelas lajes são expressas como
escoramento de diferentes números As formas, que pesam cerca de 10% da fatores pelos quais o peso próprio mais
de pavimentos e o efeito das cargas no laje que elas suportam, são incluídas no a forma devem ser multiplicados. Esse
projeto. peso da laje. O transporte da forma de fator é denominado como o índice da
Palavras-chaves: Carga de construção; um nível a outro tem apenas um peque- carga. Até a forma “sair do chão” todas
deformações; projeto; laje cogumelo; no efeito nas cargas dos escoramentos as cargas são transmitidas através dos
formas; edifício multipavimentos; esco- acima daquele especificado nas Opera- escoramentos para a fundação rígida,
ramento. ções A e B. E não tem qualquer efeito nas como é indicado pela condição de 21
cargas suportadas pelas lajes, estando dias na Figura 1. Aos 26 dias, o peso do
Na construção de edifícios multipavi- de acordo com a principal premissa de escoramento (3.0) é distribuído igual-
mentos em concreto armado, a prática simplificação desta análise. mente entre as lajes dos Níveis 1, 2 e 3.
usual é escorar o pavimento recém con- Esta premissa é que os escoramentos Aos 28 dias o peso da laje no nível 4 (1.0)
cretado em diversos pavimentos con- são infinitamente rígidos em compa- é distribuído igualmente entre as lajes
cretados. As cargas de construção nos ração com as lajes no deslocamento dos níveis 1, 2 e 3. Aos 33 dias o peso
pavimentos de apoio podem exceder as vertical. Para as escoras de aço isso do escoramento no nível 1 (0,33) é dis-
cargas das condições de serviço. Essas é perfeitamente justificado, pois o tribuída igualmente entre as lajes dos
cargas dependem da sequência da exe- encurtamento da escora submetido níveis 2, 3 e 4, e assim por diante.
cução e não podem ser determinadas a uma carga unitária é significativa- A análise mostra que os índices de carga
por ensaios. mente menor em comparação com a máxima ocorrem em todos os estágios
Neste artigo, as cargas da edificação se- deformação de uma laje recebendo a na laje no nível 3, a última laje concretada
rão determinadas analiticamente, com mesma carga, exceto por uma peque- antes das escoras do nível do solo serem
referência particular a lajes lisas ou co- na região na cabeça dos pilares. As es- removidas, antes da remoção dos esco-
gumelo. Será demonstrado que com al- coras de madeira tem uma flexibilidade ramentos no nível do solo. O índice máxi-
gumas premissas simplificadoras, que suficientemente grande para modificar mo absoluto da carga foi 2,36 aos 42 dias.
não deverão afetar significativamente o significativamente a distribuição da
resultado final, essa análise é muito sa- carga entre as lajes, mas os resultados
tisfatória. de escoramentos rígidos permanecem Paul Grundy é um engenheiro proje-
São discutidos também o efeito da quan- esclarecedores e, é obtido, na reali- tista da Hardcastle & Richards, uma
tidade de pavimentos escorados e o efei- dade, um indicador conservador das empresa de consultoria estrutural e
to das cargas da construção no projeto. cargas. O comportamento dos escora- engenheiros civis de Melbourne, Austrá-
mentos de madeira e as complicações lia. No momento em que este paper foi
DESCRIÇÃO matemáticas da interação da rigidez da redigida, o Dr. Grundy era engenheiro
laje com a rigidez do escoramento fo- da Victorian Branch of Civil and Civic
DA SEQUÊNCIA DA ram tratados mais detalhadamente por Pty., Limitada, de Melbourne. Em 1959
CONSTRUÇÃO Neilson. ¹ ele obteve o diploma de MS da Univer-
Em um ciclo típico de construção existem Há também a premissa de que o espa- sidade de Melbourne por sua pesquisa
duas operações alternadas que contro- çamento entre as escoras é suficiente- sobre a resistência última de estruturas
lam as cargas que são aplicadas nas lajes: mente pequeno para que suas reações trianguladas de aço. Recebeu seu PhD
sejam consideradas como carga distri- por suas pesquisas sobre estruturas em
1. A concretagem de uma nova laje, e buída. Com escoramentos rígidos, to- Cambridge, Inglaterra.
2. A remoção do último lance de escora- das as lajes conectadas por eles apre-
mento. sentam uma deformação idêntica. Uma A.Kabaila é um professor universitá-
carga aplicada ao sistema é, portanto, rio, Departamento de Engenharia Civil
Por exemplo, uma obra típica que sobe distribuída entre as lajes proporcional- da Universidade de New South Wales,
um pavimento por semana e que traba- mente à rigidez relativa à flexão. Para em Sydney. Antes de assumir seu cargo
lhe com no máximo três lances de esco- demonstrar a análise, a rigidez a flexão atual, o Professor Kabaila foi engenhei-
ramentos, terá, no dia em que a laje do será assumida constante para todas as ro chefe da Victorian Branch of Civil and
nível ‘p’ for concretada (Operação A), es- lajes, e o efeito da rigidez à flexão au- Civic Pty., Limitada, de Melbourne, e
coras posicionadas sob as lajes ‘p’ (0 dia), mentando com o passar do tempo será antes dessa nomeação foi professor no
‘p-1’ (7 dias), e ‘p-2’ (14 dias) e a carga das considerado posteriormente.

