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O ensino do
desenho para
arquitetos
Kellen Muller
1
Sumário
III.1. Considerações básicas sobre Pedagogia e 3 III.3. Um curso de desenho com base na pesquisa e 19
Didática exemplos de experiência didática
III.1.1. Pedagogia e Didática 3 III.3.1. Experiência didática e a inserção do desenho como 22
III.1.2. O processo de aprendizagem 4 pesquisa
III.1.3. A relação ensino-aprendizagem 5 III.3.2. A apresentação do problema 23
III.1.4. O processo didático 5 III.3.3. A escola nova e a arte-educação 36
III.1.5. O professor 5 Notas e referências bibliográficas 37
III.1.6. Método e técnica 6
III.1.7. Método e Conteúdo 7 III.4. Os métodos de ensino do desenho pós escola 38
Notas e referências bibliográficas 7 ativa
III.4.1. A Bauhaus 39
III.2. A Didática da Escola Nova 8 III.4.1.1. Johannes Itten 40
III.2.1. A evolução das escolas - Breve história das correntes 8 III.4.1.2. Paul Klee 44
pedagógico-didáticas III.4.1.3. Wassily Kandinsky 49
III.2.2. O ensino tradicional e seus problemas 9 III.4.2. Pós Bauhaus 54
III.2.3. A didática da escola ativa 11 III.4.2.1. Carlo Maggiora 55
III.2.3.1. John Dewey e Edouard Claparède 11 III.4.2.2. Onofre Penteado - Desenho Estrutural 60
III.2.3.2. Georg Kerschensteiner 12 III.4.2.3. Betty Edwards e o desenho com o lado direito do 64
III.2.4. A psicologia de Jean Piaget aplicada à didática da 13 cérebro
escola ativa Notas e referências bibliográficas 67
III.2.4.1. O pensamento 13
III.2.4.2. A pesquisa e a construção da operação 15 III.5. Considerações finais 68
III.2.4.3. A assimilação 15 Notas e referências bibliográficas 72
Notas e referências bibliográficas 18
2
Obs.: Os desenhos deste volume, com execeção dos
apresentados no capítulo III.4.1. A Bauhaus, foram
fotografados diretamente dos originais fornecidos pelos
alunos da disciplina de Desenho e Materiais Expressivos do
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Mogi
das Cruzes, das turmas de 1992, 1993 e 1996.
III.1. Considerações básicas sobre Peda- III.1.1. Pedagogia e Didática
gogia e Didática. O processo de en-
sino-aprendizagem e seus agentes.
A Pedagogia, enquanto ciência, deriva, tanto quanto as outras Em linhas gerais, pode-se dizer que a Educação visa a
ciências, da Filosofia. A ela pertencem o estudo da natureza formação moral do indivíduo, a Instrução (um dos meios
e da articulação do processo educativo. Considera-se, dentro utilizados na Educação ou melhor um aspecto específico do
de determinado conceito de ensino, que a Didática é uma processo educativo) visa a formação intelectual utilizando-
das ciências pedagógicas. Assim, diferentes concepções se do Ensino como meio para a formação da mente.
filosóficas derivam em diferentes conceitos de ensino e por
fim em diferentes projetos didáticos. Isto quer dizer que a Instrução não é uma mera acumulação
de noções ou memorização de dados desconexos, mas é a
Atualmente, a distinção entre Pedagogia e Didática se aclara construção e o aprimoramento de estruturas mentais, funções
e tende-se a dar, a esta última, sua distinta fisionomia lógicas, perceptivas, etc.
metodológica.
Por outro lado, também não se deve confundir Instrução com
A didática científica toma a si a tarefa de deduzir Ensino.
do conhecimento psicológico dos processos de
formação intelectual as medidas metodológicas “Enseñar”, etimológicamente, significa poner algo
mais aptas a provocá-los. (1) in signo, indicar, mostrar un objeto a alguien para
que se apropie de él intelectualmente. Por tanto,
Esta distinção, sem dúvida, intensificou o desenvolvimento la enseñanza consistirá precisamente en el
neste campo, promovendo uma diversificação quanto aos presentar in signo sensibili los objetos, que el
métodos aliados às suas finalidades. Por exemplo, existem alumno deberá asimilar mediante su cono-
hoje várias especificações segundo o sujeito discente: com cimiento.(2)
respeito à idade, uma didática evolutiva e uma para adultos;
em relação à capacidade, uma didática diferencial, outra para Restringindo-se, porém, o Ensino à proposição externa
normais e ainda uma para os superdotados; quanto ao sensível dos conteúdos conceituais, sem que os signos sejam
ambiente, uma didática para escola rural e outra para a urbana; perfeitamente interpretados pelo aluno, ter-se-á uma
em relação às disciplinas, didáticas especiais para cada área perspectiva de ensino, própria da escola tradicional, que não
do conhecimento e por último em relação aos métodos interessa a este trabalho.
empregados no estudo dos problemas, dos quais surgirá uma
didática dedutiva ou indutiva. Pode-se, então, dizer que a Didática, na medida em que trata
de regular o processo instrutivo de formação intelectual, é
No entanto, para precisar melhor a Didática como ciência uma metodologia da Instrução e pode, numa concepção mais
prático-normativa, deve-se distinguir os conceitos Educação, restrita, ser também considerada como uma tecnologia de 3
Instrução e Ensino, pois o primeiro, como veremos, está Ensino, tendo em vista que não se trata de técnica pura (esta
diretamente relacionado com a Pedagogia e os dois últimos seria a Docência, técnica do ensino, o ato mesmo de ensinar).
com a Didática propriamente dita. Cabe aqui colocar que a De acordo com o estudo das finalidades, das condições e
Pedagogia também se preocupa com “como fazer”, ou seja, das modalidades de ensino, é tecnologia, pois trata-se da
na realidade é também uma ciência prático-projetiva, mas teoria da técnica.
mais genérica que a Didática.
