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EXPEDIENTE

Sumário
Em Marcha - 2016.2
Estudos Bíblicos para Adultos/as – Revista 06 Sob a tua Palavra lançarei as redes
do/a professor/a
14 Quem é Jesus?
Publicada sob a responsabilidade do Colégio
Episcopal da Igreja Metodista, pelo Departa-
22 Os blocos Literários do Novo Testamento
mento Nacional de Escola Dominical. Produzi- 30 Feliz é quem exerce justiça
da pela Igreja Metodista.
38 Aprendendo a superar os conflitos da fé
Colégio Episcopal
Adonias Pereira do Lago – Bispo presidente 46 Uma mulher perdoada
52 Quem não tem pecados?
Secretaria para Vida e Missão
Joana D’Arc Meireles 60 Deus não faz acepção de pessoas

Coordenação Nacional de Educação Cristã 68 Somos filhos e filhas de Deus


Eber Borges da Costa
74 O espinho na carne
Redatora 82 O amor como fruto do Espírito
Roseli Oliveira
88 Quem é meu inimigo?
Colaboradores
Adriel de Souza Maia 96 Alegria na Missão
Andreia Fernandes Oliveira
Danielle Lucy Bosio 102 Superando os conflitos em amor
Eber Borges da Costa
Flávia Medeiros 110 Como aguardar “a promessa”
Kennie Ladeira Mendonça
Leandro Queiroz
116 Manejando a Palavra
Wanderson Salvador F. A. Campos 122 Pastorear e se deixar pastorear
Revisão 130 Filemom: a importância da reconciliação
Andréia Anália Eugênio
138 Vivendo pela fé
Projeto Gráfico e Editoração
146 Nossos projetos e Deus
Alixandrino Design
152 Superando os obstáculos
Departamento Nacional de Escola
Dominical 160 Jesus, nosso Advogado!
Av. Piassanguaba, 3031 – Planalto Paulista
04060-004 – São Paulo 168 Protegendo a fé
Tel. (11) 2813-8600
escoladominical@metodista.org.br 176 Apocalipse: A revelação da Eternidade
www.metodista.org.br
PALAVRA DA REDAÇÃO
Irmãos e Irmãs, graça e paz!

É com muito carinho, dedicação e oração que entregamos a você esta edi-
ção da Revista Em Marcha, que tem como tema estudos baseados nos livros
do Novo Testamento. Temos a certeza que você será, mais uma vez, rica-
mente abençoado/a por Deus.
O profeta Oséias conclama o povo de Deus a conhecer e prosseguir em co-
nhecer ao Senhor (Oséias 6.3) e isso se aplica a nós. É para esse intento que
a Escola Dominical e as suas revistas se direcionam. Queremos seguir conhe-
cendo, obedecendo e servindo ao nosso Deus.
Prosseguir no conhecimento do Senhor é avançar do Antigo Testamento
para o Novo Testamento. Esse é o tema dessa revista, de Mateus ao Apoca-
lipse apresentamos a história de Jesus, da Igreja e de seus servos e servas.
Obviamente que não conseguimos esgotar o assunto de cada livro, mais o
conhecimento da Bíblia não pode se dar apenas na Escola Dominical. Essas
lições querem colaborar com a sua experiência com o texto bíblico, mas é
preciso buscar cada vez mais conhecimento.
Desejamos que esses estudos alimentem em cada leitor e leitora o prazer
em conhecer, entender e meditar na Palavra do Senhor. Oramos para que
essas lições colaborem na cotidiana e necessária transformação das nossas
vidas.
Bons estudos.
Deus nos abençoe!

No amor de Cristo,
Pastora Roseli Oliveira, redatora.
Um pouco mais sobre o Novo Testamento
O Cânon
Em fins do século I, as Sagradas Escrituras da Igreja Primitiva eram apenas o
Antigo Testamento, isto é, a Lei, os Profetas e os Escritos. Nessa mesma épo-
ca já circulavam livros que começavam a ser considerados também como
Escritura.
A palavra cânon é originária do grego e seu sentido primitivo quer dizer
“cana”, “varinha” ou “barra”. Era qualquer coisa usada para medir, isto é, um
padrão. Literalmente, a palavra “cânon” designa as obras que foram real-
mente escritas por um determinado autor.
A formação de um cânon de escritos religiosos, relacionados com a obra de
Cristo, exigia que fossem demarcados os princípios fundamentais da fé e da
conduta cristãs. A diferença que aqui ocorre é que não se trata das obras de
um só autor, mas de vários autores a tratar de um mesmo assunto central.
A decisão a respeito dos livros a serem considerados normativos, isto é, au-
toridade para a Igreja Cristã, não foi arbitrária, feita por uma só pessoa ou
grupo local. Foi o resultado de uma tomada de posição a partir de algumas
diretrizes que ajudaram a reconhecer o cânon. Ninguém, nenhum grupo,
nenhum concílio da Igreja determinou o que era ou não inspirado. A Igreja
simplesmente reconheceu o valor já existente em escritos que podiam ser
considerados como Escrituras.
As Escrituras
Em segunda Timóteo 3.16, encontramos o princípio geral para designar o
que seja Escritura: “Toda a Escritura é inspirada por Deus ...”, isto é, a Escritu-
ra tem de ser inspirada. Porém, como saber se um livro é inspirado?
Em primeiro lugar, examinando o seu conteúdo. Embora os autores sejam
vários e as ocasiões do surgimento dos escritos diversas, uma pessoa e sua
obra estão sempre presentes: Jesus Cristo, eis o assunto central. Os evan-
gelhos são biografias, por assim dizer, pois narram os fatos particulares das
várias fases da vida do Senhor Jesus; o Livro de Atos conta o efeito histórico
de uma pessoa; as epístolas se relacionam com os ensinos teológicos e de-
corrências práticas de sua pessoa e obra; o apocalipse prefigura a sua vitória
final. Todos estes escritos apresentam a Jesus como sendo muito mais do
que um personagem da história. Para eles, Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
o Salvador. Para outras pessoas, Jesus não era nada disso (1 Coríntios 1.23).
Em segundo lugar, a inspiração pode ser constatada pelos efeitos éticos e
espirituais que produziram tais escritos na vida de seus leitores e leitoras e
comunidades cristãs. Há livros que atingem o pensamento das pessoas e as
4 - Em Marcha
influenciam grandemente. Os livros sagrados, porém, transformaram vidas.
Este poder é o eficaz testemunho de sua inspiração divina.
Outros critérios
Saber se um livro é inspirado ou não, não foi o único critério adotado para se
concluir se um livro podia ou não ser considerado como Escritura. Não hou-
ve, de início, uma reunião geral das pessoas cristãs para se debater como
haveriam de ser escolhidos os livros para o Novo Testamento. Entretanto,
uma vez em circulação os primeiros escritos cristãos, as igrejas automati-
camente passaram a usá-los, uns mais que os outros, considerando certos
elementos importantes a seu respeito.
Primeiramente os escritos autorizados deveriam partir da pena de um dos
apóstolos ou de pessoas que tivessem tido contato com eles. Por outro lado,
os ensinos aceitos eram os que se mantinham dentro das doutrinas geral-
mente aceitas. Nem sempre era possível determinar se um escrito procedia
de um apóstolo, mas era possível confrontá-lo com os ensinos apostólicos
(conhecidos oralmente e em alguns ensinos já aceitos).
Os evangelhos, por exemplo, para serem aceitos, deveriam manter o padrão
apostólico com referência à encarnação de Cristo, deveriam ser evangelho
no sentido pleno, e não somente uma coleção de ditos e milagres, como
muitos que surgiram naquela época e foram rejeitados pela Igreja.
Outro critério para se estabelecer se um escrito podia ser considerado como
Escritura era a sua objetividade, isto é, a sua capacidade de mostrar que
estava tratando com um assunto concreto, real, e não de ficção ou lenda.
Duas foram as preocupações centrais que serviram de base para a seleção
dos livros: a necessidade missionária, ou seja, a propagação da fé em Cristo;
e a necessidade apologética, isto é, a defesa da fé cristã contra as heresias e
os ataques baseados em falsos fundamentos.
Conclusão
Podemos ter a certeza de que o Espírito Santo foi quem orientou a Igreja
no processo de seleção que ela empreendeu para escolher os livros que
formaram o Novo Testamento e rejeitar aqueles que pretendiam ser tam-
bém canônicos mas não preenchiam as condições de um livro realmente
inspirado, procedente de um apóstolo, fiel às doutrinas cristãs e capaz de
comunicar a verdade com firmeza a todas as pessoas que a lessem. Graças
a Deus por isso.

