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PALAVRA E UTOPIA .

UMFILME DEMANOELDEOUVEIRA
Recria o tempo e a vida de Padre António Vieira através dos seus sermões,
com Lima Duarte e Luis Miguel Cintra. Rec•••••••••A••• ••nl•rl

DOSSIER
DE
LETRAS,
ARTES E
IDEIAS
Ano 12! • Número 2 • De 19 março a 1 abril de 2014 • Portugal (Cont.)
• Gratuito • Número único • Diretora: Fernanda Lamy

re
lo
VIeira. ..
Paladino dos
fracos e dos

opr1 Idos
IDI(lO
neLUftYA

"O leme da natureza humana é o


alvedrio, o piloto é a razão, mas quão
poucas vezes obedecem à razão os -~"E' Mfl--___.. ..
ímpetos precipitados do alvedrio!"
""l.IP \3.
Sermão de Sonto António aos peixes, capítulo V
Ana Nunes
" Quem quer mais do que lhe convém,
perde o que quer e o que tem"
• Pe. António Vieira, o homem e a obra
p jgs. 3 ii 5
Sermão de Sonto António oos peixes, capítulo III
Inês Drago
• A época do Pe. António Vieira- séc. XVII
pjgs. li e 7
DL / 19 março a 1 abril de 2014
Sumário
EDITORIAL
PE. A NT ÓNI O V IEIRA, O HOM EM

i) Breve nota biográfica P.3 Ana Nunes Inês Drago


ii) Três imagens do autor P.4
iii) Breve nota informativa sobre
as características de Vieira Vieira é palavra, mundo. v•agem. pensamento. fé e
pregador e missionário P.S sabedoria. Foi não só um dos maiores oradores de sempre.
mas também um defensor da tolerância entre diferenças, da
' ,
A EPOCA DO P E. ANTONIO VIEIRA: busca do saber e da harmonia entre povos. A sua obra lega-
o SÉC. XVII: nos todo um património de pensamento e domínio da
i) Características do barroco na palavra - essenciais para a definição do que fomos e do
ru·te e na literatura P.& que poderemos ainda ser.
Assim, foi com o objectivo de expl orar um dos expoentes
PE. ANTÓNIO VIEIRA, A OBRA máxi mos da nossa literatura portuguesa, Padre António
i) O sermão do século XVll P.8 Vieira, que abraçamos este projecto com entrega total, de
ii) Objetivos da eloquência P.9 modo a ficarmos mais sabedoras do seu percurso
iii) Onde, quando e porque é que policromado literariamente.
foi escrito o Sermão de Sto. Para efectuarmos esta viagem no tempo. socorremo-nos de
António aos peixes P.10 suportes variados. como pesquisas online. manuais
escolares, plataforma Moodle, bem como outros livros
A ESTRUTU RA AR GUMENT ATIVA DO específicos da área.
SERMÃO DE ST. A NTÓNIO AOS PEIXES Durante a sua elaboração. devido à quase infinita
i) A estrutura argumentativa do informação sobre o pregador. foi uma tarefa árdua
Setmão de Sto. António aos seleccionar os itens mais importantes e indispensáveis a
esta edição. Já no que diz respeito às imagens. estas foram
peixes P.11
de difícil acesso, uma vez que são escassas. tanto em Livros
0 CONTE ÚDO DO S E RMÃO DE ST. como na internei.
ANTÓN IO AOS PE IXES Para finalizar, o traba lho em si não foi fácil, dada a sua
ex tensão, mas " Quern quer passar além do Bojador/ Tem
i) Resumo de cada capítulo do
que passar além da dor", pois, de facto, "Tudo vale a
Sermão de Sto. António aos
penal Se a alma não é peque1w.''.
peixes P.12
ii) Crítica social presente no
Sermão P.14
iii) Características do estilo
vieirino P.13
CONCL USÃO P.16

B mu oGRAFlAIWE BGRAFIA P.17

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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, O HOMEM


BREVE NOTA BIOGRÁFICA

1e1ra nasceu em 1608. Aos Defende a não perseguição dos cristãos-


seis anos partiu para o novos, custando-lhe o ódio da Inquisição.
Brasil. D. João IV morre. Foi perseguido pelos
Frequentou o Colégio dos apoiantes de D. Afonso VI. A Inquisição
Jesuítas, na Baía. Ingressou na Companhia de prende-o até 1667, sob a acusação de heresia
Jesus, tornando-se sacerdote em 1634. • A
e crença mess1amca.