73
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | CIMBRAMENTO - ACI

Royal Melbourne Technical College. O


professor Kabaila fez o seu mestrado na
University of New South Wales por seu
trabalho sobre placas dobradas. Este
paper foi redigido enquanto o professor
Kabaila trabalhava na Victorian Branch
of Civil and Civic Pty.

Acima do nível 4 as cargas convergiram


para o ciclo mostrado no final da Figura
1, com um fator de carga máxima de 2.00
na laje inferior após 21 dias.
Se a análise for repetida com o uso de
dois ou quatro níveis de escoramentos
(m = 2 ou 4), resultados mostram que a
carga máxima é sempre aplicada pela
última laje recém concretada antes da
remoção das escoras ao nível do solo. todos os aumentos de carga sendo
Quando m = 2, o fator máximo absoluto distribuídos igualmente entre as la-
é de 2,25 em 14 dias, e quando m = 4 o jes endurecidas, é mais realista dis-
máximo absoluto é de 2,43 em 28 dias. tribuir as cargas entre as lajes pro-
Em cada caso (na verdade, para qual- porcionalmente às suas rigidezes,
quer número de pisos escorados) as que são consideradas como sendo
cargas convergem em um ciclo no qual proporcionais a Ec.
a laje inferior do sistema escorado tem São necessários dois conjuntos de
um índice de carga de 2,00, que é alcan- fatores de distribuição. No que se
çado por incrementos iguais para cada refere ao procedimento típico da
Operação A e B. construção (m = 3), na Operação A
A partir desta análise fica evidente que o as lajes tem 0, 7, 14 e 21 dias e na
aumento no número de pisos escorados Operação B as lajes têm 5, 12 e 19
não implica em qualquer redução na mé- dias. Usando os valores de Ec indica-
dia das cargas máximas de construção so- mais rapidamente e depois disso é mais dos na Figura 3, os fatores de distribuição
bre as lajes. Na verdade, a carga máxima constante que fc’. são 0, 0,31, 0,34 e 0,35 para a Operação A
absoluta aumenta com um número maior A rigidez à flexão de uma seção não fis- e 0,293, 0,343 e 0,364 para a Operação B.
de pisos escorados. No entanto, a idade surada é levemente afetada pela porcen- Para Ec constante todos esses fatores de
da laje em que esses máximos ocorrem tagem de aço, e pode ser avaliada nessa distribuição foram 0,333.
também aumenta, assim o aumento da análise como sendo diretamente propor- A análise com esses fatores é mostrada na
resistência do concreto pode muito bem cional a Ec. As áreas em que as lajes pla- Figura 2, e pode-se notar que os índices de
compensar a carga extra como uma con- nas têm probabilidade de fissurar estão carga obtidos não diferem excessivamen-
sideração do projeto. localizadas nas regiões de seção crítica e te daquelas obtidas para lajes com rigidez
próximo aos pilares. Embora a análise an- constante. No caso de Ec constante, as
ANÁLISE DE LAJES terior tenha usado um módulo de elastici- lajes com cargas mais pesadas permane-
COM VARIAÇÃO DA dade constante para todas as lajes e com cem as últimas a serem carregadas antes

RIGIDEZ
À FLEXÃO
Na prática, o módulo de
elasticidade do concreto
Ec aumenta com a idade
bem como a resistência
do concreto fc´, embora
este aumento seja em uma
proporção diferente. Os
gráficos típicos de Ec e fc’
para valores aos 28 dias
são mostrados na Figura
3, onde o Ec se desenvolve