Veja alguns vídeos sobre o Novo Testamento no canal da Educação Cristã.


Acesse youtube.com/educacaocristametodista

Em Marcha - 5
Estudo 1
Sob a tua Palavra
lançarei as redes

Texto bíblico: João 21.1-14

N ossos estudos nesta revista estão centrados nos ensinamentos


de Jesus, expostos no Evangelho e na trajetória missionária das
primeiras comunidades cristãs. Vamos nos aprofundar no Novo Tes-
tamento, mas para além do conhecimento bíblico que esses estudos
proporcionarão, nosso intento é que cada participante da Escola Do-
minical perceba a necessidade de caminhar sob a Palavra de Jesus e
aceite os desafios que essa Palavra nos apresenta. A nossa caminhada
missionária requer conhecimento bíblico, reconhecimento das nossas
limitações, fortalecimento espiritual e completa dependência da Graça
divina. Submeter-se à Palavra de Deus requer humildade e, muitas ve-
zes, mudança de posição. Você está disponível?

Fundamento bíblico
O capítulo 21 de João é um relato específico desse Evangelho. Ele relata
a terceira aparição de Jesus após a ressurreição (João 21.14). Quem são
os personagens desse texto? Sete de seus discípulos, dentre os quais
cita-se: Simão Pedro, Natanael, Tomé, Tiago e João (filhos de Zebedeu).
Esse relato é semelhante ao que está em Lucas 5.1-11, quando Jesus
6 - Em Marcha
chama os primeiros discípulos e Objetivos
os desafia para um novo tempo.
Aquelas pessoas que tinham uma
Apresentar o Evangelho
de Jesus Cristo como
experiência profissional na arte
um convite desafiador para
de pescar, conheciam o clima, as seus discípulos e discípulas;
surpresas do mar, bem como as destacar que, para uma vida
melhores posições para uma boa frutífera, é necessário estar sob
pescaria, tiveram uma noite de a direção da Palavra de Deus.
insucesso, ou seja, não consegui-
ram os peixes desejados. É nesse Para início de conversa
cenário que Jesus as chamou para Selecionamos algumas per-
uma nova experiência de vida. A guntas sobre peixes e pescaria
chamada de Jesus é revolucioná- para fazer para o grupo:
ria, com impactantes mudanças
para toda a vida: “Não temas; do- - Cite três tipos de rede de pes-
ravante serás pescador de pesso- caria. (Exemplo: Arrasto, Puçá,
as” (Lucas 5. 10b). Tarrafa).

