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A moralidade do abuso sexual

ARTIGO ARTICLE
intrafamiliar em menores

Ethical aspects of the child abuse

Álvaro E. Morales 1
Fermin R. Schramm 1

Abstract This article analyses the moral char- Resumo Este artigo analisa a moralidade do
acter of sexual abuse against minors taking in- abuso sexual em menores, tendo em conta as
to consideration the characteristics of the vic- características da vítima e seu meio familiar e
tim and its family environment, as well as the do processo, desde a ocorrência do fato até a
process itself, from when the fact occurred un- denúncia por parte dos familiares e conheci-
til it was reported to the authorities by rela- dos, a atenção prestada pelas instituições es-
tives and acquaintances, the care provided by tatais à vitima e à família, bem como os meios
the State institucional organs to both the vic- probatórios usados pelos órgãos judiciais no
tim and its family members. Also, the proba- julgamento do provável agressor. Os autores
tory means used by the judging authorities dur- discutem as questões éticas da dinâmica do
ing the trial of the probable aggressor. The au- abuso sexual intrafamiliar, baseados em al-
thors discuss the ethical aspects involved in the guns princípios: autodeterminação, justiça,
dynamics of child sexual abuse within the fam- igualdade, eqüidade, consentimento livre e es-
ily based on some principles, such as self-de- clarecido, não maleficência/beneficência, en-
termination, justice, equality, equity, free and tre outros.
clear consent, no harmfulness/kindness, among Palavras-chave Abuso sexual de crianças, Éti-
others. ca, Violência intrafamiliar
Key words Sexual abuse, Ethical, Violence
within the family

1 Departamento de
Ciências Sociais, Escola
Nacional de Saúde Pública,
Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Brasil 4036, sala 702,
Manguinhos, 21041-210,
Rio de Janeiro RJ.
alvaroem@terra.com.br
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Morales, A. E. & Schramm, F. R.

Introdução com este tipo de prática, seja devido a um sen-


timento difuso de impunidade seja invocando,
O abuso sexual intrafamiliar em menores é, de forma perversa, princípios tais como o di-
atualmente, uma das prioridades das políticas reito à privacidade, o direito à diferença cultu-
públicas de muitos governos democráticos dos ral e last but not least um suposto consentimen-
países ocidentais. Isso se deve principalmente to do menor, supostamente emancipado do pa-
ao aumento de denúncias desse tipo de prática, ternalismo moralizante quando não “moralista”.
considerada moralmente reprovável quando Isso parece tornar a prática do abuso sexual
não verdadeiro delito no plano jurídico contra em menores uma autêntica controvérsia mo-
a pessoa do menor, pela maioria dos cidadãos ral, visto que alguns o consideram como uma
desses países. De fato, tanto nos códigos éticos prática que pode e deve ser reprovada, inclusi-
como jurídicos, formulados para regulamentar ve sancionada pelos rigores da lei, e outros, ao
o campo das relações entre indivíduos, existem contrário, como uma prática que, embora tal-
referências a direitos e deveres, normas e prin- vez reprovável quando não haja, de fato, livre
cípios morais considerados fundamentais e di- consentimento por parte da “vítima”, nem por
rimentes para esse âmbito, inclusive no âmbito isso deva ser objeto de intervenção dos poderes
intrafamiliar, tais como a tutela da dignidade públicos e de um suposto Estado “paternalista”
e/ou da vulnerabilidade da pessoa humana; o e “autoritário” que interviria em âmbitos que
respeito da autonomia (plena ou parcial) das não lhe competem.
pessoas envolvidas num ato; a legitimação des- A controvérsia, portanto, estabelecer-se-ia
te pelo consentimento livre e esclarecido ou, no devido a uma contestação do próprio espírito
caso de envolvimento de pessoas não autôno- da Convenção de 1990, em nome de um novo
mas (ou parcialmente autônomas como é jus- direito do menor ao acesso aos direitos tradi-
tamente o caso de menores), a exigência de um cionalmente reservados aos adultos, a começar
benefício real e direto do sujeito, objeto do ato, pelo direito à sexualidade e ao prazer, razão pe-
como única finalidade legítima deste ato. la qual a controvérsia resultaria do conflito en-
Entretanto, o interesse social e político cres- tre a proteção do menor, por um lado, e sua au-
cente acerca dos direitos da criança e do menor todeterminação, por outro. É questão, eviden-
por parte da população dos países democráti- temente, complexa, mas, como tentaremos mos-
cos ocidentais pode ser considerado paradoxal. trar, o estatuto particular do menor, sua vulne-
Com efeito, por um lado, parece confirmar rabilidade intrínseca e sua autonomia proces-
o estabelecimento de uma cultura moral e jurí- sual pela educação são motivos cogentes para
dica humanista e universalista dos direitos hu- que, mesmo uma sociedade liberal e permissi-
manos (que Norberto Bobbio sintetizou pela va não possa aceitar como moralmente legíti-
feliz expressão “era dos direitos”) e, no caso que mo esse tipo de prática sem discussão, em no-
nos preocupa, dos direitos da criança e do me- me de um suposto aumento das liberdades in-
nor (estabelecidos em âmbito internacional a dividuais.
