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Com a Revolução Industrial iniciou-se uma crescente separação entre casa e local
de trabalho além da desagregação da estrutura de família extensa no âmbito social. No
século XIX a família ocidental surgia com a configuração da família parental atual; pai, mãe
e filhos. No entanto a evolução estrutural da família sugere, ao longo dos tempos, uma
quantidade cada vez menor de membros no crescente número de famílias. Esse decréscimo
é resultado da redução do número de filhos por casal (ARIÉS, Ib Ibid, p. 30).
1
Compilação e adaptação de artigos, livros e pesquisas na área. Referências bibliográficas disponíveis.
2
ARIES, P. A família e a cidade.
Consolidou-se então no início do século XX o caráter privado da família, de uma
face extensa e parental ao modelo de família nuclear, composta de mãe, pai e filhos. O
padrão de família era então o casal companheiro ligado por laços de afetividade numa união
monogâmica, fundamentada no amor e vivendo em função dos filhos Esse modelo familiar
torna-se presente nos dias de hoje, desejado e evidenciado em ritos de casamento em
frases e juramentos de lealdade e fidelidade (ARIÉS, Ib Ibid, p. 31).
3
FONSECA, C. Amor e família no Brasil.
contraceptivos e de esterilização corroboram para a diminuição da taxa de natividade,
embora se mostrem pouco significativos para conter o aumento do número de adolescentes
e jovens que se tornam pais. O declínio no número de casamentos e a atual tendência às
relações estáveis com a coabitação dos parceiros também se torna um fator importante na
estrutura de um novo modelo familiar4 .
4
PEREIRA, P. A. Desafios contemporâneos para a sociedade e a família.
5
SARTI, C. A família patriarcal entre os pobres urbanos.
promove a convivência doméstica das crianças com avós e outras entidades familiares,
serve para elucidar algumas razões que promovem o pedido de ação de guarda, uma vez
que o requerente dessas ações se configura grande parte das vezes como avós ou figuras
parentais que participaram ativamente da criação do infante.
6
ADOLFI, M. A terapia familiar.
transformação como modalidade de adaptação às demandas circunstanciais e a fim de
possibilitar o desenvolvimento psicossocial de seus membros. Modalidade essa que é
direcionado à tendência homeostática. Essa capacidade de auto-regulação do sistema
compreende o conceito de retroalimentação negativa e direciona-se à manutenção
homeostática. A capacidade de transformação, relacionada com a adaptação do sistema às
novas demandas, é direcionada pela retroação positiva onde o mecanismo de feedback
direciona-se à mudança.
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MINUCHIN. S. Families and family therapy
sintoma, que compete ao sistema inteiro manifesta-se em um membro, chamado de
Paciente Identificado. NICHOLS e SCHWARTZ8 relatam sobre o posicionamento do
membro sintomático, apontando o direcionamento do foco de atenção da família a ele.
Apontam também a voluntariedade do ato “sintomático”, onde o PI abre mão de seu bem
estar pelo do sistema.
“... Na nossa cultura atual os casais estão menos amarrados por tradições
familiares e mais livres do que nunca para desenvolverem relacionamentos homem-mulher
diferente daqueles que experienciaram em suas famílias de origem” (pg. 18).
Numa família parental, relatar o papel dos filhos implica remeter antes ao papel
que lhe é estabelecido antes mesmo que possa nascer. Uma vez que o universo simbólico é
compartilhado pelo sistema, as expectativas que envolvem esse novo membro definem a
8
NICHOLS, M.P. e SCHWARTZ. R. C. Terapia Familiar – Conceitos e métodos
9
CARTER, B. e McGOLDRICK, M. As mudanças no ciclo de vida familiar.
sua função na família. Assim a criação e os cuidados que esta criança recebe estão
diretamente relacionados a esse papel idealizado pelos pais. Em geral, os pais esperam que
os filhos tenham carreiras promissoras no âmbito profissional, o que leva esses pais, muitas
vezes baseados em suas próprias experiências profissionais, a decidir ou influenciar as
escolhas, depositando sobre a criança o peso dessa expectativa.
