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1. NOÇÕES GERAIS
Introdução
A Constituição Federal previu uma série de direitos e garantias fundamentais. No
entanto, para que alguns deles possam ser plenamente exercidos, é
indispensável a edição de lei ou outro ato normativo regulamentador. Ex: os
servidores públicos poderão exercer greve, mas para isso é necessária uma lei
específica regulamentando o direito (art. 37, VII, da CF/88).
Sempre que um direito (em sentido amplo) não puder ser exercido pelo titular
em razão de ainda não ter sido editada norma regulamentadora, este interessado
poderá ingressar com uma ação chamada de "mandado de injunção" pedindo que
o Poder Judiciário reconheça que o Poder Público está em mora e, então, supra
a falta dessa lei ou ato normativo e possibilite o pleno exercício do direito.
Previsão
Veja como este instrumento foi previsto na CF/88 e na Lei nº 13.300/2016:
Art. 5º (...)
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;
Conceito
Podemos assim conceituar o instituto:
Mandado de injunção é...
- uma ação (instrumento processual)
- de cunho constitucional (remédio constitucional)
- que pode ser proposta por qualquer interessado
- com o objetivo de tornar viável o exercício de
- direitos e liberdades constitucionais ou
- de prerrogativas relacionadas com nacionalidade, soberania ou cidadania
- e que não estão sendo possíveis de ser exercidos
- em virtude da falta, total ou parcial, de norma regulamentando estes direitos.
Origem do instituto
Alguns autores afirmam que a inspiração do mandado de injunção seria o writ of
injunction existente no direito norte-americano. Outros mencionam, ainda,
alguns institutos do direito lusitano. No entanto, a doutrina majoritária afirma
que o mandado de injunção não encontra similitude no direito estrangeiro, sendo
considerado um instrumento tipicamente brasileiro, com contornos próprios.
Nesse sentido: MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas,
2016, p. 295.
Lei nº 13.300/2016
O mandado de injunção, como visto acima, está previsto no art. 5º, LXXI, da
CF/88.
Durante muitos anos, não houve lei regulamentando o instituto.
O STF, no entanto, afirmou que, mesmo sem lei, já era possível impetrar
mandado de injunção porque o art. 5º, LXXI, da CF/88 sempre foi autoaplicável.
Nesse sentido: STF. Plenário. MI 107 QO, Rel. Min. Moreira Alves, julgado em
23/11/1989.
Antes da edição da Lei do MI, aplicava-se, por analogia, as regras procedimentais
do mandado de segurança.
Com muitos anos de atraso, finalmente foi editada a Lei nº 13.300/2016, que
disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e
coletivo.
Espécies
Existem duas espécies de mandado de injunção:
a) INDIVIDUAL: proposto por qualquer pessoa física ou jurídica, em nome
próprio, defendendo interesse próprio, isto é, pedindo que o Poder Judiciário
torna viável o exercício de um direito, liberdade ou prerrogativa seu e que está
impossibilitado pela falta de norma regulamentadora.
b) COLETIVO: proposto por legitimados restritos previstos na Lei, em nome
próprio, mas defendendo interesses alheios. Os direitos, as liberdades e as
prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivo são os pertencentes,
indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada
por grupo, classe ou categoria (art. 12, parágrafo único, da LMI). O mandado de
injunção coletivo não foi previsto expressamente pelo texto da CF/88, mas
mesmo assim sempre foi admitido pelo STF e atualmente encontra-se
disciplinado pela Lei nº 13.300/2016.
2. LEGITIMIDADE
Legitimado Situação
quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
I - MINISTÉRIO PÚBLICO defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos
interesses sociais ou individuais indisponíveis.
II - PARTIDO POLÍTICO para assegurar o exercício de direitos, liberdades e
(com representação no prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a
Congresso Nacional) finalidade partidária.
III - ORGANIZAÇÃO SINDICAL, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e
ENTIDADE DE CLASSE OU prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus
ASSOCIAÇÃO membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde
(legalmente constituída e em que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto,
funcionamento há pelo menos 1 ano) autorização especial.
quando a tutela requerida for especialmente relevante para a
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos
IV - DEFENSORIA PÚBLICA
individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso
LXXIV do art. 5º da CF/88.
Obs: repare que o rol dos legitimados ativos do mandado de injunção coletivo é
maior do que os legitimados que podem propor mandado de segurança coletivo
(art. 21 da Lei nº 12.016/2009), sendo de se destacar a legitimidade do MP e da
Defensoria Pública.
3. COMPETÊNCIA
Competência originária
As regras de competência para impetrar o mandado de injunção são disciplinadas
na própria Constituição Federal e variam de acordo com o órgão ou a autoridade
responsável pela edição da norma regulamentadora. Confira:
4. PROCEDIMENTO
Regramento
O procedimento do mandado de injunção é disciplinado pela Lei nº 13.300/2016.
Caso ela não preveja solução para alguma situação, o intérprete deverá aplicar,
subsidiariamente, as regras contidas na Lei do Mandado de Segurança (Lei nº
12.016/2009) e no novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015).
Petição inicial
A petição inicial do mandado de injunção deverá preencher os requisitos previstos
nos arts. 319 e 320 do CPC/2015.
Se a inicial não cumprir os requisitos legais ou apresentar defeitos e
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, o juiz ou Relator
deverá determinar que o impetrante, no prazo de 15 (quinze) dias, emende-a ou
complete-a, devendo o magistrado indicar com precisão o que deve ser corrigido
ou completado (art. 321 do CPC/2015). Se o autor não cumprir a diligência, a
petição inicial será indeferida.
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente
da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
Muito cuidado neste ponto. O agravo interno de que trata esta situação é o
previsto no art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 13.300/2016, não se aplicando,
portanto, o art. 1.021 do CPC/2015. Isso é importante porque o agravo interno
previsto no CPC/2015 tem prazo de 15 dias, mas a Lei do MI, que é especial, fixa
o prazo reduzido de 5 dias.
Art. 6º (...) Parágrafo único. Da decisão de relator que indeferir a petição inicial,
caberá agravo, em 5 (cinco) dias, para o órgão colegiado competente para o
julgamento da impetração.
Obs: aqui também são dias úteis. Isso porque a LMI não traz regra diferente,
devendo-se, portanto, aplicar o art. 219 do CPC/2015.
Liminar
A Lei nº 13.300/2016 não prevê a possibilidade de concessão de medida liminar.
Antes da regulamentação, o STF já possuía precedentes afirmando não ser
cabível liminar.
Em suma:
Desse modo, em regra, a Lei nº 13.300/2016 determina a adoção da corrente
concretista intermediária (art. 8º, I). Caso o prazo para a edição da norma já
tenha sido dado em outros mandados de injunção anteriormente propostos por
outros autores, o Poder Judiciário poderá veicular uma decisão concretista direta
(art. 8º, parágrafo único).
Veja o texto do art. 8º, que é o ponto mais importante da Lei nº 13.300/2016:
Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a
injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da
norma regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as
condições em que poderá o interessado promover ação própria visando
a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo
determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso
I do caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em
mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da
norma.
8. AÇÃO DE REVISÃO
Competência
Será competente para a ação de revisão o juízo que proferiu a decisão no
mandado de injunção.
9. OBSERVAÇÕES FINAIS