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O MODELO DA EDUCAÇÃO NOVA

1. A Antinomia Educação Tradicional - Educação Nova

Com o surgir do movimento de pedagogos conhecido por Educação Nova, que começou a
delinear-se no último quartel do século XIX, opondo-se frontalmente à Educação que
apelidaram de Tradicional, caracterizada sobretudo por um conjunto de processos educativos
introduzidos na escola nomeadamente a partir do Século XVII, tornou-se especialmente
explícito um conflito de contornos bem definidos entre dois modelos pedagógicos: um em que
o aluno é comparado a um objecto a formar por uma acção exterior a exercer sobre ele, por
referência a valores e normas ideais, outro em que se considera que o aluno tem consigo os
meios necessários para ser sujeito da sua formação.

Mesmo não assumindo em pleno um ou outro daqueles modelos, que "são absolutos porque
são abstracções" (NOT, 1989, p.10), os educadores não orientam ainda a sua acção numa
assunção clara de uma actuação nitidamente demarcada das duas concepções em questão e
mantêm-se ainda indecisos face a [esses] dois modelos pedagógicos. Num, o educador exerce
do exterior uma acção formadora e modeladora do aluno considerado como um "objecto". No
outro, o aluno é sujeito da sua própria formação, orientando-se por uma dinâmica interna e
estabelecendo trocas com o meio.

O primeiro modelo fundamenta os métodos antigos (tradicionais), a que são contrapostos os


métodos novos (activos) que o segundo modelo justifica, embora sejam tão actuais uns como
os outros (idem, 1988, p.7). Nos primeiros, o aluno silencioso "acompanha" penosamente a
longa explicação do professor, apenas entrecortada por perguntas "penalizadoras" das faltas
de atenção ou por admoestações disciplinadoras.

Nos segundos, na euforia de ideias sedutoras de construção de uma escola atraente, o


professor quase se anula, o processo de ensino/aprendizagem e a relação professor-aluno
banalizam-se e o desencanto por aprendizagens que tardam acaba por sobressair.

Os defensores de uma e de outra destas actuações, fortes das suas razões, a importância do
saber ou o respeito pela criança, raramente admitem o fracasso como consequência da sua
acção. Entretanto, cada um com o seu séquito de seguidores mantém-se tão actual quanto a
outra.
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Como procura-se mostrar nesta abordagem duas concepções em análise, considera-se:

Primeiro: A Educação Tradicional, ao tratar o aluno como objecto a modelar e equipar do


exterior por um processo de transmissão do saber do professor para o aluno, submetendo a
situação educativa ao primado do objecto e não reconhecendo ao educando o estatuto de
sujeito, fonte de iniciativas e de acções, compromete o desenvolvimento do processo de
personalização do que aprende.

Segundo: A Educação Nova, ao considerar o conhecimento como o produto de uma invenção


ou descoberta a realizar pelo aluno, afirmando o primado do sujeito que aprende e relegando o
professor para uma situação de "presente - ausente", tende a levar o aluno a uma impossível
(re) descoberta de saberes que requereram milénios de esforços da humanidade.

No quadro a seguir mostramos basicamente as principais características que separam a


educação tradicional à da educação nova.

Educação Tradicional Educação Nova

Magistrocentrismo Puerocentrismo

Modelação Adaptação

Inacção Acção

Heteroestruturação Autoestruturação

Heteronomia Autonomia

Fonte: Jorge A. Matos Correia: A Antinomia Educação Tradicional - Educação Nova

2. A Educação Nova - O Aluno Sujeito


Poder-se-ia, remontando ao passado, encontrar antepassados longínquos da Educação Nova
até mesmo na Antiguidade, com o método socrático que pretendia que os indivíduos
buscassem a verdade pelos seus próprios meios.

Mas, para nos referirmos à época contemporânea basta verificar que, paralelamente à
evolução económica, social e política, à aspiração democrática, à luta para materializar os
ideais de liberdade, de igualdade, de fraternidade universal e de paz que transformam o nosso
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mundo, a educação tinha de evoluir e de se adaptar a essas aspirações e necessidades novas,


passando a fazer parte dos costumes, se tal lhe fosse exigido.

