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RESUMO
O descarte inadequado do óleo de cozinha residual que é utilizado em residências, e ainda em
estabelecimentos comerciais como restaurantes e lanchonetes; tornou se um agravante da poluição do
meio ambiente devido a sua “invalidez” pós uso. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira das
Indústrias de Óleos Vegetais, a produção de óleo de cozinha em 2016 foi de 7.885 mil toneladas; a
projeção segundo a mesma, para o ano de 2017 é de 8.200 mil toneladas de óleo de soja. Este trabalho
sugere a alternativa da produção e análise laboratorial do sabão ecológico como uma forma de reciclagem
do óleo de cozinha residual coletado na lanchonete da Universidade do Estado Pará, no campus VIII
(Marabá), bem como, a divulgação do trabalho à comunidade por meio de oficinas como uma forma de
sustentabilidade e educação ambiental. Para o desenvolvimento do estudo, foram coletados o quantitativo
do material proveniente da fritura durante um período de 20 dias, que serviram de base para se obter uma
média diária do óleo de cozinha residual gerado. Houve a produção para fins de análises e após a
interpretação dos resultados de forma experimental de acordo com as devidas especificações das
características químicas do sabão e baseado na opinião dos envolvidos com a aplicação do questionário,
foram realizadas duas oficinas de produção de sabão: a primeira, realizada em junho com estudantes do
próprio campus; e a segunda, realizada em outubro, com a participação de funcionárias do setor de
serviços gerais do próprio campus e da SEAGRI – Secretaria Municipal de Agricultura de Marabá- PA.
Mais que a preservação do meio ambiente e os seus recursos naturais, a reciclagem do óleo para produção
de sabão em barra ou líquido gera ganhos econômicos, por ser obtido a um custo inferior que aquele para
obter o produto comercial. Constatou-se, com realização das oficinas, que os participantes estão se
preocupando mais com a preservação do meio ambiente e requisitando mais ações que visam melhorar a
qualidade de vida sem prejudicar o meio em que vivem.
ABSTRACT
The inadequate disposal of residual cooking oil used in homes, as well as in commercial establishments
such as restaurants and snack bars; has become an aggravating environmental pollution due to its
"disability" after use. In Brazil, according to the Brazilian Association of Industries of Vegetable Oils, the
production of cooking oil in 2016 was 7,885 thousand tons; the projection according to the same, for the
year 2017 is 8,200 thousand tons of soybean oil. This work suggests the alternative of the production and
laboratory analysis of ecological soap as a way to recycle residual cooking oil collected in the cafeteria of
the University of the State of Pará, in campus VIII (Marabá), as well as the dissemination of the work to
the community through as a form of sustainability and environmental education. For the development of
the study, the quantitative of the material from the frying was collected over a period of 20 days, which
served as a basis to obtain a daily average of the residual cooking oil generated. There was production for
analysis purposes and after interpretation of the results in an experimental manner according to the
appropriate specifications of the chemical characteristics of the soap and based on the opinion of those
involved with the application of the questionnaire, two soap production workshops were held: the first ,
held in June with students from the campus itself; and the second, held in October, with the participation
of employees from the general services sector of the campus itself and SEAGRI - Municipal Secretary of
Agriculture of Marabá-PA. More than the preservation of the environment and its natural resources, the
recycling of the oil for the production of bar soap or liquid generates economic gains, being obtained at a
lower cost than the one to obtain the commercial product. It was found, with the realization of the
workshops, that the participants are more concerned with preserving the environment and requesting
more actions that aim to improve the quality of life without harming the environment in which they live.
Quando o óleo alcança os corpos hídricos, de acordo com Macedo et al. (2016)
por ele ter uma densidade menor que a água, o mesmo se acumula na superfície dela
impedindo a passagem de luz, quando em um ambiente de vida aquática, acarreta na
morte de fito plânctons (algas microscópicas que produzem oxigênio) que estão na base
da cadeia alimentar dos seres aquáticos. Para se ter uma ideia, 1 litro de óleo despejado
no esgoto doméstico tem capacidade para poluir mais de 25000 litros de água
(SABESP, 2010).
Outra ação do óleo é devido ao seu despejo irregular no solo, causando sua
contaminação, que segundo Oliveira et al. (2013, p. 1235) “ao atingir o solo, o óleo
pode causar a impermeabilização, influenciando nas enchentes e no desenvolvimento de
organismos”.
