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Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em

paredes de alvenaria e elementos de betão

Francisco Pedro Ferreira Maria Marques

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Civil

Júri

Presidente: Prof. Albano Luís Rebelo da Silva Neves e Sousa


Orientador: Prof. Fernando António Baptista Branco
Vogais: Prof. João Paulo Janeiro Gomes Ferreira

Maio 2013
Resumo


Resumo

As pinturas de edifícios são um dos tipos de revestimento mais usados na construção civil,
designadamente em Portugal, facto para que muito contribuem os custos competitivos, assim como
o seu desempenho positivo.

Na presente dissertação começa por fazer-se um enquadramento histórico sobre o uso das
pinturas, abordando as origens das tintas primitivas, e as diversas evoluções sofridas até aos dias
de hoje, nomeadamente em relação aos seus constituintes, tecnologias de produção, técnicas de
aplicação e tipos de utilização. Seguidamente faz-se uma descrição geral das tintas, a descrição
individual dos seus componentes das suas origens e funções na mistura. São abordados os
mecanismos de formação de película, as principais tintas existentes no mercado, sendo apresentada
uma classificação geral das mesmas com base nos seus constituintes e respectivas características.

Em seguida faz-se a descrição das principais tecnologias de aplicação de tintas usadas


actualmente para executar pinturas em paredes de alvenaria rebocadas e elementos de betão,
bem como de todos os factores envolventes que condicionam directa ou indirectamente o resultado
final da pintura, entre os quais estão a preparação das superfícies, esquemas de pintura, modos de
execução e materiais a utilizar.

Por fim, é elaborada uma descrição das principais patologias que afectam os revestimentos
por pintura, respectivas causas e soluções, cujo resumo é apresentado em anexo, juntamente com
um modelo de ficha de inspecção.

Palavras-chave: Pintura, Tinta, Revestimento, Patologia.

iii
Abstract

Abstract

The buildings paintings are one of the most commonly used coatings in construction, particularly
in Portugal, and for that much contributes their very competitive costs, as well as their positive
performance.

This dissertation will build a framework on the historical use of paintings, addressing the origins
of primitive paints, and the several evolutions suffered until now, particularly in relation to their
constituents, production technologies, application techniques and types of use. It will than explain an
overview of the paints, the individual description of the components and their origins and functions
in the mixture. Afterwards the mechanisms of film formation and the main paints available on the
market are addressed, being presented a general classification of them, based on their constituents
and respective characteristics.

Then it will be presented the description of the main technologies currently used in paint
application, to execute paintings on plastered masonry walls and concrete elements, as well as all
surrounding factors that directly or indirectly affect the outcome of the painting, among which there
are surface preparation, painting schemes, implementation modes and materials to use.

Finally, the dissertation will present a description of the main pathologies affecting the paint
coatings, their causes and solutions, a summary of which is attached, along with a model of the
inspection sheet.

Keywords: Painting, Paint, Coating, Pathologies.

v
Agradecimentos

Agradecimentos

Ao concluir o presente trabalho, não poderia deixar de agradecer a todos aqueles que
de alguma forma contribuíram para a sua realização.

Ao meu orientador, Professor Fernando Branco, o meu sincero agradecimento pela


disponibilidade e apoio que sempre demonstrou e pelos sábios conselhos dados, sem os
quais não teria sido possível elaborar este trabalho.

À Engenheira Paula Rodrigues, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, agradeço


a preciosa ajuda, disponibilidade e espirito de partilha sempre que a solicitei.

À Associação Portuguesa de Tintas, na pessoa da Dra. Manuela Cavaco, pelo material


disponibilizado, bem como pela simpatia e confiança demonstradas.

À Tia Lúcia pela grande ajuda na paginação e composição gráfica.

Aos meus amigos pelo permanente apoio, amizade e incentivo.

Aos meus pais e irmã, pelo apoio, motivação e pela paciência que tiveram ao longo de
todo o percurso académico e particularmente nesta fase final.

vii
Índice geral

Resumo ......................................................................................................................... iii

Abstract ......................................................................................................................... v

Agradecimentos ........................................................................................................... vii

Índice ............................................................................................................................. ix

Índice de tabelas .......................................................................................................... xi

Índice de figuras ........................................................................................................... xi

1. Introdução ...................................................................................................... 1
1.1. Âmbito e Enquadramento .............................................................................. 1
1.2. Breve História das Tintas . ............................................................................. 1
1.3. Objectivos ...................................................................................................... 4

2. Tintas/Pinturas ............................................................................................... 5
2.1. Composição das tintas .................................................................................. 5
2.1.1. Óleos sicativos. ............................................................................................... 7

2.1.2. .Resinas .......................................................................................................... 9

2.1.3. Pigmentos ...................................................................................................... 16

2.1.4. Cargas ............................................................................................................ 21

2.1.5. Solventes e diluentes....................................................................................... 22

2.1.6. Aditivos............................................................................................................ 24

2.2. Características das tintas ................................................................................ 26


2.2.1. Concentração volumétrica de pigmentos (CVP)............................................... 26

2.2.2. Compostos orgânicos voláteis (COV) . ........................................................... 27

2.3. Mecanismos de formação da película ............................................................ 27


2.3.1. Oxidação (termofixa) ....................................................................................... 28

2.3.2. Evaporação do solvente (termoplástica)........................................................ 29

2.3.3. Reticulação química (termofixa)...................................................................... 29

2.4. Principais tipos de tintas . ............................................................................... 30


2.4.1. Tipos de tintas ................................................................................................. 30
2.4.2. Classificação das tintas .................................................................................. 32

ix
Índice geral

3. Tecnologias de aplicação de tintas ........................................................... 35


3.1. Escolha do produto a aplicar............................................................................. 35
3.1.1. Identificação do ambiente envolvente............................................................. 36

3.1.2. Outros aspectos a considerar.......................................................................... 40

3.1.3. Critérios de selecção dos produtos de pintura................................................ 41

3.2. Preparação de superfícies................................................................................. 42


3.2.1. Métodos usuais de preparação de superfícies................................................ 42

3.2.2. Preparação de superfícies de alvenaria.......................................................... 45

3.2.3. Preparação de superfícies de betão................................................................ 47

3.3. Aplicação dos produtos de pintura.................................................................... 49


3.3.1. Esquemas de pintura....................................................................................... 50

3.3.2. Métodos de aplicação...................................................................................... 52

3.3.3. Modo de execução.......................................................................................... 66

3.4. Segurança....................................................................................................... 68
3.4.1. Equipamentos de protecção individual (EPI)................................................... 68

4. Patologias em revestimentos por pintura................................................... 71


4.1. Principais causas.............................................................................................. 71
4.2. Patologias consoante as fases em que podem ocorrer................................... 75
4.2.1. Patologias durante a armazenagem da tinta................................................... 75

4.2.2. Patologias na fase de aplicação...................................................................... 79

4.2.3. Patologias na fase de vida útil......................................................................... 89

5. Conclusão e desenvolvimentos futuros..................................................... 105


5.1. Conclusões..........................................................................................................105
5.2. Desenvolvimentos futuros...................................................................................107

Bibliografia....................................................................................................................... 109
Sites consultados.............................................................................................................111

Anexos.............................................................................................................................. 113

x
Índice de tabelas / Índice de figuras

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de Aditivos.......................................................................................................................... 25

Tabela 2 – Classificação da agressividade ambiente..................................................................................... 40

Tabela 3 – Lixagem........................................................................................................................................ 44

Tabela 4 – Tamanhos dos bicos das pistolas................................................................................................. 63

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – A mais antiga pintura rupestre conhecida .................................................................................... 1

Figura 2 – Pintura rupestre ............................................................................................................................ 2

Figura 3 – Pigmentos ..................................................................................................................................... 3

Figura 4 – Principais componentes de uma tinta........................................................................................... 6

Figura 5 – Composição da tinta, em volume ................................................................................................. 7

Figura 6 – Película húmida e película seca..................................................................................................... 7

Figura 7 – Sementes de linho......................................................................................................................... 8

Figura 8 – Óleo de linhaça.............................................................................................................................. 8

Figura 9 – Pigmentos ..................................................................................................................................... 16

Figura 10 – Relação de CVP com algumas propriedades da película [2]........................................................ 26

Figura 11 – Mecanismo de formação da película........................................................................................... 28

Figura 12 – Tintas de base aquosa [12].......................................................................................................... 31

Figura 13 – Tintas diversas............................................................................................................................. 33

Figura 14 – Raspador oval.............................................................................................................................. 43

Figura 15 – Raspador triangular..................................................................................................................... 43

Figura 16 – Tintas em utilização..................................................................................................................... 51

Figura 17 – Trinchas e pincéis......................................................................................................................... 53

Figura 18 – Trincha ....................................................................................................................................... 53

Figura 19 – Componentes de rolos de pintura............................................................................................... 56

Figura 20 – Rolo de lã..................................................................................................................................... 57

Figura 21 – Rolo de espuma........................................................................................................................... 58

Figura 22 – Tabuleiros..................................................................................................................................... 59

xi
Índice de figuras

Figura 23 – Pistola de alimentação por aspiração.......................................................................................... 61

Figura 24 – Pistola de alimentação por gravidade.......................................................................................... 61

Figura 25 – Pistola de alimentação por pressão............................................................................................. 61

Figura 26 – Manuseamento da pistola .......................................................................................................... 65

Figura 27 – Pintura de tecto........................................................................................................................... 67

Figura 28 – EPI’s ....................................................................................................................................... 69

Figura 29 – Óculos de protecção.................................................................................................................... 69

Figura 30 – Protector facial c/viseira.............................................................................................................. 69

Figura 31 – Máscara de pintura...................................................................................................................... 69

Figura 32 – Máscara com filtros de carbografite............................................................................................ 70

Figura 33 – Luvas de protecção...................................................................................................................... 70

Figura 34 – Espessamento.............................................................................................................................. 76

Figura 35 – Ataque ......................................................................................................................................... 79

Figura 36 – Bicos de alfinete........................................................................................................................... 80

Figura 37 – Casca de laranja........................................................................................................................... 81

Figura 38 – Encosturado................................................................................................................................. 81

Figura 39 – Enrugamento............................................................................................................................... 82

Figura 40 – Escorridos.................................................................................................................................... 84

Figura 41 – Formação de crateras.................................................................................................................. 86

Figura 42 – Máscara de trincha...................................................................................................................... 86

Figura 43 – Descoloração............................................................................................................................... 90

Figura 44 – Destacamento devido a humidade por capilaridade................................................................... 91

............................................................................................................................. 91

Figura 46 – Eflorescências.............................................................................................................................. 92

Figura 47 – Empolamento.............................................................................................................................. 94

Figura 48 – Fissuração.................................................................................................................................... 96

Figura 49 – Pulverulência............................................................................................................................... 101

Figura 50 – Retenção de sujidade.................................................................................................................. 103

xii
Introdução

1. Introdução

1.1. Âmbito e Enquadramento

As pinturas de edifícios constituem um dos diversos tipos de revestimento que pode ser usado
na construção civil, para obter acabamentos com aspecto visual agradável, mas também para
protecção das superfícies. Os materiais de pintura, bem como as matérias-primas usadas no seu
fabrico, devem obedecer a critérios técnicos definidos na norma internacional ISO 4618 [1].

“É tradição no nosso país que os paramentos exteriores dos edifícios possuam cor, recorrendo-
-se à aplicação de tintas inicialmente de natureza inorgânica. Com o desenvolvimento da indústria
química no século XX surgiram tintas com ligantes poliméricos, primeiro de origem natural e mais
tarde sintéticos. Actualmente, está disponível no mercado, uma diversidade de tintas com uma
paleta de cores muito diversificada e que conferem às superfícies aspectos variados: liso, texturado,
brilhante, mate” [2].

As tintas são materiais amplamente utilizados na construção civil, para revestimento de


superfícies. Para este facto, muito contribuem os custos competitivos que estas apresentam,
quando comparadas com outros materiais de revestimento, aliados a uma contínua evolução
tecnológica dos componentes empregues no seu fabrico, bem como dos métodos de fabrico e de
aplicação usados.

1.2. Breve História das Tintas

A utilização de tintas/pinturas pelo Homem remonta ao Período Paleolítico, quando os homens


primitivos começaram a pintar figuras nas paredes das cavernas para fins decorativos [3], embora
a utilização de pinturas por razões estéticas tenha origem na Idade da Pedra, muito antes do
Homo Sapiens, provavelmente para pintar os corpos durante os rituais de caça, cerimónias e outros
eventos sociais [4].

As pinturas rupestres eram feitas com


recurso a tintas à base de gordura de animais e
terras ou argilas coradas, como os ocres. Estas
tintas aplicadas em interiores ficavam protegidas
das intempéries, estando ainda hoje preservadas,
as mais antigas no sul de França [3]. A mais antiga
pintura rupestre conhecida (figura 1) terá 35 000
anos [4].
Figura 1 – A mais antiga pintura rupestre conhecida [4]

1
Introdução

Já então, os constituintes de base de uma tinta eram um ligante (gordura animal) e um pigmento
corado [3]. Os produtos utilizados no fabrico de produtos de pintura foram evoluindo através dos
tempos, principalmente para satisfazer as exigências artísticas do ser humano [5], vindo a originar
produtos que hoje apresentam um elevado grau de sofisticação [3].

Cerca de 4 000 anos a.C., os europeus começaram a


usar as primeiras tintas para construção civil: queimavam
pedra calcária, misturavam-na com água e aplicavam a
cal resultante às suas casas de barro para as protegerem
e decorarem [3].

Nesta altura já os chineses tinham desenvolvido a


arte da fabricação de lacas, a partir de seiva de árvores,
para diversas aplicações, incluindo como revestimentos
de protecção, sendo os verdadeiros antecessores dos
revestimentos modernos. A laca preta, fabricada a
partir da resina da árvore Rhus Vernicifera, era usada
para ornamentar objectos considerados extremamente
valiosos, símbolos da aristocracia na China e no Japão.
Esta arte só veio a ser introduzida na Europa pelos
Figura 2 – Pintura rupestre [3]
mercadores da Idade Média [3].

Na Índia, da secreção de um insecto era extraída a goma-laca (shellac), usada na preparação


de um verniz para proteger e embelezar objectos e superfícies de madeira [3].

No Egipto, o uso de vernizes e esmaltes a partir de cera de abelha, gelatina e argila, data de
cerca de 3000 anos a.C.; posteriormente, revestimentos de barcos de madeira com pez e bálsamo
à prova de água [6]. Nesta altura terá surgido o primeiro pigmento obtido por via sintética, o azul
do Egipto (um silicato de cobre) [7]. Cerca de 1000 anos a.C. foram preparados vernizes a partir de
goma arábica [6], que é uma resina natural utilizada como espessante e estabilizante.

À medida que as civilizações egípcia, grega e romana se desenvolviam, foram sendo


introduzidos pigmentos de outras cores. No ano 400 a.C. foi produzida a primeira forma sintética do
pigmento branco (carbonato de chumbo) e no ano 300 a.C. é descrita uma técnica de preparação
de pigmentos por “alteração de cor provocada pela calcinação das terras coradas” [7].

Há cerca de 2000 anos, a civilização Maya usava um pigmento azul designado por azul Maya,
à base de substâncias naturais, argila e índigo (derivado orgânico de uma planta). Este corante tem
uma durabilidade notável ao fim de centenas de anos de exposição sob condições húmidas. Tem
sido reportada a sua elevada resistência à biodegradação e à acção de ácidos, álcalis e solventes
químicos [8].

2
Introdução

Na Europa, do século IV ao século X eram usadas tintas de água, à base de cal e argilas para
pinturas em igrejas e conventos [9].

A partir do século XII começam a chegar alguns pigmentos trazidos pelos mercadores [7],
sendo nesta linha que surge a primeira utilização dos óleos vegetais sicativos para confecção das
tintas usadas nas pinturas renascentistas e que aparecem os vernizes preparados com resinas
vegetais, como a colofónia, resinas fossilizadas, como o âmbar, aos quais se juntavam essências
voláteis como a essência de terebentina (um solvente obtido da destilação da resina do pinheiro)
para reduzir a viscosidade das misturas e facilitar a sua aplicação [5].

Figura 3 – Pigmentos [10]

No século XVIII foi descoberto um pigmento azul, o azul da Prússia, cujo processo de obtenção
foi mantido secreto durante duas décadas [7].

Só com a Revolução Industrial é que surgem na Europa as primeiras fábricas de produção de


tintas que conquistaram o mundo devido ao rápido avanço tecnológico, que criou novos e vastos
mercados, como a invenção do automóvel que constituiu o motor de desenvolvimento de novos
revestimentos.[3]

Foi apenas no século XX que se deu o grande incremento na indústria das tintas e vernizes, pela
necessidade não só para fins artísticos mas também, e principalmente, para proteger os materiais
[5]. Devido às novas formulações e processos de aplicação, as trinchas foram progressivamente
substituídas pela pistola e os tempos de secagem encurtados, com a consequente aceleração do
processo de pintura [3]. O rápido avanço da química e da tecnologia dos polímeros que tornou
possível a elaboração de substâncias para a formulação de películas, bem como o desenvolvimento
da química de pigmentos [9].

Nos últimos anos, a tecnologia de pinturas tem mudado drasticamente devido à publicação
de regulamentos relacionados com o ambiente e a saúde e segurança dos operadores, como por
exemplo regulamentos relacionados com partículas de pó de decapagem abrasiva, emissão de
compostos orgânicos voláteis (COV) e materiais perigosos como o chumbo e outros metais pesados.

3
Introdução

Os fabricantes de tintas reformularam os seus produtos para cumprir com os novos regulamentos,
o que conduziu ao desenvolvimento de uma larga gama de materiais de pintura de alta tecnologia,
que são mais sensíveis à preparação das superfícies e às técnicas ambientais de aplicação [11].

A indústria de tintas investiu fortemente na investigação e desenvolvimento de produtos com


menor impacto no ambiente e na saúde humana, sendo necessário mudar a composição dos
sistemas. O teor de solventes das tintas foi altamente reduzido, podendo ser apenas de 15% nas
tintas de altos teores em sólidos, nas quais é aumentada a fracção de sólidos, mantendo constantes
a viscosidade e as propriedades de aplicação. As tintas de base aquosa são muitas vezes usadas
em substituição das de base solvente e alguns produtos são mesmo isentos de solvente, tais como
as tintas em pó e as de cura UV [3].

Actualmente, as tintas, vernizes ou produtos similares são constituídos principalmente por


matérias-primas obtidas industrialmente e são utilizados com diferentes objectivos, seja por razões
de decoração ou para melhorar o aspecto estético de superfícies ou objectos, para a protecção
do substrato, ou ainda por razões especiais como o melhoramento das condições ambientais
ou de segurança na utilização ou a introdução de características específicas (resistência a
microorganismos, resistência mecânica, resistência química, etc.) [5].

1.3. Objectivos

Com este trabalho pretende-se contribuir para identificar as causas dos defeitos/patologias e
propor soluções para evitar/minimizar o seu aparecimento durante a vida útil das construções, e que
em geral têm origem em procedimentos errados, más escolhas a nível de materiais ou defeituosa
execução do revestimento.

4
Tintas e Pinturas

2. Tintas e Pinturas
As pinturas de edifícios constituem um dos diversos tipos de revestimento que pode ser usado na
construção civil.

As tintas são materiais amplamente utilizadas na construção civil, para revestimento de superfícies.
Para este facto, muito contribuem os custos competitivos que estas apresentam, quando comparadas
com outros materiais de revestimento, aliados a uma contínua evolução tecnológica dos componentes
empregues no seu fabrico, bem como dos métodos de fabrico e de aplicação usados.

A norma ISO 4618 define produto de pintura como “um produto líquido, em pasta ou em pó
que, aplicado sobre um substrato, forma uma película protectora, decorativa e/ou outras propriedades
específicas” [1].

Os produtos de pintura podem ser pigmentados ou não. No primeiro caso designam-se por
tintas e caracterizam-se por darem origem a uma película opaca, que cobre totalmente o substrato.
Quando o produto de pintura não possui pigmentação designa-se por verniz se “quando aplicada no
substrato forma uma película sólida, transparente, dotada de propriedades protectoras, decorativas ou
propriedades específicas” [2].

O revestimento por pintura é o resultado da aplicação de um esquema de pintura que consiste,


segundo a norma ISO 4618, numa “combinação de camadas de material de pintura que são aplicadas
num substrato”. O sistema pode ser caracterizado pelo número de camadas envolvidas, dando origem
a revestimentos de monocamada ou de multicamada e sendo o produto aplicado como camada final
designado por acabamento ou tinta de acabamento [1][2].

Quando se aplica um esquema de pintura num determinado substrato, pretende-se obter, após
secagem, um revestimento multifuncional, isto é, um revestimento que proteja o substrato e que,
simultaneamente, melhore o seu aspecto visual, ou que contribua para a melhoria das condições de
iluminação no caso de recintos fechados, promovendo igualmente as suas condições de salubridade,
etc.[2].

Existe hoje no mercado uma vasta oferta de produtos que permitem obter melhorias consideráveis
nos revestimentos de pintura, seja com a finalidade de melhorar o aspecto estético das construções,
seja para proteger o substrato ou ainda por razões especiais, como a melhoria das condições ambientais
e de segurança, ou a introdução de características específicas, como a resistência a microorganismos,
e a resistência mecânica ou física [2].

2.1. Composição das tintas

A norma ISO 4618 define tinta como “um produto de pintura pigmentado que, quando aplicado
sobre um substrato, forma uma película opaca que tem propriedades protectoras, decorativas ou
técnicas específicas” [1].

5
Tintas e Pinturas

O termo “tinta” refere-se a todos os materiais, líquidos ou em pó, que contendo resinas
orgânicas, são usados como revestimento de qualquer tipo de superfície com fim decorativo, de
protecção ou funcional [12].

Noutros contextos, o termo “tinta” é geralmente usado para distinguir formulações de


revestimento líquidas de revestimentos em pó. Não interessa como o revestimento é curado, como
é aplicado, que outros componentes contem, se é líquido ou pó ou se tem base em solventes, base
aquosa ou é livre de solventes, será sempre chamada tinta [12].

Essencialmente, as tintas são compostas por duas fases: um extracto seco e um veículo volátil
como representa o esquema da figura 4. Cada uma destas fases inclui diferentes componentes,
que interagem física e quimicamente entre si, conferindo à tinta as propriedades necessárias para
um bom desempenho [7].

As resinas, os pigmentos e os aditivos constituem a parte sólida numa tinta, designada


por extracto seco, que pode ainda conter as cargas. O veículo volátil é o componente líquido da
formulação, constituído por solventes e diluentes, que se evaporam durante o processo de secagem
e cura [2].

Figura 4 – Principais componentes de uma tinta

No fundo, existem quatro componentes que estão presentes na maioria das tintas [12]:

●● Resinas – também chamadas ligantes, veículos ou polímeros, formam a película de tinta.


Sem uma resina não há revestimento. Esta função pode também dever-se ao uso de óleos
sicativos.
●● Pigmentos – proporcionam, entre outras funções, opacidade e cor à película aplicada, além
de influenciarem muitas das suas propriedades, como a durabilidade, a resistência à corro-
são e a resistência ao fogo.
●● Solventes – são usados na maioria das tintas líquidas; não são usados nas tintas em pó
nem em algumas tintas líquidas que curam por acção da luz UV.
●● Aditivos – são substâncias que podem ser adicionadas a uma tinta ou a uma película de
tinta, normalmente em pequenas quantidades, para conferir determinadas características.

6
Tintas e Pinturas

Destes componentes, os solventes e as resinas estão presentes em maior quantidade,


representando os restantes componentes uma
pequena percentagem, conforme representa
a figura 5.

Uma tinta é preparada misturando


uma determinada resina ou combinação de
resinas, um solvente ou mistura de solventes
e frequentemente aditivos e pigmentos. Esta
mistura é feita segundo uma formulação
específica, de modo que quando a tinta é
aplicada e correctamente curada, irá possuir
determinadas características de desempenho
e apresentar propriedades físicas específicas,
como dureza, cor, resistência à tracção e
brilho [12]. Figura 5 – Composição da tinta, em volume [12]

Como se exemplifica na figura 6, a


proporção entre volume de sólidos (pigmento + ligante) e de líquidos na composição de um produto
de pintura, aplicado com uma determinada espessura húmida, determina a espessura obtida após
secagem [2].

Será feita em seguida uma abordagem do papel de cada componente e da forma como
interagem uns com os outros, de forma a permitir obter uma tinta com as características desejadas.

2.1.1. Óleos sicativos

Os óleos sicativos são, tal como


as resinas, componentes formadores
de película, embora com características
muito diferentes. Nem todos os óleos
são sicativos; um óleo é classificado
de sicativo se, quando espalhado ao ar
numa fina camada, passar de líquido para
uma película sólida com elevada coesão,
resistência e dureza [13].

A norma ISO 4618 define óleo


sicativo como um “óleo que contém ácidos
gordos insaturados e que forma uma
película por oxidação”[1]. Efectivamente,
Figura 6 – Película húmida e película seca

7
Tintas e Pinturas

Efectivamente, os óleos sicativos são constituídos por misturas de triglicéridos em que o


glicerol se encontra esterificado com ácidos gordos poli-insaturados, tendo composição
variável consoante a sua origem animal ou vegetal [2]. Por outras palavras, os óleos
insaturados endurecem ou “curam”, não por evaporação do solvente, mas por uma reacção
de oxidação resultante da adição de oxigénio a um composto orgânico.

Quando aplicados numa fina camada reagem com o oxigénio do ar, ocorrendo uma
polimerização auto-oxidativa que transforma o óleo líquido numa película sólida aderente e
elástica, com grande resistência, tenacidade e dureza [2]. Esta capacidade de secar depende
da estrutura molecular dos vários componentes químicos que constituem o óleo [13].

Figura 7 – Sementes de linho Figura 8 – Óleo de linhaça

Os óleos vegetais com características adequadas para óleo sicativo e que podem ser
formulados em tintas incluem os óleos de linhaça, de Tung (ou óleo de madeira da China), de
soja, de rícino e óleos de peixe [2][13].

Para serem usados no fabrico de tintas, os óleos sicativos extraídos necessitam


geralmente de um tratamento prévio, que lhes aumente a massa molecular e a capacidade
de polimerização e de reticulação, essenciais para a formação da película final, uma vez que
a capacidade para secar depende da estrutura molecular dos vários compostos químicos que
os constituem [2].

Um dos óleos sicativos mais utilizado é o óleo de linhaça, que é obtido por pressão
da semente do linho. Os óleos de linhaça em estado bruto, tal como são extraídos, secam
muito lentamente, pelo que requerem processamento e adição de secantes para acelerar a
velocidade de endurecimento [13].

As tintas de óleo são constituídas por um pigmento, um óleo sicativo e um solvente


orgânico para diluir o óleo pigmentado, não sendo este modificado com qualquer resina
sintética. Após aplicação, o revestimento seca por evaporação do solvente, seguido por uma
reticulação (ligação cruzada) auto-oxidativa do óleo sicativo [13].

8
Tintas e Pinturas

As características destas tintas oleorresinosas são determinadas pelas características


do óleo sicativo e, em menor grau, pelo pigmento incorporado no óleo. A adição de secantes
ao óleo ajuda na velocidade de formação da película sólida. Estas tintas podem ser usados
para cobrir superfícies mal preparadas, enferrujadas e/ou superfícies carepas [13].

2.1.2. Resinas

A norma ISO 4618 define resina como um “produto macromolecular, geralmente


amorfo, de consistência que varia entre o estado sólido e o estado líquido e que tem uma
massa molecular relativamente baixa [1].

A resina, também designada por ligante, que pode ser orgânica ou inorgânica,
é o componente responsável pela formação da película de tinta. Os ligantes molham as
partículas de pigmento, ligando-as entre si, com os restantes constituintes da tinta e com o
substrato [11]. São os constituintes mais importantes das tintas utilizadas na construção civil
porque conferem aderência, integridade e coesão à película sólida na qual a tinta se converte
depois de seca [2].

Os ligantes são também os principais responsáveis pela maioria das propriedades da


película de tinta, como sejam o mecanismo e o tempo de “cura”, o desempenho no tipo de
exposição, o desempenho no tipo de substrato, a compatibilidade com outros revestimentos,
flexibilidade e resistência, desgaste no exterior e aderência [11].

Não existe uma só resina que consiga reunir todas as propriedades referidas, com tão
amplas variabilidades associadas a cada propriedade, pelo que geralmente na formulação
de uma tinta são utilizadas várias resinas [11], que podem ter origem natural ou sintética [13].

Muitas resinas naturais usadas como ligantes são procedentes de exsudações de


árvores ou secreções de insectos, podendo ainda ter origem mineral, se forem derivadas de
restos vegetais fossilizados [13].

As resinas sintéticas são geralmente preparadas a partir de subprodutos da refinaria


química ou de processos de fabrico, depois de convenientemente tratadas e modificadas [13],
sendo que a escolha dos polímeros é feita com base nas propriedades físicas e químicas
pretendidas para a película final e no método de aplicação da tinta [14].

Comparativamente com as resinas naturais, as resinas sintéticas têm maior resistência


química e à luz UV, o que se traduz na sua utilização generalizada em diversos fins diferentes,
como revestimentos de protecção contra a corrosão [13].

●●Resinas naturais

A norma ISO 4618 define resina natural como uma “resina de origem vegetal ou
animal” [1]. Podem ser mais ou menos polimerizadas, são insolúveis em água,

9
Tintas e Pinturas

mas são solúveis em solventes orgânicos e têm natureza química variada,


essencialmente terpénica [2].

No grupo das resinas naturais podem citar-se:

(1) Colofónia – obtida por destilação da seiva do pinheiro, do mesmo modo que
a terebentina (aguarrás) e o óleo de pinho. Apresenta cor clara, alto ponto de
amolecimento, viscosidade e boa resistência à oxidação [2]. Os revestimentos
são transparentes e incolores e são destinados para superfícies de madeira e
acabamento de móveis [13].

(2) Goma-laca – é feita a partir da secreção resinosa de um insecto da Índia e da


Tailândia. As secreções secas são recolhidas, esmagadas e lavadas e, depois,
fundidas e secas. A goma-laca forma uma película simultaneamente dura e
elástica, com grande variedade de usos, incluindo cimentos de união, cimentos
para madeira, estuque e argamassas [13].

(3) Copais – são resinas derivadas de restos vegetais fossilizados ou semi-


fossilizados, preparadas com óleos vegetais, para obter melhor tempo de
secagem, elevada dureza, brilho e resistência à água e a substâncias alcalinas.
Devido à sua flexibilidade, estas resinas são muito usadas como etiquetas de
papel [13].

Muito usadas no passado, as películas de resinas naturais são hoje aplicadas na


restauração de móveis e nas cores de arte [3].

As resinas naturais podem ser dissolvidas em solventes voláteis, formando os


chamados vernizes espirituosos que, após aplicação sobre uma superfície e
evaporação do solvente deixam uma película de resina sobre a superfície [13].

Por vezes, as resinas naturais são submetidas a modificações químicas, obtendo-


-se de produtos de elevada massa molecular, como:

(1) Oleorresinas – resultam da mistura e reacção química de óleos sicativos vegetais


com resinas [2]; obtendo-se vernizes com maior capacidade de secagem, mais
brilho e formando películas mais duras do que aplicando apenas o óleo [13].

(2) Resinas Celulósicas – são obtidas por modificação da celulose, dando derivados
como a nitrocelulose, o acetato de celulose ou a etilcelulose. São produtos
já pouco utilizados, com excepção da nitrocelulose que conserva algumas
aplicações [3].

(3) Resinas de borracha clorada – são obtidas por modificação química da borracha
natural [2]. Estes produtos apresentam excelente resistência à água e são ainda
utilizados em ambientes corrosivos ou marítimos [3].