É esse movimento, nascido no plano teórico com J. -J. Rousseau – reconhecidamente, o


primeiro teórico dessas concepções – e que se desenvolveu, em princípio, pela acção meritória
de pioneiros isolados e corajosos, difundido posteriormente na prática escolar e até nas
normas familiares, que se denomina Educação Nova.

No dicionário da língua pedagógica de Foulquié, referenciado por Monteiro (2006), o termo


Escola Nova designa os estabelecimentos de educação, em que a partir do século XIX, se
tentou pôr em prática os princípios de pedagogia inspirados principalmente em Rousseau […]
opõe-se da escola tradicional.
Ferrière considera a Educação Nova como sendo um movimento pedagógico contemporâneo
que só é novo porque se adapta às necessidades novas da sociedade de hoje. Este movimento
nasceu de uma dupla necessidade e tende para um duplo ideal:
• Adaptar os meios da educação à natureza psicológica da criança;
• Preparar a juventude para a vida social, intelectual e moral contemporânea.

A educação consiste em favorecer o desenvolvimento tão completo quanto possível das


aptidões de cada pessoa, ao mesmo tempo como individuo e como membro de uma sociedade
rígida pela solidariedade. A educação é inseparável da evolução social; constitui uma das
forças que a determinam. Portanto, a finalidade própria da educação e os seus métodos devem
ser, pois, constantemente revistos, à medida que a experiencia e a ciência aumenta o nosso
conhecimento da criança, do homem e da sociedade (congresso de NICE).

Para concretizarem os seus propósitos de mudança os impulsionadores da Escola Nova


substituem a transmissão, pela educação do aluno pela sua própria experiência, assumindo
especial importância a actividade do que aprende. É a libertação da criança da tutela do
adulto, para que a sua personalidade se realize pela autonomia, em contraposição à
heteronomia própria da escola tradicional.
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2.1. A Inspiração da Educação Nova: Jean-Jacque Rousseau


A influência de Rousseau no campo educacional deve-se principalmente ao seu livro Émilie.
Rousseau contrapõe-se às ideias predominantes na época sobre a natureza humana,
considerando-se que o homem nasce com o pecado original, e cabia à educação,
principalmente a religião, destruir a natureza original e substitui-la por outra modelada pela
sociedade (PILETTI e PILETTI, 2006).

Paul Monroe apud PILETTI e PILETTI (2006) identifica quatro principais contributos de
Rousseau que influenciaram à educação:
• A educação natural: a educação deve ocorrer da acção dos instintos e das forças
naturais e não por imposições externas. Portanto, a educação deve respeitar a
desenvolvimento da criança que ainda não é adulta.
• A educação como um processo: a educação é um processo contínuo que dura toda
vida. Por isso, não se deve forçar a criança a aprender coisas de adultos, que ela ainda
não tem condições de aprender, mas dando a liberdade às forças naturais.
• A simplicidade do processo educativo: a educação deve estar em relação directa do
que se pretende aprender – a botânica seja estudada em contacto com as plantas; a
Física e a Química sejam estudadas pela observação e pela experimentação –
distanciando-se das representações, salvo quando é impossível mostrar a coisa, pois a
representação absorve a atenção da criança e a faz esquecer a coisa representada.
• A importância da criança: a educação deve ser vista da perspectiva da criança, a sua
natureza, dos seus instintos, das suas capacidades em oposição dos padrões e normas
impostas na sociedade.

2.2. Características da Educação Nova


Tendo em conta as mudanças que se notabilizaram nesse período, relativamente ao
distanciamento dos princípios e métodos da escola tradicional, a escola nova tem como
características:
• Aplicação dos métodos didácticos activos e atraentes adaptados ao desenvolvimento
livre e espontâneo e criador da criança;
• Organização psicológica da escola a fim de que a mesma se possa ajustar após
impulsos da actividade interessada da criança;
• O aluno passa a ser visto como centro e sujeito educativo;
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• Tudo se reduz a promover o desenvolvimento harmonioso da criança em consonância


com evolução dos seus interesses instintivos;
• Os programas educativos passam a ser concebidos de acordo com a realidade social,
ambiental do aluno;
• A educação deixa de ter um carácter individual, passando a ter um carácter colectivo
onde já existe uma inter-ajuda professor e vice-versa.

