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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – DOM ALBERTO

ESTRUTURA E DINÂMICA DO PROCESSO DE


CONHECIMENTO

SANTA CRUZ DO SUL - RS

0
PETIÇÃO INICIAL1

O novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor em 18 de março de


2016 prevê também a necessidade de requisitos intrínsecos e extrínsecos da
petição inicial. O novo código trouxe algumas novidades não só em relação aos
requisitos da petição, mas também quanto à aplicação de muitos princípios, a
cooperação das partes e procuradores no processo e a utilização de formas
autocompositivas de solução de conflitos.
No que tange as soluções amigáveis de conflitos, para que a mediação e a
conciliação sejam implementadas de forma satisfatória, a petição inicial deveria ter
uma elaboração diferente da que normalmente é utilizada. O ideal seria a não
apresentação de todos os fatos que expõem a relação conflituosa, pois isso
facilitaria a solução amigável. Entretanto, como no direito brasileiro prevalece a
teoria da substanciação, a narrativa de fatos é indispensável e o novo CPC não
modificou isso.
Quando se pensa na elaboração da petição inicial de uma ação, que será
proposta na área cível e na justiça comum, é preciso ter clareza de que a petição
inicial contém os elementos que compõem a tríplice identidade da ação, ou seja,
partes, causa de pedir e pedido. Embora pareça um simples requerimento, cada um
dos seus requisitos tem importância fundamental para o bom andamento do
processo e a obtenção da adequada prestação jurisdicional.
Identificar cada um dos elementos antes referidos significará fazer correlação
com temas como: a legitimidade e a capacidade das partes; abrangência da causa
de pedir e suas implicações, como por exemplo: o reflexo dela nos limites da
sentença; a possibilidade ou não de ingressar com determinada ação, considerando
a litispendência e a coisa julgada ou até a conexão com outras demandas.
A abordagem do tema será restrita à petição inicial de uma ação proposta na
área cível. O tema será abordado, primeiramente, analisando-se os requisitos
internos da petição, ou seja, aqueles previstos no CPC/15 no artigo 319 e outros que
estão esparsos no mesmo diploma legal; bem como, os requisitos extrínsecos da
inicial.

1 Texto extraído do artigo “Requisitos da Petição Inicial no Novo CPC” de Maria Lúcia Baptista
Morais.
Requisitos intrínsecos da Petição Inicial

Antes da análise dos requisitos propriamente ditos é conveniente fazer


algumas observações de ordem prática. O novo código de processo civil, no artigo
192 é mais enfático quanto à necessidade do uso da língua portuguesa na
realização de atos processuais. No dia a dia forense tem sido usual o uso de
expressões latinas, mas entende-se que elas são dispensáveis, até pela previsão do
artigo 13 da Constituição Federal de 1988, que prevê que o idioma oficial do Brasil é
a língua portuguesa.
O ideal é que na petição inicial seja utilizado um vocabulário simples e
objetivo. Deve-se levar em consideração o fato de que linguagem objetiva não quer
dizer que a peça deva ser telegráfica. Pelo contrário, o fato do juiz ser um terceiro
que desconhece os fatos exige uma boa narração dos acontecimentos, de maneira
lógica e cronológica 2 . Desta forma, o juiz terá a exata dimensão do ocorrido e
perceberá a delimitação dos pedidos que serão feitos. Isto quer dizer,
consequentemente, que para respeitar o princípio da congruência ou da adstrição ao
pedido, a decisão do juiz terá que ficar vinculada ao que foi pedido. O juiz não fica
vinculado aos fundamentos jurídicos apresentados, mas fica aos fatos narrados.
Primando por respeitar as regras da norma culta da língua portuguesa, muitos
advogados buscam eliminar repetições, acabando em optarem pela diversificação
de termos na petição inicial. Ora usam autor/réu, ora requerente/requerido e, até
mesmo, suplicante/suplicado. No entanto, o texto da petição inicial admite a
repetição e, pode-se dizer, que esse uso elimina dúvidas. Portanto, se o advogado
iniciar a peça utilizando os termos autor/réu, esse uso deve ser seguido até o final.
A partir do que foi dito conclui-se que não se deve também usar o nome das
partes, pois eles já foram referidos na qualificação. A exceção a esta regra da
prática forense pode acontecer quando houver a formação de litisconsórcio e for
necessário identificar quem realmente praticou o ato3.

2 Segundo o DINAMARCO: "Narrar fatos significa descrevê-los como faz um historiador.


Descrevem-se os acontecimentos em si mesmos, em sua autoria e em suas circunstâncias de modo,
lugar e tempo". DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil, v. II. São
Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2005, p. 127.
3 Há litisconsórcio quando, em um ou em ambos os polos da relação processual, houver mais

de um autor ou mais de um réu.


Com relação à escolha da pessoa gramatical, o ideal é escrever na terceira
pessoa do singular, pois quem está escrevendo é o advogado e ele escreve em
nome do cliente.
Outra questão importante e que merece ser salientada é que se deve ter
cuidado com a linguagem de computador. Muitas pessoas estão acostumadas a
escrever em sites de relacionamento e cortam as palavras ou usam abreviaturas
para tudo. O ideal e que na petição inicial não sejam usadas abreviaturas, como:
q.(que), vc( você), exceto aquelas que são usuais, nas peças jurídicas, como:
Exmo., V.Exa., Sr..
Além disso, o advogado deve ficar atento para não usar expressões ofensivas
à parte contrária e ao magistrado, pois há previsão do legislador para que o juiz
determine a supressão dos autos do processo, deste tipo de texto, conforme artigo
78 do CPC/15.
O advogado ao elaborar a petição inicial não pode desconsiderar a realidade
forense. O Judiciário está sobrecarregado de trabalho, com milhões de processos,
fazendo com que cada sujeito que atue nele venha a colaborar para minimizar a
questão da morosidade da justiça. Sendo assim, as petições não devem ter muitas
laudas e o advogado deve restringir-se a observar a determinação do Tribunal de
Justiça no sentido de que a petição tenha, no máximo, dez laudas.
A petição inicial deve ser uma peça bem apresentada e bem formatada. O
artigo 211 do CPC/15 proíbe que existam espaços em branco não inutilizados,
entrelinhas, emendas ou rasuras não ressalvadas. Não há uma previsão específica,
mas é usual o formato similar a um requerimento; portanto, o ideal é que o texto
tenha um espaçamento4 razoável para uma boa visualização. O texto deve ter as
margens laterais definidas, com a margem esquerda um pouco maior, pois caso haja
a formação de autos físicos, as folhas serão furadas e assim não se perderá nada
do texto escrito.
Para uma melhor apresentação da petição inicial, entende-se adequado que
entre o endereçamento e a qualificação das partes deve ser deixado um espaço.
Este espaço era destinado ao juiz para que ele pudesse prolatar a sua primeira

