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1 SUMÁRIO

1 SUMÁRIO 1

2 APRESENTAÇÃO 4

3 DEFINIÇÕES PRELIMINARES 5

3.1 DEFINIÇÕES E OBJETIVOS DA MECÂNICA DOS SOLOS 5


3.2 DEFINIÇÃO DE SOLOS 6
3.2.1 FASE SÓLIDA 7
3.2.2 FASE LÍQUIDA 7
3.2.3 FASE GASOSA 10
3.3 EMPREGO DO CONHECIMENTO DE SOLOS NA ENGENHARIA CIVIL 11
3.4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS 11
3.5 DEFINIÇÕES GERAIS 12

4 FORMAÇÃO DOS SOLOS, FORMA DAS PARTÍCULAS E ESTRUTURA 14

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 14
4.2 PROCESSO DE ALTERAÇÃO 15
4.3 FATORES QUE CONTROLAM OS PROCESSOS DE ALTERAÇÃO 18
4.3.1 ROCHA MÃE 18
4.3.2 CLIMA 18
4.3.3 TOPOGRAFIA 19
4.3.4 VEGETAÇÃO 19
4.3.5 TEMPO 19
4.3.6 PERFIL DO SOLO 19
4.4 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUANTO A ORIGEM 21
4.4.1 SOLOS RESIDUAIS 21
4.4.2 SOLOS SEDIMENTARES 22
4.4.3 SOLOS ORGÂNICOS 24
4.5 ALTERAÇÃO DOS SOLOS APÓS A SUA FORMAÇÃO 24
4.5.1 TENSÃO 25
4.5.2 TEMPO 25
4.5.3 ÁGUA 25
4.5.4 AMBIENTE 26
4.5.5 PERTURBAÇÃO 26
4.6 FORMA DAS PARTÍCULAS 27
4.7 ESTRUTURA DOS SOLOS 29
4.7.1 ESTRUTURA SIMPLES 29
4.7.2 ESTRUTURA ALVEOLAR 31
4.7.3 ESTRUTURA FLOCULADA 31
4.7.4 ESTRUTURAS COMPOSTAS 32
4.7.5 ESTRUTURA EM “CASTELO DE CARTAS” 34
4.7.6 ESTRUTURA DISPERSA 35
4.7.7 COMPOSIÇÃO DAS PARTÍCULAS 36

5 FASES CONSTITUINTES DO SOLO 38

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5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 38
5.2 RELAÇÃO DE FASES 39
5.2.1 RELAÇÃO ENTRE PESOS 40
5.2.2 RELAÇÃO ENTRE VOLUMES 40
5.2.3 RELAÇÃO ENTRE PESOS E VOLUMES 42
5.2.4 FÓRMULAS DE CORRELAÇÃO 44
5.3 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DOS ÍNDICES FÍSICOS 44
5.3.1 DETERMINAÇÃO DO PESO E VOLUME DE UMA AMOSTRA 44
5.3.2 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE (W) 45
5.3.3 DETERMINAÇÃO DO PESO ESPECÍFICO REAL DOS GRÃOS (S) 47
5.3.4 RETIRADA DE AMOSTRAS 48

6 GRANULOMETRIA DOS SOLOS 55

6.1 INTRODUÇÃO 55
6.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS BASEADOS EM CRITÉRIOS GRANULOMÉTRICOS 56
6.3 PROPRIEDADES QUE AUXILIAM NA IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS 58
6.3.1 TEXTURA 58
6.3.2 COMPACIDADE 61
6.3.3 FORMA DOS GRÃOS 62
6.4 USO DA GRANULOMETRIA 63

7 PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS 65

7.1 INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO 65


7.2 COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DAS ARGILAS 65
7.2.1 ARGILO-MINERAIS 66
7.2.2 ESTRUTURA DOS ARGILO-MINERAIS 66
7.3 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO 69
7.4 COESÃO 71
7.5 TIXOTROPIA 72
7.6 CONSISTÊNCIA DOS SOLOS 73
7.6.1 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA 73
7.7 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DOS LIMITES DE CONSISTÊNCIA 75
7.7.1 LIMITE DE LIQUIDEZ (LL) 75
7.7.2 LIMITE DE PLASTICIDADE 77
7.8 LIMITE DE CONTRAÇÃO (LC) 78
7.9 ÍNDICE DE PLASTICIDADE (IP) 78
7.10 ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA (IC) 79
7.11 ÍNDICE DE LIQUIDEZ (IL) 80
7.12 ATIVIDADE COLOIDAL (AC) 80
7.13 GRAU DE CONTRAÇÃO (C) 80
7.14 GRÁFICO DE PLASTICIDADE 81

8 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 82

8.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 82
8.2 SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 82
8.2.1 SOLOS GROSSOS 83
8.2.2 SOLOS FINOS 85
8.3 SISTEMA H.R.B. 89

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9 Bibliografia 92

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2 APRESENTAÇÃO

O presente volume intitulado “Notas de Aula de Solos I”, tem por objetivo reunir os
tópicos de maior relevância na área de mecânica dos solos, essenciais a formação do
Técnico Nível Médio em Estradas.

As informações à seguir relacionas constituem um apanhado geral das notas de


aula que me acompanham desde o período que cursei a Faculdade de Engenharia, bem
como um garimpo das informações atualmente disponibilizadas na internet.

A organização e estrutura atuais, são dinâmicas e sistematicamente são


atualizadas no processo de troca que constitui o elo Ensino x Aprendizagem.

No desenvolvimento deste documento estão organizadas informações acerca dos


seguintes assuntos:

 Definições preliminares;

 Formação dos solos, forma das partículas e estrutura;

 Fases constituintes dos solos;

 Granulometria dos solos;

 Plasticidade e consistência dos solos;

 Classificação de solos.

Professor Célio Antônio DAvilla

Agosto de 2008

“Nada deveria ser capaz de causar dano a qualquer pessoa, a não ser
ela mesma. Deveria ser impossível roubar uma pessoa. Afinal, o que
ela realmente possui é o que traz dentro de si; o que está fora não
deveria ter importância alguma”

Oscar Wilde

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3 DEFINIÇÕES PRELIMINARES

3.1 DEFINIÇÕES E OBJETIVOS DA MECÂNICA DOS SOLOS

A mecânica dos solos estuda as características físicas dos solos e as suas


propriedades mecânicas (equilíbrio e deformação) quando submetido a acréscimos ou
alívio de tensões.

O objetivo principal da mecânica dos solos é substituir por métodos científicos os


métodos empíricos aplicados no passado. Neste contexto, destaca-se que o grande
problema a resolver esta ligado a própria natureza do solo.

Problemas comuns que necessitam o conhecimento de Mecânica dos Solos:

 Recalque em fundações;

 Ruptura de taludes;

 Escolha de material para aterro ou barragem de terra;

 Percolação de água e rebaixamento do nível freático;

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3.2 DEFINIÇÃO DE SOLOS

De forma sistêmica solo é a camada mais superficial da crosta e é composto por


sais minerais dissolvidos na água intersticial e seres vivos e rochas em decomposição.

Apesar da grande heterogeneidade usualmente os solos agrupam-se em:

 O primeiro grupo é rico em húmus e detritos de origem orgânica. Esse


grupo constitui a camada fértil, propicia ao plantio;

 O segundo grupo constitui-se de sais minerais, composto por:

 Calcário que corresponde de 7% a 10% do grupo.

 Argilas e siltes que correspondem de 20% a 30% do grupo.

 Areia que corresponde de 60% a 70% do grupo.

 O terceiro grupo é o das rochas parcialmente decompostas.

 E o quarto grupo é o das rochas que estão começando a se decompor.


Denominadas de rocha mãe.

Sob o ponto de vista da engenharia, Solo é a denominação que se dá a todo


material de construção ou mineração da crosta terrestre escavável por meio de pá,
picareta, escavadeira, etc., sem necessidade de explosivos.

Conforme destacado anteriormente, os problemas estão ligados a natureza do solo


que de uma forma mais sucinta pode ser definido como: Material natural, não
concrecionado, resultante do intemperismo físico e químico das rochas e
constituído por 03 (três) fases, ou seja; sólida, líquida e gasosa.

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3.2.1 FASE SÓLIDA

Consiste dos grãos propriamente ditos, ou seja, as partículas sólidas que diferem-
se em relação ao tipo de solo analisado. Podem variar em formato, natureza ou
composição mineralógica. As diferenciações decorrem da sua origem de formação, onde
os agentes e a rocha mãe, irão caracterizar futuramente os grãos.

O conhecimento pleno da fase sólida, bem como as relações entre as diversas


fases constituintes é materializado mediante ensaios geotécnicos. Antecedendo à
efetivação do ensaio é necessário preparar previamente as amostras. As rotinas a serem
observadas nesta etapa constam do fluxograma apresentado à seguir:

Amostra

Secagem da
amostra ao ar

Almofariz

Repartidor de 1500g solos finos e 2000g


amostras de solos grossos

Pesagem

# 2,00mm # 0,42mm

> 2,00mm < 2,00mm > 0,42mm < 0,42mm

Granulometria Granulometria
Fração desprezada LL (70g)
Ø>2,00mm Ø<2,00mm (120g)

Densidade real
LP (50g)
(10g)

Umidade Fatores de
higroscópica(10g) contração (50g)

3.2.2 FASE LÍQUIDA

A água contida em uma porção de solo, por incrível que pareça, tem várias
denominações. Esta diferenciação decorre de como a água é encontrada ou influencia no
comportamento de uma massa em análise. A fase líquida pode estar expressa das
seguintes formas:

 Água livre ou Gravimétrica;

 Água Capilar;

 Água Higroscópica;

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 Água Adesiva;

 Água de Constituição.

3.2.2.1Água Livre ou Gravimétrica

Trata-se da água, que preenchidos todos os vazios de um maciço de solo, tem seu
comportamento regido pelas leis da hidráulica .É a água que circula livremente pelo solo,
po-dendo entrar ou sair .através dos poros. De forma genérica podemos assegurar que a
água livre é:

 A água que retiramos do solo nos poços, ou seja, é a água do lençol


freático;

 A água que circula sendo absorvida pela infiltração ou emergindo


através das nascentes;

 Denominação da água do lençol artesiano quando a água está sob


pressão.

3.2.2.2Água Capilar

Para se compreender como a água capilar é observada na massa de solo, torna-se


necessário observar o que acontece próximo ao NA em um poço que foi escavado. Pelas
paredes do poço, verifica-se que a água sobe acima do NA por efeito de capilaridade,
formando franjas de saturação capilar. A região totalmente saturada do solo, denomina-
se franja de saturação capilar total; no restante, a franja de saturação parcial. Nesta
região, a água que ocupa os poros ou interstícios do solo está sob pressão negativa, ou
seja, inferior à atmosférica.

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As franjas capilares têm uma importância primordial para os agrônomos, pois daí
as plantas retiram água e outras substâncias que necessitam. Para os engenheiros
geotécnicos, o maior interesse está no que acontece abaixo do NA, onde as pressões
intersticiais da água, ou poropressões ( u0 ), são positivas e calculadas pela expressão:

uo = Zw x W

 gw peso específico da água, tomado igual a 1,00 g/cm³

 Zw profundidade em relação ao NA (cm)

Os fenômenos capilares podem ser facilmente observados, quando colocamos face


a face duas placas de vidro e tentamos afastá-las. Neste caso, observaremos uma força
resistente denominada coesão. De forma análoga podemos afirmar que a água capilar
que apresenta pressões intersticiais negativas tendem à aproximar os grãos aumentando
a resistência dos solos.

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3.2.2.3Água Higroscópica

Trata-se daquela que é encontrada em um solo seco ao ar livre.

Assim sendo é função do grau de saturação momentânea da atmosfera (umidade


relativa do ar ) e da natureza Podemos evaporá-la totalmente em estufa, pelo efeito do
calor, a temperatura superior a 100 C.

Um mesmo solo poderá ter diferentes umidades higroscópicas ao longo das


estações do ano.

3.2.2.4Água Adesiva

Trata-se de um "filme" ou "película" de água que está fortemente ligada à


partícula sólida, envolvendo-a completamente.

Esta água só pode ser libertada em estufa, quando em temperaturas


elevadíssimas, isto é, normalmente acima de 5000 C.

A formação desta película é resultado da polarização das moléculas de água.


Caracteriza-se por apresentar propriedades diferentes da água comum, pois manifesta-
se no estado semi-sólido, devido a grande pressão eletrostática de adsorsão, cujo valor
estimado é em torno de 20.000 Kg/cm², possuindo espessura média aproximada de
0,005 mm

3.2.2.5Água de Constituição

A água de constituição pode ser apreciada a partir da análise da composição


molecular do solo. Ela faz parte da estrutura dos grãos. A sua remoção implica no
surgimento de material com características diferentes, alterados mineralogicamente.

3.2.3 FASE GASOSA

Consiste simplesmente de bolsões de ar ou vapor d'água, dispersos em uma


massa de solo.

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3.3 EMPREGO DO CONHECIMENTO DE SOLOS NA ENGENHARIA CIVIL

O solo, sob o ponto de vista da engenharia geotécnica, poderá ser utilizado tanto
em suas condições naturais quanto como material de construção. Em sua condição
natural, será usado como elemento de suporte de uma estrutura ou como a própria
estrutura, nem sempre sendo possível melhorar suas propriedades de uma forma
econômica.

Como material de construção poderá ser usado, principalmente, na construção de


aterros para finalidades as mais diversas, como sub-bases e bases de pavimentos sendo
nestes casos, possível dar ao solo as características necessárias e desejadas em cada
projeto (Nogueira, 1988). Na tabela a seguir estão indicados, resumidamente, alguns
aspectos de utilização do solo em sua condição natural e como material de construção.

3.4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA MECÂNICA DOS SOLOS

Os primeiros trabalhos sobre o comportamento dos solos datam do século XVII.


COULOMB, 1773, RANKINE, 1856 e DARCY 1856 publicaram importantes trabalho sobre o
comportamento dos solos. O acúmulo de insucessos em obras de Engenharia observados
no início do século XX como:

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 O escorregamento de solo durante a construção do canal do Panamá,
1913;

 Rompimento de grandes Barragens de Terra e Recalque em Grandes


edifícios, 1913;

 Escorregamento de Muro de Cais na Suécia, 1914. O Levou em 1922


a publicação pelos suecos de uma nova teoria para o cálculo e
Estabilidade de taludes;

 Deslocamento do Muro de cais e escorregamento de solo na


construção do canal de Kiev na Alemanha,1915.

Em 1925 o professor Karl Terzaghi publicou seu primeiro livro de Mecânica dos
solos, baseado em estudos realizados em vários países, depois do início dos grandes
acidentes.

A mecânica dos solos nasceu em 1925 e foi batizada em 1936 durante a


realização do primeiro Congresso Internacional de Mecânica dos Solos.

Em meados de 1938 foi instalado o primeiro Laboratório de Mecânica dos solos


em São Paulo. Em novembro de 1938 foi instalado o Laboratório de Solos e Concreto da
Inspetoria Nacional de Obras Contra a Seca em Curemas Paraíba.

3.5 DEFINIÇÕES GERAIS

A litosfera (do grego "lithos" = pedra) é a camada sólida mais externa do planeta
Terra, constituída por rochas e solo. É também denominada como crosta terrestre.

É um dos três principais grandes ambientes físicos da Terra, ao lado da hidrosfera


e da atmosfera, que, na sua relação enquanto suportes de vida, constituem a biosfera.

A crosta terrestre é constituída principalmente por basalto e granito e


fisicamente é menos rígida e mais fria do que o manto e o núcleo da Terra.

Composta de minerais a litosfera cobre toda a superfície da terra, desde o topo do


Monte Everest até as profundezas das Fossas Marianas.

A crosta terrestre é subdividida em crosta oceânica, de constituição máfica (com


o nome de SiMa - minerais de sílica e magnésio) e crosta continental de constituição
félsica (com o nome de SiAl - minerais de sílica e alumínio).

O Manto é a camada da estrutura da Terra que fica abaixo da crosta prolongando-


se em profundidade até ao limite exterior do núcleo, estende-se desde cerca de 30 km
de profundidade (podendo ser menor nas zonas oceânicas) até 2 900km.

A diferenciação do manto iniciou-se há cerca de 3.800 milhões de anos, quando a


segregação gravimétrica dos componentes do proto-planeta Terra produziram a atual
estratificação. A pressão na parte inferior do manto atinge mais de 140GPa (1.400.000
atmosferas).

A astenosfera é uma zona do manto externo, menos rígida, com comportamento


plástico devido, talvez, à fusão parcial de uma porção mínima de material do manto é
sobre essa camada que se assentam as placas tectônicas.