74 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


de uma falha na
flexão. O desen-
volvimento do
momento plástico
total na laje, que
permite o uso da
teoria da linha
de rendimento
na análise da re-
sistência última
das lajes, permite
também a redis-
da remoção dos escoramentos no nível do no serviço, o que normalmente acontecerá tribuição de cargas por meio do sistema
solo. Como vimos anteriormente, as cargas é que as cargas de construção são críticas de escoramentos. Antes da ocorrência de
convergem para um ciclo regular. A mesma em todos os aspectos do projeto da laje. um colapso na Operação A, a carga de la-
afirmação é válida para outros valores de m. Por exemplo, uma laje de 25 cm em um jes m + 1 é, portanto, distribuída entre as
edifício corporativo que usa três lances de lajes m, proporcionalmente às suas resis-
COMPARAÇÃO DE CARGAS escoramento na construção, terá cargas tências disponíveis. Essa discussão levaria
de construção e de serviço (consulte a Ta- a uma distribuição de carga mais favorável
DE CONSTRUÇÃO bela 1). em relação àquela resultante da teoria da
COM CARGAS DE SERVIÇO Se a laje tivesse somente uma espessura de elasticidade. Se a vantagem dessas consi-
Para explorar as implicações desta aná- 15 cm, as cargas de serviço seriam maiores derações da resistência última fosse consi-
lise em termos de projeto e construção que as cargas de construção, e não seria ne- derada, as deformações poderiam tornar-
é mais conveniente seguir o histórico de cessário estabelecer uma tolerância para as -se excessivas. A questão das deformações
carregamento das lajes individuais. Na cargas de construção no projeto. é amplamente discutida na próxima seção.
Figura 4 é apresentado para a laje mais A pergunta que surge é a seguinte: Que to- A redistribuição da carga elástica não
carregada, bem como a solução média lerâncias deveriam ser estabelecidas para pode ser confiada no que se se refere à
ou convergente para os três procedimen- as cargas de construção, se elas excedes- resistência à cortante (cisalhamento) da
tos de construção, com m = 2, 3 e 4. sem as cargas subsequentes no serviço? laje. As deformações por cisalhamento
Ao verificar o histórico de carga fica evi- A resposta é que é necessário separar as são pequenas em comparação com as
dente que o índice de carga máxima para duas principais exigências que a estrutura deformações resultantes das flexões e
qualquer laje ficará, inevitavelmente, en- deve satisfazer durante a construção. Tais a falha por cortante pode ocorrer antes
tre 2,0 e 2,5. Neilson¹ obteve relações de exigências são as mesmas para qualquer que seja atingida a resistência à flexão
cargas máximas teóricas de 2,66 para m idade da estrutura, ou seja, uma margem última com a distribuição da carga asso-
= 2 e 2,31 para m = 3, usando rigidez das adequada de segurança e deformação ciada. Considerações similares sobre a
escoras determinadas experimentalmen- permanentes dentro de limites aceitáveis. resistência ao cisalhamento aplicam-se à
te para escoras de madeira. É esperado resistência à aderência.
que com a introdução de escoramentos CONSIDERAÇÕES DO As tensões ao cisalhamento e à aderên-
flexíveis pode se reduzir o índice da carga PROJETO cia na construção devem ser conside-
máxima. A discrepância deve-se à varia- Embora a razão de carga obtida por uma radas juntamente com as resistências
ção muito ampla de Ec, o que não está análise elástica seja de certa forma maior à cortante e à aderência disponíveis no
de acordo com o resultado experimental. que 2,0, uma distribuição de carga dife- concreto com menos de 28 dias. Conside-
Em testes reais em um edifício multipa- rente deveria ser feita antes da ocorrência rando que essas resistências variam com
vimentos em construção,
com um ciclo de laje de
14 dias e um sistema de
escoramento de madeira
correspondente a m = 2, a
máxima relação de carga
observada nos dois pri-
meiros níveis foi 2,08.
O principal efeito do aumen-
to do valor de m é aumentar
a idade da laje na qual essa
carga máxima é aplicada. Se
o peso próprio da laje for
uma fração alta da carga to-
tal que a laje deve suportar

