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Antonio Tadeu Lyrio de Almeida

- Fevereiro de 2000 -
MÁQUINAS SÍNCRONAS

ÍNDICE

CAPÍTULO 1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE ELETROMAGNETISMO 1

SAINT EXUPERY 1
RESUMO 1
1.0 - TENSÃO INDUZIDA 1
2.0- CAMPO MAGNÉTICO CRIADO POR CORRENTE 2
3.0 - FORÇA E CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO 3
4.0 - AÇÕES MOTORA E GERADORA 3
EXERCÍCIOS 4

CAPÍTULO 2: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS GERADORES SÍNCRONOS 6

GOLBERY DO COUTO E SILVA 6


RESUMO 6
1.0 - INTRODUÇÃO 6
2.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO - GERADOR MONOFÁSICO 6
3.0 - PRINCÍPIO DE FUNCINAMENTO - GERADOR TRIFÁSICO 8
4.0 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TENSÕES INDUZIDAS 8
4.1 - DISTRIBUIÇÃO DE FLUXO 8
4.2 - FATOR DE DISTRIBUIÇÃO 9
4.3 - FATOR DE PASSO 10
4.4- F.E.M. INDUZIDA NOS ENROLAMENTOS DA ARMADURA. 11
4.5. FORMAS DE ONDA DE TENSÃO GERADA 12
5.0 - CONEXÕES DOS ENROLAMENTOS DA ARMADURA 12
QUESTÕES 13

CAPÍTULO 3: PARTES E ACESSÓRIOS DOS GERADORES SÍNCRONOS 15

VOLTAIRE 15
RESUMO 15
1.0 - INTRODUÇÃO 15
2.0 - CLASSIFICAÇÃO DOS GERADORES SÍNCRONOS 15
2.1 - QUANTO AO NÚMERO DE FASES 15
2.2 - QUANTO AO ROTOR 15
2.3 - QUANTO À POSIÇÃO DO EIXO 17
2.4 - QUANTO AO SISTEMA DE EXCITAÇÃO 17
3.0 - PARTES COMPONENTES DO ESTATOR 18
3.1 - CARCAÇA 18
3.2 – NÚCLEO DA ARMADURA 19
3.3 – ENROLAMENTOS DO ESTATOR 19
4.0 - PARTES COMPONENTES DO ROTOR 21
4.1 - MÁQUINAS COM PÓLOS SALIENTES 21
4.2 - PÓLOS SALIENTES 21
4.3 - ENROLAMENTOS AMORTECEDORES 23
4.4 - MAQUINAS COM PÓLOS LISOS 24
5.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 24
QUESTÕES 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 4: CARACTERÍSTICAS E EQUAÇÕES DOS GERADORES SÍNCRONOS 27

THOMAS FULLER 27
RESUMO 27
1.0 - OPERAÇÃO EM VAZIO 27
2.0 - CARACTERÍSTICA EM CURTO-CIRCUITO PERMANENTE 27
3.0 - RELAÇÃO DE CURTO-CIRCUITO (RCC) 28
4.0 - OPERAÇÃO EM CARGA - REAÇÃO DA ARMADURA 28
4.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS 28
4.2 - REAÇÃO DE ARMADURA PARA CARGAS RESISTIVAS. 29
4.3 - REAÇÃO DA ARMADURA PARA CARGAS INDUTIVAS 29
4.4 - REAÇÃO DA ARMADURA - CARGA CAPACITIVA 30
4.5 - REAÇÃO DA ARMADURA - GERADORES TRIFÁSICOS 31
4.6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 31
5.0 - REATÂNCIAS DA MÁQUINA 31
5.1 - REATÂNCIA DE REAÇÃO DA ARMADURA 31
5.2 - REATÂNCIAS DE DISPERSÃO 32
5.3. REATÂNCIAS DE EIXO DIRETO E EM QUADRATURA 32
5.4 - OUTRAS CONSIDERAÇÕES 33
5.5 - CONCLUSÕES 34
6.0 - EQUAÇÕES E DIAGRAMAS FASORIAIS 34
7.0 - POTÊNCIAS 36
7.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS 36
7.2 - CARACTERÍSTICAS ANGULARES DE UM GERADOR SÍNCRONO 36
7.3 - COORDENAÇÃO TENSÃO - POTÊNCIA 38
8.0 - CURVAS CARACTERÍSTICAS DO GERADOR 39
9.0 - REGULAÇÃO DE TENSÃO 40
QUESTÕES TEÓRICAS 40
QUESTÕES NUMÉRICAS 41

CAPÍTULO 5: PARALELISMO DE GERADORES 43

ULISSES GUIMARÃES 43
RESUMO 43
1.0 - INTRODUÇÃO 43
2.0 - CONDIÇÕES PARA O PARALELISMO 43
3.0 - MÉTODOS PARA O SINCRONISMO 44
QUESTÕES 46

CAPÍTULO 6: DISTRIBUIÇÃO DE CARGA ENTRE GERADORES 47

WINSTON CHURCHILL 47
RESUMO 47
1.0 - INTRODUÇÃO 47
2.0 - GERADORES DE MESMO PORTE EM PARALELO 48
3.0 - GERADOR EM PRALELO COM SISTEMA DE GRANDE PORTE 48
4.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
QUESTÕES 49
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 7: CURVAS DE CAPABILIDADE DE MÁQUINAS SÍNCRONAS 50

RONALD REAGAN 50
RESUMO 50
1.0 - INTRODUÇÃO 50
2.0 - FATORES QUE LIMITAM A CAPACIDADE DE UM GERADOR 50
3.0 - DESCRIÇÃO DA CURVA DE CAPABILIDADE 51
4.0 - UTILIZAÇÃO DA CURVA DE CAPABILIDADE 52
5.0 - CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES [1] 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53

CAPÍTULO 8: SISTEMAS DE EXCITAÇÃO 54

THOMAS KOCH 54
RESUMO 54
1.0 - INTRODUÇÃO 54
2.0 - EXCITATRIZES ROTATIVAS 54
3.0 - EXCITATRIZ ESTÁTICA 55
4.0 - EXCITATRIZ “BRUSHLESS” 57
5.0 - GERADORES AUTO-REGULADOS DE ANÉIS 61

CAPÍTULO 9: REGULADORES DE TENSÃO 63

JUSCELINO KUBSTCHECK 63
RESUMO 63
1.0 - INTRODUÇÃO 63
2.0 - REGULADORES ELETROMECÂNICOS DE TENSÃO 63
2.1 - REGULADOR DE CONTATOS VIBRANTES (TIPO TIRRIL) 63
2.2 - REGULADOR DE AÇÃO RÁPIDA (TIPO BROWN BOVERI) OU DE SETOR ROLANTE 64
2.3 - REGULADOR TIPO SERVOMOTOR OU SIEMENS 65
3.0 - REGULADOR ELETRÔNICO DE TENSÃO 66
4.0 - A COMPENSAÇÃO “CROSS-CURRENT” 68
5.0 - ENTRADA E REJEIÇÃO DE CARGA 69
6.0 - O AJUSTE DE ESTABILIADE DO REGULADOR 70
7.0 - O REGULADOR DE TENSÃO E A FREQUÊNCIA 71
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 10: CURTO-CIRCUITO E REATÂNCIAS 72

LEOPARDI 72
RESUMO 72
1.0 - CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO BRUSCO 72
2.0 - REATÂNCIAS E CONSTANTES DE TEMPO EM REGIMES TRANSITÓRIOS 74
2.1 - PERÍODO SUBTRANSITÓRIO 74
2.2 - PERÍODO TRANSITÓRIO 74
2.3 - PERÍODO OU REGIME PERMANENTE 74
2.4 - CONSTANTES DE TEMPO 74
3.0 - REATÂNCIAS DE SEQUÊNCIA NEGATIVA E ZERO 74
4.0 - IMPORTÂNCIA DAS REATÂNCIAS 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 75

CAPÍTULO 11: PERDAS, RENDIMENTO E AQUECIMENTO 76

PROVÉRBIO CHINÊS 76
RESUMO 76
1.0 - PERDAS 76
1.1 - PERDAS NO FERRO DEVIDO A FLUXOS PARASITAS E PRINCIPAL 76
1.2 - PERDAS POR EFEITO JOULE NOS ENROLAMENTOS DE ARMADURA 78
1.3 - PERDAS NO CIRCUITO DE EXCITAÇÃO 78
1.4 - PERDAS POR ATRITO E VENTILAÇÃO 78
1.5 - PERDAS ADICIONAIS DEVIDO A CIRCULAÇÃO DE CORRENTE PELOS ENROLAMENTOS DA ARMADURA 78
2.0 - RENDIMENTO 79
3.0 - AQUECIMENTO 81
3.1 - CONDIÇÕES GERAIS 81
3.2 - ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA EM MÁQUINAS SÍNCRONAS 82
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS


SOBRE ELETROMAGNETISMO
"O essencial é invisível aos olhos"
Saint Exupery

RESUMO Observe-se que o ângulo entre “v” e “B” na figura 1 é


As máquinas elétricas tem seu princípio de 90o.
funcionamento baseado nas leis da indução e conjugado
eletromagnético. Este texto apresenta de forma Pelo exposto, para que haja um aumento ou diminuição
simplificada algumas destas leis e fenômenos aplicados ao da tensão induzida nos terminais a-b do condutor deve-se
seu estudo. alterar as grandezas relacionadas na expressão (1). Assim,
para uma modificação na velocidade é necessário atuar
1.0 - TENSÃO INDUZIDA mecanicamente sobre o condutor e, para a mudança da
Sabe-se que sempre que houver movimento intensidade de campo, deve-se utilizar um eletroimã, o qual
relativo entre um campo magnético e um condutor será permite o seu controle. Em relação ao comprimento imerso
induzida uma tensão (f.e.m. - força eletromotriz) em seus no campo, pode-se adotar a hipótese de executar um
terminais; esta é simplificadamente, a lei de Faraday, a qual eventual aumento, colocando-se mais condutores em série
foi quantificada por Newmann, ou seja: com o primeiro; desta forma, se houverem “N” condutores
em série, resulta:
e = V l B senθ (1)
onde: e=NvlB (2)
e - força eletromotriz (tensão) induzida em um
Por outro lado, supondo-se que o condutor execute um
determinado instante [V]; movimento circular uniforme, como esquematizado na
v - velocidade relativa entre campo e condutor [m/s]; figura 2, tem-se:
l - comprimento do condutor imerso no campo
magnético [m];
B - indução magnética [Wb/m2]; φ = ωt (3)
θ - ângulo formado entre o campo magnético e a
velocidade instantânea do condutor, tomando-se “B” onde:
como referência [rad].
A figura 1 esclarece o exposto, supondo campo
ω - velocidade angular [rad/s];
t - tempo [s].
magnético uniforme (ou seja, “B” possui o mesmo valor
em qualquer ponto).
Na figura 1 mostra-se o sentido da f.e.m induzida,
o qual é dado pela regra de Fleming, ou seja:
a) sentido de “e” dado pelo polegar da mão
direita;
b) sentido de “v” dado pelo indicador da mão
esquerda;
c) sentido de “B” dado pelo dedo médio da mão
direita.

Figura 2 - Condutor em movimento circular uniforme.

Figura 1 - Força eletromotriz induzida em um condutor. Sabe-se que no movimento circular uniforme:
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Capítulo 1: Conceitos Fundamentais Sobre Eletromagnetismo - 1
MÁQUINAS SÍNCRONAS

V = ω.R 2.0- CAMPO MAGNÉTICO CRIADO POR CORRENTE

Substituindo (3) e (4) em (2), resulta: Corrente circulando por um condutor cria um
campo magnético cuja intensidade é dada pela lei de Biot-
e = N . ω . l . B . senωt (5) Savart e sentido pela regra de Ampère.

como: A lei de Biot-Savart é dada por:

φmax = B . A (6) H . l = NI = Re . φ (14)

A=l.D (7) onde:

D=2.R (8) H - intensidade de campo [A/m];


l - comprimento do circuito magnético [m];
como: Re - relutância do circuito magnético, dado por:

ω = 2πf (9) l 1
Re = . (15)
obtém-se: A µ

e = π . Nf φmax senωt = emax senωt (10) µ - permeabilidade magnética do meio;


A - seção transversal do circuito magnético [m2]
A expressão (10) permite dizer que a tensão
induzida nos terminais de um condutor em movimento
circular uniforme, imerso em campo magnético igualmente
uniforme, é alternada e senoidal.
Se ao invés de apenas um condutor, houver uma
espira, como a mostrada na figura 3, executando o
movimento em condições idênticas tem-se:

eesp = 2 . e = 2emax senωt (11)

Figura 4 - Campo magnético criado por corrente

Pela figura 5 e expressão (14) nota-se que é possível


controlar a imantação de um determinado material
magnético, ou seja, aumentar ou diminuir o fluxo
magnético, dentro de certos limites, alternando-se a
corrente que circula pelas espiras. Esta corrente recebe o
nome de “corrente de excitação” e se relaciona como fluxo
magnético através da chamada curva de saturação.
Figura 3 - Espira imersa em campo magnético e
executando movimento circular uniforme.

O valor eficaz da tensão é:


E = E RMS = f N φmax = 4.44 N f φmax (12)
2

O valor médio é:

E RMS
Emed = = 4 N f φmax (13)
111
. Figura 5 - Imantação de um material magnético.
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Capítulo 1: Conceitos Fundamentais Sobre Eletromagnetismo - 2
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Simplificadamente, pode-se dizer que a força de


Lorentz é dada por:

F = B . I . l senθ (17)

Então o conjugado desenvolvido por uma espira


com um condutor apenas é:

M = B.I.l.d.senθ = B.A . I. senθ (18)

ou ainda:

M = θ . I . senθ (19)
Figura 6 - Curva de saturação (exemplo)
onde:

3.0 - FORÇA E CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO θ - é o ângulo entre a normal ao plano da espira e o


campo.
Um condutor percorrido por corrente imerso em
um campo magnético fica submetido a uma força de Desta forma, pode-se concluir que o conjugado
origem eletromagnética (Força de Lorentz). eletromagnético resulta da interação entre fluxo magnético
e a corrente da parte que gira.

4.0 - AÇÕES MOTORA E GERADORA

Observe-se que no caso mostrado na figura 8, ao


girar a espira no interior de campo magnético será induzida
uma tensão, a qual é denominada força contra eletromotriz,
cujo sentido se opõe à variação de fluxo. Por outro lado, no
caso mostrado na figura 1, verifica-se que o conjugado
eletromagnético também surgirá se houver circulação de
corrente pela espira. Desta forma, é possível concluir que:
Figura 7 - Força agindo sobre um condutor (F)
a) a ação geradora fornece uma tensão induzida e,
Se uma espira percorrida por corrente for inserida se houver circulação de corrente, contrário ao
no interior do campo magnético, tem-se a situação de giro da espira;
mostrada na figura 8. b) a ação motora fornece conjugado no eixo e
induz tensão nos terminais da espira (f.c.e.m.).

Aplicados estes conceitos às máquinas elétricas,


verifica-se que a ação geradora e motora diferenciam-se
pelo sentido de transferência de potência, ou seja:

a) Ação Motora: potência absorvida da rede e


transmitida no eixo do motor; será considerada
como positiva para a análise a seguir;
b) Ação Geradora: potência fornecida à rede,
sendo esta absorvida de uma máquina primária
acoplada no eixo; será considerada como
Figura 8 - Força sobre uma espira (F). negativa.

Observando-se que surgem forças sobre ambos os Desta forma, tem-se que o sentido da potência no
lados da espira, separados por uma distância “d”, eixo é dada por:
caracterizando a existência de um conjugado, ou seja:
a) Motor: P > 0
M = F.d (16)
b) Gerador: P < 0
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Capítulo 1: Conceitos Fundamentais Sobre Eletromagnetismo - 3
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Por outro lado, sabe-se que a potência mecânica 3) Estabeleça a Lei de LENZ.
no eixo [W] de uma máquina é dada por:
4) Desenhe um diagrama para uma bobina de uma única
2π espira girando num campo magnético uniforme.
P = M .ω = . M .n (20)
60 Mostre:
a) o sentido da f.e.m. induzida em cada lado da
onde: bobina;
M - conjugado (ou torque) desenvolvido no eixo [N.m]; b) o sentido da circulação da corrente quando se
liga uma carga aos seus terminais;
ω - velocidade angular do eixo [rd/seg.]; c) a polaridade dos terminais em relação à carga.
n - velocidade angular do eixo [rpm].
Como: 5) A partir do diagrama traçado na questão anterior,
explique, partindo do terminal positivo:
M > 0 ou M < 0 a) o sentido de circulação de corrente da bobina;
b) o sentido de circulação da corrente na carga;
e, c) compare com a circulação de corrente interna
ω > 0 ou ω < 0 e externamente a uma bateria que alimenta
uma carga e explique.
obtém-se as seguintes situações operacionais:
6) Explique por que:
a) M>0 e ω > 0; então P > 0, ação motora; a) se induz tensão alternada em um condutor que
b) M<0 e ω > 0; então P < 0, ação geradora; gira em um campo magnético uniforme;
c) M<0 e ω < 0; então P > 0, ação motora; b) a forma de onda é senoidal.
d) M>0 e ω < 0; então P < 0, ação geradora;
7) Para uma bobina com uma única espira explique:
Tais relações, é claro, referem-se a um a) por que não se induz f.e.m. quando a mesma
determinado sentido de giro, adotado como positivo. está perpendicular ao campo?
b) Sob que condições a forma de onda não será
A figura 9 esclarece o exposto. senoidal?

8) O que é força magnetomotriz? Relacione os principais


fatores que a afetam.

9) O que é relutância?
10) Defina corrente de excitação ou de campo.
11) Como tal corrente se relaciona com o fluxo
magnético?

12) Explique, de forma simplificada, o porque da


saturação de um material magnético.

13) Qual é o efeito sobre um condutor percorrido por


corrente elétrica, quando este está imerso em um campo
ME – Máquina Elétrica; MM – Máquina Mecânica
magnético? Mostre o sentido das várias grandezas
Figura 9 - Situações operacionais para as máquinas interrelacionadas.
elétricas.
14) Cite, pelo menos, dois problemas em máquinas
EXERCÍCIOS elétricas que tem origem na força de Lorentz.

1) Descreva quatro efeitos da conversão eletromecânica de 15) Como é possível o surgimento de conjugado em uma
energia. espira imersa em um campo magnético e percorrido por
corrente?
2) Estabeleça a Lei de FARADAY:
a) em suas próprias palavras; 16) O que é ação motora e geradora?
b) em termos de uma equação indicando todos os 17) Mostre os fatores que influenciam a potência
fatores desta equação. mecânica no eixo de uma máquina elétrica.
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Capítulo 1: Conceitos Fundamentais Sobre Eletromagnetismo - 4
MÁQUINAS SÍNCRONAS

18) Quais as diferenças entre gerador e motor, 22) No sentido citado na questão anterior, porque um
considerando-se o conjugado e a velocidade. gerador fornece energia continuamente, sem haver sua
parada total?
19) Para que um motor execute uma ação geradora, o que 23) O que são os quatro quadrantes de operação de uma
poderia ser feito? máquina elétrica? Ilustre através de um desenho.

24) Explique como se aplica a Lei de LENZ à ação motora


20) Mostre, igualmente, como é possível reverter o fluxo e à geradora.
da potência elétrica.
25) Explique, ilustrando através de um desenho, a
21) Por que se diz que ação geradora é uma ação de afirmativa de que a ação geradora sempre é
frenagem? acompanhada de uma ação motora e vice-versa.

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Capítulo 1: Conceitos Fundamentais Sobre Eletromagnetismo - 5
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 2: PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO


DOS GERADORES SÍNCRONOS
“Não interrompa uma pessoa que lhe conta uma história que você já sabe. Uma história
nunca é contada duas vezes da mesma maneira e é sempre bom ter mais uma versão”

Golbery do Couto e Silva

RESUMO

Este texto analisa o princípio de funcionamento dos


geradores síncronos mono e trifásicos. São mostradas as
grandezas básicas e fornecidos alguns termos utilizados
no jargão técnico.

1.0 - INTRODUÇÃO

Máquinas síncronas são conversores rotativos


que transformam energia mecânica em elétrica, ou vice-
versa, utilizando-se dos fenômenos da indução e
conjugados eletromagnéticos. Assim, podem exercer uma
ação motora ou geradora.
Um motor síncrono apresenta aspectos
construtivos similares ao do gerador e, sendo assim,
diferem apenas na forma de serem empregados. A
máquina atuando como motor absorve energia elétrica de
uma fonte de tensão alternada para desenvolver um
conjugado que poderá acionar uma carga mecânica em
seu eixo. O gerador, por outro lado, tem a velocidade de
seu eixo estabelecida por uma máquina primária,
fornecendo energia elétrica com tensões e correntes
alternadas. Naturalmente, para que ambas as operações
sejam possíveis, é necessário que a máquina seja excitada
utilizando-se de uma fonte de energia elétrica contínua. Figura 1 - Gerador elementar.
Observe-se que as máquinas elétricas, de uma
forma geral, são reversíveis, ou seja, um gerador síncrono Sendo o fluxo constante e girando-se a espira
sob determinadas condições pode agir como motor, ou com uma velocidade angular ω definida, resulta em
vice-versa. movimento relativo entre esta e o campo. Desta forma,
Quanto às aplicações dos geradores síncronos, pela lei de Faraday-Lenz, nos terminais desta espira será
também conhecidos por alternadores, são óbvias pois induzida uma tensão, a qual poderá ser aplicada a um
praticamente toda a geração de energia elétrica mundial circuito externo através de anéis coletores escovas.
ocorre empregando este tipo de máquina elétrica. Analisando-se o fluxo e adotando-se a espira
Os motores síncronos são aplicados em como referência, pode-se dizer que este é variável no
acionamentos onde a velocidade deve-se manter tempo e dado por:
constante e/ou com cargas de grande porte. Além disto, se
forem superexcitados, pode-se utilizá-los como φ = φn cosωt = BA cosωt (1)
compensadores síncronos, atuando no nível de reativo do como:
sistema ao qual está ligado.

e =− N (2)
2.0 - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO - GERADOR dt
MONOFÁSICO

Considere-se a figura 1 onde se mostra uma tem-se:


espira imersa em um campo magnético uniforme, criado
pelos pólos Norte e Sul. e = Emax sen ω t (3)

________________________________________________________________________________
Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 6
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Assim, verifica-se que a força eletromotriz em espiras localizadas ao redor das chamadas “sapatas
induzida é alternada, como representado na figura 2. polares”. A este conjunto de espiras denomina-se
Observe-se que, conforme diminui o número de linhas “enrolamentos de campo”.
cruzando a espira, aumenta-se a tensão induzida e, vice- Por outro lado, na figura 1, observe-se que a
versa. tensão induzida pode ser aplicada a um circuito externo
através de um conjunto de anéis e escovas.
Naturalmente, para potências elevadas este
sistema não é adequado. Em outras palavras, para
máquinas reais tem-se várias espiras ao invés de uma,
constituindo um circuito estático denominado
“enrolamento da armadura” e pólos girantes.
Assim, a alimentação do enrolamento de campo
é efetuado por uma fonte de energia elétrica contínua
externa à máquina através dos anéis coletores e escovas,
já que os níveis de corrente e tensão deste circuito são
menores que o da armadura para alternadores comerciais.
A figura 3 mostra esquematicamente os pólos
girantes e respectivo enrolamento de campo.

Figura 2 - Força eletromotriz induzida nos terminais de


Figura 3 - Pólos girantes e enrolamento de campo.
uma espira.
Dependendo da velocidade básica da máquina
Da figura 2 tem-se que a espira ao chegar no
primária podem ser utilizados mais pólos, de modo a se
ponto 3, polaridade da tensão induzida inverte. Em outras
obter uma determinada freqüência, conforme se verifica
palavras, o fluxo magnético que atravessa a espira a partir
na expressão(4). A figura 4 mostra um rotor com vários
de uma de suas faces, o faz na face oposta.
pólos (roda polar).
A cada giro da espira obtém-se um ciclo
completo da tensão gerada; o mesmo é válido para cada
par de pólos (p) distribuídos alternadamente (um norte e
um sul). Se a rotação da espira é “n” rpm e “f”, a
freqüência da tensão induzida (Hertz), resulta:

pn
f = (4)
60
onde:

p = pares de pólos; e, n = velocidade em rpm.

Observe-se que, até o presente ponto, os pólos


estão representados por ímãs permanentes. Entretanto, em
geral, a formação do campo magnético ser dá através de
eletroímãs, ou seja, pela circulação de corrente contínua Figura 4 - Roda polar
________________________________________________________________________________
Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 7
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Uma representação simplificada da máquina Considerando-se que, na figura 6, os


com pólos girantes e armadura fixa é mostrada na figura enrolamentos A-A’, B-B’ e C-C’ são três geradores
5. monofásicos independentes (ou fases), tem-se como
resultado a indução de três tensões distintas. Entretanto,
verifica-se que, obrigatoriamente, o zero de cada uma
delas se dará a 120o das tensões induzidas nos
enrolamentos.
Por outro lado, idealmente, para que as tensões
sejam simétricas, o número de espiras do enrolamento de
cada fase deve ser igual.
Note-se que, estando a máquina em operação a
tensão gerada poderá ser alterada apenas se houver
atuação na velocidade do rotor e do fluxo magnético, o
qual por sua vez depende da corrente de excitação (ou de
campo).
Figura 5 - Gerador monofásico simplificado - Armadura A figura 7 mostra as tensões geradas pelo
fixa e pólos girantes. gerador trifásico elementar em análise.

Note-se que, em máquinas reais, utiliza-se várias


espiras para formar o enrolamento e, o mesmo, é
distribuído ao longo da armadura e não concentrado
como mostrado na figura 5.
3.0 - PRINCÍPIO DE FUNCINAMENTO - GERADOR
TRIFÁSICO

O emprego de geradores monofásicos são


restritos a poucos casos, sendo os trifásicos os mais
utilizados.
Em princípio, pode-se considerar que o
alternador trifásico é composto por três monofásicos
iguais construídos em uma mesma máquina, dispostos a
um ângulo equivalente a 120o elétricos um do outro como
mostrado na figura 6.

Figura 7 - Tensões induzidas nos enrolamentos de um


alternador trifásico.

Para que haja circulação de correntes nos


enrolamentos, eles poderão ser conectados em delta ou,
geralmente, em estrela.
Nas máquinas reais, reafirma-se, os
enrolamentos são distribuídos ao longo da armadura de
tal modo que se obtenha uma forma de onda de tensão o
mais próximo possível da senoidal. Além disso, assim
como nos geradores monofásicos, pode-se ter vários
pólos conforme a velocidade básica da máquina primária.

4.0 - CONSIDERAÇÕES SOBRE TENSÕES


INDUZIDAS

4.1 - Distribuição de Fluxo

Denomina-se bobina a um conjunto de “N”


espiras em série. Se, por outro lado, a máquina possui “p”
pares de pólos e bobinas idênticas, as quais estão alojadas
sobre cada par de pólos na mesma posição em relação a
Figura 6 - Gerador trifásico elementar - enrolamentos eles, o enrolamento é dito concentrado. Este é o caso
concentrados. esquematizado na figura 6.
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Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 8
MÁQUINAS SÍNCRONAS

A distribuição do fluxo no entreferro da máquina


para um enrolamento concentrado é a mostrada na figura
8a, e para dois pólos consecutivos (um norte e um sul) na
figura 8b.

Figura 9 - Enrolamentos distribuídos.