Experiência semelhante aconte-


- Cite três peixes de rios. (Dou-
rado, Pacu, Pintado).
ceu após a morte e ressurreição
de Jesus Cristo, quando Ele apa- - Cite quatro peixes de mar.
receu no Mar de Tiberíades, outro (Anchova, Namorado, Salmão,
nome dado ao Mar da Galileia. Os Atum).
discípulos estavam sem direção - Como pescar Tilápia no inver-
após a morte de Cristo e resolve- no? “Utilizando uma técnica
ram retornar às suas atividades de simples, sem boia e sem chum-
pescaria. Passaram a noite toda bo. Só com o anzol e a isca na
tentando pegar algo, mas nada ponta da linha”. (www.pesca-
conseguiram (João 21.3) e foi riabrasil.com.br).
num cenário de fome e frustração
relacional, emocional e espiritual, Caso haja pessoas que do-
depois de uma noite infrutífera de minem esse ofício, peça que
pescaria que Jesus, com o ama-
compartilhem alguma dica ou
curiosidade sobre pescaria.
nhecer, apareceu aos discípulos
Após o exercício, destaque que
e solicitou algo para comer: “per- os pescadores, à medida que
guntou-lhe Jesus: filhos tendes aí vão ganhando experiência na
Em Marcha - 7
pescaria vão conhe- alguma coisa de comer? Respon-
cendo o segredo do deram-lhe: não” (v. 5).
mar e dos peixes, o que
ajuda muito a saber como e À luz da resposta de desespero
onde pescar. No entanto, nem dos discípulos, uma nova ordem é
todo conhecimento garante dada por Jesus: “então, lhes disse:
que a pesca vai ser boa. Isso lançai a rede à direita. Assim, fize-
gera frustração, especialmente ram e já não podiam puxar a rede,
quando se precisa levar o sus- tão grande era a quantidade de
tento para casa. Assim acon- peixes” (v.6). Diante da experiên-
teceu com Pedro, João e seus cia, o discípulo amado exclama: “É
amigos quando pescavam. Je- o Senhor! ” (v.7). Só Jesus, com sua
sus chegou para mudar a his- Graça para transformar uma situ-
tória deles. ação como essa. A tradição bíbli-
Por dentro do assunto ca aponta João como o discípulo
amado e a pesquisa bíblica desta-
Nosso texto é bastante se- ca que no relato, os fatos de João
melhante ao de Lucas 5.1-11. ser o primeiro a reconhecer o Se-
Em ambos, alguns discípulos nhor e de Pedro confiar no anún-
encontram-se num lago rea- cio do discípulo, colaboravam
lizando uma pescaria, porém para a credibilidade do Evange-
sem êxito. Tendo trabalhado
lho de João diante da comunida-
a noite toda, nada apanharam
(Lucas 5.5; João 21.3-5). Em de cristã primitiva. Pedro se vestiu
ambos os relatos, Jesus os con- (porque os pescadores enquanto
vida a tentar mais uma vez e, pescavam, usavam apenas os tra-
ao obedecerem a Sua palavra, jes de baixo) e se lançou ao mar.
presenciam o grande milagre Os demais seguiram no barco em
(Lucas 5.4-7; João 21.6,8,11), direção à praia que estava a cerca
uma grande pescaria acontece. de 92 metros de distância.
Umas das diferenças nesses Na praia havia uma refeição pre-
dois textos é que no relato de parada pelo Senhor (v.9). Que
Lucas, Jesus está cercado por maravilha é poder contar com
uma multidão, ensinando a res- o Cristo que sacia a nossa fome
peito do Reino de Deus (Lucas e a nossa frustração. Jesus tam-
5.1), enquanto que em João, bém quis dar espaço nessa mesa
nosso Senhor já havia sido ao fruto do trabalho dos discípu-
8 - Em Marcha
los e pediu que colocassem mais crucificado e, portanto,
peixes (v.10). “Vinde e comei... to- manifestou-se em espí-
mou o pão, e lhes deu e, de igual rito aos seus discípulos
modo, o peixe” (v.12-13). Esses (João 21.14).
atos confirmaram completamen- No texto do Evangelho de
te que se tratava do Senhor, aque- João, Jesus surge com alguém
le que inúmeras vezes na cami- desconhecido aos olhos dos
nhada com os discípulos os servia, discípulos (João 21.4) e neces-
os alimentava. Assim, os cansados sitado de ajuda, pois se apro-
e entristecidos agora eram convi- xima pedindo “...alguma coisa
dados a sentarem-se à mesa junto de comer...” (João 21.5). Ao
com o Cordeiro de Deus que nos receber uma resposta negati-
sacia completamente! va, lança uma palavra, que era
muito mais do que uma suges-
O cenário foi alterado: antes, frus- tão. Era direção espiritual, que
tração, medo, pobreza para o cor- mesmo sem saber discernir, os
po e para alma. Agora, abundân- discípulos acolheram e fizeram
cia, partilha, vivência! Assim como tal como orientado.
na trajetória dos discípulos, a pre-
sença e a Palavra de Jesus mudam O resultado deste ato foi mui-
o cenário da nossa existência. Que to mais do que apenas um mi-
experiência extraordinária junto à
lagre: foi a fé renovada; foi a
surpresa e alegria de encontra-
praia de Tiberíades!
rem-se na presença do Mestre;
foi a oportunidade de poder
Palavra que ilumina a assentar-se ao seu lado, tendo
vida sido por Ele acolhidos (João
21.9,12-13).
Assim como aconteceu em Lu-
cas 5.5, sob a Palavra de Jesus os O milagre realizado por Jesus
discípulos lançaram a rede, isto nos traz importantes lições:
é, sob a orientação de Jesus, rea- 1. Quem acolhe, também
lizaram a missão. Esse é o nosso é acolhido: provavelmente,
desafio: sob a Palavra, de acordo muitos/as de nós ficaríamos
com ela, viver para a missão que chateados/as se, ao tentar fazer
Jesus nos chamou. Isso requer co- algo e, não tendo êxito, nos de-
nhecimento bíblico e obediência parássemos com um estranho
aos ensinamentos. O que significa
Em Marcha - 9
dando palpites e nos lançar as redes? Como devemos
mandando fazer o con- lançá-las?
trário do que estáva-
mos fazendo. Esta poderia ser Lançar a rede significa estar na
a visão de Pedro e seus com- posição correta no projeto do Rei-
panheiros, mas eles souberam no de Deus. Qual foi a palavra de
agir com humildade e acolhe- Jesus aos discípulos que estavam
ram aquela sugestão, lançan- sem perspectiva e frustrados de-
do novamente suas redes ao pois de uma longa noite de tra-
mar (João 21.6). Por acolher balho? A ordem de Jesus foi en-
as palavras de Jesus, puderam fática: mudem de posição. Vocês
também ser acolhidos (João estão na posição incorreta! Posi-
21.12). ção aqui, não é status, privilégios
Estas são duas importantes vir- ou cargos. Do mesmo modo, não
tudes que devem estar sempre é uma estratégia, mas uma conse-
presentes nos discípulos e dis- quência da obediência e da sub-
cípulas de Jesus: humildade e missão à vontade de Deus. Estar
hospitalidade (acolhimento). O na posição correta significa dar
apóstolo Tiago afirmou que “... prioridade à Palavra de Jesus.
Deus resiste aos soberbos, mas
dá graça aos humildes” (Tiago Na “praia da vida” existem muitas
4:6). Devemos ter sempre um motivações, vitrines, seduções.
olhar acolhedor, despido de Os apelos ao individualismo, “es-
críticas e preconceitos. O au- trelismo”, consumismo etc. estão
tor aos Hebreus alertou: “Seja presentes e colocam-nos em po-
constante o amor fraternal. sições inadequadas, ou melhor,
Não se esqueçam da hospita- contrárias ao chamado de Jesus
lidade; foi praticando-a que, que requer renúncia, assumir a
sem o saber alguns acolheram cruz e viver a vida que Ele viveu
anjos” (Hebreus 13:1-2). Sem o e ensinou. No projeto do Reino
saber, os discípulos acolheram aprendemos a viver com singele-
o Senhor Jesus. za de coração e na dependência
2. Não devemos aceitar com de Deus.
facilidade as derrotas: os dis- Lançar a rede implica estar na
cípulos poderiam ficar frustra- posição da Graça de Deus. Nes-
dos diante de uma noite de tra- se episódio há um detalhe muito
10 - Em Marcha
interessante que, às vezes, não balho sem resultados,
percebemos. Esse pormenor está mas não se renderam
no convite de Jesus para a parti- com facilidade e diante
lha, a comunhão e, com certeza, de uma palavra de encoraja-
um convite concreto: alimento mento, persistiram. O tempo
que é símbolo da Graça de Deus. gasto com a pesca, a decepção,
Podemos trazer à memória a for- o cansaço, tudo isso se torna
midável colocação profética: “Ah! fator de desestímulo para os
Todos vós, os que tendes sede, servos e servas que não veem
vinde às águas; e vós, os que não mais sentido em investir em
algo que se deseja. No entanto,
tendes dinheiro, vinde comprai,
quando existe a percepção da
sem dinheiro e sem preço, vinho ação divina, renova-se o ânimo
e leite” (Isaías 55.1). A posição da e é possível mais uma tentati-
Igreja, da discípula e do discípulo va.
é a posição sob a Graça de Deus.
O evangelho de Jesus Cristo é o Aprendemos que não se pode
Evangelho da Graça. A Salvação e desanimar diante de uma re-
Justificação se dão pela Graça di- alidade de campo infrutífero,
vina (Efésios 2.8-10). de cansaço pelo trabalho, de
esforço despendido, de tem-
Para experimentar e vivenciar a po e recursos investidos que
Graça é preciso mudar de posi- não deram o retorno espera-
ção, especialmente numa socie- do. Não devemos desistir pelo
dade encolhida, mesquinha e simples fato de que a constru-
excludente. No projeto de Deus ção do Reino de Deus é uma
todas as pessoas são convidadas Missão que não se realiza sem
para participar da festa do Reino. a ajuda divina, sem o poder re-
As pessoas são acolhidas pela mi- animador e encorajador do Es-
sericórdia do Bom Pastor, Jesus
pírito de Deus.
Cristo! 3. A importância e necessi-
dade da solidariedade: todo
Lançar a rede implica estar na so- o trabalho de pesca foi feito
lidária posição de servas e servos. em conjunto, do início ao fim.
A posição correta é lançar a rede Foi um trabalho compartilha-
sob a Palavra de Deus. Nessa di- do, solidário. Engana-se quem
reção, o caminho é a obediência pensa que é melhor trabalhar
que deságua no serviço, por isso, sozinho/a para ter exclusivi-
Em Marcha - 11
dade na conquista. No nossa posição no projeto do Reino
Reino de Deus não é as- é de servas e servos. A posição de
sim. No Reino de Deus serviço é mais do que um discur-
“... Mais bem-aventurada coisa so bem elaborado. Solidariedade
é dar do que receber” (Atos é quando saímos de nós mesmos
20:35). O fruto do trabalho é e vamos ao encontro da outra
melhor aproveitado quando pessoa. Servir é o paradigma do
aprendemos a valorizar a par- Evangelho. Nossas igrejas, à se-
ticipação das demais pessoas. melhança de Jesus Cristo que veio
Juntos, os pescadores apanha-
para servir, precisam ser espaços
ram mais peixes e não deixa-
ram nenhum para trás. O Reino de serviço, portas abertas para o
de Deus, para ser construído, acolhimento e para o ensinamen-
necessita da consciência, da to verdadeiro da Palavra de Deus.
importância e necessidade da Nossa posição no projeto de Jesus
participação de nossos irmãos Cristo não é de privilégios, mas de
e irmãs. Sem a solidariedade servir e servir sempre!
no trabalho, nas necessidades
e, nas vitórias, não existe apro- Precisamos mudar de posição!
veitamento eficaz das bênçãos Alargar a nossa experiência de
de Deus. vida cristã e olhar a vida com os
olhos do Evangelho (Mateus
Por fim 4.23-24). Para isso, é preciso co-
O milagre é fruto da manifesta- nhecê-lo, estudá-lo incessante-
ção do poder de Deus na vida mente.

