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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais –

Câmpus Avançado Arcos


Curso: Pós-Graduação em Docência com ênfase na Educação Básica
Acadêmico: Alyson Fernandes de Oliveira
Matrícula: 0051900
Disciplina: Ciências Cognitivas na Educação

Teoria dos Modelos Mentais

1) Introdução a teoria dos modelos mentais

Por meio das leituras indicadas na disciplina, vimos que a mente é um dos
objetos de maior estudo a se compreender. Tomando por base a
interdisciplinaridade de diversas áreas deu-se origem a ciência cognitiva, que
possui como uma de suas estratégias o funcionamento da mente. Depois de
variados estudos acerca da mente, supõe-se que ela pode ser caracterizada em
representacional e computacional.

Quanto as representações mentais, que são maneiras de “re-presentar”


internamente o mundo externo, essas podem ser divididas em analógicas e
proposicionais. Segundo Eisenck e Keane (1994), as representações
proposicionais são discretas (individuais), abstratas, e organizadas por regras
rígidas, captando o conteúdo de ideias da mente, independente da modalidade
original na qual a informação foi encontrada, em qualquer língua e através de
qualquer dos sentidos. Já as representações analógicas são não discretas (não
individuais), concretas e organizadas por regras frouxas de combinação,
específicas à modalidade através da qual a informação foi originalmente
encontrada. Estas representações são “tipo-linguagem”, ou seja, uma linguagem
da mente humana.

Vê-se que a questão imagens/proposições é uma polêmica na


Psicologia Cognitiva. Há defensores de ambas posições. Mas, há uma terceira
posição, que é uma síntese, chamada de modelos mentais, proposta por
Johnson-Laird (1983). Segundo o autor, proposições são as representações dos
significados, totalmente abstraídas, e verbalmente expressáveis. Imagens são
representações específicas que retêm aspectos perceptivos de determinados
objetos ou eventos, vistos de forma particular, com detalhes de certa instância
do objeto ou evento. Já os modelos mentais, são representações analógicas,
abstraídas de conceitos, objetos ou eventos que são espacial e temporalmente
iguais às impressões sensoriais, e que podem ser vistos de qualquer ângulo, não
retendo aspectos de distinção de determinada instância de um objeto ou evento.

Ainda segundo Johnson-Laird, as pessoas raciocinam com modelos


mentais, e esses são como blocos de construção cognitivos que podem ser
combinados e recombinados conforme necessário. Assim, os modelos mentais
e as imagens são representações de alto nível, e são essenciais para o
entendimento da cognição humana.

Segundo Staf11 (1996) um modelo mental é composto de elementos e


relações que representam um estado de coisas específico, estruturados de uma
maneira adequada ao processo sobre o qual deverão operar. Dessa forma, cada
modelo já é construído de uma maneira coerente com o uso previsto, não
existindo um único modelo mental para um determinado estado de coisas. Mas,
ao contrário disso, pois podem existir vários modelos, mesmo que apenas um
deles represente de maneira satisfatória esse estado de coisas.

Quanto aos modelos mentais e os modelos conceituais, Norman (1983)


sugere três fatores funcionais que se aplicam tanto ao modelo mental como ao
modelo conceitual de modelo mental, sendo: o sistema de crenças, a
observabilidade e a potência preditiva. Quanto à natureza dos modelos mentais,
Johnson-Laird (1983) apontam princípios quanto a essa natureza, sendo eles:
princípio da computabilidade, princípio da finitude, princípio do construtivismo,
princípio da economia, princípio da não-indeterminação, princípio da
predicabilidade, princípio do inatismo, princípio do número finito de primitivos
conceituais, e o princípio da identidade estrutural.

Quanto à estrutura e conteúdo dos modelos mentais, de forma oposta as


representações proposicionais, os modelos mentais não possuem uma estrutura
sintática e sim análoga à estrutura dos estados de coisas do mundo, tal como os
percebemos ou concebemos, que eles representam. Outro ponto que merece
destaque do texto é quando o autor identifica a tipologia dos modelos mentais
proposta por Johnson-Laird, Primeiramente, o autor distingue entre modelos
físicos (que são os que representam o mundo físico) e modelos conceituais (que
são os que representam coisas mais abstratas). Depois identifica seis tipos
principais de modelos físicos, sendo eles: relacional, espacial, temporal,
cinemático, dinâmico e imagem. Em seguida, distingue quatro tipos principais de
modelos conceituais: monádico, relacional, metalinguístico e conjunto teórico.