Figura 8 - Distribuição de fluxo no entreferro. Verifica-se na figura 9 que o bobinado está


distribuído em duas ranhuras por fase e por pólo. O
Na figura 8 tem-se: enrolamento completo contém 8 bobinas, agrupadas aos
pares e cada duas estão deslocadas uma em relação a
“τ” - passo polar; outra.
“e” - tensão induzida; A figura 10 mostra a distribuição de fluxo para
1-1 - início - fim da bobina. um enrolamento distribuído e a forma de onda de tensão
obtida.
Para a situação da figura 8, a tensão deverá ter a
mesma forma de onda que a distribuição de fluxo
mostrada e, como se verifica, ela é alternada, mas não
senoidal. Portanto, contém harmônicos, que no caso,
serão múltiplos ímpares da freqüência fundamental.
Os geradores devem ser projetados para
fornecerem tensões cujas formas de onda sejam
basicamente senoidais, ou seja, contenham a menor
distorção possível. Observe-se que níveis elevados de
harmônicos podem causar vibrações, ruídos, perdas no
núcleo devido às altas freqüências presentes, bem como,
um acréscimo nas perdas por efeito Joule nos
enrolamentos do estator.
Os fabricantes de geradores utilizam
considerações especiais de projeto para minimizar a
influência destes harmônicos sobre a forma de onda
resultante. Além de um formato adequado dos pólos e Figura 10 - Distribuição de fluxo e forma de onda de
entreferros convenientes, adota-se medidas relacionadas tensão.
com os enrolamentos da armadura, os quais, como se
sabe, influem diretamente na tensão gerada. Note-se na figura 10 que existem “q” ranhuras
(no caso cinco) sofrendo a influência de um dos pólos.
Como a distância entre pólos (passo polar) é 180o
4.2 - Fator de Distribuição elétricos tem-se que o ângulo elétrico entre ranhuras é:

Uma das medidas citadas anteriormente é τ 180 o


executar um arranjo uniforme distribuído dos αe = = (5)
enrolamentos. Em outras palavras, tem-se que o número
q q
de espiras requeridas por par de pólo não e concentrado
em uma bobina, mas sim distribuída entre diversas No caso mostrado na figura 10,
bobinas conectadas em série e alojadas em “q” ranhuras.
A figura 9 ilustra o exposto. α e = 36 o elétricos (6)

________________________________________________________________________________
Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 9
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Como uma ranhura forma αe graus com a a unidade, já que a tensão induzida será menor que a de
ranhura seguinte, a tensão induzida na primeira estará um hipotético enrolamento concentrado.
defasada de αe da segunda. Sendo assim, a tensão total
será a soma fasorial (geométrica) destas tensões, como A resposta torna-se óbvia se for considerado que
explicitando na figura 11. os harmônicos de tensão também seguem as expressões
(7) e (8), ou seja:

Soma Geométrica Tensões p / um Dado Harmônico


kdv = (10)
Soma Aritmética Tensões p / um Dado Harmônico

kTOTV = k dv . EtcV (11)

onde:

Kdv - fator de distribuição para um harmônico de tensão


de ordem v;
ETOTV - soma geométrica das tensões para a “v-ésima”
freqüência múltipla da fundamental;
Figura 11 - Tensões induzidas.
ETCV - soma aritmética das tensões para a “v-ésima”
freqüência múltipla fundamental.
Se αe fosse nulo, a soma das tensões seria
aritmética (enrolamentos concentrado), o que fornece um
Assim, pela escolha adequada do fator de
valor de tensão maior, sendo assim, define-se “fator de
distribuição pode-se eliminar ou reduzir harmônicos de
distribuição” por:
tensão.
Quanto a este aspecto verifica-se que um número
Soma Geometrica das Tensões
kd = (7) de ranhuras fracionárias por pólo comporta-se melhor que
Soma Aritmetica das Tensões o inteiro.

Observe-se que a soma aritmética das tensões 4.3 - Fator de Passo


correspondente a “αe” nulo, ou seja, equivalente à tensão
induzida em enrolamento concentrado. Desta forma, O passo de uma bobina é a distância média em
resulta: graus elétricos, entre os seus dois lados. Quando o passo
de uma bobina é igual ao polar, tem-se o chamado “passo
E TOT =k d . ETC (8) pleno”, ou seja:

onde :

ETOT - tensão total induzida no enrolamento distribuído;


ETC - tensão total induzida no enrolamento concentrado,.

Note-se que, o fator de distribuição apenas é


afetado pelo número de ranhuras distribuídas sob um
dado pólo. O número de ranhuras, por outro lado, pode
ser fracionário. Pode-se dizer de forma bastante
generalizada, que máquinas de grande porte possuem
número de ranhuras fracionárias por pólo.
Pelo exposto, verifica-se que, obrigatoriamente,
tem-se:

0 ≤kd ≤1 (9)

A análise da expressão (9) leva a uma questão:


por que utilizar-se de um fator de distribuição menor que Figura 12 - Bobina de passo pleno.

________________________________________________________________________________
Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 10
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Se, y < τ , diz-se que a bobina possui “passo α m − graus mecânicos.


curto” ou “fracionário”.
A utilização de bobinas com passo fracionário é Portanto, para uma máquina com dois pares de
quase universal pois possui as seguintes vantagens sobre α e = 120 o elétricos, tem-se:
pólos e
as com passo pleno:
α 120
a) consegue-se economizar cobre na parte αm= e= = 60 o mecânicos (15)
inativa da bobina (cabeça da bobina); p 2
b) permite reduzir ou eliminar a distorção na
forma de onda de tensão causada por A bobina com passo fracionário,
harmônicos. obrigatoriamente, induzirá uma tensão menor que o passo
pleno, ou seja:

E TOT = k p . ETC (16)

onde:
kp - fator de passo.
Pelo exposto, verifica-se que:

0 ≥kp ≥1 (17)

Para os harmônicos de tensão, obtém-se:

ETOTV = kpv . ETCV (18)

onde:

Figura 13 - Bobina da armadura. kpv - fator de passo para um harmônico de tensão de


ordem v.
Se um enrolamento possui um passo de 2/3 isto Desta forma, pela escolha adequada do fator de
significa que os dois lados da bobina estão dispostos a passo pode-se eliminar ou reduzir harmônicos de tensão.
(2/3) 180o ou 120o elétricos. A figura 14 mostra uma
bobina de passo fracionário inserida na armadura de uma 4.4- F.E.M. induzida nos enrolamentos da armadura.
máquina com quatro pólos.
Chamando de “m” o número de fases de uma
máquina síncrona e que um enrolamento possua “Nb”
bobinas com “Ne” espiras, tem-se que o número total de
espiras em uma fase é:

Nb .N e
N= (19)
m

Assim, a tensão gerada por fase é dada por:

E = 4 ,44 .k p .kd .N . f .θ (20)

sendo:
f - freqüência [Hz]; e
θ - fluxo magnético [Wb/m2].
Figura 14 - Bobina de passo fracionário.
Para um harmônico de ordem “v”, tem-se:
Na figura 14, verificou-se que o ângulo
mecânico (ou físico) entre ambas as partes da bobina é de Ev =4 ,44.k pv .kdv .N . f v .θ v (21)
60o; isto se deve ao fato de que:
onde:
α e = p .α m (14)
fv - freqüência múltipla da fundamental [Hz];
θv - harmônico de fluxo magnético [Wb/m2].
onde:
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Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 11
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Observe-se que atuando-se adequadamente nos b) FIT - valor residual: é a medida das
fatores de passo e de distribuição é possível eliminar ou freqüências múltiplas do terceiro harmônico,
reduzir os níveis harmônicos de tensão, fazendo com que as quais não podem ser eliminadas pela
a forma de onda da tensão resultante se aproxime de uma transposição e são consideravelmente mais
senoide. indesejáveis que o balanceamento,
principalmente em sistema aterrado.
4.5. Formas de onda de tensão gerada
O FIT pode ser calculado por:
Como visto, os geradores devem ser projetados
para fornecerem tensões cujas formas de onda sejam
basicamente senoidais, ou seja, contenham a menor E12 τ 12 + E22 τ 22 +...+ Ev2 τ v2
FIT (%) = (24)
distorção possível. U
A distribuição harmônica pode ser definida
através de: onde:

n Ev - valor eficaz do harmônico da ordem “v” da tensão


∑ E v
2
de linha nos terminais da máquina;
FD = (22) U - valor eficaz da tensão de linha nos terminais;
E τv - fator de ponderação para a freqüência correspondente
ao harmônico de ordem “v”.
onde:

Ev - valor eficaz da componente harmônica de ordem


“v”, com v > 1; 5.0 - CONEXÕES DOS ENROLAMENTOS DA
E - valor eficaz da tensão incluindo a fundamental. ARMADURA

É possível utilizar-se outro fator para avaliar a Os enrolamentos da armadura da maioria dos
forma de onda gerada, denominado “fator de desvio geradores trifásicos são conectados em ligação estrela.
(FDv)”, ele é definido por (23). Por outro lado, geradores de pequeno porte permitem
religações de modo a poderem fornecer pelo menos duas
∆E tensões diferentes.
FD v = (23)
O enrolamento de cada fase é dividido em duas
EE
partes iguais. Se ligada as duas partes em série, cada uma
ficará submetida à metade da tensão gerada. Outrossim,
onde: executando a conexão em paralelo das duas partes, a
tensão dos enrolamentos será a metade da anterior. A
∆E - máximo desvio da forma de onda da tensão gerada figura 15 exemplifica.
em relação a uma onda de tensão senoidal equivalente;
EE - amplitude da senoide equivalente.

Por outro lado, uma das mais importantes


considerações em relação à forma de onda é o chamado
“fator de interferência telefônica (FIT)”. O FIT é medido
do efeito indutivo de um sistema de potência sobre
circuitos telefônicos próximos, o qual se traduz em ruídos
no aparelho receptor. Note-se que a audição humana não
é muito sensível a sons com freqüência de ressonância
usual de aparelhos telefônicos comuns.
Naturalmente, a forma de onda do gerador pode
causar o efeito descrito e o seu FIT deve ser determinado.
Existem dois tipos de FIT, ou seja:

a) FIT balanceado: o efeito citado pode ser


efetivamente neutralizado pela transposição
dos condutores de linhas e é o único tipo
presente em enrolamentos em delta; estrela
com neutro isolado ou máquinas com passo
de bobina de 2/3; Figura 15 - Ligação série-paralela.

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Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 12
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Naturalmente é possível executar a conexão 4) Quais são as aplicações dos motores síncronos? Idem
série paralela para a ligação delta. para os geradores.
Se desejado um terceiro nível de tensão,
intermediário entre os possíveis na conexão (por exemplo 5) Descreva o princípio de um gerador síncrono
380 [V], no caso da figura 15), é comum executar a monofásico.
conexão série e atuar no sistema de excitação da
máquina.
Observe-se que, em motores síncronos, ainda é
6) Defina os termos “Armadura” e “Excitação” em uma
máquina síncrona.
possível utilizar a conexão estrela-triângulo.

As características desta ligação são: 7) Explique por que as grandezas induzidas possuem
uma freqüência dada por pn/60.
a) Redução do custo do isolamento pois a
tensão na fase é 58% menor que as tensões 8) O que é roda polar?
nos terminais (linha). O número de espiras
por fase são 58% menor que na conexão 9) Dê três razões para que os geradores síncronos
delta para a mesma tensão; possuam armaduras estacionárias e pólos girantes.
b) Existência de neutro, o qual poderá ser
aterrado se desejado; 10) Os enrolamentos em um gerador síncrono são
c) Eliminação de eventuais terceiros concentrados ou distribuídos ao longo da armadura?
harmônicos das tensões de linha bem como Por que?
de seus múltiplos.
11) Descreva o princípio de funcionamento do gerador
Em alguns geradores trifásicos de pequeno porte trifásico.
é possível executar a conexão “zig-zag” para aplicações
em circuitos monofásicos. Este tipo de conexão é
12) Por que, em geral, os enrolamentos de um gerador
mostrado na figura 16.
síncrono trifásico estão conectados em estrela?

13) O que é um enrolamento concentrado? Por que a


máquina não deve ter esta forma de enrolamento?

14) O que é um enrolamento distribuído? Por que ele é


interessante?

15) Explique o que são os fatores de passo e de


distribuição.

16) O que significa dizer que uma bobina tem passo


fracionário?

17) O que são harmônicos?

Figura 16 - Conexão zig-zag. 18) Quais os problemas que eles causam?


Na conexão zig-zag, a potência de saída fica 19) Sendo a distribuição de fluxo na máquina alternada,
reduzida em 33% em relação a conexão estrela. mas não senoidal, o que se deve fazer para reduzir
os harmônicos da tensão gerada?

QUESTÕES 20) O que é fator de interferência telefônico (FIT)?


1) O que são máquinas síncronas? 21) Pesquise sobre os limites para o FIT e harmônicos de
tensão em um gerador síncrono?
2) O que é um motor síncrono? Idem para um gerador.
22) Explane, genericamente, como pode se conectar os
3) Em que eles se diferem? enrolamentos de um alternador trifásico.
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Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 13
MÁQUINAS SÍNCRONAS

23) Porque os enrolamentos da armadura da maioria dos 24) Há possibilidade de um mesmo conjunto de
geradores síncronos trifásicos são conectados em enrolamentos ser conectados para várias tensões?
ligação estrela Como?

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Capítulo 2: Princípio de Funcionamento dos Geradores Síncronos - 14
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 3: PARTES E ACESSÓRIOS DOS


GERADORES SÍNCRONOS
“O supérfluo é uma coisa muito necessária”

Voltaire

RESUMO

Apresenta-se a seguir as partes componentes das


máquinas síncronas, suas descrições e alguns dos
aspectos tecnológicos envolvidos em sua construção.

1.0 - INTRODUÇÃO

As máquinas elétricas rotativas, de uma forma


geral, possuem os seguintes componentes básicos:

a) Circuito magnético, o qual ë responsável


pela condução do fluxo magnético;
b) Enrolamentos da armadura (induzido), nos
quais são induzidas as tensões;
c) Enrolamento de campo, nos quais circulam
correntes que serão responsáveis pela criação
do campo magnético;
d) Componentes mecânicos, os quais podem ser
fixos, para suportar e proteger as partes
eletromagnéticas, e rotativos, para a
transmissão de energia;
e) Isolamento elétrico, composto de isolantes
sólidos (como papel e vernizes) e são
responsáveis pelo nível de tensão admissível
entre as diversas partes da máquina.

As partes fixas são denominadas genericamente


de "estator" e as móveis de "rotor".
Por outro lado, as máquinas síncronas
comerciais, na maioria absoluta dos casos, são
construídas com pólos girantes e armadura estacionária.
A título de ilustração do conjunto como um todo, Figura 1 - Gerador síncrono (Usina da REPI - Wenceslau
a figura 1 mostra um gerador síncrono desmontado. Brás/MG -IMBEL)

2.0 - CLASSIFICAÇÃO DOS GERADORES 2.2 - Quanto ao rotor


SÍNCRONOS
O rotor poderá possuir pólos salientes ou lisos
Não existe uma classificação normalizada dos (rotor cilíndrico)
geradores síncronos, porém é interessante do ponto de
vista técnico agrupá-los como segue: O primeiro tipo de gerador possui no rotor, pólos
magnéticos individuais e salientes, como mostra a figura
2.1 - Quanto ao Número de Fases
2. São acionados, na maioria das vezes, por turbinas
Eles podem ser monofásicos ou polifásicos hidráulicas (por exemplo, Francis, Pelton ou Kaplan) e o
(normalmente trifásico). seu rotor recebe o nome de roda polar.
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 15
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Figura 2 - Pólos salientes de uma máquina síncrona.


Figura 5 - Rotor de uma turbina Francis.
O gerador de pólos lisos possui o rotor com
forma cilíndrica, em cuja periferia o enrolamento de
campo é alojado em ranhuras. São projetados para
funcionarem em altas velocidades e recebem o nome de
“turbogeradores”. Em geral, são acionados por turbinas à
vapor, a gás ou por motores à explosão, como o Diesel.

1) anéis coletores; 2) anel de bandagem;


3) circuito magnético; 4) cunha não magnética;
5) ventilador; 6) eixo.

Figura 3 - Vista de um rotor com pólos lisos.


Em relação às máquinas primárias citadas, as
figuras 4, 5 e 6 mostram rotores de turbinas hidráulicas,
enquanto a figura 7, uma instalação com um turbogerador Figura 6 - Rotor de uma turbina Pelton.
(vapor) e a figura 8, grupos Diesel.

Figura 4 - Rotor de uma turbina Kaplan. Figura 7 - Instalação com turbogerador.


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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 16
MÁQUINAS SÍNCRONAS

2.4 - Quanto ao sistema de excitação

Podem ser excitados por uma fonte de energia


elétrica externa ou pela própria energia gerada
devidamente retificada (auto-excitada); assim, tem-se:

a) Excitatriz Rotativa: Em geral, um gerador de


corrente contínua acionado pelo eixo do gerador.
Neste caso tem-se “excitação própria”. Necessita de
escovas para alimentação de campo.

Figura 8 – Grupo Diesel


2.3 - Quanto à posição do eixo
Podem ter eixo vertical ou horizontal.
Os geradores acionados por máquinas primárias,
tais como Diesel, turbinas a vapor, a gás ou Pelton,
possuem eixo horizontal. Este também é o caso da
maioria dos grupos para pequenas centrais hidrelétricas,
como exemplificado na figura 9.

Figura 11 - Grupo de eixo horizontal e excitatriz rotativa

b) Excitatriz “Brushless”: Neste tipo de excitatriz, a


tensão de alimentação do campo é retificada por um
conversor rotativo localizado no eixo da máquina.
Somente pode ser considerada como excitação
independente se possuir um gerador de ímã
permanente de pólos fixos e armadura girante. Como
Figura 9 - Gerador de eixo horizontal (Usina São José - o próprio nome diz, não possui escovas para a
Divinópolis - MG) alimentação do campo.

Os geradores de médio e grande porte acionados


por turbinas hidráulicas, possuem eixo vertical, como o
mostrado na figura 10.

Figura 10 - Máquina síncrona de eixo vertical (Usina do


Figura 12 - Gerador Brushless Toshiba de 20 MVA.
Vigário - Barra do Piraí/RJ - LIGHT).
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 17
MÁQUINAS SÍNCRONAS

c) Auto-Regulado: a corrente de campo é proporcional à


corrente fornecida pelo alternador. Para que isto seja
possível, utiliza-se de transformadores de corrente e
ponte retificadora externa à maquina. Necessita de
escovas.

Figura 15 - Armadura, carcaça e enrolamentos de gerador


Siemens de 10 MVA (Hidrelétrica de Paranoá,).
3.1 - Carcaça
Figura 13 - Gerador Auto Regulado (Fabricação
A carcaça é a estrutura que suporta o núcleo do
Bambozzi)
estator é composta por chapas e perfis de aço.
Os esforços sobre carcaça são das mais variadas
d) Excitatriz Estática: A tensão de alimentação do
ordens podendo-se citar, principalmente, àqueles devido
campo provém de uma fonte independente do
ao conjugado atuando no sentido radial, ao peso morto do
alternador, sendo retificada por conversores
estator (incluindo-se aí, o peso do rotor e pressão da água,
estáticos. A alimentação do campo é feita através de
no caso das máquinas verticais), as forças magnéticas de
escovas.
arrasto e a expansão térmica.
Os estatores de máquinas horizontais de médio e
grande porte são ancorados e sustentados pelo chamado
"anel de base", o qual, por sua vez, se encontra ancorado
na estrutura de concreto armado e servem de apoio à
cruzeta inferior. Esta, por sua vez, é uma estrutura
metálica cuja função é servir de suporte adequado aos
mancais de escora e aos macacos hidráulicos de
levantamento do rotor (no caso de Itaipú, por exemplo),
bem como, servir de sustentação para rotor. Os esforços
citados anteriormente são transmitidos às fundações por
ambos os componentes descritos, os quais são mostrados
na figura 16.

Figura 14 - Painel de excitatriz estática.

3.0 - PARTES COMPONENTES DO ESTATOR Figura 16 - Anel de base e cruzeta inferior (Itaipú)
Fazem parte do estator: a carcaça da máquina, Na face externa da carcaça podem existir
os enrolamentos e o núcleo magnético da armadura, os trocadores de calor, conforme a potência da máquina. A
mancais e, eventualmente, as escovas para alimentação figura 17 mostra o corte em um radiador utilizado em
do campo. turbogeradores.
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 18
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Figura 17 - Corte de radiadores de turbogeradores


3.2 – Núcleo da Armadura
Normalmente montado com chapas de aço-
silício de alta permeância, visando reduzir as perdas por
histerese e Foucault. As chapas são prensadas através de
tirantes e fixas à carcaça por meio de apoio ou
parafusamento. O núcleo pode possuir canais de
ventilação e, em sua parte inferior, existem ranhuras no
sentido vertical para abrigar o enrolamento da armadura.

Figura 20 - Enrolamento Imbricado.

Para a escolha do tipo de enrolamento é decisivo


o número necessário de conexões ao circuito, bem como
o dimensionamento axial da cabeça do enrolamento.
Enrolamentos ondulados são utilizados
especialmente em máquinas com maior número de pólos,
pois, neste caso, o passo polar é, geralmente, pequeno e o
fato de se ter um maior dimensionamento axial da cabeça
do enrolamento do que em enrolamentos imbricados não
é de grande importância. Pelo contrário, a possibilidade
Figura 18 - Núcleo da armadura (Usina de Itaipú) de se reduzirem as conexões no circuito em enrolamentos
ondulados, garante vantagens construtivas consideráveis.
3.3 – Enrolamentos do Estator
Adicionalmente deve ser observado o fato de uma
Os enrolamentos da armadura são constituídos simplificação em máquinas, cujo enrolamento ondulado
por bobinas formadas por condutores inseridos nas possibilita circuitos em paralelo, sem anel de ligação.
ranhuras do núcleo e, normalmente, estão ligados em Para as máquinas com pequeno número de
estrela. pólos, onde normalmente o passo polar é grande, é
Os enrolamentos podem ser do tipo ondulado ou preferível utilizar o enrolamento imbricado. Aqui a
imbricado, conforme mostrado nas figuras 19 e 20, vantagem do menor dimensionamento axial da cabeça do
respectivamente. Nas figuras o rotor e a armadura estão enrolamento é mais importante que a desvantagem da
retificados. maior quantidade de conexões no circuito, sendo esta
correspondência, automaticamente, três vezes a
quantidade de pólos, em máquinas trifásicas.
As grandes máquinas usualmente utilizam
enrolamentos de barra em duas camadas, ou seja, cada
ranhura do estator contém duas barras.
Conforme [1], as barras de base (camada
inferior) e as barras acima destas (camadas superiores)
são inseridas na ranhura com um deslocamento de um
passo polar e ligadas uma à outra pelos seus lados
frontais.
Com esse arranjo e com a forma dada aos lados
frontais das barras forma-se um enrolamento com a
aparência de uma abobada. Essa forma é mais favorável
com respeito à configuração mecânica como também às
propriedades elétricas. A substituição de uma barra por
Figura 19 - Enrolamento Ondulado. uma de reserva é fácil, pois a maioria delas é idêntica.
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 19
MÁQUINAS SÍNCRONAS

O enrolamento de barras garante com suas Para dar consistência e estabilidade a essa
propriedades térmicas e mecânicas a máxima segurança formação de condutores, a barra é comprimida
de funcionamento. empregando-se uma prensa com aquecimento elétrico e
Curto-circuitos nas espiras ficam praticamente mantendo-se, assim, as dimensões invariáveis na zona de
excluídos, pois cada barra contém somente uma espira, e, ranhura. Os espaços ocos restantes nas curvaturas "S" são
assim, a isolação da espira é idêntica à isolação principal. preenchidos com uma massa especial.
A aplicação e o dimensionamento do enrolamento de As barras assim pré-tratadas são envolvidas com
duas camadas de barras é devido à intensidade de fita de mica em várias camadas, com meia-sobreposição
corrente do condutor. de maneira contínua sobre o lado frontal e de base da
As barras são construídas com numerosos barra.
condutores parciais de seção mínima, conforme mostrado A quantidade das camadas e, com isso, também
na figura 21, isolados um contra o outro e ligados em a espessura total do isolante, depende da tensão da
paralelo formando a chamada barra Roebel ilustrada na máquina.
figura 22. Em cima destas camadas coloca-se como
proteção mecânica uma camada de fita de mica reforçada
com fibra de vidro. As barras assim envolvidas devem
secar em uma estufa. Depois, em um tanque tipo
Autoclave, as barras são impregnadas a vácuo com
resina, a qual garante uma penetração perfeita na isolação
devido a sua baixa viscosidade. As barras impregnadas
são colocadas em moldes com dimensões determinadas, e
endurecidas em estufa a temperatura elevada [1].
No caso de grande quantidade de barras, as
mesmas são fixadas em grupos de moldes de
impregnação após o envolvimento com a fita de mica.
Posicionadas no molde, elas são impregnadas a vácuo
ainda com resina e endurecidas em estufa a alta
Figura 21 - Seção transversal de uma ranhura temperatura.
A isolação das barras Roebel corresponde à
classe de isolação F.
As barras são inseridas nas ranhuras,
empregando-se fitas de escorregamento e de enchimento.
A ranhura é fechada com uma cunha e entre as barras
superiores e inferiores são colocados separadores.
Cada barra é inserida numa caixa em forma de
"U", de material semicondutor [1]. Entre a caixa e a barra
Figura 22 - Barra Roebel (com condutores parciais é aplicada, se necessário, uma camada de massa de resina
transpostos). condutiva seca a frio.
Esta impede, através do assentamento da caixa
Na barra Roebel, os condutores parciais são, sem tolerância, o deslocamento da barra e garante uma
geralmente, posicionados em duas camadas vizinhas, na fixação mecânica das barras com o núcleo do estator,
direção da largura da ranhura. devido à formação de um ressalto (uma borda côncava)
Ainda conforme [1], a transposição dos da massa nos canais de ventilação do núcleo [1].
condutores parciais é feita de tal modo que todos eles
passem, no percurso do comprimento do núcleo, em cada Em máquinas com tensão nominal superior a 5
posição possível dentro da altura da barra. Tal formação kV, as barras são completamente isoladas e possuem em
garante um fluxo transversal na ranhura suas superfícies, dentro da ranhura, uma camada de
aproximadamente igual para cada condutor parcial. verniz condutivo para a proteção externa contra corona.
Assim, a corrente se distribui uniformemente pelos Essa isolação impede, juntamente com a caixa condutiva
condutores parciais e as perdas adicionais são causadas em "U" e a massa de resina, eventuais diferenças de
pelos condutores parciais e aquelas causadas pelo tensão e com isso a descarga elétrica de corona entre a
deslocamento da corrente na ranhura, são muito barra e a face da ranhura. Além disso, as barras de
reduzidas. máquinas com tensão nominal superior a 7,5 kV recebem
Os condutores parciais são continuamente na região externa da ranhura, uma camada semi-
isolados, dentro da ranhura e na cabeça do enrolamento. condutiva (proteção contra corona nas extremidades), a
Nas curvaturas em "S", como afirma [1], a qual serve para controle do fluxo eletrostático do campo
isolação dos condutores é reforçada com peças de tecido no local da passagem da face da ranhura para superfície
de mica. frontal da barra.
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 20
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Em máquinas síncronas de médio porte, A figura 25 mostra tais componentes para um


usualmente, os enrolamentos são montados com a dos geradores da Usina de Itaipú.
bobinas pré-formadas. Dependendo do passo polar,
alguma deformação não pode ser evitada durante a sua
instalação nas ranhuras da armadura. De forma a prevenir
eventuais danos ao isolamento das bobinas, elas são
isoladas com fitas de mica seca, inseridas nas ranhuras e
ligada. Após este procedimento, o estator completo é
impregnado a vácuo com resina epóxi isenta de solventes
e finalmente endurecido (curado). Esse método é
conhecido por Micadur-completo na denominação da
ABB ou impregnação total Micalist para Siemens ou o
ainda, Tostinght II, para a Toshiba.
A figura 23 mostra as ranhuras, núcleo, cunhas e
enrolamentos de uma máquina sendo montada.

