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Conselho edllorlal Dr. "-o José 80,h (I'rC,;ide,; •• )


Dr' Ele•• Godoy
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EdUor-chefe

EdUores-asslstentes Ari.dnc NlÍnes Wcngcr


M.Kd. M.ri.,n. d. Ab","

EdUor de arte R.ph,d 8crn.,1.1I1

Anállsa de Informação Ari:1dneNunes Wcngcr

Revisão da texto Altx.ndrcOlsemann

Deslgn d. capa e miolo Frederico S:lOtos BlIrJ:lm:klui

Dados "Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Camara BrasleJra do Uvro. SP. Brasil)

rnJiccll •.••.•r~ l:.-will.'&OJOOlninco:


l. E.satIu:(icstlll'Yflni::¥ton,,13it.2
2Orpital,,"ÓCJ:/\Jmini5f~65S

l' edição. 2010.

Foi feito o tlepósllo legal.

li de conceitos,

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Infornlamos quo inte;ra IllspoIlSabi'd&de dos aul()l'es a anllnGo de

Nanhuma pDrle dl7slll p.bl;cnçãc", poderã 1lftl'repro<JU:lda


por qualquer meiú OtI(Gmlil sam a prévia aU\l"Ifl2:açâodt.i:.tlilon,IlJf,J&lI:.

A vioILlÇOO d(l, (li'(J;I(l$ notvf(lIs e crime eslotiHte.:-kJr,


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As primeiras formas de gestão e organização do trabalho remo~'


tam a tempos bastante antigos da humanidade, com destaque
para grandes construções hist6ricas que, ainda hoje, marcam
pela quantidade de energia humana despendida. Podemos pen~
sar em vários monumentos criados há vários sééulos e que ainda
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permanecem erguidos, demonstrando a' capacidade não apenas
criativa, J;l1astambém organizativa do ser humano. As pirâmi,
des do Egito, a grande muralha da China, os vários templos '
da q~écia antiga ou as cidades de pedra das civilizações Incas,
Astecas ou Maia,ç são produtos de uma grande organização do
trabalho human". Todos possuem} todavia,~ma qualidade que
os .diferenciam .fortemente das grandes-c~nStrUfóes humanas.
surgidas a pa~tir do sé~ulo XIX; todas foram realizadas utili-
zando uma forma de trabalho dificilmente empregada hoje em
dia - ."..::::-
o servili;mo
. e o escravismo .
~-----
A partir da ascensão e vigência do modo de produção'capi-
talista, assim como das experiências de superação desse sistema
social pela organização da sociedade baseada no socialismo, a
forma de trabalho heg~monicamente empregada deixou de se
basear em relações de servilismo ou escravismo. Antes do século
XVIII, as grandes construções humanas tinham como base da
organização social o uso do trabalho escravo ou do servo. Apenas
a partir da decadência do sistema feudal e da ascensão do siste'
ma capitalista é que o trabalho empregado rompeu com os laços
de escravismo e servilismo. Entretanto, isso não aconteceu na
totalidade das nações, uma vez que, em algumas delas, como foi
o caso do Brasil, mesmo depois do século XVIII, permaneceu
vigente o uso regulado do trabalho escravo. Aqui, entre nós, o

I.
desenvolvimento empresarial "brotou': portanto, em paralelo a e redu~iu a tradição de inferioridade natural e eterna do traba-
resquícios de trabalho escravo, ' lhador perante seu senhor, por outro lado, manteve uma relação
de dependência do trabalhador para com a pessoa que emprega
" De toda forma, por necessidade de crescimento das princi-
"1' Istas d o mun d o, o serviço escravo seu trabalho, Acontece que, apesar de ter o seu trabalho livre
Pais em~resas caplta ' precisou
para utilizar onde quiser, o trabalhador, mesmo com as transfor-
ser abolido, dando lugar ao trabalho empregado sem laços de
posse imediata. O capitalismo representou, nesse sentido, uma mações sociais acarretadas com a vigência do modo de produ-
ção capitalista, permaneceu sem a posse dos meios de produção.
etapa não apenas de avanço das forças produtivas, mas de pro-
gresso para a humanidade. A estrutura social herdada da: era Na verdade, nesse quesito! poderiamos afirmar que ocorreu um
feudal 'I' com a~ necessidades crescentes:':p'~.9:
' ._ retrocesso na vida do trabalhador, pois, e~quanto nas relações
. . n.ao era ~ompatlve
vementes das empresas capitalistas e; por lsso,..foi precí~o várias -'" feudais, ele controlava os, meios de produção, ao ser emprega-
transfor~ações. Para ergúer-se como classe detentora da maio- ,- do numa empresa capitalista, apenas recebe ordens do que deve
ria 4a riqueza e do poder, a classe capitalista precisou, portanto, executar. Além disso, a ideologia vigente, pará legitimar o domí.
desempenhar um papel revolucionário, em que: .nio da classe capitalista, precisa transformar em senso comum a
falácia de superioridade do capitalista, mas isso n,ão é resultado
q
! passou a dominar. destruiu as ;e1ações feudais, patriarcais e idíli- de um direito sobre a posse do trabalhador, como acontecia no
cas. Dilacerou sem piedade os laços feudais, tão diferenciados. que feudalismo,
.mantinham a.s pessoas amarradas a seus 'superiores naturais" sem
Isso ocorreu porq~e, para que o modo de produção capita-
~ôr no lugar qualquer outra relação entre os indivíduos que :lão o
II1teresse nu. e cm do pagamento impessoal e insenslvd "em dinheiro': lista se tornasse hegemôJ;lico em toda a sociedade, três condições
Afogou na água fria do cilculo egolsta todo fervor próprio do fana- eram Ilecessátias: a abolição dos laços de servilismo e escravismo,
- . tisino religioso, do entusiasmo cavalheiresco e do sentimentalismo instaurando o direito do 'trabalhador usar seu trabalho da forma
.pequeno-burguês. Dissolveu a dii~idade pessoal no valor de troca e que quisesse; a expropriação dos meios essenciais de produção da
substituiu as muitas liberdades, conquistadas e decretadas, por uma posse dos t~abalhadores,-passando à propriedade exclusiva, dos
.de~e:~n!~d~ ..lib~rd~~e~ a_de coI1lé~c!~-ª~_ u~~ palavr,!,noltl-&ªr capitalistas;eo controle.ao trabalho -pelo capit-alistá-e-R-áa-mais-
aa exploração encoberta por ilusões religiosas e poUticas ela colo-
pelo trabalhador, por meio da compra da sua força de trabalho
cou uma exploração aberta. desavergonhada direta e secarl], (Marx;
(Braverman, 1987, p. 54-55). O modo de produção capitalista
Engels, 1998, p.lO)
~e funda, portanto, não nas relaçóes de trabalho feudais e servis,
mas na compra e na venda da força de trabalho, expressando o
. O aspecto principal dessa dinâmica revolucionária da bur- controle sobre o t~abalhacior pelo capitalista ou do processo de
~uesia foi que o trabalho servil e escravo deu lugar a um novo trabalho pelo capital. Por isso que, em sentido inverso daquele
tipO de trabalho que passou a ser empregado de forma crescen- que possui como recurso para sobrevivência apenas sua força de
te e generalizad~ em todas as empresas capitalistas. Se, por um
trabalho, o capitalista é compreendido como a pessoa que con-
lado, esse novo apo de trabalho rompeu as relações de servidão
trola e explora a força de trabalho de outras pessoas.

