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Sem dúvida, uma prática social e política, seja de caráter
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2 U»-wiC.(«tf ,'Zo<;f'¿ _ privado ou público (que considere as diferenças étnico-culturais
que constituem substratos históricos que não podem ser ignora-
AJUSTANDO O FOCO DAS LENTES: dos neste fim de século), pode elucidar e apontar caminhos mais
um novo olhar sobre a organização eficientes, seja na condução de uma política educacional
"- comprometida com o sucesso escolar, seja na formulação de
. das familias no Brasil - outras políticas públicas que visem a construção de estrategias
L3' Gizlene Necler* de controle social e disciplinamento numa ordem democrática.
Quer-se com isto dizer que assistentes sociais, policiais,
tf Uma observação preliminar deve remeter direto ao enfoque a
professores e outros trabalhadores sociais devem ser informados
sobre estas diferenças étnico-culturais: que as familias-padrão
.,.¿ =. ser adotado: tratar neste texto da história das familias no Bra- (quer se tome por base a família tradicional, patriarcal, extensa,
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sil. Trabalhar-se-á com as familias, no plural, tendo em vista a de origemibérlca, quer então o modelo “higiénico” e moralista
multiplicidade étnico-cultural que embasa a composiçäo da família burguesa de inspiração vitoriana, introduzido no país
demográfica brasileira. O tema merece, portanto, um tratamento a partir do processo de modernização que acompanhou a
especial que leve em conta aspectos históricos e culturais urbanização/industrialização nos primeiros anos deste século)
-11 presentes na formaçäo social. convivem no acontecer social com outras familias, até o presen-
¬..~V^_-Útä,
Repor no palco das atençöes um debate conhecido desde a te bem pouco conhecidas, de várias origens, indígenas ou africa-
fundação da República (1889), quando a discussão sobre a nas (matrilineares, patrilineares, poligâmicas/islamizadas etc.).
formação da nacionalidade e da cidadania tinha, enfim, que levar Certamente, as causas do fracasso escolar, por exemplo, não
em conta a massa de ex-escravos e de miscigenados de origem podem ser explicadas pela “desestruturação” ou “irregularidade”
'af' africana e indígena. Ou seja, na sua origem, a formação nacional da família, ou pela desnutrição (duas visöes calcadas em causas
brasileira teria que englobar e amalgamar as “três raças" e, como biológicas, naturalizadas). O referido fracasso tem que ser
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o paradigma científico hegemónico no contexto da Proclamação identificado na incapacidade da política educacional oficial no
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da República era o racismo de inspiração biologista (0 país de enxergar as diferenças culturais, para então formular
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M darwinismo social que fundamentava 0 positivismo e o estrategias eficazes de educação pública de qualidade. O agente
evolucionismo), tal situação criava um constrangimento -_ como social, no caso o professor, já parte de pressupostos muito
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., 1.,
formar a nacionalidade e a cidadania num pais de ex-escravos e arraigados sobre as “deficiências” e “incapacidades" do aluno
de miscigenados, de “raças inferiores”? Ao mesmo tempo que sob a sua responsabilidade. O mesmo pode-se dizer do policial
forjava novas crcnças (agora “cientíl`icas") sobre a supcrioridade ou do assistente social, quando atende o público, mormente os
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de brancos de origem européia. reificava ou reforçava velhos meninos e as meninas classificados em categorias vagas e
ls; preconceitos sobre a "barbarie" e a “inumanidade" dos africanos. sociologicamente imprecisas como pobres urbanos, carentes,
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7.Í:.'. eivados do racismo tradicional (inspirado no pensamento cristão meninos e meninas de/na rua, ou como, no imaginziriojurídico-
.-1 ig,-713. tomista presente na formação histórica ibérica, que justificou a social seletivo e discriminatorio, menores, pivetes, pixotesz.
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?͆~ê:“"1 dominação colonial escravisla)'.
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" 2. Uma análise que enfoca aspectos histórico-culturais e psicanalíticos dos apclidos
* Doutora eni História Social pela Universidade de São Paulo. professora do das crianças em siluação de risco pode ser encontrada em CER_QUElRA FILHO.
Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Gisálio. Ideología do Fui/or e Ignurânciu Simbrílicu du Lei. Rio de Janeiro, lmprensa
l.\/er. de nossa autoria. "Racismo c cidatlania no Brasil". in NEDER. Gizlcnc. l'i`u[é1i<.'r`u Oficial, l993.
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LC- (`ir/tu/uma. Puno Alegre. Antonio Sérgio Fabris Editor. l994.
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Objetiva-se, neste pequeno artigo, apresentar algumas pos- Visöes do tradicionalismo


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sibilidadcs interpretativas sobre a questão da organização das
l`ami'lias no Brasil”, que aponte a direçíio t`tittira. Qual seja, a Que a familia tradicional, patriarcal (de origem ibérica) é e›<teiisa_ i~_'

viabilidade de uma formação técnico-profissiorial de servidores constitui tema já bastante repetido. desde a ptiblicaçao do 9 4*
:J *É
consagrado Casa-Graizzle & Senzalu de Gilberto Freyre. *Y i
públicos (profcssores/médicos/policiais/assisteiites socials) que
Estudos históricos mais recentes teni desenvolvido
realmente leve em conta o público que deve ateiitler. seja numa argumentos que apontam para algumas diterenciaçoes que li
instituiçïio pública oti privada. merecem destaque e que, em certa medida, matizam zi obra dc äf. t;-ft
Parte-se, portanto, da idéia de qtie não existe, histórica e Freyre. Estas dizem respeito as particularidades regionais (norte- f-'t ;¬;.~;'
antropologicamente falando, ttm modelo-padrão cle organização sul). Sohretudo no Nordeste a mulher da família patriarcal ãfi -t.=fi'_-:
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fiimiliar; não existo a família regular. Menos ainda que o padiíiti (chtimada sinhazinlia) tiprcscma o perfil dolinctido pelo autor à 1 '€
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europeu de família patriarcal, do qual deriva a família nuclear pemambucano quanto a docilidade e passividade, com atividades 2;',i
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burguesa (que a moral vitoriana da sociedade inglesa no século voltadas mais para o interior da casa-grande. lá no Sul, ao inves gi le

XIX atualizou historicamente para os tempos modernos), seja a de sinhazinhas, são encontradas as bantleirantes. Dado o ze "

única possibilidade histórica de organização familiar a orientar caráter militar e estratégico da colonizacão do Sul (sobretodo
a vida cotidiana no caminlio do progresso e da iiiodemidade. em São Paulo) as nitilheres foram convocaclas a administrar L2
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íazaeiidas e a controlar a esciavítria na ausencia do honiern, fi
Pensar as familias de forma plural pode significar uma
bandeirante ausente". Sem duvida.
construçao democrática bascada na tolerância com as este perfil aponta para um modelo muito mais ativo que passivo Eš Í
diferenças, com o Outroï Destarte, este trabalho é uma tentativa de mulher, sem perda, conttido, do seu caráter subordinado e
de descoiistrução dos alicerces das concepcöes políticas e psico- submisso, nem das características extensivas da estrutura fa- 1'.",!?"!'f!."