III.1.2. O processo de aprendizagem
Toda intervenção didática parte e retorna a um mesmo ponto diversas relações semânticas que se estabelecem
central: o processo de aprendizagem. Tal processo é condi- na estrutura simbólica e a partir dela.(6)
cionado subjetivamente pelos dois agentes da relação
didática. Da parte discente, pela capacidade de atividade e A aprendizagem significativa é também a dos limi-
de auto-desenvolvimento, por fatores da motivação, do tes do conhecimento e das múltiplas mani-
interesse e também pelos hábitos de estudo e trabalho festações da verdade. Dessa forma, a educação
pessoal. Da parte docente, pela personalidade e pela técnica da inteligência diz respeito não apenas ao
dirigidas pelos ideais educativos. conhecimento mas ao pensamento, isto é, à
capacidade de refletir, meditar e acrescentar
Por outro lado, este processo é também condicionado sentido. Em outras palavras, a aprendizagem
objetivamente por fatores como a estruturação da classe, significativa é necessariamente interpretativa,
do ambiente e das situações didáticas. hermenêutica, procurando descobrir em que
sentido(s) há sentido(s).(7)
Segundo Antonio M. de Rezende (3), a aprendizagem é uma
experiência tipicamente humana, e isto nos mostram a
Antropologia , a Psicologia e a Sociologia. Os animais são
incapazes de aprender, embora possam ser domesticados e
adestrados. Tal confusão a respeito desse conceito surgiu,
segundo este autor, com as reflexões de Pavlov, o beha-
viorismo e até certos trechos da teoria da Gestalt, pois pro-
põem o comportamento animal como paradigma humano.
Ensinar e aprender são dois conceitos a princípio correlatos. A relação ensinar - aprender também é “dialógica”, pois em Para um frutífero desempenho do processo didático, a relação
síntese aparece sob a fórmula do diálogo. O diálogo é um ensino-aprendizagem, além de estar fundamentada em um
Renzo Titone(8) questiona o ensinar a si mesmo e coloca como conectivo universal, é exercício do espírito e controle do método coerente, deve contar com um profissional, que além
algo impossível de realizar-se, podendo, no entanto ocorrer mesmo. Dá-se através dele a comunicação aluno-professor, de adequadamente formado e informado, seja adequa-
o “aprender por si mesmo”, ou auto-aprendizagem. não só verbal, mas gestual e no que se refere ao ensino do damente intencionado e estimulado. A atividade e a qualidade
desenho, este último como principal meio de comunicação. do profissional estão diretamente relacionadas com o bom
Os dois fenômenos ensinar e aprender são por conseguinte andamento do curso e dos resultados.
alimentados por um tipo relação dinâmica, a relação didática, Nesta relação dialógica, a interrogação é um estímulo ao
onde participam professor e aluno. Tal relação, na escola pensamento do discente, que se converte em elaborador do Na realidade, não é o aluno que deve se moldar ao professor,
tradicional, inicia-se com o ato didático, relação bipolar ativa saber, ao concretizar a resposta. mas este último é quem por obrigação profissional deve
entre aluno e professor. Já nas correntes da escola ativa, conhecer e planejar o curso em função dos alunos.
esta relação expande-se para o grupo, a classe. Segundo J. Esta didática, baseada na pergunta do professor e na resposta
Hillal(9) é um modo de interação, na qual a atitude muda de do aluno, característica da escola tradicional, mais Para tanto, um bom professor influirá no desenvolvimento do
acordo com as pessoas que participam. especificamente do método maiêutico, não responde, na aluno em proporção ao seu grau de maturidade pessoal,
realidade, a todas as situações da questão ensino- envolvendo todos os aspectos da personalidade humana
aprendizagem. Ela entende o professor como agente (inteligência, vontade, simpatia, caráter, etc.), além das outras
direcional do pensamento do aluno, na medida em que este qualidades básicas, como preparação cultural (cultura geral
segue o caminho por ele estabelecido através das perguntas. e especializada), psicológica (referente ao conhecimento do
Ver-se-á que na escola ativa é fundamental que as perguntas aluno sob o ponto de vista fisiológico, psicológico, social,
partam também do aluno. etc.), habilidade didática (capacidades inatas e aprendidas),
etc.
Debe el maestro producir plasticamente? (11) foi respondida De maneira geral, pode-se definir método e técnica como: Esta ordem não é necessariamente, nem exclusivamente,
positivamente pelo professores artistas da Bauhaus, como uma estrutura lógica, mas pode-se tratar de uma ordem
por exemplo Klee e Kandinsky. ... el método viene dado por el sistema de principios psicológica, concebida como contexto de estruturas e
generales directivos, que se presentan válidos para funções mentais. De fato, o método didático tem as duas
Un trabajo de arte, como producto del espírito la consecución de un cierto fin, considerado en sí composições, psicológica em relação ao discente e lógica
humano, solamente puede ser entendido cuando mismo y prescindiendo de posibles y variables em relação ao conteúdo da disciplina.
se comprenden las fuerzas que movieron a su condiciones determinantes de un modo concreto,
creación. Esas fuerzas impulsoras varían con el mientras que la técnica representaría un expediente Assim, método é também adequação. Mediante ele, docente
indivíduo y con su etapa de desarrollo; también específico y bien articulado en sí mismo, capaz de e matéria se ajustam ao aluno.
están determinadas por la cultura en que el trabajo resolver ciertas situaciones particulares. En suma,
se ejecuta y por el medio en que se realiza. Para se trata de un “cómo” (medio, procedimiento, Historicamente, na metodologia didática surgiram duas
poder motivar juiciosamente al alumno, es esencial modalidad) adaptado a determinados momentos correntes opostas: a teoria do método único e o antime-
que el maestro conozca no solo esas fuerzas, sino de la actividad educativa o didáctica.. (13) todicismo.
