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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP

INSTITUTO DE FILOSOFIA, ARTES E CULTURA - IFAC

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA - DEFIL

FABIANA VIEIRA DA COSTA

RELATÓRIO FINAL

FETICHISMO E SUA REVERSÃO – OU COMO NÃO COLONIZAR


O OUTRO?

Relatório final, referente ao período de


Agosto de 2013 à Julho de 2014,
apresentado à Universidade Federal de
Ouro Preto, como parte das exigências do
programa de iniciação científica / PIP.
Orientador: Bruno Almeida Guimarães.

Ouro Preto – Minas Gerais – Brasil

Julho, 2014

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Fetichismo e sua reversão – ou como não colonizar o outro?

Na medida em que os estudos contidos neste projeto de pesquisa abordam


aspectos importantes da interferência da ciência econômica sobre a socialização do
desejo e sobre o processo de identificação dos indivíduos, fornecendo uma excelente
base sócio-material para a compreensão dos sintomas contemporâneos mais comuns da
sociedade capitalista, este acaba por promove o desenvolvimento do pensamento crítico
e a autonomia intelectual do aluno de filosofia, bem como busca encontrar estratégias
disruptivas que possam produzir ações capazes de reverter o quadro reificado das
interações sociais.

__________________________________________

Orientador: Bruno Almeida Guimarães

__________________________________________

Bolsista: Fabiana Vieira da Costa

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II - INDICE

I. Resumo............................................................................................... 02
II. Índice.................................................................................................. 03
III. Introdução........................................................................................... 04
IV. Objetivos............................................................................................. 04
V. Material e Métodos............................................................................. 04
VI. Resultados e Discussão....................................................................... 05
VII. Considerações finais........................................................................... 10
VIII. Referências Bibliográficas.................................................................. 12
IX. Bibliografia Lida................................................................................. 13

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III – INTRODUÇÃO

O presente relatório visa apresentar os resultados do projeto de iniciação à


pesquisa, vigente desde agosto de 2012 e renovada em agosto de 2013, intitulado
Fetichismo e sua reversão – ou como não colonizar o outro?.
Este trabalho, em amplo aspecto, quer investigar o modo como se relacionam o
conceito de “Fetichismo” em Marx e em Freud na leitura combinada apresentada por
Vladimir Safatle em seu livro Fetichismo: colonizar o Outro de 2010, para tal
detectamos a importância da renovação do projeto (para uma melhor compreensão dos
sintomas contemporâneos) e nos direcionamos a leitura de sua obra, de 2013, Grande
Hotel Abismo: Por uma reconstrução da teoria do reconhecimento.
Ao demonstrar como ocorre a convergência deliberada, no trabalho de Safatle, do
conceito de "fetichismo” de Freud com a tradição critica do fetichismo da mercadoria
em Marx, o trabalho procura compreender o fundamento dos processos de
racionalização social a partir dos problemas de socialização do desejo.
Enfim, buscamos com esta pesquisa compreender se estamos destinados ao
fetichismo (e à colonização do Outro) ou se nos é possível ainda vislumbrar uma nova
forma de socialização do desejo que não esteja vinculada a tais impasses.

IV – OBJETIVOS

Em relação aos objetivos pretendidos, tem-se de maneira geral a investigação do


modo como se relacionam o conceito de “Fetichismo” em Marx e em Freud na obra de
Safatle, Fetichismo: colonizar o Outro de 2010 e, em seguida, repensar a tradição crítica
do fetichismo da mercadoria e, finalmente, compreender o fundamento dos processos de
racionalização social a partir dos problemas de socialização do desejo.

