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Os Direitos Humanos Desafiando o Século XXI PDF
Os Direitos Humanos Desafiando o Século XXI PDF
255 p.
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
CONSELHO FEDERAL
COMISSÃO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
OS DIREITOS HUMANOS
DESAFIANDO O SÉCULO XXI
Brasília
2009
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
SUMÁRIO
Prefácio
Cezar Britto.........................................................................................................07
Apresentação
Agesandro da Costa Pereira..................................................................................09
Direito de Asilo
João Baptista Herkenhoff.....................................................................................63
5
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
Paz e Guerra
Moacyr Scliar.....................................................................................................129
Direito à Vida
Paulo Vannuch...................................................................................................135
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
PREFÁCIO
Temos a convicção que esta luta pela dignidade humana deve ser a
preocupação dos povos e Estados ante a constatação da necessidade de instruir
a consciência de novos valores civilizatórios. O enfrentamento de desafios dessa
monta requer esforços contínuos visando ao desenvolvimento de valores culturais,
morais, espirituais, bem como o exercício da tolerância e concomitante valorização
da diversidade.
Cezar Britto
Presidente Nacional da OAB
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
APRESENTAÇÃO
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como direitos dos cidadãos de cada Estado e protegidos apenas dentro de suas
respectivas fronteiras.
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Agesandro da Costa
Pereira
Conselheiro Federal
Presidente da Comissão Nacional de Direito
Humanos
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Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Preâmbulo
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos
direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e
na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover
o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
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Artigo I
Artigo II
Artigo III
Artigo IV
Artigo V
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Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa
perante a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a
igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a
tal discriminação.
Artigo VIII
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio
efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX
Artigo X
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos
e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era
aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu
lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda
pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este
regressar.
Artigo XIV
Artigo XV
Artigo XVI
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos
nubentes.
Artigo XVII
Artigo XVIII
Artigo XIX
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX
Artigo XXI
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue país, diretamente
ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
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Artigo XXII
Artigo XXIII
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que
lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana, e a que se acrescentará, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção
de seus interesses.
Artigo XXIV
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.
Artigo XXV
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Artigo XXVI
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória.
A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
Artigo XXVII
Artigo XVIII
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos
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Artigo XXIV
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
Artigo XXX
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sor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio-Branco; Doutor Honoris Causa por
distintas Universidades latino-americanas; Membro Titular do Curatorium da Academia de
Direito Internacional da Haia, do Institut de Droit International, e da Academia Brasileira de
Letras Jurídicas.
1
. Cf., a respeito, A.A. Cançado Trindade, “International Law for Humankind: Towards a New
Jus Gentium - General Course on Public International Law - Part I”, 316 Recueil des Cours
de l’Académie de Droit International de la Haye (2005) pp. 31-439; A.A. Cançado Trindade,
“International Law for Humankind: Towards a New Jus Gentium - General Course on Public
International Law - Part II”, 317 Recueil des Cours de l’Académie de Droit International de la
Haye (2005) pp. 19-312.
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2
.Cf. A.A. Cançado Trindade, Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, 2a. ed., vol. I, Por-
to Alegre, S.A. Fabris Ed., 2003, capítulo I, pp. 51-87; UNESCO, Los Derechos del Hombre - Estudios
y Comentarios en torno a la Nueva Declaración Universal, México/ Buenos Aires, Fondo de Cultura
Económica, 1949, pp. 233-246.
3
. A iniciativa latino-americana se influenciou fortemente nos princípios que regem o recurso de
amparo, já então consagrado em muitas das legislações nacionais dos países da região.
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4
.Cf. A. Verdoodt, Naissance et signification de la Déclaration Universelle des Droits de l’Homme, Lou-
vain, Nauwelaerts, [1963], pp. 116-119; A. Eide et alii, The Universal Declaration of Human Rights - A
Commentary, Oslo, Scandinavian University Press, 1992, pp. 124-126 e 143-144; R. Cassin, “Quelques
souvenirs sur la Déclaration Universelle de 1948”, 15 Revue de droit contemporain (1968) n. 1, p. 10; R.
Cassin, “La Déclaration Universelle et la mise en oeuvre des droits de l’homme”, 79 Recueil des Cours
de l’Académie de Droit International de La Haye (1951) pp. 328-329.
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5
. A.A. Cançado Trindade, The Application of the Rule of Exhaustion of Local Remedies in International
Law, Cambridge, Cambridge University Press, 1983, pp. 1-445; A.A. Cançado Trindade, O Esgotamen-
to dos Recursos Internos no Direito Internacional, 2a. ed., Brasília, Edit. Universidade de Brasília, 1997,
pp. 1-327.
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versus Trinidad e Tobago (2002), Cantos versus Argentina (2002), J.H. Sánchez
versus Honduras (2003), M. Urrutia versus Guatemala (2003), Tibi versus Equador
(2004), Yatama versus Paraguai (2005), Palamara Iribarne versus Chile (2005).
A Corte Européia de Direitos Humanos, a seu turno, tem igualmente
se debruçado sobre a matéria, que forma hoje objeto de uma vasta jurisprudência
sob a Convenção Européia de Direitos Humanos, a par de um denso debate
doutrinário6. Tal jurisprudência, em seus primórdios, sustentava o caráter
“acessório” do direito consagrado no artigo 13 da Convenção Européia, encarado
- a partir dos anos oitenta - como garantindo um direito substantivo individual
subjetivo. Gradualmente, em seus julgamentos quanto ao mérito nos casos
de Klass versus Alemanha (1978), Silver e Outros versus Reino Unido (1983), e
Abdulaziz, Cabales e Balkandali versus Reino Unido (1985), a Corte Européia passou
a reconhecer o caráter autônomo do artigo 13. Após anos de hesitações, a Corte
Européia, em seu julgamento quanto ao mérito no caso de Aksoy versus Turquia
(1996), determinou a ocorrência de uma violação “autônoma” do direito a um
recurso efetivo ante as instâncias nacionais competentes (artigo 13 da Convenção
Européia). Posteriormente, vem destacando a alta relevância do artigo 13, em
decisões sucessivas a partir de seu julgamento quanto ao mérito no caso Kudla
versus Polônia (2000).
O direito a um recurso eficaz ante as instâncias nacionais competentes
tem sua efetividade em muito fortalecida nos Estados que incorporaram as
disposições dos tratados de direitos humanos em seus ordenamentos jurídicos
internos respectivos. Tal incorporação é uma medida das mais desejáveis e
necessárias7; no entanto, os Estados Partes que a ela não tiverem procedido, nem
por isso estão eximidos de assegurar sempre a proteção e garantias judiciais dos
artigos 25 e 13, respectivamente, das Convenções Americana e Européia de Direitos
Humanos, emanadas do artigo 8 da Declaração Universal de Direitos Humanos.
A Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos, por sua vez, estabeleceu
6
. Cf., e.g., P. Mertens, Le droit de recours effectif devant les instances nationales en cas de violation d’un
droit de l’homme, Bruxelles, Éd. de l’Univ. de Bruxelles, 1973, pp. 1-151; D.J. Harris, M. O’Boyle e C.
Warbrick, Law of the European Convention on Human Rights, London, Butterworths, 1995, pp. 443-
461; L.-E. Pettiti, E. Decaux e P.-H. Imbert, La Convention Européenne des droits de l’homme, Paris, Eco-
nomica, 1995, pp. 455-474.
7
. Cf., no tocante ao Brasil, A.A. Cançado Trindade (Editor), A Incorporação das Normas Internacionais
de Proteção dos Direitos Humanos no Direito Brasileiro, 2a. edição, Brasília/San José da Costa Rica,
IIDH/ACNUR/CICV/CUE/ASDI, 1996, pp. 1-845.
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violações das garantias judiciais (artigo 7(1) da Carta Africana de Direitos Humanos
e dos Povos) em suas decisões nos casos, e.g., de “Rencontre Africaine pour la
Defense des Droits de l’Homme” versus Zâmbia (1996), “Constitutional Rights
Project” (em relação a Akamu, Adega et alii) versus Nigéria (1995), Alhassan
Abubakar versus Gana (1996).
Cumpre ter sempre presente que, ao ratificar os tratados de direitos
humanos, os Estados Partes contraem, a par das obrigações específicas relativas a
cada um dos direitos protegidos, a obrigação geral de adequar seu ordenamento
jurídico interno às normas internacionais de proteção. As duas Convenções de
Viena sobre Direito dos Tratados (de 1969 e 1986, respectivamente) proíbem
que uma Parte invoque disposições de seu direito interno para tentar justificar
o descumprimento de um tratado (artigo 27). É este um preceito, mais do que
do direito dos tratados, do direito da responsabilidade internacional do Estado,
firmemente cristalizado na jurisprudência internacional. Segundo esta última, as
supostas ou alegadas dificuldades de ordem interna são um simples fato, e não
eximem os Estados Partes em tratados de direitos humanos da responsabilidade
internacional pelo não-cumprimento das obrigações internacionais contraídas8.
Desse modo, não é dado àqueles Estados invocar supostas dificuldades ou lacunas
de direito interno, porquanto estão obrigados a harmonizar este último com a
normativa dos tratados de direitos humanos em que são Partes (e.g., Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, artigo 2; Pacto de Direitos Civis e Políticos das
Nações Unidas, artigo 2(2)9.
Não há que passar despercebido que a Declaração Universal de 1948
atribui importância capital ao princípio básico da igualdade e não-discriminação,
dado que - em seus próprios termos - todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. Tendo presente a concepção da Declaração Universal,
8
. A jurisprudência tanto da antiga Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI) como da Corte
Internacional de Justiça (CIJ) assinala que as obrigações internacionais devem ser cumpridas de boa
fé, não podendo os Estados invocar, como justificativa para seu descumprimento, disposições de
direito constitucional ou interno. CPJI, caso das Comunidades Greco-Búlgaras (1930), Série B, n. 17, p.
32; CPJI, caso dos Nacionais Polacos de Danzig (1931), Série A/B, n. 44, p. 24; CPJI, caso das Zonas Li-
vres (1932), Série A/B, n. 46, p. 167; CIJ, caso da Aplicabilidade da Obrigação de Arbitrar sob o Convênio
de Sede das Nações Unidas (caso da Missão da OLP), ICJ Reports (1988) pp. 31-32, par. 47.
9
. Assim sendo, se invocam a não-incorporação, ou supostas dificuldades ou lacunas de direito in-
terno, para deixar de prover recursos internos simples e rápidos e eficazes para dar aplicação efetiva
às normas internacionais de proteção dos direitos humanos, estão incorrendo em uma violação
adicional dos tratados de direitos humanos em que são Partes.
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10
. Parágrafos 97-101 do referido Parecer n. 18. E cf. o extenso Voto Concordante do Juiz Presidente
A.A. Cançado Trindade, parágrafos 1-89, texto reproduzido in: A.A. Cançado Trindade, Derecho In-
ternacional de los Derechos Humanos - Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de
Derechos Humanos, 1991-2006), México, Edit. Porrúa/Universidad Iberoamericana, 2007, pp.
52-87.
11
. Parágrafo 71 do mencionado Parecer n. 18. - Cf., a respeito, recentemente, A.A. Cançado Trindade,
“Le déracinement et la protection des migrants dans le Droit international des droits de l’homme”,
19 Revue trimestrielle des droits de l’homme - Bruxelles (2008) n. 74, pp. 289-328.
12
. Texto do referido Voto reproduzido in: A.A. Cançado Trindade, Derecho Internacional de los De-
rechos Humanos - Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos,
1991-2006), México, Edit. Porrúa/Universidad Iberoamericana, 2007, pp. 629-654.
13
. A.A. Cançado Trindade, El Acceso Directo del Individuo a los Tribunales Internacionales de Derechos
Humanos, Bilbao, Universidad de Deusto, 2001, pp. 9-104; A.A. Cançado Trindade, Évolution du Droit
international au droit des gens - L’accès des particuliers à la justice internationale: le regard d’un juge,
Paris, Pédone, 2008, pp. 1-187.
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Beinusz Szmukler*
Kant sostuvo que “no hay más que un derecho natural e innato: la
libertad (independencia del albedrío de otros) en la medida que puede coexistir
con la libertad de todos, según una ley universal; este derecho es único, primitivo,
propio de cada hombre, por el solo hecho de ser hombre”
La prisión aunque sea provisional, acarrea graves daños morales y
materiales al procesado, que, en el ulterior juzgamiento puede ser reconocido
inocente.
La privación de libertad personal por el Estado es una facultad
atribuida por el ordenamiento jurídico, como una reacción contra quienes
incurren en una conducta violatoria de derechos de otras personas o del orden
social, definidas legalmente por su gravedad como delitos.