4 Sugere-se que haja o espaçamento de 2.0 ou 1.5 e que a fonte seja Arial ou Times New

Roman 12. As eventuais citações devem ser feitas em Arial ou Times New Roman 10.
decisão; entretanto, atualmente, raramente este espaço é usado com esta
finalidade5.
Cabe aqui observar que a técnica, às vezes, é abandonada em prol da
necessidade prática. Mesmo sendo contra a utilização deste espaço para que a
inicial fique bem apresentada, não se pode negar que seguidamente o advogado
polui aquele espaço por necessidade de que algo urgente seja lido e alguma
providência seja determinada. Por exemplo: um pedido de concessão de uma
liminar, um requerimento de assistência judiciária gratuita, um pedido de urgência
etc.
Como na moda ou em outros seguimentos, a petição inicial também tem
algumas tendências. A atual é a exagerada subdivisão da peça em tópicos. De
forma moderada a divisão é bem vinda e até pode auxiliar na compreensão do que
se pretende; porém, quando é excessiva pode dificultar a leitura e compreensão do
texto em razão da fragmentação. Então, entende-se que a divisão tradicional em
fatos e fundamentos jurídicos do pedido, embora não seja necessária, é didática e
pode indicar claramente cada requisito, mas pode ser interessante, também,
destacar o texto relacionado a uma tutela provisória que será postulada, como por
exemplo, uma tutela antecipada.
O artigo 319 do CPC/15 é o que indica os requisitos internos da peça e que
devem ser observados em petições de todos os procedimentos; porém, o rol ali
descrito não é exaustivo. No artigo 106 do CPC/15, o legislador estabeleceu a
obrigação de o advogado que atuar em causa própria indicar, na inicial, o endereço
onde receberá intimações 6 . Caso o advogado não cumpra esta exigência, o juiz
determinará a emenda da peça, em 5 dias e, se ela não for feita, ele indeferirá a
inicial, conforme artigo 330, inciso IV do CPC/15.
Outros requisitos da petição inicial também foram deslocados do artigo 319
pelo legislador, como por exemplo, o uso do vernáculo do caput artigo 192 e o artigo
328 ambos do CPC/15. Neste último caso, se a ação tiver por objeto revisão de
obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação de bens, o autor

5 VIANA, Joseval Martins. Manual de Redação Forense e Prática Jurídica. São Paulo: Editora
Joares de Oliveira, 2009. p.240. "Além disso, entre o cabeçalho e a qualificação das partes é
necessário deixar um espaço de dez centímetros para os despachos e as decisões interlocutórias dos
juízes."
6 Atualmente é comum que as folhas usadas pelos advogados sejam timbradas, constando o

nome do escritório, endereço e telefone. Por isso, alguns advogados deixam de cumprir o requisito do
artigo 106 do C.P.C/15.
terá que identificar sobre o que especificamente controverte e apresentar
quantificando o valor incontroverso, portanto, a inicial deve conter o cálculo.
Segundo o artigo 319 do CPC/15, os requisitos da inicial são:

I- o juízo a que é dirigido; II- os nomes, prenomes, estado civil, existência de


união estável, profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico,
o domicílio e residência do autor e do réu; III- o fato e os fundamentos
jurídicos do pedido; IV- o pedido e as suas especificações; V- o valor da
causa; VI- as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados; VII- a opção do autor pela realização ou não de audiência
de conciliação ou de mediação.

Observa-se pela atual redação do CPC que não há mais a exigência de


requerimento de citação do réu. A supressão deste requisito merece aplausos, pois
era redundante. Se o autor ingressa com a ação contra o réu e para que esse sofra
algum efeito na ação proposta é indispensável que seja citado, a exigência do
código anterior era desnecessária7.

O juízo a que é dirigida

Este inciso trata do endereçamento da inicial e, para fazê-lo, corretamente, é


preciso o conhecimento de competência. Várias perguntas devem ser respondidas,
até que seja possível elaborar este requisito. É necessário saber se a ação que se
pretende ajuizar:
a) Pode tramitar no Brasil?;
b) Deve ser ajuizada na Justiça Estadual, Federal, Trabalhista, Eleitoral
ou Militar?;
c) Qual o foro competente?;
d) Qual o juízo competente?

A ação será distribuída para uma vara comum ou especializada? Depois de


obter estas respostas, o requisito poderá ser elaborado.
Outra questão que envolve o endereçamento diz respeito às formas de
tratamento do juiz. A maneira mais usual é: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR

7 TEIXEIRA, Guilherme Freire. Da petição inicial. In: Código de Processo Civil Comentado.

Coordenação José Sebastião Fagundes Cunha, Antônio César Bochenek e Eduardo Cambi. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
JUIZ DE DIREITO DA VARA ___ CÍVEL, por exemplo8; porém, na prática pode-se
até questionar que, se for utilizada uma forma de tratamento, não é necessário usar
a outra. Pode ser que, pela melhor técnica de redação, se justifique a crítica; no
entanto, a utilização da expressão acima já é consagrada na prática e entende-se
que, sendo assim, não prejudica em nada a compreensão do texto e, se não o faz,
pode ser utilizada.
A nova redação do CPC não fala mais em juiz a qual a petição é dirigida, mas
em juízo. A alteração trouxe mais precisão técnica, mas acredita-se que isto não
alterará a forma de peticionar o primeiro requisito da peça, pois sempre se indicou o
órgão judiciário e não o nome do juiz. A expressão juízo é mais abrangente e
envolve os diversos graus de jurisdição. Daniel Amorim Assumpção Neves[9] ensina
que não se deve fazer referência expressa ao juiz, mesmo quando se sabe quem ele
é, como no caso de distribuição por dependência. O posicionamento do autor fica
bem evidente com a nova redação do CPC.
Apesar da alteração trazida pelo CPC/15 é preciso ter clareza de que não
haverá a indicação do juízo (vara) nas comarcas em que tem mais de uma vara, pois
continuará havendo a distribuição das ações propostas, conforme previsão expressa
do artigo 284 do CPC/15. Sendo assim, a referência ao senhor juiz continuará
existindo, desde que se faça menção à vara civil ou especializada a que a petição é
dirigida e a correspondente comarca. Portanto, pode-se ainda utilizar como exemplo
o seguinte endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE
DIREITO DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE CIDADE- ESTADO.
O exemplo retro serve para a propositura da ação na Justiça Estadual; porém,
quando a ação for distribuída na Justiça Federal, deverá o endereçamento da inicial
indicar uma subseção da Justiça Federal. EX: EXCELENTÍSSIMO SENHOR
DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DA JUSTIÇA FEDERAL, DA SUBSEÇÃO
DE CIDADE – ESTADO.
Caso a ação seja proposta perante o Juizado Especial Cível Estadual (JEC)
ou o Juizado Especial Federal o endereçamento será, respectivamente:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

8VIANA apresenta a origem do tratamento doutor aos advogados, referindo-se à legislação


que atribuía o título de doutor àqueles que se formassem nos cursos de ciências jurídicas e sociais e
fossem aprovados no estatuto. "O tratamento de doutor transformou-se numa dúvida entre os
profissionais do direito. Alguns esclarecimentos são importantes acerca desta polêmica, já que alguns
dizem que se deve usar a palavra doutor no endereçamento e outros não.
ESPECIAL CÍVEL, DA COMARCA DE CIDADE – ESTADO, e EXCELENTÍSSIMO
SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL DE CIDADE-
ESTADO.
Quando a ação for de competência originária dos tribunais, haverá um
endereçamento similar aos anteriormente exemplificados, mas, com a referência do
tribunal competente, tanto em nível Estadual quanto Federal. Por exemplo:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL – RS.

