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A vida transformada em lixo: o refugo da globalização - Resenha do livro Vidas desperdiçadas Zygmunt

Bauman.

Por, Antonio Marcos de Sousa Silva.

No bojo das transformações geradas pelo capitalismo, ou mais precisamente pela globalização, os seres humanos estão
sendo deixados do “lado de fora”, ou melhor, excluídos do mundo social.
Em um espetacular livro que versa tanto sobre as consequências do processo de globalização, como também sobre o
cenário sombrio em que se encontra a vida humana, Zygmunt Bauman reflete de modo bastante simples sobre o
banimento da maioria dos indivíduos do progresso da modernidade.
Em Vidas desperdiçadas, Bauman classifica os seres humanos que não conseguiram permanecer no carro da
modernidade e que não conseguem se inserir no processo de globalização de “refugo humano”. A globalização é
excludente, traiçoeira, eliminadora. Ela causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos, afirma
Bauman.
Produz dejetos, sujeiras e lixo humano que são jogados longe dos grandes centros urbanos e são colocados em grandes
depósitos em terras inabitadas, sem qualquer tipo de organização, de política de reciclagem. Nosso planeta está cheio,
afirma Bauman, está cheio porque a modernização se globalizou chegando a terras longínquas, penetrando nos costumes,
na organização do modo de vida de povos que não se interessavam pela corrida ao progresso.
Como o processo de produção de refugo humano é inquebrantável, ou seja, não para um só instante, as áreas do globo
estão cada vez mais lotadas, saturadas. Onde colocar o lixo, então? Essa questão é a que é mais debatida neste novo
ensaio de Zygmunt Bauman sobre o processo de globalização e suas consequências.
“O mundo está seguro?” – pergunta Bauman. Como podemos perceber um mundo seguro onde existem milhares de
refugiados, de asilados e de guetos almejando somente uma chance para pular no carro do progresso. Não estamos
seguros pelo motivo de estarmos pisando em terreno minado, onde a qualquer momento soa o alarme de combate às ações
terroristas, aos refugiados e ao refugo humano.
Essa é a expressão da vida contemporânea, carregada de uma ideologia consumista que prega a individualização do
indivíduo e, consequentemente, a negação do sentido humano de solidariedade. Neste caminho segue a produção de
refugo humano e de lixo em maiores quantidades, haja vista que a sociedade de consumidores se sobrepôs à sociedade de
produtores. Quem não consume torna-se refugo humano e o que é consumido transforma-se em lixo, dejeto ou sujeira.
Este excêntrico livro está dividido em quatro grandes capítulos capazes de esclarecer o leitor no que diz respeito aos males
da pós-modernidade como também às maléficas consequências da globalização. Ademais, todos os capítulos ressaltam
aspectos importantes para entendermos a vida humana, ou melhor, a vida contemporânea no torvelinho dos
acontecimentos sociais.
Bauman terce uma análise dos projetos que os indivíduos pós-modernos batalharam para criar. Tudo aconteceu a partir da
chamada geração X, com o surgimento de uma nova doença tão pouco existente nas gerações anteriores: a depressão. As
causas desta estavam diretamente relacionadas às dificuldades enfrentadas pela geração X, como o aumento do
desemprego.
A globalização mudou a trajetória de vida desta geração, acabou com sonhos e projetos, criou dicotomias, rompeu com
tradições e acelerou suas vidas. A globalizante modernidade líquida deixou pra trás a sociedade de produtores por uma
sociedade de consumidores onde o que impera é a produção de refugos e de lixo. Ela fez com que os projetos humanos
causassem a desordem e o caos no “admirável mundo líquido”.
Bauman trata também da internet, essa potente ferramenta da modernidade. A tecnologia com seus ciberespaços
transformaram a internet em mais um deposito de refugo de informação. O ciberespaço concentra milhões de informações
descartáveis e inúteis. Por outro lado, os sites contabilizam números recorde de informações sobre refugo (lixo). Digitando
no buscador google a palavra refugo (lixo) encontraremos 11.500.000 sites referente ao tema. Este fato reforça a ideia de
que o lixo está se tornando um dos problemas mais angustiante de nossos dias.
O refugo humano (as pessoas) está excluído de tudo, a lei não o contempla, os governos não se responsabilizam por eles.
Vivemos no caos e na ordem. Os humilhados e excluídos do sistema, correspondem à maioria dos seres humanos existente
na terra.
Bauman salienta que o mundo está super populoso e que não existem mais terras para a enorme produção de refugo
humano. O debate em torno das questões demográficas ganha sentido quando, afirma Bauman, que existem países
bastante povoados e países pouco povoados. A questão central gira em torno de um paradoxo: os órgãos governamentais
afirmam que a população de 6,5 bilhões de habitantes existente na terra cresce rapidamente e que não haverá comida