Figura 25 - Roda polar - Usina de Itaipú (Siemens).

Normalmente, o anel magnético é construído


com chapas lisas de aço, empilhadas e aparafusadas
juntas de modo a formar uma estrutura sólida tal que o
comprimento radial do entreferro varie uniforme e
consistentemente com o aumento ou diminuição da
velocidade do rotor na faixa de zero até a velocidade de
disparo.
A aranha, por sua vez, consiste em um cabo
fundido, forjado ou soldado com braços conectados, os
quais podem ser desaparafusados ou soldados conforme
Figura 23 - Armadura de máquina.
as limitações de transporte.
4.0 - PARTES COMPONENTES DO ROTOR O eixo, normalmente, é de aço forjado, usinado e
tratado termicamente.
4.1 - Máquinas com Pólos Salientes
Em máquinas de pólos salientes de médio porte,
o rotor é composto, basicamente, pelas partes
relacionadas na figura 24.

Figura 26 - Eixo inferior (Usina de Itaipú).

4.2 - Pólos Salientes


1 - Cubo do rotor; 2 - Aranha; 3 - Pólos; 4 - Eixo; 5 - Enrolamento de campo;
6 e 7 - Enrolamento amortecedor. Os pólos podem ser sólidos ou laminados
Figura 24 - Roda polar de uma máquina de pólos dependendo dos esforços mecânicos e do tipo de
salientes operação da máquina.
________________________________________________________________________________
Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 21
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Os pólos sólidos apresentam uma baixa


resistência elétrica e, assim, proporcionam a circulação de
correntes parasitas (existentes devido aos harmônicos de
fluxo) com valores relativamente altos. Desta forma,
atuam como o enrolamento gaiola de um motor de
indução, quando da eventualidade de condições de
operação assíncrona. Por outro lado, os pólos laminados
limitam as correntes parasitas e, em conseqüência,
também o seu efeito de amortecimento. Neste caso, é
necessário empregar-se um enrolamento amortecedor
para a requerida estabilidade de operação.

Figura 29 - Pólos com encaixe do tipo rabo de andorinha


(destaque)

A figura 30 mostra um corte transversal rotor de


pólos salientes onde a sua fixação é do tipo cabeça de
martelo". Em algumas máquinas de menor porte e
concepção mais antiga é possível encontrar-se
Figura 27 - Pólos salientes sólidos. cantoneiras para a fixação dos pólos.
O método de fixação dos pólos à aranha do rotor
depende dos esforços causados pela força centrífuga
desenvolvida em sobrevelocidade máxima ou na
velocidade de disparo. Para as máquinas de médio e
grande porte é comum usar-se pólos que podem ser
retirados axialmente e que são encaixados em rasgos par
denominados no jargão técnico por "cabeça de martelo" e
"rabo de andorinha".
A figura 28 mostra uma roda polar pronta para a
colocação dos pólos e a figura 29, os mesmos já
instalados em um encaixe do tipo "rabo de andorinha".

1 - Pólos; 2 - Cunhas; 3 - Colar isolante; 4 - Isolamento do corpo do pólo; 5 -


Condutores do enrolamento de campo; 6 - isolamento entre espiras; 7 e 8 -
Enrolamento amortecedor; 9 - Barra de interligação entre enrolamentos
amortecedores; 10 - Cabeça de martelo.

Figura 30 - Pólos com encaixe do tipo "cabeça de


martelo".

Em máquinas pequenas todos os componentes


são montados em uma única peça.
As bobinas e cada pólo são interligados entre si
de tal forma que haja um Norte e um Sul intercalados. O
conjunto todo compõe o enrolamento de campo, o qual é
conectado à anéis coletores (excetuam-se as máquinas
"brushless").
Figura 28 - Roda polar preparada para receber os pólos As figuras 31 e 32, mostram, respectivamente, a
(Usina de Itaipú) interligação dos pólos e os anéis coletores.
________________________________________________________________________________
Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 22
MÁQUINAS SÍNCRONAS

4.3 - Enrolamentos amortecedores

É prática comum prover os geradores acionados


por turbinas hidráulicas com enrolamento amortecedor.
Ele oferece as seguintes características
operativas:
a) Redução das sobretensões induzidas no
enrolamento do campo pelos surtos de tensão
que atingem o enrolamento do estator e pelas
condições desequilibradas no estator, tais
como falha em uma bobina;
b) Redução das sobretensões no enrolamento do
estator causadas por falhas desequilibradas
na máquina, particularmente em máquinas
Figura 31 - Interligação dos pólos. ligadas à capacitâncias, tais como linhas de
transmissão;
c) Redução efetiva na oscilação da saída do
gerador ocasionalmente experimentada em
máquinas ligadas às suas cargas através de
circuitos com alta resistência;
d) Pequena ajuda à estabilidade do sistema pela
redução da magnitude das oscilações do rotor
da máquina;
e) Mantêm a operação com carga assimétrica, se
necessário;
f ) Permite a partida da máquina, como motor de
indução.
As várias barras do enrolamento amortecedor
(cilíndricas ou perfiladas) são conectadas entre si,
formando o que se denomina por grade. As grades podem
ser descontínuas ou contínuas como as mostradas nas
figuras 34 e 35.
Figura 32 - Anéis coletores e escovas.
Em algumas máquinas é possível encontrar-se
um anel coletor adicional no eixo, de forma a aterrá-lo e
evitar que correntes indesejáveis surgidas de eventuais
desequilíbrios magnéticos circulem pelos mancais. A
figura 33 ilustra o exposto.

Figura 34 - Enrolamento amortecedor em grade contínua.

Figura 33 - Anel para aterramento do eixo Figura 35 - Detalhe do enrolamento amortecedor.


________________________________________________________________________________
Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 23
MÁQUINAS SÍNCRONAS

As grades descontínuas são mais utilizadas


devido à sua simplicidade mecânica e por permitir a
remoção do campo de um pólo só, sem as interferências
que ocorreriam caso a grade fosse contínua. Este último
tipo é utilizado, em geral, em motores síncronos ou em
máquinas de usinas reversíveis.

4.4 - Maquinas com pólos lisos Figura 37 - Tipos de ranhuras em máquinas com pólos
lisos
A figura 36 representa o corte longitudinal de
A análise da figura 37 permite concluir que
um turbogerador.
existe uma região (cerca de um terço do intervalo polar)
que propicia o efeito de pólo. Além disto, é fácil
verificar-se que o entreferro ao longo da periferia do rotor
varia muito pouco.
No lado acoplado, o rotor apresenta um assento
para mancal e pode ser equipado com uma flange para
acoplamento e, ainda, com um ventilador axial.
No lado acoplado, encontra-se um assento para
mancal, normalmente um ventilador axial empregado, os
anéis coletores e a excitatriz, como ilustra a figura 38.
Evidentemente esta descrição não é válida para as
máquinas brushless.

1 - Rotor cilíndrico; 2 - Carcaça do estator com câmara de ar; 3 - Pacote de chapas


do estator; 4 - Cabeça das bobinas do enrolamento estatórico; 5 - Cobertura dos
enrolamentos; 6 - Placas defletoras de ar ; 7 - Terminais do estator; 8 - Mancais;
9 - Excitatriz; 10 - Canal de ar quente; 11 - Resfriadores de ar; 12 - Canal de ar
frio.

Figura 36 - Corte longitudinal de um turbogerador


Figura 38 - Anéis coletores e mancal de um turbogerador.
As máquinas de pólos lisos possuem, na maioria
5.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos casos, apenas um par de pólos (excepcionalmente,
dois pares) e, assim, são bastante rápidas. Note-se que, Os hidrogeradores de grande porte ainda
em turbogeradores bipolares de grande porte, é possível apresentam uma cruzeta superior como a da figura 39.
ter-se velocidades periféricas da ordem de 150 a 170 m/s
ou de 100 a 125 m/s nas tetrapolares.
Naturalmente, as forças centrífugas
desenvolvidas à estas velocidades resultam em grandes
esforços mecânicos em certas partes do rotor, tornando-se
necessário que ele possua uma estrutura do tipo
monobloco e que o aço empregado seja mais resistente
(em grandes máquinas utiliza-se o cromo-níquel-
mobidileno).
Os enrolamentos de campo e os amortecedores
são acomodados em ranhuras longitudinais, fresadas ao
longo de todo o comprimento ativo do rotor. Tais
ranhuras podem ser radiais ou paralelas, como ilustrado
na figura 37. Figura 39 - Cruzeta superior (Usina de Itaipú)
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 24
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Note-se que a cruzeta consiste em uma estrutura


metálica, na qual os braços tangenciam o anel central que
envolve o eixo superior do gerador e que está fortemente
aparafusada no concreto e no próprio estator. Aloja, em
seu centro, os mancais de guia superiores e serve de apoio
para os anéis coletores.
A título ilustrativo, as figuras 40 a 43 mostram
algumas das etapas para a montagem de uma das
máquinas da Usina de Itaipú

Figura 43 - Máquina montada.

QUESTÕES
1) Quais são os componentes básicos de um gerador?

2) Descreva suas funções.

3) Classifique os geradores quanto:


a) ao número de fases;
b) ao rotor;
c) a posição do eixo;
d) ao sistema de excitação.
Figura 40 - Rotor sendo içado pela ponte rolante.
4) Em relação aos tipos construtivos de rotores utilizados
em geradores síncronos, pergunta-se:
a) quais os fatores básicos que determinam a escolha
do tipo construtivo?;
b) como é possível distinguir-se entre os tipos
construtivos com base na aparência geral?

5) Em relação à posição do eixo do gerador diga, de uma


maneira geral, quais são as máquinas primárias.

6) Descreva, em linhas gerais, o que são as excitatrizes


rotativas e "brushless"

7) O que é uma excitatriz estática?


Figura 41 - Transporte do rotor para o poço do estator. 8) O que são geradores auto-regulados?

9) Quais são as partes componentes do estator?

10) Descreva suas funções e como são constituídas.

11 ) Quais o tipos de enrolamentos da armadura?

12) Em linhas gerais, quais são os critérios para a escolha


de um determinado tipo de enrolamento?

13) Porque as grandes máquinas, usualmente, utilizam


enrolamentos de barra em duas camadas, ou seja, cada
ranhura do estator contém duas barras?

14) O que é barra Roebel? Porque é interessante a sua


Figura 42 - Assentamento do rotor. utilização?
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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 25
MÁQUINAS SÍNCRONAS

15) Quais são as partes componentes do rotor de uma 24) Porque os turbogeradores são máquinas rápidas?
máquina de pólos salientes? Quais suas funções?
25) Quais as conseqüências deste fato?
16) Quais são os tipos de fixação dos pólos salientes na
roda polar? 26) Como são acomodados os enrolamentos
amortecedores e de campo em um turbogerador?
17) O que é enrolamento de campo?
27) Mostre, ilustrando através de um desenho, que o
18) O que são anéis coletores? Eles estão presentes em entreferro varia muito pouco ao longo da periferia do
todas as máquinas síncronas? rotor em máquinas de pólos lisos.

19) Porque em algumas máquinas utiliza-se um anel 28) O que é cruzeta superior?
coletor adicional no eixo?
29) Pesquise sobre os mancais de geradores de pólos
20) 0 que são enrolamentos amortecedores? salientes e de pólos lisos.

21) Quais as suas características operativas? 30) Pesquise sobre as máquinas primárias hidráulicas e a
vapor.
22) Quais os seus tipos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
23) As máquinas de pólos salientes maciços,
normalmente, não utilizam enrolamentos amortecedores. [1] - Siemens S/A - "Enrolamento do Estator - Barras.
Explique o porque deste f ato. Grupo Construtivo N0 2600" - Informativo Técnico.

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Capítulo 3: Partes Componentes dos Geradores Síncronos - 26
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 4: CARACTERÍSTICAS E EQUAÇÕES


DOS GERADORES SÍNCRONOS
“Todas as coisas são difíceis até se tornarem fáceis”
Thomas Fuller

RESUMO
Este texto analisa as diversas características
elétricas dos geradores síncronos em regime permanente.
As cargas são consideradas equilibradas.
1.0 - OPERAÇÃO EM VAZIO
Na operação em vazio, supondo a velocidade de
acionamento constante, a tensão de armadura é igual à
induzida nos enrolamentos e depende apenas do fluxo
magnético gerado pelos pólos, ou seja, em última análise,
da corrente de excitação que circula pelo enrolamento de
campo. Nestas condições, o fluxo principal está livre de
eventuais alterações introduzidas pela corrente de carga.
Assim, pode-se relacionar a tensão induzida e a corrente Figura 2 - Característica em vazio para velocidades
de excitação através da denominada característica em diferentes.
vazio, exemplificada na figura 1. Naturalmente, as curvas são válidas para uma
determinada velocidade, ou seja, alterando-se a
velocidade há a mudança na característica em vazio da
máquina.
Normalmente, em máquinas trifásicas, estas
características são obtidas por fase.

2.0 - CARACTERÍSTICA EM CURTO-CIRCUITO


PERMANENTE
A característica em curto-circuito mostra a
relação entre a corrente de armadura, quando de um
curto-circuito trifásico em seus terminais, e a de
excitação, conforme se verifica na figura 3.

Figura 1 - Característica em vazio. Exemplo para


máquinas de pólos lisos e salientes.

Por outro lado, observe-se na figura 2 que o


relacionamento entre tensão induzida e corrente de
excitação é praticamente linear até o ponto em que
houver saturação. Figura 3 - Característica em curto-circuito.
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 27
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Naturalmente, para a obtenção da citada 4.0 - OPERAÇÃO EM CARGA - REAÇÃO DA


característica, a excitação deve ser incrementada ARMADURA
lentamente até que a corrente da armadura assuma
4.1 - Considerações Gerais
valores admissíveis pela máquina. Deve-se observar que,
em uma certa faixa, a corrente de curto-circuito Ao se conectar uma carga aos terminais de um
independe da velocidade de giro da máquina primária. gerador síncrono em vazio, estabelece-se uma circulação
de corrente no sistema formado pela máquina e carga.
3.0 - RELAÇÃO DE CURTO-CIRCUITO (RCC)
Esta corrente cria um campo magnético ao fluir pelos
Define-se “relação de curto-circuito (RCC)” ao condutores que formam os enrolamentos da armadura,
quociente da divisão do valor da corrente de campo que conforme mostra a figura 4.
produz a tensão de armadura nominal em vazio com
velocidade nominal e a corrente de campo requerida para
produzir a corrente nominal de armadura com velocidade
nominal, quando a máquina opera em curto-circuito, ou
seja:
io
RCC = (1)
in
Para se entender a importância da relação de
curto-circuito, considere-se duas máquinas com as
mesmas características nominais e relações de curto-
circuito diferentes. Em termos de operação, supondo-se
que haja uma determinada mudança na carga (ou seja, na
corrente de armadura), a máquina com a relação de curto-
Figura 4 - Campo criado pela corrente de armadura.
circuito menor requer uma mudança maior e mais rápida
da corrente de campo para se adaptar à nova situação. Em Este efeito é denominado “reação da armadura”
outras palavras, a RCC pode ser considerada como uma e depende da relação de fase existente entre tensão e
medida da estabilidade da máquina ou de sensibilidade à corrente e, portanto, do fator de potência da carga.
mudança de cargas (seja ela real ou uma falta). A figura 5 é a representação esquemática do
Desta forma, a máquina com menor Rcc requer rotor e armadura (sem núcleo e com um condutor por
um sistema de excitação mais confiável, sensível e capaz ranhura) de uma máquina considerada como ideal (ou
de executar grandes alterações na corrente de campo. seja, sem quedas de tensão internas).
Ambas as máquinas diferem fisicamente, pois a A figura 5 fornece o sentido das correntes de
de maior RCC emprega uma quantidade maior de cargas resistivas, indutiva e capacitiva puras em relação à
material em suas partes elétricas e magnéticas. tensão induzida em vazio.
Naturalmente, o invólucro e partes estruturais também
mudam e, então, pelo exposto, o custo de uma máquina se
altera coma relação de curto-circuito.
De uma forma geral, comparando-se ambos os
geradores, tem-se que o de maior RCC:
a) é maior fisicamente, pesa e custa mais;
b) as correntes de curto-circuito assumem níveis
elevados (portanto, a impedância síncrona é
menor);
c) a relação entre as correntes de campo, as
quais fornecem a tensão de armadura
nominal em vazio e em plena carga, são
maiores;
d) há um pequeno incremento das perdas devido
ao maior tamanho da máquina, bem como,
melhores condições de dissipação de calor;
e) é mais saturada, permitindo uma regulação
de tensão melhor.
A relação de curto-circuito varia de 0,8 a 1,5
para os hidrogeradores e de 0,4 a 0,6 nos turbogeradores,
aproximadamente. Figura 5 - Reação da armadura
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 28
MÁQUINAS SÍNCRONAS

4.2 - Reação de armadura para cargas resistivas. De forma a facilitar a análise, é possível utilizar-
se da notação fasorial para representar as diversas
Nas máquinas reais, se a corrente de armadura grandezas. Note-se que a f.e.m induzida E está atrasada
está em fase com a f.e.m induzida, o fator de potência nos de 90o do fluxo principal e, desta forma tem-se a situação
terminais do gerador será um pouco inferior à unidade. mostrada na figura 8.
Por outro lado, considerando-se a máquina como ideal,
pode-se dizer que o fator de potência é unitário (carga
resistiva) e conforme ser verifica na figura 5, tem-se que
cada condutor produz um fluxo com os sentidos
mostrados; naturalmente, há a interação entre eles,
resultando em um único, como representado na figura 6.
Observe-se que o fluxo de reação de armadura
(φRA) é máximo na região interpolar e está atrasado de 90o
do principal (φ) no entreferro.
É possível imaginar a situação mostrada como
dois conjuntos de pólos girantes, sendo um deles
responsável pela criação do fluxo principal (φ) e, outro,
pelo fluxo de reação de armadura, conforme
esquematizado na figura 7.
O fluxo de reação de armadura e o principal
sempre giram à mesma velocidade e no mesmo sentido,
conforme será analisado em tópico posterior. Figura 8 - Diagrama fasorial - carga resistiva.

Na figura 8, tem-se:

IA - corrente de armadura;
φR - fluxo resultante;
ERA - tensão induzida por φRA;
ER - tensão resultante.

Verifica-se que a reação de armadura para a


carga resistiva tende a distorcer o campo principal.

4.3 - Reação da Armadura para Cargas Indutivas


Figura 6 - Reação da armadura – carga resistiva pura.
Nesta caso, considera-se uma máquina ideal, a
corrente está atrasada de 90o da tensão gerada.
Analisando-se a figura 5, verifica-se que cada condutor
produz um fluxo, resultando em um único, cuja direção é
a mesma do principal. A figura 9 representa a reação de
armadura para esta carga.

Figura 9 - Reação de armadura - carga indutiva.


Observe-se na figura 9, que o fluxo de reação da
Figura 7 - Representação esquemática de reação da
armadura (φRA) produz como resultado um
armadura.
enfraquecimento do fluxo magnético no entreferro. Um
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Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 29
MÁQUINAS SÍNCRONAS

aumento de carga indutiva provoca uma desmagnetização 4.4 - Reação da Armadura - Carga Capacitiva
maior da máquina e a f.e.m induzida decresce; para
compensar este efeito é necessário aumentar a excitação Considerando-se uma máquina ideal, a corrente
da máquina. está adiantada de 90o da tensão gerada. Analisando-se a
Para controlar, de forma automática, a corrente figura 5, verifica-se que cada condutor produz um fluxo,
de excitação utiliza-se um “regulador de tensão”. Os resultando em um único, cuja direção é a mesma do
reguladores agem no sentido de: principal. A figura 12 representa a reação da armadura
para esta carga.
a) incrementar a corrente de excitação quando a carga
indutiva é aumentada nos terminais da máquina;
b) reduzir a corrente de excitação quando a carga
indutiva é diminuída nos terminais da máquina.

Observe-se que a atuação do regulador será


fundamental para assegurar uma tensão adequada nos
terminais da máquina.
Representando-se a reação da armadura por
pólos girantes tem-se a situação na figura 10 a seguir.

Figura 12 - Reação da armadura - carga capacitiva.

Observe-se na figura 12, que o fluxo de reação


da armadura produz como resultado um fortalecimento do
fluxo magnético no entreferro; em outras palavras, a
reação da armadura possui um efeito magnetizante,
resultando em um aumento na f.e.m induzida. De forma a
manter a tensão nos terminais da máquina em um valor
determinado, o regulador deve agir no sentido de:

a) diminuir a excitação, se a carga capacitiva


aumenta;
b) aumentar a excitação, se a carga capacitiva
Figura 10 - Representação esquemática da reação da diminui.
armadura - carga indutiva.
Representando-se a reação da armadura por
O fluxo principal e o de reação da armadura pólos girantes tem-se a situação mostrada na figura 13.
sempre giram à mesma velocidade e no mesmo sentido,
obrigatoriamente.
A figura 11 fornece o diagrama fasorial das
grandezas analisadas.

Figura 13 - Representação esquemática da reação da


Figura 11 - Diagrama fasorial - carga indutiva. armadura - carga capacitiva.
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Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 30
MÁQUINAS SÍNCRONAS

A figura 14 fornece o diagrama fasorial das


grandezas analisadas.

Figura 15 - Diagrama fasorial - carga genérica.


Figura 14 - Diagrama fasorial - carga capacitiva.
Na figura 15, denomina-se o eixo polar de
“direto” ou “d” e o interpolar de “eixo em quadratura” ou
4.5 - Reação da Armadura - Geradores Trifásicos
eixo “q”. Assim, os diversos fluxos magnéticos podem
ser analisados conforme os eixos, ou seja:
Sabe-se que corrente alternada circulando por
um condutor cria um campo magnético igualmente a) φ - fluxo principal - (eixo d);
alternado; se, entretanto, tem-se três enrolamentos b) φd - parcela do fluxo resultante
montados a 120o elétricos, percorridos por correntes responsável pela tensão gerada pela máquina
defasadas de 120o uma da outra, há a criação de um - (eixo d);
campo girante, cuja velocidade é igual à síncrona. Isto é o
que ocorre com um gerador trifásico pois os seus
c) φRA(d) - responsável pelo efeito
magnetizante ou desmagnetizante da reação
enrolamentos são montados como descrito. Esta situação
da armadura (eixo d); associa-se às parcelas
é a “reação da armadura” para os geradores trifásicos.
indutivas e capacitivas das cargas;
Pode-se provar que se forem conectadas cargas
resistivas, indutivas ou capacitivas equilibradas nos d) φRA(q) ou φq - responsável pela
terminais do gerador, os efeitos da reação da armadura tendência de distorcer o fluxo magnético
são os mesmos para cada fase considerada principal; está associado à parcela resistiva
individualmente. das cargas (eixo q);
e) φRA - fluxo de reação da armadura,
resultante de φRA(d) e φq;
4.6 - Considerações Finais f) φR - fluxo resultante na máquina.

Resumindo os efeitos da reação de armadura,


tem-se que para: 5.0 - REATÂNCIAS DA MÁQUINA
5.1 - Reatância de Reação da Armadura
a) carga resistiva: o fluxo de reação da
armadura distorce o principal; Como visto no tópico anterior, a existência da
b) carga indutiva: o fluxo de reação da reação da armadura, obrigatoriamente, causa quedas na
armadura causa um efeito desmagnetizante, tensão gerada, já que a existência de fluxo concatenado
opondo-se ao principal; (ou seja, Nφ) está associado com o conceito de
c) carga capacitiva: o fluxo de reação da indutância. Uma indutância percorrida por corrente
armadura causa um efeito magnetizante, alternada (a qual, causa o citado fluxo concatenado) age
adicionando-se ao principal. como uma reatância e portanto surge uma queda de
tensão.
Por outro lado, como visto anteriormente, φRA
Para cargas intermediárias, o fluxo de reação da pode ser decomposto em φRA(d) e φq e, por outro lado,
armadura é a resultante dos vários efeitos em conjunto. A sabe-se que a corrente de armadura IA é responsável pelo
figura 15 mostra o diagrama fasorial para uma carga seu surgimento. Assim, é possível imaginar que existam
intermediária genérica. duas correntes que produzem estas componentes, ou seja:
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Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 31
MÁQUINAS SÍNCRONAS

a) componente da corrente de armadura no eixo . . .


direto (Id), responsável por φRA(d); ∆ U a = j ( X ad .I d + X aq .I q ) (8)
b) componente da corrente de armadura no eixo
em quadratura (Id), responsável por φq. 5.2 - Reatâncias de Dispersão

Baseando-se na figura 15, tem-se: Quando a corrente de carga circula pelos


. . . condutores da armadura dá origem a um fluxo magnético,
φ RA = φ d + φ q (2) o qual envolve os condutores. Uma de suas parcelas
produz o efeito de reação da armadura e, a outra,
então: extravia-se. Como os condutores estão alojados em
. . . ranhuras e, estas, estão circundadas por um circuito
I A =I d + I q (3) magnético de baixa relutância, a quantidade de fluxo
extraviado, ou de dispersão, assume níveis relativamente
O diagrama fasorial da expressão (3) é o dado altos.
na figura 16. As linhas de dispersão correm de uma parede a
outra das ranhuras, de cabeça de um dente para a outra e
ao redor das cabeças de bobina, como mostra a figura 17.

Figura 16 - Diagrama fasorial de correntes - reação de


armadura nos eixos d e q, respectivamente.