Nas palavras de Braverman (1987, p. 54-55), essas são


1 ,P~n saber mais sobre a i,!,pordncia da instauraçáo de uma racionalidade econô-
mlC~~ra afugentat os imperativos religiosos e legitimar a ideologia mercantil do
as três prerrogativas que consubstanciam a estrutura do
c~pltalis,mo,ver: prefácio de Engels, 1980b. capitalismo:

20
a) os trabalhadores são separados dos meios com os quais a pro-
dução é reali2:ada, e só podem ter acesso a eles vendendo sua força e a co~centração dós meios de produção só servem quando se
de trabalho a outros; b) os trabalhadores estão livres de constrições utiliza trabalho de outros para produzir e, assim, alcançar gran-
legais, tais como servidão ou ~ravidão, que os impeçam de dispor . des quantidades ..de mercadorias produzidas, a ponto de superar
de sua força de trabalho; c) o ,~cesso; de trabalho começa. portanto, ,"
'1 as despesas.
com um contrato ou acordo que estabelece as condições de venda da 1•.
~.•.. ;: •. o .
fOrçade trabalho pelo trabatÃador e Sua compra pelo empregador i: .. Por outro lad~, de nada adiantaria para o capitalista que o
'~ .
(e, dessa forma.! o prop6sito~o emprego do trabalhador torna-se montante de rece!tas acumuladas no fim do processo de produ-
a expansão .de uma unidade~e capit~1pertencente ao empregador, J.:;..
ção fosse igual ou inferior à quantidade de despesas alcançadas.
que está assim atuando como-tim capitalista. .. . .
r
.se assimfosse, o capitalista seriil, no mínimo, uma pessoa com
l~ - \
; - valore~ altruístas elevados, visto que nunca teria lúcI'O na sua
O ?roCesso)1illt6rico de :itumullJ.ção p;i~tiva2,-que' re- . ~mpresa e perderia gradativamente sua riqueza. O lucro capita-
presenta a base de formação .do~odo. ,de produção capitalista, lista apenas éalc~1J.s.adoquando as receitas superam as despesas
resultou na concentração dos iiiêios ess~nciais de produção nas e,' para tanto, fa~-se necessário que as mercadorias tenham um
má?s ~e uma pequena quari(ia~dé de ~essoas e, para a grande . valor superior ao_to~al das despesas gastas na empresa. Mas de
maioria, restou apenas a disponit>Hidade de sua força de traba- onde vem esse valor superior?
lho. De um lado, uma peqi.iena'~:ü:inticlade de capitalistas que,
Entre todas as despesas gastas no processo de produção,
tendo usurpado e concentrado' ~,posse dos meios essenciais de
existe apenas uma'que representa um "gasto produtivo': ou seja,
produção, determina a organizaçl0 da vida material e, de outro,
. , um dfspêndio. de 'riqueza que será empregada na produção de
um~ imensidão .de trabalhadores' desproyidos dos meios de pro-
uma <riqueza superior. Matérias-primas, insumos, energia elé-
duçao e do destmo de sua vida, possuidores apenas de sua força
-.. :itricai~iigue1, 'deptttCiação de máquinas e equipamentos, todos
de trabalho. A essa dinâmica embrionári~ do capitalismo, Marx ~ O" •• ,.

.-essesele~entos 'expressam custos necessários ao' funcionamento


denomina de expropriação dos trabalhad~res diretos. Baseada na
análise desse autor, Fontes (200S,-p. 21) <;lemonstra que seria do 'da proauçáó, mas nenhum destes produz um valor superior às
~enci)lltro entre esses despôist:lld~~ com ~ acúmulo de riquezas' . sllasdesptsas-. Apcila"s rima mercadoria poqe produzir um vator
gerado na Europa Ocidental"';' reijizado, em parte, por uma ver- superior -ao que foi gasto por ela dentro da empresa: o trabalho
dadeira rapina colonial - qu~}:er~~ascido o capitalismo': .. humano. É apenas a força de trabalho que transforma a nature-
za e produz um novo produto e, por isso, gera um valor supe~
Mas quais seriam as razões .qti.e levaram a classe capitalis- dor. Se no c,!pitalismo a força de tra.balho é tratada como uma
ta a se apoderar e concentrarem suas mãos os meios essenciais . mercadoria igual às demais, "trata-se, contudo, de mercadoriá
de produção? Se o trabalho empregado nos meios de produção especial; a única cujo uso consiste na criação de valor e mais-
fosse apenas dos empresários,"ilãl{ ~ist_iria necessidade de ex- valiá' (Gorender, 1986, p. XIX). Mas, mesmo entendendo que
propriação destes do controle'dõ;~abalhadores. Se a realidade
. o trabalho é.3 úniCa mercadoria que produz um valor superior
fosse essa, na verdade, os capii:il[tas estariam em má situação,
e, por isso, é urna mercadoria especial, se o capitalista paga ao
porque precisariam utilizar páhe'desuas riquezas na manuten-
trabalhador o valor referente à sua produção diária, como ele
ção .de suas máquinas e equipa~~titos e, como sua riqueza seria
obtém lucro? Mais uma vez: por que usurpar e concentrar os
advmda apenas de seu traba:lholndividual, o resultado da pro- meios essenciais de produção?
dução não daria para atender a tocl~s esses gastos. A usurpação
Acontece que,' no contrato de compra e venda da força de
2 trabalho regulado no modo de produção capitalista, não ocorre
Sobre isso, ver o capitulo XXIV - A a.sim chamada acumulaçtlo primitiva, encon.
troda no volume rI de O capital, de Marx, 1985b. uma relação entre iguais. O capitalista, para obter lucro e an-
22 gariar sua riqueza pessoal. precisa pagar por um valor inferior