Os nomes, prenomes, estado civil, existência de união estável, profissão, o


número de inscrição no Cadastro de Pessoas físicas ou no Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e residência do autor e do réu;
O inciso II do artigo 319 do CPC/15 prevê um requisito extremamente
importante, porque identificará as partes no processo e, consequentemente, a
legitimidade delas. As partes compõem, junto com o pedido e a causa de pedir, os
elementos identificadores da ação; portanto, tem importância quando se pretende
verificar se houve litispendência ou coisa julgada.
A imprecisão da previsão legal continua no CPC/15 com a falta de
nacionalidade das partes; porém, sabe-se que, em uma boa qualificação, este
elemento sempre aparecerá. É verdade que não há restrições quanto à
nacionalidade, para que alguém figure no polo passivo ou ativo de uma relação
processual; contudo, a completa identificação ajudará a, por exemplo, não
ocorrerem equívocos e citações inadequadas, já que existem muitas pessoas com o
mesmo nome.
Apesar da referência anterior, o novo CPC resolveu a omissão da legislação
passada que não previa a indicação de número de identificação da parte, como um
CPF, RG ou até CNPJ, quando for pessoa jurídica. É importante que haja a
referência aos documentos e até a juntada de cópias dos documentos pessoais do
cliente. Em princípio, caso não se tenha todos os dados do réu, não deverá ser
obstada a propositura da ação, sem o número do CPF ou RG dele, aliás, o § 2º do
art. 319 faz referência expressa ao fato de que a petição não será indeferida por
falta deste requisito, se for possível citar o réu.
Na inicial deve-se indicar o nome do autor e do réu, com nome e prenome. Há
exceções, no entanto, em ações de reintegração de posse, por exemplo, às vezes
não se tem informação de quem são todos os invasores. Neste caso, normalmente,
identificam-se alguns deles e, quanto aos demais, na inicial, se faz referência aos
"invasores da área". Há, no CPC/15, o artigo 256 a previsão da citação por edital.
Dentre as possibilidades, está a do inciso I, quando desconhecido ou incerto o
citando. Este caso serve de base legal para a solução encontrada na ação de
reintegração de posse e, também para situações em que, por exemplo, tivesse que
ser proposta a ação contra os sucessores de um devedor, face ao falecimento deste.
Quando, por outro lado, no momento da qualificação, não for possível
identificar estado civil e a profissão do réu, sugere-se que seja colocado o dado
aleatoriamente, mesmo que não corresponda à efetiva realidade. O requisito da
inicial estará preenchido e, caso não esteja correto, o réu corrigirá o equívoco se,
eventualmente, contestar a ação. É necessário ficar atento para o caso de
litisconsórcio necessário, previsto no artigo 73 do CPC/15, pois, diante dessa
ocorrência, se não houver a citação dos dois cônjuges, haverá irregularidade no polo
passivo. Assim se, por exemplo, pretende-se propor uma ação reivindicatória e não
se tem a informação sobre o estado civil do réu, é necessário, ao menos, que seja
requerida a citação do cônjuge, se casado for.
É importante que o endereço das partes seja indicado de forma completa.
Mesmo não havendo referência expressa no artigo, deve-se incluir, no endereço,
todos os dados, inclusive bairro, pois ele interferirá no valor das custas, para a
realização dos atos de citação e intimação. O CEP deve ser informado, para facilitar
o trabalho cartorário, já que, se são fornecidos todos os dados, há uma aceleração
na realização dos atos. Evidentemente, não haverá necessidade do CEP, naqueles
casos em que não se admite a citação pelo correio, que estão previstos no artigo
247, do CPC/15.
O novo CPC traz como parte do requisito do inciso II a indicação de existência
de união estável e o endereço eletrônico. Este último item justifica-se diante do
avanço da utilização da informática no dia a dia forense.
No item da qualificação das partes, há a indicação do nome da ação. O nome
não é o mais importante, mas, sim, o pedido feito, que deve corresponder,
exatamente, àquilo que se pretende.
Na qualificação, haverá também à referência a que o autor [...] vem a
presença do magistrado (V. Exa.), através do seu procurador, inscrito na OAB (n˚) e
com endereço profissional (rua/av, n˚, Bairro, Cidade, CEP.), conforme procuração
inclusa. Neste item, não se deve colocar o nome do advogado, mas pode-se incluir o
número da sua inscrição na OAB e o endereço, em analogia ao previsto no artigo
106 do CPC/15. Isto deve ser feito, pois, em uma situação em que fossem muitos os
advogados, ficaria, ao invés de qualificação das partes, um rol enorme de
advogados, dificultando até a visualização de quem, efetivamente, consta nos polos
da relação processual.
Por fim, cabe destacar a preocupação do legislador com o aproveitamento
dos atos e a questão do acesso à Justiça. O § 3º do art. 319 prevê que não haverá o
indeferimento da inicial por falta dos requisitos do inc. II, se for impossível ou
extremamente onerosa à obtenção deles.

O fato e os fundamentos jurídicos do pedido

Este inciso prevê, como requisito da inicial, a causa de pedir, que é composta
pelos fatos, pelos fundamentos jurídicos, tendo como ponto de contato entre os dois
elementos, no dizer de Cândido Rangel Dinamarco, a crise lamentada, para que seja
identificado o interesse de agir.
O autor deve descrever os fatos objetivamente, mas com a clareza necessária
para a compreensão dos mesmos. De forma simples, deve-se narrar os fatos
detalhadamente, indicando sempre os envolvidos, o ocorrido, local, a forma dos
acontecimentos, consequência dos fatos, o que se pretende e a necessidade de ir
ao judiciário para solucionar o problema.
A importância de uma boa descrição dos fatos decorre da vinculação que eles
trarão à decisão do juiz, pois no Direito Brasileiro, vige a teoria da substanciação.
Isto quer dizer que não basta afirmar a existência da relação jurídica; é preciso
fundamentar a demanda, com a precisa narração dos fatos, que levarão ao
acolhimento do pedido.
Deve haver uma sincronia perfeita, entre a narrativa dos fatos, a correlata
fundamentação jurídica e o pedido feito pelo autor. Caso isto não ocorra, a petição
será inepta, pois a conclusão não está decorrendo dos fatos. A inadequação na
narrativa de fatos, entretanto, não deve levar à imediata prolação da sentença, sem
antes mandar emendar a petição inicial. Isso se verifica, pois a emenda à inicial é
um direito subjetivo da parte autora, e esse direito já foi reconhecido, em muitos
julgados do Superior Tribunal de Justiça. Além do posicionamento jurisprudencial, há
também o formalismo-valorativo, a ser levado em consideração, para que o juiz
determine a emenda neste caso. Assim, se, até mesmo depois da contestação, está
sendo respeitado o direito de emendar a inicial, porque não existiria este direito
antes dela? A conclusão só pode ser de que há obrigatoriedade da existência de
emenda.
Caso o autor pretenda postular a concessão de tutela de urgência de
natureza antecipada, deverá descrever fatos e juntar provas que demonstrem a
verossimilhança das alegações, conforme artigos 300, 497 e 498 do CPC/15, além,
é claro, de fundamentar a possibilidade de concessão da medida.
Conforme artigo 126 do CPC/15, o autor pode pretender fazer uma
denunciação da lide, que corresponde a uma ação regressiva, proposta, na inicial,
onde ele requer a citação do denunciado, para vir integrar a relação processual.
Caso o autor-denunciante venha a perder a causa, o juiz analisará se o pedido da
ação de denunciação (regressiva) que ele propôs contra o terceiro procede e
proferirá o julgamento, conforme artigo 129 do CPC/15. Trata-se de uma das formas
de intervenção de terceiros. Se o autor pretender propor essa ação, terá que narrar
fatos relativos a essa relação material com o terceiro - com a seguradora, por
exemplo -, e depois fundamentar juridicamente a possibilidade do seu pedido.
Aliás, outro elemento que compõe a causa de pedir é a fundamentação
jurídica do pedido, que não deve ser confundida com a base legal. Embora se tenha
o hábito de mencionar o número do artigo, na inicial, ele não é requisito obrigatório,
em razão do princípio jura novit curia, ou seja, o juiz conhece o Direto.
É muito comum que, na inicial, o advogado coloque, dentro do que ele chama
de "Do Direito" ou "Fundamento Jurídico do Pedido", a transcrição de artigos,
doutrina e/ou jurisprudência. Caso isso tenha sido feito só na inicial, no entanto, não
terá havido a fundamentação jurídica do pedido. Fundamentar juridicamente significa
fazer o enquadramento da situação fática, na previsão de uma norma, sem,
necessariamente, mencioná-la. É trazer para a inicial a consequência jurídica, que
pode ser aplicada, pelo juiz, no caso concreto, tendo por base a descrição dos fatos.
Na realidade, trata-se, conforme a doutrina, de uma sugestão de fundamentação,
pois o juiz não fica vinculado à fundamentação feita pelo autor.
A desnecessidade de citar expressamente doutrina, jurisprudência e artigo de
lei é a regra, mas, como toda regra, admite exceção. Entende-se não ser obrigatório,
mas conveniente, principalmente em casos em que, o pedido é inovador, que, se o
autor postular a concessão de tutela antecipada, pode ser adequada a citação de
precedentes ou de doutrina que justifiquem aquela concessão e até de lei.
Assim, a título exemplificativo, em caso de propositura de uma ação de
reparação de danos, em razão de um acidente de trânsito, é necessário que
apareçam dois elementos na causa de pedir: a culpa e o dever de indenizar. O texto
pode ser breve ou mais extenso, mas, de alguma forma, tem que haver referência
ao fato de que, conforme os fatos foram descritos, o réu agiu com culpa, em de uma
das suas dimensões e, portanto, se agiu com culpa, tem o dever de indenizar.
O requisito da causa de pedir é, como se pode perceber, muito importante,
porque os pedidos que serão feitos devem estar diretamente ligados aos fatos
narrados e aos fundamentos jurídicos feitos. Por sua vez, a sentença deverá estar
correlacionada aos pedidos, sob pena de a sentença ser extra, ultra ou citra petita.
Para que as sentenças não contenham essas irregularidades o juiz deve primar pelo
princípio da congruência ou da adstrição ao pedido, ou seja, o juiz só pode dar o que
foi pedido, salvo as exceções de pedidos implícitos.