afetivas que sustentam o racismo que, recrudescido, está tão miliar. Sublinhe-se, por t`im, o caráter altanieiiterepressivo desta Elif .:;Ef
em voga nos tempos atuais, e que, sem clúvirla, constitui patio estrutura familiar, rcprodutora das normtts de disciplinamento e gi1 ji
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de fundo do debate sobre as familias. _ controle social (e sexual) ditadas pela lgreia. Os historiadores tt . _
9 _

têm se debrtiçado sobre os “Manuals de.Coiifissöes” que ditavam


a conduta dos padres-coiifessores, a partir do tletallittmeiito dos --7.

l/isoes sobre a família múltiplos controles desenvolvidos pela reforma religiosa catolica E ,
no periodo da lnqutsiçïiol. Decerto, grande parte das praticras
Observa-se, inicialmente, que, “grosso modo", os trabalhos sobre pedagógicas autoritárias inculcadas historicamente desde muito "¶5ï§'“"”°-É":1`š!f"
famílias no Brasil apresentam certos recortes temáticos e certos tempo, ainda perambulam pela formação social brasiieira. O tié "iti;
vicios interpretativos que precisam ser mapeados para que se sadismo e os castigos fisicos praticados por pais e professores
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possa ter uma melhor compreensão dos problemas envolvidos. obedecem a uma concepçao de educaçao fundada na culpa t
tfgtL _É
3. O etnhnstiinento é feilo ein “Pedagogia drtVioléncia". in NEDER, Gizlene. \/iulênciti 5). FREYRE.Gilberto.Cuxu-Griuizlv&Swi1¢tIi1, l7 cd. Rio de Janeiro. Livraria Editora .i
-11 1.
(Q Cirluríu/lirl, op, cil., e no l'¡'r1_t;n1/¡iri (lc Hix/iíriu (lux l"mni'Iizi.\' im lìrrrríl, que é
tninistrtitlo :ios :igcntcs :lc scgtirtiiiçzi ptihlicii do lšstatln do Rio tlc .l:int'iro, ol'ci'ecitlt›
Jose Olympio. 1975. I I __
(i. SAM/\R/'\, Eni dt: |`vlc.st|tiil:i .Al /uniílm mi _wii'›z'1/ii:/v ¡mii/i.r/u /lu .rwiilii ,\/,\. San
títi
no Centro Uiiiliciitlo de Ensino c Pe,-:qiiisa tla Vice-Govcriititloria tln Estado tlo Rio de Pittilo, FFLCI-l/USP, |98(). Test' ilc tloiitortiilti.
Janeiro (a “Escola da Cidatlaniti").' 7. LIMA, Lana Lage da Gama. ".~\ boa esposa c ti mulher eiitenditla _ in i\›liiI/ic/-t›.i-.
umxanam .= _.¬»=.¬
4. TODOROV, T. Nnur er lex /\iiIre.r: In /'tf'ƒle.x'ir1/i_/i'un('iii,rø .rur lu rlivrmrim' /ztiriiriiiira rt<Iii(rr'rr›.r e por/res. Rio de Janeiro. Dois Poiitos, l*)l<7. 1* ._
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Paris, Éditions de Mintiit, I9R9. I S NEDER Gizlcne. "A Pedagogia da \='iolc"iici:i". iii \-'ii/i'üiiri'ii tt- (`i't/tii/mini. op, cil, šš EQ..
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impoem sançoes antes mesmo de dar ao “acusado” o direito de com o republicanismo casuístico dos setores agrarios paulis_tas
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se defender. que estavam fora dojogo político do poder durante o lmpério e
P',
_ Em relação à família de origem africana, escravizada, eram que viam no fim do regime monárquico a possibilidade de
vigentes as concepçoes racistas mais arcaicas de não_,,recç›,¡ ¬ ingressoino processo político decisório. Desse modo, o republi-
_ _,f,¿¬ nhecimento de sua condição humana, relacionadas às justifi-
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canismo' dos jovens militares queuinlplanptaram ofinovopregqime

Ú êfí Faiiberico.
ìtïe§___d_@.Ou_.t2seja,
_t9_t2s1_ë___s§9. t@1_iQä2_ _fl_eaf_e,n2__ t2eflIsÍaLfaent±_
a escravidao iustificava-se pe1a;i¿_u_manidade" É _ __ '\_,›'Ú
cofivivéu com öwiepubliwëhziriiwšunwivomdfos cafeicultores paulistas, que
se ãïštl&'ü'l2íFãTri"”ñB"”`I5ïFfiïf5"ÍÍépiiBl`icanó"lï*àHli1s_tal'_(PRP), e que,
r à} $ì¢icoisa
aí2,2_e___t1_°S;_EstäeefeeïHem<=@flet<a_e_t>f§;_t1a_f%ïflfifa`Sefi am J ff-'
1 airadtrat'>"Pa"rt†a%**Rë1s“ü^Bii¢;ine“tt7tïiïêtF6§“a“ó"rìi”ífi2iràm appaçpgútqiƒm
,e escraviñäo erlaivista como uma missão de salvação. Oligáí `amada"d`e"`Velha liReip`úbil'icia/Primeira
-zi. _ Esta foi a visão passada e reificada pelos europeus que R _
vtsitaram o_ Brasil no tempo da escravidão e escreveram seus O projeto republicano dos militares inspirava-se no positivis-
a
ltvrosde viaiantes, e que constituem hoje fonte de memoria mo de Augusto Comte que penetrou no país nas últimas décadas
histórica, ondei pode ser observado o que pensavanlgseuropeus do século XIX e deitou raízes no imaginario social.Assim como
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.W †.›_.;. projetavam as modifieaçöes que adquiriam um caráter de
50lPÉ¢_,ɧ_få_l1'ljl1aS €§_<}_{§1_){_i1__§_I'__rlC_§_rj1ndo em senzalas, viviam em modernização conservadora no plano económico, mantendo,
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concepçao que foi cravada no imaginário social brasileiro e que pensavam também na organização da família moderna, chamada
» esta ainda muito viva, ainda que tenham sido introduzidasí K nova família. Neste pai1icular,evocava-se o padrão de organiza- -/_ ,_,

