Você está na página 1de 36

Presidente da República

João Baptista de Oliveira Figueiredo

Ministro da Educação e Cultura


Eduardo Mattos Portella

Secretário-Geral
João Guilherme de Aragão

Secretária de Ensino de 1? e 2? Graus


Zilma Gomes Parente de Barros
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
SECRETARIA DE ENSINO DE 1º E 2º GRAUS

A ESCOLA DE 1º GRAU E O CURRÍCULO

2ª Edição
Brasília - 1980
É proibida a reprodução total ou parcial
deste livro, salvo com autorização da Secretaria
de Ensino de 1? e 2? Graus do Ministério da
Educação e Cultura, detentora dos direitos
autorais.
Foram depositados cinco exemplares deste
volume no Conselho Nacional de Direitos Auto-
rais e cinco exemplares na Biblioteca Nacional.

Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria


de Ensino de 1º e 2º Graus. A escola de 1º grau e o
currículo, (1ª parte), 2a ed. Brasília, 1980. 36 p. il.
(Série Ensino Regular, 13).

1. Ensino de 1º grau - Currículo. I. Título II.


Série.
APRESENTAÇÃO

Na oportunidade em que são refletidos os aspectos qualitativos do


ensino de 1º grau, temos o dever de colocar nas mãos dos educadores bra-
sileiros os instrumentos concebidos por ocasião da implantação da Lei N9
5.692/71, constatando que o texto legal e sua fundamentação continuam
atuais e correspondentes aos anseios, necessidades e aspirações das crianças,
dos adolescentes, da vida contemporânea e da realidade nacional.

Ao atualizarmos nossa leitura dos documentos A Escola de 1º Grau e o


Currículo e A Escola de 1º Grau e o Currículo: Formação Especial, além de
evitarmos atitudes injustas para com aqueles que conceberam a filosofia da
legislação em vigor, teremos a oportunidade de, após os ensaios amadu-
recedores das intenções e dos procedimentos, renovar a nossa vontade de
perseguir os objetivos inicialmente propostos, considerando, entretanto, as
contribuições do atual contexto educativo.

Estes dois documentos, que têm suas reedições sugeridas por milhares
de educadores brasileiros, foram publicados pelo antigo Departamento de
Ensino Fundamental, em 1972. Eles foram concebidos pelo Ministério da
Educação e Cultura como instrumentos indispensáveis à implantação da Re-
forma do Ensino.

A Secretaria de Ensino de 1º e 2º Graus, sente grande satisfação em


colocar este volume à disposição dos educadores brasileiros.

ZILMA GOMES PARENTE DE BARROS


Secretária de Ensino de 1º e 2º Graus
SUMARIO

Introdução ......................................................................................... 7
I—Noções Gerais—Núcleo Comum................................................ 9
II—Resolução sobre o Núcleo Comum ............................................. 15
III—Recomendações da VIII Reunião Conjunta dos Conselhos de
Educação .................................................................................. 21
IV—Conclusões e Sugestões .............................................................. 29
INTRODUÇÃO