que deberá identificarse con el creador,
experimentando sus mismos impulsos como si Tanto os métodos, quanto as técnicas, são os meios dos A teoria do método único valorizou o método, enquanto meio
fueran parte de sus proprias experiencias.(12) quais o professor se serve para que possa, de maneira simples de ordenar e unificar todos os graus de conhecimento, de
e eficaz, conduzir o aluno à assimilação do conhecimento, forma abstrata e racionalista. Seus precursores foram
A relação didática professor-aluno, no campo da Arte garantindo a aprendizagem pela parte discente. Comenio, Pestalozzi e Herbart. Outro teórico dessa corrente,
Educação, deve, assim, se dar não apenas pelo diálogo, mas Ziller, proclamava que o método era superior à personalidade
pela pesquisa (esta é uma das bases da escola nova baseada Segundo Titone, seria perigoso para o professor confiar do professor, ou seja é onipotente. Apesar da importância
em Jean Piaget - V. V.III.2.4.), pelo mútuo desenvolvimento simplesmente no que se denomina inspiração do momento, desta teoria, no que se refere à organização lógica do
artístico, subentendendo-se todos os conhecimentos a ele pois a situação na qual se dá o ato didático é de tal processo instrutivo, ela é portadora de graves problemas,
vinculados. Neste caso, pode-se dizer que a relação é complexidade que exige por sua vez, um cuidadoso controle devido ao intelectualismo unilateral e abstrato, gerando
verdadeiramente dialética e de maior complexidade, se dos principais fatores, que nele intervêm. formas de ensino baseadas quase exclusivamente no
comparada com outros setores da educação, pois o aluno professor e relegando o aluno a uma passividade contínua,
torna-se agente discente não dele próprio, mas do professor, No âmbito da Arte Educação, o método segundo Lowenfeld sem estímulos para iniciativa pessoal e livre participação.
além do fato de cada um deles se desenvolver por sua própria apresenta mais um objetivo, que é o de estimular a
auto-aprendizagem e delas poderem compartilhar. criatividade. Em oposição a esta corrente, teóricos como Gentile e
Lombardo Radice deram fundamental importância ao caráter
No entanto, não se deve esquecer que a base desse processo Debemos afirmar claramente que nuestra central da personalidade do docente. Os ativistas por sua
didático está no professor, pois sem ele, método, programa obligación es de ayudar a los individuos a vez, preferiram valorizar a espontaneidade da ação discente.
e cronograma não vingariam, e conseqüentemente não identificarse con ellos mismos, estimulando sus 6
haveria nenhum processo de ensino-aprendizagem. capacidades creadoras por los métodos que Atualmente, existe um consenso. Não se pode separar
permitan hacerlo con mayor eficacia.(14) aspectos que devem estar sempre em concomitância: o
aspecto psicológico, com seu jogo racional e irracional de
Em sua concepção, mais geral, método está ligado intrin- fatores, pelos quais se apresenta o discente; e o aspecto
secamente com desenvolvimento e finalidade. lógico, com as determinações objetivas do conteúdo.
Por tanto, decir método equivale a decir orden.(15) O método é assim limitado por condições alheias a ele,
III.1.7. Método e Conteúdo
subjetivas(do professor e do aluno) e objetivas (tipo de Se entende por conteúdo: Notas e referências bibliográficas
conteúdo, ambiente, etc.), o que resulta na convicção da
sua relatividade quanto à eficiência por si próprio. ...un sistema orgánico de valores culturales que 01. AEBLI, Hans. Didática Psicológica. Aplicação à
se traducen, en el caso del programa escolar, en didática da psicologia de Jean Piaget. Atua-
determinadas nociones y habilidades. (16) lidades pedagógicas volume 103. São Paulo: Ed.
Nacional, 1971.p.3
Não se pode prescindir do conteúdo, quando da confecção 02. TITONE, Renzo. Metodologia didactica. Madrid: Rialp,
de um método específico. Esta colocação aparentemente 1966. p.29
óbvia, não se apresentou sempre desta forma no decorrer 03. REZENDE, Antonio Muniz de. Concepção Fenome-
histórico. Certas interpretações da escola ativista, que nológica da Educação. São Paulo: Cortez, 1990.
valorizaram a espontaneidade e a liberdade do aluno através 04. _________,_____________. op. cit. p.49
da atividade como processo de experiência, tenderam a 05. _________,_____________. op. cit. p.51
minimizar o valor do conteúdo. 06. _________,_______________. op. cit. p.51
07. _________,_______________. op. cit. p.53
Por outro lado, correntes que primam pelo intelectualismo 08 TITONE, Renzo. op. cit.
exacerbado, valorizaram o conteúdo, em detrimento dos 09. HILLAL, Josephina. Relação professor-aluno.
outros fatores. Formação do homem consciente. São Paulo:
Paulinas, 1985.
Hoje é consenso: 10. LOWENFELD, Viktor. Desarrollo de la capacidad
creadora. Vol.1 Buenos Aires: Kapelusz, 1961. p.3
se ve al método como la resultante de un encuentro 11. __________,_____. op. cit. p.88
sinérgico de un paralelogramo de fuerzas en 12. __________,_____. op. cit. p.88
equilibrio, es decir, como dependiente tanto del fin 13. TITONE, Renzo. op. cit. p.31
del proceso didáctico como del contenido (objeto 14. LOWENFELD, Viktor. op. cit. p.3
docible), así como del alumno (sujeto discente).(17) 15. TITONE, Renzo. op. cit. p.465
16. _______, _____. op. cit. p.469
17. _______, _____. op. cit. p.470
Bibliografia complementar
No início do século, surgiram vários movimentos de reforma ato psíquico isolado, mas pertence a mesma cadeia de As concepções didáticas de J. Dewey, segundo Aebli,
do ensino, na Europa e na América. Reconhecendo a insufi- eventos, constitui a reprodução efetiva dos movimentos de decorrem logicamente de suas idéias psicológicas e
ciência da escola tradicional, propunham uma educação cujas exploração.(9) filosóficas e, por instrumentalistas que são, o separam
bases estivessem assentadas na psicologia da criança. Tais radicalmente da escola tradicional. Não se limita à formulação
tendências podem ser reunidas sob o nome de “escola ativa”. Um problema, na teoria de Lay, é que ela exige que primeiro de enunciados gerais, mas descreve regras didáticas precisas,
se realizem as representações intuitivas dos números, para baseadas na sua concepção do pensamento.