Em 1641, vem a Lisboa homenagear D. João Em 1675, o Papa liberta Vieira da Inquisição
IV. Torna-se seu confessor, conselheiro, e regressa a Lisboa. Volta para a Baía, em
pregador da corte e embaixador na Europa. 1681, falecendo em 1697.
Intervém na política, pregando sobre a
injustiça dos colonos no Brasil, face à
exploração dos índios.

Danuta Wojciechowska, in Padre António Vieira. Col. Noes com História. Zero a Oito

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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, O HOMEM

ANTÓNIO, in A tua/ (Expresso), 22 de dezembro de 2007

António Vieira numa pintura de Columbano Bordalo Pe. António Vieria, pintura de Carlos Peres
Pinheiro, nos Passos Perd idos da Assembleia da Feio in http://carlosperes{eio.bloqspot.pt
República in in PINTO, Elsa Costa, FONSECA,
Paula e BAPTISTA, Vera Saraiva. (2 011). Plural
11. (1ª ed.). Usboa Editora

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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, O HOMEM


BREVE NOTA INFORMATIVA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS

DE VIEIRA PREGADOR E MISSIONÁRIO

uando se ordenou, Vieira já António Vieira vem de novo a Portugal,


surpreendia com a sua para convencer o rei a decretar o fim da
oratória. Queria ser desumanidade vivida no Brasil.
pregador, missionário.
O monarca entrega-lhe o decreto em que
Em 1624, os holandeses atacam a Baia. os jesuítas passam a ter inteira jurisdição
Vieira coloca-se ao lado dos índios, para sobre os índios. Consequentemente, as
os defender dos --------------------------------------- autoridades locais

vilipêndios.
O Pe. António Vieira jamais poderão intervir
pronunciou o Sermão de .
na llliSSionarizaçao.
-
Em 1641, integrou a
comitiva que veio a Santo António aos Em 1669, embarca para
Portugal homenagear peixes na catedral de S. Roma, onde alcança
D. João IV. Assumiu Luís. enorme prestígio. Os
- que . -
o papel de pregador régio. sermoes aí pronuncia sao

Mais tarde, no Maranhão, dá-se conta do excecionais e o Colégio dos Cardeais


pede-lhe para pregar na sua presença.
caos moral, sobretudo dos brancos,
preocupados com o enriquecimento. Os
colonos declinavam interferência. Os
índios viviam miseravelmente, à mercê
dos colonos. Nos primeiros sermões,
ataca a escravatura, que denuncia ao rei.
Em vão. E' preso, funda um hospital,
reparte a sua alimentação, catequiza,
fulmina o vício e a luxúria. Na catedral
de S. Luís, pronunciará o Sermão de
Santo António aos peixes - alegoria do
modus vivendi na colónia.

l it ografia represen tando o padre Antóni o


5 Vieira a pregar aos índio in
http://www.anovieirino.com
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A ÉPOCA DO PE. ANTÓNIO VIEIRA: O SÉC. XVII


BARROCO NA ARTE

.
1. A arte barroca surge em Itália, no século o momento de mato r dramatismo

XVll, como a arte da Contra-Reforma, abandonando os princípios de simetria,

pela necessidade de combater o proporção e harmonia.

