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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

E V AS ÃO E S C O L A R N A E D UCA Ç Ã O DE J O VE NS E
A D U L T O S - E JA
E S T UD O DE C AS O - E S C O LA ES T A D U A L D E E NS I NO
F U N DA M E N T AL C AR LO S B AR B OS A
M U NI C Í P I O D E C AR L OS B AR B O S A .

JANDIR LUÍS PEDRONI.

CARLOS BARBOSA
AGOSTO
2009
2

FICHA CATALOGRÁFICA
______________________________________________________________________

P372e Pedroni, Jandir Luis


Evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos – EJA - Estudo de caso
– Escola Estadual de Ensino Fundamental Carlos Barbosa – Município de
Carlos Barbosa / Jandir Luis Pedroni. – Bento Gonçalves, 2009.
25 f. : il.

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do


Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-
Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação
Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de
Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Evasão


escolar – EJA. 5. Escola Estadual de Ensino Fundamental Carlos Barbosa –
Carlos Barbosa, RS. I.Título

CDU 374.7
__________________________________________________________________________
CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.
(Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979)
3

Apresentação

Esse trabalho busca identificar as causas da evasão escolar, dos


alunos que freqüentaram a Educação de Jovens e Adultos – EJA, na
Escola Estadual de Ensino Fundamental Carlos Barbosa, município de
Carlos Barbosa, a partir de dados de pesquisa (fontes primárias)
associados a consultas bibliograficas específicas (fontes secundárias)
sobre o tema evasão escolar.
Está organizado da seguinte forma:
Na introdução – apresentamos os elementos que serviram para dar
o “arranque” da pesquisa; explicitamos a abordagem metodológica -
revisão bibliográfica, entrevistas e depoimentos de docentes dentro do
contexto atual e histórico da Escola foco da análise e Comunidade
Escolar (pais e responsáveis), além da direção e da coordenação
pedagógica da escola.
Para tanto foi construído um questionário (anexo1), para os alunos
evadidos, detectando através deste os porquês da evasão escolar.
Na parte II apresentamos os prolegômenos do problema da evasão
e a moldura analítica
Na parte III a percepção dos professores que nos permite situar e
identificar os elementos que podem apontar para algumas pistas.
O presente trabalho é muito mais do que apenas um simples
exercício intelectual para dar conta de uma exigência acadêmica –
monográfica no final do curso – ele tem uma intencionalidade: buscar
entender a razão do alto índice de evasão na EJA para dar conta do
desinteresse pelo estudo seja porque não se considera no dia a dia dos
alunos, seja porque há outros problemas que não são levados em
consideração.
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1. Introdução

Este trabalho de diagnóstico visa compreender como se apresenta


a realidade dos espaços escolares na qual a EJA atua,seus limites e
possibilidades. Para tanto observamos a realidade e os fatos que levam,
a esses resultados tendo presente a investigação e a bibliografia que
trata sobre a temática “evasão” escolar.
Nossa hipótese de trabalho buscou identificar os elementos de
atração/rejeição no Programa de Educação de Jovens e Adultos - EJA –
porque neste público o índice de evasão nesta modalidade de ensino
vem crescendo de forma preocupante sem uma solução de continuidade.
Entendemos que a leitura da realidade escolar através desta
pesquisa poderá nortear e, possivelmente, indicar caminhos para
possíveis soluções de problemas.
Essa pesquisa tem como meta saber por que este aluno pára de
freqüentar as aulas e evade depois de ter tomado a decisão de voltar à
escola.
São perguntas que derivam de nossa experiência como educador
que se inquieta frente ao fenômeno da “evasão”.
• Será à metodologia utilizada pela escola que não condiz com a
realidade do aluno?
• Existem outros fatores correlatos importantes que são
negligenciados?
• O horário e o local de trabalho?
• Será a situação econômica?
• Falta de apoio da família?

Os números que seguem materializam o problema da pesquisa,


pois a evasão escolar tem se apresentado como um indicador expressivo
de que algo vai mal ao ambiente escolar.