O pedido com as suas especificações

Quando o autor na inicial faz aparentemente um pedido, na realidade, estará


fazendo dois: um pedido imediato, ou seja, aquilo que ele pretende do Estado, a
tutela jurisdicional; e um mediato, ou melhor, o que quer receber do adversário, o
bem da vida. Os dois pedidos devem constar expressamente da peça, sendo que,
para o segundo, há necessidade de uma atuação muito cuidadosa do advogado do
autor, pois o pedido, como já foi referido, delimita a sentença, ou seja, a resposta
que o Estado pode dar; portanto, pedir adequadamente significa receber o que se
pretende.
No que tange ao primeiro pedido, o imediato, entende-se que, na inicial, o
advogado não deve omitir a postulação de forma expressa do pedido de tutela
jurisdicional e de como ela será prestada, no processo de conhecimento, através da
sentença. Deve-se postular a "PROCEDÊNCIA DO PEDIDO com a condenação,
declaração, constituição, etc", dependendo do tipo de ação proposta, e não,
simplesmente, fazer o pedido mediato diretamente, como fazem muitos advogados.
Por exemplo: ao invés colocar, na peça, que pede a condenação do réu ao
pagamento, deve-se pedir a procedência total do pedido, para consequentemente
condenar o réu ao pagamento do valor de tanto, acrescidos de juros legais e
correção monetária. Aproveitando-se o exemplo, pode-se fazer referência a um
aspecto absolutamente prático, ou melhor, quando da formulação do pedido de
condenação, o ideal é que se faça referência expressa ao valor pretendido (ao
pedido mediato), com os devidos acréscimos, pois isto facilita a análise da petição
inicial, pelo magistrado.
O CPC/15 resolveu a inadequação do código anterior que estabelecia no
artigo 286 que o pedido deveria ser certo ou determinado. O artigo 322 do novo
dispositivo legal prevê a necessidade de que o pedido seja certo e estabelece
hipóteses de pedidos implícitos. No artigo 324, o CPC/15 prevê que o pedido deve
ser determinado e os casos em que ele será genérico. Portanto, na petição inicial é
possível a formulação de diversos tipos de pedidos e de cumulações de ações. O
primeiro deles é o pedido genérico. Nos três incisos do artigo 324, o legislador
estabeleceu casos em que, de alguma forma, no momento da elaboração da inicial,
o autor não tem condições de indicar todos os dados. Isto ocorre, por exemplo:
quando se postula uma universalidade de bens fungíveis ou quando não há como
estabelecer, desde logo, toda a consequência do ato ou fato ou, então, quando o
autor, para saber o objeto ou valor da condenação depende da atitude do réu. No
CPC/15, o legislador estendeu a possibilidade de pedido genérico à reconvenção.
O pedido pode também ser alternativo, quando a satisfação da obrigação
puder ocorrer de mais de um modo, conforme artigo 325 do CPC/15; ser
cominatório, quando o autor, na inicial, postular que o juiz fixe uma multa, com efeito
coercitivo – astreints -, para as obrigações de fazer, não fazer ou entregar coisa,
conforme arts. 500 e 537 do CPC/15. Pode o pedido ser, inclusive, decorrente de
obrigações de trato sucessivo ou prestações sucessivas, significando, neste caso,
que as prestações serão incluídas no pedido tendo elas ou não sido formuladas de
forma expressa, conforme artigo 323 do CPC/15.
Na inicial é possível fazer cumulações subjetivas ou objetivas de ações.
Ocorrerá cumulação subjetiva, quando houver a formação de litisconsórcio
facultativo; e cumulação objetiva, quando, na mesma inicial, houver a cumulação de
pedidos ou de fundamentos. Ele será facultativo, quando não for de formação
obrigatória. As partes juntam-se na condição de autores ou de réus,
voluntariamente, mas poderiam ingressar com as ações separadamente.
O autor pode, na inicial, cumular objetivamente os pedidos de três formas: em
cumulação alternativa eventual, cumulação simples ou sucessiva eventual. A
primeira significa que o autor fará dois ou mais pedidos e que estabelecerá uma
ordem de preferência. Assim, se fizer dois pedidos, o primeiro será o principal e o
que, efetivamente, é o preferido; e o segundo, o subsidiário, ou seja, aquele
postulado para a hipótese de não ser possível o atendimento do primeiro pedido.
Aliás, a característica principal desta cumulação é o fato de que o juiz jamais
atenderá aos dois pedidos. Ele só analisará o subsidiário, se rejeitar o primeiro. Por
esta razão, Ovídio. A. Baptista da Silva afirmou que os pedidos podem até ser
incompatíveis entre si.
Uma novidade trazida pelo CPC/15 foi a previsão de um parágrafo único no
artigo 326 permitindo a formulação de mais de um pedido, alternativamente, para
que o juiz acolha um deles. Segundo Humberto Theodoro Junior esta previsão "[...]
constitui uma espécie de atipicização da regra do pedido alternativo (art. 325).
Portanto, pode-se pedir que o juiz estabeleça uma ordem de preferência no
momento do acolhimento do pedido e que, não sendo concedido o primeiro, ele dê
qualquer um dos pedidos que constam como subsidiários, pois para o autor tanto faz
se o juiz acolher um ou outro.
Na cumulação simples, o autor faz vários pedidos, que podem ser acolhidos,
cada um de forma absolutamente independente. Não há vinculação entre eles, para
acolhimento ou rejeição. Portanto, o juiz pode julgar os dois procedentes,
improcedentes ou proceder um e não o outro. Isto ocorre quando, por exemplo, o
autor postula um crédito decorrente da venda de um veículo e outro, que da venda
de um quadro. As ações, neste caso, nem serão conexas, pois os pedidos resultam
de relações materiais diversas, e a identidade de partes não gera conexão, mas o
legislador autorizou a cumulação, por uma questão de economia processual. Esta
cumulação está prevista no artigo 327 do CPC/15, onde o legislador fez, nos incisos,
exigências para que a cumulação seja possível.
O CPC/15 trouxe uma modificação no § 2º do art. 327, pois refere-se ao
procedimento comum e não mais ao ordinário e acrescenta que "[...] sem prejuízo do
emprego de técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos
especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem
incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum". No § 3º há
referência expressa de que o artigo não se aplica à cumulação em ordem
subsidiária. Fredie Didier Jr exemplifica dizendo:

[...] a técnica de cognição limitada no procedimento possessório


(irrelevância da alegação de domínio) pode ser inserida no procedimento
comum, caso se cumulem pedidos possessórios e de resolução de contrato.
Se isso ocorrer, o procedimento seria o comum, mas a cognição, em
relação ao pedido possessório, seria limitada.