partir de 1924 pela Convenção de Genebra so- As ações dos grupos que vêm trabalhando
bre os direitos da criança, prolongada pela Con- com o intento de prevenir e desvendar o abuso
venção Internacional das Nações Unidas de sexual em menores no âmbito familiar, e que
1959 e ratificada em 1990 pelos países signatá- procuram criar estratégias e mecanismos capa-
rios da mesma) e, por outro, parece incapaz de zes de evitar a impunidade, encontram, no en-
evitar os abusos contra tais direitos, como mos- tanto, muitas dificuldades, quer pela prática do
tra a atual controvérsia, em âmbito internacio- silêncio por parte das vítimas e da sociedade
nal, sobre a pedofilia, nos diferentes meios de em geral, quer pelas tímidas ações concretas no
comunicação, em particular, na Internet, onde apoio ao menor e à família, quer, ainda, pelas
a pornografia e prostituição infantil são ainda próprias reticências por parte da família em
de fácil acesso à população em geral, quando denunciar um seu membro e expor-se, assim, à
não reivindicadas como um direito à livre ex- possibilidade de eventuais conseqüências nega-
pressão. tivas adicionais. Além disso, existe também
Esse paradoxo parece favorecer nas socie- uma falta de consciência profissional sobre a
dades democráticas ocidentais e, em particular, real magnitude do problema, assim como uma
em seus âmbitos familiares não somente o au- compreensível (mas não necessariamente justi-
mento de abusos contra o menor, mas também ficável) reticência dos profissionais em se en-
uma maior aceitação e conivência da sociedade volverem num assunto psicossocial complexo,
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difícil e incômodo, quase sempre negado (ou contar, ninguém a sua volta dá crédito ao que
denegado) durante as investigações judiciais, ele diz. O segredo é, então, conhecido apenas
tanto pelos autores como pelas próprias víti- por ele e pelo agressor. Essa condição faz com
mas (Pennington, 1995). que ele fique ainda mais sob o poder do agres-
Neste artigo pretende-se analisar a morali- sor, perpetuando a dinâmica do abuso sexual.
dade do abuso sexual em menores, tendo em Quando, finalmente, o menor consegue con-
conta as características dos atores envolvidos e versar com alguém que o leve a sério (caso de
do processo, desde a ocorrência do abuso se- uma minoria), já se transcorreu muito tempo,
xual intrafamiliar, passando pelos momentos e previsíveis conseqüências daninhas do ponto
da denúncia por parte de familiares ou conhe- de vista emocional e de estruturação da perso-
cidos, à atenção prestada à vítima e à família nalidade (inclusive, em muitos casos, do ponto
pelas instituições estatais, e o julgamento do de vista cognitivo) já aconteceram.
provável agressor por parte dos órgãos judi- Nesta situação destacamos os pontos a se-
ciais. O método de análise escolhido é o da guir descritos.
análise racional e imparcial dos argumentos a) O menor requer a tutela, o apoio e a re-
em campo, isto é, dos prós e dos contras, a fim presentação por parte dos adultos, já que sozi-
de identificar uma solução que seja moralmen- nho não pode fazer valer seus direitos e defen-
te aceitável. der-se. Questão, esta, problemática, pois a cri-
O artigo baseia-se na experiência de um de ança que sofreu o abuso sexual estará, via de
seus autores na qualidade de médico forense, regra, desconfiada de qualquer representante
que, durante oito anos, participou das ativida- do mundo adulto. Aiken & Purdy (1998), ten-
des de prevenção de abuso sexual a menores e do em conta os direitos dos menores e conside-
de atenção às vítimas, na Unidade de Atenção a rando o fato do abuso sexual intrafamiliar, pro-
Menores do Instituto Nacional de Medicina Le- põem direitos iguais para adultos e crianças,
gal e Ciências Forenses em Santa Fé de Bogotá, com o argumento de que estas estariam, de fa-
Colômbia. to, sendo prejudicadas pelos limites impostos
pelo Direito. Os menores só seriam capazes de
se defender de forma apropriada quando seus
Características do abuso direitos fossem reconhecidos como sendo iguais
sexual intrafamiliar pertinentes aos dos adultos. A fortiori isso seria válido no
à análise moral caso de famílias nas quais não existe uma ver-
dadeira responsabilidade parental nem uma
A vítima e o seu meio intrafamiliar boa relação pais-e-filhos. Entretanto, essa cor-
rente representada pelos dois autores, e conhe-
A primeira característica a ser ressaltada é o cida como “liberacionista” (children’s liberatio-
fato de o abuso sexual intrafamiliar contra me- nism ou kiddy-libbers), ou de “autodetermina-
nores ser praticado por pessoas conhecidas (fa- ção” dos menores, parece opor-se conceitual-
miliares, amigos, vizinhos, professores etc.) nu- mente à tradição kantiana da proteção dos me-
ma estrutura de poder de fato assimétrica. Com nores, por considerá-la uma forma moderna de
efeito, quem “abusa” do outro ocupa uma posi- opressão secular.
