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TJBA – DIÁRIO DA JUSTIÇA ELETRÔNICO – Nº 1.453 - Disponibilização: quarta-feira, 17 de junho de 2015 Cad.

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assim que ela saísse da cadeia. Ao sair, a vítima Elielson se dirigiu até o mercado novo, onde pegou um mototáxi em direção
à sua residência e quando já estavam no Campo do Derba, uma motocicleta, que estava sendo conduzida pelo denunciado
João Felipe de Souza da Silva, emparelhou a motocicleta por este conduzida à motocicleta conduzida por Adailton Medrado
dos Santos que transportava Elielson, ocasião em que, na altura do local denominado como Campo do Derba, nesta cidade,
o adolescente Luiz Henrique, que estava na garupa da moto do denunciado, efetuou os disparos de arma de foto contra a
vítima Elielson. Ao perceber a ação, o ofendido Elielson pulou da moto em movimento e fugiu correndo, tendo os tiros
atingido o mototaxista Adailton, que morreu no local, enquanto o adolescente e o acusado João Felipe empreenderam fuga.
Aduziu ainda, a exordial acusatória, que o denunciado Juarez foi o autor intelectual do delito e, mesmo estando detido na
cadeia pública local, ordenou que o denunciado João Felipe e o menor Luiz Henrique executassem seu desafeto Elielson,
tendo o homicídio sido praticado por motivo torpe, qual seja, vingança, posto que os denunciados intentarem matar a vítima
Elielson em razão de uma rixa existente entre esta e o acusado Juarez, vulto Peu. Asseverou ainda que o crime de homicídio
foi praticado de forma que dificultou a defesa da vítima Elielson, já que esta foi surpreendida com os tiros quando se
encontrava sendo transportada em uma motocicleta, o que dificultou a sua defesa. O decreto de medida cautelar de prisão
em desfavor de JOÃO FELIPE DE SOUZA SILVA, consta dos autos do Auto de Prisão em flagrante (0300414-74.2014.8.05.0112)
fls. 47/50. Decisão recebendo a denúncia e determinando a citação dos acusados (fls. 75). Apresentada resposta à acusação
por JOÃO FELIPE DE SOUZA DA SILVA e por JUAREZ DE SOUZA BISPO, respectivamente às fls. 90/96 e 136. Em audiência
de instrução, foram colhidos os depoimentos de testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa. Laudo de exame de
necrópsia juntado em fls. 77/78. Em alegações finais, manifestou o Ministério Público pela procedência do pedido da
exordial, pugnando pela pronúncia dos réus, nos exatos termos da denúncia. Por sua vez, a Defesa dos acusados em fls.
327/332 e 343/345, a título de derradeiras razões, divergindo por óbvio da tese acusatória, pugnou pela absolvição sumária
dos réus, bem assim, caso não acolhida, pela impronúncia dos réus por entender ausente lastro probatório a ensejar a
admissibilidade da acusação. Vieram-me os autos conclusos. Eis o sucinto relato. Passo a decidir. Muito embora este
decisum seja chamado de sentença, sabe-se que tem natureza processual, consistindo em ato decisório de natureza
interlocutória, porquanto mero juízo de admissibilidade da acusação. É que esta manifestação judicial não produz res
judicata, mas preclusão pro judicato. Isso porque a sentença de pronúncia tem conteúdo meramente declaratório da
admissibilidade da acusação. Neste momento, inclusive, é defeso ao Juiz proferir juízo de certeza sobre a imputação
dirigida aos réus. É-lhe autorizado apenas juízo de admissibilidade fundado em suspeita. Se o magistrado aprofundar-se
no exame das provas, haverá violação ao devido processo legal, porquanto contaminará a apreciação do caso pelo Tribunal
do Júri. Nesse sentido, para que seja proferida uma sentença de pronúncia é necessário que o Juiz esteja convencido da
existência do crime e que existam indícios suficientes de autoria. Daí segue que não vigora nesta sede o princípio do in dubio
pro reo, mas sim o princípio in dubio pro societate, resolvendo-se eventuais dúvidas em favor da sociedade. Sim, porque,
como dito acima, este juízo não é definitivo. O Tribunal do Júri tem competência para julgar os crimes dolosos contra a vida,