2.2.1. O Aluno como Sujeito da sua Formação (puerocentrismo)

O aluno só aprende na medida em que aquilo que é ensinado é significativo para ele, é
compreendido como capaz de satisfazer as suas necessidades, desta forma, passa-se a
entender que todos programas de ensino devem ter as necessidades dos alunos, no contexto do
mundo em que vivem, como ponto de partida para que sejam alcançados os objectivos
educacionais mais gerais (PILETTI e PILETTI, 2006: 111).

Até então silenciado o aluno pela Educação Tradicional, torna-se centro de iniciativas na
Educação Nova. A atenção dada à criança pelos impulsionadores da Educação Nova está
intimamente ligada com o desenvolvimento de estudos psicológicos entretanto realizados
sobre a criança. O século XX é mesmo designado, pedagogicamente, como "o século da
criança".

Com o advento da Educação Nova desloca-se o centro de gravidade do professor para a


criança. "É esta revolução - exigência fundamental do movimento da Educação Nova - que
Claparède compara à que Copérnico realizou na astronomia e que ele definiu de forma feliz
nas linhas seguintes: “Os métodos e os programas gravitando à volta da criança e não mais a
criança rodando assim-assim à volta de um programa decidido de fora dela, tal é a revolução
copernicana à qual a psicologia convida o educador” (Bloch, 1973, p.33).

Dewey (1931: 95-96) afirma o mesmo: "A criança é o ponto de partida, o centro, o fim. [...]
nós devemos, literalmente, partir da criança, tomá-la por guia" Há uma preocupação evidente
por parte dos pedagogos defensores da Escola Nova em centrar o ensino na criança. O
puerocentrismo apresenta-se mesmo como uma condição da Escola Activa. Neste
puerocentrismo estão bem patentes duas ideias fundamentais: a escola sob medida e o
primado do sujeito (aluno) nas situações educativas (NOT, 1988:162).
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A escola sob medida consiste em adaptar a escola à criança. Esta preocupação é comum a
todos os sistemas em que se desenvolveu a Educação Nova, variando porém nos meios de o
conseguir, conforme se baseiem no funcionamento individual do pensamento ou privilegiem
as condutas sociais da vida do grupo.

Embora a escola sob medida seja uma ideia generosa, os meios accionados pela Escola Nova
para a sua concretização são mais ou menos contestáveis. Quanto ao primado do sujeito, que
objectiva a liberdade do indivíduo pela auto-construção do seu conhecimento, corre-se o risco
de se verificarem faltas de saber apropriado às exigências de adaptação ao mundo, o que pode
pôr em causa a própria autonomia do homem que se pretendia conseguir através da livre
construção do seu conhecimento.

2.2.2. A Actividade da Criança

Todos os pedagogos da Escola Nova insistem no recurso à actividade da criança, observando


e experimentando, não apenas para contemplar o mundo, mas agindo para se adaptar a ele e
adaptá-lo a si. A palavra "actividade", frequentemente utilizada de forma ambígua, mas tem
um sentido muito próprio no âmbito da Escola Nova ou Activa.

Claparède (1940), 'actividade' [num sentido de realização] significa efectivação, expressão,


produção, processo centrífugo, mobilização de energia, trabalho: opõe-se a recepção, a
ideação, a sensação, a impressão, a imobilidade.

Para Claparède "a actividade de realização não é carácter necessário nem carácter suficiente
daquilo que se deve entender por Escola Activa". Mas, como o que é adquirido por processos
activos é retido de modo mais seguro, a actividade de realização é um auxiliar precioso para a
Escola Activa.

Experiência e actividade da criança estão na base de todo um conjunto de novos


procedimentos educativos cujas características (gerais) se prendem, tanto com o contexto
histórico em que surgiu o movimento da Escola Nova, como com novas referências
psicológicas para a pedagogia.
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2.3. A Educação como Reconstrução da Experiência

Na qualidade de uma experiência estão envolvidos "dois aspectos: o imediato de ser agradável
ou desagradável e o mediato da sua influência sobre experiências posteriores.

