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Culpa e Castigo
Formação da Má Consciência
O que é a consciência para Nietzsche? Ela existe? O que é a consciência moral para
Nietzsche? Como surge a consciência para Nietzsche?
A memória soaria como um tipo de antinatureza, bem como a própria moralidade, que o
obriga a extrapolar o instante e a viver segundo conceitos fixos na memória e na ação, o que
lhe permite até mesmo “fazer promessas”.
A origem da memória marca a capacidade do homem em fazer promessas, em se tornar um
ser moral, confiável. Ela é condição necessária para a existência da civilização entendida
como adestramento e cerceamento dos impulsos. Esta memória passará em algum período
da humanidade, a fazer parte do gênero humano.
A promessa tornou-se ativa, no sentido de um “não-mais-querer-livrar-se” dessa memória,
de continuar querendo o passado das ações. Nietzsche chamou isso de memória da vontade,
que é uma memória não exatamente do passado, não uma memória de traços, mas uma
memória do futuro, que se estende e se direciona para o futuro, que permite retomar
continuamente o passado, as ações promovidas no passado, de modo a vislumbrar suas
consequências futuras.
Como surgiu no homem a capacidade de prometer? A partir desse momento, Nietzsche
analisa a origem da responsabilidade e a noção de moralidade do costume.
Vida é... instintos = vida. Negação dos instintos é igual à negação da vida.
Ascétimo – luta contra os instintos básicos. Negação dos instintos básicos é igual à
negação da vida.
Contudo, a violência que era algo prazeroso para o homem, passou a
ser encoberta pelo véu da justiça, da moral e do dever com o decorrer do tempo. A
sociedade moderna, ao arrancar a violência como característica do homem na
sociedade, passou a interiorizá-la através do sentimento de culpa e má
consciência.
Criar um animal que pode fazer promessas é uma tarefa paradoxal, porque o homem é
em seu estado mais primitivo, pré histórico, um animal que vive do instante presente,
que necessita esquecer, no qual o esquecer é uma força, uma forma de saúde forte,
precisou - o que só pode lhe pode ser permito por meio da faculdade do esquecimento –
precisou desenvolver em si, em seu estado civilizatório, uma faculdade oposta, uma
memória, que faz com que o esquecimento seja suspenso nos casos em que se deve
prometer.
Mas para poder vencer seus instintos básicos e deixar de viver do instante presente, e
poder projetar no futuro a sua vontade, o homem precisou aprender muita coisa: a
distinguir o acontecimento casual do necessário, a pensar de maneira causal, a ver e
antecipar a coisa distante como sendo presente, a estabelecer com segurança o fim e os
meios para o fim, calcular, contar, confiar, e para isso, precisou tornar-se ele próprio
confiável, constante, necessário, para poder enfim tornar-se confiável para os outros e
poder responder por si como projeção futura (porvir).
Como pode um animal que vive do presente, da realização imediata dos seus
instintos básicos ser capaz de fazer e cumprir promessas?
Por sua vez, a tarefa de criar um animal capaz de fazer promessas pressupõe a tarefa
mais imediata de tornar o homem necessário, uniforme, igual entre iguais, constante e
portanto confiável.
Somente por meio da moralidade dos costumes e dos meios violentos que servem para
adestrar o homem, bem como por meio da camisa de força social (as pressões sociais) é
que o homem pode ser tornado confiável.
Esse autêntico trabalho do homem em si próprio, durante o período mais longo de sua
existência, o período pré-histórico, não obstante o que nele também haja de tirania,
dureza, estupidez e idiotismo, é a cultura.