Trabalhar este tema torna-se inadiável, pois um educador comprometido


deve não só perguntar-se, mas também buscar o porquê da evasão?
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QUADRO I – RELAÇÃO MATRÍCULAS/EVASÃO


Período 2002/2008
ANO Nº DE MATRICULAS EVADIDOS PERCENTUAL %
2002 183 38 20,8
2003 171 66 38,6
2004 195 97 49,7
2005 159 54 34,0
2006 169 42 24,9
2007 158 54 34,2
2008 163 39 23,9
TOTAL 1198 390 32,6
Fonte: Secretaria da escola E.E.E. Fundamental Carlos Barbosa - Dados do Censo
Escolar.

Segundo Freire (2003).

O educando se reconhece conhecendo os objetos, descobrindo


que é capas de conhecer, assistindo à imersão dos
significados em cujo processo se vai tornando também
significador critico. Mais do que ser educando por causa de
uma razão qualquer, o educando precisa tornar-se educando
assumindo-se como sujeito cognoscente e não como
incidência do discurso do educador. Nisto é que reside, em
última análise, a grande importância política do ato de
ensinar. Entre outros ângulos, este é um que distingue uma
educadora ou educador progressista de seu colega
reacionário. (FREIRE, p. 47,48).

Para desenvolver este trabalho tivemos por objetivo geral:

• Identificar as causas que levam o aluno da EJ A à evasão.

• Contribuir com informações mais precisas para se ter mais


indicativos sobre o tema proposto e com estes indicadores
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apontar possíveis alternativas que visam solucionar esse


problema denominado evasão.

A leitura desta realidade que parece estar relacionada, no mínimo


dois fatores: internos e externos da proposta pedagógica do EJA serão
baseada e realizada a partir de dois movimentos: o primeiro a partir de
diagnóstico e estudos bibliográficos de pesquisas, já realizadas sobre
este tema (fontes secundárias) e principalmente sobre o contexto local –
entrevistas (fontes primárias).
A complementaridade técnica deriva da experiência que se tem
como professor que precisa compreender mais sobre as políticas
públicas e diretrizes educacionais, da formação de educadores e
intervenções pedagógicas.
A partir deste diagnóstico será possível desenvolver uma proposta
de intervenção, visando um ensino metodológico que tenha o educando
como ator principal desse processo e não apenas como expectador e,
assim garantir o bom desempenho do mesmo e dessa forma enfrentar a
questão: evasão escolar.
A busca de alternativas de acessibilidade e permanência desse
aluno trabalhador na escola deverá ser considerada no ato de
planejamento pedagógico, criando melhores condições metodológicas de
estudo.

Reiterando nosso propósito é buscar mais informações sobre como


se processa a aprendizagem; se ele realmente está presente no
planejamento do educador e se contempla as expectativas dos
educandos. A atual proposta pedagógica da escola também servirá de
objeto de análise para levantar a realidade. Em relação ao aluno é
importante investigar se este aluno busca apenas a conclusão em seu
histórico escolar para se manter no trabalho e quando a proposta
pedagógica da escola o exige mais ele evade, estas são questões que nos
preocupam.
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2 -A EVASÃO COMO PROBLEMA – OS PROLEGÔMENOS

Percebe-se que os problemas de evasão se dão quando os alunos


jovens e adultos têm interesse de aprender, porém pelo tempo perdido
querem recuperar o mais rápido possível.
Esse aprender nem sempre está explícito em saber, mas sim em
concluir o Ensino Fundamental para poder apresentar o certificado de
conclusão no emprego, uma vez que esta é uma exigência da empresa
onde trabalham. Esta visão imediatista nos preocupa como educadores.
Que cidadão se formará para sociedade? Será que é apenas para o
mercado de trabalho? Ou teremos que oportunizar algo a mais a estes
educandos?
Melhorar o conhecimento sobre o processo educativo segundo
Arroyo (2006):
Penso que a reconfiguração da EJA não pode começar por
perguntar-nos pelo seu lugar no sistema de educação e menos
pelo seu lugar nas modalidades de ensino. (...) O ponto de
partida deverá ser perguntar-nos quem são esses jovens e
adultos. (ARROYO, 2006, p.22).