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A existência da astenosfera foi evidenciada através do estudo do comportamento
das ondas sísmicas. Na astenosfera, a velocidade de propagação das ondas sísmicas
diminui. Como há um abaixamento da velocidade de propagação das ondas, admite-se
que o material deve ser menos rígido, menos elástico e mais plástico que nas regiões
acima e abaixo dela.

Uma hipótese a considerar é que nesta zona a temperatura seja suficientemente


elevada para provocar a fusão parcial de alguns constituintes dos peridotitos, rochas
existentes na astenosfera. A quantidade de material fundido deve ser muito pequena,
uma vez que as ondas S propagam-se através desta zona do manto (as ondas S são
ondas sísmicas que se propagam apenas em meios sólidos).

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4 FORMAÇÃO DOS SOLOS, FORMA DAS PARTÍCULAS E ESTRUTURA

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A Mecânica dos Solos lida com várias propriedades e características dos solos
avaliadas por meio de exames e ensaios laboratoriais executados sobre amostras de
solos.

Nos problemas ideais, as grandes massas de solo são consideradas homogêneas


de forma que as propriedades físicas em qualquer ponto dessa massa sejam idênticas
àquelas determinadas em laboratório com algumas amostras representativas do terreno.

Mas como infelizmente os solos resultam de processos naturais complexos esse


processo não pode ser considerado verdadeiro, pois a situação raramente corresponde à
realidade, porque a maioria dos solos naturais é heterogênea.

Assim, para avaliar conscientemente as propriedades de uma extensa massa de


solo a partir de ensaios laboratoriais executados com um número limitado de amostras é
fundamental compreender os processos responsáveis pela formação dos solos e como
estes influenciam nas respectivas propriedades.

É uma crença comum que o solo é um agregado de partículas orgânicas e


inorgânicas sujeita a uma desorganização total. Na realidade se trata de um conjunto
apresentando propriedades que variam segundo uma organização definida.

Geralmente as propriedades na direção vertical variam muito mais rapidamente


que na horizontal.

Conforme já comentado anteriormente, o solo é uma complexa mistura de matéria


inorgânica que pode ou não conter resíduos orgânicos decompostos e outras substâncias
que cobrem a crosta terrestre. É formado por processos climáticos, representados pela
desintegração e decomposição das rochas e minerais na/ou próxima à superfície em
partículas cada vez menores sob a ação de agentes naturais físicos (ou mecânicos) e
químicos. Os dois últimos tipos de fatores sempre agem simultaneamente.

As rochas sofrem alterações devidas a ações climáticas como oscilações de


temperatura, do vento e da água, ações químicas (oxidação, hidratação, hidrólise,
carbonatação, plantas e animais) que são provocadas pela água ou microorganismos,
especialmente quando contém ácidos carbônicos, agindo ao longo do tempo. Todas as
rochas que se encontram na litosfera (parte sólida da Terra) estão sujeitas a estas ações.

As alterações isoladas ou simultâneas modificam e fragmentam as rochas


existentes, transportam e reúnem estes fragmentos para originar novos sedimentos. Os
processos que atuam na superfície da crosta terrestre são da maior importância porque
não só permitem interpretar e compreender a formação de um determinado tipo de
rochas (rochas sedimentares), mas são também responsáveis pelas imposições naturais
das formas da superfície terrestre.

Utilizando o princípio da uniformização, um dos conceitos fundamentais em


Geologia, ou seja, rochas semelhantes se formaram no passado por processos
semelhantes aos atuais, pode-se interpretar a história da evolução da amostra da rocha
sedimentar em estudo e reproduzir a evolução das formas terrestres.

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Embora as rochas sedimentares representem uma pequena porcentagem em
relação ao volume, cerca de 5%, o seu estudo reverte-se da maior importância para a
Engenharia Civil, pelo fato de cobrirem cerca de 70% da Crosta Terrestre.

A superfície da litosfera adquire a sua topografia em função de dois processos: a


erosão e a deposição. Os agentes da erosão são as chuvas, rios, oceanos, ondas e gelos
que atuando sob a ação da gravidade removem os fragmentos das superfícies das
rochas que os originaram expondo-as continuamente ao ataque. Quando estes agentes
cessam de atuar ou diminuem de intensidade dão origem a um processo de deposição
denominado sedimentação.

Cada agente de transporte produz diferentes efeitos erosivos e de deposição de


sedimentos. As propriedades destes sedimentos transportados refletem bem os agentes
de transporte e de deposição.

Os processos de formação dos solos são, pois complexos na medida em que os


fatores de erosão e transporte se combinam nas mais diferentes normas, mas aqui serão
apenas encarados do ponto de vista dos seus efeitos sobre as propriedades de interesse
à Engenharia dos Solos.

A forma das partículas minerais é também uma das características muito


importantes que regem o comportamento mecânico do solo. Nas seções onde que serão
apresentadas este tema discutem-se de uma maneira simples e objetiva as diferentes
formas das partículas dos solos, e também das suas estruturas acompanhadas de seus
respectivos mecanismos.

4.2 PROCESSO DE ALTERAÇÃO

A alteração ou fragmentação das rochas pode ocorrer através de processos físicos


ou químicos.

Nos processos físicos não há em geral alteração da composição química ou


mineralógica. O processo envolve apenas a fragmentação da rocha em frações menores.
No outro processo, a alteração química, ou seja, decomposição da rocha ocorre por meio
de reações químicas com possíveis alterações dos minerais da rocha.

A alteração mecânica ou física se refere a intemperização das rochas por agentes


físicos, tais como variação cíclica da temperatura, ação do congelamento da água que se
infiltram nas juntas e fraturas das rochas, ação dos organismos, plantas, etc. Através
desses processos chegam a formar areias ou, em alguns siltes, podendo até mesmo a
formar argilas em situações muito especiais.

A fragmentação da rocha é produzida pelas tensões que se desenvolvem por meio


das variações de temperatura, formação de gelo, crescimento de cristais, e crescimento
de raízes.

A primeira delas resulta das variações diárias de temperatura na superfície


provocam o ciclo de expansão e contração do maciço rochoso levando-o ao
fraturamento. Se a água penetrar nessas fendas e for levada a uma temperatura de
congelamento, a expansão conseqüente da sua massa aumenta a extensão das fendas e
pode produzir uma escamação. A continuação desses processos vai levando os
fragmentos a dimensões cada vez menores.

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As plantas ou animais dão também origem a alteração mecânica: as raízes
crescendo através das fendas e aumentando-as; os animais incluindo o homem fazendo
escavações. A cristalização de sais dá, pela sua expansão, origem ao alargamento e
propagação de fendas.

Nos climas secos, o impacto de grãos de areia transportados pelo vento provoca
uma erosão muito rápida da superfície das rochas.

Por outro lado, os produtos de alteração química resultam de ataque dos minerais
das rochas pela água do solo. O anidrido carbônico do ar e materiais orgânicos do solo
superficial são as fontes comuns para a formação de ácidos que se dissolvem na água e
atacam as rochas.

Resumindo, os processos de alteração das rochas, representam a resposta a uma


mudança de ambiente que ocorre na interface atmosfera-litosfera. Com efeito, os
minerais e textura de muitas rochas podem se originar sob temperaturas muito elevadas
e ou a grandes profundidades, não se encontrando, portanto em equilíbrio sob as
condições de ambiente que prevalecem na superfície. Os processos de alteração tendem
então a restabelecer o equilíbrio sob o novo ambiente físico-químico e assim podem até
formar novos minerais com diferentes formas de agrupamento.

Na maioria das condições climáticas atuais os processos de alteração física e


química se completam. A desagregação é maior na superfície do material exposto ao ar
ambiente e assim permitindo a aceleração do processo de alteração química. As reações
químicas produzem freqüentemente novos minerais cujo desenvolvimento ajuda a
fragmentar ainda mais as rochas podendo chegar a dimensões que os processos
mecânicos não conseguiriam alcançar.

Mas há climas em que um processo é dominante e as características dos produtos


de alteração são conseqüentemente dependentes das condições climáticas. Como a
matéria prima dos sedimentos deriva quase sempre de rochas ígneas é fundamental
compreender como estas rochas estão sujeitas aos processos de alteração.

Os minerais constituintes das rochas ígneas pertencem a três grupos: quartzo,


feldspatos e minerais ferromagnesianos (micas, anfibólios, piroxenas e olivinas), que
reagem diferentemente aos processos de alteração.

O quartzo, apresentando uma estrutura compacta e composição estável, suporta


bem as alterações químicas e quando se fragmenta mecanicamente se torna a principal
constituinte das areias.

Os feldspatos, silicato de alumina, álcalis e cálcio, são quimicamente mais


complexos e desagregam com relativa facilidade. As bases fortes, soda, potássio e cal
convertem-se em carbonatos e dissolvem-se, enquanto que a alumina e a sílica se
combinam com a água para formarem os silicatos hidratados de alumina. Estes novos
minerais sãos estáveis sob as novas condições de alteração e constituem os minerais
das argilas.

Os minerais ferromagnesianos são os menos resistentes à alteração química.


Converte-se em minerais de argila, sílica coloidal e carbonatos de magnésio, cálcio de
ferro. O carbonato de ferro oxidado dá origem à hematita vermelha que hidratada forma
a limonita.

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Em resumo: da alteração das rochas ígneas resulta na permanência do quartzo
resistente, a formação de sílica coloidal, mineral argila e hidróxidos de ferro em
associação com carbonatos de álcalis e terras alcalinas que são dissolvidas.

Geralmente as alterações das rochas não ocorrem de forma regular de cima para
baixo. A existência de fraturas e juntas permitem a penetração dos agentes de alteração
pelas descontinuidades atingindo-se assim maiores profundidades. A partir das
descontinuidades processa-se o ataque químico que é mais intenso nas arestas
produzindo blocos arredondados, cujo processo se denomina alteração esferoidal.

A decomposição química significa ação de agentes que atacam as rochas


modificando sua composição mineralógica ou química. O principal agente é a água, e os
mecanismos de ataque mais importantes são a oxidação, a hidratação e a carbonatação.
Os efeitos químicos da vegetação têm também um papel de destaque. Estes
mecanismos geralmente produzem argilas como produto final da decomposição. Todos
os efeitos anteriores se acentuam com a mudança de temperatura, donde se torna
freqüente encontrar formações argilosas em zona úmidas e quentes, enquanto que são
formações arenosas e siltosas são típicas em zonas mais frias.

Nos desertos quentes, a falta de água faz com que o fenômeno de decomposição
não se desenvolva, e neste caso predominam a formação de areias; ali os efeitos de
alternância entre tração e compressão sobre as rochas, produzidos pela elevação e
queda periódica e contínua de temperatura são os mecanismos de ataque
determinantes.

PROCESSO EXEMPLO TIPO E IMPORTÂNCIA DOS EFEITOS


Decomposição Efeitos secundários
Dilatação térmica • Redução das dimensões dos fragmentos e
FÍSICO
Ação do gelo aumento da área das superfícies de ataque
Expansão coloidal • Permitem-se a composição química
Oxidação
C arbonatação • Alteração quase completa das propriedades
Hidrólise físicas e químicas com aumento sensível de
QUÍMICO
Hidratação volume
Dissolução
Reconstituição química
Ação de cunha das raízes
BIOLÓGICO Ação dos ácidos orgânicos • Efeitos secundários
Ação de animais • C ombinação de efeitos físicos e químicos

As alterações químicas referidas incluem os seguintes processos: oxidação,


carbonatação, hidrólise, hidratação, e ação de vegetais e microorganismos.

 OXIDAÇÃO: Mudança que sofre um mineral em decorrência da


penetração de oxigênio na rocha.

 CARBONATAÇÃO: O carbonato de cálcio em contato com a água


carregada de ácido carbônico se transforma em bicarbonato de
cálcio.

 HIDRÓLISE: Resulta na destruição dos silicatos.

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 HIDRATAÇÃO: Penetração da água nos minerais, através de fissuras. A
hidratação ocasiona nos Granitos e Gnaisses a transformação de
feldspato em argila.

4.3 FATORES QUE CONTROLAM OS PROCESSOS DE ALTERAÇÃO

Os fatores que controlam os processos de alteração das rochas estão


continuamente relacionados e a sua importância relativa depende de certas condições
específicas. A classificação pedológica (Pedologia é definida, no Soil Survey Manual do
U.S. of Department of Agriculture, como a ciência que se ocupa dos solos, incluindo a sua
natureza, propriedades, formação, comportamento e reação, do seu uso e
aproveitamento) se baseia na premissa de que a estrutura, forma, e as propriedades dos
solos são controladas por cinco fatores agindo simultaneamente: material parente (rocha
mãe); clima; topografia; vegetação e idade.

4.3.1 ROCHA MÃE

A composição e textura da rocha mãe é importante nos estados iniciais do


processo de alteração. A duração de influência da rocha mãe é muito curta nas zonas
onde prevalecem condições extremamente úmidas e altas temperaturas. Em regiões
áridas a influência da composição da rocha mãe dura indefinidamente. Sob condições
diferentes de clima, topografia e tempo podem-se formar solos cauliníticos e
montemoriloníticos a partir da mesma rocha mãe. Por outro lado, rochas com
composições e textura muito diferentes podem dar origem ao mesmo tipo de solo com
uma composição característica dos minerais argilas.

Os álcalis e o cátion alcalino e a sua percentagem na rocha mãe é um fator


importante para os produtos de alteração que se formam. Assim rochas sem álcalis só
podem originar caulinitas ou produtos lateríticos. As rochas ígneas e xistos pelas suas
porcentagens de álcalis, cátions alcalinos e alumina, sílica, etc, dão origem a grande
variedade de produtos de alteração.

4.3.2 CLIMA

O clima através dos seus principais fatores climáticos, temperatura e chuva, têm
grande importância no desenvolvimento da alteração das rochas.

Climas quentes úmidos promovem rapidamente a alteração dos minerais da rocha


mãe. Num clima continuamente úmido, a percolação da água remove os produtos
decompostos permitindo a evolução da decomposição, enquanto numa região seca estes
produtos podem permanecer in situ.

O clima afeta a vegetação e os produtos produzidos pela decomposição da


matéria orgânica. Os ácidos orgânicos ativos reagem com os elementos da rocha mãe
nos climas temperados úmidos, enquanto que a matéria orgânica é rapidamente
destruída por oxidação em climas quentes úmidos.

Resumindo: a ação do clima traduz-se por alterações químicas que ocorrem mais
facilmente em climas quentes úmidos, pois são atenuadas por baixas temperaturas e
praticamente interrompidas com a falta de água; e por alterações mecânicas favorecidas
em regiões de variações rápidas de temperatura ou com ação do gelo e predominam,
portanto nas regiões subpolares, em desertos e em áreas montanhosas.

Assim, as regiões atuais de alteração podem diferenciar-se do seguinte modo:

18
 Subpolar: alteração mecânica, principalmente devido à ação da
fragmentação produzida pelo gelo;

 Temperada: alterações físicas e químicas atuando conjuntamente;

 Desértica: alteração mecânica, principalmente devida variação de


temperatura;

 Tropical: alterações químicas profunda, favorecidas por chuvas


intensas e temperaturas altas.

4.3.3 TOPOGRAFIA

A percolação e infiltração da água através de material alterado são controladas


pela topografia. A topografia influencia no grau de erosão na superfície. Áreas planas
baixas estão normalmente completamente saturadas em água em regiões muito
chuvosas, o que retarda a alteração.

4.3.4 VEGETAÇÃO

A quantidade e qualidade dos produtos resultantes da decomposição da vegetação


são fatores significativos. Onde a vegetação é escassa ou rapidamente oxidável, poucos
ácidos orgânicos se formam para atacar as rochas, e pelo contrário em condições frescas
e úmidas com vegetação de folhas pequenas, os produtos de decomposição orgânica
atacam os silicatos minerais.

4.3.5 TEMPO

O fator tempo é muito importante quando a alteração é moderada e a composição


da rocha mãe permite a formação de produto de alteração. Com uma ação prolongada a
lixiviação (ação da água passando através do material de alteração) e outros processos
de alteração acabam por tornar sensíveis os seus lentos efeitos.

4.3.6 PERFIL DO SOLO

Uma seção vertical das camadas de um solo desde a superfície até a rocha mãe
constitui um perfil do solo, que se divide em horizontes.

O horizonte A situa-se na superfície e nele os minerais e colóides vão sendo


removidos por lixiviação. Tem espessura média de duas a três dezenas de centímetros.

O horizonte B forma uma bolsa de acumulação para os materiais lavados do


horizonte A. A espessura média é da ordem de grandeza do horizonte A, mas pode
atingir metros.

O horizonte C é muito menos alterado e é a partir dele que se formam os


horizontes A e B.

O horizonte D constitui a base.

