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ÁREA: EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Neurociência Cognitiva e Matemática


Karly Barbosa Alvarenga

A aprendizagem envolve o processamento, arquivamento e recuperação ativa das informações


recebidas e o ensino deve ajudar aqueles que querem aprender para que eles possam desenvolver
adequadamente suas habilidades para processar tais informações e aplicá-las sistematicamente à
solução de problemas seja da natureza, da sociedade ou do próprio pensamento. Então, ensinar e
aprender são dois processos intrinsecamente relacionados e que se subordinam reciprocamente

Um marco na evolução do conceito de "aprendizagem" foi dado pela perspectiva comportamental,


aproximadamente na década de 50; cuja premissa básica girou em torno da análise e estudo do
comportamento humano, pois considerou o processo de "ensinar - aprender" como a resposta a
diferentes estímulos. Essa abordagem não se interessou em explicar o processo interno do cérebro ou
o processo mental, apenas deduzir ou inferir os resultados externos através do comportamento dos
indivíduos, como algo que se exteriorizou ao que estava acontecendo no interior. A partir daí surgiu
a afirmação de que os comportamentos poderiam ser modificados reforçando os “adequados” e
punindo ou censurando os “inadequados”. Essa perspectiva teórica considera a aprendizagem como
a modificação do comportamento por meio do estímulo, resposta e reforço seletivo (CALDERÓN,
2009)

Um outro enfoque sobre o que é aprender foi apresentado pela perspectiva construtivista. O
construtivismo, na concepção de seus principais representantes, definiu a aprendizagem como a
construção de estruturas mentais ao interagir com o ambiente; nesse sentido, o processo se
concentrava em tarefas que favoreciam atividades práticas e autodirigidas voltadas para a descoberta.
Portanto, ambientes de aprendizagem simulados ganharam relevância. Entre seus representantes
estavam Piaget (1972); Ausubel, Novak e Hanesian (1983); Bruner (1988) e outros.

A ideia central de Jean Piaget (1972) é que a aprendizagem ocorre como consequência do equilíbrio
entre o organismo (ser vivo) e o ambiente, pelo mecanismo que consiste na assimilação-acomodação-
adaptação. Adaptação é um momento de equilíbrio momentâneo que é quebrado novamente pela ação
de estímulos, aqueles que provocam as reações apropriadas para restaurar o equilíbrio, e assim por
diante. Esse esquema surgiu da pesquisa biológica e aplicado à compreensão da aprendizagem; o que
significava aplicar o modelo biológico de adaptação ao campo da psicologia.
Seguindo a abordagem Vigotskiana, a aprendizagem é o processo de apropriação pelo estudante, da
cultura, sob condições de orientação e interação social. Endossando que a cultura requer um processo
ativo, reflexivo e regulado, por meio do qual se apropria gradualmente das características dos objetos,
procedimentos, formas de interação social, de pensar, do contexto histórico social em que se
desenvolve e em cujo processo dependerá o seu desenvolvimento. É uma experiência social, mediada
pela utilização de instrumentos e signos (algo que tenha significado para o indivíduo, como a
linguagem falada e a escrita). É uma experiência social, a qual é mediada pela interação entre a
linguagem e a ação e a interação social deve acontecer dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP), que seria a distância existente entre aquilo que o sujeito já sabe e aquilo que o sujeito possui
potencialidade para aprender. Nas atividades de interações sociais, cada sujeito conta e põe em função
nos atos de aprendizagens sociais que realiza para assimilar a cultura, seus próprios recursos
intelectuais e afetivos/motivacionais, conformados de forma particular em sua individualidade.
Assim, a aprendizagem é uma relação dialética entre o histórico/social e o individual pessoal em um
processo de reconstrução da cultura e de si mesmo. (VELOZ, s.d.)

