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CURSO DE DIREITO

ANA KARINY LOUREIRO PONTES

A resolução de conflitos em face da efetividade do Poder Judiciário.

Trabalho apresentado para o IV Encontro


de Iniciação Científica da Faculdade Sete
de Setembro.

Aluna: Ana Kariny Loureiro Pontes


Endereço eletrônico: karinypontes@yahoo.com.br
Orientador: Ms. Felipe Braga. Professor da Faculdade Sete de Setembro.
Endereço eletrônico: felipe_direito@hotmail.com.com.br

Fortaleza
2008
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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................ I

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 01

REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................02

1. PODER JUDICIÁRIO E A SOLUÇAO DE CONFLITOS: EFETIVIDADES?

1.1. O NOVO PAPEL DO JUDICIÁRIO E O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE


JURISDICIONAL

1.1.1. Evolução da resolução de conflitos ............................................................ 04


1.1.2. O Poder Judiciário e o exercício da atividade jurisdicional..........................05
1.1.3. O Poder Judiciário frente a Constituição Federal de 1988..........................08
1.1.4. A dimensão do Poder Judiciário após a EC 45/2004..................................10

1.2. MATERIALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO COMO FUNDAMENTO


DO ESTADO DE DIREITO .................................................................................. 09

1.3. EFETIVIDADE DE DIREITOS ....................................................................... 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 20


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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo o estudo da evolução da resolução de conflitos


proveniente do desenvolvimento da sociedade frente a necessidade da prestação
jurisdicional efetiva proposta pelo Estado Democrático de Direito. O estudo visa enfatizar
a situação atual do Poder Judiciário, não correspondente à grande demanda de interesses
resistidos, incidindo em uma prestação ineficiente diante da falta de estrutura pessoal e
material. É apresentada uma síntese sobre o Poder Judiciário consolidado na Constituição
Federal, principalmente após a EC n. 45/2004, que trouxe em seu texto instrumentos
capazes de tornar a tutela jurisdicional mais célere, proporcionando justiça àqueles que se
utilizam do Estado-juiz para ter seus direitos reconhecidos. A abordagem desse trabalho
está envolta dos meios extrajudiciais de resolução de conflitos previstos na própia
Constituição, proporcionando ao povo uma alternativa administrativa como meio de
dirimir os efeitos da lentidão do Judiciário, destacando as funções e procedimentos de tais
instrumentos extrajudiciais com a conseqüente eficiência do Estado em fazer justiça,
necessário no Estado de Direito instalado.

Palavras-chave: Estado Democrático; Acesso à Justiça; Poder Judiciário; Resolução de


Conflitos; Jurisdição Administrativa.

ABSTRACT

This paper aims at studying the evolution of conflict resolution from the development of
society face the need to provide effective judicial review proposed by a democratic state.
The study aims to emphasize the current situation of the Judiciary, not corresponding to the
high demand of interests resisted, focusing on the provision ineffective in the face of lack
of personnel and material structure. It presented a summary on the Judiciary consolidated
in the Federal Constitution, especially after the EC number 45/2004, which brought in its
text tools capable of making the judicial protection more quickly, providing justice to those
who use the state-court to have their rights recognised. The approach of this work is
shrouded of extrajudicial means of conflict resolution contained in own Constitution,
providing the people an alternative administration as a means to address the effects of the
slowness of the judiciary, highlighting the functions and procedures of such instruments
extrajudicial, with the consequent efficiency of the State in doing justice, the rule of law be
installed.

Keywords: Democratic State; Access to Justice; Judiciary; resolution of Conflicts;


Administrative Jurisdiction
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INTRODUÇÃO

A resolução de conflitos está presente na sociedade desde à época primitiva,


evoluindo da auto-tutela a prestação jurisdicional através do Poder Judiciário inerente a
soberania Estatal.
Porém, muito se discute sobre a efetividade dessa prestação jurisdicional,
diante da morosidade do Judiciário, contrário ao Estado Democrático de Direito que prevê
uma sociedade justa, uma prestação jurisdicional célere e efetiva para os fins de atender ao
interesse social, através de decisões baseadas na lei e fundamentadas em uma discussão
processual.
Assim, para proporcionar à sociedade um maior acesso à justiça, destaca-se
neste trabalho meios extrajudiciais de resolução de conflitos previstos na Constituição
Federal com os fins de garantir ao Estado de Direito uma participação democrática
essencial para a defesa e efetivação dos direitos do cidadão.
Para tanto, serão analisados instrumentos como o direito de petição, a
possibilidade de fiscalização de forma direta pelo povo através do Congresso nacional, as
CPI’s, as funções dos Tribunais de Contas da União, o papel do Conselho Nacional de
Justiça e o Inquérito Civil, com o objetivo de apresentar à população os demais meios de se
alcançar os interesses almejados sem ter de enfrentar a morosidade do Judiciário,
consequentemente desafogando-o.
Tais instrumentos são inerentes à evolução do Estado, transformando-o de
Estado Liberal ao Estado Social, em que há uma maior participação do povo na defesa de
seus direitos, exigindo uma prestação jurisdicional justa e eficaz envolta dos direitos
fundamentais basilares de nossa Constituição.
Portanto, o intuito desta monografia a ser desenvolvida é consolidar a
importância dos meios de solução de conflitos, diverso da atuação do Poder Judiciário,
hoje assoberbado, para garantir o Estado Democrático de Direito, outorgado por nossa
Constituição.
A técnica de pesquisa utilizada consiste em análise documental, através de
investigação científica por meio de doutrina, legislações, artigos em periódicos
especializados e fontes on-line.
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REFERENCIAL TEÓRICO