ção de vantagem, seja porque tem mais idade, De fato, os dois autores têm em devida con-
seja porque ocupa um lugar de autoridade. ta a vertente “protecionista”, visto que recupe-
Dessa posição de poder, pode aproveitar da ram o argumento de os menores serem parti-
vulnerabilidade comparativa maior do menor, cularmente vulneráveis por não possuírem ain-
usando de vários meios, tais como a chantagem da uma autonomia plena, que só será adquiri-
emocional ou a intimidação. Esta forma de vio- da ao longo do processo educativo, da evolução
lência se dá, via de regra, num contexto dissi- moral e da responsabilização, resultantes da in-
mulado, em que se realizam os atos sexuais con- teração social. Por essa razão, defendem que os
tra o menor (carícias, toques, beijos, etc.) du- direitos dos menores têm estatuto moral e legal
rante muito tempo (às vezes durante anos) até especial, devido à falta de experiência, compe-
o cumprimento de alguma forma de ato sexual. tência e maturidade. Espera-se, portanto, que
O menor, vítima desse tipo de abuso, entra os pais protejam e guiem seus filhos, e que o
num estado de angústia porque, em função de Estado imponha alguns limites no exercício da
sua estrutura psicológica, não consegue contar autoridade parental e nos direitos especiais pa-
para terceiros, ou porque, quando consegue ra os menores.
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b) O menor, por causa da pouca idade e da processo judicial depois de algum tempo do o-
sua condição de vulnerabilidade, não com- corrido, o que implica a perda de indícios e pro-
preende plenamente o que está acontecendo vas, logo a eventual incriminação do agressor.
com ele, e nem sabe como externar o seu pro- • Quando neste tipo de delito a infra-estrutu-
blema para os adultos, e, em particular, para os ra não é adequada para realizar exames e inter-
adultos estranhos. Além disso, muitas vezes, os rogatórios com menores.
próprios adultos não conseguem entender a • Quando as investigações são deficientes, em
maneira de os menores se expressarem. Faz-se função de informações pouco relevantes, e indí-
então necessária a interferência externa de es- cios pouco significativos ou mal-interpretados.
pecialistas. Mas isso requer determinados cui- • Quando não existe qualquer apoio à famí-
dados. Segundo Soares, é importante que essa lia investigada.
intervenção “bem-intencionada” não crie uma Isso faz com que a captura de suspeitos se-
nova forma de “vitimização”. Em geral, o abuso ja, via de regra, excepcional.
termina após alguma intervenção, mas existe Quando se realiza uma análise imparcial
sempre a possibilidade da desintegração fami- desses procedimentos, considerados falhos, no-
liar ou da institucionalização do menor, o que ta-se que o princípio da justiça – um dos prin-
pode representar uma nova agressão psíquica e cípios morais mais importantes da ética aplica-
social contra o menor. Neste caso, é imprescin- da para dirimir conflitos de interesses e valores
dível ponderar as prováveis conseqüências do e para regrar o bom andamento da convivência
ato da intervenção, fato que pode levar a verda- social – exerce de fato um papel menor nesses
deiros dilemas morais. casos. Na verdade, a igual consideração dos in-
c) As eventuais tragédias familiares, provo- teresses (princípio de igualdade) e as possibili-
cadas a partir das revelações do menor, trazem dades reais de compensação dos danos (princí-
muitas vezes a conseqüência de o menor pas- pio de eqüidade) constituem, dialeticamente, a
sar do papel de vítima ao de culpado, sem qual- estrutura moral da justiça. Se, por um lado, es-
quer apoio externo para ele e para o próprio ses princípios estão no espírito da lei que pro-
meio familiar. Isso gera uma típica situação de tege os direitos do menor, por outro, parecem
duplo efeito do ato. Geralmente o menor é iso- estar longe de serem aplicados efetivamente,
lado de seu meio, passando a viver isso como haja vista o aumento de abusos sexuais contra
uma agressão suplementar. Por essa razão, o menores. Se considerarmos, ainda, as dificul-
apoio externo ao ambiente familiar deve consi- dades estruturais enfrentadas pelos assim cha-
derar, da mesma forma, o interesse do menor mados “países periféricos”, inclusive as dificul-
em não ser mais abusado sexualmente e o dese- dades em fazer respeitar as convenções inter-
jo (quando existir) de permanecer em sua pró- nacionais assinadas pelos seus Governos, pode-
pria família. Retirar o menor de seu ambiente se afirmar que o problema do abuso sexual con-
familiar pode significar eliminar a possibilida- tra menores constitui um dos principais pro-
de de apoio, de reabilitação e de uma nova for- blemas de saúde pública, que ameaça os futu-
ma de integração familiar, com conseqüências ros adultos de nossas sociedades.
