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21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais

09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

AVALIAÇÃO DO GRAU DE SENSITIZAÇÃO EM JUNTAS SOLDADAS PELOS


PROCESSOS GTAW E FCAW EM AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICO AISI 304 E
AISI 304 L

Francisco Sartori
João Henrique Bagetti
fsartori@hotmail.com.br
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba - SC

RESUMO

O presente trabalho irá tratar da avaliação dos processos de soldagem, GTAW e


FCAW, na soldagem dos aços inoxidáveis austeníticos AISI 304 e 304L, tendo como
objetivo, verificar a ocorrência da sensitização (formação de carbonetos de cromo)
na microestrutura soldada, em função do ciclo térmico destes processos de
soldagem. Para tanto, foram confeccionados corpos de prova, com juntas de topo,
com chanfro tipo “V”. Foram realizados ensaios de END, bem como, ensaio de
tração, além de análises metalográficas. Os resultados com relação à resistência da
junta apresentaram-se conforme o esperado e de acordo com a literatura existente
do assunto, onde a região de fratura aconteceu na região da solda para aços AISI
304, e no material de base para amostras de AISI 304L. Com relação aos valores de
resistência máxima, observou-se que todas as amostras obtiveram resultados
abaixo do mínimo esperado com relação ao material de base (720 MPa para AISI
304 e 690 MPa para AISI 304L), o que leva a considerar a presença da fragilização,
porém com relação ao metal de adição (ER 308L) a resistência máxima obteve
valores aproximados (645 MPa). Quanto aos resultados da análise metalográfica,
confrontando as imagens da microestrutura obtida, com a de referência, da norma
ASTM A262, pôde-se observar, que em ambos os aços houve a formação de
microestrutura “dual”, ou seja, apresentam a formação de sensitizado em parte do
contorno de grão, sendo mais presente no AISI 304.

Palavras-chave: GTAW, FCAW, sensitização, aço inoxidável austenítico.

INTRODUÇÃO

Como um dos principais processos para fabricação de máquinas,


equipamentos e peças de reposição, há a soldagem GTAW (Gas Tungsten Arc
Welding), por ser um processo de soldagem de baixo aporte térmico, torna-se ideal
na união de chapas e perfis em aços inoxidáveis, porém com baixa produtividade

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para processos convencionais. Já a soldagem FCAW (Flux Cored Arc Welding), é


um processo de soldagem, onde a produtividade é maior, porém com elevado grau
de aporte térmico. No entanto, nos dois processos, caso seja realizado de forma
inadequada, a fragilização pode ocorrer em função da precipitação de carbonetos de
cromo nos contornos de grãos da austenita (sensitização) no momento da operação
da solda e no seu resfriamento, em função dos ciclos térmicos do processo,
deixando o material suscetível a oxidações e possíveis fraturas (1, 2).
Desta forma, o processo de soldagem, deve apresentar um rigoroso controle
das variáveis envolvidas, como por exemplo, a energia de soldagem, a velocidade
de soldagem, a proteção gasosa, a seleção correta do metal de adição, dentre
outros. Esse controle é fundamental para garantir a qualidade do produto final.
Diante disso, este trabalho propõe um estudo na área de processos de
soldagem GTAW e FCAW, o qual contempla pesquisa bibliográfica e ensaios, além
de análises dos resultados, mostrando no que a sensitização influencia na
resistência mecânica em juntas soldadas em aço inoxidável austenítico AISI 304 e
AISI 304 L. Para realização e avaliação de procedimentos foram seguidos normas
técnicas como a ASME IX (3), ASTM A 262 (4).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para verificação da ocorrência de sensitização, bem como, o comportamento


dos aços inoxidáveis soldados com relação à resistência mecânica, foram realizados
ensaios de tração e análise de metalografia, onde foi preciso alguns procedimentos
antecedentes para preparação de corpos de prova.
O material utilizado foi o aço inoxidável austenítico AISI 304 e AISI 304 L, onde
foram fabricados doze corpos de prova (CP’s) em junta de topo. Esse procedimento
foi seguido de acordo com a norma ASME IX.
A soldagem do aço AISI 304 e AISI 304 L, foi realizada na empresa parceira
em Joaçaba, por um soldador com qualificação 3G, utilizando o processo de
soldagem GTAW para o material de espessura 7,9 mm e processo FCAW para o
material de 12,7 mm, seguindo alguns cuidados essenciais de parâmetros de
soldagem.