El principio liberal de presunción de inocencia, y su correlato que
exige que la desmoralizante y lesiva medida de privación de libertad sólo se
aplique cuando hay certidumbre de culpabilidad del procesado, es una conquista
lentamente obtenida frente al poder omnímodo del monarca absoluto, que
definía por si mismo la pérdida de libertad, el castigo físico, y hasta la muerte de
sus súbditos.
En el Digesto Romano de “Homine libero exhibendo”, cuya ley 1ª
ordena: ”Exhibe al hombre libre que retienes con “dolo malo”, antecedente
remoto de la Carta Magna de 1265 en Inglaterra, que los nobles obtienen como
consecuencia de la derrota del rey Juan Sin Tierra, que entre otras cosas les
otorga que ninguno de ellos, bajo la misma fórmula “hombre libre”, pueda ser
detenido ni perjudicado en su posición ni declarado fuera de la ley ni exiliado, de
no ser por juicio legal por sus iguales o por la ley del país. En 1628, el Parlamento
le arranca al monarca Carlos I “La petición de derechos”, uno de cuyos puntos
*
Beinusz Szmukler – Presidente de la Asociación de Abogados de Buenos Aires, Presidente Con-
sultivo de la Asociación Americana de Juristas, Consejero del Advisory Board del Centro por la
Indepedencia de Jueces y Abogados de la Comisión Internacional de Juristas, Consejero del
Instituto “Espacio para la Memoria”, ex Consejero de la Magistratura Nacional, ex Profesor Titular
de Derecho Constitucional por concurso.
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facultades, no ejercer violencia ilegitima. Aquel que sufre una punición, debe
tener las condiciones mínimas que se garantizan a toda persona, incluyendo
libertad de expresión derecho de petición, derecho a la educación, y en la
medida de lo posible, derecho al trabajo.
Solo pueden limitarse los derechos estrictamente necesarios para
el la investigación judicial o el cumplimiento de la condena. El Registro de la
Delincuencia que suelen existir en casi todas partes deben estar limitadas a los
fines del propio sistema penal, y no ser utilizados para otros propósitos.
Son principios aceptados desde hace más de dos siglos, durante
los cuales se han ido desarrollando: el de legalidad que impone la utilización
de fórmulas precisas a la hora de definir las figuras delictivas, la presunción
de inocencia, el del juez natural, del derecho de defensa o del debido proceso
(incluye la necesidad de proveer un traductor capacitado para el imputado que no
domina el idioma en el que actúa el tribunal), de publicidad, y el non bis in idem,
que Las penas deben ser necesarias y apropiadas, y la reforma y la readaptación
social de los condenados debe ser la finalidad del sistema penitenciario.
Estos preceptos que protegen teóricamente la libertad no son,
desde el punto de vista técnico, garantías, pues para su realización necesitan
protección. Este derecho, como todos los demás, se convierten, al decir de Von
Ihering, en una farsa declamatoria, si carecen de garantía constitucional y de
jueces dignos para hacerla efectiva, cumplidores de su obligación de poner una
valla a la arbitrariedad.
De allí que la Declaración Universal de 1948 no hace más que
ratificar en un instrumento de enorme valor, precisamente porque universaliza,
un principio ya consolidado en la conciencia jurídica de la humanidad, aunque,
lamentablemente, violado a lo largo y ancho del planeta. A partir de ese
momento se inicia un proceso de desarrollo y consolidación normativa, que se
concreta en el Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos (PIDCyP), bajo
el mismo número de artículo, el 9, establece:
1. Todo individuo tiene derecho a la libertad y a la seguidad
personales. Nadie podrá ser sometido a detención o prisión arbitrarias. Nadie
podrá ser privado de su libertad, salvo por las causas fijadas por ley y con arreglo
al procedimiento establecido en ésta. 2.Toda persona detenida será informada,
en el momento de su detención, de las razones de la misma, y notificada, sin
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Edmundo Oliveira**
Igual proteção da lei não sinaliza que todas as leis possam ser
aplicadas igualmente a todos. Significa que todos têm direito a uma formal
proteção da lei, no mundo real do ordenamento jurídico e da consciência ética
compartilhada no Estado. Efetivamente, o artigo 7º é o símbolo da original
vertente dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos fundamentais,
escudo para a elevação dos sentimentos contra prejuízos, constrangimentos e
inquietações que podem culminar com a descrença nas instituições. Na dinâmica
da universalização dos direitos humanos, o artigo 7º abriu portas para o peculiar
resguardo de determinados conjuntos de pessoas, grupos e minorias vez por
outra vulneráveis, por isso merecedores de apropriado regime de proteção
para fins de sólida tutela dos direitos e garantias fundamentais. Assim sendo,
em decorrência da âncora histórica do direito à igualdade formal - traduzida na
expressão “todos são iguais perante a lei” – emergiu o reconhecimento do direito
à diferença, face à necessidade de se conferir legítimas respostas às violações que
colocam em perigo ou atingem a titularidade de específicos direitos no cenário
*
Edmundo Oliveira - Advogado, Membro da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado
do Pará. Ph.D. em Direito Penal, com Pós-Doutorado pela Universidade da Sorbonne, Paris, Fran-
ça. Professor Titular de Direito Penal, por concurso público, da Universidade Federal do Pará.
Membro da Fundação Internacional Penal e Penitenciária, com sede em Berna, Suiça, criada pela
Assembléia Geral da ONU. Professor Pesquisador de Direito Penal Comparado da Universidade
da Flórida e Consultor Científico do Instituto de Segurança Pública da Flórida, com sede no Con-
dado de Lake, Estados Unidos.
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Bibliografia
DONNELLY, Jack. Human Rights and Human Dignity: an Analytic Critique of Non-
Western Conceptions of Human Rights. American Political, Science Review, New
York, 1982, n.76.
53
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
HUMPHREY, John P. The United Nations Chapter and the Universal Declaration of
Human Rights. Paris, Unesco, 1984.
MERON, Theodor. Human Rights in International Law. Legal and Policy Issues.
Oxford, Oxford University Press, 1984.
VAN DIJK, Pieter. Universal Legal Principles of Fair Trial in Criminal Proceedings.
Human Rights in a Changing East-West Perspective, New York, Pinter Publishers,
1990.
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*
Fábio Konder Comparato - advogado, escritor e jusrista brasileiro. É professor titular aposen-
tado (em 2006) da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, doutor em Direito pela
Universidade de Paris e doutor Honis Causa da Universidade de Coimbra. Em 2009, recebeu o tí-
tulo de Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especializou-se
inicialmente em Direito Comercial, tendo publicado O Poder de Controle na Sociedade Anônima.
Atualmente dedica-se a dar cursos em outras áreas jurídicas, como Fundamentos de Direitos
Humanos e Direito do Desenvolvimento.É fundador da Escola de Governo, que tem por objetivo
a formação de governantes e já está presente em vários estados da federação.
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poderá considerar-se competente para julgar casos de tortura: a) quando ela foi
praticada em seu território; b) quando o suposto autor for nacional do Estado
em questão; c) quando a vítima for nacional do Estado em questão. A convenção
criou um “Comitê contra a Tortura”, com funções de investigação análogas às do
Comitê de Direitos Humanos, criado pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos de 1966.
O Estatuto do Tribunal Penal Internacional de 1998 incluiu a tortura
na categoria dos crimes contra a humanidade, que são aqueles “cometidos no
quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população
civil, havendo conhecimento desse ataque” (art. 7º). De acordo com o Estatuto,
o crime de tortura pode existir, ainda que o ato não seja praticado por instigação
ou com a aquiescência de um agente público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas.
A tortura no Brasil
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Flávia Piovesan*
*
Flávia Piovesan - possui graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
lo (1990) , mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1993) , douto-
rado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) , ensino-fundamental-
primeiro-grau pelo Colégio Mater Dei (1982) e ensino-medio-segundo-grau pelo Colégio Santa
Cruz (1985). Atualmente é Professora Doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
e Professora Doutora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Tem experiência na área de
Direito , com ênfase em Direito Público.
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DIREITO DE ASILO
*
João Baptista Herkenhoff - possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito do Espírito
Santo (1958) , mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1975)
, pós-doutorado pela University of Wisconsin - Madison (1984) e pós-doutorado pela Universi-
dade de Rouen (1992) . Atualmente é PROFESSOR ADJUNTO IV APOSENTADO da Universidade
Federal do Espírito Santo. Tem experiência na área de Direito.
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17
Id., ib., p. 295 e segs.
18
Id., ib., p. 321 e segs.
19
Id., ib., p. 323 e segs.
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20
Cf. Márcio Pereira Pinto Garcia. Comentário ao Artigo 14 da Declaração Universal dos Di-
reitos Humanos. In: Direitos Humanos: conquistas e desafios. Brasília, Letraviva Editora, 1999.
Publicação sob os auspícios do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
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21
Jean-François Collange. Théologie des droits de I’ homme. Paris, Les Editions du Cerf, 1989,
p. 254 e seguintes.
22
Cf. Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 3, vers. 16. Apud Bíblia Sagrada –
Edição Pastoral. Tradução, introduções e notas de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin.
São Paulo, Edições Paulinas, 1990, p. 1463.
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9. Taoísmo e asilo
26
Cf. Lama Denis Teundroup. Bouddhisme, voie d’ ouverture et de libération. In: Lumière e Vie.
Lyon Août 1989, tome XXXVIII, nº 193.
27
Cf. Père Pierre Python. L’éthique bouddhique. In : Lumiére e Vie. Lyon. Août 1989, tome
XXXVIII, nº 193.
28
Cf. Môhan Wijayaratna. Le Bouddha et ses disciples, Paris. Les Editions du Cerf. 1990, passim.
29
No mesmo autor e obra citada, p. 305.
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30
René Grousset, op. cit., p. 296 e ss.
31
Cf. René Grousset. Histoire de Ia Philosophie Orientale. Inde – Chine – Japon. Paris, Nouvelle
Libraire Nationale, 1923, p. 316 e seguintes. Cf. também: Eric Santoni, Les Religions. Alleur
(Belgique), Marabout. 1989. Anne-Marie Delcambre. L’ Islam. Paris. Éditions La Découverte,
1991. Jean Filliozat. Les Philosophies de I’Inde, Paris, Presses Universitaires de France, 1987.
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*
João Luiz Duboc Pinaud - Advogado militante-OAB-RJ , Professor Titular de Direito Constitucio-
nal da UFF, Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros-IAB-1998/2000 , Juiz de Direito do
Estado do Rio de Janeiro , Escritor premiado pelo Instituto Nacional do Livro,ano de1985, com o
Romance Tempo de Família, Secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos-RJ (2000/2002),
Secretário de Estado de Direitos Humanos-RJ-Junho/Novembro-2003, Membro da Comissão
Nacional de Direitos Humanos do CFOAB, Membro da Comissão Especial do Conselho De De-
fesa dos Direitos da Pessoa Humana(CDDPH)-2004, Presidente da Comissão Especial dos Mor-
tos e Desaparecidos políticos da Secretaria Especial De Direitos Humanos-2004, Participante da
Missão de Solidariedade ao Povo do Haiti organizada pelo Jubileu Sul, Membro da Associação
Americana de Juristas e Presidente da Rama do Rio de janeiro da AAJ, Coordenador da Praxis-
Direitos Humanos Em Ação.
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recente (ou seja, durante Tirania Militar truculenta e assassina) construiu sua
Ética Política em coragem, luta e riscos diante aquele despotismo. Ela escolheu,
demarcou e assumiu seu itinerário histórico e justamente por isso colocou-
se entre instituições vanguardeiras dos movimentos populares (estrutura
oxigenada de Igualdade, Liberdade, e Insurgência) , potencializando – como
nunca se viu em nossa história – sua anfíbia condição de entidade representativa
e parcela do poder estatal – pois assumiu os riscos dessa vanguarda – recebeu
em troca ( esvaziando a intolerância dos governantes militares), a confiança do
povo mediante suas entidades representativas e também o que era havido como
tecnicamente eficaz e confiável . Eram vozes das pessoas falando nas casas, nas
ruas, soando em surdina e medo, em suma, o que se chamaria voz do povo. A
//Essa Ordem dos Advogados do Brasil não foi credenciada por dispositivo da
Constituição Federal (Certa vez, em debate com Roberto Campos, voz autoritária
da “consciência” conservadora do capital financeiro, ouvi-o usar repetidamente
a palavra “pleonexia”) como defensora da ordem jurídica, foi mais que isso,
tornou-se efetivamente, repositório da uma sadia e verdadeira consciência ética.
Advogados introjetaram e colocaram-se no saio de lutas diretas, nos espaços das
prerrogativas ou do frontal enfrentamento ante a Ditadura.