São teóricos importantes dessa escola os pedagogos: W. só depois serem deduzidas as operações. Assim, muito tempo
A. Lay, John Dewey, Edouard Claparède e Georg Kers- é gasto com cópia de figuras para assimilação das formas, O pensamento para Dewey é sempre visto num contexto
chensteiner. Segundo Hans Aebli, a análise desse autores sem muita reflexão matemática. Pode-se dizer que o mesmo ativo, de transformação das coisas físicas e na construção
mostra que tal escola só chegou a se desligar do ensino ocorre com as aulas de desenho tradicionais, nas quais detêm de novas relações e novas estruturas sociais. Ele é um
tradicional paulatinamente. No entanto, nenhum deles o aluno na execução correta do traço, sem conexão com a instrumento, assim como a observação, e vem sempre de
conseguiu fornecer fundamentos psicológicos completos compreensão das relações espaciais daquilo que desenha. uma necessidade, que tem sua origem na execução de algo.
condizentes com a nova didática, não superando as Mas, em sua natureza intrínseca, o pensamento é descrito
concepções da psicologia sensualista-empirista. Lay somente por Dewey como um jogo de inferências que ligam os dados
acrescentou certos elementos ativos. Dewey e Claparède, da observação com suas significações e os conteúdos da
apesar de reconhecerem a função ativa do pensamento a consciência em si (10), algo semelhante à associação na
serviço da ação, permaneceram fiéis à psicologia psicologia clássica. Segundo Aebli as novas concepções,
associacionista quanto à interpretação da natureza intrínseca nessa área, só foram introduzidas a partir de Piaget.
do pensamento. Kerschensteiner desligou-se definitivamente
dessa psicologia e descreveu com perspicácia a construção Edouard Claparède chegou a uma interpretação semelhante
das noções pelo aluno; infelizmente, procurou as forças sobre a questão do pensamento. Observa que toda ação tem
reguladoras dessa atividade em princípios de disciplina, por função readaptar o indivíduo ao meio quando rompido o
estranhos ao conteúdo da própria atividade,... (6) equilíbrio entre eles(11) e pensamento serve para controlar tal
ação.
A didática de Lay baseia-se em duas descobertas psicológicas
que se tornaram notórias por volta do fim do século XIX; a do Também em Claparède, a necessidade surge como causa do
arco reflexo e a da sensação cinestésica.(7) Com base nestas pensamento. Ela detona a energia necessária à atividade de
descobertas, elaborou uma teoria segundo a qual a vida observação e reflexão.
psíquica se compõe de um conjunto formado pela impressão
(dados percebidos) e expressão, sendo que estes dois pólos No entanto, Dewey concebe uma visão do pensamento em
estão sempre intercalados, e a expressão reorganiza o modo sua gênese, durante a formação da criança, colocando que
pelo qual se dá a impressão, o que comprovadamente se dá existe uma continuidade genética entre ação e pensamento, 11
por acomodação motriz, como o olho ao ser excitado pois a ação já contém um elemento cognitivo e o
visualmente, volta-se para a direção exata e acomoda-se à conhecimento, ao contrário, conserva sempre um elemento
distância do objeto. Assim, no campo psíquico, representando ativo.
graficamente uma figura espacial qualquer, o aluno tornaria
mais aguçada a percepção desta, à medida que a desenha. Assim, os dois pedagogos têm muito em comum, mas
Para Lay, a expressão desenvolve a elaboração intelectual. (8) Claparède preocupa-se sobretudo em mostrar que o ensino
É importante frisar que, para Lay, esta reprodução não é um deve corresponder às necessidades da criança, enquanto
III.2.3.2. Georg Kerschensteiner
Dewey concentra sua análise nas relações entre ensino Um dos maiores teóricos da escola ativa alemã, propõe que
teórico e ação prática e nos métodos de pensamento e de o aluno deve ele mesmo elaborar as novas noções. Também
pesquisa que o aluno deve adquirir.(12) coloca a questão da observação ativa, ou seja, não se observa
sem pensar e só se observa aquilo que se quer observar.
A didática, tanto de Dewey como de Claparède concentra-
se na pesquisa, enquanto processo construtor de coisas Assim, propõe uma redução das matérias, com apresentação
novas, sendo que a observação é instrumento indispensável de poucos casos.
para tal. Formulam-se hipóteses que serão com a experiência,
demonstradas legítimas ou não. Concebem-se como Apesar da semelhança com a concepção de Dewey sobre
decorrentes de um mesmo desenvolvimento, os impulsos as etapas do pensamento, ou da formulação das noções,
naturais da criança e a ciência. Kerschensteiner insiste muito mais no controle das hipóteses,
mas não dá grande importância ao fato de que todo
pensamento deva vir do espírito próprio do aluno.
12
III.2.4. A psicologia de Jean Piaget aplicada III.2.4.1. O pensamento
à didática da escola ativa
Por analogia, podemos, então, compreender (e a Aprender a desenhar é aprender a compreender o espaço
real ou imaginário, pelo entendimento do significado das
relações de perspectiva e projeção, e expressar graficamente
essas relações.