Desta forma, é razoável imaginar uma reatância Figura 17 - Fluxo de dispersão.


em cada eixo, bem como queda de tensão respectiva, ou
seja: Como se observa, o fluxo de dispersão é
. . composto de várias parcelas e é diretamente proporcional
∆ U ad = j X ad .I d (4) à corrente que percorre os enrolamentos da armadura.
. . Observe-se que este fluxo induz uma força contra
∆ U aq = jX aq .I q (5) eletromotriz nos enrolamentos (auto-indução), o qual,
naturalmente, causa uma queda da tensão gerada pelo
campo principal, dada por:
onde:
. . . .
∆ U ad e ∆ U aq − quedas de tensão devido à reação ∆U l = j X l .I A (9)
de armadura nos eixos d e q, respectivamente;
onde:
X ad , X aq − reatâncias de reação da armadura nos ∆Ul - queda de tensão por reatância da armadura;
eixos d e q, respectivamente. Xl - reatância de dispersão ou da armadura;
IA - corrente de armadura.
Portanto, a queda de tensão total devido à reação
de armadura é: Pelo exposto, a corrente ao circular nos
enrolamentos não apenas encontra uma resistência
. . . elétrica, mas também uma reatância.
∆ U a = ∆ U ad + ∆ U aq (6)
5.3. Reatâncias de eixo direto e em quadratura

ou, A queda de tensão devido à dispersão, graças à


sua dependência da corrente de armadura, pode ser
. . . subdividida em duas parcelas, uma no eixo direto e outra
∆ U a = j X ad .I d + j X aq .I q (7) no em quadratura, ou seja:
. . .
ou, ainda: ∆ U l = j X l (I d + I q ) (10)

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Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 32
MÁQUINAS SÍNCRONAS

ou a) Para máquina de pólos salientes:


. . . X d > Xq (21)
∆U l = j X l I d + j X l I q (11)
b) Para máquinas de pólos lisos:
ou ainda,
Xd ≅ Xq (22)
. . .
∆ U l = ∆U ld + j ∆U lq (12) 5.4 - Outras considerações

então, pode-se definir a queda total de tensão devido às Para geradores com pólos lisos considera-se
reatâncias no eixo direto (∆Ud) e em quadratura (∆Uq) como reatância síncrona (Xs).
por: Xs = Xd = Xq (23)
. . .
e, assim, a máquina pode ser representada por uma única
∆ U d = ∆ U ad + ∆ U ld (13) impedância.
A queda de tensão interna da máquina é, desta
e forma, ditada por:
. . .
∆ U q = ∆ U aq + ∆ U lq (14)
Z S = R A2 + X S2 (24)
Assim:
onde RA (ou RS) é a resistência elétrica da armadura (por
. . . fase).
∆ U d = j X ad I d + j X l I d (15)
Ocorre que, em geral,
e
. . .
XS >> RA (25)
∆ U q = j X aq I q + j X l I q (16)
Portanto, para todos efeitos práticos, com
exceção de análises relativas à perdas por efeito Joule,
De onde: tem-se:
. . ZS = XS (26)
∆ U d = j ( X ad + X l ) I d (17) Por outro lado, para a máquina de pólos
salientes, tal representação é aproximada. Observe-se
e que, neste caso, poderão haver diferenças significativas
. . no ângulo de fase da tensão gerada. Outrossim, no que se
∆ U q = j ( X aq + X l ) I q (18) refere às relações entre tensão terminal, corrente de
armadura, potência e excitação, sobre a faixa de
Sendo assim, define-se reatância síncrona de funcionamento normal, é possível adotar que:
eixo direto (Xd) e de eixo em quadratura (Xq) através de: X S = Xd (27)

X d = X ad + X l (19) Observe-se que, entretanto, que se a excitação é


pequena, as diferenças entre esta suposição e a real
tornam-se importantes.
X q = X aq + X l (20) Baseando-se no exposto, algumas normas (entre
elas a NBR 5052, da ABNT), indicam que a reatância de
eixo direto (Xd) pode ser calculada a partir das
Neste ponto, é necessário uma distribuição entre características em vazio e em curto, mostradas na figura
máquinas com pólos lisos e com salientes. No caso das de 18 por conveniência.
pólos lisos, a relutâncias dos eixos d e q são Considerando-se a figura 18, tem-se que a
aproximadamente iguais, pois o entreferro é constante ao reatância de eixo direto será:
longo da periferia do rotor, em termos práticos;
AB
entretanto, nas máquinas de pólos salientes, este varia de
X d = ____
forma significativa e as reatâncias possuirão valores (28)
distintos. Sendo assim, tem-se que: BC
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 33
MÁQUINAS SÍNCRONAS

duas reações de Blondel”, o qual inicialmente a propôs.


A idéia principal deste procedimento é evitar o efeito do
posicionamento do rotor relativamente ao estator sobre as
indutâncias correspondentes às coordenadas de fase.
Assim, através de uma transformação obtém-se as
indutâncias nos eixos “d” e “q” (o processo matemático é
chamado de “transformada de Park”). A figura 20 ilustra
o exposto.

Figura 18 - Obtenção da reatância síncrona a partir das


características em vazio.

As barras são as grandezas nominais da máquina


e X d é dada em “pu” (por unidade).
Observe-se na figura 18 que a reatância foi
obtida a partir da linha do entreferro e, portanto, não
saturada. Isto se deve ao fato de que a reatância depende
do grau de saturação da máquina e esta, quando em
regime permanente, das condições de operação, tornando
impossível definir um dado valor para as reatâncias
saturadas; as reatâncias não saturadas, pelo contrário, são
constantes.
A figura 19 ajuda esclarecer o exposto.

Figura 19 - Característica Z S = f (i ex )
É interessante notar que X d e a relação de
curto-circuito guardam uma certa proporcionalidade; ou
seja, baseando-se na figura 18, tem-se:
1 in
RCC = . (29) Figura 20 - Conceituação da transformação das
X d i 02 coordenadas de fase para os eixos “d” e “q”.
Se a máquina não é saturada:
Os eixos “dq” giram à velocidade síncrona.
1
RCC = (30)
Xd 6.0 - EQUAÇÕES E DIAGRAMAS FASORIAIS

5.5 - Conclusões Considerando-se que existem quedas de tensão


no eixo direto e em quadratura, bem como pela passagem
A decomposição dos fluxos de reação de de corrente pelos enrolamentos do estator, tem-se que a
armadura e de dispersão nos eixos diretos e em relação entre a tensão induzida (E), tensão terminal (U),
quadratura é conhecida no meio técnico por “teoria das respectivas quedas de tensão é:
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 34
MÁQUINAS SÍNCRONAS

. . . . A construção do diagrama fasorial é possível a


E =U + RA I A + ∆ U (31) partir da medição das grandezas U, IA e ϕ, conhecendo-se
Xd e Xq (obtidas através de ensaios específicos) e,
ou considerando-se que:
. . . . .
E =U + RA I A + j X d I d + j X q I d (32)
 U I A ( R A sen ϕ + Xq cos ϕ ) 
δ = tq −1   (36)
Observe-se que a expressão (32) é válida para U + I A ( R A cos ϕ + Xq sen ϕ ) 
geradores mono e trifásicos. Para estes, entretanto, as
tensões a serem utilizadas devem ser as de fase. Por outro lado, multiplicando-se o dividendo e
divisor pela tensão terminal U, obtém-se:
Utilizando-se de (17), (18), (19) e (20) e após
alguma manipulação, resulta:  U I ( R sen ϕ + Xq cos ϕ ) 
. . . .
E = U + RA I A + j Xq I A + j( X d − X q )I q
.
(33) δ = tq −1  2 A A  (37)
U + I A ( R A cos ϕ + Xq sen ϕ ) 
Note-se que, se a máquina for de pólos lisos, Como a potência ativa (P) e a reativa (Q) de uma
tem-se: fase são dadas por:
. . . .
E q =U + RA I A + j X q I A (34)
P = U I A cosϕ (38)

ou seja, (34) fornece a tensão induzida, ou ainda, o


e
posicionamento do eixo “q”, relativamente à tensão
terminal. Assim, para o gerador de pólos salientes:
. . . Q = U I A sen ϕ (39)
E = E q + j( X d − X q )I d (35)

Desta forma, é possível traçar o diagrama resulta:


fasorial correspondente a (32) como mostrado na figura
21, sendo este conhecido por “Diagrama de Blondell”.  R A .Q + X q P 
δ = tq −1  2  (40)
Considerando-se a tensão terminal na referência U + R A P + X q Q 
por facilidade de análise, obtém-se o ângulo de fase “δ”
da tensão gerada. Normalmente, este recebe o nome de Entretanto, sabe-se que:
“ângulo de carga ou de potência”, e possui papel
importante no desempenho da máquina, conforme Xq >> RA (41)
analisado posteriormente.
então

 X q .P 
δ ≅ tq −1  2  (42)
U + X q Q 

A corrente de eixo direto (Id) é dada por:

.
I d = I d ∠ϕ δ (43)

onde:

I d = I A sen( ϕ + δ ) (44)

Figura 21 - Diagrama fasorial (diagrama de Blondell) e


sem escalas, para um gerador síncrono com carga
genérica - tensão terminal na referência, pólos salientes. ϕ d = 90 o − δ (45)

________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 35
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Se necessário, a corrente de eixo em quadratura Pelo exposto, para uma certa velocidade, a
pode ser calculada por: potência máxima é determinada pelos valores de “ l ”,
por considerações mecânicas e pela necessidade de
. refrigeração eficiente.
I q = I q ∠ϕ q (46) Ainda, da expressão (49), tem-se:

sendo: S
= K d2 l (50)
n
.
I q = I A cos( ϕ + δ ) (47) De (50) resulta que, a menos da constante K, a
relação S/n representa as dimensões da máquina. Desta
forma, pode-se avaliar o tamanho e o grau de dificuldade
e
encontrado para o projeto, fabricação e montagem de um
gerador. Note-se que quanto maior for o quociente, maior
ϕ q =δ (48) será a máquina. Assim, para uma certa potência, quanto
mais rápida for a máquina, menor será o seu tamanho e
custo.
Para um gerador de pólos lisos, a construção do Por outro lado, a potência aparente (S)
diagrama fasorial é mais simples já que a tensão induzida disponível nos terminais de um gerador pode ser
pode ser calculada por (34). A figura 22 fornece um calculada em função da tensão e da corrente através de:
exemplo.
S = m U IA (51)

onde:

m = 1, para geradores monofásicos;


m = 3, para geradores síncronos;
U- tensão terminal [V];
IA - corrente de armadura, [A].
Observe-se que a potência nominal de um gerador é a
potência elétrica aparente nos terminais expressa em
Volt-Ampère [VA] ou múltiplos, acompanhada da
indicação do fator de potência; assim, tem-se:
Figura 22 - Diagrama fasorial – Gerador de pólos lisos.
SN = UN IAN (52)

7.0 - POTÊNCIAS É bastante comum que o fator de potência citado


possua o valor 0,8 indutivo.
7.1 - Considerações Gerais Naturalmente, a potência ativa é dada por:

Em função de suas dimensões, a potência dos P = mU I A cosϕ = S cosϕ (53)


geradores síncronos trifásicos poderá ser calculada,
aproximadamente, por: e a reativa por:

S = Kd2 l n (49) Q = m I A sen ϕ = S sen ϕ (54)

onde: 7.2 - Características angulares de um gerador


síncrono
Em alguns estudos é interessante exprimir a
S - potência aparente do gerador[KVA]; potência em função das grandezas que caracterizam a
d - diâmetro interior da armadura [cm]; ação das causas exteriores sobre o regime de
n-- velocidade angular [rpm]; funcionamento do enrolamento da armadura; em outras
K - constante que depende do circuito magnético palavras, pode-se representar a potência da máquina em
e das unidades das diversas grandezas presentes; função de:
l - comprimento do circuito da armadura [cm]. a) Tensão terminal U;
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 36
MÁQUINAS SÍNCRONAS

b) Tensão E, induzida pela corrente de No caso da tensão terminal, da freqüência e da


excitação no enrolamento da armadura; excitação (e, conseqüência, E) se mantiverem constantes,
c) Ângulo de carga δ. tem-se a relação denominada característica angular da
máquina, ou seja:
O ângulo de carga δ, conforme analisado
anteriormente, é o resultado da medida do defasamento P = f (δ ) (60)
entre U e E. Sendo assim, quando o gerador alimenta uma
carga que exija uma determinada parcela de potência A figura 24 mostra um exemplo da forma da
ativa, tem-se: característica angular de uma máquina síncrona.

δ > 0 (55)

Por outro lado, se a máquina opera em vazio,


tem-se:

U = E (56)
δ = 0 (57)

Desta forma, pode-se concluir que o ângulo de


carga muda conforme a corrente de armadura e o fator de
potência da carga, causando um deslocamento do fluxo
principal em relação ao que surge em vazio. Neste
aspecto, pode-se considerar que o acoplamento magnético
entre estator e rotor é similar à ação de uma mola,
conforme esclarece a figura 23.
Figura 24 - Característica angular - Exemplo.

A potência transmitida do rotor para a armadura


(potência eletromagnética) desenvolvida pela máquina
síncrona (P) pode ser calculada por:

P = Pd + Pq (61)

onde:
Pd - potência desenvolvida no eixo direto;
Pq - idem, para eixo em quadratura.

Assim, considerando-se as equações de tensão


do gerador, a expressão (5) e após alguma manipulação
algébrica, resulta:

m EU sen δ m 2U 1 1
P= + ( − ) sen 2δ (62)
Xd 2 Xq Xd

O primeiro termo da expressão (62) fornece a


componente fundamental da potência do gerador, ou seja:
Figura 23 - Ângulo de carga de um gerador síncrono.
m EU sen δ
P= (63)
Pelo exposto, as grandezas enumeradas Xd
determinam completamente o funcionamento do
enrolamento da armadura e, assim, a potência da máquina
O segundo termo fornece a componente
é dada por:
adicional, a qual surge devido a diferença de relutância
do entreferro e não depende da excitação da máquina, ou
P = f (E , U , ϕ ) (59) seja:
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 37
MÁQUINAS SÍNCRONAS

mU 1 1 Para as máquinas de pólos salientes, tem-se para


P= ( − ) sen 2δ (64) a mesma situação:
2 Xq Xd
δ < 90o (70)
Observe-se que, mesmo não havendo excitação,
um gerador de pólos salientes pode desenvolver potência, O ângulo de carga, no qual é fornecida a máxima
pois é capaz de girar em sincronismo e desenvolver um potência, é o limite de operação estável do gerador.
conjugado motor (denominado torque ou conjugado de Por outro lado, a potência reativa pode ser
relutância); isto é possível devido à tendência do fluxo de expressa, para máquinas de pólos salientes, por:
reação da armadura atravessar o rotor através de um
caminho de relutância mínima, ou seja, o eixo transversal. mU ( E − U cos δ ) sen δ 2
Q= cos δ − mU 2 (71)
Naturalmente, em uma máquina de pólos lisos,
Xd Xq
tem-se:

PR = 0 (65) Assim, para as máquinas de pólos lisos:

pois: mU
Q= ( E cos δ −U ) (72)
X d = Xq (66) Xd

Assim, a potência ativa é dada por: 7.3 - Coordenação tensão - potência

Não há, propriamente, nas diversas normas


m EU internacionais, uma padronização dos níveis de tensão em
P= sen δ (67) função da potência, mas recomendações como a mostrada
Xd
na tabela 1, oriunda da NBR 5117/84.
A figura 25 procura ilustrar o exposto. TENSÃO NOMINAL (LINHA) MÁXIMA POTÊNCIA
[KV] NOMINAL [KVA]
2 < UN • 3,3 100
3,3 < UN • 6,6 200

Tabela 1 - Limite de potência nominal máxima, conforme


a NBR 5117/84.

A tabela 1 apresenta valores em desacordo com


a realidade prática e, da forma como foi estabelecida na
norma, é incompreensível. Em geral, as tensões utilizadas
são as fornecidas na tabela 2.

TENSÃO DE LINHA TENSÕES DE LINHA


CONFORME NEMA UTILIZADAS NO BRASIL
1.22.13 [V] [V]
208 - 240 220
- 380
Curva A - potência adicional devido a diferença de relutância;
Curva B - potência fundamental; 480 440 - 460 - 480
Curva C - potência eletromagnética transmitida. 600 não é usual
2400 2160 - 2200 - 2300 -
Figura 25 - Características angulares do gerador síncrono. 2400
4160 3300
Nota-se que a potência máxima possível de ser
4800 4160
fornecida por geradores de pólos lisos se dá para:
6900 não é usual
13800 13800
δ = 90o (68)
Tabela 2 - Tensões nominais (linha) usuais de geradores
e assim:
síncronos.
EU
P = Pmax = m (69) Por outro lado, há a tendência de utilização das
Xd potências e tensões conforme estabelece a tabela 3.
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 38
MÁQUINAS SÍNCRONAS

TENSÃO DE LINHA [V] POTÊNCIA [KVA]


110 a 380 Até 20
210 a 480 20 a 500
380 a 4160 500 a 2000
2160 a 13800 2000 a 5000
13800 e acima 5000 e acima

Tabela 3 - Coordenação Tensão - Potência

8.0 - CURVAS CARACTERÍSTICAS DO GERADOR

As características de funcionamento do gerador Figura 27 - Característica de regulação - aspectos típicos.


fornecem o seu comportamento em face de diversas
situações operacionais. As que apresentam interesses Pode-se, ainda, relacionar-se as correntes de
práticos são: armadura e de excitação através da chamada “curva V”;
neste caso, a potência fornecida é adotada como
a) Características externa; parâmetro. A figura 28 ilustra.
b) Característica de carga;
c) Característica de regulação.
A característica externa fornece a relação U =
f(IA) para a corrente de excitação e freqüência constantes.
A figura 26 mostra as curvas típicas para um gerador
genérico.

Figura 28 - Curva “V” de um gerador.

A característica em carga (ou de excitação)


fornece a relação U = f(iex) para a corrente de armadura,
freqüência e fator de potência da carga constantes. A
figura 29 mostra o aspecto das características em carga
Figura 26 - Característica externa de um gerador síncrono para vários valores de cosϕ.
- Exemplo.

Observe-se que as curvas da figura 26 mostram


os efeitos da reação da armadura na tensão terminal.

Naturalmente, é conveniente que a tensão


terminal se mantenha constante em qualquer condição
operacional e, assim, o regulador de tensão deve agir na
corrente de excitação em função da carga. Nestas
condições, é interessante verificar como se relacionam
ambas as correntes, estando o fator de potência como
parâmetro, o que pode ser feito através da chamada
“característica de regulação”. A figura 27 apresenta os
seus aspectos típicos. Figura 29 - Características em carga ou de excitação

________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 39
MÁQUINAS SÍNCRONAS

A característica para cosϕ = 0, ϕ = 90o 10) Mostre, explicitando detalhadamente, os efeitos da


indutivos, assume grande importância prática, pois reação da armadura para:
permite a determinação da reatância de Pointer. a) Cargas resistivas;
b) Cargas puramente indutivas;
9.0 - REGULAÇÃO DE TENSÃO c) Cargas puramente capacitivas;
d) Carga R-L;
A regulação é definida como a variação da e) Carga R-C.
tensão terminal quando da aplicação de plena carga ao
gerador operando em vazio, mantendo-se a corrente de 11) Como deve agir o regulador de tensão em presença
campo e velocidade constantes; é calculada em valores de cargas indutivas? Idem, para cargas capacitivas.
por fase, ou seja:
E − UN 12) O que são os eixos direto e em quadratura?
Re g % = . 100 (73)
UN
13) Como se manifesta a reação da armadura em
geradores síncronos trifásicos?
A regulação de tensão inerente de um gerador
depende da elevação de temperatura admissível e de
fatores de projeto, os quais também determinam a sua 14) Quais os fluxos associados com os eixos citados e
relação de curto-circuito. Por outro lado, outros fatores quais suas funções?
influem de maneira decisiva, tais como saturação,
reatâncias transitórias, resposta do regulador de 15) O que é reatância de dispersão?
velocidade e da excitatriz, bem como, da ação do
regulador de tensão. 16) Idem, para reatância de reação de armadura.

17) Idem, para reatância síncrona de eixo direto e em


QUESTÕES TEÓRICAS quadratura.

1) O que é e como obter a característica em vazio de um 18) Qual é a relação entre ambas as reatâncias para as
gerador síncrono? máquinas de pólos salientes e de pólos lisos?

2) Quais os cuidados práticos necessários a se adotar, 19) O que são reatâncias e impedâncias síncronas?
quando de sua obtenção?
20) Como pode ser obtida a reatância Xd?
3) O que é a linha do entreferro?
21) Como varia a reatância síncrona em função da
4) O que acontece com a curva de saturação quando se excitação?
altera a velocidade do grupo gerador? Mostre.
22) Como se relaciona Xd e RCC?
5) O que é a característica em curto-circuito de um
gerador síncrono? Como obtê-la? Por que ela é uma 23) Escreva a expressão que relaciona a tensão gerada e
reta? a terminal por fase, incluindo os fatores que são
responsáveis pela diferença entre elas, para:
6) Mostre que, em uma certa faixa, a corrente de curto- a) Máquinas de pólos lisos;
circuito independe da velocidade de giro da máquina b) Máquinas de pólos salientes.
primária.
24) Desenhe os diagramas fasoriais (máquinas de pólos
7) O que é e qual a importância da relação de curto- lisos) mostrando a relação entre U e E para cargas
circuito? Como é possível obtê-la? Quais os seus com:
valores típicos? a) Fator de potência unitário;
b) Fator de potência indutivo;
8) Suponha duas máquinas com mesmas características, c) Fator de potência capacitivo.
porém, com relação de curto-circuito diferentes.
Compare-se, relativamente à de maior RCC. 25) Idem, para máquinas de pólos salientes.

9) O que é reação de armadura em um gerador síncrono? 26) O que é ângulo de carga?


________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 40
MÁQUINAS SÍNCRONAS

27) Conhecendo-se o ângulo de carga, mostre como é b) Em termos físicos (magnetização e


possível calcular Xq. desmagnetização das máquinas, devido a
espécie de carga conectada às máquinas) o
28) Como é possível calcular a corrente Id? por quê da atuação dos relés.

29) O que são características externa, de carga e de Obs.: As máquinas estavam com os reguladores
regulação? Desenhe seus aspectos típicos. automáticos de tensão bloqueados.

30) Defina regulação de tensão de um gerador síncrono. 7) Os ensaios em vazio e em curto-circuito em uma
máquina síncrona de pólos lisos e potência nominal de
45 KVA, 220 V, ligada em Y, 2 pólos, 60 Hz,
31) Sob que condições de carga é possível para um apresentarem os seguintes resultados:
gerador síncrono possuir regulação nula?

QUESTÕES NUMÉRICAS Corrente de Campo [A] 2,29* 2,84


F.E.M.(E) [V] 202* 220
1) Em um gerador trifásico de pólos lisos, ligação Y, Corrente de armadura 228* 152
2400 V entre fases, 2500 KVA, f.p. = 0,9, a perda por
efeitos Joule na armadura, com I = IN e f = fN, é de Os valores marcados com (*) correspondem à
26,7 KW. Para que a regulação seja de no máximo parede linear da curva de saturação. Nesta situação,
23%, quanto deve valer RA e Xd? pede-se:

2) Um gerador trifásico de rotor cilíndrico, 1500 KVA, a) Qual é o valor da reatância de eixo direto (Xd),
6,6 KV, em Y, f.p. = 0,8, tem RA = 1,5 Ω e Xd = 18 quando iex = 2,20 A e quando iex = 2,84 A.
Ω, ambos por fase. b) Há diferenças? Por que?
Pede-se: Obs.: Desprezar a resistência da armadura.
a) IN; b) Reg%.
8) Um gerador síncrono de pólos salientes, ligação Y,
3) O gerador do exercício anterior continua com a apresenta os seguintes dados nominais:
mesma excitação e a mesma corrente de armadura SN = 500 [KVA]; fn = 60 [Hz]; X d = 11
, [pu];
porém o fator de potência da carga muda para 0,8
capacitivo. Quanto vale agora a tensão nos terminais X q = 0,85 [pu]; Un = 4160 [V].
da máquina?
Pede-se:
4) Calcular a regulação de tensão de um alternador 8.1) A corrente da armadura nas condições nominais.
trifásico de 2,3 KV, 1000 KVA, Y, f.p. = 0,8 (corrente
em atraso), sabendo-se que RA% = 5% e Xd% =
90%.
8.2) A corrente de eixo direto e de eixo em quadratura,
sabendo-se que o fator de potência da carga é 0,8.
5) Um gerador trifásico, conexão Y, rotor cilíndrico,
possui Xd = 2 Ω e alimenta uma carga a qual solicita 8.3) Trace o diagrama fasorial para esta condição.
100 A em atraso e fator de potência 0,8. A tensão nos
seus terminais é de 2,4 KV. 8.4) Se houver um acréscimo de 10% de potência
A entrada de vapor para a turbina que aciona o ativa, especifique um banco de capacitores para que a
alternador é reduzida de tal forma que a potência potência total não ultrapasse a nominal do gerador.
fornecida caia em 10%. Ao mesmo tempo E é
reduzido em 5%. Calcular a nova corrente na 8.5) Nas condições anteriores, o ângulo de carga se
armadura e o novo fator de potência. altera? Mostre.

6) Em determinada usina, verificou-se a atuação dos 8.6) Considere-se, agora, que o aumento de 10% da
relés de sobretensão, devido as máquinas de tal usina potência ativa foi efetivado e que o banco de
alimentarem uma longa linha de transmissão a vazio capacitores e o regulador de tensão não estavam
(que tem características predominantes capacitivas). ligados. O que aconteceu com a tensão? Mostre.
Pede-se:
a) Em um diagrama fasorial mostre o que 9) Suponha que o diagrama unifilar simplificado de uma
ocorre no interior de uma das máquinas instalação industrial que contém geração própria é a
(incluindo os fluxos magnéticos). dada na figura, onde tem-se:
________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 41
MÁQUINAS SÍNCRONAS

c) Supondo-se que devido a um defeito, as


cargas foram iradas pela proteção, embora
sejam prioritárias. Supondo-se que o banco
de capacitores estava conectado ao sistema e
os reguladores do alternador encontrava-se
bloqueados, o que ocorreu? Mostre em
termos de diagrama fasorial e regulação. O
alternador se encontrava na situação descrita
em “b”.

d) Se os reguladores estivessem atuando, o que


teria ocorrido na situação descrita em “c”?
Mostre em termos de diagrama fasorial.

10) Seja um sistema de geração de uma instalação


industrial, como o mostrado na figura 31.

Figura 30 – Diagrama unifilar da concessionária

a) D1, D2, D3 Disjuntores;

b) BC - Banco de capacitores em ligação


estrela, cuja finalidade é a correção do fator
de potência da instalação quando esta é
alimentada pela geração própria;

c) As cargas prioritárias possuem potência de


1200 KVA e cosψ = 0,7;

d) T1 e T2 - Transformadores.

Suponha apenas a geração própria em operação, assim:


Figura 31 – Diagrama unifilar da concessionária
a) Utilizando-se de aparelhos de medida, você
executou os ajustes necessários para que o Na figura, tem-se:
gerador fornecesse o exigido pelas cargas
prioritárias, porém estando o banco de a) D1, D2, D3, D4 - Disjuntores;
capacitores desligado. Nesta condição, pode- b) T1 - Transformador.
se o diagrama fasorial do gerador e a
Se as cargas diversas assumem, em um determinado
regulação.
instante, a potência de 6 MW e 8 MVAR, pergunta-se:
b) Se o banco de capacitores é conectado, o a) O gerador próprio consegue suprir esta carga?
fator de potência da instalação assume o b) Nestas condições, o que ocorre com o gerador e o
valor de 0,8. Nestas condições qual é o novo sistema?
diagrama fasorial e regulação. O regulador
de tensão estava em operação. Considerar D4 aberto.