Não são outros os dilemas trazidos pelas pautas da OAB. Eles sim
devem ser preliminarmente, discutidos e vistos como desafios em direção a
valores acima dos que foram pensados e vivenciados pela nossa colonial tecno-
burocracia. E na correção de nossas falhas, na retificação de caminhos, na pauta
inclusive, das exigências e esperanças que as pessoas brasileiras tributaram aos
integrantes da OAB, notadamente nos mais ainda deploráveis tempos de tirania
militar que, por seu turno, descoloriu-se, como poder estagnante, em face do
atual tempo de esperanças insepultadas, devem inexistir tocas para o esconder
e refúgio dos que, em dias de opressão foram os aplaudidores voluntários
de todos os absurdos praticados , na atmosfera de violência sempre covarde
exercidas em suas casernas cavernas e quartéis.
As respostas, de modo exclusivo, não nos pertencem. Mas,
enquanto tarefeiros de Direitos Humanos, em miúda contribuição e ao nosso
aperfeiçoamento cabe, invertendo os termos, perguntar: será apenas tecno-
burocrática a toca onde se esconde? O que, dentro de contextos contrários as
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apurações de violência contra direitos, o que nos é dado fazer? Na pauta do debate
solicitado, pede-se análise da circunstância, intensidade e freqüência crescente
de violações sem troco. O que chega tardiamente ao nosso conhecimento
(p.ex. cartas de detentos doentes, desassistidos e torturados, enviadas para a
Comissão de Direitos Humanos da OAB. E as cartas dos detentos, denunciando
violências suportadas ou implorando apoio, raro encontram seus destinatários
ou seguem os eficazes caminhos.
Essa “posta-restante”, enquanto tal, não possui anima. Qual
animação se espera do inanimado? Os fatos são expansivos, não param ou
esperam. A fundamentação da revolta esta na indignação ante o que se repete,
é assimilado e revigorado na inação ou ação tardia. A longa experiência da OAB
vem mostrando os tantos obstáculos ao recebimento e providências cabíveis
que inúmeras e constantes denúncias, vindas de todos os Estados brasileiros.
As novas dimensões – com ampliação e novo instrumentar
a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil - que a Direção da Entidade planeja, deverá abrir outros campos de
eficácia no relevante atendimento, intrinsecamente questionador posto que
sempre enfrenta violações de Direitos Humanos, de várias origens (estatais
ou particulares) e as resoluções adequadas implicam na constante melhoria
dos serviços públicos, enquanto exigem questionamentos, de contundência
inafastável e sempre molestos, quando incisivamente encaminhados, nos
espaços públicos e particulares. Sempre deve ser assim, posto que o desprezar
ou ignorar a urgência social de impedir lesões a Direitos Humanos, deve gerar
respostas fortes, desmoralizantes que, apesar da agressividade que precisa
encerrar ao exigir restaurações, raramente conseguem ser tão duras, dolorosas
e socialmente desconcertantes quanto o ferimento de qualquer (e sempre
nuclear) Direito Humano.
Karl Marx afirmou , em termos não superados, ser a Liberdade a
consciência da necessidade.Tal valor somente se realiza através da Igualdade.
Esses dois valores,em sua inerência,devem ser o principal objeto das lutas
universais em favor de um mundo justo.
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Joênia Wapichana*
Introdução
*
JOENIA BATISTA DE CARVALHO é do Povo Indígena WAPICHANA/RR.Primeira mulher indígena
a se formar em Direito no Brasil. Graduou-se na Universidade Federal de Roraima. Advogada
e liderança indígena no Conselho Indígena de Roraima. Pela defesa dos direitos dos povos in-
dígenas da TI Raposa Serra do Sol, já recebeu prêmios nacionais e internacionais de direitos
humanos.
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E o que mudou?
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3 - CONCLUSÃO
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6. MELLO, Evaldo Cabral de. O Abolicionismo. São Paulo: Nova Fronteira, 2000.
Publifolha. p. XIII
7. Confira-se José Luís Fiori, in 60 lições dos anos 90: Uma década de
neoliberalismo – especialmente a 4ª. Lição. Ed. Record, 2001. p. 21/24.
11. GRAU, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 12.ed. São Paulo:
Malheiros, 2007. p. 199
12. HOBSBAWN, Eric. Entrevista sobre el siglo XXI. Barcelona: Editorial Crítica,
2000. p.112
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1990, em vigor desde 2003. Ainda não ratificada pelo Brasil. Atualmente,
praticamente apenas os países de origem das migrações são seus
signatários. Os países têm-se mantido alheias as suas determinações.
9. Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com
Deficiência. Aprovada em 2006, passou a vigorar em 2008. Ratificada
pelo Brasil, promulgada no Senado Federal em 2008 com status de
Emenda Constitucional. Aguarda sanção presidencial e depósito da
ratificação na ONU. Seu Protocolo Opcional de 2006 está na mesma
situação.
10. Convenção Internacional para Proteger todas as Pessoas
de Desaparecimentos Forçados. DE 2006, ainda não entrou em vigor.
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Em seu artigo III, a DUDH afirma que “Todo ser humano tem direito
à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, e, em seu artigo VI, que “Todo ser
humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa
perante a lei”. Apesar de estas afirmações parecerem auto-explicativas, elas
ainda são detalhadas em vários artigos e parágrafos do PIDCP.
Ainda assim, o mundo tem testemunhado inúmeras e apavorantes
violações destes direitos. Apenas no que diz respeito ao genocídio, o mais
evidente e arrogante ataque contra “a vida, a liberdade e a segurança pessoal”,
desde a proclamação da DUDH (1948) e da Convenção para a Prevenção e
Punição do Crime de Genocídio (1951), o mundo assistiu horrorizado, mas, na
maioria das vezes, convenientemente reativo, ao extermínio de minorias nos
“campos de extermínio” do Camboja, com uma estimativa de dois milhões de
mortes (25% da população na época), entre 1975 e 1979; a mais de quatro
décadas de genocídio (não declarado) chinês no Tibete, com a morte de mais
de um milhão de pessoas; ao assassinato em massa de mais de 200.000 civis
muçulmanos no Kosovo, entre 1992 e 1995 (“o maior fracasso do Ocidente
desde 1930”); ao tenebroso outono de 1994, quando pelo menos 800.000 tutsis
e hutus moderados foram dizimados a machadadas no genocídio em Ruanda; à
matança, em julho de 1995, de mais de 8.000 bósnios em Srebrenica, pelas forças
do exército sérvio na Bósnia-Hezergovina; à “catástrofe humana” que atinge
atualmente grupos não-árabes. Na região de Darfur, no Sudão, que já matou cerca
de 400.000 pessoas, a maioria pela fome e pelas doenças. Impossível imaginar
a dor e o sofrimento ocultos nestas estatísticas, especialmente quando se leva
em consideração que a morte é, nestes casos, o fim dado a uma seqüência de
violências que incluem o escárnio e a agressão física e moral, estupro, a tortura
e a amputação de membros aplicados também a mulheres e crianças.
A esses verdadeiros tsunamis contra o direito à vida, somam-se
outros tantos indizíveis sofrimentos impostos pela violação do direito à liberdade,
à segurança e ao reconhecimento perante a lei. No final de 2008, o número de
pessoas forçadas a abandonar seus lares por conflitos ou perseguições, segundo
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e amor) com quem incluímos no círculo do Nós, por piores que sejam tais
pessoas. Por outro lado, desprezamos e desrespeitamos (e, mesmo, odiamos)
que colocamos nos Eles, por melhores que sejam!
Por exemplo, se o alcoólatra é meu filho, é o pobre do meu filho,
que tem problema com bebida. Se for filho do vizinho, é o bêbado do filho do
vizinho, e ele é o problema! Esta divisão de sentimentos e afetos provocada pelo
etnocentrismo assume seu paroxismo na guerra. É certo que, no outro lado
da trincheira, há soldados muito mais parecidos comigo – em função de seus
valores, gostos, jeito de ser – do que muitos dos que lutam no meu exército.
Porém, devo matá-los, pois estão fora do círculo do Nós.
Entretanto, por mais poderosa que seja essa noção de Nós e de Eles,
ela não é fixa. Pode ser modificada pela inteligência e pela sabedoria. E, ao ser
modificada, altera também a forma como sentimos e como nos comportamos.
Por exemplo, podemos pensar em Nós, a nossa família, e Eles, os vizinhos. Ou
podemos pensar em Nós, os moradores da nossa rua. O que aconteceu com
Eles? Passaram a fazer parte de Nós, um Nós mais amplo, mas com laços e
interesses comuns.
Voltando ao nosso modelo de Nós e Eles, o que estas considerações
nos levam a compreender é que uma pessoa verdadeiramente sábia constrói a
realidade da seguinte forma:
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Marcos Colares*
*
MARCOS COLARES – Advogado, Sociólogo, Doutor em Educação, Mestre em Sociologia, Profes-
sor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, Diretor do Centro de Humanida-
des da Universidade Estadual do Ceará.
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32
Ver TARNAS, Richard. A Epopéia do pensamento ocidental – Para compreender as idéias que
moldaram nossa visão de mundo. Trad. Beatriz Sidou, 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000,
p. 467-468.
33
Ibidem, p. 468.
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42
Refiro-me à “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, elaborada por Olympe de Gouges,
em 1791, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, vindo a lume em 26
de agosto de 1789. Para um estudo mais alargado sobre essa personagem e sua Declaração,
remeto para o meu livro O Lado feminino da revolução francesa – uma outra revolução. Brasília/
São Paulo: EGP, 2003.
43
Tomo de empréstimo a expressão como utilizada por Letizia Gianformaggio, ou seja, a igual-
dade prescritiva como sendo algo a ser cotejado à igualdade descritiva, fazendo a diferença
fundamental entre um discurso formulado em termos de ser e um discurso utilizado em termos
de dever ser. Cfr. GIANFORMAGGIO, Letizia. Igualdade e Diferença: são realmente incompatí-
veis? In BONACCHI, Gabriella e GROPPI, Ângela (Orgs.). O Dilema da cidadania – direitos e deveres
das mulheres. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora UNESP, 1995, p. 268-269
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44
Cfr. ARISTÓTELES. A Política. Trad. Nestor Silveira Chaves. 2ª ed. (rev.). Bauru-SP: EDIPRO, 2009,
p. 158-160, (1301, a e b), e p. 141, (1195, b, 30 em diante).
45
Aqui sigo de perto as pegadas do raciocínio teorético de GIANFORMAGGIO, Letizia, in op. cit.
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CONCLUSÃO
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Bibliografia
ARENDT, Hannah. A Condição humana. Trad. Roberto Raposo. 10ª ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2001.
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Marina Silva**
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O Direito de Ficar
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a outro, dali saindo ou ali permanecendo o tempo que melhor lhe aprouver.
Trilhar livremente novos caminhos e ser senhor dos seus passos, eis um grande
desafio do homem do século XXI.
Gênesis 28, 15
“Vê! Eu estou contigo e te guardarei em toda parte
aonde fores e te farei voltar para esta terra, pois não te
abandonarei até eu ter cumprido tudo o que te disse”.
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PAZ E GUERRA
Moacyr Scliar**
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Este é um tema sobre o qual muito foi escrito. Mas existem duas
personalidades cuja manifestação é particularmente interessante: Albert
Einstein (1879-1955) e Sigmund Freud (1856-1939). Ambos tinham muita coisa
em comum. Ambos eram europeus, ambos de ascendência judaica (portanto
pertencentes a um grupo que pagou um alto preço durante a Segunda Guerra),
ambos eram figuras destacadas, não só em seu campo de ação, como do
ponto de vista do pensamento em geral. Ambos tiveram de emigrar por causa
do nazismo, Einstein para os Estados Unidos, Freud para a Inglaterra. Ambos
viveram as duas guerras mundiais. Assim, quando Einstein foi convidado pelo
Instituto Internacional de Cooperação Intelectual da Liga das Nações a escolher
um interlocutor para trocar idéias acerca da política e da guerra, de imediato
ocorreu-lhe o nome de Freud. A correspondência entre eles foi publicada num
livreto chamado “Por que guerra?” que apareceu logo depois da ascensão de
Hitler ao poder, e que, por motivos óbvios, circulou de forma muito limitada.