15
às qualidades de utilização do objeto, mas na compreensão físicas entre os objetos, do que propriamente ao desenho
de sua forma. Isto se deve ao fato da percepção ser um em si. Assim, a assimilação da realidade do espaço requer
processo ativo, ou seja, o indivíduo não se restringe a receber uma participação ativa do indivíduo. Este tipo de desenho é,
uma impressão do objeto observado, mas participa antes de tudo, um meio de leitura e incorporação da realidade
ativamente do processo de apreensão do mesmo, ele explora física.
o dado apresentado.
Pode-se dizer que, no ensino do desenho, particularmente
O sujeito deve acompanhar-lhe os contornos, no desenho de observação deve-se primeiro desenvolver no
escolher pontos de referência, estabelecer aluno a capacidade de realização desses esquemas. Existem
relações, executar transportes, etc.(27) inúmeras técnicas, usadas no renascimento e durante o
período áureo das academias, muitas usadas ainda hoje,
Assim, duas são as categorias, segundo Aebli, de qualidades como o quadro de vidro, o uso do lápis, para comparar
apreendidas por assimilação ativa: as de utilização e as proporções, ângulos, etc. No entanto, na maioria dos casos,
propriedades espaciais das coisas. o que se verifica é que estes recursos são apreendidos pelos
alunos como hábitos e não como verdadeiros esquemas de
O desenho de observação, tido por muitos como mera conhecimento. Eles apenas decoram uma técnica, sem
representação de uma impressão do visível, é também um aprenderem realmente a operação nela existente.
processo ativo. Está relacionado mais à apreensão da
realidade, ao aprofundamento da percepção das relações
16
(sup. e esq.) Desenho de ob-
servação, paisagem urbana,
vista de praça e igreja em Mogi
das Cruzes. CAU UMC 2 o.
bimestre,1993.
17
(sup.) Desenho de observação,
vista do interior de um
ambiente para o exterior. CAU
UMC 2o. bimestre,1992. O
exercício objetivava uma
passagem gradual do desenho
de observação do espaço
interno para o espaço externo.
Notas e referências bibliográficas Bibliografia Complementar
01. TITONE, Renzo. Metodologia didactica. Madrid: Rialp, PIAGET, Jean. A epistemologia genética. São Paulo: Abril,
1966. p.42 1983.
02. AEBLI, Hans. Didática Psicológica. Aplicação à VILLALOBOS, Maria da Penha. Didática e epistemologia:
didática da psicologia de Jean Piaget. Atua- sobre a didática de Hans Aebli e a episte-
lidades pedagógicas volume 103. São Paulo: Ed. mologia de Jean Piaget. São Paulo: Grijalbo,
Nacional, 1971. p.7 1969.
03. AEBLI, Hans. op. cit. p.8
04. _____,_____. op.cit. p.12
05. _____,_____. op.cit.
06. _____,_____. op.cit. p.18
07. _____,_____. op.cit. p.18
08. LAY, W. Der Rechenunterricht auf experimentell -
padagogischer Grundlage. Leipzig: 1914. cit. in:
AEBLI, Hans. op. cit. p.19
09. AEBLI, Hans. op. cit. p.20
10. _____,_____. op.cit. p.34
11. _____,_____. op.cit. p.28
12. _____,_____. op.cit. p.30
13. _____,_____. op.cit. p.40
14. _____,_____. op.cit. p.47
15. _____,_____. op.cit. p.47
16. _____,_____. op.cit. p.47
17. _____,_____. op.cit. p.48
18. _____,_____. op.cit. p.51
19. É necessário ressaltar que esta teoria não é suficiente
para o entendimento do pensamento artístico como
um sistema de “operações estéticas”.
20. AEBLI, Hans. op.cit. p.51
21. _____,_____. op.cit. p.55
22. _____,_____. op.cit. p.63 18
23. _____,_____. op.cit. p.72
24. _____,_____. op.cit. p.75
25. _____,_____. op.cit. p.78
26. _____,_____. op.cit. p.79
27. _____,_____. op.cit. p.80
III.3. Um curso de desenho com base na
pesquisa e exemplos de experiência
didática
Segundo Aebli,
a aplicação da psicologia de Jean Piaget à didática
deve ter seu ponto de partida na tese fundamental
segundo a qual o pensamento não é um conjunto
de termos estáticos, uma coleção de conteúdos
de consciência, de imagens, etc., mas um jogo de
operações vivas e atuantes. Pensar é operar - quer
se trate de assimilar os dados da experiência
submetendo-os aos esquemas de atividade
intelectual ou de construir novas operações por
uma reflexão, “abstrata” na aparência, isto é,
operando interiormente sobre objetos imaginários.
A imagem não é o elemento fundamental do
pensamento, antes constitui seu suporte, muitas
vezes útil, sem dúvida, mas não indispensável.
Além disso, em sua natureza íntima, a própria
imagem constitui um ato real e não um resíduo da
sensação: é uma reprodução dos aspectos
principais da exploração perceptiva que se deu no
momento da percepção de seu modêlo.(1)
Coetâneo ao desenvolvimento desta tese, de 91 a 96, atuei de fuga. Depois, ligavam tais pontos por uma linha horizontal como meio de entender os objetos, enquanto estruturas, e
como docente em parceria com os professores Sérgio e achavam a linha do horizonte. Tudo isso para fazer-lhes de como se relacionam as partes da mesma. A manipulação
Carneiro e Neide de Melo Nunes Machado, nas disciplinas apreender o real significado do desenho em perspectiva e de maquetes induziria o aluno a se perguntar sobre o
de Desenho e Materiais Expressivos e Plástica na arquitetura, suas regras (projeção num plano). Apesar do exercício ser problema.