2
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a tudo aquilo que foi produzido pelo trabalhador. Para isso, é A... \;}t .. de uma organização produtiva baseada na contraposição entre
necessário, antes de tudo, que o trabalhador produza para àlém classes sociais, uma vivendo às custas do excedente produzido
da quantidade necessária ao que recebe como salário, isto é, pro- pela outra e "a moderna socieda~e burguesa, que surgiu do de-
duza um ex(:edente de trabalho. não pago. Esse trabalho não clínio da sociedade feudal, não àboliu as contradições de classe,
pago pelo capitalista, ou excedente de produção, é "tão-somente [mas] apenas colocou novas classes, novas condições de opressão
um prolongamento do tempo de trabalho para além do ponto e novas formas de luta no lugar das antigas" (Marx; Engels, 1998,
em que ele se reproduziu ou, em outras palavras, produziu seus p.8). A novidade advindada revolução burguesa é que, com o
pr6prios meios de subsistência ou seu equivalente" (Braverman, capitalismo, surgiram duas grandes classes sociais que se locali-
1987, p. 58). .. zam em campos inimigos e que constantemente arregimentam
esforço para luta: a burguesia e o proletariado.
. É desse .tr~palho não pàgo ;'0
'trab:rlhad~r que P!ovép;. - ~.'.:
maioria .da riqueza do capitalista. -Mesmo que o capitalista par- .' Ao mesmo tempo em que simplificou a divisão social, ins-
ticipe do processo de trabalho £~também produza alguma mer- taurando essa dualidade estrutural entre as duas grandes classes
cadoria, ou até mesmo que, conforme exalta Coutinho (2008), em luta, a instauração do capitalismo fez com que as formas an-
seja o primeiro a entrar e o último a sair da empresa, esse valor teriores de mistificação fossem substitufdas por novas. Podemos
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i .

produzido individualmente é insignificante perante a quantida- destacar duas formas de mistificação que marcam a história do
de de riqueza expropriada dos seus empregados. Como obser- capitalismo e ainda permanecem hegemônicas hoje em dia: a
vamos na apresentação deste livro, a qualidade que determina a louvação do capitalista e do mercado. Desde que a classe capita-
funçãà social do capitalista não éa quantidade de tempo pessoal lista conquistou o poder econômico e controlou o poder pôlítico,
,. empregado na produção ou as atitudes e os comportamentos précisou de artifícios ideológicos para fazer com que a maioria
.diários, mas a localização no processo produtivo como detentor das pessoas aceitasse essa dominação.
; .
da posse da produção e expropriador da riqueza produzida pe- Nesse sentido, erií. primeiro lugar, foi disseminada a
'i'
los trabalhadores. .
id~ologia de que os capitalistas representariam um pequeno
.. Éfatoont~16gico do modo de pr()dução capitalista e, por gruEo de pessoas dotadas de uma certa superioridade e, por
isso, inquestionável que a classe capitalista se apropria de par- isso,- poderiam ter ~~~ntrole da inã10rla clã riqueza e -do 'poder.
te da riqueza produzida pela classe trabalhadora. Essa parte Utilizando~se de uma das entidades mais representativas e in- .
apropriada pela classe capitalista,' dependendo do caso, pode ser fluentes da era feudal, a classe capitalista financiou a Igreja para
. maior ou menor, mas'isso não anula:'a existência da expropriação que esta, a partir de suas doutrinas sociais, disseminasse uma
do resultado da produção dós trabalhadores. Por se estruturar a visão de mundo que conduzisse as pessoas para o domínio dos
partir dessa contradiç.ão social, existe dentro do capitalismo uma exploradores. A mensagem apresentada pelas Doutrinas Sociais
oposição entre classes sociais: de um lado, os capitalistas bus- da Igreja Católica era proclamar.
cando cada vez mais 'se apoderar da riqueza dos trabalhadores
a superioridade natural de uma pequena elite. os magnatas da indús-
e, de outro, os integrantes da class'e dos trabalhadores que, para
tria e das finanças, para a qual atribula a funçáo de zelar. paternalis-
sobreviver, precisam se deixar ser explorados pelos capitalistas.
ricamente, pelo bem-estar das massaSi [dessa forma) modificações
A div~são da sociedade em clas~es sociais antagônicas não é econômicas nas duas últimas décadas do século XIX e nas três pri~
novidade trazida pela vigência do modo. de produção capitalista, . meiras do século XX converteràm o homem de neg6cios bem-suce-
mas é nesse sistema que encontra seu.maior desenvol~imento. dido no tipo social mais admirado. (Hunt; Sherman, 1985, p. 128)
Nas sociedades anteriores; também foi fato comum a existência
. .'