imponderáveis.
A baixa efetividade dos meios probatórios
A baixa efetividade dos procedimentos de
atenção ao menor, vítima de abuso sexual Entre os meios probatórios que permitem
demonstrar o abuso sexual em menores estão
Os procedimentos a seguir relacionados os a seguir relacionados.
podem ser pouco efetivos. a) Prova testemunhal – trata-se da prova
• Quando o menor decide contar para al- dada por testemunhas, ou por relatos de pes-
guém os fatos do abuso sexual, depois de mui- soas, que permitem comprovar um fato deli-
to tempo do ocorrido (meses e até anos). tuoso e/ou identificar o autor do delito. No que
• Quando se realiza a denúncia a autoridades se refere ao abuso sexual intrafamiliar em me-
(polícia, assistentes familiares, defensores da nores, acontece que poucas vezes se comprova
família e curadores etc.) e estas tão somente re- o fato na frente de testemunhas, razão da escas-
cebem a denúncia e remetem a vítima aos cui- sez de resultados e da dificuldade crônica deste
dados de um médico legista. meio.
• Quando o médico envia o resultado de seu b) Prova documental – trata-se de registro,
exame à autoridade solicitante, e esta inicia um verificável, do fato delituoso, com fotografias,
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vídeos, gravações etc. A possibilidade de poder Análise da moralidade do problema
contar com este tipo de provas é muito ocasio-
nal, no caso de abuso sexual intrafamiliar. Ao analisar a moralidade do abuso sexual com
c) Confissão – refere-se à aceitação do deli- menores, deve-se, inicialmente, admitir duas
to por parte do agressor. Mas uma das constan- premissas aceitas pelas sociedades seculares
tes dos acusados de abuso sexual intrafamiliar contemporâneas: a) de que o exercício de sua
é a negação e a racionalização do fato. sexualidade é não somente um direito, mas
d) Inspeção – ou observação direta da cena também algo considerado, via de regra, um im-
do delito, para obter evidências (fotografias, portante componente da qualidade de vida do
restos de sêmen, registros de signos de violência indivíduo em interacção com os outros; b) de
etc.). A princípio, seria uma das melhores e que tal exercício é moralmente lícito somente
mais eficazes ferramentas para obter elementos se respeita a condição liberal de não prejudicar
de prova permitindo conhecer as circunstâncias o livre exercício do mesmo direito por tercei-
nas quais cometeu-se o delito. Mas o problema ros, isto é, respeitada a condição de que ambas
é que quando o menor relata o ocorrido, o tem- as partes consintam espontaneamente ao ato.
po da ocorrência é quase sempre muito distante. Essas premissas assentam-se num princípio
e) Prova pericial – ou exame médico legal moral mor, formulável como princípio do con-
que permite ao médico forense examinar o me- sentimento livre e esclarecido com relação a tu-
nor e, por meio de anamnese, análise física, do àquilo que é feito de um indivíduo sobre
análise das roupas ou amostras biológicas (san- outro indivíduo. Os valores humanistas que le-
gue, sêmen, cabelos etc.), concluir que houve o gitimam este princípio moral e jurídico são o
delito. Mas, numa porcentagem elevada, não se direito ao exercício da liberdade individual e da
encontram resultados positivos com este tipo autonomia pessoal.
de prova, o que é problemático visto que a falta Portanto, uma relação sexual não é moral-
de provas não quer dizer que o menor não te- mente legítima quando uma ou ambas as par-
nha sido objeto de abuso sexual. tes carecem da capacidade de consentir, livre e
Quando não há evidências de abuso sexual espontaneamente, ao ato sexual, amplamente
por meio desses meios probatórios, na maioria entendido. Este é, via de regra, o caso de meno-
dos países o indício relevante torna-se o relato res de idade, isto é, quando existem boas razões
feito pelo menor. Isso faz com que, quando não para dizer que existe coação explícita (uso de
se encontrem provas concretas ou indícios sig- força, ameaças ou extorsão, bastante comuns
nificativos sobre o processo de abuso sexual, se neste tipo de abuso) ou suspeita de compulsão
torna muito difícil provar o delito e condenar (por chantagem ou engano).