Protestantismo e atrair mais fiéis às 6. Recorre ao movimento, à assimetria, aos


igrejas. Entendia-se que as obras de arte
recursos cenográficos, às for mas
deviam "falar" aos fiéis e dai o carácter exuberantes, à luz e à sombra.
solene.
7. Na Arquitetura, a principal
2. A arte barroca vai ser utilizada pela
característica é a nova concepção de
nobreza e monarcas absolutos como espaço infinito e movimento contínuo.
ostentação e para demonstração da sua
Vai criar, nas igrejas, o ambiente para a
riqueza e poder.
exaltação católica e aparece um novo

3. Em Portugal, desenvolve-se um pouco conceito de cidade como símbolo


religioso. As praças são centro de
mais tarde do que no resto da Europa
referência dominadas por um edifício
porque, em 1580, Portugal perde a
principal, igreja ou palácio, decoradas
autonomia e faz parte do reino de
com fontes, obeliscos e estátuas. São
Espanha, ficando numa situação
.
planificadas para cnar perspetivas
económica que não permitia desenvolver
monumentais. Dominam as linhas
uma arte de luxos.
curvas, elipses, parábolas, hipérboles,
4. Na Península Ibérica, evoluiu sobretudo sinusóides, hélices, há a abundância de
a arte da talha que é um produto de arcos de formas variadas e diferentes
douradores, marceneiros, de tipos de cúpulas. São usados suportes
. . " . .
desenhadores e unagmanos, que va1 dinâmicos (colunas sinusóides).
estar presente em toda a arte sacra da
8. A Pintura é marcada pela busca do
época.
efeito de ilusão, com pinturas nos te tos e
,
5. E uma arte de persuasão, que apela às paredes dos palácios e igrejas. Os
emoções do espectador, tentando captar
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artistas pintam cenas e elementos Caracterizava-se por contrastes de luz e


arquitectónicos (colunas, escadas, sombra. Possuía realismo formal com
balcões, degraus) que dão ilusão de perfeição das formas. Utilizava-se a
movimento e ampliam o espaço, por acentuação dos gestos e expressões
vezes, dando a impressão de que a faciais e corporais, com representação de
pintura é a realidade e a parede não posições em movimento.
existe. Há uma exploração do jogo de
10. Na Música foi o apogeu da música
luz e sombra.
instrumentaL As músicas ficaram mais
9. Na Escultura a principal característica á lonoas
o ' ganhando variedade e
. .
a ommpresença. Foi a arte mais complexidade de peljormance
praticada no período barroco. Era instrumentaL Surgiram novas formas
adaptada ao interior e exterior e possuía musicais: a ópera barroca, a cantata e a
o realismo tridimensional. fuga.

Pietro da Cortona: O triunfo da Divina Providência, Pierre Legros: A Religião derrotando a Heresia e o
1633· 1639 in Ódio in
http:llupload. wikimedía. org/wikipedia/commons/515 http://pt. wikipedia.org!wiki!Ficheiro:Re/ígíon Overthro
1/Cortona Tríumph of Divine Providence 01 b.jpg wing Heresy and Hatred Legros.jpg

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A ÉPOCA DO PE. ANTÓNIO VIEIRA: O SÉC. XVII


BARROCO NA LITERATURA

- O conceptismo ocorre sobretudo na prosa e


1. Recebe a influência da Contra-Reforma.
Havia oposição entre os ideais da vida é marcado pelo jogo de ideias e de
conceitos, seguindo um raciocínio lógico.
eterna, em contraposição com a vida
terrena.
6. A organização da frase obedece a uma

2. o estilo barroco e' conturbado, ordem rigorosa com o intuito de ensinar


e convencer.
decorrente da tensão causada pela
.-
oposrçao entre os
. ' .
pnncrpros 7. Na poesia, as temáticas mais frequentes
renascentistas e a época cristã. eram: a efemeridade e fugacidade da