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Seguindo o procedimento, foram realizados os cortes dos corpos de prova para


ensaio de tração, seguindo a norma ASME IX, e preparação de corpos de prova
para análise de micrografia de acordo com a ASTM A 262.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos ensaios de tração realizados em laboratório de ensaios da UNOESC em


Joaçaba, avaliou-se a tensão máxima que é o parâmetro mais importante nesse
ensaio para juntas soldadas e a localização do rompimento da amostra. A partir de
cada corpo de prova soldado, foram retiradas duas amostras para ensaio.
Com relação ao rompimento das amostras no ensaio de tração, houve variação
na localização do rompimento. No aço AISI 304, todas as amostras romperam na
região da solda, conforme ilustrado na Fig. 1 (a). Com relação ao aço AISI 304 – L
com baixo carbono (0,03% máx.), material com menor incidência a formação de
carboneto de cromo, as amostras romperam no metal de base, fora da ZTA, ficando
a região da solda apenas com sinais de deformação plástica, Fig. 1 (b).

(a) (b)
Figura 1: Amostras rompidas no ensaio de tração aço AISI 304 e AISI 304 L
Fonte: O Autor.

Com relação aos resultados de resistência à tração, conforme Tab.1, foi


constatado, que todos os CP’s não obtiveram resultados mínimos esperados para o
material, que é 720 MPa (AISI 304) e 690 MPa (AISI 304 – L) (5), que são valores
para materiais sem sofrer alterações por conta da temperatura, ou seja, materiais
que não passaram por processos de fabricação, vindos diretos de usinas
siderúrgicas. Pode-se constatar, que quando soldados, os aços AISI 304 e também
o AISI 304 – L, ao receber a influência de ciclos térmicos, acabam gerando a
fragilização, por conta da formação de carbonetos de cromo (sensitização),
diminuindo a resistência mecânica. Porém, a maioria dessas fraturas aconteceu na

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solda, onde foi utilizado metal de adição ER 308 L, onde o limite de resistência, de
acordo com o catálogo ESAB é de 645 MPa. Vários desses valores acabaram
atingindo valores próximos a esse, o que implica também na avaliação do resultado.

Tabela 1: Valores médios obtidos de tensão máxima em Ensaio de Tração


Nº do Corpo de Processo de Material Tensão Tensão Máxima
Prova Soldagem Máxima (MPa) (MPa) Mínima
Valor médio esperada do aço
entre os CP’s analisado
CP 01 GTAW AISI 304 566,5 720
CP 02 GTAW AISI 304 624,5 720
CP 03 GTAW AISI 304 554,0 720
CP 04 GTAW AISI 304 607,0 720
CP 05 FCAW AISI 304 564,2 720
CP 06 SAW AISI 304 537,5 720
CP 07 FCAW AISI 304 619,1 720
CP 08 FCAW AISI 304 617,0 720
CP 09 FCAW AISI 304 L 589,0 690
CP 10 GTAW AISI 304 609,1 720
CP 11 FCAW AISI 304 L 578,1 690
CP 12 FCAW AISI 304 636,1 720
Fonte: O Autor.