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pitadelas de modemismos de toda sorte, ou de cientificismosi l
ção burgués, com a família nuclear, moderna. Adotava-se tam-
i que procuram escamotear esta visâo tradicionalista e racista. bém novas práticas de sociabilidade, ipspiradas nos modismos
da belle-époque francesa e do c_onsérvadorismo moiawlista
vi g"é'fi't“éWi`i"o' reinado"dílïšiifiihiahviïtšfiai, "que durou quase toda a
A República, 0 positivismo e as novas concepçães de família
se' §culo XIX na Inglaterra. (Até os dias atuais,
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Ai Proclamação da República (1889) introduziu no país um to 5ñ§ï"n'äMoTg`ånlificão das familias que
coniunto de modemizaçöes que envolveram o fim do trabalho acompanha o aburguesamento da sociedade moderna, divórcio,
escravoe a urbanização (com desdobramentos para o inicio da nova parentela oriunda dos filhos de outros casamentos, por
industrialização), como também o deslocamento para o eixo exemplo, ou uma maior liberalidade dos costumes e da vida
centro-sul dos pólos de desenvolvimento económico e de decisão sexual que, no con_iunto,'implique a modernidade, recebe a
politica. O projeto republicano vitorioso dos militaresjacobinos, designaçïto de nova família.)
assim chamados porque apresentavam alguns pontos em comum Modernizaram-se, então, as concepçöes sobre o lugar da
com os republicanos radicais da Revolução Francesa (propunha mulher nos alicerces da moral familiar e social. Ao contrario
a separação da lgreja do Estado e tinha preocupaçöes com a da família tradicional, a nova mulher, “moderna”, deveria ser
Educaçao, dentre outros pontos), traça as possibilidades de cons- educada para desempenhar o papel de mãc (também uma
truçao da ordem burguesa no Braš entfeta'nto, educadora _ dos filhos) e de suporte do liomem para que este
-»¬...-...V-._Lin..-ti,...-a-¢=¬¢...-..~»».-.›.~..›-=i.››»-..›...-f-1-J-r V - -› ' pudesse enfrentar a labuta do trabalho fora de casa. A "boa
9. Sl_vENES, Robert. "Lares negros. olhares brancos: historias da familia escrava esposa" e “boa mite” deveria ser prendada e deveria ir ã escola,
no scculo XIX". Rt'i'i.t/u Bruxi/et'rn :Ia Hi`.rlr›'r¡u, n. I6, São Paulo Marco Zero/ANPUHA aprender a ler e escrever para bem desempenliar sua missïio
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ioss ` ' como educadora. Ai esta o perfil da mulher-suporte, que os
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positivistas brasileiros do inicio do século talharam como i escravidão no Brasil. No conjunto, acreditava-se na inoperímcia
modelo para o “novo” Brasil. Sobretudo no projeto republicano de qualquer política educacional para uma massa de ex-escravos, ;ì`:%;'
dos positivistas, a Educação ocupa um lugar fundamental para “biologicamente inferiores".
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o ideal de “ordem e progresso”. Na medida em que os militares foram se afastando e as
Evidentemente, este projeto voltava-se para a modernização oligarquias assumiram o controle da máquina do Estado, É:
da família branca, de origem européia, e inscrevia-se no quadro esfumaçaram-se quaisquer preocupaçöes com uma politica zi , . `1;i_ã`I`
das modificaçöes da família tradicional, que tendia a alterar-se voltada para a família e para a educação. lsto porque, do
com a urbanização e os modismos que impunham mimeti- ponto de vista das familias populares de origem africana, Ja
¬.. '*.'è¿?š`§! 5..
camente novos padröes de comportamento, uma vez que o país sobretudo nos centros urbanos mais populosos do país na
estava inserido no mercado mundial. Considerando-se 0
1

virada do século XIX para o XX (Rio de Janeiro, Salva- š


conjunto da sociedade brasileira, os setores populares foram dor, Recife), pouco se podia fazer, pois o determinismo
vítimas das manobras políticas que garantiram sua exclusão: biológico que inferiorizava os negros conduzia a uma 3
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foram (são ainda) vítimas também de toda sorte de fantas- profunda descrença na eficacia de qualquer política social t
de inclusão destes setores. Observa-se que, ainda que o $1
magorias relacionadas ao “medo branco", diante das massas de af2
ex-escravos recérn libertos. “Educar o ex-escravo para a cidada- paradigma científico não seja mais biologista, a nível dos
nia e a nacionalidade": esta era a preocupação de Joaquim sentimentos pode-se identificar uma permanencia desta »ev-ni;

Nabuco. Ao lado das formulaçôes mais gerais acerca da situação psico-afetiva de descrença na eficacia das ¡_
1.

Educação, uma outra questão pairava sobre as consciências: políticas públicas voltadas às familias populares, pois estas :_
al