10
Tintas e Pinturas

●● Resinas sintéticas

As resinas sintéticas, segundo a norma ISO 4618, são “resinas resultantes de


reacções químicas, tais como poliadição, policondensação ou polimerização” [1].
A poliadição consiste numa reacção quimica de adição, através da qual se obtêm
polímeros a partir de um único tipo de monómero. A policondensação é um processo
de formação de polímeros através de uma reacção de condensação, a partir de um
único monómero, com eliminação de moléculas de baixo peso molecular, como a
água ou o ácido clorídrico. A polimerização é um processo de formação de polímeros
através de uma reacção de adição ou de condensação, a partir de mais de um tipo
de monómero.

Devido ao incremento da presença das resinas sintéticas nos produtos modernos


usados para pintura, actualmente são utilizadas resinas sintéticas muito diversas,
sendo relevante realçar as seguintes:

(1) Resinas acrílicas

As resinas acrílicas são resinas sintéticas resultantes da polimerização ou


copolimerização de monómeros acrílicos e metacrílicos, em geral com outros
monómeros [1].

As resinas acrílicas contêm partículas de polímeros em suspensão que, quando


o solvente e a água evaporam, permanecem e formam a película [14].

Os ligantes acrílicos são especialmente usados em tintas de emulsão aquosa,


sendo que a dureza e a flexibilidade dos polímeros varia consideravelmente em
função dos tipos e das quantidades de monómeros usados. O monómero de
metil-metacrilato dá o polímero termoplástico mais duro e os monómeros acrilato
dão o produto mais suave. Os copolimeros dos esteres acrílicos e metacrilicos
são bastante usados para pinturas no exterior, enquanto os copolimeros de
vinil-acetato acrílico são mais usados para pinturas no interior [13].

Os acrílicos produzem um acabamento com elevado brilho, excelente dureza


e boa resistência química e à degradação pela radiação solar [2], sendo que
o constituinte acrílico aumenta a resistência à água e aos álcalis, bem como a
flexibilidade e a durabilidade da película. Têm uma incomparável retenção de
cor, que lhe confere excelentes propriedades de durabilidade no exterior [13].

(2) Resinas alquídicas

As resinas alquídicas são “resinas sintéticas resultantes da policondensação de


poliácidos e de ácidos gordos (ou óleos) com polióis” [1]. As suas propriedades,

11
Tintas e Pinturas

nomeadamente o tempo de secagem, a dureza, a cor e a sensibilidade à


humidade, dependem do óleo sicativo usado no fabrico da resina, do seu tipo e
do seu grau de insaturação [13].

Quanto à quantidade de óleo combinado com a resina, as resinas alquídicas


são classificadas em:

– resinas alquídicas de longa cadeia - conferem ao revestimento menor


resistência química e à humidade e tempos de secagem mais longos; contudo,
têm maior possibilidade de penetrar e selar uma superfície insuficientemente
preparada [2][13].

– resinas alquídicas de média cadeia - geralmente endurecem em 24 horas;


têm o comprimento de cadeia de eleição para a maioria dos sistemas de
revestimento alquídico novos e de manutenção [2][13].

– resinas alquídicas de curta cadeia - são de secagem rápida, podendo requer


aquecimento em estufa (temperatura de 95ºC) durante uns minutos para
obter a cura completa; estes revestimentos têm boa resistência química e à
humidade, mas são relativamente duros e quebradiços [2][13].

Os produtos de pintura alquídicos secam por evaporação do solvente e curam


à temperatura ambiente, por reticulação auto-oxidativa do constituinte do
óleo [14].

Os alquídicos são provavelmente os revestimentos de protecção mais utilizados


para ambiente não químico, devido ao seu custo relativamente baixo, à
facilidade de mistura e de aplicação, estabilidade de cor e boa resposta em
diferentes ambientes atmosféricos, além de terem uma excelente capacidade
para penetrar e aderir a superfícies relativamente mal preparadas, ásperas,
sujas ou riscadas [13].

Contudo, a presença do óleo sicativo pode limitar a resistência química e à


humidade de alguns produtos de pintura alquídicos [13], o que levou os
formuladores de tintas a modificar quimicamente as resinas alquídicas com
outras substâncias, nomeadamente óleos ou outras resinas, tornando-as
muito funcionais para uma gama alargada de aplicações [2][14]. Embora
estas modificações possam aumentar ligeiramente os custos do sistema de
revestimento, proporcionam uma melhoria nas propriedades, que torna rentável
o custo da modificação [13].

12
Tintas e Pinturas

(3) Resinas epoxídicas

As resinas epoxídicas são resinas sintéticas contendo grupos epóxi, geralmente


preparados a partir de epicloridrina e um bisofenol [1]. Se forem combinadas
com resinas alquídicas, que reagem por um mecanismo de esterificação com
diversos grupos químicos [2], produzem revestimentos com propriedades de
resistência química e à humidade melhoradas [13].

Quando é necessário melhorar o desempenho, são usados os éster epóxi, que


são resinas sintéticas resultantes da reacção de esterificação entre uma resina
epoxídica e ácidos gordos e/ou óleos sicativos [1].

Estas resinas podem ser formuladas de diversas maneiras, desde formulações


de um só componente que requer cura em estufa, até sistemas de dois
componentes, que curam a temperatura igual ou abaixo das condições
ambiente [14].

Os revestimentos de resinas epoxídicas de base oleosa proporcionam uma


grande variedade de propriedades e aplicações [2], têm melhor aderência,
excelente resistência à humidade e resistência química superior, embora
sejam um pouco mais caras. As suas propriedades de aderência tornam-nas
especialmente bons primários. Estas resinas perdem o brilho por exposição à
luz UV, mas esta deterioração raramente é estrutural [13] [14].

(4) Resinas fenólicas

São resinas sintéticas resultantes da policondensação pelo fenol, seus


homólogos e/ou seus derivados com os aldeídos, em particular o formaldeído [1].

As resinas fenólicas têm maior retenção de brilho e melhor resistência à água e


aos álcalis. Estas resinas têm demonstrado um desempenho satisfatório
em imersão em água, um serviço onde não são adequadas outras resinas
alquídicas não fenólicas [13].

(5) Poliésteres

As resinas poliéster são “resinas sintéticas resultantes da policondensação de


poliácidos e de polióis” [1]. Têm uma estrutura química similar aos alquídicos e
são, no fundo, um tipo específico de resina alquídica sem óleo [2].

Dependendo da sua estrutura química, é feita uma distinção entre resinas


poliésteres insaturadas e saturadas, sendo que as cadeias de polímeros
das resinas poliéster insaturadas facilitam a reticulação subsequente com os
solventes, particularmente com o estireno [1].

13
Tintas e Pinturas

São amplamente usados como revestimentos em pó [14], sendo geralmente


utilizados na produção de vernizes, para proteção de diversos materiais usados
na construção civil, designadamente madeira, betão, argamassa, entre outros.

(6) Poliuretanos

As resinas de poliuretanos são resinas sintéticas resultantes da reacção


de isocianatos polifuncionais com compostos contendo grupos hidroxilo
reactivos [1].

Os poliuretanos são formulados com várias pigmentações e em diversas


combinações para se adequarem às condições de exposição. Apesar das
propriedades destas resinas dependerem das modificações químicas que
apresentam, formam sempre películas duras [2], com elevado brilho [14].

Estas resinas apresentam algumas vantagens, como a diminuição do tempo de


secagem do revestimento e, de um modo geral, requerem pouco ou nenhum
calor para endurecer. Possuem excelente resistência química [2] e a manchas
e melhoram a resistência à humidade, intempéries e abrasão [13].

Contudo, são de utilização restrita devido ao seu elevado preço [2], dado
poderem ser duas a cinco vezes mais caras do que as outras tintas, sendo
usadas apenas quando o elevado desempenho justifique o custo [14]. São muito
usados para revestimento dos cascos de barcos de madeira e para melhorar o
revestimento alquídico [13].

Estas resinas são fornecidas em recipientes separados, devendo os dois


componentes ser misturados antes da aplicação. Após a mistura, o material
tem um “tempo de vida” limitado, que é o tempo durante o qual os componentes
podem estar misturados antes de começar a formação do reticulado, e que
podem ir de alguns minutos a 16 horas [14].

(7) Resinas vinílicas

As resinas vinílicas são resinas sintéticas resultantes da polimerização ou da


copolimerização de monómeros contendo grupos vinílicos [1]. Estas resinas
podem ter diferentes graus de polimerização e são frequentemente misturados
entre si, como o poliacetato de vinilo, o policloreto de vinilo (PVC) e os
acrilatos [2].

Estas resinas são geralmente formuladas como primários universais, podendo


também ser usados como fixante entre diferentes camadas de pintura, antes de
cobertas com intermédios e acabamentos [13].

14
Tintas e Pinturas

São usados nas tintas de emulsão aquosas [3]. O constituinte alquídico melhora
a aderência, a formação da película e a resistência térmica e a solventes; as
modificações vinílicas aumentam a capacidade de repintura e a resistência
química e à humidade [13].

As tintas à base de emulsões vinílicas são facilmente aplicadas, são sensíveis


à humidade durante a aplicação, não são tóxicas nem inflamáveis e são muito
usadas na construção civil [2].

(8) Resinas de Silicone

As resinas de silicone são resinas sintéticas nas quais a estrutura de base


consiste numa cadeia que comporta grupos siloxano (silício-oxigénio-silício) [1].

Nestas resinas a principal cadeia de polímero é constituída por átomos de


silício e de oxigénio (em vez dos átomos de carbono), que se apresentam
copolimerizadas com resinas alquídicas ou poliuretanos [2].

Aumentam a durabilidade, o brilho e a resistência ao calor, e apresentam


superior resistência ao clima e à água, sendo usado em pinturas na marinha e
de manutenção [13].

●● Outras resinas sintéticas

– Resinas amínicas – são resinas sintéticas resultantes da reacção de


condensação de derivados aminados (ureia, melamina) com aldeídos como o
formaldeído. Estas resinas são frequentemente esterificadas com álcoois [1].
Raramente se usam isolados, mas geralmente em combinação com outras
resinas contendo grupos reactivos [3].

– Resinas betuminosas – são produtos, como o breu de petróleo ou betumes


naturais, que podem ou não ser modificados com resinas [2]. Para serem
aplicadas, estas resinas têm de ser aquecidas até à fusão, de modo a reduzir a
sua viscosidade [13].

– Resinas hidrocarbonetos – são resinas sintéticas resultantes da copolimerização


de hidrocarbonetos alifáticos e/ou aromáticos, por vezes com aldeídos [1].

– Resina isocianato – resina sintética contendo isocianatos livres ou blocos, por


vezes com aldeídos de tipo aromático, alifático ou cicloalifático [1].

– Silicatos – podem ser orgânicos e inorgânicos [2].

15
Tintas e Pinturas

Existem ainda outros tipos de resinas sintéticas, menos usuais, como:

– Aminoplasto
– Cumarona-indeno
– Estireno-butadieno
– Fluorcarbonetos
– Nylon
– Polietileno
– Polipropileno

As tentativas de desenvolvimento de novos polímeros são constantes, através


de combinações de diferentes monómeros, bem como combinações entre novas
resinas. Neste sentido, e devido a uma crescente utilização das chamadas “tintas
em pó” (ou sem solvente), estão a ser cada vez mais usadas outras resinas que,
de um modo geral, apresentam características bastante melhoradas quando
comparados com os produtos convencionais [2].

2.1.3. Pigmentos

Um pigmento, tal como definido na norma ISO 4618, é um “material corante, geralmente
na forma de partículas finas, que é praticamente insolúvel no meio de suspensão e que é
utilizado devido às suas propriedades ópticas, protectoras e/ou decorativas” [1].

Os pigmentos (figura 9) são


pequenas partículas que, embora
insolúveis no veículo, são incorporadas
na tinta com a finalidade de realçar o seu
aspecto ou melhorar as suas propriedades
físicas [14].

O tamanho e a forma da partícula


do pigmento, a molhabilidade pelo
ligante, o espessamento e propriedades
relacionadas com a densidade específica
contribuem significativamente para a Figura 9 – Pigmentos
viscosidade, para as características de
aplicação da tinta fresca e para as propriedades do revestimento em termos de protecção,
depois de seco [13].

Uma tinta com boa capacidade de protecção tem na sua composição grande
quantidade de pigmentos bem dispersos para que a penetração de ar ou de sais seja a mais
baixa possível [16].

16
Tintas e Pinturas

a) Tipos de pigmentos

Quimicamente, os pigmentos podem classificar-se em orgânicos, se na sua


composição predominam compostos de carbono, ou inorgânicos, se na sua
composição predominam elementos metálicos [17].

A principal finalidade dos pigmentos orgânicos é fornecer cor à tinta. Quando


comparados com os pigmentos inorgânicos, os pigmentos orgânicos têm geralmente
cores mais vivas, são mais brilhantes e têm menor opacidade (são mais claros); no
entanto, têm menor resistência quando aplicados no exterior [2], uma vez que são
mais propensos ao sangramento e têm muito menor resistência ao calor e à luz,
além de serem substancialmente mais caros [13]. Os pigmentos inorgânicos têm
elevada estabilidade térmica, sendo também estáveis à luz [14].

Quanto ao modo de obtenção, os pigmentos podem ter origem natural ou


sintética [7]. Os pigmentos naturais são obtidos por moagem e peneiração de
produtos naturais, como terra, metais, óxidos metálicos, entre outros [9]. Os
pigmentos sintéticos são obtidos por síntese química de compostos orgânicos ou
inorgânicos [2].

Inicialmente, os pigmentos orgânicos eram extraídos a partir dos insectos e dos


vegetais; hoje, a maioria dos pigmentos orgânicos são desenvolvidos por síntese
química [13].

Alguns pigmentos inorgânicos contêm na sua composição chumbo, crómio, cádmio


ou outros metais pesados [13]. A sua utilização no fabrico de tintas tem vindo a ser
descontinuada devido à elevada toxicidade para a saúde humana e também para
o meio ambiente [7][14].

A natureza e o teor do pigmento existente numa tinta são de extrema importância,


uma vez que são os únicos componentes da tinta responsáveis pela cor e pela
opacidade da película seca que irá revestir, de forma homogénea, toda a superfície
que serve de suporte [2].

Os pigmentos são também responsáveis, juntamente com outros componentes,


por características das tintas, como as suas propriedades mecânicas, o brilho, a
resistência a químicos e a degradação da pintura [2].

A mais óbvia das propriedades que caracteriza os pigmentos é, como foi dito
acima, a capacidade que possuem de permitir a obtenção das cores pretendidas e
também de conferir opacidade à superfície, acções que são conseguidas porque os
pigmentos possuem características que lhes permitem modificar as propriedades
ópticas das tintas [7].

17
Tintas e Pinturas

Essas características dos pigmentos devem-se à combinação de dois fenómenos


ondulatórios distintos: a absorção e a difracção da luz visível, com a qual interagem.
Assim, de um modo geral, a absorção da luz é responsável por conferir a cor,
enquanto a opacidade é determinada pelo fenómeno de difracção da luz. A cor de
um pigmento é influenciada essencialmente pela sua estrutura química, enquanto
a opacidade é fundamentalmente influenciada pelo índice de refracção [7].

Apesar da finalidade evidente da pigmentação seja proporcionar cor e opacidade a


uma superfície, no caso da aplicação de um de um esquema de pintura com uma
formulação adequada de pigmentos (um revestimento de protecção) pode fazer
muito mais do que isso, ou seja, pode atribuir algumas propriedades, como sejam
aumentar a sua durabilidade e contribuir para uma redução dos custos de reparação
e de manutenção [2][13]. Pode ainda aumentar, entre outras, a resistência à luz e à
intempérie, a resistência ao calor, aos solventes e à cristalização, e até resistência
ao sangramento [7].

b) Cor

A cor de um pigmento resulta de uma absorção selectiva e consequente reflexão de


comprimentos de onda específicos do espectro de luz visível, pelo que a composição
química é o factor mais importante na determinação da cor final de um pigmento [7].

Outro aspecto essencial é a dispersão dos pigmentos no veículo da tinta,


que é determinante para obtenção do rendimento máximo do pigmento e,
consequentemente, da sua optimização em termos económicos, mas também para
que se possa garantir uma tinta com a máxima durabilidade possível, mantendo
boa estabilidade, bom brilho e bom comportamento durante a aplicação [7].

Os pigmentos naturais de terra (argila de caulino, silicato de magnésio, carbonato de


cálcio) proporcionam estabilidade das cores à deterioração pela luz UV. Os pigmentos
naturais são mais estáveis aos raios UV do que os pigmentos orgânicos sintéticos [11].

O dióxido de titânio (TiO2) é o pigmento branco mais comum por apresentar


propriedades que lhe permitem conferir às tintas um poder de cobertura excelente
[2], devido ao seu elevado índice de refracção e excelente poder de opacidade [13].

Duas das formas polimorfas (variedades cristalinas) do dióxido de titânio mais


usadas são o rútilo e o anatase [2]. O rútilo tem o maior índice de refracção e a
melhor força de coloração de todos os tipos de pigmento, embora apresente menor
poder de opacidade, menor resistência à luz solar do que o anatase, que tem
elevada resistência à deterioração e reduzida tendência para a pulverulência [2][13].

Apesar do seu elevado custo, o dióxido de titânio é o pigmento branco mais usado,
tanto em tintas brilhantes como nas tintas “mate”. Frequentemente dispersam-se

18
Tintas e Pinturas

as partículas de TiO2 em cargas compatíveis de maneira a que não se perca a


opacidade e, desta forma, se consiga diminuir o custo da tinta [2].

Devido à sua elevada força corante, que representa a facilidade com que os
pigmentos corados podem ser misturados com outros pigmentos para colorir a tinta,
o dióxido de titânio é frequentemente combinado com outros pigmentos, orgânicos
e inorgânicos, para adicionar cor [13]. Quanto maior for a quantidade necessária,
maior é o poder corante do pigmento em questão [7].

Dentro dos pigmentos brancos, os pigmentos esféricos poliméricos são muito


frequentes em tintas de base aquosa, sendo o segundo tipo mais usado. São uma
das possíveis misturas compatíveis com o dióxido de titânio, para permitir que o
custo da mistura seja mais reduzido [2].

O Litopone é outro tipo de pigmento branco. Este apresenta uma reduzida resistência
à acção da radiação solar, amarelecendo com facilidade, e sendo por isso mais
utilizado para pintura de interiores. No entanto, quando se usa para pintura de
exteriores, é usual misturar-se com o branco de zinco de forma a melhorar as
suas capacidades, tanto do ponto de vista da opacidade, como da resistência aos
agentes atmosféricos [2].

Relativamente a pigmentos corados, têm grande utilização os óxidos de ferro


naturais e sintéticos. As cores dos naturais variam de amarelo a vermelho
acastanhado brilhante, até castanho esverdeado e um castanho forte. No que
diz respeito aos sintéticos, apresentam uma gama de cores que vai de amarelo e
vermelho a castanho e preto [13].

Podem ainda referir-se os pigmentos vermelho cromato com adições de sulfato e,


por vezes, de molibdato que variam na cor, entre um amarelo claro e um laranja
brilhante ou vermelho escarlate. Devido à sua cor límpida e brilhante, os pigmentos
de cromato de chumbo são usados com frequência para pinturas de estradas e em
pinturas de segurança. E apesar do cromato de chumbo ser considerado perigoso,
os pigmentos neste tipo de pinturas dificilmente serão substituídos, porque nenhum
outro pigmento apresenta uma luz com resistência e brilho semelhantes [13].

c) Protecção

No caso de uma pintura de protecção contra a corrosão, são utilizadas tintas


anticorrosivas, nas quais entram pigmentos com as características necessárias
para que seja evitada a corrosão das armaduras no interior das paredes [2]. Os
pigmentos anticorrosivos são aqueles cuja propriedade específica é a de se oporem
à corrosão eletroquímica do metal pelo meio ambiente [7].

19
Tintas e Pinturas

Os pigmentos orgânicos de síntese têm pouca importância técnica ou comercial


para revestimentos preventivos da corrosão [13].

Numa pintura de protecção contra a corrosão, os pigmentos podem ter, entre


outras, as seguintes acções:

– Proporcionar a inibição da superfície metálica, prevenindo a corrosão.

A adição de alguns pigmentos, pouco solúveis em água, na composição de


um primário interfere eficazmente com o electrólito, inibindo a corrosão activa
de substratos metálicos. Quando a camada de tinta é exposta à humidade e
penetrada por ela, a água na camada transversal dissolve parcialmente os
constituintes do pigmento e transporta-o para a superfície metálica de base. As
espécies iónicas dissolvidas reagem com o metal (geralmente aço ou alumínio)
para formar um produto de reacção que inactiva o substrato e reduz a velocidade
de corrosão da camada inferior. São exemplos de pigmentos inibidores, os
cromatos (já pouco utilizados) o chumbo ou o zinco [11][13].

– Actuar como uma barreira para tornar a camada de tinta seca impermeável à
água

Forma-se uma barreira protectora entre a superfície do metal e o electrólito,


impedindo a passagem de água e de oxigénio para o interior (isola electricamente
o metal), elementos esses que quando se combinam provocam a corrosão
[2]. Qualquer humidade que penetre deverá migrar em torno da partícula do
pigmento e, ao fazer isso, aumenta o comprimento do trajecto de permeabilidade
até ao substrato [13].

A barreira de protecção está disponível em maior ou menor grau por todos os


pigmentos inorgânicos formulados num revestimento. No entanto, alguns tipos
de pigmentos são formulados especificamente como pigmentos de barreira ou
em alternativa, conferem propriedades de barreira à camada de tinta. O mais
notável dos pigmentos de barreira é o alumínio em palhetas, mas também os
epoxies e betumes asfálticos [11][13].

– Galvanizar com revestimentos ricos em zinco para proteger a camada de aço


que constitui o substrato base [13].

Um primário (primeira camada de um revestimento) rico em zinco que confere


uma protecção catódica galvânica do metal ferroso (o zinco sacrifica-se para
proteger o metal ferroso). Os revestimentos galvânicos só são eficazes se forem
aplicados directamente sobre o metal [11].

20
Tintas e Pinturas

Há ainda outros tipos de pigmentos que são usados em situações particulares,


devendo ser tidos em conta devido às características especiais que conferem
às tintas. São exemplos disso, os pigmentos que exercem um papel activo na
mistura, podendo actuar na absorção de radiação ultravioleta ou com uma acção
antivegetativa e contra fungos [2].

De facto, pode dizer-se que praticamente todas as propriedades da tinta são


afectadas pelo tipo e quantidade de pigmentos que contêm.

2.1.4. Cargas

Uma carga, segundo a norma ISO 4618, é um “material sob a forma de grânulos ou
de pó, insolúvel no meio de suspensão e utilizada para modificar ou influenciar determinadas
físicas” [1], como a permeabilidade da película, a resistência química, o brilho, a sedimentação,
a resistência à abrasão, o comportamento anticorrosivo e a viscosidade [7][15].

Apesar dos fracos poderes corante e de opacidade, as cargas utilizam-se para dar
corpo à tinta, sobretudo por razões de ordem económica, dado o seu baixo custo em relação
ao pigmento. Por outro lado, a granulometria, a superfície específica e as características
intrínsecas de algumas cargas, facilitam o seu fabrico e a aplicação, melhoram a qualidade
e durabilidade, possibilitam a conservação das tintas, aumentam a impermeabilidade e
elasticidade e conferem por vezes às tintas determinadas propriedades particulares, tais
como resistência ao fogo e antiderrapantes [2].

Tal como os pigmentos, as cargas podem ser de origem natural ou sintética [2].

Presentemente, os tipos de cargas mais utilizados no fabrico de tintas são:

– Carbonato de cálcio (branco de Paris) – uma das cargas naturais mais baratas e
mais utilizadas, de modo a reduzir ao máximo o custo das tintas. Têm boa acção
anticorrosiva, mas dado serem muito solúveis em meios ácidos, não devem ser
usadas quando se pretende uma boa resistência química [7].

– Barita (sulfato de bário) – de origem natural, confere alta dureza e resistência à


película depois de seca. É quimicamente inerte e não é tóxica [7].

– Talco (silicato de magnésio hidratado) – Devido à forma lamelar das suas


partículas, a película final de tinta apresenta um toque suave, além de melhorar
o comportamento das tintas em termos de protecção contra a corrosão. Usa-se
sempre que se pretende a diminuição do brilho e o aumento da lixabilidade dos
produtos em que se encontra incorporada. É inerte sob ponto de vista químico [7].

– Caulino (silicato de alumínio) – As sua partículas apresentam a forma lamelar, sendo


igualmente usados para incrementar o desempenho em termos anticorrosivos das

21
Tintas e Pinturas

películas protectoras. De referir que as partículas de caulinos calcinados, devido


à presença de ar no seu interior, podem contribuir para um acréscimo do grau de
opacidade do esquema de pintura [7].

– Farinha de sílica – Concedem às tintas uma maior resistência à abrasão e à esfrega,


por causa da sua elevada dureza. Permitem a obtenção de superfícies texturadas,
devido à presença de areias de granulometria seleccionada [7].

– Diatomite – São cargas de formato irregular e de origem sedimentar, que apresentam


uma elevada absorção de óleo, e que por isso são usadas como redutor de
brilho [7].

– Mica – Permitem melhorar os níveis de resistência dos esquemas de pintura, no que


diz respeito à humidade e fissuração, nomeadamente em revestimentos expostos
a climas adversos. São geralmente usados nas tintas para pinturas exteriores, visto
que apresentam uma opacidade quase total aos raios ultravioleta [2][7].

A cor das cargas pode variar de brancas a acinzentadas, dependendo do tipo de


carga e da quantidade de impurezas que contêm. Naturalmente que, com as cargas mais
acinzentadas é difícil obter brancos puros e tons muito limpos e intensos, a partir de pigmentos
orgânicos [7].

Por outro lado, é possível optimizar o tamanho das partículas e o espaçamento entre
elas, sendo que a redução do tamanho de partícula da carga melhora o espaçamento do
pigmento. Essa optimização permite aumentar a opacidade de uma tinta sem aumentar a
quantidade empregue de pigmento [7].

2.1.5. Solventes e Diluentes

Segundo a norma ISO 4618, um solvente é um “líquido simples ou mistura de líquidos,


volátil sob determinadas condições de secagem, e no qual o ligante é solúvel” [1].

Na indústria das tintas, os solventes são utilizados nas diversas fases de fabrico [7],
geralmente numa mistura de solventes com a finalidade de dissolver o veículo fixo ou ligante
[2]. De um modo geral, todas as formulações de tintas usam uma mistura de solventes para
obter as propriedades óptimas [13].

Além de possibilitar a aplicação do material de revestimento, os solventes devem


ter a capacidade de molhar e penetrar no substrato levando os componentes sólidos
que, após evaporação do solvente ajudam a tapar quaisquer fissuras, espaços vazios ou
irregularidades [13].

Podem ser usados como solventes quaisquer líquidos voláteis, como diluentes, ainda
que não tenham capacidade dissolvente, porque poderão aumentar a solvabilidade de outros
solventes numa tinta [13].

22
Tintas e Pinturas

Um diluente é definido na norma ISO 4618 como “um líquido volátil, simples ou em
mistura que, sem ser solvente, pode ser usado em conjunto com o solvente sem causar
qualquer efeito indesejável”. A mesma norma define diluente, num outro contexto (“thinner”
em inglês) como “um líquido simples ou mistura de líquidos, voláteis nas condições de
utilização, que se junta a um produto de pintura para reduzir a viscosidade ou influenciar
outra propriedade” [1].

Assim, o diluente é um líquido orgânico que se adiciona à tinta, durante o processo de


fabrico ou no momento da aplicação, fundamental para obter uma tinta com as características
adequadas, como por exemplo, ajustar a sua viscosidade de modo a alcançar o nível óptimo
de fluidez durante a aplicação das tintas e consequente comportamento [2][7]. Por outro lado,
a escolha do diluente e as quantidades utilizadas são de extrema importância, uma vez que
podem alterar completamente o comportamento de um produto. Por exemplo, uma diluição
insuficiente pode conduzir à formação de “pele de laranja” e quantidades excessivas de
diluente ou diluentes não recomendados, podem dar origem a zonas enevoadas que alteram
o aspecto final pretendido [7].

Portanto, a finalidade dos solventes é dissolver os constituintes sólidos das tintas e


a dos diluentes é reduzir a viscosidade da tinta, conferindo-lhe um nível adequado de fluidez
para a sua aplicação [13]. Deste modo, a selecção criteriosa dos diluentes e do solvente ou
mistura de solventes influencia a facilidade de aplicação da tinta no substrato, qualquer que
seja o método que se utilize [14], a lacagem da película e a velocidade de secagem [3].

Deste modo, as características das tintas que poderão ser influenciadas pela presença
dos solventes e diluentes são: o poder solvente, a volatilidade, o cheiro, a toxicidade, o ponto
de inflamação e o preço [15].

A água é o solvente universal, mas não é usado como solvente de tintas em


revestimentos duráveis. Os solventes orgânicos conferem baixa sensibilidade à água e são o
solvente de eleição para dissolver resinas sólidas [13].

Existem numerosos tipos de solventes. Em função da sua composição química, os


solventes orgânicos podem ser agrupados em classes, sendo os mais utilizados [2][13]:

– Hidrocarbonetos – são produtos derivados da destilação do petróleo, cujas


moléculas contêm apenas átomos de hidrogénio e de carbono. Os hidrocarbonetos
podem ser:

○○ alifáticos (éter de petróleo, querosene,”white spirit”, heptano)

○○ aromáticos (benzeno, tolueno, xileno) – estes compostos são os solventes mais


fortes utilizados na formação de películas secas.

23
Tintas e Pinturas

– Solventes Oxigenados – são compostos cujas moléculas contêm átomos de


oxigénio, além de carbono e hidrogénio, como por exemplo:

○○ Álcoois (metanol, etanol, isopropanol, butanol)


○○ Cetonas (acetona, diacetona, ciclohexanona)
○○ Ésteres (acetato de etilo, acetato de isopropilo, acetato de butilo, etc.)

○○ Éteres glicólicos (metilglicol, etilglicol, etc.)

– Terpenos – são solventes derivados da seiva dos pinheiros, como é o caso da:

○○ Terebintina;

Após aplicação da tinta, todos os solventes devem evaporar [13] permanecendo


sobre as superfícies pintadas a matéria não-volátil da tinta, constituída pelos pigmentos e
pelo ligante [2], que formam uma camada dura, sólida e com as propriedades finais [13].

Os solventes evaporam a uma determinada velocidade, dependendo das


características de cada formulação, sendo a velocidade de evaporação crítica para garantir
a formação correcta da película de tinta [14]. É desejável que, numa tinta, alguns solventes
evaporem mais rapidamente para possibilitar o início da secagem mais rápido, enquanto outros
solventes devem evaporar mais lentamente e proporcionar a molhabilidade e penetração
[13]. Um desajuste na velocidade de evaporação dos solventes pode originar uma secagem
física inadequada, que pode traduzir-se em má aplicabilidade, menor dureza, pior protecção,
etc. [7].

Um solvente demasiado volátil origina uma secagem muito rápida e, como


consequência, a película de pintura não fica uniformemente nivelada, podendo apresentar
perda de brilho [13]. Pode mesmo não penetrar o suficiente nos poros do suporte, produzindo
falta de aderência entre o sistema de pintura e a superfície. Por outro lado, o solvente deve
ser suficientemente volátil para evitar que, devido a uma secagem muito lenta, a tinta escorra
em superfícies verticais e não cubra adequadamente a superfície [7].

2.1.6. Aditivos

Aditivos são produtos usados numa formulação de revestimento para conferir


propriedades físicas ou químicas especificas ao revestimento [14], como sejam contribuir
para facilitar o fabrico, melhorar a estabilidade da tinta na embalagem, facilitar a agitação e
resolver defeitos que possam aparecer na película de tinta, durante a secagem ou mesmo
depois de seca [7].