75
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | CIMBRAMENTO - ACI

a raiz quadrada de fc’, desenvolvem-se tes. Consequentemente, é intuitivo dizer redução exige uma verificação experi-
mais rapidamente do que a resistência à que a estrutura irá apresentar menos de- mental antes que isso aconteça.
compressão nos primeiros dias, e as re- formação se mais lajes forem escoradas,
duções da resistência não são grandes. como confirmado teoricamente, embora FORÇAS DE
Vê-se a partir da discussão acima, que os ganhos não sejam tão grandes quanto ESCORAMENTO
o cisalhamento e a aderência durante a poderiam ter sido esperados.
construção serão fatores críticos em mui- Embora os escoramentos sejam apoia-
tos projetos de lajes. OUTROS FATORES dos em fundações rígidas, eles suportam
A fluência é um componente impor- toda a estrutura. Assim sendo, as forças
DEFORMAÇÕES DURANTE A tante da deformação total da laje, bem de escoramento podem ser prontamente
CONSTRUÇÃO como o meio de redistribuição da car- calculadas a partir das cargas suportadas
A estimativa quantitativa das deforma- ga, quando as tensões locais forem al- pelas lajes. Uma inspeção dos três siste-
ções durante a construção é incerta por- tas. Ainda não está claro, mas está sen- mas de construção revela que a carga
que as taxas de fluência no concreto nos do pesquisado como a taxa de fluência máxima transmitida por um nível de es-
primeiros dias permanecem indetermi- do concreto nos primeiros dias com- coramento quando m = 2 é 1,24 vezes o
nadas em sua maior parte. É verdade que para-se com concreto aos 28 dias. Od- peso próprio de uma laje mais a forma. O
se pode estabelecer uma tolerância para man, ao calcular as cargas teóricas de fator máximo é 1,56 quando m = 3 e 1,92
as deformações que ocorrem durante a Neilson¹ afirmou que a fluência poderia quando m = 4. Além disso, não há uma
construção pela pré-curvatura da forma, ser negligenciada porque altos índices redução consistente nas forças de esco-
mas esse é um processo incerto quando de fluência eram contrabalançados por ramento nos níveis mais baixos de um
essas deformações iniciais são excessi- baixas tensões iniciais nas lajes, resul- sistema de escoramento, a partir do qual
vas. É desejável limitar as deformações tando em um índice aproximadamente podemos concluir que os escoramentos
durante a construção. constante de taxa de fluência em todas deveriam ser distribuídos por igual ou,
O cálculo direto da deformação durante as lajes. Essa parece ser uma premissa pelo menos o suficiente em todos os ní-
a construção é um processo demorado, razoável sobre este estágio de conheci- veis para exercer as cargas indicadas.
de precisão duvidosa e satisfação sufi- mento da fluência.
ciente, que as deformações seriam de- O método de retirada das formas é im- CONCLUSÕES
rivadas da limitação das tensões obtida portante porque a maioria deles exige As cargas de construção em uma estrutura
na laje pela teoria da elasticidade. Em- a remoção e a substituição de alguns de concreto em que os pavimentos supe-
bora as tensões de flexão possam ser escoramentos em um curto tempo. Nor- riores são escorados nos pavimentos infe-
muito altas em uma laje em um deter- malmente, para que os escoramentos riores podem exceder as cargas do projeto
minado momento, sem que a estrutura sejam substituídos, basta uma pequena para as condições de serviço em uma mar-
fique insegura, conforme foi mostrado força de compressão neles para que fi- gem considerável e não devem ser ignora-
anteriormente, talvez seja mais sensato quem no lugar. Posteriormente, após a das no projeto. A determinação analítica de
se a relação da tensão máxima à flexão substituição, essa força vai aumentar tais cargas, como foi demonstrado neste
no concreto, para a resistência de pro- novamente, mas o efeito geral de retira- paper, não apresenta grandes dificulda-
jeto na idade em questão seja limitada da das formas por este método é reduzir des. O efeito de tais cargas de construção
à relação especificada na Norma para as cargas nas lajes de baixo e aumentar no projeto pode ser resumido como segue:
o projeto de elasticidade. Para desco- as cargas por uma quantidade corres- Resistência à flexão
brir o exemplo mais crítico durante a pondente nas lajes de cima. Com as car- Por causa da redistribuição da carga po-
construção, no que se refere à tensão gas mais altas que atuam nas lajes que tencial, a resistência à flexão não pode
à flexão, as relações de carga durante a suporta o nível inferior de escoras, este ser um fator crítico no projeto para as
construção, mostradas na Figura 4, são efeito poderia ser benéfico, desde que cargas da construção.
divididas pelas relações de resistência não cause carga em excesso. Poderia Deformação
no projeto para dar as cargas equiva- ser usado um controle sistemático das Se as deformações forem limitadas, as
lentes aos 28 dias, conforme mostradas forças nos escoramentos com uso de tensões máximas de flexão na constru-
na Figura 5. chaves de torsão ou algo similar, desde ção deverão ser limitadas sem levar em
A comparação dessas cargas equivalen- que a economia no projeto justifique tal consideração a redistribuição da carga.
tes na Figura 5 (a), (b) e (c) mostra uma controle rigoroso na construção. A limitação deverá, de preferência, ser a
queda considerável em seus máximos Na falta de tal controle sistemático é ra- mesma que as tensões nas cargas de tra-
para uma laje típica com o aumento do zoável pressupor as cargas teoricamente balho, com reduções apropriadas à idade
número de níveis de escoramento. Os derivadas. As cargas máximas que ocor- do concreto.
máximos são 2,53, 2,19 e 2,08 para m rem somente em uma laje podem ser Resistências à aderência e
= 2, 3 e 4, respectivamente. Como uma mais baixas do que os valores teóricos, ao cisalhamento
primeira aproximação, as deformações por causa do alívio resultante da subs- Como a falha de aderência ou cortante
sob os diferentes sistemas de escora- tituição dos escoramentos e da flexibili- pode ocorrer antes da redistribuição da
mento podem ser consideradas como dade das fundações, que supostamente carga de flexão, a estrutura deverá ser
proporcionais a essas cargas equivalen- eram assumidas rígidas na análise. Essa projetada para as cargas máximas de