A última cumulação possível é a sucessiva eventual, que ocorrerá nos casos


em que o pedido, tido como acessório, só puder ser acolhido quando o pedido
principal for acolhido também, ou seja, o pedido acessório é dependente do
principal.
Não se deve esquecer que, se o autor narrou fatos e fundamentou a
possibilidade de concessão de tutela provisória de urgência antecipada, poderá
formular pedido de antecipação de tutela. Neste caso, sugere-se que ele seja feito,
em primeiro lugar, junto com os pedidos e antes dos requerimentos.
Jaqueline Mielke da Silva, abordando o tema da tutela provisória de natureza
antecipatória, faz considerações importantes acerca da antecipação da tutela na
inicial. Os ensinamentos são no sentido de que, em razão da previsão do art. 303 do
CPC/15, é possível a postulação da tutela antecipada, com a descrição de seus
requisitos básicos e a indicação do pedido da tutela final. Para a autora é
dispensável o exaurimento dos fundamentos para a procedência do pedido, pois
haverá a possibilidade de o autor aditar a inicial nos termos do § 1º, inc. I do art. 303
do CPC/15. O legislador estabeleceu ainda no § 2º, do mesmo dispositivo legal, que
se não houver o aditamento da petição inicial antes referido, ocorrerá a extinção do
processo sem resolução do mérito.
Se o autor narrou fatos, para provocar uma intervenção de terceiros, como a
denunciação da lide, deve formular pedido expresso de que o juiz julgue procedente
o pedido feito na ação de denunciação. Isto precisa ser feito para, por exemplo,
condenar a seguradora ao pagamento do direito regressivo, com os devidos
acréscimos legais.
Os pedidos possíveis foram descritos acima; entretanto, uma observação se
faz ainda necessária. Mesmo que a doutrina admita a existência dos "pedidos"
implícitos, ou seja, que permitam que seja excepcionado o princípio da congruência
é importante que todas as exceções sejam incluídas na inicial. Isto deve ser feito,
não só pelo motivo anteriormente referido, de que o juiz pode omiti-lo e,
posteriormente, só deixar como alternativa para o autor o recurso, mas porque, por
exemplo, na prova do OAB, indicará conhecimento daquilo que idealmente deve
conter a peça. Um dos importantes pedidos implícitos, que deve constar
expressamente na inicial, é o de condenação em custas e honorários advindos da
sucumbência, conforme artigo 85 do CPC/15. Embora seja um pedido implícito, o
ideal é que haja a postulação, pois é mais fácil fazê-lo do que ter que recorrer,
alegando que o pedido expresso era desnecessário. A prática forense nos mostra
que estes "pedidos implícitos" só não são inclusos na inicial por esquecimento e que
a regra é a sua inclusão.
A precisão do pedido feito já foi referida, pois ele vincula aquilo que o juiz
pode decidir na sentença. Além disto, é preciso pensar que, posteriormente, depois
da citação, se o autor pretender alterar o pedido, dependerá da anuência do réu. Já
depois da decisão saneadora, não poderá mais fazê-lo, pois terá ocorrido a
estabilização do processo, conforme artigo 329 do CPC/15. Embora a doutrina à luz
do CPC/73 já exigisse o contraditório, que é princípio constitucional, o CPC/15, no
inciso II do art. 329, refere, expressamente, a possibilidade de manifestação do réu
sobre o aditamento, em 15 dias, permitindo ainda a produção de prova
complementar.
O próximo inciso do artigo 319 trata do valor da causa; entretanto, para
manter uma ordem lógica da elaboração da petição inicial, os incisos não serão
analisados da forma prevista pelo legislador, pois, se assim for imaginada a petição
inicial, ela ficará com o valor da causa, não no final, como é o mais usual, mais antes
dos requerimentos. Sendo assim, passa-se à análise dos requerimentos possíveis
em uma petição inicial.

Requerimentos da petição inicial

No CPC/73, o primeiro requerimento que o autor fazia era o de citação do réu.


O CPC/15 suprimiu este requisito, o que é bastante lógico, conforme foi referido,
pois se o autor ingressa com a ação e se a relação processual só se completa com a
citação do réu é mais do que evidente que a citação é ato pretendido pelo autor.
O segundo requerimento obrigatório é o de produção de provas. Ele não deve
ser feito de forma genérica e sem a especificação das provas. Não se deve,
simplesmente, usar a postulação de forma genérica, ou seja: requer a produção de
todos os meios de provas admitidos em direito. É preciso especificar as provas que
se pretende produzir, por exemplo: a documental, testemunhal, pericial, depoimento
pessoal, inspeção judicial.
No art. 319 do CPC/15 o legislador acrescentou mais um requisito que é a
opção do autor pela realização da audiência de conciliação ou de mediação. Há,
sem dúvida, o estímulo ao uso de meios consensuais de resolução de conflito e por
este motivo a doutrina está entendendo que se o autor não fizer qualquer menção ao
seu desejo de não realizar a audiência, o juiz deve designá-la. Sendo assim, caso o
autor não faça referência a este requisito o juiz não deverá mandar emendar a inicial
em 15 dias.
No art. 334, § 4,º o legislador estabeleceu hipóteses em que a audiência de
conciliação ou mediação não será realizada. A primeira delas envolve a
disponibilidade das partes, pois se autor e réu, expressamente, afirmarem que não
querem a audiência, ela não será designada. Como vimos o autor terá que
manifestar-se na inicial e o réu terá que peticionar, 10 dias antes da audiência
designada, pela não realização dela, na forma do art. § 5º do mesmo artigo.
Existem requerimentos que são eventuais, pois dependem do caso concreto.
Por exemplo: o requerimento de gratuidade judiciária; o de intimação do Ministério
Público, em casos em que há o interesse público; o de intimação do réu para juntar
um documento, quando se provoca o incidente processual de exibição; o de citação
de um denunciado, se for feita a denunciação da lide; de prioridade na tramitação do
feito, quando o autor é idoso ou com grave doença.

