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PETIÇÃO INICIAL1
1 Texto extraído do artigo “Requisitos da Petição Inicial no Novo CPC” de Maria Lúcia Baptista
Morais.
Requisitos intrínsecos da Petição Inicial
4 Sugere-se que haja o espaçamento de 2.0 ou 1.5 e que a fonte seja Arial ou Times New
Roman 12. As eventuais citações devem ser feitas em Arial ou Times New Roman 10.
decisão; entretanto, atualmente, raramente este espaço é usado com esta
finalidade5.
Cabe aqui observar que a técnica, às vezes, é abandonada em prol da
necessidade prática. Mesmo sendo contra a utilização deste espaço para que a
inicial fique bem apresentada, não se pode negar que seguidamente o advogado
polui aquele espaço por necessidade de que algo urgente seja lido e alguma
providência seja determinada. Por exemplo: um pedido de concessão de uma
liminar, um requerimento de assistência judiciária gratuita, um pedido de urgência
etc.
Como na moda ou em outros seguimentos, a petição inicial também tem
algumas tendências. A atual é a exagerada subdivisão da peça em tópicos. De
forma moderada a divisão é bem vinda e até pode auxiliar na compreensão do que
se pretende; porém, quando é excessiva pode dificultar a leitura e compreensão do
texto em razão da fragmentação. Então, entende-se que a divisão tradicional em
fatos e fundamentos jurídicos do pedido, embora não seja necessária, é didática e
pode indicar claramente cada requisito, mas pode ser interessante, também,
destacar o texto relacionado a uma tutela provisória que será postulada, como por
exemplo, uma tutela antecipada.
O artigo 319 do CPC/15 é o que indica os requisitos internos da peça e que
devem ser observados em petições de todos os procedimentos; porém, o rol ali
descrito não é exaustivo. No artigo 106 do CPC/15, o legislador estabeleceu a
obrigação de o advogado que atuar em causa própria indicar, na inicial, o endereço
onde receberá intimações 6 . Caso o advogado não cumpra esta exigência, o juiz
determinará a emenda da peça, em 5 dias e, se ela não for feita, ele indeferirá a
inicial, conforme artigo 330, inciso IV do CPC/15.
Outros requisitos da petição inicial também foram deslocados do artigo 319
pelo legislador, como por exemplo, o uso do vernáculo do caput artigo 192 e o artigo
328 ambos do CPC/15. Neste último caso, se a ação tiver por objeto revisão de
obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação de bens, o autor
5 VIANA, Joseval Martins. Manual de Redação Forense e Prática Jurídica. São Paulo: Editora
Joares de Oliveira, 2009. p.240. "Além disso, entre o cabeçalho e a qualificação das partes é
necessário deixar um espaço de dez centímetros para os despachos e as decisões interlocutórias dos
juízes."
6 Atualmente é comum que as folhas usadas pelos advogados sejam timbradas, constando o
nome do escritório, endereço e telefone. Por isso, alguns advogados deixam de cumprir o requisito do
artigo 106 do C.P.C/15.
terá que identificar sobre o que especificamente controverte e apresentar
quantificando o valor incontroverso, portanto, a inicial deve conter o cálculo.
Segundo o artigo 319 do CPC/15, os requisitos da inicial são:
7 TEIXEIRA, Guilherme Freire. Da petição inicial. In: Código de Processo Civil Comentado.
Coordenação José Sebastião Fagundes Cunha, Antônio César Bochenek e Eduardo Cambi. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
JUIZ DE DIREITO DA VARA ___ CÍVEL, por exemplo8; porém, na prática pode-se
até questionar que, se for utilizada uma forma de tratamento, não é necessário usar
a outra. Pode ser que, pela melhor técnica de redação, se justifique a crítica; no
entanto, a utilização da expressão acima já é consagrada na prática e entende-se
que, sendo assim, não prejudica em nada a compreensão do texto e, se não o faz,
pode ser utilizada.
A nova redação do CPC não fala mais em juiz a qual a petição é dirigida, mas
em juízo. A alteração trouxe mais precisão técnica, mas acredita-se que isto não
alterará a forma de peticionar o primeiro requisito da peça, pois sempre se indicou o
órgão judiciário e não o nome do juiz. A expressão juízo é mais abrangente e
envolve os diversos graus de jurisdição. Daniel Amorim Assumpção Neves[9] ensina
que não se deve fazer referência expressa ao juiz, mesmo quando se sabe quem ele
é, como no caso de distribuição por dependência. O posicionamento do autor fica
bem evidente com a nova redação do CPC.