como garantir a continuidade da exclusão dos homens pobres e eram ainda consideradas bestiais/bestializadas“_ Do ponto
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livres (agora um contingente numericamente expressivo, com de vista da Educação, o quadro era semelhante. A
descrença na eficacia obe-.decia a uma indisposição psico- - u.
o fim da escravidão) do acesso à propriedade da terra? ¿_
Neste ponto, o positivismo dá as mãos ao racismo biologista, afetiva: de que adianta boas escolas, com ensino de
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em voga na Europa na segunda metade do século passado, e qualidade, para seres “inferiores”, incapazes de aprender?
cobre com o véu do cientificisrno, da modernidade e do progres- Resulta deste quadro acima exposto a definição de estrategias J.1
so a continuidade do racismo. A massa de ex-escravos foi vedada de controle social voltadas 21 repressão de caráter militarista e -.
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a propriedade daterra, pois argumentava-se sobre a impos- excludente, com pouca ênfase na educação e na assistência social. l
sibilidade de se fazer reforma agraria sem que a “massa” Comisto, a jovem República aprovou em primeiro lugar o 2
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estivesse preparada _ “educada” como sugere Nabuco'“, pois serviço militar obrigatório em detrimento da obrigatoriedade -"it
“ 1!
sem a tutela do senhor o ex-escravo não teria condiçöes hu- da educação básica”. É, il
No período do Estado Novo esboçaram-se as primeiras ii
manas, tais como inteligência, aptidão etc. (biologicamente
falando) para cultivar sozinho a terra, a despeito deser pelo seu incursöes do Estado à realização de políticas públicas na área
trabalho que toda a lavoura fora estruturada._Da mesma forma, -1,
li
I I. A propósito de “bestia|iZados"_ constata-sc, com perplexidade, a presença destes 5i
a Educação não él senão mencionada enquanto estrategia para
componentes negativos em relação its classes populares no Iivro de José Murilo de
a saída da crise que levou ao fim do regime monárquico e da CARVALHO. Os be.v1ial¡2,<uIn,\~. São Paulo, Companhia das Letras, l987.
ii
12. NEDER, Gizlene. "Em nome de Ttinatos, aspectos da história do sistema
l
penitenciario no Brasil". Cuzlemfix (In CEUP, n. l, Centro Unificado de Ensino e ›..É
10. Sobre Joaquim Nahuco e sua visão do abolicionismo, ver NEDER. Gizlcne. Oi- i.
t:rmtprmni,\'.w›,v r:m1.rc/'varlm'e.r (ln liherztlmim mi Brasil. Rio de Janeiro, Achtame. l9 /9. Pesquisa tltt Vict:~Govcrnztdoi'ia do Estado do Rio de Janeiro. V993.
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de família e educaçao, mas aí ja com forte inspiraçao no sociólogos, antropólogos e historiadores que, até a década de l980,
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,__ autoritarismo nazi-facista. Enfase especial passou a ser dada a estiveram preocupados com as questöes da Revoluçao/Contra
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idéia de “família regular”, “saudável”, suportada na eugenia, Revolução, debruçarem-se sobre os temas dos micropoderes (a
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com desdobramentos no racismo assimilacionista que apostava família é um deles).
É? '
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no branqueamento da sociedade brasileira. Forte aliada do Estado
Novo, a lgreja deu mais que apoio político; deu, sobretudo,
suporte teórico e prático para a implementação das políticas As famílias no Brasil ,
V
públicas nesta área. ' Os estudos históricos acerca das familias no Brasil são recentes
e reúnem dados ainda fragmentados, porque até pouco tempo
t
As estratégias da Igreja para afamflia e para a escola atrás raramente estudava-se o tema. Destarte, procurar-se-á
t levantar algumas das mais importantes revelaçöes que as
r Separada do Estado no inicio da República, a lgreja traçou incursöes nos arquivos históricos que guardam a memoria de
\-Y.-
;¿- estrategias de atuação no Brasil que resultaram na definição de nosso país oferecem e que devem ser divulgadas. -
1. uma politica educacional católica de amplo alcance, com a Objetiva-se com isto apresentar algumas possibilidades de
-'i implantação de escolas confessionais em todo 0 país. Padre reflexao que possam ser capazes de abrir novos caminhos inter-
Leonel Franca destacou-se como expoente do pensamento pretativos para melhor orientar as práticas sociais e políticas voltadas
católico para questòes educacionais e compareceu ao debate ao atendimento da criança e da família. Como foi dito na introduçao,
que se travou na vida nacional naquela conjuntura. este texto é uma tentativa de colocar ao alcance dos trabalhadores
i Relativamente a família a lgreja apresentou as primeiras sociais (médicos, policiais, professores, assistentes sociais etc.) infor-
estrategias neste campo a serem desenvolvidas no Brasil. Poitadores mação sobre a história cultural das familias, ou seja, as varias pos-
de um conhecimento prático adquirido a partir das Santas Casas sibilidades de organizaçao familiar existentes na sociedade brasilei
de Mtserícórdia (estruturadas primeiramente pelo absolutismo ra; isto, evidentemente, sem esgotar ou apresentar um estudo com-
português e perdurando durante todo o período do lmpério, quando pleto e acabado sobre o tema, já que não se dispöe ainda de muitos
a Igreja estava intimamente ligada ao Estado), os setores católicos elementos. Pensa-se, entretanto, que esta reflexão pode apontar a
foram os mais aptos a preencher as lacunas deixadas pela nova complexidade da questão, que envolve inclusive problemas de per-
ordem republicana. Desse modo, o surgimento da assistência so- manências culturais transcontinentais numa formaçao social rela-
cial no país esteve intimamente ligado à Igreja, tendo inclusive a tivamentejovem do ponto de vista histórico, e multiétnica do ponto
designação de Scrviço Social (scrviço no sentido católico), com de vista de sua composição deinográfica'-“_ Contudo, acredita-se
suas atìvidades desenvolvidas basicamente por mulheres, e sua
prática confundida quase sempre com a caridade. Esta a razão pela 13. Embora o brasilianista Thomas Skidmore tenha classificado a estrutura demográfica
qualfseja com o consen/adonsmo cleiical (na conjuntura da primeira do Brasil no modelo biétnico, em contraposição ao multiélnico, none-americano.
metade do século), seja com a teologia da libertação (na conjuntura fundamenta-se nossa argumentaçäo no sentido da desconstrução do modelo
interpretativo hegemónico (biétnico), erigido nos anos 30, com Gilbcno Freyre. Está-se
atual), o tema da família tem recebido um tratamento religioso frisando dessa maneira o carzìter multiétnico da sociedade brasileira. Pensa-se que a
católico, com fortes conotaçöes eu ropeizadas, calcadas na idéia de construção de uma sociedade plural e democrática no Brasil deve levar em conta as
família-padrão, higienizada e patriarcal, com presença marcante diversidades étnico-culturais presentes históricamente; a interpretaçïio freyriana enfatiza
a “democracia racial" e a conciliação entre os brancos e os não-brancos (aí incluídos
do moralismo e do controle sexual tipicos desta matriz ideológica. os negros, os indígenas e os miscigenados). Ver SKIDMORE. Thomas. Prem no Branco,
Só muito recentemente, com a crise do Estado, observa-se ruçu e riucímiulíduzle no pen.rumenn› bru.rileir(›. Rio de Janeiro. Paz 0 Terra, l976.

34 35
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que os lragmcntos até agora trabalhados podem imprimir práticas as revoltas na cidade de Salvador; em suma, ainda que se
profissionais menos preconccituosas _e mais afinadas com o considere a diversidade das várias naçöes africanas (migo-
› .Q

interesse público. iorubás, jejês, bantos, dentre as mais importantes etnias), faz-
se necessário recortar, também, as diferenças religiosas.
Destaque também deve ser dado às pesquisas realizadas por
Colanização, escravidão e permanências culturais ii '›,`1¡`
,.;v,
Katia de Queiróz Mattoso” que no livro Ser Escruvn no Brasil » ~
án

Em Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre traça o quadro da trabalha a família escrava, e por João José Reis”, que estudou a -5
t 5;.-f,
estrutura da família patriarcal de origem ibérica, a partir de um l revolta dos malês na cidade de Salvador, em meados do século it.:
24
.I,. .lj
viés culturalista que supera teóricamente (e não politica e psicolo- ›
XIX (1835). O historiador baiano identiñcou nos males, por ; , wi
.,¬._›.|_ . ,~.›s-fa`.›~. ¬. 'ki lt ,,
€sImt¬afl'±sm1¡^-='.-1,
gicamente) os impasses que o racismo biologista tinha colocado exemplo, um grupo religioso dc negros nagôs islamizados que.
quando do fim da Escravidão. Constrói, também, o mito da embora numericamente constituíssem um pequeno contingente ili
11
democracia racial ao abordar as relaçöes entre a mãe-preta e 0 no universo mais amploda migração compulsória africana para
mundo dos senhores de escravos, introduzindo uma reflexão que a Bahia, revelaram-se coesos e capazes de se sublevar. Mais
conduzia a uma percepção harmônica e conciliadora entre as “trës que isto, como estavam incluídos no mundo dos povos das
raças” (o branco, o negro e o indígena), pelo aleitamento do filho religiöes oriundas do Livro (as três religiöes: judaísmo, ,i