3. As principais características -
sao o
vida; o desengano e ilusão da realidade;
a obsessão pela morte; os motivos
dualismo e a fugacidade.
religiosos e históricos; o burlesco de
- O dualismo é o conflito entre a herança
situações quotidianas e a sátira aos
religiosa e o espírito humanista e racional.
vícios da sociedade.
Esse é evidente na produção literária através
do contraste de imaaens
o '
palavras e 8. Na prosa foi a idade de ouro. Visava a
conceitos. Mas também há a tentativa de propagação e a edificação religiosa.
conciliá-los. Escreveram-se sermões, cartas e tratados
- Na fugacidade, tudo é passageiro e moralistas.
instável, as pessoas, as coisas e o mundo
9. Em Portugal, os escritores que mais se
mudam.
destacaram foram Manuel Bernardes,
4. Usam-se recursos estilísticos como a
Frei António Chagas, D. Francisco de
metáfora, a antítese, o paradoxo, a
Melo (Carta de Guia de Casados), Padre
hipérbole e a prosopopeia.
António Vieira e Rodrigues Lobo.

5. Utiliza-se o cultismo e o conceptismo. 10. Padre António Vieira surge como um


- O cultismo usa linguagem rebuscada, dos maiores vultos da prosa religiosa e
extravagante, repleta de jogos de palavras e desenvolveu a teoria do Quinto Império.
uso abusivo de figuras de retórica.

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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, A OBRA


0 TIPO DE TEXTO "SERMÃO" DO SÉCULO XVII

o século XVII, o e exemplos para comprovar a tese. E, por


sermão era o género fim, na peroração ou conclusão, tem de
literário predominante existir um desfecho capaz de
por ser a base da mais impressionar o auditório e levá-lo a pôr
importante cerimónia social: a pregação. em prática os ensinamentos
apresentados.
O sermão clássico é uma argumentação,
composto de exórdio, .
expos1çao
- e O púlpito tornou-se a tribuna ideal para
peroração. No exórdio ou introdução, o a crítica à vida pública, sendo um lugar
pregador expõe a sua tese ou conceito único onde os padres podiam falar,
predicável. Na exposição ou no criticar e acusar livremente, um dos
desenvolvimento utilizam-se argumentos últimos locais com liberdade de
expressão, algo que não existia na época,
devido à dominação filipina e à
Inquisição.

Concluindo, através da pregação do


sermão, a palavra do orador atinge todas
as camadas sociais.

"Santo António a pregar aos peixes", pintura


de Júlio Pomar in PINTO, Elsa Costa, Caricatura de Pe. António Vieira, in
FONSECA, Paula e BAPTISTA, Vera Saraiva. http://www.luso-livros.net/
(2011). P/ura/11. (1ª ed.).lisboa Ed itora 9
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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, A OBRA


OS OBJETIVOS DA ELOQUÊNCIA:

DOCERE, DELEC'I'JJRE, MOVERE

eloquência é a arte de bem seu interesse e atenção (detectare); e,


falar e possui três funções finalmente, influenciar o comportamento
oratórias: docere, detectare e movere, do auditório, fazendo-o sentir-se como
isto é, ensinar, deleitar e persuadir. parte do problema e, também, como
Estes conceitos, que estão bem presentes parte da solução, apelando às suas
na tipologia textual que é o sermão, têm emoções (movere).
como finalidade ensinar, explicando e Em suma, os objetivos da eloquência,
expondo argumentos, tendo o sermão que estão subjacentes no sermão, servem
uma profunda vertente didática (docere); para levar o auditório à reflexão, à ação
agradar ao público, de forma a captar o e à mudança.

'

.
_-Q.a;t.ç..~fuLS..o...:.'\!.,'i~qy,~:§...é\$.4~~t.~.lt·>
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--------

Postal "Conheça a sua história - O Padre António Vieira". Coleção


de sócio in http://filatelica.aac.uc.pt/padreantoniovieira.php

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PADRE ANTÓNIO VIEIRA, A OBRA


ONDE, QUANDO E PORQUE É QUE FOI ESCRITO O

SERMÃO DE SJJN'I'O JIN'I'ÓNIO AOS PEIXES

Sermão de Santo Vieira irnitá-lo-á, visto que também não é


António aos Peixes foi ouvido pelos colonos do Maranhão,
proferido no Maranhão pelo padre António exploradores dos ameríndios e dos escravos
'
Vieira a 13 junho, dia de Santo António, em negros. A semelhança do santo que tanto
1654. venera, falará aos "peixes" - alegoria dos
O sermão inspira-se na lenda em que Santo colonos.
António, numa das pregações destinadas a
Finalizando, por se ter empenhado na defesa
emendar os homens, decide falar aos peixes
das minorias, deixou profundos traços de
ao constatar que aqueles não lhe prestam
humanismo nos seus trabalhos literários.
atenção.