É essencial entender e compreender o universo sociocultural do


aluno da modalidade EJA. Saber que são trabalhadores é muito pouco,
pois ensinar o “outro, neste caso o aluno” significa entender o mesmo
em sua plenitude, como sujeito ativo e não como incidência do discurso
do educador, segundo Freire. Ainda, mas isto não é suficiente, pois são
muitas as variáveis devido às diversas situações vividas em seu
cotidiano.
Quando assumem esta identidade de alunos esses sujeitos, tendo
no trabalho e na família uma grande preocupação, pois a realidade é
bem diferente da vivida do estudante no período de infância e
adolescência, agora as preocupações são muitas, pois tem
responsabilidades, muitas vezes pelo sustento seu e de sua família, isto
pode se tornar um motivo que leva evasão escolar.
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Os jovens e adultos continuam vistos na ótica das carências


escolares: não tiveram acesso, na infância e na adolescência,
ao ensino fundamental, ou dele foram excluídos ou dele se
evadiram; logo propiciemos uma segunda oportunidade.
(ARROYO, 2006, p.23).

Ess a oportunidade, que Arro yo fal a muit as vez es não é bem


trabalhada pelos governos, pois não é dado o devido respeito nem
mesmo ao educador que tem que trabalhar em diversas escolas e até
mesmo 60 horas, não tendo em sua carga horária horas destinadas à
formação e discussão dos projetos políticos pedagógicos.
Aos jovens e adultos que freqüentam essa modalidade também não
lhes é dado o devido respeito, pelas empresas que os oportunizam um
trabalho, porém fazem do trabalhador uma máquina onde, só o resultado
quantitativo e qualitativo é valorizado, quando isto também muitas
vezes é a forma de percepção da escola, sem a valorização do ser
humano.
Não basta simplesmente vislumbrarmos a possibilidade ou
mesmo a pertinência de, em nosso trabalho cotidiano como
professores, associarmos o erro não ao fracasso, mas ao
próprio processo de aprendizagem. É preciso pensar que, mais
do que uma possibilidade, essa perspectiva é hoje uma
necessidade. O fracasso escolar, que tem sido concebido
como o fracasso do aluno ante as demandas escolares, é hoje
provavelmente o maior empecilho à democratização das
oportunidades de acesso e permanência da grande massa da
população em nossas instituições. É, nesse sentido, o maior
sintoma da crise de nossas escolas. (CARVALHO, 1997,
p.21).

As possibilidades e necessidades, em que Carvalho se refere,


entendem-se serem aquelas que a sociedade burguesa e capitalista não
concorda; que se fazem necessários programas sociais, que oportunizem
a criança estudar no período ideal de seu desenvolvimento psicomotor.
Programas que estimulem jovens e adultos que não tiveram esta
oportunidade neste período, freqüentarem escola e trabalho com
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dignidade. Cursos profissionalizantes que oportunizem ao trabalhador


não só um trabalho, mas sim melhor qualidade de vida. Curso de nível
superior em escola pública e quiçá um dia sem necessidade de cotas
raciais e de alunos oriundos de escolas públicas, mas que estas sejam de
uma qualidade tal que cumpram esta função social.

Preocupado com as relações entre escolas e famílias, vinha


experimentando caminhos que melhor possibilitassem o seu
encontro, a compreensão da prática educativa realizada nas
escolas, por parte das famílias; a compreensão das
dificuldades que as famílias das áreas populares, enfrentando
problemas, teriam para realizar sua atividade educativa.
(FREIRE, 1992, p.20).

O que Freire coloca na Pedagogia da Esperança é o que


provavelmente a maioria dos nossos alunos da EJA enfrenta diariamente
e que já citamos neste referencial. Mas o que realmente gostaria, é que
a partir deste trabalho, poder nortear algumas propostas, no projeto
político pedagógico da escola, e que realmente fossem possíveis, de
serem colocados em pratica.

Quando o indivíduo aprende no seio de uma instituição, ele


só poderá ser “bom aluno” caso se adapte à relação com o
saber definida pela instituição (pelo papel que ela atribuía
saber, pela organização do currículo e das práticas de ensino,
etc.) Entretanto um indivíduo pertence a várias instituições
(por exemplo, à família e à escola), cujas relações com o
saber, com este ou aquele saber, podem ser diferentes
(Chevallard, 1992). Existe aí uma perspectiva interessante –
desde que naturalmente, não se perca de vista que o saber não
é jamais um puro objeto institucional, mas sempre é
simultaneamente, o resultado de certa atividade, respondendo
as normas específicas (no caso do saber científico, às normas
epistemológicas específicas do campo em questão). A questão
da relação com o saber é também aquela das formas de
existência do saberes nas instituições e dos efeitos que essas
formas implicam. Isso quer dizer, sobretudo, que a escola não
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é apenas um lugar que recebe alunos dotados destas ou


daquelas relações com o (s) saber (es), (CHARLOT, 2001,
p.18).