________________________________________________________________________________
Capítulo 4: Características e Equações dos Geradores Síncronos- 42
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 5: PARALELISMO DE GERADORES


“Quando não se pode derrotar, fica-se sócio”

Ulisses Guimarães

RESUMO Observe-se que o uso de geradores em série só


se justificaria se a tensão de alimentação da carga for
Este capítulo analisa as condições básicas para a superior à fornecida por apenas uma unidade; no entanto,
colocação de geradores síncronos em paralelo. a utilização de transformadores soluciona este problema.
Além disto, tal conexão não é estável.
1.0 - INTRODUÇÃO 2.0 - CONDIÇÕES PARA O PARALELISMO
Como se sabe, o comportamento das cargas nas Os geradores síncronos ligados em paralelo a
redes elétricas é bastante dinâmica e, desta forma, é uma rede comum devem possuir exatamente a mesma
necessário que o sistema de geração atende tais variações freqüência, ou seja, devem girar em sincronismo. Isto
ao longo do tempo. Nesta sentido, torna-se conveniente a implica que devem fazê-lo à mesma velocidade, já que a
colocação de duas ou mais unidades em paralelo, pois: freqüência também depende do número de pólos; em
outras palavras, é necessário que as máquinas
a) Com apenas um grupo em operação, muitas desenvolvam uma velocidade tal que resulte em uma
vezes o gerador funcionará fora das suas mesma freqüência em todas as unidades em paralelo.
características ótimas e, assim, o rendimento do Observe-se que, as máquinas primárias, por si
conjunto será baixo; só, não conseguem manter sua velocidade absolutamente
b) A utilização de apenas um gerador, o qual constante, para que a freqüência fique igualmente
forneça toda a potência de uma central, é de constante. Como na operação em paralelo são possíveis
difícil fabricação (impossível, em grande parte oscilações de velocidade ou pendulares, a manutenção
dos casos); deste estado deve-se à existência de um conjugado
c) Nas condições anteriores, a ocorrência de um sincronizante. Assim, a operação estável implica em um
problema qualquer, leva à perda total da ponto comum de funcionamento, determinado por todas
geração; as máquinas que se encontram em paralelo; entretanto,
existem limites para que o conjugado sincronizante torne
d) Pelos mesmos motivos, é impossível a parada do
a operação estável.
grupo para executar atividades de manutenção.
Pelo exposto, a colocação de um novo gerador
em paralelo é uma das situações mais importantes nestas
Desta forma, a operação em paralelo de
condições operacionais; para que isto seja possível sem
geradores apresenta como vantagens:
quaisquer danos à máquina ou ao sistema é necessário
atender vários quesitos fundamentais.
a) Aumento da confiabilidade, pois, em caso de Na realidade, todos elas são condições para
problemas com um gerador, as cargas serão evitar que haja corrente de circulação pela malha formada
alimentadas pelas unidades restantes (em pelos geradores que estão em paralelo e o que está
algumas instalações que empregam a auto- entrando. A figura `ajuda na compreensão do problema.
produção poderá ser necessário rejeitar as cargas
menos prioritárias);
b) Há uma maior facilidade de se estabelecer
programas adequados de manutenção das
máquinas, pois é possível manter-se unidades
como reserva;
c) Como a carga total é dividida entre várias
máquinas, os seus tamanhos e custos são
menores, bem como, o transporte fica facilitado;
d) A operação das máquinas pode ser otimizada em
função do comportamento da carga e da fonte de
energia primária, ou seja, é possível sempre
estabelecer um rendimento ótimo para condições
específicas. Figura 1 - Geradores monofásicos em paralelo.
________________________________________________________________________________
Capítulo 5: Paralelismo de Geradores- 43
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Na figura 1 estão representados dois geradores A figura 2 ilustra situações nas quais pelo menos
monofásicos, porém a análise efetuada a seguir é válida uma destas condições não é atendida.
também para os trifásicos.
Supondo-se que, por um motivo qualquer:
. .
E1 ≠ E2 (1)
resulta:
. .
. E1 − E 2
I CIR = . .
(2)
Z 1 +Z 2
Note-se que a corrente de circulação existirá,
independentemente da presença de cargas; como a malha
formada pelas armaduras das duas máquinas possui uma
baixa impedância, o nível da corrente será elevado e
dependente da diferença das forças eletromotrizes de
ambos os geradores.
A tensão U no ponto de interligação entre ambas
é:
. . . .
U = E 1 − Z 1 I CIRC (3)
ou
. . . .
U = E 2 − Z 2 I CIRC (4)
Como a resistência das máquinas são muito
menores que as reatâncias, verifica-se que a corrente de
circulação será predominante indutiva; desta forma, para
o gerador G1, a reação de armadura tende a causar um
efeito desmagnetizante e magnetizante para o G2. Isto, Figura 2 - Formas de onda de dois geradores a serem
naturalmente, implica em dizer-se que G1 está agindo ligados em paralelo.
como gerador e G2 como motor.
Os conjugados sincronizantes tendem a agir no A análise da figura 2 é bastante clara, ou seja, se
sentido de compensar estas diferenças, produzindo qualquer uma das condições fundamentais não for
esforços excessivos no eixo das máquinas podendo obedecida, haverá diferença de potencial entre as fases
danificá-las (há casos em que o conjugado resultante é correspondentes resultando em corrente de circulação.
superior ao causado por um curto-circuito trifásico
brusco).
Além desta situação desfavorável, a corrente de 3.0 - MÉTODOS PARA O SINCRONISMO
circulação resultará em sobreaquecimento nos Como visto, para a colocação de um gerador em
enrolamentos dos geradores. paralelo com uma rede deve-se obedecer várias
Desta forma, para evitar a citada corrente de condições, de forma que não surja uma corrente de
circulação é necessário que a tensão gerada pela máquina circulação; pelo exposto, é conveniente que o gerador
seja rigorosamente igual ao do sistema ao que será esteja “flutuando” em relação ao sistema, ou seja, não
acoplada em paralelo. Como as tensões são alternadas, fornecendo e nem recebendo energia.
vários fatores estão envolvidos; de modo mais específico, Das condições apresentadas, o quesito “mesma
é necessário que as tensões geradas pela máquina, em forma de onda”, no máximo, será executado como ensaio
relação às do sistema, possuam: de comissionamento do gerador (analisando-se, por
a) A mesma forma de onda; exemplo a distorção harmônica e o FIT), já que as
b) A mesma freqüência; técnicas de projeto e construção tornam a forma de onda
de saída basicamente senoidal. Por outro lado, a
c) O mesmo valor eficaz;
seqüência de fases é verificada quando da montagem da
d) A mesma seqüência de fase (máquinas instalação, podendo-se utilizar-se um seqüencimetro para
trifásicas); e, tanto. Desta forma, em termos práticos, apenas as três
e) Defasagem nula entre as respectivas ondas de condições restantes são avaliadas a cada vez em que se
tensão. executa o paralelismo.
________________________________________________________________________________
Capítulo 5: Paralelismo de Geradores- 44
MÁQUINAS SÍNCRONAS

As tensões e freqüências são avaliadas através de sistema de produção de pulsos cuja largura é proporcional
voltímetros e frequencímetros, sendo comum o emprego à freqüência e sua amplitude, à tensão. A quantidade de
de aparelho de dupla escala (comparadores). Uma das pulsos é contada a intervalos definidos e um sistema
escalas informará a respectiva grandeza correspondente comparador define o momento exato de fechamento do
ao sistema e, em seguida, a da máquina que está sendo paralelismo. É claro que, neste caso, há a possibilidade de
ligada em paralelo (quando se tem vários geradores, o sincronização automática. Os relés podem ser
sinais podem ser comutados de uma máquina para outra). empregados também para o sincronismo manual,
O ajuste das tensões é feito pela atuação na liberando o disjuntor de paralelismo apenas no momento
excitação, enquanto o de freqüência, na máquina em que todas as condições forem atendidas. A figura 4
primária. ilustra o princípio de funcionamento do sistema.
Finalmente, a verificação do defasamento nulo
entre as tensões (ou seja, do sincronismo) é feita, na
maioria dos casos, através de um instrumento
denominado “sincronoscópio”.
Tais equipamentos, em geral, são monofásicos e
possuem um ponteiro ligado a um rotor. O seu estator é
composto de duas bobinas, as quais recebem sinais de
tensão do barramento e da máquina que se deseja
sincronizar; desta forma, o ponteiro gira com uma
velocidade proporcional à freqüência resultante de ambas
as tensões e no sentido determinado pela maior
freqüência. Assim, o ponteiro indica a defasagem entre as
grandezas.
Note-se que, quando as freqüências de ambos os
sinais são iguais, o ponteiro alinha-se em um aposição Figura 4 - Relé de sincronismo.
pré-determinada (ou seja, o “zero” do instrumento),
conhecido no jargão técnico por “mosca”; esta situação é Existem outros métodos, inclusive utilizando-se
o momento exato de fechar-se o paralelismo. A figura 3 simples lâmpadas. O mais conhecido é o chamado “fogo
mostra o instrumento instalado na chamada “coluna de girante”, onde estão presentes três lâmpadas ligadas duas
sincronismo”, onde também se encontram o voltímetro e à fases trocadas e, a terceira, à fase de mesmo nome. A
o frequencímetro citados. figura 5 esclarece.

Figura 5 - Método do “fogo girante”.

Note-se que, quando as tensões correspondentes


da máquina e do sistema estiverem exatamente em fase,
as lâmpadas das fases trocadas acenderão (defasamento
de 120o entre elas), enquanto a terceira lâmpada estará
apagada. Neste instante, deve-se fechar o paralelismo.
Figura 3 - Coluna de sincronismo. O método é chamado de “fogo-girante” devido
ao fato de que as lâmpadas são acesas seqüencial e
Atualmente, é possível empregar-se alternadamente, dando a impressão de que a luz caminha.
sincronoscópios digitais (ou relés de sincronismo), os Na figura 5, se a freqüência do gerador for superior ao do
quais de forma bastante simplificada , possuem um barramento, as lâmpadas acenderão na seqüência L1 - L2
________________________________________________________________________________
Capítulo 5: Paralelismo de Geradores- 45
MÁQUINAS SÍNCRONAS

- L3; em caso, contrário tem-se L3 - L2 - L1. Se a 3) Quais são as condições para se colocar dois geradores
diferença de freqüências for muito grande, as lâmpadas em paralelo?
piscarão muito rapidamente.
O “fogo girante” é limitado às máquinas de 4) Explique a causa básica destas condições.
baixa tensão (portanto, de pequeno porte) pois as
lâmpadas devem ser previstas para suportarem o dobro de
tensão de fase. Naturalmente, com tensões maiores é 5) O que significa o termo flutuando?
possível utilizar-se TP’s, porém, neste caso, é desejável
utilizar-se o sincronoscópio devido à sua maior precisão e 6) Por que é conveniente que um gerador seja
confiabilidade. A figura 6 ilustra o momento de sincronizado flutuando?
fechamento do paralelismo através de diagramas
fasoriais. 7) Como sincronizar um gerador com a rede elétrica
utilizando o sincronoscópio?

8) Pesquise sobre os tipos de sincronoscópio e seus


princípios de funcionamento.

9) Como sincronizar um gerador com a rede elétrica


utilizando o relé de sincronismo.

10) Como sincronizar um gerador coma rede elétrica


utilizando o método do fogo girante.

11) Descreva um método alternativo para a


sincronização de um gerador de pequeno porte.

Figura 6 - Diagrama fasorial - “Fogo girante”. 12) Como se ajusta a freqüência dos geradores para a
sincronização?
QUESTÕES
13) Como se ajusta a tensão do gerador para a
1) Quais as vantagens de se colocar dois geradores em sincronização?
paralelo?
14) Se um gerador se encontra em paralelo com a rede
2) Explique por que o sistema elétrico brasileiro é elétrica e esta, por dado motivo, é desligada,
interligado? pergunta-se: Há risco no religamento? Por que?

________________________________________________________________________________
Capítulo 5: Paralelismo de Geradores- 46
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 6: DISTRIBUIÇÃO DE CARGA ENTRE


GERADORES
“Só há uma coisa pior que lutar com aliados. É lutar sem eles”

Winston Churchill

RESUMO

Após o paralelismo, os geradores devem assumir as


potências que lhes cabem para atender as solicitações do
sistema na medida do possível. Este texto trata dos
procedimentos para que isto seja concretizado.

1.0 - INTRODUÇÃO

O processo de carregamento de um gerador pode


ser compreendido através de uma analogia com o
controle de nível em uma caixa d’água.
A figura 1 ilustra um sistema como este.

Figura 2 - Caixa d’água com a válvula de saída aberta.


Supondo-se que seja conectada uma carga que
exija apenas potência ativa aos terminais de um gerador,
ocorre um processo semelhante ao descrito.
Como a carga é ativa, é necessário que esta
energia seja proveniente do eixo da máquina primária,
como, por exemplo, uma turbina hidráulica. Assim, tal
exigência implica na admissão de mais água (ou
combustível).
Nestes termos, considerando-se a carga
solicitada como “C” da figura 2, verifica-se que a bóia
permite o aumento do fluxo d’água pela válvula “A” (ou
seja, mais energia ativa). Se a carga, entretanto, for
superior à potência que a turbina pode fornecer (ou uma
vazão de saída maior que a de entrada), a velocidade
desta última irá diminuir e, em conseqüência, a
freqüência (o mesmo para a bóia “F”).
Figura 1 - Caixa d’água. A analogia é clara em demonstrar que a carga
ativa está relacionada com a freqüência e, portanto, o seu
Na figura 1, a válvula borboleta “C” está controle exige a atuação no eixo da máquina primária,
completamente fechada, não ocorrendo o consumo de fornecendo-se mais ou menos potência mecânica. O
água. Nesta condição, a bóia “F” também fecha a válvula equipamento que executa tal controle é chamado de
de entrada “A” e o nível de água na caixa atinge o ponto “regulador de velocidade” (na figura 2 seria o
“R”. equivalente ao conjunto bóia “F” e válvula “A”).
O sistema da figura 2 também é aplicável às
Se, por outro lado, exigir-se um certo consumo cargas que exijam reativo. Neste caso, porém, ao invés da
de água, a válvula “C” será aberta. A bóia “F” acionará a freqüência e da potência no eixo da máquina, deve-se
válvula “A”, possibilitando a entrada de mais água. considerar a tensão terminal e a excitação. Em outras
Assim, se a vazão de saída for maior que a de palavras, o fornecimento e reativo está associado com a
entrada, o nível cairá, situando-se em um ponto qualquer excitação. Como citado anteriormente, o equipamento
abaixo do inicial ou de referência “R”. que controla a tensão terminal é o “regulador de tensão”.
________________________________________________________________________________
Capítulo 6: Distribuição de Ativo e Reativo - 47
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Em resumo, pode-se afirmar que na operação basta atuar adequadamente nas respectivas máquinas
isolada de geradores, um excesso de ativo exigido pela primárias. Por exemplo, um dos geradores pode fornecer
carga levará ao decréscimo da freqüência e, no caso do 10% do total e o outro, 90%, ou, 30 e 70%, ou ainda, 50 e
reativo, à diminuição da tensão terminal. 50% ou outra distribuição qualquer, desde que eles
De qualquer forma, verifica-se que o possuam esta capacidade.
comportamento do gerador é totalmente dependente das As mesmas considerações são válidas para a
solicitações da carga. exigência de reativo pela carga; porém, neste caso, altera-
se a excitação dos geradores ao invés das potências de
suas máquinas primárias.
2.0 - GERADORES DE MESMO PORTE EM Pelo exposto, há um predomínio da carga
PARALELO quando geradores de mesmo porte operam em paralelo,
porém é possível distribuir as potências entre eles do
Para analisar a operação em paralelo de modo que for mais adequado.
geradores de mesmo porte, será considerado um sistema
de caixas d’água, como o mostrado na figura 3.
3.0 - GERADOR EM PRALELO COM SISTEMA DE
GRANDE PORTE

O paralelismo de um gerador com um sistema de


grande porte relativamente a ele, pode ser analisado
através de um conjunto composto por uma caixa d’água e
um grande reservatório fornecendo água para uma certa
instalação.
A figura 4 ilustra.

Figura 3 - Sistema de caixas d’água.

Na figura 3, as caixas d’água “A” e “B”


alimentam uma terceira caixa “C”, a qual por sua vez,
será responsável pelo suprimento de água de uma certa
instalação.
Ao abrira válvula “C”, o nível d’água
correspondente deverá cair. De modo que ele fique
constante, inicialmente abre-se a válvula “A” e, se as
vazões forem iguais, tal fato ocorrerá. No entanto, se a
vazão de saída de “C” for maior que a fornecida por “A”, Figura 4 - Caixa d’água e grande reservatório.
o nível de “C” irá cair, em um processo semelhante ao
descrito para a operação isolada. O reservatório fornece água de maneira contínua
Nesta situação, para que haja a constância do para a instalação e nos níveis que se queira. Sendo assim,
nível, é necessário abrir-se a válvula de “B”. Se a soma a caixa adicional contribuirá exatamente com aquilo que
das vazões de “A” e “B” forem iguais a de “C”, pode-se se deseja que ela o faça, dentro de suas limitações,
controlar a contribuição de cada caixa para que o nível de naturalmente. Em qualquer situação a quantidade de água
“C” fique constante. Em outras palavras, quanto mais “B” exigida pelo consumidor será atendida, mesmo que
fornecer, menor será a exigência de vazão proveniente de exceda a vazão máxima permitida pela válvula da caixa e,
“A” e vice-versa. mesmo, a sua capacidade de armazenamento.
Analisando-se dois geradores de mesmo porte O descrito ocorre de forma muito semelhante
em paralelo alimentando uma certa carga, tem-se uma para um gerador em paralelo com um sistema de grande
condição operacional análoga à descrita. porte relativamente à ele. Se a carga exigir um nível de
Se esta carga exigir um determinado nível do ativo ou reativo superior ao permitido ao gerador, o
ativo, superior ao que apenas um dos geradores poderia sistema se encarregará de suprir o restante da demanda.
fornecer, a freqüência tende a cair. Desta forma, para que Desta forma, a freqüência e a tensão nunca se alteram.
ela fique constante, o segundo gerador deverá fornecer o Quando estes fatos ocorrem diz-se que o gerador
restante da potência exigida. Naturalmente, se ambos está em paralelo com um “barramento infinito”. Observe-
possuem o mesmo porte, pode-se distribuir a potência se que o conceito de barramento infinito é relativo. Se,
entre eles de tal modo que se atenda o total. Para tanto, por exemplo, duas grandes concessionárias operam seus
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Capítulo 6: Distribuição de Ativo e Reativo - 48
MÁQUINAS SÍNCRONAS

sistemas em paralelo, o que se fizer em uma delas (como


uma oscilação da tensão ou da freqüência) influenciará a
outra, pois constituem sistemas de mesmo porte. Porém,
colocando-se um gerador com uma certa potência em
paralelo com uma das concessionárias, quaisquer
alterações no primeiro não afetarão a última. Pode-se
considerar que o barramento é infinito quando o sistema
possui uma capacidade igual ou superior a dez vezes a do
gerador.
A operação em paralelo com um barramento
infinito permite ao operador do gerador carregá-lo
conforme lhe seja mais interessante. Assim, é claro, que a
situação mais conveniente é aquela em que se fornece
apenas ativo, pois além do rendimento do grupo ser
sempre superior para cos ϕ = 1 qualquer que seja o valor Figura 5 – Instalação de geração
de potência fornecida, ele é o componente de faturamento
no fornecimento de energia. Na figura tem-se:
Por este motivo deve haver um controle do nível a) Cargas prioritárias, com potência igual a 12 MVA,
de ativo e reativo para cada máquina, o que é executado cos ϕ = 0,7 indutivo;
pelo chamado “despacho de carga”. b) Cargas diversas que absorvem uma potência de (12 +
A situação no ativo, também neste caso, se dá j 9) MVA;
pela atuação na máquina primária. Para o reativo, altera- c) Dados nominais do gerador: 15 MVA, 13800 V, Xd
se a excitação. = 1,7 pu, pólos lisos

Nestas condições pede-se que:


4.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
1) Se determine a distribuição de ativo e reativo entre
Em todos os casos analisados, as máquinas concessionária e gerador, de tal modo que o fator de
devem obedecer à limites operativos, sob pena de se potência do fornecimento da concessionária seja 0,92
danificarem. Tais limites são definidos pela “curva de indutivo. Todas as cargas estão ligadas ao sistema e o
capacidade” ou “de capabilidade” do gerador. gerador opera em paralelo com a concessionária;

QUESTÕES 2) Explique como você procederia para que o gerador


assumisse as potências ativa e reativa calculadas,
A figura 5 mostra o diagrama unifilar de uma após efetuado o paralelismo entre concessionária e
instalação de geração. gerador.

________________________________________________________________________________
Capítulo 6: Distribuição de Ativo e Reativo - 49
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 7: CURVAS DE CAPABILIDADE DE


MÁQUINAS SÍNCRONAS
“Não há limites para o que você possa fazer, se você não se importar com
quem fica com os créditos”

Ronald Reagan

RESUMO Por outro lado, a operação em ponto qualquer


situado externamente à região delimitada pela curva,
Este texto apresenta a importância e descreve a como, por exemplo S2 ou S3, será indesejável ou
curva de capabilidade de geradores síncronos, impossível. Em ambos os casos, um ou mais dos fatores
enfatizando a necessidade de sua utilização para uma restritivos à capacidade da máquina, permitidos pelas
correta operação da máquina. São fornecidos alguns suas características de projeto e construção, estariam
exemplos relativos à máquinas reais. sendo superados.
Pelo exposto, verifica-se que o conhecimento
1.0 - INTRODUÇÃO das curvas de capabilidade dos geradores síncronos
assume grande importância para o correto planejamento e
As curvas de capabilidade (ou cartas de operação de um sistema.
capacidade) das máquinas síncronas, são definidas como Observe-se que existem partes da curva em que
os contornos da superfície definida pelo plano potência a operação é preferível e, até mesmo, mais adequada.
ativa x potência reativa (P x Q) fornecida. Em seu Entretanto, isto nem sempre é possível devido às
interior, o carregamento das respectivas máquinas será características do sistema de que a máquina faz parte.
satisfatório, pois assume um valor inferior ou igual aos Desta forma, é conveniente conhecer-se a curva de
máximos admissíveis para a operação em condições capabilidade em toda a sua extensão para permitir que o
nominais. A figura 1 mostra uma curva genérica, onde a equipamento possa trabalhar em toda a gama de suas
área interna corresponde a todos os pontos de operação reais possibilidades.
permissíveis.

2.0 - FATORES QUE LIMITAM A CAPACIDADE DE


UM GERADOR

As perdas decorrentes do carregamento da


máquina são fontes de calor e influenciam diretamente
em sua elevação de temperatura. Temperaturas excessivas
levam a uma rápida degradação do sistema de isolamento,
diminuindo sua vida útil e, em conseqüência, a da
máquina. Neste sentido, as elevações de temperatura
devem, preferencialmente, situarem-se dentro dos limites
ditados pela classe de isolamento. Assim, carregamento,
aquecimento e vida útil são grandezas diretamente
relacionadas e, portanto, as perdas são um dos principais
Figura 1 - Curva de capacidade típica de um gerador de fatores que limitam a capacidade operativa da máquina.
pólos salientes. As perdas diretamente vinculadas ao
carregamento dos geradores são as chamadas perdas no
Geralmente, tais curvas são compostas por ferro e no cobre. Estas últimas ocorrem individualmente
diversos trechos, cada qual referente a um dos fatores que no campo (rotor) e na armadura (estator). Assim, para
limitam a capacidade da máquina. Assim, por exemplo, cada máquina existem limites pré-estabelecidos no
qualquer carregamento corresponde a pontos como S ou projeto para tais perdas, uma vez que a efetividade do
S’ na figura 1, podem ser considerados como normais. sistema de refrigeração é limitada.
Entretanto, nestas condições, a máquina estaria com Outras perdas presentes nas máquinas elétricas,
carregamento inferior a suas reais possibilidades e, como por exemplo as perdas mecânicas nos mancais, são
portanto, não plenamente utilizada. igualmente transformadas em calor e, em conseqüência,

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Capítulo 7: Curvas de Capabilidade de Máquinas Síncronas - 50
MÁQUINAS SÍNCRONAS

elevam sua temperatura e exigem, também, uma ação família que seria obtida com U por diâmetro. Os demais
efetiva do sistema de refrigeração. Porém não estão fatores estabelecem trechos em cada uma das curvas.
diretamente relacionadas com o carregamento das Na figura 2, a título de ilustração, são dados
máquinas e, por isso não influenciam significativamente exemplos de curvas de capabilidade, indicando-se cada
nas curvas de capabilidade. trecho o fator de limitação correspondente.
Por outro lado, como explanado anteriormente, a
potência elétrica que um gerador pode entregar
diretamente a uma barra é função do chamado ângulo de
potência (δ), normalmente admitido como o defasamento
entre a força eletromotriz (ou tensão interna E) e a tensão
terminal (U). Assim sendo, observa-se que, para
condições de tensão e excitação fixadas, existe um
máximo de potência que pode ser transferida pelo gerador
chamado de “Limite Estático de Estabilidade Teórica” e
depende do valor da excitação.
Valores de potências superiores ao máximo não
poderão ser convertidos pelo gerador e entregues à barra
pois, qualquer tentativa neste sentido, levaria a máquina a
perda de sincronismo.
Observe-se, ainda, que pequenos valores de
f.e.m. (E), correspondentes a condições de operação sob Figura 2 - Curva da capabilidade e trechos limites.
fatores de potência fortemente capacitivos, poderão levar
Nesta figura, tem-se:
um gerador para posições iguais ou próximas do limite de
estabilidade, o que não deve ser permitido. Desta forma, é a) ϕ - ângulo do fator de potência;
possível que existam regimes, nos quais a máquina seja b) trecho AB - limitação pela corrente de campo
levada a operar em uma área de instabilidade em Iex;
decorrência dos baixos valores de excitação, embora os c) trecho BC - limitação pela corrente de
limites de perdas sejam satisfeitos. Esta condição, armadura IA;
naturalmente é inaceitável. d) trecho CD - limitação de potência imposta
Em função destes aspectos, existirão, em muitos pela máquina primária;
casos, trechos das curvas de capabilidade determinados e) trecho DE - limitação pela corrente de
pelo limite de estabilidade e pelo mínimo de excitação armadura IA;
admissível. f) trecho EF - limitação pela estabilidade
Além disto, sabe-se que o gerador síncrono, na prática;
realidade, é um conversor de energia mecânica em g) trecho FG - limitação por excitação mínima.
elétrica. A máquina primária (turbina hidráulica, a vapor,
a gás, motores a explosão e outros) fornece a potência 3.0 - DESCRIÇÃO DA CURVA DE CAPABILIDADE
mecânica obtida através da transformação de uma outra A título de esclarecimento, a figura 3 mostra
forma primária de energia. Assim, é possível que em uma curva de capabilidade com traçados auxiliares.
alguns casos a potência da máquina primária também seja
um limite para a operação do gerador. Em tais condições,
isto se traduz nas curvas de capabilidade do gerador,
embora, a rigor, esta causa não poderia ter existência
isolada e deve ser olhado como um componente do grupo
máquina primária - gerador.
Em resumo, os fatores que limitam o campo de
operação dos geradores síncronos são os seguintes:

a) tensão terminal (U);


b) corrente de armadura (IA);
c) corrente de campo (Iex);
d) limite de estabilidade;
e) excitação mínima permissível;
f) capacidade da máquina primária.