Apesar da alteração trazida pelo CPC/15 é preciso ter clareza de que não
haverá a indicação do juízo (vara) nas comarcas em que tem mais de uma vara, pois
continuará havendo a distribuição das ações propostas, conforme previsão expressa
do artigo 284 do CPC/15. Sendo assim, a referência ao senhor juiz continuará
existindo, desde que se faça menção à vara civil ou especializada a que a petição é
dirigida e a correspondente comarca. Portanto, pode-se ainda utilizar como exemplo
o seguinte endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE
DIREITO DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE CIDADE- ESTADO.
O exemplo retro serve para a propositura da ação na Justiça Estadual; porém,
quando a ação for distribuída na Justiça Federal, deverá o endereçamento da inicial
indicar uma subseção da Justiça Federal. EX: EXCELENTÍSSIMO SENHOR
DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DA JUSTIÇA FEDERAL, DA SUBSEÇÃO
DE CIDADE – ESTADO.
Caso a ação seja proposta perante o Juizado Especial Cível Estadual (JEC)
ou o Juizado Especial Federal o endereçamento será, respectivamente:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO
Este inciso prevê, como requisito da inicial, a causa de pedir, que é composta
pelos fatos, pelos fundamentos jurídicos, tendo como ponto de contato entre os dois
elementos, no dizer de Cândido Rangel Dinamarco, a crise lamentada, para que seja
identificado o interesse de agir.
O autor deve descrever os fatos objetivamente, mas com a clareza necessária
para a compreensão dos mesmos. De forma simples, deve-se narrar os fatos
detalhadamente, indicando sempre os envolvidos, o ocorrido, local, a forma dos
acontecimentos, consequência dos fatos, o que se pretende e a necessidade de ir
ao judiciário para solucionar o problema.
A importância de uma boa descrição dos fatos decorre da vinculação que eles
trarão à decisão do juiz, pois no Direito Brasileiro, vige a teoria da substanciação.
Isto quer dizer que não basta afirmar a existência da relação jurídica; é preciso
fundamentar a demanda, com a precisa narração dos fatos, que levarão ao
acolhimento do pedido.
Deve haver uma sincronia perfeita, entre a narrativa dos fatos, a correlata
fundamentação jurídica e o pedido feito pelo autor. Caso isto não ocorra, a petição
será inepta, pois a conclusão não está decorrendo dos fatos. A inadequação na
narrativa de fatos, entretanto, não deve levar à imediata prolação da sentença, sem
antes mandar emendar a petição inicial. Isso se verifica, pois a emenda à inicial é
um direito subjetivo da parte autora, e esse direito já foi reconhecido, em muitos
julgados do Superior Tribunal de Justiça. Além do posicionamento jurisprudencial, há
também o formalismo-valorativo, a ser levado em consideração, para que o juiz
determine a emenda neste caso. Assim, se, até mesmo depois da contestação, está
sendo respeitado o direito de emendar a inicial, porque não existiria este direito
antes dela? A conclusão só pode ser de que há obrigatoriedade da existência de
emenda.
Caso o autor pretenda postular a concessão de tutela de urgência de
natureza antecipada, deverá descrever fatos e juntar provas que demonstrem a
verossimilhança das alegações, conforme artigos 300, 497 e 498 do CPC/15, além,
é claro, de fundamentar a possibilidade de concessão da medida.
Conforme artigo 126 do CPC/15, o autor pode pretender fazer uma
denunciação da lide, que corresponde a uma ação regressiva, proposta, na inicial,
onde ele requer a citação do denunciado, para vir integrar a relação processual.
Caso o autor-denunciante venha a perder a causa, o juiz analisará se o pedido da
ação de denunciação (regressiva) que ele propôs contra o terceiro procede e
proferirá o julgamento, conforme artigo 129 do CPC/15. Trata-se de uma das formas
de intervenção de terceiros. Se o autor pretender propor essa ação, terá que narrar
fatos relativos a essa relação material com o terceiro - com a seguradora, por
exemplo -, e depois fundamentar juridicamente a possibilidade do seu pedido.
Aliás, outro elemento que compõe a causa de pedir é a fundamentação
jurídica do pedido, que não deve ser confundida com a base legal. Embora se tenha
o hábito de mencionar o número do artigo, na inicial, ele não é requisito obrigatório,
em razão do princípio jura novit curia, ou seja, o juiz conhece o Direto.