Como apresentado em nossos estudos, investigar a cognição humana


não é uma tarefa trivial e os Modelos Mentais, como são internos à mente, não
podem ser explorados diretamente. Possíveis metodologias para uma
investigação de modelos mentais estão baseadas na questão de que as
representações mentais das pessoas podem ser inferidas com base em seus
comportamentos e verbalizações, e, supõe-se também que esses modelos
podem ser simulados em computador.

O texto do professor Marco Antônio Moreira ressalta que sejam quais


forem essas metodologias, a pesquisa nessa área é bastante difícil, por duas
razões principais, sendo elas: não poder perguntar à pessoa qual o modelo
mental que ela tem para determinado estado de coisas, pois ela pode não ter
plena consciência desse modelo, e por não adiantar buscar modelos mentais
claros, nítidos, elegantes, pois os que as pessoas de fato têm são estruturas
confusas, mal feitas, incompletas, difusas (Norman, 1983, p. 14).

Apesar das dificuldades, a análise de protocolos, o uso de informações


verbais do sujeito como fonte de dados tem sido a técnica mais utilizada para
investigar a cognição humana. São inúmeras maneiras de fazer com que as
pessoas gerem protocolos verbais, segundo o texto, como entrevistá- las, pedir
para que falem livremente, pensem em voz alta, e descrevam o que estão
fazendo enquanto executam uma tarefa. Essas verbalizações que geram os
protocolos são gravadas, transcritas e analisadas à luz de alguma teoria,
geralmente.

No texto, foram apresentadas algumas pesquisas sobre os modelos


mentais, como a de:
 Gentner e Gentner: fizeram previsões sobre o desempenho de
alunos em problemas de circuitos elétricos;
 Williams, Hollan e Stevens: relatam experimentos sobre modelos
mentais de um sistema de resfriamento que eles denominam
“trocador de calor”;
 Gutierrez e Ogborn: usaram o conceito de modelo mental
mecanístico proposto por de Kleer e Brown (1983) para analisar
protocolos relativos a força e movimento, tanto dos sujeitos de sua
pesquisa como de outros estudos já publicados por outros autores;
 Harrison e Treagust: fizeram um estudo sobre modelos mentais de
48 alunos de oitava série a segunda do ensino médio, relativos a
átomos e moléculas, em que usam o termo “modelo mental” para
descrever as suas interpretações das concepções de átomos e
moléculas dos alunos;
 Greca e Moreira: conduziram uma pesquisa com 50 estudantes de
engenharia em uma disciplina de Física Geral, na qual se
propuseram a investigar o tipo de representação mental usado
pelos alunos quando trabalhavam com o conceito de campo,
particularmente no domínio do eletromagnetismo;
 Ibrahim Halloun: fez uma pesquisa sobre modelagem esquemática
cuja base teórica vai na linha dos resultados de Greca e Moreira,
pois na raiz de sua investigação está o princípio de que, em Física,
a aprendizagem do aluno será tanto mais significativa quanto maior
for sua capacidade de modelar.

2) Uma investigação sobre os Modelos Mentais

Como proposta para o desenvolvimento desse trabalho, foi escolhido um


artigo no qual se investigou aspectos de determinada disciplina e seu conteúdo
a partir da teoria dos modelos mentais. Dessa forma, analisamos os
dados/resultados de um artigo que apresentou a forma como os modelos
mentais podem ser trabalhados considerando além de um conteúdo matemático
específico, a compreensão desses na comunicação, linguagem e escrita
matemática.

No artigo “Linguagem, Modelos Mentais e Problemas de Matemática”, de


Ripardo, Medeiros, Gonçalves e Guerra, publicado no ano de 2009, uma
situação-problema foi apresentada aos alunos do terceiro ano de um curso de
Licenciatura Plena em Matemática, com o intuito de verificar o nível de
compreensão desses alunos sobre conteúdos matemáticos ministrados nos
ciclos I e II do ensino fundamental (ciclo I: 1º, 2º e 3º anos, e ciclo II: 4º e 5º
anos), justificado por esses licenciandos também estarem se habilitando para
trabalhar com esse público do ensino básico. A situação problema era: “Um
freguês comprou 1/6 de uma torta. Outro comprou 1/4. O terceiro, que levou o
restante, pagou R$14,00. Quanto custava a torta toda?”.