Na primeira carta, datada de 29 de abril de 1931, Einstein convidava Freud a
aderir ao “grande objetivo de libertar o homem, interna e externamente, dos
perigos da guerra.” Este “interna e externamente” é muito importante. Einstein
reconhecia que a guerra não resulta só da exortação de ditadores, da demagogia
belicista; depende do eco que essas coisas despertam nas pessoas: “Líderes
políticos ou governos devem seu poder ou ao uso da força ou ao apoio das
massas.” Basta recordar as gigantescas demonstrações de apoio a Hitler para
concluir que Einstein sabia o que estava dizendo. Por outro lado, e como diria
numa carta posterior, “Não consigo penetrar nas zonas obscuras do sentimento
e da vontade humanos.” Bem, esta era a especialidade de Freud: explorar
aquele obscuro compartimento da mente que passou a ser conhecido como o
inconsciente, no qual são geradas as forças obscuras que muitas vezes governam
nosso comportamento. Freud dividia os instintos humanos em dois grupos,
aqueles que conservam e unem, e que são os instintos eróticos, e aqueles que
destroem e matam, os instintos agressivos ou destrutivos. A este respeito dizia:
“Não existe a possibilidade de ‘erradicar’ as más tendências (….) Um ser humano
é raramente apenas bom ou mau; usualmente ele é ‘bom’ num contexto, e
‘mau’ em outro.” Mas o ser humano aprende, diz Freud, a transformar instintos
egoístas em instintos sociais; este último faz com que sejamos amados, o
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que, afirma o criador da psicanálise, é uma “vantagem” pela qual vale a pena
fazer sacrifícios. E aí vem a frase lapidar: “A civilização é alcançada através da
renúncia à satisfação dos instintos.” O que não se faz sem um preço: “A sociedade
civilizada, que exige boa conduta sem se preocupar com a base instintiva desta
conduta... empenhou-se, erroneamente, em impor padrões morais de grande
exigência, forçando assim seus membros a distanciar-se da disposição instintiva.”
O resultado é a neurose.
É, de certo modo, uma abordagem pessimista, mas que inclui um
elemento de realidade. Freud apoiaria Woody Allen: o cordeiro da profecia tem
sobradas razões para não dormir. Lobos não abdicam de seus instintos; eles não
têm regras morais, não têm leis, não têm psicanalistas a quem recorrer para
entender seus impulsos agressivos.
Estes impulsos agressivos explicam o comportamento
aparentemente absurdo, quando não revoltante, de pessoas que sob outros
aspectos, são razoáveis, racionais. As premissas de Freud encontraram apoio em
dois experimentos famoso na recente história da psicologia. O primeiro deles
foi conduzido pelo psicólogo da Yale University, Stanley Milgram. Começou em
julho de 1961, três meses depois do julgamento, em Jerusalém, do criminoso
de guerra nazista Adolf Eichmann, que, em sua defesa, insistia em dizer que, ao
enviar os prisioneiros de campos de concentração para a morte estava apenas
“cumprindo as ordens” de seus superiores, o que levou Hannah Arendt a falar,
num ensaio famoso, na “banalidade do mal”. Milgram se propôs a averiguar uma
questão crucial: até onde uma pessoa pode ir quando está cumprindo ordens?
Para isto contratou pessoas que, mediante um gerador elétrico, deveriam dar
choques de crescente intensidade num “cobaio”. Na realidade, o gerador não
dava choque algum; o “cobaio”, vivido por um ator, simulava ser a vítima desses
supostos choques gritando de dor. O condutor do experimento, porém, mandava
que as pessoas continuassem acionando o aparelho, e aí as respostas variaram.
Alguns desistiam, inclusive abrindo mão do pagamento; outros mostravam sua
angústia rindo nervosamente; mas vários (26 de 40 participantes) chegaram ao
“limite” de 450 volts, mostrando que realmente a disposição de cumprir ordens
ultrapassava senso de compaixão. Por que? Discutindo seu próprio trabalho,
Milgram aventou duas hipóteses: a primeira é de que pessoas pouco habituadas
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entre polícia e repressão política, uma das grandes prioridades nacionais nessa
área específica das políticas públicas é desbloquear a relação que ainda leva
policiais a verem os defensores de direitos humanos como se fossem inimigos,
e vice-versa.
O Pronasci – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania
– se constitui na melhor chance já oferecida ao Brasil para enfrentar com eficácia
esse desafio prioritário. Seu livreto de apresentação inclui direitos humanos em
cada uma das páginas, com o diagnóstico adequado para a verdadeira reinvenção
da segurança que nosso País exige: formação policial de excelência, remuneração
condigna, proximidade e parceria com as comunidades, inteligência e prevenção
como ênfases, equipamento adequado, uso proporcional da força etc.
Acima de tudo: ali está o reconhecimento de que é indispensável
associar ação policial e presença permanente dos poderes públicos no
oferecimento de todos os elementos constitutivos de um Estado de bem-estar
social: escolas, centros de saúde, equipamentos esportivos, oportunidades
de produção e fruição cultural, participação política, proteção aos segmentos
vulneráveis.
De ponta a ponta, a implantação dessas mudanças revolucionárias
exigem um postulado muito claro: o crime só pode ser combatido com
eficiência nos marcos da lei. Quando o policial combate o crime empregando
criminosamente a tortura e outros tratamentos ilegais, nasce imediatamente
uma identidade pessoal entre bandido e agente do Estado. Ambos se percebem
igualmente marginais. E com tal proximidade no plano simbólico abre-se o
caminho para que o celular entre na cela, o dinheiro do assalto se transforme
em moto ou lancha do policial, a arma aprendida no DP volte a ser localizada no
arsenal do Comando Vermelho ou de outra quadrilha qualquer.
Aos operadores do Direito, em particular aos advogados que
desempenharam um papel tão relevante nas lutas históricas pela recuperação
da democracia nas décadas de 1970 e 1980, cabe um protagonismo fundamental
no percurso de longo prazo para que o Brasil, definitivamente, assimile todos os
preceitos civilizadores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dedicando
a merecida atenção aos três elementos angulares abordados em seu Artigo 3º.
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o tráfico
dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.
140
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*
Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari é advogado e professor da Faculdade de Direito e do
Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. Coordenou a Comissão de
Direitos Humanos da OAB de São Paulo (1998-2000) e integrou, na qualidade de membro titular,
a Comissão Nacional de Direitos Humanos, do Conselho Federal da OAB (2001-2006).
46
A Carta da Organização das Nações Unidas foi celebrada na cidade norte-americana de São
Francisco em 26 de junho de 1945, tendo sido promulgada no Brasil por via do Decreto n°
19.841, de 22 de outubro de 1945.
47
Resolução 217-A (III) da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, de 10 de dezem-
bro de 1948.
141
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48
As resoluções da Assembléia Geral da ONU não têm o condão de obrigar os Estados-membros;
tal efeito está presente apenas nas resoluções do Conselho de Segurança. Todavia, a importân-
cia da Declaração universal dos direitos humanos fez com que progressivamente fosse reconhe-
cida doutrinariamente para o seu conteúdo a expressão de regras costumeiras ou mesmo de
princípios de direito.
49
O Pacto internacional sobre direitos civis e políticos foi aprovado pela Assembléia Geral da ONU
em 16 de dezembro de 1966 e sua promulgação no Brasil se deu apenas em 1992, através do
Decreto n° 592, de 6 de julho daquele ano.
50
Também em dezembro de 1966, no dia 19, a Assembléia Geral da ONU aprovou o Pacto inter-
nacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais, cuja promulgação no Brasil se deu simulta-
neamente à do outro Pacto, em 6 de julho de 1992, com a edição do Decreto n° 591.
51
A Declaração americana foi aprovada na IX Conferência Internacional Americana, que teve
lugar em Bogotá e na qual também se deu a aprovação da Carta da Organização dos Estados
Americanos, tratado de criação da OEA.
142
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
52
O texto da Declaração que veio a ser adotado pela Assembléia Geral da ONU foi elaborado
pelo V Congresso das Nações Unidas sobre a prevenção da criminalidade e o tratamento dos crimi-
nosos, ocorrido em Genebra no mesmo ano de 1975.
143
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144
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
ARTIGO 1
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” designa
qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos
ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a
fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou
56
A Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes
foi adotada pela Assembléia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1984, tendo sido promulgada
no Brasil apenas em 1991, por força do Decreto n° 40, de 15 de fevereiro.
145
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146
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57
Este sistema de monitoramento veio ainda a ser aprimorado com a adoção, em 18 de dezem-
bro de 2002, do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que disciplina “um sistema de visitas regulares efetuadas por
órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares onde pessoas são privadas de sua
liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desuma-
nos ou degradantes” (art. 1). O Brasil é parte do Protocolo, que foi promulgado internamente por
meio do Decreto n° 6.085, de 19 de abril de 2007.
58
A Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura, concluída em 9 de dezembro de
1985, foi promulgada no Brasil pelo Decreto n° 98.386, de 9 de novembro de 1989.
147
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
Artigo.
ARTIGO 3
Serão responsáveis pelo delito de tortura:
a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse
caráter, ordenem sua comissão ou instiguem ou induzam a ela,
cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam;
b) As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados
públicos a que se refere a alínea a, ordenem sua comissão,
instiguem ou induzam a ela, comentam-no diretamente ou nela
sejam cúmplices.
[...]
ARTIGO 6
Em conformidade com o disposto no artigo 1, os Estados Partes
tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e punir a tortura no
âmbito de sua jurisdição.
Os Estados Partes segurar-se-ão de que todos os atos de tortura e
as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam considerados
delitos em seu direito penal, estabelecendo penas severas para sua
punição, que levem em conta sua gravidade.
Os Estados Partes obrigam-se também a tomar medidas
efetivas para prevenir e punir outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes, no âmbito de sua jurisdição.
Esse crescente adensamento verificado no enquadramento jurídico da prática
da tortura acabou por se refletir no direito brasileiro, isto por via da Constituição
promulgada em 5 de outubro de 1988, muito embora o País, naquele momento,
ainda não figurasse como parte em qualquer dos tratados relacionados à
matéria e nem mesmo houvesse a tipificação da conduta na legislação penal
nacional. Assim é que o processo constituinte instalado em 1987, na esteira
do encerramento do longo período de ditadura militar, vai acarretar a inclusão
no texto da nova Carta Federal – mais especificamente no Capítulo I (Dos
direitos e deveres individuais e coletivos) do Título II (Dos direitos e garantias
fundamentais) – de disposição expressamente voltada à vedação da tortura.
Com efeito, assim preceitua o inciso III do art. 5° da Constituição da República:
148
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
ARTIGO 5º
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante;
[...]
E, logo em 1990, no contexto de elaboração dos diplomas jurídicos voltados
a dar operacionalidade à nova ordem constitucional, o Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13 de julho daquele ano) fez inserir no direito
brasileiro, pela primeira vez, regra destinada explicitamente a criminalizar
a prática da tortura59. No Título VII, que trata Dos crimes e das infrações
administrativas, o art. 233 instituiu tal previsão legal:
ARTIGO 233
Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a tortura:
Pena - reclusão de um a cinco anos.
§ 1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena - reclusão de dois a oito anos.
§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena - reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena - reclusão de quinze a trinta anos.
Ainda no âmbito do processo de reconstrução do sistema jurídico nacional, outro
fato relevante relacionado à matéria aqui enfocada foi a decisão de vinculação
do País aos tratados internacionais em matéria de direitos humanos aos quais
já se fez referência neste artigo. Dessa forma, no ano de 1989 o Brasil procedeu
à ratificação da Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura60,
que havia sido celebrada em 1985, e da Convenção contra a tortura e outros
59
A título de registro, deve-se observar que figuras penais assemelhadas já se encontravam ins-
critas no ordenamento jurídico brasileiro anteriormente a 1990, como é o caso do crime de
maus-tratos (art. 136 do Código Penal) e do crime de ofensa à integridade corporal ou à saúde
(art. 209 do Código Penal Militar).
60
A Convenção interamericana foi ratificada em 20 de julho de 1989 e promulgada pelo Decreto
n° 98.386, de 9 de novembro de 1989.
149
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
61
A Convenção contra a tortura , adotada no âmbito da ONU, foi ratificada em 28 de setembro
de 1989 e promulgada pelo Decreto n° 40, de 15 de fevereiro de 1991.
62
A adesão ao Pacto sobre direitos civis e políticos se efetuou em 24 de janeiro de 1992 e sua
promulgação se deu pelo Decreto n° 592, de 6 de julho de 1992.
63
A adesão ao Pacto sobre direitos econômicos, sociais e culturais se efetuou em 24 de janeiro de
1992 e sua promulgação se deu pelo Decreto n° 591, de 6 de julho de 1992.
64
A adesão à Convenção se efetuou em 25 de setembro de 1992 e sua promulgação ocorreu por
via do Decreto n° 678, de 6 de novembro de 1992. Em 10 de dezembro de 1998, deu-se o depósi-
to, pelo Brasil, da Declaração de aceitação da competência obrigatória da Corte Interamericana
de Direitos Humanos, organismo jurisdicional instituído e regulado pela Convenção. A Declara-
ção foi objeto de promulgação pelo Decreto n° 4.463, de 8 de novembro de 2002.
