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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP/CE

Curso de Formação Profissional para a Carreira de Praças Policiais Militares do Ceará – CFPC/PM
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP/CE
Curso de Formação Profissional para a Carreira de Praças Policiais Militares do Ceará – CFPC/PM
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

CAMILO Sobreira de SANTANA


GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

ANDRÉ Santos COSTA


SECRETÁRIO DA SSPDS

POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ - PMCE

Ronaldo Mota VIANA – Cel PM Cmt Gr


COMANDANTE-GERAL DA PMCE

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

JUAREZ Gomes Nunes Júnior


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

Manuel Ozair Santos Júnior


SECRETÁRIO EXECUTIVO DA AESP|CE

NARTAN da Costa Andrade


COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE

Antônio CLAIRTON Alves de Abreu


COORDENADOR PEDAGÓGICO DA AESP|CE

Francisca ADEIRLA Freitas da Silva


SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE

CURSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA A CARREIRA DE PRAÇAS


POLICIAIS MILITARES DO CEARÁ – CFPCPM

DISCIPLINA
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL

CONTEUDISTA
Adailton Sales dos Santos – Maj PM (Especialista)

REVISÃO DE COERÊNCIA DIDÁTICA


José Walter de Andrade Junior
Francisco MATIAS Filho
Leandro Gomes PIRES
LUCIANA Moreira

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva
• 2017•
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP/CE
Curso de Formação Profissional para a Carreira de Praças Policiais Militares do Ceará – CFPCP/PM
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL

SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.............................................................................................................................. 6
2. DEFINIÇÃO, FUNÇÃO E PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL ........................................................................................... 6
2.1 Definição: ............................................................................................................................................................ 6
2.2 Função: ............................................................................................................................................................... 6
2.3 Princípios: ........................................................................................................................................................... 7
2.3.1. Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal .................................................................................................. 7
2.3.2. Princípio da Anterioridade da Lei Penal ......................................................................................................... 7
2.3.3. Princípio da Culpabilidade .............................................................................................................................. 7
2.3.4. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .................................................................................................... 7
2.3.5. Princípio da Irretroatividade da Lei Penal ...................................................................................................... 7
2.3.6. Princípio da Insignificância ............................................................................................................................. 7
2.3.7. Princípio do in dúbio pro réo .......................................................................................................................... 8
2.3.8. Princípio da Igualdade .................................................................................................................................... 8
2.3.9. Princípio da Presunção de Inocência .............................................................................................................. 8
2.3.10. Princípio do non bis in idem.......................................................................................................................... 8
3. DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO.......................................................................................... 8
3.1. Conceito ............................................................................................................................................................. 8
3.2. Da Lei Penal no Tempo ...................................................................................................................................... 8
3.2.1. Irretroatividade, Retroatividade e Ultratividade da Lei Penal........................................................................ 8
3.2.2. Lei Excepcional ou Temporária ....................................................................................................................... 9
3.3. Da Lei Penal no Espaço ...................................................................................................................................... 9
4. TEORIA DO CRIME..................................................................................................................................................... 9
4.1. Conceito DE Crime ............................................................................................................................................. 9
4.2. Crime e Contravenção ....................................................................................................................................... 9
4.3. Conduta e Sujeito Ativo do Crime ..................................................................................................................... 9
4.4. Capacidade Penal do Sujeito Ativo .................................................................................................................. 10
4. 5. Sujeito Passivo do Crime.................................................................................................................................10
4.6. Objeto do Crime ..............................................................................................................................................10
4.7. Dolo..................................................................................................................................................................10
4.8 . Culpa ...............................................................................................................................................................10
4.9 Fato Típico ........................................................................................................................................................10
4.10 Crime Doloso e Crime Culposo ....................................................................................................................... 10
4.11. Iter criminis: Conceito e etapas (Crime Consumado e Crime Tentado) ........................................................11
4.12 Crime Impossível.............................................................................................................................................11
4.13 Excludentes de ilicitude ..................................................................................................................................11
5. DOS CRIMES ............................................................................................................................................................12
5.1 - Crimes Contra a Pessoa: .................................................................................................................................12
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5.2 Dos Crimes Contra a Honra: .............................................................................................................................13


5.3 - Crimes Contra o Patrimônio ...........................................................................................................................13
5.4 - Crimes Contra a Dignidade Sexual.................................................................................................................. 14
6. LEGISLAÇÃO ESPECIAL ............................................................................................................................................19
6.1 - Lei dos Crimes Hediondos ..............................................................................................................................19
6.2 – Lei de Tóxicos .................................................................................................................................................19
QUANTO À LEI N.11.343/2006, FAREMOS ALGUNS IMPORTANTES COMENTÁRIOS: ................................................19
6.3 – Lei de Crimes de Tortura................................................................................................................................19
6.4 – Estatuto do Desarmamento...........................................................................................................................20
7. LEI DO ABUSO DE AUTORIDADE .............................................................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................................................23
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1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A expressão Direito Penal designa, conjunta ou


