Você está na página 1de 4

Atuação do Assistente Social no Judiciário

O Tribunal de Justiça teve suas primeiras comarcas criadas em Minas Gerais em 1714, porém,

somente a partir do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, é que o assistente

social e o psicólogo passaram a integrar, como efetivos, o quadro de servidores da instituição.

Desde então, tal inserção exige desses profissionais constante aprimoramento em virtude da

especificidade do trabalho e das demandas surgidas em decorrência das manifestações da

questão social, que refletem no Poder Judiciário e no cotidiano profissional.

Ao longo desses anos, os assistentes sociais, através da criação de espaços de discussão e de

propostas para o enfrentamento das demandas postas, buscou se organizar em núcleos/grupos

de profissionais regionais, bem como estabeleceu estratégias com vistas a qualificar e dar

visibilidade ao Serviço Social no âmbito da prestação jurisdicional. Por meio de parceiros,

instituídos ou fortalecidos, como por exemplo a Escola Judicial Edésio Fernandes, o SERJUSMIG

e CRESS-MG MG, buscou-se viabilizar espaços para a realização de seminários e encontros.

Neste caminho, no próximo dia 15 de junho, o CRESS-MG, em parceria com outros órgãos, como

o CRP-MG e o SERJUSMIG, irá realizar o Encontro Estadual dos Assistentes Sociais e

Psicólogos Judiciais de Minas Gerais. O evento, destinado aos referidos profissionais tem como

objetivo discutir sobre a escuta judicial (depoimento especial) de crianças e adolescentes vítimas

de violência sexual, perpassando por outros aspectos que envolvem a intervenção do assistente

social e do psicólogo no âmbito do judiciário.


Atribuições

O cidadão só recorre ao Poder Judiciário quando nenhum outro recurso foi capaz de atender a

sua solicitação, entretanto, há situações em que os direitos são violados em que a Justiça é

acionada por iniciativa do Estado, através do Ministério Público. Assim como em outras áreas de

atuação, perceber que a questão relatada pelo jurisdicionado não é um caso isolado, e, sim,

reflexo das incongruências sociais produzidas pelo modo de produção capitalista, é uma das

tarefas do profissional de Serviço Social que atua na área judicial. Então, é no entrecorte das

esferas pública e privada que se dá a intervenção do assistente social.

Em 2007, Márcia Emisia Barbosa deixou sua cidade natal, Fortaleza (CE), para assumir o cargo

de técnico judiciário/assistente social na Vara Cível da Infância e da Juventude da Comarca de

Belo Horizonte, no Setor de Estudos Familiares (SEF). Para ela, trabalhar neste espaço sócio

ocupacional exige constante renovação intelectual. “O conhecimento teórico é essencial nessa

área de atuação e te dá subsídio para a escuta judicial. Aqui, o assistente social precisa aprender

a ouvir o usuário e identificar quais as relações do seu problema, em particular, com o contexto

social.”

Além de ter domínio dos instrumentais de intervenção do Serviço Social, distinguindo qual,

quando e como devem ser utilizados, é importante que o assistente social tenha autonomia e

compromisso com a ética profissional. A área judicial requer profissionais propositivos e

dinâmicos, como observa Márcia Emisia. “O assistente social judicial deve ter iniciativa para fazer

um trabalho diferenciado, sem se acomodar apenas com a determinação do juiz.”


Demandas

A inserção de outros profissionais, diferentes do Direito, no Poder Judiciário, deu-se em razão da

dificuldade de atender às novas demandas da sociedade por meio, apenas, da objetividade da lei.

A afirmação é de Camila Maia, técnico judiciário/assistente social, especializada em Serviço

Social, da Comarca de Belo Horizonte e coordenadora do Grupo Regional de Assistentes Sociais

Judiciais de Belo Horizonte e Região Metropolitana.

Para ela, as Varas de Família e as Varas da Infância e Juventude são as que mais demandam a

atuação do profissional de Serviço Social. Mas em outras, como as áreas criminal e cível, a

demanda tem se mostrado crescente.

Atualmente, na capital, o assistente social judicial está inserido em 11 áreas distintas de atuação:

Varas de Família, Vara de Infância e Juventude, Central de Conciliação, Comissão Estadual

Judiciária de Adoção (CEJA), Mediação, Setor de Fiscalização de Penas Substitutivas (Sefips),

Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário (PAI-PJ), Gerência de Saúde no Trabalho

(Gersat), Lei Maria da Penha (Criminal), Juizado Especial Criminal.

Entretanto, Camila explica que a demanda varia da capital para as demais cidades do estado. “No

interior, o assistente social abarca todas ou várias destas frentes em seu cotidiano. Isso lhe exige

ainda mais conhecimento e habilidade, mas, pode prejudicar qualidade do trabalho prestado.”

Leia aqui uma entrevista com Camila.


Desafios

O Poder Judiciário é uma instituição hierárquica, conservadora e permeada por contradições. O

Serviço Social é uma profissão que atua orientada por uma perspectiva de análise crítica da

realidade social e sua intervenção se dá no conjunto das desigualdades produzidas pelo

capitalismo. Há apenas algumas décadas o profissional de Serviço Social foi inserido no contexto

do judiciário mineiro, exigindo da categoria de assistentes sociais uma busca por conhecimento

específico sobre a intervenção neste espaço sócio-ocupacional.

Para Marise Teixeira, técnico judiciário/assistente social da Comarca de Pedro Leopoldo,

especializada em Serviço Social, um dos maiores desafios do assistente que atua nessa área é

saber lidar com a hierarquia do Poder Judiciário. “Recebemos o processo, a situação está posta,

e, com isso, temos que repensar saídas para situações muito complicadas. É preciso desenvolver

a capacidade de lidar com atuações conservadoras ditadas pela instituição.”

Outro desafio é que o trabalho do assistente social judicial seja compreendido e respeitado pelos

profissionais da área do Direito. “Esta é uma área de atuação em que predominam advogados e

juízes e que, muitas vezes, não reconhecem a importância da nossa função”, completa Marise.

Leia aqui uma entrevista com a assistente social, Camila Maia, que trabalha no judiciário.

CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL DE MINAS GERAIS – CRESS 6ª Região


www.cress-mg.org.br | www.facebook.com/cressmg | cress@cress-mg.org.br | 31 . 3226-2083 (sede)

Você também pode gostar