Relativamente à experiência, Dewey (1971) refere-nos que há que considerar o princípio de


continuidade (ou continuum experiencial) e o princípio de interacção. Pelo princípio de
continuidade há uma relação entre uma experiência presente, as experiências passadas e as
experiências futuras, isto é, toda e qualquer experiência toma algo das experiências passadas e
modifica de algum modo as experiências subsequentes. Pelo princípio de interacção dá-se um
"jogo" entre as condições da experiência, condições objectivas (o meio) e condições internas,
que, no seu conjunto, ou interacção, constituem uma situação.

O não respeito por estes princípios pela Educação Tradicional, que, nomeadamente, não dava
nenhuma atenção aos factores internos, é ultrapassado pela Escola Nova. O conhecimento que
se adquire numa situação torna-se, assim, instrumento para compreender e lidar efectivamente
com a situação que se segue. O processo continua enquanto a vida e a aprendizagem
continuem.

Ao educador cabe intervir nas condições objectivas (o meio) para proporcionar ambiente
favorável ao desenvolvimento do educando em interacção com as suas necessidades e
capacidades, criando a experiência educativa válida, em que se dê importância a capacidades
e propósitos de cada um. É indispensável formar no educando a mais importante atitude: o
desejo de continuar a aprender. É também necessário que nele se desenvolva a capacidade de
aprender pela experiência. Vive-se sempre no tempo actual e, ao extrair de cada experiência
presente todo o seu sentido, cada indivíduo prepara-se para fazer o mesmo no futuro. Assim,
deve dar-se um cuidado especial às condições pelas quais a experiência presente adquire o seu
sentido construtivo.

Dewey (1951: 83) apresenta a seguinte definição técnica de educação: é uma reconstrução ou
reorganização da experiência, que esclarece e aumenta o sentido desta e também a nossa
aptidão para dirigirmos o curso das experiências subsequentes. Nesta definição está implícito
um aumento (ou enriquecimento) do sentido ou significado da experiência, assim como da
capacidade de direcção ou regulação das experiências subsequentes. Porem, toda a educação
se desenvolve por referência à experiência, inclusive a dos valores educativos.
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O filósofo refere-se ainda à experiência indirecta, através dos símbolos e à experiência


directa, atribuindo a esta o "senso do real", a "real compreensão" e a "apreciação". Ela deve
relacionar-se facilmente com o material simbólico da educação e provocar, nos educandos,
uma receptividade mental necessária pela matéria simbolicamente transmitida.

2.4. Princípios Gerais do Movimento da Educação Nova (MEN)

No respeitante aos princípios gerais todos eles tem a sua fonte principal em Rousseau “ o
primeiro de todos os bens não é a autoridade, mas a liberdade”. Avanzini apud Monteiro
(2006) comenta: “ apostar na liberdade está na própria da educação”.

Os princípios do MEN foram enunciados nos congressos de Calais (1991) e de Nice (1932),
nomeadamente:

O congresso de Calais adoptou os seguintes princípios:

• O fim essencial de toda a educação é preparar a criança para querer e realizar na sua
vida a supremacia do espírito. Deve pois, ter em vista conservar e aumentar na criança
a energia espiritual;
• A educação deve respeitar as individualidades da criança. Esta individualidade
desenvolve-se através de disciplinas que conduzam a libertação dos poderes espirituais
que estão nela;
• Os estudos, e de um modo geral a aprendizagem da vida, devem dar livre curso aos
interesses inatos da criança;
• Cada idade tem o seu carácter próprio. É, pois, necessário que a disciplina pessoal e a
disciplina colectiva sejam organizadas pelas próprias crianças, com a colaboração dos
professores;
• A competição egoísta deve desaparecer da educação e ser substituída pela cooperação;
• A educação nova prepara, na criança, não somente o futuro cidadão capaz de cumprir
os seus deveres para com os seus próximos, mas também o ser humano consciente da
sua dignidade de homem.
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O congresso de Nice adoptou os seguintes princípios:

• A educação deve preparar a criança para compreender as complexidades da vida social


e económica do nosso tempo e preservar a sua liberdade de discussão pelo
desenvolvimento do espírito científico;
• Deve ser concebida de maneira a responder as exigências intelectuais e afectivas da
criança de temperamentos variados e dar-lhes ocasião para se exprimirem.
• Deve ajudar a criança a adaptar-se perfeitamente as exigências sociais;
• Deve favorecer a colaboração entre todos os membros da colectividade escolar;
• Deve levar a criança a apreciar a sua própria herança nacional, e recolher o contributo
original de qualquer outra nação para a civilização moderna.