Para conversar
Que desafios incômodos a Palavra de Deus já apresentou para você?
Quais são as dificuldades que aparecem diante da exigência de uma
nova posição no projeto de construção e proclamação do Reino de
Deus? Como superá-las?

12 - Em Marcha
Conclusão humana. É a interven-
ção direta do Criador na
Sob a orientação de Jesus, os dis- criatura. Deus age mi-
cípulos mudaram de posição. Ao raculosamente em nossa vida
mudar de posição, tiveram êxito e, com Sua ação, nos ensina a
na sua missão e reconheceram o não aceitarmos as dificuldades
Senhor ressurreto, por isso foram e derrotas tão prontamente,
ao seu encontro e carinhosamen- mas crer e esperar pelo Deus
te o Senhor os acolheu com uma do impossível.
mesa farta. Tudo começou quan-
do ouviram e acataram a Palavra
do Senhor.
Em que posição estamos vivendo? Precisamos mudar de posição? De-
sejamos isso? Pode ser que Pedro, pelo seu profissionalismo na área
da pesca, achasse que estava na posição correta. De qualquer forma,
Jesus incomodou os discípulos alertando-os: mudem de posição, vocês
estão na posição incorreta. Os estudos dessa revista são oportunidades
para que, diante da Palavra do Senhor, assumamos a posição desejada
por Ele.
Sejamos sensíveis a voz do Espírito Santo. Ele guia a nossa vida, a Igreja
e o mundo.

Leia durante a semana


:: Domingo: João 21.1-14
:: Segunda-feira: Mateus 4.23-24
:: Terça-feira: Efésios 2.8-10
:: Quarta-feira: Isaías 55.1
:: Quinta-feira: Romanos 12.11
:: Sexta-feira: Romanos 8.14
:: Sábado: Provérbios 16.1-3
Em Marcha - 13
Estudo 2
Quem é Jesus?

Texto bíblico: João 1.35-51

O texto de João 1.35-51 se refere ao início do ministério de Jesus e


o encontro com seus primeiros discípulos. Chama-nos a atenção
o fato de que cada um deles usava um título diferente para referir-se a
Jesus: “Cordeiro de Deus” (João 1.35); “Mestre” (João 1.38); “Messias”
(João 1.41); “Profeta” (João 1.45); “Rei de Israel” (João 1.49).
Estes títulos condensam as expectativas do povo de Deus em relação
à Sua manifestação na história e às suas próprias esperanças e anseios
de libertação. Revelam também a compreensão que cada um tinha a
respeito de Deus e as suas primeiras impressões a respeito de Jesus.
São expressões carregadas de sentido e todas verdadeiras, mas, mes-
mo juntas, não são suficientes para revelar quem é Jesus.