Evidentemente que trabalhar esta ou aquela questão em relação ao


saber e que importância o mesmo tem na vida do educando deve fazer
parte do Plano de Estudo de todos aqueles que são comprometidos com
uma educação libertária e cidadã. Investigar e propor deve fazer parte
do ato de educar e do cotidiano do educador, pois a educação é uma
caminhada e ninguém caminha sem rumo e sem objetivo.
Este tema da evasão escolar é problema presente em todas as
escolas do Brasil, porém com muito mais freqüência na EJA. Analisar
este problema e apresentar possíveis soluções trata-se de uma
preocupação fundamental desta pesquisa. Isto é reforçada através de
pensadores da educação como Paulo Freire, Julio Groppa Aquino e
M i guel Arroyo ent re out ros . O objeti vo é des envolver i déi as que
proporcione alterar ou até mesmo, amenizar estes problemas que levam
a evasão.
Para reforçar nosso argumento, relatamos aqui dados de uma
pesquisa realizada pela UNESCO, onde constata que a maior parte das
políticas públicas é voltada, justamente, às crianças e aos adolescentes.
E são estas que, normalmente, em grande número quando passam da
idade de 14 anos vão freqüentar a EJA; fato este constatado nesta
pesquisa que vamos relatar os dados posteriormente.
Segundo as coordenadoras da pesquisa, Mirian Abramovay e Mary
Garcia Castram constata-se que existe um grupo de estudantes com mais
de 17 (dezessete) anos que ficam de fora da cobertura de políticas
públicas que garantam à permanência dos mesmos a escola. Esta
pesquisa levantou dados de 50 (cinqüenta) mil estudantes 07 (sete) mil
professores em 13 (treze) capitais no Brasil. Os dados estão em um
livro “Múltiplas Vozes”, publicado pelo Ministério da Educação.
De acordo com estes números que consideramos alarmantes surge
uma preocupação cada vez maior, não só com os alunos, mas com a
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comunidade. E, por isso, com base nos dados diagnosticados a realidade


será analisada com mais precisão.
Apesar do tema evasão escolar ainda ser um problema no Brasil
no ensino fundamental regular. É na Educação de Jovens e Adultos
(EJA) que se constata um número expressivo da mesma; como é o caso
da Escola estadual de Ensino Fundamental Carlos Barbosa que no ano
de 2004 apresentou um índice de 49,7% e que do ano 2002 a 2008
constata-se uma média de 32,6% conforme Quadro I.
Estes percentuais apontam para problemas do processo de ensino
aprendizagem na qual a evasão escolar é apenas um efeito mais visível.
Na secção que segue buscaremos evidenciar quais são os
elementos que concorrem para isso.

– A realidade Escolar: como se modela uma problemática.

Os dados coletados através desta pesquisa a que vamos nos


referir, neste momento, foi levantados conforme proposto no projeto de
pesquisa. O qual tinha como objetivo levantar dados de alunos
evadidos, professores, direção e (supervisão) coordenação pedagógica.
Através de um questionário foram levantados dados que nos
proporcionaram uma análise dos fatos. Esta coleta de dados foi
realizada, através de uma amostragem dos alunos evadidos nestes
últimos anos e uma síntese dos professores, direção e coordenação
pedagógica dos motivos alegados pelos envolvidos no processo.
Os alunos foram questionados sobre diversos aspectos em 13
questões, conforme relataremos a seguir:
Com este trabalho, é possível trazer à tona problemas
relacionados à escola, ao aluno, as questões pedagógicas e ao professor.
Inicialmente uma pequena identificação pessoal a qual aqui
deixaremos no anonimato. Dos sete alunos pesquisados; quatro são do
sexo masculino e três feminino, apresentando idade entre 17 e 46 anos
onde dois são casados e (5) cinco solteiros, oriundos do Paraná (1),
Santa Catarina (1) e (5) do Rio Grande do Sul.
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Quando questionados em relação ao trabalho, todos afirmam terem


