Em primeiro lugar, o motivo de hoje deve-se ao «Lâmpadinhas».
Por esta razão, vamo-nos assentar por causa dos acentos; é o mesmo que dizer: vamo-nos debruçar sobre algo, ou, então, sentarmo-nos por causa dos acentos. Adiante!... Sem entrarmos na história dos acentos em Português, centremo-nos naqueles sinais gráficos utilizados nas palavras e que determinam a elevação ou abaixamento do timbre da voz e respetiva entoação. Da mesma maneira que as notas musicais determinam um som mais grave ou mais agudo, um movimento mais rápido ou mais lento, um som mais forte ou mais fraco, também as palavras podem ser interpretadas pela voz de modo semelhante: daqui a importância dos sinais complementares (gráficos e pontuação). Em Português, as palavras podem conter acentuação gráfica na última sílaba, na penúltima ou na antepenúltima, respetivamente chamadas: palavras agudas, graves ou esdrúxulas; por exemplo: pa-[trão]/[ra]-mo/[ár]-vo-re. Assim, a voz, ao proferir cada uma das palavras, salienta a sílaba acentuada: esta é pronunciada com mais intensidade, com mais força! E quando a palavra não tem acento? Geralmente, intensificamos a penúltima sílaba, como, por exemplo: «es-[cri]-ta». Então, qual o problema do «Lâmpadinhas»? Dividamos a palavra em sílabas: lam- pa-[di]-nhas. Teremos quatro (4) sílabas. Como dizemos a palavra? Com a tal intensidade no –di-. Como se explica o acento em «[Lâm]-»? Ninguém consegue pronunciar esta palavra como está acentuada! Ninguém pronuncia esta palavra assim! Para entendermos esta questão de articulação correta de uma palavra, façamos o seguinte exercício: «Eu pronuncio bem uma língua, apesar da sua pronúncia ser difícil!» Repare-se como as palavras «pronuncio»/«pronúncia» têm acentuações tónicas diferentes!... Até abril de 1973, palavras com, «sózinho», «sómente», «rápidamente», eram acentuadas desta forma, independentemente da sua pronúncia. A partir daquela data, deixou-se de acentuar os diminutivos em –inho e os advérbios terminado em –mente. Foi assim que se passou a ensinar na escola. Na verdade, quando, há pouco tempo, me deparei com a escrita da palavra, «Lâmpadinhas», numa caixa patrocinada por uma cadeia de supermercados, em letras garrafais, em muitos cantos desta terra, óbvio que não pude conter a ousadia: neste caso, ao permitir a acentuação incorreta de uma palavra. O acento na palavra aqui em questão não é permitido pela Língua Portuguesa (acento na quarta sílaba, a contar do fim). Nenhuma gramática ou prontuário justifica, atualmente, tal acentuação gráfica. A palavra em análise resulta de «lâmpada»; logo, se a palavra cresce quanto ao número de sílabas, o acento acompanha esse facto (lampa[di]nhas). Sobre esta matéria, tenha-se em conta o seguinte: o conservadorismo ortográfico impede que uma língua evolua (se uma língua não evolui, torna-se apenas uma referência cultural); os hábitos ortográficos são muito difíceis de serem alterados. Em segundo lugar, mais situações acerca da acentuação gráfica de algumas palavras. Referimo-nos à «dupla acentuação gráfica. Atenção: não chamar «acentuação dupla». Estamos a pensar em palavras como: «bênção»; «órgão»; «sótão»; «côvão»; «lódão», «médão»; «rábão»; «Cristóvão»; «Estêvão»; «Pedrógão»; «Piódão»; «Ródão»; «Estêvão»; «acórdão» (são à volta de 1400 palavras em Português). Estas palavras, obrigatoriamente, têm dupla acentuação. A este propósito: muitas vezes, ouvimos vociferações a propósito do Acordo Ortográfico, mas lembremo-nos que, muitas dessas vozes que não escrevem as palavras acabadas de referir com o acento circunflexo [^] não sabem que se o Acordo Ortográfico de 1986 tivesse sido aceite, hoje não teríamos palavras com dupla acentuação gráfica. Em jeito de desafio, terminemos com a ousadia artística de Fernando Pessoa: «A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.» (não esquecer de ler o contexto desta afirmação (in Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa, edição Assírio & Alvim). Para tornar este espaço mais profícuo aos leitores deste DN, fica o e-mail para onde pode ser enviada qualquer questão sobre o nossa Língua, escrita ou falada: onossoimperio@sapo.pt João Luís Freire