76 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


construção derivadas de considerações tem diversas variações práticas a partir pilares, as lajes planas terão tanto
elásticas, até que a cortante e a aderên- dessas premissas. aço comprimido quanto traciona-
cia sejam críticas. 1. Embora uma curva para a variação do, o que deverá fazer com que a
de Ec com o tempo foi apresenta- laje seja mais rígida, sem aumento
AGRADECIMENTOS da, os tempos assumidos são tais considerável na resistência, parti-
Os autores agradecem a L. Blakey e a ou- que essa variação é praticamente cularmente porque a resistência à
tros membros da Commonwealth Scien- proporcional. Isso não se aplica sob aderência é baixa.
tific and Industrial Research Organization duas condições; variação nas condi-
na Building Research Division, Highett, ções climáticas, e maior velocidade *ACI JOURNAL, Proceedings V. 60, Num-
Victoria, por confirmarem o desenvolvi- no lançamento do concreto. As con- ber 12, dezembro de 1963, página 1729.
mento de Ec e fc’ com a idade, e por co- dições climáticas são imprevisíveis, **Membro da American Concrete Ins-
mentários muito úteis. mas sua influência é a mesma não só titute, Instructor in Building Construc-
no tempo reduzido de lançamento tion, University of Florida, Gainesville,
REFERÊNCIA do concreto como também em um Florida.
1. Neilson, Knud E. C., “Leads on Rein- tempo variável de lançamento. Na
forced Concrete Floor Slabs and Their construção prática, os tempos mais PRÁTICAS DE
Deformations During Construction,” curtos e variáveis de lançamento são CONSTRUÇÃO
Bulletin Number 15, Final Report, Swe- mais comuns. Um anúncio recen- Algumas mudanças no procedimento
dish Cement and Concrete Research te da Portland Cement Association e no ACI 347-63 são indicadas para as
Institute, Royal Institute of Technolo- mostrava um edifício com três con- formas de edifícios multipavimentos. A
gy, Estocolmo, 1952. juntos de escoramentos e afirmava partir de dados limitados disponíveis,
que um pavimento era concretado a este redator já ficou convencido de que
Recebido pelo Instituto no dia 4 de feverei- cada 4 dias. Se partirmos da premis- o uso de cargas dinâmicas para o pro-
ro de 1963. O título número 60-73 é parte sa de que a montagem das formas jeto do piso é contestável, a menos que
do Journal of the American Concrete Ins- e a concretagem leva apenas 2 dias sejam consideradas as cargas da cons-
titute, Proceedings V, 60, Number 12, de (um mínimo absoluto) isso exigirá trução. Em outras palavras, as estru-
dezembro de 1963, com direitos autorais. que a laje que está sendo concretada turas para cargas leves demonstram,
Impressões separadas são disponíveis por seja apoiada em lajes que já têm de durante o período da construção, uma
50 centavos dólar cada, com pagamento à 6 a 12 dias de idade; se a operação habilidade muito maior de suportar car-
vista com o pedido. for contínua, a retirada do pavimen- gas do que será necessária no serviço.
American Concrete Institute, Caixa Postal to inferior começará no dia seguinte Se não ocorrer qualquer falha durante
4754, Redford Station, Detroit, Michigan, em que um pavimento é concretado, a construção, sob as práticas normais
48219. e as lajes de suporte serão de 5 e 9 de construção, é improvável acontecer
dias de idade. uma falha posterior.
COMENTÁRIOS E A recomendação do ACI 347-63 de que
2. A carga do pavimento de 244 Kgf/m², as lajes não devem suportar cargas
OBSERVAÇÕES* 73 Kgf/m² de carga de acabamento, além de seu projeto parece ser impra-
POR KING ROYER** E AUTORES
e 73 Kgf/m² de carga de divisórias ticável. Para cumprir essa disposição, o
Os autores evitaram estender sua aná- são cargas que não podem ser es- engenheiro de projetos deve projetar
lise para as evidentes conclusões práti- peradas em muitos casos na prática as lajes para as cargas da construção.
cas, ou seja: dos Estados Unidos. Se forem usa- Como uma questão prática, isso seria
1. O escoramento de todas as lajes deve- dos os 195 Kgf/m² exigidos em Nor- facilmente realizado por uma exigência
rá ser projetado para uma sobrecarga ma, os acabamentos negligenciáveis na própria carga dinâmica. Tal mudança
de pelo menos 50%, em comparação (como na construção de apartamen- poderá exigir um aumento em todas as
com o projeto para a correspondente tos com lajes planas), as divisórias / cargas dinâmicas na construção de vá-
estrutura provisória onde cada laje paredes serão apoiadas nos pontos rios pavimentos, exceto no primeiro e
está apoiada; e que forem providenciados na cons- nos dois últimos, por exemplo.
2. A exigência da “ACI Standard Recom- trução e uma carga de construção O reescoramento das lajes inferiores
mended Practice for Concrete Form- é acrescentada. Se considerarmos é uma prática inaceitável e os perigos
work (ACI 347-63)” que as cargas tem- uma laje de 20 cm, a carga temporá- são novamente realçados no paper dos
porárias em lajes não excederem as ria no Nível 3 passa a ser 1220 Kgf/ autores. O escoramento nos centros de
cargas do projeto, pode ser satisfeita m², em comparação com uma carga lajes planas, embora condenado por
apenas por projeto de tais cargas tem- no projeto de 664 kgf/m². recomendações anteriores, onde não
porárias. é há qualquer aço negativo, continua
3. Os autores partem do princípio de como uma prática de construção. Este
FATORES COMPLICADORES que a rigidez à flexão de uma laje artigo menciona as dificuldades em
A análise dos autores é simples para as depende somente do módulo de admitir a distribuição da carga entre
premissas assumidas. No entanto, exis- elasticidade do concreto. Perto dos lajes por causa de possíveis falhas de