19
O perfil de um solo descrito acima é utilizado pelos geólogos e foi aqui muito
enfatizado porque em muitas regiões dispõe-se de mapas ou cartas de solos para fins
agrícolas com as respectivas classificações pedológicas que podem constituir um
instrumento muito útil de estudo. Mas para evitar confusões de nomenclatura e de
critérios de classificação adotados em engenharias de solos, mostra-se no esquema
seguinte a relação entre solo pedológico e o solo do ponto de vista da engenharia de
solos.

Da associação dos fatores que controlam os processos de alteração resultam dois


tipos de solos nos climas temperados e um no clima tropical.

 Denomina-se de podzolização o processo que se desenvolve em


climas temperados úmidos com cobertura de floresta dando origem a
solos com concentração de Al e Fe no horizonte B e lixiviação de Ca,
Na e Mg (caulinita é a principal forma)

 Denomina-se de calcificação o processo que se desenvolve em


climas temperados secos com cobertura de prado dando origem a
solos com concentração de Ca e Mg no horizonte B usualmente sob a
forma de carbonatos (montmorilonita é a principal forma).

 Denomina-se laterização o processo que se desenvolve em climas


tropicais e subtropicais dando origem a solos lateríticos que se
formam com concentração de Fe e Al no horizonte B; sendo a sílica
lixiviada, se a argila é instável, concentrando-se a alumina para se
formar uma argila contendo alumina. Em solos lateríticos a alteração
é rápida e o caulim é o seu produto final.

Por vezes á confusão de terminologia chamando-se erroneamente aos solos


lateríticos apenas lateritas. Apresentando-se em seguida as definições que constam do
vocabulário de estradas e aeroportos:

20
 Solo laterítico: solo cuja fração argilosa tem uma relação molecular
SiO2/R2O3<2 e apresenta baixa expansibilidade

 Terreno laterítico: Terreno com quantidade significativa de lateritas e


(ou) de solo laterítico. Considera-se quantidade significativa àquela
que confere ao terreno um comportamento laterítico.

 Laterita: Material de estrutura alveolar, muitas vezes matizado, com


cores variando do amarelo ao vermelho mais ou menos escuro e
mesmo negro, constituindo cascões contínuos de espessura e dureza
variáveis tendo muitas vezes o aspecto de uma escória, ou ainda
concreções podzolíticas isoladas de maior ou menor resistência.

4.4 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS QUANTO A ORIGEM

Os solos classificam-se quanto a origem em solos residuais e sedimentares.

4.4.1 SOLOS RESIDUAIS

Solos residuais são os solos que permanecem no local de decomposição rocha que
lhes deu origem. Para a sua ocorrência é necessário que a velocidade de remoção do
solo seja menor que a velocidade de decomposição da rocha.

A rocha que mantém as características originais, ou seja, a rocha sã é a que ocorre


em profundidade. Quanto mais próximo da superfície do terreno, maior é o efeito do
intemperismo. Sobre a rocha sã encontra-se a rocha alterada, em geral muito fraturada e
permitindo grande fluxo de água através das descontinuidades. A rocha alterada é
sobreposta pelo solo residual jovem, ou saprólito, que é um material arenoso. O material
mais intemperizado ocorre acima do saprólito e é denominado solo residual maduro, que
contém maior percentagem de argila.

Os solos residuais revestem-se de particular interesse para os engenheiros pois


são abundantes nas províncias ultramarinas da Guiné, Angola e Moçambique. A
espessura que os solos residuais podem atingir é um condicionamento muito importante,
pois normalmente afeta sensivelmente a concepção, projeto e execução das grandes
obras de Engenharia Civil. Soares (1963) indica as seguintes profundidades típicas para
solos residuais.

Os perfis típicos de solo residual dividem-se em 3 zonas mais ou menos


diferenciadas:

21
 Camada superficial de solo residual com porosidade e grau de
saturação baixos (denominada por vezes de zona porosa);

 Camada de solo residual jovem que por vezes tem aparente a


estrutura original da rocha mãe; 3. Camada desintegrada que só pode
ser retirada com meios vigorosos.

É o horizonte B onde se dá a concentração de Fe e Al que se pode formar a


couraça laterítica, que por vezes aflora à superfície em conseqüência da erosão
superficial.

4.4.2 SOLOS SEDIMENTARES

Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados de seu


local de origem por algum agente de transporte e lá depositados.

Os agentes de transporte são:

 Vento (solos eólicos);

 Água (solos aluvionares);

 Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos)

 Água dos Rios (Solos Fluviais)

 Água das Chuvas (Solos Pluviais)

 Geleiras (Solos Glaciais);

22
 Gravidade (Solos Coluvionares)

4.4.2.1Solos eólicos

Transporte pelo vento. Devido ao atrito os grãos dos solos transportados possuem
forma arredondada. A ação do vento se restringe ao caso das areias e dos siltes. São
exemplos de solos eólicos as DUNAS e os solos LOÉSSICOS.

 Dunas – Barreira.

 Loéssicos – Vegetais.

4.4.2.2Solos aluvionres

O agente de transporte é a água, os solos sedimentares. A sua textura depende da


velocidade de transporte da água. podem ser classificados como de origem PLUVIAL,
FLUVIAL ou

 Grãos de diversos tamanhos;

 Mais grossos que os eólicos;

 Sem coesão.

4.4.2.3Solos glaciais

Formados pelas geleiras. São formados de maneira análoga aos fluviais.

4.4.2.4Solos coluvionares

Formados pela ação da gravidade. Grande variedade de tamanhos. Dentre os solos


podemos destacar o TALUS, que é solo formado pelo deslizamento de solo do topo das
encostas.

23
4.4.3 SOLOS ORGÂNICOS

A Impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral


misturados de restos de animais e vegetais com cor escura e cheiro forte.

As TURFAS são solos que encorporam florestas soterradas em estado avençado de


decomposição. Não se aplicam as teorias da mecânica dos solos.

4.5 ALTERAÇÃO DOS SOLOS APÓS A SUA FORMAÇÃO

O engenheiro civil quando projetam as suas obras têm que ter em atenção não só
as condições e propriedades que estão presentes no início dos trabalhos, mas também
saber como evoluirão essas propriedades ao longo da vida das obras.

Quer as dimensões que as formas de um determinado depósito e de e as


respectivas propriedades podem alterar-se de maneira significativa. Essas alterações
podem ocorrer independentemente da atividade do homem enquanto que outras são
conseqüências da própria construção. Com a prática o engenheiro aprende que o solo
não é inerte e que é bastante sensível ao ambiente, o que se por um lado dificulta a
resolução de muitos problemas, por outro os torna bastante interessantes.

Os principais fatores que influenciam o comportamento dos solos são:

4.5.1 TENSÃO

Em geral o aumento de tensões sobre um elemento de solo produz um aumento


da sua resistência ao cisalhamento, uma redução da compressibilidade e uma diminuição
da permeabilidade; pelo contrário uma diminuição de tensões produz efeitos contrários,
que são, no entanto, bastante menos sensíveis para a mesma variação do valor da
tensão.

24
Durante a formação de um depósito as tensões totais impostas às várias camadas
vão aumentando à medida que cresce a altura do solo sobre as camadas; e assim as
propriedades das camadas de solo vão evoluindo com a formação do depósito. A
remoção do solo por erosão faz, pelo contrário, diminuir as tensões aplicadas às
camadas de solo subjacentes.

Destes fatos resultam duas importantíssimas situações para os solos finos


(argilas), e que muito condicionam o seu comportamento. Assim, se um solo está em
equilíbrio sob a mínima tensão a que á foi sujeito na sua história geológica é denominada
de normalmente adensado, enquanto que quando em equilíbrio sob tensões inferiores
aquelas em que tenha sido anteriormente adensado se denominam de pré-adensado.

Na engenharia civil há atividades de construção que conduzem a um aumento de


tensões no solo e outras que resultam em redução das tensões. O primeiro caso verifica-
se, por exemplo, na fundação de uma barragem de terra, e o solo atingido o equilíbrio,
ou seja, depois de expulsar parte da água dos seus poros ganham maior resistência,
diminuindo a compressibilidade e a permeabilidade. O segundo caso ocorre, por
exemplo, na abertura de canais, em que a escavação de materiais reduz as tensões
aplicadas no solo diminuindo-se por vezes a resistência o que combinado com o
surgimento de outros fatores que provocam a instabilidade, pode conduzir a rupturas do
solo.

4.5.2 TEMPO

O tempo é uma variável dependente para os outros fatores intervenientes na


modificação do comportamento dos solos. Com efeito, para que os efeitos das variações
de tensões, se façam sentir é necessário dar-se tempo a que a água dos poros do solo
seja expulsa ou introduzida o que é fortemente condicionado pela permeabilidade baixa
dos solos finos. O tempo como já se referiu é importante para os fenômenos de
alteração, quer para os processos químicos quer físicos.

4.5.3 ÁGUA

Este fator é também muito principalmente nos solos argilosos onde a simples
presença da água faz com que as forças atrativas existentes entre partículas de argila
reduzam. A água existente nos poros recebe parte das cargas aplicadas ao solo,
influenciando assim o seu comportamento. Uma argila que quando seca apresenta
resistência apreciável, quando bem misturado com a água, transforma-se num lodo com
comportamento fluido. Assim, o aumento do conteúdo de água num solo fino geralmente
reduz a resistência.

A natureza ou a atividade do homem, produzem variações na quantidade de água


nos poros dos solos. Em muitas regiões com épocas secas e chuvosas, o solo é
submetido a diferentes condições de umidade. Na época seca, o nível freático baixa e o
solo acima dele perde água quer por evaporação, quer por ação da gravidade, ao passo
que as camadas inferiores ficam embebidas de água.

Estas variações sazonais conduzem a uma sensível variação das propriedades


mecânicas do solo. Infelizmente estes fatos são por vezes esquecidos, pois nem sempre
os estudos, ensaios e amostragem são feitos na época mais desfavorável.

A atividade do homem conduz também a alterações significativas de água no solo.


A criação de grandes ou pequenas barragens imerge solos aumentando-lhes a pressão
da água nos poros; as estruturas enterradas exigem por vezes o rebaixamento de níveis

25
freáticos e estes são fatores que não podem ser esquecidos e há que ponderar
cuidadosamente em que medida a conseqüente alteração de comportamento do solo
pode vir a afetar as obras previstas.

4.5.4 AMBIENTE

As características básicas dos ambientes de formação de solos, bem como aquelas


a que fica sujeito depois da sua formação podem influenciar sensivelmente o seu
comportamento. Dois fatores que podem influenciar o comportamento do solo depois da
sua formação, a natureza do fluido dos poros e a temperatura.

Uma argila sedimentar ou compactada pode formar-se com um fluido nos poros
com ma determinada composição que pode evoluir ao longo da vida do depósito. Como é
o caso das argilas marinhas depositadas em água salgada. Por movimentos epirogênicos
de levantamento pode a formação argilosa atingir níveis superiores ao do mar e ficar
assim sujeita à percolação de águas com teores de sal muito mais baixo do que os da
água da mar.

Este efeito da lixiviação atuando durante séculos removerá os sais da água dos
poros alterando significativamente a composição do fluido dos poros. Como se verá a
redução do teor eletrolítico da água entre partículas de argila pode reduzir a atração
entre elas e em conseqüência a respectiva resistência ao corte.

Quanto à temperatura é normal em solos finos (argilas) que um decréscimo


provoque uma expansão do solo e que o ar dissolvido no fluido dos poros se liberte em
parte. As argilas depositadas em lagos glaciais sofrem um aumento de temperatura
durante o transporte para o laboratório, o que pode por vezes ter influência nas
respectivas propriedades.

4.5.5 PERTURBAÇÃO

A perturbação é aqui interpretada como um fenômeno mecânico adicional que


torna aparente uma desfavorável característica também mecânica do solo e que estava
latente. O exemplo mais significativo é o das argilas muito sensíveis, quick clay, que
ocorrem na Escandinávia e no Canadá. As partículas destas argilas por serem marinhas
têm uma estrutura floculada, isto é, as partículas se agrupam umas em relação às outras
segundo “topo e face”. As forças de contato inicialmente fortes são enfraquecidas por
efeito da lixiviação feita por águas de percolação menos salinas que reduzem o teor
iônico da água dos poros. Como a estrutura floculada da argila marinha permite a
existência de um alto teor de água nos poros, quando a perturbação ocorre rompendo as
fracas ligações entre partículas a estrutura floculada passa a dispersa, perdendo a argila
a sua existência e passando a comportar-se como um fluido.

4.6 FORMA DAS PARTÍCULAS

Nos solos grossos a forma característica é eqüidimensional, o qual as três


dimensões da partícula são de magnitude semelhantes. Origina-se pela ação de agentes
mecânicos e químicos. Segundo a intensidade e o tempo em que estes agentes
mecânicos tenham atuado, se produzem variedades na forma eqüidimensional, das quais
podem ser arredondadas, subarredondadas, subangulares, ou angulares, em escala
decrescente dos efeitos do ataque dos agentes mecânicos.

26
A forma arredondada é praticamente esférica, enquanto que angulares é a que
apresenta arestas e vértices pontiagudos (por exemplo, pedra britada). Quando estas
arestas e vértices estão arredondados pelo efeito de rolamento e abrasão mecânica, se
tem a forma sub-angular, os quais por um processo mais intenso da erosão podem obter
a forma sub-arredondada final.

As formas angulares são típicas de areias residuais, e as areias vulcânicas


apresentam essa forma em partículas cristalizadas. As areias marinhas são geralmente
angulares.

A forma arredondada é freqüente nas areias de rio e em algumas formações de


praia, se bem que no primeiro caso, predominam as formas sub-arredondada e sub-
angular, pois as partículas que não se arrastam, não sofrem o efeito da abrasão ou
rolamento; naturalmente que o anterior é mais certo em partículas de pequeno tamanho,
por sua maior facilidade para manter-se em suspensão. As areias eólicas são de grão fino
e arredondado.

Nos solos finos a forma das partículas tende a ser achatada, porque as minerais
argilas, em sua maior parte se adotam a forma laminar; com exceção de alguns minerais
que possuem forma fibrosa. Nestes materiais a influência da forma é muito importante,
pois a cada um dos dois mencionados corresponde a uma diferente relação entre área e
volume da partícula e, portanto, uma atividade superficial muito distinta, no que se
refere à absorção.

A partícula de forma laminar tem duas dimensões muito maiores que a terceira; na
forma fibrosa uma dimensão da partícula é muito maior que outras duas. A forma
laminar é a mais freqüente nos minerais de argila. A forma fibrosa é muito mais rara
(haloisita, e algumas outras formas mineralógicas não muito comuns).

Durante muitos anos acreditou-se que o tamanho das partículas era o fator
dominante em algumas importantes propriedades mecânicas, concretamente na
compressibilidade. Hoje se estima que a forma das partículas exerce um papel muito
mais preponderante nesta propriedade.

Uma experiência clássica que prova esta afirmação consiste no preenchimento de


provetas de 1000 cm³, uma com areia e outra com plaquetas de mica, de tamanho

27
análogo; aplicando uma pressão muito pequena na areia com pistão, esta compressão
por ser muito pequena, que dificilmente se faz sentir; e se as mesmas pressões fossem
aplicadas na mica podem produzir reduções volumétricas de até 80%.

A redução de volumes de um solo pode ser alcançada por aplicação de pressão


estática, por meio de vibração ou por combinação de ambos os métodos. Mesmo que a
amostra da areia não seja afetada pela pressão estática de forma apreciável, se for
aplicada uma vibração se nota uma redução volumétrica da ordem de 10%. A vibração
afeta também as plaquetas de mica, porém menos que a pressão estática.

Uma pequena quantidade de plaquetas de mica misturada na areia dá a esta uma


característica de compressibilidade abaixo são cargas estáticas notavelmente
incrementadas. Terzaghi foi o primeiro a emitir uma opinião de que a proporção de
partículas laminares contidas no solo é a causa fundamental da variação tão acentuada
observada no comportamento dos mesmos, em relação à compressibilidade.

As partículas maiores designados por pedregulho, areia e silte, podem ter formas
arredondadas ou angulosas. As formas das partículas refletem a origem e a história
geológica de material. Muitas das partículas dos solos são provenientes dos processos de
alteração de rochas tem inicialmente formas angulosas. A subseqüente abrasão durante
a seu transporte (pela ação da água, vento ou gelo) reduz as irregularidades.

A forma das partículas na mistura com dimensões de “argila” (< 2μ) depende da
sua composição química e da sua estrutura cristalina. Quando as partículas de argila,
dado que a sua estrutura cristalina, consiste de uma sucessão de lâminas contendo
sílica, alumina, oxigênio e hidrogênio a sua forma corrente é de placas. É o caso das
argilas pertencentes aos grupos da caulinita, ilita e montmorilonita. A haloisita é uma
exceção, pois as suas partículas têm forma alongada.