separadamente, duas entidades diferentes, quais
Nem sempre os mecanismos de controle social sejam:
informal (família, escola, igreja, partido político, - O conjunto de leis penais, isto é, a legislação
opinião pública, vizinhança, imprensa, etc.) foram penal; e
suficientes para equacionar os conflitos sociais cuja - O sistema de interpretação dessa legislação, ou
complexidade ou, até mesmo, gravidade, requer, com seja, o saber do Direito Penal.
frequência, para a tutela e preservação da própria
ordem social, um tipo mais adequado e enérgico de Segundo Cezar Bittencourt, “Direito Penal é o
controle. A insuficiência do controle social informal conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a
recomenda o funcionamento de um sistema de determinação de infrações de natureza penal e suas
controle social institucionalizado, no qual devem estar sanções correspondentes - penas e medidas de
previamente definidos os comportamentos segurança.” Essas normas tipificam o crime,
provocadores de reação (normas), o conteúdo dessa imputando-lhe uma pena como conseqüência.
reação (sanção) e a forma pela qual se verifica a
infração desses comportamentos com a determinação 2.2 Função:
de sanção (processo). Norma, sanção e processo
constituem, portanto o tripé de suporte de controle O Direito Penal tem por primeira função a de
social formal (Sistema Criminal). assegurar a manutenção da viabilidade da vida em
Os Direitos dos militares existem não porque as sociedade com a indispensável proteção de bens
Corporações Militares representam uma classe á parte, jurídicos essenciais, protegendo de modo legítimo e
mas porque o Estado impõe aos militares deveres eficaz os bens jurídicos fundamentais do indivíduo e
sistemáticos e garantias especiais, cuja violação da sociedade.
reclama disposições especiais. Assim, o Estado fará incidir a sanção penal
Na vida militar as peculiaridades especiais do quando verificar a indispensabilidade da proteção a
exercício da profissão subordinam os militares às ser dada ao bem jurídico essencial; ou seja,
severas sanções, quer nas infrações disciplinares quer a necessidade concreta de proteção pela via
nas infrações penais. sancionatória penal.
O presente estudo objetiva, portanto, trazer ao A função de indispensável proteção de bens
conhecimento do aluno do Curso de Formação para jurídicos essenciais reforça o princípio da intervenção
Soldados da Polícia Militar do Estado do Ceará mínima (subsidiariedade e fragmentariedade), que
conceitos básicos de Direito Penal para fins de facilitar permeia o Direito Penal, reservando a atuação deste
sua aplicação no desempenho de suas atividades para os casos indispensáveis, onde realmente se
enquanto guardiões da sociedade. revelam insuficientes as tutelas extrapenais.
Assim, há a proteção dos bens jurídicos
2. DEFINIÇÃO, FUNÇÃO E PRINCÍPIOS DE DIREITO essenciais, e não de quaisquer bens, e ainda, somente
PENAL contra determinadas configurações de agressão.
A segunda função do Direito Penal é a função
2.1 Definição: garantidora ou de garantia. A garantia se expressa na
proteção dos direitos e garantias à dignidade do
Direito Penal é o ramo do Direito que regula o indivíduo supostamente autor de um delito frente ao
poder punitivo do Estado através de um conjunto de Estado, ficando este adstrito a atuar somente de
normas jurídicas que proíbem determinadas ações ou acordo com a legalidade e a cumprir os princípios
omissões, sob ameaça de aplicação de sanção penal. garantidores do Direito Penal elencados na Carta
Subdividindo-se, para fins didáticos em: Constitucional e legislação inferior.
- Direito penal objetivo: é o próprio É verdadeiro que o Estado, por meio do Direito
ordenamento jurídico-penal, correspondente à sua Penal e de sua sanção, tem em vista assegurar a
definição; manutenção do ordenamento jurídico, mas também é
- Direito penal subjetivo (Jus puniendi): é o certo que essa atuação não pode ser efetuada de
direito que tem o Estado de atuar sobre os qualquer forma e medida para proteger a convivência
delinqüentes na defesa da sociedade contra o crime; é dos seres humanos em sociedade. São necessários
o direito de punir do Estado. limites, que são por outro lado garantias consagradas à
dignidade, vida e liberdade das pessoas.

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vedada a fundamentação ou o agravamento da


2.3 Princípios: punibilidade pelo direito consuetudinário;
- Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta (LEI
Princípios – (significa dizer: onde tudo se inicia; ESTRITA), que veda a fundamentação ou o
origem; início). Segundo o ensinamento do jurista agravamento da punibilidade pelo uso da analogia;
Celso Antônio Bandeira de Melo princípio é ninguém pode ser punido por um fato não previsto em
“Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro lei, por ser semelhante a outro por ela definido.
alicerce dele, disposição fundamental que irradia sobre Ressalte-se, entretanto, que a exigência da lei estrita
diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo (Lex stritca) impede a aplicação, no âmbito do Direito
de critérios para sua exata compreensão e inteligência, Penal, da analogia in malam partem (fundamenta a
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do aplicação ou a agravação da pena em prejuízo do
sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe acusado), não obsta, evidentemente, a aplicação da
dá sentido harmônico”. analogia in bonam partem (fundamenta a não-
O Direito Penal é construído com base em aplicação ou a diminuição da pena em benefício do
princípios constitucionais, os quais norteiam a sua acusado).
construção e a sua vida, devendo conseqüentemente - Nullum crimen, nulla poena sine lege certa (LEI
ser respeitados. CERTA), que proíbe a existência de leis penais
Dentre os mesmos, destacamos dez importantes indeterminadas, que descrevam vagamente a conduta
princípios regedores do Direito Penal: ilícita, impedindo a determinação da real abrangência
do preceito normativo, pois isso possibilitaria o arbítrio
2.3.1. Princípio da Legalidade ou da Reserva do julgador.
Legal
Consagrado pela máxima nullum crimen, nulla 2.3.3. Princípio da Culpabilidade
poena sine lege, constituindo uma efetiva limitação ao
poder punitivo do Estado, significa que não haverá Atua como limitação do ius puniendi na
crime se não houver lei escrita definindo a infração determinação e individualização da pena, pois a
penal e impondo-lhe conseqüente pena. responsabilidade penal é sempre pessoal. Não há, no
Segundo esse princípio a lei é a única fonte de direito penal, responsabilidade coletiva, subsidiária,
criação dos delitos e das penas. Com isso, o arbítrio solidária ou sucessiva.
judicial, a analogia, os costumes e os princípios gerais
do direito não podem instituir os delitos ou penas. 2.3.4. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

2.3.2. Princípio da Anterioridade da Lei Penal Foi previsto na Constituição Federal de 1988, em
seu art. 1º, III, e segundo o mesmo, o homem antes de
Por expressa previsão na Constituição Federal de ser considerado como cidadão passa a valer como
1988, em seu art. 5º, XXXIX, e no Código Penal, em seu pessoa. Segundo o mesmo a intervenção jurídico-
art. 1º, “não há crime sem lei anterior que o defina, penal jamais deve servir-se de instrumento vexatório
nem pena sem prévia cominação legal”. ou repugnante, devendo ser respeitados sempre os
Pelo princípio da anterioridade a lei baliza o princípios que resguardam a dignidade e integridade
comportamento do cidadão mesmo antes de este se física e mental da pessoa humana.
verificar, traçando normas e regulando a sua conduta.
A conduta é predeterminada pelo legislador antes 2.3.5. Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
mesmo de sua ocorrência. A doutrina aponta, ainda,
outros desdobramentos dos princípios da legalidade e Uma lei não alcança fatos ocorridos antes ou
da anterioridade, a saber: depois de sua vigência. Segundo o mesmo, tempus
- Nulla crimen, nulla poena sine lege previa (LEI regit actum (o tempo rege o ato). Exceto quando é
PRÉVIA), que proíbe a edição de leis retroativas que admitida a retroatividade da lei mais favorável ao réu.
fundamentem ou agravem a punibilidade do infrator;
- Nullam crimen, nulla poena sine lege scripta 2.3.6. Princípio da Insignificância
(LEI ESCRITA), significando que a lei incriminadora deve
ser escrita (resultado de um processo válido de Também chamado de princípio da bagatela,
elaboração, que assegure sua legitimidade), sendo analisa a proporcionalidade entre a gravidade da
conduta e a necessidade da intervenção estatal. Em