Fundamento bíblico
Os encontros com Jesus nesta passagem revelam, por um lado, a ale-
gria de quem reconhece nele o cumprimento da promessa de Deus
e a resposta às suas esperanças e anseios e, por outro, a vontade de
partilhar essa alegria com os amigos. É assim que um vai anunciando
ao outro, até chegar em Natanael, personagem de destaque no texto.
Natanael conhece Jesus através do testemunho e convite de Filipe.

14 - Em Marcha
Primeiramente, ele revela seus Objetivos
preconceitos e visão limitada
a respeito da manifestação de Destacar a importância
Deus: “... Pode alguma coisa boa
de conhecer quem é
Jesus revelado nas Escrituras;
vir de Nazaré...?” (João 1.46). explicar que “conhecer Jesus”
Embora Natanael fosse um bom passa, necessariamente, por
israelita, certamente conhecedor um encontro pessoal com Ele;
das Escrituras e da tradição de reafirmar o compromisso cris-
seu povo, não entendia certas tão de testemunhar Jesus ao
coisas espirituais. Ele era um ho- mundo.
mem crente e bom! Jesus mesmo
atestou isso: “... Eis aqui um ver- Para início de conversa
dadeiro israelita em quem não há Peça a turma que compar-
dolo!” (João 1.7). Mas, isso não é tilhem, em poucas palavras,
o bastante. Há um conhecimen- algo bom que lhes aconteceu
to que não está nos textos e na durante a semana. Em seguida,
tradição. A este tipo de conhe- pergunte ao grupo, se foi bom
cimento é que Filipe o convida: ouvir esses bons testemunhos.
“Vem e vê!” (João 1.46b). Reforce que, de igual modo,
é muito bom contarmos para
A imagem da figueira é impor- outras pessoas a experiência
tante no texto: era um lugar de que temos tido com Deus. De
meditação onde os rabinos cos- como Ele tem sido bom para
tumavam ir à procura de tranqui- conosco. A prática de anunciar
lidade para o estudo das Escri- a Jesus pode levar apenas o
turas. Natanael, portanto, é um nosso testemunho aos ouvidos
homem à procura de respostas, de alguém, mas pode também,
e ele as encontrou em Jesus, de- levar alguém aos pés de Cristo.
pois de vencer a resistência (João
1.49). Por dentro do assunto
No texto, Jesus faz uma referên- O texto do estudo representa
cia ao sonho de Jacó (João 1.51), um momento de transição en-
no qual ele via uma escada que tre o ministério de João Batis-
ta, que prepara o caminho do
ligava a terra ao céu, por onde
Senhor, e o ministério de Jesus
anjos subiam e desciam, e ouvia de quem João dá testemunho.
a voz de Deus prometendo-lhe Muitas pessoas achavam que
cuidado e direção. Em reação ao
Em Marcha - 15
João Batista era o Cris- que vê, Jacó diz: “O Senhor está
to e ele claramente afir- neste lugar e eu não sabia!” (Gê-
mou: “Não sou o Cristo; nesis 28.13). Esta citação bíblica
sou o que veio preparar-lhe aponta para, pelo menos, duas
o caminho” (João 1.19-23). coisas importantes: primeiro, a li-
Quem seria ele, então? É a per- mitação humana ou os limites de
gunta do povo. Logo após esse nossa capacidade de saber e ver
relato, os primeiros discípulos – Deus está ali e não é percebido;
começam a seguir Jesus (João segundo, o fato de que sempre
1.35-37). haverá mais o que conhecer e ex-
Humildemente, João assume perimentar.
sua condição de servo e anun- A revelação é iniciativa de Deus.
cia Aquele que é maior do É ele quem vem ao encontro de
que ele, que existia antes dele: seus discípulos e discípulas, como
o “Cordeiro de Deus” (João
1.36), o “eleito de Deus”; dois foi ao encontro de Jacó dando-se
títulos que falam da expecta- a conhecer. O povo alimenta mui-
tiva do próprio João. Ele, que tas expectativas e esperanças, re-
anunciava o arrependimento sultado da incompletude de sua
para a remissão dos pecados, existência que só encontra sen-
reconhece em Jesus, aquele tido em Deus. Ele é a resposta a
que pode por si só, perdoar os todos esses anseios e ainda mais.
pecados, expiá-los!
Palavra que ilumina a
No texto, aparecem vários títu-
los atribuídos a Jesus: vida
“Cordeiro de Deus”: essa Quando olhamos para a Bíblia, a
expressão, “Cordeiro de Deus” exemplo dos discípulos do texto,
aparece apenas no versos 36 temos as nossas compreensões
e no 29, e este traz o comple- prévias, expectativas e anseios, e
mento “que tira o pecado do muitas perguntas. Jesus respon-
mundo!”. Em Atos 8.32 a ima- derá a elas e nos ensinará muito
gem do cordeiro retirada do mais. Assim como os discípulos,
texto de Isaías 53 é usada para também chamamos Jesus por vá-
referir-se a Jesus. Essa imagem rios nomes e títulos que refletem
quer lembrar o “cordeiro sem um pouco o que pensamos e o
mancha” que era sacrificado que esperamos dele. Mas, Jesus é
16 - Em Marcha
muito mais do que nossa mente em favor dos pecados
é capaz de pensar e nossas pa- do povo numa alusão à
lavras de dizer. Para saber mais Páscoa. Jesus é o “Cor-
sobre Ele, algumas ações são ne- deiro de Deus, sem pecado”
cessárias: cujo sofrimento e morte “tira
o pecado do mundo”. Mas, há
É preciso ir sempre ao encontro uma diferença importante en-
de Jesus: conhecer Jesus, muito tre Jesus e o Cordeiro Pascal:
mais do que uma experiência da Jesus tira o pecado do mundo
razão, ainda que ela seja impor- e não apenas de um povo e é
tante, é uma experiência existen- “um sacrifício único e suficien-
cial. Passa, necessariamente, pelo te pelos pecados de toda a hu-
encontro. O convite para estudar manidade”, como declaramos
a Palavra é, também, um convi- na celebração da Ceia (He-
te para um encontro com Jesus: breus 9.22-28).
“Vem e vê!”.
“Rabi”: quer dizer “Mestre”.
Este encontro não se limita a um Dois dos discípulos de João se-
momento. A experiência com Je- guiam Jesus e o chamavam de
sus é duradoura. Quando os dis- “Mestre”. Rabi, de onde provém
cípulos perguntam a Ele: “onde a palavra Rabino, é a pessoa
assistes?” (João 1.38), revelam o que ensina a Palavra de Deus.
desejo de um encontro mais du- Nos tempos de Jesus, o Rabi
radouro e Jesus responde levan- era uma importante autorida-
do-os à sua casa (João 1.39). É de nas comunidades judaicas
um convite à intimidade! Convi- e, para ensinar, passavam por
vendo com Ele, saberão quem Ele
um longo período de forma-
ção. Os discípulos identificam
é. É o mesmo convite feito a nós. em Jesus alguém que podia
É preciso anunciar que todas as ensinar a Palavra de Deus, em-
pessoas podem ter esse encontro bora Jesus não tenha tido uma
com o Senhor: outro destaque a preparação formal numa esco-
fazer é que somos convidados e la rabínica, porém, Ele mesmo
convidadas não apenas para co- declarou que de fato era Mes-
nhecer, mas para anunciar Jesus. tre e Senhor (João 13.13).
A alegria de encontrar Jesus não “Messias”: é o mesmo que
pode ser contida. Ela se transfor- “Cristo”. Messias em hebrai-
co e Cristo no grego, ambos
Em Marcha - 17
significam “ungido”. ma em anúncio. No texto, cada
Messias ou Cristo é um pessoa que se encontra com Je-
título para designar sus anuncia a outra pessoa, cha-
aquele que Deus enviaria para mando a atenção não para si
restaurar o Reino de Israel. Em mesmo, mas para Ele! Pode-se
momentos de opressão e di- ver a importância do testemu-
ficuldades, crescia a expecta- nho pessoal dirigido às pessoas
tiva pela vinda do “ungido de amigas e familiares. Testemunho
Deus” que libertaria o povo e que deve ser estendido a todas as
restauraria a paz (Shalom) em
Israel.
“Profeta”: na Bíblia, profeta
é aquele que recebe as reve-
lações de Deus e as anuncia
ao povo. Geralmente, a prega-
ção deles tem um tom de de-
núncia. Denúncia do pecado
e anúncio da salvação. É um
ministério carismático, ou seja,
não institucional. São pessoas
corajosas que anunciam o que
Deus manda, confrontando o
povo, os reis e os sacerdotes.
Muitas pessoas identificavam
Jesus como um profeta e, de
fato, há uma dimensão proféti-
ca no ministério de Jesus.
Todos os títulos que aparecem
no texto condensam as expec-
tativas e esperanças do povo
cultivadas ao longo do tempo.
Representam o que esperam
da manifestação de Deus. Je-
sus assume todos eles, mas
eles juntos não são suficientes
para expressar quem Ele é! Ele
é maior do que qualquer coisa
18 - Em Marcha
pessoas que pudermos. que sejamos capazes
Encontraremos muitas pesso- de dizer a seu respeito.
as como Natanael, resistentes a
Ainda assim, é possível
conhecê-lo! Ele está perto, co-
crer por causa de suas ideias e nhece nossa história de vida,
preconceitos. O que vence a in- nossos anseios e, sobretudo, o
credulidade e faz romper com os que podemos ser. Esta é a base
preconceitos e equívocos é o pró- do testemunho cristão. Esse Je-
prio Jesus. Não é nosso o poder sus tão grande pode ser anun-
ciado e conhecido: “Vem e vê!”.

