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Papel das convenções de uso de J. Morgan

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Fórum da Atividade 1- Pragmática Linguística: a interpretação do sentido

(problematização)

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Papel das convenções de uso de J. Morgan


por Joaquina Oliveira - Quinta, 15 Março 2018, 15:32

Boa tarde, professora e caros colegas

Segue um resume da leitura de Morgan. Ainda volto para comentar as outras leituras. Não sei
se consegui abordar os aspectos mais importantes das ideias do autor.

Two types of convention indirect speech acts – J. L. Morgan

Morgan, em seu artigo, enfoca os atos de fala indiretos, tendo como exemplo a célebre frase
“Can you pass the salt?”.  Entretanto, logo no começo, aponta um problema: o aparente
paradoxo da expressão. E mais: trata como convencional e não idiomática. Morgan afirma que
suas reinterpretações dos atos de fala indiretos recaem sobre o trabalho de Searle e estabelece
duas convenções: convenções da linguagem (que dão origem conjuntamente à significação
literal da frase); e convenção sobre a linguagem (que regem o uso de frases com significados
literais para certos fins).

Morgan também discuti a noção de “postulado conversacional”, de Searle.

1 – Enunciado do problema: expressões como “Can you pass the salt?” Pode-se usar a frase
como um pedido, sem considerar o significado literal; abordagem natural: usar frase como
pedido, mas com significado literal de uma pergunta sim-não; consequências das máximas de
Grice que é um conjunto de regras, grosso modo, para inferir as intenções por trás dos atos de
fala. Ou seja: pode ser calculável aparentemente.
Morgan também leva em conta as possíveis respostas para a expressão e o que leva ao seu significado
literal. Entretanto, o autor analise que a expressão se aproxima dos atos de fala diretos quando
comparados com as paráfrases “você é capaz...” e os pré-verbais “por favor”.

O autor conclui que o paradoxo da expressão “Você pode passar o sal?” é natural e também
convencional, por isso não calculável. E a explicação é feita por Searle quando diz que não há dúvida
que exista distinção entre significado e uso; que pode haver convenções de uso que não significam
convenções. (Com certeza uma "resposta" interessante e que gostaria de entender melhor.)

Pragmática e Linguística

Nesta parte, o autor distingue abordagem natural de abordagem convencional. Antes, questiona os
limites da Pragmática que abarca questões de interpretações de intenções. Ele dá exemplo do pote de
açúcar no qual alguém aponta o dedo para a palavra e pergunta o que é aquilo. Das várias respostas
possíveis, pode-se inferir interpretações pragmáticas que ocasiona discussões sobre a natureza dos
princípios pragmáticos.

Para Morgan, as implicaturas conversacionais podem ser estendidas a atos não linguísticos. São princípios
gerais de interpretação de atos, aplicados ao sub-caso de comunicação verbal. ( Também interessante
visão: não sei até que ponto podemos desconsiderar o não linguístico. Também preciso entender
melhor isso.)

Convenções sobre o idioma

As convenções sobre a linguagem podem conter três tipos de elementos: ocasião, propósito e
significação. A convenção aborda uma declaração sobre o literal significado. Quando não se tem
claramente as conexões entre finalidades e os meios, a convenção do idioma pode ser reinterpretada
como a convenção da língua.

Ele dá alguns exemplos de saudações de partida:

Que Deus esteja com você.

Deus esteja com você.

Rezo a Deus para que Ele cuide de você.

O autor afirma que ao proferir a frase “Deus esteja com você.” É uma forma de se conformar com a
convenção de saudação, precisamente por causa de seu significado literal. Um ateu é suscetível de
escolher outra expressão. No entanto é uma questão de convenção que se diz e sob certas circunstâncias
e propósitos.

Até mais tarde,

Joaquina Cristina Oliveira

Hoje muito triste com fatos estarrecedores aqui no Rio de Janeiro. Mas, sigo em frente!

Responder

Re: Papel das convenções de uso de J. Morgan


por Carla Almeida - Sexta, 16 Março 2018, 15:56

Cara Joaquina,
Antes de mais, queria dizer-lhe que também acompanhei as notícias do que aconteceu no Rio de
Janeiro com  grande preocupação. 