O Estado Democrático de Direito é para autores como Gilmar Ferreira Mendes,


não só um dos fundamentos da Republica Federativa do Brasil, mas também um
superconceito que engloba princípios fundamentais do Estado de Direito, como os
princípios da isonomia, do pluralismo político, da separação dos poderes, da legalidade e o
principio da dignidade da pessoa humana, destacando assim a importância de sua
efetividade conforme texto transcrito abaixo:
... entende-se como Estado Democrático de Direito a organização
política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente
ou por meio de representantes, escolhidos em eleições livres e
periódicas, mediante sufrágio universal e voto direto e secreto, para
o exercício de mandatos periódicos, como proclama, entre outras, a
Constituição brasileira. Mais ainda, já agora no plano das relações
concretas entre o Poder e o indivíduo, considera-se democrático
aquele Estado de Direito que se empenha em assegurar aos seus
cidadãos o exercício efetivo não somente dos direitos civis e
políticos, mas também e sobretudo direitos econômicos, sociais e
culturais, sem os quais de nada valeria a solene proclamação
daqueles direitos.1

Portanto, o Poder Judiciário detentor da função jurisdicional do Estado em


defesa dos direitos subjetivos da sociedade, requeridos por meio de processo judicial
participativo, em defesa desse Estado de Direito, necessita de medidas a consolidar sua
prestação efetiva até então relativizada pela conhecida “crise do Judiciário”.
Assim, busca-se através do destaque aos meios administrativos de resolução de
conflitos, estender à prestação jurisdicional administrativa o meio de se garantir o acesso à
justiça de forma célere e eficaz.
As ações administrativas previstas constitucionalmente estão fundamentadas
no “principio da plenitude da garantia jurisdicional administrativa”, conforme conceituado
pelo renomado autor J.J. Gomes Canotillho.
... os preceitos constitucionais garantidores do acesso à justiça
pretendem tornar claro que é sempre admitida a proteção
jurisdicional administrativa de posições subjetivas (direitos e
interesses), sem se limitar esta proteção à adopção de meios
específicos de impugnação ( ex.: recurso contencioso) ou à
existência de determinadas formas de actuação da administração
(ex.: actos administrativos). Neste sentido se fala hoje do principio
1
MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 2 ed. rev. e , atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p.149..
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da plenitude da garantia jurisdicional administrativa: a qualquer


ofensa de direitos ou interesses legalmente protegidos e a qualquer
ilegalidade da administração deve corresponder uma forma de
garantia jurisdicional adequada2.

Devido essa importância doutrinária sobre os meios administrativos de acesso à


justiça, e o pouco conhecimento por parte da população em geral de tais instrumentos é que
destaco na monografia a ser finalizada as funções e procedimentos administrativos dos
meios extrajudiciais de resolução de conflitos previstos na Constituição Federal.

2
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed. Coimbra: Edições
Medina, 2000, p. 505
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1. PODER JUDICIÁRIO E A SOLUÇÃO DE CONFLITOS: EFETIVIDADE?

1.1 O NOVO PAPEL DO JUDICIÁRIO ANTE O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO.

1.1.1 Evolução da resolução de conflitos

Não poderia iniciar esta monografia sem antes elaborar uma breve síntese
quanto à evolução da resolução de conflitos, grande discussão deste trabalho.
Assim, faz-se necessário esclarecer que o Estado nem sempre foi detentor do
jus punitionis, tendo em vista que as soluções de conflitos decorriam inicialmente da
autotutela, e da autocomposição.
Nas fases primitivas, onde a liberdade individual e o interesse particular
predominavam, inexistia um Estado com soberania e autoridade suficientes a solucionar e
impor decisões quando da pretensão resistida dos indivíduos ou suas insatisfações,
prevalecendo, portanto, a lei do mais forte sob o regime da autotutela.
Veja-se a lição de Marinoni:
Antigamente, quando o Estado ainda não tinha poder suficiente para ditar
normas jurídicas e fazer observá-las, aquele que tinha um interesse e
queria vê-lo realizado fazia, através da força, com que aquele que ao seu
interesse resistisse acabasse observando-o. Na verdade, realizava o seu
interesse aquele que tivesse força ou poder para tanto, prevalecendo a
denominada “justiça do mais forte sobre o mais fraco.3

Outra forma de solução de conflitos característica daquele tempo era a


autocomposicão, em que uma das partes renunciava ao seu direito ou parte dele, podendo
ocorrer das seguintes formas: através desistência, em que há a renúncia do autor à
pretensão, ou sob a forma da submissão, que consiste na renúncia à resistência oferecida ao
interesse do autor e pela forma da transação, que se materializa pela concessão recíproca.
Tais soluções têm em comum a parcialidade, dependendo da vontade das partes para sua
concretude.
No entanto, com o desenvolvimento da sociedade e o conseqüente aumento no
número de conflitos de interesses, passou-se a exigir a figura de um terceiro imparcial, qual
seja, o árbitro que era escolhido pelas partes com o fim de se chegar a uma solução
amigável.

3
MARINONE, Luiz Guilherme e ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo de Conhecimento. 5 ed.
Ver. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 2006, p. 31.
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Com a maior firmação do Estado, passando este a impor-se perante os


particulares, detendo o poder de ditar as soluções dos conflitos, surgiu a figura do pretor,
em que as partes perante o mesmo se comprometiam a aceitar o decidido pelo árbitro
escolhido por ele de forma obrigatória, era o litiscontestatio, período também em que o
Estado passou a editar regras de critério objetivo e vinculativo para facilitar a sujeição das
decisões às partes4.
Posteriormente o pretor não mais escolhia o árbitro, decidindo ele mesmo sobre
o caso mediante sentença, completando o período da chamada justiça privada para dar
início verdadeiramente a justiça pública.
O Estado já fortalecido necessitava impor sua soberania até então mitigada pela
liberdade particular, de forma que, passou a impor suas decisões submetendo os indivíduos
a resolução tomada de forma autoritária, sendo tal atividade até hoje nomeada jurisdição,
que conforme preleciona Ada Pellegrini Grinover consiste no:
... instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para
pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo
cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhes é apresentado
5
em busca de solução.