Nezi, Romero e Uhdre (2011) afirmam que a destinação final desse material
residual, geralmente ocorre de quatro maneiras: esgotos, solo, corpos hídricos e aterros
sanitários. Ressalta-se que dentre estes, até a forma menos agressiva ao meio ambiente,
que é o aterro sanitário, são impróprios em graus e fatores diferentes, trazendo prejuízos
para as instalações humanas, os civis que ali vivem, as formas de governo que os gerem
e o meio ambiente que os mantém.
2 OBJETIVO
Este trabalho sugere a alternativa da produção e análise laboratorial do sabão ecológico
como uma forma de reciclagem do óleo de cozinha residual coletado na lanchonete da
Universidade do Estado Pará, no campus VIII (Marabá); bem como a divulgação do
trabalho à comunidade por meio de oficinas como uma forma de sustentabilidade e
educação ambiental.
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 DEFINIÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS
Conforme Wildner e Hillig (2012), o Brasil é um país que possui uma grande área
agricultável, com grande diversidade climática e rica em espécies vegetais oleaginosas.
Estas características lhe conferem um grande e variado potencial de extração de óleo e
reflete na preparação de diferentes opções de alimentação e variados sabores.
3.4 LEGISLAÇÃO
A Norma Brasileira de Referência - NBR 10004 (2004) define resíduos sólidos como os
resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Essa
definição também é compartilhada com o Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA.
De acordo com a norma NBR 10.004:2004, os resíduos sólidos podem ser assim
classificados:
Rizzetti et al. (2016) fala que por ser um excelente subproduto e além do seu uso na
produção do sabão e detergentes, ele é empregado também na ração animal, resina para
colas, assim como, na produção de biodiesel, o qual tem mostrado-se uma alternativa
aos combustíveis fósseis, além de utilizar matéria-prima renovável, agride menos o
meio ambiente, reduzindo a emissão de gases causadores do efeito estufa.
O sabão é obtido através da reação química de saponificação, na qual ácidos graxos,
encontrados em gorduras (de origem animal ou vegetal) reagem com soda. O sabão é
um sal de ácido carboxílico de cadeia carbônica longa, sendo capaz de solubilizar tanto
em meios polares como apolares. Além disso, o sabão é um tensoativo, que rompe a
tensão superficial da água fazendo com que ocorra uma interação com o material a ser
limpo (BERTÊ, FANTINEL e FERNANDES, 2014).
3.7 CARACTERÍSTICAS
Nezi (2011) aponta que a determinação da quantidade de espuma formado pelo sabão é
baseado em uma reação muito utilizada em laboratório, onde é feito reagir bicarbonato
de sódio (NaHCO3) e ácido acético (CH3COOH, presente no vinagre) (Reação a
seguir).
3.8 VANTAGENS
A produção do sabão à base de óleo de cozinha residual, segundo Silva (2016)
possibilita vantagem financeira, visto que esse sabão pode ser utilizado em casa (o que
torna dispensável a aquisição de sabão em mercados) ou mesmo para a comercialização,
visto que os produtos para a fabricação são de baixo custo. Uma ampla divulgação deste
processo de fabricação entre os jovens pode gerar uma conscientização ambiental e
também uma economia financeira.
3.9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Godoy et al. (2010) reitera que em relação ao óleo de cozinha usado, objeto de enfoque,
o uso da ferramenta Logística Reversa – ou seja, o retorno do produto para servir de
matéria-prima para a fabricação do mesmo ou de outro – pode evitar problemas nos
sistemas de tratamento de água e esgotos por despejo inadequado do mesmo. Não lançar
óleo em fontes de água, na rede de esgoto ou no solo é uma questão de responsabilidade
social e, por isso, deve ser uma ideia propagada.
Diante dos fatos tratados, fica comprovado conforme Martins et al. (2016) que é
possível mostrar como pequenas ações podem refletir positivamente nas diferentes co-
munidades, promovendo a consciência ambiental para a preservação do meio ambiente,
contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento sustentável.
4 MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho teve algumas etapas, onde primeiramente, realizamos um levantamento da
quantidade de óleo utilizado pela lanchonete da Universidade do Estado do Pará,
campus VIII, para o preparo dos alimentos. Os dados coletados dentro de um período de
20 dias serviram para se obter uma média diária do óleo residual coletado.