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alguns casos a lesão é tão insignificante que não há O Código Penal Brasileiro adotou a Teoria da
interesse para o Direito Penal. Exemplo: furto de um Atividade, segundo a qual:
alfinete. “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no
2.3.7. Princípio do in dúbio pro réo momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado”. (CPB).
Corolário do campo das provas, tal princípio ALCANCE PRÁTICO DA TEORIA DA ATIVIDADE:
deve ser aplicado quando houver dúvida, acatando a serve para, dentre outras coisas:
interpretação mais favorável ao réu.
a) determinar a imputabilidade do agente do
2.3.8. Princípio da Igualdade delito;
b) fixar as circunstâncias do tipo penal;
Consubstanciado na Constituição Federal de c) possibilitar a eventual aplicação de anistia;
1988, art. 5º, caput segundo o qual “Todos são iguais d) dar oportunidade à prescrição.
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”,
implica na aplicação da norma penal de forma igual a Adotando-se a teoria da atividade, se houver,
todos. por exemplo, um homicídio (crime material), o mais
importante é detectar o instante da ação (desfecho
2.3.9. Princípio da Presunção de Inocência dos tiros), e não o momento do resultado (ocorrência
da morte). Assim fazendo, se o autor dos tiros for
Previsto na Constituição Federal de 1988, art. 5º, menor de 18 anos à época dos tiros, ainda que a vítima
LVII, “Ninguém será considerado culpado até o morra depois de ter completado a maioridade penal,
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. não poderá ele responder pelo delito.
Ou seja, o sujeito, mesmo que preso em flagrante,
indiciado em inquérito, ou sendo processada, não Obs.: crimes permanentes e continuados.
poderá ser considerado culpado, até o trânsito em Aplica-se a eles regra especial. No crime permanente, a
julgado do processo que venha a responder. consumação se prolonga no tempo. É considerado
tempo do crime todo o período em que se desenvolver
2.3.10. Princípio do non bis in idem a atividade criminosa. Assim, durante um seqüestro,
pode ocorrer de um menor de 18 anos completar a
Prevê a impossibilidade de haver duas ou mais maioridade, sendo considerado imputável para todos
punições criminais pela prática de uma única infração os fins penais. A mesma regra deve ser aplicada ao
penal. crime continuado, uma ficção jurídica idealizada para
beneficiar o réu, mas que é considerada uma unidade
3. DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO delitiva.
ESPAÇO
3.2. Da Lei Penal no Tempo
3.1. Conceito
“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que
A análise do âmbito temporal da aplicação da lei lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
penal necessita da fixação do momento em que se virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
considera o delito cometido (tempus commissi delicti). condenatória”.
A determinação do tempo em que se reputa
praticado o delito tem relevância jurídica não somente 3.2.1. Irretroatividade, Retroatividade e
para fixar a lei que o vai reger, mas também a Ultratividade da Lei Penal
imputabilidade do sujeito, dentre outros aspectos.
Para que se possa determinar o momento em “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
que é cometido o delito, é necessário tomar-se o réu.” (art. 5º, XL, da Constituição Federal).
conhecimento de três teorias: da atividade (reputa-se “ A lei posterior, que de qualquer modo favorece
praticado o delito no momento da conduta, não o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
importando o instante do resultado), do resultado decididos por sentença condenatória transitada em
(considera o tempus delicti o momento do resultado) e julgado.” (art. 2º, parágrafo único, do Código Penal).
mista (tempus delicti é, indiferentemente, o momento
da ação ou do resultado).

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- Conceito formal – crime é a ação ou omissão


proibida por lei sob ameaça de aplicação de pena. É a
concepção do direito acerca do delito.
3.2.2. Lei Excepcional ou Temporária - Conceito material – crime é a violação de um
bem penalmente protegido. É a concepção da
“Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, sociedade sobre o que pode e deve ser proibido,
embora decorrido de sua duração ou cessadas as mediante a aplicação de sanção penal.
circunstâncias que a determinam, aplica-se ao fato - Conceito analítico – crime é o fato típico,
praticado durante sua vigência”. antijurídico e culpável. É a concepção da ciência do
direito, que não difere, na essência do conceito formal.
- LEI EXCEPCIONAL: Lei feita para vigorar em Como já dito trata-se de uma conduta típica,
épocas especiais, como guerra, calamidade, etc. É antijurídica e culpável. (teoria tripartite do delito). Há
aprovada para vigorar enquanto perdurar o período quem entenda ser o crime, do ponto de vista analítico -
excepcional. um fato típico e antijurídico, sendo a culpabilidade
apenas um pressuposto de aplicação da pena (Damásio
- LEI TEMPORÁRIA: Lei feita para vigorar por de Jesus, Mirabete, entre outros).
determinado tempo nela estabelecido, são dotadas
de auto-revogação. 4.2. Crime e Contravenção

3.3. Da Lei Penal no Espaço Adotando o critério quantitativo, o art. 1.º da Lei
de Introdução ao Código Penal dispõe:
A lei penal se aplica no espaço em conformidade
com dois princípios, quais sejam: o da territorialidade e - Crime: infração penal a que a lei comina pena
o da extraterritorialidade. A lei penal brasileira tem de reclusão ou detenção, quer isolada, alternativa ou
por regra o princípio da territorialidade, segundo o cumulativamente à pena de multa;
qual: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacional, - Contravenção penal: infração penal a que a lei
ao crime cometido no território nacional. comina, isoladamente, pena de prisão simples ou
multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
§ 1.º. Para os efeitos penais, consideram-se
como extensão do território nacional as embarcações e 4.3. Conduta e Sujeito Ativo do Crime
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
do governo brasileiro onde quer que se encontrem, É a ação ou omissão humana consciente dirigida
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, a uma finalidade.
mercantes ou de propriedade provada, que se achem, O sujeito ativo do crime é o ser humano que
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou pratica a conduta descrita na lei e o que, de qualquer
em alto mar. forma, com ele colabora (é o sujeito que pratica a
infração penal). Algumas vezes, a lei exige do sujeito
§ 2.º. É também aplicável a lei brasileira aos ativo uma capacidade especial, ou seja, uma posição
crimes praticados a bordo de aeronaves ou jurídica ou de fato inserida no tipo penal (ser
embarcações estrangeiras de propriedade privada, funcionário público, médico, gestante, etc.). Ex. no
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou peculato (art. 312), na corrupção passiva (art. 317), na
em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em prevaricação (art. 319), só o funcionário público pode
porto ou mar territorial do Brasil.” ser sujeito ativo do crime, entretanto, pode haver
participação de terceiros desprovidos desta qualidade,
4. TEORIA DO CRIME etc.