24
o êxito dessa ideologia se baseava na conjectura Q.eque Como elucida Marx (1985b, p.106),"a jornada de trabalho
existiria "uma prova irrevogável" de que os capitalistas possuíam
está; desde o principio, dividida em duas partes: trabalho neces-
"virtudes superiores às do homem c.omum';' encarnando a "cres-
sário é mais-trabalho; :i primeira referente ao que o trabalhador
cente concentração industrial como o produto de superioridade
r~c~be' como salário ea segunda que é apropriada pelo capita-
biológica dos empresários que se ~'obressaíam nesse processo"
(p.129). .. '!: lista sem nenhum' ônus; A fonte de riqueza dos capitalistas se
encontra justamente nessa segunda parte e é dela que se retira o
Outro destaque é que, se, nas sociedades anteriores, a lucro da empresa; por isso, quanto maior sua quantidade, maior
religião imperava sobre o c0tl~port;.amento humano, elegendo será (}lucro. A diferença entre a quantidade total produzida pelo
causas metafís~cas para os propl~mfs sociais; .110 capitalismo., ,o,. trabalhador e a parte; que lhe foi paga pelo capitalista consti-
mercado é fantasiado como um .ente provedor 'de iguáidade: dê:. .. . tui a mais-valia e repre.senta a finalidade para qualquer empresa
! um lad9, o vendedor da força de trabalho e, de outro, o compra- cápitalista:
i
=; dor. da força de trabalho, ambõs pl?rt~ndo as mesmas condições
,.
"I de alcançar sucesso. 9.s ide~I~89.~ .do .capitalismo, para legiti- Esse valor p~o~uzido pelo trabalhador durante o tempo de traba-
.,:,} . mar esse modo de produção,. tiveFarj1 a necessidade imperiosa lho excedente éa chamada mais-valia. objetivo último do processo
;
; . de p;"'dução capitalista. Sua apropriação pelo capitalista constitui a
de esconder a co'ntradição social, de.:que uns se apropriam do
. fo~a pela qu'al se dá a exploração do trabalho em nossa sociedade.
trabalho de outros e disseminaram várias mistificações3• Entre
Emb~ra pagando ojusto valor da força de trabalho, o capitalis9:,não
'! I ..
elas, destaca-se a fantasia de que ()'sâlário pago ao trabalhador
.remunera todo o trabalho realizado pelo trabalhador, mas apénas.
se refere ao valor total por ele produzido e que, assim, nenhuma . ..... : ) .; úiTiãi parte, aquela;nttessária para produzir o valor de sua forç~ de
das partes sairia perdendo. O que acontece é que: .... :trabalho. (Paro, 1988, p. 43, grifo do original)
: "i;:
Ao contrário da aparência suscitada pdó funcionamenro do regime
.j:{! capiralista, e que adquire a consistência de dogma ideológico tanto
" "-,-'~~ -.' . A:sii~, 'difer~~temente da lenda difundida pelos ideólo-
; !'
.1
para os patrões quanto para os operários, o que o salário paga não é o ':c.;,~';::;~'::',:.~.
' :-~~s.,4l?-;.~api~iismodC;Jlue ~ mercado representa um espaço de
',!', valor do trab:rfh:o,lhas õ"vã1õrdi força (Jé trabalho. o val~; da força ..,.'(f:'-~' democr:rcia. no qual oempresario e o empregado possuem as
'1, de trabalho se determina c~.mo'o d.as demais mercadorias, ou seja, mesmas condições de negociação, percebemos que nesse campo
::I. pelo tempo de trabalho socÍalmente 'necessário para a sua produção. não existe equilíbrio e.que a balança do poder pende muito mais
Ora, a produção da força'de tiiàbálho se dá mediante o coryunto de para o lado dos capitalistas. Retomando o que analisamos ante-
bens que o operário precisaconsurilir a lim de restabelecer, a cada :'.,1
.,rio ririente, agora podemos perceber porque ocorreu o processo
dia, suas aptidões Hsicase intelecníais e ainda sustentar sua faml1ia,
. de üsu~pação e cohceritração dos meios' essenciais de produção
que inclui uma fração da fUturil ge~ção de operários. Contratado
..pabi :a:vigência do capitalismo. A -exclusividade da posse dos
pelo capitalista para trabalhar detetminado número de horas por dia,
Jll~i~s es~enéiais de produção nas mãos dos capitalistas tem dois
o operário reproduz, numa pat:te da jornada, o valor da sua força de
trabalho, valor que o patrão lhe retribui sob forma de salário. Mas sent:id~s p~~çisos:.p~imeiro, tornar o trabalhador proprietário
o restante da jornada consrit~li tr~balho excedente sem retribuição, ~p~~as'de ~ua força' d.e trabalho e, segundo, torná-lo dependen-
criador de sobrevalor ou mais-valia, da qual o patrão se apropria. te das i1ll,posições ci~s'capitalistas. Será por meio dessas duas
(Gorender, 1986, p. XIX) '. . qualidades que, conforme explica Marx (1985a), o capitalista
emprega uma determinada quantidade de dinheiro (D), para
produzir mercadorias (M), que resultarão num valor superior
3
É importanteressaltarque os primeirosteóri~osburguesesde grande enverga- ao que foi et.npregad~ (D'). A diferença entre D e O' é a base
dura. comoAda'RSmíth e DavidRicardo.mesmo advogandoa eternidadedo para o lucro do capitalista.
c:tpiralismo, dtdicaraln~sc a uma :lnálisc importante de seus fundamentos, como
foi de<tacadopor Marx.
26
2'
-';,\ I ~!q:
.k
"."'¥"::;II' ti:ol~.'::!o; ~~~o cI.~"foçHdeotrabalho pelo capitalista ~ara produzir 1.1 Exploração do trabalho e gestão capitalista
,. mercca.()ol;,l~~.
~~m:lli;ii_Qr'y~.loré,com isso, alcançar lucrativida~
oli:iI . de é~.pla~:ifor~a::q\,l~cesJruçura qualquer empresa e, para sua Antes de expormos os' princípios da gestão capitalista, faz-s~ ne-
'\ ;'j vigência, é importai'lte que o trabalhador seja desprovido dos cessária :i destruição de outro mito pl'esenre no senso comum da
. .-1 ~i .ineios.de:prodqçã,oe,que precise vender sua força de trabalho ao sociedade capitalista: a redução de trabalho a emprego. Nesse
".. _~': ....,.. c:lpitalistapa~~p.Qdersobreviver.A relação de compra e venda sentido, é preciso explicar que, apesar das determinações sociais
... I iclafo.tçà'q~;.t~R;Uhonãot~mi.poitanto, nenhum ingrediente de produzidas pelo módo de produção capitalista que transformam

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'.I:~'it~~~;~;;~~.:~:~ca::~,::;;:,:
"Ii j.',. 'afi~~. - -"
;",A'trh;ii~d{'~~.;.t:~~:<Í-a . ...
o trabalho numa mercadoria como qualquer outra disponível no
mercado, o trabalho representa não ape~as a base da economia,
mas da história humana.
. '. . ...~.::: ... c..c~L.-'I ...:..
o'.~ ••.•. : ••• o'

: "''.;''.1\1 ::.p,tt; .. a, seja ele portador de valo~ Podemos dirzetque o. trabalho é a base para a construção
~ :.•,":.Il.:.~::.~." . .res~tr~í;~~~~pii ií~o~:é~:a;lc:a~fedo lucro e, para tanto, precisa da história humana por duas causas centrais: porque é através

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da transformação çla natureza que se produzem as condições
materiais para a sobrevivência da humanidade e que, é por meio

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dessa mediação entre homem e natureza via trabalho, que a hu-
manidade promove, em primeiro grau, suas qualidades subj etivas .
Não se trata de afirmar que é somente o trabalho que cadencia
as qualidades subjetivas das pessoas e que outros complexos so-
"':;:~:':.?I,"f{.:•..:;}'~.;:L:ú.::;t:}(~~1t{Mg~:~'t~~l~lt~jt~E~~~~I:~f:~:ot::al;;::~~:~. e
Ciais como a linguagem a cultura não têm importância. Apenas
'. "1:: . ..o~fi.~~;~,!~.~j~i~~s~9$:~apit~li!)£as, visto que, para manterlse . afirmamos q:ue o trabalho representa a base primeira que pos~
.', .' '"0 o ...:no:rnere~~(), ele.preclsatncrementar a produtividade e a lucrati- sibilità todo o desenv.olvimento da humanidade e que, sem essa
"j '. . ..:v,i~~~~.g£l~j;td~.nal~ªQ .~jpprtanto, um instrumento controlado de , ... . atividade, a vida húfilana não seria possível.