Já as neurociências concebem a aprendizagem como qualquer variação nas conexões sinápticas que
produzem mudanças no pensamento e no comportamento, que podem ser gerados através de
informações teóricas, práticas ou experiências de vida. (VELOZ, s.d.). Desse ponto de vista é possível
compreender a aprendizagem com um fenômeno de plasticidade cerebral modulado por fatores
intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiências) (MIGLIORI, 2013). Aqui restrinjo à
aprendizagem matemática e as possíveis relações com as neurociências cognitivas - que trata de
entender os processos biológicos dessa aprendizagem e envolve outras ciências como filosofia,
educação, engenharia, química, física, computação, dentre outras.

Nesse sentido, meu objetivo é apresentar alguns resultados de pesquisas que, por meio de softwares
como Brain Vision Analyzer, BioSemi Active Two system, Eletroencefalografia, Ressonância
Magnética Funcional, Tractografia, Tomografia por Emissão de Pósitrons, aliados aos métodos
estatísticos, como Análise de variância, Análise Multivariada da Variância, Correção de Bonferroni
e testes matemáticos específicos, conseguiram mapear alguns comportamentos e processamentos das
informações matemáticas. Além disso, indico algumas zonas de ativações cerebrais, quando os
sujeitos são colocados frente a uma situação-problema.

Para maior ideia de como as coletas de dados dessas investigações são realizadas exemplifico uma,
utilizada por Leikin et al. (2014), que com o auxílio de eletrodos dispostos conforme indica a figura
1, obtiveram um mapeamento de áreas envolvidas na resolução de algumas tarefas matemáticas. Os
participantes da investigação deles eram adolescentes, voluntários pagos, entre 16 e 17 anos, alguns
com superdotações e outros com bom desempenho na disciplina, mas sem indícios de serem
superdotados. Na fig. 2 observamos um tipo de dispositivo, capacete, para realizar um mapeamento
de áreas acionadas por meio de uma Eletroencelografia.
Figura 1: Um esboço da localização de eletrodos para realizar uma ERPi

Fonte: Leikin et al. (2014), pg.43

Figura 2: Um modelo de uma preparação de eletrodos para analisar áreas de ativação, capacete de Eletroencelografia

Fonte: https://www.biosemi.com/products.htm

Entender como o homem pensa, como ele aprende, inquietou filósofos como Sócrates, Platão,
Aristóteles e outros. Poincaré, em 1905, publicou Intuition and Logic Mathematics para refletir como
a intuição matemática acontece, como se processa a lógica matemática e a criatividade dos
matemáticos. Anos mais tarde, em 1945, Haddamad expressou a importância de que se um
matemático fosse também psicólogo ou vice-versa, o tema seria melhor abordado e compreendido.
Em outras palavras, eles manifestaram interesse em conhecer o processo de construção do
conhecimento matemático e, é claro, isso reflete diretamente na melhor compreensão da
aprendizagem matemática. Nesta época, jamais se imaginava que uma equipe interdisciplinar
utilizando aparelhagens tecnológicas à base de eletromagnetismo, radiofrequência, eletrodos e outros,
se embrenharia pelos caminhos difíceis e cheios de percalços para compreender como a mente
matemática funciona.
Inspirada nesse contexto busquei um caminho que pudesse levar a uma compreensão mais moderna
sobre o processo de aprendizagem matemática e iniciei um estudo sobre as recentes contribuições das
Neurociências Cognitivas. Como resultado de uma pesquisa bibliográfica, apresento aqui um breve
resumo de zonas cerebrais ativadas quando um indivíduo estuda matemática e destaco algumas
características cerebrais mais importantes, até então observadas. Os trabalhos foram selecionados de
2003 até 2018 e por ser uma compilação de inúmeros artigos fico impossibilita apontar todos. Mas,
no geral, os trabalhos que mais contribuíram para o resumo foram os de Dehaene et al. (2003),
Amalric e Dehaene (2018), Grabner et al. (2011), Anderson et al. (2011), Lee et al. (2007) e Leikin
et al. (2014).