o acusado, eventualmente culpado. Reformulando essa intuição moral confor-
A partir das considerações anteriores, po- me a ética kantiana, pode-se afirmar que, neste
de-se inferir que o falseamento de provas é mais caso, é moralmente incorreto tratar as pessoas
fácil do que sua verificação, o que corresponde e os sujeitos que a princípio estão se tornando
à intuição “falsificacionista” popperiana, se- pessoas (como os futuros adultos representa-
gundo a qual basta um contra-exemplo para dos pelos menores) como meros meios para
contestar uma teoria ou uma afirmação com nossos fins e não também como fim em si, vis-
pretensões de validade universal (Popper, 1972). to que isso os tornaria verdadeiros “objetos”,
Isso implica que demonstrar que o menor este- desvirtuando assim a relação eu-tu pela redu-
ja dizendo a verdade sobre o ocorrido é tarefa ção à relação eu-isso.
muito mais difícil do que ter boas razões para Mas, mesmo admitindo que a relação se-
suspeitar da veracidade de suas afirmações. xual tenha sempre algum componente de obje-
Portanto, não tendo provas contundentes e a tivação do outro (o que é assunto a ser demons-
demonstração do delito, resulta também mais trado também com bons argumentos), resta de
fácil (ou menos difícil) concluir que não houve qualquer maneira o fato de que esta objetiva-
o abuso sexual contra o menor. Em suma, de- ção deve ser, do ponto de vista de sua aceitabi-
vido a essas dificuldades estruturais no estabe- lidade moral, recíproca, o que parece ser con-
lecimento de provas, os esforços para lutar tra-intuitivo quando se pensa na relação assi-
contra os abusos sexuais em menores acabam métrica que existe entre adulto e menor, como
no vazio e as dificuldades de provar levam à tentamos mostrar anteriormente.
persistência da impunidade e, talvez, ao recru- Ademais, o problema se complica quando
descimento do próprio abuso sexual. se pensa no fato antropológico da presença, pra-
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ticamente universal, em todas as culturas atuais, tomar medidas concretas em prol do menor, a
do tabu do incesto que, reconhecidamente, tem família e o agressor, geralmente, não recebem
o papel de controlar as formas de violência so- qualquer tipo de formação específica sobre co-
cial pelo incentivo aos sistemas de aliança exogâ- mo lidar com o abuso sexual contra menores, o
mica. De fato, esse tabu parece estar presente na que faz com que seus juízos sejam baseados,
negação (ou denegação) da família, da sociedade predominantemente, em suas experiências de
e do próprio profissional, sobre a ocorrência do vida de classe “média” ou “alta”, impedindo a
abuso sexual intrafamiliar, talvez como forma de tomada de decisão adequada ao caso e até ne-
negar também uma forma de violência que po- gando a existência do próprio delito, por ser
de pôr em questão a legitimidade do grupo e da supostamente improvável (Pennington, 1995).
própria sociedade se estas aceitarem a violência Estudos sobre acusações verdadeiras e fal-
como estruturante. A questão é muito comple- sas de incesto revelam (Finkelhor, 1983) que as
xa e, praticamente, sem solução fora de recursos acusações falsas são raras, o que a princípio sig-
ao “sagrado” ou a alguma outra forma de trans- nifica que os investigadores judiciais deveriam
cendência, de difícil implementação e aceitação concluir pela improcedência das acusações.
consensual em nossas sociedades seculares. Entretanto, os juízes, em sua grande maioria,
Seja como for, pode-se argumentar que os se vêem obrigados a absolver os acusados por
profissionais que interagem com menores, a falta de provas. Isso tem, com certeza, um fun-
fim de protegê-los contra os abusos de pessoas damento moralmente legítimo no princípio se-
de seu entorno imediato, deveriam ter cons- gundo o qual, até prova em contrário, todo sus-
ciência de todos esses complicadores estrutu- peito é inocente. Mas há também a conseqüên-
rais, sabendo que o abuso sexual e o incesto, cia negativa da impunidade de eventuais sus-
mesmo que negados (ou talvez exatamente por- peitos favorecidos pela baixa eficácia da com-
que denegados) existem, mas dissimulados pe- provação dos indícios. Em suma, a defesa de um
los próprios envolvidos, devido ao fato de se- direito legítimo pode ter a conseqüência nega-
rem altamente problemáticos. Em particular, tiva da impunidade do eventual agressor. Até
tais profissionais deveriam saber que seu papel hoje isso constitui um dos principais proble-
“semiológico” consiste em encontrar o sentido mas morais (por enquanto, sem solução) le-
das possíveis causas de desordens na conduta vantados pelo Direito.
