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Introdução
“Os programas esportivos são hoje, no mercado televisivo, um aliado das redes
de televisão, fator importante na audiência das emissoras. Observa-se, então,
um crescimento na divulgação desses programas em todo o mundo,
principalmente pelo esporte espetáculo” (DURÃES; FERES NETO, 2004).
Por sua vez, o Capitalismo impõe que as pessoas estejam sempre buscando a
melhoria de sua situação financeira. Sendo assim, o papel da mídia é mostrar e
idolatrar alguns pouquíssimos atletas que conseguem obter sucesso através do
esporte e fazer com que estes passem a servir como modelos para outros
milhões de pessoas que tentarão em vão este mesmo sucesso.
Um fator importante que ocorre para este fenômeno acontecer é o valor pago
nas transações (vendas de atletas, salários), principalmente no caso do futebol.
São cifras milionárias, muita badalação e propaganda em cima desses
jogadores. Este fato faz com que muitas pessoas desejem este sonho, no
entanto, estes outros certamente não conseguirão o mesmo sucesso, mas
continuarão ilusoriamente tentando. E, pior que isso, a mídia tenta mostrar que
todas as pessoas têm possibilidades iguais de conseguir esse sucesso.
Analisando a afirmativa de Kenski (1995), a autora diz que “o atleta super star é
valorizado comercialmente como espaço publicitário por onde podem ser
veiculadas as mensagem dos patrocinadores. Divulga-se o campeão e, junto
com ele uma imagem símbolo, valorizada socialmente, de saúde, força, poder,
[dinheiro, fama], vitória e prestígio”.
Assim, a mídia, como aliada do Capitalismo, utiliza este atleta campeão como
parâmetro de sucesso para a sociedade. As empresas o utilizam para fazer
propaganda de seus produtos e aumentar suas vendas. Por sua vez, a
população acaba procurando e comprando os produtos anunciados pelo atleta
campeão. Não significa que isto não possa ou não deva de forma alguma ser
feito, significa que o esporte não pode ser resumido a isso e utilizado apenas
pra esse fim, apenas com interesses econômicos.
Quando algo parecido com isso aparece nos programas esportivos, é alguém
que veio de origem humilde e que conseguiu se tornar um bom atleta, um
campeão. Assim, fala-se de sua vida sofrida, dos obstáculos vencidos e de
como obteve sucesso... Apenas do conto de fadas!
Nesse caso, a mídia afirma que qualquer pessoa pode ter sucesso através do
esporte, inclusive as de origem mais humilde. Isso, sem dúvida, é pura ilusão.
Um ou outro conseguem, no universo de milhões. As pessoas não têm chances
iguais, principalmente as menos favorecidas economicamente. No entanto,
outros inúmeros milhões de pessoas, principalmente estas de origem mais
humilde, cultivarão e correrão atrás deste mesmo sonho irrealizável para ver se
conseguem deixar a pobreza.
Acrescento ainda que tudo isso seja passado para a população com uma idéia
alienante, uma forma de espetáculo e diversão (uma nova política romana do
“Pão e Circo”) para tentar amenizar os gravíssimos problemas sociais. Assim, o
Capitalismo usa a mídia e o esporte para a criação, disseminação e a
manutenção de uma ordem social perversa e excludente.
Freitas (1994) diz que o sistema televisivo compõe uma trama alienante de
grande magnitude, implicitamente trabalhada em aspectos puntiformes da
realidade, que são transmitidos como se fosse a própria realidade. Segundo,
Sodré (apud FREITAS, 1994), através da mídia o indivíduo pode ser controlado
à distância, sem imediatez concreta da força física porque ele próprio se
controla graças à interiorização de normas e valores que constituem a moral,
os interesses, o modo organizacional da vida capitalista e que são passados
através da mídia.
A cada dia que passa, o esporte fica mais dependente da mídia e do dinheiro e
vai deixando de lado suas características essenciais e benefícios para se
adequar ao mundo capitalista. Ele vai ficando em segundo plano diante do que
as pessoas julgam mais importantes: a vitória (a qualquer custo e usando até
de meios ilícitos - doping), o dinheiro, o sucesso, a propaganda...
Reflexões
Por qual motivo, com todos esses problemas, continuamos a investir e admirar
uma cultura esportiva apenas voltada para o rendimento e a competição?
Vamos apenas afirmar que o esporte é um fator de inclusão social e ficarmos
apenas no discurso? Até quando vamos ficar com o enredo pronto e o discurso
vago de que o esporte serve para melhoria da qualidade de vida, do bem-estar,
redução do stress, etc, etc, etc, etc? Vamos continuar assim, sem fazer nada e
fazendo de conta que não temos gravíssimos problemas sociais? Por que
vamos continuar a sermos hipócritas e falar sobre uma Educação Física
enquanto fazemos outra completamente diferente?