V – MATERIAL E MÉTODOS

Estando a metodologia condicionada, em grande parte, à natureza e à forma como


deve ser abordado o objetivo, as atividades da pesquisa foram concentradas no
fichamento das obras, à saber, “Cinismo e falência da crítica”, “O Capital”,
“Fetichismo”, “Fetichismo, colonizar o outro”, e por fim, “Grande hotel abismo: Por
uma reconstrução da teoria do reconhecimento”, sendo assim, a metodologia utilizada
foi a leitura, fichamento e interpretação das obras de Marx e Freud e Safatle, bem como
na análise de comentadores.

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Como o campo de investigação desta pesquisa refere-se a um estudo teórico, a
primeira etapa da pesquisa foi voltada à análise de obras de Freud e Marx tidas como
introdutórias, visto que toda a pesquisa tem como ponto de partida a tradição conceitual
apresentada por estes dois pensadores.

Em seguida direcionou-se os estudos às obras do professor livre docente da USP


Vladimir Safatle. Em primeira instância, o foco foi voltado para sua obra “Cinismo e
falência da crítica” com o intuito de haver uma familiarização com os conceitos e o
trabalho do autor, em seguida, nos direcionamos à análise da obra que permeia os
estudos desta pesquisa “Fetichismo, colonizar o outro” e, por fim, buscando uma
melhor compreensão do pensamento do professor uspiano voltamos nossa atenção para
a análise de sua tese de livre docência “Grande hotel abismo: Por uma reconstrução da
teoria do reconhecimento”.

VI – RESULTADOS E DISCUSSÃO

O que se tem como resultado da pesquisa é o esclarecimento do sintoma


contemporâneo, o modo hegemônico de racionalidade e o entrelace entre eles, através
da análise das interações sociais.

Fetichismo foi um termo que permeou a produção de Marx e, em especial, na sua


obra O Capital é onde encontramos sua caracterização mais explicita. Para melhor
caracterizar o que seria o Fetichismo da Mercadoria em Marx foi necessário, em
primeiro lugar, realizar uma clarificação do termo fetiche.

Seu significado primário nada tem haver com os significados e conotações sexuais
que hoje possui; pois este conceito era entendido em sua origem como magia ou
fantasmagoria. Marx mostrou que as mercadorias passam a assumir esse tal caráter
fantasmagórico quando os indivíduos não são capazes de compreender como se dão as
principais relações de produção, já que nos tempos atuais, nas sociedades capitalistas, o
trabalho e as relações sociais de produção são alienadas.

A realização social do sujeito é a principal razão do trabalho; mas as relações de


trabalho tornam-se relações de dominação quando o sujeito não tem consciência do que
resulta de sua produção social. Segundo Marx, a mercadoria basicamente existe na
sociedade pelo seu valor de uso, mas a análise do produto vai além do seu valor de uso,
pois ela passa também por todas as relações sociais inseridas na sua fabricação, ou seja,

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tudo que é produzido possui uma história, pois tudo aquilo que é feito pelo ser humano
é também feito por relações sociais de trabalho que em nossas sociedades possui um
caráter hostil de exploração. Para que ocorra a superação do estado de alienação da
consciência, segundo Karl Marx, é necessário desfazer o caráter fetichista da
mercadoria.

A psicanálise, por sua vez, mostrou que o termo fetiche é de suma importância na
construção de uma teoria psicanalítica da perversão. Esse conceito pode trazer às claras
as elaborações maiores referentes às formas de encantamento e alienação social,
partindo da análise dos modos hegemônicos de relação dos sujeitos ao trauma da
diferença sexual e mostrando as consequências disso para além da sexualidade.

Segundo Safatle, “pela psicanálise e o marxismo, a análise do fetiche expõe os


móbiles da alienação tanto no campo do trabalho como no campo do desejo” (V.
SAFATLE).

Em sua obra de 2010, Safatle combina as duas tradições que abordaram o termo
fetichismo – para fazer uma leitura conjunta de Marx e Freud. Para Vladimir, o termo é
utilizado pelos dois pensadores com a função de “descrever o interior do processo de
determinação do valor em nossas sociedades (Marx), ou ainda o modo com que a
maturação sexual e a formação do eu podem admitir a regressão e a dissociação
subjetiva (Freud).” (V. Safatle). Para ele tanto Marx como Freud mostram como a
alienação e o encantamento operam no interior das nossas formas de vida – no centro
das sociedades desencantadas (como a nossa).