4.1. Conceito de Crime A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de


crime?
A doutrina do Direito Penal tem procurado
definir o ilícito penal sob três aspectos diversos, quais Diante da teoria do crime, a pessoa jurídica não
sejam: pode ser sujeito ativo do crime, mas a nossa
Constituição Federal vigente prevê esta possibilidade

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no caso de crimes praticados contra a ordem humana (vida, integridade corporal, honra, patrimônio,
econômica e financeira e contra a economia popular etc, incluindo-se os interesses sociais cujo titular é o
(arts. 175, §5º) e contra os crimes ambientais (art. 225, Estado (saúde pública, paz pública, administração
§ 3º). pública). No caso homicídio, por exemplo, o objeto
jurídico é a vida. No furto, o patrimônio, no roubo, é o
complexo, incluindo o patrimônio, posse, liberdade
Quanto à conduta, os crimes podem ser: individual e integridade física.
b) Objeto material ou substancial – é a coisa ou
Crimes comissivos são os praticados mediante pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa.
ação. Exemplo: o objeto material do crime de furto é a coisa
Ex: homicídio móvel alheia.
Crimes omissivos são os praticados mediante
omissão. 4.7. Dolo
A caracterização da omissão depende de:
- dever de agir; É a consciência e vontade na realização da
- possibilidade de realização da conduta. conduta típica.

De acordo com o disposto no art. 13, § 2.º do 4.8 . Culpa


Código Penal existe o dever de agir:
- quando advém de um dever legar; dever Culpa, em sentido estrito, é a conduta
jurídico; voluntária, que produz resultado ilícito, não desejado,
- quando o agente tornou-se garantidor da não mas previsível, e excepcionalmente previsto e que
ocorrência do resultado; podia, com a devida atenção, ser evitado. O teor do
- quando um ato precedente determina essa art. 18, II, do CP, o crime diz-se culposo "quando o
obrigação. agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia".
4.4. Capacidade Penal do Sujeito Ativo
4.9 Fato Típico
Capacidade penal é o conjunto de condições
exigidas para que o sujeito se torne titular de direitos e Em sentido formal é qualquer ação legalmente
obrigações, distinguindo-se, nesse sentido, da punível. Elementos do fato típico:
imputabilidade penal.
a) Conduta - é toda ação humana
4. 5. Sujeito Passivo do Crime b) Nexo Causal - é a relação de causa e efeito
entre a conduta e o resultado;
Sujeito passivo do crime é o titular do bem c) Resultado - é a modificação do mundo exterior
jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa. causada pela conduta.
Pode ser, conforme o tipo penal, o ser humano, o d) Tipicidade - é a correspondência exata, a
Estado, a pessoa jurídica e mesmo uma coletividade adequação perfeita entre o fato natural, concreto e a
destituída de personalidade jurídica. descrição contida na norma penal incriminadora.
Duas são as espécies do sujeito passivo:
- sujeito passivo formal – é o Estado, que, sendo 4.10 Crime Doloso e Crime Culposo
o titular do mandamento proibitivo é lesado pela
conduta do sujeito ativo; Crime Doloso – é aquele praticado com vontade
- sujeito passivo material – é o titular do de praticar o ato descrito na Lei Penal; são os crimes
interesse penalmente protegido, podendo ser pessoa praticados com intenção de fazer. A Lei Penal diz que o
física ou jurídica. crime é doloso quando o agente quis o resultado (dolo
direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual)
4.6. Objeto do Crime – Art. 18, I, do Código Penal.

a) Objeto Jurídico – é o bem-interesse protegido Crime Culposo – é aquele praticado com culpa,
pela lei penal. Quer dizer: é o atributo do titular sobre que consiste na prática não intencional do fato descrito
tudo o que é indispensável ou satisfaz á necessidade na Lei Penal. Ela é causada pela falta ao dever de

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atenção e de cuidado. Sua essência está na atual, que não provocou por sua vontade, nem podia
previsibilidade. Se o agente devia, mas não podia de outro modo evitar, cujo sacrifício, nas
prever as consequências de sua ação, não há culpa. A circunstâncias, não era razoável exigir-se (Art. 24 do
Lei Penal diz que o crime é culposo quando o agente código Penal).
deu causa ao resultado por imprudência, negligência Seus requisitos são: perigo atual; perigo a direito
ou imperícia – Art. 18, II, do Código Penal. A culpa pode próprio ou alheio; não ter o agente, por sua vontade,
existir sob três formas: a) por negligência – é a provocado o perigo; necessidade de salvar o direito
displicência, o relaxamento, a falta de atenção devida. próprio ou alheio; comportamento lesivo inevitável do
Ex: deixar arma ao alcance de uma criança. b) por agente.
imprudência – é a conduta precipitada; é a criação Exemplos: a disputa de náufragos pela posse de
desnecessária de um perigo que ocasiona a existência uma tábua de salvação, danos materiais produzidos em
de um crime. Ex.: dirigir em excesso de velocidade. c) propriedade alheia para extinguir um incêndio e salvar
por imperícia – é a falta de habilidade técnica para pessoas que se encontram em perigo; furto famélico;
certas atividades. Ex.: paciente que vai a óbito por etc.
remédio que lhe foi ministrado erroneamente. Legítima Defesa: entende-se em legítima defesa
quem, usando moderadamente dos meios necessários,
4.11. Iter criminis: Conceito e etapas (Crime repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
Consumado e Crime Tentado) ou de outrem (Art. 25 do Código Penal).
Requisitos para configuração da legítima defesa:
O iter criminis é o conjunto de fases pelas quais atualidade ou iminência da agressão a direito próprio
passam o delito, está divido em: ou alheio; injusta agressão; meios necessários; uso
moderado desses meios. Exemplo: alguém aponta uma
a) Fase interna: cogitação arma para matar alguém que, para se proteger
b) fase externa: atos preparatórios, atos de também, saca de sua arma e atira atingindo seu
execução e consumação agressor.

Crime Consumado é quando foram realizados Estrito Cumprimento de Dever Legal: não há
todos os elementos constantes na definição legal do crime quando o agente pratica o fato em estrito
crime. cumprimento de dever legal. (Art. 23, III, primeira
Crime Tentado é quando não há a consumação parte, do CP). Trata-se de ação praticada em
do crime; a conduta delituosa é interrompida por cumprimento de um dever imposto por lei, penal ou
circunstâncias alheias à vontade do agente. extrapenal, mesmo que cause lesão a bem jurídico de
Curiosidade: Salvo disposição em contrário, pune-se a terceiro. Ex.: a execução de pena de morte feita pelo
tentativa com a pena correspondente ao crime carrasco; a morte do inimigo no campo de batalha
consumado, diminuída de um a dois terços. produzida pelo soldado em tempo de guerra; a prisão
em flagrante delito realizada pelos agentes policiais; a
4.12 Crime Impossível prisão militar do desertor; a realização de busca
pessoal, nas hipóteses autorizadas pelo Código de
Crime impossível é aquele que, pela ineficácia Processo Penal; o arrombamento e a entrada forçada
absoluta do meio empregado ou pela impropriedade em residência para efetuar a prisão de alguém,
absoluta do objeto material, é impossível de se durante o dia, com mandado judicial, a violência
consumar. Ex.: Envenenar alguém com gelatina necessária utilizada pela polícia ou outro agente
pensando ser veneno. público para prender alguém em flagrante ou em
virtude de mandado judicial, quando houver
4.13 Excludentes de ilicitude resistência ou fuga, etc.