suficiente para todos. No entanto, a distribuição desta superpopulação é irregular, desordenada e caótica. O território
europeu concentra uma grande quantidade de pessoas por quilometro quadrado. Já a população da África é insuficiente
para o seu território. A questão são os recursos financeiros que cada país dispõe para sua população.
Superpopulação gera refugiados e asilados, um dos grandes problemas das nações ricas. O medo surge como marca de
nações como os Estados Unidos, a Inglaterra e França. Atentados como o 11 de setembro mudaram os programas
governamentais para refugiados e asilados. Agora estes são visto em muitos casos, como potenciais terroristas. A mídia
incita os cidadãos e o próprio governo a xenofobia. Nasce, dessa maneira, uma genealogia do medo baseada no receio ao
terror e ao estranho (imigrantes, refugiados e asilados).
Os estranhos (imigrantes, refugiados e asilados) têm como função receber toda a descarga de raiva e as ansiedades dos
indivíduos, sobretudo por representarem um perigo para a segurança dos cidadãos. Daí, eles se tornam alvos fáceis de
tema de campanhas xenofóbicas tanto pelos governos como pela população.
Os imigrantes e os asilados são considerados o refugo da globalização, lixo humano que vaga em busca de um lugar na
sociedade do progresso. Mas, o outro lixo, aquele tradicional que é produzido por “nós” também não existe mais lugar onde
depositá-lo, guardá-lo. Os consumidores estão produzindo toneladas de lixo, aliás, sem contar com o novo tipo de lixo
produzido pela modernidade líquida: o lixo industrial, eletrônico. Estes têm vida longa, demoram milhares de anos para se
decompor, poluem e estão destruindo nosso planeta.
Globalizaram o medo, globalizaram o crime, os governos preferem prender imigrante a acabar com o crime organizado. No
terceiro capítulo o autor terce um panorama sobre as políticas governamentais no que concerne a mudança do Estado
social para o Estado excludente.
O mundo globalizado prega por uma política de exclusão, de retirada de refugo. Cada país cuida de seu “lixo”, de sua
população redundante retirando-a do convívio com os outros indivíduos úteis. A população redundante é a parte inútil,
imprestável, que deve ser retirada de circulação, jogada em campos de refugiados. Para que isso aconteça, os países
ignoram as leis internacionais, perpetram limpeza étnica e genocídios.
O Estado de tolerância zero é acionado, os guetos são isolados, os bairros de imigrantes são vigiados dia e noite. Há uma
produção de um Estado de emergência baseado no medo do “outro” (o estrangeiro). Tudo isso ocorre porque o mundo
líquido destituiu o Estado de seus programas sociais, de seu dever para com sua população. O Estado social transformou-
se em um Estado de guarnição, no qual o que impera é a proteção dos interesses das corporações globais e das
transnacionais.
No último capítulo Bauman, explora as consequências da modernidade líquida, sua função e sua cultura: do lixo. A cultura
do lixo predominante da era líquida representa os novos modos de viver no mundo. O consumir soa ressonante nos ouvidos
dos indivíduos de maneira a tornarem escravos dos cartões de créditos, do luxo e da beleza/estética. Sem falar que o
consumismo cria a difícil batalha para permanecer dentro do mercado de trabalho, paradoxalmente cria-se a cultura do não
emprego permanente, do fim dos compromissos com o “emprego para sempre”.
Os relacionamentos tão pouco exigem compromisso, fidelidade. Namorar não requer mais todo um ritual de conquista, de
galanteio e de sedução. Agora, namora-se à distância, temos diversos tipos de relacionamento, você escolhe:
relacionamento de bolso, relacionamento à longa distância, relacionamento cool, encontro veloz e outros.
Mudamos nossos comportamentos, porque a sociedade está em constante transformação. Nossos ideais transformaram-se
em sonhos, por vivermos num mundo de permanente incerteza, onde tudo que agora é novo daqui há alguns minutos torna-
se velho, lixo.
Estamos na era da insegurança, na qual o medo predomina mais precisamente nos grandes centros urbanos. Na
modernidade líquida os indivíduos não se olham tête-à-tête, preferem a tecnologia do telefone celular para se comunicar,
pois é mais seguro não sair de casa. Preferem os reality show da televisão, como o Big Brother, é mais emocionante do que
ir ao parque, ao cinema.
Em suma, tal pensamento expressado pelo autor neste livro reflete a preocupação surgida nos últimos anos em relação às
consequências da globalização no mundo: o aumento da produção de lixo (refugo humano, lixo tradicional e industrial), o
aumento da população mundial e o aumento das desigualdades continentais. Ele reflete ainda sobre a separação entre os
ricos e os pobres, os europeus e os não-europeus, os países subdesenvolvidos (sul) e os desenvolvidos (norte). Ademais,
faz com que pensemos nas relações sociais reconfiguradas a partir da Era Líquida, onde o mundo todo está em constante
transformação.
Globalização e Refugo Humano. Resenha do livro Vidas desperdiçadas
Interpretando o texto.

