Revista Paraná Eleitoral Eletronica - ( 17/02/2006 14:32 )
Título: Partidos nacionais, elites políticas regionais e o fim da
verticalização: Data impressao: 03-04-2009 Autor: Adriano ervo Codato e Emerson Urizzi Cervi 03:04:46
A aprovação, em primeiro turno, pela Câmara dos Deputados em janeiro de 2006 da
emenda que põe fim à verticalização das coligações partidárias instituída em 2002 já era esperada (e desejada) e não surpreendeu o campo político. Afinal, foram 343 votos a favor contra 143. A Folha de S. Paulo (de 30 de jan.) explicou didaticamente que ?o fim da verticalização das coligações partidárias acaba com a obrigatoriedade de os partidos repetirem nos estados as alianças feitas nacionalmente para a disputa da Presidência da República. Com isso, dá autonomia aos partidos para estabelecer coligações de acordo com os interesses políticos locais e nacionais?. Qual deve ser o impacto dessa emenda à Constituição sobre o sistema partidário brasileiro? Difícil dizer com segurança. Mesmo porque o tema é bem controverso. Antes de decidir se os partidos políticos no Brasil ficarão mais fortes ou fracos, ou mesmo se contam para alguma coisa na política contemporânea, vejamos alguns aspectos do problema. Estudos em Ciência Política mostram que partidos políticos continuam tendo importância decisiva para a tomada de decisões de governos, embora os primeiros tenham sofrido transformações significativas ao longo do tempo, até mesmo em democracias consolidadas. Análises sobre os partidos políticos brasileiros apresentam, contudo, uma visão mais ou menos difundida que sublinha a fragmentação (do sistema partidário), instabilidade (das coligações), fragilidade (das estruturas internas), fisiologismo (dos representantes) e baixa disciplina das bancadas ou ?incoerência ideológica? das agremiações. Assim, o sistema partidário no Brasil é qualificado como subdesenvolvido (Mainwaring, 1993; 1997) e de baixa consolidação (Kinzo, 1999). A forte regionalização das agremiações partidárias torna-os extremamente sensíveis às demandas locais e estaduais (Palermo, 2000). Entretanto, a influência dos partidos na vida política deve ser avaliada de acordo com a arena onde ela se exerce. Esquematicamente, poderíamos separar em três dimensões complementares o alvo de atuação dos partidos políticos: a) junto ao eleitorado, b) junto à elite política e c) junto ao executivo (Dalton & Wattenberg, 2000; Schmitter, 1999). Para o eleitorado, os partidos políticos são capazes (ou deveriam ser) de estruturar opções ideológicas ou programáticas, orientando e simplificando as escolhas dos eleitores; podem educar os cidadãos, mobilizando os indivíduos para participar da vida política; e conseguem, freqüentemente, generalizar símbolos de identificação e lealdade coletivas (a causa ambiental, por exemplo), embora no Brasil todas essas atividades não tenham sido muito desenvolvidas ao longo da história republicana, por conta das (muitas) interrupções do regime democrático. Os golpes de Estado (1889; 1930; 1937; 1964) ou as inúmeras modificações na legislação política criaram um ?sistema? partidário cuja marca principal talvez seja a descontinuidade não só das siglas. Para a elite política, partidos são organizações que promovem o recrutamento de líderes, recompensam políticos que buscam cargos no governo, treinam dirigentes para a vida política e articulam e agregam interesses diversos e dispersos. Por fim, partidos (ou coalizões de partidos, mais freqüentemente) organizam o apoio ao governo, garantem maioria nas casas legislativas para a implementação de programas, estruturam o campo político em torno de dois pólos, ?situação? e ?oposição?, permitem certo controle sobre a ação da burocracia, conferindo assim, por tudo isso, alguma estabilidade e previsibilidade ao sistema político como um todo (Figueiredo & Limongi, 1999). Análises recentes têm mostrado, contudo, que a importância dos partidos junto ao eleitorado tem diminuído crescentemente. Em sociedades de massa, com forte influência de meios de comunicação (como a televisão, por exemplo), os eleitores são mais autônomos na busca de informações a respeito da política e dos candidatos. Assim, os partidos tendem a perder força como agentes de organização da disputa eleitoral (Popkin, 1994; Bourdieu, 1997). Some-se a isso o fato de que, no Brasil, a ?independência? dos meios de comunicação, que não têm vinculações partidárias e ideológicas explícitas e que atuam somente em função das demandas
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