dos menores, de suas enfermidades psicosso- De fato, parece existir uma resistência orga-
máticas recorrentes, depressões e até suicídios, nizada, e com bastantes recursos, para evitar
que podem muito bem ser originados por esse que o abuso sexual contra menores cesse. Por
tipo de abuso, o qual por não poder ser confes- exemplo, o fenômeno social conhecido de for-
sado não é menos patógeno e arrasador, como ma genérica pelo apelido de “crime organiza-
bem mostra toda a história da psicopatologia do” protege a pornografia e a prostituição in-
humana, desde os mitos gregos até os divãs e os fantil, supostamente em nome dos direitos
hospitais psiquiátricos da modernidade. fundamentais do indivíduo e de uma extensão
Por isso, é moralmente correto afirmar que dos espaços de liberdade contra o Estado pa-
os profissionais que se ocupam de abusos se- ternalista e opressor. Dessa forma, movimentos
xuais contra menores devem proteger o menor aparentemente libertários, como o Backlash,
e, na medida do possível, seu entorno familiar, cujo principal objetivo é desacreditar os adul-
visto que se trata de um ser em construção, tos vítimas de incesto na infância e seus tera-
aparentemente frágil e vulnerável, sujeito de peutas, assim como as mães que tentam prote-
um processo de socialização que, aos poucos, o ger as vítimas atuais de abusos sexuais, podem
tornará (caso não haja traumas sérios) um in- a princípio assumir uma respeitabilidade mo-
divíduo autônomo, capaz de consentir às pres- ral e política em nome da defesa das liberdades
sões dos outros adultos exercendo, ao mesmo individuais. Da mesma forma, estratégias co-
tempo, seus direitos de cidadão. Isso implica mo aquelas da revista Paidika: The Journal of
também, para o profissional, notificar às auto- Pedhofilia ou movimentos como a Fundação
ridades competentes os casos de abuso, como Falsa Memória poderiam aproveitar de even-
forma de preservar o direito do menor ao seu tuais debilidades da justiça para evitar um jul-
desenvolvimento, até ele poder decidir, livre- gamento adequado e fazer justiça às vítimas.
mente, qual tipo de sexualidade assumir. Agora, numa análise imparcial de fatos de
Juízes, fiscais e autoridades, que devem dar sociedade, deve-se mencionar que a sexualida-
o veredicto sobre os eventuais abusos sexuais e de tem sido reconhecida como objeto legítimo
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de diferentes graus de moralidade e de regula- em função da real (ou suposta) baixa resoluti-
mentação social nas várias épocas históricas. vidade na solução de seus problemas.
Segundo Kottow (1995), somente o tabu do in- O respeito da confidenciabilidade depende-
cesto tem sido detectado como constante trans- rá dos valores culturais e sociais vigentes num
cultural, e a quase-universalidade deste tabu (i.e. preciso momento histórico e numa sociedade
deste “intocável”) tem sido considerada testemu- determinada. Em particular (no caso que nos
nho fidedigno de que a sexualidade humana não ocupa aqui), dependerá da eventual utilização
é um mero instinto, mas sim uma apetência sus- política e administrativa feita do problema do
cetível de modulação racional. abuso sexual intrafamiliar contra menores e da
Neste contexto sociocultural, a ética médi- efetividade dos atos preventivos e terapêuticos
ca e a fortiori a ética aplicada e a bioética de adotados. A este respeito, chama a atenção o fa-
inspiração secular e laica, típicas das socieda- to de profissionais, como sacerdotes e advoga-
des democráticas pluralistas atuais, não têm a dos, poderem guardar o segredo profissional de
missão primária de criticar e condenar a sexua- forma praticamente irrestrita, ao contrário dos
lidade considerada “atípica”, mas sim a de aten- profissionais de saúde, mesmo que isso impli-
der às necessidades de cuidados e cura em saú- que riscos para terceiros, interesses sociais que
de. E isso sem emitir juízos a priori sobre as têm a princípio uma prioridade lexical sobre os
formas assumidas pela “moralidade sexual” nas individuais, ou a própria transgressão da lei.
