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COMPORTAMENTO

Sobre príncipes da Disney e capas da Playboy

escrito por
Jóice Bruxel

Desde o princípio da nossa existência somos condicionados a modos de ser e estar no mundo.
Aprendemos gostos, preferências e ideais. Somos seres culturais e a cultura e o meio em que
vivemos está diretamente ligado a quem somos, ou melhor, da forma que nos conhecemos e
reconhecemos no mundo e nos outros.
Nos relacionamentos não é diferente.
O que consideramos ideal foi pregado, construído e reforçado.
A imagem de homem ou mulher ideal é algo que constantemente nos frustra, porque
simplesmente, ele não existe. Passamos a vida achando que a grama do vizinho é mais verde,
porque incutiram na nossa cabeça que existe a perfeição e que precisamos, a todo o custo,
possuir esta perfeição, como uma espécie de troféu ou honra ao mérito.

Grande parte dessa ilusão seria evitada, se não existem duas


coisas: os príncipes dos filmes da Disney e as capas da Playboy
Vou explicar:
Nós, mulheres, assistimos desde menininhas filmes da Disney, que mostram príncipes
encantados, com uma aparência maravilhosa, que aparecem montados em um cavalo branco
para nos salvar dos males e nos fazer viver felizes para sempre. Sim, pasmem! Como se a
nossa felicidade dependesse deles…
Os príncipes são homens ricos, moram em um castelo, são sensíveis, apaixonadíssimos,
românticos e nos compreendem. Eles resolvem todos os nossos problemas, porque claro, nos
filmes, as mulheres são frágeis e indefesas. É de rir e de chorar ao mesmo tempo. Mas é isso
que aprendemos desde pequenas! Felizmente este cenário tem mudado bastante nos últimos
tempos e vejo grandes melhorias nos tempos futuros. Mas inconscientemente, ainda buscamos
o príncipe encantado, e nos frustramos quando nos deparamos com os sapos e ogros da vida.
Essa é uma foto minha de 2013 que o Facebook me recordou há alguns dias atrás e se
encaixa perfeitamente nesta postagem. A legenda era a seguinte: “Beije sapos, mas não os
engula!”
Mas está errado quem pensa que só nós, mulheres, somos condicionadas a ideais totalmente
irreais, os homens também são! Homens são visuais por natureza, e desde cedo, são
visualmente poluídos com as capas de Playboy super photoshopadas, que estampam mulheres
gostosonas, com super peitos, bundas e coxas, barrigas super chapadas e sem o mínimo de
imperfeições. Mal sabem os homens (ou ignoram o fato) que para as mulheres chegarem
naquele “estado”, foram necessárias muitas horas de photoshop e de “reboco”.
A construção dos homens de “mulher ideal” se baseia em um modelo totalmente fantasioso, e
quando se deparam com as mulheres reais, com corpos imperfeitos e um cérebro (uau, que
descoberta!), se frustram, e muitas vezes até sentem medo.
Eles foram condicionados ao modelo do corpo cheio de photoshop e também ao modelo de
mulher frágil e indefesa (mostrado nos filmes da Disney) e se deparando com uma mulher
inteligente, cheia de opinião e poder, frequentemente se sentem ameaçados, e em alguns
casos, até fogem. Podem também querer competir, humilhar, desvalorizar e fazer pouco caso,
e tudo isso, para alimentar o ego e a figura de “macho alfa” que muitos fazem de si mesmos.
Antes de qualquer coisa, precisamos entender que as nossas preferências e ideais de
perfeição não são nossos, foram construídos; eles não são reais e não chegaremos a eles,
portanto, buscá-los encontrar no outro ou nos adaptar para sermos esse ideal para alguém, é
mera utopia.

Precisamos olhar o outro com carinho, com empatia, e amar as particularidades. O amor não
idealizado entre duas pessoas imperfeitas é o amor real. E o amor implica decisão. É
necessário entender que amor também implica em escolher amar os defeitos, e que estes
precisam ser vistos com suavidade e acolhidos com delicadeza.
Precisamos também, nos olhar com carinho. Nos olhar com apreço e admiração. Parar de nos
culpar por não sermos perfeitos. De odiar nossos corpos. De ser insatisfeitos e ingratos.
Nós não somos perfeitos, mas somos especiais, da nossa maneira!
Passar a vida em busca de um ideal que é apenas uma criação da mídia e de diversos tipos de
indústria (estética, farmacêutica, etc), que lucra com a sua (nossa) insegurança é cansativo, é
pesado. E nós não precisamos carregar este peso!
Esqueça os príncipes da Disney e as capas da Playboy. Desconstrua. Use como nota mental:
Eles não existem!
Jóice Bruxel
Psicóloga CRP-08/25350
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