2.5. Evolução ideológica o MEN

Quanto à evolução ideológica, ela ressalta dos temas e documentos de Congressos de Calais
(1921), de Nice (1932) e de Cheltenham (1936). As abordagens foram as seguintes: o
congresso de Calais “ A Expressão Criadora da Criança”; no congresso de Nice “A Educação
nas suas Relações com a Evolução Social” e no congresso de Cheltenham “Educação e
Liberdade”.

A realidade do MEN era diversificada, heterogénea. Várias tipologias foram propostas.


“Poder-se-á, classificar os seus protagonistas, segundo uma tripla distinção: os psicólogos, os
políticos e os libertários, conforme os aspectos privilegiados da respectiva visão de infância e
da educação” (MONTEIRO, 2006).

A tendência psicologizante privilegia a importância do desenvolvimento da psicologia nas


crianças nas origens do movimento da educação nova. De seguida, a tendência mas política
tem como centro de gravidade a relação entre a educação e a sociedade, realçando o poder
transformador da educação. Finalmente, a tendência libertária decorre da representação
idealista de criança como um ser naturalmente bom, contrariando aquilo que eram os ideais da
escola tradicional, que referenciavam a natureza humana, como sendo má, e que cabia
principalmente a religião, destruir a natureza original e substitui-la por outra modelada pela
sociedade.
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2.6. Referências (gerais) dos Novos Procedimentos Educativos

O aluno aprende de forma rápida e duradoura quando aprende fazendo, sendo por esta, razão
que vários educadores propuseram a transformação dos métodos aplicados a escola. O aluno
deveria deixar de ser um simples ouvinte passivo, mas sim deveria ter uma participação
activa, e por conseguinte o professor seria um auxiliar ou orientador, distanciando-se de um
mero transmissor de conhecimentos prontos.

Os vários sistemas educativos propostos pelos impulsionadores da Escola Nova surgem e


desenvolvem-se num contexto histórico comum. Já Rousseau tinha tido a intuição genial de
que a educação seja fundada na própria acção do aluno, ideia que só veio a frutificar um
século mais tarde devido ao seu avanço sobre os progressos da biologia e da psicologia.

A Escola Nova surge, assim, num contexto de ideias novas (marcando o início do século XX)
como: "trocas com o meio, exigências de adaptação, papel da acção, carácter global das
situações, recapitulação pelo indivíduo das etapas transpostas pela espécie, exigência de
liberdade e repúdio dos constrangimentos" (NOT, 1988, p.94). O movimento da Escola Nova
ficou marcado pela intervenção de grandes pedagogos:

2.6.1. Montessori (1870-1952) - Pedagogia Científica

Serve-se do sensualismo associacionista, colocando material cientificamente aperfeiçoado à


disposição da criança, num ambiente revelador, para que, neste universo onde tudo é à sua
medida e tamanho, a criança, pelo seu espírito absorvente, percorra os vários períodos
sensíveis do seu desenvolvimento. Afirma-se numa perspectiva vitalista com um método que
se apresenta na sequência dos métodos optimistas, de inspiração rousseauniana, confiando na
natureza da criança que age por um impulso criador para se construir a si mesma segundo um
propósito infalível (NOT, 1988, pp.104-105).

A professora tem de ver-se substituída pelo material didáctico que corrige por si os seus erros
e permite que a criança se eduque a si mesma. A professora não ensina, mas sim dirige a
actividade intervindo no mínimo (MONTESSORI apud PILETTI e PILETTI, 2006).
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2.6.2. Decroly (1871-1932) - Centros de Interesse

Recorre à observação analítica do meio, à associação sintética das representações e expressão


do pensamento através da linguagem, do desenho e de outros trabalhos manuais, numa linha
sensualista, partindo da realidade complexa, o que constitui o globalismo do conhecimento a
que Decroly chama de centro de interesse. Este centro de interesse deve ser determinado de
acordo com as necessidades primordiais da criança – alimentação, protecção contra os
perigos, o trabalho – e todas as actividades escolares, todas as matérias devem girar em torno
de tais interesses, para que, por referência ao naturismo, à dimensão social e cultural, a
centralização no sujeito possa acontecer com abertura, isto é, a criança-em-relação-com-o-
meio (criança e a família; criança e a escola; criança e o mundo animal; criança e mundo
vegetal; a criança e o mundo geográfico).