Qual seria o produto desse imenso processo no qual a sociedade e sua moralidade do
costume finalmente trazem à luz aquilo para o qual eram apenas meios? Segundo
Nietzsche é “o indivíduo soberano, igual apenas a si mesmo, novamente liberado da
moralidade do costume, indivíduo autônomo supramoral, em suma o homem da vontade
própria, duradoura e independente, o que pode fazer promessas - e nele encontramos
uma orgulhosa consciência do que foi finalmente alcançado e esta nele encarnado, uma
verdadeira consciência de poder e liberdade, este senhor do livre arbítrio, este soberano,
que sabe que é superior aos que não podem prometer e responder por si – os homens do
ressentimento – e com esse domínio de si, também lhe é dado o domínio sobre as
circunstâncias; sobre a natureza e todas as criatura menos seguras e mais pobres de
vontade. O homem livre, o possuidor de uma duradoura e inquebrantável vontade, tem
nessa posse a sua medida de valor: olhando para os outros a partir de si, ele honra e
despreza: honra seus iguais, os fortes e confiáveis, e despreza os que não podem
prometer, os fracos e débeis.
O orgulhoso conhecimento do privilégio da responsabilidade, a consciência dessa rara
liberdade, desse poder sobre si mesmo e o destino, que tornou-se nele instinto
dominante, este homem soberano chama de sua consciência.
Poder responder por si, e com orgulho, ou seja, poder também dizer Sim a si mesmo – é
um fruto maduro também um fruto tardio.
Como fazer no bicho homem uma memória?
Nietzsche vai buscar na pré historia do homem a longa historia e variedade das formas
que o conceito maduro de consciência moral adquiriu ate se constituir no que se
entendia por consciência em sua época.
Quanto pior de memória a humanidade, tanto mais terrível o aspectos de seus costumes;
A vergonha dos instintos básicos de crueldade constitui uma forma de negação da vida.
O olhar pessimista enfastiado, a desconfiança diante do enigm da vida, o gélido Não do
nojo da vida – estas não são características da época pré histórica, mas da época
moderna, que só surgem após a moralização e ao amolecimento doentios, em virtude
dos quais o bicho homem aprende afinal a se envergonhar de seus instintos. Em seu
processo de melharamento pela moral cristã o homem desenvolveu em si afetos que
tornaram repulsivas a inocência e a alegria do animal, e sem sabor a própria vida. Na
época moderna, quando o sofrimento é sempre lembrado como o primeiro argumento
contra a existência, é bom recordar as épocas em que se julgava o contrario, porque não
se prescindia do fazer-sofrer, e via-se nele um encanto de primeira ordem, um
verdadeiro chamariz à vida, à sua afirmação alegre.
É justificado todo mal cuja visão distrai um deus. Os deuses como amigos de
espetáculos cruéis.
O livre arbítrio, a absoluta espontaneidade do homem no bem e no mal, foi inventado
para que o homem adquirisse o direito de pensar que o interesse nos deuses por ele, na
virtude humana, não poderia jamais se esgotar, pois um mundo concebido de modo
inteiramente determinista seria previsível aos deuses, tornando-se logo cansativo.
Se o indivíduo não satisfizer a obrigação devida à comunidade, credor traído, ela exigira
o pagamento. O dano imediato é o que menos importa; o criminoso é sobretudo um
infrator. O criminoso é um devedor que não só não paga os proveitos e adiantamentos
que lhe foram concedidos, como também atenta contra seu credor. O devedor então não
será apenas privado desses benefícios como também lhe será mostrado o quanto eles
valem. A comunidade o afastará de si. O castigo aqui é uma cópia do comportamento
normal perante o inimigo odiado.
Aumentando o poder de uma comunidade, ela não mais atribui tanta importância aos
desvios do indivíduo, porque eles já não põem ser considerados tão subversivos e
perigosos para a existência do todo. O malfeitor já não é expulso e a ira coletiva já não
pode se descarregar livremente sobre ele. Ao contrário, a partir de então ele é
cuidadosamente defendido e abrigado pelo todo, protegido em especial da cólera dos
que prejudicou diretamente. Quanto mais poderosa uma comunidade mais leve o seu
direito penal. Se houver um enfraquecimento dessa comunidade, formas mais duras
voltam a se manifestar no direito penal.
O credor se torna sempre mais humano na medida em que se torna mais rico e o quanto
de injuria ele pode suportar sem sofre e por fim a própria medida de sua riqueza. A
justiça, que iniciou com tudo é resgatável, tudo tem que ser pago, termina por fazer vista
grossa e deixar escapaz os insolventes – termina como toda coisa boa sobre a terra,
suprimindo a si mesma. A autossupressao da justiça; a graça é privilégio do poderoso.