É através desta jurisdição que o Estado utiliza-se do seu poder de decisão


imperativa com a finalidade pacificadora, distinguindo-o das demais funções do Estado,
legislativa e administrativa.
Hoje, sob a égide dos direitos sociais característicos dos direitos fundamentais
de segunda geração 6, prevalece a idéia da justiça social, em que este poder jurisdicional
deve ser utilizado de forma a alcançar o bem comum pela “pacificação com justiça”,
garantindo às partes o devido processo legal.

1.1.2 O Poder Judiciário e o exercício da atividade jurisdicional

A divisão funcional dos poderes do Estado que, embora seja uno quanto à sua
soberania, tem por objetivo fazer prevalecer as normas e princípios que garantem o bom
funcionamento da organização estatal como um todo.

4
GRINOVER, Ada Pellegrini, CINTRA, Antônio Carlos de Araújo e DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria Geral do Processo. 20 ed. ver. ampl. Editores Maheiros, 2004, p.22.
5
Teoria Geral do Processo, ob. cit. 2004, p.19-35,
6
Para o melhor entendimento sobre as gerações que norteiam os direitos fundamentais, é interessante a
leitura do capítulo Teoria dos Direitos Fundamentais do livro Curso de Direito Constitucional Positivo do
Prof. Paulo Bonavides, 2006.
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O Legislativo, através de representação popular, tem a função de elaborar as


leis, o Executivo, exercido pelo governo central, administra o Estado sendo seus chefes
também eleitos pelo povo e o Judiciário que ao interpretar e decidir imparcialmente
conforme as leis, aufere uma grande importância por incidir suas decisões ante interesses
conflitantes de uma sociedade que busca ter seus direitos reconhecidos diretamente pelo
Estado na figura de seus agentes.
Aristóteles apud Manoel Gonçalves Ferreira Filho, enfatiza a importância do
Judiciário ao dizer que a “função jurisdicional consiste em fazer justiça”7 e é por essa
importância que destacarei o Poder Judiciário na explanação deste trabalho.
O Poder Judiciário, dotado de uma autonomia administrativa e financeira,
conforme previsão do art. 99, caput da CF8, tem a atividade “voltada a dizer o direito
aplicável à espécie em caráter de definitividade e com a força das instituições estatais”9.
Visa, portanto, o exercício da função jurisdicional, produzindo efeitos no mundo fático
com a resolução de conflitos de interesses existentes no âmbito da coletividade social,
utilizando-se do poder inerente à soberania estatal, impondo decisões provenientes de
interpretações legais em face de casos concretos.
Assim, o Poder Judiciário é um dos que exercem as funções do Estado, sendo
estas funções definidas “como as formas específicas de exercício do poder político,
previamente determinadas pelo direito, as quais, a juízo do legislador, constituem a
estrutura mais adequada para alcançar os objetivos a que o Estado se propõe.”10
E diante da necessidade da sociedade de ter seus direitos garantidos no Estado
mais social, garantidor de direitos fundamentais e a impossibilidade da auto-tutela, o
Estado passou a ter o dever de prestar assistência na defesa dos direitos dos cidadãos em
face da pretensão resistida.
Munido de independência, o Poder Judiciário é o garantidor do Estado de
Direito, como bem observa o autor Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo ao dizerem:
...não é possível conceber um Estado de Direito sem um Poder Judiciário
independente, responsável não só pela solução definitiva dos conflitos
intersubjetivos, mas, talvez precipuamente, pela garantia da integridade

7
FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 34 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 136.
8
“Art. 99. Ao Poder Judiciário é garantido autonomia administrativa e financeira.
§ 1º. Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com
os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias;
9
FILHO, Valmir Pontes. Curso Fundamental de Direito Constitucional. São Paulo: Ed. Dialética 2001, p. 202
10
ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros Editores, 1995,
p.12.
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do ordenamento jurídico, mediante a aferição da compatibilidade entre os


atos estatais e os comandos vazados na Constituição.11

Essa independência do Poder Judiciário reserva aos juízes e tribunais a função


de julgar e punir do Estado, sendo inerente àqueles muitas vezes o monopólio de certas
decisões referente a interesses subjetivos.
Frente ao sistema de unicidade jurisdicional, o Brasil adota o “sistema inglês”
em que somente o Poder Judiciário tem jurisdição em caráter definitivo sobre os casos
concretos submetidos a sua apreciação, inclusive os já apreciados de forma administrativa,
com exceção dos crimes de responsabilidade, cujo processamento e julgamento competem
ao Senado Federal, conforme previsão do art. 52, I e II 12da CF.
A estrutura do Poder Judiciário é composta pelos órgãos relacionados no art.
92 da CF, in verbis:
“Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I – o Supremo tribunal Federal;
I - A – o Conselho Nacional de Justiça;
II – o Superior Tribunal de Justiça;
III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V – os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI – os Tribunais e Juízes Militares;
VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios.”