Avaliação da ocorrência de sensitização

Para a avaliação da ocorrência da sensitização foi realizado o ensaio de


metalografia, onde foi analisada uma amostra de cada CP, utilizando um aumento
de 400 vezes para uma melhor identificação das regiões, como a ZTA, a Zona
Fundida e também a microestrutura do metal de base.
A primeira análise foi feita em uma amostra do metal de base AISI 304 para
verificar a microestrutura austenítica. Como observa-se na Fig. 2 (a), essa
microestrutura fica evidenciada ao fundo. As manchas presentes na imagem
possivelmente sejam da influência do ataque eletroquímico.
Em sequência, foram analisadas as amostras das juntas soldadas do aço AISI
304, as quais romperam na região da solda. Na região do metal base, Fig 2 (b), a
estrutura austenítica se mostra presente sem a formação de carbonetos de cromo,
classificada assim como estrutura “step” (limite de contornos de grãos não envoltos
por carboneto de cromo). Essa estrutura é evidenciada comparando com a Fig. 3
(a), que foi retirado da norma ASTM A 262.

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Manchas

(a) (b)
Figura 2: (a) Amostra de aço AISI 304, estrutura austenítica; (b) Amostra CP 7, aço AISI 304, região
do metal de base
Fonte: O Autor.

Já na região da ZTA, mostrada na Fig. 4 (a), e na região da Zona Fundida, Fig.


4 (b), revelam o aparecimento de uma estrutura “Interdendritic Ditches” (um ou mais
grãos completamente envoltos por carboneto de cromo) em comparação com a Fig.
3 (b), que pela norma ASTM A 262, significa a formação do carboneto de cromo em
vales profundos na estrutura. Na região da ZTA, pode-se observar uma quantidade
maior de precipitados do que a Zona Fundida, consequentemente deixando a região
mais suscetível à corrosão.

(a) (b)
Figura 3: Estrutura cristalina de aço inoxidável austenítico, fase de sensitização. (a) estrutura step,
(b) Estrutura Interdendritic Ditches, observado em material soldado.
Fonte: ASTM A 262

Todas as amostras analisadas do aço AISI 304 tiveram resultados


semelhantes, por conta das influências cíclicas de temperaturas, apresentando a
formação de carbonetos de cromo (sensitização) tanto na região da ZTA, como na
Zona Fundida.

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Exemplos de formação de
carbonetos de cromo

(a) (b)
Figura 4: Amostra CP 7, aço AISI 304, (a) região de transição da ZTA para região da Solda; (b)
região da Solda
Fonte: O Autor.

Para as amostras do aço AISI 304 – L, onde os mesmos romperam no material


e não na solda, não houve o aparecimento de carbonetos de cromo, Fig. 5 (a),
estrutura “step”, conforme norma ASTM A 262, por conta de ser um material com
porcentagem menor de carbono, cerca de 0,03 %, apresentando em sua estrutura
uma matriz austenítica.
Porém, na região da solda desses aços, como foi utilizado o metal de adição
similar, percebeu-se uma estrutura semelhante as das amostras de aço AISI 304,
estrutura “dual”, Fig 5 (b), porém não afetando diretamente no rompimento do CP na
região da solda.

(a) (b)
Figura 5: Amostra CP 09, aço AISI 304 – L, (a) região próxima à fratura; (b) , região da ZTA.
Fonte: O Autor.

Com essa técnica de microscopia ótica, conseguiu-se avaliar as regiões


rompidas no ensaio de tração e perceber a incidência da precipitação do cromo nas
regiões de contorno de grão, deixando a estrutura fragilizada e empobrecida,
afetando diretamente as propriedades mecânicas e possivelmente sua resistência à

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oxidação. Isso foi percebido comparando as imagens obtidas no ensaio com a


norma ASTM A 262.