Entretanto, somente esse aspecto não define pontualmente o papel dessa criança,
embora tenha forte relação com a função que ela vai desempenhar na evolução dessa
família. Na maioria das sociedades, a criança é tida como fruto da união do casal e símbolo
desse amor conjugal. Os vínculos afetivos estabelecidos visam o cuidado e as atenções se
voltam para o novo membro. Diante disso, CARTER e McGOLDRICK propõem que, desde o
momento do nascimento, a criança demanda dos pais o avanço de uma geração, a fim de
que se tornem cuidadores. Nesta fase, os problemas mais comuns na relação entre pais são
as constantes brigas pelas responsabilidades e pela postura diante dos filhos. Grande parte
das vezes, esses pais são incapazes de impor limites e exercer a autoridade necessária na
criação das crianças e evidenciam dessa forma, sua relutância na aceitação da fronteira
geracional entre eles e seus filhos. As principais queixas nesta fase referem-se à falta de
controle sobre a criança ou, num referencial oposto, o comportamento dos pais, que
refletindo uma forte barreira geracional, espera dessa criança, atitudes e comportamentos
adultos.
Torna-se cada vez maior a preocupação dos pais em acertar na educação dos
filhos. Muitas vezes aqueles se perguntam onde foi que erraram para que o filho tivesse a
dificuldade que hoje tem. BOSSA10 ressalta que mais do que responsáveis pela qualidade
de vida, os pais são construtores do aparelho psíquico dos seus filhos. Nascendo numa
condição de total incompletude, o ser humano depende totalmente dos adultos que estão a
sua volta, especialmente de seus pais ou daqueles que fazem função paterna e materna.
Embora trazendo uma carga genética que também interfere no seu destino, o fator genético
será menos influente, quanto mais influente for a educação.
10
BOSSA, N. A. Do nascimento ao inicio da Vida Escolar: o que fazer para os filhos darem certo.
11
PILETTI, N. Psicologia educacional.
fazem, na maioria das vezes, de modo inconsciente. Diga-se que os resultados esperados,
quando se quer influenciar de modo consciente e deliberado, nem sempre acontecem. O
que é ensinado inconscientemente tende a permanecer por mais tempo. O autor considera
de fundamental importância para o desenvolvimento posterior da criança e para sua
aprendizagem escolar, os sentimentos que os pais nutrem por ela durante os anos
anteriores à escola. Tais sentimentos contribuem para o desenvolvimento do conceito de si
própria (o autoconceito), o conceito do mundo e de seu lugar no mundo. Considera o
autoconceito como base de toda aprendizagem, pois se a criança julga-se capaz de
aprender, aprenderá muito mais do que se ela nutrir sentimento de incapacidade.
12
MOULY, G. J., Psicologia Educacional.
13
MUSSEN, P.H. O desenvolvimento psicológico da criança.
Em alguns casos as novas identificações podem reforçar e fortalecer as que foram
aprendidas no lar; em outros, podem ser diferentes e até opostas.
14
MORENO, M.C. & CUBERO, R. Relações sociais nos anos pré-escolares em Desenvolvimento Psicológico e
Educação.
Classificam os pais nas seguintes categorias:
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MUSSEN, P.H. Ib ibid.
família, essas atividades se generalizam na escola. Por outro lado, a criança que foi
severamente controlada ou excessivamente protegida por seus pais, não aprende esses
tipos de reação, visto que foi desencorajada de atuar independentemente, de explorar e
experimentar por conta própria. Adquire, então, reações tímidas, desgraciosas, apreensivas
e de modo geral, conformistas, as quais também se generalizam na escola.
16
ZORZI, J.L. Linguagem e aprendizagem.
correspondência entre construção da inteligência e processo de formação de
conhecimentos. Não aleatórios, ressalva ele, mas sim estruturados de forma que os mais
elementares servem de base para os mais complexos que se seguem.
Para prevenir tais problemas, os pais devem conversar muito com as crianças,
desde bebês, e não atender prontamente às suas solicitações não verbais, estimulando-as a
verbalizar. Devem estimulá-las a emitir os vocábulos simples (verbos de ação indireta, como
cair, dar, pegar, querer, etc.) e evitar falar de modo infantilizado com ela. Estimular, através
de ordens simples, a compreensão de fatos de rotina. Procurar ampliar o vocabulário da
criança, verbalizando tudo o que ocorre à sua volta, bem como o nome de objetos, pessoas,
animais, etc. Falar com ela, naturalmente, sem uso abusivo de diminutivos.
Com base no que fora apresentado, conclui-se que desde muito cedo as crianças
devem ser estimuladas (desde bebês). É muito importante que os pais leiam para a criança,
contem-lhe coisas, façam-lhe comentários sobre o mundo que a cerca, tenham boa
disposição para responder e formular perguntas, utilizem palavras e enunciados que a
criança conhece ou está prestes a conhecer, cerquem-na de atividades rotineiras e de vez
em quando lhe ofereçam alguma novidade; os pais devem sempre oferecer-lhe materiais
para serem manipulados, como livros de história, jogos educativos, objetos da casa, sendo
muito importante a participação deles nos jogos.