trabalhado em empresas; um no momento não está trabalhando; fora
demitido e outro está trabalhado por conta. Quanto à idade em que
começou a trabalhar foi respondido entre os 10 e 17 anos. Na questão
referente se a empresa e a mesma, dois responderam que sim é a mesma
empresa e cinco responderam que não, pois já trabalharam em outras
empresas.
Sendo esta a primeira questão já nos compete dizer que se trata de
alunos com dificuldades financeiras, necessitado trabalhar desde sedo
para ajudar no sustento da família. E a questão de migrarem de uma
região ou município, também se trata de um indicativo de necessidade
de trabalho.
Quando questionado sobre o porquê da não conclusão do Ensino
Fundamental na escola regular. As respostas foram:

QUADRO II
MOTIVOS DA NÃO CONCLUSÃO
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto Porque queria trabalhar. 1
econômico Porque comecei a trabalhar.
Contexto local Morava na colônia e não tinha 3
ônibus.
Atitudinal Falta de vontade (vadiagem). 4
Porque engravidei.
Seriação Por estar muito atrasado nos 2
comprometida estudos; Porque reprovei alguns anos
e estava com idade muito
diferenciada dos demais alunos.
Outros
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

Segundo o questionamento, que resultou neste quadro acima, vejo


que uma das maiores preocupação dos alunos evadidos é com relação ao
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sustento da família, pois a questão do trabalho aparece em primeiro


lugar: sendo que de sete entrevistados três apontou o trabalho como
motivo; dois o fato de reprovado na escola regular; a distância da
escola foi apontada também por dois entrevistados mencionados acima e
um informou falta de vontade.

QUADRO III
MOTIVOS DA PROCURA PELO EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto Oportunidade de ter um emprego e 1
econôm ico estudar ao mesmo tempo.
Contexto local
Atitudinal
Seriação A facilidade de concluir o ensino 2
comprometida fundamental; Fazer mais de um ano de
ensino no mesmo ano e para depois
poder terminar o ensino médio mais
rápido, pois estava atrasado.
outros Porque minha esposa queria que eu 3
concluísse os estudos.
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

De acordo com o ordenamento e/ou prioridade dada pelos


entrevistados fica cada vez mais evidente a questão do trabalho, pois se
trata de uma preocupação constante. A vontade de acelerar seus
estudos, tornando mais rápido a conclusão é o fator primordial para esta
classe trabalhadora.
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QUADRO IV
MOTIVOS DA DESISTÊNCIA NA EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto Necessidade de trabalho. 1
econôm ico
Contexto local Falta de perspectiva e horário de 1

funcionamento da escola.
Morar muito longe e não ter ônibus.
Atitudinal Falta de interesse por parte do aluno 3

Desinteresse pelos conteúdos


ensinados no programa.
Seriação Dificuldade de acompanhar os 4
comprometida
conteúdos.
outros Questões familiares. 2

Material didático.
Problemas de doenças.
Era viciado em cocaína.
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

O contexto econômico aparece associado ao horário de trabalho e


aula, que na minha forma de entender se houvesse um horário
alternativo para o aluno que trabalha à noite, se resolveria grande parte
dos problemas e a estrutura convencional da escola.
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QUADRO V
MOTIVOS DA PERSISTÊNCIA NA EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto
econôm ico
Contexto local
Atitudinal Conhecimentos gerais, pois é sempre 2

bom saber um pouco de tudo.


Adequação Escolar História do Brasil porque gostei do 1

conteúdo, pois acho a história do


Brasil muito bonita.
Fácil aprendizagem e interessante
Aprendi bem e fui bem às provas
sobre esses conteúdos.
Porque esclareci algumas dúvida
Aprendi muitas coisas que não sabia
Português conjugação de verbos
tenho curiosidade em alguns assuntos
Outros Todos os conteúdos que eu tinha 3

dificuldades para que eu aprenda.


Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

Os motivos que levaram persistir na EJA surgem em destaque à


autonomia da aprendizagem, isto é, quando ocorre a promoção do saber o
educando demonstra satisfação e, portanto, a questão metodológica vem
aparecendo constantemente como indicativo maior da questão evasão.
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QUADRO VI
MOTIVOS DO NÃO APRENDIZADO NA EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto
econôm ico
Contexto local
Atitudinal
Inadequação Matemática sempre teve dificuldade 1
Escolar
In glês e Matemática sempre tive
dificuldade.
In glês, pois não sabia escrever
corretamente.
Língua Portuguesa foi à matéria mais
difícil, não consigo entender a
Matemática.
Não consegui entender e tirava notas
super baixas.
outros
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.
Em relação os motivos de não acontecer à aprendizagem na EJA,
os entrevistados apontaram as disciplinas de matemática, inglês e
língua portuguesa como responsáveis, pois não conseguiram avançar e,
aí vem uma questão pertinente: a metodologia e adequação desse
currículo.
QUADRO VII
MOTIVOS DO NÃO APRENDIZADO NA EJA: (RAZÕES SEGUNDO ALUNO)
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto
econôm ico
Contexto local
Atitudinal Alguns jovens não têm mais educação 1

Inadequação Matemática foi discutida, mas não 3


Escolar
aprofundado.
outros Sobre drogas em geral. 3

Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.


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QUADRO VIII
MOTIVOS DA DESISTÊNCIA NA EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto Saía do trabalho e não tinha como 1
econôm ico
pagar para cuidar do meu filho.
Faltava muito e chegava atrasado,
pois chegava tarde do trabalho.
Contexto local
Atitudinal Não tinha a mínima vontade de 2

estudar.
Falta de interesse de minha parte.
Adequação Escolar Algumas matérias dificultavam a 3

aprendizagem.
outros Cuidava da casa, enquanto o pai 4

cuidava de pessoa idosa no hospital.


Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

Entre os motivos que levam um aluno e evadir novamente aos estudos


está relacionado à questão de trabalho, sendo o mesmo motivo que o
afastou da escola regular. Neste caso também sobressai a atitudinal, isto é,
a falta de vontade e de interesse.
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QUADRO IX
MOTIVOS DO RETORNO A EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto Pois pretendo terminar, cursar 1
econôm ico
faculdade tendo assim uma melhor
oportunidade de emprego.
Porque sem estudo não tem futuro em
lugar nenhum.
Porque sem estudo não se é nada na
vida.
Contexto local
Atitudinal Pois hoje vejo o quanto fui idiota ao 2

parar de estudar e viver nas ruas me


drogando.

Inadequação
Escolar
Outros Esse ano fui fazer matrícula, mas não 3

consegui vaga.
Sempre é bom aprender, nunca é
demais.
Gostaria de completar o curso e não
me aceitaram mais.
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

Neste quadro é reforçada a questão trabalho e expectativa de uma


vida melhor, através da conclusão de no mínimo do ensino fundamental
e na questão atitudinal vem às lamentações, pelo que a vida escolhida
num determinado período proporcionou a estes cidadãos uma
determinada perda que deve ser recuperado.
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QUADRO X
ASPECTOS MAIS IMPORTANTES NA PERCEPÇÃO DOS ALUNOS
Tipos Respostas Ordenamento
Recursos Materiais Biblioteca, laboratório de 1

informática, material didático,


quadra esportiva e salas de artes.
Recursos Humanos
Atitudinal
Adequação Escolar Reforço através de oficinas de 2

aprendizagem e visitas técnicas.


outros Merenda. 3

Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.

No quadro acima, o aspecto que mais se evidencia diz respeito à


infra-estrutura da escola; para os entrevistados estes fatores são
fundamentais para a aprendizagem e se apresentam, por outro, lado como
um fator de atração dos espaços escolares.
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QUADRO XI
CARACTERIZAÇÃO DA EJA NA PERCEPÇÃO DOS ALUNOS
Tipos Respostas Ordenamento
POSITIVA
Recursos Materiais
Recursos Humanos Ótima oportunidade de completar o 2
ensino fundamental e médio.

Atitudinal “É o meio mais prático e fácil de voltar 2


a estudar quando se esta trabalhando”;
Adequação Escolar Bons e bem objetivos. 3
Tempo muito bem empregado.
Outros Chance de estudar e trabalhar ao 1
mesmo tempo tendo uma boa
aprendizagem.
Oportunidade de concluir seus estudos
em pouco tempo, tendo uma boa
aprendizagem.
Porque para quem precisa de estudo e
está atrasado é muito bom.
Porque ele pode completar o ensino
fundamental e médio em muito menos
tempo.