A norma ISO 4618 define aditivo como “qualquer substância adicionada em pequenas
quantidades a um produto de pintura, para melhorar ou modificar uma ou mais propriedades” [1].

24
Tintas e Pinturas

Em geral, os aditivos são produtos líquidos, viscosos ou sólidos pulverulentos, solúveis


nos veículos, adicionados em quantidades inferiores a 5% da massa de tinta e destinados a
melhorar as condições de aplicação dos produtos de pintura e as propriedades de película
seca [2].

Existem numerosos compostos diferentes que podem ser adicionados às


tintas para fins específicos [13]. Dependendo do aditivo específico usado, as características
do revestimento podem ser significativamente alteradas, em função da referida
especificidade [14].

Alguns dos aditivos mais utilizados estão referidos na tabela 1.

Tabela 1 – Tipos de Aditivos [2][3][7][13][14]

Aditivo Função

Absorventes da luz Estabilizadores do comportamento dos revestimentos expostos à luz solar e aos raios UV
Impedir a formação de peles à superfície dos produtos nas embalagens, durante a
Agentes anti-pele armazenagem

Agentes anti-espuma Diminuir ou evitar a formação de espumas indesejáveis

Agentes anti-sedimento Evitar a deposição dos pigmentos e cargas, durante a armazenagem dos produtos

Agentes tixotrópicos Promover aumento de viscosidade nos produtos

Evitar os efeitos da degradação por bactérias


Bactericidas
Evitar a putrefacção

Conservar um baixo teor de humidade no interior da lata durante a armazenagem


Desidratante (poliuretanos que curam por reacção com a humidade do ar)

Dispersantes Facilitar a dispersão dos produtos pulverulentos nos veículos

Emulsionante Favorecer a formação duma emulsão e assegurar a sua estabilidade

Espessante Provocar um aumento de consistência (agentes de endurecimento)

Fungicidas e algicidas Reduzir o ataque da película pelos fungos

Inibidores de corrosão Prevenir a corrosão

Conferir à película uma toxicidade suficiente para assegurar a destruição dos insectos que
Insecticida
venham ao seu contacto

Molhantes Diminuir a tensão interfacial entre a fase sólida e a fase líquida

Plastificantes Conferir elasticidade, aumentar e manter a flexibilidade da película

Secantes Provocar uma apreciável redução do tempo de secagem à temperatura ambiente

Os aditivos são geralmente designados pela função específica que desempenham no


produto de pintura ou na película, porque a única coisa realmente importante num aditivo é o
resultado da função que vai desempenhar [7].

25
Tintas e Pinturas

2.2. Características das tintas

As tintas são veículos com capacidade para transportar e aplicar na superfície que vai ser
revestida o líquido constituído por uma combinação de ligante, pigmento e solvente. Uma vez sobre
a superfície, o solvente evapora e o veículo torna-se um sistema ligante pigmentado [13].

Todas as tintas, depois de aplicadas, podem formar uma película dura e impenetrável, uma
película porosa e macia, ou combinações intermédias entre as duas [13]. O conhecimento existente
sobre a indústria das tintas e seus constituintes permite o desenvolvimento de formulações com
determinadas características.

2.2.1. Concentração volumétrica de pigmentos (CVP)

Algumas propriedades do revestimento são influenciadas pelos pigmentos e cargas.


Por exemplo, o grau de brilho da película seca depende da granulometria, da forma das
partículas e do teor do pigmento. O brilho será inversamente proporcional à quantidade destes
constituintes, variando entre o brilhante (menor quantidade de pigmentos e cargas) e o “mate”
(maior quantidade pigmentos e cargas) [2].

Além do brilho, outras propriedades do revestimento são também influenciadas pelo


volume ocupado pelos pigmentos e cargas na película seca, como sejam a permeabilidade e
a tendência de enrugamento do revestimento após o término do processo de secagem.

Volume de pigmentos e cargas


CVP = x 100
Volume de pigmentos e cargas+ Volume de ligantes

Segundo a norma ISO 4618, a concentração volumétrica de pigmentos (CVP) é a


“razão, expressa em percentagem, do volume total de pigmentos e/ou cargas e/ou outras
partículas sólidas não formadoras de película contidas num produto para o volume total de
matéria não volátil” [1], conforme definido
pela expressão.

A figura 10 representa a influência


da CVP nas propriedades da película:
brilho (a), permeabilidade (b) e tendência
para enrugamento (c). Verifica-se em cada
uma das curvas um ponto de inflexão, que
é o ponto em que ocorrem as alterações
bruscas das características da película.
Figura 10 – Relação de CVP com algumas
Esse ponto, representado na figura 10, propriedades da película [2]

26
Tintas e Pinturas

designa-se por concentração crítica volumétrica de pigmentos (CVPC) e é definido na norma


ISO 4618 como sendo o “valor da concentração volumétrica de pigmento na qual o ligante
enche o volume deixado vazio entre as partículas sólidas supostamente em contacto e abaixo
do qual certas propriedades da película são notavelmente modificadas” [1].

2.2.2. Compostos orgânicos voláteis (COV)

Em termos ambientais, os solventes são a maior fonte de preocupação porque, ao


evaporarem, libertam COV e poluentes atmosféricos perigosos. Os COV reagem na presença
da luz solar com óxidos de azoto e óxidos sulfúricos originando poluição atmosférica [14].

Um COV é, segundo a norma ISO 4618, “qualquer produto orgânico líquido ou sólido
que se evapora espontaneamente nas condições normais de temperatura e de pressão
atmosférica com a qual está em contacto” [1].

A mesma norma define “teor em COV” como “a massa de compostos orgânicos voláteis
presentes num produto de pintura, determinado nas condições especificadas.” Naturalmente,
as propriedades e a quantidade de compostos a ter em conta dependem do domínio de
aplicação do produto de pintura. Para cada domínio de aplicação, os valores limites e os
métodos de determinação ou de cálculo são estipulados por regulamentos ou acordos [1].

No sentido de proteger o ambiente, tem sido publicada legislação diversa que


determina as emissões de COV como resultado dos teores utilizados em diversas actividades,
nomeadamente no sector das tintas [3], sendo de realçar o decreto-lei nº 181/2006, de 6 de
Setembro, que transpôs a directiva 2004/42/CE, de 21 de Abril, relativa à limitação do teor de
COV em determinadas tintas decorativas e vernizes, destinadas a edifícios, e em produtos de
retoque de veículos [18].

A utilização de solventes coloca também problemas de segurança, uma vez que


todos eles são combustíveis e alguns são altamente inflamáveis, sobretudo os que têm maior
velocidade de evaporação [13]. Por outro lado, os solventes não podem ser despejados no
solo porque infiltram-se nas águas subterrâneas, contaminando-as. Do mesmo modo, estas
tintas não podem ser deitadas para aterros sanitários, porque os metais pesados podem
contaminar as águas subterrâneas [14].

2.3. Mecanismos de formação da película

Os principais mecanismos pelo qual os ligantes formam películas são reacções com o oxigénio
do ar (oxidação), evaporação do solvente do veículo ou por reticulação química (polimerização).

27
Tintas e Pinturas

As películas de revestimento formadas por estes


mecanismos podem ser termoplásticas (deformam e
amaciam por exposição ao calor) ou termofixas (não
deformam e permanecem duros mesmo em situações de
calor). São as características do ligante e o seu método
de secagem e/ou cura que determinam o mecanismo de
formação da película [13].

Seja qual for o mecanismo de formação de película,


após aplicação da tinta ocorre uma evaporação do
solvente, deixando uma película que se sente seca ao
toque, como está ilustrado na figura 11. Contudo, para
atingir as propriedades físicas e químicas finais, para que
a camada seca fique curada tem de ocorrer uma reacção
química subsequente. Esta pode consistir numa reacção
de oxidação com o oxigénio do ar ou numa reacção de
polimerização entre dois ou mais co-reagentes [13]. Figura 11 – Mecanismo de formação da película

O endurecimento por evaporação do solvente é


característico das tintas de laca [14].

2.3.1. Oxidação (termofixa)

Após aplicação, estes revestimentos secam por evaporação do solvente. Geralmente, estas
tintas contêm um óleo sicativo combinado com uma resina, para melhorar a resistência química e à
água. Para obter as propriedades máximas de resistência química e à humidade, o óleo deve reagir
com o oxigénio do ar para formar ligações cruzadas, cura e posterior endurecimento. Esta reacção
de cura pode ser acelerada pela presença de sais metálicos [13].

Os revestimentos por oxidação seguida de reticulação química “armam” e endurecem quando


curam; eles não amaciam nem deformam pelo calor e, por isso, são chamados termofixos.

Para muitos revestimentos de base oleosa, a reacção de auto-oxidação ocorre imediatamente


após a aplicação da tinta, a uma velocidade relativamente rápida, que permite obter a resistência
química e à humidade desejadas, uns dias após aplicação. Contudo, a reacção continua ao longo
da vida do revestimento, embora a uma velocidade muito mais lenta, de modo que a resistência
máxima seja obtida apenas ao fim de meses ou anos após a aplicação [13].

Com o passar do tempo, (geralmente 20 ou 30 anos mais tarde), a reacção de oxidação e


secagem contínua do sistema ligante oleorresinoso conduz ao aparecimento de rachas (fissuras),
fragilização e deterioração da película de revestimento [13].

28
Tintas e Pinturas

2.3.2. Evaporação do solvente (termoplástica)

O segundo mecanismo de formação de película é por evaporação do solvente


representado na figura 11. O solvente no qual a resina é dissolvida ou emulsificada pode ser
água ou um solvente orgânico. Quando o solvente evapora, a resina líquida volta a um material
sólido, designado por película, que é resultado da evaporação do solvente e secagem, sem
que ocorra reticulação ou polimerização [13].

Estes revestimentos que secam principalmente, ou apenas, por evaporação da água


ou do solvente, sem sofrerem reticulação química, são designados por termoplásticos.

As resinas devem ser dissolvidas em grandes quantidades de solventes para serem


formuladas em revestimentos de protecção resistentes à corrosão. Estes mecanismos de
formação de película baseados apenas na evaporação do solvente (vinilos e borrachas
cloradas), têm a sua utilização severamente limitada devido às restrições à utilização de
COV [13].

As tintas de emulsão de látex consistem em partículas de resina sintética pigmentada,


emulsificadas com água. Estas tintas secam por evaporação da água, estando também em
conformidade com os requisitos COV e nos últimos anos têm avançado rapidamente para se
tornarem sistemas de pintura de protecção duradouros e seguros para o ambiente [13].

As principais tintas desta classe são as tintas reticuladas acrílicas, redutoras de


solventes e betuminosas de fusão a quente e tintas vinílicas (primários de lavagem de
vinilbutiral cromato de zinco, copolimeros de acetato de vinilo-cloreto de vinilo e vinilos de
base aquosa) [13].

2.3.3. Reticulação química (termofixa)

A reticulação química é conseguida pela co-reacção de dois ou mais monómeros,


para formarem um revestimento com um reticulado tridimensional, “armado” e não deformável
quando expostos a temperaturas elevadas e sendo, por isso, termofixos [13].
Este mecanismo de formação de película envolve uma reacção química combinando
pequenas moléculas (iguais ou diferentes) para formar moléculas maiores, genericamente
designadas por polímeros. Os sistemas resultantes destas ligações cruzadas vão de resistente
e flexível até duro e quebradiço, não deformando significativamente pela acção do calor [13].
Estas tintas são fornecidas em sistemas multi-embalagem, que consistem em duas
ou mais latas que devem ser misturadas antes da aplicação. Contudo, alguns materiais
termofixos reagem com a humidade do ar e são fornecidos em sistema uni-embalagem. Em
qualquer dos casos, quando correctamente aplicado e curado, o sistema de pintura forma
uma única molécula extremamente comprida em virtude da sua reticulação polifuncional [13].

29
Tintas e Pinturas

As reacções de polimerização para formulação de sistemas de pintura modernos


em conformidade com COV têm aumentado. As adaptações ao fabrico de tintas de baixo
conteúdo em COV com maior sucesso são os sistemas curados quimicamente, como os
sistemas epóxi, poliuretanos, poliésteres e éster vinílicos [13].

2.4. Principais tipos de tintas

2.4.1. Tipos de tintas

As tintas tradicionais usam um solvente orgânico baseado no petróleo para dispersar


as resinas moleculares.

●● Tintas com elevado teor de sólidos

As tintas com elevado teor em sólidos são uma evolução das formulações
tradicionais. As formulações líquidas são muito similares, mas os sistemas de resina
são modificados para produzir uma tinta com elevada concentração em sólidos (50
a 70%) e baixo teor em COV. Estas tintas utilizam tecnologias semelhantes às
das tintas tradicionais baseadas em solventes, o que pode ser atractivo para os
utilizadores, porque podem usar o equipamento convencional [14].

Apesar destas tintas oferecerem uma real redução nas emissões de COV, as
potenciais reduções não são tão grandes como com as tintas em pó ou tintas
líquidas 100% reactivas [14].

●● Tintas de base aquosa

As tintas de base aquosa usam principalmente água para dispersar as resinas,


embora possam também conter algum solvente. Podem ser usadas resinas
incompatíveis com a água desde que sofram previamente uma modificação
química [14].

As tintas de base aquosa podem ser classificadas em soluções, emulsões e


dispersões, cujas propriedades físicas e desempenho dependem da especificidade
das resinas usadas [14], conforme esquematizado na figura 12.

Soluções

As soluções são misturas de materiais completamente dissolvidos um no outro.


As resinas podem ser modificadas para dissolver em água, mas para que o re-
vestimento cure, tanto a água como o agente modificador têm de evaporar. Se
o agente modificador evaporar prematuramente, o pH da solução vai mudar e a
resina pode sair da solução (kickout).

30
Tintas e Pinturas

○○ Emulsões

Uma emulsão é uma dispersão de dois líquidos imiscíveis: pequenos glóbulos e


um emulsificador, que os mantém em suspensão. O termo latex é usado para qual-
quer emulsão de um material orgânico em água. As tintas de latex são tintas de
emulsão de base aquosa, que contêm resinas não naturais ou borracha sintética.

Nas tintas de emulsão de base aquosa, a água e o solvente determinam a viscosi-


dade da tinta; a resina existe como pequenos glóbulos. Estas tintas podem conter
elevado teor em sólidos sem aumentar a viscosidade. Durante o processo de cura, o
primeiro solvente evapora, deixando a resina para coalescer. Se a emulsão aquosa
for um esmalte, ocorre reticulação depois das moléculas da resina coalescerem.

○○ Dispersões

As dispersões são pequenos grupos de moléculas de resinas suspensas num


líquido. Nas dispersões, os grupos são mais pequenos do que nas emulsões e a
agitação mecânica é suficiente para suspender os grupos, que não emulsionam.

As tintas de dispersão de base aquosa podem ser formuladas com solventes


orgânicos e água, podendo ter um elevado teor em sólidos para dar viscosidade.

Figura 12 – Tintas de base aquosa [12]

●● Tintas em pó

A tecnologia de tintas em pó está disponível desde a década de 1950, tendo sido


usadas para pintar canalizações para prevenir a corrosão e para isolamento de
partes elétricas de motores [14].

Os constituintes do pó são muito semelhantes à tinta molhada com


resinas, pigmentos e aditivos, mas falta um transportador de solvente. O pó é
aplicado por fluidização através de ar comprimido e o revestimento obtido é
espesso, geralmente vinil ou epóxi e mais focado na funcionalidade do que nas
qualidades decorativas [14].

31
Tintas e Pinturas

No início da década de 1960, a evolução tecnológica que tornou possível aplicar finas
camadas de tinta para maior qualidade dos acabamentos definitivos, impulsionou
as tintas em pó na indústria de acabamentos de metais. As formulações foram
evoluindo de modo a oferecer uma gama sem limite de cores, brilhos e texturas,
proporcionando um acabamento superior, por menos dinheiro e com os benefícios
ambientais associados às tintas em pó sem solventes. Deste modo, as tintas em
pó tornaram-se uma alternativa viável para pinturas decorativas e funcionais, não
deixando de ser predominantemente um processo de acabamento de metal [14].

●● Tintas curadas pela luz UV

As tintas curadas pela luz UV requerem radiação electromagnética para iniciar a


reticulação da resina. Podem ser 100% líquidos reactivos, eliminando a utilização
de solventes e, ao reduzir o desperdício de tinta, conseguem atingir perto de 100%
de eficiência. Podem ser usadas sobre variados materiais, incluindo madeira,
plástico, papel e metal e podem ser aplicadas usando os métodos tradicionais de
pulverização, embora o rolo de pintura seja usado frequentemente uma vez que
são geralmente usadas para pintar chapas planas, que são peças planas [14].

Se forem pigmentadas, as tintas de cura por UV não podem ter mais de 1 mm


de espessura porque as moléculas dos pigmentos bloqueiam a luz. Todas as
superfícies pintadas devem ser expostas à luz UV para que a reacção possa
ocorrer [14].

2.4.2. Classificação das tintas

A enorme diversidade de produtos de pintura existentes no mercado, com distintas


aplicações e com as mais variadas características, permite ter produtos adaptáveis a cada
situação. Quando se pretende especificar um determinado produto de pintura recorre-se
geralmente a um dos tipos de classificação usuais e que têm por base: a natureza do solvente,
a natureza do ligante ou o fim a que se destinam [2].

●● Classificação baseada na natureza do solvente [2]

Quanto à natureza do solvente, as tintas podem dividir-se em dois grupos:

– Tintas em que o solvente é água – neste grupo incluem-se as tintas de emulsão


aquosas (também chamadas de “tintas plásticas”) e todas as tintas aquosas
que tenham resinas sintéticas (como as tintas de água acrílicas ou vinílicas e
os esmaltes aquosos em geral).

32
Tecnologias de aplicação de tintas

– Tintas em que o solvente não é água - neste grupo estão incluídas todas as tintas
líquidas não-aquosas, tintas de solvente (tintas acrílicas, vinílicas, epoxídicas e
de borracha), as massas, as tintas sem solvente e as tintas em pó.

●● Classificação baseada na natureza do ligante [2][3]

A classificação de acordo com a natureza do principal ligante é a mais utilizada,


podendo as tintas dividir-se em:
– Tintas acrílicas e metacrílicas;
– Tintas alquídicas, oleosas e oloeorresinosas de secagem ao ar;
– Tintas betuminosas;
– Tintas de borracha natural, sintética, modificada ou não;
– Tintas epoxídicas;
– Tintas nitrocelulósicas;
– Tintas de poliésteres;
– Tintas de poliuretano;
– Tintas de silicatos;
– Tintas de silicones;
– Tintas vinílicas.

Nos casos em que estas tintas têm base aquosa, são geralmente designadas pelo
seu nome seguido do termo “aquoso”.

●● Classificação baseada no fim a que se destinam [2]

As tintas são designadas pelo tipo de utilização que têm na construção, sendo as
mais frequentes:
– Tintas plásticas para a construção
civil;
– Tintas para a marcação de estradas;
– Tintas para protecção do betão;
– Tintas industriais;
– Tintas para estruturas metálicas;
– Tintas decorativas;
– Tintas de acabamento (esmaltes);
– Tintas de elevada resistência química; Figura 13 – Tintas diversas
– Primários.

Verifica-se que todas estas classificações permitem incluir todas as tintas; no entanto,
a classificação quanto à natureza do ligante é a que fornece maior informação sobre o
comportamento da tinta na sua utilização [2].

33
Tecnologias de aplicação de tintas

Na prática da construção civil, as tintas são designadas de forma generalizada, por


termos relacionados com o aspecto do acabamento obtido ou com a finalidade com que são
utilizadas, como por exemplo:

– Tinta de esmalte – é um tipo de acabamento que proporciona um aspecto mais ou


menos brilhante e liso.

– Tinta plástica ou tinta de emulsão – é uma tinta de água com ligantes sintéticos, que
dão um acabamento liso e mate.

– Tinta texturada – este tipo de tinta tem cargas de maior granulometria de modo a
obter como acabamento uma película com superfície rugosa.

– Tinta em pó – é uma tinta sem solvente, i.e., é um revestimento completo que


se apresenta na forma de pó. Podem ser aplicados por dois métodos, leito fluido
e electrostático. Os revestimentos em pó curam por fusão. São indicadas para
trabalhos de enterramento e imersão, mas desaparecem por acção da luz solar
indirecta e são quebradiças [11].

– Termolacado – é um revestimento obtido a partir da aplicação de determinadas tintas


sobre superfícies metálicas previamente tratadas, seguidas de cura em estufa.

– Tintas acrílicas – as tintas acrílicas aquosas são específicas para exposições


atmosféricas, como primários ou como acabamento e têm uma excelente retenção
de cor e brilho. Os acrílicos curam por coalescência/aglutinação [11].

– Tintas de óleo – consistem num pigmento, um óleo sicativo e um solvente alifático,


sem qualquer modificação com resinas sintéticas. A tinta seca por evaporação do
solvente, e cura mediante uma reacção de oxidação. As características destas
tintas oleorresinosas são determinadas principalmente pelas características do óleo
sicativo [13].

34
Tecnologias de aplicação de tintas

3. Tecnologias de aplicação de tintas

Uma tinta é um líquido com diversos componentes, que quando aplicada e curada confere
uma película plástica fina. Para a execução de revestimentos por pintura, é necessário dispor de
informações gerais sobre tecnologia de pintura, com especial destaque para a minimização de efeitos
adversos dos impactes ambientais mediante a prevenção da poluição [14]. Efectivamente, a tecnologia
de pinturas sofreu uma mudança radical nas últimas décadas do século XX, devido à publicação de
legislação/regulamentação relacionada com a protecção do ambiente e com a saúde e segurança dos
trabalhadores [11].

Tradicionalmente, as tintas continham solventes baseados no petróleo, muitos dos quais foram
eliminados devido às emissões de compostos orgânicos voláteis (COV). Actualmente estão disponíveis
tintas sólidas, como tintas em pó e tintas sem solventes [14]. Foram alteradas, por exemplo, as
partículas de pó provenientes da abrasão, as emissões de COV’s e os materiais perigosos, como o
chumbo, cromatos e outros metais pesados [11].

Na execução de trabalhos de pintura, há que ter em conta diversos aspectos como forma de garantir
o êxito do processo, uma vez que o resultado final da pintura é condicionado por diversos factores de
ordem ambiental e técnico.

A selecção de um sistema de pintura deve ser adequada às necessidades do tipo de exposição


da superfície onde vai ser aplicado, sendo que, como foi já referido, a eficácia de um revestimento
depende de múltiplos factores, que vão desde selecção adequada dos produtos a aplicar, passando
pelo nível de preparação da superfície e pela qualidade dos materiais utilizados, até à qualidade da
aplicação [11].

Depois de seleccionado o sistema de pintura, podem ser escolhidos diversos métodos segundo
os padrões de referência em vigor e os procedimentos de ensaio para a preparação das superfícies, a
aplicação de tinta, os ensaios e a manutenção de pinturas [11][13].

3.1. Escolha do produto a aplicar

Para seleccionar o sistema de pintura mais adequado para aplicar numa instalação de
construção civil é necessário, em primeiro lugar, identificar e compreender a sua exposição
ambiental. Só depois será iniciada a selecção dos sistemas de pintura com base no historial de uso
com sucesso nos ambientes identificados [13].

Por exemplo, as pinturas com borracha clorada ou com vinil, que são termoplásticas, não
devem ser usadas em locais sujeitos a muito calor ou a solventes fortes porque podem rapidamente
dissolver ou amolecer.

35
Tecnologias de aplicação de tintas

3.1.1. Identificação do ambiente envolvente

É provavelmente a etapa mais importante, que consiste em avaliar as condições sob


as quais o sistema de pintura tem de desempenhar. Não pode ser uma avaliação superficial,
pois deve considerar todas as condições que poderão existir, incluindo pequenos factores
que podem parecer irrelevantes. Por vezes, uma combinação de dois ou mais ambientes
envolventes, que actuem em conjunto, podem criar uma envolvente hostil [13].

Dentro dos factores de ambiente envolvente poderão ser considerados, entre outros,
os seguintes:

a) Variações de temperaturas

Os ciclos térmicos, geralmente associados com as condições atmosféricas, geram


naturalmente forças de expansão e de contracção. Para um sistema de pintura dar
a máxima protecção ao substrato, deve ter a capacidade de expandir e contrair
com o substrato [13].

As temperaturas adversas fora do normal (frio ou calor) podem causar fragilidade,


fraca resistência ao impacto, retracção ou falta de aderência e podem alterar as
características de prevenção da corrosão do sistema de pintura. Além disso, com
muito calor, o processo de cura pode ocorrer muito rapidamente ou, pelo contrário,
em temperaturas frias a cura pode simplesmente não ocorrer [13].

Pequenas variações de temperatura devem ser suportadas pelo revestimento


sem perda de aderência ou aparecimento de fissuras. Tintas acrílicas, vinílicas e
zinco orgânicos e inorgânicos têm provado resistência excepcional a flutuações de
temperatura [13].

Os revestimentos para aplicar em ambientes extremamente frios devem ter


excelente aderência, elasticidade e plasticidade. São fortes revestimentos
resistentes ao calor aqueles que são modificados com silicone e/ou fragmentos
metálicos, tais como alumínio ou aço inoxidável. Algumas tintas inorgânicas, ricas
em zinco, podem ser aplicadas a temperaturas tão baixas como -18ºC e fornecer
uma excelente protecção contra a corrosão [13].

b) Humidade elevada

Os revestimentos podem estar sujeitos a ambientes de humidade contínua ou a


uma alternância entre ambiente seco e molhado que, naturalmente podem afectar
o desempenho do sistema de pintura [13].

A norma BS6150 [19] classifica a humidade da atmosfera que rodeia o edifício a


pintar, em três tipos:

36
Tecnologias de aplicação de tintas

– Baixo – quando a região apresenta, em média, mais de 6 meses “secos” durante


o ano.
– Médio – quando a região apresenta, em média, cerca de 4 a 5 meses “secos”
durante o ano.
– Elevado – quando a região apresenta, em média, até 3 meses “secos” durante
o ano.

Entendendo-se por “secos” os meses sem precipitação ou precipitação muito reduzida.

Estes revestimentos devem ter forte aderência, baixa permeabilidade ao vapor de


água, baixo poder de absorção de água e boa resistência. Quanto mais baixa for a velocidade
de transferência de vapor, melhor é a protecção contra a corrosão fornecida pela pintura [13].

Embora um número significativo de revestimentos tenha um desempenho satisfatório


nestes ambientes, os revestimentos habitualmente usados são formulações de epóxis de dois
componentes, vinilos, betumes e respectivas modificações [13].

c) Imersão

Estes revestimentos são expostos a soluções aquosas que variam de água pura
desionizada até soluções contendo elevadas concentrações de químicos diferentes.
Mas podem também ser sujeitos aos efeitos de armazenagem de petróleo ou
solventes [13].

Os revestimentos para imersão devem ter boa aderência, resistência à humidade,


e variações de temperatura. Exemplos de revestimentos que tradicionalmente
têm desempenhado bem em imersão são: Betumes asfálticos epóxis, vinilos,
revestimentos ricos em zinco e modificações de tintas epóxi [13].

d) Oxidação-redução

Os ambientes oxidantes, como condições atmosféricas, lixívia ou ácido nítrico,


são mais comuns do que ambientes redutores, e muitos revestimentos são mais
sensíveis à oxidação do que à redução. A oxidação pode causar fragilidade na
película e perda de coesão [13].

Os tipos gerais de pinturas que historicamente têm tido um bom desempenho


em ambientes oxidantes são: betumes asfálticos epóxis, borracha clorada e
formulações de epóxis e poliuretanos [13].

e) pH extremo

Ambientes fortemente ácidos ou alcalinos, podem ter um efeito dramático na


durabilidade de um revestimento, o que dificulta a selecção dos sistemas de pintura.
É de importância primordial obter uma película de revestimento inerte e com um

37
Tecnologias de aplicação de tintas

bom grau de impermeabilidade relativamente ao ambiente, de modo a prevenir a


ocorrência de reacções com o ambiente e de infiltrações [13].

No caso de um revestimento primário, a resistência alcalina é de vital importância.


Substratos como betão têm elevada alcalinidade, pelo que o sistema de pintura
escolhido para este substrato tem de exibir também resistência alcalina. Por outro
lado, as reacções químicas que ocorrem no processo de corrosão dão origem
a produtos fortemente alcalinos que são depositados sobre o substrato e com o
tempo, favorecem a propagação de corrosão sob a película [13].

Formulações de tintas que tenham um histórico de bom desempenho em ambientes


de pH extremos são vinilos, borrachas cloradas e modificações epóxi [13].

f) Exposição a solventes

Foi já referida a função dos solventes nas formulações de tintas no que se refere
às características de aplicação. No entanto, os solventes interagem com o
ambiente envolvente até que o sistema de pintura fique seco ou curado, pelo que
o sucesso de qualquer situação assenta numa rigorosa identificação do ambiente
de exposição [13].

Os efeitos do solvente no sistema de pintura variam consoante o tipo de solvente


e a resistência da tinta que vai ser aplicada. Os sistemas de pintura escolhidos
não devem ser dissolvidos ou amolecidos pelo solvente no ambiente de exposição,
sendo necessário fazer uma boa selecção do sistema de pintura porque o
ligante pode dissolver facilmente e amolecer pelos vários níveis de força dos
solventes [13].

Historicamente, os revestimentos de dois componentes fortemente reticulados,


como formulações de tintas epóxi e uretanos têm exibido boa resistência aos
solventes. Isto reforça a ideia de que a mistura e o tipo de solvente no seu ambiente
de exposição deve ser identificado para que seja escolhido o sistema de pintura
apropriado. Quando sejam identificados factores pertinentes, os fabricantes de
tintas devem ser consultados para fornecer recomendações sobre o sistema.
Contudo, a chave de sucesso para qualquer situação assenta na identificação
completa e precisa do ambiente de exposição [13].

g) Exposição à luz UV

A resistência à radiação UV é extremamente importante visto que, a luz solar pode


causar uma perda total de integridade da película, degradando a pintura num curto

38
Tecnologias de aplicação de tintas

período de tempo. Tal degradação provoca escamas, perda de brilho, desbotamento


e fragilidade, podendo resultar num aspecto estético inaceitável [13].

Algumas tintas exibem melhor resistência à luz UV do que outras. Por exemplo,
muitos produtos alquídicos e de base oleosa têm fraca resistência à exposição
à luz UV. No entanto as tintas alquídicas modificadas com silicone combinam a
funcionalidade dos alquídicos com a durabilidade, retenção de brilho e resistência
dos silicones, podendo melhorar muito as características de desempenho das
superfícies expostas à luz UV, pelo que são amplamente usados como acabamentos
de manutenção sobre as tintas alquídicas convencionais [13].

h) Impacto / abrasão

A resistência ao impacto e à abrasão designam dois tipos diferentes de exposição


ambiental, embora sejam frequentemente discutidos em conjunto [13].

A abrasão pode resultar de fenómenos naturais, como areia trazida pelo vento
ou areia transportada pelas ondas de água, embora possa estar na forma de
movimento de equipamentos pesados, tráfico pedestre ou mesmo limpeza por
ferramentas e equipamentos [13].

As formulações de epóxi e de poliuretanos são excelentes escolhas para a


resistência à abrasão, mas a fragilidade inerente e este revestimento pode causar
uma fractura fácil ao impacto [13].

Consequentemente, para especificar o revestimento é extremamente importante


determinar se o ambiente de exposição necessita de um revestimento que tenha
de resistir a abrasão constante, impacto súbito ou uma combinação dos dois [13].