Existem condutas ilícitas que, embora contrárias Exercício Regular de Direito: não há crime
ao direito, não são consideradas como crimes. quando o agente pratica o fato no exercício regular do
Vejamos: direito. Consiste no exercício de uma prerrogativa
conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizada
Estado de Necessidade: considera-se em Estado como fato típico. Ou ainda, é o desempenho de uma
de Necessidade quem pratica o fato contrário ao atividade ou a prática de uma conduta autorizada por
direito para salvar, direito próprio ou alheio, de perigo lei, que torna lícito um fato típico.

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Qualquer direito, público ou privado, penal ou Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou
extra-penal, regularmente exercido, afasta a consentir que outrem lho provoque:
antijuricidade. Mas, o exercício deve ser regular, isto é, Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
deve obedecer a todos os requisitos objetivos exigidos
pela ordem jurídica. Ex.: intervenção médica-cirúrgica; Aborto provocado por terceiro
violência desportiva; desforço imediato na defesa da
posse; prisão em flagrante realizada por particular Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento
(flagrante facultativo); o porte legal de arma de fogo; o da gestante:
direito de greve sem violência; a esterilização nos Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
termos da lei; a crítica literária, artística ou científica; a Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento
doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano da gestante:
para fins de transplante, sem fins comerciais; a Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
correção disciplinar dos pais aos filhos menores, Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
quando moderada; o aborto, quando a gravidez resulte médico:
de estupro, havendo o consentimento da gestante, etc.
Aborto necessário
5. DOS CRIMES
I - se não há outro meio de salvar a vida da
Para o estudo dos crimes, abordaremos os tipos gestante;
penais mais comumente encontrados quando do
desenvolvimento das atividades policiais; quais sejam: Aborto no caso de gravidez resultante de
estupro
5.1 - Crimes Contra a Pessoa: II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando
Homicídio simples incapaz, de seu representante legal.

Art. 121 - Matar alguém: Lesão corporal


Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a
Homicídio qualificado saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, Lesão corporal de natureza grave
ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil; § 1º - Se resulta:
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, I - incapacidade para as ocupações habituais, por
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de mais de 30 (trinta) dias;
que possa resultar perigo comum; II - perigo de vida;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante III - debilidade permanente de membro, sentido
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne ou função;
impossível a defesa do ofendido; IV - aceleração de parto:
V - para assegurar a execução, a ocultação, a Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
impunidade ou vantagem de outro crime: § 2º - Se resulta:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
Infanticídio III - perda ou inutilização de membro, sentido ou
função;
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado IV - deformidade permanente;
puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo V - aborto:
após: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu Lesão corporal seguida de morte
consentimento

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§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.


evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo: Difamação
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato
Abandono de incapaz ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu e multa.
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três)
anos. Injúria

Exposição ou abandono de recém-nascido Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a


dignidade ou o decoro:
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou
para ocultar desonra própria: multa.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos. 5.3 - Crimes Contra o Patrimônio

Omissão de socorro Furto

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando Descrito no artigo 155 do Código Penal
possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança Brasileiro, em sua forma básica: “subtrair, para si ou
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou para outrem, coisa alheia móvel: pena – reclusão, de 1
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; (um) a 4 (quatro) anos, e multa”. O crime de furto
ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pode ser de quatro espécies: furto simples, furto
pública: noturno, furto privilegiado e furto qualificado.
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou São as seguintes as hipóteses de furto
multa. qualificado:
• se o crime é cometido com destruição ou
Maus-tratos rompimento de obstáculos à subtração da coisa;
• quando o crime é cometido com abuso de
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza.
pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para • com emprego de chave falsa.
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer • quando ocorre mediante concurso de duas ou
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, mais pessoas.
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado,
quer abusando de meios de correção ou disciplina: Roubo
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano,
ou multa. Como expresso no artigo 157 do Código Penal
Brasileiro: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
5.2 Dos Crimes Contra a Honra: outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
Calúnia impossibilidade de resistência: pena – reclusão, de 4
(quatro) a 10 (dez) anos, e multa”.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe Trata-se de crime contra o patrimônio, em que
falsamente fato definido como crime: é atingido também a integridade física ou psíquica da
Pena - detenção, de seis (seis) meses a 2 (dois) vítima.
anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo Hipóteses de causas de aumento de pena,
falsa a imputação, a propaga ou divulga. popularmente chamadas de,“Roubo Qualificado”,

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descritas no §2º do artigo 157 do Código Penal As alterações trazidas pela lei provocam
Brasileiro: “a pena aumenta-se de um terço até mudanças substanciais no campo do estupro e no
metade” . Se a violência ou ameaça é exercida com atentado violento ao pudor, pois este foi incorporado
emprego de arma. por aquele, tendo ainda o homem passado a ser
Neste caso é necessário o efetivo emprego da considerado agente passivo desse crime (vítima).
arma, seja para caracterizar a ameaça, seja para a
violência. O fundamento da agravante reside no maior 5.5 - Crimes Contra a Administração Pública
perigo que o emprego da arma proporciona.
A jurisprudência tem debatido sobre o emprego Nesse sentido, o que nos interessa são os crimes
de arma de brinquedo, se caracteriza ou não a causa cometidos por funcionários públicos contra a
de aumento de pena. Para muitos doutrinadores armas Administração em geral; os crimes funcionais.
de brinquedo não passam de brinquedos que tem É possível que pessoa que não seja funcionário
forma de arma, sendo que a qualificadora destina-se a público e responda por crime funcional como co-autora
arma e não aos brinquedos. ou partícipe.
Já a segunda corrente tem entendido que a
intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento de pena.
• A segunda hipótese é se há o concurso de duas
ou mais pessoas.
• A terceira hipótese acontece se a vítima está
em serviço de transporte de valores e o agente
conhece tal circunstância.

Roubo e Lesão Corporal Grave

Nos termos do artigo 157 § 3º do Código Penal


Brasileira primeira parte, é qualificado roubo quando:
“da violência resulta lesão corporal de natureza grave,
fixando-se a pena num patamar superior ao fixado
anteriormente, aqui reclusão de 5 (cinco) à 15 (quinze)
anos, além da multa”. É indispensável que a lesão seja
causada pela violência.

Roubo e Morte: O chamado “Latrocínio”

A segunda parte do § em estudo, comina-se


pena de reclusão de 20 à 30 anos se resulta a morte. A
Lei dos Crimes Hediondos, em conformidade com o
artigo 5º XLIII, da Constituição Federal Brasileira,
considera o crime de latrocínio Hediondo.