Dentre estes órgãos o Supremo Tribunal Federal é o órgão máximo do Poder


Judiciário, com a competência precípua de guardião da Constituição, em que declara a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em face da Constituição através do controle
abstrato de leis13, como também, aprecia em último grau, os casos concretos suscitados em
juízes inferiores, atuando de forma recursal e originária.
O Conselho Nacional de Justiça tem a função de controlar a atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário e outras definidas no texto constitucional
que serão abordadas adiante. Tal órgão não tem, portanto, função jurisdicional.
11
PAULO, Vicente de e ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro:
Impetus, 2007, p.607.
12
Art.52 Compete privativamente ao Senado Federal:
I – processar e julgar o Presidente e Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como
os Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles;
II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União nos crimes de responsabilidade;
13
Para um maior aprofundamento sobre o tema remeto o leitor à obra Controle de Constitucionalidade, do
autor Luís Roberto Barroso, 2006.
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Já o Superior Tribunal de Justiça tem como atividade principal assegurar a


uniformização normativa em face de lei federal, tendo competência também originária ou
recursal. Realiza somente o controle difuso da Constituição, assim como os TRF’s e Juízes
de primeiro grau.
Os Tribunais Superiores: Eleitoral, Militar e TST, integram a justiça
especializada, atuando no ramo específico de Direito.
Os Tribunais de Justiça dos estados-membros atuam em regra como órgãos de
segundo grau, sendo também competentes de forma originária, capazes de realizar o
controle difuso de constitucionalidade como qualquer órgão do Poder Judiciário e também
o controle abstrato de leis ou atos normativos locais em face da Constituição Estadual.
Assim, tais órgãos estruturados de forma escalonada, garantem a efetividade da
prestação jurisdicional, sendo estes, competentes frente à defesa da supremacia da
Constituição.

1.1.3 O Poder Judiciário frente a Constituição Federal de 1988

Ao Poder Judiciário, foram atribuídas pela Constituição Federal de 1988, várias


garantias conferindo-lhe autonomia institucional até então desconhecida.
Essa autonomia além de caráter institucional, tem relevância também no âmbito
financeiro e administrativo, tendo em vista o auto-governo exercido pelos Tribunais
através das eleições de seus órgãos diretivos, elaboração de seus regimentos internos,
quanto ao provimento dos cargos de magistratura de carreira e o provimento dos cargos
necessários à administração da Justiça, bem como, na elaboração de suas propostas
orçamentárias dentro dos limites da lei de diretrizes orçamentárias cabendo ao Presidente
do STF e dos demais Tribunais Superiores o encaminhamento das propostas no âmbito da
União e aos Presidentes dos Tribunais de Justiça no âmbito dos Estados e de Distrito
Federal.14
A autonomia desse poder é inerente a sua função jurisdicional que deve ser prestada
de forma imparcial, eficaz e célere, atribuído garantias constitucionais aos juízes que
materializam através de suas decisões os direitos subjetivos e interesses conflitantes, como

14
MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 2 ed. rev. e , atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p.931.
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também, exercem o último controle da atividade estatal, interpretando e executando as


normas.
Com os fins de guardião da Constituição, atribuída à Suprema Corte, a Constituição
Federal de 1988 ampliou o rol dos legitimados a propor a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI), assegurando esse direito não só ao Procurador Geral da
República, mas também ao Presidente da República, a Mesa do Senado, a Mesa da Câmara
dos Deputados, a Mesa da Assembléia Legislativa, o Governador do Estado, o Conselho
Federal da OAB, partidos políticos com representação no Congresso Nacional e as
confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional, (art. 103 da CF/88)
favorecendo o controle de constitucionalidade das leis contrárias à Carta Magna.
Aumentando o número de legitimados para propor ADIN, equiparou-se, em parte, o
controle concentrado de constitucionalidade ao controle difuso, restringindo a amplitude
deste controle incidental e consequentemente aumentando a demanda perante o STF pela
ampliação da utilização do controle abstrato, assoberbando esta Corte que possui
competência originária para julgar matérias constitucionais.
Houve, também, com a promulgação da nossa Constituição atual a extensão dos
instrumentos de proteção da ordem constitucional objetiva e do sistema de direitos
subjetivos, como a ADI, já citada, a Ação Direta de Constitucionalidade (ADC), Ação
Direta por Omissão, o Mandado de Injunção, o Habeas Data, e o Mandado de Segurança
coletivo.15
A Ação Civil Pública ganhou dimensão constitucional e o âmbito de proteção da
Ação Popular foi alargado, com o novo texto da CF/88.
Essa ênfase positiva dada ao Poder Judiciário pelo constituinte originário, veio
concretizar a idéia de Estado Democrático, através da atuação independente dos Tribunais
garantindo os direitos sociais, consagrando os princípios do devido processo legal (art. 5°,
LV, da CF), do livre acesso ao Judiciário e da proteção judicial efetiva (art. 5°, XXXV, da
CF), embora hoje este princípio esteja parcialmente impossibilitado de ser executado pela
precária estrutura judiciária como explicitado no texto.

15
Curso de Direito Constitucional, cit., p. 931.
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1.1.4 A dimensão do Poder Judiciário após a EC 45/2004.

É garantido e utilizado pelo Poder Judiciário o exercício à jurisdição sendo esta


exercitada pelo direito da ação judicial e seu processamento com a definitiva decisão
inerente ao poder dos juízes.
Sobre o assunto, Cármen Lúcia Antunes Rocha assinala:
...a jurisdição consiste no direito público subjetivo
constitucionalmente assegurado ao cidadão de exigir do Estado a
prestação daquela atividade. A jurisdição é, então, de uma parte,
direito fundamental do cidadão, e, de outra, dever do Estado. (...) O
direito à jurisdição apresenta-se em três fases, a saber, a) o acesso
ao poder estatal prestador da jurisdição; b) a eficiência e prontidão
da resposta estatal à demanda de jurisdição; e c) a eficácia da
decisão jurisdicta. 16