Conforme relatado pelos autores do artigo, os alunos levaram certo tempo


para resolver o problema e apresentar ao professor, mesmo que sendo pouco
complexo e todos estarem no ensino superior. Então, apresenta várias das
resoluções obtidas pelos alunos, ressaltando a forma como os alunos, munidos
de seus modelos mentais e os conceitos matemáticos por eles apreendidos,
conseguiram desenvolver a questão. Um dos alunos apresenta sua resolução de
duas formas diferentes, de forma algébrica (linguagem matemática) e de forma
escrita, explicando passo a passo sua resolução e a forma como utilizou o
modelo mental. Logo, ele conseguiu compreender o problema, e resolvê-lo a
partir de um conhecimento já apreendido por ele anteriormente, as operações
com frações, e assim, associou um modelo mental que já possuía com a situação
na qual foi submetido, mostrando que tem habilidade com ele. Já um segundo
aluno, apresenta sua resposta por meio de uma representação geométrica, e
utiliza pouco a linguagem matemática e escrita. Segundo Ripaldo et al (2009),
nessa situação o aluno não dinamizou bem a apresentação de sua resposta, e
também do seu modelo mental, e então, o que foi apresentado, fica insuficiente
para se compreender a solução na qual encontrou. Assim, deixam claro que falta
elementos para a constituição dessa resposta, e dessa forma não é possível
compreender por completo o modelo mental desse aluno.
Com base no meu entendimento do artigo e de toda a literatura já
estudada acerca do assunto, e também na conclusão feita pelos autores, a
utilização de imagens, representações visuais, linguagem matemática escrita e
simbólica auxilia e muito na consolidação dos modelos mentais nos estudantes,
em qualquer etapa do ensino. Essa utilização, segundo Ripardo (2009), é um
suporte na formação de novos modelos e nas respostas advindas deles, e “uma
vez formado o modelo para aquele tipo de situação, as atividades posteriores
semelhantes se tornam automatizadas, como é o caso do uso de algoritmos
matemáticos na resolução de certos tipos de problemas” (p. 136).

Dessa forma, é muito importante que o professor trabalhe em sala de aula


com situações em que os alunos possam expressar seus modelos mentais na
resolução de problemas. Uma forma possível seria de atividade, seria apresentar
em sala de aula a situação problema apresentada no artigo, e a resposta dada
pelo segundo aluno, que segundo os autores não foi satisfatória. Essa seria uma
implicação desse resultado em sala de aula de forma prática, visto que
levaríamos os estudantes, possivelmente também de um curso superior em
licenciatura plena em Matemática para debater as possíveis formas de resolução
do problema e para analisar o porquê da resposta do aluno apresentado no artigo
não é satisfatória.

Assim, conseguiríamos ver o surgimento de novas ideias e perceber os


modelos conceituais e mentais construídos por esses alunos que seria a nós
apresentado, e com isso poderia ser proposto uma nova possível resolução a
partir da linguagem simbólica, matemática e escrita, além da análise das
respostas de um novo problema que poderia ser apresentado. Assim, seria
possível analisar, como dito anteriormente, os modelos mentais dos estudantes
e a forma como esses podem contribuir de forma satisfatória para a
aprendizagem dos conceitos matemáticos.
Referências:

EISENCK, M. W.; Keane, M. T. Psicologia cognitiva: um manual introdutório.


Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1994.

JOHNSON-LAIRD, P. Mental models. Cambridge, MA: Harvard University


Press, 1983.

NORMAN, D. A. Some observations on mental models. In: Gentner, D. and


Stevens, A.L. (Eds.). Mental models. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum
Associates, p. 6-14, 1983.

RIPARDO, R. B. et al. Linguagem, Modelos Mentais e Problemas de Matemática.


Revista Cocar, v. 6, p. 125-136, 2009.

STAFF11. Réprésentation de la connaissance. 1996. http://tecfa.unige.ch/staf/


staf9597/beltrame/STAF11/concepts.html.

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