do branco feito pela mulher negra. Esta obra, tão importante para l
cristianismo e islamismo), estes negros eram letrados, alguns l

i iz'-.
a interpretação do pensamento social e político no Brasil, deve deles lideres religiosos; liam o Alcorão e deixaram registros tt
ser vista no contexto das condiçöes históricas dos anos 30 (o históricos e muitos relatos gravados nos inquéritos policiais que ,ll
lila;
livro de Freyre é de l933), ainda que esteja a brindar com muitas apuraram a revolta. Importa destacar que o fato de se encontrar tlf,

referencias de suma importância, sobretudo para o estudo da um grupo cuja identidade fazia-se pela religião muçulmana e
presença lusitana na colonização do Brasil. cuja organização familiar era poligâmica já remete a uma
São poucos, entretanto, os trabalhos que traçam o quadro reflexão obrigatória para a pluralidade das (varias) culturas
etnográfico dos africanos na sociedade brasi1eira.O médico baiano africanas que foram transferidas para o Brasil. De modo que
Nina Rodrigues iniciou os estudos sobre a população de origem não se encontra uma família africana, mas varios tipos de
africana” e fez da Bahia o berço dos estudos antropológicos e organização familiar entre os milhöes de africanos que foram
etnográficos no Brasil. Entre os etnógrafos atuais destaca-se o transferidos para o Brasil. Dai apontar para as possibilidades da
pesquisador Pierre Verger'-S, que estudou o fluxo de comercio (in-
presença de estruturas matrilineares, patrilineares, poligâmicas
clusive de escravos) entre a Bahia de Todos os Santos e o Golfo de
etc., que estudos etnográficos mais detalhados e sistemáticos
Benin, na costa Ocidental da_África. Citando Nina Rodrigues,Verger ^4 'au-fismfa a a für- t

poderão revelar. Também deve-se sublinhar as observaçöes de


ressalta as diferenças religiosas entre os nagôs na Bahia” para
Pierre Verger sobre algumas especificidades baianas, quanto à
explicar as divergencias nas declaraçöes de africanos de uma mesma
nação (nagô) apresentadas nos inqueritos policiais que apuraram uma relativa homogeneidade dos grupos étnicos africanos na
Bahia, c-nqiuanto no Rio de Janeiro e em outras regiöes ocorreu M. ,tm«-› ».,¬~“›Í.'§;` .,-.afi“"7lÉš=.:L4-sei.=
uma grande variação na origem da migração compulsória de
l-1. RODRKJUES. Nina, Or ti/`rí¢:anr›.r nu Iìruxil. 5 ed. Brasiliana vol. 9. São Paulo, ig
3 §
Companhia Editora Nacional. 1977. `
15. VERGER, l-'iet'i't:. Fluxn ct Rat/lu.\'r› (in 'Ii'rfƒïc11(le ¡';Ítc1't1\fr›.r entre (1 Got/'(1 de Benin l7. MATTOSO, Katia de Queiró/..Scrl;`rt.'mw11i/›Iìruxil. 2 ud. São Paulo. lšrtisili-um.-. -`=¡w*
e ri Buliiu de '1`/ulfix nx Sun!/tr. Salvaclor. Corrupio, l9tšT. t '-1 s, -=
16. VERGER. Pierre. op. cit,. pp. SI9-520. i8,8RElS,loãojosé. Rebe!¡<ïr1E,tt'mi'ti un Brasil. 2 ed, São Paulo, Brasilicnsc. W87,

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africanos. Sobretudo se se considerar que entre l822 - ano da família escrava tem sido alvo de estudos que se passa a elencar,
emancipaçãopolítica, quando o intermediario português foi sem delongar em demasia nas controversias historiográficas,
afastado das relaçöes do Brasil com o mercado mundial - até tão presentes entre os historiadores.Tentar-se-á recortar de alguns
-,ra
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t *ig
1850, fim do tráfico de escravos, houve numerosos desem- trabalhos aquilo que possa contribuir à formação de um
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barques. Estes provocaram a entrada de africanos de varias argumento que aponte na direção dos objetivos deste artigo;
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. :t`_.'› procedências para o Rio de Janeiro, onde flores_cia o café no qual seja, identificar as diferenças étnico-culturais na
ii. Vale do Parafba fluminense. organização das familias no Brasil, tendo em' vista a formação
` 26
Sem dúvida, as permanências culturais resistem ao tempo, profissional, sobretuclo, de servidores públicos que precisam
denunciando (como o retorno do reprimido, no sentido conhecer histórica e culturalmente o público a que vão servir.
psicanalítico) de forma expressiva os processos forçados de Num ponto os historiadores pouco divergem: a Escravidão
aculturação. Ademais, a cristianização dos povos africanos que tem marcado a sociedade brasileira, qualquer que for o viés
vieram para o Brasil deu-se de forma aleatória e pouco sistemática. interpretativo a ser adotado; e geralmente não descartam uma
1
i Menos pelo fato de os portugueses não terem uma estrategia reflexão sobre a escravidão negra no país.
« definida quanto a este ponto, e mais pela adoção de uma velha Um outro ponto a ser frisado para encaminhar a argumen-
postura em relação às religiöes pré~cristãs da Europa _ quando tação: ainda que se considere a diversidade das familias africanas
f
-.
a crença na “superioridade” e “civilidade" do cristianismo levou, que, como foi dito, implica em diferenças religiosas de lingua,