65
Hábeas Corpus n° 70389-5 – São Paulo, tendo sido relator designado para elaboração do acór-
dão o Ministro Celso de Mello.
150
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66
Celebrado em Roma em 17 de julho de 1998, o Estatuto do Tribunal Penal Internacional foi pro-
mulgado no Brasil por meio do Decreto n° 4.388, de 25 de setembro de 2002.
67
No relatório de atividades do Comitê contra a tortura submetido em 2008 à Assembléia Geral
da ONU se procede ao registro de investigação referente à prática de tortura no Brasil, concluída
em 2006 com o seguinte veredicto: “In its conclusions, the Committee noted that the Govern-
ment of Brazil fully cooperated with the Committee’s visit, constantly expressed its awareness
and concern with the seriousness of the existing problems, as well as its political will to improve.
However, the Committee noted that tens of thousands of persons were still held in delegacias
and elsewhere in the penitentiary system where torture and similar ill-treatment continued to
be meted out on a widespread and systematic basis.” (Report of the Committee against Torture
- Thirty‑ninth session (5‑23 November 2007), Fortieth session (28 April‑16 May 2008). General As-
sembly Official Records, Sixty‑third session, Supplement No. 44 (A/63/44), pág. 100, fonte: www.
un.org).
153
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
*
Plínio Soares de Arruda Sampaio- é um intelectual e ativista político brasileiro. Formado em Di-
reito pela USP em 1954, militou na Juventude Universitária Católica, da qual foi presidente, e na
Ação Popular, organização de esquerda surgida a partir dos movimentos leigos da Ação Católica
Brasileira. Foi promotor público e atualmente preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária
(ABRA), além de dirigir o semanário Correio da Cidadania
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*
Doutor em Direito Internacional e Relações Internacionais. Professor Universitário de Direito
Internacional Público, Política Internacional e as Três Vertentes da Proteção Internacional da Pes-
soa Humana em Brasília. Coordenador Geral do Comitê Nacional para os Refugiados – CONARE.
Advogado inscrito na seccional OAB/DF.
161
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68
ALBUQUERQUE MELLO, C. D. de. Curso de Direito Internacional Público. RJ/SP, Renovar, 2000.
(“A Declaração Universal dos Direitos Humanos não possui qualquer valor de obrigatoriedade
para os Estados. Ela não é um tratado, mas uma simples declaração, como indica o seu nome.
O seu valor é meramente moral. Ela indica as diretrizes a serem seguidas neste assunto pelos
Estados. (...) De qualquer modo pode-se afirmar que atualmente há uma espécie de consenso
em considerá-la um sistema internacional e, portanto, obrigatória.” p. 823).
69
CASSESE, Antônio. Los derechos humanos en el mundo contemporáneo. Barcelona, Ariel,
1993. pp. 7-57.
70
Id., ibid. p. 17-21.
162
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71
Albuquerque Mello, C. D. Op. cit. (“A partir do século XIX começou a reação contra a subjetivi-
dade do indivíduo. Neste período predomina a soberania absoluta do Estado. Surge no DI o que
já foi denominado de uma aristocracia de Estados. O indivíduo somente atinge o mundo jurídico
internacional através do Estado.” p. 766-767).
72
Rodrigues, Simone Martins. Segurança Internacional e Direitos Humanos – a prática da in-
tervenção humanitária no pós-guerra fria. RJ/SP, Renovar, 2000. p. 61.
73
CASSESE. Op. cit. p. 21.
163
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164
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78
Naquele tempo a URSS significava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Com a Peres-
troika, em 1982, desmantelou-se a União e o assento a ela reservado no Conselho de Segurança
das Nações Unidas, desde então, pertence à Rússia.
79
CASSESE. Op. cit. p. 39.
165
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167
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86
QUINTANA, Fernando. La ONU y la exégesis de los derechos humanos(una discusión teó-
rica de la noción. Porto Alegre, UNIGRANRIO 1999. pp 35-36.
87
Documents Officiels de la Troisième Session de l´Assemblée Générale. In: Séances Plenières
de l´Assemblée Générale, Comptes Rendus Analytiques des séances. Première Partie: 180
séances plenières. Paris, Palais de Chaillot, 21Septembre – 12 Décembre, 1948. p. 853.
88
A Carta Atlântica, segundo Quintana, estabelece ademais a necessidade de uma colaboração
mais completa entre todas as nações, grandes e pequenas, com a finalidade de garantir a todas
uma melhor condição para a classe obreira, e a seguridade social. Assim mesmo, a Declaração
das Nações Unidas, que foi firmada em Washington, em 1º de janeiro de 1942, por vinte e seis
países em guerra contra os países do Eixo, e adere aos princípios contidos na Carta Atlântica,
eleva o estipulado no último documento ao nível do direito internacional.
89
Esse foi um momento histórico marcante, porque na oportunidade Roosevelt propõe uma
nova ordem internacional e, pela primeira vez, discutia-se o mundo pós-guerra, em situação de
conflito.
168
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90
Carta Atlântica, artículo 6º.
91
Id., ibid. p.37.
92
Adotada em 10 de maio de 1944 pela unanimidade dos membros da Organização Internacio-
nal do Trabalho.
93
A afirmação pode ser extraída dos considerandos da Declaração de Filadélfia.
169
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170
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171
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100
Resolução XLI da Conferência Interamericana de Chapultepec.
101
Sobre este tema ler: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O legado da Declaração Uni-
versal e o futuro da Proteção Internacional dos Direitos Humanos em AMARAL JÚNIOR, Alberto e
PERRONE-MOISÉS, Cláudia (orgs.). O Cinqüentenário da Declaração Universal dos Direitos
do Homem. São Paulo: Edusp, 1999, p. 17.
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111
O documento continha quase todos os direitos mencionados em diversas constituições na-
cionais e outros dispositivos presentes no texto de declaração internacional em poder do Se-
cretariado.
112
QUINTANA. Op. cit. p. 76.
176
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113
Esta discussão e análise histórica vem aprofundada em Trindade, Antônio A. Cançado. Tratado
de Direito Internacional de Direitos Humanos. Vol. I. Porto Alegre, Fabris, 1997. pp. 35-37.
114
Acontecida em Genebra, de 12 a 17 de dezembro de 1947.
115
Decidido a partir de uma proposta sírio-libanesa.
116
Realizada en Lake Succes, de 3 a 21 de maio de 1948.
117
A eleição interna no Comitê de Redação para a utilização da metodologia assinalada no texto
deu-se por 5 votos a favor, 1 em contra e 2 abstenções.
177
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118
O Relator era o representante do Líbano, Sr. Malik.
119
Votaram a favor: Birmânia, Canadá, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dinamarca,
República Dominicana, Equador, Egito, El Salvador, Etiópia, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Is-
lândia, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Luxemburgo, México, Países Baixos, Nova Zelândia, Nicarágua,
Noruega, Paquistão, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Suiam, Suécia, Síria, Turquia, Reino Unido,
Estados Unidos da América, Venezuela, Afeganistão, Argentina, Austrália, Bolívia, Bélgica e Brasil.
Abstenções: Bielo-Rússia, Checoslováquia, Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, África do Sul, União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas e Iugoslávia.
120
RODRIGUES. Op. cit. p. 70.
178
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
éticas, históricas, morais, políticas, sociais e jurídicas que culminaram com a sua
proclamação. Consuma, assim mesmo, o espírito dos princípios gerais do direito
internacional público121 estipulados explicitamente nos primeiro e segundo
artigos da Carta de San Francisco. A comunhão destes com o registro daquelas
consolida esse preâmbulo como a fonte iluminadora do direito contemporâneo
da sociedade internacional. O preâmbulo constitui-se, então, como uma
consideração cogente de contornos histórico, político, social e jurídico que
marcam a civilização humana da contemporaneidade.
Ante uma rápida, mas não despercebida revisão histórica,
nesse início do século XXI, a pressão ideológica de outrora, expressada pelo
pensamento político-econômico e pelo poderio militar das máximas potências
vitoriosas da II Guerra Mundial, no período imediatamente posterior ao desfecho
daquele triste episódio da história humana, já não existe mais. Por essa razão,
o fenômeno catalisador da divisão inconseqüente das duas ramas dos direitos
humanos desapareceu. Hoje em dia, o caráter global e harmônico dos direitos
humanos ocupa o centro da discussão da agenda internacional. Entretanto,
apesar de tanto se falar em um suposto mundo globalizado, encontramo-nos
justamente no meio da luta do primado da razão de Humanidade sobre a razão
de Estado. Nela, pulula o fato inquestionável de que o conhecimento talvez
seja a forma mais eficaz de emancipação humana e a compreensão do mundo
no qual vivemos, tão complexo e dissimulado, está estritamente vinculado
ao conhecimento humano. São os limites deste que fomentarão o sentido de
solidariedade humana, de atenção cuidadosa à condição dos demais, porque,
em última análise, todos dependemos de todos e a sorte de cada um está
inexoravelmente ligada à sorte dos demais.
Sublimidademente, as democracias da contemporaneidade
necessitam de uma urgente atualização de cara as características das sociedades
atuais: mais informadas, educadas e próximas. Aos Estados urge a reconquista
da legitimidade representativa de suas classes políticas. Trata-se de um clamor
social: as pessoas estão “politicamente fartas” e já dão perigosos sinais, inclusive
em países onde o risco a democracia parecera fora de questão, a esse respeito.
121
São eles: igualdade soberana; autonomia, não-ingerência nos assuntos internos de outros
Estados; proibição do uso da força; resolução pacífica das controvérsias internacionais; coopera-
ção internacional e respeito aos direitos humanos.
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Com relação a atual crise que nos carcome, tudo indica que no
diagnóstico e na proposição de soluções possíveis para vencê-la, Porto Alegre
sobrepôs-se a Davos. Não importa: que ambos comunguem e conspirem em
prol de um mundo melhor! A soma de esforços e idéias resulta fundamental para
superar este frágil momento da espécie humana. Finalmente, quando se trata
do ser humano, a sorte de cada um de nós está inexoravelmente vinculada a dos
demais. Vencer esta crise é uma tarefa atinente a todos os atores da sociedade
mundial (sobretudo, sociedade civil, Estados e organizações internacionais),
que deverão trabalhar em conjunto para superá-la, construindo e legando um
cenário mais positivo (justo, solidário e sustentável) para as gerações vindouras.
São estes os principais desafios a que se deve fazer frente o Direito
e, sobretudo, os direitos humanos nesse inicio de século. É por essa realidade e
os desafios dela decorrentes que acreditamos na prevalência da razão Humana
sobre a razão de Estado. Se existe una crise universal, esta não é simplesmente
uma crise dos Estados ou dos seus valores, trata-se de una crise do ser humano
mesmo e que só nós poderemos superar, pois ainda que muitos e muitas tenhamos
esquecido, foi o Estado criado por nós como forma de organização social e não
o contrário. Buscar novos tempos e novos rumos significa encontrar-nos, a nós
mesmos, os seres humanos, no tempo e no espaço da afirmação da dignidade
humana pelos Direitos Humanos universais, indivisíveis e complementares.
Em conseqüência, os Direitos Humanos não desaparecerão por
fazer-se respeitar através de suas normas oriundas do Direito Internacional
Público e do multilateralismo. O risco do menoscabo das normas de Proteção
Internacional da Pessoa Humana123 reside justamente no pólo oposto da
afirmação anterior; ou seja, será o abrandamento da normativa oriunda do
Direito Internacional Público e das normas de convivência harmônica e pacífica
entre os Estados ante a falsa retórica bélica e unilateral, esta última despossuída
de qualquer razoabilidade humana, o fato capaz de fazer com que os Direitos
Humanos retrocedam.
Por isso, mas que nunca, considerar as premissas do Preâmbulo
da Declaração Universal dos Direitos Humanos como norte inquestionável do
caminho a ser trilhado pela sociedade internacional faz-se urgente e necessário.
Em sendo assim, a afirmação é sim: um outro mundo é possível!
123
Compreende: o Direito dos Conflitos Armados (Direito Humanitário), Direitos Humanos e Di-
reito dos Refugiados.
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de Obama como o primeiro Presidente negro que travará luta pelo equilíbrio
financeiro mundial (Lincoln enfrentou a Guerra da Secessão que impediu a
divisão do país; enquanto Luter King enfrentou difícil luta racial, na defesa dos
direitos humanos – ambos vítimas de assasinatos); enquanto o mundo participa
cada vez mais das conquistas tecnológicas de países diversos e convive com a
vaidade científica de alguns; convém uma reflexão alargada no sentido de que a
chamada “globalização” não começou agora, como dizem alguns.