A espessura das partículas de argila é da ordem de 10-6 mm, mas sua largura é
muitas vezes superior. Nas Figuras seguintes mostram-se aproximadamente as formas
das partículas da caulinita e de ilita.

4.7 ESTRUTURA DOS SOLOS

Serão estudadas agora as disposições adotadas pelas partículas minerais para dar
lugar ao conjunto chamado solo. Primeiramente convém insistir na afirmação de que o
solo nunca é um mero agregado desprovido de organização; antes ao contrário, suas

28
partículas se dispõem sempre na forma organizada, seguindo algumas leis fixas e
segundo a ação de forças naturais susceptíveis a analises.

Nos solos formados por partículas relativamente grandes (pedregulhos e areias) as


forças que intervém na formação de estruturas são muitas bem conhecidas e seus
efeitos são relativamente simples de qualificar; por isso, praticamente não existe
discussão em relação ao mecanismo de estruturação que, por sua vez, pode ser
verificada visualmente.

Por outro lado, nos solos formados por partículas muito pequenas (siltes e argilas),
as forças que intervém nos processos de estruturação são de caráter muito mais
complexo e as estruturas resultantes só podem ser parcialmente verificadas por métodos
indiretos, relativamente complexos e ainda em pleno desenvolvimento. Tudo isso faz que
os mecanismos de estruturação e ainda as mesmas estruturas resultantes são em
relação aos solos, matéria de hipótese.

Tradicionalmente se tem considerado como básicas para os solos reais as


estruturas simples, alveolar e floculenta. Em épocas atuais tem-se procurado superar
aquele quadro tradicional introduzindo modificações à luz de alguns resultados obtidos
em experimentos realizados com técnicas mais modernas. Assim, no solo, estão variando
as idéias muitas investigações a respeito dos mecanismos de estruturação dos solos,
sem que, inclusive tenha surgido estruturas que, como a dispersa, não estavam incluídas
no quadro tradicional.

4.7.1 ESTRUTURA SIMPLES

É aquela produzida quando as forças devidas ao campo gravitacional terrestre são


claramente predominantes na disposição das partículas; é, portanto, solos típicos de
grãos grossos (pedregulhos e areias) de massas comparativamente importantes. As
partículas se dispõem apoiando-se diretamente umas sobre as outras e cada partícula
possuem vários pontos de apoio.

Como um ponto de vista da engenharia, o comportamento mecânico e hidráulico


de um solo de estrutura simples, é definido principalmente por suas características; a
compacidade do manto e a orientação das partículas.

O termo compacidade se refere ao grau de acomodação alcançada pelas


partículas do solo, deixando mais ou menos vazios entre elas. Num solo muito compacto,
as partículassólidas que o constituem tem um alto grau de acomodação e a capacidade
de deformação sob carga do conjunto será pequena. Em solos pouco compactos o grau
de acomodação é menor; em solos com volumes de vazios e, por conseqüência as
capacidades de deformação, serão maiores. Uma base de comparação para ter uma
idéia da compacidade alcançável por uma estrutura simples, se tem estudado a
disposição de um conjunto de esferas iguais.

Na figura mostra-se, perfil ou planta, os estados mais soltos e mais compacto


possível de tal conjunto. Os valores da porosidade (n) e índice de vazios (e)
correspondentes a ambos os casos podem ser calculadas facilmente.

29
As areias naturais muito uniformes em tamanho possuem valores da porosidade e
índice de vazios muito próximos do acima descrito. Mas nas areias comuns, os valores
podem diminuir apreciavelmente e uma pequena porcentagem de partículas laminares
aumenta sensivelmente o volume de vazios no estado mais solto; em areias bem
graduadas, com ampla gama de tamanhos, os estados mais fofos e mais compactos tem
valos da porosidade e índice de vazios muito menores que os que correspondem a
acumulação de esferas iguais.

Para medir a compacidade de uma camada de estrutura simples, Terzaghi


introduziu uma relação empírica, determinável em laboratório, chamada Compacidade
Relativa (Cr):

Onde:

 emax = relação de vazios correspondente ao estado mais fofo;

 emin = relação de vazios correspondente ao estado mais compacto;

 enat = relação de vazios da amostra no estado natural.

As determinações do emax, emin e enat do solo são feitas em laboratório segundo


procedimentos padronizados. Para o caso de areias grossas e puras, os valores de e nas
condições mais compactas e mais fofas podem ser determinadas no estado seco ou no
estado completamente saturado, devendo ser determinadas preferencialmente na
primeira condição.

Nas areias finas deve haver grande diferença nos resultados segundo se tenha
determinado num ou outro estado; além disso, quando se fazem determinações no
estado seco, os resultados dependem do tempo transcorrido a partir do momento da
extração da amostra da estufa ou secador, pois o ar pode transmitir umidade. Também
influem o tamanho do recipiente de onde se compacta a amostra (para a determinação
do emin) e o método de compactação; têm-se propostos vários métodos, porém até
hoje, nenhum é considerado perfeito. Por exemplo, em um solo bem graduado, com 10%
de partículas de tamanho menor que 0,04 mm de diâmetro foi encontrados em uma
prova que sua relação de vazios variava entre 0,57 e 0,62 no estado mais fofo e entre
0,28 e 0,30 no mais compacto; estas flutuações foram atribuídas à umidade
higroscópica, pois se tem encontrado variações de 0,01 na relação de vazios ao se retirar
a amostra do secador e expô-la ao ar durante 10 ou 15 minutos.

Em outra amostra do mesmo solo se obtiveram valores de 0,32 e 0,6 para as


relações correspondentes aos estados mais compactos e mais fofos, respectivamente. As

30
variações anteriores são suficientes para produzir uma diferença na compacidade
relativa na ordem de 10%. Para tanto, dita compacidade relativa não pode se considerar
como uma quantidade fixa e, em cada caso, deve ser descrito detalhadamente o método
de determinação empregado.

As orientações das partículas de areia sedimentar e na água são mais


pronunciadas quanto mais se afasta da sua forma esférica; esta orientação produz, como
efeito principal, uma permeabilidade do solo muito distinta; o efeito aumenta
profundamente se o solo contém uma porcentagem apreciável de partículas laminares.
Ainda em areias naturais com formas praticamente eqüidimensionais o efeito da
orientação sobre a permeabilidade é apreciável.

4.7.2 ESTRUTURA ALVEOLAR

Esta estrutura se considera típica e grãos de pequeno tamanho (0,02 mm de


diâmetro ou algo menores), que se depositam em um meio contínuo, normalmente água
e, algumas vezes, ar.

Nestas partículas, a gravidade exerce um efeito que faz com que tendam a se
sedimentar, mas dada sua pequena massa, outras forças naturais podem ter uma
magnitude significativa. A partícula, antes de chegar ao fundo do depósito, toca a outra
partícula já depositada, a força de aderência desenvolvida entre ambas, pode neutralizar
o peso, fazendo com que a partícula seja detida antes de completar seu percurso: outra
partícula pode agora ter o mesmo comportamento e assim elas poderão chegar a formar
uma tela, com quantidade importante de vazios, a modo de um painel.

As forças de aderência, causadoras destas estruturas são forças superficiais.

4.7.3 ESTRUTURA FLOCULADA

Quando no processo de sedimentação, duas partículas de diâmetros menores que


0,02 mm chegam a se tocar, se aderem com força e se sedimentam juntas; assim, outras
partículas podem unir-se ao grupo, formando um grumo, com estrutura similar a um
painel.

Este mecanismo produz uma estrutura muito frágil e solta, com grande volume de
vazios, chamada floculenta, ou algumas vezes, alveolar de ordem superior.

As partículas menores que 0,0002 mm (0,2 micra) já são consideradas colóides;


estas partículas podem permanecer em suspensão indefinidamente, pois nelas o peso
exerce pouca influência em comparação com as forças elétricas desenvolvidas entre as
partículas carregadas negativamente, segundo já foi dito e com as forças moleculares
exercidas pela própria água; quando duas destas partículas tendem a se aproximar, suas
cargas exercem uma repulsão que as afasta novamente; as vibrações moleculares da
água impedem que as partículas se precipitem; o resultado é um movimento
característico em rápido zig-zag, conhecido como movimento browniano (observado pela
primeira vez pelo botânico inglês Brown ao estudar suspensões de clorofila no
microscópio). Por esse mecanismo, as partículas coloidais do solo em suspensão não se
sedimentam jamais. As cargas elétricas das partículas coloidais podem, sem dúvida,
neutralizar-se sob a influência da adição de íons de carga positiva oposta: um eletrólito,
por exemplo, os ácidos clorídricos, quando se dissocia em água origina íons positivos e
negativos (Cl- e H+). Pelo efeito dos íons H- em solução, os colóides neutralizam suas
cargas e chocam entre si, mantendo unidos pelas forças de aderência que se

31
desenvolvem. Desta maneira podem começar a formar flocos de massa maior, que
tendem a se depositar.

Na água do mar, os sais contidos atuam como eletrólito, fazendo possível a


geração de mecanismo antes descrito: nas águas naturais a dissociação normal de
algumas moléculas (H+, OH-) que sempre são geradas, as presenças de sais, etc, levam
ao mesmo efeito.

Os flocos se unem entre si para formar painéis, que se depositam conjuntamente,


formando novos painéis ao tocar o fundo e dando lugar a uma forma
extraordinariamente difusa de estrutura floculenta, no qual o volume sólido pode não
representar mais de 5 a 10%.

Conforme aumenta o peso devido a sedimentação contínua, as capas inferiores


expulsam a água aumentado a consolidação. Durante esse processo, as partículas e
grumos se aproximam entre si e é possível que esta estruturação tão pouco firme no
princípio, alcance resistências de importância.

4.7.4 ESTRUTURAS COMPOSTAS

Considera-se que as estruturas anteriores raramente se apresentam “puras” na


natureza, pois a sedimentação compreende partículas de todos os tamanhos e tipos,
para as que regem as leis da natureza de modo diferente. Segundo as idéias até aqui
expostas sobre estruturação, seria comum encontrar nos solos reais estruturas como a
ilustrada abaixo. Nestas formações define-se um esqueleto constituído por grãos grossos
e massas coloidais de flocos que proporcionam união entre elas.

32
A estrutura é formada em condições que permitem a sedimentação de partículas
grossas e finas simultaneamente; isto ocorre freqüentemente na água do mar ou lagos,
com conteúdo apreciável de sais, donde o efeito floculante dos sais coexiste com o
arraste de ventos, correntes de água, etc.

O processo de acúmulo de sedimentos acima de um certo nível faz com que as


camadas inferiores se consolidem sob o peso das sobrejacentes; as partículas mais
grossas se aproximam fazendo com que a argila floculada ao tocar o fundo diminua de
volume; a compressão resultante da argila é maior nas zonas onde se encontre mais
confinada, isto é, nas regiões de aproximação entre os grãos mais grossos, sempre que
não haja fluxo lateral da massa nestas regiões. Se o incremento da carga é rápido,
existirá um fluxo lateral e, conseqüentemente, a massa coloidal sofrerá um decréscimo
de volume mais uniforme; mas na natureza a carga cresce muito lentamente, pelo que o
fluxo lateral tende a se produzir em escala muito menor e as propriedades tixotrópicas
da matéria coloidal podem ajudar eficazmente no impedimento quase por completo.

Assim se produz nas regiões de aproximação entre os grãos grossos uma liga
argilosa coloidal altamente consolidada, que define fundamentalmente a capacidade do
esqueleto para suportar cargas. Estas ligas argilosas estão sujeitas a pressões muito
maiores que o meio da massa do solo, mesmo que a argila preencha os vazios do
esqueleto se mantenha branda e solta, sujeito a pressões comparativamente muito
menores.

Com as idéias anteriores é fácil entender a diferença que apresentam as argilas


nas propriedades mecânicas quando se encontram nos estados indeformado e
deformado. O amolgamento destrói a liga de argila altamente consolidada entre as
partículas grossas e permite que a argila a cubra em volta, atuando como lubrificante
entre elas; como resultado, a consistência no estado amolgado será muito fraca. Embora
não sejam destruídas as ligações consolidadas, a argila se comporta elasticamente e
possui resistência à ação das cargas, que depende principalmente da pressão a que foi
consolidada na natureza; a deformação da massa decresce a uma maior consolidação
prévia e a uma maior diferença entre a pressão nas zonas argilosas de envolvimento e a
pressão média em toda a massa: esta diferença é tanto maior quanto mais complexa for
a estrutura (argila marinha, por exemplo).

Alguns autores têm atribuído exclusivamente a diferença de comportamento


mecânico das argilas, entre o estado inalterado e amolgado, às propriedades tixotrópicas
destes materiais.

Com efeito, a tixotropia produz certa rigidez reversível na massa plástica,


aumentando a aderência nos pontos de contato: como este aumento depende da
posição elativa das partículas, existe uma deformação crítica que rompe a aderência e
devolve a fraqueza ao material. É muito provável como dito anteriormente, que a
tixotropia coopere com a formação da estrutura composta e a coerência de seu
esqueleto, impedindo o fluxo lateral da massa coloidal nas regiões de predominância de
grãos grossos: assim quanto maior grau a propriedade se apresente nas massas
coloidais, é maior a possibilidade de manter-se no depósito muito solto sob grandes
cargas. Sem dúvida, a resistência do material da liga de argila, não é função da
tixotropia, senão da intensa concentração da carga daquelas ligas, a qual, por sua vez,
depende da estrutura adotada e da carga máxima do extrato já tenha suportado ao
longo da sua história geológica.

33
4.7.5 ESTRUTURA EM “CASTELO DE CARTAS”

Alguns investigadores como Goldschmidt e Lambe tem sugerido uma


interpretação diferente sobre a gênese de uma estrutura floculenta e a estrutura
resultante entre si. Segundo estas idéias a forma lamelar típica dos minerais de argila é
fundamental no resultado da estruturação dos solos finos.

As investigações realizadas em partículas de caulinitas, ilitas e montmorilonitas


demonstram que os seus comprimentos são da mesma ordem das suas larguras e que as
espessuras variam de 1/100 destas dimensões, nas montmorilonitas, a 1/10 nas
caulinitas, ocupando as ilitas uma posição intermediária. Com estes dados é possível
estimar a superfície específica destas partículas (metro quadrado de área superficial por
grama de peso) é da ordem de 10 em caulinitas, 80 nas ilitas e 800 nas montmorilonitas;
estes valores cobrem toda sua importância ao considerar a ação das forças superficiais
como fator que intervém na estruturação, não sendo difícil conceber que tal fator chegue
a ser determinante.

Além disso, nas investigações de referência permitiu notar que, embora a partícula
do solo tenha carga negativa parece certo que nas suas arestas exista uma concentração
de carga positiva que faz com que essa zona localizada se atraia com outra superfície
qualquer de uma partícula vizinha. Tomando isto como consideração, os investigadores
mencionados propuseram para as argilas uma estrutura tal como a quemostra a figura
abaixo, na qual se denominou “castelo de cartas”.

Deve ser notado que, segundo esta hipótese de estruturação, também


corresponde ao solo um importante volume de vazios e que os reflexos anteriores sobre
consolidação das zonas baixas sob o peso das sobrejacentes conservam a sua validez.

4.7.6 ESTRUTURA DISPERSA

Algumas investigações posteriores têm indicado que uma hipótese estrutural do


tipo de “castelo de cartas”, na qual as partículas têm contatos mútuos, embora se possa
aceitar como real em muitos casos, talvez não seja a mais estável no que poderia se
pensar. Qualquer perturbação que possa existir, como deformação por esforço
cisalhante, tende em geral a diminuir os ângulos entre as diferentes lamelas do material.

34
Conforme isso esteja ocorrendo, atuam entre a partícula pressões osmótica
inversamente proporcional ao espaçamento entre elas. As pressões osmóticas tendem a
fazer com que as partículas se separem e assumam uma posição tal como mostrado
esquematicamente na figura a seguir.

Em (a) e (b) mostra-se o mecanismo pelo qual a pressão osmótica tende a atuar,
para chegar a uma condição mais uniforme, que as partículas se separem. Mostra-se em
(c) a estrutura na condição final.

Deve-se notar que o conjunto de estruturas antes descrito sumariamente não


constitui uma série de reais possibilidades na natureza, senão, simplesmente algumas
das hipóteses de estruturação de que se comenta atualmente.

Muitos investigadores, que aceitam alguma das explicações anteriores, rechaçam


outras e não existe um pleno acordo a esse respeito.

Também há de ser observado que com as estruturas em “castelo de cartas” ou


dispersa podem gerar estruturas compostas análogas às já tratadas com as formas
estruturais mais clássicas.