O professor uspiano lembra como ao “sistematizar o funcionamento do


inconsciente” Freud mostrou que o comportamento das sociedades pré-modernas era
necessário para a elucidação dos comportamentos patológicos das sociedades modernas,
ou seja, “a ontogênese repete a filogênese” – noção que mostra como há uma espécie de
regressão em todo tipo de doença metal.

A retomada do conceito de fetichismo acaba por tomar forma de um dispositivo


de crítica da modernidade e de seus processos de socialização, deixando à mostra a
alienação presente no campo do desejo, do trabalho, da linguagem. Possui a força de
unir a crítica do trabalho e do desejo nas sociedades modernas capitalistas e procura o
que foi deixado para trás no processo de socialização do desejo. O fetichismo apoia-se

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em alguma forma de desconhecimento ativo e acaba por colonizar o passado como se
este fosse uma fantasia capaz de se perpetuar na identidade do presente. A obra de
Safatle mostra como vários campos – sejam no campo de funcionamento da ideologia,
dos processos de socialização, de relação dos desejos da sexualidade, entre outros –
funcionam de uma forma muito próxima, pois todos tiverem seu ponto de partida em
um padrão de racionalidade (um padrão comum).

Ele afirma ainda que nossas formas de vida vão se organizando a partir de uma
patologia social; é um modo de vida numa situação de desagregação normativa e de
generalização de situações de anomia (presença de normas que já não regulam mais,
normas que não garantem nada sobre suas formas de aplicação). Sendo assim, nos
tempos atuais, a ideologia, possui uma característica peculiar, ela possui um poder de
atuação – ela funciona, mas não mais a partir do paradigma do velamento, do
desconhecido, hoje ela é capaz de se expor muito claramente e continua a funcionar
como se funcionasse como um desmentido perverso: “eu sei, mas, mesmo assim,
continuarei a fazer o que faço como se não soubesse”.

Para uma compreensão significativa dessa forma de vida, Safatle julga ser
necessário fazer a pergunta: como se segue os valores e normas atualmente? Os valores
e normas devem ser consensuais, há sempre uma espécie de acordo prévio. Entretanto,
atualmente, estes acordos prévios exibem a seguinte peculiaridade: somos capazes de
possuir valores e ao mesmo tempo de invertê-los ao aplicá-los; um bom exemplo seria
dizer que em nome da tolerância é necessário ser intolerante em relação à intolerância
(contra os intolerantes), sendo assim, há a aplicação de um valor, mas quando essa
aplicação ocorre há uma inversão completa do sentido inicial desse valor – o valor faz o
contrário do que você normalmente esperaria dele, mas esse contrário não é,
necessariamente, entendido como uma contradição.

Assim, podemos afirmar – seguindo os dizeres saflateanos -, que estamos nos


direcionando a uma era da ironização das formas de vida, de fragilização de valores,
princípios e normas - ou seja – estamos caminhando para uma crise de legitimidade. A
ironia, segundo Safatle, acaba por tornar-se uma forma de vida, pois em nossa época os
sujeitos não levam a sério as injunções fundamentais da vida social.

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Na análise de Safatle, um aspecto comum presente nas análise de Marx e Freud do
fetichismo é a percepção de um jogo capaz de produzir ao mesmo tempo encantamento
e alienação no interior das “formas de vida” das modernas sociedades desencantadas.