Realizei uma leitura dos trabalhos e separei os dados relativos às zonas acionadas. Cada autor
desenvolveu uma metodologia de pesquisa diferente, inclusive os participantes são de várias idades
e níveis de escolaridade, mas a maioria é adulto. Então, com o foco exclusivamente nos tipos de
conteúdos e respectivas áreas cerebrais estimuladas, fui destacando-os sem a intenção de colocá-los
em uma ordem específica ou de categorizá-los. Porém, foi possível observar uma forte participação
do Lobo Parietal.

No geral, temos atualmente em torno de 21 países e 42 periódicos envolvidos em pesquisas e


publicações nessa área (FEILER e STABIO, 2018). Apesar de existirem polêmicas em relação aos
resultados dessas investigações é possível registrar que algumas se pautam em questionar como esses
resultados serão aplicados à sala de aula, outras apontam que elas são realizadas em laboratórios e
não no campo da escola e há aquelas que indicam que tal área quer sobrepor às investigações
educacionais já existentes.

O Cérebro

Compreender o funcionamento do cérebro, como órgão, sempre foi um desafio para os cientistas. Ao
final do séc. XIX Golgi e outros explicaram de maneira inicial e ainda rude a forma como a
informação é processada e transmitida a toda extensão do sistema nervoso, desde o momento de sua
chegada aos receptores sensoriais, localizados na superfície do corpo até sua chegada às estações
finais conhecidas localizada no córtex cerebral (DELGADO, 2017).

O cérebro é parte do encéfalo (cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico) que é parte do
Sistema Nervoso Central. (fig.3)
Figura 4: Córtex cerebral , substância cinzenta (aqui está na cor
Figura 3: Partes do Encéfalo
salmão), e parte interna, fibras mielínicas, substância esbranquiçada.

O córtex cerebral é uma membrana fina, de 6 camadas, aproximadamente de 1mm a 4 mm que cobre
o cérebro, todas com múltiplas ligações entre si, com uma variedade de dimensões e formas
geométricas. Tem a cor acinzentada, cobre todos os sulcos e circunvoluções com uma área próxima
de 0,22 m2. Aí se instalam as células neurogângliares e os neurônios (o total em todo o cérebro está
em torno de 90 bilhões), já a parte interna possui uma coloração esbranquiçada e é formada pelas
fibras mielínicas, por onde são transportadas as informações (fig.4).

Ele é dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito), subdivididos em lobos (frontal, parietal,
temporal e occipital) (fig 5).

Figura 5: Divisões do Córtex.


Um pouco da anatomia cerebral é importante para entendermos as áreas ativadas quando se aprende
matemática, por exemplo: Sulcos, giros (circunvoluções) e lobos (figs. 5,6). Além dessas, existem
várias outras, mas não é possível indicá-las aqui e nem é importante tantos detalhes anatômicos nesse
momento, pois não é foco desse trabalho.
Figura 6: Divisões do cérebro em alguns giros e sulcos

O neocórtex é a parte mais desenvolvida do cérebro, responsável por nossa razão e discernimento.
Existem vários investigações com o objetivo de aprofundar mais o conhecimento sobre esse órgão
tão misterioso, por exemplo, o Blue Brain Project ii( projeto Europeu, que de certa forma, concorre
com o americano Iniciativa Brainiii) que objetiva montar uma reconstrução completa do cérebro
humano utilizando um supercomputador. Para isso, os pesquisadores fazem uso da Topologia
Algébrica, uma técnica matemática que permite calcular as propriedades de um objeto ou espaço
independente do seu formato. O método consegue discernir os detalhes do sistema neurológico
cerebral ao mesmo tempo em que é capaz de capturá-lo em sua totalidade. Eles encontraram um
grande número e variedades de conexões diretas entre neurônios e cavidades entre eles, algo que
nunca foi visto antes em redes neurológicas, tanto biológicas quanto artificiais.