O ultimo terreno conquistado pelo espírito da justiça é o do sentimento reativo. Ser justo
é sempre uma atitude positiva; ativa. O homem ativo, violento, excessivo, está sempre
bem mais próximo da justiça que o homem reativo; pois ele não necessita em absoluto
avaliar seu objeto de modo falso e parcial, como faz, como tem que fazer o homem
reativo.
Para Nietzsche, o sentimento de culpa não encontra sua origem no castigo. Mas entre os
criminosos o remorso é algo extremamente raro.
Para Nietzsche, a ma consciência é uma profunda doença que o homem teve que
contrair sob a pressão da radical mudança que sobreveio a ele quando se viu
definitivamente encerrado no âmbito da sociedade e da paz.
A mais radical das mudanças que viveu.
O homem animal adaptado à natureza selvagem, à vida errante, à guerra, à
aventura, vivendo dos seus instintos, do momentâneo – subtamente seus instintos
ficaram sem valor e suspensos. Sentiram deslocados, inadequados, pois seus velhos
impulsos reguladores e inconscientemente certeiros ficaram reduzidos a pensar, inferir,
calcular, combinar causas e efeitos, reduzidos à sua consciência – seu órgão mais frágil
e falível.
Houve para ele um grande sentimento de desgraça e mal-estar, e além disso, os velhos
instintos não cessaram repentinamente de fazer suas exigência, embora, dificilmente,
muito raramente fosse possível lhe dar satisfação. Nesse novo mundo, o animal homem
teve de buscar novas gratificações, disfarçadas, por meio da sublimação de seus
instintos de crueldade, pois, todos os instintos que não se descarregam para fora,
voltam-se para dentro – a isto Nietzsche chama de interiorização do homem: é assim
que no homem cresce o que depois se denomina sua “alma”, sua consciência.
Assim, o mundo interior, originalmente estreito, foi se expandindo e se estendendo,
adquirindo profundidade, largura e altura; foi se tornando complexo, na medida em que
o homem foi inibido em sua descarga para fora.
Com a má consciência foi introduzida a maior e mais sinistra doença, da qual ate hoje
não se curou a humanidade: o sofrimento do homem com o homem, consigo mesmo:
[esse sofrimento do homem consigo mesmo] como resultado de uma violenta separação
do seu passado animal, com que um salto e uma queda em novas situações e condições
de existência, resultado de uma declaração de guerra aos velhos instintos nos quais até
então se baseava sua força, seu prazer e o temor que inspirava.
Com essa interiorização do homem, com sua alma animal voltada contra si mesmo,
tomando partido contra si mesma, algo novo surgia na terra, algo profundo, inaudito,
enigmático, pleno de contradição e de futuro, que o aspectos da terra se alterou
substancialmente. O homem precisava de espectadores para essa sua nova forma de
sofrimento, por isso criou os deuses.
1) Que a mudança não tenha sido gradual nem voluntária e que não tenha
representado um crescimento orgânico no interior das novas condições
existenciais, mas uma ruptura, uma violência, uma fatalidade inevitável, contra a
qual não havia luta e nem sequer ressentimento.
2) Que a inserção de uma população sem normas e sem freios numa forma estável,
assim como tivera inicio com um ato de violência, foi levada a termo somente
com atos de violência, ou seja, que o mais antigo Estado, em consequência
apareceu como uma terrível tirania, e assim prosseguiu seu trabalho até que tal
matéria-prima humana e semianimal ficou não só amassada e maleável, mas
também dotada de uma forma.
Com a palavra Estado Nietzsche quer se referir que esta forma de organização social
não iniciou por meio de um contrato, mas foi resultado submissão de povos nômades e
sem organização a uma raça de bestas louras, de conquistadores e senhores, organizada
guerreiramente e com força para organizar.