conforme artigo 5º, inc. XXXVIII, da Constituição Federal de 1988. Os Réus estão sendo acusado de uma provável prática de
crime de homicídio contra a pessoa de Adailton Medrado dos Santos, fato ocorrido no dia 11 de março de 2014, por volta das
15h:50min, nas proximidades do Campo do Derba, nesta cidade. Compulsando os autos, verifica-se que a materialidade do
delito está provada pelo Laudo de Exame de Necrópsia, constante às fls. 77/78. No que tange à autoria, há indícios suficientes
de que o acusados JOÃO FELIPE DE SOUZA DA SILVA e JUAREZ DE SOUZA BISPO corromperam o adolescente Luiz
Henrique da Silva Guerra para a prática da infração penal, tendo o primeiro pilotado a moto que levava o adolescente Luiz
Henrique, em perseguição à moto pilotada pela vítima que desempenhava a função de mototaxista e conduzia Elielson Silva
dos Santos, o qual, segundo consta do autos era o destinatário dos tiros deflagrados por Luiz Henrique, estando este de
posse de uma arma que acabara de receber das mãos do acusado João Felipe de Souza da Silva para a prática do crime,
que foi encomendado pelo segundo denunciado. A testemunha José Antônio Carneiro Azevedo, Policial Civil Investigador,
ouvido em Juízo através do sistema de audiovisual (fls. 217), disse que no dia dos fatos delituosos presenciou discussão
entre Elielson e Juarez tanto na delegacia quanto no Fórum; que Juarez ameaçou de morte Elielson; que soube que o
motoboy atingido pelos disparos estava transportando Elielson; que na delegacia o menor Luiz Henrique, deu detalhes
acerca do fato, tendo recebido um telefonema com ordem para matar Elielson; que recebeu esta ordem e que o Felipe estava
subindo para pegar ele; que estava presente no momento em que o menor confessou ter deflagrado os tiros que atingiram
a vítima Adailton Medrado dos Santos, tendo afirmado com convicção que a pessoa que lhe conduziu para a prática do crime
foi João Felipe, retificando versão prestada anteriormente, que não conferia com as informações levantadas pelo serviço de
inteligência da polícia local; que na carceragem local, na cela ocupada por Juarez foi encontrado um telefone celular que
estava sendo utilizado pelos presos. A vítima Elielson Silva dos Santos, ouvido em juízo, mediante carta precatória, através
do sistema audiovisual, ratificou suas declarações prestadas perante a autoridade policial, no sentido de que reconheceu
os executores João Felipe e o menor, posto que no momento dos fatos utilizavam capacetes com a vizeira aberta; que o
primeiro quem conduzia a moto e que a emparelhou na moto que o conduzia para casa, sendo que o segundo foi quem
efetuou os tiros; que foram abordados de surpresa, sendo que a vítima Adailton não teve qualquer chance de se defender,
morreu sem sequer saber o que estava acontecendo; que foi ameaçado de morte pelo denunciado Juarez, que sabia que o
declarante seria solto naquele dia e colocou seu sobrinho João Felipe para lhe esperar na porta da delegacia, através de
telefonema realizado de dentro da carceragem local. Portanto, ante a existência de indícios suficientes de autoria em relação
aos denunciados João Felipe de Souza da Silva e Juarez de Souza Bispo deve o caso ser submetido à apreciação do
Conselho de Sentença. No que tange às qualificadoras do art. 121, § 2º incisos I (motivo torpe) e IV (recurso que dificultou a
defesa da vítima), encontram respaldo nas provas contidas nos autos e devem ser mantidas para que o Juri avalie para sua
aplicação no julgamento. Isso posto, pronuncio o réu JOÃO FELIPE DE SOUZA DA SILVA E JUAREZ DE SOUZA BISPO, como
incursoS nas penas do art. 121, §2º, incisos I e IV, do Código Penal e no art. 244-B da Lei nº 8.069/90 do Estatudo da Criança
e do Adolescente, o que faço fundamentadamente sem, contudo, eloqüência acusatória ou excesso de linguagem, com
fulcro no art. 413, do Código de Processo Penal, a fim de que seja submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri. Mantenho

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