Na criação do ensino de primeiro grau, o maior desafio será,


sem dúvida, sua difusão e, afinal, sua generalização, como o novo
ciclo de educação comum para todos, objetivo cuja concretização
dependerá principalmente da persistência e do arrojo com que a ele se
lançarem os governos, mobilizando crescentes recursos financeiros.
No entanto, o problema inicial, o mais direto, é a organização do
currículo, através da qual se possa realizar a profunda transformação
de um ensino, antes dividido em duas etapas, nitidamente
delimitadas, noutro em que estes limites de todo desaparecem.
Antes, a educação da infância e a educação da pré-adoles-
cência, separadas. Agora, sem solução de continuidade.
Antes, a infância e a adolescência consideradas como dois
períodos, a cuja diferenciação biológica correspondia em educação
uma caracterizada descontinuidade. Mas não era propriamente a
biologia o que determinava a brusca separação, e sim razões outras,
econômicas e sociais. A criança é que era objeto da educação
comum. Para o adolescente, diferenciava-se o ensino, com o destino
de uns para o trabalho imediato, para atividades utilitárias, e de
outros para o seguimento dos estudos, quanto mais desinteressados
melhor, e a até, se possível, a universidade. Mas, a economia e
mudanças sociais impuseram o abandono dessas limitações e discri-
minações. Obrigaram a que se estenda até a adolescência, pelo menos
em sua primeira fase, a educação comum. É essa imposição que a
criação, em nosso país, de um ensino fundamental de oito anos,
traduz.
Apresenta-se-nos, agora, o problema do currículo para este novo
ensino básico. Tínhamos um ensino primário perfeitamente definido,
e não desconhecíamos o problema do seu currículo; ao contrário,
avançáramos em sua concepção e renovação. De outro lado,
começávamos a reconstruir o ensino do p:é-adolescente, compondo
um novo tipo de ginásio, em que repercutia a idéia de unificação, que
naturalmente já era dominante no ensino primário. Estabeleciam-se
linhas de aproximação entre os conteúdos das duas etapas, iniciando a
integração horizontal e preparando a integração vertical de uma a
outra, quando, num salto, para muitos inesperado, a lei brasileira
decide reuni-las nesse bloco de ensino de oito anos, cuja organização,
para que a continuidade seja real, cria o problema do novo currículo.
Se não temos experiência desse prolongado ensino fundamental,
se noutros países à instituição legal tem precedido a experimentação,
não há dúvida de que o encurtamento de trajetória traduz o
pressuroso empenho que congrega todo o país de uma rápida
aceleração de seu desenvolvimento. E, é claro, não se exclui a
experimentação. A lei a admite, simultânea com a implantação.
Oferecendo o quadro legal para a última, a marcha evidentemente
não supõe que ela se deva fazer segundo um modelo exclusivo,
pré-fabricado, venha de onde vier. Ao contrário, observadas certas
linhas gerais, necessárias para assegurar alguma unidade intrínseca,
ela claramente admite a instituição progressiva, compreendendo
inclusive a aplicação de formas que a experiência, no seio das
próprias escolas, recomende.
Essa simultaneidade de experimentação e criação, que facil-
mente se percebe no texto e nas intenções da lei, permitirá acelerar e,
ao mesmo tempo, apurar o processo de instituição.
Na elaboração do currículo, apresenta-se previamente o tríplice
problema: conservar a linha do ensino primário e a do ensino ginasial
e ligar um ao outro.
No primeiro, são inegáveis os avanços fundados nas experiên-
cias da psicologia da educação, só contidas pelas consequências de
seu extraordinário crescimento: diminuição do tempo diário na escola
e falta de professores devidamente preparados. No segundo,
correspondente às séries finais do novo ensino fundamental, é preciso
manter a dupla finalidade de educação em si mesma, para a vida e
para o trabalho de um modo geral, e de preparação para estudos de
nível mais elevado; evitar que, absorvido num ciclo em que continua
diretamente a educação da criança, venha a perder suas vinculações
com os graus subsequentes, venha a "primarizar-se". Enfim, mantidas
as características essenciais dos dois níveis antigos, realizar sua
fusão, anular a descontinuidade entre eles, por uma natural evolução
do currículo e do método.
Feitas estas considerações preliminares, convém recapitular, e o
faremos, em sumário, os preceitos sobre o currículo contidos na lei e
no Parecer n9 853/71 do Conselho Federal de Educação, para, a
seguir, examinarem-se as recomendações da VIII Reunião Conjunta
dos Conselhos de Educação.

A—NOÇÕES GERAIS—NÚCLEO COMUM

I—Currículo:
a) núcleo comum—obrigatório em todo o país;
b) parte diversificada—aiusta-se às diferentes realidades
regionais, aos planos dos estabelecimentos e aos interesses e
aptidões dos alunos.

II—Núcleo comum e parte diversificada, constituídos por matérias:


a) as do núcleo comum, fixadas pelo Conselho Federal de
Educação, que também lhes definirá os objetivos e a
amplitude;
b) as da parte diversificada, relacionadas pelos Conselhos de
Educação para os respectivos sistemas de ensino. Tais listas
serão amplas e abrangentes.
Os estabelecimentos de ensino adotarão as matérias do núcleo
comum e, para a parte diversificada, escolherão dentre as relacio-
nadas para o respectivo sistema.
É facultado aos estabelecimentos incluir no currículo estudos
não decorrentes dessas matérias relacionadas, desde que as aprove o
competente Conselho de Educação.

III—Além do núcleo comum, são obrigatórios (art. 1° da Lei nº


5.692):
Educação Moral e Cívica
Educação Artística
Educação Física
Programas de Saúde
Ensino Religioso (para os estabelecimentos oficiais,
facultativo para os alunos).

IV—As matérias (do núcleo comum e da parte diversificada) são


"conteúdos" dos currículos; não chegam a constituir os
currículos propriamente ditos.
Os currículos propriamente ditos serão elaborados pelos
estabelecimentos de ensino.
É aos currículos elaborados pelos estabelecimentos que a
lei denomina currículos plenos.
Os currículos plenos incluirão, além das atividades prescritas no
art. 7" da lei, as matérias do núcleo e as escolhidas para a parte
diversificada; as matérias, entretanto, não diretamente, mas repre-
sentadas sob a forma de atividades, áreas de estudo ou disciplinas.