O valor da causa

O valor da causa é de indicação obrigatória, conforme prevê o artigo 291do


CPC/15. A fixação deste valor servirá para: a) base de cálculo de taxa judiciária e
custas de distribuição; b) indicar se o procedimento é o dos Juizados Especiais,
Estaduais e Federais; c) poderá servir, inclusive, como base para fixação dos
honorários, conforme art. 85 do CPC/15.
A legislação não é exaustiva, na previsão de como será fixado o valor da
causa, mas, no artigo 292, encontram-se algumas possibilidades, bem como em
legislações esparsas, como é o caso da de locações, a Lei 8,245/91, em seu artigo
58, inciso III. A prática forense indicará como se faz a fixação, em determinados
casos. Em outros, quando não se tem um valor certo, atribui-se o valor de alçada.
O CPC/15 não trouxe muitas modificações nos incisos do art. 292
comparativamente ao código anterior. Mas, em pelo menos duas situações pode-se
verificar que haverá um considerável aumento do valor que será atribuído à causa.
O primeiro caso é o do inciso IV, que trata da ação de divisão, de demarcação e de
reivindicação em que o valor não será mais o venal, mas o valor de avaliação da
área ou do bem objeto do pedido. Esta alteração poderá trazer dificuldades no
momento da propositura da ação, pois a parte terá que ter um laudo de avaliação e
isto poderá gerar custos. Interessante é o posicionamento de Juliana Cordeiro de
Farias, que propõe a aplicação da regra do CPC anterior para a hipótese em que a
parte não tenha o referido laudo, ou seja, para a autora pode-se atribuir à causa o
valor com base na avaliação para efeito de pagamento de impostos.
Outra novidade foi a inclusão do inc. V, prevendo que na ação indenizatória,
inclusive a fundada em dano moral, o valor da causa será o valor pretendido. No
código anterior, como não havia previsão específica, os advogados optavam por não
atribuir um valor certo quando o pedido envolvia o dano moral. Isto era feito para não
fixar o valor da causa correspondente e diminuir o valor das custas. A estratégia era
pedir o dano moral de forma genérica com a solicitação de que o magistrado fixasse
o valor do dano e atribuindo o valor de alçada na inicial. Assim procedendo, o valor
de pagamento das custas diminuiria, consideravelmente, no momento da propositura
da ação. Posteriormente, se houvesse determinação da complementação de custas,
ela seria proporcional ao valor fixado pelo magistrado. Em realidade, a mudança
acabará permitindo que valores altos tenham que ser atribuídos à causa, em razão
do pedido feito, com a consequência de pagamento de custas na mesma proporção.
No entanto, se o magistrado, na sentença, fixar um valor menor, a parte autora terá
dificuldade para receber a diferença do valor de custas pagas em excesso.
Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, a previsão do inciso V, antes
referido, contraria a posição consolidada do Superior Tribunal de Justiça, pois era
autorizada a fixação do valor da causa de forma genérica.
Caso o autor não fixe corretamente o valor da causa, o juiz poderá determinar
a correção de ofício[58] ou o réu impugnar o valor dado. Ele fará isto, arguindo uma
preliminar de contestação, sob pena de preclusão. A consequência, em razão da
decisão do magistrado constatando o erro no valor da causa, será a
complementação de custas. O CPC/15 traz, sem dúvida, uma simplificação na forma
de impugnação do valor da causa, pois dispensa a realização de petição própria,
com formação do apenso.
Humberto Theodoro Junior, analisando o novo CPC, relembra o
posicionamento doutrinário no sentido de que o juiz podia corrigir de ofício o valor da
causa, quando ele estava determinado na legislação e conclui que a mesma regra
poderá ser aplicada para o CPC/15, Portanto, o autor apresenta uma distinção entre
valores legais e aqueles que são estimados pela parte quando não há valor
econômico que possa ser de pronto indicado. Segundo o autor, se o valor da causa
estiver previsto no art. 291 ou em legislações esparsas, o juiz poderá corrigir de
ofício a inadequação do valor indicado na inicial. No entanto, se não houver regra
legal específica, o magistrado para determinar a alteração do valor dependerá de
impugnação pelo réu, em preliminar de contestação, com possibilidade de preclusão
caso ele não use esta prerrogativa.
Nem todos os requisitos da petição inicial formam listados pelo legislador de
2015 no artigo 319. Segundo o art. 330, § 2º
Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de
empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de
inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que
pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.
Conclui-se pela previsão do dispositivo legal, que a petição inicial deverá
preencher mais um requisito intrínseco que é o cálculo, sob pena de não ser
considerada apta.
Outro requisito esparso é o do artigo 106, do CPC/15, ou seja, na inicial
deverá constar, o endereço para receber intimações, o número de inscrição na OAB
e o nome da sociedade de advogados da qual participa, quando o advogado
postular em causa própria. Na legislação anterior havia a previsão de endereço, mas
tanto na doutrina, quanto na prática forense já se tinha a exigência da indicação do
número da OAB. Destaca-se aqui a alteração de prazo para a emenda da inicial, em
caso de não indicação deste último requisito. Agora o prazo será de 5 dias e o não
atendimento dele terá como consequência o indeferimento da inicial.
REQUISITOS EXTRÍNSECOS DA PETIÇÃO INICIAL

Além dos requisitos internos da peça, outros existem e também precisam ser
abordados. Os documentos indispensáveis à propositura da ação são requisitos
extrínsecos da inicial. Devem acompanhá-la, necessariamente, sob pena de haver a
determinação da emenda e, em caso de não cumprimento da ordem do juiz, a
prolação da sentença, com o indeferimento da inicial, conforme artigos 320 e 321 do
CPC/15.
Dentre os documentos indispensáveis, está a procuração, exceto se o
advogado estiver atuando em causa própria. Neste caso, no item da qualificação das
partes o advogado, que também é a parte, fará uma referência expressa a esta
condição, no momento em que se reportaria ao procurador legalmente constituído.
Depois de fazer a própria qualificação e de indicar o seu endereço completo, deve
colocar na peça: [...] atuando em causa própria vem à presença de V. Exa. [...].
A procuração é obrigatória, porque é instrumento do contrato de mandato,
que representa a capacidade postulatória da parte, que é um pressuposto para que
o processo possa prosseguir. Entretanto, existem hipóteses de outorga da
procuração na própria audiência, bem como casos em que, pela possibilidade de
perda do direito - pela prescrição ou decadência – ou em razão da preclusão, poderá
haver a propositura da ação, sem o referido documento, conforme artigo 104 do
CPC/15. Como o artigo 287 do CPC/15 exige a juntada da procuração na inicial, o
advogado deve fazer uma justificativa e postular a juntada da procuração, no prazo
de quinze dias, e, se houver necessidade, pedir a prorrogação deste prazo por mais
quinze dias.
Existem outros requisitos extrínsecos da peça, além da procuração. É o caso
dos documentos que foram referidos na petição inicial. Todos aqueles referidos pelo
autor, na narrativa dos fatos, devem ser anexados, ou, se não for possível juntá-los,
naquele momento, deve-se explicar quando isto será feito. Por exemplo: é possível
que as partes contratem, de forma escrita ou oral; assim, se na inicial houver
referência expressa ao contrato escrito, ele deverá ser juntado com ela. Por outro
lado, se for mencionada a contratação verbal, evidentemente, não haverá o que
juntar.
Além dos documentos anteriormente referidos, é importante juntar os
documentos pessoais das partes, apesar de os juízes, em geral, não determinarem
a emenda da petição, por falta deles. Eles demonstram a existência de regularidade,
quanto à capacidade das partes, e servem para que o juiz conceda alguma
deferência, como na questão da prioridade de tramitação do feito, quando o
postulante for o idoso.