respectivamente lecionadas para alunos de 1o. e 2o. ano do realizado por todos da mesma maneira, verificávamos que
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Mogi poucos entendiam seu conteúdo e aprendiam com ele. A Nas palavras de Aebli,
das Cruzes. Deste trabalho resultaram algumas considerações maior parte dos alunos o realizava mecanicamente, sem ter se nos propomos levar os alunos a descobrir por
empíricas que serão sinteticamente aqui relatadas, de forma a menor noção do que significavam tantas linhas. uma investigação pessoal o conjunto de um
a demonstrar algumas colocações teóricas. Conseqüentemente decoravam as regras de perspectiva e sistema de operações e não apenas as operações
não a entendiam como decorrentes de um processo parciais desse sistema, é preciso orientar a
Um exemplo de hábitos adquiridos, e não de conhecimento perceptivo analítico. atividade colocando cuidadosamente o problema.(5)
verdadeiramente apreendido, pode ser expresso pelo
exemplo a seguir. Propúnhamos aos alunos, na disciplina de A solução, talvez, esteja, então, em elaborar exercícios nos A intervenção do professor na pesquisa pode ocorrer, às vezes
desenho, que fizessem passo a passo o exercício do quadro quais os alunos procurem tal processo como método de seguindo o método maiêutico, mas com significado
de vidro: traziam o acetato, fixavam no quadro de vidro, pesquisa. Por exemplo, maquetes tridimensionais, nas quais psicológico diverso, não conduz a reflexão dos alunos numa
desenhavam com caneta de retroprojetor, sem se mover , pudesse o aluno visualizar a situação em questão de forma direção conhecida apenas por ele; ajuda-os a resolver um
de frente para o quadro e com um só olho. Desenho global (indivíduo - quadro - objeto - projeção). Entendendo a problema vivo em seu espírito e a realizar um projeto de
terminado, sobrepunham um papel manteiga, traçavam as estrutura do conjunto, realizaria o exercício de forma mais pesquisa que compreendem, mas cuja realização se choca
linhas que formavam um feixe de retas e achavam os pontos adequada. O mesmo deve acontecer se o desenho for visto com certas dificuldades que ultrapassam seus próprios
recursos.(6)
29
Desenhos de imaginação com
utilização de elementos de
construção perspéctica. Dois
objetos sob cama ou mesa,
com o olho do observador a
aproximadamente 20 cm do
chão. 3 o . bimestre, CAU
UMC,1996.
30
31
Desenhos de observação e de
imaginação. Modificação do
teto da sala de aula, 3 o .
bimestre, CAU UMC,1996.
(sup. esq.) Teto modificado,
Luiz Arellano Jr. (dir.) Obser-
vação e modificação, Marina
Mariani.
Desenhos de observação,
quatro vistas diferentes do
mesmo ambiente, mudando
altura e posição do observador.
Croquis rápidos. 2o. bimestre,
CAU UMC,1996. (sup. esq.)
Edna F. de Oliveira.
32
(esq.) Desenho de memória de
um ambiente doméstico. (sup.)
Desenho de observação do
ambiente, posterior ao de
memória realizado em sala de
aula. 3o. bimestre, CAU UMC,
1993.
33
(esq.) Desenho de memória de (sup.) Desenho de memória de
um ambiente doméstico e um ambiente doméstico
desenho de observação do realizado em sala de aula. 3o.
mesmo ambiente, posterior ao bimestre, CAU UMC, 1993.
de memória realizado em sala
de aula. 3 o. bimestre, CAU
UMC, 1993. Leonardo Hng.
34
35
Desenhos de memória de um
percurso realizado diariamente
pelo aluno. Mapa e vistas mais
importantes do percurso. 3o.
bimestre, CAU UMC, 1993.
III.3.3. A escola nova e a arte-educação
De maneira geral, os pedagogos reformistas basearam seus A nova pedagogia conseguia, então, na Alemanha, (assim
esforços no objetivo de estimular a criança ou o jovem a como em outros países europeus) do começo do século,
desenvolver as habilidades ocultas, latentes, conjuntamente mais e mais adeptos. Neste período, pode-se encontrar as
com o imaginário e a criatividade, através de uma apro- mais importantes experiências pedagógico-didáticas, em
ximação livre e lúdica da realidade, incentivando a apren- termos de renovação do ensino em nível técnico e superior,
dizagem autônoma, ou o aprender por si mesmo. destacando-se a Bauhaus, e alguns de seus professores que
revolucionaram os métodos de ensino da arte, entre eles
Tais preceitos foram absorvidos com tal intensidade pelo Johannes Itten, Wassily Kandinsky e Paul Klee.
ensino ligado à arte, que desencadearam uma total
reformulação dos cursos, e não somente no contexto infanto- No Brasil, um dos nomes mais conhecidos no que se refere
juvenil, mas pertinentes à didática para adultos, dos cursos ao contexto de Arte Educação é o de Onofre Penteado.
técnicos nos liceus aos superiores, nas universidades. Isso Professor da U.F.R.J., autor de diversas publicações no gênero,
ocorreu devido à própria condição imanente da arte, que nas quais procurou expor seus métodos de ensino-
sempre envolveu preceitos como auto-aprendizagem, aprendizagem, técnicas e procedimentos didáticos, Onofre
criatividade, imaginação. Penteado também pode ser considerado um seguidor dessa
corrente. Assim, quando da posição frente aos métodos de
Assim, pode-se dizer que dentre os vários segmentos no ensino dos quais se utiliza, relacionados em seu livro Desenho
âmbito da Escola Nova, o movimento de educação artística Estrutural, o próprio autor justifica:
foi um dos mais frutíferos em novos métodos e
procedimentos. Destacam-se nomes como Carl Götze (Das Os métodos utilizados na prática docente são os
Kind als Künstler / A criança como artista, 1898), Heinrich da educação funcional (Escola Nova). Promove-se
Scharrelmann (Malen und Zeichnen / Pintar e desenhar) que a experiência global: sensorial (visual, táctil,
insistia na união entre o desenho e a experiência da criança; auditiva) e psíquica ou espiritual (relações e
e John Dewey, cujo lema “learning by doing” tornou-se um significações através de trabalhos prático-
dogma da nova pedagogia. Dewey também merece maior didáticos; desenhos de criação, exposições de
destaque, pois sua concepção pedagógica penetrou estampas, projeções de slides e incipientes
profundamente no movimento das escolas de trabalho na gravações sincronizadas com projeções (início do
Alemanha, por meio de Georg Kerschensteiner, que por futuro ensino programado).(11)
ocasião do primeiro Congresso do “Werkbund” alemão, em
1908, fez sérias críticas quanto ao ensino nas escolas
primárias.