O procedimento das ações judiciais são norteados por princípios que visam
garantir o bom funcionamento do Judiciário, como a garantia ao devido processo legal (art.
5º, LIV da CF)17 que visa disponibilizar à sociedade a necessária tutela jurisdicional, em
conseqüência, temos os demais princípios, quais sejam, a garantia ao contraditório e a
ampla defesa (5º, LV da CF)18 que são relativos à feição democrática do processo, sendo
este o meio pelo qual se instrumentaliza o conflito de interesses a ser solucionado pelo
Estado-juiz.
Assim, o Poder Judiciário mantendo a igualdade entre as partes litigantes e o
dever de agir imparcialmente, cumpre sua função típica de julgar conforme a legalidade
(art. 5, II da CF)19.
No entanto, essa prestação do Estado com o fim precípuo de efetivar e
concretizar a ordem jurídica,20 a muito tempo vem sendo mitigada pela precária estrutura
dos órgãos que a exercem, estando estes desfalcados em número de agentes e servidores
públicos contando também com falta de material, ausência de cursos preparatórios e o

16
Este comentário encontra-se no texto de Pietro de Jesús Lora Alarcón, p.33, inserido no livro Reforma do
Judiciário, sob a coordenação de André Ramos Tavares, Pedro Lenza e o refiro autor do texto, 2005.
17
Art. 5º [...]
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens, sem o devido processo legal;
18
Art. 5º [...]
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral serão assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
19
Art. 5º [...]
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
20
Sobre a crítica citada, se faz necessário uma leitura do texto Reforma do Judiciário de autoria de Francisco
Pedro Jucá, ob.cit., 2005, p. 17.
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principal problema que consiste no número elevado de demandas judiciais junto a falta de
tecnologia e formalismo que protelam o provimento judicial.
Os motivos já citados junto ao excesso de recursos e as barreiras burocráticas
caracterizam a morosidade do Judiciário.
Portanto, a Emenda Constitucional nº 45 de 2004, conhecida como Reforma do
Judiciário, foi promulgada na tentativa de garantir que a prestação à tutela jurisdicional não
só seja prestada de forma igualitária mas também de forma eficiente e tempestiva.
Este instrumento normativo trouxe em seus dispositivos alguns dos meios pelos
quais viabilizam uma maior eficiência do Judiciário, conforme inciso LXXVIII,
acrescentado ao art. 5 º da CF, que prevê expressamente o princípio da celeridade
processual e os meios que o viabilizam, nos seguintes termos: “a todos, no âmbito judicial
e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.”
Assim, o processo deve ser célere sob pena de causar injustiças, que
dificilmente serão evitadas somente por esta previsão constitucional que já estava
implicitamente prevista na Constituição, necessitando-se atualmente de meios materiais
para pôr tal medida em prática.
Com os fins de atenuar o que se conhece como “crise do judiciário”, no atraso
da prestação jurisdicional, a EC 45/2004, também trouxe em seu texto algumas inovações,
como a obrigatoriedade da justiça itinerante no âmbito dos Tribunais Estaduais (art. 125, §
7º da CF), Tribunais Regionais Federais (art. 107, § 2º da CF) e Tribunais Regionais do
Trabalho (art. 115, § 1º)21.
A previsão quanto à justiça itinerante veio disponibilizar um maior acesso ao
Judiciário àqueles de baixa renda e detentores de dificuldades de comparecerem aos órgãos
públicos competentes, tendo em vista a ocorrência da descentralização dos Tribunais

21
Art. 125 [...]
§7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com realização de audiências e demais funções da
atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos
e comunitários.
Art. 107 [...]
§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais
funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
equipamentos públicos e comunitários.
Art. 115 [...]
§ Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais
funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
equipamentos públicos e comunitários.
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levando seus serviços à população através das Câmaras Regionais, aproximando-os


também da possibilidade de reaver seu pedido em segunda instância.
Sobre essa iniciativa, Pietro de Jesús assinala:
A intenção é, então, promover o acesso das pessoas ao Judiciário,
evitando limites odiosos. Contudo é importante anotar que o tema da
descentralização das instâncias do Judiciário ou de juízes ou tribunais,
que transitam ou se deslocam, não compreende apenas a realização de
audiências, ou o processamento ritual das lides em novas regiões, senão
que aqui devem ser, por evidente, implementadas ações integradas de
ordem estadual e municipal, que contemplem a prestação de serviços
essenciais à comunidade nas esferas administrativas, de uma legislação
estadual e municipal, que facilite a instalação de instâncias jurisdicionais
nos respectivos territórios, que se combine com o oferecimento dos
serviços judiciários. E, ainda, da participação efetiva da comunidade. Em
outras palavras, é necessário criar, tendo como elemento de referência o
desenho constitucional que traz a emenda, um modelo integrado e
acessível de prestação de serviços jurisdicionais, aliado a uma nova
cultura da prestação do serviço jurisdicional. Parece-nos que a emenda
ajuda na formulação de um aparelho jurisdicional mais presente, mas isso
requer um modelo integrado e o fortalecimento da participação popular.22

A previsão de criação de Varas especializadas em questões agrárias (art.126 da


CF)23, a muito tempo exigida pelos agraristas, consiste em mais um benefício para
desafogar as varas comuns que muitas vezes podem ser consideradas desespecializadas na
referida área, pelo número de matérias sob sua competência e a exigência de conhecimento
em litígios de difícil resolução, contribuindo para a pouca agilidade no trâmite processual.
Um ponto bastante discutido é a falta de verbas para melhor equipar e
estruturar os órgãos judiciais, o que de certa forma foi tratado positivamente pela EC
45/2004, que acrescentou o § 2º, ao art. 98, da CF, cuja disposição prevê que, a destinação
das custas e emolumentos devem ser de utilidade exclusiva do Poder Judiciário, com os
fins de custear suas necessidades e serviços afetos à justiça, enfatizando sua autonomia
financeira e administrativa.
Mais um motivo da morosidade processual é a falta de agentes em serviço da
Justiça, dentre eles juízes e servidores públicos e como forma de contribuir à melhoria
desse problema a EC 45/2004, estipulou em seu texto que o número de juízes na unidade
jurisdicional deve ser proporcional em relação a população e a demanda judicial na área
(art.93, XIII, da CF)24, levando atendimento aos cidadãos de localidades onde há escassez