77
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | CIMBRAMENTO - ACI

cisalhamento. No caso de escoramen- certamente será alvo da insatisfação trado no paper, existe uma diferença
tos centrais, esse perigo é aumentado do proprietário por atrasar a constru- muito pequena entre os dois resulta-
porque os momentos são reduzidos a ção e do empreiteiro por causar um dos, a partir da qual os autores concluí-
uma pequena fração do que seriam em custo extra no tempo e nas formas. O ram que qualquer um, na pressa, iria
uma laje sem escoramentos (pela redu- engenheiro é particularmente sensível ignorar o refinamento da variação de
ção dos vãos livres pela metade), mas às críticas, porque está exercendo um Ec. Para o caso mais extremo mencio-
a cortante nos escoramentos centrais controle que anteriormente não era sua nado por Sr. Royer para concreto de 1
podem ser iguais ao cortante nas par- preocupação. ou 2 dias de idade submetido a carga,
tes superiores dos pilares. Este redator sugere que seja feita uma variações em Ec seriam mais significa-
Os autores sugerem um ajuste dos no- medição simples – a deformação sob tivas, mas os autores não concordam
vos escoramentos com uma chave de cada laje à medida que as escoras in- totalmente porque Ec se desenvolve
torsão. Embora provavelmente não seja feriores são retiradas dos pavimentos. rapidamente em comparação com a
prático, este é um melhoramento em Conforme foi mencionado acima, existe resistência ao esmagamento e, conse-
relação à recomendação de que as ten- muito desconhecimento envolvido na quentemente, é mais constante.
sões não devem ser excessivas. tentativa de estimar as tensões reais ou Sr. Royer observa que a rigidez à flexão
O redator está impressionado pelo re- estabelecer as programações, mas pa- da laje é aumentada perto dos pilares
lato das épocas do ano em que ocorre rece que há um consenso no sentido de onde há mais armação. Isso normal-
colapso da forma; as estações do ano que a primeira laje que suporta o peso mente é compensado pela fissuração
mais comuns são a primavera e o ou- dos pavimentos acima dela receba uma que é comum naquela área quando
tono, normalmente no início da tarde. carga substancialmente menor do que atua as cargas de trabalho. É claro que
Durante o verão, são encontradas as os pavimentos superiores. Uma medida a variação na rigidez à flexão (mesmo
condições adequadas de cura; duran- dessa deformação dará um indício das com variação nas espessuras das lajes)
te o inverno, a construção é mais len- cargas esperadas acima, e em um nú- não afeta a validade das análises, desde
ta e as programações têm menores mero que é prontamente entendido por que os escoramentos permaneçam rígi-
probabilidades de ser mantidas. Para todos. As deformações que excedam os dos e que os pavimentos sucessivos se-
se alcançar o tempo do acabamento, valores normativos, independentemen- jam da mesma forma, com as mesmas
os pavimentos normalmente são fina- te de outras computações, ou da falta variações na rigidez.
lizados entre meio-dia e 14h. Esse é, delas, são evidências imediatas de pe- É interessante notar que o redator achou
portanto, o momento de maior ten- rigo. E tais medidas podem ser feitas e interessante considerar um exemplo em
são nos suportes. Em um caso, a falha entendidas por qualquer pessoa. que o efeito da carga na construção é
ocorreu enquanto a última caçamba Se for feita uma análise detalhada, e se mais severo do que no caso menciona-
de concreto estava sendo lançada. As o engenheiro prescrever o sistema de do pelos autores. Claramente, a relação
falhas raramente ocorrem depois do forma, essa medida resulta em maiores entre a carga máxima de construção e
término do lançamento do concreto. A informações sobre seu sucesso e co- a carga de serviço vai depender da re-
partir dessas observações, sentimos loca em evidência sua necessidade. Se lação das cargas sobrepostas e o peso
que muitas estruturas se aproximam o engenheiro não estiver investigando próprio da laje, bem como dos procedi-
do carregamento último, mas são sal- as tensões nas formas, as deformações mentos da construção adotados. Assim,
vas, talvez, por uma noite quente, um servirão como um índice das tensões a relação entre as cargas de construção
lançamento de concreto lento, ou sim- envolvidas. e serviço vão variar de um canteiro de
plesmente uma caçamba a menos de A medição de tais deflexões pode ser in- obras para outro.
concreto, que poderia ter sido usada. cluída nas especificações do cargo com O redator se refere ao ajuste por uma
O carregamento dos escoramentos é um pequeno custo adicional, se houver. chave de torsão sugerido pelos autores
especialmente crítico, porque a falha Mais importante: exigir que o empreitei- como “provavelmente não ser prático”,
de um único escoramento pode levar a ro realize tais medições não coloca uma mas não oferece quaisquer objeções
uma falha generalizada de uma grande responsabilidade geral no engenheiro, específicas. Embora esse procedimen-
estrutura, tanto horizontal quanto ver- caso ocorra uma falha nas formas, como to seja provavelmente novo, os autores
ticalmente, o que não ocorreria em um apresentado nas descrições detalhadas deixaram de explicar por que ele deve-
edifício completo. dos deveres do engenheiro. ria ser menos prático do que qualquer
outro método novo de construção.
CONCLUSÕES CONCLUSÃO Em conclusão, os autores concordam
É necessária uma análise teórica e a su- DOS AUTORES com a recomendação geral da discus-
pervisão por parte de um engenheiro Os autores agradecem o Sr. Royer por são de Sr. Royer, segundo a qual a ma-
qualificado. As várias recomendações suas discussões e sugestões com rela- neira mais simples de lidar com as car-
afirmam que ele deverá fazer essas ção aos procedimentos da construção. gas da construção é fazer um projeto
análises, mas são muito vagas sobre Sr. Royer sugere que Ec é mais errático para elas. A opinião dos autores é que
como tais análises devem ser feitas. no valor do que a tendência admitida. essas cargas da construção podem ser
O engenheiro, no correto exercício de Na comparação das duas análises para calculadas tão rapidamente quanto po-
sua profissão, pode poupar vidas, mas Ec constante ou variável, como é mos- dem ser adotadas.