Voltemos ao nosso autor J. Morgan. Segundo este autor, quando uma expressão
está convencionalizada pelo uso que dela faz o interlocutor, este "curto-circuita" o cálculo
regular realizado a partir da interpretação das máximas de Grice. A expressão
convencionalizada pelo uso ("conventions of use") passou a ter um sentido imediato. Trata-se,
segundo o Autor, de uma "convenção de uso".

Este papel de "curto-circuitar" um conjunto de inferências que regularmente ocorrem nas


interacções é feito a partir do "saber comum".

O Autor dá vários exemplos como a expressão "Parte uma perna!" ("Break a leg") para desejar
"Boa sorte" a um artista antes de um espectáculo. Esta expressão constitui um caso interessante
de uma convenção de uso. Não se trata da manutenção de um sentido literal, porque, segundo
Jerry Morgan, "There is more to knowing 'how to do things with words' than just knowledge of
literal meaning" (Morgan, 1977). Segundo o Autor, para além do conhecimento das convenções
do sentido das palavras e das regras semânticas das regras de combinação das palavras,
"language users also have knowlege about the use of particular expressions or class of
expressions" (Idem: 279).

Morgan refere ainda que a fórmula de realização indireta do ato de pedido "Pode passar-me o
sal?" é uma fórmulada convencionalizada. 

A propósito das fórmulas do ato de oferta em Português como "Queres um café?" "Aceitas um
café?", "Vai um café?", "Posso ajudá-la?", "Precisas de ajuda?" "Se quiseres, não me custa nada",
no meu capítulo de 1998 da coleção Linguística da Porto Editora (que a Joaquina já leu)
assinalo o seguinte: "Trata-se, assim, de realizações indirectas que representam pontos de
chegada de um processo de convencionalização de uso (Morgan, 1978, 261). A ocorrência
insistente destes modos de realização faz, seguramente, perder de vista o seu carácter
originariamente derivado. No fundo, tal uso insistente como que 'curto-circuita' a dimensão de
implicitação (implicatura conversacional) que aquelas fórmulas em rigor comportam" (Almeida,
1998: 177).

Um abraço e até já,

Carla Almeida

Mensagem superior | Responder

Re: Papel das convenções de uso de J. Morgan


por Joaquina Oliveira - Sexta, 16 Março 2018, 17:16

Boa tarde, professora

"Este papel de "curto-circuitar" um conjunto de inferências que regularmente


ocorrem nas interacções é feito a partir do "saber comum"."
Quanto ao seu comentário acima, tentando compreender melhor, penso que (posso estar
errada) o autor leva em conta o contexto e o conhecimento compartilhado para explicar o
"curto-circuito" nas máximas, pois estas não são suficientes para calcular os valores
ilocutórios indiretos de certas expressões por não considerar além do literal. Ele diz que a
linguagem é regida por convenções que funcionam para certas ocasiões e com certos fins. E
as comunidades de falantes têm conhecimento disso. O problema é identificar como isso
acontece com base em critérios empíricos.

Volto para comentar "pares adjacentes" de Kerbrat-Orecchioni. Ou continuo só com o texto


do Morgan, aguardando os colegas?

Joaquina Cristina Oliveira

Mensagem superior | Responder

Re: Papel das convenções de uso de J. Morgan


por Carla Almeida - Sexta, 16 Março 2018, 18:52

É isso mesmo, Joaquina. É no cálculo dos valores ilocutórios que acontece este
"curto-circuitar" das implicaturas conversacionais a partir do que constitui o
conhecimento compartilhado.

Pode continuar a desenvolver o seu bom trabalho, Joaquina, pois os seus colegas
José Marto e Mário Teixeira poderão, depois, dar continuidade à discussão.

Iremos contar ainda com a vossa colega Edna Cristina do México que se inscreveu
nesta UC um pouco mais tarde.

Para cada tema, devemos abrir nova entrada temática para que as linhas de análise
sejam delimitadas com clareza.

Um abraço,

Carla Almeida

Mensagem superior | Responder

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