Contrariando a tese dos defensores da “tecnologia avançada” – que
é importante para todos – afirmamos, faz tempo, que a “globalização” formal,
surgiu, nasceu, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH.
Reconhecemos até que a “globalização” – de conteúdo moral
– através dos milênios pode ter surgido com a Maçonaria; pois, apesar dos
landmarks, a Ordem Maçônica sempre orientou a seus “iniciados a nada gravar
ou escrever”, em razão dos eventuais opositores; todavia, independente do fluxo
ou refluxo dos movimentos sociais, sempre defendeu a Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
Mais recentemente, no início do Século XX – 1917 – um grupo de
integrantes da Maçonaria fundou a Associação Internacional de Lions Clubes
sempre procurando universalizar a Igualdade entre os cidadãos em seus “clubes
de serviço” enquanto entidade de direito privado. O sucesso de tal instituição
foi tanto que hoje está presente em 204 países e a Associação de Lions Clubes
é considerada a melhor ONG do planeta127; enquanto a ONU é integrada por
aproximadamente 150 países-membros.
Não há negar, contudo, que no âmbito do Direito Internacional a
iniciativa da Terceira Assembléia da ONU que naquela época reuniu 58 países no
Pallais Chaillot em Paris e culminou com a proclamação da Declaração Universal
dos Direitos Humanos, se consitui no marco formal inaugural da chamada
globalização; pois, como afirma Ricardo Balestreri128 “pela primeira vez um
paradigma solidário, fundado na igualdade de direitos, foi assumido de forma
praticamente consensual pelo conjunto de países”.
Nesse contexto de conteúdo moral universal que se incere como
1998, p. 157
194
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lei brasileira; 2.º residência continua no território nacional, pelo prazo mínimo
de cinco anos; 3.º saber ler e escrever a língua portuguesa; 4.º exercício de
profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; 5.º
bom procedimento; 6.º ausência de pronuncia ou condenação no Brasil; prova
de sanidade física. Os portugueses são dispensados da 4.ª condição, sendo-lhes
exigida apenas residência ininterrupta de um ano. A concessão é faculdade do
Presidente da República através de ato referendado pelo Ministério da Justiça.
Em linhas gerais, a naturalização pode ser a) individual - quando
relativa apenas a determinada pessoa; b) coletiva - a que incide sobre uma
população ou parte desta, em virtude de sua anexação à de outro Estado; c)
ordinária - aquela concedida ao estrangeiro que não goza dos mesmos direitos
concedidos aos naturais do país; d) extraordinária - a que atribui ao naturalizado
todos os direitos civis e políticos inerentes aos nacionais; e) tácita - adquirida
por uma lei especial, de caráter geral; f) expressa - aquela que é conferida por
decreto do governo do país a que o alienígena se radicou, mediante pedido
deste. Entre nós, adquire, tacitamente, a nacionalidade do país o estrangeiro
que nele reside, possui bens imóveis, for casado com brasileira ou tiver filho
brasileiro.
Já a perda da nacionalidade pode ocorrer, em síntese: a) por
mudança de nacionalidade; b) pelo casamento; c) pela naturalização; d) por
cessão ou anexação territorial; e) pela renúncia pura e simples; f) por algum
ato incompatível com a qualidade de nacional ou considerado como falta; g)
pela presunção de renuncia em conseqüência de residência prolongada em país
estrangeiro, sem intenção de regresso.
À guisa de conclusão, registrando que vários autores abordam o
tema129; pode-se afirmar que o direito de escolher sua nacionalidade é um dos
direitos primordiais do homem, desde que ele seja juridicamente capaz, e desde
que seja-lhe compensador fazer tal mudança, ou, conforme visto, convém que a
pessoa avalie se é-lhe proveitoso inclusive acumular títulos de nacionalidades.
Filiando-nos à corrente daqueles que entendem que Direitos
Humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano
129
ACCIOLY, Hildebrando Manual de Direito Internacional Publico. Ed. Saraiva. Pequena Enci-
clopedia de Moral e Civismo. Fernando Bastos de Ávila – MEC. Enciclopedia Saraiva do Direito.
Prof. R. Limongi França - Ed. Saraiva. NUNES, Pedro. Dicionário de Tecnologia Jurídica.
197
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção
contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de
vida e desenvolvimento da personalidade humana é que nessa comemoração
aos sessenta anos de proclamação da DUDH a Ordem dos Advogados do Brasil
oportuniza mais esta reflexão; a fim de que cada cidadão esteja apto a ser um
defensor permanente dos direitos humanos, contribuindo de forma efetiva para
a educação da humanidade.
Devemos todos recordar que são características dos direitos
humanos: (a) Imprescritibilidade - são imprescritíveis, ou seja, não se perdem
pelo decurso de prazo; (b) Inalienabilidade - não há possibilidade de transferência,
seja a título gratuito ou oneroso; (c) Irrenunciabilidade - não podem ser objeto de
renúncia (polêmica discussão: eutanásia, aborto e suicídio); (d) Inviolabilidade
- impossibilidade de desrespeito por determinações infraconstitucionais ou por
ato das autoridades públicas, sob pena de responsabilidade civil, administrativa
e criminal; (e) Universalidade - a abrangência desses direitos engloba todos
os indivíduos, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou
convicção político-filosófica; (f) Efetividade - a atuação do Poder Púbico deve
ser no sentido de garantir a efetivação dos direitos e garantias previstas, com
mecanismos coercitivos; e (g) Indivisibilidade - porque não devem ser analisados
isoladamente. Por exemplo: o direito à vida, exige a segurança social (satisfação
dos direitos econômicos).
Lembrando que negar o direito a nacionalidade é uma forma de
tortura, congratulando-nos com a guardiã da cidadania nacional, a operosa
Ordem dos Advogados do Brasil e com seu battonier Cezar Brito e recordamos
Peter Gabriel ao afirmar: “quando se olha dentro dos olhos e se aperta as mãos
de alguém que foi torturado, é muito difícil virar as costas à divulgação dos
direitos humanos”.
198
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
falham os nossos Estados, esses mesmos direitos têm de ser protegidos pela
comunidade internacional como um todo.
A Primeira Guerra Mundial marcou um retrocesso nesse processo
evolutivo do Direito Internacional. No entanto, já ao final daquele conflito, surgia,
pela primeira vez, a idéia da criação de um tribunal internacional destinado a
julgar os acusados da prática de violações às leis e aos costumes de guerra.
No entanto, por força ainda dos estreitos conceitos de soberania, dos
antigos institutos do Direito Internacional, como, por exemplo, o da extradição,
o Tribunal de Leipzig não alcançou seus objetivos, tendo em vista que lhe foi
negada a entrega dos principais acusados da prática de crimes naquela situação
de conflito.
Muito pouco tempo depois, a humanidade passa pelos horrores
da 2ª Guerra Mundial. Esses horrores, que assumiram proporções não apenas
numéricas, traduzidos no cometimento de atrocidades contra comunidades
inteiras, fizeram com que a comunidade internacional, de uma vez por todas,
decidisse que atos como os praticados durante o conflito armado não poderiam
mais ser considerados como violações de direitos fundamentais que pudessem
ser reprimidas ou punidas apenas pela legislação interna, ou pela vontade dos
Estados.
Foi neses momento que a comunidade internacional decidiu-se
pela instalação do Tribunal de Nuremberg. Sabemos todos nós as críticas que lhe
foram dirigidas — a maior parte delas, aliás, merecida. À época o tribunal, dentro
da ótica dos avanços do Direito Penal contemporâneo, poderia ser considerado
como um típico tribunal de exceção. Foi criado após os fatos, para julgamento de
crimes que não haviam sido até então tipificados, para julgamento dos vencidos
pelos vencedores, em afronta ao princípio da legalidade estrita dos delitos e das
penas. Conhecemos todas as críticas.
No entanto, desde o ponto de vista da evolução do Direito Penal
Internacional, um mérito não pode ser retirado ao Tribunal de Nuremberg:
o de ter sido um marco ao deixar gravada, de uma vez por todas e de forma
irreversível, a idéia de que a comunidade internacional tinha e tem o direito de
processar e julgar aqueles que cometem crimes que ponham em risco a paz e a
sobrevivência da própria humanidade.
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
ad hoc onde quer e quando quer. Trata-se de decisão política. Não faço, nesse
ponto, nenhuma crítica ao papel político que necessariamente deve ser exercido
por um órgão pertencente às Nações Unidas.
Foi em razão da instalação dos dois tribunais ad hoc que finalmente
ressurgiu o anteprojeto de criação de um tribunal penal internacional
permanente, abolindo-se assim toda e qualquer possível crítica quer quanto ao
seu funcionamento, quer quanto à sua origem, quer quanto à sua legitimidade
perante a comunidade internacional. O anteprojeto teve andamento e culminou
com a convocação da Conferência de Roma, em 1998. A partir daí, sabem todos
que a comunidade internacional, representada na ocasião por mais de uma
centena de Estados, assinou o Estatuto de Roma e criou, então, o Tribunal Penal
Internacional.
O tribunal não tem jurisdição retroativa. Só pode exercer sua
jurisdição sobre fatos ocorridos após sua entrada em vigor, em julho de 2002.
Para os Estados que ratificaram o Estatuto após essa data, a entrada em vigor se
dá a partir da ratificação. Os juízes são eleitos pelos representantes dos Estados
Partes e, portanto, pela própria comunidade internacional representada pela
Assembleia dos Estados Partes, e recebem um mandato por tempo certo, com
a responsabilidade da independência e da imparcialidade, inclusive em relação
aos países de que se originam.
O Tribunal foi criado por um tratado e, portanto, estabelecido
dentro dos parâmetros do Direito Internacional, na medida em que os Estados
a ele se submetem através do exercício voluntário de um dos seus atos típicos
de soberania: a ratificação. No Estatuto estão descritos os delitos e as penas,
respeitado integralmente o princípio da estrita legalidade dos delitos e das penas,
e estão reconhecidos todos os direitos fundamentais das pessoas acusadas.
Sem dúvida, o Estatuto de Roma traz um modelo daquilo que
o nosso sistema costumou apelidar de sistema garantista de Direito Penal e
Processual Penal.
Preserva o estatuto de Roma o princípio da legalidade dos
delitos ( artigo 22) e das penas ( artigo 23). O princípio da legalidade importa,
igualmente, na proibição do recurso à analogia, estando assim previsto, no
artigo 22, parágrafo 2, que “em caso de ambiguidade, a lei será interpretada em
203
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132
O Estatuto de Roma entrou em vigor em 1 de julho de 2002. Portanto, somente crimes come-
tidos após essa data podem ser considerados como dentro da competência temporal do Tribu-
nal Penal Internacional.
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Ratificado e promulgado em.25/09/2002, pelo Decreto 4.388.
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A primeira delas:
Ao ratificar um tratado — e o Estatuto de Roma é um tratado —,
um Estado assume primeiramente uma obrigação essencial: a de cumprir com
os termos do tratado. É o princípio da boa-fé, do pacta sunt servanda, que é a
pedra angular do Direito Internacional, e sempre o foi em todos os tempos.
Ao ratificar o Estatuto de Roma um Estado assume, além da
obrigação de cumprir com as normas do Estatuto , duas obrigações: primeira,
a de processar e julgar aqueles acusados de cometer crimes de guerra, crime
de genocídio e crimes contra a humanidade — esta é a primeira e fundamental
obrigação que o Estado assume; segunda, a de cooperar com o Tribunal Penal
Internacional sempre que solicitado.
Vou falar umas poucas palavras sobre a primeira dessas obrigações
que assume o Estado: processar e julgar, através do seu Poder Judiciário, do seu
Ministério Público, das suas regras de procedimento, os acusados da prática dos
crimes mais graves contra a paz e a sobrevivência dos Estados.
A maior parte dos Estados já está comprometida, por diversos
tratados internacionais, a processar e a julgar, por exemplo, os acusados de
violações às leis e aos costumes de guerra.
A maior parte dos Estados, incluindo-se o nosso, já se comprometeu,
por meio da ratificação da Convenção contra o Genocídio, do pós-guerra, a
processar e a julgar os acusados da prática de genocídio135.
No entanto, tenho certeza de que a maior parte dos Estados não
poderia cumprir com essa obrigação porque, por força das nossas Constituições,
alguém só pode ser processado e julgado por um crime se esse crime estiver
descrito, tipificado, na legislação interna. E são poucos os Estados que
implementaram até agora as obrigações decorrentes da Convenção contra o
Genocídio ou das Convenções de Genebra e seus Protocolos.
Assim, para que possamos cumprir as obrigações decorrentes da
ratificação do Estatuto de Roma, temos de implementar, introduzir em nossa
legislação interna, a tipificação dos crimes e definir as penas a serem aplicadas
àqueles que praticarem os delitos previstos no Estatuto de Roma.