sociedades históricas, mas sim sobre a morali- Em outros termos, o respeito da confidenciabi-
dade dos atos médicos frente aos eventuais lidade dependerá dos valores e das hierarquias
problemas sanitários que surjam da atividade de valores próprios de uma situação específica,
sexual, normal ou “anormal” que seja. Entre- a qual, no entanto, estará inscrita, de alguma
tanto, devido ao fato de o exercício das práticas forma, numa tradição (inclusive, eventualmen-
sanitárias fazer parte dos fenômenos e proces- te, na tradição de “não ter tradição” como é o
sos sociais e culturais de uma determinada so- caso de muitas tradições de vanguarda ou “re-
ciedade, isso gera conflitos e, muitas vezes, di- volucionárias”). Por isso, apesar da intenciona-
lemas morais no próprio profissional de saúde, lidade programática de ruptura, deverão ser
como o que se refere à confidenciabilidade das considerados convenientemente os vínculos
informações obtidas pelos pacientes ou usuá- entre tradição e inovação, visto que formas
rios. Um paciente pode informar seu terapeuta bruscas de comportamento poderão ocorrer
sobre eventuais relações incestuosas com me- numa eficácia baixa ou até nula na prevenção e
nores, e, portanto, a princípio ilícitas, mas isso tratamento das conseqüências do abuso sexual
só se torna possível porque o ato terapêutico contra menores.
está garantido em sua eficácia e efetividade pe- Por fim, um aspecto importante a ser anali-
la garantia da confidenciabilidade. Se houver sado é o conceito moral e político de justiça
“ruptura” desse contrato (como, aliás, de qual- que, para ser eficaz, deve ter, conforme as su-
quer contrato de “confiança” ou de “confissão” gestões de John Rawls, as seguintes característi-
– com o advogado, o padre ou o psicanalista cas: a) uma ordem social que contemple simul-
etc.), pode ocorrer, em nosso caso específico, a taneamente os interesses legítimos de todos; b)
perda de contato e o acompanhamento do me- a possibilidade de vantagens e privilégios rela-
nor e de seu entorno familiar, o que pode ter a tivos que não sejam imutáveis e c) a existência
conseqüência não esperada de um acréscimo de desigualdades relativas que sejam a favor
do dano para o próprio menor. Ademais, in- dos menos favorecidos pelas condições iniciais
fringir o contrato de confidenciabilidade pode (conhecido como “princípio de eqüidade” ou
ter conseqüências mais daninhas ainda quando fairness), isto é, que impeçam o estabelecimen-
não for possível dar uma resposta socialmente to de desigualdades ainda maiores, inclusive
adequada, isto é, efetiva, caso haja intervenção entre eventuais “abusadores” e “abusados”.
judiciária para proteger a vulnerabilidade dos Entretanto, todas essas ponderações podem
menores, objetos de abuso. Com efeito, nesse parecer também de pouca efetividade na solu-
caso, pode ocorrer que da situação de incerte- ção do conflito moral acerca da moralidade do
za, na qual se encontram médicos e juízes, re- abuso sexual em menores, sobretudo quando
sulte a continuação do abuso contra o menor, se considera o fato de que quase sempre os réus
que muito provavelmente não voltará para ser presumidos são considerados inocentes por fal-
atendido nem pelo médico, nem pelo juiz, nem ta de provas (Gómez, 1998).
por qualquer outro profissional “de plantão”,
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Conclusões vulgata psicanalítica (o que pode eventualmen-


te corresponder à realidade dos meandros do
Sob o ponto de vista ético, visto como uma desejo), mas isso não impede que a “ética do
análise racional e imparcial dos argumentos desejo” possa ser questionada pela ética tout
em casos de conflitos, ou de “segunda ordem” court, que foi o objeto desse trabalho.