<,~";\t:,Ç';;;:;"i.'i~;is~;~;~;;;;.
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'.', .. ..t!},q..~~~l.¥c..}y-!,g
...! 1l!~ r~prese~t~J1ma força social que impera
O trabalho é ~.êlemento c~ntral que indica a di!)tinção ime-
.diata d~~--;':~h~~à~~~a~~~utr~; anim;is, um~ vez que congrega
a capacidade exclusiva d.e poder projetar mentalmente várias
possibilidades daquilo que pretende produzir, antes mesmo de
iniciar o processo de produção. Por isso, o ser humano é o único
ép¥àpt61oi1ga:lói!i:ediiz~~ó;;üáhalho necessário por meio de animal que tem teleologia, ou seja, tem capacidade de antecipar
':,;: ...
~:~U:i~:p~:~
..Z~~1~:'~~!!~~Q~:{~~V~1~tio~.s~:::t~
liSt~:~xpl~'t~('q1:taba1l.iª!t<:Ír;t:U~or' ~erá seu lucro. Esse é o su-
mentalmente o resultado da' sua produção. Como consta na fa-
mosa passagem de Marx (1985a, p. 149~150),é a capaciqade
teleológica que faz do pior dos arquitetos um ser exponencial~
.po'~feFrà'O'Slíigi~~n~Q'ili':géstãodpitalista, e foi na busca por mente superior a uma abelha, visto qúe apenas aquele consegue
o
rri::iio,res q~aiit1d.~de~:"4~'lü,çroque capi~alista incrementou as imaginar o resultado futuro de sua atividade:
forirt;asde ge'stãóe-c:)rg~iiizãção -do trabalho, a ponto de promo~
verll.llla:yé~dadeira transformação nos métodos anteriormente Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha
erripregá.4os. Surgiu,'às~ini, a gestão capitalista. enve~gonha mais de um arquiteto humano com a construção dos
~. .. -. . . .... ..'
favos e das colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior dos
arquitetos da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua ca-
beça. antes de construl.lo em cera. No fim do processo de trabalho

28
..,
I:
I."...1.'1r
: obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imagina-
someilte a prinCipal mediação. da transfarmaçãa da natureza pela
i ção do trabalhador, e portanto' idealmente. Ele não apenas eferua
uma transformação da forma da materia natural; realiza, ao mesmo
trabalha, mas também úm praduta dessa dinâmica.
,.
I
tempo, na matéria natural seuobjetivo, que ele sabe que determina, Dessa farma, a trabalha'nãa é apenas a elemento. que pas-
como lei, a espécie e o modo de so.a atividade e ao qual tem que sibilita ao. hemem transferir sua história para a natureza, mas,
subordinar sua vontade. .
de forma inversa, é par meia da sua mediação. cam a natureza
que suas habilidades são. dinamicamente pracessadas, mudando.
. Devida a essa qualidade imanénte, diferentemente das também sua «)[lua de agir e pensar. É par meio da trabalha que
autros animais, a ser humano., tem a capacidade de parcéIar e acerre, de farma primária, a canstruçãa da história, as mudan~.
s.eparar suas atividades produtiv3.$. 'fenda a possibilidade:i1~ .de,!,- ças materiais e saci ais, vista que "e primeira ata histórica desses
sen~a~ mentàlmente o p~ejetoant~ d~ e;ecufáAa, fa~.parte das:. indivíduas, através de qual se distinguem dos animais, não. é 9
qualidades humanas ampliar _e,ssac~pacidade para e canjunta fato. de pensarem, mas sim e de praduzirem as seus meio.s de
da humanidade. Assim, e precesse de trabalho pade, ao. mesma ~..
existênciá~.<Marxj Engels, 1973, p. 18, grifa deoriginal) •.
tempo., ser imaginada p.er uma'pessoa, e realizada por autra. O
Nesse sentido., pademas afirmar que, se a trabalho é a bàse
trabalha entendida par essas quáii<lades é um elemento. exclusi-
va da humanidade e, por meia dele, não apenas se praduzem as
t. ... para a canstruçãe da história da ser humana, a maneira cancreta
carne este se ativa praduz efeitos diretas na compartamenta hu-
can~~ções materiais, mas a desenvelvimente de capacidades e
mano. Se a trabalho acantece de maneira a efetivar plenamente
habilIdades de teda a socieda~t:.piferentemente des defenso-
~a~paci.~a~~~~1~aI6gi.~~..da ser ~!1mane, ecerrende uma relação
res da capitalismo., que apregaam.uma candiçãa individual inata,
'-:-":::.~'::-- de r~dptõ~ldalJe' entre a sujeite que trabalha e e ebjeta que é
tada esse pracesso acantece cam ~ase rt'as relações saciais.
esse'
. .. - '. . . tr.'l?~formado; pracessa repercute num; relação ck~
Par ser a única animal a ter capacidade de imaginar a ' .... - tÍJ:açãa.çlo ser humana, au seja, e agente do trabalha recanh;ece
resultada da trabalha antes de iniciá-lO, apenas a ser humana . :....- ..:~~:... ".?:,. a .objeto çla.seu ,trabalhe e retira dele as lições que servirão. para
cansegue ramper cam as ditames.bialQgicas e preduzir navas ". :(
, ,... - '~:':'C.,,:.t é.,'j~;:-:;.apri!nQ!ªr ...m~s,ap.acid.a.d&.s.~ habili4.~4.es. Per autra lado., se.
£-tllldiçães e usas danamreza~'Em uma.pãlavra; é a única capaz exÍste uma separação. enJ~ 9.~1Jj.~it~Úlit_~ ..E~balha e o Q~i~~.~ue
de transfarmar a natureza. Enquanto. as'autros animais utilizam ~a~J~nsfQ.r.mad9i a tal penta d:l:qt.It:!~.!li~ ..!.ecenhecer.~~e.çal1l~.
.a natureza da forma cama ela se apresenta, não. alterando. sua abjet9..~e~~.\,1.trªb-ª"lho,então. o pracessa nã-;;Ta~ ~o~plementa-
canfarmaçãa e apenas repraduzindó suas condições naturais, a cidade, m:j.$<lt?enf~~ntamellta,ou $ej:l~.d.~-ª.ii~~ã~:' -
ser humana pramave passibilidades'inauditas. Basta pensarmas
A diferença entre essas duas passibilidades resultantes da
na rada para exemplificarmasacâpacidade transfarmadara da
ser humana. . pracessa de trabalha - de exteriarização eu de alienação. - se en-
cantra na farma pela qual se arganiza a praduçãa sacial. Se uma
A efetivação. da teleolegia'tem par.'base a trabalha em seu saciedade ,se arganiza a partir de um modela de reCipracidade
dupla pracessa de mediação. cetn,a'patureza: de um lado., a ser entre sujei~e e objeta de trabalha, a tendência é a existência da
humana transfarma a natureza e famenta navas usas e farmas aas exteriarização; se farem geradas obstáculas saciais que impedem
materiais naturais, de outra, as habilidades e as capacidades hu- essa relação. reçípraca entre sujeito e abjeto. da trabalha, a penta
manas são. testadas par meia da t'rá6ãlhõ e, cam isso.,gera-se um de as dais aparecerem não. apenas came diferentes, mas coma
precessa de aprendizado. e aperfeiçoamento.. Em síntese, se a ser apastas, pramave-se a alienação.. A segunda realidade marca
humana transfarma a natureza par mei~ da trabalha, a própria as diversas saciedades divididas entre classes saciais, enquanto.
ser humana é também transfarmada na pracessa de trabalha. Par a primeira só é passível de existir em saciedades emancipadas,
isso.que, confarme estudau Engels (l980'c), a mão. humana não. é sem existência de classes saciais.