22
Reforma do Judiciário, ob. cit. 2005, p.44.
23
Art.126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas,
com competência exclusiva para questões agrárias.
24
Art. 93 [...]
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de magistrados, como também, deve haver a seleção por meio de concurso de juizes
substitutos que possam suprir a grande demanda judicial já existente.
Os processos judiciais originários que devem ter distribuição imediata (art.93,
XV, da CF), somado a atual impossibilidade de férias coletivas (art. 93, XII da CF),
contribuíram para a celeridade processual, após a EC 45/2004, diante da não interrupção
dos serviços forenses, embora ainda existentes de forma injustificada nos Tribunais
Superiores entre eles Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. 25
Destarte, diante das alterações citadas, trazidas pela EC 45/2004, são maiores
as chances de se acreditar em mudanças práticas que possibilitem ao Judiciário prestar
justiça de forma rápida, oferecendo resposta em tempo oportuno e eficaz, em que a solução
dada seja pertinente ao direito requerido pelo demandante, porém não se pode ter em
mente que tais procedimentos sejam suficientes ou mesmo que sejam postos integralmente
em prática, pelo fato de que atualmente, por exemplo, inexistem Varas especializadas para
conhecerem de questões agrárias, tornando a sociedade descrente no desenvolvimento das
mudanças propostas.
Ressalte-se ainda a instituição das súmulas vinculantes (art.103-A da CF) pela
EC 45 de 2004, que consiste na edição de enunciados proferidos pela Suprema Corte sobre
matéria pacificada, em que, por decisão de 2/3 dos membros do STF, são consolidados
decisões reiteradas em súmulas, detentoras de efeitos incontrastáveis, vinculando os
tribunais inferiores e a Administração Pública quanto a decisões que abordem matérias já
sumuladas.
A adoção da súmula vinculante veio ajudar no combate a morosidade do
trâmite processual devido ao grande número de processos que envolvem casos semelhantes
e as divergências jurisprudenciais que trazem dificuldades para se alcançar uma decisão
definitiva, contribuindo não só para a celeridade processual mas também à segurança
jurídica, pela obrigatoriedade26 de sua aplicação sob pena de ser a autoridade que não a

XIII – o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva
população.
25
Art. 93 [...]
XII – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de
segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão
permanente;
[...]
XV – a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.
26
Diversa às atuais súmulas vinculantes são as súmulas persuasivas, que consistem em modelos
recomendados para a sua utilização interna no Tribunal que a proferiu, sendo de utilização não obrigatória
para a solução de decisões futuras.
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aplicou, demandada em ação de reclamação ao STF que poderá anular o ato administrativo
ou cassar a decisão judicial reclamada.
Porém, há quem alegue que a súmula vinculante não corresponde ao Estado
Democrático de Direito porque munido de obrigatoriedade quanto à sua utilização, não
deixa margem para o julgador manejar o processo participativo concretizador do Estado
Democrático de Direito que pressupõe a participação e o debate entre as partes na
prestação jurisdicional e não a imposição de decisão já declarada pela Suprema Corte
formada por integrantes não legitimados a representar a vontade do povo por não terem
sido escolhidos por este27.
Dito isto, a sociedade se põe em dúvida quanto a prestação efetiva do Poder
Judiciário e a construção de uma ordem jurídica justa e democrática.

1.2. MATERIALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO COMO FUNDAMENTO


DO ESTADO DE DIREITO

Desde a Constituição Federal de 1891, prevalece em nosso ordenamento o


regime político da democracia, que embora tenha sido relativizado pelas constituições de
1937 e 1967, prevaleceu a idéia do governo regido pela vontade do povo, conforme
conceito de Democracia formulado e criticado pelo autor Celso Ribeiro Bastos que diz o
seguinte: “ O governo democrático é aquele que tende a coincidir, cada vez mais, com a
vontade popular, embora, como já referimos, esta coincidência até hoje não tenha sido
plenamente alcançada.”28.
O citado autor faz referência a impossibilidade de concretização da
democracia, assim como o filósofo Platão, que acredita que a liberdade como proposta
maior da democracia pode levar à tirania, pela ausência de “unidade” do Estado com
relação ao indivíduo, sendo a democracia o pior das melhores formas de governo
(monarquia, aristocracia e democracia) e a melhor das piores formas (democracia,
oligarquia e tirania), porque embora essa forma de governo se baseie na vontade do povo,
o que é um critério das boas formas de governo, a liberdade base da democracia, em

27
GUIMARÃES, Pollyanna Silva. Análise constitucional do instituto da súmula vinculante sob o parâmetro
do Estado Democrático de Direito, da segurança jurídica e da celeridade processual. Revista de Direito
Constitucional e Internacional. ano 15. out. – dez. . 2007.
28
BASTOS, Celso Ribeiro. Dicionário de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 37.
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excesso, pode levar a tirania, que se utiliza da violência para governar, critério
identificador das más formas de governo.29
A Democracia que atualmente vivemos sob a forma representativa, cuja
essência está no poder emanado da maioria popular, é formada por representantes eleitos
pelo povo através do voto, em que os governantes exercem a função legislativa em favor
da sociedade, tendo sido estabelecido princípios constitucionais que visam garantir essa
soberania popular.
Pode-se reconhecer em nossa Constituição vigorante, vários artigos que
explicita ou implicitamente estabelecem o princípio democrático, tal qual previsto no
preâmbulo da Constituição que ao expressar: “Nós, representantes do povo brasileiro,
reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático,
destinado a assegurar o exercício...”, fundamenta a instituição da nova constituição com
base no Estado Democrático, deixando expressa sua formação a partir da vontade soberana
do povo.30
Os artigos 1º e 3º da CF, ao dispor sobre os fundamentos e objetivos da
Constituição, também expressam respectivamente o princípio democrático então vigorante,
conforme texto transcrito:
“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados, e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição.