2.6.3. Cousinet

Preconiza a investigação livre em grupo, numa escola como meio de trabalho, em que a
antinomia indivíduo-colectivo é resolvida pela dialéctica da pertença e da dependência do
indivíduo livre para aderir ao grupo, passando a liberdade a ser a do grupo e o indivíduo a
participar desta liberdade através da sua pertença ao grupo.

2.6.4. Claparède

Afirma a vida infantil como fonte do conhecimento, definindo a educação funcional, que
preconiza, como a que toma a necessidade da criança, o seu interesse em atingir um fim,
como alavanca da actividade que se lhe deseja despertar. Segue uma orientação biologista,
considerando que "o interesse nasce de uma relação que o sujeito percebe entre as
necessidades que experimenta e as qualidades do objecto próprias a satisfazê-lo" (NOT,
1988:115).

O pragmatismo está também presente em Claparède que o segue dando especial importância à
utilização do jogo. Procura que a formação social se unifique à educação da liberdade,
consistindo esta, para a criança, em aprender a pensar bem e não a fazer o que quer, mas a
querer o que faz (NOT, 1988: 117-118).
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2.6.5. Dewey (1851-1952) - Educação pela Acção

Parte das ocupações infantis como fonte de conhecimento, numa perspectiva pragmatista, para
afirmar o "learning by doing". Para obviar a que o seu sistema funcionalista, centrado nos
interesses e necessidades do aluno, incite ao individualismo dá-lhe uma orientação
sociologista que se afirma de três modos:

• A escola tem como fim servir à vida social pelo que o conteúdo e forma dos
programas são determinados pelas considerações sociais e o aluno é preparado para a
tarefa social pelo engajamento na vida social, estruturando-se mutuamente o indivíduo
e a sociedade;
• O desenvolvimento da socialização acontece pela partilha da experiência, conseguindo
mesmo Dewey, ao explorar este princípio, integrar tradição e transmissão no seu
sistema baseado na experiência, assim como concilia a imitação com a experiência
pela afirmação de que a imitação é experiência;
• A dialéctica pedagógica constrói-se na relação entre os interesses individuais e o saber
estruturado pela participação do aluno na concepção de projectos que nascem dum
entendimento entre o ensino e o aluno, nem um nem outro podendo decidir sozinho
(NOT, 1988:119-122).

2.6.6. Kilpatrick - Métodos de Projecto

Discípulo de John Dewey propôs o método de projecto cuja finalidade era globalizar o ensino
mediante actividades manuais. O método de projecto constitui uma das técnicas modernas do
ensino mais dinâmico e eficaz, sobretudo pela sua forca motivadora e pelos seus caracteres de
aprendizagem em situação real. O método veio sobretudo dirigir actividade mental do
educando para um propósito, que consiste em fazer algo num ambiente natural integrando e
globalizando todo o estudo com base nesta actividade.

Assim Kilpatrick indica os seguintes grupos de objectos: Projecto de produção; Projectos de


consumo, (no qual se aprende a utilizar algo já pronto); Projecto para resolver problemas; e
projecto para aperfeiçoar uma técnica de aprendizagem.

O método de projecto tem a finalidade de incorporar uma ideia e habilidade sobre a forma de
expressão, experimentar alguma coisa de novo, resolver uma dificuldade intelectual, ou um
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problema e alcançar um conhecimento. Dentre as varias actividades devem ser escolhidos as


que tiverem maior valor educativo e que poderem serem utilizados dentro dos recursos e
possibilidades de cada escola.

2.6.7. Freinet (1896-1966) - Pedagogia Social

Propõe sob a designação de "Escola Moderna" uma verdadeira revolução pedagógica


relacionada com a revolução social, a conseguir por uma autodidaxia emancipadora dos
indivíduos, num quadro regulado pela instituição cooperativa, seguindo "um biologismo e um
pragmatismo bastante semelhantes aos precedentes, mas [que] ao invés de serem corrigidos
por um sociologismo teórico, são integrados num socialismo prático e militante" (NOT, 1988:
122-123).