30
3'
....\I!!:!j'
,,1j'
liiiV Sendo o modo de produção capitalista estruturado pela o máximo aproveitamento da força de trabalho, com o ob-
.'. 'jii'!!il!II"gJ~~,9£~i!:Ç~0.;t;:i).~r.e:pr()dl!~(),Úºbjeto produzido, em que o resul- jetivo de produzir taxas sempre mais elevadas de lucro represen-
. '.' "i,(
!Hn; . . '- ..' ~tâdõ 4êhr~bâlh<i iiio l)eJ:tc'née aÓ trabalhador, visto que é apro-
I
.".....li~!'
I,,,i,i ',' ;prià,ª,~ p~h:~~ç'apitali~t?,adetel;iriinação é que nos processos de
ta, portamo, o mote de desenvolvimento da gestão capitalista:

.:},~r)~~f~~li}El!~~:~É~~~~~~:Fi~;~ ~.. .....


"
o capitalista, porém. lidando com o trabalho assalariado. que repre-
.i

.....:f:;
senta um custo para toda hora não produtiva, numa seq~~~c:!.~.?_~ ..
::
tecnoLogia rapidamente revolucionadora. para a qual seus próprios
esforços necessariamente contribuíram. e espicaçado pela necessida-
. de de exibir um excedente e acumular capital. ensejou uma arte in-
. ~';i.;'.. .,~:'.:.~;;;.'.~;.:;~Jd,St~;~p.~lJai.il~
s~ntido. 40 ,~~ab.alho,mas
que, dependendo da .
. '..4:.,:;' "-::? ,-;-",~,: ~ê"~fêrm~""cóirí:o}~"pradêacI9;;põaeãpi:ésentar quàlidades postrlvás. ..... '.
teiramente nova de administrar.
nifestaçóes era muito menos completa,
que mesmo em suas' primitivas
autoconsciente, esmerada
ma-
e
..
calculista do que qualquer coisa anterior. (Braverman.1987, p. 66)

~ Nos primórdios do capitalismo (final do século XVII e iní-


! cio do XVIII), ainda não existiam formas avançadas de gestão e
l';>;-
<
organização do trabalho, e o maior exemplo dessa limitação era
o fato de que eram os próprios capitalistas que executavam essas
.funções. visto que eram os proprietários 'Has empresas. Ainda
inexistia,- portanto, uma separação entre '~:;posse e a gerência da
emprésa. A geStão capitalista tem início dpartir de processos de
encomendas, nas quais os "empresários" c~~tratam trabalhadores
" para produzir auti:momamentemercado,rias que depois seriam
compradas e revendidaS. Nesse context~ histórico, a: configu~a-
";i", " ~" .• ~.~c~~~!!1,c:nto~ lller(): ~l1lpred$ar remunerar nenhum trabalha- ção do empresário possúia uma carga d~,determinaçóes bem 111.-
ferior aos m()I!!e!1to.sposterio.rese~ uti!Jzaç~o desse ter~o p~e ...
,
(. cis~s~r vista de forma bem mais restri~il. A empresa tem aqui
Um sentido mais figurado, posto que não repre~enta um espaço
fechado cheio de trabalhadores, mas ape,nas uma relação contra-
tual de compra e venda. O papel dos capitalistas era quase o de
intermediário entre os trabalhadores e .0 mercado, comprando
mercadorias por u~ preço mais baixo e revendendo-as por um
preço mais elevado. A divisão de trabalho apresentava-se exclu-
sivamente na separação entre produção e venda dos produtos, a
partir do desenvolvimento dos primeiros comerciantes •

.. -- ._~.
'-':'".-'

,:.i(' 'j3~sãp~s;1?iÍi~ade apàrec'en~ 'div~rSaJlformas de apical bancário olllinanceiro,


.. ':... ".)() qual ().~~-!,!f~l!s.taaIq:nÇ2 (;hicroa patór do aluguel do seu dinheiro. sem preei-
'.~'; .- •.....,;,..; ..silremp~~ga~:direc3ltl"!1tt'iitrthuiri trâ.balhãdor. No encanco. da mesma forma que
,'-;''', .:'.. ...d!~!le.i!iü1li!ibeo.t":em- jiejjhuma ,írvor'-; ci.IlIcrodesses capital iscas cem a mesma
. .. . fonte d~ ~~~I"J.~~r.llIcro:.
a mais-v~ia produzida pelo crabalhador n. empresa:
32

. .'.:
Nesse momento, os capi~alistas controlavam o destino das
mercadorias, mas os trabalhaaores possufam o controle .soqre o
processo de trabalhos. Sendo,ps responsáveis diretos por todo
o processo de produção e est~ndo a divisão do trabalhoppuco
desenvolvida, os trabalhadoreS precisavam conhecere do~.inar
todo o ciclo de trabalho: ~

Cada trabalhador devia es;ar apto a executar todo u~ ciclo. de tra-


balho; devia poder fa%er t"o o que podia ser feito co.m os se~s ins-
trume~tosj as trocas restri~s.! as !>Óilcas lig;rçpes exis.tentes ~~te:.a~ o .00 o
"B
diversas j;idades, a raridade 'ao. população e o t'ipo de necessida,!le n~d' o ' •• ~
favoreciam. uma divisão de'itrabalho desenvolvida, e é ;or isso qu~- ~
quem desejava tomar-se d:\&,stredeveria conhecer a sua profissão a i
.1: .....
fundo. (Marx; Engels, 1973, p. 65) ~. . ",

1-
o ,:,'

Depois do burguês como)primeirogestor cap-italista~ surge


a figura do subcontratador, qUl\Passa aoocupar a função de inter-
mediário entre os empresários e
os produtores diretos; repassan- *":.',
do as indicações e.os materiais Jos c;tpitalistas aos trabalhadores:
"no caso, o capitalista distribufaOs materiais na bas.e deernpreita- .~
. \