Transmissão de Informações

Com o intuito de situar o leitor do contexto biológico da transmissão de informações, da passagem


de um neurônio ao outro (figs. 7 e 8), para compreender melhor a aprendizagem, destaco de forma
resumida algumas características do processo intrigante dessa propagação.

Fenda
Sináptica

Figura 7: Particularidade da transmissão das


informações Figura 8: Detalhamento da Fenda Sináptica

Cada parte do neurônio: o corpo celular, os dendritos, os axônios e as terminações sinápticas (figs. 7
e 8), é responsável por uma função, para receber, integrar ou transmitir a informação. Em geral, o
dendrito recebe, o corpo se integra e o axônio transmite, sendo os terminais axônios a parte que se
comunica com outros neurônios. Uma parte fundamental, como o resto das células, é a sua membrana
celular - é a estrutura celular cuja função é possibilitar um neurônio se comunicar com seu ambiente
externo e transmitir sinais.

A membrana externa do neurônio é semipermeável a certos íons. Em células vivas, há uma diferença
na concentração de íons Na +, K +, Cl- e Ca2 + (Potássio, Sódio, Cloro e Cálcio, respectivamente)
no interior em relação ao seu exterior, o que também causa uma diferença de carga líquida elétrica
em ambos os lados da membrana de cerca de -70 mv, sendo o interior eletronegativo em relação ao
exterior (fig. 10). Essa diferença de potencial elétrico é o potencial de membrana e é também utilizada
para a transmissão de informações. As zonas ativas de contato entre uma terminação nervosa e
outros neurônios, células musculares ou células glandulares são chamadas Sinapses (figs. 7, 8 e 9),
possuem duas regiões, pré-sináptica e pós-sináptica e podem ser de dois tipos, elétricas ou químicas.
O contato físico não existe realmente, pois mesmo estando próximas, há um espaço entre ambas
estruturas (Fenda Sináptica, figs. 7 e 8). Dos axônios são liberadas substâncias (neurotransmissores),
que atravessam a fenda e estimulam receptores nos dendritos e assim a informação se transfere da
célula pré-sináptica para a pós-sináptica (fig. 9). As sinapses elétricas dos dois neurônios envolvidos
justapõem membranas citoplasmáticas, atingindo em alguns casos a fusão. Na área de entre os dois
neurônios aparecem estruturas de proteínas chamadas conexões que atravessam a membrana e
formam canais através dos quais os íons podem passar. Desta forma, ambos os citoplasmas são
conectados eletricamente e o sinal elétrico pode se propagar em ambas as direções. Na química, a
principal característica, é que são utilizadas substâncias químicas, neurotransmissores, para transmitir
informações de um para outro.

Figura 9: Um esboço da transmissão da informação


A aprendizagem matemática

Para aprender matemática podemos mobilizar vários sentidos, como o visual e ou o tato e ou a audição
e ativamos as áreas cerebrais responsáveis por tais sentidos, mas existem outras as quais também
precisamos acionar como, a da memória, da percepção, da atenção, e ainda ativamos as relacionadas
às emoções. Destacamos que a expressão do indivíduo pela oralidade matemática colabora
demasiadamente para o entendimento dessa e, além disso, essa ciência tem uma linguagem própria,
inclusive uma abordagem dela via a escrita informal e, principalmente a formal, promove uma melhor
organização das estruturas cognitivas. Em várias atividades, é necessário traduzir da linguagem
matemática para a língua materna e vice-versa. Além disso, desenvolver a capacidade de leitura
matemática está intrinsicamente ligada às outras supracitadas. Porém, de acordo com Amarilc e
Dehaene (2016), o alto nível do pensamento matemático faz mínimo uso das áreas de linguagens e,
invés disso, recruta circuitos inicialmente envolvidos em regiões ativadas relacionadas a espaço e
número.