4.7.7 COMPOSIÇÃO DAS PARTÍCULAS

Pode parecer à primeira vista que a composição das partículas de um solo é uma
característica muito importante deste. No entanto, não existem correlações práticas
entre a composição das partículas de um solo e os seus comportamentos. O que é
importante é que ajuda na interpretação e a compreensão desse comportamento.

A natureza e arranjo dos átomos em uma partícula de solo, isto é, a sua


composição química, influencia de forma significativa na permeabilidade,
compressibilidade, resistência ao cisalhamento e na propagação de tensões nos solos,
especialmente aqueles de natureza mais fina.

Existem, com efeito, certos minerais que conferem propriedades especiais. Já se


referiu anteriormente que a montmorilonita dá grande expansibilidade ao solo. Também
a haloisita, com as suas formas alongadas, dá origem a solos com pesos específicos
muito baixos. Estas e muitas outras razões que serão referidas mais tarde justificam que
a base indispensável na compreensão dos fundamentos do comportamento das argilas e
em particular como evolui no tempo, é afetado pela pressão e “ambiente”.

35
As partículas de solo podem ser orgânicas ou inorgânicas. As partículas
inorgânicas são minerais. Um mineral é um elemento ou um composto químico natural
(tem composição química que pode ser expressa por uma fórmula) formado por
processos naturais.

Os minerais classificam-se de acordo com a natureza e arranjo dos seus átomos.


Os mais importantes são os silicatos, pois que mais de 90% do peso dos solos existentes
na terra são minerais de silicatos.

36
5 FASES CONSTITUINTES DO SOLO

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Na Natureza, o solo como o conhecemos compreende as partículas sólidas de


minerais ou de outros materiais que são acumuladas nos chamados depósitos de solo,
mas também os espaços que existem entre essas partículas. Tais “vazios” estão parcial
ou totalmente preenchidos por água ou outros líquidos (soluções1). Os espaços vazios
não ocupados por nenhum fluido estão cheios de ar ou outra mistura de gases.

Uma vez que o volume ocupado por um pedaço de solo deverá, de uma maneira
geral, incluir materiais nos três estados da matéria – sólido, líquido e gasoso - os
depósitos de solos são considerados sistemas trifásicos.

Propriedades importantes de qualquer depósito de solo, nomeadamente as


referentes à sua utilização no âmbito da construção, tais como a tensão e a
compressibilidade do mesmo, estão relacionadas com condições tão simples como
quanto do volume ou do peso do solo em questão é constituído por partículas sólidas,
por água ou por ar. Algumas características de tais solos, como por exemplo a sua
densidade, o teor de umidade (ou teor em água), o índice de vazios ou o grau de
saturação (termos a definir mais à frente neste texto) são utilizadas em cálculos
realizados para determinar a capacidade de carga para efeitos de fundações, para
calcular assentamentos de fundações e para avaliar da estabilidade de taludes (como
por exemplo em encostas ou junto a estradas e caminhos).

Por outras palavras, tais cálculos ajudam a estabelecer em que estado se encontra
um depósito de solo, nomeadamente no que se pretende com a sua aptidão para servir
de fundação ou para ser utilizado como material de construção. Por este motivo,
conhecer a terminologia e as definições relacionadas com a composição do solo, é um
fator fundamental para o estudo da Mecânica dos Solos e, portanto da Geotecnia.

O solo, tal como existe na Natureza, constitui uma acumulação, mais ou menos ao
acaso, de partículas sólidas (minerais e/ou orgânicas), de água e de ar, tal como mostra
a Figura a seguir.

Para efeitos de estudo e de análise do solo, torna-se conveniente representar esta


massa de solo por meio de um diagrama de fases (ou de blocos), com uma parte deste
diagrama a representar as partículas sólidas, parte representando a água ou outros
líquidos outra parte fazendo a representação do ar ou outros gases como também ilustra
a figura a seguir.

37
As partículas sólidas do solo são pequenos grãos de diferentes minerais, cujos
vazios podem ser preenchidos por água, ar, ou parcialmente por ambos (ar e água).
Define-se mineral como uma substância inorgânica e natural, com uma estrutura interna
definida (átomos e íons) e com composição química e propriedades físicas fixas ou
variam dentro de limites definidos.

As partículas sólidas dos solos grossos são constituídas por silicatos (feldspatos,
micas, olivinas, etc.), óxidos (quartzo), carbonatos (calcita, dolomita), sulfatos (limonita,
magnetita). Já os solos finos são constituídos por silicatos de alumínio hidratado (argilo-
minerais).

Em outras palavras, o volume total da massa de solo (V) consiste do volume de


partículas sólidas (Vs) e do volume de vazios (Vv). O volume de vazios é geralmente
formado pelo volume de água (Vw) e pelo volume de ar (Va).

Como o peso específico do ar é muito pequeno quando comparada aos pesos


específicos da água e dos sólidos, o peso da fase gasosa (Wa) será sempre desprezado
no cálculo do peso do solo.

5.2 RELAÇÃO DE FASES

As relações apresentadas a seguir constituem uma parte essencial da Mecânica


dos Solos e são básicas para a maioria dos cálculos desta ciência.

38
5.2.1 RELAÇÃO ENTRE PESOS

5.2.1.1Teor de umidade (w , h)

O teor de umidade de um solo é determinado como a relação entre o peso de água (Ww)
e o peso das partículas sólidas (Ws) em um volume de solo.

O teor de umidade pode assumir o valor de 0% para solos secos (Ww = 0) até valores
superiores a 100% em solos orgânicos.

5.2.2 RELAÇÃO ENTRE VOLUMES

Existem três relações volumétricas que são muito utilizadas na Engenharia


Geotécnica e podem ser determinadas diretamente do diagrama de fases

5.2.2.1Índice de vazios (e)

É a relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume dos sólidos (Vs), existente
em igual volume de solo. Este índice tem como finalidade indicar a variação volumétrica
do solo ao longo do tempo, tem-se:

O índice de vazios será medido por um número natural e deverá ser,


obrigatoriamente, maior do que zero em seu limite inferior, enquanto não há um limite
superior bem definido, dependendo da estrutura do solo.

O volume de sólidos permanecendo constante ao longo do tempo, qualquer


variação volumétrica será medida por uma variação do índice de vazios, que assim
poderá contar a história das tensões e deformações ocorridas no solo.

Exemplo de valores típicos do índice de vazios para solos arenosos podem situar
de 0,4 a 1,0; para solos argilosos, variam de 0,3 a 1,5. Nos solos orgânicos, podemos
encontrar valores superiores a 1,5.

5.2.2.2Porosidade (η)

É a relação entre o volume dos vazios (Vv) e o volume total (V t) da amostra, tem-
se:

39
A porosidade é expressa em porcentagem, e o seu intervalo de variação é entre 0
e 100%.

Das equações apresentadas mais adiante podemos expressar a porosidade em


função do índice de vazios e vice versa, através das equações apresentadas abaixo:

Segundo o IAEG (1979), a porosidade e o índice de vazios podem ser classificados


segundo a tabela a seguir:

5.2.2.3Grau de saturação (S , Sr)

O grau de saturação indica que porcentagem do volume total de vazios contem


água. Se o solo está completamente seco, então Sr = 0%, se os poros estão cheios de
água, então o solo está saturado e Sr = 100%. Para solos parcialmente saturados, os
valores de “Sr” situam-se entre 1 e 99%.

O grau de saturação, segundo o IAEG (1979), pode ser classificado em:

40
5.2.3 RELAÇÃO ENTRE PESOS E VOLUMES

Em Mecânica dos Solos se relaciona o peso das diferentes fases com seus volumes
correspondentes por meio de pesos específicos.

5.2.3.1Peso específico aparente natural ou úmido (γ , γsat , γt)

É a relação entre o peso total (W) e o volume total da amostra (V) para um valor
qualquer do grau de saturação, diferente dos extremos:

A magnitude do peso específico natural dependerá da quantidade de água nos


vazios e dos grãos minerais predominantes, e é utilizado no cálculo de esforços.

5.2.3.2Peso específico aparente seco (γd)

É a relação entre o peso dos sólidos (Ws) e o volume total da amostra (V), para a
condição limite do grau de saturação (limite inferior - Sr = 0%), tem-se:

O peso específico aparente seco é empregado para verificar o grau de


compactação de bases e sub-bases de pavimentos e barragens de terra.

5.2.3.3Peso específico saturado (γsat)

É a relação entre o peso total (W) e o volume total (V), para a condição de grau de
saturação igual a 100%, tem-se:

Em nenhuma das condições extremas levou-se em consideração a variação do


volume do solo, devido ao secamento ou saturação.

5.2.3.4Peso específico real dos grãos ou sólidos (γs , δ) (NBR 6508/84)

É a relação entre o peso dos sólidos (Ws) e o volume dos sólidos (Vs), dependendo
dos minerais formadores do solo, tem-se:

41
O valor do peso específico dos sólidos representa uma média dos pesos
específicos dos minerais que compõem a fase sólida. A Tabela a seguir apresenta o
intervalo de variação do peso específico dos sólidos de diversos tipos de minerais.

5.2.3.5Peso específico da água (γw)

É a razão entre o peso de água (Ww) e seu respectivo volume (Vw). Nos casos
práticos adota-se o peso específico da água como: 1g/cm³ = 10kN/m³ = 1000kg/m³.

5.2.3.6Peso específico submerso (γsub , γ‘)

Quando a camada de solo está abaixo do nível freático, define-se o peso específico
submerso, o qual é utilizado para o cálculo de tensões.

5.2.3.7Densidade real dos grãos ou sólidos (G)

É a razão entre o peso especifico real dos grãos (γs) e o peso específico da água a
4°C.

A densidade possui valor numérico igual ao Peso Específico Real entretanto é


admensional.

5.2.4 FÓRMULAS DE CORRELAÇÃO

As fórmulas de definição dos índices físicos não são práticas, para a utilização em
cálculos e assim, recorre-se as fórmulas de correlação entre os índices, como as
apresentadas a seguir:

42
 peso específico natural: γ = W/V

 teor de umidade: w = (Ww/Ws)

 peso específico real dos grãos: γs = Ws/Vs

 peso específico aparente seco: γd = Ws/V = γ/(1 + w)

 índice de vazios: e = Vv/Vs = (γs/γd) - 1

 porosidade: η = Vv/V = e/(1+ e)

 grau de saturação: Sr = Vw/Vv = (w . γs)/(e . γw)

 peso específico saturado: γsat = Wsat/V = (1 - η) . γs + η . γw

 peso específico submerso: γsub = γsat - γw = (γs - γw) . (1 - η)

5.3 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DOS ÍNDICES FÍSICOS

Os índices físicos são determinados em laboratório ou mediante fórmulas de


correlação, vistas no item anterior. Em laboratório, são determinados o peso específico
natural (através do peso e volume total), o teor de umidade e o peso específico real dos
grãos.

5.3.1 DETERMINAÇÃO DO PESO E VOLUME DE UMA AMOSTRA

Molda-se um corpo de prova cilíndrico de solo indeformado, obtêm-se várias


medidas de diâmetro (d) e altura (h) para o cálculo do volume da amostra de solo com
os valores médios obtidos. Obter o peso total da amostra de solo (W) com a balança.

Pode-se utilizar também para determinar o peso e o volume anéis metálicos de


dimensões conhecidas, onde são moldados no solo. Deve-se salientar que o peso
específico natural é normalmente determinado em corpos de prova já talhados para os
ensaios usuais de Mecânica dos Solos.

Para verificações, in situ, utiliza-se para determinar o peso específico um cilindro


cortante (Figura 2.2) com peso e dimensões conhecidas que é cravado no solo
(ABNT/NBR 9813/87 - Determinação da massa específica aparente in situ com o emprego
do cilindro de cravação).

43
No campo a determinação de γ pode ser feita, ainda, utilizando-se um frasco ao
qual se adapta um funil munido de um registro (ABNT/NBR 7185/86 - Solo -
Determinação da massa específica aparente, "in situ", com emprego do frasco de areia).

5.3.2 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE (W)

O teor de umidade é obtido por diferença de peso de uma amostra de solo antes e
após a secagem em estufa. Os procedimentos adotados no laboratório (ABNT/NBR
6457/86 - Amostras de Solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização) são:

 Toma-se uma cápsula com peso conhecido (Wc)

 Seleciona-se uma porção de amostra representativa


(aproximadamente 50g)

 Coloca-se a amostra na cápsula e pesa-se o conjunto (Wc + W)

 Seca-se em estufa o conjunto até a constância do peso

44
 Pesa-se novamente o conjunto (Wc + Ws)

O teor de umidade (w) é calculado de acordo com a expressão:

onde:

 W = peso total da amostra

 Ws = peso seco

 Ww = peso da água

 Wc = peso da cápsula

No campo utiliza-se para a determinação do teor de umidade: o processo da


frigideira (DNER-ME 086/64), o método expedito do álcool (DNER-ME 088/94 -
Determinação da umidade pelo método expedito do álcool), ou o método expedito
“Speed” (DNER-ME 052/94 - Solos e agregados miúdos - determinação da umidade pelo
método expedito "Speedy").

5.3.3 DETERMINAÇÃO DO PESO ESPECÍFICO REAL DOS GRÃOS ( S)

O peso específico real dos grãos, ou sólidos, é determinado, usualmente,


empregando umfrasco de vidro denominado picnômetro (balão volumétrico), de acordo
com ABNT/NBR 6508/84 -`Grãos de solo que passam na peneira de 4,8mm -
Determinação da massa específica dos sólidos.

O ensaio compara o peso de um picnômetro contendo água destilada até a marca


de calibração (W1) com o peso do mesmo picnômetro contendo solo e água (W2) até a

45
mesma marca, e determina-se a temperatura da suspensão e mediante a curva de
calibração do picnômetro, determinam-se o peso do picnômetro e a água para a
temperatura do ensaio.

Esquema explicativo do ensaio está representado na Figura à seguir:

O peso de água correspondente ao volume deslocado pelos grãos (sólidos) será:

 W1 = Ww + Wp (água + picnômetro)

 W2 = Ww’ + Wp + Ws (água + picnômetro + solo)

 W1 - W2 = Ww + Wp - (Ww’ + Wp + Ws)

 W1 - W2 = Ww - Ww’ - Ws

 W1 - W2 = ΔWw – Ws

Portanto, o volume dos sólidos corresponde a volume de água deslocada, tem-se:

 Ww = Vw . γw

 Vs = Vw/γw

 W1 - W2 = Vs . γw - Ws

 Vs = (W1 - W2 + Ws) / γw

Normalmente são realizadas no mínimo três determinações, fazendo variar a


temperatura e acertando o nível de água na marca de referência, com vistas à obtenção
de valor médio consistente.

A determinação do peso específico dos sólidos é muito simples, mas às vezes


adota-se um valor médio para resolução de problemas, uma vez que a faixa de variação
no caso de solos não é muito grande. Em geral para solos arenosos, pode-se tomar γs =
2,67 g/cm³ e para solos argilosos, γs = 2,75 - 2,90 g/cm³.

46
5.3.4 RETIRADA DE AMOSTRAS

A caracterização de um solo, através de parâmetros obtidos em ensaios de


laboratório, depende, simultaneamente, da qualidade da amostra e do procedimento dos
ensaios. Tanto para a amostragem quanto para os ensaios existem normas, brasileiras e
estrangeiras, que regem o assunto e que, portanto, devem ser obedecidas.

Em qualquer laboratório de geotecnia, dois tipos de amostras são usadas na


realização desses ensaios. A amostra deformada, uma porção de solo desagregado, deve
ser representativa do solo que está sendo investigado, apenas, quanto à textura e
constituição mineral. Ela é usada na identificação visual e táctil, nos ensaios de
classificação (granulometria, limites de consistência e massa específica dos sólidos), no
ensaio de compactação e na preparação de corpos de prova para ensaios de
permeabilidade, compressibilidade e resistência ao cisalhamento.

Essas amostras, até um metro abaixo da superfície do terreno, poderão ser obtidas
através de ferramentas simples (pás, enxadas, picaretas e outras mais apropriadas a
cada caso), enquanto que para profundidade maior ter-se-á necessidade de ferramentas
especiais (trados ou um amostrador de parede grossa).

A amostra indeformada, geralmente de forma cúbica ou cilíndrica, deve ser


representativa da estrutura e teor de umidade do solo, na data de sua retirada, além da
textura e composição mineral.

47
Ela é usada para se determinar às características do solo “in situ”, como os índices
físicos, o coeficiente de permeabilidade, os parâmetros de compressibilidade e de
resistência ao cisalhamento.