NEG AT IVO S
Recursos Materiais
Recursos Humanos
Atitudinal
Adequação Escolar Acho muito fraco. 4
Em 2007 não era muito bom, pois não
tinha nenhum teste, prova para testar a
aprendizagem dos alunos.
Outros

Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.


O que predomina na visão dos entrevistados referente a estrutura de
seriação, isto é o fato de poder avançar, superando conhecimento e, dessa
forma recuperar de evasão da escola regular.
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QUADRO XII
CARACTERIZAÇÃO DAS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EJA
Tipos Respostas Ordenamento
Melhorias Utilizar a aprendizagem em um bom 1
econômicas emprego.
Um trabalho melhor.
Uma oportunidade de emprego.
Aprender mais na hora do negócio.

Melhorias Ter realmente absorvido os conteúdos 3


educacionais dados pelo professor e considerar-me
apto a continuar estudando.
Continuar até o terceiro ano em outra
escola e fazer cursos.
Voltar ao colégio o mais rápido
possível.
Terminar os estudos.
Meio difícil, mas tentar uma faculdade.
Concluir o ensino médio.
Ampliar repertório Ter aprendido o suficiente para utilizar 2
de respostas diante na minha vida.
da vida Levar o ensinamento e seus métodos
de aprendizagem para a vida toda.
Emprego, conhecimento e formação.
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.
Em relação à expectativa dos entrevistados do porquê estudar
enumerar sendo a questão de ascensão econôm ica e social como prioritária,
sendo que em segunda opção a questão aprendizado para a vida e terceiro
a questão ponte, ou seja, pré-requisito essencial para continuar estudando.
Numa análise do questionamento efetuado nesta pesquisa para os
alunos evadidos ao grupo de professores realizaram a seguinte
abordagem:
“Nós, professores da EJA da Escola Estadual de Ensino
Fundamental Carlos Barbosa, percebemos que com o passar dos anos a
evasão entre estes alunos, vem se mantendo e até aumentando.
Seguidamente nos perguntamos quais são as causa disto. Sabemos que
lidamos com alunos excluídos e os mais velhos que por vários motivos
não estudaram na época adequada, pois moravam muito afastados da
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escola; ou pelo fato de viverem num longínquo interior onde não existia
escola; transporte; os pais precisavam dos filhos para trabalhar na
lavoura retirando-os da escola; alguns alunos perderam os pais muito
novos, tendo que trabalhar para o próprio sustento e outros motivos”.
“Já entre os mais novos, percebemos que estes, não se adaptam a
escola de ensino regular, mostrando-se totalmente desinteressados e
acabaram de serem afastados devido a problemas de indisciplina ou
dificuldades de aprendizagem”.
QUADRO XIII
MOTIVOS DA DESISTÊNCIA NO EJA NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES
Tipos Respostas Ordenamento
Contexto O aluno arranjou um trabalho e os 1
econôm ico horários não permitem freqüentar as
aulas.
Muitos, depois de passarem o dia num
trabalho cansativo não agüentam
freqüentar normalmente as aulas e
acabam desistindo.
Contexto local
Atitudinal Entre os mais velhos, dificuldade em 3
acompanhar os conteúdos.
Entre os mais novos notamos que há um
total desinteresse, pois não valorizam a
escola e muito menos os estudos.
Alguns deles não têm nenhuma
perspectiva, não sabem o que desejam,

Adequação Escolar Alguns consideram os conteúdos 4


desenvolvidos chatos e desnecessários
que não conseguem motivá-los.
Outros Problemas familiares, muitas vezes não 2
tendo onde deixar os filhos menores,
maridos e ou esposa que são contrários
a estudarem.
Muitos deles vêm à escola obrigada
pelos pais ou responsáveis, conselho
tutelar ou até mesmo pelo promotor.
Fonte: entrevistas realizadas no período de Abril a Maio 2009.
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Em uma análise geral dos quadros acima podemos destacar quatro


