Jean Piaget, ao longo de 50 anos de pesquisa sobre o psiquismo infantil,
concluiu que cada criança constrói, ao longo do processo de desenvolvimento, o seu próprio modelo de mundo. Afirmou existir pontos principais do desenvolvimento mental da criança como a própria ação do sujeito e o modo pelo qual isto se converte num processo de construção interna, isto é, de formação dentro de sua mente de uma estrutura em contínua expansão, que corresponde ao mundo exterior. Realizamos a aplicação de dois testes para avaliação do desenvolvimento lógico com base nas experiências piagetianas em duas crianças – uma com 5 anos de idade e a outra com 7 anos de idade. Pela idade das duas crianças podemos colocá-las no segundo estádio do desenvolvimento lógico, denominado objetivo- simbólico, que ocorre de aproximadamente 2 anos até cerca de 7 anos e caracteriza- se pela preparação e organização das operações concretas, tendo uma estrutura pré- operatória. Este estádio possui três subdivisões: A primeira acontece entre 2 a aproximadamente 4 anos – aqui aparece a função simbólica e o início da interiorização dos esquemas de ação em representações. Assim, instala-se a função simbólica em suas diferentes formas — a linguagem, o jogo simbólico, a imitação diferida e, provavelmente, os primórdios da imagem mental, concebida como uma imitação interiorizada. Predomina, nesta fase, a “transdução”, modelo de raciocínio primitivo, baseado em relações analógicas, que se orienta do particular para o particular. Ao lado desta e a ela relacionados, coexistem os pré-conceitos e as pré-relações, que permanecem a meio caminho do esquema de ação e do conceito. Os pré-conceitos são concretos e compostos de imagens, em lugar de serem esquemáticos e abstratos como são os conceitos. O raciocínio transdutivo tende a justapor os elementos e não a vinculá-los mediante apelos à necessidade lógica ou à causalidade física. (GOULART, Iris Barbosa, P. 23)
A segunda subdivisão acontece entre 4 a 5 anos e meio – surge aparecimento
de organizações representativas. As primeiras estruturas representativas que, nesse nível, revelam as interrogações a respeito dos objetos a serem manipulados, têm um caráter de dualidade dos estados e das transformações: enquanto os estados são pensados como configurações. E a terceira subdivisão acontece entre 5 e meio a aproximadamente 7 anos – aqui aparecem as regulações representativas articuladas; fase intermediária entre a não-conservação e a conservação. Início das ligações entre estados e transformações, tornando possível pensá-las sob forma semi-reversível. Apresentamos para a criança de 5 anos um teste de conservação espacial afim de avaliar sua capacidade quanto a conservação de tamanho ou comprimento em que a resposta para esta avaliação segundo Piaget, a criança deve ser capaz de responder que os objetos possuem o mesmo tamanho antes da manipulação e maior após a manipulação do objeto. Para a criança de 7 anos foi aplicado teste de conservação física avaliando sua capacidade quanto a conservação de quantidades, foi um teste sobre transvasamento dos líquidos. A mesma quantidade de água foi despejada em dois copos e logo após a água de um dos copos foi transferida para uma taça de menor altura com a mesma capacidade de armazenamento de líquido. A pergunta feita à criança sobre em qual recipiente havia mais água, espera-se que a resposta deve ser que não houve alteração – é a mesma quantidade de água em ambos os recipientes e ainda que a água retorne da taça para o copo – a água é a mesma, mostrando sua noção de reversibilidade por inversão. Sobre a conservação física, Piaget afirma que a conservação é uma característica do estádio operacional e concluiu que, antes de aproximadamente 6 anos os sujeitos parecem raciocinar apenas sobre os estados ou configurações, desprezando as transformações.
A partir da fase de operações concretas, entretanto, a criança dirá que “é a mesma
água; ela só foi despejada noutro copo, mas não se tirou nem acrescentou nada” (identidade simples ou aditiva) ou que se pode pôr, como estava antes, a água de B em A (e nesse caso tem-se a reversibilidade por inversão) -, pode, ainda, dizer que “um copo é mais estreito, mas é mais alto, por isto é a mesma coisa (compensação ou reversibilidade por reciprocidade de relações). (GOULART, Iris Barbosa, P. 29)
Sobre a conservação espacial Piaget afirma que no período operacional
concreto um certo número de invariantes de operações lógicas, correlacionadas ao espaço se estruturam. E uma das primeiras a se estabelecer é a conservação de tamanho que se dá por volta dos 7 anos. A conservação da superfície, assim como a conservação dos perímetros, também é alcançada por volta dos 7 anos. As operações infra-lógicas estão diretamente ligadas a construção do tempo e do espaço. Uma transformação operatória não modifica ao mesmo tempo; pode mudar-se a forma de um objeto e não modificar-se o seu volume, ou sua quantidade de massa. Há sempre uma invariante. É essa invariante do sistema de transformações que Piaget denominou noção ou esquema de conservação.