SERMA M
D E S.PRE"GATJO
A N T ONIO .
~a Cidade de S. LIJÍu!o ~ hr.tonhaó·, :.r.no de tGH-

F}ftSMJtAl t -q•c rf!i~ht.dt<t,~"Íf~ ) F"it. ~st ~ Aut~ INf J t41


111flc t Pt {t t!IJ#.trrJC,. fi(Ct> llt~f'r!rrlfr f'J ""- 11 RIJ # O, a p!'Qrm t:l'
lrcmUT. d4fi11'V~f'J'G t~s I1Uil()l, ;n11'11 (tJP/'8$ qm j Í! AlfcN~
J"'(, "' t, St/'11'111; · ~~ t . Tt rll • . /f. ,l((k l «Ofl tiA"$ tJ.( fM/6.1
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ti ft )J!Jflrrtttii.i!'r' J , _, t.Wfi".rs allttDf'i-s.

f/1uflúfolurr4-. Meu h. f .

§. L tll(>SilO 1 m3'S <}U'lndo :Hcu.1


(~~; \·Ç tló c:Qnul)c.t como ç1l1í
Os, d~ Chrillo ~ nolfa , lu vct~ dt) catllru. nel .
Senhor ootfu , f.lt. la, que. tçm <:tti~iodc b l-, l jU:lt
Jl' l:lodócom osp,c:;. iç1 ~ touç~a l p9dt fq a c.,ur:,
gadon$ ,foif o J:.l .,t.,.l\:e co t'I'UP'tl!t-> f O u l 1e Jlor .
duttr:t : &. chJfO:I·I!\C: I:. i d.t qut (~ (>ll .o::ü Ú l~.1, ou 510:·
cqn 1porque qu~: r(qtlç tlpõ q~t, :.lr:ta a knão êc p;~ 1 :;:~).
~· tt·ru,o qttcfo~ Q>{2l.O cf. ~.; ~. 0 11!le por(lue u {;;i r-..1o
íc.icodofll bc: imptdir 3 C:Ol'• r~ ts" , ac .os ·v.(cz~torc, f'-1Õ
~ IIJ ~~~~·
André Letria, in Sermão de Santo António aos
ln Peixes, So//Quasi
http://bibesicp .no.sapo.pt/PAV SAP.jp

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A ESTRUTURA ARGUMENTATIVA DO SERMÃO DE


SA.N'I'O IIN'I'ÓNIO A.OS PEIXES

O Sermão de Santo moradores do Maranhão, mas também o


António aos Peixes é capítulo IV, em que se expõe o tema, as
uma obra alegórica que ideias e o seu desenvolvimento, com
,
critica o homem. E composto por seis inúmeros argumentos apresentados: vícios e
capítulos, inseridos na estrutura clássica do defeitos dos peixes, em geral, e o capítulo
sermão: exórdio, exposição e confirmação, e V, em que critica os peixes, descendo ao
-
peroraçao. particular.
O capítulo I está integrado no exórdio, onde Na peroração, que contém o capítulo final,
se apresenta o conceito predicável "vós sois utiliza-se um desfecho forte para
o sal da terra". impressionar o auditório.
Da exposição fazem parte o capítulo II, onde Conclui-se com uma advertência aos peixes,
se referenciam as obrigações do sal e as um retrato do próprio pregador como
virtudes dos peixes, em geral, e o capítulo pecador e um hino de louvor ("Como não
lll, que apresenta as virtudes dos peixes, em sois capazes de Glória, nem de Graça, não
particular. Na confirmação, não só está acaba o vosso Sermão em Graça e
presente este último capítulo, que inicia a , . ") .
Glon.a.
argumentação com uma apóstrofe aos