Em Marcha - 19
Por fim de convencimento e persuasão!
Nossa tarefa, então, é simples
O tema deste estudo e muito importante: convidar –
diz respeito a conhecer “Vem e vê!”. Somente a própria
Jesus. Esse conhecimento de
Jesus não é adquirido apenas experiência com Jesus pode mu-
através do estudo, mas, sobre- dar a vida.
tudo, na comunhão com Ele. O conhecimento de Jesus é um
O propósito de estudarmos a processo. Não se pode conhecê-
Bíblia (nesta revista, particular- -lo apenas de ouvir falar! É preci-
mente, o Novo Testamento) é so “ver”, “seguir”, “conviver”. Uma
de podermos conhecer melhor expressão muito importante no
quem é Jesus, quais são seus texto é “vem e vê”. Há certa alter-
ensinamentos e como pode- nância no texto entre expressões
mos vivê-los hoje. A própria Bí- de fé e dúvidas. Essas dúvidas se
blia nos mostra que conhecer a resolvem com a experiência de
Deus e a sua Palavra não é uma ver por si mesmo. O testemunho
experiência racional apenas; pessoal é importante, mas sem-
é, sobretudo, uma experiência pre culminará neste convite: ve-
existencial! É possível e neces- nha, veja por você mesmo.
sário ter comunhão com Ele,
ouvir e falar com Ele, senti-lo.

Para conversar
Traga à memória o primeiro encontro que você teve com Jesus, do
qual você se lembra: como aconteceu? Alguém apresentou Jesus a
você?
Você já viveu a experiência de convidar alguém para conhecer a
Cristo? Como foi?

20 - Em Marcha
Conclusão
Estudar a Bíblia é um meio de graça indispensável para o crescimen-
to espiritual e o desenvolvimento da santificação. Deve ser estudada
com devoção, reverência e humildade. Desta forma, não a conhecere-
mos como conhecemos qualquer outro livro: poderemos ter um en-
contro com o próprio Jesus que se revela a nós em sua Palavra. Esse
conhecimento, necessariamente, nos levará ao testemunho.
Jesus demonstra conhecer muito bem todas as pessoas que dele se
aproximam pela primeira vez: seus nomes, suas histórias de vida, suas
esperanças e anseios. Ele não se limita apenas a conhecer estes fatos,
mas a cada vida dará uma nova direção, novas perspectivas. É preci-
so anunciar a todos quantos pudermos que Jesus é a resposta à suas
expectativas de salvação; que Ele conhece suas vidas e suas histórias,
suas esperanças, anseios e que pode dar novo significado a elas.

Leia durante a semana


:: Domingo: João 1.35-51
:: Segunda-feira: Isaías 49.1-11
:: Terça-feira: Mateus 20.29-34
:: Quarta-feira: Gênesis 28.10-22
:: Quinta-feira: Isaías 53
:: Sexta-feira: João 1.19-28
:: Sábado: João 1.19-28

Em Marcha - 21
Estudo 3 Os blocos
literários do Novo
Testamento
Texto bíblico: 1 Coríntios 1, Mateus 1 e 2 e Apocalipse 1

A apresentação do Novo Testamento, com suas divisões, seus livros


e as principais abordagens é o tema desse estudo e para tanto,
antes de mais nada, é preciso ler todos os textos bíblicos em destaque
(1 Coríntios 1, Mateus 1 e 2 e Apocalipse 1).
O que há de diferente nestes textos, além é claro, do assunto? Como
cada texto bíblico foi iniciado? Todos têm a mesma estrutura? Todos
têm a mesma proposta? Para percebermos as diferenças e consequen-
temente as ênfases dos textos bíblicos, estudaremos sobre os gêneros
literários do Novo Testamento.
A Bíblia não foi escrita em ordem cronológica, mas sim organizada em
blocos literários. Há o bloco dos Evangelhos, das Cartas e o Apocalip-
se.
Assim, o texto bíblico foi organizado de uma forma diferente. Em que
isso me ajuda? Você pode se perguntar. A resposta é: para que possa-
mos perceber melhor os ensinamentos contidos na Bíblia! Vejamos.