V—Atividades, áreas de estudo e disciplinas diferenciam-se:


a) pela amplitude do campo abrangido, decrescendo das
atividades para as disciplinas;
b) pela forma de abordagem com vistas aos conhecimentos,
desenvolvendo-se a aprendizagem:
—nas atividades, com predominância de experiências vividas pelos
alunos;
—nas áreas de estudo—formadas pela integração de disciplinas
afins—com equilíbrio entre as situações de experiências e os
conhecimentos sistemáticos;
—nas disciplinas, com predominância dos conhecimentos siste-
máticos. Veja-se o quadro:
Concluindo, na elaboração do currículo pleno, dever-se-á ter em
mente:

VI—Todo currículo compreenderá educação geral e formação


especial:
Educação geral—exclusiva nas séries iniciais—transmite a base
de conhecimentos comuns, indispensáveis à formação humana no
nosso tempo;
Formação especial—fixada em consonância com as necessida-
des do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levanta-
mentos periodicamente renovados—tem por objetivo:
a) no ensino de 1º grau—sondagem de aptidões e iniciação para o
trabalho;
b) no ensino de 2° grau—habilitação profissional.
O núcleo comum é, todo ele, de educação geral. A parte diversificada
do currículo pode ser de educação geral e de formação especial ou
somente de formação especial.

VII—Ordenação, relacionamento, sequência


A elaboração do currículo está longe de esgotar-se com a
tradução das matérias em atividades, áreas de estudos e disciplinas.
Segundo o Parecer do Conselho Federal, a ordenação abrange os
dois outros aspectos—relacionamento e sequência; naquela, "se faz
uma ordenação horizontal e, na sequência, uma nítida ordenação
vertical".
Damos, abaixo, o quadro de ordenação curricular, segundo a lei.

Conjunto solidário e orgânico de Permitida matrícula


com dependências. Sequência é a pre-
estudos e experiências. Sequencia
resulta do Relacionamento. Abertura à mat. ocupação maior.
por disciplina.

B—RESOLUÇÃO SOBRE O NÚCLEO COMUM

O Parecer 853/71 salienta, inicialmente, que a Lei 5.692


separou, nitidamente, de um lado, a prévia determinação dos
conteúdos que deverão ou poderão integrar os currículos e, de outro
lado, os currículos propriamente ditos.
I—CAMADAS—A determinação dos conteúdos é feita em camadas
que, sucessivamente, se acrescentam:

CAMADAS COMPONENTES

l.a Núcleo comum—matérias indicadas pelo CFE

2.a Estudos obrigatórios prescritos no art. 7.° da Lei.

3.a Parte diversificada—matérias escolhidas pelos estabelecimentos,


indicadas ou aprovadas pelos Conselhos de Educação dos Estados ou do DF.

4a Mínimos destinados às habilitações profissionais. A 4.a camada


surge nos currículos do 2.° grau.

II—MATÉRIAS
1. O artigo 1° da Resolução apresenta as matérias do núcleo:
Comunicação e Expressão
Estudos Sociais Ciências
É uma classificação "em grandes linhas".
2. Por ser obrigatório o núcleo, não basta visualizar suas
matérias nessas grandes linhas. Impõe-se a dterminação de
"conteúdos específicos". E o que faz o artigo lº, § 1º:
a) em Comunicação e Expressão—a Língua Portuguesa;
b) nos Estudos Sociais—a Geografia, a História e a Organi-
zação Social e Política do Brasil;
c) nas Ciências—a Matemática e as Ciências Físicas e Bio-
lógicas.
III—OBJETIVOS
O artigo 3º define os objetivos:
a) das matérias fixadas (art. 3º caput);
b) do processo educativo em geral (art. 3º, § 1).
Os objetivos das matérias e do processo educativo em geral
devem ajustar-se—diz o art. 3º em seu § 2º—aos fins mais amplos
estabelecidos em lei:
a) de cada grau escolar (arts. 17 e 21 da Lei 5.692);
b) dos dois graus em conjunto (art. 1º da Lei 5.692);
c) da educação em geral (art. 1º da Lei 4.024 de 1961).
Veja-se o quadro:

OBJETIVOS (INTERCONEXÃO)

IV—AMPLITUDE
—com seus conteúdos específicos.
—com as outras matérias.
—com a totalidade do currículo.
1.1—A amplitude das matérias do núcleo comum começa a ser definida
logo no § lº do artigo lº, com a indicação de
"conteúdos específicos" das matérias como já vimos nas
págs. 17 a 19-

1.2—E, depois, expressa-se nos arts. 4º, 5º, 6º e 9º:

a) o artigo 4°, caput, declara que as matérias do núcleo


comum serão escalonadas, nos currículos plenos, da maior
para a menor amplitude, constituindo atividades, áreas de
estudo e disciplinas.
E os parágrafos do artigo 4" desenvolvem a diferen-
ciação de atividades, áreas de estudo e disciplinas, segundo a
forma de abordagem com vistas aos conhecimentos;

b) o artigo 5º diz sob que formas as matérias do núcleo


comum devem ser apresentadas, e em que faixas devem
ser tratadas (predominantemente) como atividades, áreas
de estudo ou disciplinas, ao longo da escolarização (inci
sos I e II).