Uma amostra indeformada pode ser obtida de diversas maneiras dependendo da


cota da amostragem, da densidade do solo e da posição do lençol freático; assim, para
solos moles abaixo do nível d’água será usado um amostrador de parede fina, enquanto
que, para solos acima do nível d’água e mais densos, deve-se abrir um poço até a cota
de interesse e retirar um bloco de solo usando uma caixa metálica ou de madeira como
fôrma e com dimensões apropriadas ao tipo e número de ensaios a realizar.

A NBR 9604/86 rege a abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com


retirada de amostras deformadas e indeformadas.

Na retirada, no transporte e no manuseio, de qualquer um dos dois tipos de


amostras, devem ser tomados cuidados extras para que a amostra não sofra nenhuma
avaria.

Os equipamentos e acessórios, o procedimento da amostragem, os cuidados e o


dimensionamento de cada uma das amostras serão descritos nos itens seguintes.

5.3.4.1Equipamentos e acessórios

 Equipamentos: trados de diversos tipos e diâmetros; amostrador de


parede grossa; caixa metálica; amostrador de parede fina;

 Acessórios: sacos de lona ou de plástico de diferentes tamanhos, pás,


enxadas, picaretas, facas, espátulas, conchas; fogareiro a gás;
parafina; tecido (tipo estopa ou similar); etiquetas; caixas de madeira,
serragem.

5.3.4.2Procedimentos para a amostragem

Para cada um dos tipos de amostras representativas o procedimento na


amostragem será diferente. A seguir será descrita a forma de se obter uma amostra
deformada e uma amostra indeformada em bloco, em uma camada acima do nível
d’água.

48
5.3.4.2.1 Amostra deformada

Para este tipo de amostragem deve-se inicialmente, fazer uma limpeza no local de
trabalho, retirando a vegetação superficial, raízes e qualquer outra matéria estranha ao
solo, para só depois iniciar o processo de coleta de amostra.

Se a cota de retirada da amostra estiver, no máximo, um metro da superfície do


terreno pode-se fazer uma escavação, até a cota de interesse, com uma das ferramentas
indicadas e, então fazer a coleta.

Entre um e seis metros de profundidade pode-se usar o trado cavadeira, desde


que, o furo não precise de revestimento.

Para profundidade maior do que seis metros, ou quando o furo exigir tubo de
revestimento deve-se usar o trado helicoidal.

Quando o trabalho com o trado helicoidal se tornar difícil ou para amostragem


abaixo do nível d’água, quando poderá se tornar pouco eficaz, pode-se utilizar um
amostrador de parede grossa que é cravado dinamicamente no solo através de energia
fornecida pela queda livre de um martelo.

A sondagem a trado é regulada pela NBR 9603/86.

49
Ensaio SPT, introduzidos entre nós há mais de 40 anos, é o mais adotado por todos
os institutos técnicos e oficiais, e firmas particulares especializadas. O Ensaio SPT
obedece os critérios estabelecidos na NBR 6484/01.

O Standard Penetration Test (SPT), possui a dupla função: de medir a resistência à


penetração e de coletar amostras que nesse caso são alteradas pelo choque e vibração
no momento da cravação do amostrador. Este método além de econômico é rápido e
pode ser aplicado à maioria dos solos, exceto pedregulhos. O ensaio basicamente
consiste em introduzir o “barrilete amostrador”, que é fixado na extremidade das hastes
de cravação e cravado 45 cm no solo, por dentro de um tubo de sondagem. A cravação é
feita por um peso (martelo) de 65 kg, com uma altura de 75 cm de queda.

50
5.3.4.2.2 Amostra indeformada

A viabilidade técnica e econômica da obtenção de amostras indeformadas é


função da natureza do solo a ser amostrado, da profundidade em que se encontra e da
presença do nível d’água.

Esses fatores determinam o tipo de amostrador e os recursos a utilizar. Algumas


formações apresentam maiores dificuldades que outras no processo de extração de
amostras indeformadas.

Assim, a retirada de amostras indeformadas pode ser subdividida em duas classes:

 Amostra indeformada de superfície: a coleta de amostras é realizada


próxima à superfície do terreno natural, ou próximas à superfície de
uma exploração acessível, utilizando-se amostradores em que o
processo de avanço é por aparamento (cilindros e anéis biselados ou
escavações ).

Uma amostra indeformada, em bloco, poderá ser retirada em diversas posições


como mostrado na Figura a seguir:

 Amostra indeformada em profundidade: os métodos de perfuração


para atingirem-se as profundidades desejadas são os mesmos das
sondagens de reconhecimento. A diferença essencial entre as

51
sondagens mais simples e das sondagens em questão está nos
amostradores, sendo os mais busuais, os amostradores de parede
fina, o amostrador de pistão, o amostrador de pistão estacionário, o
amostrador de pistão “Osterberg” e o amostrador “Denison” ou
barrilete triplo.

O amostrador de parede fina mais empregado, o tipo Shelby, é composto


basicamente de um tubo de latão ou de aço inoxidável de espessura reduzida, ligado a
um cabeçote provido de uma válvula de esfera que permite ao ar e a água escaparem à
medida que há a penetração da amostra

O amostrador é introduzido no solo por pressão estática e constante e retirado


quando estiver cheio. A camisa é então liberada do cabeçote, selada e enviada ao
laboratório. Este tipo de amostrador é usado para extração de amostras em solos moles.

5.3.4.3Dimensionamento da amostra

O dimensionamento da amostra a ser retirada é função do tipo e do número de


ensaios que serão realizados, bem como, da condição atual e futura do local da
amostragem.

Para o dimensionamento de uma amostra deformada deve-se partir da massa de


sólidos estimada para cada ensaio e calcular o total necessário. Para se chegar na massa
de solo que deverá ser retirada, será preciso conhecer o teor de umidade da jazida, o
que poderá ser feito por uma estimativa visual e táctil ou através de um processo rápido.

Para uma amostra indeformada deve-se partir das dimensões dos corpos de prova
e assim chegar-se ao número e às dimensões necessárias de cada bloco.

Será preciso levar em consideração que durante a realização dos ensaios poderá
ocorrer uma perda de material e que alguns ensaios deverão ser repetidos. Além disso, a
condição do local após a amostragem poderá não permitir a retirada de novas amostras,
bem como, a sua distância até o laboratório e a movimentação do pessoal e
equipamento para a amostragem trarão custos adicionais a obra. Assim uma sobra de
material no laboratório, desde que, não excessiva é sempre preferível a uma falta de
material.

5.3.4.3.1 Amostra deformada

A NBR 6457/86 – “Preparação de amostras para ensaios de compactação e ensaios


de caracterização”, indica as quantidades apresentadas na Tabela a seguir, para
preparação de amostras para os ensaios de compactação e de caracterização, para solos
que tenham partículas menores que 4,8mm (# 4).

52
5.3.4.3.2 Amostra indeformada

Para amostras indeformadas o dimensionamento está diretamente relacionado ao


tipo e a dimensão do amostrador a ser usado no momento da coleta de amostra.

Na amostragem de bloco, este deve ter forma cúbica com lados variando entre 20
e 30cm, o que permitirá a retirada de 9 a 18 C. P. (corpos de prova), com 5,0 cm de
diâmetro e 12,5 cm de altura, desde que o solo esteja em boas condições.

O bloco não deverá ter lado menor do que 20,0 cm, pois isso diminuirá e muito o
número de corpos de prova com as dimensões já citadas, nem deverá ter dimensão
maior do que 30,0 cm, pois isso aumentará o seu peso, dificultando o manuseio em
campo e no laboratório, com um risco maior de alteração estrutural.

O solo que é retirado do bloco durante a moldagem dos corpos de prova é


suficiente para se realizar os ensaios de classificação do solo.

53
6 GRANULOMETRIA DOS SOLOS

6.1 INTRODUÇÃO

Todos os solos, em sua fase sólida, contêm partículas de diferentes tamanhos em


proporções as mais variadas. A determinação do tamanho das partículas e suas
respectivas porcentagens de ocorrência permitem obter a função distribuição de
partículas do solo e que é denominada distribuição granulométrica.

A distribuição granulométrica dos materiais granulares, areias e pedregulhos, será


obtida através do processo de peneiramento de uma amostra seca em estufa, enquanto
que, para siltes e argilas se utiliza à sedimentação dos sólidos no meio líquido. Para
solos, que tem partículas tanto na fração grossa (areia e pedregulho) quanto na fração
fina (silte e argila) se torna necessária a análise granulométrica conjunta.

As partículas de um solo, grosso ou fino, não são esféricas, mas se usará sempre a
expressãodiâmetro equivalente da partícula ou apenas diâmetro equivalente, quando se
faz referência ao seu tamanho. Para os materiais granulares ou fração grossa do solo, o
diâmetro equivalente será igual ao diâmetro da menor esfera que circunscreve a
partícula, enquanto que para a fração fina este diâmetro é o calculado através da lei de
Stokes.

54
A colocação de pontos, representativos dos pares de valores diâmetro equivalente
- porcentagem de ocorrência, em papel semilogaritmo permite traçar a curva de
distribuição granulométrica, conforme mostrada na Figura à seguir, onde em abscissas
estão representados os diâmetros equivalentes e em ordenadas as porcentagens
acumuladas retidas, à esquerda e as porcentagens que passam, à direita.

6.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS BASEADOS EM CRITÉRIOS GRANULOMÉTRICOS

Os solos recebem designações segundo as dimensões das partículas


compreendidas entre determinados limites convencionais, conforme desenho à seguira,
onde estão representadas as classificações adotadas pela A.S.T.M (American Society for
Testing Materials), A.A.S.H.T.O. (American Association for State Highway and
Transportation Officials), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e M.I.T
(Massachusetts Institute of Technology).

55
No Brasil a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR 6502/95) –
Terminologia - Rochas e Solos define como:

 Bloco de rocha – Fragmentos de rocha transportados ou não, com


diâmetro superior a 1,0 m.

 Matacão – fragmento de rocha transportado ou não, comumente


arredondado por intemperismo ou abrasão, com uma dimensão
compreendida entre 200 mm e 1,0 m.

 Pedregulho – solos formados por minerais ou partículas de rocha, com


diâmetro compreendido entre 2,0 e 60,0 mm. Quando arredondados
ou semi-arredondados, são denominados cascalhos ou seixos. Divide-
se quanto ao diâmetro em: pedregulho fino – (2 a 6 mm), pedregulho
médio (6 a 20 mm) e pedregulho grosso (20 a 60 mm).

 Areia – solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou


partículas de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e
2,0 mm. As areias de acordo com o diâmetro classificam-se em: areia
fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia média (0,2 mm a 0,6 mm) e areia
grossa (0,6 mm a 2,0 mm).

 Silte – solo que apresenta baixo ou nenhuma plasticidade, baixa


resistência quando seco ao ar. Suas propriedades dominantes são
devidas à parte constituída pela fração silte. É formado por partículas
com diâmetros compreendidos entre 0,002 mm e 0,06 mm.

 Argila – solo de graduação fina constituída por partículas com


dimensões menores que 0,002 mm. Apresentam características
marcantes de plasticidade; quando suficientemente úmido, molda-se
facilmente em diferentes formas, quando seco, apresenta coesão
suficiente para construir torrões dificilmente desagregáveis por

56
pressão dos dedos. Caracteriza-se pela sua plasticidade, textura e
consistência em seu estado e umidade naturais.

6.3 PROPRIEDADES QUE AUXILIAM NA IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS

Os solos são identificados por sua textura, composição granulométrica,


plasticidade, consistência ou compacidade, citando-se outras propriedades que auxiliam
sua identificação, como estrutura, forma dos grãos, cor, cheiro, friabilidade, presença de
outros materiais.

6.3.1 TEXTURA

Quanto à textura (distribuição granulométrica) os solos são classificados em


grossos e finos. Os solos grossos são aqueles nos quais mais do que 50% dos grãos são
visíveis a olho nu; são as areias e os pedregulhos. Os solos finos são aqueles nos quais
mais do que 50 % das partículas são de tal dimensão, que não são visíveis a olho nu; são
as argilas e os siltes.

A experiência indica que a textura, ou seja, a distribuição granulométrica é muito


importante nos solos grossos (granulares). Nestes solos a distribuição granulométrica
pode revelar o comportamento referente às propriedades físicas do material.

Para solos com grãos menores que a abertura da peneira de nº 200 (0,075mm), a
granulometria é de pouca importância para a solução dos problemas de engenharia
geotécnica.

Em função da distribuição granulométrica os solos podem ser bem ou mal


graduados. Os solos que tem seus grãos variando, preponderantemente, dentro de
pequenos intervalos, são, portanto, solos mal graduados. Os solos que tem várias
frações de diâmetro diferentes misturadas; são, portanto, solos bem graduados.

Três parâmetros são utilizados para dar uma informação sobre a curva
granulométrica:

 Diâmetro efetivo (D10): É o ponto característico da curva


granulométrica para medir a finura do solo, que corresponde ao
ponto de 10%, tal que 10% das partículas do solo possuem diâmetro
inferiores a ele.

 Coeficiente de uniformidade (Cu): Dá uma idéia da distribuição do


tamanho das partículas do solo; valores próximos de um indicam
curva granulométrica quase vertical, com os diâmetros variando em
um intervalo pequeno, enquanto que, para valores maiores a curva
granulométrica irá se abatendo e aumentando o intervalo de variação
dos diâmetros. Da mesma foram que foi definido D10 , define-se D30
e D60 .

A representação da curva granulométrica em papel semilogaritmo apresenta


vantagens, pois os solos com Cu, aproximadamente iguais, serão representados por
curvas paralelas.

57
Os solos que apresentam:

 Cu < 5 são denominados uniformes;

 Cu > 15 desuniformes;

 Para valores de Cu entre 5 e 15 são denominados de


medianamente uniformes.

 Coeficiente de curvatura (Cc): Dá uma medida da forma e da simetria


da curva granulométrica e é igual a:

Para um solo bem graduado, o valor do coeficiente de curvatura, deverá estar


entre 1 e 3. Portanto, a distribuição do tamanho de partículas é proporcional, de forma
que os espaços deixados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas menores. Para
solos granulares há maior interesse no conhecimento do tamanho das partículas, visto
que, algumas de suas propriedades estão relacionadas com os mesmos, o que não
ocorre com os solos finos.

Logo, segundo a forma da curva podemos distinguir os diferentes tipos de


granulometria conforme pode ser observado na Figura à seguir.

Na figura abaixo, estão mostradas curvas granulométricas de solos e materiais


granulares, de alguns locais do município de Santa Maria e Região.

58
As curvas granulométricas do exemplo anterior apresentam valores para os
diâmetros específicos e coeficientes mostrados na tabela à seguir:

De acordo com os valores indicados, a curva 5 é de solo desuniforme; enquanto


que as demais curvas são de solos uniformes. Os solos das curvas 5 e 6 são bem
graduados, os demais são mal graduados.

59
6.3.2 COMPACIDADE

Compacidade é a característica da maior ou menor densidade (compactação) dos


solos granulares (não coesivos). Os solos não coesivos são as areias e pedregulhos, e
quantitativamente a compacidade ou densidade relativa é determinada pelo grau de
compacidade através da expressão:

Em função do grau de compacidade classificam-se as areias em:

 Fofa (solta) 0 < GC < 1/3

 Medianamente compacta 1/3 < GC < 2/3

 Compacta 2/3 < GC < 1

60
Qualitativamente correlaciona-se a compacidade de areias e siltes arenosos com a
resistência a penetração obtida no ensaio de penetração estática (SPT). Segundo
ABNT/NBR 7250/82, temos:

6.3.3 FORMA DOS GRÃOS

Quanto à forma, as partículas dos materiais granulares, pedregulhos e areias, se


aproximam de uma esfera. A caracterização do seu tamanho através de uma medida
linear é, suficientemente, correta. Existem tabelas que distribuem as partículas
esferoidais em classes, de acordo com a forma de sua superfície: angular, subangular,
subarredondado, arredondado e bem arredondado.

A forma mais comum, das partículas dos argilo-minerais formadores dos solos
argilosos é a laminar onde predominam duas dimensões, largura e comprimento, sobre a
espessura. As Figuras à seguir apresentam as classes de arredondamento, as partículas
de argila.

61
6.4 USO DA GRANULOMETRIA

Nos solos com grãos maiores do que a peneira de nº 200 (areias e pedregulhos) a
granulometria tem vários usos importantes. Por exemplo, os solos bem graduados, ou
seja, com uma ampla gama de tamanho de partículas, apresentam melhor
comportamento em termos de resistência e compressibilidade que os solos com
granulometria uniforme (todas as partículas têm o mesmo tamanho).

Outra finalidade da curva granulométrica é na estimativa do coeficiente de


permeabilidade de solos de granulação grossa, especialmente no dimensionamento de
filtros. O material fino atua como ligante dos solos.