No traçado das curvas de capabilidade, a tensão


terminal de operação fixa uma das curvas pertencentes à Figura 3 - Curva de capabilidade.
________________________________________________________________________________
Capítulo 7: Curvas de Capabilidade de Máquinas Síncronas - 51
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Da figura 3, tem-se: de capabilidade. Para tanto, com o valor de potência ativa


a) Curva A: Limite de aquecimento do estator que se pretende gerar, verificar as potências reativas
Determinado pelo limite de perdas no correspondentes nos limites da curva, tanto para a
cobre, no circuito da armadura (RA I2A), máquina sobreexcitada, quanto para subexcitada. Desta
limitando a corrente de armadura IA. forma, determina-se uma faixa de valores de potência
Esta curva traduz a corrente do estator, sendo reativa dentro da qual se poderá operar.
que nessas condições, os valores de P e Q
aceitáveis devem corresponder a pontos no 5.0 - CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES [1]
interior ou sobre a curva. A curva de capabilidade é traçada a partir dos
b) Curva B: Limite de aquecimento do rotor valores de potência aparente, do fator de potência e das
Determinado pela limitação de perdas no tensões nominais, além da potência máxima da máquina
cobre, no circuito de campo (Rex I2ex), primária e dos valores de Xd e Xq (ou Xs). Portanto, tem-
limitando a corrente de campo Iex. se uma envoltória onde se consideram os valores
Esta curva, correspondente à tensão máxima de nominais.
excitação para as condições especificadas, sendo Todavia, em termos práticos, ocorrem situações
que os valores de P e Q aceitáveis devem operacionais diversas da apresentada. As normas
corresponder a pontos no interior ou sobre a técnicas, em geral, estabelecem que os geradores
curva.
síncronos devem ser capazes de operar satisfatoriamente
c) Curva C: Limite de potência mecânica da
com potência e fator de potência nominais, para qualquer
turbina
valor de tensão compreendido na faixa de 5% acima e
Determinado pelo limite da potência
abaixo do seu valor nominal. Isto significa que (sendo SN,
máxima possível de ser entregue pela
UN e IAN a potência aparente, a tensão e as correntes
turbina ao gerador.
nominais de um gerador), para operação com tensão de
d) Curva D: Limite de estabilidade estática
0,95 UN e fator de potência igual ou maior do que o
teórica
nominal, a máquina deve ser capaz de fornecer uma
Determinado pela limitação da potência do
corrente de armadura superior a IAN, na relação 1/0,95 =
gerador em função do ângulo de potência
1,0526, sem que isto provoque uma elevação de
(δ). temperatura acima dos limites toleráveis pela classe de
e) Curva E: Limite prático de estabilidade
isolamento, apesar de que as perdas no cobre do circuito
estática
de armadura sejam maiores do que para corrente nominal,
Determinado pela limitação imposta já neste caso.
considerando folga em relação ao limite
Assim, convém notar que, sendo as perdas no
teórico, a fim de evitar operação próxima à
ferro determinadas pelo fluxo magnético resultante (o
região de instabilidade.
qual está diretamente ligado à tensão de trabalho), a
f) Curva F: Excitação mínima
operação sob tensão de 0,95 UN correspondente a
Determinado pela limitação imposta pelo condição em que estas atingem seu menor valor, tornando
sistema de excitação, a fim de evitar que a possível a elevação do nível das perdas no cobre da
máquina opere próximo ao regime de
armadura e do campo, desde que, em seu conjunto, o total
instabilidade.
das perdas permaneça limitado a um valor tal que não
Tal limite determina a máxima potência que
pode se entregar, sem que a máquina entre em
produza sobreaquecimento da máquina. A possibilidade
regime instável de operação. de aumento das perdas no cobre do circuito de campo,
g) Curvas G e H: Limites impostos pelos traduz-se pelo aumento de Iex permissível em relação à
limitadores de potência condição nominal, de tal modo que a operação com SN e
Tais limites podem ocorrer, geralmente 0,95 UN torna-se admissível para um fator de potência
ligados aos reguladores de tensão e sua indutivo inferior ao nominal, o qual será determinado
função é restringir a potência reativa que pelo valor da f.e.m. máxima possível.
pode ser, via de regra, entregue ou recebida Em contrapartida, a operação com tensão de 1,05
pela máquina. UN acarretará fluxo resultante máximo e, em
conseqüência, as perdas no ferro atingirão também o seu
A reunião de todas as curvas limites,
valor máximo aceitável. Nestas condições, visando-se
determinará uma região de operação que não poderá ser
limitar o valor global do conjunto de perdas, os limites
ultrapassada, sob pena de se operar a máquina em
das perdas no cobre do campo e da armadura deverão ser
condições não satisfatórias. reduzidos em relação àqueles estabelecidos para
funcionamento sob tensão de 0,95 UN.
4.0 - UTILIZAÇÃO DA CURVA DE CAPABILIDADE Assim, a corrente de armadura será limitada a
Para a correta utilização de um gerador, deve-se IAN que, a fator de potência igual ou maior que o nominal,
determinar para uma dada potência ativa a ser entregue, poderá produzir uma potência aparente admissível de
os limites máximo e mínimo da potência reativa na curva 1,05 SN.
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Capítulo 7: Curvas de Capabilidade de Máquinas Síncronas - 52
MÁQUINAS SÍNCRONAS

A corrente de campo permissível, e portanto, a correspondente à tensão de 0,95 UN, acarretando para a
f.e.m. de excitação E, terá sido limitada ao valor potência aparente um valor ligeiramente maior do que SN.
necessário para o fornecimento de IAN a fator de potência O acréscimo na corrente de campo admissível
nominal. permitirá que o fator de potência nominal fique situado
Para operação com tensão nominal UN, e, entre este aquele aceitável para a operação com 0,95 UN.
portanto, com perdas no ferro inferiores aos valores
máximos, em geral resulta que a máquina é capaz de
suportar, sem elevação anormal de temperatura, um
acréscimo nas perdas do cobre em relação aos valores REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
permitidos para operação com tensão 1,05 UN.
Desta forma, no funcionamento com UN, a [1] Miranda, P.E.S,; Camargo, L.A.R. - “Curvas de
corrente de armadura admissível poderá ser um pouco Capabilidade das Máquinas Geradores do Sistema CESP”
maior do que a nominal, embora menor do que o limite - Relatório Técnico TOESA - 012/83.

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Capítulo 7: Curvas de Capabilidade de Máquinas Síncronas - 53
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 8: SISTEMAS DE EXCITAÇÃO


“Não vence quem joga melhor, mas o que tem mais cabeça”

Thomas Koch

RESUMO A figuras 2 mostra um exemplo de disposição


O sistema de excitação constitui-se em importante física de uma excitatriz ponta de eixo em um gerador
elemento no funcionamento das máquinas síncronas. Este síncronos com eixo vertical.
texto apresenta as várias alternativas existentes
descrevendo-as e analisando-as.
1.0 - INTRODUÇÃO
A criação de campo magnético em uma máquina
síncrona, em geral, se dá através dos pólos que se
constituem em eletroimãs. A corrente que os excitam, ou
seja, a corrente de campo, é contínua e levada aos seus
enrolamentos através de escovas e anéis ou por um
sistema alternativo que não os usam.
Desta forma, um sistema de excitação compõe-
se de uma fonte responsável pelo fornecimento da citada
corrente de campo, conhecida por excitatriz, e de
equipamentos auxiliares.
Observe-se que um sistema de excitação deve
fornecer a potência que for necessária e modificá-la tão
rapidamente quanto possível, conforme as variações da
carga.
As excitatrizes podem ser rotativas, “brushless”,
estáticas ou auto-reguladas.
As suas tensões de fornecimento variam de 50 a Figura 2 - Excitatriz ponta de eixo - gerador com eixo
1500 V e as suas potências nominais situam-se em cerca vertical.
de 1 a 5% da potência do gerador que excitam.
2.0 - EXCITATRIZES ROTATIVAS A corrente fornecida ao campo da máquina
síncrona pode ser controlada através de reostatos,
As excitatrizes rotativas são geradores de
atuando-se no campo série e/ou shunt do gerador de
corrente contínua (dínamos) auto-excitados “shunt” ou
corrente contínua, conforme ilustra a figura 3.
“compound”, em geral montados sobre o próprio eixo da
máquina (excitatriz ponta de eixo).
A alimentação do campo do gerador síncrono é
feita através de escovas e anéis, conforme ilustrado na
figura 1.

Figura 3 - Excitatriz rotativa - controle de campo

Na figura 3 tem-se:

Re, Rel, R2 - Reostato de excitação;


RA - Reostato da armadura da máquina de
corrente contínua;
iex, iex1, iex2 - Corrente fornecida ao gerador para sua
Figura 1 - Excitatriz rotativa, gerador com escovas. excitação.
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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 54
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Em geradores síncronos de grande potência, com todo o sistema de excitação. A figura 6 mostra um
freqüência, é necessário utilizar-se de duas ou mais sistema como este.
excitatrizes, ou seja:

a) Uma excitatriz é a “principal” responsável


pela alimentação do campo do gerador
principal;
b) A segunda excitatriz é auxiliar, isto é, fornece
corrente contínua para o campo da excitatriz.
Em geral, é conhecida por “excitatriz piloto”.
Naturalmente, se for de grande potência, o seu
campo poderá ser alimentado por outra
excitatriz.

Figura 6 - Excitatriz descentralizada.

A resposta das excitatrizes rotativas é lenta em


comparação com os outros tipos. Além disto, tem-se
como desvantagens o alto nível de rádio-interferência e
necessidade de manutenção freqüente no comutador e
escovas da máquina de corrente contínua.

Figura 4 - Excitatriz piloto e principal.

Ambas as excitatrizes são montadas no eixo do


gerador síncrono, como no caso mostrado na figura 5.

Figura 5 - Excitatrizes principal e piloto.


Alternativamente, em aplicações onde a máquina Figura 7 - Comutador e escovas de uma excitatriz
principal opera com velocidades baixas, as quais não rotativa.
correspondem com as que resultam no rendimento
máximo das excitatrizes, elas podem ser acionadas 3.0 - EXCITATRIZ ESTÁTICA
empregando-se acoplamentos, tais como correias.
Ainda é possível ter-se excitatrizes A excitatriz estática é um dos tipos mais utilizados na
descentralizadas, ou seja, um grupo com um gerador de atualidade. Este sistema não utiliza geradores de corrente
corrente contínua exclusivamente, para alimentar os contínua e o regulador de tensão é, normalmente,
campos de geradores de corrente alternada. Neste caso, é montado em conjunto com os componentes da excitatriz
claro necessita-se de duas unidades de modo que na estática. O campo do gerador principal é conectado
ocorrência de falha ou defeito em uma delas, não se perca através de escovas e anéis a uma ponte conversora
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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 55
MÁQUINAS SÍNCRONAS

tiristorizada, a qual é controlada pelo regulador de tensão.


A representação esquemática deste sistema é mostrada na
figura 8.

a) Ponte

b) Tiristor

TP - Transformador de Potencial (se houver);


TE - Transformador de Excitação (se houver);
UATUAL - Tensão nos Terminais do G.S;
UREF - Tensão de Referência;
SPP - Sistema de Produção de Pulsos;
SCR - Ponte Tiristorizada;
Figura 8 - Excitatriz estática - Representação
esquemática.

De forma básica, tem-se que o valor atual de


tensão nos terminais da armadura é comparado com uma
tensão de referência. Se houver um valor resultante (erro
de sinal) o sistema de produção de pulsos agirá no sentido
de aumentar ou diminuir o ângulo de disparo até que o
erro de sinal seja nulo. Naturalmente, nesta situação, os
tiristores são bloqueados ocorrendo uma queda de tensão
e, assim, o regulador opera de forma cíclica. Os tiristores c) Transformador de excitação
são alimentados por um transformador de excitação. Figura 9 – Componentes de excitatriz estática (Toshiba).
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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 56
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Em relação à partida da máquina, tem-se que o As figuras 11 e 12 mostram, respectivamente, a


conjunto turbina-gerador ao atingir uma velocidade pré- representação física e diagrama para este sistema de
definida, o campo é alimentado pelo circuito de excitação.
morçagem (se houver), resultando em uma pequena
tensão. A medida que a velocidade aumenta, a tensão
induzida é incrementada até um determinado nível,
quando então o circuito de morçagem (escorvamento) é
desligado e o sistema opera como descrito anteriormente.
As excitatrizes estáticas são utilizadas quando se
requerem respostas extremamente rápidas em relação à
variação de carga, sendo a sua principal vantagem,
permitir a mudança de polaridade do campo do gerador.
Tal fato resulta em uma atuação mais efetiva do regulador
de tensão no sentido de diminuir a duração e a amplitude
de sobretensões nos terminais da armadura em eventuais
rejeições de grandes cargas.
Por outro lado, as suas maiores desvantagens Figura 11 - Excitatriz “brushless”
são o nível de rádio-interferência e distorção na forma de
onda da tensão de saída devido à utilização de tiristores
no circuito da excitatriz.

Figura 12 - Esquema básico da excitatriz “brushless”


A tensão de saída do gerador principal é
controlada através de um regulador de tensão.
Este equipamento pode ser alimentado por um
transformador de excitação, retificando a tensão gerada
para alimentação do campo da excitatriz.
De forma a manter a tensão terminal em um
nível pré-determinado, as suas eventuais flutuações são
detectadas no secundário de um transformador de
potência (TP), possibilitando ao regulador de tensão atuar
no sentido de alterar a tensão em seus terminais. Em
conseqüência, a tensão retificada na ponte rotativa
Figura 10 – Vista de painel de excitatriz estática
também se altera, aumentando ou diminuindo a corrente
(Toshiba).
de campo da máquina principal.
Naturalmente, este processo se repete até que a
4.0 - EXCITATRIZ “BRUSHLESS” tensão desejada seja atingida.
A utilização de um transformador para a
A excitatriz de uma máquina que utiliza o alimentação do circuito de potência e outro para fornecer
sistema “brushless” é composta por um alternador de a tensão de referência, assegura a precisão do sinal deste
pólos fixos e armadura girante e uma ponte retificadora. último, tornando-o independente do consumo do
Desta forma, a armadura da excitatriz, ponte regulador. É freqüente que haja apenas um circuito
retificadora, os pólos do gerador principal e seus executando as duas funções descritas e, além disto,
enrolamentos, giram em conjunto. dependendo do nível da tensão gerada, é possível não se
As escovas e os anéis são eliminados e a tensão utilizar os transformadores.
de alimentação do campo do alternador principal é obtida As figuras 13 e 14 mostra a vista em corte e
através da tensão induzida na excitatriz, devidamente explodida, respectivamente, para geradores com este tipo
retificada pela ponte. de excitatriz.
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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 57
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Figura 13 – Vista em corte de um gerador com excitatriz “brushless” (Toshiba).

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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 58
MÁQUINAS SÍNCRONAS

1 - Carcaça 11 - Eixo
2 - Mancal anterior 12 - Roda polar
3 - Mancal posterior 13 - Enrolamento rotórico/indutor
4 - Carcaça da excitatriz 14 - Enrolamento amortecedor
5 - Pé parafusado 15 - Ventilador
6 - Bloco de terminais 16 - Armadura da excitatriz
7 - Regulador de tensão 17 - Retificador rotativo
8 - Corretor de curto-circuito (unid. Compound) 18 - Rolamentos
9 - Enrolamento da armadura 19 - Tampa dos rolamentos
10 - Indutor da excitatriz 20 - Anéis balanceadores

Figura 14 - Gerador síncrono com excitatriz brushless - fabricação Bardela - Borielo, série AT - 250 325 (sem excitatriz
auxiliar e com unidade “compound”).
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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 59
MÁQUINAS SÍNCRONAS

As figuras 15 a 20 fornecem vistas detalhadas de


vários componentes de geradores com este tipo de
excitatriz.

Figura 18 - Excitatriz Brushless - Vista frontal.


Figura 15 – Estator do gerador

Figura 16 – Sistema de excitação da excitatriz (pólos e


enrolamentos de campo)

Figura 19 – Detalhe da ponte retificadora rotativa

Figura 17 – Armadura da excitatriz Figura 20 – Diodo – Comparativo de dimensões


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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 60
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Neste sistema de excitação é comum que o


gerador possua uma unidade “compound”, a qual tem por
objetivo injetar uma corrente de excitação adicional,
proporcional à corrente de carga, diretamente no campo
da excitatriz em paralelo com o regulador de tensão.
A utilização desta unidade é interessante em
casos onde pode haver uma severa desmagnetização do
gerador principal, como no caso da partida de grandes
motores (em relação à potência do gerador principal) ou
em instalações com proteção seletiva.
No primeiro caso, a corrente de carga reforça o
campo; no segundo, existindo um curto-circuito em uma
certa carga, a unidade “compound” alimenta o circuito,
possibilitando a atuação da proteção mais próxima e
permitindo restabelecer o fornecimento de energia para as Figura 22 - Excitatriz “brushless” e auxiliar.
demais cargas.

A figura 21 esclarece, esquematicamente, o As principais vantagens da excitatriz “brushless”


exposto. Note-se, porém, que se representa o enrolamento sobre a estática são:
de campo da excitatriz e o gerador principal.

a) Não utiliza escovas, porta-escovas e anéis;


b) Não introduz rádio-interferência devido ao
mau contato das escovas;
c) Causa uma interferência menor devido ao
chaveamento dos triristores do regulador
comparado com os dos tiristores da excitatriz
estática;
d) Manutenção reduzida, solicitando cuidados
apenas na lubrificação dos mancais;
e) O sistema “brushless” admite com facilidade o
controle manual, através do uso de um reostato
ligado em série com o enrolamento da
excitatriz, por exemplo.

Como desvantagens do sistema tem-se:

a) O sistema “brushless” possui resposta mais


lenta que o sistema estático, devido ao campo
Figura 21 - Unidade “compound”. do excitador. Assim, para a partida de motores
de indução em um sistema de geração isolado,
Uma variação do sistema apresentado é utilizar normalmente a queda de tensão para geradores
uma excitatriz auxiliar ou piloto montada no eixo da “brushless” é maior que a causada quando se
máquina principal, ao invés de um circuito dependente da utiliza a excitatriz estática;
tensão gerada. Neste caso, somente a tensão de referência b) A pesquisa de defeitos no sistema “brushless”
é obtida dos terminais. é mais trabalhosa.

A excitatriz auxiliar possui pólos compostos por


barras axiais montadas nas sapatas polares do gerador 5.0 - GERADORES AUTO-REGULADOS DE ANÉIS
principal (imãs permanentes). Isto possibilita o controle
da tensão independente da carga, dispensando o uso de Os geradores auto-regulados possuem uma
transformadores de corrente (TC). Além disto, a sua unidade “compound”, que representa os efeitos da carga
potência é pequena, possuindo dimensões reduzidas . A em cada fase, como representado esquematicamente na
figura 16 ilustra. figura 23.

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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 61
MÁQUINAS SÍNCRONAS

O princípio de funcionamento do gerador com a


unidade “compound” pode ser mais facilmente
compreendido, lembrando-se que:
a) As tensões secundárias dos TC’s são em última
análise, proporcionais à corrente de armadura
(corrente primária dos TC’s);
b) Pela lei de Ohm, a corrente de campo será
proporcional à tensão aplicada e, portanto, à
corrente de armadura;
c) A tensão induzida nos enrolamentos é uma
função do fluxo magnético e este, por sua vez,
da corrente de campo; portanto, ambos
dependem da corrente de armadura;
d) A tensão nos terminais da armadura é a
Figura 23 - Gerador auto-regulado trifásico. diferença entre a tensão gerada e a queda
interna; como ambos são dependentes da
A função do conjunto R1-D7 é a de efetuar a corrente de armadura, pode-se concluir que a
auto excitação e ajuste da tensão de armadura em um tensão de armadura também é proporcional à
valor pré-definido para o funcionamento em vazio. ela.
O conjunto TC’s e ponte trifásica (D1 a D6),
mostrado na figura 23, permite compensar os efeitos Naturalmente, a proporcionalidade entre tensão e
causados pela carga, como a queda de tensão nos corrente de armadura não é linear e depende das
terminais e, portanto, age como um regulador de tensão: condições magnéticas (por exemplo, o efeito da reação da
sendo assim, este tipo de gerador é auto-excitado e auto- armadura depende do fator de potência da carga). A
regulado. Os pontos E1 e E2 representam as escovas para figura 25 mostra a característica regulação de tensão
a alimentação do campo. percentual em função da potência exigida pela carga em
A figura 24 apresenta a vista do conjunto de relação à normal, fixando-se o fator de potência como
TC’s em uma máquina auto-regulada. parâmetro. A máquina possui potência nominal de 7,5
KVA.

Figura 25 - Regulação em função da potência de carga


para uma máquina auto-regulada de 7,5 kVA
Alguns fabricantes constróem seus geradores
síncronos com uma excitatriz principal e uma auxiliar,
Figura 24 - Conjunto de TC’s em uma máquina auto- sendo a primeira sobreposta à segunda e isoladas entre si;
regulada. naturalmente, as peças polares são as mesmas.

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Capítulo 8: Sistemas de Excitação - 62
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 9: REGULADORES DE TENSÃO


“Volto atrás, sim. Com o erro não há compromisso”

Juscelino Kubstcheck

RESUMO a) Manual - atuação manual no reostato de


controle da corrente de excitação. Este
O objetivo deste capítulo é avaliar atuação de processo é muito simples e só se justifica para
reguladores de tensão sobre os geradores síncronos nas máquinas de pequeno porte em instalações
diversas condições operacionais. São mostrados os vários onde não há grande necessidade de regulação
tipos e analisadas muitas grandezas de interesse. tão precisa, não sendo portanto, tratado neste
texto;
b) Automático - é empregado nas máquinas de
1.0 - INTRODUÇÃO médio e grande porte.
Existem vários tipos de reguladores
O “sistema de excitação” compreende além da
eletromecânicos automáticos. Em todos os casos, eles,
excitatriz, todos aqueles elementos que são aptos e
basicamente, atuam no campo de uma excitatriz rotativa
necessários a regular a excitação, de modo a realizar
alterando a sua tensão induzida e, em conseqüência, a
todas as ações de controle possíveis através do campo.
corrente de campo do gerador síncrono e a respectiva
Exige-se duas funções básicas deste sistema, ou
tensão gerada em seus terminais.
seja:
Os principais tipos são descritos nos próximos
a) aumentar os limites de estabilidade; e, tópicos.
b) controlar a tensão gerada de tal forma que a 2.1 - Regulador de Contatos Vibrantes (Tipo Tirril)
tensão terminal fique constante.
O regulador atua sobre a excitação da excitatriz,
Em ambos os casos, tal sistema deve ter como introduzindo em seu circuito e colocando em curto-
característica a capacidade de variar rapidamente a tensão circuito, uma resistência conveniente por meios de
de excitação do gerador principal em uma ampla faixa contatos vibrantes.
positiva e negativa. A figura 1 mostra um esquema elementar de um
Para realizar estas funções emprega-se um regulador deste tipo.
equipamento denominado “regulador de tensão”.
Seu princípio operacional básico é comparar
uma tensão de referência, previamente definida, com a
tensão de saída do gerador. Se houver diferenças entre
ambos os valores, ele deverá informar e/ou controlar a
saída da excitatriz, de forma a manter a tensão do gerador
próxima do valor desejado.
Observa-se que, no jargão técnico, não há
distinção entre os termos “excitação” (verdadeira) e
“regulador de tensão”. Trata-se, entretanto, apenas de
uma questão de terminologia, decorrente, provavelmente,
da própria integração construtiva dos dois órgãos.
Os reguladores podem ser do tipo
“eletromecânico”, utilizados no passado, ou “eletrônicos”
que empregam tecnologia mais recente.

2.0 - REGULADORES ELETROMECÂNICOS DE


TENSÃO

Os processos para variar a corrente de excitação,


ou seja, de regular a tensão de um gerador síncrono,
através de reguladores de tensão eletromecânicos, podem Figura 1 - Esquema elementar do regulador de tensão do
ser: tipo Tirril.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 63
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Em linhas gerais, o regulador Tirril é composto possibilidade são usados relés limitadores de intensidade
por dois eletroímãs (E1 e E2 da figura 1), sobre as duas L, que tiram a ação do regulador, mantendo neste caso a
alavancas A1 e A2, do par de contatos principais C1 e C2, bobina B1, o que introduz a resistência R sempre em série
e de um conjunto de contatos vibrantes C ligados em com o circuito de excitação da excitatriz.
paralelo (sendo estes representados por um único par de A figura 3 mostra a vista de um regulador do
contatos na figura 1). Em uma das extremidades da tipo Tirril.
alavanca A1 há um contrapeso P, e o eletroímã E1 é
ligado à tensão do alternador diretamente por meio do
transformador. O eletroímã E2 na alavanca A2 é ligado à
tensão da excitatriz. A resistência R, circuito de excitação
da excitatriz, tem seus extremos ligados ao par de
contatos vibrantes C, possuem com um capacitor em
paralelo para reduzir o faiscamento. Os contatos vibrantes
C têm um contato fixo e outro móvel, sendo este
acionado por um eletroímã diferencial E, em forma de U,
com duas bobinas ligadas em paralelo com os terminais
da excitatriz, uma diretamente (B2) e a outra (B1) por
meio de um contato C1C2. A ligação destas bobinas é
feita de maneira que, com o par de contatos C1C2
fechados, ambos sejam percorridos pela mesma corrente,
tornando seu efeito nulo e, portanto, fazendo com que o
contato móvel de C fique também fechado por ação de
uma mola; com o par de contatos C1C2 aberto somente
circula corrente pela bobina B2, abrindo-se o contato C.
Desta forma, o contato C será aberto ou fechado ao
Figura 2 - Vista de um regulador do tipo Tirril.
mesmo tempo que o contato C1C2.
Quando a tensão do gerador decresce devido ao 2.2 - Regulador de ação rápida (Tipo Brown Boveri)
aumento de carga, a força do eletroímã E1 diminui e o ou de setor rolante
contato C1 se levanta encostando em C2, colocando em
Este regulador é amplamente empregado em
curto-circuito a resistência R; deste modo, a tensão da
instalações mais antigas devido à sua rapidez de ação.
excitatriz provoca o aumento da ação atrativa de E2 que
Consta essencialmente de um sistema motor,
levanta o contato C2, tendendo à desencostá-lo de C1. A
bifásico, constituído por duas bobinas decaladas entre si
posição do contato C1C2 depende portanto da carga do
de 90o elétricos, e envolvem um cilindro de alumínio,
alternador. Os contatos C entram em vibração devido às
tendendo a girá-lo. As figuras 3 e 4 mostram esquemas
variações rápidas da tensão de excitação, e permanecem
simplificados deste tipo de regulador
vibrando continuamente com freqüência elevada. O
conjunto tende à se equilibrar com um determinado valor
de tensão e toda variação exterior é corrigida
rapidamente.
O eletroímã E3 tem a função de produzir o
aumento da tensão quando a carga aumenta,
compensando a queda de tensão na linha.
Há um amortecedor no núcleo comum dos
eletroímãs E1 e E3, para amortecer o movimento da
alavanca A1.
Nos contatos C e C1C2 são colocadas chaves
inversoras de corrente P, a fim de prolongar a vida dos
contatos fazendo com que a corrente, de tempos em
tempos, percorra os contatos em um sentido ou noutro
conforme a posição da chave P.
Se a tensão da excitatriz é muito baixa, o relé RC
fecha em curto-circuito uma parte da resistência R em
séria como no circuito de relé diferencial E, aumentando
a ação das bobinas B1 e B2 nos contatos C.
No caso de um curto-circuito, o regulador
tenderia a agravar os efeitos deste, aumentando a tensão Figura 3 - Esquema simplificado do regulador de setor
de excitação e do gerador. Com o fim de evitar esta rolante.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 64
MÁQUINAS SÍNCRONAS

C, antes de tomar a posição de equilíbrio. O


amortecimento das oscilações é obtido através de um
sistema de freio constituído por um disco de alumínio
colocado entre dois imãs m, e ligado mecanicamente por
meio de mola ao cilindro principal C.
A figura 5 mostra uma vista deste tipo de
regulador.

Figura 5 - Vista de um regulador de setor rolante.