Fundamento bíblico
Nos textos propostos para o estudo de hoje, lemos o Evangelho de
Mateus, a Carta de 1 Coríntios e o Apocalipse de João. Nenhum dos
textos indicados começam da mesma forma. Perceba que a organi-

22 - Em Marcha
zação do texto também é dife- Objetivos
rente. O Evangelho de Mateus
inicia falando sobre Jesus, sua Identificar como os li-
genealogia e nascimento. A Carta vros do Novo Testa-
de 1 Coríntios, após dizer a quem mento foram organizados; re-
a carta está direcionada, Paulo conhecer uma nova maneira
(seu autor) dá ação de Graças e de se ler e compreender os li-
começa a falar dos problemas vros do Novo Testamento.
da comunidade. O Apocalipse
de João inicia dizendo de onde Para início de conversa
veio a mensagem que será dada,
a quem é dedicado e descreve Sugerimos que as leituras se-
uma visão. jam realizadas em pequenos
grupos e que cada um de-
les responda as diferenças e/
ou semelhanças encontradas.
Cada grupo deve eleger uma
pessoa para ser o/a orador/a
que partilhará o que o grupo
percebeu. Após esse momen-
to, você poderá perguntar: em
que isso nos ajuda na leitura
Os três livros iniciam de manei- do Novo Testamento?
ras diferentes e têm objetivos di-
ferentes. É interessante pontuar A partir dessa pergunta pode-
que quando lemos o Evangelho -se trabalhar o conteúdo da
de Mateus estamos em uma co- aula a ser ministrada. É fun-
munidade judaico-cristã, quando damental ter um mapa para
lemos a Carta aos Coríntios esta- que a turma tenha clareza de
mos em uma comunidade cris- que em mundos diferentes, a
tã helenista (pessoas de origem comunicação precisa ser dife-
grega convertidas ao Cristianis- rente. Dê o exemplo dos dias
mo) e quando lemos o Apocalip- de hoje, onde a linguagem da
se de João estamos no âmbito do
culto. Assim, estamos em locais/ internet, do WhatsApp, dos
regiões diferentes, com públicos torpedos são mais utilizados
diferentes. do que a carta, o telegrama ou
mesmo o telefone.
Se estou em locais diferentes e

Em Marcha - 23
Por dentro do assunto com públicos diferentes, a minha
comunicação também precisa ser
Gêneros literários na desenvolvida de maneira que as
Bíblia pessoas que me ouvem possam
entender! Isso é muito importan-
No passado, lia-se os textos te!
bíblicos sem contestá-los ou
questioná-los. Tudo era aceito, Observe o mapa abaixo:
mesmo quando não se enten-
dia as suas diferenças de lin- Evangelho:
guagens. Nos últimos tempos, Definição de Evangelho: a boa
as pessoas que se dedicavam notícia de que o Imperador ven-
à pesquisa e estudo da Bíblia ceu uma guerra (no Período Ro-
começaram a se interessar e se mano) e fez a paz mediante a der-
perguntar, por exemplo, sobre rota dos adversários.
como o texto bíblico se origi-
Quando Marcos (primeiro evan-
nou, como entender as con- gelho escrito) se utiliza desse gê-
tradições e etc. Todo esse inte- nero, ele está enfrentando César.
resse e pesquisa contribuíram Seria como dizer que Marcos, ao
para a descoberta, na Bíblia, de declarar Jesus como o Senhor
vários gêneros literários, o que (kyrios) e não a César, resignifica
facilitou na compreensão e es- o gênero, isto é, a Boa Notícia é
tudo da mesma. vinda do Senhor Jesus Cristo e a
sua vitória frente aos seus adver-
Gênero literário do Evange- sários.
lho
Esse gênero dá tão certo, que
Dos quatro evangelhos, três Mateus, Lucas e João seguem o
são chamados de Evangelhos exemplo de Marcos.
Sinóticos, pela semelhança
entre suas narrativas - Mateus, Cartas:
Marcos e Lucas. É fácil colocá-
-los em narrativa ou sinopse, As cartas no Novo Testamento
seguem a estrutura das cartas do
isto é, um livro contendo três mundo greco-romano:
colunas: uma para cada evan-
gelho - relacionando horizon- 1. Saudação: identificando re-
talmente os livros que se asse- metente e destinatário;
melham; isto nos mostra que
24 - Em Marcha
2. Ação de Graças; estes evangelhos foram
3. Corpo da Carta; escritos “sob um mes-
mo ponto de vista”.
4. Despedida.
Esta semelhança não é mera-
As cartas representam a forma mente casual, nem fruto de
helênica de se enfrentar as difi- uma direta revelação divina
culdades: pensando diretamente aos seus autores. Os evange-
sobre elas. Dessa forma, as cartas lhos foram escritos após um
representam o jeito mediterrâ- trabalho de pesquisa entre do-
neo de resolver os dilemas da fé:
refletindo e se posicionando cumentos escritos e a tradição
sobre eles. que corria na boca do povo.
Essa forma de comunicação, já Mateus e sua mensagem: tem
conhecida, dá tão certo que ou- sua atenção voltada para aqui-
tros como João, Pedro, Tiago e lo que Jesus fez ou disse para
Judas, seguem o que o apóstolo a Lei Judaica. É um evangelho
Paulo fez, isto é, organizam seus que se esforça por demonstrar
escritos da mesma forma, com o que Jesus não veio rejeitar o
mesmo gênero literário. Antigo Testamento, mas reali-
zá-lo (Mateus 5.17-18). A men-
Apocalipse: sagem principal do Evangelho
Esse gênero literário surge em é o Reino de Deus como uma
meio a pressões e conflitos vi- realidade futura e, ao mesmo
vidos no mundo de dominação tempo, já presente.
helênica. Para tanto, ele é orga- Marcos e sua mensagem: des-
nizado de forma a que se possa
olhar para o passado e relembrar
de o início o evangelho de-
a esperança futura, para que a co- monstra a sua intenção: Come-
munidade resista às tentações do ço das Boas Novas (evangelho)
momento presente sem trair a fé. de Jesus Cristo, Filho de Deus
(Marcos 1.1). O que vai ser nar-
O gênero do apocalipse não tem rado é um testemunho dessa
a intenção de sinalizar eventos filiação divina de Jesus Cristo.
futuros, mas trazer esperança
para aqueles e aquelas que estão Lucas/Atos: dois volumes em
passando momentos difíceis e uma obra. Se examinarmos
precisam permanecer firmes em atentamente a parte inicial do
Cristo.
Em Marcha - 25
Evangelho de Lucas e Palavra que ilumina a
do Livro de Atos dos
apóstolos veremos vida
que ambos foram escritos pelo Ao lermos o Novo Testamen-
mesmo autor e possuindo um to utilizando o gênero literário
objetivo comum: comunicar como porta de entrada, podere-
a um certo Teófilo a descrição mos observar o seguinte:
da vida e obra de Jesus e dos 1. Esse olhar para a realidade
primeiros anos da Igreja. Lucas daquele tempo, nos ajudará a
não fala apenas de fatos pas- trazermos à memória a ação de
sados, mas enfatiza a ressur- Deus no passado, a fim de que
reição de Cristo. Ao mencionar no presente, isto é, no nosso dia
o Reino de Deus, dá ênfase no a dia, tenhamos a certeza de que
reino que virá. Quanto ao Li- Deus é conosco e sempre será.
vro de Atos, o conteúdo não Como foi no passado, é hoje e o
corresponde ao seu título, pois será no futuro – os Evangelhos
não trata das ações de todos os nos auxiliarão;
apóstolos, mas as de Pedro e de 2. Ao precisarmos lidar, de forma
Paulo. O livro procura narrar a objetiva, com um problema, e
história da difusão do evange- como nos posicionar com relação
lho desde Jerusalém até Roma, a ele – as Cartas nos auxiliarão;
pela ação do Espírito Santo. É
um livro que pode ser consi- 3. Quando precisarmos alimentar
nossa esperança em meio à tan-
derado um evangelho, sendo, tas dificuldades e pressões sofri-
realmente, uma sequência do das no dia a dia – o Apocalipse
evangelho de Lucas. também nos auxiliará.
Evangelho de João: João pos-
sui um vasto material biográfi- Conclusão
co sobre a vida e o ensino de Podemos ler o texto bíblico de
Jesus que eram transmitidos várias formas, isto é, podemos
oralmente pelas comunidades “entrar nesse mundo” de várias
e posteriormente, narrados e formas. O que estamos propon-
transcritos pelos evangelistas. do aqui é que você entre “nesse
mundo do Novo Testamento”
O Evangelho (evangelhos) é pela porta dos Gêneros Literários.
compreendido como um gê- Assim, cada gênero lhe conduzi-
26 - Em Marcha
rá a um objetivo específico, você
nero literário e não
irá compreender melhor o texto pode ser visto simples-
e, consequentemente, os ensinosmente como uma obra
e direcionamentos ali apresenta-
biográfica e histórica da vida
dos. de Jesus. Isso ficou evidente
Convidamos a relerem os livros na conclusão do Evangelho de
do Novo Testamento, utilizando João (João 21.25).
essa “porta de entrada”. Tenho
certeza de que vocês irão se sur- A mão de Deus
preender! Neste processo de escrita dos
Evangelhos e do livro de Atos
vemos novamente a mão de
Deus em ação e como Deus age através de processos comuns.
Muitas vezes, imaginamos que Deus só usa métodos sobrenatu-
rais. A maioria das vezes, porém, Deus está em ação através de
homens e mulheres que pesquisam, procuram, escrevem, corri-
gem o que escreveram, procurando comunicar a mensagem do
Senhor. E foi a fim de suplementar as lacunas que Deus levou