17
MORENO, M.C. & CUBERO, R. Ib ibid.
A PSICOPEDAGOGIA NA RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA
A Psicopedagogia vem relevar o que está por trás, não apenas dos problemas de
aprendizagem, mas por toda atividade cognitiva do ser pensante, mostrando como este
aprende e a relação dele com o conhecimento através das suas modalidades de
internalização e investigando diretamente como se dá a relação da tríade aprendente-
ensinante-conhecimento18.
Por ser seu objeto de estudo, a psicopedagogia estuda o ser pensante focando-se
não só nos personagens da aprendizagem, mas nas relações vinculares presentes na
relação19.
Diante disso, numa perspectiva macro social, a escola tem como função social,
reproduzir e oficializar nas vidas dos estudantes a ideologia proposta pela sociedade.
Ideologia esta que “afirma e nega”; expressa verdade das realidades numa imagem
invertida. Assim, ela as oculta, oferecendo aos homens uma representação mistificada do
sistema social, para mantê-los em seu ”lugar” no sistema de exploração de uns pelos
outros21.
Um outro dado importante, que surgiu, tanto das pesquisas nacionais, como das
estrangeiras, diz respeito à relação entre nível sócio-econômico cultural e envolvimento,
mostrando que pais podem se tornar envolvidos com a vida escolar dos seus filhos,
independente de seu nível socioeconômico.
25
BETTELHEIM, B. & ZELAN, K. Psicanálise da Alfabetização: um estudo psicanalítico do ato de ler.
26
MARTURANO. E. M. A criança, o insucesso escolar precoce e a família: condições de resiliência e
vulnerabilidade.
27
BRADLEY, R. H.; CALDWELL, B.M. & ROCK, S. L. Home environment and school performance: a ten-year
follow up and examination of three models of environmental action.
idealizada por Feuerstein28 e recebeu o nome de Programa de Enriquecimento Instrumental
(PEI), que visa a uma ampliação do potencial de aprendizagem de crianças, jovens e
adultos, mesmo daqueles mais comprometidos cognitivamente. O mesmo objetivo tem o
programa MISC (Mediational Intervention Sensitizing) de Pnina Klein29, que se preocupa
com a preparação de mães ou outras pessoas que cuidem de crianças, para serem boas
mediadoras de aprendizagens importantes para o desenvolvimento das mesmas.
KEITH TOPPING30 (1989), nas suas primeiras pesquisas em escola, tinha como
principal preocupação, obter uma maior participação da família no processo de
aprendizagem do aluno. Considerando que existem resistências por parte do pessoal da
escola, que teme a interferência dos pais, por um lado, e que os pais não sabem muito bem
como e no que colaborar, Topping elaborou alguns procedimentos, entre os quais o que
denominou “leitura conjunta”, em que ações bem definidas são passadas aos pais, a fim de
que escola e família saibam claramente o que fazer. Assim, a escola não se sente
ameaçada pela interferência dos pais e estes podem realizar suas aspirações de
acompanhar mais de perto seus filhos na escola, colaborando efetivamente para que
melhorem no seu desempenho em leitura. Além disso, o tempo gasto pelos pais é mínimo,
facilitando a tarefa que lhes é proposta, qual seja a de ouvir o filho ler para o pai ou para a
mãe, por pelo menos cinco minutos diariamente. A partir dos dados de seus estudos, o
pesquisador recomenda que isso seja feito prioritariamente pelo pai, ao invés de pela mãe,
se este estiver presente na família.
BOSSA, DRA. N. A. Do nascimento ao inicio da Vida Escolar: o que fazer para os filhos
darem certo. in Revista Psicopedagogia. Vol. 17, São Paulo, Salesianas 1998.
BRADLEY, R. H.; CALDWELL, B.M. & ROCK, S. L. Home environment and school
performance: a ten-year follow up and examination of three models of environmental action.
Child Development, 1998.
KLEIN, P. More intelligent and sensitive child (MISC): a new look at an old question.
International Journal of Cognitive Education and Mediated Learning, 1992.
MARTURANO. E. M. A criança, o insucesso escolar precoce e a família: condições de
resiliência e vulnerabilidade. Estudos em Saúde Mental. Ribeirão Preto: Comissão de pós-
graduação em Saúde Mental da FMRP/USP, 1997.
SARTI, C. Família patriarcal entre os pobres urbanos. São Paulo: Editora da USP, 1992.
ZORZI, J.L. Linguagem e aprendizagem In Tópicos em Fonoaudiologia, Vol. II. São Paulo,
1995, 213-28p.