2.3 - Regulador tipo Servomotor ou Siemens
Figura 4 - Regulador de setor rolante. Este regulador de tensão atua diretamente no
reostato de campo, fazendo-o movimentar como se fosse
As bobinas são alimentadas pela tensão uma regulação manual, substituindo portanto o operador.
produzida pelo gerador, sendo que em série com uma O seu esquema é o indicado na figura 6.
delas; tem-se a resistência R e, com a restante, a
indutância L. Desta forma, produz-se um campo girante
bifásico, o qual, por indução, produz um conjugado motor
no cilíndro C; este, por sua vez, é, aproximadamente,
proporcional ao quadrado da tensão do gerador e não gira
livremente devido à ação de uma mola. Quando o
conjugado motor varia, o rotor C gira de um determinado
ângulo, até que a ação da mola seja igual à ação motora e
carregando consigo dois braços com extremidades em
arco (na figura 4, apenas representa-se um dos braços), os
quais se apoiam sobre contatos S (também em forma de
arco); este possui um raio de curvatura maior e
constituem o reostato r de excitação da excitatriz. O
conjunto tem uma disposição tal que, havendo uma
diminuição da tensão do alternador, uma parte da
resistência do reostato é posta em curto-circuito,
aumentando a tensão da excitatriz e, portanto do gerador.
O tempo que o aparelho leva para tomar a nova posição
de equilíbrio, quando há variação de carga, é muito
pequeno, de modo que a tensão nos terminais do gerador
é praticamente mantida constante. Quando a tensão a ser
mantida constante é na extremidade de linhas deve-se
usar o transformador de corrente.
Como a parte imóvel do aparelho sofre
substituindo pouca influência do atrito, poderia haver um Figura 6 - Esquema simplificado do regulador de tensão
movimento alternativo amortecido dos setores de contato de servomotor.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 65
MÁQUINAS SÍNCRONAS

O fenômeno da regulação se passa da seguinte A figura mostra o esquema simplificado de um


maneira: regulador de fabricação Toshiba.
Quando o gerador é carregado (ou quando a sua
rotação se altera), instantaneamente ocorre uma variação
de tensão nos seus terminais, afetando a bobina de tensão;
sendo assim, resulta um movimento do núcleo e,
consequentemente, do distribuidor. Há portanto, uma
distribuição de pressões que são transmitidas ao servo-
motor através dos tubos 1 e 4, o que provoca um
movimento no êmbolo rotativo; este, por sua vez, é
transmitido pelo eixo do regulador ao reostato de campo
do gerador, causando como conseqüência o
restabelecimento da tensão nos terminais do gerador.
Quando a tensão atingir o valor nominal, o
distribuidor e o núcleo do relé, param na posição média, e
o fenômeno da regulação estará terminado.

3.0 - REGULADOR ELETRÔNICO DE TENSÃO

Com o advento das excitatrizes estáticas, tornou-


se possível a utilização de reguladores totalmente
eletrônicos. A idéia principal é atuar-se no ângulo de
disparo dos semicondutores da excitatriz, mostrada no
capítulo 8, controlando o nível de tensão de saída, como
ilustra a figura 7.

Figura 8 - Esquema simplificado de um regulador


eletrônico de tensão (Toshiba)

Normalmente, os reguladores eletrônicos


possuem comandos para a atuação automática ou manual.
O primeiro tipo recebe o nome no jargão técnico
de AVR (Automatic Voltage Regulator) e é usado para
manter a tensão terminal a um valor constante. O controle
manual atua de forma a manter a tensão de campo a um
valor constante e, portanto, altera a corrente de excitação.
(MEC na figura 8).
No caso do AVR tem-se que o dispositivo
compara a tensão terminal com um valor de referência
(set-up) e amplifica a diferença (erro de sinal) de forma a
atuar no sistema de produção de pulsos da excitatriz
(PHC da figura 8).
A excitação manual baseia-se na comparação da
tensão de campo com uma referência (set-up dado pelo
potenciômetro 80G da figura 8) e amplifica a diferença de
sinal, atuando no sistema de produção da excitatriz (PHC
da figura 8).
Além das funções básicas, a operação
automática ainda permite incorporar muitos outros
dispositivos, visando uma operação mais segura e
Figura 7 – Formas de onda para vários ângulos de disparo confiável do gerador. Assim, é possível garantir que a
de uma ponte tiristorizada. máquina opere sempre dentro dos limites da sua curva de
capabilidade.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 66
MÁQUINAS SÍNCRONAS

De forma especifica, as funções adicionais são: O ajuste dos parâmetros “a” e “b” são
executados, respectivamente, pelos potenciômetros 5l7R
a) Compensador “Cross-current” (CCC na figura e 55R da figura 8.
8), cujas funções serão analisadas no próximo A figura 8 mostra um exemplo de curva de
tópico; capabilidade e os limites impostos pelas funções
b) Compensador de Quedas de Tensão (LDC na descritas.
figura 8):
O LDC permite compensar quedas de tensão
entre os terminais do gerador e um ponto fixo
de uma linha de transmissão;
c) Limitador de sub-excitação (UEL na figura 8):
O UEL previne que a excitação não
ultrapasse um valor mínimo de excitação, o
que poderá fazer o gerador perder o
sincronismo.
d) Limitador de sobre-excitação (OQL na figura
8):
O OQL estabelece o máximo valor da
corrente de excitação, de modo que não seja
ultrapassado o limite de aquecimento do
campo e dado pela curva de capabilidade;
e) Limitador de sobrecorrentes (OCL na figura Figura 9 - Curva de capabilidade.
8): A titulo de ilustração, as figuras 10 a 12
O OCL estabelece os níveis máximos mostram alguns componentes físicos destes sistemas.
admissíveis da corrente de armadura, de forma
a evitar sobreaquecimentos indesejáveis no
estator;
f) Limitador tensão/freqüência (U/f):
O limitador tensão/freqüência protege o
transformador principal (EXT na figura 8)
contra sobreexcitação na operação com o
AVR. Torna-se importante em operação
isolada, já que, por exemplo, uma rejeição de
carga afetará de forma significativa os níveis
de tensão e freqüência gerada;
g) Estabilizador de potência (PSS na figura 8):
O PSS possui como função expandir a
região limite de estabilidade dinâmica do
gerador quando este opera em paralelo com um
sistema de potência. Se uma flutuação de
potência ocorre por uma razão qualquer, este
Figura 10 – Painel da excitatriz.
dispositivo detecta tal situação e envia um
sinal ao AVR para que o mesmo informe ao
sistema de produção de pulsos para suprimi-la.
h) Regulador Automático de Potência Reativa
(AQR na figura 8):
O AQR regula automaticamente a potência
reativa fornecida pelo gerador, empregando
uma das seguintes equações:

„ Q = a (controle para nível reativo


constante);
„ Q = b.p (controle para obter-se um
fator de potência constante);
„ Q = a + bp (ambos os controles
em conjunto). Figura 11 – Módulo completo do AVR.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 67
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Note-se que a região controlada pelo tiristor


pode ser alterada pelo ajuste de ganho.
As formas de onda do regulador são aquelas
dada na figura 14.

Figura 12 – Cartão do AVR

Os reguladores de geradores de pequeno porte,


em geral, não incorporam tais funções, devido ao custo
do sistema. Como exemplo, ilustrativo destes
reguladores, analise-se o RTTI da NEGRINI.
O citado regulador opera em meia onda,
controlado pela realimentação da tensão do gerador
retificada por meio de tiristores, cujos pulsos de disparo
são provenientes de um transistor de unijunção. A ignição
do transistor de unijunção é dada em função da carga
armazenada em um capacitor no emissor deste transistor.
Tal capacitor recebe carga diretamente de uma fonte DC
Figura 14 – Formas de onda do regulador
sincronizada aos tiristores gerando uma rampa padrão.
A variação do tempo de carga do capacitor do 4.0 - A COMPENSAÇÃO “CROSS-CURRENT”
transistor de unijunção é obtida pela amplificação e
amortecimento do erro fornecido A compensação “cross-current” é adicionada ao
pela comparação da tensão do gerador com a referência. regulador de tensão para produzir um comportamento
A amplificação e amortecimento adequados, é proporcional ao reativo no gerador.
dado por dois amplificadores operacionais, e a Para tanto, utiliza-se um transformador de
comparação com a referência é feita pelo primeiro corrente e um reostato ou resistor (geralmente uma parte
operacional. Na figura 13 pode-se verificar a curva do regulador) conectados como mostrado na figura 15.
característica do regulador.

Figura 15 - Esquema básico - “cross-current”.

Este equipamento introduz uma tensão de


compensação para o controle de potência reativa
Figura 13 - Curva característica do regulador RTTI utilizando-se o regulador de tensão. A figura 16 fornece a
(NEGRINI) filosofia básica do método.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 68
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Como se sabe, dependendo do valor da queda e


do seu tempo de existência poderá haver desligamentos
por subtensão e travamento de eixo e/ou
sobreaquecimento de motores que estejam partindo ou em
operação, entre outros aspectos negativos.
A aplicação rápida de uma elevada tensão de
excitação (“tensão de teto”) no campo da máquina poderá
reduzir a queda máxima de tensão e resultar em tempos
de reestabelecimento menores, como executado pela
excitação Thyripol da Siemens, por exemplo.
Observe-se que a “tensão de teto” (Ceiling
Voltage) é definida como a maior tensão de saída de um
sistema de excitação.
Por outro lado, os sistemas de excitação com
componente independente da corrente de carga, têm se
mostrado mais capazes de eliminarem as quedas de
tensão resultantes da aplicação de cargas indutivas. Este
Figura 16 - Compensação “cross-current”. tipo de excitação transforma o degrau da corrente de
carga diretamente num acréscimo de corrente de
Como se verifica nas figuras 15 e 16, o sinal da excitação, como é o caso da excitação Tyripart da
tensão gerada pode ser decomposto em dois Siemens. Isto limita a queda de tensão em um valor entre
componentes, a saber: a variação transitória e a subtransitória, reduzindo o
tempo de partida dos motores assíncronos.
a) A tensão A, proveniente do transformador de
potencial; Especialmente nos casos em que certos
consumidores importantes, mas de potência relativamente
b) A tensão B, proveniente do transformador de
baixa, devem continuar sendo alimentados, é desejável
corrente.
uma regulação rápida de tensão. Um perigo para
A tensão A representa a tensão fornecida para a consumidores e instalação é a sobretensão momentânea,
carga e mantida pelo regulador de tensão. A tensão B é que poderá ser ainda mais reforçada por uma
produzida pela queda de tensão no reostato de sobrevelocidade simultânea, também ocorrendo no
compensação, a qual é produzida pela corrente secundária mesmo momento.
do transformador de corrente; note-se que o valor desta No desligamento de uma carga ôhmico-indutiva,
corrente depende da intensidade da corrente primária (ou poderão ser atingidas sobretensões maiores do que no
seja, de carga do gerador) e do valor ajustado do reostato caso de cargas puramente indutivas, pois esta última,
de compensação. apesar de resultar em um degrau transitório de tensão
A tensão B, como mostrado na figura 15, sempre mais elevado, não conduz à sobrevelocidades.
adiciona-se à tensão A; a relação fasorial para a obtenção
deste acréscimo depende do fator de potência da carga; Obviamente, as instalações devem ser
assim quanto menor for o fator de potência, tanto maior adequadamente projetadas para suportar uma variedade
será o nível de tensão adicionado. de cargas que podem ser submetidas a sobretensões
Tal valor é considerado pelo regulador de tensão apenas por curtos intervalos de tempo. Além disto, em
como uma sobretensão. Como o regulador atua na instalações ao tempo, que permanecem conectadas ao
excitação do gerador de maneira a alterar o reativo, tem- gerador através de um transformador, existe ainda o
se que, quanto maior for a exigência de reativo pela perigo de ocorrerem descarcas acidentais motivadas pelo
carga, tanto maior será a tensão B; desta forma, o acúmulo de material espúrio sobre os equipamentos.
regulador atuará mais energicamente para reduzir a Também nestes casos, a duração da sobretensão
excitação. O efeito completo da compensação “cross- desempenha um papel muito importante.
current” agindo no regulador de tensão de geradores em Numa rejeição de carga, partindo-se do estado
paralelo, será o de limiar o nível de fornecimento de sobreexcitado, deve haver, portanto, uma redução rápida
reativo de cada gerador, distribuindo-se o de forma do excesso de excitação. Sistemas de excitação estática
adequada entre eles conforme as suas capacidades. com retificadores ligados em ponte trifásica totalmente
controlada, na qual os seis braços possuem tiristores, são
capazes de operar como inversores, a fim de reduzir
5.0 - ENTRADA E REJEIÇÃO DE CARGA
rapidamente a corrente de excitação. Se os tempos de
A aplicação brusca de cargas indutivas aos comutação dos tiristores fossem infinitamente pequenos,
terminais dos geradores em operação isolada resultam em seria possível alcançar a mesma magnitude da tensão de
quedas de tensão, as quais, em geral, são indesejáveis. teto.
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 69
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Na prática, porém, a tensão de campo negativa é Se o circuito de estabilidade do regulador não


de cerca de 80% de tensão de teto, referida à mesma estiver presente, as oscilações em torno do ponto de
tensão alimentadora. ajuste continuarão por um tempo indeterminado, como
A tensão de campo negativa entregue pelo exemplificado na figura 18.
sistema de excitação de forma praticamente instantânea
quando ocorre elevação de tensão terminal, significa que
não ocorre um aumento desta tensão para além do nível
transitório, que depende simplesmente da carga e da
reatância transitória da máquina síncrona.

6.0 - O AJUSTE DE ESTABILIADE DO REGULADOR

Na operação isolada, as flutuações de carga


afetam a tensão terminal do gerador e, neste sentido, é
necessário que o regulador de tensão atue no circuito de
excitação de forma que esta possa ser mantida em um
valor constante. Por outro lado, o circuito de excitação
possui uma alta indutância e, em conseqüência, a sua
constante de tempo possuirá valores relativamente altos.
Esta situação implica no fato de que, ao aplicar
uma tensão no campo para corrigir à de saída (armadura),
inevitavelmente ocorrem atrasos de tempo. Devido à este Figura 18 - Operação instável do regulador.
atraso e à sensibilidade do regulador, este deve conter
elementos que permitam seu comportamento estável. Pelo exposto, é comum que os reguladores sejam
O efeito de um circuito que permite a providos de algum meio para se ajustar o tempo de
estabilidade do regulador é melhor ilustrado na figura 17. resposta de restabelecimento da tensão
A figura 19 ilustra alguns casos típicos de
resposta de tensão, quando da ocorrência de rejeição de
carga.

Figura 17 - Resposta transitória do regulador.

Note-se que na figura 17, no instante da


aplicação da carga, a tensão sofre uma queda devido às
reatâncias internas do gerador. Em um ciclo, reconhece o
erro e aplica mais tensão no campo através da excitatriz.
Sendo assim, a tensão terminal começa a se recuperar. Figura 19 - Curvas de respostas típicas na rejeição
No entanto, a corrente de campo ainda cresce de carga.
durante algum tempo, levando a tensão terminal a um
valor superior ao inicialmente ajustado (“overshoot”); O perfil de tensão terminal mostrado na figura
assim, a tensão de campo deve ser reduzida, de forma a 19 “A” é representativo de uma atuação instável do
causar um decréscimo da corrente de campo e da tensão regulador. Um acréscimo no sinal de estabilidade do
terminal. Esta situação deve perdurar até que haja o equipamento leva a um perfil dado na curva “B” (note-se
restabelecimento da tensão terminal (“undershoot”). a existência de “overshoot” e “undershoot”);
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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 70
MÁQUINAS SÍNCRONAS

aumentando-se ainda mais o sinal de estabilidade, resulta


no perfil “C”. Acréscimos maiores no citado sinal,
implicam em respostas mais lentas do sistema, como nos
perfis “D” e “E”.
Note-se que, dos cinco tipos de resposta
mostrados, apenas o perfil “A” é inaceitável.
Um fato interessante é que o valor eficaz da
tensão aumenta na rejeição de carga ou diminui na
entrada de carga, não se alterando significativamente para
valores de referência distintos; no entanto, o tempo de
restabelecimento é afetado.

7.0 - O REGULADOR DE TENSÃO E A FREQUÊNCIA

De uma maneira geral, o regulador de tensão é


relativamente pouco afetado pela freqüência das tensões Figura 20 - Curvas Volts/Hertz.
geradas. O regulador tentará manter constante a tensão
em quaisquer velocidades. Assim, se a velocidade é Um regulador de tensão com tais características
superior a nominal, a excitação requerida para produzir a oferecerá melhorias na resposta transitória de freqüência
tensão de referência decresce; para velocidades através do monitoramento da queda desta grandeza
superiores, deve ocorrer o contrário (embora, neste caso, quando da aplicação de carga e decréscimo da tensão do
haja a possibilidade de se saturar o gerador). sistema. Isto reduz a potência ativa e permite que a
máquina primária restabeleça sua velocidade antes que a
Note-se que, esta situação, é eliminada pela ação tensão retorne a seu valor original; assim, como a tensão
do regulador de velocidade, exceto em transitórios como é dependente da velocidade, é mais fácil manipular
na entrada e rejeição de carga. Assim, durante mudanças grandes degraus de carga.
de carga, a velocidade da máquina primária irá se alterar Tais características são benéficas para a
de forma similar à tensão; no entanto, a tensão irá se operação em sub-velocidade, mas não oferece vantagens
restabelecer muito mais rapidamente que a freqüência, quando o grupo atinge a sobrevelocidade. Por esta razão,
devido às constantes de tempo do sistema de excitação é necessário modificar as curvas V/Hz mostradas,
serem muito menores que o das partes mecânicas. Neste combinando-as com uma característica de tensão
sentido, desempenhos superiores são conseguidos se o constante, como a da figura 21.
regulador de tensão for sensível à variação de freqüência.

Desta forma, torna-se importante a característica


“Volts-Hertz” do regulador, a qual representa a curva
teórica de excitação constante; em outras palavras, um
gerador pode requerer o mesmo nível de corrente de
campo à 50% de tensão e 50% de velocidade
comparativamente a 100% de tensão e velocidade. Assim,
o termo “Volts/Hertz” significa que o regulador manterá
uma tensão constante proporcionalmente à freqüência.

As curvas V/Hz são, em geral, dadas em “por


unidade”(pu), sendo que a figura 16 mostra exemplos
para 1 pu, 0,9 pu e 0,75 pu V/Hz. Figura 21 - Característica V/Hz modificada.

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Capítulo 9: Reguladores de Tensão- 71
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 10: CURTO-CIRCUITO E REATÂNCIAS


“Tudo nos aborrece com a duração, mesmo os maiores prazeres”

Leopardi

RESUMO Os fluxos concatenados como enrolamento do


campo principal precisam permanecer constante em seus
O objetivo deste capítulo é analisar os valores iniciais, como determinado pela indutância e
fenômenos e influências sobre os geradores quando corrente de campo antes do curto. Entretanto, ocorre uma
ocorre um curto-circuito em seus terminais. Além disto, ação desmagnetizante causada pela corrente de curto-
são definidos os vários parâmetros e constantes de tempo. circuito. Desta forma, é necessário que haja a indução de
uma componente adicional de corrente de campo, como
aquela da figura 2, de modo a contrabalançar a f.m.m.
1.0 - CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO BRUSCO desmagnetizante.

A figura 1 representa o registro oscilo-gráfico da


corrente de armadura quando ocorre um curto-circuito
trifásico nos terminais de um gerador síncrono operando
em vazio.

Figura 2 - Forma aproximada da corrente de campo de


uma máquina síncrona em seguida a um curto-circuito na
armadura [1].

Ainda conforme [1] a componente induzida de


corrente de campo determina o comportamento da
corrente de estator durante o período transitório; ela
Figura 1 - Corrente de curto-circuito na armadura de um simplesmente representa maior excitação na máquina do
gerador síncrono [1]. que está presente no regime permanente, e
consequentemente as correntes de estator durante o
A envoltória da forma de onda dada na figura 1,
período transitório são maiores do que no regime
mostra claramente três períodos ou regimes de tempo
permanente. A corrente induzida no campo, não sendo
distintos, ou seja:
mantida por uma tensão aplicada ao circuito de campo,
a) “Período subtransitório”, durando somente decresce com uma taxa determinada pela resistência do
os primeiros poucos ciclos, durante os quais, circuito de campo e pela indutância equivalente, e
o decréscimo de corrente é muito rápido; correspondente acréscimo de corrente de estator
b) “Período transitório”, cobrindo um tempo decrescente com a mesma taxa. A constante de tempo
relativamente maior, durante o qual, o transitória associada pode ser determinada a partir das
decréscimo de corrente é mais moderado; envoltórias da figura 1.
c) “Período ou regime permanente”, o qual foi Entretanto, o campo principal não é o único
analisado em tópicos anteriores. circuito de eixo direto do rotor. Também os fluxos
concatenados com o enrolamento amortecedor precisam
Conforme [1], o quadro físico dos permanecer constantes em seus valores iniciais, como
acontecimentos durante estes períodos decorre da determinado pela indutância mútua entre os circuitos de
consideração de que, sob condições de curto-circuito com campo e amortecedor, e pela corrente de campo antes do
resistência nula no circuito do estator, a sua onda de curto [1]. E, novamente, esta constância precisa ser
f.m.m. estará no eixo direto da máquina. Os circuitos do mantida diante da f.m.m. desmagnetizante do estator que
rotor no eixo direto e seus fluxos concatenados tornam- acompanha a corrente de curto-circuito da figura 1. Deve
se, assim, de importância determinante. então surgir subitamente uma corrente induzida no
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Capítulo 10: Curto-Circuito e Reatâncias- 72
MÁQUINAS SÍNCRONAS

enrolamento amortecedor. Esta é determinada pelo constância de fluxos concatenados se aplica igualmente a
comportamento da corrente do estator durante o período cada uma das três fases do estator sem resistência. Se o
subtransitório, e simplesmente representa uma excitação curto-circuito aparece em um instante em que os fluxos
de rotor ainda maior do que está presente no período concatenados com uma fase do estator são nulos,
transitório. A corrente induzida no amortecedor decresce nenhuma componente contínua é exigida para mantê-los
com uma taxa determinada pela resistência e pela constantes nesta valor, e a onda de corrente de curto-
indutância equivalente do circuito do amortecedor, e o circuito para esta fase é simétrica. Se, entretanto, o curto-
correspondente acréscimo de corrente de estator decresce circuito aparece em um instante em que os fluxos
com a taxa. Como a relação entre a resistência e a concatenados com as fases possuem valores não nulos,
indutância equivalente do amortecedor é maior do que a uma componente contínua deve aparecer nesta fase a fim
do circuito de campo, o decréscimo subtransitório é muito de manter os fluxos concatenados constantes. A
mais rápido do que o decréscimo transitório. A constante componente contínua, com efeito, preenche a mesma
de tempo subtransitória associada pode ser determinada necessidade da componente contínua de corrente
pelas envoltórias da figura 1. transitória em um circuito RL simples, com uma tensão
Mas o oscilograma da citada figura não é um alternada subitamente aplicada. Como no circuito RL, o
caso geral, pois é mostrada uma onda de corrente maior valor possível de componente contínua é igual ao
simétrica. Os oscilogramas de curto-circuito mais usuais maior instantâneo de corrente de curto-circuito durante o
tem a aparência geral ilustrada na figura 3 [1]. período sub-transitório. Esta maior componente contínua
As formas de onda mostradas não são simétricas ocorre quando o curto-circuito aparece no instante de
em relação ao eixo de corrente zero, e tem componentes fluxos concatenados máximos para uma fase do estator e,
contínuas que resultam em ondas deslocadas. Uma onda a onda de corrente de curto-circuito então está
simétrica como a da figura 1 pode ser obtida completamente deslocada do eixo zero. A componente
redesenhando as ondas depois de subtrair a componente contínua, não sendo mantida por uma tensão no circuito
contínua, ou tomando uma série de oscilogramas até que de estator, decresce com uma taxa determinada pela
seja obtida uma onda simétrica para uma das três fases. resistência e pela indutância equivalente do circuito do
estator.
A componente contínua de corrente de estator
estabelece um campo componente no entreferro que é
estacionário no espaço e que, portanto, induz uma tensão
e corrente de freqüência fundamental nos circuitos do
rotor que giram sincronamente. A figura 4 mostra a
componente alternada superposta à corrente de campo,
imediatamente após um curto-circuito trifásico nos
terminais do estator; também está ilustrado nesta figura 1,
a corrente de campo não pode mudar repentinamente ao
primeiro instante.

Figura 4 - Corrente de campo em seguida a um curto-


circuito na armadura [1].
Os campos pulsantes produzidos por estas
correntes monofásicas podem ser decompostas em
componentes girantes opostas. Uma componente é
Figura 3 - Correntes de curto-circuito nas três fases do estacionária em relação ao estator, e reage diretamente
gerador [1]. contra a componente contínua da corrente do estator. A
outra componente caminha a duas vezes a velocidade
A componente contínua da corrente do estator se síncrona em relação ao enrolamento do estator e nele
encaixa no quadro físico quando se reconhece que a induz uma segunda harmônica. Se o circuito do estator é
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Capítulo 10: Curto-Circuito e Reatâncias- 73
MÁQUINAS SÍNCRONAS

desequilibrado (por curto-circuito entre fases ou fase- porém ainda menor que Xd. Esta reatância de valor
neutro, em lugar de um curto-circuito trifásico simétrico, intermediário, correspondente à reação do campo, é
por exemplo), aparecem harmônicas superiores nas conhecida como “reatância transitória de eixo direto
correntes de rotor e estator por reflexões sucessivas X’d”.
através do entreferro. Também são introduzidas Em relação à X’q são válidas as mesmas
harmônicas pela componente alternada da corrente de considerações feita para o período subtransitório.
estator sob condições assimétricas. O resultado é que para
um curto-circuito assimétrico nos terminais da máquina, a
forma de onda pode ser decididamente diferente daquelas 2.3 - Período ou regime permanente
dadas nas figuras 1 e 3.
Quando os curto-circuitos ocorrem em pontos Analisado em itens anteriores.
afastados dos terminais da máquina, as harmônicas
podem ser fortemente diminuídas pela reatância 2.4 - Constantes de tempo
interposta [1].
A NBR 5117 da ABNT especifica que o valor da A constante de tempo é definida como o tempo
corrente de curto-circuito trifásico de pico (no regime gasto para que a corrente atinja 36,8% de seu valor
subtransitório) não deve exceder 21 vezes o valor eficaz original.
da corrente nominal, sob tensão nominal. Nos geradores síncronos existem várias
constantes de tempo, ou seja:

2.0 - REATÂNCIAS E CONSTANTES DE TEMPO EM a) Constante de tempo em vazio (T’do): Definida


REGIMES TRANSITÓRIOS como o tempo em segundos para que o valor
da f.e.m. induzida em vazio caia a 36,8% de
Com as considerações efetuadas no item seu valor inicial, quando o enrolamento de
anterior, é possível identificar três reatâncias de eixo campo é curto-circuitado e a máquina esteja
direto distintas bem como, outras tanto de eixo em operando à velocidade nominal.
quadratura. Assim, para cada período citado, tem-se: b) Constante de tempo subtransitória (T”d): É o
tempo necessário para que a componente
2.1 - Período Subtransitório subtansitória de corrente de curto-circuito
seja reduzida a 36,8% de seu valor inicial,
a) Reatância Subtransitória de Eixo Direto com a máquina operando à velocidade
(Xd”): É igual à reatância de dispersão da nominal.
armadura adicionada à reatância pelo fluxo c) Constante de tempo transitório (T’d): É o
da armadura que, atravessando o entreferro, tempo necessário para que a componente
penetra no rotor. O processo subtransitório transitória de corrente de curto-circuito seja
dura 1 a 5 ciclos e determina o valor da reduzida a 36,8% de seu valor inicial, com a
corrente de curto-circuito dinâmica. máquina operando à velocidade nominal.
b) Reatância Subtransitória de Eixo em d) Constante de tempo da armadura (TA): É o
Quadratura (Xq”): A reatância subtransitória tempo necessário para que a componente
em quadratura coincide com a reatância contínua da corrente de curto-circuito caia a
síncrona em quadratura (Xq), pois os 36,8% de seu valor inicial.
geradores síncronos não possuem
enrolamentos perpendiculares ao eixo do Observe-se que as reatâncias citadas e as
pólo. constantes da máquina são apropriadas para o uso, não
somente para curto-circuito trifásico diretamente aos
2.2 - Período Transitório terminais de uma máquina em vazio, mas também para
qualquer aplicação envolvendo uma mudança brusca nas
Com visto anteriormente, não apenas o corrente de eixo direto. Por outro lado, as tais constantes
enrolamento amortecedor reage à variações bruscas de são importantes em estudos de variações de tensões e de
carga, mas, também, o campo. restabelecimento da tensão terminal quando ocorrem
Como o enrolamento amortecedor possui uma mudanças de carga.
pequena constante de tempo, a sua ação tem breve
duração. Ao cessar tal ação (período subtransitório),
somente persiste a do campo. 3.0 - REATÂNCIAS DE SEQUÊNCIA NEGATIVA E
Nesta situação, o fluxo de reação da armadura ZERO
pode circular por um caminho de baixa relutância; assim,
é claro que este fluxo assume níveis superiores ao Com a máquina alimentando circuitos
anterior e, em conseqüência, a reatância é maior que Xd”, desequilibrados surgirá uma componente de fluxo que
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Capítulo 10: Curto-Circuito e Reatâncias- 74
MÁQUINAS SÍNCRONAS

gira em sentido oposto ao do rotor; este provoca uma três fases e fechando pelo neutro. O seu conhecimento é
tensão auto-induzida e, em conseqüência, pode-se importante no estudo de desequilíbrios, inclusive na
considerar a existência de uma reatância, a qual se determinação de correntes de curtos-circuitos
denominou de “reatância de seqüência negativa (X2)”. assimétricos com contato à terra.
Observe-se que, como o fluxo de seqüência negativa
corta o rotor com o dobro da freqüência, a reatância X2 é,
na realidade, subtransitória e pode ser definida como a 4.0 - IMPORTÂNCIA DAS REATÂNCIAS
média da soma de Xq” e Xd”. O seu conhecimento é um
fator importante no estudo de desequilíbrios, inclusive na A tabela 1 apresenta de forma resumida a
determinação de correntes de curtos-circuitos importância da determinação das principais reatâncias
assimétricos. citadas.
Por outro lado, se em uma unidade com neutro
aterrado é submetido a um desequilíbrio tal como uma
falta à terra, surgirá um fluxo pulsante, não rotativo, na
fase alternada. De qualquer forma, haverá uma tensão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
auto-induzida caracterizando uma “reatância de
seqüência zero (Xo)”.
Observe-se que esta seria a reatância encontrada [1] Fitzgerald, A.; Kingsley Jr., C.; Kusko, A.. “Máquinas
por um valor de corrente igual e em fase circulando pelas Elétricas” - Editora Mc.Graw-Hill do Brasil.