A norma BS EN ISO 12944-2:1998 relaciona a agressividade do meio ambiente


com a deterioração provocada nas superfícies das paredes dos edifícios, que
posteriormente poderá levar à corrosão das armaduras no interior das mesmas.
Esta classificação é apresentada na tabela 2 [20] e permite distinguir se a pintura
é realizada no interior ou no exterior, diferenciando as zonas interiores em função
das diferentes utilizações que podem ter, e as exteriores em função da atmosfera
envolvente. Deste modo, tendo em conta as condicionantes inerentes ao local onde
se vai realizar a pintura, os produtos deverão ser cuidadosamente escolhidos, para
que a pintura seja a mais adequada possível para a situação.

39
Tecnologias de aplicação de tintas

Tabela 2 – Classificação da agressividade ambiente [20]

Exemplos de ambientes em climas temperados


Categorias de
corrosão
Exterior Interior

Edifícios aquecidos, com


C1 atmosferas limpas.
-
Muito Baixo ex: escritórios, lojas, escolas,
hotéis

Atmosferas com baixo nível Edifícios não aquecidos, onde poderá


C2 ocorrer condensação.
de poluição.
Baixo ex: depósitos ou recintos
Principalmente áreas rurais. desportivos.

Atmosferas urbanas ou Locais de elevada produção de humi-


industriais, com uma poluição mod- dade e alguma poluição
C3 atmosférica.
erada no que diz respeito ao dióxido
Médio de enxofre. Ou zonas costeiras com ex: Cozinhas, lavandarias,
baixo teor em sal. instalações sanitárias, etc.

Zonas industriais ou costeiras em ex: Fábricas de produtos


C4 que a salinidade seja químicos, piscinas, cais ou
Elevado moderada. marinas.

Edifícios ou áreas sujeitas a


C5 – I Zonas industriais com elevada humi- condensação quase permanente e com
Muito elevado (In- dade e agressividade elevada poluição
dustrial) atmosférica. atmosférica.

C5 – M Edifícios ou áreas sujeitas a


Zonas costeiras com elevada salini- condensação quase permanente e com
Muito elevado dade. elevada poluição
(Marítimo) atmosférica.

3.1.2. Outros aspectos a considerar

Após identificação do ambiente envolvente, será feita a selecção dos sistemas de


pintura, tendo por base o historial de sucesso. Nesta fase, deverão ser identificados alguns
aspectos como as áreas mais difíceis de pintar, os requisitos regulamentares e legais e
outros como a identificação das alternativas de preparação de superfícies (para novas
construções e para manutenção), as alternativas de aplicação de tinta e o sistema de
protecção catódica [13].

a) Identificação de áreas que não podem ser adequadamente pintadas

Muitas vezes, a forma das estruturas, peças ou áreas a pintar apresentam


determinados ângulos ou cavidades e fendas, que dificultam a aplicação da tinta.
Algumas considerações iniciais sobre o desenho ou materiais de construção
alternativos podem ser úteis para evitar tais áreas problemáticas. No entanto,
muitas estruturas já estão construídas e não seria rentável nem prático introduzir
mudanças no projecto [13].

40
Tecnologias de aplicação de tintas

Qualquer cavidade ou fenda onde possa ficar retido ar, humidade, sujidade ou
detritos deverá ser devidamente selada. Para seleccionar vedantes e selantes,
um factor essencial é a sua utilização anterior bem-sucedida no mesmo ambiente,
sendo os fornecedores e os fabricantes de tintas boas fontes de informação sobre
o desempenho de um dado vedante ou selante para o ambiente pretendido [13].

b) Identificação dos requisitos regulamentares

Existem regulamentos sobre o tipo e a quantidade de COV’s que podem ser


emitidos para a atmosfera e, nesta sequência, foi publicada legislação nacional
para restringir o teor em COV nas tintas; estas restrições listam os máximos de
COV’s admissíveis e variam de acordo com a categoria da tinta e da sua utilização.
As tintas passaram a ser formuladas com um elevado conteúdo em sólidos, menos
solventes e com água como solvente [13].

Estes regulamentos variam de país para país pelo que, antes de especificar o
revestimento, é importante conhecer os requisitos locais quanto ao uso de tintas
em conformidade com a não utilização de COV’s. Antes de especificar as tintas,
devem ser contactadas as entidades reguladoras de poluição do ar para conhecer
as restrições aplicadas [13].

Outros factores

Existem outros factores que podem influenciar a selecção de um produto de pintura,


como sejam:

– Identificação das alternativas de preparação de superfície para construções


novas ou de manutenção, que serão analisadas mais à frente neste capítulo;

– Identificação das alternativas de aplicação de pintura, igualmente objecto de


discussão neste capítulo;

– Sistemas de protecção catódica, usados em combinação com sistemas de


protecção por pintura, fornecem resultados fiáveis na protecção contra a
corrosão.

3.1.3. Critérios de selecção dos produtos de pintura

O critério final de selecção consiste na determinação do grau de eficácia do sistema


de pintura seleccionado na protecção da superfície no ambiente de utilização. A definição
clara e precisa do ambiente envolvente, juntamente com as recomendações dos fabricantes
de tintas, irá habilitar o especificador de tintas a selecionar o sistema de pintura que irá
proporcionar protecção mais duradoura ao edifício ou às instalações [13].

41
Tecnologias de aplicação de tintas

Geralmente, para seleccionar produtos de pintura são considerados os seguintes


apectos:
(a) Recomendação do fornecedor
(b) Facilidade de aplicação
(c) Facilidade de manutenção
(d) Custo
(e) Resistência ambiente
(f) Duração da protecção desejada
(g) Preparação da superfície requerida/permitida
(h) Condições de aplicação/cura
(i) Disponibilidade de trabalho/material
(j) Considerações de saúde e segurança

3.2. Preparação de superfícies

O comportamento de um revestimento por pintura depende da boa qualidade da base de


suporte, que deve ser sempre convenientemente preparada, para que se obtenha uma superfície
homogénea e de porosidade conhecida, apta para receber o esquema de pintura escolhido.

A preparação adequada da superfície é fundamental para criar uma boa aderência da tinta
ao substrato e aumentar a durabilidade e a eficácia geral da pintura de protecção. A aderência
determina se é ou não suficiente aplicar uma só camada de película fina sobre a superfície [13].

Um aspecto relevante para melhorar a aderência, é tornar as superfícies suficientemente


ásperas e rugosas (dentro dos limites aceitáveis para o tipo de acabamento e textura pretendidos),
com pequenos picos e vales gravados na superfície a pintar, de forma a proporcionar um aumento
da área de contacto para uma união mecânica da tinta ao substrato [13].

O procedimento de preparação de superfícies demora, em geral, bastante mais tempo que


a própria pintura, porque se não forem eliminadas todas as imperfeições na superfície a pintar,
poderá ficar comprometida a qualidade, a aparência e a durabilidade da pintura.

Neste trabalho será abordada a preparação de superfícies de paredes de alvenaria rebocadas


e elementos de betão, tanto a nível exterior como a nível interior.

3.2.1. Métodos usuais de preparação de superfícies

As superfícies que vão receber os esquemas de pintura devem estar bem secas,
limpas e isentas de contaminantes, bem como de restos de tinta velha ou outros resíduos.

42
Tecnologias de aplicação de tintas

Os equipamentos e as técnicas que podem ser usadas para obter a limpeza e a


rugosidade desejadas para a superfície variam consideravelmente [13], tendo em conta
que superfícies de materiais distintos requerem preparações distintas, uma vez que podem
apresentar condições que exigem tratamento específico.

Existe uma ampla variedade de métodos de preparação de superfícies, sendo que


hoje, os métodos tradicionais são acompanhados por métodos novos, inovadores, que
evoluíram sobretudo devido a questões de segurança relacionadas com a remoção das
estruturas industriais de tintas contendo chumbo [13].

Em seguida serão referidos alguns métodos de preparação de superfícies e


respectivas finalidades, que podem ir de limpeza com ferramentas e utensílios até métodos
mais sofisticados.

●● Limpeza com solventes – quando a superfície tiver óleos ou qualquer tipo de gordura
deve ser limpa recorrendo a detergentes.

●● Raspagem – é uma técnica tradicional que


consiste em raspar a superfície, primeiro
numa direcção e em seguida na direcção
perpendicular. Deve ser
utilizando um raspador bem
afiado e aplicando uma pressão
constante; no entanto, para
Figura 14 – Raspador oval
raspar materiais mais delicados
não deve ser aplicada demasiada
pressão. Para alcançar os cantos ou locais de mais difícil acesso
Figura 15 – Raspador triangular podem ser usados raspadores triangulares ou ovais. Quando se está
perante uma superfície de dureza superior, deverá ser usado um
raspador que permita ao utilizador segurar com as duas mãos.

●● Lixagem – os restos de tinta que ainda se encontrem aderentes podem ser retirados
com recurso ao uso de uma lixa. A lixagem é um método que permite alcançar uma
superfície mais lisa, diminuindo as arestas e irregularidades da mesma. O processo
de lixagem pode ser executado para complementar a raspagem.

43
Tecnologias de aplicação de tintas

Tabela 3 – Lixagem [21]

Técnicas de lixagem Operações a realizar

Lixar e despolir as tintas de acabamento


Manual Seco
Eliminação dos defeitos

Remover pinturas velhas e antigas reparações


Rotativa Eliminação da corrosão
Polimento e brilho

Lixagem de áreas planas


Mecânica Rectangular Lixagem de betumes
Trabalhos que requerem grande abrasão

Qualquer operação de lixagem


Excêntrico-Rotativas Lixagem de primários e aparelhos
Eliminação de defeitos

●● Escovagem – usando escovas rígidas de ferro para remover restos de tinta que
estiverem não aderentes. A escova poderá ser montada num berbequim eléctrico, de
forma a melhorar os resultados em zonas de difícil acesso. As zonas com manchas
secas devem ser apenas escovadas e nunca lavadas [22].

●●Pistola de calor – usada apenas para remoção de pintura ou verniz de revestimentos


antigos. A área de trabalho, onde vai ser feita a remoção do revestimento,
humedecer-se ligeiramente; pode ser usado um borrifador de água ou pode ser
forrada com papel de jornal, que deve ser mantido húmido durante o processo. À
medida que o revestimento a remover ficar mole e com bolhas, deve utilizar-se uma
espátula metálica para ajudar a remover.

●●Decapagem – segundo a norma ISO 4618 [1], a decapagem consiste na aplicação


de um procedimento de limpeza e rugosidade de uma superfície usando um agente
químico antes de aplicar uma pintura, para aumentar a aderência. No caso de
superfícies metálicas, o termo decapagem refere-se à remoção de ferrugem e
carepa de substratos ferrosos por procedimentos electroquímicos ou por meio de
uma solução ácida contendo geralmente um inibidor.

Existem diversos métodos de proceder a este tipo de limpeza, como por exemplo a
decapagem química, usando removedores químicos, ou a decapagem abrasiva.

44
Tecnologias de aplicação de tintas

Segundo a ASTM D4259 [23] existem 3 métodos específicos de decapagem abrasiva:


limpeza mecânica com impacto rotativo, limpeza com jactos de água a alta pressão e jactos
abrasivos.

●●Lavagem com jacto de água de alta pressão – é usada quando a pintura de uma
parede se encontra em estado avançado de degradação, desgastada e a soltar-
-se. Geralmente usa-se apenas em paredes exteriores devido à quantidade de
água que é expelida. Para aplicação correcta desta técnica, a ponta da mangueira
deve manter-se sempre na horizontal e a cerca de 1,5 - 2 metros de distância da
parede. De salientar que não devem ser adicionados à água produtos demasiado
agressivos, dado que a infiltração no substrato dessa mistura poderá influenciar
negativamente a pintura posterior.

●●Jacto abrasivo – é uma a limpeza por decapagem abrasiva, que remove as


camadas superficiais que estejam fracas, ou outros defeitos, proporcionando uma
superfície levemente áspera para a aderência do revestimento. Mais à frente serão
explicados os abrasivos, bem como a forma como são escolhidos.

●●Ataque ácido – a utilização deste método tem como objectivo neutralizar a superfície
que será revestida. Imediatamente após o ataque com o ácido, a superfície deve
ser lavada para evitar a formação de sais na superfície, que são difíceis de
remover. A operação deverá ser repetida se a superfície não apresentar a textura
pretendida[23].

Outro aspecto relacionado com a preparação das superfícies tem a ver com a
utilização frequente de produtos para facilitar as operações de descofragem. Os descofrantes
variam consideravelmente na composição e na capacidade de suportar a aderência quando
posteriormente for aplicado o revestimento. Pode ser necessário realizar testes de aderência
subsequentes, com o objectivo de determinar se foram ou não usados estes produtos
descofrantes. No caso de se verificar uma deficiente aderência, deve realizar-se a preparação
cuidada da superfície, assegurando a remoção dos produtos contaminantes.

3.2.2. Preparação de superfícies de alvenaria

Quando se vai realizar a preparação para pintura em alvenaria, é preciso conhecer o


estado das superfícies, dado que os cuidados pré-pintura a aplicar devem ser adaptados ao
estado de degradação do paramento em questão [7].

No caso de superfícies anteriormente pintadas, é necessário realizar a remoção


da tinta velha, que pode ser efectuada com recurso a algumas das técnicas anteriormente
descritas, como a raspagem, a lixagem, a lavagem com jacto de água de alta pressão, a
utilização de removedores químicos (decapagem) ou a utilização de pistola de calor.

45
Tecnologias de aplicação de tintas

A raspagem é usada em superfícies planas de alvenaria. Para betão, estuque e outros


tipos de alvenaria é indicado o procedimento de escovagem, usando escovas rígidas de ferro
se estiverem não aderentes. A escova poderá ser montada num berbequim eléctrico, de forma
a melhorar os resultados em zonas de difícil acesso; este processo deverá ser feito com muito
cuidado.

No caso de superfícies exteriores, o método da limpeza a jacto com água sob pressão
é considerado o melhor. No entanto, dada a elevada quantidade de água lançada contra o
paramento, é essencial que se deixe que este seque convenientemente, antes de iniciar o
processo de pintura [7].

É necessário saber se é uma superfície nova que nunca foi pintada, se é uma superfície
em utilização que já foi previamente pintada, se as superfícies se encontram envelhecidas,
sujas ou danificadas (essencialmente por acção da humidade) ou ainda se contêm fissuras[7].
Cada um dos casos requere cuidados distintos, como por exemplo:

●● superfícies recentes, que ainda não tenham sido pintadas – em geral, será apenas
preciso executar uma pequena limpeza para retirar os possíveis contaminantes
que estejam presentes e em seguida aplicar um primário, de maneira a garantir a
aderência necessária para o sucesso final do esquema de pintura.

●● superfícies porosas, pulverulentas ou demasiado quebradiças – poderá ser inevitável


aplicar previamente uma solução estabilizadora, que permita a consolidação da
superfície para que esta apresente as condições ideais para aplicar o esquema de
pintura escolhido.

●● superfícies degradadas, mas que nunca foram pintadas – normalmente apresentam


condições favoráveis à formação de algas e fungos, devido à sujidade resultante
de pó acumulado, bem como humidade ambiente. Nestas situações será
indispensável desinfectar toda a superfície, e seguidamente remover a sujidade
através da escovagem. Este processo nunca deverá ser invertido, devido ao risco
de propagação das algas e fungos para zonas anteriormente “limpas”.

●● superfícies degradadas que foram anteriormente pintadas – poderão apresentar


vários problemas em simultâneo, tais como empolamentos, tinta velha farinada,
eflorescências provenientes da infiltração de água pelas fissuras existentes na
superfície, entre muitas outras. Todas estas situações têm que ser tratadas de
forma eficiente, para que o processo de pintura decorra sem qualquer problema.

A remoção de outros produtos deve ser tratada caso a caso, visto que existem acções
específicas para cada situação. Podem ser referidos, a título de exemplo:

46
Tecnologias de aplicação de tintas

●● O esmalte poderá ser removido por fricção, através do uso de jacto de areia a
pressões baixas.

●● O verniz também poderá ser removido através do uso de soluções de cloreto de


zinco de 3%, mais 2% de ácido fosfórico. Esta solução não deverá ser lavada, visto
que será ela a formar uma superfície texturada para ser pintada.

3.2.3. Preparação de superfícies de betão

A preparação de superfícies de betão deve começar por uma limpeza geral, com o
objectivo de remover todas as substâncias estranhas ou prejudiciais, como óleos, pinturas,
pó, sujidade, agentes de cura do betão e produtos similares, mas também limpar todo o
betão fissurado, fraco, desagregado ou delaminado, até que a superfície fique limpa, sã e
homogénea. A limpeza geral da superfície poderá ser feita recorrendo a jacto de água, se for
no exterior, ou recorrendo a qualquer um dos restantes métodos, caso seja no interior.

Começar com uma boa limpeza contribui para melhor identificar as áreas deterioradas
e só depois aplicar o procedimento adequado de preparação da superfície, para torná-la apta
a receber o revestimento final de protecção.

Quando as superfícies de betão são demasiado lisas e densas, a aderência da tinta


poderá ser difícil. Nestes casos, é necessário criar uma textura para melhorar a aderência da
superfície utilizando um método adequado [13].

A rugosidade é obtida geralmente através de uma limpeza de jacto abrasiva, Para


que o processo de decapagem abrasiva do betão seja realizado sem causar qualquer tipo de
danos no betão, as pressões utilizadas não devem ultrapassar os 2,75-3,45 Bar [40 a 50 psi]
e o bico do jacto deve ser mantido a uma distância maior do que quando se está a preparar
superfícies metálicas, pois a decapagem do betão é obtida muito rapidamente [13].

No caso de se suspeitar que a superfície se encontra suja com gorduras ou óleo,


deverá previamente ser executada uma limpeza do betão com detergente ou solução de
fosfato trissódico (podendo ser também necessária a limpeza a vapor) antes de aplicar o
ácido, uma vez que este processo não remove gorduras ou óleo.

Em relação às superfícies do tipo de lajes de betão ou paredes exteriores, podem


absorver humidade capilar excessiva, favorecendo o desenvolvimento de fungos, algas,
musgos e líquenes, que se manifestam pelo aparecimento de manchas; se não forem tratadas,
o seu alastramento irá contribuir para a deterioração das pinturas [13]. Nestas situações, deve
lavar-se a superfície com uma solução de água e lixívia, passando depois com água limpa.
Em seguida aplicar uma ou duas demãos de concentrado antifungos, deixando actuar cerca
de 24 horas, após o que se deverá proceder a uma escovagem de toda a superfície. Só então,
deverá proceder-se à pintura de toda a superfície com uma tinta adequada.

47
Tecnologias de aplicação de tintas

◊ Selecção dos abrasivos

A consequência decorrente da utilização de abrasivos numa superfície pode variar


desde uma simples limpeza superficial, até um corte profundo.

Quando se faz a selecção de um abrasivo, devem ser considerados diversos


factores, como o tipo de superfície a limpar, a forma dessa superfície, o tipo de
material a remover, a textura final pretendida, a taxa de degradação causada pelo
abrasivo e, por fim, os perigos associados ao uso do abrasivo, tendo em conta o
equipamento que rodeia a área onde se vai realizar esta acção [13].

Existem diversos tipos de abrasivos, que devem ser escolhidos consoante o tipo de
superfície a tratar, podendo salientar-se os abrasivos metálicos, a areia ou outros
abrasivos minerais. Cada tipo de abrasivo tem uma forma específica de limpar,
resultando uma textura ligeiramente diferente. Existem ainda vários métodos de
ensaio para abrasivos, definidos nas normas ASTM [23].

(1) Óxidos naturais, como a areia de sílica foram provavelmente os mais usados
devido à sua vasta existência, baixo preço e eficácia. No entanto, o seu uso
foi restringido em muitas áreas após identificação dos perigos para a saúde
inerentes, como a silicose.
Existe outro abrasivo natural, também de sílica, constituído por uma mistura de
areias grossa e fina estaurolita, que se caracteriza por um corte abrasivo eficiente,
tem menos pó e uma menor taxa de decomposição do que a areia de sílica.

(2) Abrasivos metálicos, como a granalha de aço e outros produtos abrasivos


granulares, são eficientes, duros, e criam menos poeira, mas devem ser
tomados cuidados especiais para armazenar adequadamente o abrasivo, de
forma a evitar ferrugem. O custo inicial é mais elevado do que a maioria dos
outros tipos de abrasivos, mas apresentam a vantagem de poder ser reciclados
várias vezes.

(3) Abrasivos de escória são subprodutos da fundição de minérios, que apresentam


corte rápido, mas têm uma taxa de quebra elevada e geralmente não são
recicláveis. Estes abrasivos, em geral apresentam um pH ácido.

(4) Abrasivos sintéticos, como o óxido de alumínio e o carboneto de silício,


apresentam propriedades semelhantes às de limpeza metálicas, sem o
problema da oxidação. São extremamente duros, de corte rápido, criam pouca
poeira. São caros mas podem ser reciclados, o que os torna mais económicos.

As características de um abrasivo que influenciam directamente o seu desempenho


são o tamanho, dureza e a forma. O tamanho e a dureza adequados são essenciais
para a produção do perfil desejado, com a limpeza necessária [13].

48
Tecnologias de aplicação de tintas

●● Tamanho – Uma partícula de abrasivo de tamanho grande irá cortar de uma


forma mais profunda do que outra, com a mesma composição e forma mas de
tamanho inferior, proporcionando um perfil da superfície com maiores desníveis.
No entanto, a maneira de executar um trabalho com menor sujidade, é através
do uso de partículas de abrasivo com menores dimensões, devido a um maior
número de impactos por unidade de área.

●● Dureza – Abrasivos mais duros, geralmente cortam mais fundo e mais rápido
do que abrasivos macios ou quebradiços. Um abrasivo duro e quebradiço vai
quebrar com o impacto, reduzindo seu poder de limpeza.

●● Forma do abrasivo – A forma e o tamanho dos grãos dos abrasivos determi-


nam o tipo de perfil de superfície obtido. Estão disponíveis variadíssimos grãos
diferentes, que proporcionam uma grande variedade de padrões de superfície.
Por exemplo, granalha de aço apresenta forma aproximadamente redonda, logo
provoca textura com relevos arredondados na superfície. No caso dos grãos de
areia, que têm forma angular, produzem um acabamento denteado por corte,
em vez de arredondado, o que geralmente é o preferido para a aderência do
revestimento. Uma grande variedade de padrões de superfície está disponível a
partir de grãos diferentes [13].

A fase que se segue à preparação da superfície é a da aplicação do esquema


de pintura pretendido, sobre o paramento previamente tratado de forma a poder
recebê-lo.

3.3. Aplicação dos produtos de pintura

A aplicação de um esquema de pintura é condicionada por diversas variáveis, como o tipo de


tinta a usar, o tipo e o tamanho da superfície a revestir, o método escolhido para realizar a pintura
e os regulamentos ambientais [13].

Algumas condições ambientais que rodeiam a superfície a pintar podem influenciar o resultado
do trabalho pelo que a aplicação dos produtos de pintura deve ser feita apenas com tempo favorável,
seguindo as condições de temperatura e humidade relativa recomendadas pelo fabricante [11].

Deve dar-se especial relevo às condições meteorológicas existentes na altura da execução


da pintura, visto que existem condicionantes que poderão provocar defeitos no resultado final e que
podem facilmente ser eliminados, desde que se tenha o cuidado de:

●● Não realizar pinturas com temperaturas ambiente demasiado baixas, sendo 5ºC o limite
inferior para a maior parte das tintas à base de água ou solvente não aquoso. Temperaturas
muito baixas, além de dificultarem o processo de aplicação, fazem com que a tinta demore

49
Tecnologias de aplicação de tintas

demasiado tempo a secar, permitindo deste modo que se infiltrem impurezas provenientes
do ar, no esquema de pintura.

●● Não realizar pinturas com temperaturas ambiente demasiado elevadas, sendo 35ºC o limite
superior, visto que este facto irá fazer com que a tinta seque demasiado depressa, compro-
metendo deste modo a durabilidade do esquema de pintura, bem como a sua qualidade.

●● Não realizar pinturas com humidade ambiente demasiado reduzida.

●● Evitar a realização de pinturas em superfícies quando estas se encontram directamente


expostas à luz solar, especialmente devido à elevada temperatura da superfície.

●● Evitar a realização de pinturas em dias de chuva, visto que a necessidade de parar a exe-
cução a meio poderá provocar defeitos no resultado final.

A mistura, o número e a espessura das camadas e a técnica de aplicação também afectam


o desempenho do revestimento. Antes da aplicação, os materiais de pintura precisam de ser
bem misturados, de acordo com as instruções do fabricante, para obter uma tinta homogénea e
uniforme[11], podendo para tal, se necessário utilizar-se um agitador mecânico.

3.3.1. Esquemas de pintura

A norma ISO 4618 [1] define esquema de pintura como sendo a “combinação de
camadas de material de pintura que são aplicadas num substrato. O sistema pode ser
caracterizado pelo número de camadas envolvidas”, sendo que uma camada, ou demão, é o
“depósito contínuo de um produto de pintura resultante de uma única operação de aplicação”.

Geralmente, a aplicação de um esquema de pintura consiste numa sequência de


demãos de diversos tipos de produtos, aplicadas segundo uma determinada ordem. Os
produtos de pintura devem ser de natureza diferente, compatíveis entre si, e ter diferentes
funções mas complementares (protecção, textura, cor, etc.) [3].

A sequência habitual de aplicação de um esquema de pintura inclui, os primários,


as camadas intermédias ou subcapas e as camadas de acabamento. O esquema de pintura
mais simples é, em geral, constituído por uma demão de primário, seguida de duas a três
demãos de tinta de acabamento.

A aplicação da tinta deve começar sempre do topo da fachada, e nunca se deve


interromper a pintura dum painel completo. Todos os elementos existentes nas fachadas
como portas, janelas ou possíveis ornamentos devem ser protegidos com fita isoladora antes
de se realizar a pintura.

A escolha dos constituintes do esquema de pintura depende de vários factores,


essencialmente do tipo de superfície a tratar e do ambiente em que se encontra [2].

50
Tecnologias de aplicação de tintas

●●Primário ou Primeira demão

Os primários são aplicados sobre toda a superfície a pintar, incluindo as áreas que
contêm massa regularizadora [11]. A norma ISO 4618 define primário como “pintura
formulada para usar como primeira camada sobre superfícies preparadas” [1].

O primário (ou primeira demão) deve garantir a aderência das camadas seguintes
e conferir propriedades específicas como seja a protecção da superfície contra
a corrosão, bem como protecção contra o ataque de outros agentes químicos
existentes na atmosfera envolvente [2].

Geralmente designa-se por “primário” quando é aplicado sobre um substrato não


absorvente (metal, plástico) e por “selante” quando aplicado directamente sobre
uma base absorvente (madeira, reboco) [3], com o fim de diminuir a sua absorção
em relação a subsequentes aplicações [2].

●● Subcapas ou demãos intermédias

O revestimento intermédio é aplicado sobre o primário para proporcionar protecção


adicional ou para vedar o primário. Podem ser aplicadas múltiplas camadas de
revestimento intermédio para dar espessura à película [11].

Segundo a norma ISO 4618, designa-se por subcapa “qualquer camada aplicada
entre o primário e a camada de acabamento” 1]. As subcapas podem também
receber uma nova camada
intermédia, antes do acabamento.

Estas camadas são incorporadas


no esquema de pintura com
a finalidade de regularizar as
imperfeições do substrato,
aumentar a eficácia do efeito
de barreira de protecção contra
a acção de produtos químicos,
proporcionar boa ligação entre o
Figura 16 – Tintas em utilização
primário e a tinta de acabamento,
proporcionar espessura total
adequada ou outras funções específicas [2] [3].

São utilizados como subcapas as massas regularizadoras que, por definição da


norma ISO 4618, são “composições pastosas contendo alto teor em pigmentos e
cargas, destinados a nivelar as irregularidades existentes na base de aplicação,
preparando-a para um acabamento”. Sempre que possível, deve evitar-se a
aplicação destes produtos, visto que por causa da sua composição formam pontos
de fraqueza na superfície.

51
Tecnologias de aplicação de tintas

●● Acabamento ou demão de acabamento

O acabamento é, segundo a norma ISO 4618, a “última camada de um sistema de


pintura” [1]. Os revestimentos de acabamento são aplicados sobre o revestimento
primário ou sobre o intermédio [11].

É a demão de acabamento que confere o aspecto visual final e as características


desejadas em termos de brilho, cor, resistência, etc., sendo também a que protege
os materiais de revestimento subjacentes [11]. É também a primeira a sofrer
o ataque das diversas agressões da luz solar e luz UV, temperatura, choques,
radiação, contacto com agentes químicos, entre outros [3].

Quando se pretende um acabamento texturado é vulgar usar-se uma demão


de “esfregaço”, efectuado com a tinta de acabamento, seguida de uma ou duas
demãos de tinta texturada. Após secagem desta camada, obtém-se a película seca
de revestimento por pintura [2].

3.3.2. Métodos de aplicação

Uma vez que a superfície do substrato está devidamente preparada e as condições


ambientais estão dentro das tolerâncias especificadas, pode proceder-se à aplicação do
esquema de pintura [11].

Para garantir que o resultado final será o desejado, é importante dispor de todos os
acessórios necessários, sendo certo que o equipamento de aplicação pode ser ditado pelo
tipo de material e pelo tamanho da área a pintar [11], podendo ainda variar consoante a
aplicação seja feita num ambiente interior ou exterior.

Existem diferentes equipamentos para transferir a tinta da lata para o substrato, que
podem incluir desde a simples aplicação por pincéis, trinchas e rolos até aplicações à pistola,
que serão descritos em seguida. Todos os métodos de aplicação têm inerentes vantagens e
limitações [11][13].

●● Aplicação por Pincel e Trincha

O pincel e a trincha são utensílios de pintura muito vulgares para aplicação de


produtos de pintura. Os pincéis têm forma arredondada e são usados para
pinturas de pequenas áreas com superfícies irregulares [13] e para acabamentos;
por fazerem uma aplicação lenta, os pincéis, não são adequados para tintas de
secagem rápida. As trinchas têm forma achatada, maiores dimensões e são usadas
para aplicação de tintas em paredes convencionais.

Existe uma grande variedade de tamanhos, formas, tipos de cerdas e utilizações,


como os pincéis e as trinchas ilustrados na figura 17.

52
Tecnologias de aplicação de tintas

Os pincéis e as trinchas são constituídas por um conjunto de pêlos, fibras ou cerdas,


fixados na extremidade de um cabo por uma cinta, como representado no esquema
da figura 18. A cinta pode ser de madeira, plástico ou de aço.

Os pincéis e as trinchas devem possuir algumas características que determinam


a sua qualidade, nomeadamente no que diz respeito às cerdas que deverão ser
suficientemente flexíveis e resistentes para, depois da utilização, voltarem à posição
inicial.

Figura 17 – Trinchas e pincéis

As cerdas podem ser de origem natural (fibras de porco, cavalo ou qualquer outro
cabelo macio) ou de origem sintética (fibras sintéticas, geralmente nylon).

As cerdas naturais, embora mais caras e sensíveis à água, proporcionam as melhores


características de aplicação, além de terem forte resistência aos solventes[13].

Figura 18 – Trincha

As cerdas naturais são apropriadas para usar com tintas à base de solvente não
aquoso, porque em contacto com a água este tipo de cerda avoluma e deforma-se,
perdendo qualidade na execução da pintura.

As cerdas de origem sintética são apropriadas para usar com tintas aquosas, como
esmaltes ou vernizes acrílicos de base aquosa. Embora tenham menor capacidade
de carga do que as cerdas naturais, as cerdas sintéticas têm uma excelente
resistência à abrasão quando as tintas são aplicadas em superfícies de betão e de
alvenaria e não são afectadas pela maioria dos solventes [13].

O comprimento das cerdas deverá decrescer do meio para as extremidades para


tornar a pintura mais simples e mais homogénea. Os pêlos mais compridos e bem

53
Tecnologias de aplicação de tintas

divididos acumulam um bom reservatório de tinta no seu interior, o que proporciona


uma aplicação mais eficiente e com uma melhor aparência final [7].