I—No ensino de 1º grau:


a) nas séries iniciais, sem ultrapassar a quinta, sob as formas de
Comunicação e Expressão, Integração Social e Iniciação às
Ciências (incluindo a matemática), tratadas predomi-
nantemente como atividades;

b) em seguida, e até o fim desse grau, sob as formas de


Comunicação em Língua Portuguesa, Estudos Sociais e
Matemática e Ciências, tratadas predominantemente como
áreas de estudo.

II—No ensino de 2º grau, sob as formas de Língua Portuguesa e


Literatura Brasileira, História, Geografia, Matemática e Ciências
Físicas e Biológicas, tratadas predominantemente como disciplinas e
dosadas segundo as habilidades profissionais pretendidas pelos
alunos;
Note-se, aí, o uso de novas expressões, escolhidas certamente
por melhor se ajustarem ao sentido de atividade, área de estudo ou
disciplina, que lhes é atribuído:
Integração Social e Iniciação às Ciências no inciso I, a;
Comunicação em Língua Portuguesa, no inciso b; Língua Portuguesa
e Literatura Brasileira, História, Geografia, no inciso II.

O parágrafo único do artigo 5º admite a alternativa de, ainda


conforme as habilitações profissionais pretendidas pelos alunos, as
Ciências Físicas e Biológicas no ensino de 2º grau serem
desenvolvidas em disciplinas instrumentais da parte especial do
currículo, integrando, então, esta parte. Quer dizer: as Ciências
Físicas e Biológicas, no 2" grau, podem ser disciplina de educação
geral ou, desdobrando-se em Física, Química, etc, podem integrar a
parte de formação especial.

c) O artigo 6º declara que as atividades, áreas de estudo e


disciplinas, decorrentes do núcleo comum—isto é—as
referidas no artigo 5º—são de educação geral, e que
associadas a outras que eventualmente se lhe acrescentem
com o mesmo sentido (de educação geral), distribuir-se-ão
de modo que, em conjunto,
1. as da letra a do inciso I sejam exclusivas nas séries iniciais
do ensino de 1º grau (sem ultrapassar a quinta, nos termos
dos referidos inciso e letra);

Isto significa que, em regra, a educação geral é exclusiva nas


séries iniciais do ensino de lº grau, sem ultrapassar a quinta
(limite máximo);
2. as da letra b do inciso I predominem, em duração e intensidade,
sobre as da parte de formação especial, nas séries restantes do
ensino de 1º grau;
3. as do inciso II tenham duração e intensidade inferiores às das de
formação especial, no ensino de 2° grau.
Veja-se o quadro:
QUADRO IV
1º E 2º GRAUS