78 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | SUBSOLOS

CAUSAS FREQUENTES DE
INSUCESSOS NA “MATERIALIZAÇÃO”
DE SUBSOLOS ESTANQUES
NO QUE SE REFERE À ESTABILIDADE
DA ESTRUTURA

POR CESAR S. PINTO INTRODUÇÃO ELEMENTOS GERADORES DE


CSP PROJETOS E CONSULTORIA Subsolos sujeitos à ação efetiva do lençol FALHAS NA ELABORAÇÃO DO
freático são vítimas frequentes de infiltra-
ção d’água, inviabilizando sua utilização e
PROJETO ESTRUTURAL
gerando fonte de litígio entre construto- 1) FALHAS NA DETERMINA-
res e seus clientes (compradores e usuá- ÇÃO DA SUBPRESSÃO.
rios). Erros na avaliação dos esforços prove-
Esse fenômeno tem grande incidência nientes da ação do lençol freático, acarre-
em cidades litorâneas pela proximidade tando uma estrutura subdimensionada,
dos oceanos, canais e lagoas, onde o ní- que podem ser decorrentes de:
vel do lençol freático é muito superficial, 1.1) Falta ou inadequação das referências
podendo estar a poucos centímetros do de nível nos relatórios de sondagem
meio fio. e nos desenhos de implantação da
O insucesso nesse tipo de construção arquitetura.
pode ter varias causas, isoladas ou soma- 1.2) Equívoco na interpretação dos rela-
das, e vão desde o projeto estrutural, tórios e dados disponíveis.
até a execução da estrutura, serviços de Os relatórios de sondagem do solo
impermeabilização, etc. apresentam o nível do lençol freático
Neste artigo será abordado o projeto es- (N.A.) verificados na data da execução
trutural, cujas falhas podem dar origem dos serviços, e são influenciados por
a situações de difícil e custosa solução, variações de marés, regime de chu-
pois os problemas aparecem próximos à vas, rebaixamento em obras próxi-
entrega da edificação aos usuários, com mas, etc.
a retirada do sistema de rebaixamento É recomendável nesses casos, a ob-
do lençol freático, sendo necessário exe- servação através de poços de inspe-
cutar reparos com a edificação já em uso. ção executados no terreno ou insta-
lação de piezômetros, em um prazo
mínimo de 30 dias.
1.3) Terreno em declive com nível variável
do lençol freático. Nesse caso, feita
a escavação e implantada a obra, a

79
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | SUBSOLOS

tendência é o N.A. se
estabilizar pelo nível
mais alto.
2) INADEQUAÇÕES NA
CONCEPÇÃO DO
PROJETO E ANÁLISE
ESTRUTURAL
2.1) Na Concepção do Pro-
jeto Estrutural
Para garantir a estan-
queidade do subsolo,
devemos limitar a aber-
tura de fissuras em
lajes, vigas e paredes
entre 0,1mm a 0,2mm.
Implicando que:
• A estrutura do sub- FIGURA 1 – CORTE ESQUEMÁTICO INDICANDO NÍVEIS DE IMPLANTAÇÕES E N.A. – SONDAGEM COM NÍVEL DE
solo deve ser mo- REFERÊNCIA NO MEIO-FIO E IMPLANTAÇÃO PELO NÍVEL TOPOGRÁFICO (N.T.)
nolítica, sem plas-
tificações ou rótulas nas ligações
entre parede e lajes, não só nos
limites do subsolo, mas também
em poços (elevadores, aguas ser-
vidas), reservatórios, etc. (Ver figu-
ras nº 2 e nº 3).
• O dimensionamento e o detalha-
mento das armaduras devem res-
peitar esses limites, e contemplar a
continuidade entre lajes e paredes.
• Juntas de dilatação devem ser evi-
tadas, pois a inércia térmica da es-
trutura em contato com o solo sa-
turado é muito grande, impedindo
variações térmicas, e a vedação des-
sas juntas é muito pouco eficiente.
• Devem ser previstas em projeto,
FIGURA 2 - CONCEPÇÃO ESTRUTURAL INADEQUADA.
juntas de concretagem para per-
mitir a retração hidráu-
lica do concreto.
2.2) Na Análise Estrutural
A análise estrutural tem
que contemplar a mono-
liticidade do subsolo e a
correta combinação dos
carregamentos que solici-
tarão a estrutura ao longo
de sua vida útil, com varia-
ções e atuação simultânea,
ou não, de:
a) Sobrecargas gravita-
cionais
b) Subpressão do lençol
freático
c) Empuxos de terra
d) Sobrecargas de funda-
ções vizinhas gerando
acréscimo de empuxo
nas paredes limítrofes. FIGURA 3 – CONCEPÇÃO ESTRUTURAL ADEQUADA

80 REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016


e) Variações de sobrecarga d’água em
reservatórios ligados aos subsolos
3) NO DETALHAMENTO
DAS ARMADURAS
O detalhamento das armaduras tem
que garantir a monoliticidade da es-
trutura, com cuidado especial para
encontros entre elementos horizon-
tais, verticais, inclinados, esperas
adequadas para fases e descontinui-
dades de concretagem.
A figura nº 4 apresenta erros comuns
no detalhamento, onde não se con-
templa a continuidade dos esforços
entre elementos verticais e horizon-
tais, e a figura nº 5 indica o detalha-
mento correto a ser adotado.