da aos trabalhadores, para ma~ufatura em suas casasrpor meio .', :':'1


brandopafà'Ós $Uoêontratadores nãp ape.rl¥ a r::esponsabilida4e .
de subcontratadores e agentes. de-cotnjssão" (Bravermal,)., 1987,
p. 62-63). O subcontratador era dotado de um dlÚ,h, p;pel a
sobre 0.Pt:9~t~s~'4~~p~~thi.t~~~~m<lit~'m9~mp~~q;t~~E9N~iJrp;cl~~:: ;~::5-
perda, caso. nã~ sé realize a venda das mercadorias p~odilzidas; . :.
ser exercido: ao m~mo t~m..E.Q.-~'!!9.u;.e-.~!"açmpt:egadPre,Qrgapi-
zador de trabalhadores, tambc%n.era .~m empregado que J:epro-
duzia os interesses dos capital~~as. A grande diferença para os
gestores capitalistas posteriore/é que, naquele mOmento, tãnto
os subcontratadores como os t~abalhadores possuíam uma: mar-
gem de manobra bem superiót4~,oat~ndendo às qualificações da
.i.
encomenda do capitalista, pod~~iam decidir a organizaçiío, afor-: l
ma e a jornada de trabaUlO. ~.. _... . .- _. ".
}
~ "-" ....
5 é visível uma analogia entre essa (;:100. embri~nária de gestão capic~listo._e os
processos de terceirização aprofiJOdaabs a partir da reestruturação produtiva. No
entanto. como veremos mais i frentOoi'pesar de serem confOrmações semelhantes.
as causas são distintas: enquanto no$rimeiro caso as encomendas eram fruto de
limitações do desenvolvimento tecnológico (seja de máquinas ou de conhecimen- habilidjtd~~~~p~~idaAes .~~a pr6pri<{~1J;~jetixi~~~,,~? ~!?:P~~a.~_
to) e o capitalista começava a contro1ar a produção. no segundo caso, o.corré. o dor. O ;m~~º :<l~sj;:-Íjnaex~oeque' oc()ntiplesob~" ?pri>c:e$so ..
contrário, ou seja. o controle total doiCcapitalistas sobre o processo de trabalho fi-
do tra~alhci-roiexpropriad~ do s'étiHÍgar de 'órigefu,aa~:l!íios :.
nancia um elevado desenvolvimento tecnol6gico que gera uma produtividade tão
grande que os mercados ficam satura"4õs de mercadorias e obrigam as empresas a dos pr?duto'reS, sendo .transferido para os capitalis'tas~e~seus .
diminuir a produção e d«membr:!r S~IIS riscos de perdas. represeptantes;

;/\
.,
Coma vimas, na início da capitalismo., a explaração. do o primeiro efeito de tal mudança era impor aos traba1h~dores horas
'.i:i!~ trabalho não se dava de farma direta, mas de maneira indireta, ••. 0:"
Ú. .regulares de trabalho, em contraste com o ritmo aU~lmposto que
•.,I!i!:d~. po.rque, para vender~ as trabalhadares precisavam passar pelas . incluía muitas interrupções, meio-expedientes e fenac:los, e em ge-
raI impedia'a extensão da jornada de trabalho para fins de produ>:ir
-.' 'I,,!l!~' camerciantes e, assim, eles poderiam se aprapriar de uma quan~
um excedente nas condições técnicas então existentes. (Braverman •
.'.;. .ll:~~::." tidadedo ~~edente de praduçãa. O co.ntro.leso.bre a pracesso. de
1987, p, 6())
. . . '111 trabálho se en~oiltrava nas
mãos dos trabalhadares. Isso acante~
.':'11:it~:;,.. . . . .
cia porque ferr:iril~fitas, máquinas e outres meios de predução se
' .. \;:~',{'."~~- ~I:ll:óntravam;dtif:tnt:e esse período histórico, ainda sob a. pader "t -i~~\~~
.. As primeiras jarnadas de trabalhes. er~m não ap.enas de~
: hhli,:;. '.' daspri:ldutore~ Jiretos. Essa situaç~o c~me£a,u a mudar ~jãrtir ~t}(:":'" . termin"adas de fQrma fixa e regular, sendo. lmpelitas mdepen~

t;~
, ... ij'.~:!!:~( ,:. . '. . ,"ªo..~o.~ent? em qii~s~rgein as ,empresas, nã.? .apenas como 'omá dentemente da vontade dos trabalhadores, mas abrangiam uma
'li~~i:::.", . '.rélàç~ôcontraf~al eriti.e trábalhadares e subcentrataâores, e en:. quantidade de tempo extremamente elevada. ~~m e abjetiva de
.'.!~~t!i:\.: .~.~.;.::~::. ; tre estes e hS.priihiir'q'(cômer~iantes, mas carne um espaço flsice gerar grandes níveis de produtividade e lucratlvlda~e, a le~a .das
capitalistas eraCe ;linda permanece sendo) apreveltar a maxlma
. ~'Iell!':'" ': ,cc' --o " 'qtie"agrUpavâ"il:l~et:narneritêvaties trabalhadares sob a comando

l~"
.. , l,i:J . . .. ;; '.. I. ..os:c,'.a'p:itá1i."
'di.r.e t.o'd ..s.o.í:as
~..•~"e:us
..re.p~esentantes, cama os fiscais e es da energia flsica e mental das trabalhaderes, e coma nesse ma'
' .. :", IL'I:,.i,::.'L' , .', .'.~'. ~~:., '0'0::0 : mento inexistiam organizações pelíticas e econômicas de defesa
.. n ,..' .llupervisôrés> '. ..
dos direitos trabalhistas, assim cama uma legislação.'de cantrata
. ~]Ii;;!;:':",: .0. '. .. '., A:primeiramedida adatada nessa nava forma de gestão. da
de compra e vendà da ferça de trabalho que determinasse limites
: ...'Q:iiF ' ',tr~balhQJaiateuri.iãodoúrabalhadores num mesmo. espaça de
t:,:\::" mínimas de des~ánso, as jarnadas de trabalho levavam ao. esga~
:. l' ~:ilr ':pió4~ção;Néqid:i. v.ã:ht4gein .proporcionada pela praximidade
"1}~,'I'l.idõs pioduto~es,$minuindo os custas advindos da distância
t~f-r~;
... :.
tainente total dÓs trabalhadares. Facilmente, ultrapassavam 16
heras diárias d~ "trab~lho. au' 80 haras semanais. Se dependesse
, .
.•I e~tre eies ~as. c:!,pitalis,tas, essa medida também preparcionau r. ap~n~s da VÔl1~iªé~d~s.capitalistas, dificilmente, essa realidad~
;\!t;i~~':1 .'
Lp-ma fisc3Iizaçã~ mâior sobre a pracesso de pradução, evitando . - ..1.;.
seria alteráda é, 'àssin:i., às jarnadas de trabalho so feram redUZI'
;il:I~I:.,.,. , problemas sérios de qualidade nas mercadorias. Mas e princi, f;" das a partir d6;~i:l~énta e~ que os trabalhadores se uniram e
.,t,.I"I!.';. ., :, pa.1 b'enenclQ
n. .d'.es.sa o~gan.lzação d o. tra b a Ih o para o. capita
' I'lsta
,'-- '.:II;j~,:' ~:

.. {~.'
cemeçaram a e~igir"mudanças.
.. _.1 I • ':": ... ;JQLm. es.mo.....
a..am.p'li:u:-áa da.pr-odu.tividadee, consequeritemente,
.' ~iWrf :
jAo)uÇ!C?.A.ssitil,,~ ~;uparriente dos trabalhadores sab a mesmo t.,. Para s~- i;e; ~~~~~i~ não. apenas essa lo.nga jarnada de
'~;I!jl~t. ::o:. ;~~ta, c6J,lsribstancianda .~ mocielo básico das empresas capitalis- l
.f.
trabalha, mas.'todos os interesses das capitalistas cantrários à
. • l:I:::i};: . iras, P~~S()i1a's~r á4etade e, ein:pouco tempo., repre~entau a far- vontade dos tt:abalhacleres, a gestão. começou a adatar atitu~
:T'II ...) ma hegemônicadegestão.e órganizaçãe da preduçãa.
f des brutais e até cam tons elevados de crueldade, cama a usa
i:. recorrente doaçoi~e. É por isso que as primeiras empresas, ~a
'Com vistas~tima maior lucratividade, as capitalistas pas- prática diária exIstente em seu interior, assemelhavam~se ~,als
Lsar;íinai~\;esdrditifb""~ásair~tas
;." -.,: . . '. . de damÍnia sabre as traba~ a campos de co'nêentração, campes de trabalho forçada, prrso.es
.... ,lhadores, e à primeira delas foi o controle sobre a jarnada de tra-
e' reformatórios'. Não obstante, se apreendermos a empresa em
:. ; balho. Nada rri,aisêle <lebçara decisão. sebre a tempo. de trabalho seu sentido. literal, estruturada pela o.pasição de interesses en~
. a c~rgo do trabathad6r~ . pais. a determinação.' era que esse poder tre trabalhadores e capitalistas, e que esses, por terem a passe
..seria coritroladapelos càpitalistas e seus representantes, camo
dos meios de produção, impõem as regras a serem cumpridas,
; es gesteres' e ós supervisores. Acabau, partanto, a composição
toda empresa expressa' uma analogia a um campo ~e t~abalho
autônoma da tempo. de pradução. pelo trabalhado.r, tornande~se forçado ou prisão. A diferença é que, no início da c~pl~alIsmo, as
. imperativo uni ritmo de trabalha bem mais fixa:
ferramentas usadas para impar a vontade dos capItalIstas sobre
os trabalhadores eram, ao mesmo tempo, mais brutais e menas
disfarçadas.
36

..•...

A definição de gestão se constituiu, justamente, a partir
nação. O adestramento do trabalhador é sinônimodocontrolé','
dessas determinações: .
do processo de trabalho e a medida de sucesso .qeijs~s elem~~t~~~~~;_._
o verbo to manage (administrar, gerenciar) vem de malJus, do latini,
determina a eficácia da gestão capitalista. _ -_- '. _.. '.:. ,,:- _
que significa8mão~Antigamente significava adestrar um cavalo nas A gestão capit;Ú.ista, portanto, surgeç.om ulJ.la fu~çiºJ~E~f;:.,:--
suas andaduras, para fazê-lo praticar o manlge. Como um cavaleiro dsa: adestrar o trabalhador para que este se comporte nQe~p~çQ.•L.. -.
que utiliza rédeas, bridão, esporas, cenoura, chicoçee adestramentQ
de trabalho não de acordo com sua vontade, mas de acordo com""~_
desde o nascimento p~ra impor sua vontade ao animal, o capitalis-
a vontade do dono da empresa que ele integra. Na verdade; -as{ .
ta empenha-se, através da gerência'(management), ~m ,on'tro/ar. E o
formas de adestramento têm apenas o fundamento ri.o espaço~/\ .
controle é, de fato, o conceito fundamental de todos os s.istl;V1;sge"
renc~ais,COglO foi reconheciáà impllcita ou e~licitamente por í:ôao)' ':",:'
interno da empresá, mas, como veremos de forma mais :détà1há~t:'.
os teórié?s. da gerência. (Braverman, 1987, p. 68, grifo élõ.oCi8inal)" ' .. d•• nOS capítulos següintes, não respeitam essas fróntêira.s;':l?~rãt;~ __
se' manter no poder e conseguir perpetuara ampliaç~? :~~.s.~~;tL:
..
riqueza por meio da exploração do trabalh~ ¥~~~.o~a.~l,~¥.e/:*r}.~r;{, .
Várias técnicas e ferrame~t~s foram utilizadas ao longo
t~lista necessita adestrar o trabalhador não ápehas pâta ser s~rvil~,;':, '~.
dos anos pelos gestores para impor os interessesd~s c:apitalistas
na empresa, mas para se comportar de acordo é6irt osi!11l?.erildf:/.:: .
sobre os trabalhadotes, desde formas mais precárias e brutais
vos do apitaI em todos os ambientes que compQ~fr1 a_,~oci~4~~e;t~>
até maneiras mais sofisticadas c: disfarçadas de adestramento.
Os contornos variaram e variam com o tempo, m:~so conteúdo .,
capitalista. Para fazer valer esse status quo, as escolas -na siI~:>.
grande maioria - se-apresentam como u01a da.s eiltida4esmais~L' .,: ..
permanece o mesmo. Alguns gestores apelavam para técnicas . eficazes.. .. . .. " -
com maior grau de repressão, fazendo uso até de castigos ba-
seados em agressão flsica e mental, enquanto outros crÍticavam
'esses tratos e forjavam novos grilhões materiais ou subjetivos
de controle sobre os trabalhadores. Se os primeiros impunham
obediência por meio do temor e da rep'r~ssã(),. oll~~~uintes pas~ Atividades.. _
- .saram -a utiliza.r-formas que poderíamos chamar de mais discre-
tas e modernas, como eIucida um autor clássico da gestão: 1.- -o que dife:encia o escravismo e o servilismo do trabalho
empregado hegemonicamente a partir do século XIX?
Está entendido que todo chefe tem o poder de se fazer obedecer.
Mas a empresa estaria muito mal servida, se a obe(Uência não fosse 2. Explique a diferença entre trabalho necessárIo e trabalho
obtida senão pdo temor da repressão.Há outros meios de conseguir excedente,
obediência mais fértil em resultados, geradora de esforços espantA-
neos e de iniciativas refletidas. (Fayo~1970, p. 130)
3. Comente a seguinte afirma.ção: "O s.er hunlano é o único. _

Não obstante as mais diferentes formas e os' sentidos que


desenham sua aparência, a gestão capitalista se fundamenta
animal que tem teleologia, ou seja, que tem capacidade de
antecipar mentalmente o resultado da sua produção': r
!

no controle sobre o- trabalho alheio, e isso vale pára todas as 4. Em u!11ae01pr~a capitalista, o trabalhador é possuidor
experiências ao longo do tempo. Para controlar o trabalhador e do control~ sobre o processo de trabalho? Justifique sua .
.-:.:..,
fazê-lo produzir de acordo com metas, objetivos e desejos dos resposta.
"1...
capitalistas, foi despendido muito esforço mental para descobrir --f"
novas formas não somente de exploração, mas também de domi- 5. Qual a f~l1ção primordial da gestão capitalista?

38

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