As larguras dos pincéis deverão ter as dimensões adequadas ao uso que vão ter,
nomeadamente:
– pincéis para detalhes: 30-50 mm;
– pincéis para portas: 50-80 mm;
– pincéis para áreas maiores (como pavimentos): cerca de 100 mm;
– pincéis para paredes e muros: 150 mm (ou maior) [7].

No caso das trinchas de parede convencionais, as larguras das variam de 25,4 a


152,4 mm, sendo as mais usadas de 101,62 mm [13].

As trinchas adequadas e a selecção das cerdas para uma tinta específica são
imperativos para uma aplicação de qualidade [13]. Além disso, para aplicações
específicas, devem ser utilizados pincéis adequados, como nos seguintes casos:

– Pincéis de corte angular para locais onde é necessário ter maior precisão e
cuidado devido a superfícies contínuas, tais como caixilharias de janelas;

– Pincéis grossos quando se pretende uma película mais durável e de maior


espessura.

Na fase da aplicação, a utilização de uma boa técnica de molhar o pincel ou a


trincha e distribuir a tinta, permite obter uma distribuição uniforme, sem salpicos e
escorrimentos ou outros defeitos evitáveis. Para isso, devem ser seguidos alguns
procedimentos:

1. Humedecer as cerdas do pincel, no solvente de base da tinta a utilizar e segui-


damente, escorrer o excesso nas bordas do recipiente que contém o solvente.

2. O pincel deve ser pegado levemente mas com firmeza, mas devendo ter em con-
ta o seu tamanho e fim a que se destina. Deste modo, pincéis finos, para pintar
em pormenor, devem segurar-se como se pega num lápis e pincéis mais grossos
devem ser agarrados como se fossem raquetes de ténis, de maneira a melhorar
os resultados finais da pintura a executar.

3. As cerdas do pincel nunca deverão ser mergulhadas a mais de metade do seu


comprimento, para evitar que a tinta se fixe na cinta, e posteriormente cause
alguns defeitos.

4. Na primeira vez que o pincel for inserido no recipiente que contém a tinta, deverá
ser movido para possibilitar que as cerdas abram e absorvam uma maior quan-

54
Tecnologias de aplicação de tintas

tidade de tinta. Com o pincel embebido em tinta, será mais fácil de transportar
uma boa quantidade de tinta para a parede.

5. A aplicação da tinta na superfície deverá ser executado com suavidade, para re-
duzir ao máximo a quantidade de salpicos resultantes e para diminuir a sujidade
inerente a esta operação.

6. Por outro lado, a tinta deve ser espalhada sobre a superfície com pressão mo-
derada, uniforme, por deslizamento numa direcção, seguido por deslizamento
perpendicularmente à camada anterior [13].

Normalmente, nos casos das tintas de solventes não aquosos, quando se mergulha
o pincel na tinta, é necessário escorrer o excesso de tinta acumulada junto às
bordas do recipiente. Esta acção, em geral, é dispensada quando se trata de tintas
plásticas, visto que basta deixar o pincel pingar por uns segundos e é possível
então retomar a pintura.

Uma vantagem da aplicação por pincel ou trincha é a capacidade de pintar áreas


difíceis antes da aplicação geral; este processo é recomendável como forma de
garantir a cobertura e a espessura adequada da camada aplicada para áreas que
são difíceis de pintar pelo método normal de pintura. Outra vantagem da aplicação
por trincha é que ajuda a humedecer o substrato, particularmente em superfícies
porosas [13].

No entanto, a pintura por pincel ou trincha apresenta algumas limitações, como


sejam o facto de ser lenta, podendo não produzir uma camada de espessura
uniforme. Além disso, não é prática para superfícies grandes e pode deixar marcas
da trincha em tintas que não nivelam bem [13].

As tintas de óleo e de base aquosa são os tipos que mais frequentemente são
aplicadas por trincha, e as suas características de aplicação são consideradas
entre boas e excelentes. A tinta de base oleosa é de secagem lenta, devendo
ser aplicada minuciosamente em zonas de fendas, fissuras e outras superfícies
irregulares. As tintas de secagem rápida (base aquosa) devem ser aplicadas
rápida e uniformemente, para não deixar marcas da trincha quando a tinta secar.
A aplicação de certas tintas por trincha, como as de elevado teor em sólidos ou de
secagem rápida é difícil e geralmente não é recomendada [13].

No final da utilização não deve deixar-se secar a tinta no equipamento. O pincel


ou a trincha devem ser mergulhados em aguarrás, raspando com uma espátula
os restos de tinta e, por fim, lavados com água morna. Tentar retirar a tinta já seca
acaba por deteriorar as cerdas.

55
Tecnologias de aplicação de tintas

●● Aplicação por Rolo

Os rolos de pintura caracterizam-se por serem mais espessos e mais resistentes


do que os pincéis, sendo também mais fáceis de usar, pois além de conservarem
a sua forma e não soltarem fibras, salpicam e sujam menos, permitindo obter uma
pintura mais rápida e de melhor qualidade [13].

São muito utilizados na construção civil e por pintores profissionais, geralmente


para áreas grandes e planas, como paredes ou tectos, interiores ou exteriores, que
são demasiado grandes para aplicação com pincel ou onde a aplicação à pistola
não pode ser tolerada [11][13].

Os rolos consistem em duas partes: uma armação (eixo central ligado a um cabo)
e uma cobertura. A cobertura é a parte que aplica a tinta e pode variar no diâmetro,
comprimento, tipo de tecido e comprimento das fibras [11].

Na figura 19 estão exemplificados vários tipos de armação e coberturas feitas


de materiais diferentes, com diferentes finalidades. A armação do rolo deve ser
resistente a solventes fortes [13].

Figura 19 – Componentes de rolos de pintura

Existem rolos específicos para cada tipo de utilização, devendo escolher-se o tipo
de rolo mais adequado à tinta que se vai utilizar e à superfície que se pretende
pintar (rugosa, áspera ou lisa). Para um bom acabamento na pintura o rolo deve
ser sempre de boa qualidade.

A cobertura é a parte que aplica a tinta e pode variar no diâmetro, comprimento, tipo
de tecido e comprimento das fibras [11]. A selecção do tecido e do comprimento das
fibras depende do tipo de revestimento e da condição da superfície [13].

As fibras longas retêm mais tinta, garantem maior rendimento do produto e são ideais
para aplicação de tintas aquosas em superfícies irregulares (ásperas, absorventes
ou rugosas). Os rolos com pêlos mais curtos, mesmo carregados com tinta, são leves
e versáteis na aplicação, respigam menos e garantem excelentes acabamentos,
sendo ideais para aplicação de tintas à base de solvente em superfícies lisas.

56
Tecnologias de aplicação de tintas

As principais características do rolo são o comprimento e a espessura. Os


comprimentos mais frequentes têm comprimento de 150 mm, 180 mm e 250 mm,
embora também se fabriquem outros comprimentos, designadamente menores,
para facilitar a acessibilidade a locais mais estreitos.

A espessura do rolo deve ser adequada à utilização prevista; de um modo geral:


– Rolos de pêlo curto: diâmetro de 6 mm a 9 mm; são usados para superfícies
lisas.
– Rolos de pêlo médio: diâmetro de 9 mm a 12 mm; são usados para superfícies
convencionais.
– Rolos de pêlo longo: diâmetro igual ou superior a 12 mm; são usados para
superfícies rugosas e irregulares [7].

Os materiais usados para cobertura do rolo podem ser de origem natural ou


sintética. Os tecidos usados geralmente de cobertura do rolo são espuma poliéster,
lã mohair e pele de cordeiro [13]. A tecnologia de fabrico das fibras sintéticas permite
obter coberturas de rolo com densidade, altura e largura das fibras rigorosamente
controladas e semelhantes às fibras naturais no que se refere à aparência, toque e
aplicação.

Na escolha do rolo de pintura (material e tamanho do pêlo) deve sempre considerar-


se o tipo de tinta que será utilizada e a superfície que será trabalhada. Quanto
mais rugosa e mais saliências tiver a superfície, maior deve ser a altura do pêlo do
rolo de lã utilizado. Nas superfícies lisas, rolos com pêlo alto oferecem ganhos de
produtividade, enquanto o uso de pêlo baixo aumenta a qualidade de acabamento.

Os tipos mais comuns de rolos para pintura são:

1. Rolos de lã natural – geralmente fabricados com lã de carneiro, são usados


quando é necessária uma aplicação muito suave de esmaltes de base
solvente [7] são recomendados
para aplicação de tintas à base de
água (látex PVA e acrílicas), em
superfícies rugosas, semirrugosas
e com texturas. São rolos de muito
boa qualidade porque a lã natural é
mais elástica e tem microescamas
que proporcionam maior retenção
de tinta.

A lã pura de merino pode ser usada Figura 20 – Rolo de lã


para todo o tipo de superfícies.

57
Tecnologias de aplicação de tintas

2. Rolos de lã mista – são feitos de lã de carneiro e fibra de poliéster (geralmente


50% de cada). São também indicados para aplicação de tintas à base de água,
como o látex, o PVA e tintas acrílicas em superfícies semirrugosas e com
texturas suaves.

3. Rolos de lã especial – são fabricados com lã de fibras de poliéster, sendo


adequadas para aplicação de tintas à base de água, como o látex, o PVA e tintas
acrílicas, tintas epóxi e esmaltes sintéticos em superfícies lisas ou levemente
porosas e, nalguns casos, em superfícies semirrugosas e com texturas suaves.

4. Rolos de espuma – estes rolos são mais baratos e são usados quando o
acabamento final não obriga a grandes cuidados. Geralmente são usados para
aplicação de tinta em superfícies lisas e os materiais mais usados são:

a) poliéster – a espuma 100% poliéster tem uma estrutura celular fina e


densidade elevada, pelo que, além da resistência a solventes, retém mais
tinta e proporciona melhor alastramento e acabamento com qualquer tipo
de tinta. Com pêlo de altura média são indicados para paredes areadas e
se o pêlo for longo para muros.

b) poliéter – são macios e indicados apenas para


aplicação de tintas à base de água, como o látex,
PVA e acrílicas.

c) poliamida – são indicados para aplicação de tintas


acrílicas ou sintéticas se tiver pêlo de altura média
e para fachadas se o pêlo for longo.

Deve evitar-se o uso de diluentes nos rolos de


espuma, porque são produtos incompatíveis e em
Figura 21 – Rolo de espuma
contacto um com o outro podem causar deformação da
espuma. Para aumentar a vida útil dos rolos,o ideal é usar solventes minerais
no manuseio e limpeza das ferramentas usadas com tintas sintéticas.

5. Rolos de efeitos – são usados quando se pretende obter efeitos decorativos


diferentes, como por exemplo o rolo de espuma de grão grosso, que se usa
para obter uma pintura texturada [7].

Existem ainda outros tipos especiais de rolos:

●●Rolo de tubo

O rolo de tubo é construído por dois ou mais rolos estreitos, articulados


conjuntamente sobre um único eixo, com um cabo roscado. Estes rolos

58
Tecnologias de aplicação de tintas

adaptam-se facilmente a superfícies curvas ou com contornos, tais como


tubagens, onde o número de segmentos necessários é determinado pelo
comprimento do tubo [11][13].

●●Rolo de barreira

O rolo de barreira requere coberturas com pêlos extra longos para coberturas
permitirem a rápida pintura de uma cerca de arame. Quando se aplica a tinta
de um lado da vedação de arame, as longas fibras envolvem o fio e pintam os
dois lados simultaneamente [11][13].

●●Rolo de pressão

A cobertura de um rolo de pressão tem um núcleo perfurado que permite


à tinta passar de dentro do rolo para os pêlos. Deste modo, permite a
pintura contínua através do fornecimento constante de tinta, de um recipiente
pressurizado directamente para dentro do núcleo perfurado do rolo. A
válvula que controla a pressão está localizada no cabo do rolo e no reservatório
[11][13].

Na fase de aplicação de tinta com um rolo, deve seguir-se uma metodologia


correcta para que se obtenha um resultado final satisfatório.

1. Molhar o rolo em água ou no solvente adequado, consoante a tinta que vai


usar (base aquosa ou com base noutro solvente) [7]. É recomendado lavar o
rolo de lã antes da primeira utilização, para retirar eventuais fios que ficaram
agregados em sua fabricação, eliminando a possibilidade deles se soltarem
durante a aplicação da tinta.

2. Em seguida, deve eliminar-se o excesso de líquido, passando o rolo por


papel absorvente.

3. Mergulhar o rolo na tinta, na parte mais funda do tabuleiro de pintura, e


continuamente passá-lo pela zona inclinada do tabuleiro. Esta operação

Figura 22– Tabuleiros

59
Tecnologias de aplicação de tintas

deverá ser repetida duas ou três vezes, para garantir que o rolo fica bem
embebido de tinta, sem que fique saturado [7].
O rolo deve ser uniformemente carregado com tinta para fazer uma
aplicação uniforme. Se a tinta não estiver uniformemente carregada no rolo
poderá haver zonas que não apanham tinta. Por outro lado, se o rolo levar
uma sobrecarga de tinta, terá tendência para escorregar sobre a superfície
em vez de rolar e a tinta não ficará bem espalhada [7].

4. Para aplicação de tinta com rolo deve ser usada uma técnica e pressão de
aplicação adequadas. Deve começar de baixo para cima, para evitar que o
excesso de tinta escorra pela parede, e descrevendo formas semelhantes
a M’s ou W’s. Em seguida, dever-se-ão preencher os espaços sem tinta,
sempre em ziguezagues, tanto verticais como horizontais [7].

5. No fim, deverá ser feita uma passagem suave por toda a superfície, tendo
o cuidado de deslocar o rolo relativamente devagar para que não ocorram
respingos, o que provocaria sujidade adicional. Para precaver esta situação,
o pintor deverá ter uma esponja e um recipiente com o solvente da tinta que
está a usar, para poder limpar eventuais salpicos antes que estes sequem.

O procedimento acima descrito deve ser repetido até a superfície em questão


se encontrar toda pintada, de acordo com objectivo estabelecido inicialmente.

Os rolos podem ser usados para pinturas em interiores e, quando há vento,


são recomendados para exteriores, para evitar excessivas perdas de material.
Um rolo aplica mais tinta do que um pincel e proporciona um acabamento mais
satisfatório em superfícies lisas do que em superfícies rugosas ou irregulares.
No entanto, devido à forma do rolo, é difícil a sua utilização para fendas e
espaços vazios no betão, onde é recomendável o uso de um pincel [13].

●●Aplicação por Pistolas de Pintura

Actualmente as pinturas em obra são realizadas frequentemente com recurso


a pistolas de pintura, sobretudo para pintura de paredes. Existem diferentes
tecnologias de aplicação de tintas além da pistola convencional de alimentação
por pressão, como sejam a “pistola sem ar”, a “pistola de alto volume e baixa
pressão”, entre outras [11].

No presente trabalho será detalhado o método convencional, que permite a


aplicação de muitos materiais de pintura industrial na maioria das estruturas
onde o “overspray” não é uma preocupação [11][13].

60
Tecnologias de aplicação de tintas

Existem diferentes tipos de equipamentos, compostos essencialmente por


uma pistola, um reservatório e um dispositivo de alimentação, que diferem na
forma como é feita a alimentação e consequente projecção da tinta. A entrada
da tinta pode ser feita por aspiração, gravidade e pressão, sendo o tipo de
trabalho a executar que determina o tipo de alimentação.

●●Pistola de alimentação por aspiração – A tinta está contida num reservatório


que se encontra ligado à pistola; esta
contém um tubo mergulhado até à base do
reservatório, que funciona por aspiração. É
um tipo de equipamento (figura 23) que se usa
apenas quando se pretende realizar trabalhos
de curta duração e extensão, visto que o
reservatório tem capacidade reduzida.

●●Pistola de alimentação por gravidade – é um


tipo de equipamento usado, à semelhança do Figura 23 – Pistola de alimentação por
aspiração
anterior, quando se está perante trabalhos
de curta duração, onde a quantidade de tinta
a utilizar seja igualmente reduzida. Apresenta a vantagem de permitir que
sejam usadas tintas mais espessas. Neste caso o depósito de tinta encontra-
se na parte superior da pistola, como pode ver-se na figura 24.

●●Pistola de alimentação por pressão – recorre-se a este tipo de equipamento


quando a extensão da pintura a realizar obriga a que o reservatório tenha
um volume superior a 1 litro (ver figura 25), visto que o peso dificultaria a
Figura 24 – Pistola de
alimentação capacidade de manobra ao executante. Assim, neste caso, ter-se-á um
por gravidade
reservatório de maior volume assente no chão, com líquido sob pressão, que
contém um tubo de alimentação ligado directamente à pistola.

●●Pistola convencional de alimentação por pressão

O equipamento para aplicação de tinta com


pistola de alimentação por pressão consiste
num compressor de ar, um separador de óleo
e de água, um reservatório de alimentação
com bomba de pressão, mangueiras de ar e de
líquido e uma pistola de pulverização [11].
Figura 25 – Pistola de alimentação
por pressão
O compressor gera a pressão necessária para
as duas operações de fluxo: introdução do ar e
introdução do produto de pintura que alimenta o

61
Tecnologias de aplicação de tintas

injector da pistola, de modo a formar pequenas gotículas de tinta (atomização


da tinta), impulsionando-a para a superfície do substrato [11][13].

O reservatório do material de pintura está sob pressão e tem um regulador de


pressão que controla a quantidade do produto de pintura que alimenta o pulverizador
da pistola [13]. Quando são pintadas estruturas altas, o recipiente deve estar
sensivelmente ao mesmo nível da pistola de pintura.

Entre o compressor e o recipiente sob pressão, deve existir um separador de óleo e


água para prevenir que óleo ou água presentes no ar comprimido atinjam a tinta. A
função deste separador é evitar que o óleo ou a água presentes no ar comprimido
se misturem com a tinta durante a atomização, que iriam criar espaços vazios,
furos e/ou orifícios na película aplicada, além de evitar defeitos de aderência [13].

Na pintura por pistola convencional são usadas mangueiras de dois tipos:


a mangueira de ar e a mangueira de líquido. As mangueiras devem ser
convenientemente dimensionadas para fornecer a quantidade adequada de ar e
pressão para a pistola de aplicação, com tinta de viscosidade média como tintas de
latex, algumas lacas, alquídicos e epóxis convencionais.

A mangueira de fornecimento de ar do compressor para o reservatório é diferente


da mangueira do reservatório para o compressor, que deve ter menor diâmetro
interno e ser o mais curta possível. Se as mangueiras forem muito compridas pode
haver deposição de sólidos antes de atingirem o bico da pistola, o que conduz
a entupimento e à aplicação de uma película não homogénea. Geralmente,
a mangueira de ar é vermelha, e a mangueira de líquidos é preta e tem um
revestimento resistente a solventes [13].

A execução desta técnica envolve alguns cuidados com a forma como é atomizada
a tinta, como é feita a sua alimentação e projecção e ainda a maneira como é
manipulada a pistola durante a aplicação.

A correcta atomização da tinta vai permitir a sua pulverização em partículas de


tamanho bastante reduzido e uniforme, sobre a superfície. A atomização da tinta
pode ser condicionada por aspectos inerentes ao equipamento, mas também pelo
produto de pintura seleccionado [7].

No decurso da pintura, é possível regular a quantidade de tinta atomizada ajustando


alguns parâmetros do equipamento, como por exemplo:

– Velocidade de saída da pistola – a atomização da tinta será tanto melhor quanto


maior for a velocidade de saída da tinta pelo bico da pistola, o que se consegue

62
Tecnologias de aplicação de tintas

variando o volume de ar e de tinta na pistola de aplicação ou ajustando o botão


de fluxo de material na pistola;

Tabela 4 – Tamanhos dos bicos das pistolas

Diâmetro do orifício Usos Consumo de ar

1,0 mm a 1,4 mm Velaturas, Primários, Acabamentos celulósicos, Vernizes 1 a 3 litros/s

1,4 mm a 2,2 mm Acabamentos em geral, Subcapas, Primários 2 a 7 litros/s

2,2 mm a 2,8 mm Tintas espessas, Efeitos especiais 7 a 16 litros/s

– Tamanho dos bicos de saída da pistola – diferentes tamanhos servem para


diferentes finalidades, como referido na Tabela 3, pelo que a escolha adequada
da combinação de bico/agulha de saída, por terem orifícios de vários tamanhos,
influenciarão no resultado final da pintura. Geralmente, os fabricantes de tintas
recomendam equipamentos de aplicação e especificam os tamanhos dos bicos
para obter características de aplicação óptimas [13].

A formulação da tinta pode também ter implicação na atomização, devendo ter-se


em conta:

– Proporção sólidos/líquidos – quanto menor proporção de sólidos em relação aos


líquidos, melhor será a capacidade de atomizar;

– Tensão superficial – a tensão superficial diminui com a elevação da temperatura,


facilitando a atomização.

– Volatilidade dos solventes – os solventes de evaporação rápida libertam-se


mais cedo, fazendo com que a gotas fiquem mais pequenas e atomizem mais
facilmente.

– Viscosidade da tinta – quanto menos viscosa for a tinta, maior a capacidade de


atomizar e, consequentemente, melhores resultados serão obtidos em termos
de qualidade de pintura. Uma boa atomização permite uma maior velocidade
de aplicação e um maior controlo da espessura das camadas, que naturalmente
serão mais uniformes e acabamentos de melhor qualidade.

Um factor de primordial importância tem a ver com a viscosidade da tinta aplicada,


que deve ser adequada ao equipamento e às condições particulares de aplicação
da tinta. Para adequar a viscosidade deve adicionar-se, aos poucos, um diluente
indicado pelo fabricante da tinta e ir avaliando a velocidade do escoamento com

63
Tecnologias de aplicação de tintas

um viscosímetro de escoamento. No entanto, as restrições exigidas no que diz


respeito às emissões de COV’s para a atmosfera, limitam a quantidade de diluentes
permitidos para adicionar às tintas [7].

Quando estiver próximo do pretendido, o valor da viscosidade deve ser determinado


com recurso a um viscosímetro. Trata-se de um processo muito simples, e deverá ser
realizado com um viscosímetro de escoamento, seguindo o seguinte procedimento:

1. Encher de tinta o copo com um orifício calibrado;

2. Cronometrar o tempo de escoamento da quantidade de tinta presente no


interior do copo;

3. Não esquecer de mencionar o tipo de copo utilizado, bem como a temperatura


ambiente, à qual se desenrolou o processo. A temperatura influência de maneira
determinante a viscosidade da tinta no momento da medição [7].

Deve ter-se presente que, com a variação da temperatura ambiente, o tipo e a


quantidade de veículo que compõem cada tinta, vão influenciar directamente a
variação de viscosidade da mesma [7].

Usando as técnicas adequadas de aplicação de tinta, como a correcta pressão do


líquido e um bico da pistola de tamanho adequado, deve esperar-se uma camada
de espessura uniforme. Por outro lado, reduz perdas de tinta, previne a acumulação
de tinta nos cantos, arestas e finais dos percursos, elimina acumulação de líquido
no bocal e na ponta de aplicação e previne escorrimentos e afundamentos no início
de cada camada. A qualidade técnica de aplicação de tinta com pistola é geralmente
adquirida com a experiência [13].

Um dos aspectos mais importantes tem a ver com a forma como o equipamento
é manuseado. A válvula de ar é operada pelo gatilho da pistola: puxando o gatilho
até meio, flui ar atomizado, sem tinta. Este fluxo de ar é usado para remover pó e
detritos da superfície antes da aplicação da tinta. Puxando completamente o gatilho
aplica a tinta [13].

Depois de devidamente ajustados os fluxos de ar e de líquido, e de modo a produzir


uma película contínua e uniforme, devem seguir-se algumas regras, como ilustrado
na figura 26:

– A pistola de aplicação deve ser deslocada paralelamente, em relação à superfície


de trabalho, com a pistola segura em ângulos rectos. Virando o punho no final
de cada passagem resulta numa película de tinta não uniforme e com tinta em
excesso [13].

64
Tecnologias de aplicação de tintas

Também não deverá ser feita pulverização em arco, para evitar alguns defeitos
resultantes de, nas extremidades do arco, a tinta ficar em contacto com o ar
aproximadamente o dobro do tempo, o que irá provocar grandes alterações de
aspecto (brilho e variações de cor), devido à menor aderência nas extremidades,
bem como à diferença de espessuras.

– No início da passagem, a pistola deve estar em movimento antes de ser


accionado o gatilho, e continuar um pouco depois de libertar o gatilho no final
da camada. O gatilho da pistola de aplicação deve ser libertado no final de cada
passagem [13].

– A distância da pistola em relação à superfície deve ser constante e uniforme


para garantir que o tempo de contacto da tinta com o ar é sensivelmente
constante até atingir a superfície e, desta forma, garante-se um resultado final
semelhante. Para uma aplicação uniforme, o bico da pistola deverá ser mantido
a uma distância de cerca de 15-20 cm da superfície a pintar. A aplicação com a
pistola demasiado próxima da superfície dará origem a uma aplicação pesada
onde ocorrerão irregularidades; se a pistola estiver muito afastada da superfície,
resultará uma pulverização seca e causa interrupções ou poros microscópicos
no revestimento [13].

– Para grandes áreas lisas, cada camada deve sobrepor a anterior em 50% para
produzir uma espessura de película de tinta mais uniforme. Para construir uma
camada uniforme, é geralmente usada uma técnica que consiste numa camada
de jacto húmido, usando 50% de sobreposição, seguida por outra camada
completa de jacto húmido em ângulos recto relativamente ao primeiro [13].

Figura 26 – Manuseamento da pistola [24]

65
Tecnologias de aplicação de tintas

A aplicação de tinta à pistola apresenta algumas vantagens, ao ser um método


eficiente de aplicação de sistemas de pintura sobre um substrato, pois ao fornecer
um fino grau de atomização, resulta numa superfície mais lisa, mais uniforme e
com alta qualidade de acabamento necessária para aplicações de vinilo. Além
disso, permite revestir grandes áreas num curto espaço de tempo.

A pistola de aplicação tem um elevado grau de versatilidade relativamente a


diferentes materiais de pintura e padrões de pulverização. O operador consegue
ter um excelente controlo da pistola de aplicação para pulverização precisa em
áreas de formas irregulares, cantos e tubos do que a pistola de aplicação sem ar
[13]. Para aplicação a quente, a viscosidade é reduzida para melhorar a aplicação
ou para atender a baixa temperatura do material [11].

Uma limitação deste método resulta do facto de usar grandes quantidades de


ar misturado com a tinta. Isto tem como consequência uma baixa eficiência da
transferência devido a elevadas perdas de tinta quer porque faz ricochete, quer
devido a “excesso de pulverização” (overspray) [11][13].

No final da utilização, a pistola deve ser desligada da linha e desmontada e todos


os componentes do equipamento, incluindo pistola, mangueiras e equipamento
auxiliar, devem ser cuidadosamente limpos com um diluente ou solvente apropriado
até que o solvente saia limpo, sem vestígios de cor da tinta, e depois passados com
ar soprado. A superfície exterior da pistola deve ser limpa com panos humedecidos
com solvente [13].

3.3.3. Modo de execução

Qualquer trabalho, e a pintura não é excepção, deverá ser realizado seguindo uma
metodologia definida, de modo a evitar qualquer tipo de erro de execução.
No caso de trabalhos de pintura, devem observar-se alguns cuidados consoante se
trate da pintura de uma divisão interior ou do exterior de um edifício.

◊ Interiores

Assim, deverá iniciar-se a pintura pelo tecto da divisão, nomeadamente começando


pelas extremidades, que fazem fronteira com as paredes. Nesta fase deverá ser
utilizado um pincel de tamanho reduzido. A restante superfície do tecto deverá
ser pintada recorrendo a um rolo, preferencialmente encaixado numa vara
extensível, de forma a permitir que a execução seja rápida, visto que no caso
de se usar um escadote, o tempo de execução seria muito superior devido à
necessidade de o mover constantemente. Quando for necessário retocar alguma

66
Tecnologias de aplicação de tintas

parte que tenha ficado menos bem pintada, o executante deverá ser rápido
o suficiente para que a tinta nessa zona ainda esteja húmida, de forma a evitar
sobreposição de camadas. Deverá também deixar secar por completo a tinta antes
de aplicar próxima demão.

Em seguida, deverá
descer para as paredes,
iniciando a pintura
uma vez mais pelas
extremidades: cantos de
ligação entre paredes,
bem como zonas em
redor de portas, janelas
e rodapés. Nesta fase
deve usar uma trincha.
Figura 27 – Pintura de tecto Após completada esta
tarefa, o executante
deverá, como já foi referido anteriormente neste capítulo, utilizando o rolo, pintar
segundo a direcção horizontal e em seguida segundo a direcção vertical, de forma
a espalhar da melhor maneira possível a tinta, pintando a parede toda. Uma vez
mais, tal como para o tecto e caso seja necessário, deverá realizar os retoques
ainda com a tinta húmida. Nesta fase, verificar atentamente se existe alguma zona
com imperfeições e corrigi-las. Deverá deixar secar por completo a tinta antes de
aplicar a próxima demão.

Os produtos de base aquosa são especialmente aconselhados para as pinturas


de interiores, devido às restrições ambientais, mas também por libertarem menos
cheiros e por consequentemente serem menos agressivos para as vias respiratórias
[25]. As limitações de emissões de COV’s podem ser consultadas no decreto-lei
n.º 242/2001 [26].

Em geral, as tintas para interior são mais resistentes a lavagens frequentes,


apresentam uma maior capacidade de cobertura e salpicam menos. No entanto,
deve evitar-se sempre utilizar no interior, tintas destinadas ao exterior, sob o
pretexto de serem mais resistentes, pois essa maior resistência é conseguida em
detrimento de certas características que, não sendo tão relevantes no exterior,
adquirem uma importância determinante no interior [25].

Como foi referido anteriormente, devem ser criadas as condições ambientais,


de forma a estarem o mais perto possível do ideal, em termos de temperatura e
humidade no interior do local a pintar.

67
Tecnologias de aplicação de tintas

◊ Exteriores

Em termos gerais, o modo de execução das pinturas de paredes em exterior, não


será muito distinto do usado para as paredes interiores. Há que ter especial atenção
ao facto do executante não poder criar as condições ambientais envolventes
necessárias, de forma artificial como para o interior, visto que estas irão depender
das condições meteorológicas no local. Nunca realizar uma pintura exterior se as
condições não forem propícias, nomeadamente no que diz respeito à temperatura,
vento ou chuva.

As tintas para exterior, caracterizam-se por manterem a cor original, visto que têm maior
resistência aos raios UV e à intempérie, por acompanhar dilatações e contracções
dos materiais e pela maior resistência ao aparecimento de fungos e algas [25].

Os tipos de tintas mais aplicadas em fachadas de edifícios são as de emulsões


aquosas (ou plásticas) e as de membrana elástica, sendo também usadas noutras
circunstâncias, tintas de poliuretano, tintas de silicones (mais duráveis), bem como
as tintas de silicatos, em casos específicos de edifícios mais antigos.

3.4. Segurança

3.4.1. Equipamentos de protecção individual (EPI)

Um equipamentos de proteção individual (EPI) é, segundo o decreto-lei nº 348/93


[27], “Todo o equipamento, bem como qualquer complemento ou acessório, destinado a ser
utilizado pelo trabalhador para se proteger dos riscos, para a sua segurança e para a sua
saúde.”

Portanto, a utilização de um EPI tem por objectivo proteger o trabalhador das agressões
externas que são geradas no desempenho de uma determinada actividade laboral, ou seja,
os EPI’s destinam-se a proteger o trabalhador contra riscos ambientais, acidentes e efeitos
prejudiciais à saúde, que podem manifestar-se a curto ou a longo prazo.