Por que isso é importante? Porque o fato de processarmos e
135
Além da ratificação da Convenção, o Brasil a promulgou através do Decreto 30.822/52.
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Em 29/06/57
137
Em 05/05/92
138
Em 14/05/52
139
Em 28/09/89
208
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140
Em fase de julgamento, os casos The Prosecutor v. Thomas Lubanga Dyilo (ICC-01/04-01/06)
e The Prosecutor v. Germain Katanga and Mathieu Ngudjolo Chui( ICC-01/04-01/07); aguardando
confirmação da decisão que remete o acusado a julgamento, The Prosecutor v. Jean Pierre Bemba
( 01/05-01/08) ; em fase de procedimento preliminar, The Prosecutor v. Bahar Idriss Abu Garda (
ICC-02/05-02/09); aguardando cumprimento dos mandados de prisão: The Prosecutor v.Joseph
Kony &others ( ICC-02/04-01/05); The Prosecutor v. Bosco Ntaganda ( ICC-01/04-02/06); The Prose-
cutor v. Ahmad Muhamad Harun & Ali Kushayb ( Icc-02/05-01/07); The Prosecutor v. Omar Al Bashir(
ICC-02/05-01/09). Todas as decisões e demais documentos de cada caso podem ser consultados
no site do tribunal: www.icc-cpi.int
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
seu caráter universalista se amplia tanto mais se amplie o número de Estados que
ratifiquem o Estatuto de Roma. Divide o Tribunal com os Estados a preocupação
pela independência e imparcialidade de suas decisões, pelas garantias do
processo eficiente e justo, e pela estrita legalidade.
Assim, com a ratificação do Estatuto de Roma e a implementação
da legislação interna, reforçam-se os mecanismos internos e internacionais
necessários para a quebra do ciclo vicioso de impunidade. Se em nosso direito
interno não abrimos mão de um Direito Penal, de um sistema punitivo eficiente
que tenha, ao mesmo tempo, um caráter preventivo e um caráter retributivo -
o que é inerente à idéia do justo - também não há por que não pretendermos
que no sistema internacional haja mecanismos eficientes de prevenção e de
retribuição necessários para devolver à humanidade o sentido do justo e, às
vítimas, respeito e reparação.
A Emenda Constitucional 45 reconheceu a constitucionalidade do
ato de ratificação do Estatuto de Roma, e assim o integrou, de forma definitiva,
à legislação interna. A ratificação portanto, seguida do reconhecimento
constitucional de que nosso país submete-se à jurisdição do tribunal, torna
superadas as discussões anteriores à ratificação do Estatuto, e que tanto
envolveram os juristas de nosso país. Entretanto, o princípio da legalidade, como
dito acima, exige a tipificação dos delitos e das penas correspondentes, para
que o país possa, em caso de prática de delitos em seu território ou por seus
nacionais, exercer sua jurisdição primária. Por tal razão, foi enviado ao Congresso
Nacional, onde tramita, o Projeto de Lei n. 4038/2008.
O PL define os crimes de genocídio, os crimes contra a humanidade e
os crimes de guerra e, seguindo o modelo legislativo interno, impõe em abstrato
penas mínima e máxima a cada uma das figuras delitusosa nele previstas. Na
definição dos delitos, respeita, ao máximo, a nomenclatura utilizada por nosso
Código Penal e pela legislação penal especial. Aliás, é importante ressaltar que o
PL em nada altera os códigos penal e processual penal, apenas dispondo sobre
determinados aspectos especiais em que a legislação ordinária seria inaplicável.
Por exemplo, descreve o PL as peculiaridades do regime de responsabilidade
penal dos chefes militares e de outros superiores hierárquicos, cria novas
causas de agravamento da pena, e exclui a prescrição como causa extintiva
de punibilidade. Em matéria processual, modificam-se, em relação aos delitos
previstos no PL, certos prazos procedimentais, as limitações ao número de
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
141
Na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, está expresso que « todo tratado em vigor
obriga as partes e deve ser cumprido de boa fé »( artigo 26) e que « uma parte não pode invocar
as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado »( artigo
27). Apesar de o nosso país ainda não ter ratificado a Convenção de Viena ( aparentemente o
pedido de autorizaçào para a ratificação tramita no Congresso desde 1992), o certo é que o país
ratificou a Convenção de Havana sobre Tratados, de 1929, que traz disposições semelhantes, em
seu conteúdo, às da Convenção de Viena. Lembre-se ainda que o princípio da boa fé é conside-
rado norma de jus cogens, e portanto obriga a todos, independentemente da ratificação de um
tratado.
211
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
**
Assistente social, PhD em sociologia, coordenador do Cecria-
Centro de Referências, Estudos e Ações sobre Crianças e Adoles-
centes, professor da UCB e pesquisador da UnB
142
Além de uma dupla disposição de normas legais, podemos observar também no país uma
dupla aplicação da lei, que não cabe aqui desenvolvermos. Gisela Pankow (1983) assinala que
na nossa época nas relações inter-humanas, e mais especificamente no acesso ao poder, não se
trata mais de se respeitar o outro, mas de dominá-lo. Em lugar de uma comunicação que poderia
dar acesso à liberdade do outro, desenvolvemos uma forma arbitrária da lei que se chama a regra
do jogo. Se não se respeita essa regra fica-se excluído. (p.198). Roberto Schwars (2001) chama a
atenção para o fato de que o escravagismo era praticado num contexto de idéias e normas libe-
rais, o que denomina de idéias fora de lugar. Assinala ainda que o favor e não o direito funciona
como mediação quase universal na política.
213
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
a obrigação, depois a diversão” e também “se não estudar não vai ser doutor”.
A obrigação de estudar, própria dos filhos da classe dominante, visava destinar
seus filhos a uma vida com distinção, no entanto com características marcantes
e diferentes para os gêneros masculino e feminino. Enquanto a mulher se
preparava para a vida doméstica e/ou religiosa, o homem se preparava para vida
pública143. Para o pobre, a obrigação era a do trabalho subalterno para ganhar
vida “dignamente”. O trabalho era o destino tanto da criança filha de escravos,
como o dos trabalhadores urbanos, migrantes e rurais.
Em 1890, segundo dados da Repartição de Estatística do Arquivo
do Estado de São Paulo (Moura, 1999) um quarto da mão de obra do setor
têxtil da capital, São Paulo, era de menores, chegando essa proporção a 30%
em 1910. Já no final do século XIX, Franco Vaz assinalava que existiam 19.067
matriculados para um total de 106.390 crianças no Distrito Federal, então Rio de
Janeiro (Faleiros, 1995), correspondendo os matriculados a apenas 17,9% das
crianças, isto na capital da República. Se para os filhos de trabalhadores o futuro
era o do trabalho nas fábricas, durante a escravidão o futuro dos pequenos
escravos era a escravidão. O futuro se anunciava subalterno. As crianças pobres
sempre participaram do mundo do trabalho, seja como operários, seja como
trabalhadores rurais, seja como vendedores e vendedoras de produtos na rua,
mas não participavam da vida escolar.
Na sociedade brasileira, a proposta republicana de escola para
todos fracassou, em comparação com o desenvolvimento da República em
outros países, como na França, que significou a escolarização em massa. A
proclamação da República no Brasil, no entanto, não significou uma mudança
na redução das desigualdades sociais.
As famílias pobres buscavam nos internatos e orfanatos filantrópicos
ou estatais e até mesmo nas casas de correção, muitas vezes, uma saída para um
modo de vida menos duro que o trabalho diário e explorado. Aliás, o internato
privado era também uma opção para as famílias abastadas, que buscavam o
colégio como forma de educação e de disciplinamento de seus filhos. A disciplina
e a ordem deveriam existir não somente nas famílias e internatos, mas também
143
Mauad (1999) assinala que nos colégios privados do final do século XIX as meninas apren-
diam mitologia, inglês e francês, história antiga e moderna e “obras de agulha de todas as
qualidades”e saíam aos 14 anos para a igreja.
214
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
nas ruas. Franco Vaz nota ainda, que a lei 947 de 29/12/1902 autorizava o governo
a reorganizar a polícia, a criar colônias correcionais para reabilitação profissional
dos “vadios, capoeiras, meninos viciosos” julgados no Distrito Federal. Para os
vadios existia a correção, principalmente na visão higienista dos anos 20, que
buscava a formação de uma raça sadia e de uma ordem social disciplinada pelos
padrões da moralidade, principalmente para a mulher e para a família.
Podemos encontrar em Franco Vaz uma mescla de recomendações
de disciplina e de medidas higiênicas quando propõe: “implantação de
maternidades, regulamentação dos serviços de amas de leite, fiscalização e
multas por fornecer tóxicos às crianças, retirada do pátrio poder em caso de
desleixo, difusão de conhecimentos sobre a infância ( diante do “tratamento
impróprio dado pelas mães”), combate aos “monstros da tuberculose, da
sífilis e da varíola”, fundação da Casa de Expostos, asilos públicos e privados
para a infância como bureau ouvert, obrigação do ensino da higiene, criação de
institutos de proteção e subvenções à Santa Casa. Na ordem liberal oligárquica
reinante, já defendia uma intervenção mínima do Estado diante do problema da
chamada infância desvalida, mas nos moldes do paternalismo, do autoritarismo
e da reprodução da condição operária. A Lei de 1891 que regulamentou o
trabalho infantil foi, segundo Rui Barbosa, inócua, pois se limitava a definir uma
idade de trabalho que nunca foi respeitada. Em 1909, foram criadas 19 escolas
profissionais por Nilo Peçanha, destinadas à formação de aprendizes artífices
(para o trabalho, embora pudessem ser autônomos), e que foram implementadas
numa negociação política com as unidades da Federação. Assim, para os pobres
restava o trabalho, a repressão e a subalternidade.
Nesse período, a questão da educação estava articulada à
questão da disciplina e da higienização, aliando-se ao controle da saúde o
controle dos comportamentos, distinguindo-se os chamados normais dos
denominados anormais. Para Carvalho (1997), a “escola nova” de Lourenço Filho
se vinculou às mudanças que vieram no bojo da industrialização, apostando no
poder civilizatório da modernidade, para que a escola pudesse se organizar
como uma indústria, pressupondo-se inclusive uma atenção ao interesse do
aluno. Para os que não se integrassem no processo de aprendizagem dessa
sociedade emergente, ou seja a maioria, restava-lhes serem considerados
215
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
144
Para aprofundar a relação Estado/sociedade na Primeira República, ver Faleiros (1995), Ri-
zzini (1995) e Marcílio (1998), dentre outros. Falava-se em 1912 de “infância criminosa” (projeto
n.94 de 17/7) e em 1924 (Lei 2.059) fala-se em “menores delinqüentes”. Marcílio (p.201) assinala
que já na segunda metade do século XIX as “instituições coloniais de proteção à infância desva-
lida (como Roda do Expostos), não mais respondiam às novas realidades e exigências do Brasil”.
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146
A marginalização é definida como “afastamento progressivo do processo normal ( sic!) de
desenvolvimento”. In FUNABEM, ANOS 20., PP. 199. É o conceito de normalidade social que pre-
domina.
220
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
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OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, que viria a ser adotado na
Assembléia Geral das Nações Unidas de 20 de novembro de 1989147, foram
aprovados, em 1988, os referidos artigos 227 e 228 da Constituição Federal.
O Preâmbulo da Convenção ao invocar o reconhecimento: da dignidade e da
liberdade inerentes à pessoa humana; dos direitos iguais e inalienáveis de todos
os membros da família humana; de cuidados e proteção especiais que a criança
necessita em virtude de seu desenvolvimento; de um ambiente harmonioso de
desenvolvimento na família e na comunidade; do dever do Estado em garantir
esses direitos nas políticas públicas, estabelece os pilares do paradigma da
proteção integral.
Esse paradigma instituinte representa uma profunda ruptura com
o marco legal da maioria como exceção, com o as regras do jogo (ver nota
de rodapé número 1) de nossa tradição política e com a doutrina da situação
irregular. Assim se traduz essa proposta:
• Ruptura com a consideração da criança pobre como
“maioria em exceção”, considerando a criança e o adolescente como
sujeitos de direitos, como cidadãos de pleno no direito;
• Ruptura com a ordem autoritária sobre a criança,
tornando-a autora, protagonista de seu próprio destino e não objeto da
ordem, garantia da raça, semente do futuro, incapaz de decidir, enfim
como menor ;
• Ruptura com a tutela clientelista dos pobres e a política
dualista de educação para a elite e trabalho para os pobres, assegurando
direitos iguais e um sistema igual de garantias;
• Ruptura com a visão repressiva das instituições;
• Ruptura com a política social excludente e
marginalizante, repressiva e clientelista;
• Ruptura com o desrespeito à dignidade e com a
violência contra a criança e do adolescente.