Gonçalo Viana, in Visão, nº 846, 21 de maio de 2009


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0 CONTEÚDO DO SERMÃO DE SJJN'I'O JIN'I'ÓNIO


AOS PEIXES
RESUMO DE CADA CAPÍTULO DA OBRA

O sermão tem seis capítulos.

o capítulo 1, Vieira No Capítulo IV, são apresentadas as


apresenta o assunto do - aos petxes
repreensoes
.
em geral:
sermão. A partir do ignorantes, cegos e vaidosos, comem-se
conceito predicável uns aos outros, com a agravante de
"vos estis sal terrae" procura-se serem sempre e continuadamente os
encontrar a razão pela qual a corrupção grandes a comerem os pequenos.
persiste, indagando se esta se deve aos Através destas críticas, estabelece-se
pregadores ou/e aos ouvintes. também uma analogia com os homens,
onde se critica a "antropofagia social" e
No capítulo li, é retomado o conceito
a "vaidade no vestuário" .
predicável - Propriedades do sal -
" conservar o são e preservá-lo para que No capítulo V,
se não corrompa." Relaciona, ainda, as assiste-se ao
referidas propriedades do sal com as enumerar dos
propriedades das pregações de Santo defeitos dos
.
António. Além disso, são feitos os petxes em
louvores aos peixes em geral: bons particular, que André Letria, in sermão de Santo
António aos Peixes, Soi/Quasi
ouvintes, obedientes, tranquilos, devotos representam os diversos defeitos
e prudentes. humanos. A sua escolha recai também
.
No Capítulo lll, menciona as virtudes sobre quatro petxes: o voador,
caracterizado pela ambição e presunção,
dos peixes em particular, escolhendo
quatro exemplos: o peixe de Tobias (o os roncadores que são arrogantes, os

poder curativo), a rémora (a força e a pegadores marcados pela dependência e


oportunismo e, finalmente, o polvo,
determinação), o torpedo (a energia) e o
quatro-olhos (a vigilância). traidor e hipócrita.
As atitudes tomadas

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por Sto. António reúnem a solução para


sanar estes defeitos. 0 CONTEÚDO DO
SERMÃO DE SJIN'l'O
Finalmente, no capítulo VI , que
JIN'l'ÓNIO JIOS PEIXES
corresponde à peroração, salientam-se
dois aspectos fundamentais: a condição CARACTEIÚSTICAS DO
ESTILO VIEIRINO
dos peixes, apesar da sua exclusão como
objeto de sacrifício a Deus, é superior à
dos outros animais, pois, embora não
PARALELISMO E ANÁFORA
Lhe ofereçam o sangue e a vida,
sacrificam-Lhe o respeito e a reverência. Ou é porque o sal não salga, ou porque

E os peixes estão acima do próprio a terra se uão deixa salgar.

pregador.
Ou é porque o sal uão salga, e os
pregadores não pregam a verdadeira
doutrina, ou porque a terra se uão

0 CONTEÚDO DO SERMÃO deixa salgar, e os ouvintes, sendo


verdadeira a doutrina que lhe dão, a
DE SJIN'I'O IIN'I'ÓNIO JIOS
não querem receber.
PEIXES
Ou é porque o sal uão salga, e os
CRÍTICA SOCIAL NELE
pregadores dizem uma coisa e fazem
PRESENTE outra, ou porque a terra uão se deixa
salgar, e os ouvintes querem antes
imitar o que eles fazem que fazer o que
dizem.
"Entre todas as injustiças, nenhumas
clamam tanto ao Céu como as que Ou é porque o sal uão salga, e os

tiram a liberdade aos que nasceram pregadores se pregam a si e não a


Cristo, ou porque a terra se uão deixa
livres e as que não pagam o suor aos
salgar, e os ouvintes, em vez de servir a
que trabalham.
Cristo, servem os seus apetites.

