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Os sofistas e Sócrates
Objetivos:
Isto nos faz voltar ao mobilismo heracliteano: nada nunca é, (mas sim) sempre vem a
ser (p.85). A ideia essencial deste devir está no seguinte: não há ser (existir, ao modo de
uma coisa) antes do aparecer. Mas note-se que o aparecer se dá numa relação de agir e
padecer (p. 86). Em nosso exemplo, é como “o branco que não está nem na coisa vista,
nem no olho que vê, mas no encontro de ambos, encontro que resulta do movimento
(prosbolé) de um para outro” (p. 85 c/a).
[ii] “Acerca de cada coisa há dois discursos opostos um ao outro” (p. 86). Ora, isto se
encaixa na concepção do “homem medida” e do devir dos fenômenos os quais a cada
qual se mostram, como se mostram. Ora, se se trata das coisas públicas (aquelas que
dizem respeito ao uso e aquelas, ao domínio da ação), o debate e confronto de opiniões
é coisa da vida pública em comunidade. Mas, levado ao seu limite, este debate termina
por delimitar-se em dois pontos de vista que se opõem.
[iii] O discurso forte é aquele que tem a maior adesão dos indivíduos. De fato, qual é o
destino do confronto de dois discursos? Pode ser a unanimidade ou a opinião da
maioria. O indivíduo isolado é um idiótes, isto é, alguém que se ocupa apenas de sua
vida particular, que se distancia das coisas que são do interesse comum e público, seja
numa ou noutra posição do debate. O discurso isolado deverá ir a público para, no
debate, ganhar ou não maior ou menor adesão. O confronto, alterando-o em alguma
medida, poderá constituir-se em discurso forte.
Neste [discurso], Górgias argumenta para sustentar a tese de que Helena não tinha
culpa. A ideia básica, aqui, é a de reunir razões contundentes que inocentem Helena. A
principal, relacionada à concepção e lugar da linguagem, diz que Helena foi seduzida
pelas palavras do raptor. Pois “o discurso é um grande senhor, através do menor dos
corpos e do mais inaparente, leva a cabo as obras mais divinas: é capaz de fazer cessar
o medo, diminuir a dor, realizar a alegria, despertar a piedade”.
Deixamos aqui, para você, o link de artigo de título muito sugestivo. Vale conferir!
http://revistaviso.com.br/visArtigo.asp?sArti=29
Esse trabalho no “campo do negativo” talvez seja o ponto que melhor caracterize
positivamente a lida socrática. E provavelmente era essa competência para desfazer as
verdades prontas, e consequentemente abrandar toda a arrogância dos que pretendem
ter a verdade, que cativava tantos discípulos. Exatamente o fato de cada um ter tomado
um rumo diferente é a prova de que a lição do mestre fora devidamente aprendida.
Autonomia é o seu nome. A remoção de toda heteronomia, sua condição. Heteronomia
significa: superstição, preconceito, modismo, adesismo, irreflexão. A parte do professor
é a remoção, porque a outra, obviamente, por definição é do discípulo (se alguém
pudesse ensinar autonomia a outrem, isso não seria autonomia).
Ora, essa consciência moral do parteiro corresponde à sua típica tese positiva de que ‘a
justiça é virtude, e a injustiça maldade e ignorância’ (id, 103) (República), e, como
adverte e pede a Teeteto, “entrega-te, pois, a mim, como a filho de uma parteira que é
também parteiro, e quando eu te formular alguma questão, procura responder a ela do
melhor modo possível. E se no exame de alguma coisa que disseres, depois de eu
verificar que não se trata de um produto legítimo, mas de algum fantasma sem
consistência, que logo arrancarei e jogarei fora, não te aborreças. (...) Alguns se
zangaram comigo (...). Não compreendiam que eu só fazia aquilo por bondade. Estão
longe de admitir que de jeito nenhum os deuses podem querer mal aos homens e que
eu, do meu lado, nada faço por malquerença, pois não me é permitido em absoluto
pactuar com a mentira nem pactuar coma a mentira nem ocultara a verdade” (apud id,
p. 110).
“A consciência moral é a grande questão para Sócrates. Não se trata de um feito restrito
ao ‘campo da ética’. Trata-se de um feito metafísico. O homem arcaico não era ainda
um “si” distinto da trama em que estava enredado”, como em Homero e na tragédia. As
almas dos homens estão voltadas ‘para fora’, para o mundo da natureza e da história, e
mesmo os pensamentos íntimos são ‘objetivos’ como os fatos, pois pensam a mesma
história que vivem. Mas esse ‘si’, o autós dos gregos, é a palavra-chave de Sócrates.
Presente em autonomia, em autarquia, mas, sobretudo, no preceito do oráculo de
Delfos de que Sócrates faz principal preceito seu: ‘conhece-te a ti mesmo’
(gnôthis’autón). Sua constante reclamação por que os indivíduos prestem contas de
suas palavras e obras, introduz uma velada primazia da razão discursiva sobre a
grandeza às vezes irracional, do feito épico ou do feito trágico. Desembaraçar um sujeito
da ação e responsabilizá-lo por ela, eia a operação que mata a tragédia por moralização,
por petição de causa final, mas que, em troca, faz nascer a metafísica, [que] não é senão
tratar as coisas como sujeitos, subjacentes, substratos, e elevar a identidade do autós e
o interdito à contradição à condição de princípios supremos.
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Bom estudo!