“Art.3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

29
BOBBIO, Norberto. Teoria das Formas de Governo. 10ª ed.. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2000, p. 45.
30
Interessante consultar: MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. O princípio democrático no ordenamento
jurídico brasileiro. Jus Navegandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=62>. Acesso em: 27 mar.2008.
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Porém, vale ressaltar a diferenciação doutrinária inerente ao conceito de Estado


de Direito e Estado Democrático de Direito, onde Canotilho e Vital Moreira, apud Celso
Ribeiro, afirmam que:
Este conceito é bastante complexo, as suas duas componentes – ou seja, a
componente do Estado de Direito e do Estado democrático – não podem
ser separadas uma da outra. O Estado de direito é democrático e só
sendo-o é que é de direito; o Estado democrático é Estado de Direito e só
sendo-o é que é Estado de Direito. (Constituição da República Portuguesa
anotada, 2.ed., Coimbra Ed., 1984, v.1, p.73)31.

No entanto, preleciona o referido autor, Celso Ribeiro, fazendo diferenciação


quanto aos institutos citados acima:
Os movimentos políticos do final do século XIX, início do XX,
transformam o velho e formal Estado de Direito num Estado
Democrático, onde, além da mera submissão à lei, deveria haver a
submissão à vontade popular e aos fins propostos pelo cidadão.
[...]
Portanto, no entendimento de Estado Democrático devem ser levados em
conta o perseguir certos fins, guiando-se por certos valores, o que não
ocorre tão explicitamente no Estado de Direito, que se resume em
submeter-se às leis sejam elas quais forem.

Pode-se entender que o Estado Democrático qualifica o Estado de Direito,


acrescentando valores sobre a democracia como instituidora dos elementos do Estado,
ajustando o Direito, ou a ordem jurídica ao interesse coletivo 32.
Assim, o Estado Brasileiro submetido ao ordenamento maior da Constituição
Federal, sendo, portanto, um Estado de Direito é também um Estado Democrático, sendo a
democracia o fundamento institucional do Estado.
E é por via dessa limitação constitucional, conforme divisão de competências,
que os poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário se interrelacionam de forma autônoma
e independente dando ênfase a base doutrinária da tripartição de poderes, através dos freios
e contrapesos, garantindo o funcionamento desse sistema democrático.
O princípio democrático está intimamente ligado à tutela jurisdicional, por ser
este um direito fundamental garantidor do acesso à justiça, princípio basilar de um Estado
de Direito Democrático, assim, como apresentado em seu artigo, Vinício C. Martinez,

31
Dicionário de Direito Constitucional. Ob. cit., 1994, p. 63.
32
HONORATO, Cássio M. Virtudes do Direito: Elementos a legitimar o Estado Democrático de Direito.
Revista de Direito Constitucional e Internacional. Instituto Brasileiro de Direito Constitucional. Ed. revista
dos Tribunais, ano 14, n. 54, p.139-161, jan. – mar. 2006 -
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salienta que, “os direitos fundamentais são o elemento básico para a realização do princípio
democrático”.33
Em meio ao Estado Democrático de Direito está inserida a justiça como uma
virtude revelada sobre os princípios da igualdade e da proporcionalidade, sendo estes
elementos básicos do Poder Judiciário que por meio do devido processo legal, objetiva
alcançar e assegurar à todos a devida prestação jurisdicional.
Portanto, decorre do acesso à justiça, como direito fundamental, a garantia da
sociedade em se beneficiar com a justa prestação jurisdicional igualitária e eficaz,
assegurando a dignidade da pessoa humana ao proporcionar uma justiça célere e
participativa, que devido ao contraditório, a ampla defesa, a motivação das decisões
judiciais e sua devida publicidade proporcionam de forma democrática a solução imparcial
para o litígio levado ao Judiciário.
Na esteira desse raciocínio, lecionam Mauro Capelletti e Boa Ventura de Sousa
Santos apud Marinoni:
O direito de acesso à justiça atualmente é reconhecido como aquele que
deve garantir a tutela efetiva de todos os demais direitos. A importância
que se dá ao direito de acesso à justiça decorre do fato de que a ausência
de tutela jurisdicional efetiva implica a transformação dos direitos
garantidos constitucionalmente em meras declarações políticas, de
conteúdo e função mistificadores.34

Como se vê, o acesso à justiça é materializado pelo processo judicial justo, no


qual o juiz deve se preocupar em adequar a previsão normativa ao caso concreto levado ao
seu conhecimento, com fundamento também na teoria substantiva do “devido processo”,
que em uma análise comparativa ao Direito Português, o julgador deve não só conduzir um
processo legal, mas também se apoiar materialmente nos princípios da justiça, chegando-se
a conclusão que a interpretação legal deve estar englobada pelas circunstâncias fáticas de
cada caso concreto.35
Agindo assim, o juiz estará a garantir o Estado social com a efetiva
participação do Estado como pacificador de conflitos, sendo aquele detentor de