Para produzir aprendizagem, em especial da matemática, nosso cérebro processa informações


emocionais e cognitivas. Aprendizagem e memória não estão limitadas a um único sistema neural ou
processo e os sistemas cognitivos, precisam funcionar conjuntamente para que haja, de fato,
aprendizado. (MIGLIORI, 2013).

De acordo com a mesma autora (2013) as áreas mais evoluídas do cérebro, os Lóbulos Pré-frontais
são responsáveis pelas funções executivas: se manifestam em ambientes que demandam criatividade,
respostas rápidas a novos problemas, planejamentos e flexibilidade cognitiva. Uma parte delas
consiste em desenvolver modelos mentais desses processos sobre “como”, “porque” e “quando”.

Somos quase insensíveis à rotina e àquilo com que nos habituamos, mas o processo de aprender
depende da permanente renovação do interesse e da curiosidade, que fomentam novas descobertas. E
isso não se dá pela habituação. Claro, que me refiro especificamente ao ato de aprender, pois bons
hábitos e alguma rotina são necessários para a organização do corpo, da mente e das suas ações diárias
como trabalhar, ir à escola, escovar os dentes, dormir, dentre outras. Para aprender é necessária uma
nova organização neural, pois a cada coisa nova que aprendemos há uma transformação no cérebro.
Uma educação matemática centrada na repetição pode impedir a manifestação da criatividade
matemática, essencial para novas descobertas. Com o tempo tudo que é aprendido cognitivamente se
transforma em uma espécie de automatismo. É dessa maneira que a aprendizagem consciente se torna
novamente disponível para novas aprendizagens. É como se permanentemente nossa capacidade
cognitiva esvaziasse para voltar a aprender. (MIGLIORI, 2013).

Um Resumo das Áreas Corticais Ativadas em Relação a Aprendizagem Matemática

Para elaborar os quadros sínteses (qds. 1, 2, 3 e 4) fiz várias leituras de artigos internacionais e destaco
aqui somente os principais como Dehaene et al. (2003), Amalric e Dehaene (2018), Grabner et al.
(2011), Anderson et al. (2011), Lee et al. (2007) e Leikin et al.(2014).

O Córtex Parietal e algumas sub-regiões

Quadro 1: Resumo de alguns conteúdos matemáticos que quando estudados ativam a área do Córtex Parietal 1

Conteúdos matemáticos Área ativada Localização da área


Processamento verbal de
AG
números envolvido na
recuperação de fatos Sulco Intraparietal horizontal , Parte
numéricos. Processamento superior posterior do Lobo Parietal e Giro
de números: cálculos, Angular( AG)- Localizado no lobo
aspectos viso espaciais e parietal, próximo a parte superior do lobo
atenção, processamento temporal
verbal e recuperação de
fatos numéricos
Processamento matemático
mais complexo, como a
resolução de problemas- Córtex Parietal, sem detalhamento de
palavra2, equações uma região específica
algébricas e demonstração
em geometria

Adição Lateralidade esquerda no córtex parietal

Multiplicação Lateralidade direita córtex parietal

Aumenta ativação cerebral nas regiões


Resolução de equação
selecionadas do IPS (Sulco Intraparietal)
algébrica mais complexa
e no Córtex Pré-frontal

1
As figuras dos quadros foram retiradas de vários sites da biblioteca Wikipédia e algumas editadas pela autora.
2
Um problema-palavra é uma descrição verbal de uma situação-problema em que uma ou mais questões são colocadas,
cujas respostas podem ser obtidas pela aplicação de operações matemáticas à informação (normalmente dados
numéricos) disponível no texto
Para a recuperação das
Os Córtices Parietais Posteriores são mais
representações de equações
ativos

Estes resultados sugerem que os dois


Ativa a PSPL (Lobo Parietal Posterior modos de representação impõem uma
A representação simbólica Superior ) e o Precuneus (pequena região atenção de diferentes demandas
de funções. do Lobo Parietal Superior ). (representação simbólica é mais
exigente).