AUDIÊNCIA PRÉVIA À CONTESTAÇÃO

O Novo Código prevê a possibilidade de realização de três audiências no


procedimento comum:
(a) Audiência preliminar – conciliação ou mediação – (art. 334);
(b) Audiência de saneamento (art. 357, § 3º)
(c) Audiência de instrução e julgamento (arts. 358-368)

Cria-se no art. 334 do NCPC uma audiência de conciliação ou de mediação,


que poderá ser realizada por meio eletrônico (§ 7º), a ocorrer após a citação do réu e
antes do momento de apresentação de sua resposta.
Nos termos do art. 334, caput, do NCPC essa audiência será designada com
antecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 dias
de antecedência. A citação realizada com menos de 20 dias da realização da
audiência é causa de nulidade, aplicando-se ao caso o princípio da
instrumentalidade das formas, cabendo a decretação de nulidade apenas se ficar
comprovado o prejuízo ao réu.
Nos termos do art. 165, caput, do NCPC, os tribunais criarão centros
judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de
sessões e audiências de conciliação e de mediação.
Caso não exista tal centro, há quem entenda que caberá ao próprio juiz da
causa a realização da audiência. Corrobora para tanto, a interpretação do § 1º do
art. 334, que indica a atuação necessária do conciliador ou mediador, somente
quando estes auxiliares existirem no local. Porém, há quem defenda que o juiz não
pode realizar tal audiência, em razão de que não possui qualificação para tanto
como os conciliadores e mediadores, bem como, caso não haja acordo em tal
momento, posteriormente o juiz estaria maculado por um pré-julgamento daquilo que
foi debatido pelas partes.
O § 2º do art. 334 do NCPC prevê que poderá haver mais de uma sessão
destinada à conciliação e à mediação. Só se justifica a designação de nova sessão
se houver perspectiva de solução consensual diante do que ocorreu na sessão
anterior.
Havendo um acordo de vontade entre as partes para que não ocorra nova
sessão, o procedimento deverá seguir seu andamento, com abertura de prazo para
a contestação do réu. Se as partes concordarem com uma nova sessão ela será
realizada, mesmo contra a vontade do conciliador e do mediador.
O § 2º do art. 334 do NCPC normatiza que as sessões devem ser
compreendidas num período máximo de 2 meses. Esse prazo, entretanto, poderá
ser extrapolado por vontade das partes. Se as partes podem fazer acordo para
suspender o processo para buscar a solução consensual (art. 313, II, do NCPC), não
faz sentido lógico estarem vinculadas ao prazo previsto no art. 334, § 2º do NCPC.
Nos termos do § 3º do art. 334 do NCPC, o autor será intimado, na pessoa de
seu advogado, do local, data e horário da audiência de conciliação ou de mediação.
No caso de concordância das partes para a não realização da audiência, caberá ao
cartório intimar o autor informando que ela não se realizará.
Conforme art. 334, § 4º do NCPC, a audiência preliminar de conciliação ou de
mediação é ato integrante do procedimento comum, só não sendo realizada nas
causas em que a autocomposição não for admissível nos termos da lei ou se ambas
as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual.
Assim, ainda que o autor manifeste, expressamente na petição inicial, desinteresse
pela autocomposição, o juiz a despachará designando dia e hora para sua
realização.
Parte da doutrina entende que a manifestação de uma das partes já deveria
ser suficiente para que a audiência não ocorresse, pois, a possibilidade de acordo
nesse caso é quase impossível.
Nos termos do art. 334, § 5º, do NCPC cabe ao autor alegar o desinteresse
na realização da audiência em sua petição inicial, porém, há quem entenda não
haver preclusão temporal na hipótese. O réu deve demonstrar seu desinteresse na
realização da audiência, por meio de petição apresentada com 10 dias de
antecedência, contados da audiência. Ambas as partes não precisam motivar tal ato.
Havendo litisconsórcio no processo, o § 6º do art. 334 do NCPC prevê que o
desinteresse na realização da audiência de conciliação ou mediação deve ser
manifestado por todos os litisconsortes.
Direito que não admite autocomposição não se confunde com direito
indisponível, porque mesmo nos processos que versam sobre direito indisponível é
cabível autocomposição. Nesse caso, a autocomposição não tem como objeto o
direito material, mas sim as formas de exercício desse direito, tais como os modos e
momentos de cumprimento da obrigação. Na tutela coletiva, por exemplo, esse
entendimento é pacificado, o mesmo ocorrendo nas ações em que se discutem
alimentos.
O § 8º do art. 334 do NCPC prevê que a ausência injustificada do autor ou réu
na audiência é ato atentatório à dignidade da justiça, passível de sanção processual,
representada por multa de até 2% do valor da causa ou da vantagem econômica
pretendida, tendo como credor a União ou o Estado.
Segundo o § 9º do art. 334 do NCPC, as partes devem estar acompanhadas
por seus advogados ou defensores públicos. Apesar de aparentemente instituir um
dever, o dispositivo não prevê a consequência de seu descumprimento. Assim, há
defensores da ideia de que não se trata efetivamente de um dever, mas de uma
faculdade da parte, até porque o ato de autocomposição ou mediação é ato da
parte, que independe de capacidade postulatória. Dessa forma, a ausência do
advogado não impede a realização da audiência e a consequente autocomposição.
O representante com poderes para negociar e transigir – art. 334, § 10 do
NCPC – Pode ser o advogado da parte ou um terceiro, e, como na audiência não
haverá outra atividade além da tentativa de solução consensual, não há qualquer
impedimento para a outorga de poderes da parte para terceiro.
A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença
conforme art. 334, § 11 do NCPC. A redução a termo se dá pelo conciliador ou
mediador, e a homologação é ato do juiz, já que só este está investido na jurisdição.
Visando à efetiva tentativa de obtenção da autocomposiçao, o art. 334, § 12
do NCPC prevê que a pauta das audiências de conciliação ou de mediação será
organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o
início de uma e o início da seguinte.
SANEAMENTO DO PROCESSO

O art. 357 trata de uma decisão interlocutória que, na verdade, se divide em


duas: saneamento e, após, organização. Ainda que a decisão seja una, elas se
prestam para coisas distintas, sanear e organizar o processo.
Sanear é limpar, enxugar eventuais vícios processuais que possam vir a
obstruir ou até mesmo impedir o julgamento do mérito; organizar o processo, mutatis
mutandis, é delimitar as questões fáticas e jurídicas, decidindo como recairá a
atividade probatória e balizar como vai se dá a distribuição do ônus da prova.
Em vista disso, antes de qualquer coisa, o processo terá de ser saneado, ou
seja, se verificará se ainda faltam questões processuais a serem resolvidas, como,
e. g., competência do juízo, regularização na representação processual de alguma
parte. Verificado que não há nenhuma questão processual pendente e o processo
está "maduro" para julgamento, passemos à etapa seguinte: organização do
processo.

Da organização do processo

Ultrapassado o saneamento, no mesmo provimento jurisdicional, o juiz


organizará o processo, delimitando as questões de fatos e especificando os meios
de provas que serão admitidos, definirá acerca da distribuição do ônus da prova,
demarcará as questões de direito necessárias ao julgamento do mérito e, se for o
caso, irá designar audiência de instrução e julgamento (art. 357, II a V).
Para se organizar o processo, depois, claro, de sanear o feito, o juiz tem que
abalizar quais são as questões fáticas e jurídicas (incisos II e IV do art. 357). Quanto
às primeiras, esse abalizamento deve levar em conta toda a atividade probatória que
cercam os fatos envolvidos na demanda. Nesse passo, deve o julgador fixar os
pontos controvertidos, tanto de fato quanto de direito.
O processo é formado pela fase introdutória, seguida da destinada à instrução
e ao julgamento. Afixar, no mesmo diapasão, os pontos controvertidos (fáticos e
jurídicos), é imprescindível para uma solução de mérito justa, célere (na medida do
possível) e efetiva.
Claro que tem de haver uma participação das partes nessa fase, uma
comparticipação, na verdade, pois para se chegar à solução de mérito que se
espera, com o processo se desenvolvendo em contraditório, é importante que seja
feita uma delimitação probatória justa, correta e adequada. Foi essa a mens legis e
esse é momento processual adequado para fazê-la.
Importante salientar que é por meio da decisão de saneamento e organização
que o juiz inverterá - ou não - o onus probandi, observado o art. 373 (art. 357, III),
que fala justamente sobre o ônus da prova, que cabe ao autor quanto aos fatos
constitutivos de seu direito e/ou ao réu, no que pertine à existência de fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do demandante.
Destaque-se que a conjectura do inciso III do art. 357 é a única que admite
interposição de recurso imediato, no caso, agravo de instrumento, por força do art.
1.015, XI. Os demais casos, embora decisões interlocutórias, não são agraváveis;
não ficam, porém, descobertas de recurso, posto que se admite discussão da
matéria em eventual apelação ou contrarrazões (art. 1.009, § 1º).
Caso seja necessário, o juiz designará audiência de instrução e julgamento
(AIJ). Fixados, pois, os pontos controvertidos e delimitados os aspectos sobre os
quais recairá o objeto da cognição judicial, o processo estará quase pronto para
julgamento. As partes, contudo, ainda têm direito de ser ouvidas.