inclusive, o Tribunal do Santo Oficio a dar pouca importancia tradiçöes etc., os historiadores têm mapeado alguns aspectos
aos cultos religiosos agrários, desprezando e/ou não concluindo específicos e recorrentes na organização familiar dos escravos,
os processos abertos contra esses camponeses _ a expectativa que devem ser ressaltados. Estes aspectos dizem respeito mais
era. de que essas religiöes “primitivas”, geralmente animistas, a fatores de ordem político-institucional do que cultural, embora
1 fossem assimiladas, gradativamente, à cristandade”. Também no a cultura atravesse a organização da família escrava. Assim, Q
Brasil as religiöes africanas foram (são ainda) tratadas assim. autoritarismo e a violência da Escravidão são i'e§_p_omt)_s§t_ve,is
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pela separaçâ"öwe'i`ifFë'›"casaisfwfiåfisme t`ill1os`h__e_p~o¡utr_o_s
A família escrava amigas;¡m*6*¿"ZtT1"Et†<ïf“1§†šEl¿1Í¿i¢_fiy,rgi±;"üì"¿šš é Crises- identidad@
ina`rcÍafites“te“i rrëïferši \ïëiÍs`ÍÉi`ii Vͧö¿¡§ V ¿ÍÉi“ÍÍi'l§ÉiÍÍZiÍ[25,MÉiiÍiey
'Se acomplexidade da historia das familias africanas remete Chalhoub-“ nvarroti as andÉíiT`§`iíšWd'€'é^šc”rå"vó'š`e libertos que
a um campo ainda por ser melhor explorado, encontra-se em coi"tì`Frs El o ñ`iãp"a`do país atrás de seus entes queridos.Apesar de
;;-f›.-,- pesquisas históricas recentes, realizadas em programas de pós- tö ¶Me itrtinspoirte e deslocamento no século
graduação e pesquisa em História Social, um conjunto de XIX (período histórico enfocado pelo autor), eram comuns
trabalhos que enfocam a família escrava. Localizados nas viagens do Nordeste para o Rio de Janeiro; do Rio de Janeiro
universidades, estes programas têm como característica o uso para Minas, a procura de parentes. Chalhoub trabalhou basica-
de metodologias e técnicas de pesquisa em arquivos históricos mente com os proeessos ci'ini_iiiai§¿_oiide aparecem os relatos
que se contrapöem 51 tradição ensaística dos trabalhos dos dessas andanças.
Institutos Históricos e Geográficos espalhados pelo país. A Pode-se mesmo dizer que, a despeito de o fim da Escravidão

ll), CINZBURG. Carlo, (lr Am/mi/lif›.\` :lu /if-ui. São Paulo. (`ompanhi:i das Letras. 20. Cll/\l,HOUlš, Sidney. l/¡,\'r7<'_~' z/fi I,¡IwrzIu(/1'. São Paulo. (Íompanliizi das Letras.
1937. l'~19[l 1

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já datar de mais de cem anos, o padrao autoritario presente na estes dois aspectos como partes constitutivas do processo i
organização política brasileira imprimiu continuidade nesta histórico brasileiro. ii -¿: , Jl
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perda de vínculos familiares e crises de identidade entre as Katia Mattoso destaca que as diferenças entre a familia iƒg
fi
africana e essa família escrava são muitas e não devem ser .H
classes populares de origem africana, com migraçöes campo- , li-
i›
cidade, por exemplo, e outras separaçöes forçadas. omitidas. Na família africana, os membros sao todos da mesma - tí
comunidade ou da mesma etnia, ressalta a historiatlora. .ali i
Observe-se, no entanto, que estes processos decorreram em 91'

função de motivos político-institucionais, não Sendo, portanto, Na África. ser primo ou irmão não implica qualquer vínculo .fi |›
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uma questão de ordem cultural tasiamílias das classespopulares consitngüinco. Os membros de uma mesma etnia
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no Brasil são consideradas biologicamente inferiore_s,_e as
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consideram-se gcralmente irmaos. Scr primo é sobretudo
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› ~ culturas africanas são tratadas como “primitivas , formando a ser amigo. [...l O que dctinc ti l`itini'lia zttricttna ó ti
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. opinião correi1te_Ñq_ueWe_ïiiÍff”Ít:ti_aa“¡¡ampromiscuidade sexual efla antcpassittlo comum. Sc ti dcscciitlericiti sc fa'/. ntimcrosii
tt i _ iv' dcmais. ttm ramo separado constitui nova t`ami'lia. As
1/ irregularidade da estrutura familiar nas classes populares). Nao sociedades africanas fundamentam-se, pois, na linhagemn.
qtÍëgÉÍ`šÉ:>fav i d'ãb“HÍÍÉïëiihÉ`§i`do re`s'¡Íó"ñšãvel' pela 'prom iscu idade ill

nas senzalas e/ou pelas dificuldades na estruturação das familias Relativamente à organização das famílias entreos escravos,
escravas. lsto ocorreu com freqüencia mas. volta-se a insistir, constata-se primeiramente, é óbvio, a perda das tradiçöes e das
por razöes que devem ser atribuidas a fatores de ordem político- raízes, com um conjunto de condicionantes extremamente desfavo- -__-;

institucional. De outro lado, não se deve levar estas constataçöes ráveis: scparaçöes forçadas (já aludidas) e preferencia pela aquisiçïto %t
sobre a promiscuidade sexual nas senzalas e a dispersão das i de escravos homens (o que estimulou as ligaçöes temporárias e al
familias escravas a extremos de não enxergar a construção his- instáveis, como afirma Katia Mattoso). Neste particular, ha dife-
tórica da organização familiar entre os escravos, que implicou renças em relação às estrategias dos senhores de escravos dos Esta-
em laços familiares, de solidariedade (o compadrio)2' e de dos Unidos daAmérica do None, onde foi estimulada a constituição
companheirismo no trabalho. A constatação da existencia destes de famílias nucleares, com a catequese puritana e moralista atuando ,_.a~›.= ¬=
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processos histórico-sociais de organização familiar e de laços fortemente neste processo. No Brasil, ao contrario, havia desprezo il

de solidariedade deve ser vista mais como manifestação da e descaso, sobretudo com relação às crianças, uma vez que não se
capacidade de resistencia popular ao autoritarismo e ao apostava com muita freqüëncia na reprodução natural da massa
escravismo do que a uma tendencia a enfatizar os aspectos escrava; havia uma clara preferencia pelo investimento no escravo it-
i adulto e era freqüente o abandono de crianças.
“positivos” da Escravidão. Ou seja, não se pensa que as
interpretaçöes conflitantes (uma que realça a vigencia da As crianças, quando nascidas destas uniöes efêmeras, fosse ã,

0 pai um escravo ou o próprio scnhor, construíam suas '-Fit


Escravidão no Brasil com aspectos de acomodação, paternalismo “t
identidades numa situação psicológica ambigua e contraditória,
e conciliação, bastante enfatizados por Gilberto Freyre, e outra onde a comunidade mais ampla de escravos atuava como
que aponta a «“coisificação do escravo”) devam ser descartadas referencia:Sublìnhe-se que, como frisa Gisálio Cerqueira Filho.
em sua totalidade. Rigorosamente falando,ideve-se considerar a ausencia da figura do pai” ocorria em dois sentidos. Num,
2 l . Alem do livrojti citado de líiitiaMitttoso.vcrttimbëmFRAGOSO-1050 LUÍS R- & 22. MATFOSO. Ktitia tlc Quciróz, op. cit., p, 125.
FLORENTINO. Manolo G. '“Marcclino', filho de crioula, neto de Joana Cabinda: um 23, CERQUElRA FÍLHO, Giscilio. /der›/rflgttz du Farm/' e I_qrir›/'âliciu Si/iilzrí/¡¢'tl (lu
estudtiisoibrei fainiiìlitisdeiscinvas ɧ't7:Ífii“d'ö'Stil¬(l`3Íl`ïï'lB72Y`. E.rIttdr1.r E<:miâim<'(›.t.
Lei, op. cit.: ver também NEDER. Gizlene. A Pa.f1u_t-~,t'iti (It: l/tu/ê/it.'it1,op,cit.
n. I7. São Paulo. lPE-USP. 1987.