36
A maior parte das críticas e sugestões realizadas na época
se referiam especificamente às escolas primárias, exceção
feita para Joseph August Lux, que postulou em sua obra “Das
neue Kunstgewerbe in Deustschland” (A nova arte industrial
da Alemanha, 1908) que as idéias reformistas sobre
pedagogia em Arte deveriam estender-se a todos os níveis
de educação artística.
Notas e referências bibliográficas.
Bibliografia complementar
37
III.4. Os métodos de ensino do desenho pós
escola ativa
38
III. 4.1. A Bauhaus
A Bauhaus se destaca, no período entre guerras, como a (integração de todos os gêneros artísticos e de
primeira escola de design. Criada por Walter Gropius em 1919 todos os tipos de artesanato sob a supremacia da
para ser uma escola de arquitetura e artes, seus antecedentes arquitetura) e a síntese social (a orientação da
pedagógicos vêm das escolas de artes e ofícios do final do produção estética segundo as necessidades de
século XIX e início do século XX. O próprio prédio em Weimar, uma faixa mais ampla da população e não
primeira sede da Bauhaus, pertencia à Escola Superior de exclusivamente segundo a demanda de uns
Artes e Ofícios do Grão-ducado da Saxônia, fundada em 1907 poucos, privilegiados social e economicamente).(3)
e dirigida por Henry van de Velde.
Destaca-se, nesta fase, a contratação dos pintores Lyonel
A Bauhaus constitui o entroncamento de correntes Feininger, Johannes Itten e o escultor Gerhard Marcks em
aparentemente contrárias, que puderam ser 1919. Até 22 seguiram-se Georg Muche, Oskar Schlemmer,
mantidas num equilíbrio tenso e produtivo graças Paul Klee, Lothar Schreyer e Wassily Kandinsky.
à extraordinária capacidade de organização e
coordenação de Walter Gropius, seu fundador e
diretor durante muitos anos. Numa primeira fase,
conjugam-se neste equilíbrio o pensamento
plástico do Expressionismo tardio e o ideal do
artesanato medieval; numa fase posterior, passam
a dominar as concepções plásticas do
Construtivismo e o programa de uma criação da
forma, dirigida à objetividade e funcionalidade,
tendo em vista as exigências e possibilidades da
técnica e indústria modernas. (1)
Segundo Wick, a estratégia de Gropius para o convite de O mais importante trabalho de Klee na Bauhaus está no curso 45
certos professores, residia em convidar para a escola artistas preliminar que lecionou de 1921 a 1931. “View of a mountain sanctuary.
de renome considerados progressistas e, 1926. Pen and wash, 18 1/2 x
11 3/4.” In: GROHMANN, Will.
Ao contrário de Kandinsky que repetia os mesmos Paul Klee. N. York: Harry N.
em utilizar seus impulsos inovadores também nas exercícios ano após ano com poucas alterações, Abrahmas, 1985. p.24.
áreas “aplicadas”, sem precisar temer um na aula de desenho analítico (desde 1922) e na
retrocesso às antigas posturas das academias de aula de teoria da cor (desde 1925), Klee modificava
arquitetura, escolas superiores de arte e escolas constantemente o seu método de ensino, em parte
com ajuda de literatura especializada que ele como em Dessau, ateliês particulares onde podiam conjugar
próprio criava.(12) as duas atividades. Inclusive a idéia de que “se ensina aquilo
que se faz”, foi uma das diretrizes básicas do pensamento
Na fase da Bauhaus, em Dessau, o interesse de Klee pelo de Gropius na concepção da escola; por isso os professores
ensino vai progressivamente decaindo, culminando no seu deviam participar aos seus alunos sua produção artística e,
desligamento. em alguns casos, como o de Paul Klee, essa atividade se
tornou base do método e do conteúdo da disciplina.
Klee já não tinha vontade. Entrou em negociações
com várias academias e, em 1930, foi nomeado No caso de Klee, especificamente, os elementos pedagógico
para Dusseldórfia. Dessau propôs-lhe então e artístico foram concebidos como uma unidade e não se
melhores condições de trabalho, sobretudo menor pode precisar se a pressão exterior para uma maior reflexão
sobrecarga horária. Mas Klee recusou com fins didáticos inspirava na criação de novas obras ou
categoricamente, porque uma redução da sua vice-versa. Nas palavras do próprio Klee:
actividade era inconciliável com as ideias da
Bauhaus. Numa carta a Lily, datada de 14 de Junho Aqui no ateliê estou pintando cerca de meia dúzia
de 1930, traçou um resumo da sua actividade de de quadros, além de desenhar e de refletir sobre o
dez anos em Weimar e Dessau: “O trabalho na meu curso, tudo ao mesmo tempo. Pois tudo isto
Bauhaus é fácil quando, como pintor, a pessoa não tem que caminhar paralelamente, do contrário não
se sente obrigada a produzir. Neste momento, isto tem sentido. (14)
parece fácil e, como esta situação é passageira,
sinto-me perfeitamente bem. O cargo em si mesmo Segundo M. Droste, Klee descreveu da seguinte forma suas
seria bastante fácil. Se eu pudesse cedê-lo a aulas:
alguém que não tivesse um outro trabalho, faria
alguém feliz. Mas, então, não seria um artista e, desde o princípio e cada dia que passa vejo com
portanto, isto também não interessaria. Terá de ser maior claridade o meu papel, nomeadamente o de
alguém que utilize as suas forças melhor do que comunicar a experiência que tenho adquirido com
eu. A idade, neste caso, tem um papel secun- a configuração das idéias (desenhar e pintar)
dário.(13) relativa à organização da multiplicidade em unidade.