Estabilização da Decisão de Saneamento e Organização

Uma vez saneado e organizado o processo, ou seja, não havendo vício


processual que impeça a análise do mérito, definida assim as questões fáticas e
jurídicas, o juiz abrirá vista às partes para, em 05 (cinco) dias, pedir eventual
esclarecimento ou solicitar ajuste.
Com o transcurso do quinquídio previsto na lei (§ 1º, art. 357), a decisão se
tornará estável, isto é, não poderão as partes, em momento posterior, requerer
algum tipo de elucidação e/ou conserto, uma vez que deixou escoar o prazo sem
praticar qualquer ato processual, razão pela qual eventual pretensão estará preclusa
(art. 223).
Entendemos que essa estabilidade, no entanto, não é absoluta, porque é
possível a existência de fatos supervenientes ou mesmo aqueles que podem ser
aduzidos a qualquer tempo. Para casos assim, se admite uma mitigação da
estabilidade decisória prevista no § 1º do art. 357.
Note-se, nessa situação, que as partes podem pedir esclarecimentos ou
ajustes. No primeiro caso, o juiz apenas irá aclarar o que eventualmente tiver ficado
obscuro, confuso, de maneira que a decisão será mantida incólume; já na hipótese,
todavia, de a parte pedir o ajuste da decisão, pode ser que haja alguma modificação
no que foi decidido.
Com efeito, dependendo do tipo de ajuste e, por conseguinte, do que foi
modificado, pode ser o caso - ou não - de interposição de agravo de instrumento, na
medida em que, se o que foi ajustado/modificado disser respeito à distribuição do
ônus da prova (inciso III, art. 357), a decisão, nesse caso, será agravável (art. 1.015,
XI).

DELIMITAÇÃO CONSENSUAL POR NEGÓCIO PROCESSUAL

Consensualmente, as partes podem apresentar ao juiz sobre o que devem


recair as questões de fato e de direito previstas nos incisos II e IV do art. 357, é o
que prevê o parágrafo 2º do mesmo artigo. Aqui, as partes apresentarão, de comum
acordo - obviamente - e por escrito, delimitação das questões sobre as quais deverá
repisar a atividade probatória, bem assim das relevantes para o deslinde da causa
rumo ao julgamento do mérito. Feito isso, o juiz homologará o pedido. Uma vez
homologado judicialmente, as partes estarão vinculadas ao que foi acertado.
Essa previsão, inovação no ordenamento jurídico-processual brasileiro, se dá
em razão do negócio jurídico processual, previsto no art. 190. Claro que, para haver
a delimitação consensual na forma como esposada, é necessário que os direitos
admitam autocomposição e as partes litigantes sejam plenamente capazes, pois o
juiz pode controlar a validade da convenção e, se for o caso, recusá-la (§ único, art.
190).
Oportunamente, cumpre observar que a delimitação - ou organização -
consensual, de certa forma, é corolário de uma norma fundamental e elementar do
processo civil, o princípio insculpido no artigo 6º do Código, segundo o qual as
partes devem cooperar (princípio da cooperação) entre si, a fim de que se tenha
decisão de mérito justa e efetiva, em tempo razoável (inciso LXXVIII do art. 5º da
Constituição da República).
SANEAMENTO COMPARTILHADO

Aproveitando-se o gancho, ainda a respeito do princípio da cooperação (art.


6º), quando a causa apresentar grande complexidade em alguma matéria de fato ou
de direito, será designado pelo juiz audiência de instrução e julgamento, para, em
cooperação com as partes, sanear e organizar o processo (art. 357, § 3º).
Em outras palavras, o saneamento compartilhado é, por assim dizer, a
convocação das partes para, comparticipativamente, sanear a organizar o processo,
quando este cuidar de questões complexas, sejam fáticas ou jurídicas.
Na mesma senda, o Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC)
editou o enunciado nº 298, nos seguintes termos:

"A audiência de saneamento e organização do processo em cooperação


com as partes poderá ocorrer independentemente de a causa ser
complexa."

Vê-se, então, que, segundo entendimento doutrinário, a interpretação do § 3º


do art. 357 é ampliativa, de forma a abarcar não somente as causas complexas,
como diz a lei, mas também as de menor complexidade de fato e/ou de direito.
Parece-nos que a ratio legis aqui adotada, é justamente proporcionar uma
entrega jurisdicional mais cooperativa e efetiva (at. 6º), de maneira a proporcionar
decisões mais céleres, justas e efetivas, sempre na busca da promoção da paz
social aos jurisdicionados.
Caso haja a audiência aqui mencionada, o legislador exigiu que as partes
levem o respectivo rol de testemunhas, nos termos do que dispõe do § 5º do 357.

DETERMINAÇÃO DE PRODUÇÃO DE PROVAS TESTEMUNHAL E PERICIAL

É possível que seja determinada produção de prova testemunhal ou pericial.


Na hipótese de ser estipulada produção de prova testemunhal, consoante § 4º do
art. 357 do CPC, será fixado pelo juiz o prazo de até 15 (quinze) dias a fim de as
partes apresentarem rol de testemunhas. Lembrando que, como se trata de prazo
processual - indubitavelmente - contado em dias, estes só serão contados os úteis,
nos ditames do art. 219 do Código.
Nesse diapasão, quando houver produção de prova na forma descrita acima,
o número de testemunhas não pode ser superior a 10 (dez). Além disso, para prova
de cada fato, só se admitirá 03 (três) testemunhas, no máximo (§ 6º, 357).
A fim de dar aplicabilidade aos arts. 5º, LXXVIII, da CRFB e 4º do CPC, prevê
o § 7º do art. 357 do Código que o juiz pode limitar o número de testemunhas,
sobretudo levando-se em conta a complexidade da causa e dos fatos em si
considerados.
Já no que tange à prova pericial, caso esta tenha sido ordenada, o juiz
nomeará perito especializado no objeto da perícia e, de plano, fixará prazo para
entrega de laudo. Após, as partes terão 15 (quinze) dias para arguir eventual
impedimento/suspeição (sob pena de, não arguindo, precluir o direito de arguir a
posteriori), indicar assistente técnico e sugerir quesitos.
Nomeado, o expert apresentará, em 05 (cinco) dias, sua proposta de
honorários, à qual as partes terão o prazo comum - e preclusivo, assim entendemos,
conquanto a lei não preveja de forma expressa - também de 05 (cinco) dias para se
manifestar, quando, então, o juiz arbitrará o valor dos honorários periciais, que
podem ser reduzidos caso a perícia seja deficitária (ex vi arts. 357, § 8º c/c 465,
caput e §§ 1º a 5º, todos do CPC).
Por derradeiro, o § 9º do art. 357 fala que as pautas de audiências deverão ter
intervalo de 01 (uma) hora, pelo menos, entre elas. Frise-se que este hiato previsto
na lei deve ser interpretado no sentido de que o intervalo não é entre o final de uma
audiência e o início de outra, mas, sim, entre o início de cada audiência.
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