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._iE«=';_fiÉr-. pelo não reconhecimento da paternidade por alguem, uma vez qtie a pontuação tão somente da pobreza coloca no centro do
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YSIZ4-,"›'-'.'.`-E1' que foi gerado a partir de tais uniöes efemeras e passageiras. argumento a determinação económica das mazelas que levam
¿`l¡_^."_f;_›._`f†~_i
t"¡'ìƒ7_"2'] .
i Noutro. a figura do senhor, potencialmente. substitutita da figura its dificuldades na manutenção dos vincttlos familiares.
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~«.-;,i. fr-tre.
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i paterna (no sentido psicanalitico imprimido por Gistilio Cerquei- Sem dti vida, o processo de industrialização/urbanização, que
M'?f~,“§š,›É-'ï'2.*=`
ra Filho), era também ausente, pela distancia qtie a idealização e ocorre sem qtie haja modificaçöes na estrutura lttndiãria.
t.,`›`3*:f' ,É'"'. o poder impunham as relaçöes sociais na dinítmica do acontecer perverso e irreversivel e constitui fato que agrava estas
(šs

social. Ressalte-se ainda que a criança-cscrava tfit-eiiciatta uma dificuldades. Observa-se, entretanto. o destaqiie dado por alguns
outra ambigüidade: até os sete/oito anos de idadeexperìmentava economistas, porexemplo, Et presença das irittlliefres no mercado
W155
uma relativa possibilidade de folgucdos em torno da casa-grande. de trabalho. Está claro qtie ocorrem na sociedade brasileira
É-“2if**1':iI=›i,ï:'ïi F conhecendo o mundo dos escravos somente à noite. fenôinenos mais ott menos recorrentes ein processos de
17-1:
"~"§':=:`i"iš:i "
_,-._-¬,_.. l Encerra-se, por fim, estas retlexöes, citando uma vez mais indttstrialização/urbanização, tal qual em outras formaçt`>es
,-, ~,›¢›i,›ta
Katia Mattoso: sociais, na passagem it modernidade. Neste particular, a
constituição do mercado de trabalho capitalista e a inser<;ão/
;= lsolada do ptti natural. dcsconhecido. ttl`a.stttda do pai dc
-1-'
,'»rÍ==ì' eleição. aquelc senhor agora distante, a criança-cscrava
exclusão das mulheres neste contexto produziram efeitos sobre
š~_=%'1¿?'=Í1'_-.s.e__¿-
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_ -age 1.
encontra numa faniilia ampliada. a numerosa familia de a estrtitura familiar. Contttdo, convém recorrer novamente ¿`t
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negros no trabalho. os pontos de referencia necessarios ao História e leinbrar que as reclamaçöes de comerciantes em
1'- FJ ' 1-

Vi-,gi-.:
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seu equilibrio emocional rompido. Nessit comunidaclc negra jornais de mais de cem anos atras (seja na cidade de Salvador,
i dc linhagcns pcrditlas. forjatn-se aliatiças. not-os seja no Rio de Janeiro) revelam uma insatisl`ação com .os
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compadrios. vinculos religiosos".


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moleques negrínhos que perambulam pelas ruas, preju-
*~;1›¬\.:r`Íi!1ï '
!¿i3g1%svl¿i4 i dicando a freguesia c as vendas; reclamam também de suas
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Quadro atual das fanzílias no B/'asíl mães, mulheres relaxadas, descuidadas que parem muitos
-;-_- ;i-'at ,›
filhos e os largam no mundo sem o devido cuidado. Destarte,
is», . l
&s:,¡:;-_' ,›_'š'{,. a
" A enfase nos aspectos histórico-culturais que tem marcado a seja na estrutura atual, com a inodcrna sociedade industrializada,
.='í'_,~_*_Ji,1-gtfï' organização das familias no Brasil justifica-se por algumas seja cm outro periodo histórico, as familias das classes populares
l:*›~“ì,,¿._,,,._,
iz~«l¬`, _ constataçöes que devem ser reveladas, sobrettido em relação à
9.p¢\ñl.›,-¬ tem encontrado dificuldades (evidentemente que também de
iiiffiiif
l§.';'±'.-'t,¬`;` familia escrava, pois tem-se ai a chave para novos encami- ordem econômica - não se descarta este argumento) mas,
ii:
t'=ï-'¿'~'*:f:,"-1* 7 nhamentos de politicas futuras. ' sobretudo, cle ordem politica e ideológica. Politica, pela
tflstïrë' -fï*
s-1:',-'.-t~.~I'7"É
Primeiramentc, deve-se levar em conta que muitas das resistencia qtie tem de emprcender contra o autoritarismo e a
¿¿~;¿¢,,s›--.t
--',:=;L.-'”- percepçöes construidas históricamente pelas elites persistem de perversidade do sistema. Ideológiea, uma vez que as diferenças
'i'.sa-.
›¬*š;<-:št
-.eq 1=
-É*'='¿Í;:Ti?! 2 forma hegemónica. Em seguntlo ltigar, observa-se que a étnico-culturais que embasam as-diversas formas de organi-zação
.ti-:-°~ Pat -1
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,f , i fofmtilação mais simpática Ets classes populares qtie trata a familiar não são respeitadas. Seria interessante, por exemplo,
,, .
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organização familiar ainda esta presa nas mttlhas de ttm enfoque acoplar aos estudos económicos de mulheres que sustentam
i';«;¬i."-“'
t ;_.'=a
que enfatiza a relação pobreza/família irregular. Por melhores sozinhas suas familias (freqtientemente chamadas “mono-
, que sejam-as intençöes dos agentes histórico-sociais que atuam parentais”) análises de carater histórico-cultural. Poder-se-ia
c
.t:_ii;;š;1¿F¬1il
nas politicas sociais em relação its classes populares, pensa-se aqttilatar 0 peso do poder da figura feminina nas familias afro-
_:i-:›:››t.,'i'
brasileiras de origem matrilinear, onde as tias ocupam lugar de
†^fa''-¬€:, 2-l. MATTOSO. Katia. op. cit.. p. |.`\()
Ífi¿,,
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~.i-1~-: destaque (como guias espirituais e religiosas e lideres comuni-
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--;ï.¿3.=__-i.› J1
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túrias). Não se deve esquecer que foi aluclido acima dar-se a liistóricos e culturais possibilitaríi a afirmaçtìo da autoridade
estrutura de parentesco nas familias alticanas predominan- e da lei (no sentido psicanalitico) dos adultos responsaveis
temente pela linhagem - dai o tratamento de tia. 1
pelas crianças no núcleo familiar, estabclecendo seus limites.
Sem dúvida, o conjunto de atributos ideológicos, politicos
“ológicos que circutidam a ideiit de familia ii*i'cgt1l:ir'
Conclusao Q. ` , na cssencia, qualquer tentativa de valoi'i7.açãc› das
F3 (Í:“U. if;
cf .L;
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familias das classes populares. por maiores e mais sinceras