O § 1º do artigo 6º determina que, no ensino de lº grau, as


atividades, áreas de estudo e, eventualmente, disciplinas de educação
geral, resultantes do núcleo comum, serão obrigatórias em todas as
séries, admitindo-se variações quanto às respectivas cargas horárias.
E o § 2º do artigo 6º estabelece que, no ensino de 2º grau,
poderão ser admitidas variações não somente de carga horária como
do número de períodos letivos em que seja incluída cada disciplina e,
eventualmente, área de estudo ou atividade.
d) finalmente, o artigo 9º trata de amplitude, na hipótese prevista
na letra a do artigo 76 da Lei 5.692, isto é, na hipótese de
que num sistema, por dificuldades económicas, a gratuidade
não alcance, desde logo e por algum
tempo, todo o ensino de 1º grau. Impõe-se, então, a
antecipação da iniciação para o trabalho. O artigo 9º da
Resolução regula essa antecipação, dizendo que, em tal caso,
a parte de educação geral nas séries iniciais do lº grau, em
vez de exclusiva, equilibrar-se-á com a formação especial,
enquanto nas séries restantes do mesmo grau, em vez de
predominante, será inferior à especial.
Trata-se, evidentemente, de uma exceção, de uma transgressão
realista e transitória do grande princípio da lei, da maior conquista
que ela quer que se alcance, uma educação comum a todos, dos 7 aos
14 anos.
C—RECOMENDAÇÕES DA VIII REUNIÃO CONJUNTA DOS
CONSELHOS DE EDUCAÇÃO
I—A primeira Recomendação alude ao art. 75, inciso I da Lei
5.692/71, que estabelece que:
—As escolas primárias oficiais e particulares deverão instituir,
progressivamente, as séries que lhes faltam para alcançar o ensino
completo de lº grau.
A ideia subentendida é de que as escolas realizem a plena
integração dos antigos primário e ginásio, e não uma mera super-
posição dos dois; realizem a mais perfeita continuidade, até alcançar
os 8 anos, novo limite da educação comum a todos os brasileiros.
A Recomendação nº 1 declara que:
—a implantação da lei "se faça preferentemente nas primeiras séries
de modo que as atuais escolas primárias ampliem suas atividades
gradualmente até atingir a oitava série". Como se vê, trata-se de
preferência e não de regra. De outro lado, é elástica a expressão
"primeiras séries". Assim, as escolas poderão:
—implantar a lei na primeira série, com extensão gradativa a partir
desta, ou
—implantá-la na 1ª e 2ª de imediato ou
—implantá-la da 1ª à 4ª, ou
—implantá-la da 1ª à 5ª ou 6ª séries.
A dependência estará na orientação anterior que o estabeleci-
mento tenha imprimido ao ensino primário como na disponibilidade
de recursos (humanos, materiais e financeiros) para o pleno alcance
da integração e continuidade escolares nos termos em que a lei o
preceitua.
II—"Os sistemas de ensino estimulem intensa participação das
Faculdades de Educação e instituições congêneres, convocando-as
para o esforço comum de implantação da nova lei".
Esta recomendação pretende:
—Aproximação estreita dos dois campos de atividades convergentes
para o mesmo problema: faculdades de educação e secretarias
de educação. —Iniciativa dos sistemas de ensino de atrair a
participação da
universidade na solução de problemas da educação. —
Estabelecimento de política na formação do pessoal, no ensino
superior, a qual considere as necessidades e prioridades do
sistema de ensino.
—Desenvolvimento de programas amplos de pesquisas educacionais.
III—"Os Conselhos de Educação, ao elaborar as resoluções
complementares, evitem toda rigidez normativa que venha a
prejudicar a saudável flexibilidade da nova lei".
—A recomendação se estende a todo o preceituado na lei como
atribuição dos Conselhos. Destaque-se:
A—Art. 4º, § 1º, incisos II e III da lei—Prescrições de conteú-
dos curriculares. Estabelece que os Conselhos relacionarão as
matérias para a parte diversificada e aprovarão ou não a inclusão de
estudos não decorrentes daquelas matérias.
—As listas deverão ser "amplas e abrangentes".
—Expressas em matérias (componentes que possibilitem ao estabe-
lecimento seu tratamento como atividade, área de estudo ou
disciplina, no currículo, e não se expressem, neste, necessaria-
mente, como cópia literal das matérias).
—A flexibilidade se expressará, também, no exame imparcial da
inclusão, no currículo, de estudos não previstos pelo Conselho de
Educação.
B—Art. 5º, § lº, letra a da lei.
O currículo pleno terá uma parte de educação geral e outra de
formação especial, sendo organizado de modo que, no ensino de
primeiro grau, a parte de educação geral seja exclusiva nas séries
iniciais e predominante nas finais.
Aqui, também, cabe estabelecer:
—O que se considerarão séries iniciais.
—Necessária flexibilidade para aceitação de planos específicos dos
estabelecimentos de ensino.
Séries iniciais, como vimos, podem ser as duas, as três ou as
quatro primeiras.
—A Resolução nº 8 do Conselho Federal permite depreender (art. 5º,
I, combinado com o art. 6º, a) que a exclusividade da educação
geral deverá estender-se até a 4ª ou 5ª séries. Nesta (ou na sexta) e
até a oitava, a educação geral será predominante.
—Os limites da exclusividade não podem, entretanto, ser fixados
simplesmente por critério numérico: quantas e quais séries, nem
podem ser rígidos.
Vários fatores justificam a flexibilidade:
a) diferenças individuais dos alunos, condições externas eco-
nômicas, sociais, culturais que afetam os limites das duas
grandes faixas sobre as quais parece recair o limite da
exclusividade: infância e pré-adolescência.
b) Desnível entre a faixa de escolarização dos alunos e a faixa
etária.
—É importante evitar-se que a predominância do geral asfixie o
especial, isto é, reduza demasiado o espaço e o tempo reservados
à parte de formação especial. —Não só as normas dos sistemas
devem ser flexíveis, mas a própria
escola à vista de tendências vocacionais em casos individuais a
serem focalizados.
, C—Art. 12 e § único—Os Conselhos de Educação fixarão os
critérios gerais que devem presidir ao aproveitamento de estudos e o
regimento escolar regulará esse aproveitamento (substituição de
atividade, áreas de estudo ou disciplina por outra a que se atribua
igual valor formativo, excluídas as resultantes do núcleo comum e
dos mínimos fixados para as habilitações profissionais).
—No aproveitamento de estudos deve fazer-se presente a flexibi-
lidade normativa, a fim de se atenderem às possibilidades dos
estabelecimentos de ensino de satisfazer à continuidade de estudos
dos alunos nos casos de:
—transferência para outro estabelecimento;
—mudança de opção de estudos na mesma escola.
D—Art. 13—A transferência de alunos de um para outro
estabelecimento se fará, segundo normas dos Conselhos de Educação,
pelo núcleo comum e, se for o caso, pelos mínimos previstos para as
habilitações profissionais.
As normas dos Conselhos deverão ser flexíveis, considerando-se
que:
—A parte diversificada, segundo a região, e, dentro desta, segundo a
escola, não interfere. Os estudos feitos são aproveitados.
—A creditação dos estudos pressupõe áreas curriculares afins.
—No primeiro grau, em face de ser ela educação para todos,
dificilmente o valor formativo de um componente curricular
discrepará extremamente do outro, a ponto de não haver qualquer
afinidade entre eles.
—A lei oferece fórmulas para a dificuldade de ajustamento do aluno
ao novo currículo:
—matrícula com dependência
—estudos por níveis de aprendizagem
—estudos suplementares
—estudos nos períodos de férias.
E—Art. 70—Possibilidade de os sistemas de ensino e as pessoas
jurídicas de direito privado, instituírem para alguns ou todos os
estabelecimentos de ensino por eles mantidos um regula-
mento comum, preservada a necessária flexibilidade didática da escola.
—Será recomendável que os Conselhos de Educação tracem normas
flexíveis para a legislação interna das escolas, em vez de regula-
mento comum, porque:
—Exercitar-se-á o art. 3º, parágrafo único da lei, que estabelece que
"a organização administrativa, didática e disciplinar de cada
estabelecimento de ensino será regulada no respectivo regimento, a
ser aprovado pelo órgão próprio do sistema, com observância de
normas fixadas pelo respectivo Conselho de Educação".
—Ter-se-á o controle prévio—normas do CE—e o posterior estudo
do regimento pelo órgão próprio.
—Evitar-se-á a duplicidade: um regulamento comum aos estabele-
cimentos, um regimento próprio de cada um.
—Ressalvar-se-á a unidade que se deve expressar nos regimes
administrativo, disciplinar e didático das escolas.
—Possibilitar-se-á o exercício da criatividade dos educadores lotados
nos estabelecimentos.
O quadro resume o que deve envolver preocupação dos Conselhos
com normas flexíveis:
IV—As recomendações de números 5 a 13 focalizam o pro-
fessor, sua formação regular e aperfeiçoamento, treinamento, e o
estatuto do magistério.