No caso de trabalhos de pintura, os efeitos agudos, que se manifestam num curto


espaço de tempo, estão associados a manifestações imediatas de sintomas, como no caso
de intoxicação pelos vapores concentrados de certos solventes. Os riscos de longo prazo
são efeitos crónicos originados por exposições repetidas ao longo do tempo a produtos com
algum grau de perigosidade, sem manifestações imediatamente evidentes.

68
Tecnologias de aplicação de tintas

Os EPI’s são de utilização obrigatória,


como refere a figura 28. A empresa é obrigada
a fornecer aos trabalhadores, gratuitamente,
EPI’s adequado ao risco que o seu trabalho
envolve, em perfeito estado de conservação
e funcionamento e os trabalhadores devem
receber formação sobre a sua correcta
utilização. A realização de trabalhos de pintura
requer a utilização, pelos trabalhadores, de
protecção para os olhos e face, respiratória e
Figura 28 – EPI’s da pele.

●● Protecção dos olhos e da face

O uso de equipamentos de proteção para os olhos e face em trabalhos de pintura,


consiste na utilização de óculos e viseiras com o objectivo de proteger essas zonas
da acção de gases irritantes para os olhos e evitar
lesões.

●● Protecção respiratória

Para realização de trabalhos de pintura, onde existe


o perigo de aspiração e/ou inalação de substâncias
perigosas, devem usar-se máscaras, com ou sem Figura 29 – Óculos de protecção
Figura 30 – Protector
facial c/viseira filtro, para proteger as vias respiratórias de produtos
químicos e também de poeiras, no caso da realização de um processo de raspagem
ou lixagem.

Podem ser adoptadas medidas de controlo do ar contaminado com poeiras


nocivas, fumos, gases, sprays ou vapores, tomando acções para tentar reduzir os
seus níveis, como por exemplo confinar ou restringir as operações a certas zonas,
garantir a ventilação da área de trabalho, ou substituir alguns materiais por outros
menos tóxicos.

●● Protecção da pele

É essencial proteger a pele dos materiais nocivos que a podem lesar, sendo
Figura 31 – Máscara
de pintura obrigatório usar luvas, roupas e calçado apropriado. Em trabalhos de pintura, a
pele das mãos é muito exposta, pelo que devem ser usadas luvas adequadas ao
trabalho que se vai realizar, ou seja, devem proteger as mãos contra a ação de
produtos químicos, como solventes, decapantes, etc.

69
Tecnologias de aplicação de tintas

O fardamento deve ser constituído por calças e parte


de cima de manga comprida, de forma a proteger a
pele do contacto com produtos nocivos. No caso de se
estar a utilizar o jacto de água de alta
pressão, será aconselhável o uso de
equipamentos impermeáveis e botas
de borracha [14]. Figura 32 – Máscara com
filtros de carbografite

Figura 33 – Luvas de protecção

70
Patologias em revestimentos por pintura

4. Patologias em revestimentos por pintura


Patologias são defeitos que ocorrem nas pinturas ou em outras fases das construções, novas ou
velhas, por acção de agentes externos, erros de aplicação/construção ou inadequação dos materiais
aplicados [17].

No caso de patologias em revestimentos por pintura, são defeitos ou anomalias que surgem nas
superfícies sobre as quais foram aplicados esquemas de pintura.

As patologias podem ocorrer em diversas fases do processo, que podem ir da armazenagem da


tinta, à sua aplicação ou à fase da vida útil. Como resultado das patologias, aparecem defeitos que, de
acordo com a altura em que ocorrem, podem classificar-se em [2]:

●● Defeitos de curto prazo ou imediatos: resultam de patologias que aparecem durante a fase de
aplicação da tinta, ou num curto espaço de tempo após ser finalizada a aplicação.

●● Defeitos de médio prazo: resultam de patologias que ocorrem entre o período de recepção da
obra e o final do “prazo de garantia” da mesma (de 5 anos).

●● Defeitos de longo prazo: são decorrentes do envelhecimento das superfícies ao longo dos anos,
principalmente por acção de agentes atmosféricos adversos, que originam o aparecimento de
patologias. Em geral, ocorrem depois do período de 5 anos.

●● Defeitos inesperados: resultam de situações imprevistas.

Deve ter-se presente que os defeitos de curto prazo nos revestimentos por pintura poderão pôr
em causa a recepção de uma obra, com base na importante função de decoração que desempenham,
podendo consequentemente contribuir para comprometer a confiança na qualidade da obra em geral,
o que deve de todo ser evitado [2].

4.1. Principais causas

Quando se abordam as patologias em superfícies que foram sujeitas a um esquema


de pintura, é necessário ponderar os diversos factores que podem contribuir para o seu aparecimento.
As patologias podem estar relacionadas com diferentes factores, que seguidamente serão
descritos [11]:

1. A selecção dos materiais

Para proteger o substrato devem usar-se materiais de pintura adequados e compatíveis,


que resistam à deterioração causada pelas condições de exposição. Não existe nenhum
revestimento que proteja todos os tipos de substratos em todas as condições de exposição.

71
Patologias em revestimentos por pintura

Portanto, a selecção dos materiais de pintura é geralmente baseada na adequabilidade


ao ambiente de exposição e no histórico do desempenho. Se for necessário, pode ainda
recorrer-se a testes de envelhecimento acelerados realizados em laboratório.

Deve evitar-se a utilização de produtos que não preencham os requisitos mínimos para
cada situação, como por exemplo:

– a selecção de tintas que não se adequam às condições de exposição a que


se destinam;

– utilizar sistemas de produtos de pintura que não sejam compatíveis entre si;

– seleccionar uma tinta com base numa opinião não fundamentada;

– seleccionar uma tinta com base apenas no preço.

2. A formulação da tinta

Durante o processo de fabrico, os componentes de uma tinta devem ser


misturados em várias proporções e numa dada sequência. O não cumprimento
das instruções traduz-se num problema de qualidade da tinta que pode
conduzir a defeitos, embora estes sejam diferentes nas tintas orgânicas e
inorgânicas [11]:

●● Tintas orgânicas – os defeitos são devidos a alterações na formulação, às


matérias-primas, proporções inadequadas, mistura insuficiente e outros pro-
cessos de fabrico.

●● Tintas inorgânicas - os defeitos são causados principalmente pelos veículos


metálicos usados na sua composição.

A formulação incorrecta da tinta pode dar origem ao aparecimento de algumas


patologias: descoloração, enrugamento, fissuração e pulverulência. Pode ainda
dar origem a erosão e ao aparecimento de microorganismos.

3. Aderência da tinta

Os defeitos de aderência são numerosos e podem ser catastróficos. Uma


das razões mais comuns é pintar sobre um substrato contaminado com, por
exemplo, sais solúveis que promovem empolamento quando a humidade ou o
vapor gasoso passam através de películas semi-permeáveis [11].

A deficiente aderência por parte da tinta pode dar origem ao aparecimento de


algumas patologias: empolamento, descamação, destacamento e destacamento
entre camadas.

72
Patologias em revestimentos por pintura

4. Tipo de substrato

Existem vários tipos de superfície de substratos com diferentes características,


como a densidade, porosidade e reactividade química, devendo assegurar-se
a adequada preparação da superfície que serve de base e os seus possíveis
defeitos. Por exemplo, o betão tem uma superfície não uniforme e não é
um material muito denso, é poroso e muito reactivo. Por outro lado, o aço é
muito denso, não poroso e menos reactivo do que os outros substratos. Esta
comparação simples ilustra as diferenças entre os tipos de substrato.

No caso da alvenaria rebocada e do betão, a perda de aderência, empolamento


ou destacamento da camada de revestimento ocorrem devido a:

– Reacções químicas e elevado teor de humidade;

– Formação de sais de cálcio sob a película;

– Bicos de alfinete, ar e água na superfície do substrato;

– Transmissão de água através do substrato.

Estas patologias aparecem essencialmente devido a defeitos de construção.

5. A aplicação

Os métodos de aplicação são a causa mais frequente relacionada com defeitos


de pinturas, pelo que existe um conjunto de cuidados indispensáveis para
garantir a eficiência e a qualidade do processo, relacionados com a selecção
dos materiais ou com a sua formulação, mas também, e principalmente, de
origem humana.

A falta de mão-de-obra qualificada está na origem da deficiente aplicação da


tinta devido a erros relacionados com mistura insuficiente, diluente inadequado,
espessura da camada incorrecta ou a aplicação em condições ambientais
adversas, entre outros.

O executante deve possuir os conhecimentos necessários para ler e interpretar


a informação do caderno de encargos da obra, integrar a informação das fichas
técnicas dos produtos de pintura e executar o trabalho correctamente. Deve
igualmente ter capacidade para avaliar as condições reais de aplicação e as
características da base, uma vez que qualquer falha numa destas áreas pode
comprometer a qualidade final do trabalho.

Existe um conjunto de factores, como a porosidade, alcalinidade, rugosidade e


humidade, que podem levar a erros de execução e que só ficam realçados após

73
Patologias em revestimentos por pintura

aplicação do esquema de pintura, dando origem ao aparecimento de algumas


patologias, como opalescência, repasse, formação de crateras, olhos de peixe,
falhas de tinta, ataque, casca de laranja, excesso de pulverização, bicos de
alfinete e escorridos.

Existem alguns aspectos que não poderão ser descurados na execução de um


trabalho de pintura:

– Realizar a inspecção da base antes de receber o esquema de pintura, para


que este não seja aplicado em substratos húmidos;

– Garantir que as condições de ambiente, em termos de humidade e temperatura,


são propícias para a realização do processo de pintura; condições ambientais
inadequadas podem estar na origem de patologias, tais como empolamento e
fraca aderência causados por condições de humidade.

– Garantir mão-de-obra qualificada de forma a evitar erros como, por exemplo,


áreas do substrato descobertas, com falhas de tinta, porque não foram
revestidas correctamente pelo executante.

– Cumprir os tempos de secagem dos produtos aplicados.

– Uma diluição inadequada, por exemplo, pode estar na origem de fraca


aderência; a flutuação dos pigmentos resulta em cor desigual; além disso,
após aplicação, a separação entre pigmentos e veículo pode resultar em
bicos de alfinete (pinholing) ou opalescência (blushing).

– Uma mistura incorrecta pode originar um revestimento muito fino, uma


distribuição de pigmentos não uniforme ou ambos, sendo que áreas inteiras
ou zonas localizadas poderão ter fraca aderência, cor irregular e fissuração.

6. Projecto da estrutura

Numerosos defeitos ocorrem devido a problemas provocados por zonas


angulosas de difícil acesso presentes nos edifícios e às suas dificuldades
inerentes, visto que por vezes, quem desenha uma estrutura, não prevê as
operações de revestimento. Contudo, com uma selecção adequada de materiais
e técnica de aplicação, conseguem ultrapassar-se alguns destes problemas 11].

7. Forças exteriores

Alguns ambientes particularmente agressivos (ex.: abrasão, erosão ambientes


químicos) a que o revestimento pode estar sujeito, poderão ser a principal
causa de falha. São frequentes os ambientes de água corrente que contêm

74
Patologias em revestimentos por pintura

várias concentrações de sais dissolvidos e fluxos de água contendo materiais


abrasivos, como partículas de areia [11].

Os tipos de falhas referidas podem actuar independentemente umas das outras


ou em conjunto com outras.

4.2. Patologias consoante as fases em que podem ocorrer

Como foi já referido, os defeitos que surgem depois da execução de um esquema de pintura
podem ser causados por factores de natureza diversa. As patologias daí decorrentes podem ter
origem em 3 momentos principais: durante a armazenagem da tinta ainda em lata, durante a
aplicação ou durante a fase de exposição das superfícies pintadas.

No presente capítulo, serão abordadas as patologias presentes nos revestimentos por pintura
em edifícios, nomeadamente em paredes interiores e exteriores rebocadas ou de betão. Serão
também apresentadas as principais causas desses problemas e as soluções mais indicadas para
evitar o aparecimento das mesmas.

No fim do trabalho, apresenta-se um quadro resumo com a lista de patologias de forma a


facilitar a consulta (Anexo 1).

4.2.1. Patologias durante a armazenagem da tinta

Ao serem disponibilizados para o mercado, os materiais de pintura devem ter


a qualidade garantida pelo fabricante, mediante um certificado de cumprimento das
especificações, decorrente de ensaios de controlo da qualidade. Entre o fabrico e a utilização,
decorre um período de armazenagem das tintas, durante o qual podem aparecer diversos
defeitos.

1. Embalagem opada – é a formação de gás, durante a armazenagem de produtos


de pintura, que provoca a dilatação da lata [1].

◊ Causas:

(1) Temperatura de armazenagem elevada pode provocar aumento de volume


do recipiente. Este pode ocorrer por duas razões:

– devido a um aumento de pressão por libertação do vapor do solvente;

– como resultado de uma variação da composição interna da tinta, com


a consequente libertação de gases.

75
Patologias em revestimentos por pintura

(2) Erros no fabrico do produto, nomeadamente misturando constituintes


inadequados, que posteriormente podem originar reacções químicas
inesperadas, com a consequente libertação de gases e aumento de
volume da embalagem.

◊ Soluções:

●● Dependendo da causa, a solução para as embalagens opadas passa por


um de dois procedimentos:

– devolver o produto, substituindo por outro lote;

– adequar as condições de armazenagem, cumprindo as instruções do


fabricante.

2. Espessamento – é o aumento na consistência de um produto de pintura, mas não


ao ponto de o tornar inutilizável [1].

◊ Causas:

(1) Esta situação pode ocorrer em


embalagens mal fechadas que,
por isso, favorece a evaporação
do solvente, provocando um
aumento da viscosidade do
produto.
Figura 34 – Espessamento

(2) Temperatura de armazenagem


desajustada.

– Temperaturas elevadas podem aumentar a pressão no interior da lata


devido à libertação de vapor do solvente, cuja fuga para o exterior
conduz a um aumento de viscosidade e, consequentemente, da
consistência;

– Temperaturas demasiado baixas causam igualmente um aumento de


viscosidade do produto, embora por mecanismo diferente, podendo
originar alterações irreversíveis no mesmo.

(3) A permanência por tempo excessivo em armazém, particularmente no caso


das tintas de base aquosa, pode dar origem à formação de aglomerados
que aumentam a viscosidade do produto.

76
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

●● Em certo tipo de produtos é possível reduzir a consistência através de uma


agitação adequada, até se aproximar da consistência pretendida.

●● Corrigir a consistência do produto através da adição de um solvente/diluente


apropriado.

●● Armazenar a embalagem num local com as condições de temperatura


indicadas pelo fabricante, geralmente a cerca de 18 ± 5ºC.

3. Formação de pele – consiste na formação de uma pele sobre a superfície do


produto de pintura, durante a armazenagem em lata ou bidão [1].

◊ Causas:

(1) O deficiente fecho da embalagem pode levar a que, por um lado, haja
evaporação do solvente e, por outro lado, possibilita a entrada de oxigénio
e humidade, podendo provocar a reticulação. Ambas as situações levam à
formação da película superficial.
(2) Temperaturas de armazenagem elevadas podem provocar um aumento de
pressão por libertação no interior do recipiente e liberta vapor do solvente
que, ao sair da embalagem, permite que se forme a película superficial.
Está também relacionada com o deficiente fecho das embalagens.

◊ Soluções:

●● No caso da pele se encontrar na forma de uma película homogénea, que


ocupa toda a superfície da embalagem, deve soltar-se essa película junto
dos bordos em redor da embalagem e tentar retirá-la por inteiro.

●● No caso da pele se encontrar fragmentada, a solução poderá passar por um


processo de peneiração ou retirada desses fragmentos separadamente.

4. Gelificação – consiste na alteração irreversível do estado físico de um produto de


pintura, que forma um gel com características impróprias para aplicação [28].

◊ Causas:

(1) Embalagens mal fechadas permitem a entrada de oxigénio e humidade


provenientes do ar, o que pode provocar a gelificação do produto devido a
uma reacção de reticulação de alguns ligantes.

(2) Temperatura de armazenagem demasiado elevada pode desencadear


reacções de reticulação de alguns ligantes, transformando o produto num
gel.

77
Patologias em revestimentos por pintura

(3) A longa permanência em armazém de alguns tipos de produtos promove


reacções de autoreticulação lenta dos ligantes, ao longo do tempo,
originando produtos gelificados.

◊ Soluções:

●● Devido à irreversibilidade dos processos químicos que ocorrem no produto,


a única solução passa por substituir as embalagens por outras.

5. Sedimentação – consiste na deposição de um resíduo no fundo de uma embalagem


de produto de pintura. Um sedimento compacto não pode ser redisperso por simples
agitação [1].

◊ Causas:

(1) Embalagens mal fechadas permitem a entrada de oxigénio e humidade


provenientes do ar, que podem provocar a reticulação de alguns ligantes,
que por sua vez formam compostos mais pesados, que se depositam no
fundo da lata.

(2) Temperaturas de armazenagem elevadas podem provocar a evaporação


do solvente, aumentando a quantidade de partículas sólidas no fundo da
lata. Podem igualmente provocar o início de reacções de reticulação de
alguns ligantes, originando o depósito de sólidos no fundo.

(3) A permanência em armazém por tempo excessivo favorece a deposição


por gravidade de partículas sólidas presentes no produto.

◊ Soluções:

●● Misturar cuidadosamente o produto dentro da embalagem, de forma a


homogeneizar bem a tinta.
●● Se for necessário corrigir a consistência da tinta, adicionar solvente e
misturar bem.
●● Quando ocorrem reacções químicas irreversíveis, é impossível voltar a
obter uma tinta homogénea por agitação; nestes casos, a solução passará
pela substituição do produto.

Naturalmente que, é da responsabilidade de quem vai executar o processo de pintura


conferir o estado dos produtos que serão usados, como forma de garantir que o eventual
aparecimento de qualquer patologia no esquema de pintura não terá origem em defeitos de
armazenagem dos produtos utilizados.

78
Patologias em revestimentos por pintura

4.2.2. Patologias na fase de aplicação

Algumas ocorrências durante a fase de aplicação e secagem das tintas, podem


também conduzir ao aparecimento de defeitos, tanto no interior como no exterior. Serão
abordadas, em seguida, algumas dessas patologias e as respectivas causas e soluções.

1. Ataque – consiste no amolecimento,


inchaço ou separação de uma
película seca do seu substrato,
resultante da aplicação de uma
demão suplementar ou da utilização
de produtos químicos, como
solventes [1].
Figura 35 – Ataque
◊ Causas:

(1) Tempo de secagem entre camadas insuficiente ou em condições


desfavoráveis. Pode acontecer quando se aplica uma demão sobre uma
camada ainda húmida.

(2) Retenção de excesso de solvente na camada final, que poderá provocar


a redissolução da camada inferior. Isto pode acontecer devido à aplicação
de camadas demasiado espessas.

(3) Incompatibilidades físico-químicas entre os produtos usados no esquema


de pintura, nomeadamente no que diz respeito à agressividade do solvente
do produto aplicado sobre uma camada mais sensível.

(4) Incompatibilidades entre diferentes camadas do mesmo produto aplicados


por procedimentos diferentes, em cada demão. (Exemplo: uma camada
aplicada a trincha e a seguinte aplicada recorrendo à pistola, usando tintas
de borracha clorada.)

◊ Solução:

●● Remoção total ou parcial do revestimento aplicado, seguido da preparação


adequada da superfície. Efectuar então a repintura com produtos
quimicamente compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e
respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

2. Bicos de alfinete – é a presença de pequenos orifícios na película, semelhantes


aos que são feitos por um alfinete [1].

79
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 36 – Bicos de alfinete

◊ Causas:

(1) Entrada de ar no interior da embalagem, em qualquer altura do processo


de uso, que se liberta depois da aplicação do produto, deixando pequenos
furos na superfície.

(2) Utilização de solventes com velocidades de secagem lentas e permitindo,


por isso, a introdução de resíduos atmosféricos na camada aplicada, que
se libertam posteriormente originando bolhas que, quando rebentam,
formam os pequenos orifícios na superfície.

(3) A secagem demasiado rápida da camada superficial face ao interior da


mesma, acontecendo o mesmo que no ponto 2.

(4) Não cumprimento do tempo de secagem entre a aplicação de camadas


pode levar a que a evaporação do solvente da camada interna forme furos
na camada seguinte.

(5) Presença de humidade em excesso, que pode reagir quimicamente com


alguns constituintes da tinta, promovendo a libertação de gases, que dão
origem a pequenos orifícios.

◊ Solução:

●● Esperar que a película seque por completo e, em seguida, fazer


uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,
“despoeiramento” e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente
compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os
tempos de secagem entre demãos.

3. Casca de laranja – é um defeito que origina uma película com aspecto parecido
com a textura da superfície de uma laranja [1].

80
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 37 – Casca de laranja

◊ Causas:

(1) Uso de metodologia incorrecta no manuseamento e aplicação do produto


com pistola, como por exemplo a reduzida distância entre o bico da pistola
e a superfície a pintar, o uso de pressão desadequada ou a abertura do
bico mal regulada.

(2) Defeitos do produto de pintura, como sejam uma formulação desadequada,


viscosidade demasiado elevada, diluentes desadequados ou mesmo o
produto mal misturado.

(3) Insuficiente tempo de secagem entre a aplicação de camadas ou demãos.

(4) Temperatura de aplicação ou base de suporte desadequadas.

◊ Solução:

●● Esperar que a película seque por completo e, seguidamente fazer uma pre­
paração adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, des­poeiramento
e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,
seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de
secagem entre demãos.

4. Encosturado – zona visível onde uma camada de tinta se estende ao longo de


uma camada adjacente de tinta acabada de aplicar [1].

Figura 38 – Encosturado

81
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) Secagem demasiado rápida do produto devido à utilização de um


solvente de evaporação rápida, o que origina uma defeituosa ligação ou
sobreposição entre áreas contíguas.

(2) Má execução quando a área a pintar é excessivamente grande: a utilização


de uma metodologia inadequada poderá levar a que a camada aplicada
em primeiro lugar seque antes de ser aplicada a camada seguinte, de
sobreposição.

◊ Solução:

●● Efectuar a repintura utilizando um produto de pintura compatível, mas que


contenha solventes menos voláteis, que evaporem mais lentamente. Além
disso, restringir o tamanho das áreas de aplicação para poder controlar os
tempos de secagem em função das áreas adjacentes.

5. Enrugamento – é a formação de pequenas rugas ou ondulações numa película de


material de pintura, durante a secagem [1].

Figura 39 – Enrugamento

Causas:

(1) Camada demasiado espessa, poderá dar origem a que seque à superfície,
mas não o interior, que permanece húmida; como consequência, quando o
interior secar, a camada sofre contração por perda de volume e acaba por
enrugar.

(2) Aplicação da segunda demão com a primeira demão ainda húmida por
não cumprimento dos tempos de secagem;
Deficiente formulação do produto, que não cumpre as condições
especificadas.

82
Patologias em revestimentos por pintura

(3) Diferenças de temperatura significativas entre o produto a aplicar e a


superfície que lhe serve de suporte. Este facto vai influenciar a secagem
entre o interior e a superfície da película.

(4) Camada demasiado espessa, poderá dar origem a que seque à superfície, mas
não o interior, que permanece húmida; como consequência, quando o interior
secar, a camada sofre contração por perda de volume e acaba por enrugar.

(5) Aplicação da segunda demão com a primeira demão ainda húmida por
não cumprimento dos tempos de secagem;

(6) Deficiente formulação do produto, que não cumpre as condições


especificadas.

(7) Incompatibilidades físico-químicas entre os produtos utilizados no esquema


de pintura, como o uso de solventes fortes sobre camadas mais sensíveis,
ou a aplicação de camadas mais rígidas sobre camadas mais macias.

(8) Camada ainda húmida, exposta a um ambiente de humidade elevada.

◊ Soluções:

●● Neste caso a solução depende da extensão do defeito. Esperar que a película


seque por completo, antes de proceder a uma lixagem ou escovagem até
desaparecer o enrugamento, despoeiramento e lavagem; como alternativa
pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco. Após
preparação adequada da superfície efectuar a repintura aplicando produtos
quimicamente compatíveis, seguindo as indicações dos fabricantes e
respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

6. Escorridos – são irregularidades locais na espessura de uma película, causadas


pelo movimento descendente de um produto de pintura, durante a secagem numa
posição vertical ou inclinada. Se originam pequenos escorridos podem chamar-se
pingos, lágrimas ou gotículas; grandes escorridos podem chamar-se cortinas [1].

◊ Causas:

(1) Diluição excessiva do produto, que fica demasiado fluido, tornando a


evaporação do solvente mais lenta, impedindo uma boa aderência da
película ao substrato.

(2) Película demasiado espessa, onde o solvente fica retido demasiado


tempo, permitindo algum escorrimento de tinta.

83
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 40 – Escorridos

(3) Secagem demasiada lenta devido à utilização de solventes pouco voláteis.

(4) Erro na preparação do produto, permanecendo este mais fluido por adição
de secante inadequado ou em quantidade mal doseada.
Tempo de secagem insuficiente entre a aplicação de camadas ou demãos.

(5) Viscosidade reduzida do produto de pintura.

◊ Solução:

●● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por


completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e
lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.
Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar
a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de
secagem e condições favoráveis.

7. Espumas – é a formação de bolhas, temporárias ou permanentes, numa película


aplicada [1].

◊ Causas:

(1) Falta de aplicação de um primário selante de poros, em superfícies


porosas, que levará à libertação para o interior da película do ar contido
no interior dos orifícios, formando bolhas.

(2) Adição de um produto antiespuma desadequado à formulação, originando a


formação de bolhas no produto de pintura, que permanecem na película seca.

(3) Método de aplicação desadequado ou mal executado, como a utilização


de força excessiva com a trincha ou utilização da pistola de pintura com
elevada pressão, que incorpora ar no interior da película.

(4) Condições de humidade inadequadas, que poderão originar reacções


químicas com alguns compostos presentes nos produtos de pintura, cuja
consequente libertação de gases origina a formação de bolhas.

84
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Solução:

●● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por


completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e
lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.
Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar
a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de
secagem e condições favoráveis.

8. Flutuação de cor – consiste na separação de um ou mais pigmentos de um produto


de pintura contendo mistura de pigmentos diferentes, causando estrias ou zonas
de cor diferente sobre a superfície do produto de pintura [1].

◊ Causas:

(1) Incompatibilidades físico-químicas entre os diferentes tipos de pigmentos


que fazem parte da composição do produto de pintura, dando origem a
uma mistura heterogénea, que por sua vez depois de seca pode provocar
uma distribuição irregular na película.

(2) Incompatibilidade dos pigmentos perante o ambiente envolvente quer em


termos da natureza da base, quer em termos do ambiente atmosférico e
respectivas condições de exposição.

◊ Soluções:

●● A solução deste defeito deve ser avaliada consoante a extensão do mesmo.


Assim, a solução poderá passar por esperar que a película seque por completo,
efectuado a lixagem ou escovagem e lavagem e consequente repintura. Ou
poderá ser executada a remoção total ou parcial do revestimento, também
depois de seco, executando então a repintura. Esta repintura, em ambos
os casos, deverá ser antecedida da respectiva preparação adequada da
superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando
todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

9. Formação de crateras – aparecimento numa película de pequenas depressões


circulares, que persistem após a secagem [1].

◊ Causas:

(1) Podem ter origem em rebentamentos de bolhas presentes na superfície


da película, que dão origem a empolamentos.

85
Patologias em revestimentos por pintura

(2) Podem aparecer devido à


presença de contaminantes
na mistura, que são
provenientes de diversas
origens, tais como o ar, o
material usado para pintar ou
ainda a base de aplicação,
podendo igualmente ter
Figura 41 – Formação de crateras
uma composição variada
(fibras, óleos, sujidade, etc.).

(3) Aplicação de diluentes desadequados como gasolina, querosene, etc.

(4) Fluidez do produto apresentar uma viscosidade demasiado elevada

(5) Ocorrência de correntes de ar durante a fase de aplicação da tinta

(6) Incompatibilidade química entre alguns componentes formulados na tinta.

◊ Solução:

●● Em função da extensão do defeito, pode esperar-se que a película seque por


completo e depois efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento e
lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.
Em seguida, fazer uma preparação adequada da superfície e por fim efectuar
a repintura com produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de
secagem e em condições favoráveis.

10. Marcas de trincha – aparecimento durante o processo de aplicação da tinta de


estrias aproximadamente rectilíneas
e paralelas entre si, que se mantêm
visíveis depois de seco [28].

◊ Causas:

(1) Produto demasiado viscoso,


com más propriedades de
escoamento, pode dar origem
a uma película irregular ao Figura 42 – Marcas de trincha
longo da superfície de base.

(2) Escolha de trinchas desadequadas, nomeadamente trinchas de pêlo


demasiado duro para determinados produtos de pintura.

86
Patologias em revestimentos por pintura

(3) Concentração volumétrica de pigmentos demasiado elevada no produto


de pintura, impede o seu total envolvimento pelo ligante, que se torna
insuficiente.

(4) Aplicação de uma camada sobre uma camada anterior que ainda não se
encontra completamente seca.

(5) Aplicação de uma camada, sobre outra que apresente já estes defeitos.
Este facto levará a que a nova camada se apresente moldada à que lhe
serve de base.

(6) Superfície de base demasiado porosa, o que leva a que o solvente seja
absorvido em demasia, dificultando o espalhamento e o nivelamento do
produto na superfície.

(7) Demasiadas passagens com a trincha. Esta acção prejudica o


espalhamento e favorece o aparecimento de marcas de trincha, causando
igualmente heterogeneidade na espessura.

(8) Temperatura ambiente demasiado elevada durante o processo de


aplicação, que poderá causar a secagem demasiado rápida de algumas
zonas, antes de efectuada a totalidade do espalhamento.

(9) Emprego de aditivos reológicos desadequados no produto.

(10) Metodologia ou instrumentos de aplicação desadequados para o produto.

(11) Produto fora de prazo, ou fora do tempo de vida útil.

◊ Solução:

●● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação
adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e
lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,
seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de
secagem entre demãos.

11. Opalescência – aspecto leitoso que por vezes se desenvolve durante a secagem
da película de um produto de pintura transparente e que é devido à humidade do
ar e/ou à precipitação de um ou mais constituintes sólidos do produto de pintura
transparente [1].

◊ Causas:

(1) Secagem da superfície pintada em ambiente de humidade excessiva,


favorece a absorção de água, podendo apresentar um aspecto leitoso.

87
Patologias em revestimentos por pintura

(2) Aplicação de solventes de evaporação rápida, conduzem à condensação


e cristalização da humidade durante a fase de secagem da camada
superficial.

(3) Existência de incompatibilidades físico-químicas entre ligantes, podendo


levar à sua precipitação

◊ Solução:

●● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação
adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e
lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,
seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de
secagem entre demãos.

12. Repasse – difusão de uma substância corada através de uma película, proveniente
do interior e produzindo manchas ou alterações de cor indesejáveis [1].

◊ Causas:

(1) Pode acontecer quando algum componente corado da base de aplicação


ou da camada adjacente é parcialmente solúvel no solvente usado na
camada de acabamento, podendo assim ser arrastado para a superfície
da película, depositando-se.

◊ Solução:

●● Esperar que a película seque por completo e, depois, fazer uma preparação
adequada da superfície, nomeadamente a lixagem, despoeiramento e
lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente compatíveis,
seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de
secagem entre demãos.

13. Retracção – aparecimento numa película de zonas de espessura não uniforme,


que variam na extensão e na distribuição [1].

◊ Causas:

(1) Má preparação da superfície, permitindo que nela fiquem resíduos de


sujidade, tais como óleos ou silicones.
(2) Presença de solventes fortes, que atacam o ligante de camadas de pintura
subjacentes.

88
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Solução:

●● Em função da extensão do defeito, deve esperar-se que a película seque por


completo e, depois, efectuar a sua lixagem ou escovagem, despoeiramento
e lavagem ou pode fazer-se a remoção total ou parcial do revestimento seco.
Em seguida, efectuar a repintura com produtos compatíveis, respeitando os
tempos de secagem e em condições favoráveis.