33
Comentário retirado do artigo, MARTINEZ, Vinício C., Estado Democrático. Jus Navegandi, Teresina, ano
8, n. 348,26 jul. 2004. Disponível em: < http://jus2.uol..com.br/doutrina/texto.asp?id=5497>. Acesso em 09
abr. 2008.
34
MARINONE, Luiz Guilherme e ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo de Conhecimento. 5 ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais. p. 32, 2006.
35
Canotilho, em sua obra Direito Constitucional. p.494. 2000, apresenta duas acepções para a existência de
um processo justo, a concepção processual, que consiste na necessidade de agira apenas segundo um
processo especificado na lei e a concepção substantiva que afirma ser esse “devido processo” não só um
procedimento legal, mas também justo e adequado, decidido sobre um prazo razoável.
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prerrogativas, quais sejam a inamovibilidade, a irredutibilidade de subsídios e a


estabilidade, que visam excluí-lo de qualquer influência que restrinja sua autonomia.
Todavia, embora prevaleça todo esse entendimento do direito à tutela
jurisdicional efetiva como garantia do Estado Democrático de Direito, o Poder Judiciário
não corresponde à necessidade da sociedade, por ainda haver barreiras políticas, sociais e
culturais que impedem sua efetividade como já explicitado de forma sucinta neste trabalho.

1.3. EFETIVIDADE DE DIREITOS36

Para concluir a análise da possível efetividade do Poder Judiciário, vale


ressaltar os instrumentos que tentam viabilizar o alcance da tutela jurisdicional efetiva,
como exemplo, a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, anterior à
Constituição na figura dos Juizados de Pequenas Causas, previstos na Lei 7.224/1984, em
que foi consagrado pela Constituição Federal de 1988, nos artigos 24, X e 98, I,
posteriormente incidindo a Lei 9.099/95 que regulamentou o art. 98,I, da CF.
Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e os Juizados Especiais Federais,
estes provenientes da EC n.22, de 18/03/1999 e da promulgação da Lei 10.259/2001, tem
como objetivos a democratização do acesso à justiça, facilitando a utilização dos serviços
jurisdicionais, já que tais institutos prevêem a possibilidade de reclamar judicialmente um
interesse resistido sem a necessidade de um advogado, caso a demanda seja inferior a 20
salários mínimos, bem como, através da previsão de rito mais célere, havendo a tentativa
de amenizar o formalismo e a morosidade da justiça, dando prioridade ao meio
conciliatório.
Porém, com a maior facilidade de acesso ao Poder Judiciário
consequentemente torna-se maior o número de demandas, contrárias ao precário número de
servidores e pouca estrutura, esbarrando mais uma vez na demora do judiciário, mesmo
englobando causas menos complexas, matéria dos Juizados Especiais.
Cria-se uma jurisdição real e outra legal, em que aquela difere do modelo
normativo que deveria prevalecer, configurando o modelo normativo mais simbólico do
que efetivo.

36
Texto de Maria Tereza A. Sadek inserido no livro Reforma do Judiciário, coordenadores Sérgio Rabello
Tamm Renault e Pierpaolo Bottini. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 271-289.
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As atitudes do poder público apesar de serem insuficientes, são válidas para a


possível efetividade dos direitos individuais, coletivos, difusos e individuais homogêneos,
previstos na nossa Constituição de âmbito social, prevendo para tanto a defesa de tais
direitos através da atuação do Ministério público com a legitimidade para propositura da
Ação Civil Pública, por exemplo, sendo esta também uma forma de atenuar a crise do
Judiciário, pois visa a atuação jurisdicional de forma coletiva, com a racionalização do
processo, configurando uma justiça distributiva.
Deve ser dado ênfase principalmente ao contencioso administrativo, com a
requisição de providências aos órgãos públicos para a efetivação dos instrumentos
extrajudiciais, como exemplo da atuação do Conselho Nacional de Justiça, as ações das
CPI’s, o Inquérito civil, entre outros que serão explorados neste trabalho.
Do ponto de vista democrático, o sistema jurisdicional necessita de políticas
públicas que incentivem a conscientização da sociedade dos seus direitos ao mesmo tempo
em que deve ser proposta, a possibilidade de acesso à justiça, sendo esta de forma ampla,
garantida conforme entendimento doutrinário descrito abaixo, com os fins de desafogar o
Judiciário e garantir o atendimento dos interesses da população.
... não haveria justificativas aceitáveis para que todo e qualquer tipo de
conflito tivesse que necessariamente adentrar as portas da justiça estatal.
Dessa forma acesso à justiça tem um significado mais amplo do que o
acesso ao Judiciário. Acesso a justiça significa a possibilidade de
reconhecer direitos, de procurar canais civilizados para a solução pacífica
de ameaças ou de impedimento a direitos e alta probabilidade de aceitar a
decisão. Assim, tem-se que considerar uma variada gama de instituições
que se dedicam de forma exclusiva ou dentre suas atribuições a ofertar
serviços de justiça. É claro que a ampliação do conceito acesso à justiça
implica reconhecer legitimidade de canais não judiciais como também a
legitimidade de distintas naturezas de soluções ofertadas.37

Posteriormente serão analisadas formas extrajudiciais de resolução de conflitos


previstas constitucionalmente, que embora de pouco conhecimento da população em geral,
consistem em meios eficazes de combate aos problemas referentes a prestação jurisdicional do
Poder Judiciário, sendo necessário políticas públicas de conhecimento para os fins de proporcionar
o acesso da população a essas formas de se fazer justiça.

37
Reforma do Judiciário, ob. cit. 2005, p. 280.
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São Paulo: Saraiva, 2008.

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jurídico brasileiro. Jus Navegandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <
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