No fundo é a mesma força ativa, que age grandiosamente nos nobres guerreiros
senhoriais, que interiormente, embora em escala menor e mais mesquinha, dirigida para
trás, cria a ma consciência e constrói ideais negativos; é aquele mesmo instinto de
liberdade (a vontade de poder): só que interiorizada, voltada para trás, contra o próprio
possuidor ao invés de ser exteriorizada, extravasada.
Todavia, essa má consciência ativa também fez afinal vir à luz uma profusão de beleza e
afirmação nova e surpreendente e talvez mesmo a própria beleza...
Só assim se pode entender como um ideal contrário ao que afirma a vida pode se
autoconsiderar contraditoriamente como bom, mesmo sendo construído em bases
contraditórias como ausência de si, abnegação e sacrifício.
Mas aqui se pode entender também de que espécie é, desde o início, o prazer que sente
o desinteressado, o abnegado, o que se sacrifica: “este prazer vem da cruledade.”
Apenas isso, no momento, sobre a origem do “não-
egoísmo” como valor moral, e para delimitação do terreno
no qual ele cresceu: somente a má consciência, somente
a vontade de maltratar-se fornece a condição primeira
para o valor do não-egoísmo.
A consciência de ter dívidas para com a divindade não se extinguiu após o declínio da
forma de organização da comunidade baseada nos vínculos de sangue; do mesmo modo
como herdou as noções de bom e ruim da nobreza de estirpe, juntamente como seu
fundamental pendor psicológico a estabelecer hierarquias, a humanidade recebeu, com a
herança das divindades tribais e familiares, também o peso das dívidas ainda não pagas,
e o anseio de resgatar-se. Essa transição é marcada por aquelas vastas populações de
escravos e servos da gleba, que se adaptaram ao culto
Dos deuses dos senhores, seja através da coerção, seja por servilismo e imitação: a partir
delas esse legado se alastrou em todas as direções.
O advento do Deus cristão, o deus máximo até agora alcançado, trouxe também o
máximo de sentimento de culpa.
Mas o que realmente se passou com tudo isso e sob tudo isso:
essa vontade de se torturar, essa crueldade reprimida do
bicho-homem interiorizado, acuado dentro de si mesmo,
aprisionado no “Estado” para fins de
domesticação, que inventou a má consciência para se
fazer mal, depois que a saída mais natural para esse
querer-fazer-mal fora bloqueada — esse homem da má
consciência se apoderou da suposição religiosa para levar
seu automartírio à mais horrenda culminância. Uma dívida
para com Deus: este pensamento tornou-se para ele um
instrumento de suplício. Ele apreende em “Deus” as
últimas antíteses que chega a encontrar para seus
autênticos insuprimíveis instintos animais, ele reinterpreta
esses instintos como culpa em relação a Deus (como
inimizade, insurreição, rebelião contra o “Senhor”, o “Pai”,
o progenitor e princípio do mundo), ele se retesa na
contradição “Deus” e “Diabo”, todo o Não que diz a si, à
natureza, naturalidade, realidade do seu ser, ele o projeta
fora de si como um Sim, como algo existente, corpóreo,
real, como Deus, como santidade de Deus, como Deus
juiz, como Deus verdugo, como Além, como eternidade,
como tormento sem fim, como Inferno, como
incomensurabilidade do castigo e da culpa.
Já que o homem não pode mais ser cruel contra os outros ele precisa dar vazão a seus
instintos de crueldade sendo cruel consigo mesmo.
Estará o homem tendo o prazer em se sentir culpado para merecer a atenção e o carinho
de Deus?
Impedido de dar vazão à sua animalidade por meio da ação o homem inventa para si
uma ficção por meio da qual possa sentir o prazer de fazer sofrer, nem que a vítima seja
ele mesmo.
Dessa doença terrível, dessa noite de tormenta e absurdo, segundo Nietzsche, foi de
onde ressoou o grito do amor, o grito do mais sequioso êxtase, da salvação no amor.
Nietzsche conclui com três interrogações: o que ocorre exatamente, você está erguendo
ou demolindo um ideal? Talvez lhe perguntem... mas porque na se perguntam a si
mesmos quanto custou nesse mundo a construção de cada ideal? Quanta realidade teve
de ser denegrida e negada, quanta mentira teve de ser santificada, quanta consciência
transformada, quanto “Deus” sacrificado?