fatores como razões da evasão escolar: Primeiro aparece à questão
econômica; segundo a adequação escolar e em terceiro o aspecto
atitudinal e quarto o contexto local.
Na visão da direção, coordenação pedagógica e supervisão são as
seguintes colocações:
“A evasão escolar ao longo da implantação do programa da EJA
tem apresentado resultados negativos, tornando-se desafiador para a
escola e professores, manter a permanência do aluno na escola. Dentro
deste contexto sócio-cultural existem vários fatores preponderantes que
interferem na sua permanência escolar, devido à sobrecarga de trabalho
extensivo; professor sem uma qualificação adequada ao programa para
jovens e adultos que tem contribuído mais para a exclusão social do que
para a formação educacional; baixa auto-estima e desmotivação; alunos
que ficam muito tempo sem estudar, apresentando dificuldades na
aprendizagem; problemas familiares; horário de trabalho incompatível
com o horário da escola e, até mesmo, alunos provindos de outros
municípios distantes que abandonam os estudos para retornar ao seu
lugar de origem, por falta de emprego ou por dificuldades de
adaptação”.

Considerações finais, mas não conclusivas:

Através dos relatos da Comunidade Escolar (professores e corpo


diretivo) que nos proporciona um norte para as considerações finais
neste artigo, podemos constatar que:
• A maioria, se não a totalidade dos alunos são trabalhadores uns
mais jovens outros nem tanto;
• Os alunos com maior idade já evadiram antes de concluir o ensino
fundamental no período que se considera adequado entre os sete
aos catorze anos, para trabalhar junto aos pais na lavoura;
• Outros evadem por dificuldade de transporte;
24

• Quanto aos mais novos já percebemos que os problemas são outros


como: falta de uma estrutura familiar que lhes proporcione a
manterem-se no estudo neste período sem a necessidade de
trabalhar.
• Outros não se adaptam a escola; reprovam por várias vezes e
fogem da realidade da turma, idade, comportamento atitudes,
problemas com indisciplina, envolvimento em drogas, obrigando
os pais ou responsáveis tomarem a decisão de encaminhar ao
trabalho para não serem atraídos pelos maus comportamentos que
a rua ensina.

Até este momento a escola alvo da pesquisa não tem isoladamente


poder de ação nenhuma sobre os mesmos. Mas pode como dever de
cidadão levantar a preocupação junto às autoridades locais para a
tomada de providências quanto a critérios pedagógicos nas escolas de
ensino fundamental regular.
Já com relação à escola, constatamos que há problemas com
relação às questões pedagógicas que não são focadas para EJA e, sim
com uma metodologia baseada em conteúdos idênticos ao regular que é,
por natureza, melhor adaptado aos mais jovens e não ao público adulto
que freqüenta a EJA e, estes por sua vez, não apresentam interesse pelo
estudo; ainda agem prejudicando os adultos os quais poderiam trabalhar
em uma proposta pedagógica mais apropriada a realidade cultural deles.
No entanto, propomos uma revisão na proposta pedagógica da
escola. Para uma proposta que proporcione a inclusão desses alunos
fundamentada na realidade sócia cultural dos mesmos.

Quanto aos professores consideramos fundamental um trabalho de


qualificação para trabalhar com EJA, pois as faculdades não
proporcionam este aprendizado. E não podemos esperar pela boa
vontade ou pela aptidão de alguns, pois assim não estamos intervindo
no problema, mas sim agravando cada vez mais.
25

 Ação Pública: Propor às Coordenadorias Pedagógicas e/ou


autoridades locais a discussão dos critérios pedagógicos nas
escolas de ensino fundamental regular;
 Professores: Qualificar o trabalho dos professores através de
cursos específico para trabalhar com EJA;
 Pedagógico: propor revisão da proposta pedagógica da escola com
ênfase na inclusão e fundamentada na realidade sócio cultural do
aluno;
 Escola: Proposta pedagógica diferenciada com metodologia
focada para EJA.

BIBLIOGRAFIA:
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teóricas e praticas. In: CARVALHO, JOSÉ SÉRGIO FONSECA DE. As
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pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1992. 245 pg.

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26

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para uma pedagogia da cidade:- Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2000. 205
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VALE, ANA MARIA DO. Educação popular na escola pública: - 4. ed.


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Yin, Roberto K. Estudo de Caso Planejamento e Métodos: Bookman, 2ª


Edição.

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