1- Quem são considerados o refugo da globalização a quem Bauman cita, ou se refere?

2- A globalização é excludente, traiçoeira, eliminadora. De que maneira Bauman entende essa


classificação?

3- De acordo com essa afirmação de Bauman, a globalização produz refugos, dejetos, sujeiras e
lixo humano que são jogados longe dos grandes centros urbanos e são colocados em grandes
depósitos em terras inabitadas, sem qualquer tipo de organização, de política de reciclagem.
Cite exemplos: quem são essas pessoas? O que são esses depósitos, e de qual reciclagem ele
se refere?

Globalização e Refugo Humano. Resenha do livro Vidas desperdiçadas


Interpretando o texto.

1- Bauman afirma que vivemos em uma sociedade marcada pelo conflito SER versus TER. O
homem passa a se expressar pelo que compra ou tem, elementos definidores de sua própria
identidade. Um dos sintomas desse fenômeno seriam as redes sociais, nas quais os usuários
montam perfis e se relacionam como se fossem "produtos". No processo de globalização a qual
fase Ele se refere? Cite alguns exemplos:

2- A globalização mudou a trajetória de vida da geração X, acabou com sonhos e projetos, criou
dicotomias, rompeu com tradições e acelerou suas vidas. A globalizante modernidade líquida
deixou pra trás a sociedade de produtores por uma sociedade de consumidores onde o que
impera é a produção de refugos e de lixo. Justifique essa reflexão de Bauman.

3- Bauman descreve uma geração constituída por mal-estares, sentimentos de aflição,


insegurança, depressão, ansiedade, não existindo mais definição quanto aos fins da ação
humana. No mundo contemporâneo, os seres humanos são permanentemente confrontados
com a possibilidade de serem apontados como redundantes, supérfluos, indiferentes, etc. É
importante, neste ponto, destacar a discussão sobre o “medo do outro”. Medo esse que
perpassa toda nossa existência. O que existiria nos seres humanos que tanto nos amedronta? O
que tudo isso tem a ver com o processo de globalização?
Globalização e Refugo Humano. Resenha do livro Vidas desperdiçadas
Interpretando o texto.

1- Bauman salienta que o mundo está super populoso e que não existem mais terras para a
enorme produção de refugo humano. O debate em torno das questões demográficas ganha
sentido quando, afirma Bauman, que existem países bastante povoados e países pouco
povoados. Justifique essa reflexão:

2- Em Vidas desperdiçadas, Zygmunt Bauman nos convida a uma reflexão apurada do caminho
trágico a ser trilhado por indivíduos em diversas partes do mundo, caminho esse que nos
conduz a uma exclusão forçada e que é, ao mesmo tempo, inerente ao convívio social. Quais
exemplos poderíamos citar nesse casso?

3- Superpopulação gera refugiados e asilados, um dos grandes problemas das nações ricas.
O medo surge como marca de nações como os Estados Unidos, a Inglaterra e França.
Atentados como o 11 de setembro mudaram os programas governamentais para refugiados e
asilados. Agora estes são visto em muitos casos, como potenciais terroristas. A mídia incita os
cidadãos e o próprio governo a xenofobia. Nasce, dessa maneira, uma genealogia do medo
baseada no receio ao terror e ao estranho (imigrantes, refugiados e asilados). Reflita sobre a
primeira afirmação em negrito e discorra sobre essa situação:

Globalização e Refugo Humano. Resenha do livro Vidas desperdiçadas


Interpretando o texto.

1- Os imigrantes e os asilados são considerados o refugo da globalização, lixo humano que


vaga em busca de um lugar na sociedade do progresso. Mas, o outro lixo, aquele tradicional
que é produzido por “nós” também não existe mais lugar onde depositá-lo, guardá-lo. A qual
lixo ele se refere? Qual seria a saída para esse processo global?

2- Os relacionamentos são de curto prazo ou em muitos casos até virtuais. O amor torna-se
vítima da liquidez da sociedade contemporânea, fugaz e descartável, destruindo as formas
mais ingênuas e puras de sentimento e da intimidade compartilhada. Explique essas
considerações de Bauman, como ele enxerga essa nova forma de se relacionar:

3- Qual pensamento expressado pelo autor no seu livro, reflete a preocupação surgida nos
últimos anos em relação às consequências da globalização no mundo?

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