É urgente que "o Conselho Federal de Educação atualize a


duração das licenciaturas de 1º grau em Letras, Estudos Sociais e
Ciências, a fim de que, já no ano de 1972, possam eles ser
ministrados sem grandes discrepâncias com outros cursos superiores
de curta duração já atualizados". E "ao lado dessas três licenciaturas
de primeiro grau, que também sejam criadas licenciaturas plenas
polivalentes para as mesmas áreas, visando à formação de professores
mais ajustados à escola de lº e 2º graus e, sobretudo, à nova
concepção de currículo resultante da lei" e intepretada no Parecer
853/ 71 do CFE.
A recomendação nº 12 preocupa-se com a falta de formação
regular de professores em exercício. Sugere que a recuperação desses
professores "se processe dentro de um plano orgânico e gradativo, em
instituições credenciadas pelos órgãos competentes, de modo a
proporcionar-lhes, ao final, uma habilitação específica".
V—A recomendação 14ª lembra a necessidade de o novo
currículo basear-se "na revisão dos objetivos educacionais específicos
das atividades, áreas de estudo e disciplinas", assim como na
"definição e numa nova estruturação e ordenação dos conteúdos nas
diversas séries ou equivalentes".
E a 15ª, diretamente dirigida aos estabelecimentos de ensino,
propõe que "ao serem elaborados os programas escolares sejam
eliminados conteúdos considerados inadaptados ao nível de matu-
ridade dos educandos, como também aqueles que não contribuem,
verdadeiramente, para sua formação e consequente integração
social".
VI—A recomendação 16ª merece destaque por estabelecer que,
"segundo a orientação adotada no Parecer 853/71, os acréscimos
curriculares dos sistemas de ensino e dos estabelecimentos sejam
feitos não tanto pela indicação de novas disciplinas, mas sob a forma
de especificações das que se incluem nas três grandes linhas fixadas
para o Núcleo Comum e nos campos de habilitação profissional".
Deixando de lado a habilitação profissional, temos que a
resolução —diz respeito, na parte diversificada do currículo
pleno, aos
componentes de educação geral, e não aos de formação especial;
—não implica, portanto, restrição à parte de formação especial; —
atinge os Conselhos de Educação quanto à sua especificação de
matérias da parte de educação geral.
VII—Da 19ª à 22ª, as recomendações sugerem providências e
estudos que visam à atualização dos processos escolares e à solução
de problemas que a lei equaciona. O quadro as sintetiza:
Implantação de um moderno conceito de avaliação contínua de
aprendizagem através de contatos e observações cotidianas dos
alunos, respeitando-lhes as diferenças individuais e ajustando esta
avaliação aos objetivos fixados nas diferentes atividades, áreas de
estudos e disciplinas.
VIII—A recomendação n° 24 refere-se à obrigatoriedade
escolar, cuja duração a lei, fundada na Constituição, faz coincidir
cor» a do ensino de lº grau, na faixa dos 7 aos 14 anos. Com
referência à obrigatoriedade, podemos sintetizar:

