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n°ISSN
082175-5280
- setembro-dezembro de 2011
ISSN 2175-5280
EXPEDIENTE
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
CONSELHO CONSULTIVO:
Alberto Silva Franco, Marco Antonio Rodrigues Nahum, Maria Thereza Rocha de
Assis Moura, Sérgio Mazina Martins e Sérgio Salomão Shecaira
DEPARTAMENTO DE INTERNET
Coordenador-chefe:
João Paulo Orsini Martinelli
Coordenadores-adjuntos:
Camila Garcia da Silva
Luiz Gustavo Fernandes
Yasmin Oliveira Mercadante Pestana
1 Doutoranda pelo Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Universidade de São Paulo.
Fato é que essa configuração social mostrará sua influência em inúmeros as-
pectos da vida daqueles grupos, tais como em sua organização familiar, índices
de criminalidade, relação entre os vizinhos, entre outras, passando a ser consid-
erada essencial na análise desenvolvida no livro.
Insta salientar que, a princípio, o objetivo dos autores da obra era desvendar
o porquê da significativa diferença nos índices de atos infracionais praticados
em cada zona da cidade. Entretanto, eles abandonaram tal tarefa ao se darem
conta de que todas as características que emanavam daquela organização so-
cial decorriam de sua forma de configuração, do modo como aquela sociedade
se organizava, sendo esta a base da análise configuracional por eles proposta.
Fica evidente, na obra, que a maior coesão entre os membros das zonas hab-
itacionais 1 e 2 facultava a exclusão e a estigmatização dos membros da zona 3.
Nesse sentido,
Portanto, o estigma não é ruim em si, mas serve para diferenciar negativa-
mente um ou vários sujeitos de determinado grupo comparado. Em outras pala-
vras, serve para reforçar a normalidade deste.
4 GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia
Bandeira de Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988.
5 AMAR, Ayush Morad. Temas de Criminologia. São Paulo: Resenha Universitária, 1982. v. II. p. 75.
6 GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de
Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988. p. 149.
7 Importante destacar que as tensões entre os grupos não surgiram em virtude da perversidade de um ou de
outro, mas sim por que eles simplesmente foram colocados em uma posição antagônica, fator comum nos locais com
grande mobilidade social. Segundo os autores da obra, “sob muitos aspectos, a atitude e a visão dos estabelecidos e
dos outsiders, inelutavelmente aprisionados na interdependência de seus bairros, eram complementares. Tendiam a
se reproduzir e a reproduzir umas às outras” (Cf. ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders:
sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2000. p. 164).
Argyle explica essa relação, que envolve o sujeito estigmatizado e suas inte-
rações. Na vida cotidiana, as pessoas categorizam umas às outras e respondem
a essa categorização com diferentes tipos de interação, a depender de seu con-
teúdo favorável ou desfavorável. Sendo esse fator comum, o indivíduo aprende a
prever a qualificação que receberá e ver-se nesses termos, no que se denomina
sua autoimagem, representativa de como ele se percebe.
8 GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de
Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988. p. 27.
Assim, como ápice de todo esse processo, a reação social adversa gerada
pelo estigma pode transformar a concepção que o indivíduo tem de si próprio.
Não raro ele se torna autodepreciativo e desenvolve um auto-ódio.
Em outros termos,
No que se refere aos hábitos de asseio pessoal, por exemplo, sua área
de residência fica conhecida como “beco dos ratos”, em virtude da rotulação
daqueles sujeitos como sujos e anti-higiênicos, o que faz com que os outros cre-
iam ser esta uma característica real dos excluídos.
Vale ressaltar que os autores identificaram uma estreita relação entre a fofoca
9 ARGYLE, Michael. A interação social: relações interpessoais e comportamento social. Tradução de Márcia
Bandeira de Mello Leite Nunes. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
10 GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de
Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988. p. 134.
Pode-se defluir, então, do cenário traçado, que o controle social informal era
bastante mais forte na aldeia. Todas as características do bairro corroboravam
para que a vigilância fosse mais eficaz: a forte coesão entre os membros, o fato
de eles participarem de associações comunitárias e as fofocas, utilizadas como
instrumento de regulação de condutas.
É, pois, diante de todo esse contexto que se pode explicar as diferenças nos
índices de criminalidade juvenil nas zonas de habitação 2 e 3.
11 ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de
uma pequena comunidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 149.
12 ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a
partir de uma pequena comunidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 140.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AMAR, Ayush Morad. Temas de Criminologia. São Paulo: Resenha Universitária, 1982. v. II. p. 75.