CONCLUSÕES E FIGURA 4 - DETALHAMENTO INCORRETO – FALHAS DE CONTINUIDADE


RECOMENDAÇÕES
Os transtornos causados pela falta de
estanqueidade dos subsolos, além de
difícil solução, são de elevado custo fi-
nanceiro, moral e até jurídico para as
construtoras, e devem ser evitados com
as seguintes recomendações:
1) Deve-se projetar a estrutura com di-
mensões “folgadas” para que lajes, vi-
gas e paredes trabalhem com tensões
menores, tanto no concreto quanto no
aço, de modo a limitar a abertura de fis-
suras e também facilitar as operações
de concretagem.
2) Recomenda-se, sempre que possível,
a adoção de mísulas nos encontros de
paredes com lajes não só para evitar
a concentração de tensões nessas
regiões, mas também facilitar a exe-
cução no que diz respeito ao adensa-
mento do concreto.
3) Atenção especial deve ser dada ao de-
talhamento das armaduras, contem-
plando cantos, encontro de paredes
e lajes, rebaixos, poços, que exigem a
participação do engenheiro e não são
feitos pelo detalhamento automático
dos programas computacionais.
4) O planejamento das juntas e etapas
de concretagem deve ser adequada-
mente realizado de modo a permitir FIGURA 5 - DETALHAMENTO CORRETO
a livre retração do concreto, minimi-
zando fissuras, e prevendo “esperas” 400m², variando em conformidade to das armaduras conforme projeto,
de armação adequadas, devendo ser com a logística da obra. principalmente das armaduras supe-
elaborado um desenho de formas 5) Finalmente, é recomendável que o riores das lajes, cujo “afundamento”
simplificado com indicação do posi- projeto estrutural contenha notas é o principal causador de instabilida-
cionamento dessas juntas; recomen- “exaustivas” e redundantes nos de- de e insucessos, mesmo com projeto
da-se que sejam executadas etapas senhos de detalhamento das arma- estrutural bem concebido e detalha-
de concretagem com cerca de 200 a ções, para o rigoroso posicionamen- do adequadamente.

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REVISTA ESTRUTURA | OUTUBRO • 2016 82
RESPOSTAS
1 – Viga com vão de 10,20 m entre eixos de pilares 3 – Cobrimento da armadura deverá ser de 15 mm em tel), segundo o item 13.2.4.1 da NBR 6118:2014, as espes-
com altura de 30 cm: pilares, 15 mm em vigas e 10 mm em lajes: suras mínimas a serem adotadas devem ser de 16 cm e 14
Comentário: para o pré-dimensionamento de vigas em Comentário: para estruturas em concreto armado o cobri- cm respectivamente;
concreto armado é usual adotar como parâmetro inicial mento nominal mínimo que pode ser adotado é de 20 mm 6 – Laje em balanço (L8) com 9 cm de espessura:
que a viga possua uma altura na ordem de 10% da dimen- para lajes, e 25 mm para pilares e vigas, conforme tabela Comentário: para lajes em balanço, segundo o item
são do vão entre eixos de pilares, porém isto não é uma 7.2 da NBR 6118:2014. Porém, de acordo com o item 7.4.7.4 13.2.4.1 da NBR 6118:2014, a espessura mínima a ser ado-
regra e tão pouco uma normativa. Porém, vale a dica para desta norma, “permite-se, então, a redução dos cobrimen- tada deve ser de 10 cm;
que os demais profissionais envolvidos no processo cons- tos nominais, prescritos na tabela 7.2, em 5 mm”, desde 7 – Viga (V15a) com 9 cm de seção transversal:
trutivo possam saber analisar e questionar o por que da que se tenha “um controle adequado de qualidade e li- Comentário: para vigas, segundo o item 13.2.2 da NBR
utilização de uma viga com tão pouca inercia como a do mites rígidos de tolerância da variabilidade das medidas 6118:2014, a seção transversal “não pode apresentar lar-
exemplo, que irá gerar grandes deformações mesmo con- durante a execução” e também “a exigência do controle gura menor que 12 cm e a das vigas-parede menor que
siderando apenas o peso próprio da estrutura; rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de projeto”; 15cm”, porém, “estes limites podem ser reduzidos, respei-
2 – Concreto estrutural FCK ≥ 15 MPa: 4 – Pilar (p23) com dimensões de 16x16 cm: tando-se um mínimo absoluto de 10cm em casos excep-
Comentário: para estruturas em concreto armado, sub- Comentário: pilares em concreto armado, segundo o item cionais”.
metida à classe II de agressividade ambiental, o concreto 13.2.3 da NBR 6118:2014, não podem apresentar seção Observação: como se trata de um exemplo e não um pro-
estrutural especificado deve ser no mínimo C25 (portan- transversal com área inferior a 360 cm2; jeto completo, diversos outros itens (carimbo, notas mais
to deve ter resistência característica à compressão, fck, 5 – Laje maciça (L7) apoiada diretamente sobre pilar completas, legendas, etc...) E desenhos (cortes, armações,
maior ou igual a 25 MPa), conforme tabela 7.1 da ABNT com 12 cm de espessura: detalhes construtivos, etc...) Devem fazer parte de um
NBR 6118:2014; Comentário: para lajes lisas e lajes cogumelo (fora do capi- projeto estrutural adequado as normas técnicas.
AS 7 FALHAS
ENCONTRE
JOGO DE SETE ERROS

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