CONCLUSÃO

Com a realização deste trabalho, verificou-se em corpos de prova soldados de


aço inoxidável austenítico AISI 304 e AISI 304 – L, a influência da sensitização na
resistência mecânica. Foram testados dois processos diferentes, o GTAW, com
baixo aporte térmico, e o FCAW, processo com aporte térmico mais elevado.
Nos ensaios de tração os resultados obtidos foram como esperados. Os Cp’s
de aço AISI 304 romperam na região da solda, e os valores de tensões ficaram
abaixo do mínimo esperado ao material, o que faz comprovar o que literatura mostra
a incidência da formação de carbonetos de cromo (sensitização), fragilizando o
material em análise, principalmente a região da solda e da ZTA. Já os CP’s do
material AISI 304 – L, não romperam na solda e na ZTA, rompendo no material de
base. Provavelmente, isso ocorreu por ser um material com baixo carbono, o que
pode diminuir a incidência da formação do carboneto de cromo.
Para o ensaio de metalografia, utilizando microscópio ótico, verificaram-se as
regiões fraturadas e comprovada a formação de carbonetos de cromo,
principalmente nos contornos de grão da estrutura austenítica dos aços inoxidáveis.
Com essa análise percebeu-se o empobrecimento de cromo na matriz do material e
consequentemente a diminuição da resistência mecânica e possivelmente à
resistência à oxidação.
Diante dos resultados obtidos, a proposta do trabalho foi atendida, porém com
a consciência que devem ser realizados novos ensaios além desses realizados,
como microscopia eletrônica por varredura, espectrometria, para ter uma maior
garantia e confiabilidade dos resultados.

REFERÊNCIAS

(1) BRANDI, Sergio Duarte. Soldagem dos aços inoxidáveis. Belo Horizonte:
Acesita, 1997. 43p.

(2) KAIN, V. ET AL. TESTING SENSITIZATION AND PREDICTING Susceptibility to


Intergranular Corrosion and Intergranular Stress Corrosion Cracking in Austenitic
Stainless Steels. Corrosion, vol. 58, no 1, p. 15-37, 2002.

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(3) AMERICAN SOCIETY OF MECHANICAL ENGINEERS. ASME Seção IX: Parte


QW Soldagem 1983, 151p.

(4) ASTM A 262-98. Standard Practices for Detecting Susceptibility to


Intergranular Attack in Austenitic Stainless Steels. Philadelphia, PA, USA: ASTM,
1998.

(5) APERAM. Tabela resistência aço inoxidável austenítico. Timóteo MG, 2013.
Disponível em: < http://www.aperam.com/brasil/port/arquivos/TT-0012-11-
EspecificacoesTecnicas.pdf> Acesso em: 12 dez. 2013.

EVALUATION OF THE DEGREE OF WELDED JOINTS IN SENSITIZATION GTAW


AND FCAW BY PROCESSES IN STAINLESS STEEL AISI 304 AND AISI
AUSTENITIC 304 L

ABSTRACT

This paper will address the assessment of welding processes, GTAW and FCAW,
the welding of austenitic stainless steel AISI 304 and 304L, aiming to verify the
occurrence of sensitization (formation of chromium carbides) in the welded
microstructure, depending on the thermal cycle of these welding processes. For this
purpose, specimens were fabricated with butt joints, beveled "V" type. END assays
were performed as well, tensile testing, and metallographic analysis. The results with
respect to the strength of the joint showed up as expected and according to the
existing literature on the subject, where the region of fracture occurred in the weld
region to AISI 304, and the base material AISI 304L samples. Regarding the values
of maximum resistance, it was observed that all samples had results below the
minimum expected with respect to the base material (720 MPa for AISI 304 and 690
MPa for AISI 304L), which leads to consider the presence of weakening but with
respect to the filler metal (ER 308L) maximum strength obtained approximate values
(645 MPa). Regarding the results of metallographic analysis, comparing the images
of the microstructure obtained with the reference, ASTM A262, it was observed that
in both steels was the formation of microstructure "dual", they present the formation
of sensitized part of the grain boundary, being more present in AISI 304.

Keywords: GTAW, FCAW, sensitization, austenitic stainless steel.

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