O pensador contemporâneo nos mostra que a compreensão da teoria do fetichismo


em Freud depende de que se entenda o mecanismo do “desmentido” (Verleugnung). O
que é curioso na lógica do fetichismo é que não se trata de expulsar ou recalcar a
castração, mas sim, de se ter um saber sobre ela mantendo uma espécie de contradição
que concilia duas afirmações incompatíveis. Safatle salienta o fato de que Freud, com
sua teoria do “desmentido” (Verleugnung), encontrou uma definição lógica, ou
estrutural, da perversão, sem precisar partir da mera descrição de sintomas e, com isso, a
psicanálise mostrou-se capaz de produzir articulação sobre as posições estruturais do
sujeito frente a seu desejo. Para ele essa capacidade de manter duas ideias opostas na
mente seria fundamental para explicar a percepção de Freud de uma mutação, cada vez
mais perceptível no processo de socialização e individualização das sociedades
modernas. Em outras palavras, Freud já teria se conscientizado de que a perversão
estaria se transformando em modo hegemônico de socialização dos desejos na
sociedade contemporânea.

Em publicação anterior de 2008, intitulada: Cinismo e Falência da Crítica, Safatle


já havia identificado em múltiplas esferas de interação social este mesmo padrão de
racionalidade paradoxal. Segundo ele, a multiplicidade em questão poderia ser unificada
a partir do conceito de “formas de vida”:

“Chamemos de “forma de vida” um conjunto socialmente


partilhado de sistemas de ordenamento e justificação da conduta
nos campos do trabalho, do desejo e da linguagem. Tais sistemas
não são simplesmente resultados de imposições coercitivas, mas da
aceitação advinda da crença de eles operarem a partir de padrões
desejados de racionalidades.”(Safatle, 2008, p. 12).

Dentre os três campos das “formas de vida” em que Safatle analisa neste sistema
de ordenamento de uma racionalidade paradoxal, nosso projeto de pesquisa focaliza –
como já dito anteriormente -, a atenção justamente no campo do desejo. Tendo como
foco mostrar com Safatle como, neste campo, pode-se acompanhar o esgotamento de
um processo de socialização do desejo e de constituição da sexualidade com base na
repressão e no recalcamento.

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A ideia de que as formas de vida sobre o imperativo do capitalismo contemporâneo
são paradoxais deve informar sobre uma “estrutura contraditória específica” em que
através da concretização almejada de uma intenção reduz-se justamente a probabilidade
dessa intenção concretizar-se. Em outras palavras, “o paradoxo deriva do fato de uma
concretização aparentemente contrária à intenção que a gerou poder ser adequada a essa
mesma intenção.” (Safatle, 2008, p. 14).

Sabendo que este projeto de pesquisa foi renovado e que em sua obra mais recente,
“Grande Hotel Abismo – Por uma Reconstrução da Teoria do Reconhecimento”,
Safatle lança nova luz sobre o mesmo problema e vislumbra a possibilidade de superar
os impasses das sociedades fetichistas a partir de uma reconstrução da teoria do
reconhecimento, pensamos ainda poder explicar por que não conseguimos atingir um
nível de maturação elevado (que nos permitiria o reconhecimento enquanto sujeitos
dotados de uma personalidade, dotados de uma figura atual do homem) que superaria a
colonização fetichista.

Temos em sua tese de livre-docência a tentativa de estabelecer uma nova


fundamentação para aquilo que podemos chamar de sofrimento social; o diagnóstico
saflateano tem sua origem na associação histórica não justificada entre o que
denominados indivíduo e aquilo que chamamos de sujeito. Seu trabalho parte também
da ideia de que ser apenas um indivíduo que pensa-se como um indivíduo e deseja,
sonha com um indivíduo pode ser uma patologia social que nos direciona a uma forma
de vida que para o autor é necessariamente pobre e estropiada.