Esta experiência transmito-vo-la em parte em
Com a saída de Itten, Klee e Schlemmer ficaram com o curso sínteses (isto é, deixo-vos ver as minhas obras)
de desenho vivo, no qual revezavam-se por semestre. Mas, em parte em análises (isto é, divido as obras na
três meses depois, Klee já o transformara em um curso sobre suas partes essenciais). (15) 46
“Drawing for “Perspective of a teoria da forma pictórica. Até 2 de abril de 1922 escreveu
room with occupants” 1921. todas as aulas dadas e, em 1923, ampliou o programa adi- Klee, de início, adotou muito do curso de Itten (pois havia
pen and pencil, 13 1/4 x 9 7/8.”
In: GROHMANN, Will. Paul
cionando a teoria da cor. assistido a algumas de suas aulas e muito se impressionado),
Klee. N. York: Harry N. Abrah- como também de Kandinsky, por meio do “Sobre o Espiritual
mas, 1985. p.17. É impossível analisar o trabalho de Klee na Bauhaus, enquanto na Arte” publicado em 1912, para mais tarde encontrar
professor desvinculado da sua produção enquanto artista. desenvolver suas próprias idéias sobre o ensino da arte.
Os mestres artistas tinham à sua disposição, tanto em Weimar
O essencial do trabalho de Klee encontra-se reunido em suas
publicações. Nestas, encontram-se reunidos os trabalhos do
artista e do intelectual teórico, aliado a uma abordagem
didática.
Para Klee, é importante ensinar aos alunos tanto sobre o Na 5a. lição, estuda questões relativas à força gravitacional e
processo de criação, como também sobre alguns “aparatos” ao movimento do cosmos.
necessários para tal. Estes são, de maneira resumida e
condensada, explicados em nove lições. Na 6a., o movimento é estudado em ligação com o organismo
vivo, o corpo como máquina de movimento, onde desejo e
Na 1a. lição, Klee inicia suas colocações sobre o ponto em execução estão unidos.
movimento, assim, seu interesse está propriamente ligado à
linha. As linhas são classificadas em três tipos: Ativa, Medial Na 7a. lição, ilustra esses efeitos com o exemplo do moinho
e Passiva. de água, do crescimento das plantas e da circulação
sangüínea, para então passar ao movimento como problema
Na 2a. lição é tratada a questão da terceira dimensão e da pictórico.
perspectiva, pois para Klee estas surgem da conversão de 48
duas linhas para um ponto. O ensino da perspectiva por Klee Klee também aborda a questão do movimento, como “Mechanics of a part of town.
estava fundamentado na orientação do homem no espaço, elemento constituinte da recepção pictórica. O movimento 1928. Tushe and pen, 5 1/4 x 10
1/4
.” In: GROHMANN, Will. Paul
pela qual se estabelecia a relação das horizontais e verticais. dado pelo artista à obra é reativado pelos olhos do observador Klee. London: Thames and
ao percorrer a obra. Para ilustrar a questão do movimento Hudson, 1967. p.61.
Na 3a. lição continua a abordagem na inserção do homem criador, introduz nas aulas símbolos como o pião, o pêndulo,
no espaço e das forças que atuam sobre ele e em que isto a espiral e a flecha, que são estudados especificamente nas
implica nas formas. lições 8 e 9.
III.4.1.3. Wassily Kandinsky
59
II.4.2.2. Onofre Penteado
Desenho Estrutural
Os trabalhos seriam obrigatórios e em número compatível O trabalho de Penteado, apresentado nesta publicação, é fruto Outra questão a ser ressaltada é sobre o desenho em artes 62
com o período letivo. Na avaliação destes, expostos à classe, de toda uma carreira dedicada ao magistério. É mais que um visuais ser considerado como uma finalidade em si mesma,
os professores deveriam levar em conta: simples discurso, ou montagem lógica de um programa para a expressão pelo desenho e no desenho é a obra a ser
resolver um problema didático baseado em teorias de autores objetivada. Na arquitetura, e para o arquiteto, o desenho não
a qualidade gráfica dos mesmos, a capacidade do renomados. É uma experiência de toda uma vida, é algo é um fim em si mesmo, ele é um meio para a expressão de
fazer artístico - e na medida do possível, pessoal e fruto de várias experimentações. Trata-se de um uma realidade que está além das fronteiras bidimensionais
aprendendo a “alma artística do aluno, ou seja, seu autor que deveria ser melhor estudado pelos profissionais da do papel, ele é a representação de uma idéia que transcende
poder de criar formas plásticas. Cientificamente arte-educação, principalmente no que se refere às suas os limites do grafismo e que na verdade não se refere a este
propriamente dito, mas a uma configuração de espaço
tridimensional, ou seja, é também uma simulação.
63
III.4.2.3. Betty Edwards e o desenho com o
lado direito do cérebro
Um outro tipo de exercício interessante, e que deve O lema de John Dewey, aprender fazendo, é básico para
acompanhar os de observação, é aquele realizado de qualquer disciplina de desenho. E isto significa, também,
memória. A capacidade de memorização é essencial no desenhar muito e sempre que possível.
Notas e referências bibliográficas
Bibliografia complementar
72