Compreende-se a prudência que ressalta dos termos da reco-


mendação dos Conselhos. A universalização da educação de lº grau
metodizada "com base em estudos e levantamentos que considerem
as diversidades regionais". Um objetivo a ser atingido gradativa,
mas insistentemente. Diagnósticos de situação sócio-econômica,
recenseamento e chamada da população em idade de iniciar a
escolarização obrigatória, e planejamentos cientificamente elaborados
e executados, mas tudo isso sob a inspiração permanente de dar
cumprimento, e o mais rápido possível, à obrigatoriedade escolar em
sua nova extensão.

D—CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Como se pode depreender, as dificuldades dos sistemas de


ensino, na área de currículo, se prendem, em linhas gerais, a:
1—elaboração, pelos Conselhos de Educação, da lista de matérias
para composição da parte diversificada;
2—conciliação entre a flexibilidade a ser conferida aos estabeleci-
mentos de ensino na elaboração de seu currículo pleno e as
possibilidades da administração quanto a pessoal, materiais etc;
3—Disponibilidade de técnicos e serviços para o trabalho específico
de reformulação, controle e avaliação de currículos;
4—Disponibilidade de pessoal formado para ensino de determinadas
áreas de estudos e disciplinas.
Damos, a seguir, algumas sugestões práticas na área das
dificuldades apresentadas.

1—Relação de matérias da Parte Diversificada dos currículos.


Uma vez que a parte diversificada visa atender "conforme as
necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos
planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos",
poderá ela abranger a educação geral e a formação especial.
Com relação à parte diversificada, entretanto, convém insistir
em observações já feitas numa das publicações deste Departamento
(caderno nº 2, página 14) :
"Sua característica regional"—são palavras do relatório do GT
da Reforma—"não há de ser encarada como provincianismo estreito
a projetar-se no ingênuo formalismo de estudos expressa-
mente regionalizantes. Como também não será atingida por estudos
inteiramente alheios ao meio. Ela tem um fundamento econômico-
social e, portanto, será mais bem entendida indiretamente, em
componentes profissionalizantes ou não que levem à solução de
problemas locais". E acrescentávamos: "Onde as características
regionais se devem projetar é, necessariamente, na parte especial do
currículo, para a solução de necessidades profissionais ou outros
problemas, práticos da região. É claro que esta observação se dirige,
particularmente, às séries finais do ensino fundamental".
1.1—Educação geral
As matérias do núcleo comum objetivando a educação geral,
dirigem-se, como se vê no Parecer 853/71, aos campos fundamentais
do conhecimento humano. A programação dos estudos efetiva-mente,
considerará, para cada matéria, experiências concretas e/ou
conhecimentos, que se poderão arrolar, pelos estabelecimentos de
ensino, no mínimo, como segue:

1 .2—Em comunicação e expressão


Comunicação em Língua Portuguesa:
Língua Estrangeira moderna 1.2—
Em Estudos Sociais Estudos Sociais:
História
Geografia
Organização Social e Política do Brasil
Sociologia
Antropologia
Política
Economia

Ensino Religioso Educação


Moral e Cívica
1. 3—Em Ciências
Ciências Físicas e Biológicas:
Física
Química
Biologia
Ecologia
Mineralogia
Geo-Ciências