O conhecimento da curva granulométrica permite a escolha do material para


utilização em bases de rodovias e aeroportos. Porém existem várias razões tanto práticas
como teórica pelas quais, a curva granulométrica de solos finos é mais discutível que as
correspondentes a solos granulares. Os tratamentos químicos e mecânicos que os solos
naturais recebem antes de realizar uma análise granulométrica resultam em tamanhos
efetivos que podem ser muito diferentes dos existentes no solo natural.

Para execução de concreto de cimento, agregados bem graduados requerem


menos cimento para encher os vazios e, havendo menos água por unidade de volume de

62
concreto, ele será mais denso, menos permeável e apresentará maior resistência à
alteração do que se fosse executado com agregado uniforme. Para o caso de concreto
asfáltico usando agregado bem graduado a quantidade de asfalto a ser empregado é
menor.

63
7 PLASTICIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS

7.1 INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Os solos que apresentam certa porcentagem da fração fina (silte e argila), não
podem ser adequadamente caracterizados pelo ensaio de granulometria. São
necessários outros parâmetros tais como: forma das partículas, a composição
mineralógica e química e as propriedades plásticas, que estão intimamente relacionados
com o teor de umidade.

Define-se plasticidade como sendo a propriedade dos solos finos que consiste na
maior ou menor capacidade de serem moldados sob certas condições de umidade.
Segundo a ABNT/NBR 7250/82, a plasticidade é a propriedade de solos finos, de se
submeterem a grandes deformações permanentes, sem sofrer ruptura, fissuramento ou
variação de volume apreciável.

As partículas que apresentam plasticidade são, principalmente, os argilo-minerais.


Os minerais como o quartzo e o feldspato não desenvolvem misturas plásticas, mesmo
que suas partículas tenham diâmetros menores do que 0,002mm.

A influência do teor de umidade nos solos finos pode ser facilmente avaliada pela
análise da estrutura destes tipos de solos. As ligações entre as partículas ou grupo de
partículas são fortemente dependentes da distância. Portanto, as propriedades de
resistência e compressibilidade são influenciadas por variações no arranjo geométrico
das partículas. Quanto maior o teor de umidade implica em menor resistência.

7.2 COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DAS ARGILAS

A argila é a fração do solo, cujas partículas apresentam um diâmetro inferior a


0,002mm (NBR 7250) e que, em contato com a água, adquire plasticidade. A fração
argila, no entanto, não é constituída só de partículas que apresentam plasticidade. É
constituída de diversos tipos de partículas, que podem ser classificadas de acordo com a
Tabela a seguir:

A plasticidade de um solo é devida aos argilo-minerais, às micas e ao húmus


existentes. O teor de argilo-minerais na fração argila dos solos é, quase sempre, muito
superior aos de mica e de húmus e, portanto, o estudo dos argilo-minerais deve merecer
destaque.

64
7.2.1 ARGILO-MINERAIS

Os argilo-minerais são, fundamentalmente, silicatos hidratados de alumínio, que


apresentam plasticidade, permuta catiônica, dimensões geralmente inferiores a 2 mícron
e forma lamelar e alongada.

Os argilo-minerais compreendem uma grande família de minerais, que podem ser


classificados em diversos grupos, conforme a estrutura cristalina e as propriedades
semelhantes. Os principais grupos de argilo-minerais são os das caulinitas, ilitas e
montmorilonitas.

7.2.2 ESTRUTURA DOS ARGILO-MINERAIS

A estrutura dos argilo-minerais é constituída, em sua essência, de camadas de


sílica e camadas de gibsita (hidróxido de alumínio). A unidade cristalina da sílica é um
tetraedro, cujos vértices são ocupados por oxigênio e em cujo centro há um silício.

A camada de sílica é formada pelos tetraedros de sílica, ligados de modo a


constituírem uma rede de malha hexagonal. Os nós desta rede são ocupados pelo silício
dos tetraedros de sílica. As bases dos tetraedros estão num plano e os vértices,
apontados para a mesma direção. A camada de tetraedros de sílica pode ser assim
esquematizada:

A unidade cristalina da gibsita é um octaedro. Os vértices são ocupados por


hidroxilas e o centro pelo alumínio. Convém lembrar, que o alumínio possui número de
coordenação 6, isto é, cada átomo de alumínio pode ligar-se a 6 hidroxilas.

A unidade estrutural básica das caulinitas é constituída de uma camada de


tetraedros de sílica e de uma camada de octaedros de gibsita, onde as hidroxilas desta
são parcialmente substituídas pelos oxigênios dos vértices dos tetraedros da camada de
sílica.

65
Logo, o plano comum das duas camadas é constituído por átomos de oxigênio e
hidroxilas, sendo a ligação entre elas iônica. A unidade estrutural das caulinitas, sob o
ponto de vista iônico, é neutra.

A estrutura das caulinitas é formada pelo empilhamento destas unidades, sendo a


união entre o plano de hidroxilas de uma unidade com o plano de oxigênio de outra
unidade feita por ligações de hidrogênio. Freqüentemente, as caulinitas são constituídas
de 6 unidades estruturais, que podem ser vistas na Figura a seguir:

As ligações de hidrogênio são fracas, mas suficientemente fortes para evitarem a


penetração da água entre as unidades estruturais. Por esta razão, as caulinitas
apresentam pequena expansão, difícil dispersão na água e baixa plasticidade.

Como as valências livres estão apenas nas extremidades, às capacidades de


adsorção de água e de permuta catiônica é pequena.

As caulinitas são as argilas de maiores dimensões. O comprimento varia entre 0,3


e 4 mícrons e a espessura, entre 0,05 e 2 mícrons.

A unidade estrutural básica das montmorilonitas é formada de uma camada de


octaedros de gibsita entre duas camadas de tetraedros de sílica.

As montmorilonitas caracterizam-se por apresentarem, sempre, o alumínio das


camadas de octaedros substituído parcialmente ou totalmente por magnésio e ferro,
principalmente. Esta substituição origina um excesso de valências negativas na camada
interna, que não podem ser satisfeitas por cátions, devido às camadas de tetraedros
limítrofes.

A estrutura das montmorilonitas caracteriza-se por apresentar moléculas de água


entre as unidades estruturais, conforme esquema da Figura a seguir:

66
Como a água penetra com grande facilidade entre as camadas estruturais, as
montmorilonitas são de fácil dispersão na água, grande expansão e alta plasticidade.

Possuem grande capacidade de adsorção de água e de permuta catiônica, porque,


além de apresentarem ligações quebradas nas extremidades, possuem cargas negativas
nas superfícies das unidades estruturais. As montmorilonitas são as argilas de menores
dimensões.

A unidade estrutural básica das ilitas é a mesma das montmorilonitas Apenas,


nas ilitas, os átomos de silício das camadas de sílica são substituídos parcialmente por
alumínio.

Há, portanto, valências livres nas camadas limítrofes das unidades estruturais, que
são neutralizadas por cátions de K, dispostos entre as unidades superpostas.

O esquema estrutural das ilitas esta representado na Figura a seguir. O cátion K é


o que melhor se adapta às malhas hexagonais dos planos de oxigênio das camadas de
tetraedros de sílica e não é deslocado por outros cátions.

67
A capacidade de adsorção de água e de permuta catiônica é devida, apenas, às
ligações quebradas das extremidades das camadas e, portanto, é pequena. O diâmetro
médio das ilitas varia entre 0,1 e 0,3 mícron.

Quando, nas ilitas, a substituição do silício das camadas de tetraedros por


alumínio for pequena, as ligações entre as unidades estruturais proporcionadas pelos
cátions K podem ser deficientes e permitirão a entrada de água. Quando isso ocorre, as
propriedades das ilitas se aproximam das propriedades das montmorilonitas.

7.3 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

A propriedade dos solos em suportar cargas e conservar sua estabilidade, depende


da resistência ao cisalhamento do solo; toda massa de solo se rompe quando esta
resistência é excedida.

Das características de resistência ao cisalhamento dependem importantes


problemas de engenharia de solos e fundações tais como: estabilidade de taludes
(aterros, cortes e barragens), empuxo de terra sobre paredes de contenção e túneis,
capacidade de carga de sapatas e estacas.

Segundo Milton Vargas, qualquer resistência do solo é redutível à sua resistência


ao cisalhamento, a qual se desenvolve quando se tenta deformar o solo, isto é, fazer
com que uma parte dele se movimente em relação às outras. A resistência ao
cisalhamento de um solo se compõe basicamente de duas componentes:

 Coesão (c)

 Atrito entre as partículas (tg )

Segundo a equação de COULOMB:

 r = c + (-u tg.
Onde:

 r resistência ao cisalhamento

68
 c coesão

  tensão normal à superfície de cisalhamento

 u pressão neutra na água

  ângulo de atrito interno do material

Sob a denominação genérica de atrito interno, inclui-se não só o atrito físico entre
suas partículas, como o atrito fictício proveniente do entrosamento de suas partículas.
Nos solos não existe uma superfície nítida de contato, ao contrário, há uma infinidade de
contatos pontuais.

69
7.4 COESÃO

Podemos conceituar coesão como a resistência que a fração argilosa empresta ao


solo, pela qual ele se torna capaz de se manter coeso, em forma de torrões ou blocos, ou
pode ser cortado em formas diversas e manter esta forma. Os solos que têm essa
propriedade chamam-se coesivos. Os solos não coesivos, que são as areias e os
pedregulhos, esboroam-se facilmente ao serem cortados ou escavados.

De uma forma geral, poder-se-ia definir coesão como a resistência ao


cisalhamento de um solo quando, sobre ele, não atua pressão externa alguma. Esta
resistência pode ter causa:

 Na existência de um cimento natural aglutinando os grãos do solo


entre si. Esse cimento é, em geral, constituído por grãos
extremamente finos coagulados entre os grãos maiores, ligando-os
da mesma forma que, no concreto, o cimento Portland aglutina o
agregado. Nos solos residuais, o aparecimento desse cimento é
notável e às vezes empresta ao solo resistências elevadas.

 Em eventual ligação entre os grãos, muito próximos uns dos outros,


que é exercida por um potencial atrativo de natureza molecular ou
coloidal. O potencial atrativo dos grãos coloidais exerce pressão
também sobre a água intersticial. Forma-se assim, uma camada de
água adsorvida (água adesiva) envolvendo os grãos. A camada de
água adsorvida mais próxima dos grãos sofre pressões colossais
(ordem de grandeza de 20000 kg/cm2), e encontra-se em estado
sólido (também é chamada água dura). As camadas mais distantes
têm alta viscosidade mas ficam imobilizadas pelas forças atrativas.
Essas camadas de água adsorvida contribuem para o aumento da
ligação entre os grãos. Essa é a origem da chamada coesão
verdadeira. No comum dos casos ela é pequena, mas não
desprezível. Tenderá a diminuir ou anular-se quando o solo
permanece por muito tempo em contato com as intempéries. Seu
valor depende: da natureza mineralógica da fração argilosa; dos íons
adsorvidos na superfície dos grãos e do espaçamento entre os grãos.

 Por efeito da pressão capilar na água intersticial, quando o corpo de


prova, torrão ou camada de solo sofre um esforço de ruptura. Os
grãos tendem a moverem-se uns em relação aos outros e, então,
formam-se meniscos capilares entre seus pontos de contato como a

70
figura ao lado. Os grãos são, neste caso, pressionados uns contra os
outros pelo efeito da tensão superficial que age ao longo da linha de
contato entre o grão sólido e o filme de água. É a chamada coesão
aparente ou simplesmente coesão.

Pode-se visualizar este fenômeno tentando-se separar duas placas de vidro entre
as quais existe um filme d’água. Ver-se-á que aparecerá uma força que resiste a
separação, força esta oriunda dos meniscos que se formam entre as placas.

Quando a espessura do filme d’água é pequena, a força necessária para a


separação é enorme e quando o filme for de grande espessura a força será pequena. No
caso dos solos finos os espaços entre os grãos serão pequenos. Os filmes d’água terão
pequena espessura e pressão capilar elevada. No caso das areias os espaços entre grãos
serão grandes e as forças capilares desprezíveis. É o caso dos solos não coesivos.

A coesão aparente é um efeito temporário, pois os meniscos tenderão a desfazer-


se à medida que o movimento entre os grãos aumente e as deformações sejam muito
grandes. Os meniscos desfazem-se, também, por efeito de saturação ou movimento da
água intersticial. Dessa forma o efeito da capilaridade poderá ser compreendido como de
uma pressão temporária confinante envolvendo a massa de argila. Como se verá no
estudo da resistência ao cisalhamento dos solos, essa pressão confinante emprestará ao
solo uma resistência ao cisalhamento, independente das pressões aplicadas, mesmo que
não haja cimentação nem ligação de natureza molecular / coloidal entre os grãos.

71
7.5 TIXOTROPIA

O termo tixotropia é usado, na prática da Mecânica dos Solos, para descrever o


restabelecimento da resistência num solo remoldado, embora em físico-química coloidal
ele tenha um sentido pouco diferente.

Essa recuperação só muito raramente atinge 100% do valor primitivo.

A explicação do fenômeno seria possível admitindo-se que a remoldagem, diminui


as distâncias entre as partículas, desequilibra o campo atrativo entre elas, levando-o a
um estado que não é estável; quando o solo é deixado em repouso, ou sobre ele atuam
pressões de adensamento ou trocam-se as condições coloidais do meio, à distância entre
as partículas tende a um nível de energia de repouso que será maior que o anterior.

Essa propriedade é muito importante nas lamas de perfuração que devem ser as
mais líquidas possíveis durante a perfuração e o mais consistente possível quando não
se está perfurando, a fim de evitar “blow-up”.

7.6 CONSISTÊNCIA DOS SOLOS

7.6.1 ESTADOS DE CONSISTÊNCIA

No inicio do século XX, um químico sueco Albert Atterberg, realizou pesquisas


sobre as propriedades dos solos finos (consistência). Segundo ele, os solos finos

72
apresentam variações de estado de consistência em função do teor de umidade. Isto é,
os solos apresentam características de consistência diferentes conforme os teores de
umidade que possuem.

Há teores de umidade limite que foram definidos como limites de consistência ou


limites de Atterberg.

O termo consistência refere-se primariamente ao grau de resistência e


plasticidade do solo que dependem das ligações internas entre as partículas do solo. Os
solos ditos coesivos possuem uma consistência plástica entre certos teores limites de
umidade. Abaixo destes teores eles apresentam uma consistência sólida e acima uma
consistência liquida. Pode-se ainda distinguir entre os estados de consistência plástica e
sólida, uma consistência semi-sólida.

Uma massa de solo argiloso no estado líquido (por exemplo, lama) não possui
forma própria e tem resistência ao cisalhamento nula. Retirando-se água aos poucos, por
secamento da amostra, a partir de um teor de umidade esta massa de solo torna-se
plástica, quando para um teor de umidade constante poderá ter sua forma alterada, sem
apresentar uma variação sensível do volume, ruptura ou fissuramento.

Continuando o secamento da amostra, atinge-se um teor de umidade no qual o


solo deixa de ser plástico e adquire a aparência de sólido, mas ainda apresentando uma
variação de volume para teores de umidade decrescentes, porém mantendo-se saturado,
se encontrando no estado semi-sólido.

Finalmente, a partir de um teor de umidade, amostra começará a secar, mas a


volume constante, até o secamento total, tendo atingido o estado sólido.

A Figura a seguir mostra o descrito anteriormente, lembrando que ΔV = Vo – Vf é


igual ao volume de água da amostra, perdido por secamento, para se passar do estado
líquido ao sólido.

Os teores de umidade correspondentes aos limites de consistência entre sólido e


semi-sólido; semi-sólido e plástico; e plástico e líquido ão definidos como limite de
contração, limite de plasticidade e limite de liquidez.

73
A plasticidade de um solo argiloso está relacionada à forma de suas partículas, e
que é característica do argilo-mineral existente no solo. Diversos autores vêm
procurando correlacionar os limites de consistência com os aspectos mineralógicos das
argilas.

7.7 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DOS LIMITES DE CONSISTÊNCIA

Ainda que, os limites de liquidez e de plasticidade possam ser obtidos através de


ensaios bastante simples, a interpretação física e o relacionamento quantitativo dos seus
valores, com os fatores de composição do solo, tipo e quantidade dos minerais, tipo de
cátion adsorvido, forma e tamanho das partículas, composição da água é difícil e
complexo.

7.7.1 LIMITE DE LIQUIDEZ (LL)

No ensaio de limite de liquidez mede-se, indiretamente, a resistência ao


cisalhamento do solo para um dado teor de umidade, através do número de golpes
necessários ao deslizamento dos taludes da amostra; para um teor de umidade igual ao
limite de liquidez foram encontrados valores iguais a 2,5 kPa, valores estes muito baixos,
indicando a proximidade do estado líquido e sendo a maior parte desta resistência
devida às forças atrativas entre as partículas que por sua vez estão relacionadas a
atividade superficial dos argilo-minerais.