Precuneus
A conexão entre correlatos
cerebrais e competência
matemática em tarefas que
Maior acionamento à esquerda do AG
requerem o processamento
da representação
matemática.
Processamento
O processamento de termos de informações
Os termos geométricos provocam mais verbais e
Processamento de
algébricos e geométricos também mais
informações
ativação IPS à esquerda do que os analítico , do
visuo-espaciais
(por exemplo, termos como ponto de vista
algébricos do
quadrados e valor absoluto) processamento

Acionamento das áreas de IPS (Sulco inferior


A translação entre formatos Intraparietral) e PSPL. Maior
gráficos e simbólicos envolvimento do IFG (Giro Frontal
(algébricos) de funções Inferior) esquerdo e do AG (Giro Parte da frente.
Angular) direito Situa atrás
da testa
Giro
angular

Parte de trás que


liga à coluna
vertebral

Fonte: Compilação e resumo da autora baseada na bibliografia

Regiões do Córtex Frontal e algumas sub-regiões


Quadro 2: Resumo de alguns conteúdos matemáticos que quando estudados ativam a área do Córtex Frontal

Conteúdos matemáticos Área ativada Localização da área


Controle de atenção e
Córtex Frontal
memória

O Pré-frontal Dorsolateral Anterior


Lembrança de diferentes
Esquerdo do córtex é mais ativo para a
representações das funções
recuperação da representação verbal

Problema matemático Córtex Pré-frontal Lateral Inferior


relativamente avançado (LIPFC)

Fonte: Compilação e resumo da autora baseada na bibliografia

Regiões mistas
Quadro 3: Resumo de alguns conteúdos matemáticos que quando estudados ativam variadas áreas gerais

Conteúdos
Área ativada Localização da área
matemáticos

Processamento
de informações
verbais e
Indica um maior envolvimento de regiões Processamento de
Geração de prova de também mais
informações
hemisféricas direitas, sem reconhecimento de uma analítico , do
visuo-espaciais
geometria ponto de vista
subárea específica do
processamento

Resolução de
problemas Ativa uma rede cortical lateralizada à esquerda,
matemáticos incluindo o Sulco Intraparietal Horizontal, o Lobo
avançados como Parietal Póstero-Superior, o Giro do Cíngulo
integrais Posterior e o Córtex Pré-Frontal Dorsolateral

Diagramas e
Ativa áreas ligadas à memória de trabalho e
equações,
processamento quantitativo (giros frontais esquerdos
representações para
e ativação bilateral do hIPS - Sulco Intraparietal
problemas-
Horizontal).
palavra/símbolos
matemáticos

Resolução de
Aumenta ativação cerebral nas regiões selecionadas
equação algébrica
do IPS (Sulco Intraparietal) e no Córtex Pré-frontal
mais complexa

Fonte: Compilação e resumo da autora baseada na bibliografia

Um destaque para o Córtex Occipital


Quadro 4: Resumo de situações que quando se estuda matemática ativa também o Córtex Occipital

Ausência de recursos visuais Área ativada Localização da área


Ativações adicionais foram encontradas no
As redes cerebrais para Córtex Occipital, mesmo em indivíduos que
raciocínios matemáticos ficaram cegos durante a infância, sugerindo
avançados podem se que tanto a imagem mental ou um mais
desenvolver na ausência de radical reajuste do córtex visual pode
experiência visual. ocorrer em matemáticos cegos.

Fonte: Compilação e resumo da autora baseada na bibliografia

Quando me refiro à ativação cerebral, me refiro não só, mas também, às alterações na oxigenação,
fluxo e volume sanguíneo que ocorrem em resposta à atividade neuronal – resposta hemodinâmica e
às alterações eletromagnéticas, intensidade das ondas cerebrais, das oscilações dessas ondas e à
diferença de potencial (devido à diferente composição iônica dos líquidos intra e extracelular
estabelece-se, através da membrana celular, uma diferença de potencial que pode ser calculada desde
que se conheçam as concentrações de certos íons (potássio, sódio e cloro), sobretudo o potássio (K+)).