5.4 - Crimes Contra a Dignidade Sexual

A Lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009


estabeleceu uma nova redação para o Título VI do
Código Penal Brasileiro; substituindo o termo “crimes
contra os costumes” por “crimes contra a dignidade
sexual.”
Essa mesma Lei eliminou a regra da ação penal
exclusivamente privada, oportunidade em que
lembramos que no caso de “menor de dezoito anos” e
de “pessoa vulnerável a ação penal é pública
incondicionada”.

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Trazemos abaixo uma tabela desenvolvida para melhor compreensão dos tipos penais relacionados à
matéria:

Titulação do Crime Capitulação Legal Pena Agravante


Aplica-se a mesma
pena, se o funcionário
Apropriar-se o público, embora não
funcionário público de tendo a posse do
dinheiro, valor ou dinheiro, valor ou
qualquer outro bem bem, o subtrai, ou
móvel, público ou Reclusão de 2 a 12 concorre para que seja
312 - Peculato
particular, de que tem anos, e multa subtraído, em proveito
a posse em razão do próprio ou alheio,
cargo, ou Desviá-lo, valendo-se de
em proveito próprio ou facilidade que lhe
alheio: proporciona a
qualidade de
funcionário
Atenuantes:
Se a reparação do
dano precede à
Concorrer, o
sentença irrecorrível,
funcionário, Detenção de 3 meses a
Peculato culposo extingue a
culposamente para o 1 ano
punibilidade; se lhe é
crime de outrem
posterior, reduz de
metade a pena
imposta.
Apropriar-se de
dinheiro ou qualquer
313 - Peculato mediante utilidade que, no Reclusão Também chamado de
erro de outrem exercício do cargo, de 1 a 4 anos, e multa "ESTELIONATO"
recebeu por erro de
outrem:
Inserir ou facilitar, o
funcionário autorizado,
a inserção de dados
falsos, Alterar ou
Excluir indevidamente
dados corretos nos
313 A - Inserção de dados
sistemas Reclusão
falsos em sistema de
informatizados ou de 2 a 12 anos, e multa
informações
bancos de dados da
Administração Pública
com o fim de obter
vantagem indevida
para si ou para outrem
ou para causar dano:

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Titulação do Crime Capitulação Legal Pena Agravante


Modificar ou alterar, o
As penas são
funcionário, sistema
aumentadas de um
de informações ou
313 B - Modificação ou terço até a metade se
programa de Detenção
alteração não autorizada da modificação ou
informática sem de 3 meses a 2 anos, e
de sistema de alteração resulta dano
autorização ou multa
informações para a Administração
solicitação de
Pública ou para o
autoridade
administrado
competente:
Extraviar livro oficial
ou qualquer
Reclusão
314 - Extravio, sonegação documento, de que
de 1 a 4 anos, se o fato
ou inutilização de livro ou tem a guarda em razão
não constitui crime
documento do cargo; Sonegá-lo ou
mais grave.
Inutilizá-lo, total ou
parcialmente:
Dar às verbas ou
315 - Emprego irregular Detenção
rendas públicas
de verbas ou rendas de 1 a 3 meses, ou
aplicação diversa da
públicas multa
estabelecida em lei
Exigir, para si ou para
outrem, direta ou
indiretamente, ainda
que fora da função ou
Reclusão
316 - Concussão antes de assumi-la,
de 2 a 8 anos, e multa
mas em razão dela,
vantagem indevida

Exigir tributo ou
contribuição social
que sabe ou deveria
saber indevido, ou,
Reclusão
Excesso de exação quando devido,
de 3 a 8 anos, e multa
Empregar na cobrança
meio vexatório ou
gravoso, que a lei não
autoriza
Desviar, em proveito
próprio ou de outrem,
o que recebeu Reclusão
Excesso de exação
indevidamente para de 2 a 12 anos, e multa
recolher aos cofres
públicos:

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- A pena é aumentada
Solicitar ou Receber,
de um terço se, em
para si ou para outrem,
conseqüência da
direta ou
vantagem ou
indiretamente, ainda
promessa, o
que fora da função ou Reclusão
317 - Corrupção passiva funcionário retarda ou
antes de assumi-la, de 1 a 8 anos, e multa
deixa de praticar
mas em razão dela,
qualquer ato de ofício
vantagem indevida, ou
ou o pratica
Aceitar promessa de
infringindo dever
tal vantagem
funcional.
- Praticar, Deixar de
praticar ou Retardar
ato de ofício, com Detenção
Corrupção passiva infração de dever de 3 meses a 1 ano, ou
funcional, cedendo a multa
pedido ou influência
de outrem:
Facilitar, com infração
318 - Facilitação de de dever funcional, a
Reclusão
contrabando ou prática de contrabando
de 3 a 8 anos, e multa
descaminho ou descaminho (art.
334)
Retardar ou Deixar de
Praticar,
indevidamente, ato de
Detenção
ofício, ou Praticá-lo
319 - Prevaricação de 3 meses a 1 ano, e
contra disposição
multa
expressa de lei, para
satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Deixar o funcionário,
por indulgência, de
responsabilizar
subordinado que
cometeu infração no
Detenção
320 - Condescendência exercício do cargo ou,
de 15 dias a 1 mês, ou
criminosa quando lhe falte
multa
competência, não levar
o fato ao
conhecimento da
autoridade
competente
Patrocinar, direta ou
indiretamente,
Se o interesse é
interesse privado
Detenção ilegítimo:
321 - Advocacia perante a
de 1 a 3 meses, ou Pena - detenção, de 3
administrativa administração pública,
multa. meses a 1 ano, além
valendo-se da
da multa
qualidade de
funcionário

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Detenção
Praticar violência, no
de 6 meses a 3 anos,
exercício de função ou
322 - Violência arbitrária além da pena
a pretexto de exercê-
correspondente à
la.
violência
- Se do fato resulta
prejuízo público:
Pena - detenção, de 3
meses a 1 ano, e
Abandonar cargo Detenção
multa.
323 - Abandono de função público, fora dos casos de 15 dias a 1 mês, ou
- Se o fato ocorre em
permitidos em lei multa
lugar compreendido na
faixa de fronteira:
Pena - detenção, de 1
a 3 anos, e multa
Entrar no exercício de
função pública antes
de satisfeitas as
exigências legais, ou
324 - Exercício funcional Continuar a exercê-la, Detenção
ilegalmente antecipado sem autorização, de 15 dias a 1 mês, ou
ou prolongado depois de saber multa
oficialmente que foi
exonerado, removido,
substituído ou
suspenso
Revelar fato de que Se da ação ou omissão
Detenção
tem ciência em razão resulta dano à
de 6 meses a 2 anos, ou
325 - Violação de sigilo do cargo e que deva Administração Pública
multa, se o fato não
funcional permanecer em ou a outrem:
constitui crime mais
segredo, ou Facilitar- Pena - reclusão, de 2 a
grave
lhe a revelação: 6 anos, e multa
Devassar o sigilo de
proposta de
Detenção
326 - Violação do sigilo de concorrência pública,
de 3 meses a 1 ano, e
proposta de concorrência ou proporcionar a
multa
terceiro o ensejo de
devassá-lo:

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6. LEGISLAÇÃO ESPECIAL drogas não será preso em flagrante, devendo ser


encaminhamento ao juízo competente ou, na falta
6.1 - Lei dos Crimes Hediondos deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
sendo então lavrado o termo circunstanciado de
A Lei 8.072/90, rotulada de Lei dos Crimes ocorrência.
Hediondos, foi incorporada ao nosso ordenamento - Quanto ao tráfico de entorpecentes, houve um
jurídico com o simples objetivo de conferir tratamento asseveramento da sanção a ser imposta, pois a pena,
penal mais severo ao tráfico ilícito de entorpecentes e que antes variava de reclusão fixada entre 03 (três) a
drogas afins, ao terrorismo, tortura e aos delitos 15 (quinze) anos, passou a ser de reclusão entre 05
considerados pelo legislador infraconstitucional como (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de multa.
hediondos.
Segundo seu artigo primeiro, são considerados 6.3 – Lei de Crimes de Tortura
hediondos os seguintes delitos praticados na forma
consumada ou tentada: A Lei n.º 9.455, de 07 de abril de 1997 define os
crimes de tortura, crime hediondo, na forma como
I - homicídio (art. 121), quando praticado em passamos a transcrever:
atividade típica de grupo de extermínio, ainda que “ Art. 1º Constitui crime de tortura:
cometido por um só agente, e homicídio qualificado I - constranger alguém com emprego de violência
(art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); mental:
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § a) com o fim de obter informação, declaração ou
2o); confissão da vítima ou de terceira pessoa;
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma b) para provocar ação ou omissão de natureza
qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o); criminosa;
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de autoridade, com emprego de violência ou grave
2009) ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
o
1 ). preventivo.
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou Pena - reclusão, de dois a oito anos.
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou § 1º Na mesma pena incorre quem submete
medicinais pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
Parágrafo único. Considera-se também hediondo sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática
o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei de ato não previsto em lei ou não resultante de medida
no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou legal.
consumado. § 2º Aquele que se omite em face dessas
condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
6.2 – Lei de Tóxicos las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave
QUANTO À LEI N.11.343/2006, FAREMOS ALGUNS ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
IMPORTANTES COMENTÁRIOS: anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis
anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um
- Segundo o art. 28 de referida Lei, o sujeito terço:
ativo de consumo de entorpecentes será submetido I - se o crime é cometido por agente público;
I – à advertência; II - se o crime é cometido contra criança,
II – prestação de serviços à comunidade; gestante, deficiente e adolescente;
III – medida educativa de comparecimento a II – se o crime é cometido contra criança,
programa ou curso educativo. gestante, portador de deficiência, adolescente ou
Portanto não houve a descriminalização do maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº
consumo; apenas ocorreu um abrandamento em sua 10.741, de 2003)
sanção. Hoje, quem for flagranteado consumindo

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III - se o crime é cometido mediante seqüestro. Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, multa.
função ou emprego público e a interdição para seu Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. quem:
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e I - suprimir ou alterar marca, numeração ou
insuscetível de graça ou anistia. qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, artefato;
salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da II - modificar as características de arma de fogo,
pena em regime fechado.” de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso
proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de
6.4 – Estatuto do Desarmamento qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito
ou juiz;
Trazemos os principais pontos do Estatuto do III - possuir,detiver, fabricar ou empregar artefato
Desarmamento, Lei n.º 10.826, de 22 de dezembro de explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
2003: desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV - portar, possuir, adquirir, transportar ou
DOS CRIMES E DAS PENAS fornecer arma de fogo com numeração, marca ou
qualquer outro sinal de identificação raspado,
“Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma suprimido ou adulterado;
de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em V - vender, entregar ou fornecer, ainda que
desacordo com determinação legal ou regulamentar, gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
no interior de sua residência ou dependência desta, ou, explosivo a criança ou adolescente; e
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular VI - produzir, recarregar ou reciclar, sem
ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma,
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e munição ou explosivo.
multa.
Art. 13. Deixar de observar as cautelas Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar,
necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
anos ou pessoa portadora de deficiência mental se remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de
apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio,
que seja de sua propriedade: no exercício de atividade comercial ou industrial, arma
de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, desacordo com determinação legal ou regulamentar.
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter multa.
sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou Parágrafo único. Equipara-se à atividade
munição, de uso permitido, sem autorização e em comercial ou industrial, para efeito deste artigo,
desacordo com determinação legal ou regulamentar. qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido
multa. em residência.

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada
munição em lugar habitado ou em suas adjacências, ou saída do território nacional, a qualquer título, de
em via pública ou em direção a ela, desde que essa arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
conduta não tenha como finalidade a prática de outro da autoridade competente:
crime. Pena - reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
multa.
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que Art. 19. Nos crimes previstos nos artigos. 17 e 18,
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter a pena é aumentada da metade se a arma de fogo,
sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.
munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e
em desacordo com determinação legal ou Art. 20. Nos crimes previstos nos artigos. 14, 15,
regulamentar: 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem

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praticados por integrante dos órgãos e empresas coronha, etc. Cabe ao SINARM identificar e catalogar,
referidas nos artigos. 6º, 7º e 8º desta Lei. quando conveniente, estas alterações.
- As delegacias especializadas em armas de fogo
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 enviarão ao SINARM mensalmente informações sobre
são insuscetíveis de liberdade provisória.” toda a movimentação de armas de fogo, sejam
apreensões, compras, trocas de propriedade, etc.
- É necessário registrar qualquer arma de fogo. - As empresas que trabalham com produção,
- A emissão de portes de arma e o cadastro das venda, importação e exportação de armas de fogo
armas de fogo são feitos pela Policia Federal. O deverão, além da documentação normal solicitada por
SINARM é responsável por catalogar e manter em seu órgãos estaduais e federais, solicitar um Alvará de
banco de dados todas estas informações referentes aos Funcionamento para comércio de armas, portando
proprietários de armas, tipos de armas e pessoas com inclusive Certidão de Bons Antecedentes Criminais
porte autorizado. junto a Justiça Estadual e Federal.
- A autorização é pessoal e intransferível não - As Secretarias de Segurança Pública dos
podendo o requerente transferi-la para outra pessoa, Estados e do Distrito Federal receberão periodicamente
sob pena de responsabilidade criminal. informações das autorizações emitidas pelo SINARM,
- Qualquer ocorrência de furto, roubo, extravio e através da Polícia Federal, para que possa ser realizada
transferência de propriedade de uma arma de fogo a fiscalização em seus limites de território.
deve imediatamente ser comunicada às autoridades - As Forças Armadas compreendem o Exército, a
policiais para que sejam tomadas as providencias Marinha e a Aeronáutica; as armas destas entidades
cabíveis. não serão afetadas pelo trabalho do SINARM. As
- Os proprietários de empresas de transporte de Policias Militares e o Corpo de Bombeiros Militar, bem
valores e segurança privada, ao desativar uma empresa como as Guardas Municipais, apesar de não serem
deverão comunicar às autoridades e enviar as armas de consideradas entidades das Forças Armadas, também
seu uso para que sejam apreendidas, pois não poderão não sofrerão influencia do SINARM.
manter as armas em seu poder com a empresa - Ao Comando do Exército compete, o registro e
desativada. a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para
- As empresas de segurança privada e as de colecionadores, atiradores e caçadores e de
transporte de valores têm o direito de possuir armas representantes estrangeiros em competição
devido ao risco que correm nas suas atividades. Seus internacional oficial de tiro realizada no território
agentes não podem portar arma fora do serviço. As nacional. É que o colecionador não irá ter somente
armas que utilizam pertencem exclusivamente às uma arma em sua casa para sua coleção, portanto, é
empresas sendo todas registradas em nome delas. O uma exceção de lei nesse sentido.
extravio e a perda de arma da empresa devem ser - integrantes de Clubes de Tiro: habilitados de
comunicadas pela diretoria ou gerência das empresas à todos os pressupostos básicos para manejo de arma de
Polícia Federal que enviará as informações ao SINARM fogo, possuem autorização para, no interior do
a fim que sejam tomadas as providências cabíveis. A estabelecimento, utilizá-la.
omissão na comunicação lhes acarretará - Nos casos de arma de propriedade particular,
responsabilidade penal. estas devem ser registradas e cadastradas no SINARM,
- Os empregados das empresas de segurança através da Polícia Federal aos moldes das demais
privada e de transporte de valores responderão pessoas não beneficiadas pela Lei.
criminalmente pelo abuso que cometerem ao -Os militares, policiais federais, os militares dos
utilizarem arma. Os diretores e gerentes devem Estados e Distrito Federal que são os integrantes das
requerer o certificado de registro, a autorização de Polícias Militares quando ingressam na carreira são
porte à Polícia Federal, juntando cópia do contrato obrigados a freqüentar curso de formação profissional
empresarial firmado entre a empresa prestadora e as e técnico com diversas modalidades de ensino,
empresas para as quais prestará o serviço de segurança principalmente o de armamento e tiro e encerram o
e de transporte de valores. curso com experiência e prática de manuseio de armas
de todos os calibres.

- Alguns marginais fazem alterações nas armas 7. LEI DO ABUSO DE AUTORIDADE


de fogo para que elas não possam ser identificadas,
como raspar o numero de identificação, substituem a

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Abordaremos a seguir os principais tópicos da Lei § 1º A sanção administrativa será aplicada de


n.º 4.898/65: acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer em:
atentado: a) advertência;
a) à liberdade de locomoção; b) repreensão;
b) à inviolabilidade do domicílio; c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo
c) ao sigilo da correspondência; de cinco a cento e oitenta dias, com perda de
d) à liberdade de consciência e de crença; vencimentos e vantagens;
e) ao livre exercício do culto religioso; d) destituição de função;
f) à liberdade de associação; e) demissão;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao f) demissão, a bem do serviço público.
exercício do voto; § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o
h) ao direito de reunião; valor do dano, consistirá no pagamento de uma
i) à incolumidade física do indivíduo; indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com
exercício profissional. as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e
consistirá em:
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
a) ordenar ou executar medida privativa da b) detenção por dez dias a seis meses;
liberdade individual, sem as formalidades legais ou c) perda do cargo e a inabilitação para o
com abuso de poder; exercício de qualquer outra função pública por prazo
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a até três anos.
vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; § 4º As penas previstas no parágrafo anterior
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; § 5º Quando o abuso for cometido por agente
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer
prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se acessória, de não poder o acusado exercer funções de
proponha a prestar fiança, permitida em lei; natureza policial ou militar no município da culpa, por
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade prazo de um a cinco anos.”
policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer • Autoridade supondo a ação correta e legítima,
outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio não haverá abuso por inexistência de dolo.
em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; • Inexiste tentativa nos crimes do art. 3°, posto
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade que não há tentativa de crime de atentado. Nos crimes
policial recibo de importância recebida a título de do art. 4° admite-se tentativa.
carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra • O rito das leis penais especiais é especifico e,
despesa; portanto, não se aplica a defesa prévia ao crime de
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de abuso de autoridade.
pessoa natural ou jurídica, quando praticado com • Após a edição da Lei 10.259/2001, o abuso de
abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; autoridade é caracterizado como delito de menor
i) prolongar a execução de prisão temporária, de potencial ofensivo, sendo cabível a transação penal,
pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em qualquer caso. O único parâmetro é a pena máxima
em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente que, no caso, é de 6 meses.
ordem de liberdade. • Súmula 172, STJ: COMPETE A JUSTIÇA COMUM
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos PROCESSAR E JULGAR MILITAR POR CRIME DE
desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função ABUSO DE AUTORIDADE, AINDA QUE
pública, de natureza civil, ou militar, ainda que PRATICADO EM SERVIÇO.
transitoriamente e sem remuneração. • Nem todo abuso de poder configura crime de
abuso de autoridade. É preciso que a conduta
esteja descrita nos art. 3.º ou 4.º da Lei n.º
4898/65.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu • O particular pode ser sujeito ativo do crime de
autor à sanção administrativa civil e penal. abuso de autoridade, desde pratique a

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conduta em concurso com a autoridade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


pública.
• Haverá crime de abuso de autoridade ainda
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral.
que o agente esteja fora de suas funções (ex.:
Rio de Janeiro: IMPETUS, 2010.
férias), desde que invoque a função.
• NÃO EXISTE crime de abuso de autoridade na CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral.
FORMA CULPOSA. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
• PRISÃO PARA AVERIGUAÇÃO é crime de BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal.
ABUSO DE AUTORIDADE. São Paulo: Saraiva, 2007.
MAGALHÃES NORONHA, Edgard. Direito Penal, V. 1 ao
4. São Paulo: Saraiva.
TAVARES, Juarez. Teoria do Injusto Penal. 3. ed. Belo
Horizonte: Del Rey, 2003.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de
Direito Penal. São Paulo: Saraiva.
Constituição da República Federativa do Brasil.
Código Penal Brasileiro.

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