Programas de Saúde
Matemática:
Teoria de conjuntos
Sistema de numeração
Operações
Frações
Sistema de medidas
Geometria

1.1.2—Claro está que o relacionamento das matérias poderá diferir


do proposto. Mas não será recomendável que a parte
diversificada ofereça acréscimos aos componentes das
matérias do núcleo comum, sob pena de a parte de educação
geral prejudicar a fixação da de formação especial.
1.1.3—Embora a sondagem de aptidões possa recair também sobre
matérias de educação geral, são as matérias de formação
especial que melhor se prestam à exploração de aptidões e
habilidades do educando. Assim sendo, tais materiais
não são apenas imprescindíveis: sua realização como ins-
trumento da sondagem de aptidões e iniciação para o
trabalho depende da duração e da intensidade com que tais
matérias forem tratadas. Daí o cuidado especial que se
emprestará ao sentido de predominância (art. 5º, § lº, a da
Lei) da parte de formação geral, nas últimas séries do ensino
de lº grau. Por predominância não se deverá entender, 51%
de formação geral, como não se poderá traduzir por sua
quase exclusividade ou excessiva predominância.
Não será recomendável que os Conselhos acrescentem estudos à
parte de formação geral (suficientemente ampla no núcleo comum)
restringindo a listagem de matérias de formação especial.

1.2—Formação Especial
É aconselhável listar as matérias de formação especial quanto
possível em áreas amplas. Em outras palavras, listá-las como
matérias no sentido lato que a lei define. Em áreas amplas, tais como
Artes ou Práticas Industriais, Práticas de Serviços, Práticas de
Comércio, Práticas Agrícolas, Práticas Integradas do Lar. Não se
deve esquecer que, através destas práticas gerais, pretende-se sondar
aptidões e "iniciar" para o trabalho. Por isso mesmo, elas têm que ter
a necessárias amplitude, em vez de reduzir-se imediatamente a
especialidades dentro de cada área. Desdobramentos específicos ou
especializados das matérias poderão surgir em dois casos: quando o
determinem exigências urgentes da economia regional ou,
principalmente, a antecipação da iniciação para o trabalho nos termos
do artigo 76, letra a da Lei.

2—O planejamento do currículo e as possibiliddes do


sistema de ensino.
Aqui, os sistemas de ensino tenderão, naturalmente, a utilizar a
conciliação oferecida pelo art. 70 da Lei, entre a liberdade de os
estabelecimentos de ensino planejarem seu currículo, e as possi-
bilidades de provimento com que conta a administração central do
ensino.
Algumas cautelas, entretanto, deverão ser adotadas no uso do
artigo, dentre elas:
—consideração do tradicional desenvolvimento do ensino primário,
com sentido globalizador das matérias e não estratificadas numa
carga horária diária ou semanal atribuída a cada uma.
—a quinta série do antigo ensino primário não pode ter sua
programação substituída pela da 1ª série ginasial, sem um processo
adaptativo dos programas dos antigos ginásio e primário.
—os diretores e professores deverão contar com um sistema de
atendimento funcional para esclarecimentos e ajuda, na fase de
transição.
—como se viu neste documento, preferir normas flexíveis ao
estabelecimento de um regulamento comum para os estabeleci-
mentos do sistema.

3—Disponibilidade de técnicos e serviços para planejamento e


implementação do currículo.
O processo de mudança em educação está relacionado, direta
mente, com a reformulação curricular. A atualidade brasileira não
comporta o enfoque tradicional pelo qual um grupo de técnicos
elaborava, na Secretaria de Educação, programas mínimos que
vigoravam anos seguidos, sem qualquer acompanhamento ou
controle.
Os princípios de planejamento devem dirigir-se ao currículo e
este ajustar-se a uma estratégia de mudança cujo processo pode
desenvolver-se como segue:
No caso específico do currículo, os passos se desenvolveriam
como segue:

Concluindo, torna-se necessário aos sistemas de ensino:


—Manter, em caráter permanente, um serviço de currículo do qual se
ocupem técnicos habilitados.
—Oferecer condições, a esse serviço, de realizar toda a dinâmica do
processo de currículo, com a disponibilidade de recursos humanos,
materiais e financeiros que ele supõe.
4—Pessoal habilitado.
Aqui, a implementação de inovações no currículo, há de
caminhar compatibilizada com o programa de capacitação de pessoal
docente, administrativo e técnico. O pessoal deve sentir-se seguro em
seus desempenhos, para que a mudança educacional seja bem
sucedida.
Tal segurança não advém apenas de um bom curso de formação,
mas da participação do professor no processo de mudança e da
assistência com que conte para realização de suas tarefas. O quadro
encaminha a escolha.

ALGUMAS OPÇÕES 3

Você também pode gostar