4.2.3. Patologias na fase de vida útil

As paredes exteriores da maior parte dos edifícios estão permanentemente expostas


a condições ambientais variáveis, que constituem um factor adverso para a resistência dos
seus acabamentos, particularmente no que se refere aos revestimentos por pintura. Ainda
assim, existem determinadas actividades que se desenvolvem no interior dos edifícios que
contribuem grandemente para a degradação das pinturas em paredes internas. Deste modo,
é possível distinguir anomalias características das superfícies exteriores, bem como das
superfícies interiores.

Os defeitos que podem ocorrer durante a chamada fase de uso, ou durante a vida útil
do edifício, bem como as respectivas possíveis causas, e como os reparar são:

1. Amarelecimento – aparecimento e expansão de uma cor amarelada na superfície,


ao longo da vida útil da película de tinta ou produto similar [28].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito tem a ver com a acção dos agentes
atmosféricos, tais como radiação solar, temperatura, chuvas, humidade,
etc. A acção destes agentes sobre o ligante presente na película altera as
suas propriedades, em maior ou menor grau consoante a sua natureza
química, dando origem a este defeito.

◊ Soluções:

●● Fazer uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,


despoeiramento e lavagem. Efectuar a repintura com produtos quimicamente
compatíveis com o revestimento e resistente às condições ambientais a que
o edifício está sujeito, seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando
todos os tempos de secagem entre demãos.

2. Bronzeamento – é a alteração na cor da superfície de uma película, dando o as-


pecto de bronze envelhecido [1].

89
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito prende-se com a incidência da radiação solar
em determinados pigmentos, que não são adequados para se aplicarem em
pinturas exteriores.

◊ Soluções:

●● Efectuar uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem


ou escovagem, despoeiramento e lavagem. A repintura deve ser feita com
produtos com pigmentos adequados para o exterior, seguindo as indicações
dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

3. Descoloração – consiste na perda de cor de uma película de um produto de pintura [1].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito


tem a ver com a acção dos
agentes atmosféricos, tais como
radiação solar, temperatura,
atmosferas poluídas ou
quimicamente agressivas, bases
de aplicação quimicamente
agressivas, etc. A acção destes
Figura 43 – Descoloração
agentes sobre o ligante ou
os pigmentos constituintes
da película, altera as suas
propriedades, dando origem a
este defeito.

◊ Soluções:

●● Fazer uma preparação adequada da superfície, nomeadamente a lixagem,


despoeiramento, lavagem e secagem. Efectuar a repintura com produtos
quimicamente compatíveis com o revestimento e resistente às condições
ambientais a que o edifício está sujeito, seguindo as indicações dos fabricantes
e respeitando todos os tempos de secagem entre demãos.

4. Destacamento – é a separação de placas de película do seu substrato devido


a uma perda de aderência [1]. Também pode ser designado por delaminação,
despelamento ou exfoliação.

90
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 44 – Destacamento devido a humidade por Figura 45 – Destacamento


capilaridade

◊ Causas:

(1) Condições de aplicação desfavoráveis, nomeadamente humidade elevada


e baixa temperatura. Este ambiente envolvente durante o processo de
aplicação, poderá conduzir à existência de humidade em excesso na base
de suporte, levando ao destacamento.

(2) Ocorrência de infiltrações, que consequentemente levam à presença de


humidade em excesso na superfície de aplicação. Este defeito poderá
acontecer devido a defeitos de construção, tais como fissuras, remates
deficientes, etc.

(3) Deficiente preparação da superfície, que ao conter sujidades de vários tipos,


tais como gorduras, poeiras, resíduos de tinta esfoliada ou pulverulenta,
podem formar zonas de reduzida aderência que levam ao consequente
destacamento.

(4) Aplicação feita sob temperaturas elevadas ou em presença de correntes de


ar fortes, as quais provocam uma secagem demasiado rápida da película,
e por consequência diminuem de forma relevante a aderência à base de
aplicação.

(5) A formulação do revestimento por pintura inadequada para o tipo de


exposição que o mesmo irá sofrer, nomeadamente quando está perante
possíveis ataques químicos.

(6) Preparação da superfície de base desadequada para executar uma


repintura. Se o peso apresentado pela nova camada de tinta for demasiado
elevado, poderá ser suficiente para conseguir arrancar zonas de película de
uma demão antiga, que tenha falta de coesão.

(7) Ausência de aplicação de produto que promova a aderência entre camadas,


ou inadequada aplicação do mesmo durante o processo de preparação do
esquema de pintura.

91
Patologias em revestimentos por pintura

(8) Ausência de aplicação de primário ou aplicação de primários inadequados.

(9) Solventes usados são incorrectos ou desadequados. Esta escolha influencia


a tensão superficial e a viscosidade do produto a usar de tal forma, que
poderá tornar ineficaz a molhagem da superfície de base, diminuindo
grandemente a aderência da película à base.

(10) A superfície de base apresenta-se demasiado rígida e lisa, características


que diminuem muito a aderência da película..

(11) Existência de incompatibilidades físico-químicas entre a base de suporte e


o produto aplicado.

(12) Desrespeito pelos tempos de secagem entre aplicação de demãos, que


poderão provocar diversos problemas que reduzem a aderência do produto
à base.

(13) Erros de doseamento na formulação de produtos compostos por dois


componentes, os quais podem dar origem a produtos com características
diferentes das desejadas ou esperadas.

(14) Envelhecimento natural do revestimento por pintura.

◊ Soluções:

●● Em função da extensão do destacamento (se é localizado ou se atinge a totalidade


da superfície), devem ser usadas as metodologias adequadas de preparação
de superfície, tendo em conta a natureza da base de aplicação, efectuando
a decapagem ou a raspagem. Após verificação do grau de degradação da
base, e se for necessário (no caso de apresentar fissuras, fendas, podridão,
etc.) deverá proceder-se à sua reparação. Em seguida, realizar a pintura ou
repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis
seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando criteriosamente os
tempos de secagem entre demãos.

5. Eflorescências – é um fenómeno que


ocorre quando sais hidrossolúveis migram
de uma película seca ou do substrato
para a superfície e formam um depósito
cristalino [1]. Este defeito poderá aparecer
sob a forma de depósitos brancos cristalinos
pulverulentos de fraca coesão ou na forma Figura 46 – Eflorescência

92
Patologias em revestimentos por pintura

de crostas, formando depósitos compactos. É um defeito que poderá dar origem a


outro, devido a essas deposições, pois formam-se machas e dão-se alterações de
cor nesses locais [28].

◊ Causas:

(1) A principal causa deste defeito está descrita na definição, e prende-se com
a formação de depósitos cristalinos, por migração e evaporação de água
contendo sais solúveis que provêm da base de suporte. Estes sais podem
ter diversas origens:

– Rebocos novos que contêm hidróxido de cálcio e este ao ser arrastado


para a superfície, reage com o CO2 do ar, produzindo carboneto de
cálcio, que consequentemente se deposita, dando origem a manchas
brancas;

– Alterações físico-químicas dos materiais constituintes das paredes.

– Águas que aparecem por capilaridade, trazendo do solo sais solúveis,


que mais tarde se depositam.

– Acções microbiológicas, que permitam formação de sais.

– Atmosfera contaminada com CO2, SO2, etc, que depois de reagir com
as águas pluviais, poderá dar origem a condições propícias para a
formação de sais.

◊ Soluções:

●● Eliminação ou redução das fontes de humidade que possam alastrar no


interior do suporte, utilizando métodos adequados. Remover as eflorescências
por escovagem ou lavagem. Depois da superfície se encontrar completamente
seca, realizar a repintura, aplicando métodos adequados e produtos
quimicamente compatíveis seguindo as indicações dos fabricantes, e
respeitando criteriosamente os tempos de secagem entre demãos.

6. Empolamento – É a deformação convexa numa película, causada pelo


descolamento de uma ou mais camadas constituintes de uma de uma película [1],
dando origem a relevos arredondados, em forma de bolha.

◊ Causas:

(1) Condições ambientais desfavoráveis à aplicação, nomeadamente humidade


em excesso (na superfície de suporte) e temperaturas demasiado baixas.

93
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 47 – Empolamento

(2) Infiltrações devido a defeitos de construção, que provocam retenção de


humidade em excesso na base de aplicação. Defeitos de construção que
podem ser fissuras, remates incipientes, parapeitos sem rasgo lacrimal
para drenagem, etc.

(3) Desrespeito pelos tempos de secagem entre demãos, que pode fazer com
que os solventes da camada interior, se escapem, originado as bolhas
localizadas, na nova camada.

(4) Camadas demasiado espessas. Este facto pode provocar uma secagem
superficial demasiado rápida em relação ao interior, levando à retenção de
solvente, que mais tarde, quando se libertar, pode originar as bolhas localizadas.

(5) Camada de base contaminada com partículas de origem salina, ou aditivos e


solventes residuais de produtos usados. A presença destes, entre camadas
poderá fazer com que apareçam as bolhas formadas por soluções aquosas
diluídas, como resultado do fenómeno de osmose.

(6) Incompatibilidades químicas entre base de aplicação e produto a aplicar,


reagindo entre si e dando origem a libertações gasosas, que por sua vez
provocam a formação das bolhas.

(7) Temperatura ambiente demasiado elevada na altura da aplicação, ou


exposição directa ao sol, provocando uma secagem demasiado rápida da
parte superficial da camada em relação ao seu interior, mantendo-se esta
parte húmida. Mais tarde, quando essa humidade, proveniente do solvente
se libertar, pode originar as bolhas localizadas.

(8) Metodologia ou equipamentos desadequados para o tipo de material a


pintar ou para o produto a usar.

94
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

●● Em função da maior ou menor extensão e intensidade do empolamento, a


solução poderá passar por efectuar a lixagem ou escovagem ou por executar
a remoção total ou parcial do revestimento. Após verificação do grau de
degradação da base, e se for necessário (apresentar fissuras, fendas, podridão,
etc.) deverá proceder-se à sua reparação e preparação da superfície. Realizar a
repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis
seguindo as indicações dos fabricantes, e respeitando criteriosamente os
tempos de secagem entre demãos.

7. Exsudação – consiste na migração dos componentes líquidos de um produto de


pintura, para a superfície de uma película [1].

◊ Causas:

(1) Preparação desadequada da superfície antes de receber o esquema de


pintura.

(2) Desrespeito pelos intervalos de tempo entre demãos. Tempos demasiado


curtos, podem resultar na aplicação de uma camada sobre outra, quando
esta ainda se encontra húmida. Com o passar do tempo, esta humidade
tem tendência a migrar para a superfície.

(3) Condições ambientais desfavoráveis para o processo de aplicação,


nomeadamente quando se está perante ambientes demasiado húmidos ou
paredes expostas a elevada condensação após a aplicação.

◊ Soluções:

●● Condicionar a base de aplicação até que ocorra a exsudação completa do


produto existente no seu interior. Dependendo da extensão remover o material
exsudado ou executar a remoção parcial ou total do revestimento por pintura e
efectuar a repintura, incluindo um selante no esquema de pintura a executar.

●● Esperar que o revestimento por pintura seque por completo, procedendo


depois à limpeza da superfície, removendo o material exsudado e realizar a
respectiva repintura, utilizando produtos quimicamente compatíveis, seguindo
as indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem
entre demãos.

95
Patologias em revestimentos por pintura

●● Em função da extensão do problema, se é localizado ou se atinge a


totalidade da superfície, poderá proceder-se à remoção parcial ou total
do revestimento. Caso não seja necessária a remoção, deverá proceder-
-se à lixagem e lavagem da superfície e, em seguida, realizar a repintura.
Devem ser aplicados métodos adequados e em condições de humidade e
temperatura adequadas, ou utilizar endurecedores apropriados e compatíveis,
seguindo as indicações dos fabricantes e respeitando criteriosamente os
tempos de secagem entre demãos.

8. Fissuração – são rupturas de uma película seca [1]. Corresponde à existência


de fendas nos revestimentos por pintura que poderão ser superficiais ou mais
profundos, atingindo toda a espessura do revestimento [28].

Existem diversos tipos de fissuração, variando na extensão e na profundidade, que


são descriminados em seguida:

●● Fendilhamento – semelhante à fissuração, mas com fissuras mais profundas e


mais largas.

●● Fissuração a espessuras elevadas – fissuração profunda que aparece durante


a secagem de produtos de pintura,
quando são aplicados em camadas
mais espessas.

●● Fissuração fina – fissuras finas


distribuídas de forma regular por
toda a película.

●● Fissuração por frio – fissuras


que resultam das condições
Figura 48 – Fissuração
ambientais onde a superfície se
encontra exposta a temperaturas baixas.

●● Patas de galinha – fissuras superficiais que partem de um ponto em comum,


alastrando pela superfície, fazendo lembrar as patas de uma ave.

●● Pele de crocodilo – fissuras ao longo de toda a superfície da película, formando


aproximadamente figuras poligonais regulares.

96
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) As movimentações estruturais do substrato podem provocar fissuração e


retracção, porque mesmo um produto muito bem formulado, pode não ter
elasticidade suficiente para resistir às variações dimensionais da superfície.

(2) Incompatibilidades físico-químicas e mecânicas dos produtos de pintura


com a base de suporte. Existem alguns exemplos mais comuns, como
acabamentos rígidos (p.e. epoxídicos), em camadas mais macias, como
produtos acrílicos ou vinílicos de elevado teor em cargas.

(3) Desrespeito pelos tempos de espera entre demãos. O facto de pintar uma
superfície que ainda se encontra húmida, pode levar a que a secagem da
camada exterior ocorra antes, e quando se dá a secagem por completo
da camada interior, a exterior não tem capacidade de acompanhar essas
variações dimensionais, dando origem a fissuras.

(4) Aplicação de camadas demasiado espessas, provocando a fissuração a


espessuras elevadas.

(5) Uso de produtos desadequados para as condições ambientais de


exposição, nomeadamente uso de produtos de interior em exterior, ou
produtos sem formulação adequada para atmosferas agressivas, quer em
termos químicos, quer em termos de exposição solar. No caso do excesso
de radiação solar em revestimentos que não foram formulados para tal
ambiente, as alterações químicas que ocorrem dão origem a revestimentos
pouco elásticos e quebradiços.

(6) Envelhecimento natural da película de revestimento por pintura, que com o


passar do tempo vai diminuindo a sua resistência às variações mecânicas
do suporte, bem como aumentando de rigidez. Estas alterações dão-se
principalmente ao nível do ligante, devido ao fenómeno da reticulação.

◊ Soluções:

●● Para solucionar este problema, é necessário ter em conta qual o tipo de


fissuração que se trata. Assim, se estiver perante uma fissuração superficial,
que atinja apenas a camada de acabamento, a solução passa por uma
lixagem superficial, seguida de repintura.

●● Nos casos mais graves de fissuração profunda, deverá ser executada a


remoção total ou parcial do revestimento, utilizando os métodos adequados
tendo em conta o tipo de superfície de base e os produtos nela usados.

97
Patologias em revestimentos por pintura

A repintura deverá ser antecedida da respectiva preparação adequada da


superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando
todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

9. Intumescimento – este defeito corresponde ao aumento no volume de uma


película, resultante da absorção de líquidos ou de vapor [1].

◊ Causas:

(1) Formulações desadequadas, nas quais são usados ligantes com grande
apetência para a absorção de solventes.

◊ Soluções:

●● É necessário ter em conta se o intumescimento é localizado ou se propaga


à maior parte da superfície da película. Assim, deverá ser removido parcial
ou totalmente, utilizando os métodos adequados à superfície em questão e
aos produtos utilizados. A repintura deverá ser antecedida de uma apropriada
preparação da superfície, bem como executada com produtos compatíveis e
respeitando todos os tempos de secagem e em condições favoráveis.

10. Manchas – zonas dos revestimentos por pintura onde é possível identificar
diferenças de brilho ou coloração em relação à restante superfície [28].

◊ Causas:

(1) A causa poderá estar na qualidade da base de aplicação, visto que se


esta for demasiado porosa, poderá absorver em demasia o ligante do
acabamento (pintura em monocamada). A ausência de primário (pintura em
multicamada) ou a sua aplicação inadequada, também poderão ser causas.

(2) Aplicação de uma camada de revestimento de reduzido poder de cobertura,


sobre uma zona anteriormente manchada ou reparada.

(3) Desenvolvimento de fungos, algas ou bolor, dão origem a manchas escuras,


acastanhadas ou esverdeadas com formas irregulares. Estes aparecem
e propagam-se em ambientes de humidade elevada, com temperaturas
elevadas ou mal ventilados, particularmente em cantos e topos de muros.

(4) Algumas reacções químicas entre constituintes dos produtos de pintura


e elementos presentes na atmosfera, nomeadamente entre compostos
de chumbo ou mercúrio presentes nos produtos de pintura e o dióxido de
enxofre presente no ar. Esta reacção dá origem a sulfuretos de chumbo ou
mercúrio, que apresentam cor escura.

98
Patologias em revestimentos por pintura

(5) Paredes localizadas junto a lareiras ou fornos, também podem apresentar


manchas escuras devido à combustão.

(6) A superfície acabada de pintar, ficar exposta às chuvas ou humidade, pode


levar a que alguns constituintes do produto de pintura voltem a dissolver-
se na água. Estes, ao serem transportados pela água, poderão formar
manchas semelhantes a pingos de água na superfície, depois da água
evaporar.

(7) Presença de humidade em excesso durante a fase de secagem.

(8) Preparação inadequada da superfície, ficando esta com resíduos de


decapantes ou outros produtos, que mais tarde poderão reagir com
os constituintes do esquema de pintura executado, dando origem ao
aparecimento de manchas.

(9) Acumulação de gorduras, óleos ou fumo de tabaco, formando manchas


amareladas, normalmente junto ao tecto ou parte superior das paredes.

(10) Migração do interior do esquema de pintura para a superfície de constituintes


com acção surfactante. Em geral, alteram as características dos elementos
superficiais, dando origem a manchas de cor amarelada ou acastanhada.
Este fenómeno de migração é favorecido se a aplicação e secagem do
esquema ocorrer em condições de humidade elevada e temperatura
reduzida.

(11) Existência de aquecimentos murais, montados nas paredes, que estimulam


a acumulação de pó presente no ar.

◊ Soluções:

●● É necessário ter em conta se o defeito é localizado ou se ele se estende à


maior parte da superfície do revestimento. Primeiramente deverá ser executada
uma limpeza ou lavagem superficial. Se este processo não der resultados
satisfatórios, o revestimento deverá ser removido parcial ou totalmente,
utilizando os métodos adequados à superfície em questão e aos produtos
utilizados. A repintura deverá ser antecedida da apropriada preparação da
superfície, bem como executada com produtos compatíveis e respeitando
todos os tempos de secagem e em condições favoráveis.

11. Pegajosidade – Consiste na propriedade de uma película de permanecer pegajosa,


após a secagem ou cura [1].

99
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Causas:

(1) Este defeito poderá ficar a dever-se a alterações químicas totais ou parciais
que o constituinte usado como endurecedor ou acelerador, sofre ainda
durante as fases de formulação ou armazenagem do produto (devido a erros
de armazenagem que foram abordados anteriormente). Estas alterações
podem fazer com que o produto perca a capacidade de executar a secagem
completa da película.

(2) Condições ambientais de aplicação desadequadas, particularmente


temperaturas reduzidas, que provocam uma redução bastante importante
na velocidade do processo de secagem.

(3) Introdução de polímeros termoplásticos com uma temperatura transição


vítrea desadequada.

◊ Soluções:

●● A solução para o caso (1) passa por remover parcial ou totalmente o


revestimento e depois executar a repintura. Esta deverá ser antecedida da
respectiva preparação adequada da superfície, bem como executada com
produtos compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e condições
favoráveis. Nos restantes casos poderá ser suficiente aplicar um novo esquema
de pintura compatível com o revestimento, executado em condições ambientais
favoráveis e respeitando todos os tempos de secagem necessários.

13. Perda de brilho – é a perda da propriedade óptica de uma superfície, caracterizada


pela sua facilidade de reflectir a luz [1].

◊ Causas:

(1) Envelhecimento natural do revestimento por pintura.

(2) Deposição de sujidade de variados tipos na superfície.

(3) Espessura desadequada de camadas.

(4) Alterações no produto ainda durante a fase de armazenagem.

(5) Deficiente preparação do produto para aplicação, tanto em termos dos


solventes (desadequados) usados, como em termos da viscosidade
(desadequada) resultante da dissolução, etc.

(6) Condições ambientais desfavoráveis.

(7) Uso de revestimento para interior, em exterior.

100
Patologias em revestimentos por pintura

◊ Soluções:

●● Proceder a uma preparação adequada da superfície, nomeadamente


lixagem ou escovagem, seguida de lavagem e secagem. Efectuar a repintura
com produtos quimicamente compatíveis com o revestimento, seguindo as
indicações dos fabricantes e respeitando todos os tempos de secagem entre
demãos.

13. Perda de poder de cobertura – é a perda de capacidade de um produto de pintura


ou de um revestimento, para mascarar, por opacidade, a cor ou as diferenças de
cor do substrato [28].

◊ Causas:

(1) Produto de pintura utilizado apresenta fraco poder de opacidade.

(2) Deficiente preparação do produto para aplicação, tanto em termos dos


solventes (desadequados) usados, como em termos da viscosidade
(desadequada) resultante da dissolução, etc.

(3) Espessura de camada insuficiente.

◊ Soluções:

●● Aplicação de um produto compatível com o existente, que apresente um poder


de opacidade apropriado, adequadamente preparado e aplicando camadas
com a espessura necessária.

14. Pulverulência – aparecimento de um pó


fino e pouco aderente na superfície de
uma película, proveniente da degradação
de um ou mais dos seus constituintes.
Pode também ser designado por farinação
ou gizamento [28].
Figura 49 – Pulverulência
◊ Causas:

(1) Envelhecimento natural do revestimento.

(2) Aplicação de produtos inadequados, como formulações de interior aplicadas


em exterior ou não recomendados para determinados ambientes mais
agressivos.

(3) Incompatibilidades químicas entre base de aplicação e produto a aplicar.

101
Patologias em revestimentos por pintura

(4) Produtos com uma concentração volumétrica de pigmentos levada,


favorecendo a erosão e o desgaste provocado pela acção mecânica dos
agentes atmosféricos.

◊ Soluções:

●● Executar uma limpeza do material pulverulento, seguido da preparação da


superfície para receber um novo esquema de pintura; se necessário, aplicar um
primário agregador para aumentar a aderência entre a base de aplicação e o
novo esquema de pintura. A repintura deverá ser executada com produtos
compatíveis e respeitando todos os tempos de secagem e em condições
favoráveis.

●● Caso a simples limpeza não seja suficiente, proceder à remoção parcial ou total
do revestimento, utilizando os métodos adequados à superfície em questão
e aos produtos utilizados. A repintura deverá ser antecedida da adequada
preparação da superfície, bem como executada com produtos compatíveis e
respeitando todos os tempos de secagem e condições favoráveis.

NOTA: Em ambos os casos deverá ter-se atenção à formulação dos produtos,


nomeadamente no que diz respeito à concentração volumétrica de
pigmentos.

15. Retenção de sujidade – tendência de uma película seca para reter na


sua superfície sujidades que não conseguem ser removidas por uma simples
limpeza [1].

◊ Causas:

(1) Concentração volumétrica de pigmentos demasiado elevada na tinta.

(2) O produto aplicado tem na sua composição um ligante que se apresenta


vulnerável à acção de temperaturas mais elevadas, especialmente durante
o verão, amolecendo o revestimento.

(3) Erro de formulação que faz com que a película depois de seca apresente
índices de pegajosidade elevados

◊ Soluções:

●● Fazer uma preparação adequada da superfície, começando pela limpeza.


O acabamento deve ser feito com produtos compatíveis com o existente,
tendo em conta todas as exigências no que diz respeito ao tipo de ligante,

102
Patologias em revestimentos por pintura

Figura 50 – Retenção de sujidade

concentração de pigmentos e restantes aditivos que poderão ser empregues,


de maneira a cumprir os requisitos do local onde será aplicado. Respeitar as
indicações dos fabricantes.

16. Saponificação – é um defeito que consiste na transformação do seu veículo fixo


em sabões solúveis, provocando a dissolução total ou parcial do revestimento [28].

◊ Causas:

(1) A causa deste problema prende-se com a aplicação de produtos


desadequados, para as condições de exposição de alcalinidade que a
superfície irá encontrar.

◊ Soluções:

• Remover o revestimento afectado, utilizando métodos adequados, tendo


em conta a natureza da base de aplicação e dos produtos existentes. Se-
guidamente efectuar a preparação da superfície e aplicar o esquema de
pintura. Esta repintura deverá ser executada recorrendo a produtos compa-
tíveis com os existentes e resistentes às condições de exposição a que vão
estar sujeitos, nomeadamente no que se refere à alcalinidade.

103
Conclusão e desenvolvimentos futuros

5. Conclusão e desenvolvimentos futuros

5.1. Conclusão

É conhecida a tradição dos revestimentos por pintura e a sua ampla utilização desde há muito
tempo no nosso país. A contínua evolução na execução dos revestimentos em geral e, em particular,
nos revestimentos por pintura, tanto ao nível dos produtos a utilizar, como ao nível dos processos e
das tecnologias de aplicação, tem permitido melhorar substancialmente a qualidade e durabilidade dos
mesmos. Ainda assim, apesar de todas estas melhorias e por melhor consumado que seja o processo
de execução do esquema de pintura, acabam sempre por, mais cedo ou mais tarde, aparecer defeitos
e patologias, relacionados com variados factores, uns controláveis, outros não.

As patologias nos revestimentos por pintura, nomeadamente as que foram abordadas no presente
trabalho, existentes em paredes interiores e exteriores de betão ou de alvenaria rebocada, podem ter
origem nos trabalhos de construção anteriores à pintura, e que se manifestam apenas após a pintura
ou mesmo algum tempo depois. Outras podem ter relação directa com a fase de execução do esquema
de pintura, nomeadamente com a fase de preparação da superfície que vai ser pintada. Ainda assim,
embora na sua maioria, possam ser evitadas ou os seus efeitos minimizados se forem cumpridas
correctamente todas as etapas da execução de um esquema de pintura, algumas patologias acabam
por aparecer naturalmente com o decorrer do tempo, devido à exposição ao meio ambiente e ao tempo
de vida útil previsível para uma pintura.

A primeira fase deste trabalho consistiu numa introdução, onde se fez um breve enquadramento
histórico de modo a situar o início do aparecimento das tintas e da sua utilização pelo Homem e as
diferentes razões que levaram a essa utilização.

No capítulo seguinte (capítulo 2) foi feita uma descrição dos diversos componentes que integram
actualmente os produtos de pintura, nomeadamente as tintas, com indicação da função de cada
componente na mistura. Foram também descritos os diferentes processos através dos quais é formada
a película seca originada pelos produtos de pintura e em seguida enumeraram-se os principais tipos
de tintas. Foram ainda apresentadas três tipos diferentes de classificação para as tintas: classificação
baseada na natureza do principal solvente usado no fabrico da tinta, classificação baseada na natureza
do ligante ou resina, componente importante no mecanismo de formação da película e classificação
baseada no fim a que se destinam, que é a mais usual na rotina diária.

No capítulo seguinte (capítulo 3) foram descritas as tecnologias de aplicação das tintas. Para tal,
foi realçada a importância dos factores ambientais envolventes no local onde o sistema de pintura

105
Conclusão e desenvolvimentos futuros

vai desempenhar a sua função, factores esses que são fundamentais para perceber o grau de
exposição mais ou menos agressivo a que o revestimento vai estar sujeito, permitindo, deste modo,
escolher o sistema de pintura mais adequado a cada local. Os aspectos regulamentares não foram
descurados, bem como outros aspectos que podem ser relevantes para a realização deste trabalho.
Mais concretamente foi apresentada uma lista que enumera os mais diversos critérios de selecção
dos produtos de pintura, que devem ser ponderados quando se pretende escolher o produto mais
adequado.

Em seguida foram abordados diferentes técnicas e processos de preparação de superfícies,


para betão e para alvenaria rebocada, bem como utensílios e os respectivos cuidados a ter.

Concluiu-se que tanto o processo de identificação do ambiente envolvente como a preparação


da superfície que vai receber o esquema de pintura são determinantes para o sucesso do esquema
de pintura aplicado, tendo em conta que grande parte das anomalias e defeitos que aparecem
são causados por incompatibilidades físicas ou químicas entre a base de suporte e os produtos
aplicados.

Por fim foram referidos diferentes processos de aplicação de produtos de pintura, detalhando a
ordem dos esquemas de pintura, as diferentes possibilidades técnicas e utensílios e os cuidados a
ter tanto ao nível dos modos de execução, como ao nível dos equipamentos de segurança pessoal.

No último capítulo (capítulo 4) foram descritas as principais patologias que podem ser encontradas
nos revestimentos por pintura, apontando as principais causas para o seu aparecimento. Neste
âmbito, foram consideradas 3 fases principais durante as quais podem aparecer os defeitos:
durante a armazenagem da tinta, durante a sua aplicação e ao longo da sua vida útil. Deste modo,
foi possível concluir que a monitorização de parâmetros relevantes em cada uma das fases permite
minimizar o aparecimento de algumas patologias ao longo da vida útil das pinturas, adicionando
qualidade ao processo. De modo a auxiliar este processo de monitorização foi elaborada uma ficha
de controlo de conformidades do processo de execução de pinturas, desde a armazenagem até à
limpeza final do material. Essa ficha pode ser consultada no anexo 2.

Concluiu-se ainda que alguns defeitos, visíveis apenas no final da execução, podem ter origem
em procedimentos incorrectos de armazenagem dos produtos de pintura. Assim, apesar da evidente
importância dos cuidados durante a fase de execução dos esquemas de pintura, é indispensável o
cumprimento das condições de armazenamento dos produtos, pois as falhas que possam ocorrer
nesta fase, podem comprometer os resultados finais do revestimento a executar.

106
Conclusão e desenvolvimentos futuros

5.2. Desenvolvimentos futuros

O presente trabalho abre espaço para a abordagem mais profunda de alguns temas, que
podem contribuir para alargar o conhecimento numa perspectiva mais prática.

Assim, e depois de perceber a importância do procedimento de preparação de superfícies


no processo de execução de revestimentos, nomeadamente por pintura, propõe-se para trabalhos
futuros os temas que em seguida se apresentam:

I. Manual de preparação de superfícies para aplicação de revestimentos por pintura

Sugere-se que sejam apresentadas e desenvolvidas as metodologias que devem ser


usadas na construção civil, para preparação de superfícies que vão receber esquemas
de pintura, englobando superfícies em betão e alvenaria rebocada, superfícies metálicas
(ferro, aço e alumínio), madeira, etc.

II Manual de preparação de superfícies para aplicação de revestimentos, excepto pin-


tura

Sugere-se que sejam apresentadas e desenvolvidas as metodologias que devem ser


usadas na construção civil, para preparação de superfícies que vão receber outros tipos
de revestimentos distintos da pintura, tais como revestimentos pétreos, cerâmicos, de
cortiça, entre outros.

107
Bibliografia

Bibliografia
[1] ISO 4618:2006, Paints and varnishes –Terms and definitions. ISO, first edition, October 2006.

[2] EUSÉBIO, M. Isabel; RODRIGUES, M. Paula. Anomalias em pinturas de paramentos exteriores


e interiores de paredes de alvenaria e respectivas soluções de reparação. Cadernos Edifícios 05.
Lisboa: LNEC, 2005.

[3] ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TINTAS, disponível na internet em www.aptintas.pt, consultado


em 28.08.2012 e em 23.09.2012.

[4] BBC News, “Earliest evidence of art found”, 2 May 2000, disponível na Internet em http://news.
bbc.co.uk/2/hi/science/nature/733747.stm, consultado em 28.08.2012.