Tempo de existência
Reatância Símbolo Importância
(aproximado)
Determina a máxima corrente de curto-
Subtransitória Xd” 0 a 5 ciclos
circuito instantânea.
Determina a corrente no instante em que a
Transitória Xd’ proteção deve atuar no caso de um curto- 6 ciclos a 5 segundos
circuito.
Síncrona Xd Determina a corrente em regime permanente. Contínua após 5 segundos

Um dos fatores na determinação da corrente


Seqüência Zero Xo de terra em máquinas com neutro aterrado Idem
(falta à terra, por exemplo).
Seqüência Um dos fatores na determinação das
X2 Idem
Negativa correntes falta (por exemplo, falta fase-fase).

Tabela 1 - Reatâncias e suas importâncias.

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Capítulo 10: Curto-Circuito e Reatâncias- 75
MÁQUINAS SÍNCRONAS

CAPÍTULO 11: PERDAS, RENDIMENTO E


AQUECIMENTO
“Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a
palavra pronunciada e a oportunidade perdida.”

Provérbio Chinês

RESUMO onde:

Este texto analisa o carregamento dos geradores PH - potência perdida por histerese [W];
síncronos que é limitado pelo aquecimento. As perdas, a KH - coeficiente de Steinmetz, o qual
potência e rendimentos da máquina nas várias situações depende do material utilizado;
possíveis são estudadas. Além disto, são fornecidos f - freqüência [Hz];
procedimentos para a utilização da curva de capabilidade B - indução magnética máxima (antes da
visando uma maior eficiência operacional. saturação da chapa);
η - expoente de Steinmetz, depende do material e
1.0 - PERDAS variável entre 1,6 e 2,0;
G - peso do material magnético do núcleo
A conversão de energia mecânica em energia [Kg].
elétrica nos geradores, assim como em todos os processos
semelhantes, é acompanhado das inevitáveis perdas na 1.1.2 - Perdas por correntes parasitas ou de Foucault
forma de energia térmica, o que, em conseqüência, resulta
em aquecimento de suas partes componentes. Nas O material que forma o circuito magnético da
máquinas síncronas, as perdas podem ser classificadas máquina é condutor elétrico, embora sua condutividade
em: seja pequena quando comparada com a do cobre o
alumínio.
a) Perdas no ferro devido a fluxos parasitas e Sabe-se que, pela lei de Faraday, o fluxo
principal; magnético variável no tempo ao atravessar um circuito
b) Perdas por efeito Joule nos enrolamentos da induzirá tensões em seus terminais; estas, por sua vez,
armadura; originarão circulação de corrente se o circuito estiver
fechado. Considerando o circuito magnético como
c) Perdas no circuito de excitação;
elétrico atravessado pelo fluxo principal, surgem as
d) Perdas por atrito e ventilação; e chamadas “correntes parasitas ou de Foucault”. Estas
e) Perdas adicionais devido a circulação de percorrem os caminhos mais variados, cobrindo em sua
corrente pelos enrolamentos da armadura. trajetória toda a peça do material magnético. Como este
possui uma resistência elétrica, há energia dissipada sob a
1.1 - Perdas no ferro devido a fluxos parasitas e forma de calor.
principal
Evidentemente, a energia dissipada é uma
Basicamente, as perdas no ferro são compostos parcela da energia fornecida no eixo. A carga alimentada
pelas de histerese, Foucault e adicionais devido a fluxos pelo gerador não a utiliza e aquece os enrolamentos,
parasitas. alterando os valores de suas resistências ôhmicas e as
perdas no cobre.
1.1.1 - Perdas por histerese
A maneira utilizada para minimizar os efeitos
O fenômeno da histerese magnética não será das correntes parasitas é diminuir a sua trajetória,
analisado neste texto, entretanto, a expressão (1) fornece empregando a laminação do aço silício em finas camadas.
as perdas em função das grandezas que a influenciam, A figura 1 mostra as correntes de Foucault em bloco
válida para indução com valores superiores a 10000 maciço, a figura 2 em chapas laminadas e a figura 3 a
Gauss. disposição do fluxo em relação às chapas. Observe-se que
as chapas são isoladas entre si com certos esmaltes ou,
PH = KH . f . Bη . G . 10-10 (1) raramente, pela própria oxidação.
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 76
MÁQUINAS SÍNCRONAS

onde:

PF - potência perdida por correntes de


Foucault [W];
KF - coeficiente de Foucault, levantado
experimentalmente. Depende da densidade e quantidade
magnética do material;
f - freqüência da rede, [Hz];
B - indução magnética máxima (antes da
saturação da chapa), [G];
x - espessura da chapa, [mm];
G - peso do material magnético, [Kg].

Nota-se, claramente, a influência da espessura da


chapa; portanto, deve-se utilizar núcleos laminados ao
invés de maciços. Mantendo-se todas as grandezas
Figura 1 - Correntes de Foucault - Bloco maciço. constantes, vê-se que se o núcleo for dividido em n
chapas, apenas 1/n da corrente circula em cada uma e as
perdas individuais serão 1/n2 vezes menores; desta forma,
a perda total será reduzida de 1/n em relação ao núcleo
sólido.
Na atualidade, as chapas são manufaturadas com
espessura variando entre 0,35 mm a 1,5 mm.

1.1.3 - Perdas totais por histerese e Foucault

As perdas totais por histerese e Foucault são


dadas por:

PHF = f B2 G (KH Bη-2 + 0,01 KF . f . x2).10-10 (3)

Observe-se que a redução das perdas dá-se pela


Figura 2 - Corrente de Foucault - Material laminado laminação e pela utilização de chapas de qualidades
magnéticas superiores, tais como as que possuem uma
certa porcentagem de silício; assim, à título de exemplo, a
tabela 1 fornece os valores típicos de KH e KF para chapas
de 0,5 mm.

Percentagem de PHF KH KF
Silício (W/kg)
Baixa 3,0 4,7 10,4
Média 2,3 3,8 6,4
Alta 1,7 2,05 4,4
B > 10000 [G] e f = 50 [Hz]

Tabela 1 - Influência da presença de silício nas perdas por


histerese e Foucault

Figura 3 - Fluxo magnético em relação às chapas. As perdas calculadas por (3) são, na realidade,
inferiores às reais, devido ao fato de se assumir a
Após a laminação, as correntes parasitas ficam densidade de fluxo como senoidal, o que não ocorre. O
confiadas às chapas reduzindo-se as perdas. Este fato acréscimo de perdas decorrente deste fato, pode ser da
torna-se claro através a expressão (2). ordem de 40% a 60% para máquinas de pólos salientes,
30 a 40% para máquinas de rotor cilíndrico com quatro
PF = KF . G . f2 . B2 . x2 . 10-12 (2) pólos e 15 a 25% para as com dois pólos.
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 77
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Para o caso de máquina com alto grau de Por outro lado, supondo as três correntes como
saturação, uma pequena parte do fluxo principal equilibradas, tem-se:
atravessará as partes estruturais do estator, resultando em
perdas adicionais. Estas serão reduzidas com a utilização IA = IB = IC = IN (7)
de materiais não magnéticos.
O “ripple” de fluxo, provoca uma indução de onde:
corrente nos enrolamentos amortecedores, sendo que os
seus níveis diferem dos do estator, nesta situação, as I
perdas tornam-se consideráveis. A prática mostra que fc = (8)
uma diferença de 15 a 25% entre os passos, reduz tais IN
perdas a valores baixos, tornando-se desprezáveis se
ambos forem iguais; esta é uma solução interessante para Assim:
geradores de pólos salientes, mas não para motores
síncronos, pois haverá a produção de torques com PJ = Kθ . f c2 . PJN (9)
tendências a travamento do rotor.

1.2 - Perdas por Efeito Joule nos Enrolamentos de PJN = ∑ R . I N 2 (10)


Armadura

Estas perdas por efeito Joule surgem em função ∑R . R A + RB + RC (11)


da corrente exigida pela carga; assim, quando há a
circulação das correntes nominais pelos enrolamentos, 1.3 - Perdas no circuito de excitação
elas são consideradas como nominais. Elas podem ser
calculadas através de: As perdas no circuito de excitação são aquelas
devido ao efeito Joule, originadas pela circulação de
PJ = RA IA2 + RB IB2 + RC IC2 (4) corrente no enrolamento decampo. Se o gerador possui
escovas, deve-se considerar a queda de tensão, dada por:
onde:
a) escovas de carvão e grafite - 1 Volt;
RA, RB, RC - resistência dos enrolamentos das fases, A, B b) escovas que contenham metal - 0,3 Volts.
e C;
IA, IB, IC - correntes dos enrolamentos das fases A, B e C. Se o gerador é do tipo “brushless” ou possui
excitatriz principal e piloto acionados no mesmo eixo do
Como resistências ôhmicas estão presentes, as gerador, suas perdas devem ser consideradas.
perdas se alteram com a variação de temperatura. Assim,
caso sua determinação se dê em temperatura diferente da 1.4 - Perdas por atrito e ventilação
de referência (normalmente, 40O C) é necessário corrigi-
la; para tanto, utiliza-se: Dependendo do tipo e características nominais
do gerador, as perdas por atrito e ventilação podem
RθR = Kθ . RθA (5) assumir um valor de 0,2 a 0,8% da potência nominal. Os
seus maiores níveis se dão para máquinas com altas
sendo: velocidades e potências. No caso específico de grandes
turbogeradores, a maior parcela destas perdas são por
RθR - resistência à temperatura de referência (θR); ventilação.
Rθe - resistência à temperatura de ensaio, (θR), A prática moderna de se utilizar hidrogênio, ao
invés de ar, como meio de refrigeração para as grandes
e, máquinas, permite a redução das perdas por ventilação
em até 10% daquelas que ocorrem com o ar.
K + θR
Kθ = (6)
K + θe
1.5 - Perdas adicionais devido a circulação de
K = 234,5, para enrolamentos de cobre; corrente pelos enrolamentos da armadura
K = 246, para enrolamentos de alumínio
(raramente utilizado e, mesmo assim, em máquinas de Estas perdas incluem as por efeito Skin, perdas
pequeno porte). adicionais no ferro devido ao carregamento e aquelas nas
partes estruturais devido aos fluxos de dispersão.
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 78
MÁQUINAS SÍNCRONAS

1.5.1 - Perdas devido ao efeito Skin P P


η% . 100 = (14)
Como visto anteriormente, há o surgimento de Pc P + ∑ Pe
um fluxo de dispersão transversal nas ranhuras quando da
circulação de corrente. Tal fluxo produz o efeito Skin nos como:
condutores, o qual pode incrementar as perdas em cerca P = 3 U I A cosϕ (15)
de 15 a 20% em relação às por efeito Joule analisadas.
Em máquinas de grande porte é usual a
utilização de condutores especiais (barras Roebel) ou a sendo:
divisão em subcondutores de forma a reduzi-las a um
mínimo. U - tensão de fase, para manter a notação anterior;

1.5.2 - Perdas adicionais devido ao carregamento ou ainda:


P= 3 U L I A cosϕ = S cosϕ (16)
A distribuição não senoidal dos enrolamentos da
armadura acarreta ripple de fluxo quando há circulação de
corrente; estes fluxos harmônicos produzem perdas na então:
superfície do rotor. Nas máquinas de pólos salientes, elas S cosϕ
η% (17)
estão presentes nas faces dos pólos, enquanto nas de S cos ϕ + ∑ Pe
pólos lisos, na superfície do rotor sólido. Normalmente,
estas perdas são de pequena magnitude (0,05 a 0,15% da
potência de saída) devido ao grande entreferro presente A análise de (17) permite concluir que o
nas máquinas síncronas. rendimento do gerador depende fortemente da situação
operacional do sistema a que está ligado. Em outras
1.5.3 - Perdas devido ao fluxo de dispersão palavras, o citado sistema poderá ser isolado ou
interligado e exigir uma maior geração de ativo ou reativo
Os fluxos de dispersão nas cabeças de bobina conforme o ciclo da carga. Assim, o controle exercido
produzem perdas por correntes parasitas nas partes influenciará de forma decisiva o rendimento do gerador,
estruturais. pois para uma mesma potência total, porém, com fatores
de potência distintos, as perdas se alteram.
A figura 4 mostra as curvas do rendimento em
2.0 - RENDIMENTO função da potência ativa para cosϕ = 1 e 0,8, de uma
máquina de pequeno porte.
O rendimento de um gerador é definido por: Observe-se que algumas condições operativas
potencia cedida a c arg a tendem a alterar o rendimento de forma desfavorável;
η% . 100 (12) algumas delas são a alimentação de cargas
potencia absorvida no eixo desequilibradas, operações com sobrecargas e
sincronização fora de fase, entre outras.
chamando-se de:

P - potência útil ou cedida à carga;


Pe - potência absorvida no eixo; e
ΣPe - perdas totais, dadas por:

∑P e = PHF + PJ + PAD + Pex (13)

onde:

PHF - perdas por histerese e


Foucault;
PAV - perdas por atrito e ventilação;
PJ - perdas por efeito Joule nos enrolamentos da
armadura;
PAD - perdas adicionais;
Pex - perdas no circuito de excitação (depende dos sistema
de excitação).
Tem-se: Figura 4 - Rendimento em função da potência elétrica;
fator de potência como parâmetro
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 79
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Para que o rendimento do gerador, e) retardamento: a máquina deve ser levada a


correspondente a uma situação operacional qualquer, seja uma certa velocidade e mede-se o tempo de
sempre o melhor possível, tem-se: a limpeza dos retardamento para que a atinja outro valor pré-
geradores e excitatrizes que, em geral, permitem um determinado; obtém-se as perdas totais a partir
pequeno aumento no rendimento e na resistência de deste tempo;
isolamento; verificação e ajuste da pressão das escovas do f) calorimétrico: a máquina opera como gerador
campo e excitatrizes rotativas (se houverem); utilização e as perdas totais são obtidas calculando-se o
de escovas de granatura adequada para a aplicação, calor absorvido pelo fluído refrigerante e
procurando-se uma misturar as de tipos diferentes; adicionando-se as perdas não determinadas
execução de inspeções com uma certa periodicidade, calorimetricamente;
avaliando-se a limpeza, nível dos reservatórios de óleo, g) soma das perdas em separado: deve-se
serpentinas de refrigeração, isolação dos mancais, executar os seguintes ensaios:
comutadores e escovas. Ocasionalmente, elas devem ser „ perdas no circuito de excitação: obtida
feitas também nos enrolamentos, carcaças e outras partes, através da corrente e tensão de excitação
inclusive verificando o aperto adequado de compressão para um dado estado operacional; se a
do núcleo; em relação ao rotor, é indispensável que os excitatriz for ponta de eixo, deve-se
parafusos ou chavetas dos pólos sejam examinados adicionar as perdas respectivas;
regularmente; execução de uma reversão periódica das „ perdas independentes da corrente, podem
escovas dos anéis coletores do gerador, pois assim, em ser avaliadas pelo método do fator de
geral, suas superfícies se mantém em melhores condições. potência unitário (semelhante ao de fator
Além disto, é interessante a verificação do nível de de potência nulo), pelo método do
vibração do rotor; neste caso, as medidas devem ser circuito aberto (o qual exige um motor
analisadas visando descobrir-se um indicativo de calibrado para acionamento do gerador),
deslocamento de massa, a qual pode ser resultado da retardamento, ou calorimétrico;
presença de rachaduras e elementos quebrados, ou de „ perdas devido à carga: são calculadas a
curto-circuitos entre espiras no enrolamento de campo. partir da corrente de armadura e da
O rendimento dos geradores pode ser levantado resistência do enrolamento, corrigidas
através de medição direta ou indireta. No primeiro caso, para a temperatura de referência;
mede-se a potência elétrica fornecida à uma carga e a
„ perdas suplementares em carga: são
absorvida junto ao eixo da turbina. A medida indireta
determinadas pelo ensaio de curto-
pode ser feita pela determinação das perdas em separado
circuito, devendo o gerador ser acionado
ou das totais.
por um motor calibrado ou freio. A
Os ensaios normalizados para a avaliação do
potência fornecida pela máquina primária
rendimento e sus características principais são:
subtraída das perdas devido à carga é
suplementar.
a) ensaio do freio: exige uma máquina elétrica
primária com carcaça livre (dinamômetro) ou Os métodos citados em a, b, c, a do circuito
transdutores de torque ou, ainda, “strain aberto e a de curto-circuito são claramente inadequados
gauges”; para teste de campo nas usinas em operação pois:
b) máquina calibrada: exige um motor elétrico a) freios dinamométricos e motores calibrados
que possua uma característica rendimento em devem ter potências compatíveis com a do
função da potência elétrica absorvida à rede gerador a ensaiar; naturalmente, são
levantada com grande precisão; disponíveis apenas em laboratórios;
c) oposição elétrica e mecânica (“Back to b) transdutores de torque exigem o
Back”): aplicável apenas quando se tem duas desacoplamento do grupo gerador para a sua
máquinas idênticas, as quais são acopladas inserção e, posteriormente, alinhamento; após
mecânica e eletricamente de forma a agirem executado o ensaio, novamente o processo tem
uma com motor e a outra como gerador, com que ser repetido. Além disto, os equipamentos
velocidade nominal; deveriam ter grandes dimensões;
c) nem sempre as usinas mais antigas (por
d) fator de potência nulo: a máquina é motorizada exemplo, uma PCH) possuem dois grupos e,
de forma a desenvolver a velocidade nominal e ainda mais, com máquinas de características
excitada de modo que absorva corrente semelhantes. Os acoplamentos exigidos devem
nominal a um fator de potência nulo; assim, a ser efetuados de modo a manter a relação
uma potência absorvida junto à rede será correta de ângulo de fase, o que, no contexto
equivalente à perdas totais; analisado é impraticável;
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 80
MÁQUINAS SÍNCRONAS

d) o emprego de “strain-grauges” permite a sistema de geração; excitatriz brushless ou estáticas


medição direta da potência de eixo, desde que apresentam um melhor aproveitamento energético que as
conheça os materiais de que é fabricado e suas excitatriz rotativas tradicionais (por exemplo, constituídas
dimensões, o que em instalações antigas é pela excitatriz principal e piloto).
bastante difícil. Outras restrições são as As condições de aquecimento das perdas de uma
influências sofridas na medida por eventuais máquina que opera em contato com seu isolamento
vibrações e ângulo de fixação. aquecidas são, em geral, as seções internas dos diversos
enrolamentos.
O ensaio de retardamento exige o conhecimento A quantidade de calor envolvida também difere
da inércia do grupo com um certo grau de precisão, bem conforme as condições operativas e, além disto, o sentido
como, que a máquina em ensaio deva ser levada de seu fluxo não permanece constante dentro da máquina.
mecanicamente até a sobrevelocidade por meio de um
motor de acionamento ou uma excitatriz diretamente Simplificando o problema, sabe-se que a
acoplada com a capacidade suficiente, ou pela própria temperatura alcançada pela máquina depende:
turbina ou, ainda, eletricamente por meio de uma máquina
alimentadora. O ensaio calorimétrico é de extrema a) das perdas;
complexidade, principalmente consideradas as b) do tempo de funcionamento;
necessidades de subdivisão dos dutos de entrada e saída c) das condições ambientais;
de ar; assim é mais aplicável à máquinas refrigeradas à
água.
Por outro lado, o aquecimento causa dois
problemas fundamentais, ou seja, diminui o rendimento
3.0 - AQUECIMENTO ligada com isolamento. Como citado, a temperatura está
intimamente ligada com as perdas no gerador, ou seja,
3.1 - Condições Gerais quanto maior as perdas, maior aquecimento (ou vice-
versa) e menor rendimento, isto resulta na limitação da
A deteriorização dos materiais isolantes sólidos potência possível de ser extraída do aparelho, ou seja,
utilizados em máquinas elétricas deve-se à vários fatores, afeta a capacidade de carga do gerador. Por outro lado, o
tais como a umidade, ambientes agressivos, danos envelhecimento ou deteriorização (“aging”) do
mecânicos e aquecimento excessivo; entre estes, o último isolamento é função do tempo e da temperatura;
citado ocorre muito comumente. observando-se que, mesmo em condições do controle
Além disto, em instalação mais antigas, a adoção excepcionais, não estão devidamente estabelecidos os
de conceitos de projetos, materiais e práticas de seus efeitos acumulados. Na realidade, pode-se considerar
fabricação mais modernas propiciam uma elevação do que o funcionamento em temperaturas elevadas causa um
rendimento dos geradores pela diminuição das perdas envelhecimento mais acelerado do isolamento,
específicas, bem como, uma eventual majoração de comparando-se com as condições normais.
potência. Existem várias possibilidades, entre as quais, Por outro lado, o envelhecimento do isolamento
relaciona-se as seguintes: a utilização de isolamento com relaciona-se diretamente com a vida útil do gerador; esta,
uma estrutura mais eficiente permite que se empreguem por sua vez, pode ser definida como o tempo necessário
condutores dos enrolamentos com seções maiores que as para que a força de tração do isolamento sólido se reduza
iniciais, reduzindo-se as perdas no estator; o aumento do a percentuais do valor original para o equipamento novo.
passo de bobina do estator em uma ranhura, ou a Note-se que este tempo é bastante variável dependendo
utilização de materiais com propriedades magnéticas dos seus ciclos de carga, os quais o solicitam
superiores (por exemplo, 1,1 a 1,3 [W/kg] para 10000 termicamente. Desta forma, é impossível estabelecer um
Gauss, contra 2,3 [W/kg] utilizados em projetos mais determinado número de anos como a sua expectativa de
antigos) resulta em decréscimo das perdas no núcleo; em vida.
conseqüência desta mudança, a corrente de campo e
perdas correspondentes assumem níveis inferiores aos Pelo exposto, conforme o material utilizado no
iniciais; os enrolamentos do estator podem ser isolamento, existirá uma temperatura limite, acima da
reformados, reduzindo-se as perdas adicionais pelo uso de qual a vida do equipamento torna-se menor; sendo assim,
vários subcondutores e transposições adequadas; neste os materiais isolantes e o sistema de isolamento são
caso, é possível diminuir a espessura do isolamento com a agrupados em “classes de isolamento”, cada qual definida
utilização de materiais de classe superior (classe B para F, pelo seu respectivo limite de temperatura.
por exemplo, resultando em uma melhor capacidade de
transmissão de calor e de refrigeração na máquina. A norma NBR 5117/84 da ABNT define os
A utilização de métodos de excitação mais limites de elevação de temperatura dados na tabela 2. A
modernos podem levar a um aumento do rendimento do temperatura ambiente máxima é de 40o C.
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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 81
MÁQUINAS SÍNCRONAS

Classe de Isolamento π . D .n
Método de (Temperatura em OC) V = (20)
A E B F H
60
Medição
Termométrico 50 65 70 85 105
sendo:
Variação da
Resistência 60 75 80 100 125 V - velocidade periférica do rotor [m/s];
n - rotação [rpm].
Tabela 2 - Elevação de temperatura para as diversas
classes, conforme NBR 5117/84. Por outro lado, pode-se adotar que, para
máquinas bem ventiladas:
Os valores da tabela são válidos para o
enrolamento da armadura e de campo.
1 + 0,1 V
h = (21)
3.2 - Elevação de temperatura em máquinas 360
síncronas
e, para as mal ventiladas:
No caso de máquinas síncronas projetadas para
operação contínua, a temperatura que a máquina alcança 1 + 0,1 V
em regime permanente (isto é, quando o calor produzido h = (22)
pelas perdas é transferido para o meio refrigeração) é um 540
fator de grande importância em termos práticos. Pode-se
mostrar que o seu valor é dado por:
então, a temperatura dos enrolamentos do estator será:

θ max =
∑P e
(18)
S.h
θmax = (360 ou 540) .
∑P e
(23)
onde: S . (1 + 0,1 V )

θmáx - temperatura máxima atingida com as perdas; No rotor, a superfície de dissipação é apenas a
S - superfície de dissipação [m2]; lateral da bobina de campo. Os valores de h para
h - coeficiente de transferência de calor [W/m2 OC]. máquinas de pólos salientes são para:

Como as máquinas síncronas são corpos


heterogêneos, é comum verificar-se o aquecimento Máquinas de alta velocidade;
separadamente para o rotor e o estator.
No caso do estator, a superfície de dissipação é h = 25 a 32 (24)
dada por:
h = 20 a 25 (25)
π
S = ( De2 − Di2 ) (2 + no ) + π L ( Do + D1 ) (19)
4 Os valores dados em (24) e (25) são relativos a
enrolamentos confeccionados com condutores comuns.
sendo:
Para enrolamentos com barras de cobre os
De - diâmetro externo da armadura; valores são de 30% superiores.
Di - diâmetro interno da armadura;
no - número de canais de ventilação;
L - comprimento da armadura. Para turbo geradores, tem-se:

Por outro lado, conhecendo-se o diâmetro o rotor


(D), tem-se: h = 17 a 25 (26)

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Capítulo 11: Perdas, Rendimento e Aquecimento - 82

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