É muito comum que, na inicial, o advogado coloque, dentro do que ele chama
de "Do Direito" ou "Fundamento Jurídico do Pedido", a transcrição de artigos,
doutrina e/ou jurisprudência. Caso isso tenha sido feito só na inicial, no entanto, não
terá havido a fundamentação jurídica do pedido. Fundamentar juridicamente significa
fazer o enquadramento da situação fática, na previsão de uma norma, sem,
necessariamente, mencioná-la. É trazer para a inicial a consequência jurídica, que
pode ser aplicada, pelo juiz, no caso concreto, tendo por base a descrição dos fatos.
Na realidade, trata-se, conforme a doutrina, de uma sugestão de fundamentação,
pois o juiz não fica vinculado à fundamentação feita pelo autor.
A desnecessidade de citar expressamente doutrina, jurisprudência e artigo de
lei é a regra, mas, como toda regra, admite exceção. Entende-se não ser obrigatório,
mas conveniente, principalmente em casos em que, o pedido é inovador, que, se o
autor postular a concessão de tutela antecipada, pode ser adequada a citação de
precedentes ou de doutrina que justifiquem aquela concessão e até de lei.
Assim, a título exemplificativo, em caso de propositura de uma ação de
reparação de danos, em razão de um acidente de trânsito, é necessário que
apareçam dois elementos na causa de pedir: a culpa e o dever de indenizar. O texto
pode ser breve ou mais extenso, mas, de alguma forma, tem que haver referência
ao fato de que, conforme os fatos foram descritos, o réu agiu com culpa, em de uma
das suas dimensões e, portanto, se agiu com culpa, tem o dever de indenizar.
O requisito da causa de pedir é, como se pode perceber, muito importante,
porque os pedidos que serão feitos devem estar diretamente ligados aos fatos
narrados e aos fundamentos jurídicos feitos. Por sua vez, a sentença deverá estar
correlacionada aos pedidos, sob pena de a sentença ser extra, ultra ou citra petita.
Para que as sentenças não contenham essas irregularidades o juiz deve primar pelo
princípio da congruência ou da adstrição ao pedido, ou seja, o juiz só pode dar o que
foi pedido, salvo as exceções de pedidos implícitos.
O valor da causa
Além dos requisitos internos da peça, outros existem e também precisam ser
abordados. Os documentos indispensáveis à propositura da ação são requisitos
extrínsecos da inicial. Devem acompanhá-la, necessariamente, sob pena de haver a
determinação da emenda e, em caso de não cumprimento da ordem do juiz, a
prolação da sentença, com o indeferimento da inicial, conforme artigos 320 e 321 do
CPC/15.
Dentre os documentos indispensáveis, está a procuração, exceto se o
advogado estiver atuando em causa própria. Neste caso, no item da qualificação das
partes o advogado, que também é a parte, fará uma referência expressa a esta
condição, no momento em que se reportaria ao procurador legalmente constituído.
Depois de fazer a própria qualificação e de indicar o seu endereço completo, deve
colocar na peça: [...] atuando em causa própria vem à presença de V. Exa. [...].
A procuração é obrigatória, porque é instrumento do contrato de mandato,
que representa a capacidade postulatória da parte, que é um pressuposto para que
o processo possa prosseguir. Entretanto, existem hipóteses de outorga da
procuração na própria audiência, bem como casos em que, pela possibilidade de
perda do direito - pela prescrição ou decadência – ou em razão da preclusão, poderá
haver a propositura da ação, sem o referido documento, conforme artigo 104 do
CPC/15. Como o artigo 287 do CPC/15 exige a juntada da procuração na inicial, o
advogado deve fazer uma justificativa e postular a juntada da procuração, no prazo
de quinze dias, e, se houver necessidade, pedir a prorrogação deste prazo por mais
quinze dias.
Existem outros requisitos extrínsecos da peça, além da procuração. É o caso
dos documentos que foram referidos na petição inicial. Todos aqueles referidos pelo
autor, na narrativa dos fatos, devem ser anexados, ou, se não for possível juntá-los,
naquele momento, deve-se explicar quando isto será feito. Por exemplo: é possível
que as partes contratem, de forma escrita ou oral; assim, se na inicial houver
referência expressa ao contrato escrito, ele deverá ser juntado com ela. Por outro
lado, se for mencionada a contratação verbal, evidentemente, não haverá o que
juntar.
Além dos documentos anteriormente referidos, é importante juntar os
documentos pessoais das partes, apesar de os juízes, em geral, não determinarem
a emenda da petição, por falta deles. Eles demonstram a existência de regularidade,
quanto à capacidade das partes, e servem para que o juiz conceda alguma
deferência, como na questão da prioridade de tramitação do feito, quando o
postulante for o idoso.
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