Padre António Vieira, ln: Cartas

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Sermão objetiva a
denúncia do drama
APÓSTROFE
dos índios. Já que me não querem ouvtr os
No exórdio, homens, ouçam-me os peixes. Oh
apresenta-se o tema: a necessidade de os m aravilhas do Altíssimo! Oh poderes
colonos alterarem a sua conduta do que criou o mar e a terra!
desumana. As qualidades dos peixes Começam a ferver as ondas, começam
estabelecem uma relação antitética com a concorrer os pe1xes, os grandes, os
os defeitos humanos ("os peixes ouvem e maiores, os pequenos, e postos todos
não falam'?, colocando o homem nos por sua ordem com as cabeças de .fora
antípodas. ela água, António pregava e eles
A referência às naus retrata uma .
OUV/Gm.

panóplia de vícios humanos. Quando o


orador reporta que os pe ixes grandes
comem os pequenos, metaforicamente, GRADAÇÃO E
coloca a tónica na antropofagia social. A
ENUMERAÇÃO
Terra assemelha-se a um açougue. Os
Vede um homem desses, que andam
homens também se comem inter pares,
perseguidos de pleitos, ou acusados
porque cobiçam os bens mútuos. ("Pois
ele crimes, e olhai quantos o estão
tudo aquilo é ( . .. ) os homens como hão-
comendo. Com e-o o meirinho, com e-
de comer.").
o o carcereiro, com e-o o escrivão,
A senda da sua crítica social continua,
come-o o solicitad01; com e-o o
enfatizando que os homens valorizam
advogado, come-o o inquiridor,
um retalho de pano, po is os bens
~------ ---------- ----------------- -- materiais -
sao
com e-o a testemunha, com e-o o
''Lamentavelmente, epicentro de
julgador, e ainda não está
sentenciado, e já está comido. São
as suas incidências, discórdias
piores os homens que os corvos.
("Pode haver
são intemporais"
~----------------------------------· maior
. ~ ·
tgnorancw e (. .) .,.,).
. ceguetra.
Aquando do roncador, expõe os homens
arrogantes. No tocante ao pegador,
critica o parasitismo. Quanto ao voador,

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metaforiza o humano ambicioso e o


polvo representa a traição.
Concluindo, nenhum humano corrupto
escapou ao olhar radiográfico deste
padre visionário. Lamentavelmente, as
suas incidências são intemporais, pois,
no início do século XXI, a "feira das
vaidades" continua a ser o Leitmotiv do
" cego" Immano. A te' quan do.? IRONIA

Ah moradores do Maranhão,
CONCLUSÃO quanto eu vos pudera agora dizer
neste caso! Abri, abri estas
entranhas; vede, vede este

inalizado o caminho percorrido ao coração. Mas ah sim, que me não

longo deste trabalho, constatámos lembrava! Eu não vos prego a vós,

que o Padre António Vieira é prego aos peixes.

passível de ser considerado, não só um


COMPARAÇÃO
ícone da literatura nacional, como da
internacional. Autor de um número considerável Se as baleias roncaram, tinha mais

de obras (sermões, cartas, etc ... ), todas são desculpa a sua arrogância na sua

cunhadas com a sua marca singular, orientada grandeza. Mas ainda rzas mesmas

para a correção das imperfeições humanas. baleias não seria essa arrogância

Com toda a legitimidade, podemos afirmar que segura. O que é a baleia entre os

este padre viveu no seu tempo fora dele, por ser peixes, era o gigante Golias entre

visiomírio e merecedor de um quinto império que os homens.

tanto profetizou, quanto mais não seja o império


da palavra pregada, que é dele por direito.

Pacotes de açucar. coleção Delta in


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BIBLIOGRAFIA! WEBGAFIA

MAGALHÃES, Olga e COSTA, Fernanda. (2011). Entre Margens- Português 11º Ano. (1ª ed.). Porto: Porto Editora

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