2.6.8. Lobrot

Apresenta, sob o nome de pedagogia institucional, um sistema que "se inscreve em


perspectivas políticas perfeitamente determinadas e procede de uma síntese que integra os
dados da psicanálise, o ideal político autogestionário e as referências concretas ao sistema
político jugoslavo no qual a autogestão parece instituída" (NOT, 1988, p.128). Os alunos
vivem em autogestão autêntica, sendo perfeitamente livres em relação a quem ensina, que só
intervirá a seu pedido, sendo aquele que ensina reciprocamente também livre de, em relação
aos alunos, optar pelo silêncio, que poderá até forçá-los a assumir a situação.

Em relação a este sistema há que referir que a finalidade primeira não é a aquisição de
conhecimentos, mas sim o enriquecimento mental dos indivíduos, tratando-se de "promover
uma transformação da sociedade através da aprendizagem da liberdade e da autogestão".

Apesar das diferenças, sobressaem as preocupações comuns marcadas pelo deslocar do centro
da acção educativa do professor para o aluno, que deixa de ser tratado como objecto a
modelar e equipar do exterior para se tornar sujeito (individual ou colectivo) do seu próprio
desenvolvimento, cabendo ao educador, por referência às necessidades e interesses da criança,
proporcionar ambiente favorável à auto-educação da mesma.

De certo modo podemos falar de uma presença ausente do professor pois "organiza o meio e
esconde-se na sombra" (SNYDERS, 1974:119). Montessori leva ao extremo esta teoria, no
entanto outros pedagogos, como Dewey, apercebendo-se das dificuldades que esta tese
acarreta, atribuem uma intervenção um pouco mais significativa por parte do professor, mas
procurando sempre privilegiar a criança que aprende fundamentalmente pela sua própria
experiência.
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Conclusão

Ao falarmos da educação nova, de imediato pensamos na existência de uma educação


antecedente (educação tradicional). A educação tradicional só leva este nome porque ela não
responde com eficiência as exigências da sociedade actual. No entanto, o novo modelo de
educação surge para dar resposta a exigências actuais, sugerindo-se novas metodologias de
ensino, e pondo o aluno no centro da educação.

A educação nova é praticamente o oposto da educação tradicional. Na educação tradicional o


agente activo é o professor, ao passo que na educação nova o agente passivo é por sua vez o
aluno. Ela é constituída por um conjunto de ideais pedagógicos que necessariamente visam
enquadrar a educação no contexto das sociedades actuais, distanciando-se dos princípios da
educação tradicional.

Relacionado aos princípios da educação nova, de uma forma geral é garantir o


desenvolvimento harmonioso da criança, concedendo a própria criança a liberdade de
desenvolver as suas próprias experiências. O professor já não se encontra como um indivíduo
activo no contexto da educação nova, ele torna-se um mediador do processo de ensino e
aprendizagem, cooperando com os alunos, ajudando a desenvolver os interesses da própria
criança.

Na Escola Nova a criança é privilegiada em três âmbitos: os psicólogos, os políticos e os


libertários. No primeiro âmbito privilegia-se o desenvolvimento psicológico da criança,
seguidamente a relação da educação e a sociedade e finalmente a liberdade, que através desta
a criança poderá facilitar o desenvolvimento dos interesses da criança. Relativamente as
metodologias, os alunos passam a ser agentes activos da educação, e o professor torna-se um
mediados do processo de ensino e aprendizagem, considera-se ainda que o aluno terão uma
aprendizagem duradoira caso aprendam fazendo.
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Bibliografia

DEWEY, John. Experiência e educação. S. Paulo, Editora Nacional, 1971

MONTEIRO, A. Reis. História da Educação: Do antigo de educação ao novo direito à


educação. 1ª ed. São Paulo, Cortez. 2006.

NOT, Louis, (1988), Les pédagogies de la connaissance, [©1979], Toulouse, Privat, (Há
tradução portuguesa de Américo E. Bandeira: As pedagogias do conhecimento, S. Paulo,
DIFEL, 1981).

PILETTI, Nelson, PILETTI, Claudino. História da educação. 7ª ed. São Paulo, Editora

Ática.2006.

SNYDERS, Georges. Pedagogia progressista. Coimbra, Livraria Almedina. 1974

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