De acordo com os quadros de 1 até 4 observamos que, para aprender matemática, várias zonas
cerebrais são solicitadas, o que implica uma grande demanda cognitiva, por mais simples que seja o
estudo a ser empreendido e a aprendizagem de conteúdos mais complexos requer ainda maior
quantidade de ativação e áreas envolvidas.

Nesse trabalho não tenho o interesse de apontar e refletir sobre as questões exteriores, como a
emocional, que influenciam na capacidade cognitiva do indivíduo e nem, tampouco, sobre alguns
tipos de lesões ou desvios cerebrais que também afetam a capacidade de aprendizagem. Porém, é
certo que práticas pedagógicas que focam na reprodução de atividades repetitivas, infelizmente
podem causar pouco efeito na aprendizagem, na memória a longo prazo, às pessoas caracterizadas
com um desenvolvimento cognitivo e biológico padrão.

Reflexões finais

Não há consenso entre os pesquisadores de que as Neurociências tem relevância para a educação. A
Neurociência Educacional é vista como uma disciplina emergente com suas raízes na Neurociência
Cognitiva e seu foco é amplo, que pode ir desde corroborar com as teorias educacionais já existentes
até a criação de novos aportes teóricos de como se desenvolve a aprendizagem. É possível dizer que
essa área de pesquisa está direcionada a três pilares como Neuropredição, Neurointervenção e
Neurocompreensão, conforme apontam De Smedt e Grabner (2015). Mas, os objetivos e as questões
investigativas na pesquisa neurocognitiva podem ser determinados pelos resultados da pesquisa
comportamental, enquanto os estudos comportamentais podem direcionar a pesquisa neurocientífica
em relação às elaborações de atividades e às interpretações dos dados.
Embora um número relativamente grande de estudos neurocognitivos tenham sido realizados no
campo da cognição numérica, eles estão enraizados, principalmente, na psicologia cognitiva e não
estão correlacionados às descobertas da Educação Matemática. Em geral, as terminologias da área
das neurociências são bem específicas, pouquíssimos professores e gestores têm tido interesse em
conhecer o conteúdo delas e, infelizmente, os resultados têm pouco impacto nos processos de
aprendizagem da matemática dos estudantes. Além disso, apenas um pequeno número de estudos em
Neurociência Cognitiva está atualmente explorando o processamento cerebral associado a conceitos
matemáticos (relativamente) avançados, enquanto estes raramente estão conectados a teorias da
Educação Matemática (LEIKIN, 2018).

Enfim, os estudos enfatizam a contribuição da pesquisa neuropsicológica, que acrescenta informações


importantes às investigações cognitivas do campo da Psicologia da Educação Matemática. Estas
informações podem nos ajudar a entender os diferentes estágios de processamento que ocorrem antes
de tomar a decisão comportamental final. As Neurociências não fornecem estratégias de ensino. Isso
é trabalho da Pedagogia, por meio das Didáticas. Mas, sabemos, por exemplo, com base em
evidências neurocientíficas, que há uma correlação entre um ambiente rico de atividades
diversificadas e o aumento das sinapses (conexões entre as células cerebrais). Os estudos no campo
das Neurociências podem e devem ajudar a testar as conclusões tiradas da pesquisa comportamental
em Educação Matemática. Conseqüentemente, os objetivos e as questões da pesquisa neurocognitiva
podem ser determinados pelos resultados da pesquisa comportamental, enquanto estes podem
informar à pesquisa neurocientífica em relação ao planejamento e elaboração das atividades e às
interpretações dos resultados das investigações.

