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(I)LEGITIMIIDADE DEMOCRÁTICA E OS CRITÉRIOS DE COMPOSIÇÃO

DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

RENE SAMPAR1

HENRIQUE FRANCO MORITA2

Resumo

A Constituição de 1988, ao propor um novo paradigma do controle de

constitucionalidade, bem como estabelecendo novos e amplos direitos sociais humanos,

com certa riqueza de detalhes e prolixidade, destacou o Supremo Tribunal Federal nas

grandes questões do país. Exsurge, então, a discussão importante acerca da legitimidade

democrática das decisões da Corte, pouco levada a cabo na esfera pública ou acadêmica.

Araújo (2006) sintetizou a escalada de poder do STF desde o texto original da

Constituição de 1988. As principais mudanças são:

a) A interpretação do STF, para a propositura da ADIn, restringiu o acesso ao exigir

comprovação de interesse e pertinência temática para se provocar o controle

constitucional. Criaram-se dois grupos de legitimados – universais e especiais, sendo que

o texto constitucional não os diferenciava (ADI 1.157, Min. Rel. Celso de Mello, 1994).

1
Mestre em Filosofia Política pela Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Filosofia Política
e Jurídica pela Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Direito Constitucional pelo Instituto
de Direito Constitucional e Cidadania. Professor de Direito Constitucional e Coordenador adjunto do
Curso de Direito da Faculdade Secal de Ponta Grossa-PR. Advogado.
2
Especialista em Direito Constitucional pelo Instituto de Direito Constitucional e Cidadania. Pós-
Graduando em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade Estadual de Londrina. Bacharel
em Direito pela Universidade Estadual de Londrina.
b) A EC n. 03-93 introduziu a ADC, que foi prevalentemente reconhecida como

inconstitucional, à época, pela doutrina (DIMOULIS; LUNARDI, 2013, p. 143).

Entretanto, o Supremo reconheceu a constitucionalidade da Emenda (ADC 1, 1993).

Entendeu ainda, mesmo sem previsão no texto constitucional, que caberia medida

cautelar na ADC, bem como efeito vinculante da decisão (ARAÚJO, 2006, p. 337).

c) A declaração de constitucionalidade do artigo 28 da Lei 9.868-99, que estendeu os

efeitos vinculantes presentes na ADC, introduzidos pela EC n. 03-93, garantiu à ADIn

um efeito criado por força de lei ordinária.

d) A EC n. 45-04 representa capítulo fundamental no processo de crescimento do vulto

do STF, pois introduziu a Súmula Vinculante.

Há que se perguntar se um poder maior não demandaria outro processo de ocupação da

Corte. Processo este que se mantém o mesmo desde 1988, com a indicação de “escolhidos

dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de

notável saber jurídico e reputação ilibada”, sendo que “serão nomeados pelo Presidente

da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal”,

conforme reza o artigo 101, CF.

A noção de “diálogos institucionais”, defendida por Mendes (2011), deflaciona a

importância de quem dá a “palavra final”, quem controla a constitucionalidade. O que o

autor defende é que o processo dialético da separação de poderes deliberativa, a longo

prazo, produz diálogos entre as instituições do Estado. Portanto, o fato de uma Corte

Constitucional dar a “última palavra” não impede que o Legislativo responda.

No entanto, conforme reconhece Mendes (2011, p. 250), ainda é relevante a questão sobre

quem dá a “última palavra” a curto prazo, pois as instituições demoram a responder.

Assim, deve-se refletir as possibilidades de qualificar os Poderes para que o diálogo


institucional seja mais pleno, como também relativizar as características do órgão que

controla a constitucionalidade.

A noção de presidencialismo de coalizão, formulada por Limongi e Figueiredo (1998),

bem como a concentração dos poderes da Corte versus o modelo de indicação dos

Ministros, já apresentada, podem ser úteis. Verifica-se que o Executivo controla a agenda

política do Legislativo, com negociações de cargos e medidas provisórias, donde decorre

um processo de formação de maioria parlamentar, em que o Executivo também acaba por

controlar o processo de indicação e nomeação dos Ministros do STF.

Entendendo que a Constituição estabeleceu o escrutínio dos candidatos pelo Senado com

o fim de legitimar, mesmo que indiretamente, aqueles que dariam a “última palavra”, tem-

se uma crise de legitimidade constatada. Eis aí a importância de se discutir novas formas

de diálogo institucional efetivo, não mais apenas entre a Corte e o Legislativo, mas

também entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, bem como a sociedade civil, na

formação de uma Corte mais representativa e independente.

Referências

ARAÚJO, Luiz Alberto David. O Acúmulo de Poder do Supremo Tribunal Federal e o

Controle Concentrado de Constitucionalidade. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de

Miranda; LIMA, Martorio Mont’Alverne Barreto. Diálogos Constitucionais: Direito,

Neoliberalismo e Desenvolvimento em Países Periféricos. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de Processo Constitucional – Controle

Concentrado e Remédios Constitucionais. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013.


LIMONGI, Fernando; FIGUEIREDO, Argelina. Bases Institucionais do

Presidencialismo de Coalizão. Lua Nova. 1998, n.44, pp. 81-106.

MENDES, Conrado Hübner. Controle de Constitucionalidade e Democracia. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008.

MENDES, Conrado Hübner. Direitos Fundamentais, Separação de Poderes e

Deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.

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