Em seguida, para o teste de acidez conforme Moretto e Fett (1998) utilizamos uma
fração de cerca de 2 g do óleo em um erlenmeyer de 125 mL e a seguir adicionou-se
25 ml da mistura éter etílico: álcool etílico (2:1) acompanhado de agitação. A essa
mistura adicionamos 2 gotas de solução alcoólica de fenolftaleína e titulamos com
solução 0,1 N de hidróxido de sódio até que a solução passasse de incolor para uma
coloração rósea e em seguida calculamos o índice de acidez.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com a finalização dos testes em laboratório, foram obtidos os seguintes valores para o
sabão sólido: 0,561 para o índice de acidez (óleo); 70 mg/1g para o índice de
saponificação; 10,41 para o nível de Ph e 1 ml correspondendo ao volume da altura
que a espuma atinge na proveta em um tempo de 3 segundos para o teste de espuma,
além de ausência de alcalinidade. A partir desses valores encontrados, interpretamos
cada um dos mesmos de acordo com o seu teste.
O índice de acidez foi o primeiro teste a ser executado e foi importante para verificar
se o óleo doado para a confecção dos sabões era realmente padronizado e renderia um
produto de qualidade. Inicialmente, foi pesado 2 g do óleo em um erlemeyer de 125
ml e a seguir adicionou-se 25 ml da mistura éter etílico: álcool etílico (2:1)
acompanhado de agitação. Em seguida, foram adicionadas 2 gotas de solução
alcoólica de fenolftaleína e titulamos com solução 0,1 N de hidróxido de sódio até que
a solução passasse de incolor para uma coloração rósea. A base do resultado foi
conforme a fórmula abaixo:
𝑉. 𝑁. 56. 1
𝐼𝐴 =
𝑚
O valor encontrado para o índice de acidez que foi de 0,561 mg de KOH/1 g de óleo,
se mostrou um pouco acima no que tange à legislação vigente, onde o valor
estabelecido para o óleo não deve ser superior à 0,3 mg de KOH/1 g de óleo
(ANVISA, 2004). No presente caso, pelo fato do óleo ser reaproveitado em processos
de fritura na lanchonete, isso pode ter contribuído para o excedente valor de acidez;
por isso recomenda se que não haja um reuso múltiplas vezes desse material na
cozinha pois ele também afeta a saúde dos seres humanos.
Com relação ao ph, onde o valor encontrado foi de 10,41; o mesmo foi determinado
por potenciometria, pela determinação da diferença de potencial entre dois eletrodos -
o de referência e o de medida - imersos na amostra a ser analisada, e depende da
atividade dos íons de hidrogênio na solução (ANVISA, 2008).
Após a adição da solução (0,5 g para 10 mL de água), observou-se que a reação tinha
duração de 3 segundos com menor teor de espuma chegando a 1 mL e não houve
persistência de um menor volume de espuma.
Vale ressaltar ainda que foi realizado o teste de viscosidade para o sabão líquido
produzido. A viscosidade, ainda conforme a ANVISA (2008) é definida como a
resistência que o produto oferece a deformação ou ao fluxo. A viscosidade depende
das características físico-químicas e das condições de temperatura do material.
100%
80%
60% SIM
NÃO
40%
20%
0%
RESPOSTA
Constatamos que os entrevistados tinham conhecimento dos danos que o óleo residual
de frituras pode causar ao meio ambiente, ainda que essa noção fosse de maneira
superficial.
100%
80%
60% SIM
NÃO
40%
20%
0%
RESPOSTA
Notamos que por conta de todas as participantes manterem relação direta com a
utilização do produto para fins alimentícios, de alguma maneira também adquiriram
conhecimento sobre como reutilizar o material residual oriundo do seu pós-uso.
A Figura 03 demonstra uma das principais formas de descarte praticado por quem usa
esse tipo de produto.
A questão levantada representou uma preocupação positiva, haja vista que se tratava
de um dos focos do trabalho no que tange a forma de destinação final praticado entre
os participantes o que mostrou um resultado satisfatório, pois, os mesmos em grande
maioria armazenavam o resíduo após sua utilização.
1000%
800%
SIM
600%
NÃO
Eficiênica
400%
200%
0%
QUESTÃO 4 QUESTÃO 5 QUESTÃO 6 QUESTÃO 7 QUESTÃO 8
O sabão produzido pelos participantes nas oficinas foi distribuído entre os mesmos, e
foi aplicado nas suas atividades cotidianas de limpeza. A oficina foi de grande sucesso
e se mostrou ser uma importante ferramenta para a construção de uma visão mais
sustentável possível por parte dos mesmos e de disseminação dos conhecimentos
adquiridos in locu para as demais pessoas da sociedade.