O paradigma da proteção integral pode ser assim desglosado no
artigo 227 da Constituição Federal:
147
Esta Convenção foi também aprovada pelo Congresso Nacional através do Decreto Legisla-
tivo n°. 28 de 14 de setembro de 1990 e promulgada pelo Presidente da República através do
Decreto 99.710 de 21 de novembro de 1990
222
OS DIREITOS HUMANOS DESAFIANDO O SÉCULO XXI
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deveres das crianças e adolescentes a quem são exigidos o respeito aos direitos
assegurados à cidadania no seu conjunto. Direitos de uns são direitos de todos.
No artigo 228, fica definida a inimputabilidade penal até 18 anos
de idade, mas sujeitando os infratores a normas da legislação especial. Estes são
considerados, assim, inimputáveis mas não impuníveis150, podendo receber as
sanções da lei.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, fruto de um movimento de
mobilização e pressão social151 e da ação da Frente Parlamentar pela Criança, que
se constituiu logo após a promulgação da Constituição de 1988, foi aprovado em
25 de abril de 1990 no Senado Federal e, em 28 de junho de 1990, na Câmara
dos Deputados. Em 29 de junho de 1990 o projeto foi homologado pelo Senado
e sancionado pelo presidente da República no dia 13 de julho de 1990, passando
a vigorar no dia 14 de outubro desse mesmo ano como a primeira lei de acordo
com a Convenção Internacional pelos Direitos da Criança e do Adolescente.
A experiência acumulada em todo esse processo serviu aos movimentos
estaduais e municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente e, na
elaboração das constituições estaduais e leis orgânicas locais, foram também
assegurados os direitos da criança e do adolescente. O ECA, como veio a ser
chamada a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, juntamente com essa legislação
adicional veio estabelecer um sistema de garantia dos direitos da criança,
também denominado de sistema de exigibilidade de direitos, de acordo com o
paradigma da proteção integral. Assim:
• Crianças e adolescentes são cidadãos protagonistas de sua
trajetória, de acordo com o seu desenvolvimento;
• Crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana e devem ter prioridade absoluta na família,
na sociedade e no Estado;
• A participação e controle social da sociedade são garantidos na
deliberação sobre as políticas da infância e da adolescência através dos
Conselhos de Direitos152, em todos os níveis de governo como órgãos
150
O Dicionário Aurélio define como impunível: “que não pode ou não deve ser castigado; não
punível”.
151
Ver FALEIROS, Vicente e PRANKE, Charles (coords), 2001.
152
É um órgão de caráter deliberativo, formulador das políticas públicas e controlador das
ações de atendimento à infância e à juventude no município.O Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente se configura como importante espaço democrático
de discussão, análise e formulação de políticas públicas de atendimento dos direitos da
224
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paritários;
• São estabelecidos conselhos tutelares153 para zelar pelos direitos
da criança e do adolescente como instância socioeducacional colegiada
escolhida pela comunidade;
• É punida a violação dos direitos da criança e do adolescente;
• É estabelecida a prioridade para a convivência familiar e
comunitária da criança e adolescente;
• É estabelecida a integração e articulação de ações
governamentais e não - governamentais na política de atendimento,
considerando-se tanto as políticas sociais, como os serviços especiais
dentro da municipalização;
• São criados os fundos dos direitos da criança e do adolescente
em todos os níveis vinculados aos respectivos conselhos de direitos;
• É propugnada integração operacional dos órgãos de
atendimento;
• Fica incluída, nas diretrizes da política de atendimento, a
mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação
dos diversos segmentos da sociedade (&IV do Art. 88 do ECA);
• É garantido o devido processo penal para o adolescente a quem
se atribua prática de ato infracional;
• É estabelecida a limitação dos poderes da autoridade judiciária;
• Fica definida a implementação de mecanismos de proteção dos
interesses difusos e coletivos;
• É estabelecido o fim da política de abrigamento, a não ser em
casos excepcionais (& único do Art. 99 do ECA), ou seja, política de
desinstitucionalização.
Estão estruturadas no ECA tanto a promoção, como a formulação,
o controle social como a defesa dos direitos da criança e do adolescente. A
promoção dos direitos é efetivada por meio de políticas públicas, incluindo a
225
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154
Com a importante participação da Agência de Notícias da Infância (ANDI)
155
A implementação do Programa Bolsa-família (Medida Provisória 132 de 20/10/2003) agrega
os programas Fome Zero (Lei 10.689/2003), Bolsa-Escola (Lei 10.219/2001), Auxílio-Gás (Decreto
4.102/2002) e Bolsa-Alimentação (Medida Provisória 2.206-1/2001), no sentido de assegurar um
alívio à pobreza, com cadastro geral dos pobres (Decreto3.877/2001) sem, contudo criar uma
nova agenda nas políticas sociais.
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230
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o nome à medida que se vai lendo. Nada de poemas fabricados com as placas
duras e cinzentas do concreto que tanto se enraízam em Brasília.
Queria escrever um verso que pudesse ser lido de mil diferentes
maneiras. Nada de métrica nem de observação a teorias literárias.
Queria escrever apenas manchetes para jornais. Sem notas
explicativas e sem seções do tipo “entenda o caso”. A própria manchete daria
conta do recado.
Queria escrever uma palavra de consolo e esperança aos que
tombam, inocentes, nas guerras inúteis e sem sentido que povoam nossos
noticiários. Nada de lágrimas de luto nem de desespero incontido.
Queria - como o poeta - compor uma sinfonia que contivesse uma
pausa de mil compassos. Nada de novos ritmos, frenéticos, bem arrumadinhos
e muito menos delirantes.
Queria escrever algo duradouro como a criança escreve seu nome e
faz um desenho à beira-mar, inconsciente da onda que se aproxima, inexorável.
Nada de tratados verborrágicos nem de verbetes para aprisionar o senso comum.
Queria escrever traços que me lembrassem de todos os que amei,
amo e virei a amar. Nada de imagens fugidias que em nada marcaram minha
peregrinação pela vida.
Queria escrever a quem me alfabetizou que fiz bom uso da maioria
das letras do alfabeto. Nada de x, y ou z e muito menos de palavras que vagam
pelos dicionários sem qualquer senso de direção, desnorteadas em meio a
tantos milhares de verbetes.
Queria escrever como quem leva flores ao túmulo dos vencidos da
Terra. Nada de algazarra nem de piedosas intenções.
Queria escrever aos meus companheiros de viagem que continuem
o que deve ser continuado e que vivam cada dia como se fosse o seu último
dia. Nada de conselhos, provérbios populares, histórias que foram recolhidas na
terceira margem do rio da vida.
Queria escrever aos amigos que conheci ainda aos dezessete
anos, algo que começasse assim com a sentença forte do “a gente ainda nem
começou…” Nada de planos e projetos de caminhada a dois, a três ou a quatro e
muito menos de multidões desencantadas de futuros amigos.
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Xavier J M Plassat174*
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Xavier J M Plassat - Frade dominicano, francês, 58 anos, formado em Ciências Políticas, Eco-
nomia e Administração (Paris I). Na França, foi auditor financeiro a serviço das comissões de
fábrica (1976-1988). Desde 1989, é agente da CPT, no Tocantins, nas áreas de formação, orga-
nização e administração ligadas às lutas camponesas e à reforma agrária. Desde 1997, assume
a Coordenação da Campanha Nacional da CPT contra o Trabalho Escravo, a qual representa na
CONATRAE.
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com corte das mãos, salvo se este fosse um escravo, caso em que só deveria
fornecer outro. Nas suas cartas, o apóstolo Paulo de Tarso tratou do assunto
com naturalidade ao conclamar que “aqueles que se encontram sob o jugo da
escravidão tratem seus patrões com todo o respeito, para que o nome de Deus
não seja blasfemado. Os que têm patrões que acreditam, não os desrespeitem,
porque são irmãos. Pelo contrário: sirvam a eles melhor ainda, pois aqueles que
se beneficiam de seus trabalhos são fiéis e irmãos amados.”(1Tm 6,2). O escravo
é homem? O próprio Aristóteles o rebaixa à condição de sub-homem quando
apresenta uma relação mestre/escravo mutuamente benéfica, à imagem
da relação alma/corpo... Na mãe das democracias, uns são chamados a ser
cidadãos, outros a laborar para prover às necessidades dos primeiros. Tida por
natural, a escravidão só suscita dúvida quando homens livres ‘por natureza’ são
capturados e, por fraude ou por guerra, caem na escravidão. Para vários autores,
a escravidão física foi tida como mal menor frente ao risco da escravidão moral
ou espiritual (do vício). Quem sabe, diria-se hoje, frente ao risco do desemprego
ou o perigo da delinquência: qualquer trabalho não é melhor do que nada? Não
faltaram ainda as justificações teológicas ou éticas: ao fim e ao cabo, a escravidão
decorre do pecado.
As vozes contrárias a essa estrutura fundante da organização
social de todos os tempos são raras exceções: tratar bem seu escravo é a
máxima ressalva, propor-lhe o exercício da virtude como caminho da verdadeira
liberdade é a estratégia. Aceitar sua sina como mal menor e quem sabe,
expressão da normalidade, é o mote. Isolado no século XVI, o dominicano
espanhol frei Bartolomeu de Las Casas será um destes francos e incansáveis
atiradores, incomodado pelo grito lançado na Ilha de La Espanhola pela
comunidade também dominicana de Antônio de Montesinos: “Estes, não são
homens? Com que direito os escravizais?” Durante o século do Iluminismo – que
viu filósofos se erguerem contra o absolutismo, o obscurantismo, a realeza e a
Igreja – registrou-se o recorde absoluto do tráfico negreiro entre a França e suas
colônias (Guadeloupe, Martinique, e sobretudo Santo Domingo, futuro Haíti):
1,1 milhão de escravos africanos, sendo 270 mil somente na década de 1780.
Quem destes filósofos levantou voz contra? Nem Rousseau, nem Montesquieu.
Apenas com Mirabeau e Diderot aparecerão críticas à desumanidade do sistema
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mas um passo apenas inicial em vista de uma ação mais abrangente que, nestes
anos, não chegou a ser elaborada. Só começaria a ser idealizada, a partir de
2002, de novo sob pressão interna e externa, no seio da Comissão Nacional de
Combate ao Trabalho Escravo. Enriquecido pelas propostas da sociedade civil
formalizadas na 1ª Conferência Interparticipativa de Açailândia (CDVDH, 2002),
este trabalho desembocaria no Plano Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo, lançado em março de 2003 pelo presidente Lula. Um marco decisivo,
pela solenidade do compromisso assumido e pelo caráter integrado: abordagem
multifocal (repressiva e preventiva) e compromisso de um conjunto abrangente
de instituições do Executivo, Judiciário, Legislativo e da sociedade civil. De lá para
cá foi louvado pela comunidade internacional o esforço do Brasil para tentar
acabar com o trabalho escravo: a política proposta pretendia cortar pela raiz
– inicialmente em 4 anos! - a cadeia sistêmica que, no Brasil moderno, produz
e reproduz o trabalho escravo. Que alicia populações assoladas pela ‘precisão’
a serviço de empregadores calculistas, obcecados pelo lucro a qualquer custo,
e inacessíveis ao rigor da lei. Ao tripé vicioso da impunidade, da ganância e da
miséria, a idéia era de contrapor o tripé virtuoso da fiscalização, da repressão e
da prevenção, articulando para isso ações do Estado e iniciativas da sociedade
civil. As carências do primeiro plano aprovado - ausência de ações de repressão
econômica, falta de ações concretas na área de prevenção bem como de políticas
efetivas de inclusão social - foram em parte sanadas na segunda edição do Plano,
lançada em setembro de 2008, de novo com forte tributo à contribuição da
sociedade civil (2ª Conferência de Açailândia, 2006) e ao trabalho da Comissão
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), criada em 2003.
São três os alicerces que sustentam o sistema da escravidão
moderna: a miséria, a ganância e a impunidade. Miséria de milhares de
famílias sem acesso a terra para trabalhar e produzir seu sustento, sem direito
à educação mínima ou à saúde. Dos peões escravizados, independente de
raça – porém em maioria afro-descendentes - a maioria é de analfabetos e in-
documentados, quase todos sem terra. São legiões de migrantes arrancados da
sua terra natal, principalmente do Norte e Nordeste. Muitos são trabalhadores
rurais condenados à miséria nas periferias de nossas cidades, depois de terem
sido expulsos do campo ‘pelo progresso’. Miséria produzida pela ganância
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