Os desafios são muitos e vão em direção desde às questões simples como: qual o melhor termo para
designar essa área interdisciplinar de pesquisa?, qual seria uma linguagem acessível?, como evitar
erros de generalizações e especulações?; até a construção de laboratórios no campo escolar. Alguns
deles são evidenciados por Nouri e Mehrmohammadi (2012) como a necessidade de formar uma nova
geração de pesquisadores e educadores capazes de estabelecer um diálogo entre a Educação
Matemática e à Neurociência Cognitiva, promover mais divulgação dos artigos e resultados de
pesquisa já estabelecidas, estimular mais proximidade entre essas duas áreas dentre outros.

Ainda são poucos os trabalhos com essa temática, principalmente porque há uma certa descrença
inicial, ou um ânimo exagerado, quando surgem novos estudos relacionados à aprendizagem. O
importante é um diálogo constante entre a Educação Matemática e as Neurociências Cognitivas
fomentando juntas novas teorias de aprendizagem, em especial, matemática. Assim, esse trabalho
apresenta essa área de investigação, que surge como uma nova possibilidade para nos ajudar a
entender o processamento do conhecimento matemático e implementar práticas que possam melhorar
a aprendizagem.

Assim, as neurociências nos ajudam a entender melhor como ocorre o processo de aprendizagem e
todo bom professor deve saber para que com uma prática pedagógica de excelência estimulem a
geração de neurotransmissores que garantem sinapses adequadas no cérebro de nossos estudantes.
Para os estudantes quererem aprender, precisamos atraí-los com novas ideias que favoreçam seu
apetite para ver que conteúdo será oferecido.

O leitor interessado em aprofundar suas leituras pode inicialmente consultar periódicos como ZDM
Mathematics Education, v.42 e v.48 e a Revista Iberoamericana de Educación, v.78.

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Eletrodos anterio-frontais: AF3, AFz e AF4, frontais: F3, Fz e F4, fronto-central: FC3, FCz e FC4, parietais: P3, Pz e
P4, parieto-occipital: PO3, POz e PO4 e occipitais: O3, Oz e O4, posterior direito (PR): P4, PO4, O2; meio posterior
(PM): Pz, POz, Oz; posterior esquerdo (PL): P3, PO3, O1; anterior direito (AR): AF4, F4, FC4; médio anterior (AM):
AFz, Fz, FCz e esquerdo anterior (AL): AF3, F3, FC3.
O Potencial Relacionado a Eventos (ERP) é uma medida à resposta cerebral que é o resultado direto de um evento
específico seja sensorial, cognitivo ou motor. Mais formalmente, é qualquer resposta eletrofisiológica estereotipada a um
estímulo. O estudo do cérebro, dessa maneira, fornece um meio não invasivo de avaliar o funcionamento do cérebro.
ERPs são medidos por Eletroencefalografia (EEG).
ii
The Human Brain Project (HBP) is a large ten-year scientific research project, based on exascale supercomputers, that
aims to build a collaborative ICT-based scientific research infrastructure to allow researchers across Europe to advance
knowledge in the fields of neuroscience, computing, and brain-related medicine. The Project, which started on 1 October
2013, is a European Commission Future and Emerging Technologies Flagship. The HBP is coordinated by the École
Polytechnique Fédérale de Lausanne and is largely funded by the European Union. The project coordination office is
in Geneva, Switzerland. https://en.wikipedia.org/wiki/Human_Brain_Project.
iii
É um ambicioso programa multidisciplinar que, com um investimento inicial de 110 milhões de dólares, pretende traçar
um mapeamento do cérebro humano para auxiliar a cura de doenças como Alzheimer e epilepsia. Lançado em 2014, no
governo Obama. Oficialmente conhecida como Breakthrough Research And Innovation in Neurotechnology (Pesquiva
de ponta e inovação em neurotecnologia – BRAIN).
https://veja.abril.com.br/ciencia/obama-lanca-programa-para-mapear-cerebro-humano/

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