74
O limite de liquidez de um solo é o teor de umidade que separa o estado de
consistência líquido do plástico e para o qual o solo apresenta uma pequena resistência
ao cisalhamento. O ensaio utiliza o aparelho de Casagrande, onde tanto o equipamento
quanto o procedimento são normalizados (ABNT/NBR 6459/82).

Retirando-se uma amostra do local onde o solo se uniu determina-se o teor de


umidade, obtendo-se assim um par de valores, “teor de umidade x número de golpes”,

75
que definirá um ponto no gráfico de fluência. A repetição deste procedimento para teores
de umidade diversos, permitirá construir o gráfico apresentado anteriormente.
Convencionou-se, que no ensaio de Casagrande, o teor de umidade correspondente a 25
golpes, necessários para fechar a ranhura, é o limite de liquidez.

7.7.2 LIMITE DE PLASTICIDADE

Uma explicação para o limite de plasticidade não é tão simples, como a do limite
de liquidez, podendo-se citar, entre outras, a que sugere que o limite de plasticidade
corresponde a um teor de umidade do solo que para valores menores do que ele, as
propriedades físicas da água não mais se igualam às da água livre ou de que o limite de
plasticidade é o teor de umidade mínimo, no qual a coesão é pequena para permitir
deformação, porém, suficientemente alta para garantir a manutenção da forma
adquirida.

Independentemente, das explicações sugeridas, o limite de plasticidade é o


extremo inferior do intervalo de variação do teor de umidade no qual o solo apresenta
comportamento plástico.

O equipamento necessário à realização do ensaio é muito simples tendo-se,


apenas, uma placa de vidro com uma face esmerilhada e um cilindro padrão com 3mm
de diâmetro. O ensaio inicia-se rolando, sobre a face esmerilhada da placa, uma amostra
de solo com um teor de umidade inicial próximo do limite de liquidez, até que, duas
condições sejam, simultaneamente, alcançadas: o rolinho tenha um diâmetro igual ao do
cilindro padrão e o aparecimento de fissuras (inicio da fragmentação). O teor de umidade
do rolinho, nesta condição, representa o limite de plasticidade do solo. O ensaio é
normalizado pela NBR 7180/82.

7.8 LIMITE DE CONTRAÇÃO (LC)

O limite de contração é o teor de umidade que separa o estado semi-sólido do


sólido. Uma argila, inicialmente saturada e com um teor de umidade próximo do limite

76
de liquidez, ao perder água sofrerá uma diminuição do seu volume igual ao volume de
água evaporada, até atingir um teor de umidade igual ao limite de contração. A partir
deste valor a amostra secará a volume constante.

O limite de contração é calculado pela seguinte expressão:

Se o peso específico dos sólidos não é conhecido, o limite de contração pode ser
determinado pela expressão:

Onde w0 é o teor de umidade de moldagem do corpo de prova.

7.9 ÍNDICE DE PLASTICIDADE (IP)

Dos diversos índices, relacionando os limites de liquidez, de plasticidade e às


vezes o teor de umidade do solo, o mais utilizado atualmente é o índice de plasticidade.
Fisicamente representaria a quantidade de água que seria necessário a acrescentar a um
solo, para que ele passasse do estado plástico ao líquido. Sendo definido como a
diferença entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade, portanto, temos:

Este índice determina o caráter de plasticidade de um solo, assim, quando maior o


“IP”, tanto mais plástico será o solo. Sabe-se, ainda, que as argilas são tanto mais
compressíveis quando maior for o “IP”.

Segundo Jenkins, os solos poderão ser classificados em:

 Fracamente plásticos 1 < IP ≤ 7

 Medianamente plásticos 7 < IP ≤ 15

 Altamente plásticos IP > 15

77
7.10 ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA (IC)

Segundo a norma ABNT/NBR 6502/80 quanto à consistência os solos finos podem


ser subdivididos em muito moles (vazas), moles, médias, rijas e duras. Busca situar o
teor de umidade do solo no intervalo de interesse para a utilização na prática, ou seja,
entre o limite de liquidez e o de plasticidade. As argilas moles, médias e rijas situam-se
no estado plástico; as muito moles no estado líquido e as duras no estado semi-sólido.

Quantitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado quando se tratar de


argilas saturadas, pelo seu índice de consistência:

Do seguinte modo:

 Muito moles IC < 0

 Moles 0 < IC < 0,50

 Médias 0,50 < IC < 0,75

 Rijas 0,75 < IC < 1,00

 Duras IC > 1,00

O índice de consistência é a relação entre a diferença do limite de liquidez para


umidade natural e o índice de plasticidade.

Qualitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado do seguinte modo:

 Muito moles: as argilas que escorrem com facilidade entre os dedos,


se apertadas nas mãos;

 Moles: as que são facilmente moldadas pelos dedos;

 Médias: as que podem ser moldadas pelos dedos;

 Rijas: as que requerem grande esforço para serem moldadas pelos


dedos;

 Duras: as que não podem ser moldadas pelos dedos e que, ao serem
submetidas o grande esforço, desagregam-se ou perdem sua
estrutura original.

78
7.11 ÍNDICE DE LIQUIDEZ (IL)

Esse índice é unitário para solos com teor de umidade natural igual ao limite de
liquidez, e zero para solos que tem umidade natural igual ao limite de plasticidade.

O índice de liquidez é indicativo das tensões vividas pelo solo ao longo de sua
história geológica. Argilas normalmente adensadas têm índices de liquidez próximos da
unidade ao passo que argilas pré-adensadas têm índices próximos de zero.

Valores intermediários para o índice de liquidez são freqüentemente encontrados.


Excepcionalmente pode exceder a unidade, como no caso das argilas extra-sensíveis ou
pode ser negativo, como no caso das argilas excessivamente pré-adensadas.

O índice de liquidez de um solo, IL, é expresso por:

onde,

 w = umidade natural

 LL = limite de liquidez

 LP = limite de plasticidade

7.12 ATIVIDADE COLOIDAL (AC)

É a relação entre o índice de plasticidade e a porcentagem da fração argilosa


menor que 2 microns (0,002mm).

A atividade coloidal serve como indicação da maior ou menor influência das


propriedades mineralógicas e químico-coloidal, da fração argila, nas propriedades
geotécnicas de um solo argiloso.

Segundo Skempton, os solos finos poderão ser classificados em:

 Argilas de atividade baixa Ac < 0,75

 Argilas de atividade normal 0,75 < Ac < 1,25

 Argilas de atividade alta Ac > 1,25

79
7.13 GRAU DE CONTRAÇÃO (C)

É a razão da diferença entre os volumes inicial (Vo) e final (Vf) após a secagem da
amostra, para o volume inicial (Vo), expressa em porcentagem:

Segundo Scheidig, a compressibilidade de um solo cresce com o grau de


contração, tem-se:

 Solos bons C < 5%

 Solos regulares 5% < C < 10%

 Solos sofríveis 10% < C < 15%

 Solos péssimos C > 15%

7.14 GRÁFICO DE PLASTICIDADE

Resultados de pesquisas realizados por Arthur Casagrande permitiram a


elaboração de um gráfico, que serve para a classificação de um solo segundo as suas
propriedades plásticas.

80
8 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

8.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Dada a infinidade de solos que existem na natureza é necessário um sistema de


classificação que indique características geotécnicas comuns de um determinado grupo
de solos a partir de ensaios simples de identificação.

Portanto, a elaboração de um sistema de classificação deve partir dos


conhecimentos qualitativos e quantitativos existentes, ao longo do tempo ir acumulando
informações e corrigindo distorções, até que em um mesmo grupo possam estar
colocados solos com características semelhantes.

No desenvolvimento de um sistema, se deve ter o cuidado para que o volume de


informações requeridas ao usuário seja de fácil memorização, para que se torne prático.
Estas informações poderão ser obtidas, tanto através da identificação visual e táctil
como através de ensaios simples de laboratório. A identificação fornecerá dados para um
conhecimento qualitativo, enquanto os ensaios de laboratório resultarão dados
quantitativos sobre o solo.

Conclui-se que a classificação dos solos permite resolver alguns problemas simples
e serve de apoio na seleção de um dado solo quando se podem escolher vários materiais
a serem utilizados.

A seguir, serão descritos o Sistema Unificado de Classificação dos Solos, o Sistema


H.R.B., eClassificação Táctil e Visual

8.2 SISTEMA UNIFICADO DE CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Este sistema é oriundo do Airfield Classification System idealizado por Arthur


Casagrande, e inicialmente utilizado para classificação de solos para construção de
aeroportos, e depois expandido para outras aplicações, e normalizado pela American
Society for Testing and Materials (ASTM).

Os solos neste sistema são classificados em solos grossos, solos finos e altamente
orgânicos.

Para a fração grossa, foram mantidas as características granulométricas como


parâmetros mais representativos para a sua classificação, enquanto que para fração fina,
Casagrande optou por usar os limites de consistência, por serem parâmetros mais
importantes do que o tamanho das partículas.

Cada tipo de solo terá um símbolo e um nome. Os nomes dos grupos serão
simbolizados por um par de letras. Onde o prefixo é uma das subdivisões ligada ao tipo
de solo, e o sufixo, às características granulométricas e à plasticidade.

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Na Tabela à seguir, nas duas últimas colunas, estão indicados os símbolos de cada
grupo e seus respectivos nomes, bem como uma série de observações necessárias a
classificação do solo.

8.2.1 SOLOS GROSSOS

Os solos grossos ou granulares são os que possuem partículas menores que 75mm
e que tenham mais do que 50% de partículas com tamanhos maiores do que 0,075mm
(# 200).

Uma subdivisão separa os solos grossos em pedregulhos, quando mais do que


50% da fração grossa tem partículas com tamanho maior do que 4,8mm (retido na # 4),
e areias, quando uma porcentagem maior ou igual, destas partículas, tem tamanho
menor que 4,8mm (passa na # 4).

Sempre que as porcentagens de finos estiver entre 5 e 12%, o solo deverá ser
representado por um símbolo duplo, sendo o primeiro o do solo grosso (GW, GP, SW, SP),
enquanto que o segundo símbolo dependerá da região onde se localizar o ponto
representativo dos finos desse solo.

Para porcentagens de finos, maior do que 12%, e classificados como CL-ML


resultará em um símbolo duplo para o solo grosso, GC-GM se for pedregulho ou SC-SM se
for areia.

As Tabelas a seguir, mostram os fluxogramas necessários à classificação dos solos


grossos.

82
83
8.2.2 SOLOS FINOS

Nesta divisão, foram colocados os solos que tem uma porcentagem maior ou igual
a 50%, de partículas com tamanho menor do que 0,075mm (passando na # 200). Estes
solos, siltes e argilas, foram inicialmente separados em função do limite de liquidez:
menor que 50% e maior ou igual a 50%.

Cada uma destas subdivisões leva em conta a origem inorgânica ou orgânica do


solo. Para a definição de origem orgânica deverão ser realizados dois ensaios de limite
de liquidez: um com o solo secado em estufa, (LL)s, e o outro nas condições naturais,
(LL)n. Se a relação (LL)s/(LL)n < 0,75 o solo deverá ser considerado orgânico.

Quando da proposição inicial do sistema de classificação por Casagrande, foi


introduzido o gráfico de plasticidade, montado a partir dos limites de consistência dos
solos finos. Com a revisão do sistema foram introduzidas algumas modificações,
resultando o gráfico mostrado a seguir.

Nele, os grupos estão distribuídos em cinco regiões, sendo a linha “A” separadora
dos solos argilosos inorgânicos (CL, CH) dos siltosos inorgânicos (ML, MH). A linha vertical
LL = 50% separa os solos de alta plasticidade (MH, CH) dos de baixa plasticidade (ML,
CL). Os solos orgânicos podem se situar, tanto acima quanto abaixo da linha “A”; as
argilas orgânicas serão representadas por pontos situados sobre ou acima dessa linha,
enquanto, os siltes orgânicos estarão abaixo. A quinta região é a hachurada, onde o solo
deverá ter o símbolo duplo, CL-ML, representando solos LL < 50% e 4 ≤ IP ≤ 7. O gráfico
de plasticidade deverá ser usado na classificação, tanto dos solos finos quanto da fração
fina dos solos grossos.

84
Na última revisão do SUCS foi introduzida, a linha “U” para ajudar na avaliação dos
resultados dos ensaios de limites de consistência, visto que ela deve representar um
limite superior empírico para os solos naturais. Qualquer ponto que venha se situar
acima dessa linha deve ter os resultados dos ensaios verificados. A linha “U”, tanto
quanto a linha “A”, é quebrada, iniciando-se na vertical para LL = 16% até IP = 7% e a
partir desse ponto tem a equação: IP = 0,9 . (LL - 8).

85
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 1: Válido para material passando na peneira de 75mm abertura

 2: Se a amostra contém seixos e matacões acrescentar “com seixos e


matacões”, ao nome do grupo para Pp,200 entre 5 - 12% exigem
símbolo duplo.

 3: Pedregulhos

 GW – CH: Pedregulho bem graduado com silte

 GW – GC: Pedregulho bem graduado com argila

 GP – GH: Pedregulho mal graduado com silte

 GP – GC: Pedregulho mal graduado com argila

 4: Areias

 SW – SH: Areia bem graduada com silte

 SW – SC: Areia bem graduada com argila

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 SP – SH: Areia mal graduada com silte

 SP – SC: Areia mal graduada com argila

 5: Se % Areia ≥ 15, acrescentar “com areia”

 6: Se finos: CL – ML, usar símbolo duplo: GC – GH; SC – SH

 7: Se finos são orgânicos, acrescentar, “com finos orgânicos”

 8: Se % Pedregulho ≥ 15%, acrescentar “com pedregulhos”

 9: Se pontos estão na área hachurada, é CL – ML (argila-siltosa)

 10: Se Pr,200: 15-29%, por “com areia” ou “com pedregulho”,

 Se Pr,200 ≥ 30%: 11: % pedregulho < 15%, acrescentar


arenoso

 12: % areia < 15%, acrescentar pedregulho

 13: Para IP > 4%, e pontos sobre ou acima da linha A

 14: Para IP < 4% ou pontos abaixo da linha A

 15: Para pontos sobre ou acima da linha A

 16: Para pontos abaixo da linha A

8.3 SISTEMA H.R.B.

A Classificação H.R.B (Highway Research Board) ou A.A.S.H.O. (American


Association

State Highway Officials) fundamenta-se na granulometria, limite de liquidez e


índice de plasticidade dos solos, sendo proposta para ser utilizada na área de estradas.

A Tabela a seguir apresenta esta classificação, onde os solos estão reunidos por
grupos e subgrupos.

Um parâmetro adicionado nesta classificação é o índice de grupo (IG), que é um


número inteiro variando de 0 a 20. O índice de grupo define a capacidade de suporte do
terreno de fundação de um pavimento. Os valores extremos do “IG” representam solos
ótimos para IG = 0 e solos péssimos para IG = 20. Portanto, este índice estabelece uma
ordenação dos solos dentro de um grupo, conforme suas aptidões, sendo pior o solo que
apresentar maior “IG”.

A determinação do índice de grupo baseia-se nos limites de Atterberg (LL e IP) do


solo e na porcentagem de material fino que passa na peneira número 200 (0,075mm).
Seu valor é obtido utilizando a seguinte expressão:

88
onde:

 a = porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 35%.


Se o valor de “a” for negativo adota-se zero, e se for superior 40,
adota-se este valor como limite máximo.

 a = Pp,200 - 35% (0 - 40).

 b = porcentagem do solo que passa na peneira nº 200 menos 15%.


%. Se o valor de “b” for negativo adota-se zero, e se for superior 40,
adota-se este valor como limite máximo.

 b = Pp,200 - 15% (0 - 40)

 c = valor do limite de liquidez menos 40%. Se o valor de “c” for


negativo adota-se zero, e se for superior a 20, adota-se este valor
como limite máximo.

 c = LL - 40% (0 - 20)

 d = valor do índice de plasticidade menos 10%. Se o valor de “d” for


negativo adota-se zero, e se for superior a 20, adota-se este valor
como limite máximo.

 d = IP - 10% (0 - 20)

Os solos são classificados em sete grupos, de acordo com a granulometria


(peneiras de nº 10, 40, 200) e de conformidade com os intervalos de variação dos limites
de consistência e índice de grupo.

De acordo com a Tabela a seguir os solos se dividem em dois grupos: solos grossos
(quando a % passante na peneira nº 200 é inferior a 35%) e solos finos (quando a %
passante na peneira nº 200 é superior a 35%). A classificação é feita da esquerda para a
direita do quadro apresentado.

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9 BIBLIOGRAFIA

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