Para Safatle a única resposta possível é que se trata de um sintoma. Um modo de


estruturação hegemônico da sociabilidade moderna em que todo o processo de
reconhecimento social se baseia na redução da subjetividade histórica à condição de
indivíduo. Diante disso, a pergunta que já se fazia presente na descrição do problema do
fetichismo, a saber, “como não colonizar o outro?” ganha um novo fôlego ao indicar a
necessidade de reconstrução do conceito de sujeito, bem como o abandono da
centralidade no conceito de indivíduo que pode gerar consequências filosóficas
negativas no campo social, estético e político.

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VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como ponto de partida e como base de sua conceitualização a filosofia do


Direito e do Estado de Hegel, os estudos lacanianos sobre as pulsões e a crítica de
Adorno à razão instrumental, o professor uspiano nos sugere uma leitura nada comum
do sujeito moderno. Vê tal sujeito como independente da conservação da figura atual do
homem e ao mesmo tempo como uma redução egológica, pois, a seu ver é
extremamente necessário considerar aquilo que existe de “obscuro”, de “angústia” e de
“negação” na constituição do indivíduo.

Sabendo que Grande Hotel Abismo (Grand Hotel Abgrund) foi uma expressão
criada pelo pensador Georg Lukács ironizando o negativismo frankfurtiano ao que faz
referência ao curso do mundo, à saber, a intenção de descrever os dilemas da razão sem
fornecer qualquer alternativa de ação, Vladimir Safatle, seguindo o viés de interpretação
de Bento Prado Jr., considera que o pensador, sem saber, forneceu uma definição para
uma exigência filosófica - uma definição para o confronto com o caos, com o Abismo.

Encontramos aqui o sentimento que deve fundamentar-se na certeza de que se deve


ir até onde não se encontra mais as luzes fornecidas pela própria imagem do ser
humano. Em outras palavras, Safatle, nos propõe a reconstrução da teoria do
reconhecimento, ou seja, propõe a luta pelo reconhecimento de um elemento da filosofia
de hegeliana transformando-a na expressão chave para que possamos compreender os
conflitos contemporâneos.

Em suma, quer clarificar que a globalização capitalista torna os contatos


transculturais cada vez mais acelerados, multiplicando os valores e politizando
identidades e diferenças. Ou seja, busca transformar esta categoria em teoria sociológica
sistemática e, para tal, busca a teoria psicológica social para fundamentar aquilo que em
Hegel tinha sido pensado como o argumento metafísico e conclui que a essência desta
“luta”, como se, fosse o processo de conflito e de intersubjetividade pelo qual os
indivíduos se reconhecem como tal, sempre mediatizados, por relações afetivas,
jurídicas e de solidariedade.

Não faz a redução do sujeito ao seu ego o que traz consequências para aquilo que
pensamos como normatividade. Esse tal caráter indeterminado e a possibilidade de nos
direcionarmos a nossa compreensão, ou melhor, ao nosso reconhecimento para o campo

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do desejo faz desse exercício uma busca motivadora e ao mesmo tempo tem-se em
questão a segurança da norma atual empregada.

Da trindade constituinte do sujeito para Hegel - do desejo, do trabalho e da


linguagem -, Vladimir Safatle vislumbra uma possibilidade dialógica no debate,
colocando a necessidade de indeterminação do sujeito. Encontramos aqui a figura de
expressão de um retrato difuso que melhor representa o sujeito do que a nitidez, aquilo
que está presente na obscuridade, na angústia, na negação permitindo fragilizar aquelas
determinações da consciência de si, e direcionando o encontro do sujeito com a
diferença. Para ele, esse ponto é fundamento para compreensão do homem pelo que ele
ainda não é e expõe sua natureza como “a história dos desejos desejados”.

Quando Safatle direciona-se aos dizeres Lacan, ou seja, a abordagem das pulsões e
aos pensamentos Adorno sobre sua crítica à razão instrumental, encontra à sua frente
uma herança hegeliana que refere-se aos mecanismos que incluem aquilo que de modo
geral e que costumeiramente pensamos o humano excluindo e considerando a oposição
ao sentido mesmo do humano: os desejos, as pulsões, ou seja, aquilo que nos assemelha
ao animal, o oposto da normatividade, do contrato. O salto intelectual proposto por
Safatle quer ver a possibilidade de tais pulsões e desejos ampliarem as fronteiras da
normalidade, mostrando como a necessidade de reconhecimento do desejo dentro do
que consideramos humano.

