Você está na página 1de 1

Considerações básicas sobre o percurso gerativo de sentido

Fabília Aparecida Rocha de Carvalho*

Segundo Barros (1988), a teoria semiótica desenvolvida por Greimas tem por
objetivo descrever e explicar como o texto diz o que diz, ou seja, como o sentido é
construído em uma obra, literária ou não. Para tanto, considera o plano do
conteúdo sob a forma um percurso gerativo.
O percurso gerativo de sentido parte de um patamar mais simples e abstrato ao
mais complexo e concreto. Tem três níveis que podem ser descritos por uma
gramática autônoma, embora o sentido do texto só possa ser apreendido
relacionando-se esses níveis. A primeira etapa, mais simples e abstrata,
compreende o nível fundamental ou das estruturas fundamentais, em que o sentido
se traduz por uma oposição semântica mínima. A segunda é o nível narrativo ou
das estruturas narrativas, no qual a narrativa organiza-se sob o ponto de vista de
um sujeito, e a terceira, o nível discursivo ou das estruturas discursivas em que a
narrativa é assumida por um sujeito da enunciação.
As oposições semânticas do nível fundamental são a primeira condição para a
narratividade que se desenvolve em um determinado sentido, já que seu princípio
fundamental é a transformação. Essa oposição se expressa por um valor positivo
(eufórico) ou negativo (disfórico) que vai determinar a linha argumentativa do
texto.
No nível narrativo, um sujeito assume a narração, simulando a história. Tem quatro
níveis: manipulação, em que um sujeito é manipulado por outro a realizar uma
ação; competência, em que o sujeito manipulado precisa querer fazer/ saber fazer
para realizar ação; performance, em que o sujeito realiza a ação e sanção, em que
o sujeito recebe uma recompensa (sanção positiva) ou uma punição (sanção
negativa) pela realização da ação.
No nível discursivo, a narrativa é discursivizada, ou seja, enriquecida pelas
projeções de pessoa, tempo, espaço e pelo emprego de temas e figuras; o sujeito
da enunciação rege o discurso a partir de um “ponto de vista”, o que permite
estabelecer a relação entre enunciador e enunciatário por meio das marcas
espalhadas pelo texto, como também para recuperar as relações entre o texto e
contexto sócio-histórico que motivaram sua produção.
São dois os efeitos para se criar a “ilusão de verdade”: de proximidade ou
distanciamento; ao optar por usar a primeira pessoa (desembreagem enunciativa),
obtém-se efeito de proximidade ou envolvimento com os fatos narrados; ao se usar
a terceira pessoa (desembreagem enunciva), obtém-se o efeito de distanciamento.
Outros mecanismos discursivos são utilizados para se criar o “efeito de realidade”,
dos quais as ancoragens de pessoa, de tempo, de espaço e a delegação interna da
voz (discurso direto). Essas ilusões discursivas permitem que os fatos narrados
pareçam realidade.
Examinando a razão das escolhas do sujeito da enunciação e os efeitos obtidos,
chega-se ao contexto sociológico e à formação ideológica em que o texto se insere.

Você também pode gostar