Em Marcha - 27
a Igreja a considerar a vantagem de incluir na Bíblia não
apenas um, mas quatro evangelhos, de modo que a vida
de Jesus, seus ensinos, seus atos e sua obra maravilhosa,
testemunhada e descrita de várias formas, pudesse atingir mais
firme e completamente o coração das pessoas.
Gênero literário das Cartas
A comunicação por cartas naquela época era muito comum e os
apóstolos fizeram uso delas, como ferramenta da Missão, para
compartilhar a mensagem de Deus.
As Cartas de Paulo: foram escritas para ajudar as Igrejas e al-
guns amigos pastores na caminhada da fé, sendo úteis para a ins-
trução, a organização e o crescimento da Igreja. Paulo foi o pas-
tor, o amigo, o missionário e o fundador de muitas Igrejas para as
quais escreveu cartas de encorajamento na fé e orientações para
o cotidiano.
As Cartas universais: as sete cartas universais são cartas de
orientação para as pessoas cristãs do mundo todo e de todas as
épocas. Ao lermos essas cartas, reconhecemos nelas palavras de
orientação para as Igrejas que se mantiveram firmes, cresceram
e se fortaleceram, apesar da perseguição e do sofrimento que
enfrentaram na época.

Para conversar
De que maneira a Palavra de Deus tem ajudado no seu dia-a-dia?

28 - Em Marcha
Gênero literário Apocalíptico
Este gênero literário, que também surge em textos do no
Antigo Testamento, como Daniel e Zacarias, reaparece
no livro do Apocalipse e em outros textos do Novo Testamento.
Nestes textos aparecem símbolos, imagens, visões e revelações.
A linguagem apocalíptica se intensificou durante os governos
dos Imperadores Romanos Nero e Domiciano, num tempo de
grande perseguição contra as primeiras pessoas cristãs.
O livro do Apocalipse mostra às pessoas cristãs que Deus está
com todas elas, que serão vitoriosas nas dificuldades e que um
novo céu e uma nova terra (Reino Pleno de Deus) serão implan-
tados. O Apocalipse é a revelação da esperança dada por Deus
aos cristãos e cristãs que viviam momentos de perseguição pelo
Império Romano.
Por fim
Conclua a aula, pontuando que saber identificar os gêneros lite-
rários na literatura bíblica são de grande valia. Compreender a
linguagem, a forma própria e o estilo de cada literatura, é muito
importante para entender com precisão o texto bíblico. Quanto
mais lemos o texto, mais vamos percebendo sua forma literária e
essa compreensão também nos ajuda apreciar e amar cada vez a
Palavra de Deus.

Leia durante a semana


:: Domingo: 1 Coríntios 1
:: Segunda-feira: Mateus 1
:: Terça-feira: Mateus 2
:: Quarta-feira: Apocalipse 1
:: Quinta-feira: Salmo 119.18
:: Sexta-feira: Salmo 119.130
:: Sábado: Provérbios 3.13
Em Marcha - 29

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