[5] EUSÉBIO, M. Isabel; RODRIGUES, M. Paula. Produtos de pintura na construção civil. Consti-
tuição e utilização. Cadernos Edifícios 03. Lisboa: LNEC, 2004.

[6] ROOF COATINGS MANUFACTURERS ASSOCIATION, disponível na Internet em


www.roofcoatings.org, consultado em 28.08.2012.

[7] NOGUEIRA, José Luís, “Noções Básicas de Tintas e Vernizes”. Porto: ARCP – Associação Rede
de Competências em Polímeros, 2008.

[8] “Maya Paint Secrets revealed” (disponível na Internet em http://accelrys.com/resource-center/


case-studies/archive/studies/maya.html, consultado em 31.08.2012) in Scientific American
Discovering Archaeology, August 2000, p. 46.

[9] MOURA, Ana R. S. – “Características e Estado de Conservação de Pinturas em Fachadas –


Caso da Alta de Coimbra”. Coimbra: [s.n.]. 2008. Dissertação apresentada ao Departamento de
Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra para a
obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil na Especialidade de Construções.

[10] SANTANA, Carlos – “História da Pintura e da Cor” in “Tintas e Pintura”. Disponível na internet
em http://tintasepintura.blogspot.pt/2011/03/historia-da-pintura-e-da-cor.html e consultado em
09.11.2012.

[11] BORTAK, Tom N. – “Guide to Protective Coatings: Inspection and Maintenance”. United States
Department of Interior, Bureau of Reclamation, Technical Service Center, Sep 2002.

[12] ROOBOL, Norman R. – “Industrial Painting & Powdercoating: Principles and Practices”. 3rd
edition, Cincinnati (Ohio): Hanser Gardner Publications, 2003.

[13] ENGINEER MANUAL – “Painting: New Construction and Maintenance”. EM 1110-2-3400,


Washington DC: Department of the Army, US Army Corps of Engineers, 30 April 1995.

109
[14] WATERS, Jean S. et al. – “Environmentally Conscious Painting”. USA: Kansas Small Business
Environmental Assistance Program (SBEAP) (a consortium of the Center for Environmental
Education and Training at The University of Kansas, the Pollution Prevention Institute at Kansas
State University, and the Center for Technology Application at Wichita State University), under
contract from the Kansas Department of Health and Environment. June 1996.

[15] NOGUEIRA, José Luís – “Pinturas de Fachadas”. Departamento de Engenharia Civil, da Escola
Superior de Tecnologia, da Universidade do Algarve (Apresentação oral), 19 de Abril de 2006.

[16] FIÚZA, Miguel A. A. – “Estudo da eficiência de revestimentos fotocatalíticos na decomposição


dos NOx e suas propriedades auto-limpantes”. Lisboa: [s.n.]. 2009. Dissertação apresentada ao
Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, para obtenção do grau de Mestre em
Engenharia Química.

[17] ENGENHARIA CIVIL – Dicionário online de Engenharia Civil e Construção Civil. Disponibilizado
na internet em www.engenhariacivil.com/dicionario, consultado em 28.08.2012.

[18] COV (Compostos Orgânicos Voláteis) – Agencia Portuguesa do Ambiente. Diaponibilizado


na net em www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=82&sub2ref=314&sub3ref=322,
consultado em 14.10.2012.

[19] BS 6150:2006 – “Painting of buildings. Code of Practice”. British Standard.

[20] BS EN ISO 12944-2:1998, “Paints and varnishes. Corrosion protection of steel structures by
protective paint systems. Classification of environments”.

[21] CEPRA – “Lixas e Processos de Lixagem”. Lisboa: IEFP. 2005.

[22] EUSÉBIO, M. Isabel; RODRIGUES, M. Paula. – “Revestimentos por pintura para a construção
civil. Preparação de superfícies”. 2ª ed. Lisboa: LNEC, 2002.

[23] ASTM D4259. 2003 “Standard Practice for Abrading Concrete”. ASTM (American Society for
Testing Materials)

[24] ALMEIDA, Adriano – “Pintura e Acabamento”, Brasil (São Paulo): UNITAU (Universidade de
Taubaté). (www.ebah.com.br/content/ABAAAAmrUAH/04-pintura-acabamento)

[25] CIN, consultado em www.cin.pt/

[26] Decreto-lei n.º 242/2001, de 31 de Agosto

[27] Decreto-lei n.º 348/93, de 1 de Outubro

[28] LNEC. “Patologia e reabilitação das construções. Revestimentos por pintura - Análise de defeitos
e técnicas de diagnóstico”. Lisboa: Relatório 404/05 - NMPC, LNEC, 2005
Bibliografia

Sites consultados:

– www.mom.arq.ufmg.br/mom/09_ida/idabanco4/cadastro/p_cadastro/equipamento/Corpo_cen-
tro_equipamento_tudo.php?idEquipamento=37, consultado em 30.10.2012

– www.mosqueteiros.com/media/voce_uploads/1078264104a439f6e21170.pdf, consultado em
01.11.2012.

– www.rolpin.pt/index.php, consultado em 01.11.2012

– www.castor.com.br/Initial.aspx, consultado em 11.11.2012

– www.serfer.pt/catalogo.php?p=12&cat=10 , consultado em 11.11.2012

– http://palnorte.pt/index.php?route=product/category&path=1107, consultado em 11.11.2012

– www.verytools.pt/pistola-pintura-lvlp-rp8612-r200-s.html, consultado em 11.11.2012

– www.pqi.com.br/dq/dql2.html, consultado em 11.11.2012

111
Anexos

ANEXOS

Anexo 1 – Patologias em revestimentos por pintura

Anexo 2 – Ficha de controlo de conformidade na execução de pinturas

113
ANEXO 1 - Patologias em revestimentos por pintura

Patologia Descrição Causas Reparação

Amarelecimento Desenvolvimento de - Acção de agentes atmosféricos - Limpeza da superfície;


(yellowing) uma cor amarela ao sobre o produto de pintura - Repintura com produtos
longo da vida útil da (alteram a estrutura química do compatíveis com o revestimento
película de um produto ligante). existente e resistentes às
de pintura. condições de exposição.
Ataque Amolecimento, inchaço - Aplicação de uma camada de tinta - Remoção total ou parcial do
(lifting) ou separação de uma sobre uma camada ainda húmida. revestimento e repintura com
película seca do seu - Retenção de solvente na camada produtos compatíveis e aplicados
substrato, resultante da de acabamento, que redissolve a nas condições especificadas.
aplicação de uma camada subjacente.
demão suplementar ou
por influência de um - Incompatibilidade físico-química
solvente. entre os produtos utilizados no
esquema de pintura.

Bicos de alfinete Presença de pequenos - Técnicas de aplicação incorrectas: - Corrigir qualquer técnica de
(pinholing) orifícios na película, - pistola muito afastada da aplicação incorrecta.
semelhante aos que superfície; - Se o produto não secou, escovar
são feitos por um
- pressão de pulverização baixa; e aplicar uma camada adicional.
alfinete.
- pressão de atomização elevada. - Se a película já secou, realizar
- Libertação de ar após aplicação correctamente todo o trabalho de
do produto. preparação da superfície e
efectuar a repintura com produtos
- Evaporação rápida do solvente. adequados, seguindo as
- Não cumprimento do tempo de indicações dos fabricantes e
secagem entre demãos. respeitando tempos os de
secagem.
Bronzeamento Alteração na cor da Incidência da radiação solar sobre Realizar uma lixagem ou
(bronzing) superfície de uma determinados pigmentos escovagem, lavagem e repintura
película, dando o com produtos contendo
aspecto de bronze pigmentos adequados.
envelhecido
Casca de laranja Aspecto da película - Metodologia incorrecta no - Realizar correctamente o trabalho
(orange peel) parecida com a textura manuseamento da pistola: de preparação da superfície:
da superfície de uma - distância desajustada entre a lixagem ou escovagem,
laranja. pistola e a superfície; despoeiramento e lavagem.
- baixa pressão de pulverização Efectuar a repintura, com
para uma boa atomização. produtos compatíveis, corrigindo
- Defeitos inerentes ao produto: as técnicas de aplicação e
respeitando os tempos de
- viscosidade elevada;
secagem entre demãos.
- produto mal misturado;
- evaporação rápida do solvente.
- Insuficiente tempo de secagem
entre demãos.
- Temperatura ambiente ou da base
de aplicação inadequadas.
Descoloração Perda de cor de uma Acção de agentes atmosféricos: Lixagem, lavagem, secagem e
(fading) película de um produto - radiação solar; posterior repintura da superfície,
de pintura. executada com produtos
- temperatura; compatíveis com o revestimento e
- atmosferas poluídas; resistente às condições
- atmosferas quimicamente ambientais a que o edifício está
agressivas. sujeito.

1
Patologia Descrição Causas Reparação

Empolamento Deformação convexa - Condições ambientais (humidade Em função da maior ou menor


(blistering) numa película, causada e temperatura) desfavoráveis à extensão e intensidade do
pelo descolamento de aplicação. empolamento, poderá:
uma ou mais camadas - Defeitos de construção provocam - Efectuar a lixagem/escovagem
constituintes de uma infiltração e retenção de ou executar a remoção total ou
película. humidade. parcial do revestimento;
- Desrespeito dos tempos de - Verificado o grau de degradação
secagem entre demãos (os da base de aplicação,
solventes ao tentar escapar reparando-a no caso de ser
originam bolhas na interface das necessário;
camadas). - Preparação adequada da
- Camadas de tinta demasiado superfície;
espessas. - Repintura, executada com
- Incompatibilidade química do produtos compatíveis e
produto de pintura com a base de respeitando todos os tempos de
aplicação que, ao reagirem dão secagem e condições
origem a libertações gasosas que favoráveis.
por sua vez provocam a
formação das bolhas.
- Metodologia ou equipamentos
desadequados para o tipo de
material a pintar ou para o
produto a usar.
Encosturado Zona visível onde uma - Secagem demasiado rápida do - Reformulação do produto para
camada de tinta se produto origina uma defeituosa que tenha menor poder de
(lapping)
estende ao longo de ligação ou sobreposição entre evaporação.
uma camada adjacente áreas contíguas. - Restringir o tamanho das áreas,
de tinta acabada de - Deficiente execução quando a de maneira a poder controlar os
aplicar. área a pintar é excessivamente tempos de secagem entre áreas
grande. adjacentes.

Enrugamento Formação de pequenas - Camada demasiado espessa, - Executar correctamente todo o


rugas ou ondulações seca à superfície e o interior fica trabalho de preparação da
(wrinkling)
numa película de húmido; quando secar, a camada superfície, nomeadamente a
material de pintura sofre contração e enruga. limpeza, lixagem ou escovagem
durante a secagem. - Aplicação da segunda demão até desaparecer o enrugamento,
com a primeira demão ainda ou proceder à remoção
húmida por não cumprimento dos total/parcial do revestimento.
tempos de secagem. - Realizar a pintura com produtos
- Diferenças de temperatura compatíveis, seguindo as
significativas entre o suporte e o indicações dos fabricantes e
produto a aplicar. respeitando s tempos de
secagem entre demãos.
- Incompatibilidade físico-química
entre os produtos utilizados no
esquema de pintura.
- Exposição da película húmida a
condições de humidade elevada.

2
Patologia Descrição Causas Reparação

Escorridos Movimento descendente - Película demasiado espessa ou Após secagem e avaliada a


de um produto de pintura excesso de produto na camada extensão do defeito, a solução
(sagging)
durante a secagem, em permite o escorrimento da poderá passar por:
posição vertical ou tinta. - Realizar a preparação adequada
inclinada, que resulta em da superfície, nomeadamente
irregularidades na - Baixa viscosidade do produto de
pintura. efectuar a lixagem ou escovagem
camada seca. e lavagem ou proceder à
Pequenos escorridos - Produto demasiado fluido devido remoção total ou parcial do
podem chamar-se a diluição excessiva promove revestimento.
pingos, lágrimas ou zonas com menor aderência.
- Executar a repintura, utilizando
gotículas; grandes - Secagem da tinta demasiado produtos compatíveis e
escorridos podem lenta, devido a solventes pouco respeitando todos os tempos de
chamar-se cortinas. voláteis. secagem e condições favoráveis.
- Insuficiente tempo de secagem
entre a aplicação de camadas
ou demãos.
Espessamento Aumento na - Embalagens mal fechadas - Corrigir a consistência do
consistência de um permitem a evaporação do produto através da adição de
(thickening)
produto de pintura mas veículo volátil, aumentando a solvente/diluente adequado.
não ao ponto de o viscosidade do produto. - Armazenar a embalagem em
tornar inutilizável. - Temperatura de armazenagem ambientes de temperatura entre
inadequada pode aumentar a os 18ºC ±5ºC.
viscosidade da tinta e possibilitar - Agitar adequadamente o produto
a precipitação irreversível de até reduzir a sua consistência.
certo tipo de constituintes.
- Tempo de armazenagem
excessivo permite a formação de
aglomerados, que aumentam a
viscosidade do produto.
Espumas Formação de bolhas, - Falta de aplicação de primário Após secagem da película e de
temporárias ou com função selante em avaliada a extensão do defeito, a
(bubbling)
permanentes, numa superfícies porosas. solução poderá passar por:
película aplicada. - Aditivo antiespuma - Efectuar a lixagem ou
desadequado à formulação, escovagem e lavagem e
originando a formação de consequente pintura, ou
bolhas. - Proceder à remoção total ou
- Método de aplicação parcial do revestimento e
desadequado ou mal executado. realizar a preparação adequada
- Condições ambientais da superfície.
desadequadas, em relação à Executar a repintura, utilizando
presença de humidade produtos compatíveis e
excessiva. respeitando todos os tempos de
secagem e condições favoráveis.

3
Patologia Descrição Causas Reparação

Exsudação Migração dos - Preparação desadequada da - Precipitar a exsudação da base e


(sweating) componentes líquidos superfície antes de receber o remover o material exsudado ou
de um produto de esquema de pintura. remover o revestimento e
pintura para a - Intervalos de tempo entre demãos executar a repintura, incluindo
superfície de uma demasiado curtos. um selante no esquema de
película pintura.
- Condições ambientais
desfavoráveis ao processo de - Após secagem, limpar a
aplicação. superfície removendo o material
exsudado e realizar a repintura,
utilizando produtos compatíveis.
- Depois de avaliar se o problema
é localizado ou se atinge a
totalidade da superfície, proceder
à remoção parcial ou total do
revestimento.
Se não for necessária a remoção,
efectuar a lixagem e lavagem da
superfície e, depois, realizar a
pintura com métodos e nas
condições adequadas, seguindo
as indicações dos fabricantes, e
respeitando os tempos de
secagem entre demãos.
Fissuração Aparecimento de - Movimentações dimensionais da - Avaliar o tipo de fissuração.
rupturas numa superfície e, consequentemente, - Se for uma fissuração superficial,
(cracking)
película seca. estruturais do substrato, às quais que atinja apenas a camada de
mesmo um produto de pintura bem acabamento, a solução passa por
formulado não consegue ter uma lixagem superficial, seguida
elasticidade suficiente para resistir. de repintura.
- Incompatibilidades físico-químicas - Em casos mais graves de
e mecânicas dos produtos de fissuração profunda, deverá ser
pintura com a base de suporte. executada a remoção total ou
- Desrespeito pelos tempos de parcial do revestimento,
espera entre demãos. utilizando os métodos adequados
- Aplicação de camadas demasiado tendo em conta o tipo de
espessas, provocando a fissuração superfície de base e os produtos
a espessuras elevadas. nela usados.
- Uso de produtos desadequados - A repintura deverá ser
para as condições de exposição antecedida da preparação
ambiental. adequada da superfície e
executada com produtos
- Envelhecimento natural da película compatíveis, respeitando todos
de revestimento por pintura. os tempos de secagem e
condições favoráveis.
Flutuação de cor Separação de um ou - Incompatibilidades físico-químicas Consoante a extensão do defeito:
(floating) mais pigmentos de entre os tipos de pigmentos do - Esperar que a película seque por
um produto de pintura produto de pintura, donde resulta completo, efectuar a sua lixagem
contendo mistura de a sua separação e distribuição ou escovagem, despoeiramento
pigmentos diferentes, irregular na película. e lavagem.
causando estrias ou - Incompatibilidade dos pigmentos
zonas de cor - Executar a remoção total ou
com o ambiente de exposição. parcial do revestimento e
diferente sobre a
superfície do produto preparação adequada da
de pintura. superfície.
- Efectuar a repintura com
produtos compatíveis, aplicados
nas condições especificadas e
respeitando todos os tempos de
secagem e condições favoráveis.

4
Patologia Descrição Causas Reparação

Formação de Formação numa - Rebentamento de ampolas pre- Dependendo da extensão do


crateras (cratering) pelicula de pequenas sentes na superfície da película, defeito, após secagem da película:
depressões circulares com origem em empolamentos; - Efectuar a sua lixagem ou
que persistem após a - Presença de contaminantes no escovagem, despoeiramento e
secagem produto de pintura, de origem e lavagem;
composição variadas; - Remover total ou parcialmente o
- Formulação do produto: revestimento por pintura.
incompatibilidade química entre Após preparação adequada da
alguns constituintes; superfície, efectuar a repintura
- Diluentes desadequados; com produtos compatíveis
adequados e respeitando todos
- Viscosidade excessiva do
os tempos de secagem.
produto.
- Ocorrência de correntes de ar
durante a aplicação da tinta.
Formação de pele Formação de uma pele - Embalagens deficientemente - Se a pele cobrir toda a
(skinning) sobre a superfície de fechadas permitem evaporação superfície, cortar em redor das
um produto de pintura do solvente e fenómenos de paredes da embalagem,
na embalagem, durante reticulação. destacar e retirar.
a armazenagem. - Temperatura de armazenagem. - No caso de pele fragmentada,
retirar por peneiração.
Gelificação Transformação total ou - Embalagens mal fechadas. - Devido à irreversibilidade dos
(gelling) parcial do veículo de - Temperatura de armazenagem processos químicos que
uma tinta em “gel”, o demasiado elevada. ocorrem no produto, a única
qual torna impossível a solução passa por substituir as
sua aplicação, mesmo - Longa permanência em embalagens por outras.
após adição de armazém pode promover
solvente ou agitação. reacções de autoreticulação
lenta.
Intumescimento Aumento no volume de - Formulações desadequadas, - Consoante o defeito esteja
(swelling) uma película resultante nas quais são usados ligantes localizado ou se propague à
da absorção de com grande apetência para a maior parte da superfície da
líquidos ou de vapor absorção de solventes. película, deverá ser removido
parcial ou totalmente, utilizando
métodos adequados.
- Fazer a preparação adequada da
superfície.
- A repintura deverá ser executada
com produtos compatíveis e
respeitando todos os tempos de
secagem e condições favoráveis.

5
Patologia Descrição Causas Reparação

Manchas Zonas de cor ou brilho - Base de aplicação porosa ou - Avaliar se o defeito é localizado
diferente que aparecem ausência/aplicação inadequada ou se ele se estende à maior
(dots) no revestimento por de primário poderá resultar na parte da superfície do
pintura. absorção em excesso do ligante revestimento.
do acabamento. - Executar uma limpeza ou
- Desenvolvimento de fungos, lavagem superficial.
algas ou bolor, que aparecem e - Se este processo não resolver,
se propagam em ambientes remover parcial ou totalmente o
propícios. revestimento utilizando os
- Reacção química entre os métodos adequados à superfície
constituintes dos produtos de e aos produtos nela empregues.
pintura e elementos atmosféricos. - A repintura deverá ser
- Humidade em excesso durante a antecedida da respectiva
secagem. preparação adequada da
- Má preparação da superfície. superfície, bem como executada
com produtos compatíveis e
- Acumulação de gorduras, óleos respeitando todos os tempos de
ou fumos, formam manchas. secagem e condições
- Migração do interior para a favoráveis.
superfície de constituintes com
acção surfactante.
Marcas de trincha Aparecimento de estrias - Viscosidade do produto elevada. - Esperar que a película seque
(brush marks) rectilíneas e paralelas - Uso de trinchas desadequadas. por completo;
entre si, que se mantêm - Executar correctamente todo o
visíveis depois de seco. - Concentração volumétrica de trabalho de preparação da
pigmentos na mistura demasiado
elevada relativamente ao ligante. superfície, nomeadamente a
limpeza, lixagem ou escovagem,
- Aplicação de uma camada sobre e no caso de ser necessária, a
outra que ainda não está seca. lavagem da mesma;
- Aplicação de uma camada, sobre - Realizar a repintura, aplicando
outra que já tem estes defeitos. métodos adequados e produtos
- Superfície de base demasiado quimicamente compatíveis,
porosa dificulta o espalhamento seguindo as indicações dos
do produto na superfície. fabricantes, e respeitando
- Demasiadas passagens com a criteriosamente os tempos de
trincha. secagem entre demãos.

- Temperatura ambiente
demasiado elevada poderá
causar a rápida secagem antes
de efectuada a totalidade do
espalhamento.
- Uso de aditivos desadequados.
- Produto fora de prazo ou fora do
tempo de vida útil.
Opalescência Aspecto leitoso que por - Presença de humidade em Esperar que a película seque por
(blushing) vezes se desenvolve excesso durante a secagem da completo, efectuando a remoção
durante a secagem da superfície pintada, que absorve do revestimento, a preparação
película de um produto água e adquire um aspecto adequada da superfície e
de pintura transparente leitoso. executando a repintura, usando
e que é devido à - Utilização de solventes de produtos compatíveis e
humidade do ar e/ou à evaporação rápida, que respeitando os tempos de
precipitação de um ou condensam e cristalizam a secagem.
mais constituintes humidade durante a secagem da
sólidos do produto de película.
pintura transparente.
- Incompatibilidade físico-química
entre diferentes ligantes, podendo
originar a sua precipitação.

6
Patologia Descrição Causas Reparação

Pegajosidade Propriedade de uma - Alterações químicas totais ou - Remover parcial ou totalmente o


(after tack) película de permanecer parciais do aditivo usado como revestimento, executar a
pegajoso, após a endurecedor ou acelerador. preparação adequada da
secagem ou cura. - Formulação inadequada. superfície e, depois, a repintura
com produtos compatíveis e
- Condições ambientais de respeitando todos os tempos de
aplicação desadequadas que secagem e condições favoráveis.
retardam o processo de
secagem. - Poderá ser suficiente realizar um
novo esquema de pintura,
- Introdução de polímeros compatível com o revestimento
termoplásticos com uma existente, em condições
temperatura transição vítrea ambientais favoráveis e
desadequada. respeitando todos os tempos de
secagem necessários.
Perda de brilho Perda da propriedade - Envelhecimento natural do Proceder à lixagem ou
(loss of gloss) óptica de uma revestimento por pintura. escovagem, seguida de lavagem
superfície, - Deposição de sujidade na da superfície, seguida de
caracterizada pela sua superfície. preparação adequada da
facilidade de reflectir a superfície e repintura executada
luz. - Espessura desadequada de com produtos compatíveis e
camadas. respeitando todos os tempos de
- Alterações no produto ainda secagem e condições favoráveis.
durante a fase de
armazenagem.
- Deficiente preparação do
produto para aplicação.
- Condições ambientais
desfavoráveis.
- Uso de revestimento para
interior, em exterior.
Perda de poder de Perda da capacidade - Produto de pintura tem fraco Aplicação de um produto
cobertura de um produto de poder de opacidade. compatível com o existente, que
(hiding power) pintura ou de um - Deficiente preparação do apresente um poder de opacidade
revestimento para produto para aplicação, apropriado, correctamente
mascarar por preparado e em camadas de
opacidade a cor ou as - Espessura de camada espessura adequada.
diferenças de cor do insuficiente.
substrato
Pulverulência Aparecimento de um - Envelhecimento natural do - Executar uma limpeza do
(chalking) pó fino e pouco revestimento. material pulverulento, seguido
aderente na superfície - Aplicação de produtos da preparação da superfície com
de uma película, desadequados. aplicação, sempre que
proveniente da necessário, de um primário
degradação de um ou - Incompatibilidades químicas agregador.
mais dos seus entre base de aplicação e
produto a aplicar. - Se não for suficiente, remover
constituintes parcial ou totalmente o
- Produtos em que na sua revestimento, utilizando os
formulação existe uma métodos adequados à superfície
concentração de pigmentos em questão e aos produtos nela
demasiado elevada por unidade empregues. Fazer a preparação
de volume. adequada da superfície.
- Executar a repintura com
produtos compatíveis e
respeitando os tempos de
secagem.

7
Patologia Descrição Causas Reparação

Repasse Difusão de uma - Acontece quando algum - Após secagem da película


(bleeding) substância corada componente corado da base de efectuar a lixagem ou
através de uma aplicação ou da camada escovagem e lavagem e
película, proveniente adjacente é parcialmente solúvel consequente repintura,
do interior e produzindo no solvente usado na camada utilizando produtos compatíveis
uma mancha ou uma de acabamento, podendo ser contendo solventes inertes aos
alteração de cor arrastado para a superfície da constituintes da base de
indesejável. película, depositando-se. aplicação e respeitando todos os
tempos de secagem e condições
favoráveis.
Retenção de Tendência de uma - Concentração volumétrica de - Fazer uma preparação
sujidade película seca para reter pigmentos demasiado elevada. adequada da superfície,
(dirt retention) na superfície sujidades - O produto tem na sua começando pela limpeza;
que não são removidas composição um ligante - O acabamento deve ser feito
por uma simples vulnerável a temperaturas com produtos compatíveis com o
limpeza elevadas, amolecendo o existente, de maneira a cumprir
revestimento. os requisitos do local onde será
- Erro de formulação que origina aplicado;
película seca com índices de - Respeitar as indicações dos
pegajosidade elevados. fabricantes.
Retracção Aparecimento numa - Má preparação da superfície, - Após secagem da película
(cissing) película de zonas de permitindo que nela fiquem efectuar a lixagem ou
espessura não resíduos de sujidade, tais como escovagem e lavagem, e
uniforme, que variam óleos ou silicones. consequente repintura utilizando
na extensão e na - Presença de solventes fortes produtos compatíveis
distribuição. que atacam o ligante das respeitando todos os tempos de
camadas de pintura existentes. secagem e condições
favoráveis.
Saponificação Transformação do - Aplicação de produtos - Remover o revestimento
(saponification) veículo fixo em sabões desadequados para as afectado, utilizando métodos
solúveis, provocando a condições de exposição de adequados.
dissolução total ou alcalinidade que a superfície irá - Efectuar a preparação da
parcial do encontrar. superfície;
revestimento.
- Aplicar o esquema de pintura,
recorrendo a produtos
compatíveis e resistentes às
condições de exposição a que
vão estar sujeitos,
nomeadamente no que se refere
à alcalinidade.

8
FICHA DE CONTROLO DE CONFORMIDADE NA EXECUÇÃO DE PINTURAS

LOGOTIPO Dono de Obra:


Obra:
Material:
Fornecedor: Marca:
Modelo / Ref.ª: Lote: Nota de encomenda n.º:
Guia de remessa n.º: Data de recepção em obra:

Critério de
Nº Fase do processo Parâmetros Método A R Data
aceitação
1 Recepção dos materiais
Segundo caderno de encargos
1.1 Quantidade necessária Sim / Não
da obra
Fornecedor de tintas Segundo caderno de encargos
1.2 Sim / Não
previamente aprovado da obra
Embalagens seladas e Segundo caderno de encargos
1.3 Visual Sim / Não
intactas da obra
Segundo caderno de encargos
1.4 Prazo de validade suficiente Visual Sim / Não
da obra
Capacidade das embalagens
Segundo caderno de encargos
1.5 em concordância com o Visual Sim / Não
da obra
caderno de encargos
Certificar a presença de
1.6 todas as ferramentas Visual Sim / Não
indispensáveis
Segundo caderno de encargos
1.7 Primário adequado Sim / Não
da obra
Segundo caderno de encargos
1.8 Diluente adequado Sim / Não
da obra
Tintas de acabamento Segundo caderno de encargos
1.9 Sim / Não
adequadas da obra
2 Armazenamento
Local isento de luz solar Visual
2.1 Sim / Não
directa
Local com humidade relativa Medição HR < 80%
2.2
adequada
Altura de empilhamento não Visual
2.3 Sim / Não
excedida
3 Execução da tarefa
3.1 Condições Ambientais Temperatura ambiente Medição 5ºC > T > 35ºC
Humidade relativa Medição HR < 85%
Humidade da superfície Medição HS> 5%
Superfície exposta
Visual Sim / Não
directamente à luz solar
3.2 Preparação do suporte Seca Visual Sim / Não
Limpa Visual Sim / Não
Isenta de restos de tinta e
Visual Sim / Não
resíduos
Ausência de condensações Visual Sim / Não
superficiais
Colocação de isolamento
prévio em locais propícios à Visual Sim / Não
presença de humidade
Acabamento do suporte
Visual Sim / Não
conforme o projecto
3.3 Cor em concordância com a Visual
Inspecção da tinta na lata Sim / Não
amostra aprovada
Ausência de pele ou
Visual Sim / Não
espessamento
3.4 Preparação da tinta para Tinta homogeneizada Visual Sim / Não
aplicar Mistura correcta para tintas de Visual Sim / Não
vários componentes
Viscosidade adequada Visual Sim / Não
1
Critério de
Nº Fase do processo Parâmetros Método A R Data
aceitação
Técnica de aplicação da Utilização de ferramentas Visual
3.5 Sim / Não
tinta adequadas
Pintura executada de cima
para baixo e a última demão Visual Sim / Não
num só sentido
Bom espalhamento da tinta Visual Sim / Não
Rendimento obtido
semelhante ao esperado no Cálculo Sim / Não
projecto
Reparação das fissuras e Visual
3.6 Esquema de pintura
imperfeições
Sim / Não

Aplicação do Primário Visual Sim / Não


Tempo de espera entre Visual Sim / Não
camadas
Aplicação de camadas Visual Sim / Não
Intermédias
Tempo de espera entre Visual Sim / Não
camadas
Aplicação do acabamento Visual Sim / Não
Utilização do diluente Visual
3.7 Limpeza das ferramentas Sim / Não
adequado
Passagem posterior das
ferramentas por água e Visual Sim / Não
detergente
Secagem dos utensílios Visual Sim / Não
3.8 Condições de segurança:
Local da execução da Visual
3.8.1 Arejado e ventilado Sim / Não
pintura
Equipamento de Protecção Visual
3.8.2 Capacete Sim / Não
Individual
Luvas Visual Sim / Não
Óculos de protecção Visual Sim / Não
Protector facial com viseira Visual Sim / Não
Máscara de pintura Visual Sim / Não
Protecção auricular Visual Sim / Não
Botas Visual Sim / Não

Observações

2
Fotografias

Procedimento:
1. Esta ficha, juntamente com a respectiva Nota de Encomenda, deve ser entregue aos colaboradores responsáveis pela recepção dos
materiais e pela execução das operações.

2. Os colaboradores responsáveis pelas operações de recepção e execução da pintura devem:


 Assinalar/rubricar nos campos A (aprovado) / R (rejeitado);
 Descrever no campo Observações quaisquer anomalias que encontrem;
 Caso tenham dúvidas relativamente a qualquer das operações ou entendam que se deve proceder a qualquer correcção ou à devolução
do material, deverão comunicar de imediato o facto à Direcção de Obra;

3. A Direcção de Obra é responsável por:


 Esclarecer quaisquer dúvidas que lhe sejam colocadas;
 Decidir sobre a correcção de anomalias detectadas;
 Registar nesta folha qualquer esclarecimento ou correcção que entenda concretizar.
4. Este documento, devidamente preenchido, deve ser ser arquivado no processo da obra.

5. Sempre que se detectem defeitos nos materiais, deve assegurar-se que são identificados de modo a prevenir a sua utilização.

VERIFICAÇÃO / CONTROLO

Nome Função Assinatura / Data

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