O processo encadeado pelo pensador uspiano não é costumeiramente previsto na


norma e acaba por colocar o desafio de interpretação dessa transgressão sem que isso
esteja associado à morte e à negação da própria humanidade, sem colocar
necessariamente em risco a civilização. Sem mais delongas, o trabalho de Safatle,
dedica-se a tentativa de resgate do pensamento daquilo que costumeiramente prevalece
buscando um exercício de reflexão que permite uma reavaliação de nossos valores e,
tenta rearticular pautas de debates para o interesse social. Sendo assim, as pesquisas,
leituras realizadas no decorrer deste projeto levam-nos a afirmar, ainda mais
firmemente, a importância do estudo de fetiche. Ao abordá-lo criticamente como uma
forma de dispositivo de crítica da modernização e de seus processos de racionalização e,
se faz de suma importância, para a compreensão de nossas sociedades atuais.

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VIII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

- Bibliografia Primária

FREUD. S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade [1905]. In: Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. VII, Rio de
Janeiro: Imago Editora, 1987a- 2a Edição.

______. Fetichismo [1927]. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XXI, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1987b- 2a
Edição.

______. A Divisão do Ego no Processo de Defesa [1938] In: Edição Standard


Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de
Janeiro: Imago Editora, 1987c- 2a Edição.

MARX, K. O capital. Livro I. Vol. 1: O processo de Produção do Capital. Tradução


Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

SAFATLE, V. Fetichismo: colonizar o Outro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


2010.

___________. Grande hotel abismo: Por uma reconstrução da teoria do


reconhecimento. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

Bibliografia Secundária:

LACAN, J. Subversão do sujeito e a dialética do desejo no inconsciente freudiano


(1960). In: Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,1998. p. 807 - 842.

___________. O seminário, livro II - O eu na teoria de Freud e na técnica da


psicanálise (1954 - 1955). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1992.

___________.O seminário, livro VII. A ética da psicanális [1959-60]. Tradução de


Antônio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

___________.. O seminário, livro XI. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise


[1964]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.

12
LAPLANCHE, J., PONTALIS, J-B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 1991.

ROUDINESCO, E., PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editor, 1998.

SAFATLE, V. Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo, 2008.

___________. A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo, UNESP, 2006.

___________. Relatório da CAEPM com comentários de Safatle Disponível em:


http://www.espm.br/ConhecaAESPM/CAEPM/Pesquisas/Documents/2007/2007_Cons
umidor_Global_FINAL.pdf. Acesso em 18/05/2012.

ZIZEK, S. Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro,
Jorge Zahar, 1992.

_______ Entrevista de Zizek em Roda Viva (2009) Disponível em:


http://www.youtube.com/watch?v=Umwetjs_Ja4&feature=related. Acesso em
18/05/2012.

IX – BIBLIOGRAFIA LIDA

FREUD. S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade [1905]. In: Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. VII, Rio de
Janeiro: Imago Editora, 1987a- 2a Edição.

FREUD. S. Fetichismo [1927]. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XXI, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1987b- 2a
Edição.

MARX, K. O capital. Livro I. Vol. 1: O processo de Produção do Capital. Tradução


Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

SAFATLE, V. Grande hotel abismo: Por uma reconstrução da teoria do


reconhecimento. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

SAFATLE, V. Fetichismo: colonizar o Outro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


2010.

13
SAFATLE, V. Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo, 2008.

SAFATLE, V. A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo, UNESP, 2006.

LACAN, J. Subversão do sujeito e a dialética do desejo no inconsciente freudiano


(1960). In: Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,1998. p. 807 - 842.

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