Pelo exposto, pensa-se a necessidade de valorização das familias.
enquanto lot-1/s de produção de identidade social basica para que possam ser as intençöes de ajuda (e valori7.aç-ao) clessas.
qualquer criança, tendo em vista a formação de uma cidadania lsto port ue ja sc parte de uma desqualificação tt ¡›/-io/'¡.
ativa. Aconstruçïio desta identidade, indi\'id“-aal e coletiva, deve, Quando O~"`“' proposto um novo olliar, com especial atenção
contudo, passar pela tolerancia com a diversidade humana. Vale aos aspectos históricos e culturais, esta-se buscando uma
dizer, pelo exercicio da capacidade de, ajustando melhor o foco saida para esta armadilha ideológica. Uma boa' politica so-
das nossas lentes, sermos capazes de, em primeiro' lugar, enfter- cial para as l`amilias das classes populares (geralmente
gar as diferenças étnico-culturais presentes na sociedade bra- pobres) deve, portanto, respeitar politica e ideologicamente.
sileira; em segundo, ha que se respeitat' politicamente tais dife- as diferenças, se almeja alguma eficacia.
renças. Dito de outro modo: pode-se experimentar evitar os 3) As politicas sociais para a area de familias devem levar em
paradigmas de familia regular x familia irregular, responsável, conta o apoio a ser dado as mulheres nas familias dos setores
em larga medida, pelos preconceitos que produzem a evasão populares, enquanto arrimo económico; devem, no entanto,
escolar, a displicência e o descaso no atendimento médico e a atentar também para a stta valorização enquanto suporte politico
truculencia policial em relação as classes populares. e psicológico, o qual lhes é culturalmente atribuido dentro do
Num pais onde o autoritarismo atua como antolhos, a impedir núcleo familiar. -
a largueza do alcance da visão, ha que se lançar mão de novos 1
4) Por fim, deve-se atuar para o assentamento destas familias,
i
instrumentos de análise social para que se possa primeiro seja no campo, seja no espaço urbano, a fi m de evitar a quebra
conhecer, e depois tragar politicas públicas adequadas a realidade violenta de seus vinculos e a conseqtiente fragmentação da
histórica concreta. Relativamente às familias dos segmentos identidade.
populares, sugere-se algumas estrategias de ação.
l) Os programas de capacitação e reciclagem dos servidores
públicos e dos agentes sociais nas áreas de Saúde, educação, Bíblíogmfia ,
assistencia social e segurança pública devem contemplar
estudos sobre Formação Histórica Brasileira e Identidade CARVALHO, José Murilo de. Os bestíalízarlos. São Paulo,
Social e História das Familias no Brasil. Companhia das Letras, 1987. 'I _ j
2) O enfoque dado a questão das famíìias deve valorizar CERQUEIRA FILHO, Gisálio.l(1'e0Iogia do Favorc lgfiorâiicia
os núcleos familiares enquanto locus de construção da Simbólica da Leí. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial, 1993.
identidade. Desprender-se-á, portanto, de uma conotação CHALHOUB, Sidney. lfísöes da Liberdade. São Paulo,
moralista, fundada em preocupaçöes meramente com Companhia das Letras, 1990.
atitudes e compottamentos, para trabalhar as identidades ÍFRAGOSO, João Lu is R. & FLORENTINO, Manolo G. “Mar-
(étnico-cultural, sexual, nacional etc.).A'enfase nos aspectos celino, filho de crioula, neto de Joana Cabinda: um estudo
44 45 _
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É
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sobre familias escravas em Paraíba do Sul (1835-l872)". \


r
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_ “Em nome de Tânatos: aspectos da história do sis- e uma mulher. O recém-nascido é, em si, expressão concreta de
uma experiència de encontro. A própria gestaçño é iinpeiisíwel
tema penitenciario no Brasil". Car/cr/ios ¿Io CEUP, n. l.
sem um vínculo concreto entre mae e feto. Um cordao os une.
Rio de Janeiro, Centro Unificado de Ensino e Pesquisa da
Um cordão possibilita a vida.
Vice-Governadoria do Estado do Rio de Janeiro, 1993. ¬ Após o nascimento, o seio assumirá esta função de vinculação
. Víolê/zcirz & Cidczdalzícz. Porto Alegre. Antonio Sergio
\ concreta. O récem-chegado expressa um vínculo, sobrevive graças
Fabris Editor, l994. a uma vinculação orgánica, biológica e crescera e se clesenvolverá
REIS, João José. Rebelíão Escmm /zo Bmsil. 2 ed. São Paulo, com a constituição de uma vincul B »cvD`o simbólica, afetiva e social.
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l.
doutorado. Ao pertencer a estes grupos, também já está estabelecido quem
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quais estará sujeito, de acordo com a cultura onde ele esta inse1^ido'.
SLENES, Robert. “Lares negros, olhares brancos: histórias da
1
família escrava no século XIX". Revista Brasileira de ›
* Prof-:ssora do Departamento de Psicologia e Ed ucnção da Universidade de São Paulo.
História, n. l6. São Paulo, Marco Zero/ANPUH, l988. Campus Rãbeirão Preto - SP. Ex-Conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas - SP.
TODOROV, T. Nous er lesAurres: la réflexio/zfrmiçaíse sur la ;
1. As sociedades humanas rariam nas formas de parentesco. casamento. residencia. vida

díversité /zumaiize. Paris, Editions de Minuit, l9S9. domestica (Durham. l9S3). Não se pretendeaqui natumlizaro processo. mas assinalarpossiveis
VERGER, Pierre, Fluxo e Refluxø do Tráfico de Escrflros entre aspectos psicológicos existentes nas familias brasileiras. mesmo considerando inúmeras
possibilidades de an'an_ios. A deliniçïio de parentesco defendida pela Antropologia. segundo
0 Gol/`0 de Be/zin e (1 Bu/1i'u (le Tor/os os Santos. Salvador. Durli.1'n (p, 22) é a seguintc: “estruturas formais que consistem em ananjos e cornbinaçöcs de
Editora Corrupio. l9S7. p tres rclaçñcs b;i_sic;=;<: as de dcsccnd-Íncia (entre pai›lillio:< e/ou rn:`tc-filhos). de cnnsangüinìdade
(entre imiãos) e de afinidades (criadas pelo casamcnto)".

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