Uma tentativa inversa é em si possível – mas quem é forte o bastante para isso? – ou
seja, as propensões inaturais, todas essas aspirações ao Além, ao que é contrario aos
sentidos, aos instintos, a natureza, ao animal, em suma, os ideias ate agora vigentes,
todos ideais hostis à vida, difamadores do mundo, é que devem ser irmanados à ma
consciência.
O que ofende mais fundo, o que separa mais radicalmente, do que deixar perceber o
rigor e a elevação com que se trata a si mesmo?
Por outro lado, o mundo se mostra afável, afetuoso quando se se deixa levar pela
existência. Mas para esse fim seria preciso uma outra espécie de homens, homens fortes
e nobres, o homem superior, que afastara tudo de toda transcendência e toda
insignificância, cuja solidão ser compreendida como fuga da realidade, quando na
realidade é penetração na realidade, sua redenção da maldição que o ideal existente
sobre ela lançou.
Esse homem do futuro é que salvará a humanidade não só do ideal vigente, como
daquilo que dele forçosamente nasceu, do grande nojo, da vontade do nada, do niilismo;
esse redentor que tornará novamente livre a vontade, que devolve à terra sua finalidade
e ao homem sua esperança. Esse anticristão, antiniilista, esse vencedor de Deus e do
nada: terá que vir um dia...
Nietzsche reconhece que essa tarefa não cabe a ele, mas a um mais futuro, mais jovem,
mais forte que ele...
p. 10
Tal concepção aparece especialmente na crítica de Nietzsche à moral cristã,
sendo, então, a má consciência apontada como um produto do cristianismo,
que associou, por exemplo, àquela luta contra a sensualidade até mesmo o
perigo de uma danação eterna e produziu, durante sua história, inúmeros
“filhos de má consciência”
p. 11
Um fenômeno que pode ser identificado, portanto, como uma doença, porém,
como uma doença na mesma medida em que a gravidez pode ser pensada
como uma doença, pois, se ela torna o homem “pleno de contradição”, torna-o,
também, “pleno de futuro” (NIETZSCHE, 1988, v. 5, p. 323 / GM II 16). Como
se com ela se justificasse a desnaturalização do homem, do mesmo modo
como a criança justifica todo o sofrimento e as dores do parto da mãe.
Sob esse aspecto, ainda, admitindo tal hipótese, em que a fluidez de sentidos
da má consciência depende de sua inserção em um sistema de finalidades, é
possível retomar a ideia de que a má consciência corresponderia tanto a um
adoecimento quanto à abertura de novas possibilidades de futuro para o
homem. Isso porque, de fato, a tensão que ela produz pode conduzir a uma
elevação do tipo homem, conquanto que essa tensão mesma seja
reinterpretada e se faça dela uma “‘má consciência’ ativa” (NIETZSCHE, 1988,
v. 5, p. 326 / GM II 18). Do ressentimento, ao contrário, mesmo se for
considerado seu caráter polissêmico, dificilmente poderia falar de um
“ressentimento ativo”, pois ele corresponde à descrição da fraqueza e do seu
modo de operar.
Motivo pelo qual, mesmo quando associado a uma doença, como se tem em
Ecce homo (NIETZSCHE, 1988, v. 6, p. 272-273 / EH, Por que sou tão sábio,
6), a conclusão mais plausível é que o ressentimento é algo a ser evitado,
como faz Nietzsche, que afirma em relação aos sentimentos de vingança
característicos do ressentimento: “nos períodos de décadence eu os proibi a
mim por prejudiciais; tão logo a vida voltou a ser rica e orgulhosa o bastante
para isso, eu os proibi como abaixo de mim”. (NIETZSCHE, 1988, v. 6, p. 273 /
EH, Por que sou tão sábio, 6). E isso se impõe como uma exigência de higiene,
para se ter uma boa ordem psíquica e liberar a consciência para atividades
mais nobres.
A origem da má consciência
As consequências da ma consciência
A moralização da ma consciência
A ma consciência e o ressentimento