(com relação aos produtos de “primeira or- Deste ponto de vista, e tendo em conta as
dem”) constituídos pelos valores produzidos diretrizes do “principialismo biomédico” (Beau-
pela regulamentação das inter-relações sociais champ & Childress, 1994), para muitos auto-
e que têm a função de promover valores co- res, os assim chamados princípios canônicos da
muns aos membros da sociedade (Singer, 1993), moralidade ocidental (autonomia, justiça, não
o abuso sexual em menores, sem seu consenti- maleficência e beneficência), ainda que prova-
mento livre e esclarecido (o que de fato trans- velmente insuficientes para dar conta da com-
forma uma relação num efetivo “abuso”), con- plexidade dos conflitos de desejos, interesses e
traria os próprios princípios da vida social valores das sociedades seculares e pluralistas
“bem ordenada” que, conforme os ensinamen- contemporâneas e, em particular, para dar con-
tos da própria filosofia política (de Aristóteles ta das ações em saúde pública (Schramm &
até Rawls), é necessária para um convívio civi- Kottow, 2001), parecem corresponder aos an-
lizado entre humanos, inclusive entre adultos e seios destas em regulamentar seus conflitos. No
menores da mesma espécie. caso específico da moralidade do abuso sexual
Entretanto, na casuística atual sobre o abuso intrafamiliar contra menores, a referência aos
sexual intrafamiliar contra menores existe uma princípios hipocráticos de não maleficência e
marcada tendência em evitar enfrentar uma de beneficência permite dizer que o abuso se-
análise ética deste problema, que permita bus- xual contra menores não consencientes fere
car as causas e as eventuais razões conexas, e que ambos os princípios. Além disso, em função da
logre encontrar, se necessário e (na medida do estrutura de poder que organiza a relação entre
possível) sem preconceitos, as modalidades para o adulto e o menor, é razoável afirmar que a re-
prevenir e superar os eventuais efeitos daninhos lação carece de justiça. Por fim, a assimetria
do abuso sexual contra menores, sem que isso constitutiva da relação entre adulto e menor
acarrete conseqüências negativas adicionais. faz com que seja moralmente ilegítimo invocar
A tarefa é, evidentemente, de difícil solu- o direito à autonomia, e a seu corolário direito
ção, mas é razoável afirmar que uma inversão ao consentimento livre e esclarecido, para esta-
da tendência consistente no recalque dos fatos belecer a moralidade do abuso sexual contra o
(por vários motivos compreensíveis) só parece menor (e, acrescentaríamos, contra qualquer
acrescentar mais probabilidades de danos a to- pessoa não consenciente).
dos os envolvidos. Assim sendo, apesar de suas supostas boas
Mas os valores são construções simbólicas e intenções contra o paternalismo e a opressão,
imaginárias consideradas válidas no interior de tidas como argumentos cogentes contra a pro-
uma comunidade ou sociedade, que comparti- teção do menor, pode-se concluir que o princí-
lham uma determinada cosmovisão (Weltans- pio de proteção, apesar de suas eventuais limi-
chauung) e que têm o objetivo de regulamentar tações antropológicas, sociológicas e culturais,
seus conflitos em prol de uma vida social mini- constitui ainda um meio moral legítimo de evi-
mamente “bem ordenada”. No caso do abuso tar abusos.
sexual intrafamiliar contra menores, do qual Em particular, o princípio de autonomia
tentamos detectar as implicações sanitárias, ju- aplicado ao abuso sexual intrafamiliar contra
rídicas e morais, pode-se dizer que tais valores, menores, é claramente insuficiente pois os me-
quando utilizados para legitimar a prática do nores têm via de regra uma competência “au-
“abuso”, são na verdade parciais e paradoxais, tônoma” incipiente para decidirem se aceitam
visto que se aplicam incoerentemente aos ato- este tipo de prática do adulto com/contra eles.
res envolvidos, pretendendo de fato legitimar Ademais, este tipo de abuso altera, de qualquer
(pouco importa aqui se de forma consciente ou forma, a vivência da sexualidade humana, so-
inconsciente) uma condição de iniqüidade das bretudo em menores (OMS, 1975), se enten-
condições iniciais do eventual contrato do “de- dermos esta como uma integração entre as di-
sejo recíproco”. mensões somáticas, emocionais, intelectuais e
É possível que o desejo seja sempre algo sociais do ser humano e através de ferramentas
além da moral, como parece sugerir uma certa conceituais que favoreçam a construção da per-
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Ciência & Saúde Coletiva, 7(2):265-273, 2002


sonalidade, a comunicação, a justiça e a solida- anseio da igualdade e da eqüidade, mas tam-
riedade entre humanos. Por isso, a proteção bém porque a abordagem do abuso sexual in-
torna-se fundamental, mesmo que acompa- trafamiliar contra menores, deste ponto de vis-
nhada da formação do menor para que ele se ta, tem quase sempre a conseqüência indesejá-
torne, progressivamente, autônomo com rela- vel de resultados pífios em termos de preven-
ção à tomada de decisão sobre sua vida íntima. ção e, sobretudo, devido ao alto índice estatís-
O quarto princípio do modelo principialis- tico de impunidade dos eventuais agressores.
ta (e que corresponde desde Aristóteles à virtu- Concluindo, a pergunta que poderíamos fa-
de mor da política) é, evidentemente, ainda zer é qual seria a nossa responsabilidade diante
mais controvertido quando se invoca a justiça do abuso sexual intrafamiliar, visto que se trata
para justificar o abuso contra o menor. Neste de um problema que pode afetar a vida de cada
caso, sua utilização é de fato contra-intuitiva, um, e, que, portanto, deve a princípio ser en-
não somente porque a ele se referem tanto o frentado e pensado por todos.

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Nova York. Artigo apresentado em 5/12/2001
Versão final em 28/1/2002
Aprovado em 7/2/2002

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